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CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS AAFDL 大象城堡

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Page 1: Casos práticos resolvidos AAFDL · 2018. 6. 7. · CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS – AAFDL 大象城堡 Caso 1 1. Antes de respondermos à solução do caso, cabe-nos atentar ao enquadramento

CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS AAFDL

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CASOS PRÁTICOS RESOLVIDOS – AAFDL

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Conteúdo1 Caso 1 ............................................................................................................................................. 2

Caso 2 ............................................................................................................................................. 4

Caso 5 ............................................................................................................................................. 5

Caso 11 ........................................................................................................................................... 7

Caso 14 ........................................................................................................................................... 8

Caso 18 ......................................................................................................................................... 11

Caso 19 ......................................................................................................................................... 18

Caso 20 ......................................................................................................................................... 20

Caso 21 ......................................................................................................................................... 22

Caso 23 ......................................................................................................................................... 27

Caso 24 ......................................................................................................................................... 28

Caso 28 ......................................................................................................................................... 31

Caso 29 ......................................................................................................................................... 34

Acompanhem com a sebenta pequenina

1 Resolvidos em sede de aula prática – não conseguimos corrigir todos nem estar a formular um discurso articulado de forma pedagógica para a vossa utilização, como pretendíamos – o tempo não dá para tudo -, ao que pedimos, assim, que os usem como guia, confirmando tudo!!! – como sempre vos peço!! – com base no vosso julgamento e vasto conhecimento jurídico. Agradecemos à Senhora, Leonora,, que tanto nos ajudou e tanto nos agracia na monotonia da tristeza imperativa, nos dias consumidos pelo fracasso, com o apoio e a compreensão de não lhe dar patologia mas, também, não a relativizar na estima de nos forçar a colocar acima desse patamar mínimo de existência onde nada nos dá, nada nos move e tudo nos comprime. À Mariana também lanço votos de estima e agradecimento, soubessem vós o que custa – irmã gémea do atraso, da impotência e cansaço – tentar e lutar para aqui nos quedarmos, novamente. Por fim, à Inês, que nos ajuda e nos estimula a continuar a tentar, no fazermos mais sem censura de querermos pouco (senão apenas a estabilidade do terminar) e que, na surpresa do acaso de nos conhecermos, se construiu em amizade sólida em gostarmos de ajudar e reconhecermos a boa ajuda que é.

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Caso 1

1. Antes de respondermos à solução do caso, cabe-nos atentar ao enquadramento do

problema.

Exequibilidade extrínseca (artigo 103.º CPC): é do título executivo que resulta a

exequibilidade de uma pretensão e, portanto, a possibilidade de realização coativa da

correspondente prestação através de uma ação executiva: o título executivo atribui

exequibilidade a uma pretensão (função constitutiva) e por ele se determinam os fins

e os limites da ação executiva (função delimitadora) e uma função probatória; eficácia

essa que corresponde ao respetivo documento. Ora, o título executivo só não é

suficiente em si mesmo para fundamentar a ação quando a obrigação nele referida

não for certa, exigível e líquida (nestes casos, a execução deve iniciar-se pelas

diligências destinadas a satisfazer estes requisitos).

Exequibilidade intrínseca (artigo 713.º CPC): corresponde às características da

obrigação que consta do título: se esta é exigível, certa e líquida. Assim,

o Exigível: condição relativa à justificação da execução (se não é, ainda, exigível,

não se justifica proceder à realização coativa da prestação);

o Certa e líquida: são condições respeitantes à possibilidade de execução, dado

que sem determinar e quantificar a prestação devida, não é possível proceder

à sua realização coativa.

Ora, no caso, Celeste tem um título executivo (que atribui exequibilidade extrínseca à

execução), sendo que a sentença condenatória consubstancia título executivo nos termos do

artigo 703.º, n.º1, alínea a) CPC. Todavia, a sentença de condenação, por não indicar os

valores em dívida, carece de exequibilidade intrínseca (in casu, falta de liquidez), pelo que nos

termos do artigo 716.º, n.º1 CPC, Celeste deve especificar os valores que considera devidos.

2. No caso de exequibilidade intrínseca, se o recurso tiver um efeito devolutivo, a sentença

recorrida é imediatamente exequível (artigo 704.º, n.º1 CPC). Trata-se da exequibilidade

provisória: não pode haver processamento posterior à penhora, salvo se o exequente (artigo

704.º, n.º2 CPC) pagar caução e, mesmo que pague caução, de certos bens (artigo 704.º, n.º4

CPC). Ora, a exequibilidade provisória visa proteger os interesses do credor (que não tem de

aguardar pelo trânsito em julgado para intentar a execução) e pretende evitar a interposição

de um recurso pelo demandado com a única finalidade de obviar à execução da decisão que

o condenou a cumprir uma obrigação. A regra é o efeito devolutivo (artigo 647.º, n.º1 CPC),

mas nos casos do artigo 647.º, n.º3 CPC é, a requerimento do recorrente – executado –

atribuído o efeito suspensivo, quando a execução lhe cause prejuízo e se ofereça para prestar

caução (artigo 704.º, n.º5 CPC).

3. Cumpre referir que se trata de uma liquidação não dependente de simples cálculo aritmético:

a execução da decisão depende do apuramento dos factos e consequente apreciação

valorativa, pelo que esta liquidação deve ser apreciada judicialmente num processo

declarativo acessório: o incidente de liquidação (apenas se o réu contestar – artigo 716.º, n.º4

CPC o executado pode opor-se, mediante embargo, ao valor avançado pelo exequente,

sendo, que, não o fazendo, a obrigação se encontra fixada nos termos do requerimento (por

regra). Nos casos de liquidez não dependente de simples cálculo aritmético temos de resolver,

consoante o título seja:

a. Título executivo extrajudicial: por incidente da própria execução, aufere-se o

valor (artigo 716.º, n,º4 CPC);

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b. Título executivo judicial: temos de distinguir:

i. Vigora o ónus de liquidação no âmbito do processo declarativo

(artigo 716.º, n.º4 ex vi artigo 716.º, n.º5 CPC). Mas se faltava apenas

juntar documento do Hospital, seguiria o requerimento (artigo 716.º

CPC), mas sabendo se é suficientemente determinado para não irmos

para o âmbito do artigo 358.º, n.º2 CPC.

ii. Vigora o ónus de liquidação no âmbito do processo declarativo –

incidente da própria ação declarativa (artigo 716.º, n.º6 CPC: renova-

se a instância declarativa, c.f., artigos 358.º, n.º2 e 725.º e 728.º, alínea

a) CPC: se devia ter sido renovada a instância, a secretaria não devia

ter aceitado o requerimento (artigo 728.º, alínea e) CPC): o executado

pode opor-se).

1. Lebre de Freitas: a sentença de condenação só se torna

exequível com a sentença de liquidação que a complementa,

complementando a formação do título (artigo 704.º, n.º6

CPC).

Assim,

a. Se o réu não deduzir oposição: a obrigação fixa-se no valor referido pelo

exequente (artigo 716.º, n.º4 CPC), salvo revelia inoperante (efeito

cominatório pleno);

b. Se o réu deduzir oposição: incidente da própria execução – o valor fixa-se

pelo juiz (salvo se as partes nomearem árbitros, quando fundado em título

judicial diverso da sentença – artigo 716.º, n.º6 CPC) – oposição à execução.

In casu, vigora o ónus de proceder à liquidação, ex vi artigo 358.º CPC, pelo que se deverá

renovar a instância declarativa, aplicando-se o artigo 560.º, n.º3 CPC, podendo opor-se

mediante contestação.

1. Rui Pinto: é uma sentença de condenação genérica. Não constitui título executivo.

4. No caso de juros moratórios, estamos perante uma situação em que a liquidação é feita por

simples cálculo aritmético (assenta em factos que ou estão abrangidos pela segurança do

título executivo ou são factos notórios ou de conhecimento oficioso – mas podem ser

impugnados em sede de oposição à execução).

a. Rui Pinto entende que são devidos juros desde que foi citado para a ação

declarativa mas, sendo ilíquida, a mora só existe depois da liquidação

(acórdão n.º4/2012), estando, assim, os juros abrangidos pelo título

executivo, de acordo com o artigo 703º, n.º2 CPC.

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Caso 2

1. A execução específica de um contrato-promessa ocorre através de uma sentença que produz

os efeitos da declaração negocial do faltoso, ou seja, através de uma sentença constitutiva.

a. Miguel Teixeira de Sousa: as sentenças constitutivas provocam a

constituição, modificação ou extinção de uma situação jurídica, mas este

efeito produz-se automaticamente, ou seja, nada há a prestar por um sujeito

passivo e, por isso, nada há a executar (a alteração na ordem jurídica produz-

se ipso iure). Mas pode proceder-se à execução quando se percecione um

pedido implícito: quando o pedido de condenação no dever de cumprimento

se tivesse sido cumulado com o pedido de uma apreciação ou constitutivo,

não se referia a uma utilidade económica distinta daquela que corresponde a

estes últimos. Mas deixa a questão: podemos valorizar a falta de diligência?

Assim, entende que estamos perante uma condenação implícita quando o

pedido não tem utilidade económica distinta.

b. Lebre de Freitas: a ideia de condenação implícita é aceitável quando haja

sido constituída uma obrigação cuja existência não depende de qualquer

outro pressuposto (como o dever de entrega do bem transmitido por

sentença de execução específica, o qual está na exclusiva dependência da

sentença constitutiva). Ver, assim, se é razoável que haja uma restrição ao

contraditório, tendo que aceitar um direito de oposição com os fundamentos

do artigo 729.º CPC quanto à parte nova.

c. Rui Pinto: o que está em causa é se as obrigações executórias por força da

lei também podem ser executadas (se estão dependentes da vontade do

credor já se levantam questões). O artigo 703.º, n.º2 CPC é excecional e não

deve ser aplicado a outras condenações implícitas. Assim, não haveria título

executivo com o contrato promessa. Conjugando o artigo 703.º CPC com o

princípio do pedido, se o autor não pediu os juros vincendos só terá direito

aos que se vencem após a sentença se não pedir os vincendos, só a partir da

execução.

2. Efeito negativo do título executivo: inadmissibilidade, por falta de interesse processual, de

uma ação declarativa relativa à pretensão exequível, artigo 535.º, n.º2, alínea e) CPC, sendo

que manifesta força admite que há títulos com força mais reduzida: o autor, in casu, Josefina,

tem de pagar as custas. Mas como há dúvidas na doutrina, haveria ainda interesse processual

para fortalecer o título e para esclarecer a dúvida (Rui Pinto). Segundo Miguel Teixeira de

Sousa, o interesse processual é uma exceção dilatória inominada e, como tal, a ação seria

improcedente por absolvição da instância.

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Caso 5

1. Sim, o cheque corresponde a título executivo, nos termos do artigo 703.º, n.º1, alínea c), 1.ª

parte CPC, sendo que tendo-se verificado recusa do pagamento (condição de ação que tem

de ser alegada e provada), nos termos do artigo 40.º LUC, o portador do título pode recorrer

dos meios judiciais para ser reembolsado do valor titulado no cheque (artigos 724.º, n.º1 e

5.º CPC).

Sim, manteria a responde já que, tratando-se de obrigações abstratas, dispensa-se a alegação

da causa: basta apresentar o cheque (mesmo que nele não esteja enunciada a causa), sem que

se tenha de demonstrar o porquê e independentemente de obrigação, invalidades ou exceções.

No fundo, o cheque é a própria causa de pedir, caberá ao devedor arguir e provar a nulidade

do negócio jurídico que lhe subjaz (in casu, se fosse um imóvel, a compra e venda sujeita a

registo sem o qual seria nula), em ação declarativa, no prazo de 6 meses (artigos 1.º, 3.º, 52.º,

n.º1 e 29.º LUC).

2. Sim, embora o artigo 29.º, n.º1 LUC determine que o portador do cheque tem 8 dias contados

a partir da data escrita no chegue para a apresentação do cheque a pagamento, a apresentação

intempestiva em relação ao artigo 29.º, n.º1 LUC, mas anterior à prescrição do cheque (a qual

ocorre 6 meses contados do termo do prazo de apresentação), ele vale como título executivo

– ou seja, o prazo de 8 dias refere-se à possibilidade de recorrer à ação cambiária – podendo

o executado deduzir oposição à ação executiva, demonstrando que a quantia não era devida

– a qualidade de titulo de crédito do cheque decorre da sua essência e não dos prazos e

procedimentos estabelecidos na LUC para assegurar ao beneficiário a ação cambiária (Paulo

Olavo Cunha). Assim, temos um título executivo válido enquanto título de crédito, nos

termos do artigo 703.ºa, línea c), 1.ª parte CPC, mas o banco podia pagar na mesma. Se

houvesse revogação já não havia título.

