cálculo de campos em em lt pelo mef - arthur farah

225
i Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Universidade Federal de São João del-Rei Programa de Pós Graduação em Engenharia Elétrica Arthur Araújo Maia Farah C ÁLCULO DE C AMPOS E LÉTRICOS E M AGNÉTICOS EM L INHAS DE T RANSMISSÃO PELO M ÉTODO DOS E LEMENTOS F INITOS Belo Horizonte 2014

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Dissertação de Mestrado - Cálculo de Campos Eletromagnéticos em Linhas de Transmissão pelo Método dos Elementos Finitos - CEFET-MG - 2014 - Arthur Farah

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  • i

    Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais

    Universidade Federal de So Joo del-Rei

    Programa de Ps Graduao em Engenharia Eltrica

    Arthur Arajo Maia Farah

    CLCULO DE CAMPOS ELTRICOS E MAGNTICOS EM LINHAS DE TRANSMISSO PELO MTODO DOS

    ELEMENTOS FINITOS

    Belo Horizonte

    2014

  • ii

    Arthur Arajo Maia Farah

    CLCULO DE CAMPOS ELTRICOS E MAGNTICOS EM LINHAS DE TRANSMISSO PELO MTODO DOS

    ELEMENTOS FINITOS

    Dissertao submetida banca examinadora designada

    pelo Colegiado do Programa de Ps-Graduao em

    Engenharia Eltrica, Associao Ampla entre a

    Universidade Federal de So Joo Del-Rei e o Centro

    Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais,

    como parte dos requisitos necessrios obteno do

    grau de Mestre em Engenharia Eltrica.

    rea de Concentrao: Sistemas Eltricos

    Linha de Pesquisa: Eletromagnetismo Aplicado

    Orientador: Prof. Dr. Mrcio Matias Afonso

    Coorientador: Prof. Dr. Marco Aurlio de O. Schroeder

    Belo Horizonte

    2014

  • iii

    Folha de Aprovao a ser anexada

  • iv

    Onde a mente destemida e a cabea se mantm erguida;

    Onde o conhecimento livre;

    Onde o mundo no foi dividido em fragmentos por estreitas paredes domsticas;

    Onde as palavras brotam das profundezas da verdade;

    Onde o esforo incansvel estende os braos para a perfeio;

    Onde a torrente clara da razo no se perdeu no deserto entediante do hbito estril;

    Onde a mente guiada por Ti para o pensamento e a ao sempre mais amplos;

    Neste cu de liberdade, meu Pai, permita que minha ptria desperte!

    Rabindranath Tagore

  • v

    Agradecimentos

    Ao meu orientador Marcio Matias pela ateno, pacincia e confiana de sempre.

    Expresso a ele minha gratido pela amizade e pelos sbios conselhos oferecidos, desde os

    tempos de graduao, motivando as minhas escolhas e me oferecendo diversas

    oportunidades de crescimento profissional.

    Aos professores e funcionrios do Programa de Ps Graduao em Engenharia

    Eltrica do CEFET-MG, pela colaborao sempre oferecida. Fica um agradecimento

    especial Professora Patrcia Jota, pelo amparo oferecido em um momento de muitas

    dvidas deste caminho; Professora rsula Resende, a quem muito admiro pela forma

    esclarecedora e atenciosa de ensinar e contribuir; e Rosimeire Rocha, pela ajuda e

    pacincia de sempre.

    A CAPES que concedeu apoio financeiro nesta pesquisa, no incio da jornada.

    Ao CEFET-MG, que desde sempre me ofereceu inumeradas oportunidades de vida.

    Aos amigos adquiridos ao longo dessa jornada, ficando um obrigado especial s

    queridas Ciby Rosa e Polyanna Pereira, as quais sempre foram uma amizade indispensvel.

    Ao meu pai Roberto Farah, por sempre fazer de tudo para que no me faltassem as

    condies essenciais. Condies que permitiram minha transformao em um homem

    melhor. Agradeo por ele sempre ter sabido empreender, de maneira peculiar e criativa, a

    sua luta frente a todas as adversidades.

    As minhas irms Deborah e Roberta Farah, pelo carinho e ateno especial.

    A Tainah Miranda e aos seus iluminados pais, Robson e Denise, que me ensinaram

    um novo olhar de vida, baseado nos sentimentos mais sublimes de amor e compaixo,

    juntamente de significados mais amplos de liberdade. Sem vocs, a tranquilidade para esta

    conquista no seria possvel.

    A Renata Garcia, que me deu apoio e amor imprescindveis para fazer deste e de

    outros sonhos possveis.

  • vi

    Resumo

    A crescente demanda por energia eltrica apresenta, na atualidade, inmeros

    desafios ao setor de transmisso de energia, requisitando sistemas que possam ser, ao

    mesmo tempo, menos onerosos, mais eficientes ao transporte de energia, e ainda, mais

    seguros queles que convivem em suas proximidades. Neste contexto, o estudo apurado

    dos campos eltricos e magnticos gerados pelas linhas de transmisso de grande

    relevncia, estando relacionado s possibilidades de melhoria operacional e reduo

    dos diversos impactos causados por estes sistemas. Embora as tcnicas numricas de

    simulao computacional ofeream um melhor suporte a estes estudos, frente s

    limitaes encontradas em modelos analticos usais, h ainda uma baixa

    empregabilidade das mesmas nesta classe de problemas. Este trabalho, assim,

    destinado aplicao do Mtodo dos Elementos Finitos na modelagem do campo

    eletromagntico quase esttico de linhas areas de transmisso. Perante aos inmeros

    desafios que tornam a tcnica pouco atraente na avaliao das linhas de transmisso,

    so aqui reunidas as melhores prticas de implementao, de modo a explorar

    detalhadamente aqueles aspectos relacionados preciso numrica e ao desempenho

    computacional das solues. De maneira a encorajar uma maior empregabilidade da

    tcnica nos sistemas de transmisso, so avaliados estudos de casos especficos, de

    maior complexidade. Nestes estudos, o Mtodo dos Elementos Finitos permite atingir

    resultados de grande interesse, quando em comparao as simplificaes postas pelos

    mtodos analticos comumente empregados.

    Palavras-chave: Linhas de Transmisso, Mtodo dos Elementos Finitos, Campos

    Eltricos Quase-Estticos, Campos Magnticos Quase-Estticos.

  • vii

    Abstract

    Currently, the growing of electricity demand presents new challenges to the

    power transmission sector, in order to develop new systems that can be, at the same

    time, more efficient for the energy transport, cheaper, and also, safer to the vicinity of

    these systems. In this context, the study of the electric and magnetic fields generated by

    power lines has great importance for its operational improvement and for the reduction

    of several existing impacts. Although numerical techniques could provide better support

    to these studies, compared with usual analytical models, that need to use some

    simplifications, they are still having a low employability in this class of problems. This

    research presents the numerical modeling to the quasi-static electromagnetic field of

    overhead transmission lines, based on the Finite Element Method. In order to encourage

    a greater use of this technique in power systems, this work presents the main aspects

    related with the computational implementation, focusing in numerical precision and

    improvement of performance of the results. Specific cases of studies are presented and

    show that this technique allows a more faithful representation of physical systems, with

    more fidelity and robustness than other methods commonly used.

    Key-words: Power Lines, Finite Element Method, Quase-Static Eletric Field,

    Quase-Static Magnetic Field

  • viii

    Sumrio

    Resumo ................................................................................................................................................ vi

    Abstract ............................................................................................................................................. vii

    Sumrio ............................................................................................................................................ viii

    Lista de Figuras ................................................................................................................................ xi

    Lista de Tabelas ..............................................................................................................................xiv

    Lista de Abreviaes ...................................................................................................................... xv

    Lista de Smbolos e Constantes ............................................................................................... xvii

    Captulo 1 Introduo ............................................................................................................... 20

    1.1. Contextualizao da Dissertao ............................................................................................... 20

    1.2. Objetivos .............................................................................................................................................. 25

    1.3. Organizao do Texto ..................................................................................................................... 26

    Captulo 2 Reviso Bibliogrfica ........................................................................................... 28

    2.1. Mtodos para Cmputo de Campos Eltricos e Magnticos em LTs ............................ 28

    2.2. Aplicao do Mtodo dos Elementos Finitos em Sistemas de Transmisso ............. 35

    2.3. Comparativo das Tcnicas de Cmputo .................................................................................. 38

    Captulo 3 Modelagem Eletromagntica de Linhas de Transmisso ........................ 40

    3.1. Linhas de Transmisso .................................................................................................................. 40

    3.2. Campos Eletromagnticos gerados por Linhas de Transmisso ................................... 42

    3.2.1. Equaes de Maxwell .............................................................................................................................. 42

    3.2.2. Formulao Clssica (ou Forte) dos Campos EM de uma LT .................................................. 44

    3.2.2.1. Campo Eltrico .................................................................................................................................. 44

    3.2.2.2. Campo Magntico ............................................................................................................................. 46

    3.2.2.3. Formulao Generalizada ............................................................................................................. 48

    3.2.3. Problema de Valor de Contorno ......................................................................................................... 49

    Captulo 4 Formulao dos Campos Eltricos e Magnticos pelo MEF .................... 53

    4.1. Forma Fraca pelo Mtodo de Resduos Ponderados .......................................................... 53

    4.1.1. Mtodo de Galerkin .................................................................................................................................. 55

    4.2. Discretizao em Elementos Finitos ......................................................................................... 57

  • ix

    4.2.1. Elemento Triangular de Primeira Ordem ....................................................................................... 59

    4.2.2. Elemento Triangular Subparamtrico de Segunda Ordem ..................................................... 61

    4.3. Contribuio Geral dos Elementos ............................................................................................ 67

    4.4. Condies de Contorno .................................................................................................................. 69

    4.4.1. Tratamento do Domnio Aberto ......................................................................................................... 70

    4.4.1.1. Truncamento ...................................................................................................................................... 71

    4.4.1.2. Strategic Dual Image ....................................................................................................................... 73

    4.4.1.3. Transformao Espacial Kelvin .................................................................................................. 74

    4.5. Soluo dos Sistemas Matriciais ................................................................................................. 81

    4.6. Estrutura Algortmica Implementada ...................................................................................... 82

    Captulo 5 Resultados ............................................................................................................... 83

    5.1. Introduo .......................................................................................................................................... 83

    5.2. Validao do Cmputo do Campo Eltrico ............................................................................. 84

    5.2.1. Anlise de Sensibilidade ........................................................................................................................ 91

    5.2.1.1. Considerao dos Cabos Para-Raios ......................................................................................... 92

    5.2.1.2. Refinamento da Malha de Elementos ...................................................................................... 96

    5.2.1.3. Tipo de Elementos .........................................................................................................................101

    5.2.1.4. Tratamento da Fronteira Fictcia .............................................................................................104

    5.3. Validao do Cmputo do Campo Magntico ..................................................................... 117

    5.4. Estudo de Casos ............................................................................................................................. 121

    5.4.1. Estudo de Linhas Naturais de Potncia Elevada ........................................................................121

    5.4.1.1. Caso 1: LT 500kV - Presidente Dutra / Fortaleza .............................................................122

    5.4.1.2. Caso 2: LT 500kV - Interligao Norte/Sul Trecho 2 ...................................................127

    5.4.2. Estudo da Influncia da Geometria em Condutores Reais .....................................................129

    5.4.2.1. Campo Eltrico Superficial em Condutores Reais ............................................................130

    5.4.3. Estudo de Efeitos da Resistividade do Solo .................................................................................136

    5.4.3.1. Anlise de Campo Eltrico ..........................................................................................................137

    5.4.3.2. Anlise de Campo Magntico .....................................................................................................144

    5.4.4. Estudo da Interao com Dutos Metlicos ...................................................................................149

    5.4.4.1. Caso 1: LT 138kV, padro CEMIG ............................................................................................149

    5.4.4.2. Caso 2: LT 275kV - Kuwait .........................................................................................................153

    Captulo 6 Concluso ............................................................................................................... 159

    6.1. Sntese e Principais Resultados ............................................................................................... 159

    6.2. Propostas de Continuidade ....................................................................................................... 164

  • x

    Apndice A Aspectos Qualitativos dos Campos Eletromagnticos das LTs ......... 167

    Apndice B Informaes e Desenvolvimentos Matemticos Auxiliares ............... 175

    Apndice C Estrutura do Algoritmo Computacional .................................................... 186

    Apndice D Resultados Grficos ......................................................................................... 190

    Apndice E Informaes Auxiliares aos Estudos de Casos ........................................ 197

    Apndice F Modelo Geral para Cmputo de Campo Magntico ............................... 204

    Referncias Bibliogrficas ....................................................................................................... 210

  • xi

    ListadeFiguras

    Figura 1.1 Potencial Hidreltrico Brasileiro por Bacias .................................................................................................... 21

    Figura 3.1 Componentes de Linhas de Transmisso .......................................................................................................... 40

    Figura 3.2 Detalhe para Componentes de Linhas de Transmisso .............................................................................. 41

    Figura 3.3 Domnio Genrico com Presena de Potenciais Eltricos .......................................................................... 45

    Figura 3.4 Domnio Genrico com Presena de Densidades de Corrente Transversais ..................................... 46

    Figura 3.5 Fronteiras Fictcias ao Entorno da LT ................................................................................................................. 49

    Figura 3.6 Problema de Valor de Contorno com Meios Fsicos Distintos ................................................................. 50

    Figura 4.1 Esquema representativo de modelagem e soluo via MEF ..................................................................... 53

    Figura 4.2 Domnio discretizado em vrios subdomos . ....................................................................................... 58 Figura 4.3 Elemento Triangular ................................................................................................................................................... 58

    Figura 4.4 Mapeamento do Triangulo de Segunda Ordem no Elemento de Referncia ..................................... 62

    Figura 4.5 Elemento Triangular Subparamtrico de Segunda Ordem......................................................................... 63

    Figura 4.6 Pontos de Integrao no Elemento de Referncia ......................................................................................... 66

    Figura 4.7 Truncamento de Fronteira Externa para Magnetosttica.......................................................................... 72

    Figura 4.8 Truncamento de Fronteira Externa em LTs ..................................................................................................... 72

    Figura 4.9 Transformao Espacial de Problemas Abertos em Problemas Fechados ......................................... 75

    Figura 4.10 Transformao Kelvin aplicada a LTs Domnio Inteiro ........................................................................ 75

    Figura 4.11 Transformao Kelvin aplicada a LTs com solo considerado CEP ...................................................... 79

    Figura 4.12 Transformao Kelvin aplicada na proximidade dos cabos condutores .......................................... 80

    Figura 4.13 Estrutura Algortmica Geral .................................................................................................................................. 82

    Figura 5.1 Configurao Geomtrica LT 500kV Furnas ................................................................................................. 84

    Figura 5.2 Malha de Elementos LT 500kV Furnas ........................................................................................................... 85

    Figura 5.3 Campo Eltrico ao Nvel do Solo (MEF x MIS) LT 500kV Furnas ........................................................ 86

    Figura 5.4 Distribuio de Potencial e Campo Eltrico ao Nvel do Solo LT 500kV Furnas .......................... 87

    Figura 5.5 Campo Eltrico Superfcial - Feixe A (MEF x MIS) LT 500kV Furnas ................................................ 88

    Figura 5.6 Distribuio de Potencial e Campo Eltrico para Regio dos Feixes LT 500kV Furnas ............ 89

    Figura 5.7 Distribuio de Potencial e Campo Eltrico para o Domnio Completo LT 500kV Furnas ...... 90

    Figura 5.8 Esparsidade do Sistema Matricial ......................................................................................................................... 91

    Figura 5.9 Malha de Elementos com cabos Para-Raios ..................................................................................................... 92

    Figura 5.10 Campo Eltrico ao Nvel do Solo Com e Sem Para Raios ........................................................................... 92

    Figura 5.11 Campo Eltrico Superfcial Com e Sem Para-Raios .................................................................................... 94

    Figura 5.12 Distribuio de Potencial e Campo Eltrico Com Para Raios .................................................................. 95

  • xii

    Figura 5.13 Campo Eltrico - Anlise de Sensibilidade por Nvel de Discretizao ............................................. 98

    Figura 5.14 Esforo Computacional por Nvel de Discretizao ................................................................................... 99

    Figura 5.15 Distribuio de Potencial Eltrico Anlise por Discretizao ......................................................... 100

    Figura 5.16 Anlise de Sensibilidade Por Tipo de Elementos ..................................................................................... 102

    Figura 5.17 Esforo Computacional Anlise de Sensibilidade Por Tipo de Elementos ................................ 103

    Figura 5.18 Malha de Elementos Anlise de Sensibilidade por Tratamento de Fronteira.......................... 106

    Figura 5.19 Campo Eltrico Superficial Condutor 1 / Feixe A Tratamento de Fronteira ........................ 108

    Figura 5.20 Campo Eltrico ao Nvel do Solo Anlise de Tratamento de Fronteira ....................................... 109

    Figura 5.21 Campo Eltrico Transformao Kelvin Prxima aos Condutores ................................................. 109

    Figura 5.22 Transformao Kelvin considerando solo como CEP ............................................................................. 114

    Figura 5.23 Transformao Kelvin considerando solo homogneo ......................................................................... 114

    Figura 5.24 Transformao Kelvin com solo CEP e fronteira prxima a condutores ....................................... 115

    Figura 5.25 Transformao Kelvin com solo homogneo e fronteira prxima a condutores ....................... 116

    Figura 5.26 Configurao Geomtrica LT 500kV 5 Hydro-Qubec ....................................................................... 117

    Figura 5.27 Malha de Elementos LT 500kV Hydro-Qubec ....................................................................................... 119

    Figura 5.28 Campo Magntico ao Nvel do Solo (MEF x Carson) LT 500kV Hydro-Qubec ........................ 119

    Figura 5.29 Distribuio de Potencial e Campo Magntico LT 500kV Hydro-Qubec .................................. 120

    Figura 5.30 LT 500kV - Presidente Dutra/Teresina/Sobral/Fortaleza .................................................................. 123

    Figura 5.31 Campo Eltrico Superficial Feixe A LPNE-FEX x LPNE ................................................................... 126

    Figura 5.32 Campo ao Nvel do Solo LPNE-FEX x LPNE ............................................................................................. 126

    Figura 5.33 Distribuio de Campos LPNE ....................................................................................................................... 127

    Figura 5.34 LT 500kV Interligao Norte-Sul Trecho 2 .......................................................................................... 128

    Figura 5.35 LT 500kV So Gonalo Ouro Preto........................................................................................................... 131

    Figura 5.36 Seo Transversal de Condutores Reais de Linhas Areas de Transmisso ................................ 131

    Figura 5.37 Malha de Elementos Condutor 1 Feixe de Fases B ............................................................................... 132

    Figura 5.38 Campo Eltrico Superficial Analise de Condutores Reais ................................................................. 132

    Figura 5.39 Campo Eltrico ao Nvel do Solo Analise de Condutores Reais ...................................................... 134

    Figura 5.40 Comportamento dos Campos Eltricos Superficiais nos Fios de Condutores Reais ................ 134

    Figura 5.41 Distribuio Espacial do Campo Eltrico em Condutores Reais ........................................................ 135

    Figura 5.42 LT 230kV circuito duplo - CTEEP .................................................................................................................... 137

    Figura 5.43 Anlise de Resistividade - Campo Eltrico a 1m do Nvel do Solo .................................................... 138

    Figura 5.44 Anlise de Resistividade - Potencial Eltrico a 1m do Nvel do Solo ............................................... 139

    Figura 5.45 Representao do Solo Estratificado .............................................................................................................. 141

    Figura 5.46 Anlise de Resistividade - Campo e Potencial Eltrico na Superfcie do Solo ............................. 142

    Figura 5.47 Anlise de Resistividade - Campo e Potencial Eltrico a Meio Metro do Solo ............................. 143

    Figura 5.48 Anlise de Resistividade - Campo Magntico - Modelo Esttico ....................................................... 145

    Figura 5.49 Anlise de Resistividade - Campo Magntico - Modelo Quase-Esttico ......................................... 146

    Figura 5.50 Distribuies de Densidades de Correntes pelo MEF ............................................................................. 147

    Figura 5.51 Anlise de Resistividade - Campo Magntico - Modelo de Solo Multicamadas........................... 148

