carranca 02 2018 - folclore minas · 2019. 8. 22. · carranca pÁgina 3 editorial hoje é dia 23...

20
ORGÃO INFORMATIVO DA COMISSÃO MINEIRA DE FOLCLORE – CMFL – 02-2018– Abril- Junho- 2018 CARRANCA Comissão Mineira de Folclore: 70 anos rumo ao Centenário

Upload: others

Post on 22-Mar-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

ORGÃO INFORMATIVO DA COMISSÃO MINEIRA DE FOLCLORE – CMFL – 02-2018– Abril-

Junho- 2018

CARRANCA

Comissão Mineira de Folclore: 70anos rumo ao Centenário

Page 2: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA PÁGINA 2

EditorialDiscurso de Posse da Presidenta, MíriamStella Blonski

Uma boa noite a todos.Hoje estou assumindo um dos compromissos maisdesafiadores da minha vida, e o faço sob influência da memóriado saudoso e muito querido Professor Saul Martins, que meiniciou nos meandros do Folclore, e do Professor José Moreira,professor e amigo, que sempre orienta-me nas questões ligadasa um campo de estudo e de atuação tão difícil, qual seja oFolclore e seus desdobramentos em Minas Gerais, no Brasile no mundo. Que o sentimento forte e a admiração semprecrescentes sejam os alicerces necessários. Espero contar como apoio e a colaboração de todos os presentes e de quantosmais puderem contribuir para o êxito dessa missão.Tomo a liberdade de evocar, neste momento, a figura do JecaTatu, objeto de uma pesquisa realizada em trabalho demestrado na UFMG. Na ocasião , além de outros autores,tivemos o escritor Monteiro Lobato e sua pesquisa intitulada“Saci Pererê, resultado de um inquérito”, como base para osestudos, onde a atenção era voltada, na realidade, para opovo, expondo a personalidade dos muitos Jecas existentesno País, seus costumes e afazeres, sua situação econômica esocial, suas mágoas e alegrias, suas crenças e mitos.Folclore é o saber do povo.Povo é o conjunto dos habitantes de um País, sofrendo asinfluências da tecnologia, dos meios de comunicação, cadavez mais avançados e sofisticados. Essa influência, contudo,não deve servir de elemento anulador da cultura existente epraticada por esse povo. Não que ela deva permanecerinalterada, uma vez que uma das características maismarcantes da cultura é seu dinamismo, sua capacidade deadaptação aos novos tempos e às novas situações.Através dos relatos orais pode-se perceber a cultura de umpovo, identificar seus elementos constituintes. Ouvir, registrar,analisar tais elementos é tarefa importante. Não basta,entretanto, resgatar a cultura popular, evitando que se percamos mitos, as festas, o artesanato, a culinária, os costumes, ascrendices.É preciso, além de reconhecê-los como símbolos daidentidade de diferentes grupos , estudar e registrar seuselementos formadores, possibilitando o intercâmbio de culturasatravés da sua divulgação entre cidades e países. O mundovai adquirindo sentido ao ser simbolizado, estruturado etransformado pelo homem. Cada novo valor, cada sentidonovo, implica em formas culturais, pois a cultura é uma estruturasimbólica. Cada ideia, por mais simples que seja, modifica acultura e influencia no modo de vida das pessoas.O Professor Saul Martins, em seu livro “Folclore em MinasGerais”, traduziu mineiridade refletindo sobre ocomportamento do mineiro e também sobre sua obra,

refletindo-se, ainda, na política, na linguagem, no vestuário,na culinária típica, nos processos de trabalho, no folclore,no romantismo das modinhas, na arte, no lazer e no culto.Todo um mundo de informações e de modos de ser aíreside . Todo um desafio. Toda uma diretriz de trabalho,que constituirá nosso rumo, junto à Comissão Mineira deFolclore, guiada pelo eterno maravilhamento adquirido dosgrandes mestres citados.Ao saber que havia aceito o honroso cargo no qual hojesou empossada, minha neta Maria Emília, proferiu aseguinte frase, que também é o pensamento de toda afamília: “Lá vai minha avó, novamente, procurar a outraperna do Saci!”Caminhemos juntos, e ao agradecer a confiança que emnós é depositada, curvo-me, respeitosamente, e saúdo atodos os que criaram e mantém viva, através do tempo,esta instituição.Muito obrigada.

Page 3: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA PÁGINA 3

Editorial

Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 defevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore completou 70 anos desde que foi funda-da. Amanhã, dia 24 de fevereiro é aniversário denascimento de nosso fundador Aires da MataMachado Filho. Encontramo-nos em meio aduas datas emblemáticas.

Vamos imaginar o dia, melhor, a noite do dia 19 de feverei-ro do ano de 1948. Percorramos a Avenida Afonso Pena eparemos em frente ao Conservatório Mineiro de Música.Bem à entrada, encontra-se o Diretor professor LevindoLambert. Logo, logo, chegam outros anfitriões dessa casaque é síntese do movimento musical mineiro desde o anode 1925. Vemos e distinguimos, sem esforço, Branca deCarvalho Vasconcelos, Flausino do Vale e Angélica deRezende Garcia. Em seguida, chegam os convidados: Airesda Mata Machado Filho, Nelson de Sena, João DornasFilho, Heli Menegalle, Fausto Teixeira, Henriqueta Lisboa,Lúcia Machado de Almeida e Antônio Joaquim de Almeida,João Camilo de Oliveira Torres, Tabajara Pedroso, MárioLúcio Brandão, Franklin de Salles. Foram 15 membros nestaprimeira reunião da qual surgiu a deliberação de formar umacomissão de planejamento composta por Aires da MataMachado Filho, João Dornas Filho, Levi Braga e FranklinSalles. Deliberou-se ainda que o professor Lindolfo Go-mes fosse objeto de conversa do grupo sobre uma de suascomunicações sobre as origens populares do maxixe.

Na segunda reunião, realizada no mesmo local no sábadodia 06 de março, foi apresentado o Plano de Trabalho com-posto de sete linhas diretoras: 1. Promover a relação dosestudiosos de Folclore em Minas Gerais com suas respec-tivas bibliografias; 2. Promover a relação de instituiçõespúblicas e privadas existentes em Minas Gerais para listaros acervos de interesse para o folclore; 3. Promover o le-vantamento da bibliografia mineira e brasileira de interessepara os estudos do folclore; 4. Indicar à Comissão Nacio-nal de Folclore livros de autores mineiros que mereçam serpublicados; 5. Realizar cursos, conferências e festivais fol-clóricos “com a revivescência das festas tradicionais minei-ras”; 6. Promover contatos com estudiosos de folclore nãoresidentes em Belo Horizonte para se porem a par dos ob-jetivos da subcomissão mineira de Folclore e sob a orienta-ção do grupo constituído; 7. Promover a estruturação daComissão Mineira de Folclore segundo as recomendaçõesde Joaquim Ribeiro.