3. Estamos perante um cheque prescrito (aquele que em conformidade com a LUC já não

constitui um meio de pagamento idóneo, o que ocorre 6 meses passados do termo do prazo

de apresentação – prescrevendo a obrigação cambiária, o cheque deixa de constituir título

que incorpora um direito exercitável de modo autónomo da causa que o tenha originado –

deixa de valer como título de crédito).Assim, a prestação que se pretende obter já não é a

obrigação cambiária (entretanto extinta), mas a obrigação subjacente: o cheque deixa de ser

título executivo e de estar apto a constituir base válida de execução.

Mas surge-nos a questão: uma vez prescrito, o cheque pode continuar a valer como título

executivo, não enquanto título de crédito mas enquanto documento quirógrafo de

reconhecimento de dívida?

a. Posição maioritária: sim.

b. Paulo Olavo Cunha: não! É a validade formal do cheque que justifica o seu

enquadramento na categoria de títulos executivos, se o cheque deixa de valer

porque prescreve a obrigação do sujeito cambiário, que assegura

reconhecimento de dívida (artigo 458º CC).

c. Eurico Lopes Cardoso: o cheque prescreveu, este serve apenas como prova

se o negócio não estiver sujeito a forma específica;

d. Lebre de Freitas: tem de ser alegado pelo autor e tem de ser provada a

relação subjacente.

e. Rui Pinto: o cheque nunca pode valer como quirógrafo.

4. Não, segundo a jurisprudência do STJ (Acórdão 2003), o adquirente por endosso de cheque

prescrito não pode usá-lo como título executivo enquanto documento particular, dado que

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o cheque, como quirógrafo – reconhecimento de dívida – apenas vale nas relações entre

credor originário e devedor originário (o endosso, enquanto ato jurídico próprio da relação

cartular, não pode ser representado quando o título de crédito, designadamente pela

prescrição do direito, deixou de o ser, passando a simples quirógrafo), caso se entendesse

que o cheque prescrito continuava a ter força executiva quando na posse de terceiro ao

negócio causal que motivou a sua subscrição, a obrigação cartular, apesar de prescrita,

continuaria a mostrar o direito do credor através do título como título de crédito e não há

como documento particular. Só pode contar o P (se provar a relação subjacente – cheque

enquanto quirógrafo) – antes dos 6 meses poderia intentar contra todos.

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Caso 11

Dados:

Documento autenticado

H casada com X (sem ter escolhido a cor)

Condição suspensiva

H escolhe a cor

F cumpriu a sua obrigação

1. O fator que especificamente marca a diferença entre os contratos a favor de terceiros

próprios e impróprios é o direito que pelo contrato o terceiro adquire de exigir a prestação

do devedor (ou seja, o terceiro não deve ser um mero destinatário da prestação, mas antes

adquirir pelo contrato um direito de crédito ou um direito real autónomo) – se considerarmos

que é uma compra e venda a favor de terceiro em sentido próprio, tanto Helga como Fausto

são titulares do direito propor ação executiva, visto que têm legitimidade ativa nos termos

do artigo 444.º, n.º2 CC (estamos em casos de legitimidade aberta), mas como que só F tem

direito a executar G, pois creio que não se tratava de compra e venda a favor de terceiro, mas

a intenção de beneficiar H não ficou um elemento do contrato.

2.

i. Condição suspensiva: caso de falta de exigibilidade, na medida em que, para além da

apresentação do título executivo, incumbe ao credor, ao instaurar a execução, fazer a

demonstração da ocorrência do facto (artigo 715.º, n.º1, CPC), nomeadamente,

apresentando a certidão de casamento de Helga.

ii. Por ser sinalagmático, poder-se-ia opor a exceção de não cumprimento, todavia, como

resulta do caso , F pagou o preço no dia seguinte ao do casamento, pelo que, ao não

cumprir a sua parte do acordado, G entra em mora/incumprimento – ainda assim, quando

o credor está obrigado para com o devedor a uma contraprestação a realizar

simultaneamente, incumbe-lhe, independentemente da invocação, pelo devedor da

exceção de não cumprimento, provar que a efetuou (artigo 715.º, n.º1 a 4 CPC), sob pena

de não poder promover a execução.

iii. Escolha do carro: artigo 542.º ex vi artigo 549.º CC (obrigação alternativa) – não se refere

quando a escolha seja feita por terceiro mas aplica-se o artigo 402.º CC (cabe ao juiz

decidir). Martinez – artigo 542.º, n.º2 CC – a escolha passa pelo devedor pelo menos

durante o prazo de oposição do artigo 542.º, n.º2 CPC.

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Caso 14 NÃO ESQUECER: Lei n.º86/2016 e Portaria n.º282/2013 – Anexo A

i. Em razão da hierarquia: incompetência absoluta (artigo 96.º CPC): apenas os tribunais de

1.ª instância têm competência executiva (artigos 85º. e 86.º CPC), inclusive quando se

pretenda executar uma decisão proferida em ação proposta na Relação ou no Supremo

Tribunal de Justiça. Aplicamos o artigo 84.º CPC? O caso é omisso quanto às circunscrições

– não aplicamos o 84.º,n.º1 nem 4 CPC.

Território – tendo a decisão exequenda sido proposta na Relação, a execução é promovida

no Tribunal da 1.ª instância do domicílio do executado (artigo 86.º CPC). Assim, seria

competente o tribunal de Évora.

Valor e matéria: o tribunal da comarca de Évora tem secção de competência especializada

em execução em Montemor-o-Novo, tendo esta competência exclusiva – artigo 129.º, n.º1

LOSJ e 81.º, n.º2, alínea j) LOSJ (desdobramento).

ii. Hierarquia: tribunal de 1.ª instância (artigos 85.º e 86.º CPC)

Território: tendo a decisão exequenda sido proposta num tribunal de 1.ª instância, é

competente o tribunal da comarca em que foi julgado em 1.ª instância (artigo 81.º, n.º1 e

2CPC) (ainda que tenha havido recurso para tribunal superior);

Matéria: devia ter sido intentado na 1.ª secção de execução do Tribunal da comarca do Porto,

uma vez que havendo secção especializada de execução, esta tem competência exclusiva.

Incompetência absoluta em razão da matéria: mas o artigo 85.º, n.º2 CPC apenas implica a

remessa.

iii. Matéria: incompetência absoluta em razão da matéria – oficiosamente – artigos 104.º e 85.º,

n.º1 CPC. O artigo 129.º, n.º2 LOSJ exclui a competência da secção especializada de

execução, a execução das sentenças proferidas pelos tribunais de comércio (artigo 128.º, n.º3

LOSJ). Compete aos juízos de comércio a execução das decisões. Assim, não é competente

a secção de execução, mas antes a secção comercial do tribunal judicial da comarca de Lisboa

(artigos 550.º - a contrario, aplica-se o ordinário –, 726.º, n.º2, alínea b) e 734.º CPC

iv. Território: incompetência relativa (mas oficiosa porque o artigo 104.º e 89.º, n.º1, 1.ª parte

CPC), é este artigo (artigo 89.º, n.º1 CPC) que regula o tribunal territorialmente competente

(a injunção não se trata de decisão da autoria de um tribunal, além de que pode nem sequer

passar pela competência de um concreto tribunal, mas antes de uma entidade administrativa

nacional. Não se trata de um caso do artigo 89.º, n.º2 CPC, pelo que podemos aplicar o

critério especial da conexão real, restando recorrer à regra geral do artigo 89.º, n.º1 CPC.

Critério da conexão pessoal – é competente o tribunal do domicílio do executado (in casu,

Beja).

Material: incompetência absoluta (artigo 96.º CPC), que consome a relativa, já que Beja não

tem secção especializada de execução, pelo que, sendo o valor da causa inferior a 50.000€,

tem competência a secção de competência genérica da instância local (artigo 130.º, n.º1, alínea

d) LOSJ). Assim, é competente a secção de competência genérica da instância local de Beja

do Tribunal judicial da comarca de Beja, devendo ter sido cível.

v. Território: trata-se de um caso subsumível ao artigo 89.º, n.º2 CPC, pelo que o tribunal

territorialmente competente é o tribunal onde estão situados os bens onerados. Portanto,

será competente o tribunal da Guarda, o qual não tem um juízo de competência especializada

de execução, sendo portanto competente a secção de competência genérica da instância local

(artigo 130.º, n.º2, alínea d) LOSJ e 89.º, n.º2, 2.ª parte CPC): o autor tem competência

positiva mas se quiser acionar a garantia tem que aplicar o artigo 89.º, n.º2 CPC). Temos,

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assim, uma incompetência relativa em razão do território (artigo 89.º, n.º2 e 104.º CPC), de

conhecimento oficioso.

vi. Matéria: incompetência absoluta em razão da matéria (artigo 85.º, n.º2 CPC, implica a

remessa). 2.ª secção de execução é a secção de Almada, todavia, atendendo a que a regra geral

do lugar do cumprimento das obrigações é o lugar do domicílio do credor do credor (Catarina

Modista, com sede em Lisboa) – assim, a solução geral (domicílio do executado) e a solução

resultante da 2.ª parte do n.º1 do artigo 89.º CPC apontam para a necessidade de interpor a

ação na 1.ª secção de execução (Lisboa). Permitir que o bem indicado à penhora fosse

determinante do tribunal territorialmente competente seria permitir que se defraudassem

completamente as regras de competência (ficaria na discricionariedade do exequente o

tribunal competente para a execução – forum shopping).

vii. O artigo 95.º CPC vale também para as convenções das partes no âmbito do Direito

Executivo. Ora, estaria em causa a competência em razão do território, a qual pode ser

afastada pelas partes, com algumas exceções, salvo nos casos do artigo 104.º, n.º1, alínea a)

CPC, o qual proíbe que se afaste a regra do artigo 89.º, n.º1., 1.ª parte CPC, mas admite que

se afaste a possibilidade de recorrer ao artigo 89.º, n.º1, 2.ª parte CPC (ou seja, podiam

determinar que não se recorresse ao tribunal de Braga – lugar do cumprimento), mas teria

que ser o lugar do domicílio do executado (artigo 89.º. n.º1, 1.ª parte CPC) – que é

imperativo).

Todavia, trata-se de uma livrança, e deixa-nos a questão:

1) Pode a convenção abranger a execução com base na livrança? (ou seja, pode ser em

Lisboa?);

2) o artigo 75.º, n.º4 LULL é uma regra de competência ou pode valer como tal?

Tem-se entendido que o facto de ser uma livrança não afasta a aplicação do critério do

tribunal do domicílio do executado (em especial, dissentia se o artigo 75.º, n.º4 da Lei

Uniforme de Letras e Livranças, ao indicar que a livrança deve indicar o lugar do

cumprimento, constituiria uma regra especial de competência para efeitos do artigo 89.º n.º1

CPC, afastando pois a regra do domicílio – o Tribunal da Relação de Lisboa, em 2003,

concluiu que as normas da LULL que estabelecem qual o local do pagamento do titulo são

normas de Direito substantivo e não regras de competência: são inidóneas a delimitar a

competência territorial. Para execução da livrança é competente o tribunal do domicílio do

executado pessoa singular, mesmo quando o local do pagamento seja em comarca diferente.

Mas, o Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 2012 considera que a questão de

determinação do tribunal competente precede o mérito da ação, pelo que as questões de

mérito não podem ser fundamento da competência. Assim, não se pode atender ao contrato

subjacente: o exequente limita-se a pedir o pagamento do montante constante da livrança

exequenda, não formulando qualquer pedido relativamente ao contrato subjacente. Se na

livrança se diz que Braga é o lugar do cumprimento, então esse tribunal será territorialmente

competente.

viii. Não seria (artigo 710.º CPC) a 1.ª secção cível, mas a secção especializada de execução, sendo

o tribunal territorialmente competente o tribunal da comarca de Lisboa por força do artigo

85.º, n.º2 CPC.

Sub hipótese A: se fossem apresentadas duas sentenças, temos uma lacuna, na medida em

que o artigo 710.º CPC apenas se refere de uma sentença em que foram considerados

procedentes vários pedidos e o artigo 710.º CPC admite a cumulação de execuções fundadas

em títulos diferentes (Rui Pinto: artigo 709.º, n.º2 e 3 CPC – será o tribunal do lugar onde

correu o processo de valor mais elevado), como o tribunal era o mesmo, penso que o

problema não se colocava.

