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Samuel Filho Crônicas

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Samuel Filho

Crônicas

Samuel Filho

O MAR DE UPAON-AÇU

Crônicas

São Luis- MA 2011

Homenagem

Aos 400 anos de São Luis

Crédito das fotos: Raquel de Moura Farias

OBRAS DO AUTOR

1. Meia Passagem ou Meia Cidade (documento

jornalístico em parceria com Ivanhoé Leal)

2. Mercadoria Poesia (poesia)

3. Canto de Liberdade na República Tropical

(poesia)

4. A Agonia de Silvério dos Reis (novela)

5. A Metáfora de Deus (contos)

6. Poética em Clave de Sol (poesia)

7. O Mar de Upaon-Açu (crônicas ) e-book

Poema Prefácio do Autor SEREIA DO AMOR

Naveguei só uma vez no transatlântico do amor impossível por uma sereia na praia de São Luis. Já sexagenário amara somente a pátria mergulhado no mar negro de uma ditadura fascista Nessa navegação de coração ouvíamos as ondas sonoras de uma clave sem fá Migrei da maturidade para a adolescência igual a cardume de peixes tal a feitiçaria do amor banhado por águas salgadas Mil declarações de amor de envergonhar o poeta Camões insensível a sereia apenas fitava- me com seus olhos verdes iguais à vastidão oceânica Insisti em velejar com ela pelas enseadas da ilha em maré baixa, ela falou: “amizade sim, amor não” e o mar batia furioso no cais da desolação Depois muito depois o mar me disse: “meu velho, era teu destino amar uma sereia encantadora e genitora do amor”.

O MAR DE UPAON-AÇU

Ao por do sol, estou agora usufruindo no mar um momento de raro prazer em meio às notícias que

só nos causam depressão, angústia e náusea. Na internet, TV, rádio e jornais uma onda de

acontecimentos negativos, trágicos assola o mundo. A gripe suína assusta, o golpe militar em

Honduras mexe com nosso trauma da ditadura militar, Obama ataca o Afeganistão, acusado de

ser a central mundial do terrorismo, o trânsito nos centros urbanos do Brasil é o maior fator de

mortes etc. Ah, Jesus, estamos num vale de lágrimas, como nos diz a bíblia.

A maré está cheia, violenta e os surfistas nos oferecem um belo espetáculo, caminhando no mar

como se estivessem navegando de barco. A brisa marinha penetra em nosso corpo, limpando as

toxinas e os alvéolos dos pulmões. Um expectorante poderoso, natural e gratuito.

No calçadão da Litorânea há gente de todos os tipos passa em caminhada. Ali, serve de academia

de ginástica ao ar livre, diante de um céu e um mar indescritíveis, criados e cinzelados pelos

mistérios cósmicos.

O mar ruge ferozmente. A música das ondas brancas nos desperta sensações agradáveis. O cheiro

de peixes e mariscos entra fossas nasais acima. É noite. Estou satisfeito com a minha dose diária de

terapia natural.

II

Maré baixa, o mar está tranquilo. Assemelha-se a um tapete verde bordado por mão divina. Até o

som com partitura invisível propaga-se nos ouvidos de quantos estejam próximos. É uma sinfonia

mais que clássica.

Começam a passar pelo calçadão homens, mulheres e crianças. Uns correm, outros fazem

alongamentos. Cães passeiam levados pelos seus donos. Percebo que a consciência ecológica cresce

por parte dos cidadãos (as). Nessa parte da Litorânea ninguém toma banho, devido o excesso de

coliformes fecais.

Lá vem um senhor, correndo lentamente, boné para trás, sapatões com meias. Já me

cumprimentou duas vezes. Uma para ironizar, com o dedo, um casal de namorados. Ele é branco,

com aproximadamente 70 anos, e ela negra, gorda e de traje modesto.

Falo com o mar igual a um estimado amigo. Confidencio-lhe algumas orações científicas que

aprendi com Joseph Murphy, escritor norte-americano e chefe da Igreja da Ciência da Mente. Noite,

a lua quase cheia de agosto torna deslumbrante o espaço sideral. Maré cheia, as ondas violentas

batem lá embaixo de quem está no calçadão, admirando o quadro marítimo.

III

Peço um suco no quiosque para Marcos Eduardo, um jovem talentoso que concretiza o que

aprendeu, com apenas o primeiro grau. Sabe manutenção de computador, conserta qualquer

equipamento de informática e até cadeira de aleijado. Um autodidata. Sabe na prática quase tudo e

habilitado motorista, dirige o meu carro. Descasca 50 cocos, num abrir e fechar de olhos,

Comunicativo, rápido no atendimento aos clientes, fez em poucos dias uma clientela fiel. Como tem

uma aparência física pra lá de comum, é branco, rosto bem delineado, alto, freqüentemente é alvo

de olhares femininos.