A essas sete linhas de trabalho, imediatamente foram toma-das as seguintes decisões: 1. Que a professora Angélica deResende Garcia se encarregasse de fazer contatos com es-tudiosos de folclore em Minas para completar a lista de

“fundadores”; 2. Aires indicou imediatamente quatro no-mes para compor a lista de “membros correspondentes”da Subcomissão Mineira de Folclore: Manoel AmbrósioJr., de Januária; Francisco Inácio Peixoto, de Cataguases,e José Augusto Neves e Maria Orminda Mata Machado,de Diamantina. Dessa segunda reunião resultou que aSubcomissão Mineira poderia contar com 19 membros.

De reunião em reunião, a Subcomissão Mineira de Folclo-re alcançou o total de 28 membros fundadores ao longo doano de 1948. Mas, o que interessa fixar é o Programa ima-ginado pela comissão de planejamento: Reunir todos os es-tudiosos com os respectivos estudos; realizar cursos e con-ferências sobre folclore; promover a publicação de obrasesgotadas ou ainda inéditas e consolidar um Centro de In-formações Folclóricas.

Há águas represadas!

Percorridos 70 anos, este é o momento de deixar sonhosde lado e recuperar projetos surgidos no primeiro momen-to:

Recuperar o Centro de Informações Folclóricas iniciadopelo esforço de Antônio de Paiva Moura em 1983, e siste-matizado em seus aspectos básicos pelo professor doutorRaimundo Nonato de Miranda Chaves; consolidar os estu-dos iniciados pelo projeto “O Movimento dos Folcloristasem Minas Gerais” que se encontram em execução com fi-nanciamento do Fundo Estadual de Cultura; e consolidaras publicações das Edições Carranca inauguradas no anode 1976 com apoio da Comissão Nacional de Folclorenaquela data.

Para finalizar, quero fixar que o movimento dos folcloristasem Minas Gerais surgiu no ano de 1948 em resposta à cri-ação da Comissão Nacional de Folclore a qual respondiaao apelo da UNESCO. Era, portanto, um híbrido, diferen-te dos esforços anteriores de Mário de Andrade e de Luisda Câmara Cascudo, os quais lutaram pela coordenaçãodo movimento como órgão da sociedade civil.

As Comissões regionais, tanto quanto a Comissão Nacio-nal, pagariam o ônus de se abrigarem no interior dos apare-lhos de Estado. Necessárias em momentos de pânico, -asegunda Guerra Mundial acabara de acabar (!)-, viverão oincômodo de responder apenas aos interesses passageirosdos governos.

O maior desafio imposto a todas as comissões de folcloresurgidas no ninho matricial do Estado foi e é de que Estadoé abstração. O concreto são os Governos e governos ser-vem a interesses particulares obedientes a conjunturas domomento. O movimento de folclore surge das contradiçõesdos Estados Nacionais e dos governos empenhados em

Discurso de passagem a presidência, José Moreira de Souza

Page 4: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA PÁGINA 4

Editorialreforçar o desenvolvimento dos Mercados. Tais como in-dicarem os mercados, tais serão os governos – Como vaio PIB? Tal será a crise ou os anos de prosperidade! -. OFolclore que tem como foco o Povo e Nosso Saber en-quanto Povo se situa na contramão dos interesses do Mer-cado e dos Governos que se orientam pelos ditames domercado. Este é o nosso desafio e nossa missão. Indepen-dência, Liberdade orientadas pelo valor maior de Justiçasão eixos que norteiam o Movimento dos Folcloristas, seesses movimentos não se submeterem nem a Mercado nemà vassalagem dos Governos subservientes.

Aderir ao movimento dos folcloristas é professar ver nossosaber viver com a atenção para as condições impostas aesse saber e lutar pelo desenvolvimento livre desse saber.Moral da história, pertencer à Comissão Mineira de Fol-clore é fazer profissão de fé de que além do Sistema deMercado que opera com equações e inequações para de-terminar a desigualdade de valores; além do sistema doEstado que determina o quanto cada um deve contribuirpara os governos “justos” ou “injustos” sem atenção parao que deve ser atribuído e distribuído pelas imposições cha-madas de “legais”; é principalmente crer com a fé de que:seja como agente do Mercado, seja como cidadão do Es-tado tudo que fazemos, agimos e sabemos tem como basesaber doar sem obter qualquer retribuição. Doar vida, doarconhecimento, doar arte, doar inteligência. Nada disso setroca; nada disso resulta de imposição.

A Comissão Mineira de Folclore se defronta com dois de-safios:

1.Orientar-se pela alegoria do “Pau de Sebo”, o quequer dizer que todos estamos dispostos a doar to-das as forças para obter as prendas que nos per-tencem.

2.Orientar-se pelo mito celebrado na escolha dos im-peradores do Divino. Todos estão prontos paracontribuir para a festa antes mesmo de serem esco-lhidos para coordená-la. O imperador é sorteadoentre os dispostos a participar. É o sonho deMontesquieu da Democracia plena.

Penso que isto é sonho porque, o Mercado pede líderesque desconheçam a dádiva do trabalho e o Estado pededirigentes que se julguem competentes para agir em nomedo povo a favor de uns e contra os outros em nome da Lei.

Felicidades, Míriam; felicidades, Fabiane; felicidades,Marcus; felicidades Elieth. Todos nós estamos prontos parasuspendê-las pau acima!

Estamos na base do pau de sebo, podem trepar sem re-ceio. Promovam nossa festa.

Adeus Taylor; Adeus Fayol; Adeus hierarquia cibernética!

Page 5: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA PÁGINA 5

Aconteceu / Acontecendo

Dia 19 de Fevereiro Comissão Mineira deFolclore Celebra 70 anos de fundação

No dia 19 de fevereiro, a Comissão Mineira de Folclorecelebrou 70 anos de existência como coordenação doMovimento dos Folcloristas em Minas Gerais.Nessa oportunidade, procedeu-se a eleição da Diretoria parao período de 2018 a 22 de agosto de 2020.Elegeu-se como Presidente a senhora Míriam Stella Blonski,graduada em Pedagogia, com pós-graduação lato sensu

em Folclore e Cultura Popular, e mestrado em Letras pelaUFMG.Vice-Presidente: Fabiane Ribeiro, graduada em Artes.Secretário: Marcus Vinício Martins da Costa, graduado emAdministração Pública pela Escola de Governo de MinasGerais, em Direito pela UFMG e mestrado nos EstadosUnidos.Tesoureiro: Elieth Amélia de Sousa, graduada em CiênciasSociais e Administração de Empresas pela UFMG, pós-

graduação lato sensu em Urbanismo, pela UFMG,mestrado em Gestão de Cidades, pela PUC Minas, e dou-torado em conclusão pela UFMG.O Conselho Fiscal foi composto por Antônio de PaivaMoura, José Moreira de Souza e Raimundo Nonato deMiranda Chaves.

