cadmo - digitalis.uc.pt · seja da antiguidade pré-clássica seja da antiguidade clássica. alguns...

3
CADMO Revista de Historia Antiga Centro de História da Universidade de Lisboa 19 Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Upload: duongnhi

Post on 08-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CADMORevista de Historia Antiga

Centro de História da Universidade de Lisboa

19

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

CINEMA E HISTORIA ANTIGA. A PROPÓSITO DO FILME CLEOPATRA (1963) DE JOSEPH LEO MANKIEWICZ - I PARTE1

JOSÉ DAS CANDEIAS SALES

Universidade Aberta; Centro de História da Universidade de [email protected]

Resumo

O objecto central da reflexão apresentada é o filme Cleopatra (1963) de Joseph Leo Mankiewicz. Nesta I Parte é efectuada uma explanação teó- rica sobre as relações entre cinema e história antiga, exemplificada com os casos de algumas produções cinematográficas específicas, e traçada uma panorâmica alargada, desde 0 final do século XIX até aos 60 do século XX, sobre o cinema histórico referente à figura de Cleopatra.

Palavras-chave: Cinema; história antiga; Cleopatra.

Abstract

The Joseph Mankiewicz’s film, Cleopatra (1963), is the main object of reflection. In Part I is made a theoretical explanation about the correlation between cinema and ancient history, exemplified by some specific film pro- ductions, and is also made an extensive overview since the late nineteenth century up to the sixties in the twenty century about historical films centra- lized in the figure of Cleopatra.

Key words: Cinema; ancient history; Cleopatra.

131

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

JOSÉ DAS CANDEIAS SALES

Cinema e História Antiga

As décadas de 50 e de 60 do século XX podem considerar-se os anos dourados dos épicos de cariz histórico centrados na época antiga, seja da Antiguidade pré-clássica seja da Antiguidade clássica. Alguns dos filmes então produzidos figuram entre as obras-primas da sétima arte, tendo alguns deles sido nomeados e mesmo ganho Óscares da Academia em várias categorias. Talvez 0 caso mais paradigmático e conhecido seja 0 de Ben-Hur (1959), de William Wyler, com os onze Óscares que arrecadou, feito sem precedentes até então.

Como já tivemos ocasião de escrever em relação aos épicos bíbli- cos, a Bíblia como um todo (0 Antigo e o Novo Testamento) foi uma importante fonte de inspiração para muitas destas (re)criações cinema- tográficas. De facto, recriando ou procurando recriar os ambientes e contextos históricos da vida dos antigos Hebreus e demais povos anti- gos citados na Bíblia ou da vida de Cristo e dos primeiros cristãos e suas comunidades, estes filmes tentaram, através da imagem, uma lei- tura, raramente crítica porém, dessas antigas épocas e conjunturas®.

Paralelamente, centrados em figuras históricas de relevo ou em épocas particularmente apelativas para o enquadramento fílmico (nomea- damente no antigo Egipto ou em realidades civilizacionais afins), outros filmes «históricos» foram sendo produzidos por poderosos e dinâmicos estúdios e interpretados por hoje celebrizados actores e actrizes.

Filmados com as técnicas mais recentes ao dispor da indústria cinematográfica, em locais carregados de memória, história ou signifi- cado histórico (ex.: Palestina, Sinai, Egipto, Roma, etc.) ou em estúdios especialmente preparados para 0 efeito, com cenários e guarda-rou- pas magníficos, sumptuosos e arrebatadores, repletos de atmosferas exóticas e sensuais, com a participação de milhares de figurantes e conhecidos actores e actrizes da cena internacional nos principais pa- péis, com mais ou menos efeitos especiais, câmaras lentas ou acele- radas e sugestivas e expressivas bandas sonoras, os dramas e as «histórias antigas», com os seus diversos personagens, foram pas- sadas ao cinema e apresentados a milhões de espectadores por todo 0 mundo.

Estas superproduções, não obstante os seus colossais orçamen- tos e avançados meios técnicos (croma key, cinerama, cinemascope e technico/οή e artísticos, eram, quase todas, filmes «fáceis de ver» e «fáceis de seguir» (narrativas simples) - componentes maiores de uma eficácia comunicativa que prescindia do conhecimento aprofun-

132

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt