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CAPÍTULO 01 - CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA REVELAR = "sair de sob o véu"; descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Assim pode-se considerar que: - A Astronomia revelou o mundo astral; - A Geologia revelou a formação da Terra; - A Química, a lei das afinidades; - A Fisiologia, as funções do organismo, etc. A REVELAÇÃO tem por característica a VERDADE. Se for desmentida por fatos, deixa de ter origem Divina, pois Deus não se engana nem mente. O Professor, ao ensinar seus alunos, é um revelador de fatos não conhecidos por eles. Ensina o que aprendeu; por isso é revelador de SEGUNDA ORDEM. O homem de gênio ensina o que descobriu por esforço próprio; é o revelador de PRIMEIRA ORDEM. O homem de gênio não é mais do que um espírito mais experiente, adiantado, missionário, por ter vivido muitas vidas e adquirido mais conhecimentos do que o comum dos homens. A preexistência da alma e a pluralidade das vidas é a explicação racional para a existência de homens de gênio, pois caso contrário ter-se-ia que admitir que Deus é parcial. São como professores ou messias, que, através de suas revelações, auxiliam os homens em seu adiantamento científico como também moral, que seria muito lento se ficassem entregues às próprias forças. Todas as religiões tiveram seus reveladores; semearam germens do progresso, que acabariam por se desenvolver à luz brilhante do Cristianismo, apesar da existência dos pretensos messias, que exploram a credulidade em proveito de sua ganância, de seu orgulho. Os espíritos adiantados, quando encarnados, podem ministrar conhecimentos próprios ou recebê- los mesmo dos mensageiros de Deus que falam em Seu nome, através da Inspiração, audição das palavras, tornam-se visíveis durante as visões e aparições, durante a vigília ou sonho do revelador que é sempre um médium inspirado, audiente ou vidente. A revelação pode ser SÉRIA, VERDADEIRA ou apócrifa, mentirosa. "O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade". O DECÁLOGO tem característica de revelação DIVINA: permaneceu inalterado ao longo dos séculos, tendo servido de base para os ensinamentos de CRISTO que aboliu outras leis mosaicas por não serem mais apropriadas ao desenvolvimento do povo. O ESPIRITISMO é uma verdadeira revelação, pois dá a conhecer: o mundo invisível que nos cerca; as Leis que regem suas relações com o mundo visível; o destino do homem depois da morte. Tem caráter de revelação divina por ter origem nos ensinamentos dos ESPÍRITOS SUPERIORES. Participa do caráter de revelação científica por ser seu ensino acessível a todos os homens, não de maneira passiva, mas sendo-lhes recomendado o exame, pesquisa, raciocínio, respeitando- lhes o livre-arbítrio. Não pretende ser completa nem imposta à fé cega. A revelação espírita é portanto: de origem divina, de iniciativa dos espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem. Utiliza o método experimental, observando fatos novos inexplicados pelas leis conhecidas, comparando, analisando-os; dirigindo-se dos efeitos para as CAUSAS, chega à LEI que os rege. Através do processo DEDUTIVO chega às suas consequências buscando as aplicações úteis. Observando os fatos concluiu pela existência dos espíritos, deduzindo da mesma forma todos os demais princípios, não partindo portanto de nenhuma teoria preconcebida. Um exemplo: Observou-se várias manifestações de espíritos que não tinham conhecimento de seu estado de desencarnados, o que permitiu deduzir tratar-se de uma fase da vida do espírito pouco adiantado moralmente, peculiar a certos gêneros de morte, podendo durar de horas a anos. Pois bem, os espíritos superiores não revelaram tais fatos; permitiram tais manifestações submetendo-as à observação a fim de deduzir-se a regra. O objeto da CIÊNCIA é o estudo das leis do princípio material, assim como o objeto do ESPIRITISMO é o conhecimento do princípio espiritual. Como os dois princípios reagem um sobre o outro, o ESPIRITISMO e a CIÊNCIA completam-se reciprocamente.

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Page 1: CAPÍTULO 01 - CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA · Cristo ensinava por meio de parábolas, ... somente após passarem pelo crivo da razão e de todas as ... as coisas de modo mais

CAPÍTULO 01 - CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA

REVELAR = "sair de sob o véu"; descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Assim pode-se considerar que: - A Astronomia revelou o mundo astral; - A Geologia revelou a formação da Terra; - A Química, a lei das afinidades; - A Fisiologia, as funções do organismo, etc. A REVELAÇÃO tem por característica a VERDADE. Se for desmentida por fatos, deixa de ter origem Divina, pois Deus não se engana nem mente. O Professor, ao ensinar seus alunos, é um revelador de fatos não conhecidos por eles. Ensina o que aprendeu; por isso é revelador de SEGUNDA ORDEM. O homem de gênio ensina o que descobriu por esforço próprio; é o revelador de PRIMEIRA ORDEM. O homem de gênio não é mais do que um espírito mais experiente, adiantado, missionário, por ter vivido muitas vidas e adquirido mais conhecimentos do que o comum dos homens. A preexistência da alma e a pluralidade das vidas é a explicação racional para a existência de homens de gênio, pois caso contrário ter-se-ia que admitir que Deus é parcial. São como professores ou messias, que, através de suas revelações, auxiliam os homens em seu adiantamento científico como também moral, que seria muito lento se ficassem entregues às próprias forças. Todas as religiões tiveram seus reveladores; semearam germens do progresso, que acabariam por se desenvolver à luz brilhante do Cristianismo, apesar da existência dos pretensos messias, que exploram a credulidade em proveito de sua ganância, de seu orgulho. Os espíritos adiantados, quando encarnados, podem ministrar conhecimentos próprios ou recebê-los mesmo dos mensageiros de Deus que falam em Seu nome, através da Inspiração, audição das palavras, tornam-se visíveis durante as visões e aparições, durante a vigília ou sonho do revelador que é sempre um médium inspirado, audiente ou vidente. A revelação pode ser SÉRIA, VERDADEIRA ou apócrifa, mentirosa. "O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade". O DECÁLOGO tem característica de revelação DIVINA: permaneceu inalterado ao longo dos séculos, tendo servido de base para os ensinamentos de CRISTO que aboliu outras leis mosaicas por não serem mais apropriadas ao desenvolvimento do povo. O ESPIRITISMO é uma verdadeira revelação, pois dá a conhecer: o mundo invisível que nos cerca; as Leis que regem suas relações com o mundo visível; o destino do homem depois da morte. Tem caráter de revelação divina por ter origem nos ensinamentos dos ESPÍRITOS SUPERIORES. Participa do caráter de revelação científica por ser seu ensino acessível a todos os homens, não de maneira passiva, mas sendo-lhes recomendado o exame, pesquisa, raciocínio, respeitando-lhes o livre-arbítrio. Não pretende ser completa nem imposta à fé cega. A revelação espírita é portanto: de origem divina, de iniciativa dos espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem. Utiliza o método experimental, observando fatos novos inexplicados pelas leis conhecidas, comparando, analisando-os; dirigindo-se dos efeitos para as CAUSAS, chega à LEI que os rege. Através do processo DEDUTIVO chega às suas consequências buscando as aplicações úteis. Observando os fatos concluiu pela existência dos espíritos, deduzindo da mesma forma todos os demais princípios, não partindo portanto de nenhuma teoria preconcebida. Um exemplo: Observou-se várias manifestações de espíritos que não tinham conhecimento de seu estado de desencarnados, o que permitiu deduzir tratar-se de uma fase da vida do espírito pouco adiantado moralmente, peculiar a certos gêneros de morte, podendo durar de horas a anos. Pois bem, os espíritos superiores não revelaram tais fatos; permitiram tais manifestações submetendo-as à observação a fim de deduzir-se a regra. O objeto da CIÊNCIA é o estudo das leis do princípio material, assim como o objeto do ESPIRITISMO é o conhecimento do princípio espiritual. Como os dois princípios reagem um sobre o outro, o ESPIRITISMO e a CIÊNCIA completam-se reciprocamente.

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A Ciência evoluiu ao longo dos séculos, tendo abandonado os quatro princípios constitutivos da matéria (terra, água, fogo, ar), concebendo um único elemento gerador. O Espiritismo demonstrou-lhe a existência acrescentando a ele o elemento espiritual. Assim como a Alquimia gerou a Química, a Astrologia gerou a Astronomia, o ESPIRITISMO, através da experimentação, observação, demonstrando as leis que regem o mundo espiritual, seguiu-se à magia e feitiçaria, as quais, embora aceitassem a manifestação dos espíritos, misturavam crenças ridículas, por desconhecerem as verdadeiras leis das manifestações. A primeira grande revelação veio com MOISÉS: - Um DEUS ÚNICO, Soberano Senhor e Orientador de tudo que existe. - Promulgou a Lei do Sinai; - Lançou as bases da verdadeira FÉ. Entretanto o DEUS revelado era cruel, implacável, vingativo, injusto, pois, era tido por ferir o filho pela culpa dos pais, ordenava guerras, escravizando os povos, matando mulheres e crianças. Com JESÚS CRISTO veio a segunda revelação, exemplificando um DEUS clemente, soberanamente justo, bom e misericordioso. Revelou que a verdadeira pátria não é deste mundo, mas no REINO CELESTIAL, onde os humildes serão elevados e os orgulhosos serão humilhados. Ensinou a necessidade do PERDÃO e da CARIDADE para que sejamos perdoados, retribuir o mal com o BEM. Com Moisés os homens aprenderam a TEMER A DEUS, enquanto que através de Cristo foram levados a AMAR A DEUS. Cristo ensinava por meio de parábolas, pois, o povo da época não tinha condições de entendê-lo completamente. Prometeu a vinda do Espírito de Verdade - "que restabelecerá todas as coisas e vo-las explicará todas". O ESPIRITISMO é a terceira revelação, o Consolador prometido por Jesus, acrescentando à idéia da vida futura, a existência do mundo invisível, definiu os laços que unem a alma ao corpo, desvendou os mistérios do nascimento e da morte. Demonstra a Lei do Progresso manifestada através da Reencarnação dos espíritos até atingir a Perfeição. O sofrimento passa a ser visto como mola do progresso, quando do mau uso do livre-arbítrio. Todos têm as mesmas oportunidades de progredir através do trabalho. Os "demônios" são espíritos imperfeitos que no futuro se transformarão em "anjos": espíritos puros. "TODOS OS SERES SÃO CRIADOS SIMPLES E IGNORANTES E GRAVITAM PARA UM FIM COMUM QUE É A PERFEIÇÃO". É a grande Lei de Unidade que rege o Universo. Pela lei de Causa e Efeito constata-se que a desdita é resultado da prática do mal. Entretanto, o sofrimento cessa com o arrependimento e a reparação, inexistindo portanto o "sofrimento eterno - o inferno" conceitos estes contrários à suprema Bondade e Justiça divinas. A pluralidade das existências foi ensinada por Cristo e demonstrada pelo Espiritismo, explicando as aparentes anomalias da vida, mortes prematuras, diferenças sociais, mentais e intelectuais; justifica os laços de família, mostrando a inutilidade dos preconceitos de raças castas, posição social, etc, incentivando o exercício da fraternidade universal. O princípio da sobrevivência da alma dá ao homem a certeza de que, mais que uma máquina organizada sem responsabilidade, tem um destino maior - a perfeição. A preexistência da alma concilia a doutrina do pecado original com a Justiça Divina, na medida em que cada espírito é responsabilizado pelas suas faltas e não as de outrem, podendo em cada existência redimir-se e progredir, despojando-se de suas imperfeições. O Espiritismo Experimental demonstrou a existência do perispírito, citado por São Paulo como corpo espiritual, invólucro fluídico inseparável da alma e um dos elementos constitutivos do ser humano. O estudo das propriedades do perispírito, dos fluídos espirituais e atributos fisiológicos da alma explica fenômenos como: - vista dupla, visão à distância, sonambulismo, catalepsia e letargia, presciência, pressentimentos, aparições, transfigurações, transmissão do pensamento, obsessões, curas instantâneas, etc. Demonstra que ocorrem segundo leis naturais, podendo ser reproduzidos, fazendo desmoronar o império do maravilhoso e sobrenatural.

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O Espiritismo veio confirmar, explicar e desenvolver os ensinamentos de Cristo, elucidando os pontos obscuros existentes no Evangelho; pregando a moral cristã e demonstrando que até aos últimos minutos de vida o homem pode crescer em inteligência e moral, confirma a promessa de Cristo: é o Consolador dos aflitos, o Espírito de Verdade. Foram, a primeira e segunda revelação, personificadas por Moisés e Cristo, enquanto que a terceira surgiu simultaneamente por todos os pontos da Terra, sendo portanto, coletiva. Kardec, na humildade própria aos espíritos elevados, atribui a si o papel de coordenador dos ensinos dos espíritos. É o CODIFICADOR da doutrina espírita. Tendo surgido em uma época de maior madureza intelectual, em que a aceitação ocorre após estudo e exame dos fatos, a terceira revelação fez-se parcialmente, por partes, em pontos diversos do planeta, de modo que a coordenação e seleção de todos os assuntos parciais constituiu a doutrina espírita. Não decorreu, assim, de um sistema preconcebido, tendo os princípios sido apresentados somente após passarem pelo crivo da razão e de todas as comprovações. As publicações espíritas desempenham a função de elo de ligação de idéias e experiências entre os pontos mais distantes, condensando metodicamente o ensino universal nas várias línguas do globo. Enquanto a ciência em geral necessitou de vários anos, mesmo séculos, para atingir maior grau de desenvolvimento, bastou ao Espiritismo poucos anos para se constituir em doutrina, isto em virtude da multidão de espíritos que, pela Vontade Divina, manifestaram-se simultaneamente trazendo as várias partes da doutrina que, reunidas, compuseram o todo. Assim cada espírito, com maior ou menor grau de conhecimentos, contribuiu com uma pedra para a construção do edifício, solidariamente, de modo que o Espiritismo emergiu da coletividade dos trabalhos, comprovados uns pelos outros. A revelação espírita progride juntamente com a ciência, assimilando novas descobertas, de modo que jamais ficará obsoleta. Muito embora exista no homem a voz da consciência, que nem sempre é observada, permite Deus que de tempos em tempos os missionários insistam na prática dos preceitos morais. Sócrates e Platão já ensinavam a moral pregada posteriormente por Cristo. Assim também os espíritos voltam a reprisar os conceitos da moral cristã fazendo- se ouvir em todos os recantos, pobres e ricos, do globo. Tornam conhecidos, ainda, os princípios que relacionam os encarnados e desencarnados, a natureza origem e futuro da alma, demonstrando que a solidariedade, caridade e fraternidade representam uma necessidade social muito mais do que um dever. A autoridade da revelação espírita vem do fato de que os espíritos se limitam a pôr o homem no caminho das deduções que ele mesmo pode tirar observando os fatos. Assim tanto espíritos elevados como também os menos adiantados colaboram no trabalho de deduzir as leis que regem os fatos. Usando a lógica e o bom-senso pode o estudioso beneficiar-se de todos os gêneros de manifestações, tendo em conta que os espíritos superiores se abstêm de revelar tudo o que o homem, com trabalho próprio, possa descobrir. Permitiu Deus que assim fosse a fim de que uma multidão de espíritos desencarnados se manifestassem em vários pontos do planeta e viessem convencer os vivos das realidades espirituais, pois, difícil e demorada seria a aceitação global se a revelação se fizesse por apenas um espírito, encarnado ou não, mesmo que fosse um Moisés ou um Sócrates. Deve-se levar em conta que, pelo fato de desencarnar, o espírito não passa a categoria de sábio. Entretanto, livre das limitações da matéria, pode ver as coisas de modo mais elevado, compreendendo seus erros, reformando conceitos falsos ou inexatos. De acordo com o desenvolvimento atingido, pode, portanto, melhor aconselhar o encarnado. Com relação ao futuro da alma após a morte, tanto os espíritos elevados como os de menos luzes podem auxiliar na elucidação, tendo em vista relatarem suas próprias experiências. Pode-se comparar a revelação espírita a um navio que, partindo para um país distante, tenha naufragado, tendo-se notícia de se terem afogado todos os passageiros, levando o luto a seus familiares. Entretanto, tendo conseguido os tripulantes aportar em uma ilha ensolarada, lá permaneceram em vida ditosa. Posteriormente outro navio os encontrou e levou notícia aos

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familiares de que estavam bem. Embora não pudessem ver-se, permutavam demonstrações de afeto à distância, podendo inclusive corresponder-se. Assim, como o segundo navio, o Espiritismo é a boa-nova que revela a sobrevivência dos entes queridos aos quais nos reuniremos um dia. Resumindo, os espíritos vieram nos esclarecer que: - o nada não existe; clareiam o caminho dos homens quanto ao futuro, demonstrando que a vida terrena é passageira; mostrando a natureza do sofrimento, fazem-nos ver a justiça de Deus; o bem é uma necessidade, a fraternidade longe de ser uma teoria, funda-se numa lei da Natureza. - se tudo acabasse com a vida o egoísmo reinaria; com a certeza no porvir os espaços infinitos se povoam não havendo vazio nem solidão, todos os seres unidos pela solidariedade. - É o reino da caridade; "UM POR TODOS E TODOS POR UM". - Quando do desencarne de um ente querido em vez de doloroso adeus, passa-se a dizer "até breve".