Dia 23 de fevereiro. Sessão solene da ComissãoMineira de Folclore na Casa do Jornalista de MinasGerais.

Page 6: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA PÁGINA 6

Aconteceu / Acontecendo4 de março:Carlos Felipe escreveu:MORREU O BREGUEZ – A morte de Sebastião Breguez,ocorrida hoje de madrugada em Santa Luzia, priva Minas deum bravo lutador pelas causas da cultura popular. ConhecemosBreguez há muitas décadas. Foi um dos guerreiros pelaimplantação e estudo no Brasil da “folkcomunicação”,organizando seminários e congressos. Com ele participamosde uma iniciativa pioneira e, infelizmente única em Minas atéhoje, que foi o Primeiro Festival Mineiro de Repentistas, quandotivemos a oportunidade de descobrir a fantástica riqueza dorepentismo e da poesia popular em nosso estado. Membrointegrante da Comissão Mineira de Folclore, promoveu emSanta Luzia, cidade que escolheu para morar nos últimos anos,um trabalho primoroso no sentido de valorizar os presépios,organizando concursos, exibições e escrevendo um livroessencial para o estudo desta manifestação folclórica em Santa

Luzia. É oportuno lembrar que Minas Gerais e Belo Horizonte,em tempos de antanho, também valorizavam os presépios, maisum evento que, infelizmente, desapareceu, continuando a serpreservado por famílias e pessoas, sem nenhuma participaçãode entidades e poderes públicos, cada vez mais se esquecendoda cultura popular. Breguez participou conosco de muitoseventos, bastando lembrar, por exemplo, a Seresta ao Pé daSerra, os encontros de violeiros no Porão, o Programa CarlosFelipe na Inconfidência, os estudos com detentores da legítimacultura e religiosidade populares, por exemplo, as festas doRosário, do Preto Velho, das Folias de Reis e de Iemanjá. Foiprofessor em várias escolas e articulista em vários jornaismineiros, brasileiros e internacionais. Sua morte nos pegoucompletamente de surpresa. E a informação que temos até agoraé de que seu velório está sendo realizado na rua Bonfim, 160, no

Centro, em Santa Luzia.

19 de abril - Conversas sobre Indígenas

Page 7: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA PÁGINA 7

Aconteceu / Acontecendo

Acervo do Museu do Folclore Saul Martins no

Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional

Lagoa do Nado

por Camila Reis

Durante o Seminário “O Museu do Folclore nos 100 anos

de Saul Martins. 70 anos CMFL”, foi realizada aapresentação intitulada: Acervo do Museu do Folclore

Saul Martins no Centro de Referência da Cultura

Popular e Tradicional Lagoa do Nado, onde estiverampresentes integrantes da CMFL e público externo. Foramabordadas as ações desenvolvidas pertinentes ao trabalhode higienização e embalo de uma pequena parte do acervo- do Museu do Folclore Saul Martins -, pertencente àCMFL sob a tutela da prefeitura municipal de VespasianoMG, com o objetivo de concluir o seu processo dedevolução à instituição de origem, uma vez que estavam atítulo de empréstimo ao Centro de Referência da CulturaPopular e Tradicional Lagoa do Nado (CRCP) para

compor a exposição “Tradição e Resistência: sujeitos, práticase memórias da cultura popular em Belo Horizonte”.Foi apresentada a metodologia utilizada para o tratamentodo acervo com base em trabalhos práticos já desenvolvidosem outros acervos e bibliografias de referência da área, bemcomo a utilização do próprio acervo da Comissão paraexemplificação e discussão sobre o papel das instituiçõesmuseológicas frente à suas coleções, as dificuldadesenfrentadas pela falta de recursos e a importância dadocumentação museológica e conservação dentro dessesespaços.

Page 8: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA PÁGINA 8

Aconteceu / Acontecendo

A apresentação abordou principalmente o passo-a-passo

do trabalho desenvolvido no CRCP e sua importância noque diz respeito ao cuidado com as coleções. O processode manuseio seguro do objeto, higienização a seco, suafotografia, embalagem interna, identificação eacondicionamento em caixa para transporte forammostrados e discutidos com os presentes. Trabalhos dessa natureza nos permitem realizar pequenosdiagnósticos das nossas instituições e de como se encontra

o estado dos acervos que elas abrigam. Nos mostramlacunas nos inventários e documentações institucionais, bemcomo os aspectos pertinentes à conservação dos mesmosde forma direta ou indireta. Através de procedimentossimples e às vezes de custo não muito elevado, podemosgarantir a preservação do acervo frente a deterioração, açãodo tempo ou acontecimentos de ordem criminosa.

Com a parceria realizada entre a CMFL e o CRCP, foipromovida através da exposição o fortalecimento da culturapopular e do folclore da cidade de Belo Horizonte. É defato um acontecimento notável ter um equipamento voltadopara as culturas de ordem popular, e é um grande prestígioter em um espaço dessa natureza, um acervo tão belo eimportante para a história do folclore e da cultura popularexposto por mais de dois anos. Houve uma rica troca de experiências entre os presentes,reafirmando a existência de um grande campo para pesquisasde ordem extensiva ao restante do acervo, dentro de diversaáreas e tendo ele como objeto de pesquisa primária, alémde inspirar em todos os envolvidos o desejo pela busca dapreservação de nosso patrimônio material e imaterial, quemuito nos fala sobre a construção da nossa identidade

enquanto povo.

Page 9: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA PÁGINA 9

Aconteceu / Acontecendo

O Museu do Folclore nos 100 anos de Saul Martins, marco de uma

perspectiva processual, combinatória e cumulativa.

Por Ione AmaralEm atenção aos 100 anos de Saul Martins, no último

dia 22 de fevereiro, foi realizado o seminário: “O Museu doFolclore nos 100 anos de Saul Martins”. Promovido pelaComissão Mineira de Folclore, - como parte das açõescomemorativas de seus 70 anos - em parceria com aprefeitura de Vespasiano, teve por objetivo dar visibilidadeaos trabalhos que vem sendo desenvolvidos junto ao MFSM– Museu do Folclore Saul Martins nos últimos anos,direcionados à: pesquisa, levantamento de seus marcoslegais, e coleta de indicadores que possam orientarpropostas de programas, projetos e ações a seremdesenvolvidos no museu.

Desde 2016, a CMFl buscou aproximação com aSuperintendência de Museus e Artes Visuais da Secretariado Estado da Cultura de Minas Gerais, que vemacompanhando os trabalhos tanto junto à CMFl, quanto àSecretaria de Cultura, Turismo e Lazer do município para aconstrução de um diagnóstico do MFSM, que deveráorientar metas e projetos que possam culminar em açõesfacilitadoras da incorporação e ressignificação dos acervosdo museu, junto ao público e à comunidade do municípiode Vespasiano, onde se encontra hoje inserido.