  • xiii

    Figura 5.52 Anlise de Resistividade Distribuies de Campo Eltrico e Magntico .................................... 148

    Figura 5.53 LT 138kV circuito duplo - CEMIG .................................................................................................................... 150

    Figura 5.54 Campo Eltrico na Presena de Dutos - LT 138kV CEMIG ................................................................... 151

    Figura 5.55 Acoplamento Capacitivo na Presena de Dutos - LT 138kV CEMIG................................................. 152

    Figura 5.56 Campo Eltrico na Presena de Dutos - LT 275kV Kuwait .................................................................. 154

    Figura 5.57 Campo Eltrico Superficial do Duto - LT 275kV Kuwait ....................................................................... 155

    Figura 5.58 Constituio de Dutos Reais .............................................................................................................................. 156

    Figura 5.59 Distribuio de Campo Eltrico - LT 275kV Kuwait .............................................................................. 157

    Figura 5.60 Campo Magntico na Presena de Dutos - LT 275kV Kuwait ............................................................. 158

    Figura A.1 Representao Fasorial ........................................................................................................................................... 168

    Figura A.2 Campo Vetorial U Polarizado Elipticamente................................................................................................. 170

    Figura A.3 Condutores Suspensos Entre Torres com Altura de Solo Varivel ..................................................... 174

    Figura B.1 Elemento Triangular de Primeira Ordem ...................................................................................................... 177

    Figura B.2 Funes de Forma do Elemento Triangular de Primeira Ordem ........................................................ 179

    Figura B.3 Funes de Forma do Elemento Triangular de Segunda Ordem ......................................................... 181

    Figura C.1 Estrutura Algortmica Detalhada ....................................................................................................................... 189

    Figura D.1 Ajuste de Curva de Campo ao Nvel do Solo ................................................................................................. 191

    Figura D.2 Ajuste de Curva de Campo Superficial ............................................................................................................ 192

    Figura D.3 Campo Eltrico Superfcial (MEF x MIS) LT 500kV Furnas ................................................................ 194

    Figura D.4 Campo Eltrico Superfcial Com e Sem Para-Raios LT 500kV Furnas ........................................... 196

    Figura E.5 Condutores Reais de Linhas Areas de Transmisso - ACSR x TW.................................................... 202

    Figura E.6 Dutovias e Linhas de Transmisso .................................................................................................................... 203

  • xiv

    ListadeTabelas

    Tabela 3.1 Grandezas Generalizadas Associadas ao Cmputo dos Campos Eltricos e Magnticos ............ 48

    Tabela 4.1 Relao Entre Coornedandas Reais e Locais ................................................................................................... 62

    Tabela 4.2 Pontos de Integrao de Gauss no Elemento de Referncia ..................................................................... 66

    Tabela 5.1 Dados Geomtricos LT 500kV 4 Furnas ......................................................................................................... 84

    Tabela 5.2 Campo Eltrico ao Nvel do Solo (MEF x MIS) LT 500kV Furnas ........................................................ 86

    Tabela 5.3 Campo Eltrico Superfcial (MEF x MIS) ........................................................................................................... 89

    Tabela 5.4 Campo Eltrico ao Nvel do Solo Considerao de Cabos Para-Raios ............................................... 93

    Tabela 5.5 Campo Eltrico Superfcial Considerao de Cabos Para-Raios .......................................................... 94

    Tabela 5.6 Anlise de Sensibilidade por Refinamento de Malha................................................................................... 96

    Tabela 5.7 Esforo Computacional por Nvel de Discretizao e Funao Algortmica ........................................ 99

    Tabela 5.9 Anlise de Sensibilidade Tratamento de Fronteira Fictcia ............................................................... 110

    Tabela 5.10 Dados Geomtricos LT 500kV Hydro-Qubec ....................................................................................... 118

    Tabela 5.11 Campo Magntico ao Nvel do Solo (MEF x Carson) LT 500kV Hydro-Qubec ...................... 119

    Tabela 5.12 Dados Geomtricos LT 500kV Presidente Dutra-Fortaleza ............................................................ 124

    Tabela 5.13 Impedncia de Surto e Potncia Natural LPNE-FEX/LNPE (MEF x ATP) ................................. 124

    Tabela 5.14 Dados Geomtricos LT 500kV Interligao Norte-Sul ....................................................................... 128

    Tabela 5.15 Impedncia de Surto e Potncia Natural Linha Compacta/LNPE (MEF x ATP) ..................... 129

    Tabela 5.16 Dados Geomtricos LT 500kV 3 Condutores/Fase ............................................................................. 131

    Tabela 5.17 Campo Eltrico Superficial Analise de Condutores Reais ................................................................ 133

    Tabela 5.18 Campo Eltrico ao Nvel do Solo Analise de Condutores Reais ..................................................... 133

    Tabela 5.19 Dados Geomtricos LT 230kV 2 Condutores/Fase Circuito Duplo .............................................. 137

    Tabela 5.20 Anlise de Resistividade - Campo Eltrico a 1m do Nvel do Solo ................................................... 138

    Tabela 5.21 Dados Geomtricos LT 138kV Circuito Duplo - CEMIG ..................................................................... 150

    Tabela 5.22 Dados Geomtricos LT 275kV Circuito Duplo - Kuwait .................................................................... 153

  • xv

    ListadeAbreviaes

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ACSR Cabo de Alumnio com Alma de Ao

    ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica

    ATP/EMTP Alternative Transients Program/Eletromagnetic Transient Program

    BPA Bonneville Power Administration

    CA Corrente Alternada

    CC Corrente Contnua

    CEP Condutor Eltrico Perfeito

    CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Eltrica

    CHESF Companhia Hidroeltrica da Bacia do So Francisco

    CSR Compressed Sparse Row

    CTEEP Companhia de Transmisso de Energia Eltrica Paulista

    EDP Equao Diferencial Parcial

    ELETROBRAS Centrais Eltricas Brasileiras

    EPRI Electric Power Research Institute

    ICNIRP International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection

    IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers

    LNC Linhas No Convencionais

    LPNE Linha Natural de Potncia Elevada

    LPNE-FEX Linha Natural de Potncia Elevada por Feixes Expandidos

    LT Linha de Transmisso

    MATLAB MATrix LABoratory

    MDF Mtodo das Diferenas Finitas

    MEC Mtodo dos Elementos de Contorno

    MEF Mtodo dos Elementos Finitos

    MMQ Mtodo dos Mnimos Quadrados

    MoM Mtodo dos Momentos

  • xvi

    MSC Mtodo de Simulao de Cargas

    MSCS Mtodo de Simulao das Cargas Superficiais

    MSCS Mtodo de Simulao de Cargas Superficiais

    PVC Problema de Valor de Contorno

    RI Radio Interferncia

    RMS Valor Mdio Eficaz (Root Mean Square)

    SDI Strategic Dual Image

    SEP Sistema Eltrico de Potncia

    SIN Sistema Interligado Nacional

    TEM Onda Transversal Eletromagntica

    TW Cabo Compacto Trapezoidal (Traped-Wired)

    PSO Otimizao por Enxame de Partculas (Particle Swarm Optimization)

    SIL Potncia Natural (Surge Impedance Loading)

  • xvii

    ListadeSmboloseConstantes

    A Fasor Potencial Magntico [Ae]

    Az Componente Longitudinal de Potencial Magntico [Ae]

    B Fasor Densidade de Fluxo Magntico [T] B Vetor Densidade de Fluxo Magntico [T] B, B Componentes Direcionais de Dens. de Fluxo Magntico [T] H Fasor Campo Magntico [A/m]

    V Potencial Escalar Eltrico Complexo [V] Valor Mximo (Pico) de Potencial Eltrico [V] D Fasor Densidade de Fluxo Eltrico [C/m2]

    E Fasor Campo Eltrico [V/m] E Vetor Campo Eltrico [V/m] E, E Componentes Direcionais de Campo Eltrico [V/m] I Corrente Eltrica [A]

    J Fasor Densidade de Corrente de Conduo [A/m2]

    Jz Componente Longitudinal Densidade de Corrente [A/m2]

    Js Densidade de Corrente de Conduo [A/m2]

    Je Densidade de Corrente de Induzida [A/m2]

    k Fasor densidade linear de corrente [A/m]

    L Indutncia [H]

    C Capacitncia [F]

    Permissividade Eltrica [F/m]

    o Permissividade Eltrica do Espao Livre =10/36[F/m] r Permissividade Relativa

    Permeabilidade Magntica [H/m]

    o Permeabilidade Magntica do Espao Livre = 4 10 [H/m] r Permeabilidade Relativa

  • xviii

    Relutividade Magntica [m/ H] Condutividade Eltrica [S/m]

    Densidade de Carga Eltrica [C/m2]

    t Tempo [s] Frequncia [Hz] Frequncia Angular [rad/s]

    ngulo de Fase Caracterstico [rad]

    We Energia Associada ao Campo Eltrico [J]

    Wm Energia Associada ao Campo Magntico [J] !" Impedncia de Surto [] SIL Potncia Natural da Linha de Transmisso [W]

    e rea Elementar [m2]

    Ni Funes de Forma ou de Aproximao

    Wi Funes de Peso

    K Matriz de Contribuies Globais

    x, y Coordenadas Cartesianas Reais

    , Coordenadas Naturais

    Domnio de Estudo

    Fronteiras do Domnio

    1 Fronteiras de Dirrichlet

    2 Fronteiras de Neumann

    d Fronteiras de Interface entre Meios # Campo Vetorial Genrico U, U Componentes Direcionais do Campo Vetorial Genrico b Fonte ou Excitao do Campo Vetorial Genrico

    Funo Incgnita (Potencial Genrico Complexo)

    Parmetros associados s propriedades do meio %& Vetor unitrio de direo normal superfcie p Potencial imposto na Fronteira de Dirrichlet

    g Variao normal de potencial na Fronteira de Neumann '& Vetor unitrio na direo x (& Vetor unitrio na direo y

  • xix

    ) Vetor unitrio na direo z Operador produto escalar Operador produto vetorial Operador Nabla

  • 20

    Captulo 1 Introduo

    1.1. Contextualizao da Dissertao

    Nas ltimas dcadas os sistemas de transmisso eltrica vm enfrentando

    inmeros desafios e estmulos, os quais apontam para a necessidade de desenvolver

    novas tcnicas que propiciem tanto a otimizao operacional quanto a reduo de

    impactos diversos (econmicos, sociais e ambientais), porm, de uma forma confivel e

    a um baixo custo.

    Se por um lado o aumento da demanda de transmisso de energia sempre

    requisitado, uma vez que o crescimento econmico dos pases fica diretamente atrelado

    alta disponibilidade de energia, por outro lado, tambm crescente a necessidade de

    melhor utilizao dos recursos naturais disponveis. Isto, aliado s restries impostas

    pelas novas regulamentaes dos setores de energia, impe dificuldades que precisam

    ser balanceadas neste segmento.

    A utilizao racional da matriz energtica intimamente dependente de um

    adequado sistema de transmisso, o qual transporte a energia explorada de maneira

    eficiente (sem grandes perdas) at os grandes centros de consumo. Tal condio

    especialmente crtica e preponderante em pases de longa extenso territorial, os quais

    dependem de amplos sistemas de transmisso, necessrios confiabilidade da demanda

    energtica em todas as regies. No caso do Brasil, que dispe de recursos naturais

    limpos e renovveis no explorados em regies demasiadamente remotas dos grandes

    centros consumidores, o setor de transmisso acaba sendo uma parcela decisiva para a

    viabilizao da explorao de recursos. No entanto, tal setor ainda carece de

    perspectivas para sistemas de transmisso que possam ser, ao mesmo tempo, eficientes

    ao transporte de energia, e viveis do ponto de vista econmico (constituindo projetos

    pouco onerosos) e ecolgico (minimizando impactos de desmatamentos) (DART,

    JNIOR e ESMERALDO, 2005) (PORTELA, SILVA e ALVIM, 2007).

  • 21

    Isto destacado na figura (1.1), que demonstra as regies de maior potencial

    hidreltrico do pas (em azul escuro de 15 a 30 TW), juntamente com a representao

    grfica do percentual utilizado e daquele ainda disponvel (respectivamente, em amarelo

    e em verde), distinguidos pelas bacias hidrogrficas. claramente percebido o

    abundante potencial hidreltrico ainda disponvel nas bacias da regio amaznica, as

    quais esto relativamente distantes das regies de maior populao e industrializao,

    na regio sudeste; bem como isoladas das demais regies do pas, dificultando

    interligaes com o Sistema Interligado Nacional (SIN), que conecta o sistema de energia

    de todo o pas.

    Figura 1.1 Potencial Hidreltrico Brasileiro por Bacias

    (PORTELA, SILVA e ALVIM, 2007)

  • 22

    Para os sistemas de transmisso ainda residem outras preocupaes recentes, as

    quais dizem respeito necessidade de reduo de desmatamentos para a constituio

    das faixas de passagem e servido. Tais faixas so constitudas tanto para a manuteno

    operacional permanente dos sistemas de energia quanto para restringir as atividades e a

    circulao de pessoas aos seus arredores, uma vez que existe a possibilidade dos campos

    eltricos e magnticos gerados por estas linhas afetarem a sade humana, alm de

    interferirem sobre outros elementos alheios ao sistema eltrico, tais como: linhas de

    comunicao, linhas frreas, oleodutos, gasodutos, cercas, dentre outros (COSTA,

    RUEDA, et al., 2001), (PORTELA e TAVARES, 2002).

    Tais preocupaes tm gerado recentemente inmeras discusses entre

    governos, institutos de pesquisa e comunidades, culminando em normatizaes para o

    setor, tal como a resoluo normativa 398 da ANEEL de 2010, que regulamenta os

    procedimentos para que as concessionrias de energia eltrica realizem medies

    peridicas dos campos eltricos e magnticos gerados em todas as suas instalaes, e os

    quais devem estar dentro de limites mximos de referncia permitidos (MARCOS SILVA,

    2010).

    Para lidar com os casos acima citados, o uso de novos tipos de estruturas de

    transmisso no convencionais, compactas e de feixe expandido, em faixas de servido

    reduzidas, inexistentes, ou em meio de ambientes urbanos, se torna cada vez mais

    explorado. Muitos desenvolvimentos tm sido realizados nas ltimas dcadas,

    possibilitando a utilizao de novas configuraes de linhas de transmisso (LT) que

    permitam tanto a melhoria de eficincia na transmisso de energia, viabilizando

    tecnicamente os investimentos realizados em empreendimentos, como garantindo a

    segurana operacional atravs de um melhor ajuste do ambiente eletromagntico

    (PAGANOTTI, 2012).

    A investigao acerca destas novas possibilidades, tanto para a concepo de

    novas LTs, quanto para a recapacitao ou readequao a baixo custo das linhas

    existentes, necessita da anlise detalhada acerca das distribuies de campos eltricos e

    magnticos gerados ao entorno destes sistemas. Estes campos esto intimamente

    relacionados ao estudo de perdas ao longo do processo de transmisso, tambm

    precisando ser adequadamente enquadrados em nveis de intensidade estabelecidos

    pelas normas regulamentadoras.

  • 23

    No entanto, o cmputo de campos eltricos e magnticos nem sempre trivial,

    pois o emprego de mtodos analticos mais usuais fica limitado somente s geometrias

    de linhas tradicionais, encontrando dificuldades para aplicao em configuraes

    complexas, que exploram os arranjos de subcondutores de forma assimtrica (IEEE

    WORKING GROUP, 1979) (PAGANOTTI, 2012). Estes ainda so limitados para analisar

    situaes mais reais nas quais necessrio considerar a influncia de outros aspectos da

    linha, tais como: a geometria real dos cabos; a influncia de estruturas suportes dos

    condutores; a considerao da presena de objetos de interferncia na faixa de

    passagem, como vegetao ou dutos metlicos, os quais podem afetar e serem afetados

    pelos campos originais da linha (GIUDICE FILHO, 2005) (SILVA FILHO, 2008).

    Dentre as tcnicas possveis de serem utilizadas na soluo de problemas de

    distribuio de campo eletromagntico, de maneira geral, visto que (MARCOS SILVA,

    2010):

    - Os modelos analticos, apesar de conferirem solues matemticas exatas,

    somente so aplicveis a uma gama muito pequena de problemas prticos.

    - Os modelos experimentais necessitam da construo de prottipos, sendo,

    portanto, onerosos, demorados e incertos. Os mesmos no permitem uma variao

    sistemtica de parmetros, dificultando a compreenso fsica dos fenmenos envolvidos.

    - Os modelos numricos permitem explorar solues aproximadas em uma maior

    diversidade de problemas prticos mais complexos, com erros razoveis do ponto de

    vista de engenharia.

    No contexto da pesquisa de campos eltricos e magnticos em LTs, a explorao

    de cenrios diferenciados atravs de mtodos numricos robustos, ante a utilizao dos

    modelos analticos e experimentais usuais, se faz assim atraente, podendo propiciar uma

    investigao de possibilidades mais ampla, com configuraes de linha menos

    conservadoras.

    Este trabalho realiza a aplicao do Mtodo dos Elementos Finitos (MEF) em

    problemas de cmputo de campo eletromagntico em linhas de transmisso. O MEF

    uma das tcnicas numricas mais eficazes e populares, utilizadas para simulao

    computacional, sendo aplicada em diversos problemas de engenharia devido facilidade

    de lidar com estruturas de grande complexidade geomtrica, na presena de meios

    fsicos diversos e at mesmo no lineares (JIN, 2002).

  • 24

    Embora este mtodo demonstre grande versatilidade, relativamente poucos so

    os estudos encontrados na literatura destinando a sua aplicao em sistemas eltricos

    de potncia (SEP), cuja operao realizada em baixas frequncias (50/60 Hz), uma vez

    que, para a maioria das questes e problemas clssicos, existem solues dadas por

    mtodos analticos menos complexos e os quais necessitam de menor aparato

    computacional. Isto pode ofuscar possibilidades de novos tratamentos, mais atraentes,

    em questes mais desafiadoras.

    Ainda, dos estudos mais recentes possveis de serem encontrados abrangendo a

    aplicao numrica em SEP, estes comumente utilizam, em sua maioria, aplicaes dadas

    atravs de pacotes de softwares comerciais, os quais, apesar de terem utilizao fcil e

    atraente, via interfaces grficas, apresentam a desvantagem de no esclarecerem muitos

    dos detalhes dos modelos implementados. Tal fato inibe a arguio de possveis

    melhoramentos na metodologia de clculo numrico, impedindo novos

    desenvolvimentos de carter cientfico, com anlises de erros mais apuradas, bem como

    a expanso desses mtodos numricos para a aplicao em outros casos derivados.

    Para o estudo especfico dos sistemas de transmisso, recaem algumas

    dificuldades especficas de aplicao do MEF, devido a necessidade de considerar um

    amplo domnio de estudos, sem existncia de fronteiras delimitadoras reais, e com alta

    diferena de escala entre os elementos de anlise (quando comparado o pequeno

    tamanho das bitolas dos condutores em relao s dimenses das torres e do domnio).

    Tais caractersticas acarretam, principalmente, na necessidade de um alto tempo para a

    soluo computacional dos problemas, alm de causar erros de instabilidades numricas

    nos resultados, deixando o MEF pouco favorvel e atraente, nesta classe de problemas.

    Fica assim evidente a necessidade de realizar um estudo orientativo mais

    apurado para aplicao da tcnica em sistemas de transmisso, de modo a indicar as

    melhores prticas de implementao computacional, ao mesmo tempo em que possa

    enaltecer outras potencialidades oferecidas, como o favorecimento da qualidade dos

    resultados e a melhoria de interpretao dos sistemas fsicos reais, uma vez no

    havendo necessidades de assumir simplificaes nas anlises.

  • 25

    1.2. Objetivos

    Este trabalho tem como objetivo geral estudar o emprego do Mtodo de

    Elementos Finitos na determinao das intensidades de campo eltrico e magntico no

    entorno de linhas de transmisso trifsicas reais, operando em regime permanente, em

    baixas frequncias. Assim, so apuradas formas de tornar a utilizao do MEF mais

    atraente nesta classe de problemas, frente s diversas dificuldades existentes, agregando

    contribuio para a soluo de problemas de maior complexidade.

    So considerados objetivos especficos:

    - realizar uma reviso bibliogrfica sobre o uso de mtodos numricos, com foco

    no MEF, em sistemas de transmisso eltrica;

    - agregar de maneira didtica os passos necessrios para a modelagem dos

    campos eltricos e magnticos em LTs atravs do MEF;

    - explorar diferentes possibilidades na modelagem pelo MEF, de forma a verificar

    as dependncias e as melhorias na qualidade das solues, tanto em relao exatido

    numrica, quanto em relao ao tempo computacional, tornando a utilizao prtica do

    mtodo mais palpvel e atraente;

    - realizar uma discusso a respeito do tratamento de domnios abertos pelo MEF,

    uma vez sendo tal assunto escasso e pouco explorado na literatura;

    - comparar os resultados obtidos com aqueles de outras abordagens analticas ou

    numricas disponveis;

    - validar alguma das simplificaes comumente assumidas por modelos

    analticos, atravs da simulao de cenrios pelo MEF;

    - realizar aplicaes para situaes mais complexas, cuja utilizao de um modelo

    numrico mais robusto seja mais adequada, ante ao emprego das tcnicas analticas ou

    semi-analticas usuais;

    Atravs desses objetivos estabelecidos, elaborada uma ferramenta

    computacional, utilizando o software MATLAB, pela qual possvel realizar o cmputo

    e a representao grfica bidimensional dos nveis de campo eltrico e magntico em

    LTs com configuraes geomtricas quaisquer, e ainda com possibilidades de se

    considerar: a geometria real dos condutores da linha, representao de modelos de solos

    estratificados, a presena de objetos no domnio de estudo, dentre outros.

  • 26

    Assim, tal estudo pode constituir a base de um sistema computacional maior e

    mais complexo, a continuar em desenvolvimento, destinado tanto otimizao de linhas

    de transmisses reais, quanto anlise prtica de interferncia destas linhas em

    sistemas diversificados (biolgicos ou no).

    1.3. Organizao do Texto

    Este trabalho est organizado em 6 captulos, incluindo este captulo

    introdutrio, o qual situou o contexto do trabalho, expondo a importncia do tema

    abordado e os objetivos da presente pesquisa.

    O captulo 2 apresenta uma reviso bibliogrfica a respeito do clculo dos campos

    eltricos e magnticos gerados nos sistemas areos de transmisso de energia;

    primeiramente de maneira geral, demonstrando a evoluo histrica das tcnicas

    aplicadas, e posteriormente, com foco especfico na aplicao do MEF.

    O captulo 3 aborda a modelagem matemtica dos campos eltricos e magnticos

    em LTs. O modelo clssico para esses campos desenvolvido a partir das equaes de

    Maxwell, atravs das quais so derivadas as equaes de Poisson, aqui aplicadas aos

    fenmenos quase estticos. Por fim, o problema de cmputo desses campos colocado

    sob a forma de um problema de valor de contorno (PVC) generalizado.

    O captulo 4 destinado aplicao do MEF na resoluo do PVC obtido. Para

    isso, a equao diferencial parcial (EDP) do PVC desenvolvida pelo mtodo de Galerkin,

    resultando em uma forma fraca passvel de soluo aproximada. discutida a

    discretizao de domnios de estudos bidimensionais, com a apresentao dos

    elementos triangulares de primeira e segunda ordem. Os desenvolvimentos algbricos

    para a interpolao de grandezas fsicas no interior destes elementos fornecida para a

    constituio de funes de forma. So abordadas tambm as condies de contorno, com

    importncia especial ao tratamento das fronteiras fictcias, as quais so impostas para a

    delimitao dos domnios abertos do problema. Mtodos diferentes so explorados para

    realizar este tratamento, dentre os quais: o truncamento, o Strategic Dual Image (SDI) e

    a Transformao Espacial Kelvin. Por fim, apresentada uma estrutura algortmica para

    a implementao computacional do mtodo atravs do software MATLAB.

  • 27

    O captulo 5 apresenta os resultados para a aplicao da modelagem proposta.

    Tais resultados so obtidos atravs de simulaes computacionais pelo programa

    desenvolvido. O modelo numrico validado atravs da aplicao em linhas reais,

    comparando os resultados gerados com outros encontrados na literatura, e dados

    atravs de outras metodologias de clculo. So realizadas anlises de sensibilidade, de

    forma a demonstrar influncias que afetam a eficcia dos resultados e a eficincia

    computacional. Por fim so analisados alguns casos de aplicao, acrescentando

    relevncia ao estudo, sendo estes:

    - anlises de linhas no convencionais, com distribuio de feixes em

    configuraes geomtricas assimtricas, e destinadas ao transporte mais eficiente de

    energia;

    - anlise do campo eltrico superficial em condutores de formatos geomtricos

    reais;

    - anlise em modelos de solo diferenciados (homogneos e estratificados), sem

    assumir os mesmos como condutores eltricos perfeitos (CEP);

    - anlise de interferncias eltricas em dutos metlicos presentes na faixa de

    passagem;

    O ltimo captulo sintetiza os principais resultados obtidos, confrontando-os aos

    objetivos inicialmente propostos. Tambm so indicadas possibilidades de continuidade

    desta pesquisa para a realizao de futuros trabalhos.

  • 28

    Captulo 2 Reviso Bibliogrfica

    2.1. Mtodos para Cmputo de Campos Eltricos e Magnticos em Linhas de Transmisso

    O clculo das distribuies de campos eltricos e magnticos ao redor de LTs

    operando em regime permanente no uma atividade de interesse recente. Desde a

    dcada de 60, com a crescente utilizao de sistemas de energia em extra alta tenso

    (230 a 750 kV), surge a necessidade de desenvolver tcnicas apuradas, destinadas ao

    clculo e medio fsica desses campos. Desta maneira, as influncias geradas sobre os

    objetos e pessoas presentes nas proximidades das LTs podiam ser mais bem avaliadas,

    precavendo possibilidades de danos e prejuzos (DENO e ZAFFANELLA, 1982).

    Assim, na dcada de 70, institutos e empresas relacionadas ao segmento de

    energia (dentre os quais EPRI, IEEE, BPA) desenvolveram diversos projetos de pesquisa

    com o objetivo especfico de definir procedimentos claros para a medio e para o

    clculo desses campos, estipulando valores de segurana para a intensidade mxima de

    exposio ao nvel do solo. Alguns trabalhos que sintetizam resultados destes projetos

    so: (DENO, 1976), (BRACKEN, 1976), (TELL, NELSON, et al., 1977), (IEEE WORKING

    GROUP, 1978), (DENO e ZAFFANELLA, 1982).

    O surgimento de trabalhos epidemiolgicos (WETHEIMER e LEEPER, 1979),

    (FULTON, COBB, et al., 1980) sugerindo a ocorrncia de casos de leucemia infantil e

    cncer cerebral para residentes das proximidades das LTs, bem como para

    trabalhadores de manuteno dos sistemas eltricos, reforaram a necessidade de

    estudar e desenvolver estas tcnicas (ICNIRP, 1998).

    Historicamente, o cmputo de campos eletromagnticos gerados pelas tenses e

    correntes variveis dos sistemas de transmisso realizado atravs de mtodos

    analticos. Tais mtodos so tomados diretamente das equaes de Maxwell, a partir das

    consideraes da quase-esttica e do desacoplamento dos campos eltricos e

    magnticos existentes. Assim, todos os condutores existentes so analisados, de modo a

  • 29

    determinar a contribuio dada ao valor dos campos vetoriais em um determinado

    ponto do espao. O valor final de campo assim tomado a partir do princpio da

    superposio (OLSEN e WONG, 1992), (GUIMARES, 2005).

    O clculo dos campos eltricos realizado a partir da Lei de Gauss,

    posteriormente quantificao das cargas nos condutores, que so obtidas em funo

    dos valores de tenso aplicada em cada condutor e dos coeficientes potenciais de

    Maxwell (cujos termos so dependentes dos posicionamentos e distncias entre

    condutores). As cargas em cada condutor so tidas como distribuies uniformes.

    Devido necessidade de considerar os efeitos da presena do solo, o mtodo das

    imagens tambm aplicado. Ento, as contribuies dos campos respectivos aos

    condutores e s suas imagens no plano do solo so sobrepostas, quantificando o campo

    eltrico total em um determinado local. A aplicao destes procedimentos pode ser

    obtida mais detalhadamente em diversos trabalhos, antigos e recentes, dentre os quais

    (ADAMS, 1955), (HUNT, 1976), (HART e MARINO, 1977), (WIGDOR, 1980),

    (GUIMARES, 2005), (PERRO, 2007), (TZINEVRAKIS, TSANAKAS e MIMOS, 2008).

    Por sua vez, a obteno do campo magntico realizada diretamente a partir da

    Lei de Biot-Savart. Nesta, a densidade de fluxo magntico, respectiva a cada condutor,

    calculada em funo das correntes eltricas e das distncias at o ponto de interesse,

    sendo ento combinadas (vetorialmente somadas). Os seguintes trabalhos fornecem

    algumas aplicaes deste procedimento: (OLSEN, DENO e BAISHIKI, 1988), (IYYUNI e

    SEBO, 1990), (YANG e DAWALIBI, 2002), (MARCOS SILVA, 2010), (ASSIS, COUTINHO, et

    al., 2011).

    Ambas as metodologias analticas acima citadas requisitam a simplificao da

    geometria das linhas. Assim, o solo considerado como sendo um plano condutor

    eltrico perfeito (CEP) de extenso infinita; os condutores so tidos lineares, paralelos

    entre si, e situados a uma altura fixa; a influncia das estruturas suportes ou de outros

    objetos existentes desprezada; e a contribuio de correntes de retorno pelo solo so

    tambm negligenciadas (DENO, 1976) (BRACKEN, 2010). Embora tais condies de

    simplificao no ocorram em linhas reais existindo, dentre outros fatores, a vibrao

    dos condutores, a presena de vegetao e variaes de topografia do terreno a

    validade dos clculos utilizando estes pressupostos tm resultados satisfatrios, quando

    comparado aos resultados das medies fsicas (GUIMARES, 2005). Ainda, estas

  • 30

    abordagens so normalmente utilizadas para estimar os campos em condies de pior

    caso (situaes de tenso e corrente mxima, computadas no ponto de altura mnima

    dos condutores). Assim as avaliaes dos campos so tidas com uma margem de

    tolerncia adequada aos valores reais encontrados, em comparao com exigncias

    dadas por regulamentaes (BRACKEN, 2010). Logo, do ponto de vista de engenharia,

    em diversas aplicaes, os erros obtidos pelas abordagens dadas so irrelevantes.