CAPÍTULO 2 – DEUS

Existência de Deus - Da natureza divina - A Providência - A visão de Deus. Existência de Deus Deus é a causa primária de todas as coisas, a origem de tudo o que existe. "Pelo efeito se julga uma causa" "Todo efeito inteligente decorre necessariamente de uma causa inteligente". Ao contemplar uma obra de arte conclui-se somente poderia tê-la produzido um homem de gênio, nunca um idiota ou um animal, menos ainda que teria sido obra do acaso. Ao contemplar a Natureza, notando-lhe a sabedoria, a providência, a harmonia, ou seja, efeitos inteligentes que superam a capacidade humana, somente se pode concluir ser obra de uma inteligência superior à Humanidade. Muito embora as forças materiais atuem mecanicamente, pelas leis de atração e repulsão, como as plantas nascem, brotam, crescem e se reproduzem sempre da mesma maneira, por ação do calor, eletricidade, luz, umidade, não se pretende afirmar que tais forças sejam inteligentes. São postas em ação, distribuídas apropriadamente de modo a produzir um efeito útil por uma causa inteligente. "Deus não se mostra, mas se revela pelas suas obras". Da natureza divina Falta-nos o sentido próprio para compreender a natureza divina, o qual só adquiriremos com a completa depuração do espírito. Podemos, no entanto, conhecer seus ATRIBUTOS: Deus é a suprema e soberana inteligência; Deus é eterno; (Não teve começo nem fim) Deus é imutável; Deus é imaterial; (Se não o fosse estaria sujeito a mudanças) Deus é onipotente; Deus é soberanamente justo e bom; (Se tivesse qualquer resquício de maldade, não poderia ser infinitamente justo, bom e perfeito) Deus é infinitamente perfeito; Deus é único; Assim, qualquer religião, filosofia, dogma, que estiver em contradição com quaisquer destes atributos divinos, não poderá estar com a verdade. "A religião perfeita será aquela cujos artigos de fé jamais contrariem tais atributos, suportando a prova de verificação sem nada sofrerem".

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A Providência A ação providencial divina se faz sentir nas menores coisas, demonstrando que tudo vê, a tudo preside, está em toda a parte agindo através das LEIS GERAIS DO UNIVERSO de modo que toda a criatura está submetida à sua ação, sem que haja necessidade da intervenção incessante da Providência. Imaginemos um fluido inteligente que preencha todo o universo, de modo que a Natureza inteira esteja mergulhada neste fluído divino. Assim, todos os seres estão saturados dele, de modo que qualquer pensamento, por menor que seja, estará diretamente em contato com o Criador. "Estamos NELE como ELE está em nós". Assim como uma sensação em qualquer parte do corpo é percebida pelo espírito, através do fluído perispirítico , também o pensamento de qualquer criatura será instantaneamente sentido por Deus. Admitindo-se que deva haver um centro de onde a Soberana Inteligência irradie incessantemente por todo o Universo, pode-se supor também que percorra constantemente todas as regiões do espaço, ou ainda que não necessite movimentar-se por sua CONSCIÊNCIA abranger todo o Universo, podendo assim estar em qualquer local ao mesmo tempo. A visão de Deus Enquanto encarnados podemos ter a compreensão de Deus através de seus atributos. Somente nossa alma pode ter a percepção de Deus, percepção esta que será maior à medida que o espírito progrida moralmente através de suas várias encarnações, despojando-se das imperfeições que lhe toldam a visão espiritual, até alcançar a plenitude de suas faculdades. Somente as almas puras, portanto, possuem a faculdade de ver o Criador.

CAPÍTULO 3 – O BEM E O MAL

Origem do bem e do mal. -Sendo Deus infinitamente sábio, justo e bom, é evidente que o mal existente não pode NELE ter-se originado. Por outro lado, se existisse um Satanás (personificação eterna do mal), não podendo ser igual, seria inferior a Deus, logo, teria sido criado por ELE, o que implicaria na negação da bondade infinita do Criador. -Os males tanto físicos como morais pertencem a duas categorias: 1)- Os que independem da vontade do homem - os flagelos naturais. Os flagelos se afiguram maus e injustos aos homens, por não poderem compreender a Sabedoria Divina que em cada acontecimento manifesta oportunidade para o progresso da humanidade. Os flagelos permitem ao homem desenvolver sua inteligência a ponto de preveni-los, amenizar seus efeitos, através das ciências aplicadas à melhoria de condições de vida e bem-estar no planeta. "A dor é o aguilhão que o impele para frente, na senda do progresso". 2)- Os criados pelos vícios, orgulho, egoísmo, ambição, cupidez e por todos os excessos.

Apesar da consciência que lhe foi outorgada pelo Criador, das advertências dos mensageiros quanto ao cumprimento das Leis Divinas que têm por objetivo o bem e o progresso, insiste o homem em causar guerras, injustiças, opressão do fraco pelo forte, usando assim seu livre-arbítrio para a satisfação de seus vícios e sua vaidade.

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Graças à bondade divina, porém, chega um momento em que o mal moral se torna intolerável, reconhece o homem a necessidade de mudar de vida. Usa então de seu livre-arbítrio para moralizar-se a fim de ser mais feliz.

-"O mal é a ausência do bem" . "Onde não existe o bem forçosamente existe o mal". O mal decorre portanto do estado de imperfeição do homem. Existe um limite natural à satisfação das necessidades. Se, por seu livre-arbítrio comete excesso, tem como resultado as enfermidades, a morte, que lhe advirão por sua imprevidência e não por castigo de Deus. A alma foi criada simples e ignorante sujeita à Lei do Progresso. Quiz Deus que o progresso resulte do próprio trabalho a fim de que lhe pertença o fruto deste como também é de sua responsabilidade o mal que pratique. As raízes das paixões e dos vícios se acham no instinto de conservação, intenso nos animais e seres animalizados onde inexiste o senso moral e a vida intelectual. Com o desenvolvimento da inteligência o instinto se enfraquece, fazendo com que paulatinamente haja o domínio do espírito sobre a matéria. Quanto mais se deixe dominar pela matéria, atrasa seu desenvolvimento identificando-se com o bruto. Assim, as paixões que lhe eram um bem, por que eram necessidades de sua natureza, passam a ser um mal por que se tornam prejudiciais à espiritualização do ser. "O mal é, portanto, relativo e a responsabilidade é proporcional ao grau de desenvolvimento". O instinto e a inteligência. -O instinto é a força oculta que solicita atos espontâneos e involuntários visando à conservação da espécie. -É pelo instinto que a planta se volta para a luz e dirige as raízes para a água ou terra, que os animais migram cfe. a mudança de clima, constroem seus abrigos, armadilhas para caçar seu alimento, que os sexos se aproximam, que a mãe protege seu filho. No início da vida os atos humanos são puramente instintivos. Mesmo no adulto muitos atos são movidos pelos instintos como o de conservação, equilíbrio do corpo, adaptação das pálpebras à luz, etc. - A inteligência é um atributo da alma e se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados e combinados de acordo com as circunstâncias. O instinto é previdente e nunca se engana. A Inteligência, por ser livre, está sujeita a errar. O adulto anda naturalmente, instintivamente, mesmo quando está desatento ao ato de andar. Ao aumentar a velocidade, passa a usar sua inteligência, podendo p.ex. vir a cair. Certa teoria considera os atos instintivos provenientes dos protetores espirituais, que diminuiriam sua ação à medida que seu protegido desenvolvesse sua inteligência. Contraria, entretanto, a unidade de causa que se observa universalmente nos instintos, o que não seria possível se proviessem de cada protetor.

-Se considerar-se todos os seres mergulhados no fluído divino, soberanamente inteligente e previdente, entender-se-á a unidade dos movimentos instintivos que visam ao bem de cada indivíduo, tanto mais ativamente quanto menor for o desenvolvimento da inteligência. O instinto é portanto guia seguro que se enfraquece à medida do desenvolvimento da inteligência. As paixões são também forças inconscientes, nascem das necessidades do corpo e dependem do organismo. São individuais, produzem efeitos variados em intensidade e natureza. São úteis até o surgimento do senso moral, quando passam a ser prejudiciais ao progresso do espírito. "O instinto se aniquila por si mesmo; as paixões somente pelo esforço da vontade podem domar-se". Destruição dos seres vivos uns pelos outros. - A verdadeira vida, tanto do animal como do homem, não está no invólucro corporal mas sim no princípio inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo.

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- Em sua infinita sabedoria o Criador faz com que os seres orgânicos se nutram uns dos outros. No homem materializado domina o instinto animal e mata para se alimentar. Posteriormente ao contrabalançar-se o sentimento moral, luta e destrói para satisfazer sua ambição, orgulho, poder. Ao preponderar o senso moral diminui a necessidade de destruir, tendendo a desaparecer, por se tornar odiosa. Passa então a lutar intelectualmente, contra as dificuldades, não mais contra seus semelhantes.

RESUMO DO CAPÍTULO 4 - PAPEL DA CIÊNCIA NA

GÊNESE

A religião era preponderante na história dos povos antigos, de tal modo que os primeiros livros sagrados continham toda a ciência e as leis civis da época. Sendo imperfeitos seus meios de observação, também incompletas eram as teorias sobre a criação. O desenvolvimento das ciências proporcionou ao homem os dados necessários ao surgimento de uma Gênese positiva e, de certo modo, experimental. Acompanhou-se a formação gradual dos astros através de leis eternas e imutáveis, que demonstravam a grandeza e sabedoria do Criador. A gênese de Moisés, dentre as teorias antigas, é a que mais se aproxima dos dados científicos atuais, levando-se em conta que seu conteúdo original deturpou-se nas traduções de língua para língua, além do fato de os escritos antigos serem feitos de modo alegórico. O receio de comprometer o conteúdo das crenças contidas na Bíblia, de ferir o princípio da imutabilidade da fé, além da falta de conhecimentos científicos, fez com que o homem permanecesse estacionário em progresso, até que a Ciência viesse a demonstrar os erros da Gênese mosaica tomada ao pé da letra. Mesmo respeitando-se a Bíblia como sendo revelação divina, deve ser considerado que nenhuma revelação pode sobrepor-se à autoridade dos fatos, de modo que, diante das flagrantes contradições entre as descobertas científicas e os Textos Sagrados, conclui-se que foram as revelações mal interpretadas. A Ciência segue seu caminho em busca da verdade e as religiões não podem permanecer estacionarias. "Uma religião que não estivesse, por nenhum ponto, em contradição com as leis da Natureza, nada teria que temer do progresso e seria invulnerável". A Gênese se divide em duas partes: 1)- A história da formação do mundo material; 2)- A história da Humanidade e seu princípio corporal e espiritual. A Ciência tem estudado a primeira parte, completando a Gênese de Moisés, deixando à Filosofia o estudo da segunda, a qual chegou a conclusões contraditórias, o que levou muitas pessoas a seguir a religião convencional. Todas as religiões pregam a existência da alma. Quanto à sua origem, passado e futuro, impõem os dogmas que pressupõem a fé cega levando a muitos a dúvida e a incredulidade; A incerteza quanto ao futuro leva o homem à predominância do interesse às coisas da vida material. O mecanismo do Universo e a formação da Terra só foram entendidos quando se conheceu as leis que regem a matéria. Por desconhecer as leis que regem o princípio espiritual, permanece a Metafísica no campo das teorias e especulação. A Mediunidade foi para o mundo espiritual o que o telescópio representou para a Astronomia, permitindo ao Espiritismo experimental o estudo das relações entre o ser material e o ser inteligente, o que permitiu seguir-se a alma em sua marcha ascendente, suas migrações e transformações. Era o instrumento que faltava aos comentadores da Gênese para a compreenderem e lhe retificarem os erros. Sendo solidários os dois mundos, somente o conhecimento de suas leis permitiu a constituição de uma Gênese completa, embora aproximativa.

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RESUMO DO CAPÍTULO 5 - ANTIGOS E MODERNOS

SISTEMAS DO MUNDO

Na antiguidade, desconhecendo as leis da física e sem dispor de qualquer instrumento de observação além de seus sentidos, os homens acreditavam que o Sol girava em torno da Terra, que se constituía em uma superfície circular plana. O céu era uma abóbada cheia de ar apoiada nos bordos da Terra, sendo as estrelas pontos luminosos engastados nela. Entendiam ser as chuvas provenientes das águas superiores que escapavam pelas frestas da abóbada. Ao perceber movimento dos astros explicavam como sendo o resultado da rotação da abóbada arrastando consigo as estrelas nela fixadas. Mais tarde percebeu-se que a abóbada teria que ser uma esfera inteira, oca, contendo no centro a Terra, chata ou convexa, habitada em sua parte superior, sem poder-se explicar qual o seu suporte. As Teogonias pagãs situavam o inferno nos lugares baixos, sob a Terra, estando o Céu nos lugares altos, além das estrelas. Observadores da Caldéia, Índia e Egito notaram que certas estrelas tinham movimento próprio - as estrelas errantes ou planetas. Notou-se a imobilidade da Estrela Polar em cuja volta outras descreviam círculos oblíquos, chegando-se ao conhecimento da obliqüidade do eixo da Terra. Verificação da estrela polar em diferentes latitudes levou à descoberta da esfericidade da Terra, por Tales, de Mileto, em 600 a.C.. Pitágoras em 500 a.C. descobriu o giro da Terra sobre seu eixo e seu movimento junto com os outros planetas em torno do Sol. Hiparco em 160 a.C. Inventou o astrolábio relativo aos eclipses, manchas do sol, revoluções da Lua. Tais conhecimentos, entretanto, ficaram restritos aos filósofos e seus discípulos por mais de 2.000 anos. Em 140 d.C. Ptolomeu compôs um sistema misto em que a Terra seria o centro do Universo, com uma região elementar (terra. Água, ar e fogo) e uma etérea composta de onze céus superpostos, além dos quais estaria o Empíreo (habitação dos bem-aventurados). No início de 1.500 d.C. COPÉRNICO, a partir das idéias de Pitágoras, apresentou o Sol como o centro do sistema planetário, sendo a Lua o satélite da Terra. Com Galileu, inventor do telescópio (1.610), o sistema de Copérnico veio a ser confirmado, reconhecendo-se que as estrelas são sóis - centros de outros sistemas planetários- as constelações são agregados aparentes que desapareceriam se delas pudéssemos aproximar-nos. Tais conhecimentos, divulgados graças à tipografia tornaram-se públicos tornando minoria os sustentadores das velhas idéias. Descerrou-se a venda e os homens puderam melhor fazer idéia da sublimidade da obra Divina. Em seguida vieram: Kepler que descobriu serem elípticas as órbitas dos planetas, sendo o Sol um dos focos. Newton descobriu a lei da gravitação universal, Laplace criou a mecânica celeste. A Astronomia tornou-se uma Ciência com base no cálculo e na geometria, uma das pedras fundamentais da GÊNESE após 3.300 anos de Moisés.

RESUMO DO CAPÍTULO 6 - URANOGRAFIA GERAL

Capítulo extraído das comunicações do espírito de Galileu através do médium Camile Flamarion-

1.862/3.

O espaço e o tempo

"O espaço é infinito". Nossa razão se recusaria a aceitar um limite no espaço além do qual nada existisse. Mais lógico se nos afigura avançar em pensamento eternamente pelo espaço.

Entretanto, mesmo que o fizéssemos por séculos a fio, em qualquer direção, na realidade nem um passo estaríamos avançando.

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"O tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias; a ETERNIDADE

não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela, não há começo nem

fim: tudo lhe é presente." Imaginemos, no início da Gênese da Terra, a primeira hora, a primeira

tarde e manhã; Depois, o último dia do mundo. Neste período ocorreu a sucessão dos eventos;

Com a última hora cessam os movimentos terrestres que mediam o tempo e este acaba com

eles. Cada mundo na vasta amplidão conta seu tempo próprio, incompatível com os outros

mundos. Fora deles, somente a Eternidade enche tranqüilamente com sua luz imóvel a

imensidade sem limite dos céus.

A matéria

A matéria se nos apresenta em diversas formas e propriedades. A Química demonstrou que os

elementos terrestres são compostos de variadas substâncias, combinadas ao infinito, que podem

ser decompostos atingindo os princípios denominados corpos simples como o oxigênio,

hidrogênio, azoto, cloro, carbono, fósforo, enxofre, iodo (não metálicos), e ouro, prata, platina,

mercúrio, chumbo, estanho, zinco, ferro, cobre, sódio, potássio, etc. entre os metálicos.

Sendo ilimitado o número de forças que agem sobre a transformação da matéria, também

variadas e ilimitadas são suas combinações. Entretanto, todos os corpos ponderáveis assim

como os fluídos (imponderáveis) originam-se de uma única substância primitiva: o COSMO (fluído

cósmico universal).

As leis e as forças

O fluído etéreo primitivo enche o espaço, penetra todos os corpos, sendo-lhe inerentes as

múltiplas forças, eternas e universais, que agem sobre a matéria por ele gerada, como a

gravidade, coesão, afinidade, atração, magnetismo, eletricidade ativa. Seus movimentos

vibratórios manifestam-se como som, calor, luz, etc. que variam seus efeitos de conformidade

com o meio em que agem.

Todas estas forças, modificando suas ações com a finalidade de gerenciar os ciclos do mundo e

da Natureza, dependem de uma lei universal - também diversificada em seus efeitos - destinada a

imprimir harmonia e estabilidade à criação. O universo se caracteriza pela unidade-variedade. Em

todos os mundos encontra-se a unidade de harmonia e de criação, junto a uma variedade infinita.

Observa-se a Lei de continuidade em toda a escala da criação. A lei universal é a resultante e a

geratriz de todas as forças que agem sobre o universo. A gravitação e a eletricidade são

exemplos de aplicação da lei primordial, que impera por todo o cosmo.

A criação primária

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DEUS existe desde toda a eternidade. Como não se pode imaginá-lo inativo ou infecundo em

qualquer momento, deduz-se que criou desde toda a eternidade. O começo absoluto de todas as

coisas remonta ao Criador. O Universo nasceu criança. Inicialmente o fluído cósmico fez nascer

aglomerações, turbilhões de matéria nebulosa, que modificadas ao infinito, deram origem, em

todas as regiões do cosmo, aos diversos centros de criações simultâneas ou sucessivas. Destes

centros, alguns em menor número e mais ricos em princípios e forças atuantes, logo iniciaram

sua vida astral própria. Outros, cresceram lentamente ou se subdividiram.

