cartilha de consciência ecológica umbandista

12
CARTILHA DE CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA UMBANDISTA “Trate bem a Terra, ela não lhe foi dada pelos seus pais, Ela lhe foi emprestada pelos seus filhos.” (Provérbio Ameríndio) “Trabalhamos pelo crescimento da consciência evolutiva, expressa através das mensagens de nossas Entidades, sejam Caboclos ou Pretos-Velhos.” (Caboclo das Sete Encruzilhadas através do médium Zélio Fernandino de Moraes – Revista Espiritual de Umbanda, 20ª edição) ''O homem há de perceber sua essência e deixará de sentir-se individualista ou de criar rivalidades separando as pessoas através de classificações. Essa percepção acontecerá, tão logo, o homem perceba o quanto ele está vendado pela ignobilidade do SER que compreende “civilizado". Passará ouvir com atenção a todos, e perceberá o quanto um sentido completa o outro, não mais renegando sua própria espécie.'' (Yakuy Tupinambá)

Upload: hugo-acaua

Post on 06-Jun-2015

1.000 views

Category:

Education


4 download

DESCRIPTION

Um singelo e imprescindível material que na urgência deste Novo Milênio, vem somar e contribuir positivamente para o norteamento de nosso movimento umbandista, revelando bases de nossa Sagrada Lei de Umbanda, pelas necessidades e urgências ambientais de nosso país e planetária. Uma homenagem aos nossos povos originários, os indígenas de nosso Brasil e continente americano, representados na Umbanda pelos Caboclos/Oxóssi. Esta ficará disponível para cópia gratuita (dowload), a quem interessar. Divulguem a todos, pois a Umbanda luta pela continuidade da vida e não para o término desta!

TRANSCRIPT

Page 1: Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

CARTILHA DE CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA UMBANDISTA

“Trate bem a Terra, ela não lhe foi dada pelos seus pais, Ela lhe foi emprestada pelos seus filhos.”

(Provérbio Ameríndio)

“Trabalhamos pelo crescimento da consciência evolutiva, expressa através das mensagens de nossas Entidades, sejam Caboclos ou Pretos-Velhos.”

(Caboclo das Sete Encruzilhadas através do médium Zélio Fernandino de Moraes – Revista Espiritual de Umbanda, 20ª edição)

''O homem há de perceber sua essência e deixará de sentir-se individualista ou de criar rivalidades separando as pessoas através de classificações. Essa percepção acontecerá, tão logo, o homem

perceba o quanto ele está vendado pela ignobilidade do SER que compreende “civilizado". Passará ouvir com atenção a todos, e perceberá o quanto um sentido completa o outro, não mais

renegando sua própria espécie.''

(Yakuy Tupinambá)

Page 2: Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

2

“Os dramas humanos e as catástrofes ecológicas têm a mesma causa: o homem afastou-se do coração da natureza, que é também o seu coração. Esquecendo a vida sensível do mundo, ele acabou por esquecer a si mesmo. Os

Cheyennes das planícies sabiam que a perda do devido respeito a todas as formas vivas, humanas, animais e vegetais, conduziriam igualmente à perda do respeito devido ao próprio homem. Não tenhamos medo dos contrários, das oposições que dividem o mundo e criam a ilusão de acontecimentos separados. Esta visão é fonte de conflito, de

sofrimento e de luta perpétua. A noite não é inimiga do dia, assim como a morte não é inimiga da vida. É preciso haver o encontro do fogo e da água, do sol e da umidade para criar um arco-íris. Entendermos isto, fará com que

encontremos o equilíbrio em nós. Entendermos isto, fará com que haja harmonia com a Terra Mãe. Entendermos isto, fará com que entremos em linha de aproximação com o universo. Entendermos isto, fará com que um dia de fato,

sejamos irmãos.” (Nuno Coelho)

Em razão e homenagem a festa comemorativa dos 100 anos de anunciação e surgimento da genuína e brasileira religião de Umbanda, em 15 de novembro de 1908 – RJ, juntamente com o dia 20 de janeiro, onde se comemora anualmente a festa de Oxóssi/Caboclos, em nosso calendário umbandista e o feriado da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, não obstante, ao dia 21 de janeiro que já fora estabelecido oficialmente como “O Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa” (Lei nº 11.635, de 27/12/2007), viemos apresentar este trabalho, inspirados por princípios que cremos ser urgente.