E é nesse contexto que o seminário foi concebido,propondo em sua programação temas que partiram daslinhas de ação que vem sendo desenvolvidas junto ao museue seus anexos: a Biblioteca Angélica de Rezende e o CIF –Centro de Informações Folclóricas.

Foram convidados para condução das mesasrepresentantes do poder público local, membros da CMFlintegrantes do Núcleo Gestor do MFSM, além decolaboradores e amigos que de alguma forma vemcontribuindo para a construção desse trabalho.

Pela manhã as atividades aconteceram nasdependências do UAITEC Vespasiano, com o prof. JoséMoreira de Souza, mestre em sociologia e proeminentemembro da CMFl, abrindo os trabalhos com uma belaabordagem sobre diferentes conceitos de museu ao longoda história da humanidade, em seguida a palavra foi passadapara Ione Amaral, integrante do Núcleo Gestor do MFSMe membro da CMFl, que apresentou um compendio deinformações e marcos históricos e legais referentes aoMFSM. Logo após a museóloga Camila Mafalda,

apresentou seu trabalho recente com parte do acervo do

MFSM.

Após breve almoço, se iniciaram as mesas da tardenas dependências da Casa da Cultura de Vespasiano, -prédio que abriga em seu segundo andar, o Museu doFolclore e seus anexos -, com a presença de representantesda Prefeitura Municipal de Vespasiano: a sra. Mônica Reginada Cruz, secretária municipal de cultura, turismo e lazer, asra. Sara de Bessa, gestora municipal de turismo e a sra.Lizzie Braga, há anos à frente da Casa da Cultura deVespasiano.

Após uma explanação informativa sobre as açõese projetos pretendidos pela SMCTL em relação aos museusabrigados na Casa da Cultura, pudemos contar commomento de fortes emoções povocadas pela fala de LizzieBraga. Sua homenagem ao professor Saul Martins, foiseguida pela da sra. Jiçara Martins. Engenheira e poeta,filha de Saul Martins, alavancou a campanha: ‘O Museu doFolclore em suas mãos’, momento de sensibilização dospresentes para a necessidade de mobilização, - tanto porparte do município quanto da CMFl - , em prol daconservação, divulgação e promoção do Museu do Folcloree seus importantes acervos, legado de vida seu pai.

A parceria entre a Comissão Mineira de Folclore eo município de Vespasiano fez no último 1º de março, vintee sete anos. Com momentos de maior aproximação econsequentemente mais ações e projetos, e outrosmomentos de menor proximidade, nesses 27 anos a CMFltem empreendido esforços para estar presente no municípiode Vespasiano, junto ao Museu do Folclore, fomentando econtruibuindo para o fortalecimento da cultura do município.Numa rápida coletânea nos registros da CMFl podemoscitar, a partir de 1991, realização da Assembléia Geral daCMFl em Vespasiano, a primeira Assembléia Geral daCMFl, fora de BH. Cursos de formação, ministrados pormembros da CMFl em várias ocasiões no município, entreeles cursos de Folclore e o curso ‘FundamentosAntropológicos em Museologia’.

Acompanhamento das atividades de mediação, peloprofessor Saul Martins juntamente com o diretor da Casada Cultura à época, sr. Aluízio Barbosa Martins ‘Nô’ e osfuncionários e guias: Maurício Rodrigues da Cruz e LizzieBraga, que registrou em um ano de trabalho, cerca de 1500pessoas atendidas em visitas orientadas e programadas para

Page 10: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA PÁGINA 10

Aconteceu / Acontecendo

atendimento de escolas do município e região, programa

que culminou na exposição ‘Brinquedos Populares’.

Publicação de artigos como do sr. Geraldo F.

Fagundes, à época que foi diretor de serviços folclóricos

da Sec.Municipal de Cultura,Turismo e Lazer, sobre as

manifestações folclóricas do município e o Museu do Folclore

Saul Martins e o lançamento do Livro: ‘Vespasiano, Nossa

Terra, Nossa Gente’, com prefácio de Saul Martins.

Além disso, ressaltamos a formação de mediadores,

curadoria de exposições, palestras, seminários, campanhas

de revitalização do acervo e sempre que solicitada, a

presença de representantes da CMFl no município.

Que esta parceria continue e estreite seus laços com

a comunidade, gerando frutos e honrando o legado do

professor Saul Martins, membro fundador da Comissão

Mineira de Folclore.

Page 11: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA PÁGINA 11

Aconteceu / Acontecendo

Nova Diretoria: as peripécias deregistro de uma ata.A nova diretoria da Comissão Mineira de Folclore foi eleitae empossada no dia 19 de fevereiro de 2018. No dia 23,foi solenemente apresentada a toda a comunidade emcerimônia acontecida nas dependências do Sindicato dosJornalistas de Minas Gerais – Casa do Jornalista -.Imediatamente procedeu-se ao ritual de registro em cartório.Foram quatro meses de vai e volta do processo. Finalmente,aguarda-se o registro definitivo prometido para o dia 21 dejunho próximo.As consequências dessas indecisões têm trazido incômodosao cumprimento de compromissos inadiáveis.

Em primeiro lugar, as contas bancárias encontram-sebloqueadas. Dois projetos aprovados e com cronogramadefinido não puderam remunerar atividades programadasdesde o mês de fevereiro.Sem a possibilidade de comprovar oficialmente aregularidade burocrática, a diretoria eleita sente-seaprisionada.Nossa vantagem é que, como organização da SociedadeCivil, a Comissão Mineira de Folclore é modelo de inserçãono Sistema da Dádiva. Não se submete ao mercado cujaordem é o produto, como querem os editais de Cultura,nem às imposições como determinam o sistema dosEstados.

Pesquisa: O Movimento dosFolcloristas em Minas GeraisSituação do ProblemaEsta pesquisa surgiu de duas constatações.A primeira advém de nossa missão de estarmos atentos aoSaber Viver em Minas Gerais e de a Comissão Mineira deFolclore ter surgido no ano de 1948 com o objetivo decoordenar o movimento dos folcloristas em nosso estadocom o foco de Atenção e Estudo.A segunda resulta da surpresa de não contarmos com aten-ção constante para a história desse movimento o qual justi-fica a criação da Comissão Mineira de Folclore no ano de1948. Há confissão de um estranhamento: afinal, um movi-mento que privilegia o cuidado com a tradição, um movi-mento no qual a tradição é categoria fundamental para acompreensão da realidade, por que não privilegia a própriahistória?Isto posto, nesta pesquisa estabelecemos como ponto departida a constituição de Minas Gerais como Estado daFederação no ano de 1889 – Ano de Proclamação da Re-pública Federativa. O que tem a ver a República com oestudo do Movimento dos Folcloristas? Pode ser pergun-tado.Partimos da suposição de que até 1889, Minas Gerais erauma Província do Império, ou seja, os limites territoriais nãodeterminavam uma identidade espacial que implicasse emzelo dos governantes pelo reconhecimento do comando.Desse modo, até então, os presidentes das províncias nãotinham qualquer compromisso com o saber viver regional,mas com as necessidades da Ordem Distante embutida nasdiretrizes do Império. Criada a República e instituídos osGovernos Estaduais, cada Estado tinha por obrigação zelar