Devemos nos conscientizar de que atrás de nós como à nossa frente está a Eternidade. O

espaço "é teatro de inimaginável sucessão e simultaneidade de criações". As nebulosas podem

ser aglomerados de astros em via de formação, vias-lácteas de mundos habitados ou sedes de

catástrofes e destruição.

A criação universal

A matéria cósmica primitiva, além de estar revestida das leis que asseguram a estabilidade dos

mundos, contém também o fluído vital que forma as gerações espontâneas nos mundos, tão logo

desenvolvam as condições necessárias ao surgimento da vida.

Faz parte da criação o mundo espiritual. Quanto à criação dos espíritos revela-nos Galileu: "O

espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio

e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal

dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização".

Os sóis e os planetas

Condensando-se a matéria cósmica em forma de nebulosa, animada das leis universais que

regem a matéria, adquiriu a forma de esferóide. A gravitação de todas as zonas moleculares em

direção ao centro produziu o movimento circular, modificando a esfera até atingir a forma

lenticular. Surgiram as forças centrípeta e centrífuga. Predominando a força centrífuga, ocorreu

desligamento de parte da massa da nebulosa, formando um anel do qual resultou nova massa

esferóide que passou a executar movimento de translação em torno da massa central, além de

rotação em torno do próprio centro.

Condensando-se paulatinamente a massa geratriz, retomou a forma esférica. Devido ao extremo

calor desenvolvido por seus movimentos, muitas massas tornaram a se destacar, formando

centenas de sóis, que pelo mesmo processo geraram os planetas que gravitam ao seu redor.

Cada planeta recebeu uma vida particular, embora dependente do astro que o gerou.

Os satélites

Da região equatorial (onde maior é a força centrífuga) de algumas das massas planetárias, antes

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destas solidificarem-se por efeito do resfriamento, ocorreu o desprendimento de massas

menores, passando a girar em torno de seu planeta de origem. No caso específico da Lua, as leis

e a força que presidiram seu nascimento lhe imprimiram a forma ovóide, fazendo com que as

partes mais densas se concentrassem no lado voltado para a Terra; o centro de gravidade,

deslocado para a parte inferior, faz com que a Lua apresente sempre a mesma face à Terra.

Quanto a Saturno, desprenderam-se-lhe moléculas homogêneas, com igual densidade, o que

resultou em seu anel.

Os cometas

São astros errantes resultantes da aplicação pela Natureza da Lei de Variedade, destinados a

explorar os impérios solares. Durante seu caminho enriquecem-se, às vezes, de fragmentos

planetários reduzidos ao estado de vapor, absorvendo assim "os princípios vivificantes e

renovadores que derramam sobre os mundos terrestres". Possuem movimentos combinados,

percorrendo órbita elíptica de muitos milhares de km. em seu perigeu, passando a parabólica em

seu apogeu, quando em tempo igual, percorrem apenas alguns metros.

A Via-Láctea

De aparência leitosa, esbranquiçada a olho nu, que atravessa o céu de uma extremidade a outra,

quando observada através do telescópio demonstra tratar-se, em lugar de fraca luminosidade, de

milhões de sóis, mais luminosos do que o sol de nosso sistema planetário. São também mais

importantes, pois servem como habitação de seres em maior grau de inteligência e elevação

moral relativamente ao nosso sistema.

A via-láctea se nos parece mais vasta e rica que as outras, é porque, fazendo parte dela, nos

cerca e se desenvolve sob nossos olhares. Representa, porém, nada mais do que "um ponto

insensível e inapreciável, vista de longe, porquanto ela não é mais do que uma nebulosa estelar,

entre os milhões das que existem no espaço". Neste contexto pode-se compreender a

insignificância de nosso globo terrestre.

As estrelas fixas

Assim como nosso sol avança pelo espaço em companhia de outros sóis da mesma ordem,

arrastando consigo seu vasto sistema de planetas, satélites e cometas, todos gravitando em torno

de um sol central, também as estrelas chamadas "fixas" estão sujeitas às leis universais de

gravitação; movem-se segundo órbitas fechadas cujo centro um astro superior ocupa. A distância

em que se situam da Terra e a perspectiva sob a qual são observadas, causam a ilusão de que

estão fixas no firmamento.

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Todos os sóis que compõem a via-láctea são solidários e obedecem a uma hierarquia,

subordinados uns aos outros, "como rodas gigantescas de uma engrenagem imensa".

Cada sol está em sua maioria cercado de muitos planetas, iluminados e fecundados segundo as

mesmas leis que comandam nosso sistema. Alguns têm dimensões e importância milhares de

vezes superiores ao nosso. Outros formam sistemas binários ou ternários, iluminando os seus

mundos com fachos duplos ou triplos, criando condições de existência acima de nossa

imaginação. Outros ainda são privados de planetas, porém com condições privilegiadas de

habitabilidade. "Na sua imensidade, as leis da Natureza se diversificam e, se a unidade é a

grande expressão do Universo, a variedade infinita é igualmente seu eterno atributo".

Os desertos do espaço

A nebulosa de que fazemos parte é como uma "ilha no arquipélago do infinito". Cada nebulosa

encontra-se afastada das outras, todas envolvidas por um deserto sideral de extensão

inimaginável. Tal é a distância que as separa que receberam o nome de nebulosas irresolúveis,

por parecerem nuvens de poeira cósmica. "Lá se revelam e desdobram novos mundos, cujas

condições variadas e diversas das que são peculiares ao vosso globo lhes dão uma vida que as

vossas concepções não podem imaginar nem vossos estudos comprovar".

Eterna sucessão dos mundos

Uma única lei, primordial e geral foi outorgada ao Universo e lhe assegura a harmonia,

estabilidade e eternidade. Manifesta-se pelas diversas forças que impulsionam a escala da

criação, primeiramente como centro fluídico dos movimentos, como geradora dos mundos e

depois como "núcleo central de atração das esferas que lhe nasceram do seio". As mesmas leis

geradoras dos mundos presidem sua destruição quando neles se extingue a vida. Desagregados,

os elementos constitutivos serão assimilados por outros corpos, renovando ainda outras criações

de diferente natureza, garantindo assim a "eternidade real e efetiva do Universo". Muitas das

estrelas que contemplamos poderão não mais existir atualmente, pois, em virtude da imensa

distância relativa à Terra, poderemos estar recebendo raios de luz emitidos há milhares de anos

após sua destruição.

Não temos condições, mesmo em pensamento, de avaliar a imensidade e eternidade do universo.

Após havermos percorrido os diversos degraus da hierarquia cosmológica, por incontáveis

séculos, "teremos diante de nós a sucessão ilimitada dos mundos e por perspectiva a eternidade

imóvel".

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A vida universal

A universalidade de astros que circulam no cosmos serve de base a uma mesma família humana

e solidária, sujeita à lei da Fraternidade Universal. "Se os astros que se harmonizam em seus

vastos sistemas são habitados por inteligências, não o são por seres desconhecidos uns dos

outros, mas, ao contrário, por seres que trazem marcado na fronte o mesmo destino, que se hão

de encontrar temporariamente, segundo suas funções de vida, e encontrar de novo, segundo

suas mútuas simpatias".

Diversidade dos mundos

Observando a Natureza terrestre podemos constatar a infinita variedade de produções, muito

embora a unicidade em sua harmonia geral. Assim como nenhum rosto humano é igual a outro,

também uma infinita diversidade ocorre pela imensidão de mundos que vogam pelo espaço, de

acordo com as variadas condições e finalidades específicas que a cada um coube no cenário

cósmico.

Não nos iludamos, pensando que os sistemas planetários sejam todos iguais ao nosso.

RESUMO DO CAPÍTULO 7 - ESBOÇO GEOLÓGICO DA

TERRA

Períodos Geológicos A perfuração de poços, minas e pedreiras, facultou a observação dos terrenos estratificados, o que permitiu à Geologia estudar a origem do globo terrestre como também dos seres que o habitam. As camadas, variando de cms. até mais de cem metros, são geralmente homogêneas e horizontais, distinguindo-se claramente umas das outras; formaram-se por depósitos sucessivos até chegar à última camada de terra vegetal, derivada de detritos orgânicos. As camadas inferiores denominam-se rochas, formadas de areia, argila, marna, seixos rolados, ou grés, mármores, crés, calcáreos, carvões de pedra, asfaltos, etc. A forma e consistência das camadas revelam sua formação pela ação do fogo ou da água. As camadas formadas por depósitos aquosos e que se encontram inclinadas ou verticais foram deslocadas, após a solidificação, por convulsões do solo. A ocorrência de despojos fósseis de animais e vegetais dentro das camadas inferiores situam sua existência naquela época. Tais fósseis resultaram petrificados, sem alteração da forma (penetrados por matérias silicosas ou calcáreas); outros foram envolvidos por matérias em estado flácido, mantendo-se intactos, dentro das mais duras pedras; outros finalmente deixaram somente marcas como a forma de um pé com dedos e unhas, permitindo identificar o animal que as deixou. O estudo das camadas e dos fósseis permitiu estabelecer-se os períodos geológicos principais: primário, de transição, secundário, terciário, diluviano, pós-diluviano ou atual.

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Estado primitivo do globo O achatamento dos polos indica que o estado primitivo da Terra era de fluidez ou flacidez por ação do calor. A cada 30 metros de profundidade a temperatura aumenta de um grau, alcançando temperaturas em que toda a matéria conhecida se funde. A espessura da crosta terrestre é comparável à da casca de uma laranja, levando a concluir-se que no princípio a Terra era uma massa fluida incandescente, que esfriou pouco a pouco da superfície para dentro, conservando-se a matéria interior em estado de fusão. Durante o resfriamento a matéria sofreu transformações, combinações várias, resultando a formação de uma atmosfera densa, opaca, formada pela volatilização de metais como enxofre e carbono o que não permitia a passagem dos raios solares. Período primário Com o progressivo resfriamento, houve solidificação da parte exterior da massa em fusão, formando uma crosta uniforme e compacta constituída de granito, pedra extremamente dura formada por feldspato, quartzo e mica. Ocorreram numerosas fendas pelas quais a matéria efervescente extravasava. Continuando o resfriamento, ocorreu liquefação de vapor de metais em suspensão, causando chuvas e lagos de enxofre e betume (ferro, cobre, chumbo e outros metais fundidos), que, infiltrando-se pelas fissuras, deram origem aos veios e filões metálicos. Várias misturas produziram os terrenos primitivos sobre a rocha granítica, porém sem estratificação regular. Em seguida as águas, em ciclos de vaporização e chuvas, acabaram por depositar-se no solo. Permaneciam os elementos confundidos, desestabilizados, impossibilitando o surgimento de qualquer forma de vida vegetal ou animal. Tal período poderia ter levado cerca de um milhão de anos. Período de transição Dada a pequena espessura da crosta granítica, ocorriam intumescências, por onde extravasava a lava interior. A superfície do globo era quase que totalmente coberta por águas pouco profundas. A atmosfera, embora mantendo temperaturas ardentes, foi sendo progressivamente liberta dos gases pesados, sendo o último deles o ácido carbônico, por ação das chuvas copiosas e quentes, permitindo a passagem dos primeiros raios de Sol. Após formarem-se os terrenos de sedimento, surgiram os primeiros seres vivos do reino vegetal e animal. Primeiro surgiram os vegetais criptógamos, acotiledôneos, monocotiledôneos (liquens, cogumelos, musgos, fetos e plantas herbáceas). Quanto a árvores, somente as do gênero palmeira, cuja haste é semelhante às das ervas. Surgiram então os primeiros animais marinhos (polipeiros, raiados, zoófitos) de organização rudimentar, seguindo-se-lhes os crustáceos e peixes de espécies atualmente extintas. Predominando ainda na atmosfera o ácido carbônico, favoreceu a formação de vasta vegetação de plantas gigantescas, que em razão do deslocamento das águas, vieram a ser cobertas por sedimentos terrosos, num ciclo de aniquilamento e renascimento, formando, através dos séculos, camadas de grande espessura. Pela ação dos gases, ácidos, sais, houve a fermentação daqueles vegetais soterrados, convertendo-se em hulha ou carvão de pedra, que é encontrado em quase todas as regiões do globo. Nesse período, em que a temperatura da Terra era uniforme, pois o fogo central produzia calor muito superior ao dos raios solares os quais eram enfraquecidos pela pesada atmosfera, ainda não havia gelo na Terra.

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Período secundário Ao final do período de transição, desapareceram os vegetais e animais, devido a ocorrências de grandes subversões e erupções do solo, ou ainda por modificações na atmosfera. O período secundário é caracterizado por numerosas camadas minerais formadas no seio das águas, marcando diferentes épocas bem diferenciadas. Modificações na atmosfera produziram vegetais menores que no período anterior, surgindo as plantas de caule lenhoso e as árvores. Quanto aos animais, continuavam aquáticos passando a anfíbios, desenvolvendo-se no seio dos mares animais de conchas, peixes com organização mais aperfeiçoada, os cetáceos. Surgiram os répteis marinhos monstruosos como: ictiossauros, plessiossauros, teleossauros (anfíbios), megalossauros, iguanodontes(terrestres), pterodáctilos. O grande número de camadas atesta a longevidade desse período, onde se desenvolveu consideravelmente a vida animal, pelas melhores condições da atmosfera, permitindo que alguns vivessem na terra. Encerrado esse período, desapareceram os grandes répteis aquáticos. Período terciário Iniciou-se esse período com uma destruição quase total dos seres vivos. Durante esta fase, devido à maior espessura da crosta terrestre, a pressão interior ocasionou erupções sucessivas em todos os pontos do globo, formando os picos e cadeias de montanhas, planaltos e planícies, acomodando-se as águas nos locais mais baixos, donde surgiram os continentes e cumes de montanhas formando ilhas. As camadas de calcário encontradas no topo de montanhas comprovam a teoria acima, pois em nenhuma época seria possível ao mar atingir tais altitudes. Por ocasião desses levantamentos e erupções ocorreram também rasgaduras do solo expondo o granito que se encontra na sua periferia em certas regiões. Surgiram também os vulcões que representam válvulas de segurança equilibrando a pressão interior. Tais levantamentos e abaixamentos do solo resultaram em constantes deslocamentos das águas formando camadas irregulares através da superfície do globo, ao contrário do que se observa nos períodos anteriores, onde as camadas são regulares. Desde que se acalmaram as revoluções iniciais, melhorando as condições ambientais, reapareceram os vegetais e animais com organização mais apropriada a uma atmosfera mais purificada. Os vegetais atingiram desenvolvimento estrutural quase ao nível dos atuais. Enquanto que nos dois períodos anteriores as águas cobriam quase que a totalidade do globo, favorecendo a existência de animais aquáticos e anfíbios, no terciário vários continentes se formaram, aparecendo os animais terrestres. No período de transição havia vegetação colossal, no secundário répteis monstruosos, no terciário surgiram os gigantescos mamíferos, tais como, elefantes, rinocerontes, hipopótamos, paleotérios, dinotérios, mastodontes, mamutes, etc. São desse período os pássaros e a maioria dos animais atuais. Algumas dessas espécies sobreviveram aos cataclismos posteriores. Outras, compostas de animais antediluvianos, desapareceram ou foram substituídas por espécies menos pesadas e menos maciças. Período diluviano Caracterizou-se pela ocorrência de dilúvio universal, onde uma imensidade de espécies foram destruídas, as águas invadindo continentes e arrastando terras e rochedos, derrubando florestas seculares, formando depósitos denominados terrenos diluvianos. Deslocaram rochedos de granito

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das montanhas por centenas de Kms., fazendo surgir nas planícies os blocos erráticos, surgindo também os aerólitos. Ocorreu nessa época o súbito congelamento dos polos, atestado pela descoberta de elefantes e mamutes congelados; caso o fenômeno tivesse sido gradual, tais animais teriam tido tempo de se retirarem para regiões mais quentes. Supõe-se que tal cataclismo foi causado por uma brusca mudança de inclinação do eixo da Terra, fazendo com que as águas se projetassem sobre as terras; alguns animais, tentando escapar da fúria das águas, ocuparam cavernas e fendas em lugares altos, onde sucumbiram entredevorando-se ou afogados, ocasionando grandes quantidades de ossadas chamadas brechas ou cavernas ossosas. Período pós-diluviano ou atual - Nascimento do homem. Após restabelecido o equilíbrio - com a superfície mais estável, o ar mais puro, o Sol espargindo um calor mais vivificador - ressurgiu a vida vegetal proporcionando alimentação mais suculenta aos animais, menos ferozes e mais sociáveis, de órgãos mais delicados. "Apareceu então o homem, último ser da criação, aquele cuja inteligência concorreria, dali em diante, para o progresso geral, progredindo ele próprio". Não foram encontrados vestígios humanos nas camadas dos períodos primário e secundário, tanto que naqueles períodos não havia para o homem condições de vitalidade. Também não se encontrou seus vestígios no período antediluviano, pelo que se considera como característico da presença do homem o período pós-diluviano.

RESUMO DO CAPÍTULO 8 - TEORIAS SOBRE A

FORMAÇÃO DA TERRA

Teoria da projeção

Teoria de Buffon: Um cometa teria se chocado com o Sol, causando a projeção de fragmentos

incandescentes no espaço, originando assim os planetas, que mantiveram o movimento no

sentido do choque primitivo, no plano da eclíptica. Com o resfriamento contínuo a Terra acabaria

por congelar-se totalmente dentro de 93.000 anos.

Com a descoberta de que os cometas são formados de matéria gasosa, sendo inviável que seu

choque pudesse causar deslocamento de matéria solar, foi abandonada a teoria de Buffon, tanto

mais que seu cálculo de tempo para congelamento da Terra não levou em consideração a ação

dos raios solares, somente o calor central. "Para que a Terra se tornasse inabitável pelo

resfriamento, fora necessária a extinção do Sol". Por outro lado, aceita-se atualmente que o Sol,

em vez de massa incandescente, seja formado por matéria sólida cercada por uma fotosfera.

