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NEGÓCIOS PRODUCÃO & ANO 1 - NÚMERO 4 RIO BRANCO, DOMINGO, 05.02.2012 Movimento comunitário no mapa dos pequenos negócios A história de quem começou com uma banquinha de bombons e se transformou em um dos maiores empresários do Acre Página 7 Múltiplos negócios, inúmeros desafios Páginas 4, 5 e 6

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Produção e negócios

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NEGÓCIOSPRODUCÃO

&

ANO 1 - NÚMERO 4RIO BRANCO, DOMINGO, 05.02.2012

Movimento comunitário no mapa dos pequenos negócios

A história de quem começou com uma banquinha de

bombons e se transformou em um dos maiores

empresários do Acre

Página 7

Múltiplos negócios, inúmeros desafios

Páginas 4, 5 e 6

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Rio Branco – AC, DOMINGO, 05.02.20122NEGÓCIOS

PRODUCÃO&

Uma publicação de responsabilidade de Rede de Comunicação da Floresta LTDAC.N.P.J. 06.226.994/0001-45, I.M. 1215590, I.E. 01.016.188/001-87

NEGÓCIOSPRODUCÃO

&

Textos, fotografias e demais criações intelectuais publicadas neste exemplar, não podem ser utilizados, reprodu-zidos, apropriados ou estocados em sistema de bancos de dados ou processo similar, em qualquer processo ou meio (mecânico, eletrônico, microfilmagem, fotocópia, gravações e outros), sem autorização escrita dos titulares dos direitos autorais.Não devolvemos originais, publicados ou não. IMPORTANTE - Matérias, colunas e artigos assinados, são de responsabilidade de seus autores e não traduzem necessariamente a opinião do jornal

Juracy Xangai

Cursos, palestras, treinamento e experiência me-dida pelo tempo

de permanência nos empre-gos são alguns dos itens que pesam na hora de uma empre-sa contratar trabalhadores. O crescimento econômico que acontece no Acre gera cada vez mais oportunidades de emprego, mas as pessoas pre-cisam estar preparadas para aproveitá-las.

Exemplo disso é a entra-da do Atacadão, empresa do “atacarejo” (atacado e varejo) integrante do grupo francês Carrefour, que juntos formam hoje a 34ª maior empresa do Brasil com 80 lojas. Elas ge-ram mais de 24 empregos no país, fora as da argentina, colômbia e outros países da América do Sul. A inaugura-ção de sua loja em Rio Branco está prevista para março ou abril deste ano, e para isso está oferecendo 300 empregos di-retos e seu funcionamento vai gerar outros 500 indiretos.

O processo de seleção de candidatos já começou, como esclarece o analista-coorde-nador de recursos humanos

Atacadão está gerando 300 empregosEmpresa ligada ao grupo francês Carrefour entrevista uma média de 30 candidatos a emprego por dia

O Plantec estará ofere-cendo neste ano cursos de Operador de empilhadeiras, Supervisor de vendas, De-corador de vitrines, Auxiliar Orçamentista da construção civil, Instalador hidráulico, Eletricista, Pedreiro, Babá, Panificação e massas, Mon-tagem e manutenção de mi-crocomputador, Armador

de ferro, Pintor de obra, As-sentador de esquadrias, Pe-dreiro revestidor (azulejista), Pedreiro, Operador de caixa, Informática básica, Mecâ-nico e eletricista de moto, Empreendedorismo, Recep-cionista/secretariado, Infor-mática, Lacticínio caseiro, Técnicas de vendas, Culi-nária regional, Qualidade

no atendimento ao cliente, Manipulação de alimentos, Cuidador de idosos, Orga-nização de eventos, Auxiliar administrativo e Técnico em contabilidade.

O estímulo a cadeias pro-dutivas específicas como piscicultura ou madeira e móveis também gerou no-vas necessidades de cursos

de especialização de cursos, tais como: Produção de em-butidos de peixe, que acon-tecerão em Bujari e Cruzeiro do Sul; Fabricação de ração e insumos para peixes em Rio Branco, Bujari e Cruzeiro do Sul. Já os equipamentos domésticos e os eletroeletrô-nicos geraram necessidades de cursos de Manutenção e

instalação de equipamentos de refrigeração e eletroele-trônicos em Feijó e Taraua-cá, onde também acontecerá um de operador de empilha-deira.