Tenho um parceiro de trabalho, digo ideal. Marcos bate fotos através do celular. É um repórter

fotográfico de mão cheia. O rapaz tem futuro. O trabalho, à beira mar, é uma terapia ocupacional

de deixar água na boca.

Noite de lua cheia e o mar revolto compõem uma esplêndida paisagem, nesse instante, povoada

por namorados que se beijam ardorosamente e, também, jovens e velhos solitários. Aqui, é um

arquipélago saudável dentro de uma ilha e de um país conflagrados pela violência política,

passional, como assassinatos, assaltos e outras tragédias.

IV

Imagino-me tomando banho, agora, nas águas geladas. Impossível, somente as asas da imaginação

proporcionam-me essa aventura em que nado, lançado mar acima, mar abaixo, como merda entre

coliformes fecais. Não se banha mais como dantes. Saio desse fictício banho melado de dejetos e,

aleijado, sou puxado por dois amigos.

Ouço uma música dentro do carro. Regresso ao passado, aos meus oito anos de idade, em Teresina,

quando ouvi, pela primeira vez, a melodia. Aos domingos, papai levava-me para a casa do meu

padrinho Joaquim Bastos, chefe político do Partido Trabalhista Brasileiro, de Getúlio Vargas.

A cerveja rolava numa mesa grande, própria para banquetes de políticos. Papai Samuel, natural de

São Luís, de onde saíra aos 40 anos, colocava a loira vestida de noiva num copo para mim. Sob os

olhos curiosos do meu padrinho, tomava aquela coisa amarga. Aí começou meu contato íntimo com

a cevada. O cigarro veio logo depois. Imaginem um menino hoje fumando. Às vezes, acho que é um

milagre estar vivo.

V

Problemas de saúde interrompem as crônicas. É assim mesmo. Perdi também o hábito de escrever

diariamente. E acho hoje até bom para quem desde os 20 anos escreveu até há alguns anos

passados para jornais e rádio cotidianamente. Para mim, o ideal é escrever uma vez por semana,

principalmente quando se faz por prazer, sem remuneração profissional.

Em agosto, o vento no mar fica mais forte: desalinha os cabelos das mulheres, levanta as saias de

algumas e , quando vai anoitecendo, o frio fica intenso. Trato logo de entrar no carro. A maioria das

pessoas prefere passear ao largo do calçadão.

Até o barulho das ondas aumenta. Nessa semana que termina hoje, o movimento nos quiosques foi

bastante fraco. Fim de mês, dizem os quiosqueiros, o assalariado está sem dinheiro até para tomar

um coco com a namorada.

Além disso, a iluminação pública está precária. Aproximadamente, às 20 horas, as luzes dos altos

postes apagam-se e a gente fica com medo de assaltos, muitos comuns por aqui.

Frio e insegurança apressam-me a voltar pra casa. O trajeto é rápido, numa hora em que o trânsito

diminui na Avenida dos Holandeses, no sentido centro- Olho D’Água. São Luís tem muitos carros.

Dentro de poucos anos, ficará mais caótico, se não forem construídos viadutos, elevados, passarelas

e outras vias alternativas, numa ilha que só pode crescer em direção ao continente, isto é, Bacabeira,

Rosário, Santa Rita e outras pequenas cidades.

VI

De ser humano virei um submarino. O animal tecnológico parecia um peixe branco. Singrava as

águas do mar com a velocidade de um supersônico. Dentro de pouco tempo ancorei num porto sem

passageiros.

Eu, agora submarino, estava sozinho. O lugar da tripulação vago. Vi o assento do piloto e a direção.

Sendo o próprio submarino, senti pânico de acontecer uma tragédia comigo.

Durante a viagem, pensei, como submarino, que tinham me destinado a alguma missão de guerra,

no Oriente Médio. Poderia ser destruído pelo inimigo ou vice-versa. Mas, nada via ao meu redor.

Apenas boiava nas águas do oceano, ora azuis, ora verdes.

Sei que atravessei países e continentes em minutos. Interessante que tanto no Atlântico quanto no

Pacífico reinava uma paz de convento.

Encarnado num submarino, não me lembro de ter visto uma camada de pré-sal no mar brasileiro.

Fiquei intrigado. Como se explica que um submarino de última geração não tenha detectado

alguma camada de pré-sal no Rio de Janeiro, São Paulo ou no Espírito Santo?

Aí me senti estranho. Sou pessoa humana ou um submarino construído pelas minhas próprias

mãos? Tenho direito a royalties e patente.

VII

Posso estar indisposto. É só chegar ao mar, muda para melhor meu estado interno. É um santo

remédio para estressados, deprimidos e outros idos. Conheço um cara que chama a gente de Zé

Cumé. Encontrou na praia a sobrevivência.