Teoria da condensação

É a que prevalece na Ciência: a Terra seria originária da condensação da matéria cósmica,

inicialmente incandescente, formando após uma crosta sólida pelo resfriamento. Tal teoria

coincide com a exposta no Capítulo VI: Uranografia geral.

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Teoria da incrustação

Segundo essa teoria, de Miguel de Figagnères, com poucos adeptos, a Terra teria uma alma que

provocara a junção de quatro astros que com isto concordaram, visto terem livre-arbítrio,

mediante soldadura, mantendo-se, durante a operação, todos os seres que os habitavam em

estado cataléptico. Tal Teoria contradiz os dados da ciência experimental, não havendo quaisquer

vestígios das soldaduras, como também de geologias particulares aos astros componentes da

nova Terra. Além do mais não explica a origem dos planetas incrustados.

Alma da Terra

A ideia de que a Terra teria uma alma inteligente não pode prosperar, pois, não tendo nosso

globo sequer a vitalidade de uma planta, não poderia abrigar um espírito superior.

Por alma da terra pode-se racionalmente designar o "Espírito a quem está confiada a alta direção

dos destinos morais e do progresso de seus habitantes, missão que somente pode ser atribuída a

um ser eminentemente superior em saber e em sabedoria".

RESUMO DO CAPÍTULO 9 - REVOLUÇÕES DO

GLOBO

Revoluções gerais ou parciais

As revoluções gerais ocorreram durante as fases de consolidação da crosta terrestre; são os períodos geológicos que se sucederam de forma lenta e gradual, exceto o período diluviano que transcorreu de forma repentina. Desde que atingida a solidificação da crosta, passaram a ocorrer somente modificações parciais da superfície, pela ação do fogo e das águas. O fogo produziu erupções vulcânicas ou terremotos, com todas as suas consequências, levantamentos ou afundamentos de regiões da crosta, dando origem a ilhas oceânicas e desaparecimento de outras tantas. Quanto às águas, inundaram ou ampliaram costas, formaram lagos, " aterros nas embocaduras dos rios que rechaçando o mar, criaram novos territórios", como o delta do Nilo e delta do Ródano. Idade das montanhas

A idade das montanhas não representa o nº de anos de sua existência mas sim o período geológico em que se formaram. Assim, constatou-se que são do período de transição as montanhas dos: Vosges da Bretanha, Côte-d' Or na França. São do período secundário: Jura, contemporâneo dos répteis gigantes. Terciário: Pirineus, Monte Branco, Alpes ocidentais, Alpes orientais (Tirol). Período Diluviano: algumas montanhas da Ásia. Dilúvio bíblico

É conhecido como "grande dilúvio asiático". Mares interiores como o de Azof e o mar Cáspio, e águas salgadas e sem comunicação com outros mares, além de outros fatores, comprovam a tese de que foi causado por levantamento de parte de montanhas da Ásia, provocando inundações na Mesopotâmia e demais regiões em que vivia o povo hebreu. Foi portanto de efeitos locais e não universais como sugere o livro de Moisés, tanto que a chuva não teria

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condições de provocar a inundação de toda a Terra. O dilúvio asiático conservou-se na memória dos povos, sendo, portanto, posterior ao surgimento do homem na Terra. "É igualmente posterior ao grande dilúvio universal que assinalou o início do atual período geológico". Revoluções periódicas

Além dos movimentos de translação e rotação, a Terra executa um terceiro movimento sobre seu eixo como o de um "pião a morrer", movimento que se completa a cada 25.868 anos, produzindo o fenômeno chamado "precessão dos equinócios". O equinócio é o momento em que o sol, em seu movimento de um hemisfério a outro, se encontra perpendicular ao equador, o que ocorre em 21 de março e a 22 de setembro de cada ano. Como a cada ano o momento do equinócio avança alguns minutos, resulta que o equinócio da primavera (mês de março), ocorrerá futuramente em fev., depois, jan., dez., fazendo com que a temperatura do mês se altere, voltando gradativamente ao estágio original ao completar o período de 25.868 anos. A esse avanço do momento dos equinócios denominou-se "precessão dos equinócios". As consequências desse movimento são: 1) - O aquecimento com fusão dos gelos polares até à metade do período e posterior resfriamento gradativo até novamente congelarem-se, permitindo aos polos gozarem de fertilidade no período após o degelo. 2) - O deslocamento do mar, inundando lenta e gradativamente algumas terras, fazendo com que as populações de geração para geração se desloquem para regiões mais altas, voltando as águas posteriormente ao leito anterior. Enquanto estão imersas, as terras recuperam os princípios vitais esgotados, através dos depósitos de matérias orgânicas, ressurgindo novamente férteis após o afastamento das águas. Cataclismos futuros

Alcançada já a solidificação da crosta e extintos a maioria dos vulcões, não é de se esperar a ocorrência das grandes comoções telúricas. Erupções vulcânicas ainda ocorrem, causando perturbações locais, como inundações das áreas próximas. A natureza fluídica dos cometas afasta qualquer receio de choque contra a Terra, pois, se ocorresse, a atravessaria sem causar dano. Por outro lado a "regularidade e a invariabilidade das leis que presidem aos movimentos dos corpos celestes" afasta qualquer hipótese de choque entre planetas. A Terra terá logicamente um fim. Entretanto, atualmente acabou de sair da infância, entrando em um período de progresso pacífico com fenômenos regulares e com o concurso do homem. "Está, porém, ainda, em pleno trabalho de gestação do progresso moral. Aí residirá a causa das suas maiores comoções. Até que a Humanidade se haja avantajado suficientemente em perfeição, pela inteligência e pela observância das leis divinas, as maiores perturbações ainda serão causadas pelos homens, mais do que pela Natureza, isto é, serão antes morais e sociais do que físicas". Aumento ou diminuição do volume da Terra

O espírito de Galileu manifestou em 1.868, opinião a respeito, esclarecendo que "os mundos se esgotam pelo envelhecimento e tendem a dissolver-se para servir de elementos de formação a outros universos". No período de formação, ocorre a condensação da matéria com redução do volume, porém conservando a mesma massa; no segundo período há a contração e solidificação da crosta, desenvolvimento da vida até a forma mais aperfeiçoada. À medida que os habitantes progridem espiritualmente, o mundo passa a um decrescimento material, sofrendo perdas e gradual desagregação de moléculas até chegar à completa dissolução. Ao diminuir a massa do globo, passa a ser dominado gravitalmente por planetas mais poderosos, alterando seus movimentos e consequentemente as condições de vida. É a terceira fase: decrepitude, após passar pela infância e virilidade. "Indestrutível, só o Espírito, que não é matéria".

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RESUMO DO CAPÍTULO 10 - GÊNESE ORGÂNICA Formação primária dos seres vivos O estudo das camadas geológicas revela que cada espécie animal e vegetal surgiu simultaneamente em vários pontos do globo, bastante afastados uns dos outros, o que atesta a previdência divina, garantindo condições de sobrevivência apesar das vicissitudes a que estavam sujeitas. A grande Lei de unidade que rege a formação dos corpos inorgânicos preside também a criação material dos seres vivos. A combinação de substâncias elementares como o oxigênio, hidrogênio, carbono, azoto, cloro, iodo, flúor, enxofre, fósforo e todos os metais, formam as substâncias compostas tais como os óxidos, ácidos, álcalis, sais que por sua vez combinados resultam em inúmeras variedades, estudadas em laboratórios pela Química e operadas "em larga escala no grande laboratório da Natureza." A composição dos corpos ocorre quando existem condições favoráveis como grau de calor, umidade, movimento ou repouso, corrente elétrica, etc, e em função da afinidade molecular de seus princípios elementares que se combinam guardando proporções definidas. Na origem da Terra os princípios elementares apresentavam-se volatilizados no ar. Com o gradativo resfriamento e sob condições favoráveis, precipitaram-se formando combinações donde resultaram as variedades de carbonatos, sulfatos, etc. A cristalização é o notável fenômeno resultante da passagem do estado líquido ou gasoso para o sólido assumindo formas regulares de sólidos geométricos tais como, de prisma, cubo, pirâmide. A forma geométrica do corpo corresponde à das moléculas componentes e somente ocorre o fenômeno diante de condições específicas de grau de temperatura e repouso absoluto. No reino animal e vegetal a composição básica é a mesma dos corpos inorgânicos, principalmente o carbono, oxigênio, hidrogênio, azoto, de cujas combinações e variadas proporções resultam as inúmeras substâncias orgânicas, desde que encontrem circunstâncias propícias no meio em que se desenvolvem. Alterando-se as condições do meio, diminui ou cessa o desenvolvimento da vida orgânica até que novamente haja as condições ideais para o ressurgimento da vida. Cada espécie de cristal assim como cada espécie orgânica se reproduz segundo forma e cores semelhantes, por estarem sujeitas à mesma Lei. Princípio vital Uma molécula composta por ex. de carbono, hidrogênio, oxigênio e azoto, poderá resultar em um mineral ou, se estiver modificada pelo princípio vital, resultará em uma molécula orgânica. Ao se formarem, portanto, os seres orgânicos assimilam o princípio vital que dá às moléculas propriedades especiais. Sua atividade é alimentada pela ação do funcionamento dos órgãos durante toda a vida até sua extinção. Pode-se comparar o princípio vital à ação da eletricidade, de modo que os corpos orgânicos seriam como pilhas elétricas que "funcionam enquanto os elementos dessas pilhas se acham em condições de produzir eletricidade: é a vida; que deixam de funcionar, quando tais condições desaparecem: é a morte." Geração espontânea Observa-se que no mundo atual o princípio da geração espontânea aplica-se aos seres de organismo extremamente simples, rudimentar, do reino vegetal e animal, como o musgo, o líquen, o zoófito, os vermes intestinais. Muito embora os seres de organização complexa não se reproduzam espontaneamente, não se sabe como começaram, pois ninguém conhece o segredo de todas as transformações, entendendo-se assim a teoria da geração espontânea permanente apenas como hipótese.

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Escala dos seres orgânicos No início da escala situam-se os zoófitos (animais-plantas), que têm a aparência exterior da planta, mantém-se preso ao solo, "mas como o animal, a vida nele se acha mais acentuada: tira do meio ambiente a sua alimentação". As plantas e os animais têm em comum: nascem, vivem, crescem, nutrem-se, respiram, reproduzem-se e morrem. Necessitam de luz, calor, água, ar puro. Enquanto as plantas se mantêm presas ao solo, os animais, um degrau acima, se movimentam, como os pólipos; após o início do desenvolvimento dos órgãos, atividade vital e instintos estão os helmintos, moluscos (lesma, polvo, caracol, ostra), crustáceos (caranguejo, lagosta), insetos (em alguns dos quais se desenvolve o instinto engenhoso, como nas formigas, abelhas, aranhas). Segue-se a ordem dos vertebrados (peixes, répteis, pássaros) e os mamíferos (organização mais complexa). Se percorrermos a escala degrau por degrau, sem solução de continuidade, chegaremos da planta aos animais vertebrados, podendo compreender a possibilidade de que os animais de organização complexa sejam o desenvolvimento gradual da espécie imediatamente inferior, até chegar ao primitivo ser elementar. Assim o princípio da geração espontânea aplicar-se-ia somente aos seres de organização elementar, sendo as espécies superiores resultantes das transformações sucessivas daqueles. Após adquirirem a faculdade da reprodução, os cruzamentos originaram novas variedades. A partir daí não mais havia necessidade dos germens primitivos, pelo que desapareceram. Esta teoria, que tende a predominar na Ciência, evidencia a causa de não haver geração espontânea entre animais de organização complexa. O homem corpóreo Anatomicamente o homem pertence á classe dos mamíferos, ordem dos bímanos, com pequenas modificações de forma exterior, porém com a mesma composição de todos os animais, com órgãos e funções, modos de nutrição, respiração, secreção e reprodução idênticos. Nasce, vive e morre decompondo-se seu corpo como toda a espécie animal, quando os elementos irão compor novos minerais, vegetais e animais. Os quadrúmanos (animais com quatro mãos, como o orangotango, chipanzé, jocó) também caminham eretos, usam cajados, constroem choças e se alimentam usando as mãos. Isso leva a observação de que "acompanhando-se passo a passo a série dos seres, dir-se-ia que cada espécie é um aperfeiçoamento, uma transformação da espécie imediatamente inferior".

RESUMO DO CAPÍTULO 11 - GÊNESE ESPIRITUAL

Princípio espiritual: Decorre do princípio: "Todo efeito tendo uma causa, todo efeito inteligente há de ter uma causa inteligente". As ações humanas denotam um princípio inteligente, que é corolário da existência de Deus, pois não é concebível a Soberana Inteligência a reinar eternamente sobre a matéria bruta. Sendo Deus soberanamente justo e bom, criou seres inteligentes não para lançá-los ao sofrimento e em seguida ao nada, mas para serem eternos, sobrevivendo à matéria e mantendo sua individualidade. O princípio espiritual é independente do princípio vital, pois há seres que vivem e não pensam, como as plantas; "a vida orgânica reside num princípio inerente à matéria, independente da vida espiritual, que é inerente ao espírito". Independe também do fluído cósmico universal, tendo existência própria e sendo, juntamente com o princípio material, os dois princípios constitutivos do universo. O elemento espiritual individualizado constitui o espírito, enquanto que o elemento material forma os "diferentes corpos da natureza, orgânicos e inorgânicos". Todos os espíritos "são criados simples e ignorantes, com igual aptidão para progredir" por esforço próprio, através do trabalho imposto a todos até atingir a perfeição. Todos são igualmente objeto da solicitude

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divina, não havendo quaisquer favorecimentos. Os mundos materiais fornecem aos espíritos "elementos de atividade para o desenvolvimento de suas inteligências". Os seres espirituais progridem normalmente até atingir a perfeição relativa; como Deus criou desde toda a eternidade, quando do surgimento da Terra, já havia seres espirituais que tinham atingido "o ponto culminante da escala", assim como outros "surgiam para a vida". União do princípio espiritual à matéria O corpo é "simultaneamente o envoltório e o instrumento do espírito", sendo apropriado ao nível de trabalho que cabe ao espírito executar em cada fase do desenvolvimento de suas faculdades. Na realidade em cada encarnação o próprio espírito molda o corpo ajustando-o à "medida que experimenta a necessidade de manifestar novas faculdades", que são rudimentares na fase de "infância intelectual". Sendo material, o corpo depois de algum tempo se desorganiza e decompõe; extingue-se o princípio vital e o corpo morre, quando então o espírito o abandona como a uma roupa que se tornou imprestável. O que distingue, portanto, o homem colocando-o acima dos animais, "é o seu ser espiritual, seu Espírito". Hipótese sobre a origem do corpo humano Espíritos humanos em estado primitivo teriam encarnado em corpos de macacos, modificando-os gradativamente pela procriação, dando origem assim a uma espécie nova que foi se aperfeiçoando até chegar à forma atual do corpo humano, enquanto que os macacos (com o princípio espiritual de macaco) continuaram a procriar como macacos. A Natureza não dá saltos e é provável que os primitivos humanos pouco diferissem dos macacos, havendo até hoje selvagens semelhantes a esses, só lhes faltando os pêlos. Encarnação dos Espíritos Não podendo o espírito, por sua natureza etérea, agir diretamente sobre a matéria, faz-se necessário um intermediário, seu envoltório fluídico, semimaterial, extraído do fluído cósmico universal modificado; é o perispírito. Torna-se assim o espírito apto a atuar sobre a matéria tangível e todos os fluídos imponderáveis. O fluído perispirítico serve de veículo ao pensamento, transmitindo ordem de movimento ao corpo, como também levando ao "Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam". No momento da concepção do corpo humano, expande-se o perispírito em forma de um laço fluídico, ligando-o molécula a molécula ao corpo em formação, em virtude da influência do princípio vito-material do gérmen. "Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior". Por ocasião da desorganização do corpo deixa de atuar o princípio vital, causando a morte, passando então o perispírito a se desprender molécula a molécula, voltando à liberdade. "Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito". O desencarne pode ser rápido, fácil suave e insensível ou lento, laborioso, horrivelmente penoso podendo durar meses, dependendo do estado moral do Espírito. A partir do momento em que o Espírito é unido ao gérmen pelo laço fluídico, entra em estado de perturbação progressiva até que ao nascer acha-se totalmente inconsciente. Com a respiração da criança, inicia-se a recuperação das faculdades, qualidades e aptidões anteriormente adquiridas, muito embora perca o Espírito reencarnado a lembrança de seu passado, o que lhe permite recomeçar a tarefa na escalada do progresso em melhores condições, livre de humilhações decorrentes de erros passados. Seu passado se lhe desdobra aos olhos quando vem a desencarnar, quando então avalia o emprego de seu tempo. Durante o sono também se lembra de seu passado, pois está, por momentos, liberto dos liames carnais. Segundo a opinião de alguns filósofos espiritualistas o princípio espiritual se individualiza através dos diversos graus da animalidade. Desenvolvidas as primeiras faculdades, recebe as faculdades especiais que caracterizam a alma humana. Esse sistema está de acordo com a grande Lei de