Esta Cartilha é uma singela homenagem aos “Povos Originários de Nosso Brasil” [Pindorama], os nativos indígenas, primeira raça formadora de nossa brasilidade, bem como, a todas as Etnias e Nações Indígenas das Américas, que do Astral para o físico, estabeleceram as bases para o surgimento desta sagrada religião de síntese universal, e que até hoje nos mantém sob sua supervisão.

Cremos que por meio desta estaremos contribuindo com o Movimento Umbandista a tratar de um tema tão atual, complexo e essencialmente necessário a todo ser vivente no mundo, sobretudo, aos irmãos de fé que reverenciam as sagradas forças vivas e vibratórias da natureza, os seres que ali estagiam e seus representantes oficiais, os nossos queridos Orixás (Encantados, Guias, Mentores, Ancestrais, Ñhanderús, Apús, Wakans, etc).

Este trabalho não contém em si nenhuma pretensão de esgotar o tema diante os problemas nele contidos ou trazer soluções imediatas, do ponto de vista coletivo, mas sim nos levar a uma reflexão profunda quanto a nossa participação e responsabilidade individual, enquanto cidadãos brasileiros e umbandistas que somos.

Nossa experiência prática nos leva a conclusão que certos setores ainda necessitam de maiores esclarecimentos, visando fortalecer uma cultura pedagogicamente voltada para questões que envolvam nossa qualidade de vida e Meio-Ambiente como um todo, afim com os sublimes princípios e ensinamentos de Umbanda, pois nossa religião preserva a vida e sua continuidade, bem como, a manifestação do Plano Divino em todas as instâncias dos reinos naturais, que para nós é sagrada e deve ser preservada.

Page 3: Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

3

“Quando mostramos respeito a todas as coisas vivas, estas respondem-nos com respeito.”

(Índios Arapaho)

Não pretendemos satisfazer todas as necessidades, preferências e opiniões, claro, pois a unanimidade é utópica, mas sim comungarmos de uma “unidade na diversidade”, pela extensa complexidade do assunto. Entendemos ser esta uma iniciativa básica, didática e positiva para nossas vidas, Religião e Ecossistema. Visamos com isso estimular os estudos e o interesse do cidadão brasileiro, mas, sobretudo, aos irmãos da Sagrada Religião de Umbanda, sendo esta originalmente constituída pelas culturas índio-afro-européia com influências de filosofias orientalistas, que tanto nos enriquece o espírito e saber humano.

Esta Cartilha visa nortear princípios básicos para uma visão mais adequada e politicamente correta do ponto de vista ecológico, humano e social. Inspirada pelo “modo nativo de ser”, a cultura indígena, ancestrais originários de nosso país pré-Cabral e Colombo que, em regra, nos serviram, e ainda nos servem, com exemplos éticos de uma filosofia-prática intimamente afinada e harmonizada com princípios ecológicos, tão necessários em nosso sistema. Se olharmos para a natureza e seus recursos como eixo central norteador de nossas vidas, aprenderemos lições várias de espiritualização, interdependência, sustentabilidade, respeito, amor, humanização, valorização da vida, etc.

A natureza é, sem sombra de dúvidas, um espetáculo que deve ser contemplado com o coração sempre em prece e agradecimento, com referência aos nossos nobres e honrados ancestrais indígenas, Guias e Orixás em nossa sagrada e querida Umbanda. É nesse momento que Deus (Deus, Ñhanderú Eté, Tupã, Zambi, Olorum, etc.) nos mostra o poder de Sua Criação, mais que uma esplendorosa Obra de Arquitetura Cósmica, sobretudo, uma Criação repleta de Encanto, Mistério, Abundância, Beleza e Magia.

Herdamos um rico paraíso de sons, formas, seres, alimentos e água potável, que infelizmente sofre com a insalubridade e escassez no mundo, pois apenas 3% da água existente no planeta é doce e própria ao consumo humano, sendo que 2/3 (dois terços) desse total estão presentes nas geleiras e calotas polares, sobrando somente 1% (um por cento) para ser consumido em todo mundo. Somando-se a isso, vazamentos de água de tubulações, por exemplo, seriam capazes de abastecer grande parte de toda Europa. Pergunta-se: o que nós fazemos diante de tudo isso para minimizarmos os problemas e suas conseqüências? Meditemos! Muitos ainda não sabem, mas os óleos de cozinha utilizados em frituras, também são motivos de grande impacto no meio ambiente e que geralmente o jogamos em água corrente poluindo-a drasticamente, pois 100ml de óleo de fritura contaminam cerca de 1 milhão de litros de água.