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Sub hipótese B: se o título fosse extrajudicial, aplicar-se-ia o artigo 89.º CPC, sendo

competente o tribunal do local do domicílio das executadas, dispondo esta de um juízo de

competência especializada de execução.

Consequências da incompetência. questão: pretensão de intentar ação na secção especializada

– forma ou matéria?

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Caso 18

1. Uma vez citado, o executado pode opor-se à execução por meio de embargos, os quais visam

a extinção da execução. Ora, a oposição à execução é efetuada intempestivamente, na medida

em que deve ser deduzida no prazo de 20 dias a contar da citação do executado (artigo 728.º,

n.º1 CPC), sendo que Nuno apenas apresentou oposição 30 dias depois de citado.

Consequência: o juiz deve proferir despacho liminar de indeferimento pois os embargos

foram deduzidos fora do prazo (artigo 732.º n.º1, alínea a) CPC).

Quanto ao incisivo (i), Nuno invoca uma exceção perentória, nomeadamente que a dívida

foi parcialmente perdoada ainda antes da ação declarativa, apenas tendo tido conhecimento

desse facto em momento posterior ao do trânsito em julgado da decisão em 1.ª instância –

ora, o artigo 729.º, alínea g) CPC impondo o respeito pelo caso julgado, estipula que o facto

extintivo ou modificativo invocado em oposição à execução há de ser posterior ao

encerramento da discussão no processo de declaração, pelo que, à partida, não se poderia

invocar este perdão da dívida em execução, na medida em que o facto é anterior ao

encerramento da discussão no processo declarativo.

Todavia, a superveniência subjetiva (Nuno só tem conhecimento do facto posteriormente

ao encerramento da discussão no processo declarativo, pelo que cumpre aferir se a

superveniência subjetiva pode ser atendido em processo executivo):

a. Plano literal: apenas se admite a invocação de factos objetivamente

supervenientes (factos em si mesmos posteriores ao encerramento da

discussão) – a invocação de factos subjetivamente supervenientes ficou

precludida pelo caso julgado;

b. Plano Funcional: pode invocar-se ser incompreensível que na ação

declarativa se admita a superveniência subjetiva até ao encerramento da

discussão e não se admita o mesmo nesta nova instância.

c. Miguel Teixeira de Sousa: admite a invocação de factos subjetivamente

supervenientes no caso em que as situações permitiriam recurso de revisão

de sentença (artigo 698.º, alínea c) CPC) e articulando o artigo 729.º, alínea d)

CPC com o artigo 728.º, n.º2 CPC – se a superveniência subjetiva de um

facto que pode ser prova do documento é relevante como fundamento de

recurso de revisão, não faz sentido que não o seja como fundamento de

embargos de executado, dado que a procedência daquele recurso implica a

inexequibilidade do título executivo, fundamento possível de oposição à

execução, conforme o artigo 729.º, alínea a) CPC.

d. Rui Pinto: a opção legislativa foi de pretender que a oposição à execução

operasse como uma revisão mais restrita, não permitindo a valoração de

factos subjetivamente supervenientes – resta ao Nuno aluir um revisão de

sentença e com a decisão favorável promover a extinção da execução e /ou

da venda que entretanto tenha ocorrido (artigo 839.º, n.º1, alínea a) CPC).

e. Ac. STJ 2017: o surgimento de um facto posterior importa a aplicação do

regime do artigo 619.º CPC, em particular da parte final da norma e não do

regime da oposição à execução da respetiva sentença condenatória.

Em todo o caso, quer se admitindo, ou não, a invocação de factos subjetivamente

supervenientes em sede de ação de execução, exigir-se-ia, para sua invocação na ação

executiva, que os factos extintivos ou modificativos fossem provados documentalmente! Ora,

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não sendo esse o caso (Nuno arrola 10 testemunhas para provar o facto), essa extinção não

seria invocável em oposição à execução, prosseguindo esta com base num título constitutivo

de um direito existente (a presunção estabelecida pelo título judicial quanto a existência da

obrigação só pode ser destruída, na oposição à execução, por prova documental). Assim,

Lebre de Freitas. Restaria ao Nuno propor uma ação declarativa para restituição daquilo que

indevidamente pagou em consequência do processo executivo.

Quanto ao incisivo (ii), Nuno pretende compensação à dívida em 10.000€ no contra-

crédito que tem sobre Maria, sendo que este contra-crédito se constituiu antes da propositura

da ação declarativa, mas só se tornou exigível na pendência da mesma.

Questão: pode o executado fazer valer a compensação em oposição à execução quando o

podia já ter feito na ação declarativa?

Lebre de Freitas: na medida em que, atualmente, o artigo 266.º, alínea e) CPC prevê

que a compensação deve ser integrada na reconvenção, o momento preclusivo recua

à data da contestação – assim, a invocação da compensação só não será admissível

quando ela já era possível à data da contestação da ação declarativa – só assim se

harmoniza o artigo 729.º, alínea g) CPC com o artigo 729.º, alínea h) CPC.

Rui Pinto: não são supervenientes a compensação cujos pressupostos objetivos já

estivessem completos até ao encerramento da discussão em 1.ª instância mas cujo

pressuposto subjetivo da declaração da vontade não tivesse tido lugar nos respetivos

articulados.

Miguel Teixeira de Sousa: a compensação é alegada no articulado da reconvenção,

pelo que não há nenhum ónus de reconvir e não há, atualmente, um ónus de reconvir

para obter a compensação judicial – isto significa que o réu não alegou um contra-

crédito para obter a extinção por compensação do crédito do autor não só não perde

este seu contra-crédito, como está impedido de o invocar e exigir numa posterior

ação

i. Podia contra argumentar-se que, em paralelo com o artigo 729.º, alínea g) CPC,

apesar de ser possível invocá-lo em ação posterior, estaria excecionada a sua

invocação em processo executivo, não se aplicando no processo executivo

posterior à correspondente ação declarativa que reconhecesse o crédito

executado.

ii. Mas não, diz-nos MTS: não:

1. Por motivos económicos: não tem sentido admitir a tramitação de uma

complexa e custosa ação executiva quando o crédito exequendo pode

afinal ser extinto através do reconhecimento de um contracrédito do

executado;

2. Não é aceitável submeter o devedor a um processo executivo quando

este executado possui um contra-crédito sobre o exequente que é

suscetível de extinguir, no todo ou em parte, o crédito exequendo e

poderia ser penhorado.

Assim, para o Professor:

a. Lebre de Freitas: preclude com a constestação na ação declarativa;

b. Rui Pinto: preclude com o encerramento da discussão em 1.ª instância;

c. Miguel Teixeira de Sousa: não preclude, pode ser invocado em execução.

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Assim, para LF e RP, é preciso aferir se o momento relevante é o da constituição do contra-

crédito ou se é o momento da sua exigibilidade:

Rui Pinto, inclusivamente, diz-nos: seria o momento da sua constituição (Ac. STJ

2008: o que releva para a determinação da superveniência da compensação, como

facto extintivos do crédito não é a declaração de compensação, mas os factos

constitutivos do contra-crédito).

Ora, in casu, sendo os factos constitutivos anteriores à ação declarativa, para este autor, não

seria possível a invocação do contra crédito em ação executiva. Pois bem:

A ser admissível, coloca-se depois a questão de saber como deve ser realizada a prova do

contracrédito:

1) Lebre de Freitas: a consideração do fundamento da compensação em altura

diferente da dos factos do artigo 729.º, alínea g) CPC liberta o executado do ónus de

provar através de documento d, quer o facto constitutivo do contra crédito e as suas

características relevantes para o efeito do artigo 847.º CC, quer a declaração de querer

compensar (artigo 848.º CC), no caso de esta ter sido facto fora do processo.

2) Ac. Relação de Coimbra 2015: a compensação (o seu facto constitutivo, os

respetivos pressupostos) tem de estar provada por documento (mais a jurisprudência

e certa doutrina tem vindo a exigir que o contra crédito revestisse a forma de título

executivo)

3) Miguel Teixeira de Sousa: não, a finalidade da invocação do contra crédito é a

oposição à execução e não a execução do contra crédito.

Quanto ao incisivo (iii), a nulidade (artigos 851 e 696.º CPC) da citação deve ser arguida

no prazo da oposição (artigo 191.º, n.º2 CPC).

1) Acórdão Relação Évora 2016: considera que a nulidade da citação em ação

executiva não é fundamento de oposição à execução.

Lebre deFreitas

RuiPinto

MiguelTeixeira

de Sousa

Não! Sim!

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2) Sumário do STJ de 2006: considera que os embargos de xecuçãonão são o meio

processual para o executado reclamar da nulidade da sua citação para os termos

da execução, pelo que o Nuno deveria apresentar um requerimento em que a

questão fosse suscitada no próprio processo executivo (em caso sanado //

reclamação).

2. Questão: é possível a reconvenção em processo executivo?

a. Lebre de Freitas: a reconvenção não é um meio de defesa, mas de contra ataque,

não sendo admitida no processo executivo nem nos processos declarativos que a ele

funcionalmente se subordinam;

b. Rui Pinto: não é admissível a reconvenção. A compensação será sempre invocada

como exceção perentória extintiva pelo executado, seja extrajudicial (operada antes

da execução) seja judicial (operando na oposição à execução) e mesmo que o seu

valor seja superior ao do crédito exequendo: a condenação do exequente a pagar a

diferença entre os créditos terá de ser obtido em ação declarativa autónoma.

c. Acórdão STJ 2012: a reconvenção não é admitida em processo executivo. A

procedência da ação só pode ter como efeito a extinção, total ou parcial, da execução.

Admitida a invocação da compensação por parte do executado, mediante a alegação

de contra crédito de valor superior ao crédito do exequente, o Tribunal não pode

nem condenar o exequente ao pagamento desse excesso nem declarar o direito do

executado a esse excesso.

Assim, Nuno não poderia reconvir, podendo intentar uma ação executiva contra Maria, na

medida em que tem um título executivo.

3. De acordo com Lebre de Freitas: deduzida a oposição à execução esta não é, em regra,

suspensa (artigo 733.º, n.º1 CPC), mas, na sua pendência, nem o exequente nem o outro

devedor podem ser pagos, salvo se prestarem caução (artigo 733.º, alínea a) CPC). Mas há

três possibilidades de o embargante conseguir a supressão da execução:

a) Se o embargante prestar caução: o juiz deve determinar a suspensão da execução

(não sendo estabelecido prazo para prestar a caução, entende-se que ela pode ter

lugar a todo o tempo e não apenas com a Petição Inicial de oposição, pois não se

justificaria qualquer restrição);

b) Nos casos em que a ação executiva se funda em documento particular sem

assinatura reconhecida: ocorre a suspensão quando o embargante impugne a

generalidade da assinatura. Ouvido o exequente, o juiz pode suspender a execução

se for junto documento que indicie que a alegação do oponente é verdadeira. A

suspensão não é automática, o juiz só suspende se se convencer da séria

probabilidade de a assinatura não ser do devedor.

c) Quado o embargante impugne a exigibilidade ou a liquidação da obrigação:

pode o juiz, ouvido o embargado, suspender a execução com dispensa de prestação

de caução.

Artigo 733.º, n.º3 CPC: cessa a suspensão se, durante mais de 30 dias, o embargante mantiver,

com negligência, o processo de embargos parado.

Ora, in casu, não haveria suspensão, salvo se Nuno prestasse caução nos termos do incidente

referido no artigo 915.º CPC e regulado no artigo 913.º CPC. Pode haver duas cauções:

caução pela suspensão, e caução do exequente para continuar (artigo 733.º, n.º4 CPC).

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4. Consequências do processo de oposição à execução:

a) Lebre de Freitas:

a. Posição anteriormente defendida: defendia a formação de caso julgado na ação de

embargos de executado. Esta posição tinha como pressuposto que, ao

estatuir que a oposição do executado desse lugar a uma ação declarativa que,

a partir dos articulados, seguia a forma de processo ordinário ou sumário,

consoante o valor, a lei processual então vigente estabelecia para os embargo

de executado uma forma quase tão solene como a do processo comum e,

uma vez que o princípio do contraditório era nula plenamente assegurado,

não se justificaria permitir posteriormente outra ação com a mesma causa de

pedir em que se pudesse voltar a pôr em caus a existência da obrigação

exequenda. Assim, na oposição de mérito, a procedência dos embargos não

se limitava a ilidir a presunção estabelecida a partir do título e gozava de

eficácia extraprocessual nos termos gerais, como definidora da situação

jurídica de Direito substantivo reinante entre as partes (sem prejuízo de,

quando fosse de improcedência, os seus efeitos se circunscreverem, nos

termos gerais, pela causa de pedir invocada – negação de um fundamento da

pretensão executiva), não impedindo nova ação de apreciação baseado em

outra causa de pedir.

b. Com a reforma: os embargos de executado passaram a seguir sempre, após os

articulados, os termos do processo sumário, independentemente do valor.