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Unidade, explica a finalidade da existência dos animais, porém as questões que suscita fogem à finalidade deste estudo, pelo que considera-se o Espírito a partir do momento em que entra na humanidade, dotado de senso moral e livre-arbítrio, sendo portanto responsável pelos seus atos. As necessidades e vicissitudes da vida carnal força o Espírito a exercitar suas faculdades, desenvolvendo-as, resultando em seu progresso, enquanto que sua ação sobre a matéria auxilia no progresso do globo, colaborando assim com a obra do Criador. O Espírito passa maior tempo no mundo espiritual, sendo insignificante o período em que se encontra reencarnado. O progresso na vida espiritual vem da aplicação que faz dos conhecimentos e experiências adquiridos quando encarnado. A encarnação é necessidade inerente à inferioridade do Espírito. Torna-se punição somente quando estaciona na escala do progresso, por negligência ou má vontade, obrigado a recomeçar a tarefa de depuração. Por outro lado, pode o Espírito abreviar a extensão do período das encarnações, espiritualizando-se ampliando assim suas faculdades e percepções. "O progresso material de um planeta acompanha o progresso moral de seus habitantes", de modo que há mundos mais e menos avançados que a Terra. Os espíritos passam pelas classes de mundos, adquirindo sempre mais experiências e conhecimentos até não mais necessitarem encarnar, continuando a progredir por outros meios, até atingir o ponto culminante do progresso, quando passam a ser Mensageiros, Ministros diretos do Criador, no governo dos mundos. Dentro da Hierarquia espiritual todos os espíritos têm sua atribuição no mecanismo do Universo, desde o mais atrasado até o mais adiantado, de modo que no Universo existe sempre atividade e nunca ociosidade. Muito embora fossem bastante imperfeitos (como seus corpos) os primeiros espíritos que encarnaram na Terra, seus caracteres e aptidões eram bastante diversificados; agrupavam-se segundo suas semelhanças e simpatia, povoando-se o planeta com "espíritos mais ou menos aptos ou rebeldes ao progresso"; espíritos afins reencarnaram em corpos de mesmo tipo, formando diferentes raças, perpetuando-lhes o caráter distintivo físico e moral. Não sendo uniforme o progresso, naturalmente as raças mais inteligentes se adiantaram às demais. Assim o espírito, à medida que atinge maior grau de progresso, reencarna em corpo de uma raça física apropriada, que lhe permita a manifestação de suas faculdades intelectuais e morais mais desenvolvidas. Reencarnações A reencarnação, consequência da Lei do Progresso, explica racionalmente o por quê das diferenças sociais entre o mundo atual e o dos tempos dos bárbaros, pois se as almas vivessem somente uma vida, então Deus teria criado as atuais privilegiadas em relação às outras. Assim, as almas que viveram em tempos antigos são as mesmas de agora, acumulando o progresso adquirido nas encarnações sucessivas. Várias etapas de aperfeiçoamento ocorrem num mesmo mundo, quando o espírito tem oportunidade de avaliar seu estágio, observando o exemplo de seus irmãos mais adiantados, possibilitando-lhe ainda a reparação de seus erros para com os outros; isto seria materialmente dificultado se cada etapa tivesse que ser cumprida em um mundo diferente. Somente após adquirirem todo o conhecimento possível num mesmo mundo, é que o espírito migra para outro, mais adiantado. Se a Terra servisse a uma única etapa no progresso do espírito, nenhuma utilidade teria p. ex., para uma criança que desencarna em tenra idade, após poucas horas ou meses de vida. Emigrações e imigrações dos Espíritos Podem ser consideradas relativamente:

1) - à população espiritual composta de espíritos desencarnados e que se encontram em estado de erraticidade na Terra (emigrações: passagem do mundo corpóreo para o espiritual; imigrações: passagem do mundo espiritual para o corporal);

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2)- à transfusão coletiva de espíritos de um mundo para o outro. Os flagelos e os cataclismos representam partidas em massa de espíritos que cedem lugar a outros mais depurados, que reencarnam a fim de promover maior impulso no progresso das populações. Assim após "grandes calamidades que dizimam as populações" segue-se "uma era de progresso de ordem física, intelectual ou moral". Entre os mundos ocorrem emigrações e imigrações individuais ou, em circunstâncias especiais, em massas, constituindo novas raças de espíritos que, reencarnando assim que haja a espécie corporal apropriada, "constituem novas raças de homens". Raça adâmica Após encontrarem-se as raças primitivas espalhadas pelo planeta desde tempos imemoriais, surgiu uma raça mais inteligente, apta às artes e à ciência, que impeliu todas as outras ao progresso; seu aparecimento ocorreu há apenas alguns milhares de anos, ao contrário das primitivas, sendo comprovado pelos fatos geológicos e observações antropológicas. Foi denominada raça adâmica. A criação do gênero humano a partir de um único indivíduo não pode prevalecer, senão vejamos: 1)- Fisiologicamente, existem diferenças entre as raças inexplicáveis simplesmente pela ação do clima, p. ex., a cor negra "provém de um tecido especial subcutâneo, peculiar à espécie". Assim, têm origem própria as raças negras, mongólicas e caucásicas, tendo nascido em diversas partes do globo, resultando de seu cruzamento as raças mistas secundárias. 2)- Segundo a Gênese, Adão teria sido um homem inteligente, tendo seus descendentes logo construído cidades, lavrado a terra e trabalhado metais. Não é concebível que posteriormente tenham gerado povos atrasados, de rudimentar inteligência, existentes até nossos dias. 3)- Documentos antigos provam que o Egito, a Índia e outros países como a América "já eram povoados e floresciam, pelo menos, três mil anos antes da era cristã, mil anos, portanto, depois da criação" de Adão. Seria impossível, em tão pouco tempo, à posteridade um só homem povoar a maior parte da Terra. 4)- Admitindo-se a destruição de todo o gênero humano com o dilúvio, menos Noé e sua família, então o repovoamento da Terra teria ocorrido à partir dele; teriam então seus descendentes hebreus povoado em seis séculos todo o Egito e outros países, o que não seria possível. Doutrina dos anjos decaídos e da perda do paraíso Os mundos progridem na proporção do progresso moral de seus habitantes. Por ocasião da ascensão hierárquica de um mundo, sofre mutação sua população encarnada e desencarnada, quando então os espíritos que perseveram no mal "apesar de sua inteligência e do seu saber" são exilados para mundos menos adiantados, alguns ainda "na infância da barbárie". Lá, passarão a aplicar sua "inteligência e a intuição dos conhecimentos que adquiriram ao progresso daqueles entre os quais passam a viver". A intuitiva lembrança que guardam de seu mundo de origem é para eles como um paraíso que perderam por sua própria culpa. Para os habitantes de seu novo "hábitat" são tidos como anjos decaídos. A Terra recebeu espíritos exilados de um mundo mais adiantado, embora não despojados de seu orgulho e maus instintos - a raça adâmica - cuja missão foi a de fazer progredir os homens, que se encontravam em estado primitivo de desenvolvimento. Cristo foi o Salvador prometido por Deus, que lhes ensinou a Lei do Amor e da Caridade, mostrando o caminho para merecerem a "felicidade dos eleitos". A teoria do "pecado original" implica numa relação entre as almas nascidas no tempo de Adão e no tempo de Cristo, ou seja, espíritos reencarnados - quando então se justifica o envio de um Salvador aos espíritos exilados ao tempo de Adão, ainda manchados de vícios. O pecado original é, assim, "peculiar a cada indivíduo e não resultado da responsabilidade da falta de outrem a quem jamais conheceu". A missão do Cristo só é concebível admitindo-se a reencarnação das

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mesmas almas, esclarecendo-lhes quanto às vidas passadas e quanto ao futuro que as aguarda após despojarem-se de suas imperfeições. Os espíritos podem estacionar em seu desenvolvimento, mas nunca regredir. Assim, os espíritos exilados para um mundo inferior, conservam seu desenvolvimento moral e intelectual, apesar do meio onde se encontram.

RESUMO DO CAPÍTULO 12 - GÊNESE MOSAICA

Os seis dias Comparando a teoria da constituição do Universo baseada em dados da Ciência e do Espiritismo com o texto da Gênese de Moisés, pode-se observar que: 1)- Existe em alguns pontos notável concordância com a doutrina científica, sendo entretanto arbitrário o número de seis períodos geológicos, pois, conhece-se pelo menos 25 formações caracterizadas pela Geologia e referentes às grandes fases gerais, além do fato de que muitos geólogos consideram o período diluviano um fato transitório e passageiro, encontrando-se as espécies vegetais antes como depois do dilúvio; 2)- Quanto à criação do Sol e os astros em geral, objeto da Astronomia, ter-se-ia que considerar um primeiro período, o período astronômico; 3)- Considerando-se o período astronômico como sendo o primeiro dia da criação, período primário = 2o dia, período de transição = 3o dia, período secundário = 4o dia, período terciário = 5o dia, período quaternário ou pós-diluviano = 6o dia, verifica-se que: a)- não há concordância rigorosa entre a Gênese mosaica e a Ciência;

b)- notável concordância na sucessão dos seres orgânicos, quase a mesma, com o aparecimento do homem, por último;

c)- concordância no surgimento dos animais terrestres no período terciário quando "as águas que estão debaixo do céu se reuniram num só lugar e apareceu o elemento árido", ou seja, quando por elevações da crosta surgiram os continentes e os mares;

d)- Moisés queria significar dias de 24 horas quando descreveu a criação. Tal crença vigorou até que a Geologia lhe demonstrou a impossibilidade;

e)- Há um anacronismo na criação das plantas e do Sol, pois, é evidente que as plantas não teriam podido viver sem o calor solar;

f)- Houve acerto na afirmação de que o "a luz precedeu o Sol", pois, o Sol é uma concentração em um ponto do "fluído que, em dadas circunstâncias, adquire as propriedades luminosas". Esse fluído é causa e precede o Sol que é efeito. O Sol é causa "relativamente à luz que dele se irradia; é efeito com relação à que recebeu". O erro estava na idéia de que a Terra houvera sido criada antes do Sol.

g)- Moisés esposava a antiga crença de que a abóbada celeste era sólida e fora criada para separar as "águas de cima das que estavam sobre a Terra". A Física e a Astronomia provaram ser insustentável tal doutrina.

h)- A criação do homem através "do limo da terra" tem seu acerto no sentido de que o corpo do homem deriva dos elementos inorgânicos, enquanto que a formação da mulher através de uma costela deve ser entendida como alegoria, mostrando a identidade de natureza perante o homem e perante Deus; A Gênese bíblica não deve ser simplesmente rejeitada e sim estudada como sendo "a história da

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infância dos povos". Em suas alegorias há muitos ensinamentos velados cujo sentido oculto deve ser pesquisado; por outro lado devem ser submetidos à razão e à Ciência, apontando-se lhes os erros. Perda do paraíso Assim como a fábula de Saturno, "que devorava pedras, tomando-as por seus filhos", significa: Saturno a personificação do tempo; seus filhos: todas as coisas mesmo as mais duras, que acabam destruídas pelo tempo, com exceção de Júpiter, "símbolo da inteligência superior, do princípio espiritual, que é indestrutível", também na Gênese grandes verdades morais se encontram por traz de suas alegorias. Desta forma deve ser entendido que: 1)-Adão personifica a Humanidade; sua falta: a fraqueza do homem (dominado pelos instintos materiais); a árvore da vida: emblema da vida espiritual; árvore da Ciência: emblema da consciência (do bem e do mal); o fruto da árvore: o objeto dos desejos materiais do homem (comer o fruto é sucumbir à tentação); jardim das delícias: a sedução (no seio dos prazeres materiais); a morte: aviso das consequências (físicas e morais); a serpente: a perfídia dos maus conselhos, significando também encantador, adivinho (o Espírito de adivinhação teria seduzido a mulher para conhecer, compreender as coisas ocultas); o passeio de Deus pelo jardim: a Divindade a vigiar o objeto de sua criação; a falta de Adão: infração da lei de Deus; a vergonha de Adão e Eva ante o olhar divino: confusão do culpado na presença do ofendido; o suor no rosto para conseguir sua alimentação: o trabalho neste mundo.(Admitindo-se que a raça adâmica tenha sido exilada, por punição, de um planeta mais adiantado onde o "trabalho do espírito substituía o do corpo", pode-se compreender que a vida em nosso planeta, onde para a mulher o parto ocorre com dor e o trabalho é corporal, lhes representava a perda do paraíso); o anjo com a espada flamejante: impossibilidade de penetrar nos mundos superiores (até merecimento pela depuração do espírito). Com relação ao episódio do assassinato de Abel por Caim, em que este foi estabelecer-se a leste do Éden e passou a construir uma cidade, teve mulher e filho, conclui-se de sua impossibilidade se realmente só existissem somente seus pais e ele próprio. Assim "Adão não é nem o primeiro, nem o único pai do gênero humano". Através dos conhecimentos trazidos pelo Espiritismo quanto às relações do princípio material e espiritual, natureza da alma criada simples e ignorante, sua união com o corpo, sua marcha na escala do progresso através de reencarnações e através dos mundos, libertação gradual da influência da matéria pelo uso do livre-arbítrio, da causa de seus bons e maus pendores, nascimento e morte, estado na erraticidade e da felicidade futura após perseverança no bem, pode-se entender todas as partes da Gênese espiritual. Sabe então o homem de onde vem, por que está na Terra, para onde vai. Seu cativeiro neste mundo somente dele depende.

Compreende então a majestade, bondade e justiça do Criador.

RESUMO DO CAPÍTULO 12 - CARACTERES DOS

MILAGRES

Os milagres no sentido teológico Etimologicamente milagre significa: admirável, coisa extraordinária, surpreendente. "Um ato do poder divino contrário às leis da Natureza, conhecidas". Para a religião, o milagre tem origem sobrenatural, é inexplicável, insólito, isolado, excepcional. Se uma pessoa estiver aparentemente morta, com vitalidade latente e a Ciência ou uma ação magnética conseguir reanimá-la, para o leigo ocorre um milagre, mas para pessoas esclarecidas dá-se um fenômeno natural.

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Muitos fenômenos foram levados à categoria de milagres até que a Ciência revelou novas leis, restringindo assim "o círculo do maravilhoso", que não mais podendo se firmar no domínio da materialidade, refugiou-se no da espiritualidade. O Espiritismo ao demonstrar que "o elemento espiritual é uma das forças vivas da Natureza" atuando sobre o elemento material, estando também sujeito a leis, faz com que o maravilhoso deixe de ter razão de ser. Pode-se então dizer "que passou o tempo dos milagres". O Espiritismo não faz milagres Sendo o Espírito a alma sobrevivente à morte do corpo, sua existência é perfeitamente natural, durante ou após a encarnação. Como o princípio espiritual e material "reagem incessantemente um sobre o outro", formando um conjunto harmonioso, representam duas partes de um todo, "tão natural uma quanto a outra". Tanto encarnado como desencarnado o Espírito atua sobre a matéria através do perispírito. Quando desencarnado utiliza-se de um intermediário para sua manifestação: o médium, assim como um intérprete para quem não conhecesse determinada língua. Tal manifestação está sujeita a leis, tanto quanto os fenômenos elétricos, luminosos, acústicos, etc. que, enquanto não explicados pela Ciência deram origem a inúmeras crenças supersticiosas. Um efeito físico como o de uma mesa que se ergue e é mantida no espaço sem ponto de apoio é explicável pela ação de um fluído magnético submetido à ação de um Espírito, tanto quanto o gás hidrogênio contrabalança o peso de um balão que se eleva no ar. Como os fenômenos espíritas sempre existiram através dos tempos, entraram no domínio do sobrenatural, gerando crenças supersticiosas; explicados racionalmente, passaram ao domínio do natural. Atua o Espiritismo no campo da espiritualidade, demonstra o que é possível como também o que não é, deixando entretanto margem aos conhecimentos reservados ao futuro. Analisando as manifestações da alma encarnada ou desencarnada (espírito), em que revela sua existência, sobrevivência e individualidade, chega o Espiritismo ao conhecimento da natureza e atributos da alma, bem como das "leis que regem o princípio espiritual", de modo científico, evidenciando no entanto aqueles acontecimentos tidos como fenômenos sobrenaturais, resultantes da imaginação de fanáticos ignorantes ou ainda produzidos pelo charlatanismo. A característica dos fenômenos espíritas é de serem a maioria das vezes espontâneos e independentes das ideias das pessoas envolvidas. Alguns podem, em dadas circunstâncias, ser provocados por médiuns conscientes ou inconscientes, revestindo-se portanto de capital importância os fenômenos espontâneos, como p. ex., o sonambulismo natural e involuntário, "visto não se poder suspeitar da boa-fé dos que os obtêm". Faz Deus milagres? "Não sendo necessários os milagres para a glorificação de Deus, nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres, porque, sendo, como são, perfeitas as suas leis, não lhe é necessário derrogá-las". Se realmente existisse o Espírito do mal (Satanás) com o poder de "sustar o curso das leis naturais" para seduzir os homens, então Deus não seria Onipotente e lhe faltaria a soberana bondade. Todos os fatos tidos por miraculosos são efeitos naturais causados por espíritos desencarnados ou encarnados, no uso de sua inteligência e conhecimentos adquiridos, para o bem ou para o mal, cfe. sejam bons ou perversos. Assim o demonstra o Espiritismo, explicando os fenômenos no campo do magnetismo, sonambulismo, êxtases, visões e aparições, percepções a distância, curas instantâneas, levitações, comunicações com o mundo invisível. O sobrenatural e as religiões As religiões não podem ter como fundamento o sobrenatural, sob pena de verem minadas totalmente suas bases à medida em que fatos tidos como miraculosos recebem explicação racional, levando-os do maravilhoso para o domínio do natural. Deve o maravilhoso ser substituído pelo princípio espiritual, "sem o qual não há religião possível". As bases sobre as

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quais se assenta o Espiritismo são as imutáveis leis de Deus, às quais obedecem os princípios espiritual e material.

Em lugar de fazer-se acreditar em "pedras que suam sangue", "estátuas que piscam os olhos e derramam lágrimas" o poder de Deus deve ser mostrado na infinita sabedoria que a tudo preside, na organização dos fenômenos da Natureza, na bondade e solicitude dispensada igualmente a

todos, na sua previdência, no bem constatado após um mal aparente e temporário. O mal é obra do homem e não de Deus. Em vez de levar susto com as penas eternas, devem as religiões evidenciar a bondade divina, transmitindo a certeza de que se pode redimir e reparar o mal

praticado. As descobertas da Ciência representam a revelação das leis divinas. Só assim serão os homens "verdadeiramente religiosos, racionalmente religiosos".