Zé Cumé disse uma vez: “A fome dói”. Depois, traduzi: “Cumé quer dizer comida”. E foi a primeira

coisa que me pediu. Todos os dias levo jantar para ele. Já me contou parte de sua história de vida.

Zé Cumé perdeu a mãe cedo, não gosta do pai e nem de alguns parentes que tem. Deixou o bairro

pelo mar. Estudou no SENAI. Lê jornais. Trabalha como flanelinha. Ganha que dar para comer. De

manhã cedo, vai para o João Paulo atrás de mocotó para amenizar sua fome crônica.

Tem 46 anos de idade. Só tem o braço direito, o esquerdo pela metade. Tanto que os outros flanelas

o chamam de “bracinho”. Mesmo assim, trabalha. Não vive pedindo esmola, como alguns sem

deficiência física.

No mar vive, come, dorme e até namora e toma cerveja.

VIII

Pluto é um animal doméstico da raça dos caninos, entre muitos outros que passeiam no calçadão

da Litorânea, guiado pela protetora. Grande e gordo, Pluto anda devagar, de cabeça baixa. É de

origem francesa.

Perguntei à sua guia se ele era feroz. Com sotaque sulista, ela respondeu: “Que nada, o Pluto tem

medo até de tartaruga”. Riu e falou para o seu mimado, tratado como gente de classe média: “Diga

boa noite colega”. Eu respondi boa noite. Pluto saiu silenciosamente.

Depois, ela me disse que seu nome era Suzy. Tem um afeto extremado por ele, algo raro entre nós.

Outros não recebem ternura iguai a Pluto Passam levados pelos donos, indiferentes.

Há tambem animais ferozes por aqui. Servem de armas contra assaltantes. Pluto é criado para ser

amado, um sentimento cada dia mais difícil. Sempre tratamos esses animais como cães e cachorros.

Vejo na praia cachorros doentes e abandonados como mendigos. Ninguém se preocupa com tais

seres. São enxotados quando se aproximam dos humanóides de vida decente.

IX

Camões e Homero cantaram o mar

com o verbo amar como nunca dantes

- eu apenas o sinto, vejo e ouço

a imensidão do oceano

para mim o mar é começo e fim

da história da criatura

que frustrou o criador

Mar és agora a fantasia

dos meus dias da sexagésima idade

e remédio de um tédio roedor

Maré alta

- euforia

Maré baixa

- depressão

Atlântico do meu coração

Mar tem sístole e diástole

X

Olhando as águas do mar, minha rotina visual, não consigo me esquecer do que vi no cemitério às

vésperas do dia de finados. Uma jovem bonita, cabelos longos, óculos escuros, estava sentada num

banco, sozinha. Chamei a atenção de um amigo para a cena .

Saímos depois de visitar a sepultura de minha irmã Antonice, falecida aos 57 anos. Acompanhado

de minha mãe Antoniusa e de Socorro, colocamos um terço no túmulo. Tive no Jardim da Paz a

sensação de um silêncio comovente Pensei comigo mesmo: a morte é mesmo um descanso eterno e

não deve ser encarada como algo ruim. Só que a cultura cristã nos passa a ideia de que é uma coisa

profundamente triste. E pode ser dependendo das circunstâncias em que se morre.

A jovem solitária no cemitério volta à mente. Ignoro a maré cheia e a paisagem dos surfistas em

pleno oceano e mais distantes os navios estrangeiros que se enfileiram na orla marítima do Araçagy

à Litorânea.

Começo a me indagar: por que a desconhecida permanecia, ali, silenciosamente? Os óculos

ocultavam as lágrimas? Por que se encontrava sem ninguem ao lado? Seu namorado ou esposo

teria falecido recentemente? Ou seria a mãe ou o pai que tinha morrido? Desisti de formular

hipóteses. O caso me sensibilizou, tanto que está aí uma crônica pensada no mar antes de escrever.

Eu não dou adeus para os que morrem, porque tambem vou para o alem.

XI

Faz muitos anos, talvez uns 30. Pela primeira vez, viajei no mar. Amanhecemos o dia, numa festa

na sede da Turma do Quinto, eu e o poeta de cordel Nonato Pudim. Ainda eufóricos movidos a

álcool, ele me convidou para irmos a Alcântara. Sem dinheiro? Como?

Ora, bêbado é bicho corajoso. Tomamos o rumo do porto de onde partem as embarcações para a

Baixada Maranhense, na Praia Grande. Pudim já acostumado a aventuras, aliás, a vida do poeta

era a dita cuja, conseguiu as passagens com o então advogado e hoje juiz Fernando Mendonça.