    A existncia de outras situaes de interesse prtico, cujos mtodos citados no

    so satisfatrios ou mesmo aplicveis, motivaram o aperfeioamento e a derivao em

    outras tcnicas mais adequadas.

    Para o campo eltrico, quando na avaliao das regies mais prximas

    superfcie dos condutores ou em configuraes de linhas mais complexas, com feixes

    expandidos em mltiplos subcondutores, as distribuies de cargas necessitam de

    aproximaes mais condizentes, uma vez no sendo suficiente admitir distribuies

    uniformes e filamentares de cargas no interior dos condutores. Esta deficincia conduziu

    ao desenvolvimento das seguintes tcnicas, ainda nas dcadas de 60-70: o Mtodo de

    Markt e Mengele, o Mtodo das Imagens Sucessivas (MIS), o Mtodo de Simulao de

    Cargas (MSC), e o Mtodo de Simulao de Cargas Superficiais (MSCS).

    Todas estas tcnicas operam atravs de consideraes fsicas para,

    primeiramente, obter distribuies espaciais de cargas eltricas que possam produzir

    efeito aproximadamente equivalente s distribuies de cargas no uniformes reais

    existentes nos condutores da LT. Posteriormente, os campos eltricos so computados

    pelo mesmo modo analtico (por uso da Lei de Gauss e do mtodo das imagens). Por este

    motivo, tais tcnicas so denominadas semi-analticas.

    O Mtodo de Markt e Mengele (KING, 1963) (PAKALA e TAYLOR, 1968)

    aplicado atravs da simplificao dos sistemas de feixes de condutores, os quais so

    resumidos considerao de um nico condutor disposto na proximidade do centro dos

    feixes. A posio exata depende das distncias entre os todos os condutores do sistema.

    A densidade de cargas ento avaliada conforme o procedimento dos coeficientes

    potenciais de Maxwell, considerando apenas um nico condutor por feixe, a qual

    posteriormente dividida, de maneira igual, dentre todos os subcondutores existentes.

    Conforme (IEEE WORKING GROUP, 1979) e (LI, ROWLAND e SHULTLEWORTH, 2014),

    esta tcnica somente produz bons resultados para feixes simtricos com poucos

  • 31

    subcondutores (menor do que 4), para classes de tenses menores, e sendo a distncia

    entre os subcondutores dos feixes relativamente pequena em comparao com a

    distncia entre as fases.

    Suprindo as deficincias dadas pela simplicidade do mtodo anterior, o MIS

    (SARMA e JANISCHEWSKYJ, 1969) substitui sucessivamente as cargas em cada condutor

    por uma srie de cargas lineares equivalentes, as quais so posicionadas no interior do

    mesmo. Cada processo de imagem sucessiva guarda a equipotencial natural da

    superfcie de outro condutor do sistema. Assim, as distribuies de carga so dadas em

    funo do posicionamento dos vrios condutores do resto do sistema, e so localizadas

    de maneira a manter as superfcies equipotenciais de todos os condutores. Tal artifcio

    permite assim obter distribuies de campos eltricos no uniformes ao redor dos

    condutores. O trabalho de (PAGANOTTI, 2012) oferece uma boa reviso acerca deste

    mtodo, com aplicaes em linhas de feixes expandidos de diferentes configuraes,

    incluindo feixes assimtricos.

    Embora o MIS possa fornecer resultados satisfatrios para o campo eltrico

    superficial em configuraes de LTs diversificadas, tal mtodo realiza procedimentos

    iterativos para alocar as cargas no interior dos condutores, at produzir resultados

    satisfatrios, sendo ineficiente para a realizao de anlises em pontos de observao

    longe da linha, e no servindo para a considerao da presena de outros objetos no

    domnio de estudos. Sua aplicao , assim, mais adequada apenas para a anlise de

    campo eltrico superficial dos condutores (IEEE WORKING GROUP, 1979).

    A deficincia do MIS suplantada pelo MSC, que se tornou mais popular, sendo

    amplamente utilizado no clculo de campos eltricos desde meados da dcada de 70.

    Seu uso na anlise da distribuio de campo eltrico em componentes de isolamento de

    alta tenso bastante comum (LI, ROWLAND e SHULTLEWORTH, 2014).

    O MSC baseado na simulao da distribuio real das cargas eltricas

    superficiais dos condutores por um conjunto de cargas discretas colocadas em pontos do

    interior dos mesmos. Estas cargas discretas so ento calculadas de forma que os

    potenciais gerados em alguns pontos da superfcie dos condutores (pontos de

    amostragem) sejam iguais aos potenciais especificados para estes condutores (ASSIS,

    COUTINHO, et al., 2011). Alguns estudos aplicando o MSC em diferentes situaes so

  • 32

    (SINGER, STEINBIGLER e WEISS, 1974), (DENO e ZAFFANELLA, 1982), (MALIK, 1989),

    (SANTOS, SCHROEDER, et al., 2010) e (SALAMA, ABDELSATTAR e SHOUSH, 2012).

    Por fim, o MSCS uma tcnica semelhante ao MSC, mas cuja distribuio das

    cargas simuladas dada atravs da superfcie dos condutores, com maior flexibilidade

    para as formas de distribuio (que no MSC so resumidas a linhas de cargas

    filamentares uniformes) e, consequentemente, com maior liberdade para assumir as

    densidades de cargas em cada regio. Por conta disto, o MSCS mais geral do que o MSC,

    sendo aplicvel em uma gama maior de problemas (SATO, 1987), (LU, 2009), como por

    exemplo, em problemas de eletrodos finos com diferentes composies de materiais

    (ZHOU, 1993).

    Para o campo magntico, a principal limitao do modelo analtico descrito

    anteriormente reside na desconsiderao das correntes de retorno pelo solo. Mesmo

    que, em geral, estas correntes no influenciem significantemente os resultados de campo

    magntico acima da superfcie do solo, seu efeito sobre as impedncias de linha acaba

    sendo expressivo, sobretudo em fenmenos eletromagnticos de maior frequncia

    (ASSIS, COUTINHO, et al., 2011).

    A correo do modelo analtico pode assim ser adequadamente realizada atravs

    das equaes de Carson (CARSON, 1926). Nestas, a avaliao do campo magntico

    requer o clculo de integrais imprprias, que devem ser expandidas em uma srie

    infinita ou avaliadas utilizando mtodos de integrao numrica. Devido complexidade

    envolvida, muitos trabalhos tentaram obter aproximaes mais simples. Destes, o mais

    comum e empregado o de (DERI, TEVAN, et al., 1981), no qual proposto que o

    retorno de corrente atravs de um solo homogneo pode ser adequadamente

    representado atravs de um plano ideal colocado abaixo da superfcie do solo, a uma

    distncia igual profundidade de penetrao complexa das ondas planas geradas pela

    LT. Tal abordagem produz resultados praticamente equivalentes queles obtidos a

    partir dos termos de correo de Carson (GLOVER e SARMA, 2007). Alguns trabalhos

    que aplicam de maneira mais detalhada esta metodologia podem ser analisados atravs

    de (DENO e ZAFFANELLA, 1982), (IEEE WORKING GROUP, 1988), (PERRO, 2007),

    (MORA, M., et al., 2009), (VINTAN, MIHU e BORLEA, 2011) e (VIEIRA, 2013).

    Uma vez que as distribuies reais de correntes no interior dos condutores no

    so homogneas, em sistemas com mltiplos condutores ou ainda, quando analisando

  • 33

    pontos de interesse muito prximos aos condutores da LT, o clculo dos campos

    magnticos pode ser melhorado atravs do MSC. Assim a considerao de mltiplas

    correntes filamentares, simuladas no interior dos condutores, so dadas para produo

    de resultados mais coerentes (MARCOS SILVA, 2010).

    Embora os mtodos analticos e semi-analticos supracitados tenham se

    estabelecido como ferramentas robustas para o clculo de campos eltricos e

    magnticos em questes de interesse prtico das LTs, nas ltimas dcadas observado

    um crescente interesse pela utilizao dos mtodos numricos em problemas reais mais

    complexos.

    A partir da dcada de 80, com o rpido declnio no custo dos computadores e com

    o aumento dos recursos de memria e processamento, as simulaes computacionais

    por mtodos numricos tornaram vivel a soluo de problemas mais vastos, antes

    pouco palpveis, sem a necessidade de idealizaes. Em aplicaes industriais e

    cientficas, estas permitiram reduzir consideravelmente o tempo, os custos e os recursos

    de desenvolvimento (BRABO PEREIRA, 2009).

    Assim, em situaes complexas, envolvendo, por exemplo, a anlise

    tridimensional das LTs, com a interao dos campos eltricos e magnticos atravs de

    outros objetos existentes, tais como trilhos de trens, sistemas de comunicao ou dutos

    enterrados, os mtodos numricos recaem como uma ferramenta essencial de anlise,

    pois permitem buscar solues aproximadas diretamente, minimizando a necessidade

    de simplificao de geometrias e das condies fsicas existentes.

    Diferentes mtodos numricos tm sido utilizados para a anlise desses

    problemas, dentre os quais se destacam: o Mtodo dos Momentos (MoM); o Mtodo dos

    Elementos de Contorno (MEC); o Mtodo das Diferenas Finitas (MDF); e o Mtodo dos

    Elementos Finitos (MEF).