pela identidade regional. O problema territorial assumiagrande relevância.Resulta disso a criação do Arquivo Público Mineiro, insti-tuição cujas diretrizes sintetizam o caminho do que se cha-ma, hoje, política cultural. Nessa esteira aparece a necessi-dade de absorver informações de uma MinasPernambucana, uma Minas Baiana, uma Minas Goiana, umaMinas Paulista, uma Minas Metropolitana – leia-se deter-minada pela Capital do Império. A ideia de arquivo, biblio-teca e museu se mostra evidente neste primeiro instante.Vem em seguida o movimento que se concretiza na funda-ção do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais –1907 – e a Academia Mineira de Letras – 1909. Outrosmovimentos fazem surgir escolas de música, institutos deartes.Há ainda, outro ponto que merece atenção. No início doImpério imaginou-se a criação de escolas de ensino supe-rior no Brasil. Note-se: No Brasil. Surgiram a Escola deDireito em São Paulo e no Recife, a de Medicina, em Sal-vador e no Rio de Janeiro e a Escola Naval – leia-se enge-nharia - na Corte. Anteriormente a isso prosseguiram osestabelecimentos de ensino nos Seminários Episcopais –Escola de Governo do Clero.Herdamos, portanto, a fixação do que o professor mineiroEdmundo Campos Coelho chamou de “As Profissões Im-periais”.Para se compreender o movimento dos folcloristas, há queestar atento a esse percurso de Divisão do Trabalho Inte-lectual do qual resulta a criação de Faculdades de Filoso-fia, Ciências e Letras, Escolas de Belas Artes – onde ficamas “feias artes?” -, os Conservatórios de Música e asconsequentes especialidades profissionais em meio às quais

Page 12: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

Aconteceu / Acontecendo

CARRANCA PÁGINA 12

o Folclore, desde a Carta de William John Thoms, reivindi-ca um lugar.No emaranhado dessas questões a pesquisa tem comoobjetivo consolidar o Centro de Informações Folclóricascriado por nosso companheiro Antônio De Paiva Moura, erecuperado e ampliado pelo eficiente professor doutorRaimundo Nonato de Miranda Chaves.

A pesquisa obteve recursos do Fundo Estadual de Culturano valor de R$ 40.000,00, para cumprir uma etapa doprojeto. Foram desembolsados até o momento R$10.400,00.O quadro em seguida exibe o processo de registro dasinformações.

Comissão Nacio-

nal de Folclore

70 anos

19 de dezembro de

1947

Page 13: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA PÁGINA 13

Aconteceu / Acontecendo

As Comissões estaduais celebram 70 anos de Fundação.Comissão Mineira de FolcloreNo dia 19 de fevereiro foi a vez de a Comissão Mineira de Folclore celebrar setenta anos. Como se sabe Minas Geraisfoi a primeira a responder à convocação de Renato Almeida.A Comissão Nacional de Folclore, instituída no dia 19 de dezembro de 1947 no interior do Ministério de RelaçõesExteriores, fará afirmar para o mundo quem é o Povo Brasileiro. A primeira reunião preparatória aconteceu no dia 7 denovembro do mesmo ano.

Comissão Cearense de Folclore.

Comissão Norte-Rio-Grandense deFolclore.Faz a maior festa. Reconhecidapelos poderes executivo elegislativo

Sessão solene na AssembleiaLegislativa do Ceará homenageiaa Comissão Cearense de Folclore

Page 14: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

Aconteceu / Acontecendo

CARRANCA PÁGINA 14

Comissão de Folclore do Mato doGrosso do Sul

Comissão Paraense de Folclore

Honras a Walcyr Monteiro

Page 15: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

Aconteceu / Acontecendo

CARRANCA PÁGINA 15

Rafael Sol: Mamulengos eoficinas

Edileila, Rasgos da Almae a Comissão Mineira de

Folclore na Argentina

Page 16: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

Aconteceu / Acontecendo

CARRANCA PÁGINA 16

COMISSÃO ALAGOANA DEFOLCLORE

*OLEGÁRIO VENCESLAU DA SILVA

As multicoloridas fitas e apetrechosadornam o frontispício de reluzentes chapéus dosvelhos Guerreiros, com suas imagens bucólicasrefletindo a religiosidade comum nas igrejas e templosdedicados aos santos católicos, patronímicos de certacomuna nativista. A esta aquarela folclórica, pintadapelas mãos de lídimos mestres e senhores dos saberespopulares, emanados do âmago do povo, se somamainda estórias fictícias surgidas do imaginário lúdicode nossa gente, que há séculos traz consigo um legadode pertencimento cultural afro ameríndio e não menoslusitano, trazidos nos conveses e inóspitos porões dasnaus que cruzaram os mares nunca dantes navegados,cujos horizontes levaram-nos a destinos até entãodesconhecidos, atracando nesta terra de Santa Cruz. Toda essa efervescência de tradiçõesdespontou em solo caeté, desde os longevos tempos,em que ainda éramos Capitania agrária e açucareira,nas primeiras décadas do século XVII. Nesteinterregno temporal não foram poucos os estudos,pesquisas e anotações, que eternizaram nas páginasamareladas de antigos jornais e livros as manifestaçõespitorescas da incipiente Alagoas, que aos poucos sedesvencilhava e deixava o regaço de sua sempre ternamãe Pernambuco- sonho do Conde Maurício deNassau. No alvorecer da primeira metade doséculo XX [1948], cruzando vielas e becos de umaMaceió, banhada por lagoas e canais, encharcadapelos negrumes dos mangues abissais de Bebedouroe Dique Estrada, exalando o cheiro forte do sururuque alimentava sua gente, eis que entre estesdespontam conspícuas personalidades, abnegadosvultos que por anos a fio se debruçaram sobre a osestudos do folclore e suas matizes, nascendo, portantoa Comissão Alagoana de Folclore, precisamente noalvissareiro mês de maio. Sob a batuta sempre firme do médicoviçosense Théo Brandão, pupilo de seu tio paternodoutor Olegário Brandão Vilela, senhor do EngenhoMata Limpa, se aglomeraram em torno daquele umamiríade de outros estudiosos de escol, no afã de reunirconhecimentos, saberes, costumes e modos de vidado lavrador, vaqueiro, poeta, contista e tantas outrasfiguras enigmáticas do povo. Engrossaram a fileira de

fundadores da Comissão Alagoana de Folclore- CAF,personalidades que merecem os mais vibrantes esonoros aplausos, gravando nos anais da história seusnomes jamais olvidados, quais letras garrafais quedesenham em traços oblíquos o mais finíssimo einigualável mármore de Carrara: Abelardo Duarte,Sinfrônio Magalhães, Mário Marroquim, LuizWanderley Lavenére, Antônio Saturnino deMendonça Braga, Gastão de Carvalho Souza, JoséLages Filho, Maria Aída Wucherer Braga, LaurindaVieira Mascarenhas, José Calmon Reis, CarlosRamiro Bastos, Ezechyas Jerônimo da Rocha, JoséAloísio Brandão Vilela, Paulino Rodrigues Santiago,Carlos Onildo Guimarães e Mário Hélio Gouveia,estes dois últimos fazendo parte do núcleo estudantil. E no seu septuagésimo aniversário decriação, a Comissão Alagoana de Folclore tenta mantervivo o ideal de seus primeiros membros, cuja missãohoje abraçada por pouquíssimos continuadores dosestudos antropológicos e etnográficos é assegurar aperenidade desta entidade, guardiã das tradiçõesculturais legadas pelos antepassados que aqui viveram.