Vivemos em uma cultura e sistema que ainda negligenciam a poluição dos rios, cachoeiras, matas e mares, sob a regência de um modelo de pensamento econômico de extrativismo selvagem, que não mediu as conseqüências de suas próprias ações. Cortam-se árvores aos milhares, sem nenhuma consciência de preservação e cuidado. Tudo que fora dado por amor às criaturas humanas que aqui estagiam, foi para que todos pudessem viver de forma saudável e abundante e não somente uma minoria desfrutar desses benefícios, em detrimento da esmagadora maioria. Desenvolvimento Sustentável também é matéria extremamente atual, pois recentemente o ser humano passou a observar que o nosso Planeta vem “adoecendo” pelos maus-tratos em sua ação predatória. Acreditou que as riquezas naturais nunca se esgotariam, mas agora o Homem está sentindo recair sobre si a “revolta” desta, ou seja, são os efeitos devastadores da ação natural que cada vez mais crescem, devido ao desequilíbrio causado pela ação demasiadamente compulsiva, obstinada e abusiva do ser humano, pela geração e acúmulo descomedido de riquezas, para saciar interesses pessoais e fomentar uma política-econômica desenfreada.

Page 4: Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

4

“A Sabedoria dos homens sempre se coloca entre os meandros da sua crueldade e de sua ignorância. Será que

podemos desanimar-nos, sabendo que existe dentro deles, uma centelha de Luz?” (Citação dos índios da Tribo Cree)

A palavra Ecologia entra no cenário planetário com grande força e maior visibilidade no Mundo Contemporâneo em meio ao Terceiro Milênio, mas ainda distante de tornar–se sinônimo de “consciência ética” dentre as nobres e pequeninas criaturas humanas. Os rios, atmosfera, cachoeiras, matas e mares estão sendo cada vez mais transformado em canais de devastação, poluição e dejetos de todos os tipos. Animais torturados e extintos inescrupulosamente, lixo atômico, toneladas de gases tóxicos despejados no ar, morte prematura gerada pela fome de indefesas criaturas provenientes do descaso e crueldade do seu próprio semelhante, etc.

Também contamos com as ações de alguns umbandistas, ainda desavisados e pouco esclarecidos da real e gritante necessidade de uma consciência mais ecológica, pois precisamos rever alguns conceitos sobre determinados materiais danosos em oferenda-mágico-ritualística, que alguns ainda persistem em utilizá-los e acabam inconscientemente prejudicando a limpeza e harmonia do habitat natural. Estes são verdadeiros sítios sagrados, onde se honram os seres e as energias da natureza, os elementais, os Ancestrais e/ou Orixás. Estes locais também possuem registros de antigos rituais sagrados e sambaquis (cemitérios indígenas), pois estima-se bem mais de 10.000 (dez mil) anos a presença indígena em nosso Continente, cujo valor atribuído ao natural era de admirável sabedoria e beleza.

Hoje em dia, ainda consideramos poucos os que chamam sua consciência à reflexão dos possíveis danos causados a natureza, pelos materiais deixados à revelia nas matas, cachoeiras, praias, etc. Muitos alguidares, garrafas, copos de vidro e plástico, velas de parafina acesas em meio a locais que possam correr riscos de incêndio, panos de murim, estátuas, materiais de louça, punhais, entre outros, que resistem ao tempo e permanecem lá, após o término do período necessário da atuação magística, conduzida pelo presente instrumento. Alguns materiais jogados nos rios que para o mar se destinam, por exemplo, são engolidos por alguns animais que não os distinguem de sua verdadeira alimentação e acabam morrendo pela sua ingestão, tais como as tampas de garrafas plásticas.

Estes não só geram lixo físico e bacteriológico para natureza – como já não bastasse o lixo energético que a humanidade já produz – mas põe em risco a integridade física de qualquer pessoa que possa vir a se machucar com os objetos ali deixados, como por exemplo, uma taça de vidro, um punhal enferrujado, tornado-se ainda mais grave, quando deixados em locais de difícil acesso para coleta de lixo urbano.