    O MoM e o MEC so mtodos de computao numrica destinados soluo de

    equaes diferenciais parciais lineares, formuladas em formato integral. Apesar de

    serem diferenciados por motivos histricos, o MoM pode ser englobado como um

    esquema particular do MEC (GIBSON, 2008). Para a aplicao em LTs, em ambos os

    mtodos, as fronteiras do problema (superfcies dos condutores) so divididas em

    elementos nos quais as densidades de cargas ou correntes so tidas como funes

    polinomiais de coeficientes desconhecidos. As equaes integrais de contorno

  • 34

    relacionadas aos potenciais e campos, eltricos ou magnticos, podem ento ser

    resumidas a sistemas algbricos que so ajustados de acordo com as condies de

    contorno existentes (potenciais ou correntes nos condutores e no solo). Finalmente,

    aps a soluo dos coeficientes desconhecidos, as equaes integrais podem ser

    novamente utilizadas para calcular, de forma numrica, a soluo em qualquer ponto do

    espao (MORITA, KUMAGAI e MAUTZ, 1990) (HARRINGTON, 1993).

    Em aplicao, o MSC pode ser considerado como uma verso simplificada do

    MoM (IEEE WORKING GROUP, 1979), envolvendo, no entanto, uma quantidade reduzida

    de equaes lineares, com menor custo computacional (FAIZ e OJAGHI, 2002). Assim,

    apesar dessas tcnicas terem suas primeiras aplicaes em LTs relativamente na mesma

    poca, na dcada de 70, isto justifica o fato do MSC ter se tornado mais popular do que o

    MoM. Alguns trabalhos com aplicaes para o MoM em problemas de cmputo de

    campos eltricos e magnticos em LTs podem ser consultados atravs de (SPIEGEL,

    1977), (SIMPSON e BRICE, 1987), (CHENG e CAO, 2000), (LIU, RUAN, et al., 2002), (YU,

    SHAN e DAI, 2007) e (TIH, TRKULJA e BERBEROVI, 2013). J para o MEC, os seguintes

    trabalhos podem ser consultados (GUTFLEISH, SINGER, et al., 1994), (KRAJEWSKI,

    1995), (EL-MAKKAWY, 2007), (SILVA FILHO, 2008), (SERTELLER, 2011) e (OLIVEIRA,

    2011).

    Enquanto o MEC e o MoM solucionam numericamente o problema dado atravs

    de seu formato integral, analisando apenas as fronteiras dos condutores, os demais

    mtodos numricos apontados, o MDF e o MEF, buscam a soluo atravs da sua forma

    diferencial, tratando grande parte do espao envolvendo a LT.

    O MDF consiste em admitir uma grade de ns no espao ao entorno dos

    condutores, nos quais a equao diferencial parcial do problema (equao de Poisson)

    aproximada por coeficientes de diferenas (diferenas finitas). Aps considerar as

    condies de contorno (potenciais conhecidos nos condutores e solo) no sistema

    algbrico obtido, os potenciais em todos os ns podem ser solucionados, e seus

    gradientes novamente aproximados por diferenas finitas para determinao dos

    campos eltricos ou magnticos em todo o domnio ao redor das linhas (SADIKU, 2001).

    Apesar do MDF ser a mais antiga dentre as tcnicas numricas indicadas, no

    tratamento de campos eltricos e magnticos em LTs a sua utilizao bastante escassa

    na literatura. A justificativa para isso que, uma vez sendo necessrio pelo mtodo

  • 35

    solucionar os potenciais de toda a regio espacial ao entorno dos condutores, e no

    somente nos locais desejados, a eficincia de soluo bastante baixa. Em comparao

    ao MEF, cuja eficincia de soluo equiparvel, o MDF tem maior dificuldade em

    considerar objetos com complexidades geomtricas ou compostos por materiais

    diferentes, sendo, portanto, preterido. Algumas aplicaes para o MDF so fornecidas

    atravs dos trabalhos de (ELHIRBAWY, NGUYEN, et al., 2002), (RAMLI, ABD-

    ALHAMEED, et al., 2011), (RAMLI, ABD-ALHAMEED, et al., 2013).

    Das tcnicas numricas indicadas, resta ainda apresentar o MEF, o qual tem seu

    histrico de aplicao em sistemas de transmisso evidenciado de maneira mais

    detalhada no prximo tpico, uma vez que este o mtodo tratado no restante do

    trabalho.

    2.2. Aplicao do Mtodo dos Elementos Finitos em Sistemas de Transmisso

    Dentre os mtodos empregados em simulao numrica, de maneira geral, o MEF

    tido como o mais popular, devido a sua versatilidade em lidar com problemas

    complexos de diversas naturezas, envolvendo meios fsicos com materiais no lineares e

    em domnios com maior complexidade geomtrica (JIN, 2002). No entanto, com exceo

    a sua utilizao para o designe de isoladores, tal como retrata (SILVA, OLIVEIRA, et al.,

    2013), em sistemas de transmisso a sua aplicao acanhada, comparativamente aos

    demais mtodos analticos e semi-analticos relatados.

    O MEF foi utilizado inicialmente no campo da anlise estrutural, motivado pela

    soluo de problemas da engenharia civil e aeronutica na dcada de 50, sendo aplicado

    em problemas eletromagnticos somente nos fins da dcada 60, com os trabalhos de

    (WINSLOW, 1965), relativo ao cmputo de campos magnetostticos, e de (SILVESTER,

    1969), aplicado modelagem de guias de ondas na presena de meios homogneos. O

    desafio de adequar o MEF s aplicaes quase-estticas aparece, inicialmente, na

    resoluo de problemas de mquinas eltricas (SILVESTER, CABAYAN e BROWNE,

    1973).

    At a dcada de 90, embora o MEF j tivesse se estabelecido como uma robusta

    ferramenta numrica para resoluo de problemas eletromagnticos de grande

  • 36

    complexidade, conforme contextualizado em (MESQUITA, 1990), comparativamente s

    outras possibilidades de aplicaes, poucos so os estudos encontrados na literatura

    sobre a utilizao prtica do MEF em problemas de cmputo de campo eltrico ou

    magntico em LTs.

    No estudo de (ANDERSEN, 1977) o clculo de potenciais eltricos complexos em

    alta tenso realizado pelo MEF. Em (TAKUMA, IKEDA e KAWAMOTO, 1981), efetuado

    o clculo da distribuio do campo eltrico e do fluxo de ons ao redor dos condutores de

    linhas de alta tenso mono e bipolar, em corrente contnua, sendo levada em

    considerao a incidncia de ventos. J o clculo de campos eltricos para o designe de

    isoladores encontrado no trabalho de (CROWLEY, HURWITZ, et al., 1985).

    A partir da dcada de 90, devido a maior disponibilidade dos recursos

    computacionais, o nmero de publicaes utilizando o MEF no estudo eletromagntico

    das LTs passa a ser maior, com a ocorrncia crescente de aplicaes.

    Assim, o uso do MEF no clculo dos campos eltricos e magnticos ao entorno de

    LTs de alta tenso em CA, operando em regime permanente e em baixas frequncias,

    pode ser encontrado em (HAMEYER, MERTENS e BELMANS, 1995), (PASARE, 2008 (1)),

    (PASARE, 2008 (2)) e (RAZAVIPOUR, JAHANGIRI e SADEGHIPOOR, 2012). Nos trabalhos

    de (HAMEYER, MERTENS e BELMANS, 1996) e (MARCOS SILVA, 2010) ainda realizado

    o cmputo tridimensional desses campos, atravs da composio de solues

    bidimensionais, em planos transversais da linha, segundo a catenria dos cabos. Em

    todos os trabalhos, os resultados de campo a uma altura de 1 metro do nvel do solo so

    validados atravs da comparao com outros mtodos analticos, ou ainda por meio de

    medies fsicas em linhas reais. Os estudos revelam boa preciso para os resultados

    alcanados pelo MEF, indicando que este pode ser til ao designe de LTs com diferentes

    configuraes geomtricas.

    Em (MATIAS e RAIZER, 1997), a anlise tridimensional do campo eltrico das

    LTs realizada atravs do clculo de potenciais escalares complexos, utilizando

    elementos tetradricos pelo MEF. Os resultados obtidos so validados atravs do MSC.

    Tal modelo ento utilizado para computar o campo eltrico em situaes de

    cruzamento de linhas de transmisso e de distribuio, ou ainda analisando a presena

    de residncias embaixo da linha. destacado neste trabalho que nenhum outro estudo

  • 37

    pde ser localizado na literatura, com resultados para situaes similares s analisadas,

    revelando potencialidades do MEF em novas aplicaes das LTs.

    Em (SATSIOS, LABRIDIS e DOKOPOULOS, 1998), pesquisado o campo

    magntico e a corrente induzida em gasodutos subterrneos paralelos s linhas de

    transmisso, com anlises para ocorrncias de curto-circuitos. O solo considerado a

    partir de modelos no homogneos. Os resultados demonstram que o MEF capaz de

    modelar problemas diversificados com maior facilidade.

    Em (MUFTI, AL-HAMOUZ e ABDEL-SALAM, 1999), o efeito corona em linhas de

    transmisso CC monopolares analisado pelo MEF. A variao da carga inica espacial e

    a densidade de corrente induzida no solo so tomados para avaliao dos perfis de

    campo eltrico. Os resultados obtidos so compatveis aos valores medidos

    experimentalmente, sendo o fluxo de carga por efeito corona menor do que aquele

    obtido por outros mtodos empricos, que consideram a carga inica espacial constante.

    Em (TRIANTAFYLLIDIS, PAPAGIANNIS e LABRIDIS, 1999), o MEF utilizado para

    calcular a matriz de impedncias de uma LT, considerando as irregularidades do solo e

    analisando a dependncia com a frequncia de operao. As variveis de campo so

    relacionadas com a matriz de impedncia das componentes simtricas da LT, e os

    resultados so comparados com aqueles obtidos atravs do software EMTP. A

    possibilidade de considerar modelos de solo mais realsticos e a adequada topografia

    dos terrenos, revela ser interessante ao estudo de transitrios eletromagnticos das LTs

    pelo MEF.

    Em (LU, FENG, et al., 2007), a anlise de cargas inicas ao redor dos condutores e

    os campos eltricos ao nvel do solo produzidos por LTs com feixes mltiplos de ultra

    alta tenso (>800 kV), em corrente contnua (HVDC), so analisados atravs do MEF.

    Este tipo de linha bastante atraente para transmisses de energia a longas distncias,

    sendo que os aspectos de eficincia e segurana da LT adequadamente avaliados e

    garantidos pelos resultados obtidos, para a configurao de linha avaliada.