Assim, as ações que propostas autonomamente, seguiriam a forma ordinária

passaram assim a conhecer, com maior limitação, a redução a metade do

número de testemunhas por parte e por facto, o que constituía importante

limitação do direito à prova. Ainda assim, o autor entendia que, em princípio,

o caso julgado produzira-se, mas, concretamente e em ação que

autonomamente viesse a ser proposta, poder-se-ia demonstrar que as

limitações de prova referidas o tinham impedido de fazer uso de testemunhos

o que poderiam ter influenciado na decisão final – neste caso, o caso julgado

não se formava na ação de embargos de executado.

c. Com o CPC de 2013: introduz-se o artigo 732.º, n.º5 CPC (a decisão de

mérito proferida nos embargos à execução constitui, nos termos gerais, caso

julgado quanto à existência, validade e exigibilidade da obrigação exequenda):

a norma não distingue, nem tinha de distinguir: com a redução das formas de

processo comum a uma só, o regime de prova testemunhal passou a ser o

mesmo na ação declarativa comum e na ação de embargos de executado. Faz

caso julgado material a decisão de embargos sobre a existência da obrigação

exequenda.

b) Rui Pinto: um razão do fundamento, podemos isolar os casos em que se verifica

uma aptidão para a sentença alcançar valor de caso julgado material:

a. Decisão que negue o título executivo, por falta, insuficiência ou invalidade

formal: o que se proferiu foi um juízo de não verificação do título, mas não

sobre a dívida em si mesmo. A decisão respetiva conhecerá a qualidade de

caso julgado formal, enquanto pronuncia sobre se aquela execução conhece

das condições que permitem a sua admissibilidade;

b. Indeterminação da obrigação, por incerteza ou por iliquidez: apenas pode

obstar a uma concreta execução, mas não a outra. Já a exigibilidade integra a

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causa de pedir, enquanto facto acessório: qualquer sentença sobre a mesma

terá potencial para alcançar valor de caso julgado material.

c. Decisão sobre a existência e validade da obrigação exequenda: pode, por esse

seu objeto, alcançar valor de caso julgado material.

Resta saber se a sentença de oposição à execução que conheça destes fundamentos

relativos à relação material controvertida julga desta ou da extinção da execução. É

certo que o efeito da procedência da oposição à execução é a extinção da execução,

mas essa extinção é uma consequência necessária, mas secundária: ela tem lugar

prejudicada pelo conhecimento da questão ou fundamento da oposição à execução.

Quando o fundamento diga respeito à existência ou à exigibilidade da dívida a

oposição à execução surge como verdadeira ação de revogação de um título. Assim,

o facto de inexistência não é apenas um fundamento decisório da sentença (o que lhe

retiraria valor de caso julgado), mas é o próprio objeto da decisão transitada em

julgado (artigo 619.º, n.º1 CPC) e como tal ganha força de caso julgado material.

Em suma: a oposição à execução apresenta-se, no plano dos efeitos, como uma ação de

simples apreciação negativa de um pressuposto processual na oposição com fundamento

processual e como ação de revogação de título executivo por simples apreciação negativa da

dívida ou dos seus termos.

In casu, sendo a oposição procedente, a inexistência de uma situação de dívida de Nuno

constitui caso julgado material. O Acórdão da Relação de Coimbra de 2013 entende que

constituindo a oposição, do ponto de vista estrutural, uma ação declarativa, considera

indiscutível que a decisão proferida há de valer com a autoridade de caso julgado material.

5.

Supondo que Nuno não deduziu oposição à execução: a oposição à execução

corresponde à petição de uma ação declarativa e não à contestação de uma ação

executiva, a dedução de oposição à execução não representa a observância de

qualquer ónus cominatório a cargo do réu na ação declarativa. Assim, a omissão de

oposição à execução não produz a situação de revelia nem a omissão de impugnação

de um facto constitutivo da causa de pedir produz qualquer efeito probatório, mas,

na medida em que a oposição à execução é o meio idóneo à alegação dos factos que

em processo declarativo constituiriam matéria de exceção, o termo do prazo para a

sua dedução faz precludir o direito de os invocar no processo executivo (a não

observância do ónus de excecionar não acarreta uma cominação, mas tão só a

preclusão de um direito processual cujo exercício se poderia revelar vantajoso), mas

como no processo executivo o efeito preclusivo não faz caso julgado, nada impede a

invocação de uma exceção não deduzida em outro processo.

Maria não contestou a oposição à execução: aqui já há um ónus de resposta. Não

contestando o exequente, consideram-se admitidos os factos alegados na petição de

embargos, aplicando-se o artigo 567.º, n.1º CPC (revelia do réu), com as exceções do

artigo 568.º CPC. Mas, porque, diferentemente do que acontece em processo

declarativo comum, o exequente que não conteste já assumiu a posição de vir a juízo,

propondo a ação executiva, não são dados como provados os factos da petição de

embargo que estejam em oposição como os expressamente alegados no requerimento

inicial de execução (artigo 723.º, n.º3 CPC).

6. Artigo 723.º,n.º1, alínea d) CPC: tratando-se de vícios cuja demonstração não carece de

alegação de factos novos nem de prova, o meio de oposição à execução seria demasiado

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pesado, pelo que bastaria um requerimento do executado em que este suscite a questão no

próprio processo executivo (sem prejuízo da multa a que pode dar lugar quando

manifestamente infundado – artigo 723.º, n.º2 CPC), não se justificaria a abertura de um

incidente declarativo. Todavia, o professor refere esta solução apenas para os casos em que

o fundamento de defesa não é reconduzível ao artigo 729.º CPC (considerando que a redação

do artigo 729.º CPC não constitui obstáculo a que se considerem outros fundamentos – por

exemplo, erro na forma do processo, não indicação do valor da ação no requerimento

executivo – na medida em que o direito de defesa e o princípio do contraditório não podem

nunca ser preteridos. Assim, a alegação dos fundamentos dos artigos 729.º e 730.º CPC, o

fundamento carece de ser alegado em oposição à execução, nos outros casos, o meio do

requerimento é a solução adequada.

7. Quanto aos incisivos (i) e (ii): a ação executiva produziu danos sérios na esfera de Nuno.

Antes da Reforma de 2003, se a execução findasse por procedência dos embargos do

executado, com base na extinção da obrigação, o exequente podia ser responsável

como litigante de má fé.

Ora a Reforma de 2003 veio introduzir o (atual) artigo 858.º CPC, o qual determina

que a negligência do exequente que inicia a ação executiva pode implicar que este

responda pelos danos culposamente causados ao executado.

Todavia, o artigo 858.º CPC, para todos os processos, depende de preenchimento de duas

ordens de exigências:

a) Requisitos processuais: o procedimento da oposição à execução e a inexistência de

citação prévia do executado (processo sumário);

b) Requisitos materiais: falta de pendência do exequente.

Quanto ao incisivo (iii), ainda que se pudesse equacionar a identidade entre a falta e a

nulidade da citação, não considerou o tribunal procedente tal fundamentação, relativamente

à nulidade da citação, pelo que restaria procurar sancionar Maria por via da litigância de má

fé. Esta divergência justifica-se na medida em que o executado que não foi previamente

citado está mais sujeito a agressões patrimoniais, pelo que se compreende que o artigo 858.º

CPC venha conferir uma proteção alargada nestes casos.

Ainda que fosse devida a indemnização, cumpria questionar qual o tipo de ação a utilizar:

Rui Pinto: a ligação material e prejudicial com a execução e com a oposição à

execução aconselharia a que corresse por apenso, eventualmente nos autos de

oposição à execução;

Todavia: levaria a que se prolongasse um procedimento executivo que se deve

extinguir por falta de causa (tampouco faria sentido correr como apenso à oposição

à execução pois obrigaria a reabrir a respetiva instância). Assim, parece ser mais

adequado que o lesado faça valer os seus direitos em ação declarativa autónoma.

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Caso 19

1. Cumulação aparente: temos dois títulos mas uma mesma dívida. quanto ao fundamento de

Pipo, diferentemente do que acontece nos embargos à execução de sentença, os embargos à

execução fundados noutros títulos podem fundar-se em qualquer causa que fosse lícito

deduzir como defesa no processo de declaração (artigo 731.º CPC). Justificação: o executado

não teve ocasião de, em ação declarativa prévia, se defender amplamente da pretensão do

exequente. Assim, o executado pode alegar nos embargos matéria de impugnação,

nomeadamente, pode pôr em causa a autoria do título de crédito cuja assinatura não esteja

presencialmente reconhecida (artigo 374.º, n.º2 CC).

Quanto à defesa de Quitéria, a oneração da casa morada de família exige o consentimento

de ambos os cônjuges (artigo 1682.º-A CC), desta forma, embora, no caso de cheque passado

por um dos cônjuges, apenas este possa ser chamado à ação por força do artigo 54.º, n.º9

CPC, havendo uma garantia real que assegura o cumprimento da dívida e tendo essa garantia

sido constituída por ambos os cônjuges, constando ambos do título executivo, ambos devem

ser demandados ou, pelo menos, ambos podem ser demandados. Havendo pluralidade de

executados, ainda que em litisconsórcio necessário, cada um dos executados pode deduzir

oposição à execução (têm legitimidade singular em sede de oposição à execução).

No que toca à força bastante do cheque, é importante atentar.

Existem, por fim, várias maneiras de chamar o cônjuge à ação:

a) Ambos assinam;

b) Demandar um e comunicabilidade ao outro;

c) Enquanto proprietário de bens comuns: ele não é um executado mas é avisado de

que há penhora.

2.

a. Miguel Teixeira de Sousa:

i. Se há litisconsórcio voluntário na ação executiva a decisão pode aproveitar,

por ser decisão favorável, aos demais nos termos do artigo 634.º, n.º2 CPC,

por analogia, se:

1. Fundamento for comum (por exemplo: inexequibilidade do título);

2. Se o executado não oponente for titular de um interesse essencialmente

dependente do interesse do executado oponente (por exemplo: por ser

o terceiro garante do 54.º, n.º2 CPC);

3. Se o executado não oponente for um devedor solidário

ii. Se há litisconsórcio necessário na execução (artigo 634.º, n.º1 CPC) dita que

a decisão favorável aproveita aos demais apesar de não serem oponentes.

b. Lebre de Freitas: não há omissão, não se aplicando o artigo 634.º CPC

analogicamente, porque não é um recurso, não é uma continuação da ação declarativa,

mas uma ação autónoma:

i. Quanto ao litisconsórcio necessário for legal ou natural: a extensão do

caso julgado ao não oponente decorre da natureza do litisconsórcio (não

revestiria utilidade o prosseguimento da execução apenas contra o executado

que não se opôs à execução); sendo o litisconsórcio necessário convencional a

não oposição de um dos executados impede esse executado de se prevalecer

da oposição do outro, dependendo do credor a execução da obrigação apenas

contra o executado, que não se opôs à execução (artigos 580.º e 581.º, n.º2

CPC).

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ii. Nos casos de litisconsórcio voluntário: não há também analogia nem

omissão. O aproveitamento dos efeitos favoráveis do recurso dá-se, em

afastamento das regras gerais, em virtude da figura da adesão ao recurso, à qual

não se vê equivalente na oposição à execução. Tem de se aplicar o regime

comum (artigo 635.º, n.º1 CPC – não aproveita aos outros).

c. Rui Pinto:

i. Em caso de litisconsórcio voluntário: aplicam-se as regras comuns (artigo

635.º, n.º1 e 2 CPC, na medida em que a ratio do artigo 634.º, n.º2 CPC é a de

manter unidos os sujeitos unidos pela circunstância de serem partes numa

causa que ainda está pendente, ora, essa preocupação desaparece quando já

terminou a causa, pelo que não há de valer as regras comuns. Isto se o

litisconsórcio voluntário não for unitário – se for unitário (artigo 1405.º, n.º2

CPC, os oponentes representam os ausentes pelo que estes receberão a eficácia

da decisão final).

ii. No caso de litisconsórcio necessário adesão (artigo 311.º CPC), não é

preciso ir ao 634.º, n.º2 CPC.