RESUMO DO CAPÍTULO 14 - OS FLUÍDOS

I - Natureza e propriedades dos fluídos: elementos fluídicos

Os fenômenos materiais tidos vulgarmente como milagrosos, foram explicados pela Ciência, tendo em vista as leis que regem a matéria. Quanto aos fenômenos "em que

prepondera o elemento espiritual" não explicáveis unicamente pelas leis da Natureza, encontram explicação nas "leis que regem a vida espiritual".

O fluído cósmico universal assume dois estados distintos: o de imponderabilidade - seu estado normal (eterização), passando ao de ponderabilidade que preside aos

fenômenos materiais, de alçada da Ciência; no estado de eterização situam-se os fenômenos espirituais ou psíquicos, ligados à existência dos Espíritos, estudados pelo

Espiritismo. Neste estado, os fluídos sofrem maior número de modificações, adquirindo propriedades especiais, sendo para os Espíritos o que para nós são as

substâncias materiais: elaboram, combinam, produzindo os efeitos desejados. Tais modificações são feitas por Espíritos mais esclarecidos, enquanto que os ignorantes,

mesmo participando do fenômeno, são incapazes de entendê-las.

Nossos sentidos e instrumentos de análise não podem perceber os elementos

fluídicos; alguns fluídos, entretanto, pela sua ligação com a vida corporal, podem ser avaliados pelos seus efeitos: são fluídos mais densos que compõem a atmosfera

espiritual da Terra. Possuem vários graus de pureza, sendo desse meio que os espíritos deste planeta, encarnados e desencarnados, tiram os elementos

necessários à manutenção de sua existência. Em outros mundos ocorre o mesmo, com as devidas variações de constituição e condições de vitalidade de cada um. Os

fluídos espirituais na verdade são "matéria mais ou menos quintessenciada"; somente a alma ou princípio inteligente é espiritual. Assim os fluídos espirituais são

"a matéria do mundo espiritual". Quanto à solidificação da matéria, na realidade "não é mais do que um estado transitório do fluído universal, que pode volver ao seu

estado primitivo, quando deixam de existir as condições de coesão".

Formação e propriedades do perispírito

Originado da condensação do fluído cósmico, o perispírito - corpo do espírito envolve

a alma, conservando sua "imponderabilidade e suas qualidades etéreas". Assim, tanto o perispírito como o corpo físico originam-se do mesmo elemento primitivo,

formados dos fluídos próprios ao mundo em que vivem; "são matéria, ainda que em

dois estados diferentes". Ao emigrar para outro planeta o espírito deixa seu

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envoltório fluídico, para formar "outro apropriado ao mundo onde vai habitar".Muitos Espíritos inferiores possuem períspiritos tão grosseiros, de tal modo que, mesmo

após o desencarne, julgam-se vivos, continuando suas ocupações terrenas. Outros, menos materializados, não conseguem alçar-se "acima das regiões terrestres".

Quanto aos Espíritos superiores, podem comunicar-se com mundos materializados como a Terra ou mesmo encarnar em missão, compondo seu perispírito e (ou) corpo

a partir dos fluídos deste planeta. Os fluídos espirituais que envolvem a Terra constituem-se em camadas inferiores

mais pesadas, tornando-se mais puras nas faixas mais superiores. Sendo

heterogêneas, compõe-se de moléculas elementares alteradas e outras de diversas qualidades, de onde formam seus períspiritos os espíritos que aqui vivem.

Entretanto, cfe. seja o espírito mais ou menos depurado, "seu perispírito se formará das partes mais puras ou das mais grosseiras do fluído peculiar ao mundo onde ele

encarna". Assim, a constituição íntima de cada perispírito varia cfe. o progresso moral realizado em cada encarnação. Um espírito superior encarnado em missão

possui o perispírito menos grosseiro que o de um indígena deste mundo. Quanto ao corpo carnal, é formado dos mesmos elementos, independendo da inferioridade ou

superioridade do Espírito. “O fluído etéreo está para as necessidades do Espírito, como a atmosfera para as dos encarnados". Assim como os animais terrestres não

sobrevivem em uma atmosfera rarefeita, os Espíritos inferiores não podem suportar o brilho dos fluídos mais etéreos. Somente após depurarem-se, transformando-se

moralmente, despojando-se dos instintos materiais, gradualmente se adaptam a um meio mais depurado. Existe, portanto, um encadeamento, uma interligação de tudo

que existe no Universo, submetido "à grande e harmoniosa lei de unidade, desde a

mais compacta materialidade, até a mais pura espiritualidade".

Ação dos Espíritos sobre os fluídos - Criações fluídicas - Fotografia do pensamento.

Os fluídos espirituais constituem-se nos materiais utilizados pelos Espíritos, o meio

onde ocorrem os fenômenos especiais bem como onde se forma a luz perceptíveis no

plano espiritual, como também é o veículo do pensamento. Através do pensamento imprimem direção, aglomeram, combinam ou dispersam, dando forma e cor, mudam

as propriedades dos fluídos, de acordo com leis específicas. Tais transformações podem ocorrer pela vontade como também resultar de um pensamento inconsciente.

Para o Espírito, basta que pense em algo para que se produza. Pode, pois, tornar-se visível a um médium, mostrando a aparência de qualquer encarnação em que fixe

seu pensamento, com todas as características e particularidades. Pode criar fluidicamente objetos com duração efêmera (idêntica à do pensamento que os criou)

que, para ele "são tão reais como o eram, no estado material, para o homem vivo".O pensamento "atua sobre os fluídos como o som sobre o ar"; criando imagens

fluídicas reflete-se no perispírito como num espelho, encorpa-se e se fotografa. Assim, os mais secretos movimentos da alma repercutem no perispírito, permitindo a

que leiam uns aos outros como num livro. Veem a "preocupação habitual do indivíduo, seus desejos, seus projetos, seus desígnios bons ou maus".

Qualidades dos fluídos

Assim como "os maus pensamentos corrompem os fluídos espirituais", sendo portanto viciados os fluídos que envolvem os Espíritos maus, os fluídos que

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envolvem e são emitidos pelos bons Espíritos são puros na medida de sua perfeição moral.

Os fluídos modificam-se cfe. os eflúvios do meio em que agem, adquirindo

qualidades temporárias ou permanentes. Recebem denominação cfe. suas

propriedades, efeitos e tipos originais. O perispírito dos seres encarnados irradia ao redor do corpo e o envolve com uma atmosfera fluídica. "Desempenha

preponderante papel no organismo". Ao expandir-se, o perispírito se relaciona com os Espíritos livres e com os encarnados. O pensamento se transmite através dos

fluídos, de Espírito a Espírito, e, "cfe. seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluídos ambientes".

O perispírito "recebe de modo direto e permanente a impressão de seus

pensamentos", guardando suas qualidades boas ou más. Enquanto o Espírito não se modificar, seu perispírito conserva-se impregnado daqueles fluídos viciados que

acabarão por reagir sobre o corpo ocasionando desordens físicas, ou seja, várias

enfermidades.

Em uma reunião ocorre o mesmo que numa orquestra: pensamentos bons produzem salutares eflúvios fluídicos tornando agradável o ambiente, como as harmoniosas

notas emitidas por uma orquestra afinada. Por outro lado, pensamentos maus, mesmo que não se externem, viciam os fluídos causando ansiedade, mal-estar,

assim como uma nota desafinada. Nas reuniões homogêneas e simpáticas o homem "recupera as perdas fluídicas que sofre todos os dias pela irradiação do pensamento".

Assim "um pensamento bondoso traz consigo fluídos reparadores que atuam sobre o físico, tanto quanto sobre o moral". Para evitar, portanto, a influência dos maus

espíritos, o meio é simples: à invasão dos maus fluídos, deve-se opor fluídos bons

com a emissão de bons pensamentos, repelindo assim as más influências. Refletindo o perispírito as qualidades da alma, ao melhorá-la criamos como uma couraça que

afasta os maus Espíritos.

II - Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais. Vista espiritual ou psíquica. Dupla vista. Sonambulismo. Sonhos.

Representando o perispírito a ligação entre a vida corpórea e a espiritual, permite o relacionamento com os desencarnados e opera no homem os fenômenos tidos como

sobrenaturais. A vista espiritual, dupla vista ou ainda vista psíquica tem como causa as irradiações

do perispírito, na função de órgão sensitivo do Espírito, assim como os sentidos do corpo nos dão a percepção das coisas materiais. É a alma que vê independentemente

dos olhos do corpo. Durante o sono o Espírito vive uma vida espiritual, quando então ocorre a emancipação da alma, podendo deslocar-se a pontos distantes da Terra,

ligado ao corpo pelo laço fluídico; "confabula com os amigos e outros Espíritos, livres ou encarnados também". Ao despertar, às vezes conserva uma lembrança de suas

peregrinações, que constitui o sonho. Guarda algumas vezes intuições que lhe sugerem novos pensamentos, auxiliando na resolução de problemas que lhe

pareciam insolúveis. Fenômenos como o sonambulismo natural e magnético, catalepsia, letargia, êxtase, etc, sendo também "manifestações da vida espiritual",

explicam-se igualmente desta maneira.

O mundo espiritual é "iluminado pela luz espiritual, que tem seus efeitos próprios", "tem o seu foco em toda a parte", não havendo obstáculos à visão espiritual em

razão da distância, nem pela opacidade da matéria, inexistindo para ela a

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obscuridade. Então a alma, envolta no seu perispírito, "tem consigo o seu princípio luminoso", e desenvolve seu alcance à medida da desmaterialização do Espírito.A

vista espiritual nos espíritos encarnados manifesta-se através da segunda vista, em vários níveis, "tanto no sonambulismo natural ou magnético, quanto no estado de

vigília". Com maior ou menor lucidez, permite a certas pessoas ver órgãos doentes e descrever a causa das enfermidades. Manifestando-se de modo imperfeito nos

encarnados, a segunda vista pode permitir percepções mais ou menos exatas devido ao estado moral do indivíduo, tais como:1)- Fatos reais ocorridos a grande distância,

descrição detalhada de uma localidade, causas e remédios para uma

enfermidade;2)- Presença dos Espíritos;3)- Imagens fantásticas criadas pela imaginação (criações fluídicas do pensamento), das quais guardam lembrança ao sair

do êxtase, dando-lhes a ilusão de confirmarem-se lhes as crenças de existência do inferno ou paraíso.

Durante os sonhos podem ocorrer as três situações acima, incluindo-se as duas

primeiras na categoria de previsões, pressentimentos e avisos, e a última explicando imagens fantásticas, que parecem reais ao Espírito, ao ponto de já ter até causado

embranquecimento dos cabelos. São provocadas por exaltação das crenças, fortes lembranças, gostos, desejos, paixões, remorsos, preocupações, necessidades do

corpo, disfunção orgânica, ou mesmo por outros Espíritos.

Catalepsia - Ressurreições

O corpo e o perispírito são insensíveis, transmitindo as sensações ao "centro sensitivo, que é o Espírito", o qual as recebe como um choque elétrico. Pode haver

interrupção causada por lesões corporais ou em virtude de momentânea emancipação da alma (sobre-excitação, preocupação, febril atividade, assim se

explicando por que um soldado no ardor da batalha, não percebe ter sido ferido).Em alguns fenômenos de sonambulismo, letargia e catalepsia, ocorre idêntico efeito,

embora mais pronunciado, como também nos convulsionários e mártires em que há total insensibilidade. A paralisia, ao contrário, tem causa nos próprios nervos, que

"se tornam inaptos a circulação fluídica".

Nos casos de coma, em que o Espírito se acha ligado apenas por alguns pontos ao

corpo, podendo inclusive iniciar-se a decomposição parcial, existe ainda vida, que poderá voltar a manifestar-se pela própria vontade ou por um influxo fluídico

estranho. Assim se explicam alguns prolongamentos de vida e mesmo supostas ressurreições. Ocorrendo no entanto total desprendimento do perispírito, ou

degradação irreversível dos órgãos corporais, "impossível se torna o regresso à vida".

Curas

Tendo o perispírito e o corpo como origem comum o fluído universal, pode o primeiro "fornecer princípios reparadores ao corpo" desde que um Espírito encarnado ou

desencarnado, pela sua vontade, inocule "num corpo deteriorado uma parte da substância do seu envoltório fluídico", substituindo cada molécula doente por uma

saudável. A cura depende também da intenção e energia da vontade, "que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de

penetração dará ao fluído". Uma fonte impura, entretanto, funciona como um

medicamento alterado.

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Os efeitos da ação fluídica podem ser lentos ou rápidos. Certas pessoas podem operar curas instantâneas, por imposição das mãos ou mesmo só por sua vontade;

pessoas com tal poder em seu máximo grau são raras. A ação fluídica depende então da qualidade dos fluídos como também de circunstâncias especiais.

Pode a ação magnética ser produzida pelo próprio magnetizador, dependendo de sua força e qualidade (magnetismo humano), pelo fluído dos Espíritos (magnetismo

espiritual), produzindo diretamente e sem intermediário: curas, sono sonambúlico espontâneo, influência física ou moral qualquer. Podem também os Espíritos

combinar seus fluídos com os de um magnetizador, imprimindo-lhes qualidades especiais; produz-se assim um magnetismo semi-espiritual, servindo o magnetizador

de veículo para aplicação desses fluídos.

Aparições - Transfigurações

Assim como um vapor rarefeito e invisível pode se tornar visível pela condensação, o

perispírito pode tornar-se momentaneamente visível pela vontade do Espírito, que o faz "passar por uma modificação molecular", produzindo o fenômeno das aparições,

que podem apresentar-se mais ou menos vaporosas, como também podem chegar à tangibilidade; se o desejar, pode o Espírito apresentar-se com "todos os sinais

exteriores que tinha quando vivo". Quando tangível existe somente a aparência do corpo carnal; ao desagregarem-se as moléculas fluídicas, instantaneamente

desaparecem ou se evaporam. Conhece-se várias aparições de agêneres, que se apresentam como pessoas estranhas com linguagem sentenciosa inspirando surpresa

e temor; passam algum tempo entre os humanos e depois desaparecem.

Espíritos encarnados, em momentos de liberdade, também podem aparecer, em local

diverso do corpo, sendo reconhecidos, fenômeno "que deu lugar à crença nos homens duplos”. Às aparições são percebidas pelos encarnados através da vista

espiritual, podendo o Espírito tornar-se visível ou mesmo tangível para algumas pessoas, enquanto outras não o conseguem ver e muito menos tocar. Faltam às

aparições as propriedades comuns da matéria, pois, se as tivessem, seriam percebidas pelos olhos do corpo.

As transfigurações, por outro lado, resultam "de uma transformação fluídica" que se produz sobre o corpo vivo tornando-se visível para todos os assistentes pelos olhos

do corpo. Resultam da irradiação do perispírito em torno do corpo carnal, envolvendo-o com uma camada fluídica e o tornando mais ou menos apagado; vistos

através dessa camada, os traços da pessoa podem aparecer totalmente modificados e com outra expressão.

Manifestações físicas - Mediunidade

O perispírito é o meio pelo qual o Espírito quando encarnado atua sobre o corpo, como também o é, quando desencarnado, para manifestar-se. Envolvendo e

penetrando um objeto com seu fluído perispirítico, produzindo uma espécie de atmosfera fluídica, pode produzir fenômenos de tiptologia, mesas girantes, levitação,

etc. Ao envolver um médium com seu eflúvio fluídico, faz com que escreva, fale, desenhe. Representam então, tanto o médium como os objetos de que se utiliza, os

instrumentos de manifestação do Espírito. Para o Espírito não há dificuldade em erguer no ar uma pessoa ou uma mesa, tomar um objeto e lançá-lo longe. Produz

ruídos dirigindo um jato de fluído sobre o objeto, causando o efeito de um choque

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elétrico. Há médiuns que possuem a aptidão de escrever em língua estranha, explanar ou escrever sobre assuntos acima de sua instrução, sendo alguns até

analfabetos, compõem poesias e músicas, desenham, pintam, esculpem, utilizam a grafia e assinatura do Espírito comunicante. Agem os Espíritos sobre eles como se a

uma criança se guiasse a mão fazendo com que executasse a tarefa que desejássemos. Entretanto quando possui o médium na mente os conhecimentos à

respeito do que pretende o Espírito executar, torna-se o trabalho mais fácil e rápido. Tais conhecimentos podem ter sido adquiridos pelo médium em encarnações

anteriores.

Obsessões e possessões

A ação malfazeja dos maus Espíritos é uma constante na Humanidade "em

consequência da inferioridade moral de seus habitantes". A ação persistente de um Espírito mau sobre uma pessoa, constrangendo-a a agir contra sua vontade, ação

esta que pode ser perceptível ou não, influenciando moral ou fisicamente, ou então a

obstinação em manifestar-se através de um médium tornando-o exclusivo, constitui-se na obsessão. Decorre sempre de uma imperfeição moral do obsidiado. Contra

seus efeitos deve-se contrapor uma força moral com o fortalecimento da alma através do trabalho na melhoria íntima. Representam as obsessões quase sempre

uma vingança com origem em encarnação anterior. Nos casos graves o obsessor envolve sua vítima com um "fluído pernicioso, que neutraliza a ação dos fluídos

salutares e os repele". Juntamente com a aplicação de passes no obsidiado é necessário que se atue com superioridade moral sobre o obsessor, levando-o a

"renunciar aos seus maus desígnios". A vontade e a prece por parte do obsidiado concorrem efetivamente para que mais rapidamente seja libertado da obsessão.

Quando porém se ilude com as qualidades de seu obsessor e se compraz no erro a que é levado, resulta em estado de fascinação, "infinitamente mais rebelde sempre,

do que a mais violenta subjugação". A prece é o "mais poderoso meio de que se dispõe para demover de seus propósitos maléficos o obsessor".