É possível sim e muito mais correto, do ponto de vista magístico e ecológico de nossa Umbanda, trabalharmos com as folhas, flores, frutos e alimentos naturais de fácil decomposição e reciclagem natural (biodegradáveis), que não gerem nenhum dano a natureza e a cadeia alimentar dos animais, servindo até, em última análise, de adubo para terra. Tudo isso só nos mostra o quanto ainda precisamos avançar e despertar nossa consciência para a preservação de nosso Ecossistema, não obstante, de nossas próprias vidas e espécie semelhante.

O Planeta sofre as conseqüências da insana “arte predatória” humana. Nossa Terra-Mãe foi e é sempre saqueada, poluída, agredida, explorada de todas as formas. Há centenas de anos “Ela chora” sob a cultura dominante humana, que não consegue identificar aí sua própria origem e necessidade real para sua existência. É o término da vida e o início da sobrevivência, como bem assinalou o Chefe indígena Seattle no séc. XVIII, em sua carta ao presidente norte-americano.

Page 5: Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

5

“Cada ser vivo e cada forma de vida representam mestres e amigos em potencial. Ao observarmos a natureza,

aprendemos as novas lições que ela está tentando nos transmitir.” (Jamie Sams - As Cartas do Caminho Sagrado)

Os resultados dessa constante agressão, há tempos vêm sendo apontados de forma preocupante por muitos indígenas, cientistas, biólogos, ambientalistas, religiosos, naturalistas, etc. A reincidência predatória humana tem intensificado o surgimento e ação dos Maremotos, Terremotos, Tornados, Tsunamis, surtos de doenças desconhecidas ou raras, viroses, a escassez pela extinção de várias vidas animais e vegetais, a destruição da camada de ozônio, o já tão conhecido Aquecimento Global, o derretimento das calotas polares e muito mais.

Temos os problemas relativos à nossa Amazônia, a política e cultura indígenas, os problemas das minorias que é maioria nesse país, tais como a fome, a pobreza, a desigualdade social, a miséria, o preconceito religioso, étnico-racial, cultural e também os relativos à orientação sexual de cada indivíduo. Problemas que ainda se arrastam e fazem parte desse cenário, que em plena Era de Aquário, neste Novo Milênio, precisam sofrer profunda transformação para a resolução definitiva dos mesmos, mas sabemos que essa transformação é uma reforma que precisa começar em nós e por nós, pelas lideranças de instituições umbandistas (Federações, Templos, Tendas, etc.), não obstante, pelos dirigentes políticos e econômicos em nosso país e no mundo.

Os resultados de nossa negligência, imprudência e imperícia fatalmente acabam se voltando contra nós mesmos. Os fenômenos naturais nem sempre fazem do algoz sua própria vítima, mas cremos que a Justiça Divina assim o fará. Ainda resistimos cegamente aos sinais que nos alertam. Estes indicam que algo está profundamente equivocado na forma de como nos relacionamos com todas as formas de vida existentes no planeta. Então nos perguntamos: como restaurar esse desequilíbrio? Como mudar esse quadro? Como mudarmos esse modelo e padrão de pensamento instituído, gerador de tantos problemas? A resposta está na própria conscientização e educação humana.

É preciso uma profunda reflexão capaz de expandir nossa percepção e mudar nossas ações a cerca destas questões, pois a natureza e a existência humana, dessa e das próximas gerações, estão em perigo. É preciso que tenhamos uma vida naturalmente mais saudável, pois a busca do ter pelo ser ganhou espaço maior que deveria no cenário mundial.

A arte de nos auto-educar, pode ser a chave para que as futuras gerações tenham uma visão diferenciada sobre a responsabilidade e o papel do ser humano a ser exercido na vida, em prol da sobrevivência do Planeta e suas espécies interdependentes no ecossistema, da qual todos nós fazemos parte. Desta forma, possivelmente garantiremos a sobrevivência e continuidade da vida em todas as esferas, inclusive a humana, dentro de um planejamento mais harmônico, integrativo, natural e adequadamente mais espiritualizado.

As sementes do amanhã, nossas crianças, dependerão direta e exclusivamente do nosso pensar e ações no hoje, pois as mudanças há muito se fazem urgentes, necessárias. É todo um sistema de autocondicionamentos e estilos de vidas a serem modificados, é uma transformação profunda de paradigmas individuais, sociais, políticos e econômicos que precisam iniciar no indivíduo e contagiar o coletivo, a sociedade.