3. Sendo que a ação se funda em documento particular sem assinatura reconhecida e o

executado impugna a generalidade da assinatura (artigo 733.º, alínea b) CPC), todavia, para

tal, é necessário que Pipo apresente documento que constitua princípio de prova e o juiz

entenda, ouvido o embargado, que se justifica a suspensão com prestação de caução.

In casu, Pipo apenas alega a falsidade do cheque, sem apresentar qualquer documento que

constitui princípio de prova, pelo que não poderá haver suspensão sem a prestação de caução

(não se verificando uma oposição à execução reconduzível ao artigo 733.º, alínea c) CPC),

restará recorrer ao artigo 733.º, alínea a) CPC.

4. O exequente só poderá ser pago da dívida exequenda após ter-se esgotado as fases da citação

e concurso de credores, o que significa que, até esse momento, o saldo bancário penhorado

não pode ser movimentado com vista a satisfazer o pedido do exequente de liquidação da

dívida exequenda (artigo 780.º, n.º13 CPC – e Ac. RLx 2007). Porém, de acordo com o artigo

633.º, n.º4 CPC, os credores só podem ser pagos depois de prestar caução.

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Caso 20

1. Oposição à execução de injunções:

a) Com a Reforma de 2008: k disposto para os fundamentos de oposição à sentença de

aplicava-se, com as necessárias adaptações, à oposição de execução fundada em

requerimento de injunção ao qual tivesse sido aposta fórmula executória (ou seja,

apenas se poderia recorrer aos fundamentos do artigo 729.º CPC).

i. Lebre de Freitas: considerava a norma inconstitucional pois violava o direito

de defesa salvaguardado pelo artigo 20.º CRP, tendo o Tribunal Constitucional,

em 2013, declarada com força geral obrigatória a inconstitucionalidade da

norma em causa.

b) Com a Reforma de 2013: temos o artigo 857.º CPC. Se a execução se fundar em

requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta formula executória, apenas

podem ser alegados os fundamentos de embargos previstos no artigo 729.º CPC, mas

admite 2 exceções:

i. Tendo havido justo impedimento à dedução de oposição (desde que

tempestivamente declarado), podem ser ainda alegados os fundamentos do

artigo 731.º CPC;

ii. Ainda que não tenha havido justo impedimento, o executado é ainda admitido

a deduzir oposição à execução com fundamento em questão material de

conhecimento oficioso que determine a improcedência, total ou parcial, do

requerimento de injunção (por exemplo: nulidade do contrato) ou na

ocorrência de forma evidente, no procedimento de injunção, de exceções

dilatórias de conhecimento oficioso.

In casu,

Quanto ao incisivo (i) – nulidade da notificação implica a falta do próprio título executivo

que, eventualmente, se forma no procedimento de inquisição (artigos 726.º, n.º2, alínea a) e

734.º, n.º1 CPC) – Acórdão de Relação de Coimbra 2016. Poder-se-ia argumentar que, na

aplicação das regras da citação (artigo 191.º, n.º4 CPC), esta nulidade só poderia ser atendida

se a falta cometida puder prejudicar a defesa do notificando (parece fazer recair o ónus de

provar que a formalidade não observada prejudicou realmente a defesa cabe ao citado).

Todavia, os modelos de citação e notificação são diversos no regime do processo judicial e

no da injunção, pelo que o artigo 191.º, n.º4 CPC, só tem validade para o caso de citação do

réu em processo judicial. Assim, estaríamos perante um caso do artigo 729.º, alínea a) CPC

(artigo 857º. CPC), pois (Ac. REv – sendo nula a notificação do requerimento de injunção,

não estava o mesmo em condições de lhe ser aposta a fórmula executória e,

consequentemente, a anulação do processado posterior à apresentação do requerimento de

injunção implica a invalidade do título executivo que serve de base à execução e

consequentemente inexiste título executivo.

Quanto ao (ii) – artigos 729.º, alínea g) ex vi 857.º CPC: admite a invocação da prescrição

da obrigação. Todavia, cumpre analisar se a restrição para a invocação no artigo 729.º, alínea

g) CPC (nomeadamente, a impossibilidade de invocar para efeitos do artigo 729.º, alínea g)

CPC) factos que fossem conhecidos até ao fim do encerramento da discussão em primeira

instância. Ora, tratava-se de um facto que não é objetivamente superveniente, pelo que a

aplicação literal do artigo 729.º, alínea g) CPC precludiria a invocação da prescrição em sede

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de oposição à execução. Todavia, o Ac. RC 2015, entende que o alargamento dos meios de

defesa operado pelo artigo 857.º, n.º2 e 3 CPC não afasta os fundamentos que, em 2013,

levaram ao juízo de inconstitucionalidade da solução legal semelhante. Assim, subsiste a

razão de ser da censura jus constitucional da solução que mantém as restrições do direito de

defesa em sede de execução e da obtenção de pronuncia judicial sobre as razões oponíveis

ao direito exercido pelo credor prévias à oposição da fórmula executória, pelo que entende

que não devem ser aplicados os limites impostos pelo artigo 729º, alínea g). O Ac. TC

n.º264/2015 entende que se aplica também o artigo 731.º CPC e o Ac. TC n.º1896/2006,

julga tal artigo inconstitucional pela exceção do justo impedimento.

2. Depende da postura adotada em relação ao atual regime do artigo 857.º CPC, sobre se

admitirmos a sua constitucionalidade ou se fazermos uma interpretação do artigo 857.º CPC

conforme ao artigo 20.º CRP.

a. Se considerarmos que o artigo 857.º, n.º1 CPC opera uma aplicação do artigo

729.º, alínea g) CPC que não permite a invocação de factos que não sejam

objetivamente supervenientes, a oposição à execução não será procedente;

b. Se considerarmos que não se aplicam os limites do artigo 729.º, alínea g) CPC,

a oposição à execução continua a ser procedente.

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Caso 21

1.

(i) Estamos perante uma dívida comum, contraída por ambos os cônjuges, a qual está

prevista no artigo 1691.º, n.º1, alínea a) CC.

De acordo com o artigo 703.º, alínea b) CPC, propõe ação executiva apenas contra

Antónia: ora, tendo em mãos uma dívida comum e com um título executivo contra

ambos os cônjuges, cumpre aferir se estamos, ou não, perante um caso de

litisconsórcio necessário (esquema 18 do livro).

a) Lebre de Freitas: não há, a dívida comum pode ser executada singularmente

contra apenas um dos cônjuges, pelo que se trataria de uma situação de

litisconsórcio voluntário, na medida em que o artigo 34.º, n.º3 CPC não se

aplicará à ação executiva, na medida em que a preocupação subjacente ao artigo

seria relativa à salvaguarda da posição de ambos os cônjuges perante essa

situação de definição (e não de execução) de responsabilidade comum. A isso

acresce o favor creditoris (pode demandar o que pretender e lhe pareça ter os bens

próprios mais adequados à satisfação do seu crédito). Ademais, inicialmente

não havia litisconsórcio na ação executiva, até porque a ação executiva tem

meios que permitem que se chame o outro cônjuge

à ação.

Todavia, e tendo em conta que, sendo proposta ação executiva apenas contra

um cônjuge, apenas responderão os bens próprios do mesmo, e na medida em

que, perante uma dívida comum os bens próprios dos cônjuges apenas

responderão subsidiariamente, tanto o cônjuge executado poderia deduzir

oposição à penhora (invocando a subsidiariedade dos bens próprios em

execução por dívida comum), como poderia, nesse caso, o credor requerer a

intervenção principal do cônjuge do executado para permitir a legalidade da

penhora (esta posição é a mais coerente com a 1.ª parte do artigo 34.º, n.º3

CPC). O artigo 740.º CPC valeria também para os casos de responsabilidade

por dívida comum (segundo a lei substantiva), mas a execução seja movida

apenas contra um dos cônjuges, quer haja título executivo contra ambos quer

apenas contra o executado. A consequência seria que, devendo a penhora

começar pelos bens comuns, dever-se-ia citar o cônjuge não executado para

separar a meação nos termos do artigo 741.º CPC.

b) Rui Pinto: a posição anterior consubstancia uma interpretação restritiva do

artigo 1695.º CC: pelas dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges

responde a sua meação nos bens comuns, na execução singular. Estas normas

de Direito da Família são imperativas e o Direito Executivo não pode ser meio

de fuga. Ora, as normas processuais devem ser interpretadas no modo mais

conforme possível ao Direito material, pelo que esta interpretação de Lebre de

Freitas não deve ser aceite. Assim, admitir que o credor pudesse demandar

apenas um cônjuge e penhorar apenas metade dos bens comuns, não estaria na

lei civil, colocaria o cônjuge numa posição subalterna. O artigo 741.º CPC não

se pode aplicar na execução de dívida comum, pois o cônjuge deve ser sempre

citado como devedor comum em litisconsórcio necessário (ademais o

argumento literal: o artigo 34.º CPC não estatui). Expressamente, a lei material

não impõe o litisconsórcio (o mero facto de existirem dois devedores não

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impõe a sua presença na ação executiva): todavia, a responsabilidade comum,

para ser exercida nos seus exatos termos apenas pode ser contra o casal (a

responsabilidade comum é indivisível). A demandada executiva de um só dos

devedores não produz o efeito útil normal de execução de dívida comum.

c) Miguel Teixeira de Sousa: tem igual entendimento, já que é indiferente

estarem os dois no título. A dívida comum apenas pode ser executada

coletivamente sob pena de violação do regime substantivo (princípio da

instrumentalidade).

A preterição do litisconsórcio necessário redunda em ilegitimidade que poderá ser

sanada por intervenção principal provocada (artigo 316.º, n.º1 CPC) pelo exequente

no prazo dado em despacho liminar ou superveniente para a sua sanação.

Na falta desta e após e após o devido despacho de indeferimento liminar ou de

extinção superveniente da instância, o credor poderá ainda aproveitar a ação,

mediante renovação nos termos do artigo 261.º, n.º2 CPC. Terceira via: o artigo 34.º

CPC aplica-se quando temos sentença contra os dois ou título executivo contra os

dois).

(ii) Trata-se de uma dívida contraída apenas por A, mas comunicável nos termos do artigo

1691.º, n.º1, alínea b) CPC.

a) Contra A e B: B poderia defender-se alegando ser parte ilegítima, na medida

em que não consta do título executivo apresentado por C (artigo 53.º, n.º1

CPC), pelo que não poderia promover a execução contra ambos os cônjuges,

mas apenas contra aquele que consta como devedor no título executivo.

Todavia, poderia provocar a intervenção de B mediante incidente de

comunicabilidade, previsto no artigo 741.º CPC.

b) Quando se trata de um título executivo extrajudicial e dele conste apenas um

dos cônjuges: passa a ser admitido a alegação da comunicabilidade pelo

exequente e pelo executado. Trata-se de um procedimento com base

declarativa que permite que, apenas para efeitos daquele concreto processo, e

sem valor de caso julgado, se possa concluir pela existência de um direito do

exequente à execução dos bens comuns do casal. Ora:

i. Artigo 741.º, n.º1 CPC: a C tem de apresentar alegação

fundamentada de que a dívida, a despeito da singularidade passiva

formal da obrigação, é comunicável (mediante requerimento

executivo);

ii. Artigo 741.º, n.º2 CPC: citação do cônjuge para, no prazo de 20 dias,

se pronunciar. Se a comunicabilidade dos alegados no requerimento

executivo – oposição em oposição à execução, se alegada

posteriormente.