Na possessão o Espírito atuante toma temporariamente o corpo por consentimento do encarnado, falando por sua boca, vendo por seus olhos, movimentando-se como

se vivo estivesse, imprimindo-lhe sua voz, linguagem, maneiras e até expressão fisionômica. Pode se tratar de um espírito bom que deseja se comunicar de forma

mais expressiva, não causando qualquer perturbação ou incômodo. Entretanto, se for um Espírito mau e se o encarnado não possuir força moral, será martirizado,

podendo inclusive o possessor tentar exterminá-lo. Blasfema, maltrata as pessoas que o cercam, mostrando-se louco furioso. Tanto a obsessão como a possessão

ocorrem, na maior parte dos casos, individualmente. Pode no entanto "uma revoada de maus Espíritos" invadir uma localidade atacando muitos indivíduos ao mesmo

tempo, em caráter epidêmico.

Mostrando a causa das misérias humanas, o Espiritismo "indica o remédio a ser

aplicado: atuar sobre o autor do mal que, sendo um ser inteligente, deve ser tratado por meio da inteligência".

RESUMO DO CAPITULO 15 - OS MILAGRES DO

EVANGELHO

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Superioridade da natureza de Jesus Jesus foi um mensageiro direto do Criador, um Messias divino; suas virtudes situavam-se em nível muito acima das possibilidades da humanidade terrestre; não estava sujeito às fraquezas do corpo, pois o dominava completamente; seu perispírito era "tirado da parte mais quintessenciada dos fluídos terrestres". Tratava-se de um Espírito Superior, desprendido da matéria e sua alma devia ligar-se ao corpo "senão pelos laços estritamente indispensáveis"; possuía dupla vista, que devia ser permanente e de excepcional penetração. A pureza de seus fluídos perispirituais lhe "conferia imensa força magnética, secundada pelo incessante desejo de fazer o bem". Jesus não foi um poderoso médium curador, pois, pela sua superioridade, agia por si mesmo; poderia ser considerado médium de Deus. Sonhos Durante o sono, a alma penetra momentaneamente no mundo espiritual, entrando em contato com os Espíritos afins, encarnados e desencarnados. Nessas ocasiões, os Espíritos Protetores lhe transmitem conselhos mais diretos, dos quais muitas vezes guarda lembrança ao despertar. Nem todos os sonhos, entretanto, representam avisos da Espiritualidade. "Cumpre se inclua entre as crenças supersticiosas e absurdas a arte de interpretar os sonhos". Estrela dos magos A descrição de S. Mateus não é passível de verificação. Não poderia tratar-se de uma estrela, podendo, entretanto, ter sido a aparição de um Espírito sob forma luminosa, ou a transformação de "uma parte do seu fluído perispirítico em foco luminoso". Dupla vista Possuía Jesus a faculdade da vista espiritual em grau elevado e as narrações evangélicas atestam várias passagens em que demonstrava conhecer os pensamentos das pessoas, através das "irradiações fluídicas desses pensamentos", refletidas como num espelho em seus perispíritos. Esta faculdade permitiu ao Mestre indicar o local exato em que Simão deveria lançar suas redes para enchê-las de peixes, no episódio da pesca tida por milagrosa. Conhecia as disposições íntimas de Pedro, André, Tiago, João e Mateus, quando os chamou e imediatamente o acompanharam. Previu a traição de Judas e adiantou a Pedro que por três vezes o negaria. Curas 1)- Perda de sangue.- Na passagem em que uma mulher é curada de hemorragia, doença de que era vítima há muitos anos, após tocar nas vestes de Jesus, sem que houvesse deste um ato de vontade, como imposição das mãos ou magnetização, ocorreu "a irradiação fluídica normal para realizar a cura". O fluído terapêutico deve ser dirigido à matéria orgânica a fim de repará-la. Pode ocorrer pela vontade do curador ou ser "atraído pelo desejo ardente, pela confiança, numa palavra, pela fé do doente". A fé a que Jesus se referia era a força atrativa desenvolvida pela doente que lhe permitiu a cura. A falta de fé "opõe à corrente fluídica uma força repulsiva" que lhe paralisa a ação. Por esta razão, pode acontecer que de dois doentes que tenham a mesma enfermidade, somente um venha a ser curado. 2)- Cego de Betsaida.- Procedeu Jesus a duas aplicações nos olhos do cego, que gradualmente recuperou a visão, evidenciando-se o efeito magnético, com recuperação "gradual e conseqüente a uma ação prolongada e reiterada, se bem que mais rápida do que na magnetização ordinária". 3)- Paralítico.- No caso da cura do paralítico de Cafarnaum, em que o Mestre lhe disse: "Meu filho, tem confiança; perdoados te são os teus pecados" entende-se que aquela doença

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representava expiação de males praticados em existências anteriores. Equivalia a Jesus dizer-lhe: "Pagaste tua dívida; a fé que agora possuis elidiu a causa de tua enfermidade". 4)- Os dez leprosos.- Quando Jesus curou dez leprosos próximo a Galiléia e somente um deles - um samaritano - retornou para agradecer a Deus a graça recebida, deu uma lição e um exemplo de tolerância, pois curou indistintamente judeus como também samaritanos que eram desprezados pelos primeiros. O samaritano demonstrou sua fé e reconhecimento vindos do âmago do coração, enquanto que os demais demonstraram ingratidão e a dureza de seus corações, sendo de se supor que não tenham se beneficiado da graça concedida, retornando-lhes os seus males. 5)- Mão seca.- Os fariseus observavam se Jesus curaria um doente em dia de sábado, a fim de o acusarem. Ordenando ao doente se dirigisse ao centro do templo, perguntou aos fariseus se era permitido naquele dia "fazer o bem ou o mal, salvar uma vida ou tirá- la", ao que não lhe responderam. Sentindo a dureza de seus corações, encarou-os, disse ao homem para estender a mão, e curou-o. 6)- A mulher curvada.- Ficaram também confusos os adversários de Jesus quando, ao ensinar em um sábado numa sinagoga, curou uma mulher possuída há dezoito anos por um Espírito que lhe deixava totalmente curvada. Tendo ficado indignado o chefe da Sinagoga, inquiriu-lhe Jesus quem deixaria de aliviar a carga de seu boi ou jumento, dando-lhe de beber, somente por se tratar de um dia de sábado, e por que então não poderia libertar aquela doente da influência daquele Espírito. 7)- O paralítico da piscina.- Em Jerusalém havia uma piscina chamada Betesda alimentada por uma fonte natural intermitente com propriedades curativas. Acreditava-se que, a agitação das águas era produzida por um anjo do Senhor, e quem primeiro tivesse nelas entrado seria curado de qualquer doença. Encontrou Jesus, próximo à piscina, um homem paralítico há 38 anos, e perguntou-lhe se desejava curar-se; disse-lhe: "Levanta-te, toma o teu leito e vai-te". Mais uma vez protestaram os fariseus porque era sábado. Reencontrando o homem que curara, acrescentou Jesus: "Vês que foste curado; não tornes a pecar, para que te não aconteça coisa pior". Aos fariseus disse que Deus não cessa em nenhum momento suas obras pelo que também ele obrava incessantemente. Jesus deu a entender ao homem que sua doença era uma punição por seus erros, avisando-lhe que poderiam retornar seus males caso não se modificasse. Procedia a curas nos sábados a fim de protestar contra o fanatismo dos fariseus e mostra-lhes que a verdadeira virtude está nos sentimentos e não nas práticas exteriores. 8)- Cego de nascença.- Mais uma vez num sábado encontrou Jesus um cego de nascença e, fazendo um pouco de lama com saliva e terra, untou-lhe os olhos e mandou-o lavar-se na piscina de Siloé, após o que o homem passou a enxergar claramente. Levaram-no aos fariseus que, após interrogá-lo e a seus pais, o expulsaram da sinagoga, por não ter admitido ter sido "um possesso do demônio aquele que o curara e porque rende graças a Deus pela sua cura". Mesmo nos dias atuais as curas efetuadas pelo Espiritismo são tidas como diabólicas pelas religiões tradicionais. Haviam os discípulos perguntado a Jesus se aquele homem nascera cego por algum pecado seu ou de seus pais, referindo-se evidentemente a uma vida anterior. A resposta negativa indica que se tratava de uma "provação apropriada ao progresso daquele Espírito". A lama empregada serviu de veículo ao fluído espiritual que produziu a cura. 9)- Numerosas curas operadas por Jesus.- Pregando nas sinagogas, Jesus procedia a curas no meio do povo, provando que "o verdadeiro poder é o daquele que faz o bem". Aliviava os sofrimentos dos homens e, por isso, fazia numerosos prosélitos. Quando João Batista mandou perguntar-lhe se era o Cristo, respondeu: "Ide dizer a João: os cegos vêem, os doentes são curados, os surdos ouvem, o Evangelho é anunciado aos pobres". Assim também o Espiritismo cura, além dos males físicos, as doenças morais, fazendo adeptos entre aqueles que "recebem a

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consolação para suas almas" e não entre aqueles que pretendem apenas observar fenômenos extraordinários, não lhe reconhecendo a força moral. Possessos Juntamente "com as curas, as libertações de possessos figuram entre os mais numerosos atos de Jesus". Sua superioridade era tal que à sua ordem não podiam os Espíritos resistir e se afastavam efetivamente de suas vítimas. Eram muitos os casos de possessões na Judéia àquele tempo, evidenciando-se uma invasão de Espíritos maus em caráter de epidemia. Diziam os fariseus que era com auxilio de Belzebu, príncipe dos demônios, que Jesus expulsava os maus Espíritos, ao que o Mestre mostrou a insensatez que seria se Satanás expulsasse a si mesmo. Ressurreições 1)- A filha de Jairo.- Jesus foi chamado por um chefe de sinagoga para impor as mãos sobre sua filha de 12 anos que estava para morrer. Lá chegando ordenou que as pessoas que choravam sua morte se afastassem dizendo-lhes que não estava morta, mas apenas adormecida. Tomando-lhe as mãos ordenou que se levantasse o que ela imediatamente fez e se pôs a andar. 2)- Filho da viúva de Naim.- Ao se aproximar da cidade de Naim, deparou Jesus com um cortejo fúnebre; tratava-se de um rapaz, filho único de uma viúva. Compadecido com o sofrimento materno, Jesus ordenou ao moço que se levantasse a que este se sentou e começou a falar para espanto dos presentes. Tal fato, considerado milagroso, espalhou-se por toda a Judéia e circunvizinhanças. Assim como também a ressurreição de Lázaro, os casos citados evidenciavam ter havido ataque de letargia ou síncope, pois, seria contrário às leis da Natureza o retorno ao corpo de um Espírito após rompido o laço perispirítico. Era costume na época sepultar-se logo em seguida alguém que deixasse de respirar, considerando-o morto. (Sabe-se que há casos de letargia que se prolongam por mais de oito dias). Houve então nos casos citados a cura produzida pelo Mestre e não ressurreição. Jesus caminha sobre a água Jesus se dirigiu "caminhando por sobre o mar" aos discípulos que dentro de um barco, se viam amedrontados com a fúria das águas; Pedro pediu-lhe para fazer o mesmo, a que o Mestre mandou-o ir ao seu encontro. Deu alguns passos, vacilou e começou a afundar, sendo socorrido por Jesus, que lhe disse: "Homem de pouca fé! Por que duvidaste?". O fenômeno de levitação de um ser humano produz-se "sob ação das leis da Natureza", por efeito da mesma "força fluídica que mantém no espaço uma mesa, sem ponto de apoio". Poderia também ter ocorrido a aparição tangível de Jesus, estando longe seu corpo real. Transfiguração Jesus proporcionou a Pedro, Tiago e João a oportunidade inesquecível de observarem fenômeno em que se transfigurou totalmente, realçado de excepcional fulgor, em razão da extrema pureza de seu perispírito. Fenômeno também inteiramente explicável dentro da ordem da Natureza, foi a aparição de Moisés e Elias. Tempestade aplacada Enquanto atravessava um lago com seus discípulos, Jesus adormeceu. Diante de súbita tempestade que ameaçava virar o barco, acordaram-no assustados ao que Jesus "falou, ameaçador, aos ventos e às ondas agitadas e uns e outras se aplacaram, sobrevindo grande calma", para espanto e admiração dos discípulos. Não é possível afirmar-se "se há ou não

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inteligências ocultas presidindo à ação dos elementos". Jesus, entretanto, dormia tranqüilamente, demonstrando segurança advinda de que seu Espírito "via não haver perigo nenhum e que a tempestade ia amainar". Bodas de Caná Tal acontecimento é referido somente por S. João, não tendo causado impressão maior. Se realmente ocorreu, foi o único no gênero, pois, Jesus não era afeito a demonstrações materiais que aguçassem a curiosidade, próprias dos mágicos. Mais racional é se considerar tal fato como uma parábola destinada a levar ensinamentos aos presentes. Multiplicação dos pães Para as pessoas sérias essa narrativa é vista com sentido alegórico, "em que se compara o alimento espiritual da alma ao alimento do corpo". Pode-se também admitir que as pessoas presentes, ávidas de ouvir as palavras de Jesus, fascinadas "pela poderosa ação magnética que ele exercia sobre os que o cercavam", não tenham tido "necessidade material de comer". Sabia então Jesus que poucos pães bastariam, mostrando aos discípulos "que também eles podiam alimentar por meio da palavra". Posteriormente, nas passagens denominadas "O fermento dos fariseus" e "O pão do céu", ficou confirmado o fato de que o Mestre não se referia a pães materiais, quando disse aos discípulos: "Ainda não compreendeis que não é do pão que eu vos falava..." afirmando que se trabalhasse principalmente para conseguir o "pão do céu", e dizendo: "Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome e aquele que em mim crê nunca terá sede". Tentação de Jesus O episódio da tentação de Jesus não corresponde a uma ocorrência física; deve ser entendida como uma parábola, a fim de mostrar aos homens sua falibilidade, devendo vigiar sua mente "contra as más inspirações a que, pela sua natureza fraca, é impelida a ceder", devendo ainda prevenir-se contra os perigos da ambição. Também inadmissível seria a tentação moral do Cristo, pois, "o Espírito do mal nada poderia sobre a essência do bem". Assim também as parábolas do filho pródigo e do bom samaritano mostram a misericórdia do Pai face o arrependimento do filho que, tendo sucumbido às tentações más, praticando a lei de amor, vale mais aos Seus Olhos do que os irmãos que o desprezaram. Prodígios por ocasião da morte de Jesus Com relação às trevas que teriam ocorrido por ocasião da morte de Jesus, tal fato não foi notado, pois, não consta em citações de nenhum historiador; poderia ter havido obscurecimento do Sol causado pelas "manchas físicas que lhe acompanham o movimento de rotação", sem causar no entanto trevas. Pode também ter havido algumas aparições de Espíritos naquela ocasião, o que também seria um fenômeno natural. "Compungidos com a morte de seu Mestre, os discípulos de Jesus sem dúvida ligaram a essa morte alguns fatos particulares", que em outra ocasião não teriam notado. Aparição de Jesus, após a sua morte. Jesus apareceu após sua morte, em várias ocasiões, descritas com detalhes por todos os evangelistas, não se podendo duvidar de tais fatos que, sendo semelhantes a muitos fenômenos antigos e atuais, são explicáveis "pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito" o qual chega em certos casos a tornar-se tangível. As circunstâncias dos aparecimentos e desaparecimentos de Jesus, algumas vezes em recintos fechados, sua linguagem breve e sentenciosa, a sensação de surpresa e medo causada pela sua presença, tudo isto demonstra

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que "se mostrou com o seu corpo perispirítico, o que explica que só tenha sido visto pelos que ele quis que o vissem". Seu maior milagre foi "a revolução que seus ensinos produziram no mundo". Jesus era pobre, nascido no seio de um pequeno povo sem expressão política ou literária, pregou sua doutrina durante apenas três anos, tempo esse em que foi "desatendido e perseguido pelos seus concidadãos". Foi "obrigado a fugir para não ser lapidado", traído por Judas, renegado por Pedro - seus apóstolos - supliciado como um criminoso; entretanto, mesmo sem nada escrever, "sua palavra bastou para regenerar o mundo"; "sua doutrina matou o paganismo onipotente e se tornou o facho da civilização". Desaparecimento do corpo de Jesus Tal fato foi constatado no terceiro dia após a crucificação, pelas mulheres que foram ao sepulcro. Alguns consideraram um fato milagroso, outros atribuíram "a uma subtração clandestina". Há a teoria de que Jesus não teria tido um corpo material e sim um "corpo fluídico" sendo aparentes seu nascimento, atos de sua vida e sua morte. Assim se explicaria o desaparecimento de seu corpo do sepulcro. Entretanto, no período anterior à sua morte "tudo se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida". Durante toda a sua vida revelou-se com os "caracteres inequívocos da corporeidade", sendo "acidentais os fenômenos de ordem psíquicas". "Depois de sua morte, ao contrário, tudo nele revela o ser fluídico". Supliciado e morto, "todos o puderam ver e tocar". Seu corpo foi sepultado normalmente, "donde forçoso é concluir que, se foi possível que Jesus morresse, é que carnal era o seu corpo". Por outro lado, sendo o corpo "a sede das sensações e das dores físicas, que repercutem no centro sensitivo ou Espírito", segue-se que um Espírito sem corpo físico "não pode experimentar os sofrimentos". Não se pode duvidar que Jesus sofreu materialmente, pois de outra forma a paixão, sua agonia, seu último brado teria sido uma comédia indigna de um ser tão superior. "Jesus, pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência".