    Dos ltimos desenvolvimentos disponveis na literatura para o MEF,

    apresentado um modelo de cmputo de campos eltricos e magnticos, o qual

    realizado diretamente atravs da equao de onda (equao de Helmholtz) nos

    trabalhos de (PAO-LA-OR, ISARAMONGKOLRAK e KULWORAWANICHPONG, 2008),

    (TUPSIE, ISARAMONGKOLRAK e PAO-LA-OR, 2009) e (DHANALAKSHMI, KALAIVANI e

  • 38

    SUBBURAJ, 2011). Tal modelo empregado, dentre outras aplicaes, para orientao

    das sequncias de fases na transposio das linhas, bem como na anlise dos campos

    eltricos e magnticos em situaes de curto-circuito. No fica claro pelos trabalhos

    como as consideraes de condio de contorno nos condutores tomada pela

    metodologia sugerida.

    2.3. Comparativo das Tcnicas de Cmputo

    Diante das diferentes possibilidades de tcnicas para a soluo dos campos

    eltricos e magnticos das LTs, necessrio empreender uma comparao entre as

    metodologias descritas.

    De modo geral, cada uma das tcnicas apresentadas tm caractersticas prprias,

    com vantagens e desvantagens inerentes. As tcnicas analticas e semi-analticas so

    conceitualmente mais simples, com implementao computacional eficiente (baixo

    tempo de processamento), mas ao mesmo tempo em que no so aplicveis ou

    conduzem a resultados no eficazes em um nmero maior de situaes mais complexas.

    As tcnicas numricas integrais permitem solucionar uma gama maior de casos, com

    razovel eficincia (mdio tempo) de soluo, e apenas tratando as fronteiras do

    domnio, enquanto que no so aplicveis no tratamento de problemas envolvendo

    composies de materiais mais complexos, no lineares. Por fim, as tcnicas numricas

    diferenciais tm maior facilidade de lidar com geometrias complexas, em uma

    diversidade ainda maior de problemas, porm com um custo computacional de soluo

    bastante ineficiente quando comparado aos demais mtodos. Assim, apenas com base

    nos detalhes dos problemas existentes, uma tcnica pode ser preferida, e mesmo ainda,

    ter possibilidades de soluo vivel (a mesma pode no ser aplicvel, ou pode no ser

    precisa quanto aos resultados, ou pode demandar um tempo muito grande de soluo).

    No presente trabalho o MEF escolhido devido necessidade de avaliar

    possibilidades para uma implementao computacional mais eficiente, atravs de

    estudos de sensibilidade mais apurados, sugerindo a utilizao da tcnica em situaes

    em que os mtodos analticos so impraticveis. Nenhum trabalho encontrado na

    literatura serviu a este intuito orientativo, ofuscando a viabilidade de aplicao prtica

  • 39

    do MEF no cmputo de campos eltricos e magnticos das LTs, uma vez que o mesmo se

    mostra dispendioso em relao ao tempo de processamento computacional, para

    apresentao de bons resultados, quando em comparao as demais tcnicas.

    importante frisar ainda que uma tendncia atual a de combinar duas tcnicas

    distintas, culminando em alternativas que possam ser ao mesmo tempo eficientes e

    eficazes, em casos de estudo mais complexos. Exemplos dessas possibilidades podem ser

    vistos entre o MDF e o MSC em (ABDEL-SALAM e EL-MOHANDES, 1989); entre o MEC e

    o MSC em (KRAJEWSKI, 1998) e (KRAJEWSKI, 2010); e tambm entre o MEF e o MSC

    atravs de (AL-HAMOUZ, 1998) e (LI, ROWLAND e SHULTLEWORTH, 2014).

  • 40

    Captulo 3 Modelagem Eletromagntica de Linhas de Transmisso

    3.1. Linhas de Transmisso

    As linhas de transmisso so elementos fundamentais do SEP, sendo

    responsveis pelo transporte de energia desde as usinas de gerao (usinas hidreltricas

    e termeltricas, dentre outras) at os centros de consumo, interligando o sistema

    eltrico de regies distintas e oferecendo confiabilidade ao fornecimento de energia.

    O desempenho e o comportamento eltrico de uma linha area de transmisso

    dependem de sua geometria e das caractersticas fsicas (portanto, tambm geogrficas)

    do meio no qual a mesma est inclusa (FUCHS, 1979). A figura (3.1) apresenta os

    principais itens componentes das LTs (feixe de condutores das fases, cabos para-raios,

    espaadores, cadeia de isoladores e torre), enquanto a figura (3.2) oferece uma viso

    detalhada a respeito de alguns destes componentes.

    Figura 3.1 Componentes de Linhas de Transmisso

    Linha de Transmisso 500KV, 4 Condutores por Fase, Adaptado de (FURNAS S.A.)

  • 41

    Figura 3.2 Detalhe para Componentes de Linhas de Transmisso

    (a) Cabo Condutor, (b) Espaador, (c) Cadeia de Isoladores (FURNAS S.A.)

    Os cabos condutores das fases constituem os elementos ativos das LTs. Estes so

    sustentados pelas estruturas das torres por meio de cadeias de isoladores, cuja funo

    a de manter os condutores suspensos e isolados eletricamente das estruturas suportes,

    principalmente durante a ocorrncia de sobretenses advindas de manobras de curta

    durao ou por ocorrncia de descargas atmosfricas, evitando assim dissipao da

    energia atravs das estruturas da linha.

    Em situaes onde se tem mais de um condutor por fase, existe a necessidade de

    utilizao de ferragens ou espaadores, conforme ilustra a figura (3.2b). Estes ditam o

    formato dos feixes de fase, mantendo certa distncia entre os subcondutores. Na parte

    superior das estruturas das LTs podem tambm estar localizados cabos para-raios, os

    quais se destinam a proteo dos condutores de fase contra a incidncia direta de

    descargas atmosfricas.

    Para o transporte de energia, nos sistemas de transmisso, o nvel de tenso

    necessita ser elevado por meio de transformadores nas subestaes. Isto reduz

    substancialmente a corrente de linha e proporciona a diminuio de perdas de energia,

    bem como, possibilita a reduo da seo de bitola dos cabos. A diminuio das bitolas

    dos cabos, por sua vez, responsvel por grande economia na construo das linhas,

  • 42

    devido diminuio dos esforos mecnicos sob as estruturas do sistema (FUCHS e

    ALMEIDA, 1982).

    As instalaes de transmisso de energia eltrica so fontes de campos eltricos e

    magnticos devido presena, respectivamente, de correntes e tenses eltricas

    operando em regime alternado senoidal. Portanto, o conhecimento dos nveis destes

    campos gerados um fator importante de sua modelagem, fornecendo informaes

    essenciais para a segurana das pessoas e equipamentos existentes em sua proximidade,

    bem como garantindo um bom desempenho do transporte de energia. Estes campos so

    entendidos e descritos atravs das equaes de Maxwell.

    3.2. Campos Eletromagnticos gerados por Linhas de Transmisso

    3.2.1. Equaes de Maxwell

    As Equaes de Maxwell constituem um conjunto de quatro leis fundamentais do

    eletromagnetismo, e as quais so apresentadas abaixo em sua forma diferencial,

    considerando campos harmnicos no tempo (HAYT JR. e BUCK, 2012):

    Lei de Faraday: . = j12 (3.1)

    Lei de Ampre: 3 = 4 + j16 (3.2)

    Lei de Gauss do Magnetismo: 2 = 0 (3.3)

    Lei de Gauss: 6 = 7 (3.4)

    Nestas equaes, todas as grandezas denotadas em negrito correspondem a

    quantidades fasoriais complexas, as quais so funes apenas da posio espacial. A lei

    de Faraday (3.1) descreve como densidades de fluxo magntico 2 produzem distribuies espaciais de campos eltricos .. A lei de Ampre (3.2) descreve como densidades de correntes de conduo 4 e densidades de fluxo eltrico 6 produzem distribuies espaciais de campos magnticos 3. A lei de Gauss do magnetismo (3.3)

  • 43

    afirma a no existncia de cargas ou monoplios magnticos, sendo o campo magntico

    caracterizado por um campo vetorial solenoidal. Por fim, a lei de Gauss (3.4) associa a

    densidade de fluxo eltrico s densidades espaciais de cargas eltricas 7 existentes. ainda percebido que as equaes (3.1) e (3.2) demonstram a interdependncia dos

    campos eltricos e magnticos, quando em suas formas harmnicas temporais.

    Para associar o comportamento dos campos eltricos e magnticos nos diferentes

    meios materiais, algumas relaes ainda so adicionadas. Assim, a condutividade

    eltrica 8, a permeabilidade 9 e a permissividade : dos meios influenciam, respectivamente, as densidades de corrente de conduo, e de fluxo magntico e eltrico

    conforme as seguintes relaes constitutivas, escritas para meios lineares, homogneos

    e isotrpicos (HAYT JR. e BUCK, 2012):

    4 = 8. (3.5)

    2 = 93 (3.6)

    6 = :. (3.7)

    Por fim, na fronteira entre dois materiais com caractersticas constitutivas

    diferentes, o comportamento do campo eletromagntico obedece s condies de

    interface (HAYT JR. e BUCK, 2012):

    n& (2= 2>) = 0 (3.8)

    n& (3= 3>) = @ (3.9)

    n& (4= 4>) = j18 (3.10)

    n& (.= .>) = 0 (3.11)

    Nestas equaes, os subscritos 1 e 2 identificam dois meios materiais distintos.

    A equao (3.8) estabelece a continuidade da componente normal das densidades de

    fluxo magntico na passagem entre os meios. Por sua vez, a equao (3.9) estabelece

    que, na presena de uma densidade linear de corrente @ sobre a interface de separao

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    entre os meios, as componentes tangenciais do campo magntico so descontnuas por

    essa mesma quantidade. A equao (3.10) equivalente equao de continuidade, a

    qual afirma a conservao de cargas na superfcie entre os dois meios. Por fim, a equao

    (3.11) estabelece a continuidade da componente tangencial campo eltrico na fronteira

    entre meios com propriedades constitutivas diferentes.

    A soluo das equaes de Maxwell, juntamente das relaes constitutivas e de

    interfaces, em cada problema especfico no trivial, devido necessidade de

    dese