Caso o cônjuge recuse a comunicabilidade da dívida, daí resulta que a dívida não pode

ser tratada como comum, contudo, daí também não resulta que ela seja própria do

cônjuge executado (a não aceitação da comunicabilidade pelo cônjuge executado não

resolve de modo definitivo e estável a questão da natureza da dívida, não faz caso

julgado)- Assim, negada a comunicabilidade da dívida pelo cônjuge, segue-se instrução,

discussão e julgamento, a mera recusa da cônjuge de reconhecimento da

comunicabilidade determina a abertura de uma fase contraditória da decisão pelo

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agente de execução pode caber reclamação para o juiz (artigo 723.º, n.º1, alínea c) CPC),

em todo o caso: o cônjuge A poderia beneficiar, já fora da exceção do regime de

compensação que é devida pelo pagamento de dívidas comuns com bens próprias, nos

termos do artigo 1697.º, n.º1 CC, podendo nele alegar a natureza comunicável da

dívida, pois não se faz caso julgado sobre a questão.

c) C pode alegar a comunicabilidade da dívida até ao início das diligências para venda ou

adjudicação mediante requerimento autónomo, porém, não o tem de fazer, como

resulta do artigo 741.º, n.º1 CPC. O incidente de comunicabilidade é facultativo e,

apenas constando A do título executivo, não haveria preterição de litisconsórcio

necessário, pelo que nada obstaria a que C apenas promovesse execução contra A,

sendo certo que os bens comuns apenas responderiam subsidiariamente.

i. Nota 1: Rui Pinto, se a C quisesse obter declaração de comunicabilidade da

dívida, não o poderia fazer por outro meio processual que não a do artigo 741.º

CPC. O exequente não pode decidir não alegar a comunicabilidade e ir requerer

junto do juiz de execução a intervenção principal do cônjuge do executado

(paralelo com os artigos 773.º, n.º3 e 792.º, n.º3 CPC). São procedimentais

exclusivos e que não podem ser substituídos e por uma ação declarativa

incidental.

ii. Nota 2: apesar de C não alegar a comunicabilidade da dívida, A podê-lo-ia

fazer, mas apenas em oposição à penhora (artigo 742.º CPC), ou seja, apenas

quando penhorados bens próprios do executado é que este pode alegar que a

dívida é comum (artigo 742.º, n.º1 CPC).

iii. Nota 3: o cônjuge do executado (B) não pode alegar a comunicabilidade da

dívida, já que o que se prevê é que ele possa, além de promover a separação de

bens, declarar se aceita a comunicabilidade da dívida e manifestamente nada se

diz quanto a ele.

(iv) Artigo 1692.º, alínea a) CC: não estando preenchido nenhum dos requisitos, pelo que se

trata de uma dívida própria de A:

a) B pode defender-se arguindo D ser parte legítima nos termos do artigo 53.º CPC, na

medida em que não consta do título executivo;

b) C alega a comunicabilidade da dívida e B não rejeita essa comunicabilidade: ora, o artigo

741.º, n.º2, 2.ª parte CPC considera que, no silêncio (não oposição) pelo cônjuge citado

nos termos do artigo 741.º, n.º2 CPC estamos perante um caso de reconhecimento da

comunicabilidade da dívida (confissão ficta decorrente da revelia): produz-se o efeito

da norma substancia alegado na fundamentação do exequente para a comunicabilidade

da dívida. Todavia, este acertamento apenas releva para aquele processo (mas se a

confissão tivesse sido expressa, dever-se-ia considerar que aquela confissão expressa de

responsabilidade pela dívida teria eficácia interna probatória nos termos dos artigos

352.º CPC).

Não apresentando oposição, a execução segue também contra o cônjuge citado,

passando a execução a contar com 2 executados, em regime de litisconsórcio necessário

superveniente. Temos, pois, uma ato processual de que resultou a exequibilidade da

obrigação contra quem não constava do título original. Como devemos entender isto?

Maria José Capelo: a comunicabilidade consistiria numa extensão subjetiva do

âmbito do título executivo origináriamente apresentado à execução;

Rui Pinto: não, a comunicabilidade da dívida não é em si mesmo uma alteração,

pela via processual, do conteúdo do negócio jurídico (não estamos perante o

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suprimento de um consentimento). A comunicabilidade dá expressão ao que já

decorre da lei (ao que resulta da verificação de uma causa legal de extensão da

responsabilidade pela dívida – forma-se um título executivo ex novo, autónoma,

embora genericamente ligado ao título executivo extrajudicial inicial – esse título

é o documento em que se declara, em função do comportamento do cônjuge, que

a dívida foi considerada comum.

(v)

a. A exequente, na ação declarativa, apenas propôs ação contra A, contra ele apenas

obtendo sentença de condenação, pelo que tal sentença não poderá ser executada

sobre os bens do outro cônjuge nem sobre os bens comuns (tendo optado por

propôr ação declarativa contra o autor do facto, caberia ao réu alegar e demonstrar

os pressupostos da comunicabilidade da dívida recorrendo à intervenção provocada

do seu cônjuge, sob pena de preclusão (pelo que, depreendo, o executado não poderia

usufruir do artigo 742.º CPC). Se o credor não invocar a comunicabilidade na ação

declarativa já não pode depois invocá-la na execução.

b. A ação prossegue como deveria;

c. B não é parte legítima.

2. A responsabilidade subjetiva e objetiva afere-se na data da sua constituição e não na data da

execução: artigo 1690.º, n.º2 CC – assim, uma dívida comum executado depois do divórcio

não perde a sua qualidade de comum. Todavia, é preciso aferir se os bens comuns foram já

partilhados (pois enquanto não partilhado, o património comum mantém essa afetação

primacial à satisfação das dívidas que eram comuns do casal). Para o Professor Rui Pinto, a

comunhão desses bens posteriores à dissolução do casamento passa reger se pelas regras da

compropriedade (artigo 1404.º CC). Ac. TRLx 2008: não é a simples extinção do vínculo

conjugal que automaticamente opera a alteração do regime de bens, legal ou contratualmente,

fixado para o casamento – a retroação dos efeitos patrimoniais do divórcio (artigo 1789.º CC)

não impede que o regime de bens deixe de ser o do casamento (se for esse adotado) para

passar ao da propriedade em comum, enquanto não se tiver procedido à partilha – só a

partilha põe termo à comunhão, podendo ou não dar lugar à compropriedade – A passagem

sem mais ao regime da compropriedade, como efeito do divórcio, tornava a posição do

terceiro credor instável e menos consiste, desde logo ficava-lhe vedado o recurso ao arrigo

741.º CPC, obrigando-o à penhora de metade indivisiva do usufruto, sem que o cônjuge não

executado ficasse sujeito à consequência de não requerer a separação de bens

(nomeadamente, prosseguindo a execução nos bens comuns penhorados).

Ou seja,

a. Se houver ainda comunhão: artigo 741.º CPC;

b. Se houver compropriedade: artigos 743.º e 781.º CPC.

Por isso, o que C deveria fazer, seria propor ação contra a A e B (D seria parte ilegítima, não

sendo possível sequer comunicar-lhe a dívida).

4.

a. Artigo 851.º CC: a compensação só pode abranger a dívida do declarante e não a de

terceiro, salvo se o declarante estiver em risco de perder o que é seu em consequência

de execução por dívida de terceiro. Ora, julgo que estamos perante um caso desses: se

a dívida é comum, respondem os bens comuns do casal, B, sendo a ação procedente,

poderá ver os seus bens executados se apenas compensar uma parte da dívida comum.

Em ação contra A e B, B pode apresentar oposição à execução com fundamento no

artigo 729.º, alínea g) CPC.

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Na qualidade de cônjuge do executado: ora, não sendo B parte na ação nem sequer

sendo proposto incidente de comunicabilidade, B não poderá ver os seus bens afetados.

Todavia, poderia, mediante cessão de créditos, ceder ao seu cônjuge a totalidade do

seu crédito (artigo 577.º, n.º1 CPC), por forma a que A compensasse a dívida que tinha

para com C. Acórdão RLx: não obsta à compensação de crédito exequendo a

circunstância de o contra crédito do executado lhe haver sido cedido por terceiro

credor do exequente.

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Caso 23

1. O título executivo da Worten contra L é o contrato de fiança (artigo 703.º, n.º1. alínea b)

CPC): ora, na execução da obrigação afiançada é-lhe lícito recusar o cumprimento enquanto

o credor não tiver excutido todos os bens do devedor sem obter a satisfação do seu crédito

(artigo 638.º, n.º1 CPC) ou quando o fiador tenha renunciado ao benefício da excussão prévia

(artigos 640.º e 641.º, n.º2 CPC). De acordo com os artigos 745.º, n.º2 e 728.º, n.º1 CPC, L

tem o ónus de invocar o benefício da excussão prévia em requerimento, entregue no prazo

da oposição à execução, como objeção preventiva à penhora .

a. Lebre de Freitas: não estamos perante em caso de legitimidade do devedor

subsidiário (não há litisconsórcio necessário) nem de inexigibilidade (como

defende Eurico Lopes Cardoso).

Ou seja, a Worten pode propor ação só contra Z, mas este pode invocar o benefício da

excussão prévia nos termos referidos, podendo, então, a Worten requerer execução contra o

devedor principal, para o que será citado, para o pagamento integral (artigo 745.º, n.º2 CPC).

2. Sim, pois neste caso, Z já não poderia invocar o benefício da excussão prévia, na medida em

que se o título executivo for uma sentença proferida aprovar contra o devedor subsidiário,

em ação em que não tenha intervindo o devedor principal, o benefício da excussão prévia

não é já invocável, por o réu, na ação declarativa, não ter chamado a intervir o devedor

principal nos termos do artigo 316.º, n.º3, alínea a) CPC (salvo se na ação declarativa tenha

expressamente declarado que não pretendia renunciar ao benefício da excussão): não se trata

tanto de um ónus de chamamento como de um presunção legal de renúncia ao benefício da

excussão, só ilidível mediante declaração expressa contrária no prazo em que o chamamento

era admissível.

3. A subsidiariedade concretiza-se no benefício da excussão e que consiste no direito que o

fiador tem de recusar o cumprimento da obrigação enquanto não estiverem excutidos todos

os bens do devedor do devedor principal – o fiador só responderá pelo pagamento da

obrigação se e quando se provar que o património do devedor (afiançado) é insuficiente para

a resolver.

4. Artigo 745.º, n.º4 CPC: aparentemente excutidos os bens do devedor principal e dirigida a

execução contra os bens do devedor subsidiário, pode este ainda indicar bens do devedor

principal que não fossem conhecidos, sustendo assim a execução dos seus bens – perante

esta indicação, o agente de execução deve proceder à penhora dos bens indicados. Se não o

fizer e os bens indicados desaparecerem, poderá o devedor subsidiário, mais tarde, vir opôr-

se à penhora dos seus bens com fundamento no artigo 638.º n.º2 CPC (não satisfação do

crédito por culpa do exequente, ao qual há-de ser dado conhecimento da indicação de bens

feita pelo devedor subsidiário.

5. Se, para segurança da mesma dívida, houver garantia real constituída por terceiro,

contemporânea da fiança ou anterior a ela, tem o fiador o direito de exigir a excussão prévia

das coisas sobre quer recai a garantia real, mesmo que os bens do devedor principal se hajam

esgotado (artigo 639.º, n.º1 CC). Nota: esta proteção do fiador existe haja ou não benefício

da excussão prévia! Se a garantia real incidir sobre os bens do fiador, este tem direito a que,

na execução dos seus bens, se comece pelos onerados, graças ao artigo 697.º CC. Todavia, in

casu, a constituição de garantia real foi posterior à fiança. (vejam isto)

6. Se a garantia real incidir sobre os bens do devedor principal, será irrelevante para o fiador,

este reclamará a excussão prévia dos bens do devedor principal, onerados ou não.

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Caso 24 (i)

(ii) Os objetos que, por via do artigo 280.º, n.º2 CC seja inalienáveis têm a sua impenhorabilidade

abrangida pelo artigo 736.º, alínea a) CPC – in casu, os estupefacientes, sendo o negócio

jurídico que os tenha como objeto absolutamente nulo, são impenhoráveis.

(iii) Artigo 736.º, alínea c) CPC: subordinando-se a penhora à finalidade de satisfação de

direitos patrimoniais, é vedada a apreensão de bens de valor económico nulo ou diminuto.

(iv) Cumpre aferir se estamos no âmbito do artigo 737.º, n.º3 CPC (bens imprescindíveis a

qualquer economia doméstica que se encontrem na residência permanente do executava –

são impenhoráveis por estarem em causa interesses vitais do executado, na medida em que

se asseguram ao seu agregado familiar num mínimo de condições de vida) – ora, a

imprescindibilidade não se afere pelo tipo de economia doméstica do executado: tem de

verificar-se em relação a qualquer economia doméstica, o que implica o recurso a um padrão

mínimo de dignidade social. Ac. RLx 2010: o padrão de dignidade ou de necessidades

essenciais, sendo evolutivo, deverá aferir-se pelo que a sociedade é humanamente exigível –

assim, a tv, o frigorífico, o computador, a mesma de cozinha, a mesa da sala e as cadeiras

onde o agregado se senta diariamente para fazer as suas refeições, ou até mesmo a cómoda

onde o agregado costuma guardar as suas roupas constituirão bens essenciais à economia

doméstica, só se se encontrando excluída tal essencialidade se se tratarem de objetos valiosos

ou decorativos, e sem utilidade na satisfação das necessidades básicas. Todavia, como refere

o Professor Lebre de Freitas, mesmo nestes casos, a penhora é admissível se se tratar de

execução destinada ao pagamento do preço de aquisição: in casu, tratava-se de um frigorífico

de tecnologia de ponta, bastante valioso.