*Advogado, membro da Comissão Alagoana deFolclore e Presidente da Academia Alagoana deCultura.

Page 17: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA PÁGINA 17

Artigos

HISTÓRIA EM MOVIMENTO:escritura e tradição oral Frei

Francisco van der Poel ofm

Há uma relação, digamos dialética, entre a tradição oralem comunidades e a história escrita. Isto vale para a histó-ria da Pátria; da Mulher, da Mídia; da Favela; da Astrolo-gia. Por ex.: A Bíblia traz a história da religião de um povo(doze tribos de Israel). Na verdade, o registro da revela-ção divina passava de geração em geração, pela memóriaoral com seus provérbios, costumes, histórias, rezas, can-tos e calendário. Pelo que parece, escrito só tinha os 10mandamentos na Arca da Aliança. Concretamente, a cria-ção do mundo, Adão e Eva, Noé, promessas, alianças,memória da escravidão no Egito, eram contadas e canta-das no ambiente familiar ou, de noite ao redor de fogueirase em sacrifícios celebrados em assembleias. Esta tradiçãooral de nômades hebreus descendentes de Abraão passoua ser anotada em pergaminhos por escribas a partir domomento em que o povo eleito, alcançando a terra prome-tida, trocou suas tendas por casas fixas nos arredores doTemplo e do palácio do Rei Salomão na cidade de Jerusa-lém. Camelos não carregam bibliotecas. Com o decorrerdo tempo, a religião judaica e a história da Antiga Aliançaviraram um Livro Sagrado acabado e sempre copiado, en-quanto a fé no Deus vivo e a tradição oral continuavam deforma natural. Depois, as primeiras comunidades cristãsacrescentaram à “Lei e os Profetas” (nome oficial do livrosagrado judaico) os feitos de Jesus Cristo anotados poralguns apóstolos e seus auxiliares, isto é, por testemunhosoculares e contemporâneos de Jesus. Trata-se de 4 evan-gelhos, os atos dos apóstolos, algumas cartas e umApocalipse. Na tradição cristã, este conjunto de Antigo e Novo Tes-tamento, recebeu o nome de “Bíblia” que passou a ser con-siderado um “livro inspirado”. Ninguém precisa duvidardesta inspiração! Assim como os pergaminhos são lidos pelosjudeus nas sinagogas e no templo, os cristãos reverenciamas Sagradas Escrituras na liturgia como palavra de Deus.Mas, pensando bem, não é só a Bíblia que é inspirada.Não se trata de uma pedra intocável que caiu do céu. OLivro Sagrado é inspirado porque faz parte de uma históriainspirada...! O Divino Espírito Santo é criativo e dá força eunião aos filhos de Deus, sempre. O livro parado na histó-ria não impede que o Deus vivo continue se revelando nacontemporaneidade, renovando e mantendo assim ativa atradição oral (assembleias, sermões, cantos, rezas) de igre-jas e comunidades. Sua palavra não virou pedra. Quando a gente se adapta a esta noção dinâmica da ins-piração, chegamos mais perto, por exemplo, da religiosi-

dade popular dos pobres no Vale do Jequitinhonha. Parahaver religião, é preciso existir um Deus vivo e presente.Nós não inventamos Deus. A iniciativa da revelação é Dele.Quando Deus se revela, o ser humano tem autonomia pararesponder. Se isto acontecer em comunidades, Deus rece-be nomes (Deus pai/mãe; libertador; misericórdia; cósmi-co; da natureza; e.o.) e surgem assim formas culturais dereligião, todas legitimas e autênticas. Umas podem apreen-der de outras. Sendo assim, as comunidades criam 3 coi-sas: - o culto, - a mitologia/doutrina, - a instituição; comhumildade e humor convém lembrar que Deus, criador detodas as coisas, não vai caber naquilo que nós criamos. Aqui afirmamos que a tradição oral é sinônimo dacontemporaneidade e não um amontoado de coisas guar-dadas. Enquanto livros ficam presos à história a partir dodia da publicação, a tradição oral continua viva em comuni-dades. O líder indígena “Kelé machacali” explica: “Meu paicontou para mim, eu contei para o meu filho e ele contarápara o filho dele”. É assim: se o pai entendeu a História,depois ele vai conta-la para o seu filho, só que dentro deum novo contexto. Então, a História se renova. A própriacomunidade e o bom senso do grupo levam a cultura parafrente. É a História em movimento. Mas nenhuma culturasobrevive sem comunidade. Dizem: “Quando morre umvelho, desaparece uma biblioteca”. Mas quando acaba umacomunidade popular, na favela, na área rural ou de outraforma, sua cultura desaparece para sempre. Tradição oral...só em boca de gente viva. Quando entrei na Ordem dos Franciscanos, na Holandaem 1960, estudávamos filosofia e teologia de forma aberta.Os mestres nos ensinaram a pensar. Também nos levaram aconsiderar que, em cultura, ciência e religião, a pluralidadesignifica riqueza. Durante esta formação, aconteceu oConc.Vat II (1963-65). Os bispos do mundo inteiro reto-mara a definição da igreja como sendo “povo de Deus” e“povo sacerdotal”. O primeiro documento aprovado, o daliturgia, já afirmava: “É o povo que celebra.” Resolvi apos-tar nesta igreja. Em 1967, como frade sacerdote e missio-nário destinado para o Brasil, fui acolhido pelo povo doJequitinhonha. Quando em 1968, os bispos da AméricaLatina em Medellin se reuniram para viabilizar aqui as pro-postas e decretos conciliares, lucidamente disseram: “Se aIgreja é o povo, e nosso povo é pobre, façamos opçãopreferencial e bíblica pelos pobres e valorizemos na igrejaespecialmente a experiência religiosa do pobre e suas for-mas culturais.” Segundo a Unesco, na década de 1960, o Vale doJequitinhonha, constava com terceira região mais pobre nomundo. Vendo que a população não separava vida e reli-gião, comecei a registrar por escrito as tradições orais: desdeos nomes das vacas e os remédios e rezas das benzedeirasàs ferramentas de fazer uma sela, os provérbios, histórias e