É nosso dever oferecer uma consciência humana e espiritualmente mais digna, sobre a temática que envolve a preservação da vida e do meio-ambiente. A sua desarmonia é o nosso próprio desequilíbrio, pois o nosso Planeta é a nossa morada maior. As mudanças sinalizadas é a reforma íntima que já começa dentro de cada um, dentro dos nossos corações, em nossas almas, na consciência espiritual de cada ser existente no Mundo.

Page 6: Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

6

O Grande Espírito porém, nos deu a todos a possibilidade de estudar a Universidade da Natureza, das Florestas, dos

Rios, das Montanhas e dos animais, dos quais, todos fazemos parte. (Tatanga Mani, Índio Stoney)

A estrutura bioquímica de nossos corpos físicos contém preciosos metais contidos na Natureza, por analogia, nossos corpos físicos possuem em média, o mesmo percentual de água existente no mundo. A Amazônia é o nosso pulmão, filtra o ar, armazena oxigênio e nos dá impulso vital. Somos um verdadeiro oceano líquido. Rios percorrem em nossas veias e artérias. Quando ocorre a incineração do mesmo, reduzimo-lo a uma pequenina quantidade de pó, por causa da evaporação líquida destes. Somos fogo, terra, água, ar e éter, pois assim como o sol ilumina a Terra, nossa consciência espiritual nos anima, dá vida e luz a matéria orgânica de nossos corpos físicos sob a égide do Grande Espírito Criador de todas as criaturas, pois o “lado de dentro” (Esotérico) e o “lado de fora” (Exotérico) são faces de uma mesma moeda. A magia fenomênica da própria natureza está presente em nossos corpos, que é a base que sustenta e alimenta a vida. Somos filhos da Mãe-Terra, que por amor nos doa parte do seu corpo para as pequeninas criaturas viventes e a estes maltratamos. Este dano é sentido por nós em nosso próprio sistema bio-psico-emocional, desintegra partes do ser e afeta nosso campo espiritual. Nosso corpo também é o Dela, no momento de nosso desencarne, é para terra que nossos corpos voltarão, para decomposição e alimentação de outras formas de vida, pois nada se perde, tudo se transforma.

Nós humanos dependemos diretamente da existência da natureza e não o contrário, pois a continuidade e preservação da vida planetária seriam garantidas muito bem, com exceção dos fenômenos naturais, se aqui não tivéssemos. Com tudo isso, fica claro entendermos que somos o reflexo da própria Criação e da Natureza Divina. Respeitemos Sua Criação, que levara bilhares de anos para se desenvolver, para poder nos dar o alimento e o sustento necessários de cada dia e para as futuras gerações, e estes, em tão poucos anos, a largos passos, estão sendo destruídos. Somos filhos criados do mesmo Pai Céu, nosso espírito-consciência tem sua origem nas Estrelas-Solares, nossa alma ainda inconsciente hiberna sob o olhar atento da Senhora Lua e nossos corpos, provenientes do grande ventre materno, são constantemente alimentados e embalados pela nossa Terra-Mãe, mas ainda assim, insistimos em cometer os mesmos danos, o homicídio materno e o genocídio de bilhares de criaturas. Somos, portanto, o princípio da unidade indivisível, uma fração, uma parte do Todo e que está em tudo. Concluímos que Deus-Homem-Natureza não caminham separadamente, pois não podem ser dissociados.

Tudo faz parte de uma mesma teia-cósmica, uma mesma trama, pois os antigos nativos já afirmavam e a ciência gradualmente vem reconhecendo esses fenômenos naturais, pois estamos retomando o curso natural em busca da unidade, portanto, o mal que fizermos a um dos fios da teia, refletirá em toda teia.