(v) Artigo 736.º, alínea c) CPC: valor diminuto da coisa (artigo 737.º, n.º2 CPC): estão isentos

de penhora os instrumentos de trabalho e objetos indispensáveis ao exercício da atividade,

pelo que os cateteres não poderão ser objeto de penhora.

(vi) Preside ao (v) o mesmo raciocínio que ao (iv), a jurisprudência já considerou que a TV era

impenhorável: mas tratam-se de equipamentos de elevado valor e que me parece não ser

reconduzíveis à ideia de satisfação de necessidades básicas e que surpassam claramente o

padrão de dignidade social que serve de critério do tribunal.

(vii) As partes podem estipular a impenhorabilidade específica de determinados bens por dívidas

determinadas. Assim, o artigo 603.º CC permite que, por doação ou testamento, se

convencionem que os bens transmitidos não responderão pelas dívidas do beneficiário já

existentes à data. Assim, a cláusula aposta seria parcialmente inválida, na medida em que não

se pode consagrar a sua impenhorabilidade por dívidas futuras. Todavia, os jazigos e as

sepulturas (Ac. RGm) pertencem ao domínio público (embora os Municípios e as Freguesias

possam fazer concessões temporárias ou perpétuas de jazigos, a concessão não lhes retira a

natureza de bem público). Assim, caberia no artigo 736.º, alínea b) CPC, sendo, portanto,

impenhorável. Ainda que não de domínio público, podiamos considerar aplicável o artigo

736.º, alínea e) CPC, e, ainda, quiçá o artigo 736.º, alínea c) CPC.

É relevante que o jazigo seja valioso? – Sim, pelo menos quanto à aplicação do artigo 736.º,

alínea c) CPC (bons costumes), mas creio que a teleologia do artigo 736.º, alínea c) CPC não

seria lesada, na medida em que tratando-se de um jazigo desocupado não haveria uma

necessidade de tutelar o respeito pelos mortos (e, em especial, no caso de um jazigo, pela

ideia de uma última morada em que os familiares estão novamente reunidos).

(viii) Artigo 829.º CPC e 1961: no seu artigo 822.º, e na alínea a que atualmente corresponde o

artigo 736.º, alínea d) CPC atual, incluía nos casos de impenhorabilidade absoluta, não só os

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objetos de culto público, mas também os edifícios destinados ao culto público. Todavia, o

seu n.º3 referia que as capelas particulares podiam ser penhoradas na falta de outros bens:

todavia, penso que se deve considerar que a capela é impenhorável, se não pelo artigo 736.º,

alínea d) CPC, pelo artigo 736.º, alínea c) CPC, considerando que a sua apreensão é ofensiva

dos bons costumes.

(xi) Os animais de companhia são impenhoráveis nos termos do artigo 736.º, alínea g) CPC.

(xii) A correspondência do homem público não pode ser penhorada sem o seu consentimento

(sem o qual estaríamos no âmbito do artigo 736.º, alínea a) CPC, por se tratar de uma nulidade

negocial por força do artigo 280.º, n.º2 CC (Lebre de Freitas).

(xv) Trata-se de um direito penhorável: feita a notificação pelo agente de execução nos termos do

artigo 773.º, n.º1 CPC, o terceiro devedor pode, no ato de notificação ou no prazo de 10 dias

(artigo 773.º, n.º3 CPC):

a) Reconhecer que o crédito existe, mas declarar que a sua exigibilidade depende da

contraprestação do executado (artigo 776.º CPC), o que parece ser o caso, na medida

em que J ainda não entregou o veleiro. Estamos perante um reconhecimento

expresso qualificado onde o executado será notificado para confirmar a declaração e

realizar a prestação em 15 dias, por determinação do agente de execução (artigo 776.º,

n.º1 CPC).

Se J confirmar e caso não cumpra a contraprestação: a lei cria um sistema para

afastar o obstáculo da inexigibilidade do crédito sobre terceiro (artigo 776.º,

n.º2 CPC), com duas hipóteses:

i. O exequente realiza a prestação pelo executado, ficando neste caso sub-

rogado nos direitos do devedor (artigo 592.º, n.º1 CC);

ii. Ser instaurada uma ação executiva contra o executado, pelo exequente

ou pelo terceiro devedor, a qual pode correr sem necessidade de citação

prévia do executado, tendo como título executivo a declaração de

reconhecimento da dívida (artigo 776.º, n.º2 e 4).

(xvi) Artigo 738.º, n.º1 CPC: são impenhoráveis 2/3 dos rendimentos periódicos, devendo

atender-se ao valor líquido no plano fiscal (artigo 738.º. n.º2 CPC), ou seja, não deve atender-

se a um valor líquido no plano pessoal (depois de descontadas as despesas pessoais) qualquer

invocação de gastos pessoais deve ser feita a posteriori nos termos do artigo 738.º, n.º6 CPC.

Todavia, a parte impenhorável do vencimento do executado tem um limite mínimo e um

limite máximo:

a) Limite mínimo: garantia de reserva de um montante equivalente a um salário mínimo

(artigo 738.º, n.º3 CPC): quando o executado aufira valor igual ou inferior ao salário

mínimo, não podem estes ser penhorados de todo;

b) Limite máximo: de acordo com o mesmo n.º3 do artigo 738.º CPC, será penhorável,

por completo, a parte do rendimento superior a 3 vezes (3x) o salário mínimo.

Assim, do salário de J, serão penhoráveis, aproximadamente, 7329€.

Pode J requerer o aumento do valor impenhorável (artigo 738.º, n.º6 CPC), mas já não é

possível que o exequente solicite a diminuição do valor impenhorável.

(xvii) Trata-se de um caso de impenhorabilidade por consideração de interesse de terceiro (artigo

1184.º CC): os bens que o mandatário sem poderes de representação haja adquirido em

execução do mandato e que, consequentemente, devam ser transferidos para o mandante

não respondem pelas dívidas do mandatário, desde que:

1) O mandato conste de documento anterior à data da penhora; e

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2) Não tenha sido feito o registo da aquisição, se se tratar de um bem sujeito a registo.

(xviii) Creio que a penhora apenas poderá vir a abranger o direito que o executado tem na herança,

pelo que, apenas quando houver um de cuius é que existirá, na esfera jurídica do executado,

um direito de quinhão hereditário (ou seja, à respetiva quota parte da herança global em si

mesma). Ora, o direito do executado à quota hereditária na herança aberta pelo óbito do de

cuius responde pelas dívidas do I, na medida em que integra o património geral garante das

dívidas deste, e não podem ser penhorados (sendo que a partilha converterá os vários direitos

a uma simples quota – indeterminada – de um todo – determinado – em direito exclusivo a

uma parcela do todo). Assim, sendo operada a penhora do direito e ação do executado a

herança indivisa, a partilha realizada na pendência da execução é inoponível ao exequente (a

tese de que a penhora do direito se converte imediatamente na penhora dos bens só se poderá

aceitar se o penhorante tiver intervindo, como interessado na realização da partilha e a tiver

aceitado) – artigos 606.º e 2067.º, n.º1 CC.

c) Ac. RPt 1998: é impenhorável o direito de quota legitimária da herança (ainda não

aberta) de pessoa viva. Ademais, da inalienabilidade do direito à sucessão de pessoa

viva (artigo 2028.º CC) resulta a sua necessária impenhorabilidade (artigo 736.º, alínea

a) CPC).

d) Rui Pinto2: parece admitir que, perante o artigo 778.º CPC, seja possível conceber

a penhorabilidade do direito a quota em herança de pessoa viva, na medida em que

haverá já uma expectativa de aquisição.

2 Página 654, nota de rodapé 1698 – da edição da Coimbra editores.

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Caso 28

A penhora é a apreensão judicial de bens do executado (in casu, C) que constituem o objeto

dos direitos do exequente a serem satisfeitos pelo processo de execução.

Ora, a realizar-se a penhora, esta tem de se limitar aos bens necessários ao pagamento da

dívida exequenda e das despesas previsíveis da execução (1.ª parte do n.º3 do artigo 735.º

CPC) estando sujeitos a esta satisfação através da penhora, todos os bens do devedor

suscetíveis de o ser: ou seja, não sujeitos a impenhorabilidades (artigos 735.º, n.º1 e 736.º a

739.º CPC, quanto a estas). In casu, são-nos omitidos detalhes que tal possa indiciar e concluir,

desconsideraremos e presumimos a sua livre penhorabilidade.

Sendo o colar um bem móvel (artigo 205.º. n.º1 CC), será aplicado o regime processual

presente nos artigos 764.º e seguintes CPC. Sendo um bem não sujeito a registo, nos termos

do artigo 764.º, nº.1 CPC, a sua penhora faz-se com apreensão efetiva dos bens seguida da

sua remoção para depósito, uma vez que não se verifica, também, qualquer limitação do n.º2

do mesmo artigo, pois a apreensão do colar em nada nos parece ser/ter:

Natureza incompatível com o depósito;

A remoção implicar uma desvalorização ou inutilização;

O custo da remição ser superior ao seu valor.

Assim, o agente de execução será constituído de acordo com a parte final do n.º1 do mesmo

artigo 764.º CPC como depositário deste colar, o que também parece ter sucedido pois não

nos surge no caso indicação de que a executada o tenha em sua posse.

1. Esta realidade decorrente da apreensão dos bens assegura, assim, a viabilidade da venda

executiva dos direitos sujeitos à penhora cumprindo uma função conservatória que, como

nos diz Miguel Teixeira de Sousa, é:

1) Material: o bem não se desencaminhe ou deteriore transferindo para o agente de

execução dos poderes de exercício material do direito, maxime, o uso, a fruição e

administração. Como nos diz Anselmo de Castro: a indisponibilidade material do

bem). Que consequências retirar daqui, porém: posse, detenção do agente de

execução? A doutrina não é unívoca:

a. Miguel Teixeira de Sousa: a penhora impõe ao executado um

desdobramento da posse sobre os seus bens:

i. Permanece possuidor em nome próprio nos termos do seu direito de

que ainda fica como titular;

ii. Vê constituir-se sobre eles uma posse que é exercida pelo depositário

e que tem o conteúdo que resulta dos poderes que são concedidos

(artigos 760.º e 772.º CPC), e mesmo quando o depositário é o

executado.

b. Rui Pinto: seguindo esta posição, entende que a posse do agente de execução

como depositário é a posse do Estado no seu título (artigo 1253.º, alínea c)

CC):

i. O depositário é o detentor;

ii. O Estado é possuidor.

A posse civil é do executado e, assim, também a sua propriedade, até à venda

executiva (o mesmo entende Anselmo de Castro).

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c. Lebre de Freitas: o executado vê, com a penhora, a sua posse esbulhada, e

inicia-se uma nova posse pelo tribunal: o depositário passa a ter a posse do

bem.

Concordamos com Teixeira de Sousa e Anselmo de Castro pois seguindo Lebre de

Freitas a posse seria transferida para o executado no caso em que este o possa ser e

deixaria em maior insegurança o efeito conservatório da penhora. Contendo contra

o efeito conservatório jurídico, que nos cabe adensar.

2) Jurídica: pretende que a faculdade de disposição do direito penhorado, e que o

executado mantem na sua esfera jurídica, não possa ser exercida de modo a privar a

venda do seu objeto.

Assim,

Detentor: agente de execução;

Possuidor: Estado (maxime, tribunal);

Proprietário: Clotilde.

2. A transferência da posse e detenção para o Estado e detentor têm, assim, efeitos

conservatórios que, nos termos da indisponibilidade jurídica do colar, o executado o não

possa transferir. Em que medida, então, estão viciados os negócios de disposição e oneração

real deste?

De acordo com o artigo 819.º CC, estes são atingidos de ineficácia relativa destes atos: como

diziam Anselmo de Castro e Alberto dos Reis, os atos são válidos, o executado não ficou

privado dos poderes de disposição, estes so não produzem efeitos enquanto estiver o colar

penhorado. Assim, e segundo Miguel Teixeira de Sousa, e à luz do princípio da

proporcionalidade, a indisponibilidade e ineficácia não se estende a outros efeitos que não

contendem com a satisfação deste interesse: o que não parece ser o caso, manifestamente

violadores do interesse do exequente.