Os barcos de passageiros eram um deus nos acuda: pequenos, sem salva-vidas, alavancados por

motor antigo. Atravessamos o mar numa manhã clara. A ida foi rápida e prazerosa como se

estivéssemos descendo uma rampa marítima.

Na subida de uma das ladeiras que levam para o centro histórico de Alcântara, Pudim conseguiu

uma garrafa de cachaça e aí saudamos a cidade com o entusiasmo próprio dos boêmios. Fomos

hospedados na casa de um amigo e admirador do poeta. A garrafa de cachaça em punho

perambulamos pela antiga e temível cadeia de Alcântara, à época já extinta. Fomos pelos arredores

de matas virgens e nos deparamos com uma comunidade de hippy estrangeira, além de casas de

amigos dele.

À noite, respirava-se um ar de liberdade nas ruas do centro, casas com janelas abertas e um silêncio

de uma ilha ainda não agredida pelo projeto espacial da aeronáutica. Como foi uma viagem rápida,

improvisada por jovens lisos, um ato de loucura da velha mocidade, não tivemos oportunidade de

conhecer as primitivas comunidades quilombolas e de albinos.

No regresso a São Luís, a comédia quase virava tragédia. Logo o barco luta contra a correnteza do

mar. Quando avistávamos apenas a imensidão do oceano, as águas violentas banhavam a

embarcação. Em certo instante, tínhamos a sensação de um naufrágio. Um turista levantou-se e

começou a filmar a cena. Passageiros calados iguais a estátuas, com medo, e a tripulação de homens

humildes, mas conhecedores do mar conduziam a lancha como bravos timoneiros.

O barco chamava-se Santa Fé. E era obrigado ter muita fé para se chegar a São Luís.

XII

O mar que olho agora, com o ocaso cor de sangue, é túmulo de muitas monstruosidades cometidas

por motivações políticas.

Binóculo nas mãos vejo os navios bem perto de mim. Em dezembro, o mar fica deslumbrante e o

sol clareia o Atlântico de cores azul e verde ao mesmo tempo. Talvez se despedindo, porque janeiro

está chegando, com o fim do verão

XIII

Os banhistas das praias sempre se queixam do salitre que atinge os corpos, as roupas, os veículos e

até os eletrodomésticos das barracas e dos bares.

É uma substância química, fosfato de potássio, que o mar nos oferece naturalmente, sem ter a

pretensão de nos fazer mal. É que tudo na vida tem o bem e o mal. Do mar tiramos peixes, um dos

alimentos mais saudáveis da culinária mundial. Dele extraímos petróleo e outros elementos

essenciais para a indústria, agora, já temos o pré-sal, que fica a sete mil metros da superfície do

mar.

Com ou sem salitre, o povo enche nos fins de semana as praias, da Ponta D’Areia, Olho D’ Água e

Araçagy. Os espaços da beira do mar aos bares são disputados a cada metro quadrado, apesar do

salitre, que corroi, enferruja objetos metálicos e salga a carne humana. É um mal com que

devemos conviver, tomando alguns cuidados. Assim mesmo, vale a pena divertir-se no mar.

XIV

Mesmo com dor na coluna, estou, hoje pela manhã, vendo as águas marítimas, descendo no

sentido oeste. O cenário é quase o mesmo. Em vez dos navios negreiros que chegavam lotados de

escravos, oriundos da África, destacam-se no litoral maranhense cargueiros que vêm buscar

minérios de Carajás no Porto do Itaqui.

Sei que a minha dor é insignificante comparada à tragédia da escravidão dos negros, restringindo-

nos apenas ao Maranhão. Verdade que a dor seja individual ou coletiva é ruim. A dor nos deixa

desesperados, física e/ou mentalmente. Tememos a morte mais por causa da dor. Os analgésicos (o

mais usado hoje a dipirona) nos aliviam por algumas horas, até que a infecção desapareça. Dor e

felicidade são inimigos irreconciliáveis.

Agora, a dor tira-me o prazer de admirar a beleza do mar. Ela me puxa para casa. A única coisa

que me atrai e domina é essa sensação terrível. Coluna doendo como se estivesse sendo esfolado

igual a um animal abatido num matadouro.

O tempo passa devagar. O mundo ao meu redor é apenas dor. Indiferente a mim, deixo para trás

a praia para tomar um analgésico, esse milagre da ciência.

XV

Durante esse tempo em que nada escrevi, apenas muito sono e rejeição à nossa culinária como

arroz, feijão e carne. A alternativa foram frutas, leite de soja, açaí, pão etc. Por mais de um mês.

Perdi mais ou menos 10 quilos. Diziam aqui em casa que sem comer o cardápio tradicional não iria

aguentar e, talvez, ir para a cidade dos pés juntos.

Saturei dessa comida velha, repetitiva. Agora, só peixe cozido ou caldo. E estou me levantando

graças aos produtos do mar.