Ainda estamos adormecidos no útero-sagrado de nossa Mãe, como crianças que ainda fantasiam e iludem a realidade. Pensamos que já somos espiritualmente adultos, maduros, conscientes, autônomos, plenos de si e do que nos cerca. Cremos que caminhamos em “terra firme”, com nossas próprias pernas, mas a grande maioria ainda caminha a pequenos passos para esse re-despertar, para a nossa essência real, natural e verdadeira, pois muitos ainda maltratam sua própria fonte originária, “andam de costas para luz”. É preciso urgentemente despertarmos para a verdadeira semente que ainda adormece no mais íntimo e profundo do nosso ser. Não nos acomodemos nesta ociosidade perniciosa de nossos devaneios, ilusões e na insanidade de nossos inflados egos vaidosos que nos conduzem à cegueira, tornando-nos vítimas, juízes e réus de nós mesmos e de nosso semelhante, gerando com isso obstáculos internos que nos impedem de viver a verdadeira vida, crescimento, liberdade, felicidade e amor.

Page 7: Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

7

“Ainda que estejamos em diferentes barcos, você no seu veleiro e nós na nossa canoa, dividimos o mesmo rio da vida.”

(Chefe Oren Lyons, Nação Indígena Onandaga)

É preciso conscientizar que ausentar-se da responsabilidade que cabe a cada um de cuidar e zelar pela Natureza é decretar um futuro cruel para os nossos sucessores diretos e futuras gerações. O Homem só conseguirá entender o profundo sentido da vida e existência quando entenderes a linguagem oculta contida em cada ser vivo, aí sim ele honrará até a menor espécie vivente no reino natural e perceberá a si mesmo como uma pequenina célula pertencente a este imenso organismo vivo.

Todo ser vivente tem sua missão e razão de estar no Planeta. Saiamos de nossas trincheiras internas que nos adoecem, dos barulhos ensurdecedores de nossas mentes inquietas e das grandes cidades que tiram o silêncio do coração, que traz a verdade harmônica e essência natural contida no ser.

Precisamos perceber a conexão que existe em tudo que é vivo, a fim de distinguirmos o canto alegre ou o lamento de um pássaro. Os índios muito aprenderam com os animais, plantas, árvores e pedras, honravam toda vida existente, pois tudo tinha uma alma, uma contraparte espiritual. Toda natureza se comunicava e continha segredos do Criador.

O ato de preservar não é somente um ato de amor e honra, mas também de bom senso, lógica e justiça, assim garantiremos às gerações futuras a dádiva e a dignidade do bem-viver, porque este já é um direito adquirido de todos. Uma consciência verdadeiramente comprometida com a vida e espiritualidade é capaz de viver de maneira interdependente e interdisciplinar com todos os seres viventes, honrando toda Criação.

Faz-se urgente reformularmos o pensamento de um modelo que já se esgota e não consegue mais resolver os problemas reais, humanos e sociais em nosso Planeta. Honrar a Criação é honrar seu Criador. Preservar a natureza é honrar os nossos antepassados, nossos ancestrais e ainda garantirmos a sobrevivência das nossas futuras e indefesas gerações.

Não é necessário somente ensinarmos a reciclarmos o lixo que produzimos, mas sobretudo, é preciso que aprendamos a reciclar nossos vícios, nossos egos, nossos pensamentos e ações negativas, tudo que agride a nós e ao próximo, pois estes são os maiores dejetos e lixos altamente tóxicos para sobrevivência humana e natural.

A Umbanda comemora o seu centenário com muita alegria e felicidade. Cada vez mais nos fortalecemos e nos auto-afirmamos enquanto uma identidade religiosa brasileira. Buscamos cada vez mais a unidade através do amor-fraterno e respeito às diversidades. Essa cartilha tem como finalidade conscientizar cada vez mais nossos irmãos umbandistas a cerca de temas tão inerentes a nossa sagrada religião.

Esta revela uma maneira de levar a compreensão de todos à iminente necessidade de um despertar cada vez maior de nossa consciência e de nossa participação ativa enquanto indivíduos ou instituições, em pleno Terceiro Milênio, para dignificar e honrar cada vez mais a nossa tão querida e Sagrada Lei de Umbanda. Devemos contribuir e projetá-la mais ainda ao digno patamar que é inerente a Ela, não obstante, aos nossos Guias e Orixás, que coordenam esses “sítios naturais” e de lá também sorvem energia para cura de todo tipo de malefício humano.

Através destas informações possibilitaremos uma maior conscientização por parte de todos, pois é inconcebível justificarmos nosso amor e devoção às divindades do “ministério de Deus”, os Orixás, que comandam estes habitat’s e sítios sagrados, com seus poderosos falangeiros-Guias e pequeninas consciências vivas que estagiam nestes reinos naturais, zelando pelo equilíbrio dos mesmos, com ações infundadas e incoerentes que só depredam e sujam física e vibratoriamente o ambiente sagrado, desestabilizando o equilíbrio energético e paisagístico naturais.