Page 18: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

Artigos

CARRANCA PÁGINA 18

cânticos. Ao fazer esta pesquisa (15mil fls.) percebia umasurpreendente semelhança entre a Bíblia e a riqueza culturale religiosa dos pobres do Vale do Jequi. Por ex., enquantoa saída dos judeus da escravidão no Egito virou história nafesta da Páscoa, o povo mestiço do Jequitinhonha sustentaa memória de 350 anos de cativeiro nas celebrações de“irmandades dos homens pretos” e nos cultos afro. Bemassim como os judeus passaram exilados na Babilônia, nossopovo foi obrigado a migrar para São Paulo. A Bíblia reunesabedoria, profecias, lamentações, bênçãos e salmos. Opovo do Vale me confiou mais de dois mil provérbios, alémde profecias, benzimentos, loas, excelências e lamentos. Depois de publicar livros, dar palestras, fundar o coral“Trovadores de Vale”(1970) para cantar o domínio publi-co, entrar na CMFL e no IHGMG e publicar o “Dicionárioda Religiosidade Popular: cultura e religião no Brasil”(2013),resolvi em 2017 tentar juntamente com representantes dapopulação, transformar este tesouro de cultura imaterial numlivro sagrado a ser chamado “Quando Deus andou no Mun-do”. Imaginamos que seja um projeto de cinco anos, umlivro simples, não para o povo mas do povo. Critérios: 1)um trabalho comunitário e contemporâneo cujo norma é oDeus vivo da fé popular; 2) inspiração é a Bíblia que mos-tra ser possível transformar uma tradição oral em sagradaescritura; 3) a forma seja a rica cultura dos pobres doJequitinhonha (índios, afro-descendentes, brancos). Estamosconscientes que este talvez seja o projeto mais difícil que játentei. Nossa equipe conta com a ajuda de alguns artistas,pensadores e técnicos de fora do Vale. E ... o povo nosensina que “O pouco com Deus é muito!” Enfim, a História e a Religião do Deus vivo acontecem,se entrelaçam, têm um frescor. Nosso desejo: “QuandoDeus andou no mundo” também venha a ser um livro inspi-rado por fazer parte de uma história inspirada. Assim seja.

Algumas Informações de autores e obras das fichasda Pesquisa O Movimento dos Folcloristas emMinas Gerais.Ficha:REZENDE, Angélica de. Nossos avós contavam e

cantavam. [1950]. Belo Horizonte: Gráfica Editora Sion,1968. 3ª edição. 192 p. Ilustrado [Acervo da ComissãoMineira de Folclore que estará disponível no Centro deCelebração de Minas]

A autoraAngélica da Mota Resende Garcia de Paiva, nascida

no Rio de Janeiro, em 1893 e falecida em Belo Horizonte,em 12 de agosto de 1973. Filha de Carlos Maria da MotaRibeiro de Rezende e Angélica da Mota Rezende. Era des-cendente do coronel João Ribeiro da Mota, fundador da Fa-zenda Rio São João, em Bom Jesus do Amparo, jóia rara daarquitetura rural de Minas Gerais, tombada pelo IPHAN.

Era prima de Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota,primeiro cardeal do São Paulo. Prima de Maria Ambrosinada Mota Teixeira de Rezende, descobridora da forma de re-produção do bicho da seda o que possibilitou a fabricação deseda no Brasil.

Angélica foi diplomada pela Escola Nacional de Mú-sica do Rio de Janeiro, com registro no Conservatório Naci-onal de Canta Orfeônico Brasileiro; colaboradora do OrfeãoBrasileiro e da Comissão nacional de Folclore; Sócia funda-dora da Comissão Mineira de Folclore.

Angélica de Rezende é autora do Hino ao Expedicio-nário Brasileiro, marcha militar intitulada “Dilúvio de Flores”,cujo primeiro movimento é a partida e o segundo o regresso.Esse hino foi lançado no Cine Teatro Brasil, em 24 de agostode 1944, com participação de alunas do Instituto de Educa-ção e soldados do décimo Regimento de Infantaria de BeloHorizonte. É de sua autoria a música sacra intitulada “Cantaiao Senhor”, para canto e órgão harmônico, composição apro-vada pela Arquidiocese de Belo Horizonte. Organizadorade repertórios especiais, como pauta de melodias e letrasdos seguintes álbuns publicados: Modinhas de Nossa Terra,Coretos de Nossa terra, Lundus de Nossa Terra e Cantigase canções de nossa terra.

Livros (cadernos) destinados ao ensino de música:“Teoria Musical Aplicada”, em três cadernos para o cursosecundário; “Conto musical”, coletânea de 11 melodias econtos nacionais para a Escola nacional de Música do Riode Janeiro; “Coleção de músicas folclóricas e a juventude”,exercícios iniciais de música; Coleção Joãozinho e Maria”,melodia para o tradicional conto popular brasileiro.

Antônio de Paiva Moura

Ficha da obra: RABELLO, Aristides. O Hóspede. BeloHorizonte: Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais,sem data. Páginas: 204 [Primeira edição é do ano de 1921e parece que foi concluída em 1916, dois anos após ainauguração do Ramal Curralinho – atual Corinto - daEstrada de Ferro Vitória a Minas em Diamantina] [Acervode José Moreira de Souza que estará disponível no Centrode Celebração de Minas]Informações relevantes sobre o autor Aristides Corrêa Rabello nasceu em Diamantina, MG, em31 ago 1886, e faleceu em São Paulo, SP, em 2 fev 1941,filho de Francisco Corrêa Ferreira Rabello e de GabrielaAntonina da Mata Machado.Em Diamantina colaborou intensamente na imprensa localna primeira década do século XX. Sobressaem palestraspublicadas em jornais sobre a Serenata em Diamantina;reportagens sobre o Congresso das Municipalidades doNorte entre outras crônicas.O romance O Hóspede é uma sátira ao saber viver emDiamantina e a mania de achar que tudo que vem de fora émelhor. Esse é de fato um assunto recorrente em suas crôni-cas. Ao discursar sobre serestas em 1908, o autor já mostra-va que de original Diamantina somente tinha na seresta “alua e a serra”. Tudo mais vinha de fora: a viola era do Serro;a cachaça, de Paracatu; os versos do Saco do Alferes e amúsica do Catumbi, no Rio de Janeiro. Na crônica sobre o

Page 19: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

Congresso das Municipalidades, Aristides ironiza a recep-ção que os visitantes merecem em Diamantina até a cida-de se enfarar deles e se tornarem desconhecidos, invisí-veis.Aristides está atento para a herança do comércio de dia-mantes. O Hóspede que trará mudanças na casa do co-merciante em Diamantina é filho de grande comerciantede diamantes do Rio de Janeiro. Certamente, a imagemdesse comerciante tem a ver com o célebre Luiz deRezende.