RESUMO DO CAPÍTULO 16 - AS PREDIÇÕES

SEGUNDO O ESPIRITISMO

Há muitos casos de predições que se realizaram. O Espiritismo vem mostrar que também este fenômeno ocorre segundo leis naturais. Figuremos um homem sobre uma montanha, de onde pode ver tudo o que se passa na planície; pode acompanhar à distância o trajeto de um viajante e ver p. ex. que, em dado ponto, um ladrão o aguarda para assaltá-lo. Do local em que se encontra, para o homem da montanha, todos aqueles fatos são presentes, enquanto que para o viajante, tendo sua visão limitada, a situação em que poderá ser assaltado lhe é desconhecida, e representa o futuro. Se o observador da montanha descer e lhe avisar que será assaltado e socorrido, estará, para o viajante, predizendo o futuro. Assim também, para os espíritos desmaterializados, não existe espaço nem tempo, estando a extensão e penetração de sua vista condicionadas ao grau de depuração alcançado. Podem então abarcar um período de até milhares de anos terrestres e ver simultaneamente os acontecimentos que para os homens "se desenrolam sucessivamente". Tais acontecimentos muitas vezes dependem da cooperação dos homens para concretização dos desígnios do Criador, pelo que nesses casos podem ser-lhes revelados parcialmente por Espíritos superiores, a fim de que estejam preparados a agir na ocasião oportuna.

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Também quando encarnado, tendo já se adiantado moralmente, pode, durante o sono ou em êxtase da dupla vista, desprender-se e ter consciência de fatos futuros dos quais poderá fazer a revelação, dependendo de que devam ou não permanecer secretos. Poderá ainda guardar deles uma vaga intuição "bastante para o guiar instintivamente". A revelação pode também ocorrer por inspiração dos Espíritos, transmitidas maquinalmente sem a pessoa se aperceber do que fala. Quando da iminência de calamidades, revoluções, desenvolve-se providencialmente a faculdade, quando então surgem numerosos videntes. As revelações podem se apresentar em forma de quadros desenhados pela mente dos Espíritos reveladores, formando imagens para o vidente. Nestes casos, podem representar sugestões, no sentido de levar à realização ou prática de atos necessários à consecução de um objetivo, pelo que o vidente não pode prever o momento da realização, a qual pode também não ocorrer, pois representa um desejo, um projeto. Para o Espírito "o princípio da visão não lhe é exterior, está nele". Não necessita, portanto, da luz exterior nem deslocar-se para abranger o tempo e o espaço. À medida em que se desmaterializa, desenvolvendo-se moralmente, ampliam-se lhe as percepções e todas as faculdades. A Providência regula "os acontecimentos que envolvem interesses gerais da Humanidade". Tendo seu livre-arbítrio, pode o homem não executar a missão por ele aceita no sentido da consecução dos desígnios do Criador, caso em que é afastado de modo que o resultado final de um acontecimento se cumpra. Não há fatalidade, pois, "os pormenores e o modo de execução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens". Por isso, mesmo que os Espíritos possam prevenir-nos quanto a ocorrência de certos acontecimentos futuros, não lhes é possível precisar a época exata, pois dependem das decisões que serão tomadas pelos homens durante sua consecução. As predições como as de Nostradamus eram verdadeiros enigmas, permitindo interpretações diferentes. Atualmente os Espíritos, em linguagem comum, fazem advertências como conselheiros que são.

RESUMO DO CAPÍTULO 17 - PREDIÇÕES DO

EVANGELHO

Ninguém é profeta em sua terra Quando ensinava nas sinagogas de sua terra natal, diante do espanto e incredulidade de seus concidadãos, disse-lhes Jesus: "Um profeta só não é honrado em sua terra e na sua casa". Com efeito, tanto os sacerdotes e fariseus e mesmo seus parentes próximos não o entendiam, taxando-o de louco. Tal fato é consequência das fraquezas humanas, pois, o ciúme e a inveja próprios de seus "espíritos acanhados e vulgares" criam preconceito que impedem aos homens reconhecer em alguém de seu próprio meio a superioridade do saber e da inteligência. Por outro lado, é comum aos homens reconhecerem o valor do "homem espiritual" somente após sua morte, à medida que "mais longínqua se torna a lembrança do homem corporal". "A posteridade é juiz desinteressado no apreciar a obra do espírito" abstraindo-a da individualidade que a produziu. Morte e paixão de Jesus. - Perseguição aos apóstolos.- Cidades impenitentes.- - Ruína do Templo e de Jerusalém. Jesus possuía em alto grau a "faculdade de pressentir as coisas porvindouras", que é um dos atributos da alma (teoria da presciência). Através de sua visão espiritual, previu, assim, as circunstâncias e a época de sua morte, os acontecimentos seguintes à sua paixão e morte, a ruína do Templo e da cidade de Jerusalém, "as desgraças que se iam abater sobre seus habitantes e a dispersão dos judeus". Maldição contra os fariseus.- Minhas palavras não passarão.

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Após dirigir duras palavras aos fariseus e saduceus, sabendo que se escandalizaram, disse Jesus a seus apóstolos: "Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada. - Deixai-os; são cegos a conduzir cegos; se um cego guia outro cego, cairão ambos no barranco". As palavras de Jesus aplicam-se até nossos tempos, quando ainda algumas seitas cristãs se digladiam disputando a posse da Verdade e quando outras servem a ambições e interesses materiais. Disse ainda o Mestre: "O Céu e a Terra passarão, mas as minhas palavras não passarão". Passarão as construções com sentido falso às palavras de Jesus; "o que não passará é o verdadeiro sentido" de suas palavras. A pedra angular A doutrina de Jesus tornou-se a "pedra de consolidação do novo edifício da fé, erguido sobre as ruínas do antigo", pedra que esmagou os judeus, sacerdotes e fariseus como também, depois, todos os que "a desconheceram, ou lhe desfiguraram o sentido em prol de suas ambições". Parábola dos vinhateiros homicidas Nesta parábola "o pai de família é Deus; a vinha que ele plantou é a lei que estabeleceu; os vinhateiros a quem arrendou a vinha são os homens que devem ensinar e praticar a lei; os servos que enviou aos arrendatários são os profetas que estes últimos massacraram; seu filho, enviado por último, é Jesus, a quem eles igualmente eliminaram". Constata-se que até nossos tempos o resultado alcançado pelos responsáveis pela educação religiosa da Humanidade foi a indiferença e incredulidade "espalhados em todas as classes da sociedade". Fizeram do "Deus infinitamente justo, bom e misericordioso" que Cristo revelou, "um Deus cioso, cruel, vingativo e parcial". Cultuam "as riquezas, o poder e o fausto dos príncipes do mundo". Entretanto, presente em Espírito, "virá pedir contas aos seus vinhateiros do produto da sua vinha, quando chegar o tempo da colheita". Um só rebanho e um só pastor Tal declaração de Jesus significa que "os homens um dia se unirão por uma crença única". Assim como no aspecto social, político e comercial tendem a cair as barreiras, havendo já confraternização entre os povos, terão as religiões que fazer concessões mútuas a fim de atingir a unidade, pois, sendo Deus único, é o mesmo que todas adoram não importa sob que nome. Para tanto deverão encontrar-se em um "terreno neutro, se bem que comum a todas". Sendo mantidos imutáveis seus dogmas, a iniciativa deverá partir do indivíduo. Para congregar todos os homens em uma mesma religião, esta deverá: satisfazer a razão, "às legítimas aspirações do coração e do espírito", ser confirmada pela ciência positiva, acompanhar o progresso da humanidade, não seja exclusivista, intolerante, admitir somente a fé racional, ter como código moral a prática da caridade e fraternidade universais. Advento de Elias Quando Jesus afirmou que Elias já viera e os homens não o haviam reconhecido, seus discípulos compreenderam que se tratava de João Batista, o qual havia sido decapitado. Ficou assim consagrado o "princípio da pluralidade das existências". Anunciação do Consolador Ao anunciar a vinda do Consolador, o Espírito de Verdade, que haveria de "ensinar todas as coisas e de lembrar o que ele dissera", havendo ainda muitas coisas por dizer, porque "presentemente não as podeis suportar", claro ficou que "Jesus não disse tudo o que tinha a dizer" Dizendo que o Consolador ficaria eternamente conosco e estaria em nós, não poderia

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evidentemente tratar-se de uma personalidade, mas sim "uma doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador há de ser o Espírito de Verdade". Sendo o Espiritismo uma doutrina resultante do "ensino coletivo dos Espíritos", completando e elucidando o Evangelho, revelando leis conjugadas às da Ciência que tornam compreensíveis os fenômenos tidos como maravilhosos, realiza "todas as condições do Consolador que Jesus prometeu". A doutrina de Moisés restringiu-se ao povo judeu; a de Jesus - o Cristianismo - espalhou-se por toda a Terra, "mas não converteu a todos". "O Espiritismo, ainda mais completo, com raízes em todas as crenças, converterá a Humanidade". Mais uma vez Jesus referia-se à reencarnação, quando anunciou a vinda do Consolador por não poder dizer tudo àquela época, pois, seria ilusória tal promessa se os homens não pudessem viver novamente, quando então teriam condições de compreender todo o seu ensino. Segundo advento de Cristo Anunciando seu retorno à Terra, terá Jesus se referido a volta em Espírito e não com um corpo carnal, para "julgar o mérito e o demérito e dar a cada um segundo as suas obras". As palavras: "Alguns há dos que aqui estão que não sofrerão a morte sem terem visto vir o Filho do homem no seu reinado" parecem contraditórias, pois, não se realizaram naquela época. Demonstram falha de registro ou por ocasião das traduções sucessivas. O princípio da reencarnação, assentado por Jesus, explica racionalmente tais palavras, pois somente assim "alguns dos ali presentes", reencarnados, poderiam ver o que ele anunciava. Sinais precursores A alegoria do fim dos tempos, composta de fortes imagens destinadas a impressionar e "tocar fortemente aquelas imaginações pouco sutis", oculta grandes verdades, como a predição das "calamidades decorrentes da luta suprema entre o bem e o mal", fé e incredulidade, a difusão do Evangelho por toda a Terra, "restaurado na sua pureza primitiva", e depois o reinado do bem, "que será o da paz e fraternidade universais". "Depois dos dias de aflição, virão os de alegria". Falando de coisas futuras como que possíveis de presenciar, dando sinais de advertência que, se pode deduzir, "mostrar-se-ão no estado social e nos fenômenos mais de ordem moral do que físico", só poderia se referir à presença, quando houver as transformações, como Espíritos reencarnados, podendo mesmo "colaborar na sua efetivação". Não sendo racional que Deus destruísse o mundo logo após entrasse "no caminho do progresso moral", há que se entender que Jesus se refere ao fim do mundo velho, governado pelos "preconceitos, pelo orgulho, pelo egoísmo, pelo fanatismo" e todas as paixões pecaminosas. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão Tais palavras de Jesus referindo-se aos "últimos tempos", coincidem com o período do advento do Espiritismo, onde a mediunidade espalhou-se por toda a Terra, revelando-se "em indivíduos de todas as idades, de ambos os sexos e de todas as condições". Intensificou-se a "manifestação universal dos Espíritos", iniciando-se período de regeneração e, por conseguinte, o fim do mundo velho. Juízo final Não há juízo final, mas juízos gerais cada vez em que um planeta deve "ascender na hierarquia dos mundos". Aqueles que se mantêm endurecidos no mal, não tendo acompanhado o progresso moral dos demais habitantes, quando por ocasião da ascensão da Terra a um grau mais elevado serão "exilados para mundos inferiores, como o foram outrora para a Terra os da raça adâmica, vindo substituí-los Espíritos melhores". Jesus adiou a complementação de seus ensinamentos para uma época posterior, em virtude de não possuírem os homens ao seu tempo "conhecimentos astronômicos, geológicos, físicos, químicos, fisiológicos e psicológicos", explicando-se assim o estabelecimento por seus apóstolos de dogmas que contrariam tais

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conhecimentos. O juízo final "não se concilia com a bondade infinita do Criador", enquanto que o processo de emigração é racional, justo e não privilegia ninguém. "Tais as conseqüências da pluralidade dos mundos e da pluralidade das existências".

RESUMO DO CAPÍTULO 18 - SÃO CHEGADOS OS

TEMPOS

Sinais dos tempos

Nosso globo está, como todos os outros, sujeito à lei do progresso; progride "fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem" e, de modo paralelo, "moralmente, pela depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam"; quando a Humanidade se torna "madura para subir um degrau, pode dizer-se que são chegados os tempos marcados por Deus". As leis de Deus são imutáveis porque Seu pensamento "que em tudo penetra, é a força inteligente e permanente que mantém a harmonia em tudo". O Universo é "um mecanismo imensurável" onde atuam incontáveis inteligências subordinadas ao Criador, sob Suas vistas e de acordo com a grande lei de unidade.

Inicia-se para os homens o período em que deverão fazer "que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral". Para tanto é necessário, mais que inteligência, a elevação do sentimento, com a destruição do egoísmo e do orgulho que ainda subsiste. "Trata-se de um movimento universal a operar-se no sentido do progresso moral". Tal movimento causará luta de ideias e não cataclismos materiais. As transformações da Humanidade podem ocorrer de modo gradual, perceptíveis somente após épocas consecutivas, ou mediante crises penosas, dolorosas, que "arrebatam consigo as gerações e instituições, mas são sempre seguidas de uma fase de progresso material e moral". Há mais de dois séculos ocorre esse trabalho de transformação do mundo dos encarnados, com a interação dos desencarnados, "até que haja outra vez estabilizado em novas bases", quando estarão mudados os costumes, caráter, leis, crenças, "numa palavra: todo o seu estado social”. Os astros influenciam uns aos outros durante seu movimento de translação pelo espaço, podendo causar perturbações que coincidam "pelo encadeamento e a solidariedade das causas e dos efeitos" com os "períodos de renovação da Humanidade", causando fenômenos como tremores de terra e flagelos diversos, sendo interpretados pelos ignorantes como "sinais no céu".

Encontra-se portanto a Humanidade num período de crescimento moral, chegando ao estado adulto, onde a razão amadurece e lhe dá consciência de um destino mais amplo além das limitações da vida corpórea; perscruta o passado e projeta-se no futuro "a fim de descobrir num e noutro o mistério da sua existência e de adquirir uma consoladora certeza".

O Espiritismo "abre à Humanidade uma estrada nova e lhe desvenda os horizontes do infinito". Leva à certeza na imortalidade da alma, a alternância entre a vida espiritual e a corpórea para a realização do progresso até chegar à perfeição, muito mais digna da justiça do Criador, evidenciando a aberração do pensamento materialista que circunscreve a vida humana em apenas uma existência. Prega a fraternidade assentada na fé racional, ou seja, nos princípios fundamentais: Deus, alma, futuro, progresso individual indefinido, perpetuidade das relações entre os seres. O progresso intelectual já alcançado representa "uma primeira fase no avanço geral da Humanidade", porém a felicidade na Terra somente ocorrerá com o progresso moral, pois, "enquanto o orgulho e o egoísmo o dominarem, o homem se servirá da sua inteligência" "para satisfazer às suas paixões e aos seus interesses pessoais". Então cairão por terra "as barreiras que separam os povos", os antagonismos de seitas, e os homens aprenderão a viver

Page 42: CAPÍTULO 01 - CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA · Cristo ensinava por meio de parábolas, ... somente após passarem pelo crivo da razão e de todas as ... as coisas de modo mais

como irmãos unidos numa mesma crença - "fundamento mais sólido da fraternidade universal”. Sinais desta transformação já são evidentes com a criação de inúmeras "instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras" propiciando reformas que se consolidarão à medida de uma "predisposição moral mais generalizada", com a predominância da "caridade, fraternidade, benevolência para com todos". A aceitação às idéias espiritualistas em detrimento das materialistas é outro sinal que vem refletir "a necessidade de respirar um ar mais vivificante".

O Espiritismo nasceu no exato momento em que a Humanidade se encontrava cansada da dúvida e da incerteza sendo acolhido pelos homens progressistas "como âncora de salvação e consolação suprema". A velha geração materialista cede lugar à geração nova, cuja madureza promoverá a renovação social, cabendo ao Espiritismo, com sua tendência progressista e poder moralizador, secundar tal movimento de regeneração. A geração nova

"A Terra, no dizer dos Espíritos, não terá que transformar-se por meio de um cataclismo que aniquile de súbito uma geração". Cada um dos Espíritos "ainda não tocados pelo bem", ao desencarnarem, serão encaminhados a mundos inferiores ou reencarnarão em "raças terrestres ainda atrasadas, equivalentes a mundos daquela ordem", cabendo-lhes transmitir seus conhecimentos a fim de fazê-los avançar. A ordem natural das coisas não será afetada, pois, cada Espírito expurgado será substituído por "um mais adiantado e propenso ao bem". Estando numa época de transição, assistimos ao choque das ideias entre a nova geração, à qual cabe "fundar a era do progresso moral", (cujas características são: inteligência e razão precoces, "sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas"; tendo já progredido, assimilam todas as ideias progressistas) e a velha geração, composta de Espíritos atrasados, revoltados contra Deus, negando-se a "reconhecer qualquer poder superior aos poderes humanos", com propensão instintiva às paixões degradantes, ao orgulho, inveja, ciúme, sensualidade, cupidez, avareza.

Sendo tais vícios "incompatíveis com o reinado da fraternidade", terá a Terra que ficar livre deles, para que os homens caminhem para "o futuro melhor que lhes está reservado". Alguns dos Espíritos retardatários, entretanto, ao retornar ao mundo espiritual individualmente ou de forma coletiva, e sob a influência de "Espíritos benévolos que por eles se interessam", se modificam, passando a estar em condições de reencarnar na Terra "com idéias inatas de fé", encontrando já um meio mais propício ao desenvolvimento de suas faculdades. Com a modificação das disposições morais, opera-se portanto a regeneração da Humanidade, mesmo não havendo a renovação integral dos Espíritos. Portanto, nem sempre os que voltam são novos Espíritos; podem tratar-se dos mesmos, porém com pensamentos e sentimentos modificados. Após grandes choques que dizimam as populações, observam-se modificações que tendem a alterar "profundamente as ideias de um povo ou de uma raça", pela ativação do "movimento progressivo dos Espíritos" encarnados e desencarnados "

“. Presentemente (Obs: A Gênese de Kardec foi publicada em 1.868) opera-se "um desses movimentos gerais, destinados a realizar uma remodelação da Humanidade".