Page 8: Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

8

“Necessitamos muito mais do que reciclar materiais e reduzir a poluição. Existe uma necessidade de despertar o

respeito a todos as criaturas vivas. Nós chegamos ao nosso fim lógico, que nos leva de volta para o início do nosso Círculo de Vida, ou nas palavras do Chefe Seattle: ‘Tudo o que fizermos a Terra, estaremos fazendo a nós próprios, pois

nós somos a Terra’.” (Poncho – Secwepemc, Born 1896)

Precisamos assumir de vez a responsabilidade de construirmos um Planeta melhor para nós e nossos sucessores, pois essa iniciativa começa em nós e por nós, independente da carência de informações nos meios de comunicação, iniciativa pública ou privada.

Não devemos criar sempre expectativas e dependências diretas, colocando a iniciativa de nossas ações nas mãos de outros, pois já contemos informações básicas suficientes para reformularmos alguns pensamentos e ações, nem tampouco incumbirmos somente aos Guias Espirituais a responsabilidade de nosso despertar e o constante interceder por nós diante o “martelo dos justos”.

Devemos tomar para nós a parte que nos cabe e que já está sendo sinalizada, pois a urgência iminente de mudança constitui o pilar que alicerça as bases de uma religião-Mãe em constante transformação e crescimento .

A Umbanda está para todos e abriga seus filhos em seu ventre sagrado, nosso Planeta, alimentando-nos como pequeninas crianças, ainda desprotegidas, em seu seio materno e acalentando-nos em vosso colo, mas ainda insistimos em nos distanciarmos dessa realidade.

Ao entendermos a natureza como um ser, um organismo vivo, nos colocaremos diante desta de maneira sensivelmente mais humana, sagrada, dando-nos a oportunidade de recriarmos nossa realidade e despertarmos nossa consciência a partir do nobre e puro sentimento de amor, compreensão, alegria e fé, abrindo-nos as portas do ser natural e para a divina realidade humana.

Será que já nos perguntamos alguma vez se Yara, Janaína, Jandira, Oxum ou Iemanjá ficam felizes em ver suas águas cobertas de lixos provocados por resquícios da falta de consciência ecológica de seus filhos? Ou será que Iemanjá se sente homenageada ao ver no mar garrafas e outros elementos que desarmonizam, deterioram e intoxicam suas águas?

É importante entendermos a relação alquímica-energética e a oferta espontânea contida nas oferendas-rituais não como elementos extrínsecos, mágicos e meros utilitários imediatos das nossas supostas necessidades humanas, mas sim como uma transformação de elementos naturais ali contidos para nosso reequilíbrio e ressonância harmônica naturais, sobretudo, como um ato simbólico de alta relevância intrínseca e esotérica capaz de alterar substancialmente nossa percepção cognitiva a cerca da vida, despertando e ampliando setores da consciência que possivelmente nunca foram explorados e experienciados anteriormente por nós.

É imperativa a necessidade que todos sejam verdadeiros zeladores e fiscais de todo Ecossistema Planetário, pois isso é o pleno e verdadeiro sacerdócio, consciência, amor, respeito e cidadania planetária. É preciso que saiamos do “sistema de morte” para adentrarmos ao “sistema de vida” como faziam muitos dos nossos antepassados quando assinalavam para o “caminhar em beleza” ou ainda os conhecidos Karaí, xamãs-profeta Guarani, quando falavam na busca e encontro da “Terra Sem Males” (Yvy Marã Ey).