José Moreira de Souza

1. Ficha da obra: FERNANDES. Augusto. Que gente

boa: costumes, fatos e cousas de Diamantina., Belo Ho-

rizonte : o autor, 1944. PP. 78 [Pode ser encontrado na

Biblioteca Antônio Torres em Diamantina MG. Acervo

de Antônio de Paiva Moura, disponível no Centro de

Celebração de Minas da Comissão Mineira de Folclore]

2. Informações relevantes sobre o autor:

Parece incrível. Augusto Fernandes não tem seu per-

fil apresentado em duas obras dedicadas exatamente

aos personagens “ilustres” de Diamantina. Soter Couto

que escreveu em 1954 Vultos e Fatos de Diamantina não

o menciona. Explicável talvez, porque Augusto ainda vi-

via nessa época. Porém, é injustificável que Lomelino

de Andrade Couto que publica o “Tomo II” do Vultos e

fatos de Diamantina”, no ano de 2009, não faça a mínima

menção nem ao autor nem às obras de Augusto

Fernandes: Tipos populares de Diamantina - 1929 – Que

gente boa! – 1944. Essas obras são citadas por Aires da

Mata Machado Filho em Arraial do Tijuco: Cidade

Diamantina e os Tipos Populares de Diamantina são fes-

tejados na cidade sem o cuidado de apresentar minima-

mente a biografia do autor.Lembra Lima Barreto “A obra

é tudo e o autor não vale nada.”

Pelas informações do autor pode-se inferir ter ele

nascido nos anos de 1880 em Diamantina e residir em

alguma das ruas que formavam o Largo da Samambaia,

onde cursou o primário na escola de Angélica Augusta

Vieira. Prosseguiu os estudos no seminário, onde co-

nheceu e admirou o futuro padre e diplomata Antônio

Torres. Parece que o seminário o habilitou a fazer algu-

ma carreira burocrática porque viveu por algum tempo

em Pirapora, fixando-se finalmente, em Belo Horizon-

te. O silêncio sobre seu nome, talvez se explique pelo

cunho de sua obra. Tanto os “Tipos Populares”, quanto

“Que Gente Boa” despem Diamantina. O autor narra al-

gum mal estar causado em algumas pessoas pela sua

obra de 1929, mas registra também homenagens recebi-

das na cidade.

José Moreira de Souza

Ficha: MAGALHÃES, Basílio de. O Folclore no Brasil,3.

ed. Rio de Janeiro: Edições Cruzeiro, 1962. 382 páginas. Comrevisão crítica e nota introdutória de Aurélio Buarque deHolanda. [Primeira edição, publicada no ano de 1928 pelaLivraria Quaresma do Rio de Janeiro. Segunda edição,publicada no ano de 1939 pela Imprensa Nacional, por iniciativado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.] [ Acervo deJosé Moreira de Souza, disponível no Centro de Celebraçãode Minas da Comissão Mineira de Folclore.]Informações relevantes sobre o autorBasílio de Magalhães nasceu no dia 17 de junho de 1874 nacidade de São João Del Rei e faleceu em 14 de dezembro de1957, na cidade de Lambari – MG.Nascido em São João Del Rei, Basílio é principalmente umbrasileiro de Minas. Esse ser brasileiro se revela em sua obra,como historiador. Formou-se em Direito, mas se sobressaiuno estudo da História e no apreço à educação. Como estudiosode História seu cuidado é com o Povo que conforma umanação, a pátria. Esse cuidado se exibe em sua obra didáticaOs volumes de História Geral e de História do Brasil. No anode 1943, Basílio trouxe à luz nova edição de sua História do

Brasil reformulada segundo o decreto preceituado na reformaque determinou o programa de ensino no ano de 1942. Nessaobra há uma curiosidade. Não se trata de um manual escritopor mero professor de história para ginásio, mas de estudiosode história acostumado à busca incansável de documentos eao saber popular. Os fins didáticos o fazem moderar, mas nãoo suficiente para eliminar as inúmeras notas de rodapé, tantocomo convite aos professores de irem às fontes consagradas,quanto aos alunos para compreenderem seu dia a dia.Veja-se o sabor desta nota ao abordar a pecuária no Piauí:

A primitiva feição econômica da região desbravada

por Domingos Afonso Sertão e Domingos Jorge

Velho é atestada até hoje pela musa popular. Certa

cantiga entoada num dos carnavais cariocas, dizia

assim:

“O meu boi morreu...

Que será de mim?

- Manda buscar outro, meu bem,

Lá no Piauí!”

[História da Brasil, 3ª Série. 5. Ed. Rio de janeiro:Francisco Alves, 1951. P. 124]A marca principal de Basílio de Magalhães é a doação.Garantida a própria subsistência como professor, ele cuida deestudar tudo em profundidade. Línguas de nossos indígenas,idiomas europeus como francês, alemão, inglês e,principalmente tudo que tenha a ver com nosso povo. Folcloreé uma de suas paixões. Ele sonha na criação de umacoordenação do movimento dos folcloristas. Luta por isso juntoà Academia Brasileira de Letras e o Instituto Histórico eGeográfico. Quanto ao Instituto Histórico, alcança sucessoao ver publicada a segunda edição de seu O Folclore no

Brasil em 1939.José Moreira de Souza

Artigos

CARRANCA PÁGINA 19

Page 20: Carranca 02 2018 - Folclore Minas · 2019. 8. 22. · CARRANCA PÁGINA 3 Editorial Hoje é dia 23 de fevereiro de 2018. No dia 19 de fevereiro deste ano a Comissão Mineira de Fol-clore

CARRANCA

Órgão Informativo da Comissão Mineira de Folclore – CMFL

Número 02-18– Abril- Junho- 2018.

Acessível em

www.folcloreminas.com.br

Diretor Responsável – Míriam Stella Blonski

Fotos: José Moreira de Souza,,

Editoração Gráfica: José Moreira de Souza

Diretoria da CMFL - 2018 - 2020

Presidente de Honra: Domingos Diniz - in memoriamPresidente: Míriam Stella BlonskiVice-presidente: Fabiane RibeiroSecretário: Marcus Vinicio Martins da CostaTesoureiro: Elieth Amelia de SousaConselho Fiscal da CMFL

Antônio de Paiva MouraRaimundo Nonato de Miranda ChavesJosé Moreira de Souza

IMPRESSO

RemetenteComissão Mineira de Folclore

Rua Pires da Mota - 202Bairro Madre Gertrudes

CEP – 30512-760Belo Horizonte - MGE-mail: [email protected]

Agradecimentos:

Prefeitura Municipal de Belo Ho-rizonte - Fundação Municipal de

Cultura

Comissão Mineira deFolclore

Novos TemposGestão 2018 - 2020