Assim, são inoponíveis os atos de disposição a D e a sua oneração.

3. A Diamantina aconselharia a dedução de um incidente declarativo: embargo de terceiro

pedindo a extinção da penhora invocando o seu direito de propriedade ao colar uma vez

que, nos termos da interpretação a contrario dos n.º1 e 2 do artigo 735.º CPC, a penhora de

bens de terceiro à execução não é possível.

4. A questão prende-se com a natureza jurídica da penhora. E é algo que não é pacífico na

doutrina:

a. Antes de 1967 (CC): Alberto dos Reis, Palma Carlos, Dias Marques e, agora com os

artigos 819.º e 820.º CC, Menezes Cordeiro e Lebre de Freitas, defendem a natureza

real da penhora onde esta seria um direito real de garantia do exequente graças à

constituição no direito de sequela, que lhe autoriza a realização da perseguição do

bem perante aqueles a quem foi transmitido.

b. Miguel Teixeira de Sousa: nega a natureza real. Não encontra nem sequela nem

inerência. A penhora resolve o problema da execução fazendo a afetação do bem aos

fins desta execução. Em vez de acompanhar o bem transmitido e de sujeitar o seu

adquirente à execução, a penhora ignora a transmissão do bem me rejeita qualquer

substituição do executado. Donde, se a penhora é fonte de uma preferência sobre o

produto da venda dos bens ela não é, todavia, um direito real de garantia uma vez

que a sua função é conservatória – sendo esta a função que justifica a inoponibilidade

dos atos de disposição. A penhora é, assim, uma situação em que são colocados certos

bens.

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c. Rui Pinto: ao se falar da natureza real da penhora fala-se de:

i. Ineficácia relativa dos atos de disposição e oneração (artigos 819.º e 820.º CC);

ii. Preferência em relação a credor sem melhor preferência (artigo 822.º CC).

Ou de ambas as vertentes?

A penhora parece assumir-se um ato processual produtor de um complexo de

efeitos e não como uma figura unitária e tem, então, de se distinguir o:

i. Efeito conservatório: que não é real como procede dos argumentos de Teixeira

de Sousa e que, adicionando, não tem um efeito tão extenso de limitação na

indisponibilidade do artigo 81º CIRE, o que torna impossível de sustentar na

sua natureza real;

ii. Efeito de garantia: também é um direito de garantia não real que onera o direito

que seja objeto da penhora: o exequente adquire a penhora e o direito de ser

pago com preferência a qualquer outro credor que não tenha garantia real

anterior. Isto porque a penhora tem uma função conservatória da situação

jurídica e não de seguir a coisa objeto desta situação. O mesmo sucedendo,

v.g., com o privilégio creditório geral).

Concordamos com este último autor, na esteira de Teixeira de Sousa. A penhora não é uma

garantia real mas um direito legal de garantia não real.

5. A inoponibilidade objetiva resultante da penhora dita que apenas o efeito dispositivo e

onerador são tocados pela ineficácia. Porém, a proporcionalidade que a esta tem de se ater,

ao limitar somente a estes, também limita temporalmente estes seus efeitos: a inoponibilidade

apenas se abate sobre os atos posteriores à penhora que forem incompatíveis com as

pretensões do exequente e credores reclamantes. Mas tal não impede que a impugnação

pauliana possa proceder.

Assim, C vende o bem a D antes da penhora: impugnação pauliana, estando preenchidos os

requisitos do artigo 610.º CC: temos em crédito anterior ao ato de venda do colar a D e do

ato resulta o agravamento da impossibilidade de satisfação integral do crédito do credor.

Todavia, o artigo 612.º, n.º1 CC exige que, tratando-se de um ato oneroso, também D

estivesse de má fé, o que não é o caso.

Se D soubesse o dano que o ato causava ao credor (artigo 612.º, n,º2 CC), seria procedente

a ação pauliana e, nos termos do artigo 616.º, n.º1 CC, o credor poderia executar o colar no

património de D, como resulta da conjugação do artigo 616.º, n.º1 CC aliado ao artigo 818.º

CC: embora a devedora C conserve a sua legitimidade perante o título executivo, a adquirente

adquire legitimidade por causa dos bens, no plano da garantia da obrigação exequenda, como

sucede no artigo 54.º, n.º2 CPC (assim, este artigo seria aplicado analogicamente para fundar

a propositura de ação contra D).

Todavia, como D estava de boa fé, o credor não poderia impugnar o negócio por esta via,

podendo quanto muito, se o credor entender, de boa fé, que C já está numa situação de

insolvência, servir-se desse mecanismo para obter a resolução dos atos prejudiciais à massa

praticados dentro dos dois anos anteriores à data do início do processo de insolvência (artigo

120.º CIRE), sendo que os casos do artigo 121.º CIRE não carecem de má fé para serem

resolvidos, sendo que a venda ao desbarato para poder enquadrar-se no artigo 121.º, n.º1,

alínea h) CIRE.

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Caso 29

1.

(i) Sim, o recheio da casa pode ser penhorado (salvo os bens que, dentro do recheio, sejam

impenhoráveis, nos termos dos artigos 736.º e 737.º CPC). Tratando-se de coisas móveis

não sujeitas a registo, a penhora faz-se por apreensão efetiva do bem, seguida da sua

remoção para depósito (artigo 764.º. n.º1 CPC), salvo se a sua remoção implicar uma

desvalorização substancial dos bens ou a sua inutilização, o custo de remoção implicar

uma desvalorização substancial dos bens ou a sua inutilização, o custo de remoção for

superior ao valor dos bens ou a natureza dos bens for incompatível com o depósito

(artigo 764.º, n.º2 CPC). Nota: o artigo 764.º, n.º3 CPC: presumem-se que os bens que

integram o recheio da casa pertence a Belmira (pelo menos os que se refiram aos espaços

comuns da casa).

(iii) Caso do artigo 764.º, n.º2 CPC, devendo proceder-se a uma descrição pormenorizada

dos bens, à obtenção de fotografias dos mesmos e, sempre que possível, à imposição de

algum sinal distintivo nos próprios bens, ficando o executado como depositário,

lavrando-se auto de diligência.

Do caso não resulta que o valor da remoção seja superior, todavia, o fundamento do

artigo 764.º, n.º2, 2.ª parte CPC é respeito pelos fins da penhora. Se, em regra, só com a

remoção da esfera de disponibilidade do devedor é acautelado o interesse do credor

exequente, tal remoção só faz sentido se a mesma for viável e garantir o valor patrimonial

dos bens e obtenção de receita com a sua venda, ainda que o custo de remoção não

fosse superior, ainda assim a teleologia do preceito se justifica.

(iv) Penhora de dinheiro é realizada nos termos do artigo 764.º, n.º5 CPC, tendo sido a

diligência realizada pelo agente de execução, deverão ser depositadas as notas em

instituição de crédito – quanto ao facto de as notas representarem o salário de B, estão

cobertas pela impenhorabilidade parcial do artigo 738.º, n.º1 CPC, sendo penhorável

apenas 1/3 do rendimento deste; todavia, o artigo 738.º, n.º3 CPC determina que, ainda

assim, a impenhorabilidade tem como limite mínimo, quando o exequente não tenha

outro rendimento, o montante equivalente a um salário mínimo. Assim, só será

penhorável a diferença entre o valor do salário mínimo e os 500€ recebidos por B. Como

o salário mínimo é superior ao valor recebido, é impenhorável na sua totalidade). B

poderia, pois, reagir através do mecanismo da oposição à penhora nos termos dos artigos

856.º e 784.º, n.º1, alínea a) CPC, na medida em que parece que B não foi previamente

citado para a penhora.

(v) Artigos 757.º, n.º4 ex vi 764.º, n.º4 CPC: deveria obter despacho judicial e, só depois,

solicitar a ajuda das entidades policias, não podendo o agente de execução só por si,

arrombar a porta da casa e entrado à força. Quanto a B, se o agente de execução tivesse

suspeitado da sonegação, deveria ter advertido B da responsabilidade em que incorre

com o facto da sonegação: tendo ocultado bens, B responderá por litigância de má fé

(artigo 767.º CPC).

2.

(i) Antes da reforma de 2003, admitia-se que, no ato de penhora pudesse o executado (ou

alguém por ele), mediante a apresentação de documento que demonstrasse, de modo

inequívoco, que o bem pertencia a terceiro ou ao executado e a terceiro, obviar a uma

ilegalidade subjetiva manifesta da penhora.

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Com a reforma, foi suprimido o protesto, dispondo o artigo 764.º, n.º3 CPC que se

presumem pertencerem ao executado os bens encontrados em seu poder, podendo a

presunção ser ilidida perante o juiz, mediante prova documental inequívoca do direito

de terceiro.

«Em poder» é diferente da posse: para o legislador bens móveis estão em poder do

executado quando se achem num espaço identificado no processo como sendo objeto

de algum direito de gozo do executado. Assim, estando a máquina de lavar em casa de

B, despoleta-se a aplicação da presunção do artigo 764.º, n.º3 CPC: assim, tem como

consequência:

1) a Repara Tudo, Lda apenas poderá ilidir esta presunção de modo deferido,

estando esse afastamento restringido a nível de prova, na medida em que não

se pode usar prova testemunhal para demonstrar o direito de terceiro.

2) O agente de execução não pode recusar-se ex officio a realizar a penhora, esta

vale, para ele, como uma ficção (já que oficiosamente ele deveria aferir da

qualidade de ser ou não do executado com base na regra comum do artigo

1268.º, n.º1 CC, que seria um critério normativo para permitir ou não a penhora.

Mas

a. Paula Costa e Silva: é uma ficção legal para toda a gente – a do artigo

1268.º, n.º1 CC.

b. Rui Pinto: só o é para o agente de execução.

c. Lebre de Freitas: considera que o facto de a ilisão da presunção se

efetuar perante o juiz nos termos do artigo 764.º, n.º3 CPC não significa

que o agente de execução deva realizar a penhora, quando seja

confrontado, no próprio ato, com a evidência do direito de terceiro. Há

que ter em conta que a ele cabe determinar os bens a apreender, com

respeito da proporcionalidade e salva a especial imposição da penhora

de determinado bem, pelo que seria abusivo que fosse obrigado a

penhorar um bem que manifestamente pertence a terceiro. Ou seja, se

tiver a prova inequívoca (mais forte que os documentos autênticos ou

autenticados), já que é nessa prova que se baseia a ficção. Deveria, assim,

embargar de terceiros.

Pois bem, o agente de execução deveria penhorar a máquina de lavar, apesar de estar

com autocolantes que indiciam que esta não é proprietária do bem:

a. Legitimidade ativa para desencadear o incidente do artigo 764.º, n.º3 CPC: o

executado (ou alguém em seu nome) e o terceiro;

b. Legitimidade passiva: o exequente, pois ele é o titular do interesse em manter

a penhora (artigo 30.º CPC).

Mais, deverá ser apresentada prova documental inequívoca (não tem de ser um

documento autentico, podendo ser apenas um documento particular; deve ser

inequívoca na medida em que o juiz terá o facto por provado apenas se não der lugar a

dúvida razoável, por menor que seja, sobre a genuinidade do documento ou sobre o teor

do seu conteúdo. Se houver contestação pela contraparte não há prova inequívoca, mas

consoante o valor probatório do documento apresentado, essa impugnação nuns casos

deverá ser por contraprova e noutros por prova do facto contrário.

(ii) Como resulta do dito anteriormente, o agente de execução não poderia recusar a

penhora ainda que fosse manifesto que as garrafas não pertencem a B, restando a B (ou

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à sua mãe) a apresentação do talão ao juiz, devendo este reconhecer a existência do

direito da mãe de B se não duvidar, de forma razoável, de que o bem seja da mãe deste.

3.

(i) Sendo o objeto da penhora um direito real de gozo em contitularidade (in casu,

compropriedade), não se aplica o regime da penhora de imóveis, mas de direitos: artigo

743.º, n.º1 CPC: apenas pode ser penhorada a quota parte do executado, que é em si

mesmo uma realidade ou quid de natureza jurídica, assim, o exequente pode penhorar a

quota de C.

(ii) Deveria deduzir embargo de terceiro, na medida em que, não existindo quota de B, a

penhora não se poderia realizar. Ou seja, C é titular do direito sobre o bem penhorado

que não se deve extinguir com a sua venda, o direito de C não caducaria com a venda

executiva.

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