Logo abaixo trazemos informações ilustrativas a cerca do material e dejetos despejados na natureza pela ação do Homem, bem como, seu tempo aproximado de decomposição natural:

Page 9: Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

9

Casca de frutas – 3 meses

Restos orgânicos – de 2 a 6 meses

Papel – de 3 a 6 meses

Pano – de 6 meses a 1 ano

Palito - 6 a 12 meses

Tampas de garrafa – 100 a 500 anos

Fralda descartável – 450 a 600 anos

Lata de alumínio – de 100 a 500 anos

Isopor – tempo indeterminado

Vidro – tempo indeterminado

Sacos e copos de plástico – de 200 a 450 anos

Pneu (borracha) – tempo indeterminado

Filtro de cigarro – 5 anos

Pastilha elástica – 5 anos

Madeira pintada – 13 anos

Nylon – de 30 a 40 anos

Lata de aço – 100 anos

Pilhas – de 100 a 500 anos

Page 10: Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

10

(Verificamos nas fotos abaixo, material danoso de todos os tipos ofertados e deixados na natureza)

”Temos de proteger as florestas para nossos filhos, netos e para todos aqueles que ainda estão por nascer. Temos de proteger as florestas para aqueles que não podem falar por si próprios, como os pássaros, os animais, peixes e as

árvores. (Qwatsinas, Nuxalk Nation)

(abaixo: mesa ritual homenageando Oxóssi/Caboclos em jan/09 pela Tenda de Umbanda Xamânica Filhos do Vento, na Praia do Flamengo – Rio de janeiro/RJ. Após a ceia entre todos, tudo foi desfeito e o local limpo)

“Somos nós filhos de Umbanda e filhos de uma energia geradora, desde a água da nascente até o nascimento da lava

de um vulcão, responsáveis em transmitir o verdadeiro respeito ao Plano Divino.” (Caboclo Ventania/ Vento do Norte)

Page 11: Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

11

“Talvez se mais pessoas tocassem seus seres com os lagos, com as árvores, com a terra, não haveria tanta poluição e destruição espalhada como vemos atualmente. Eles sentiriam o elo precioso que os une e não estariam tão prontos a

nela enterrar tanta química e lixo. Eles não mais ousariam ferir uma árvore com um canivete.” (trecho do livro de Mary Summer Rain, DREAMWALKER)

Hino da Umbanda:

(José Manoel Alves)

Refletiu a luz divina

Com todo seu esplendor

Vem do reino de Oxalá

Onde há paz e amor

Luz que refletiu na Terra

Luz que refletiu no mar

Luz que veio de Aruanda

Para tudo iluminar

Umbanda é paz e amor

Um mundo cheio de luz

É força que nos dá vida

E a grandeza nos conduz

Avante, filhos de fé

Como a nossa lei não há

Levando ao mundo inteiro

A Bandeira de Oxalá !

“Que o Grande-Espírito guie nossos passos sobre a Estrada da Vida. Respeitemos Sua Criação, nossa Mãe-Terra,

preservando-a a fim de que Ela nos preserve.”

Page 12: Cartilha de Consciência Ecológica Umbandista

12

[na foto: Pajé Guarani]

"Unir-se é um bom começo, manter a união é um progresso e trabalhar em conjunto é a vitória"

(Antonio Cabrera - Tupã Ñemboagueraviju)

“Esperamos ter contribuído singelamente para soma das bases e fortalecimento de nossa Sagrada Lei de Umbanda, bem como, pelo serviço de utilidade pública planetária prestada, pois precisamos transformar nossos medos, nosso ‘sistema de crença limitante’, a partir de pequenos renascimentos, a fim de despertar nosso “curador interno”, o Xamã Yvy Memby (Filho da Terra).”

A Natureza, a Espiritualidade Maior e a humanidade agradecem! Anauê Ñhanderú Eté, Tupã e Ñhandecy! (Salve Nosso Deus Verdadeiro, Tupã e Nossa Deusa-Mãe)

Anauê Yvy Sy! (Salve Mãe Terra) Nosso fraternal Saravá a todos irmãos!!!

Disque óleo vegetal usado (soja, milho, girassol, etc.): www.disqueoleo.com.br ou [email protected]

(21) 2260 3386 / 78279446

Idealizadores:

• Carla Sindhara (médium-dirigente do Caboclo Ventania ou “Vento do Norte”, na Linha de Umbanda Xamânica ; Terapeuta Estética e Natural/Alternativa - [email protected])

• Hugo Acauã (Ogã, Terapeuta Xamânico e pesquisador de culturas indígenas-xamânicas. Junto com Carla Sindhara dirigiu a JUMTEM/Juventude Umbandista do Terceiro Milênio e atualmente trabalha na linha de Umbanda Xamânica proposta pelo Caboclo Ventania - [email protected])

Rio de Janeiro, 20 janeiro de 2009. (revisada em 14/10/11)