Já os cursos de Auxiliar de produção de Marcenaria acontecerão em Rio Branco, Sena Madureira e Cruzeiro do Sul.

CURSOS 2012

do Atacadão, Flávio Nunes. “Estamos realizando uma mé-dia de 50 a 60 entrevistas de candidatos a emprego todos os dias. Além disso, recebe-mos uma quantidade muito grande de currículos para ana-lisar. Notamos que as pessoas gostam de estudar, a maioria fez vários cursos. Muitos têm nível superior e alguma expe-riência, mas percebemos que tem pouca estabilidade no emprego e atuaram em ativi-

Tempo de permanência em empregos passados é critério importante na hora da contratação

dades muito diferentes, o que faz deles conhecedores super-ficiais de muita coisa, mas que não conhecem uma atividade mais a fundo”, diz Nunes.

Ele esclarece que a estabili-dade no trabalho e a experiên-cia são fatores que pesam na hora de a empresa selecionar um trabalhador. “O mais im-portante, porém, é a pessoa não mentir no currículo nem na entrevista, que seja ela mesma, demonstre vontade

de trabalhar e disposição de aprender, e nós cuidamos do resto. Nós do atacadão temos orgulho de dizer que cem por cento das nossas gerências é composta de pessoas forma-das na empresa. Esse proces-so é um benefício para quem gosta do que faz”.

A preocupação com o so-cial leva a empresa a não se conter na quota mínima de empregos a deficientes físicos. “O importante para nós é que

as pessoas demonstrem von-tade de trabalhar e disposição para aprender. Muitas funções são exercidas exclusivamente por deficientes físicos. Outras vagas são específicas para tra-balhadores com mais de 50 anos”, explica Nunes.

Nesse processo de aber-tura do Atacadão em Rio Branco, parte dos 300 que serão selecionados receberão treinamento aqui mesmo, e os demais serão treinados em outros estados. O treinamento e formação continuada fazem parte da política da empresa, que investe em quem se dedi-ca ao trabalho e quer crescer com a rede de lojas. Há muitos casos em que o atacadão paga metade da faculdade de seus empregados.

Flávio Nunes relata a di-ficuldade para encontrar profissionais operadores de empilhadeira, nutricionis-tas e pessoas com conheci-mento em hortaliças e frutas (hortifruti). “O importante é demonstramos respeito às pessoas nas entrevistas e exa-minamos com cuidado seus currículos. Nós arquivamos todos, mesmo dos que não estão sendo chamados”, afir-ma.

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Uma média de 85 pes-soas passa todos os dias pelo Serviço Nacional de Empregos (Sine-Acre) em busca de uma colocação no mercado de trabalho. Funcionando junto ao De-partamento de Mobilização pelo Emprego da Secretaria de Estado da Indústria, Co-mércio, Ciência e Tecnolo-gia (Sedict), o Sine é mais do a “porta da esperança” para quem sonha com um emprego: ele identifica ne-cessidades do mercado, as novas profissões que estão surgindo e oferece cursos para que as pessoas estejam em condições de ocupar es-sas funções.

“Trabalhando em parce-ria com instituições como a Fundação Bradesco, Insti-tuto Dom Moacir e o Ser-viço de Aprendizagem do Cooperativismo, OCB/Ses-coop, e todo o sistema “S” constituído pelo Sebrae, Sesc, Senai, Senac, Senar e Sest/Senat, preparamos

Precisa-se de trabalhadores

Empresas procuram trabalhadores qualificados e desempregados buscam o emprego tão sonhado, mas os dois lados sofrem com os desencontros

uma grade de cursos que es-tão oferecendo aos desem-pregados para que possam ser recolocados no mercado de trabalho ou conquistem seu primeiro emprego”, ex-plica Inácio Alves Moreira Neto, assessor de planeja-mento da Sedict, órgão que mantêm relacionamento di-reto com o Sine-Acre.

Os cursos são organi-zados dentro do Plano de Qualificação Territorial, o Plantec, criado para corrigir as chamadas distorções ter-ritoriais de conhecimento e qualificação profissional dos trabalhadores. O diferencial é que eles têm obrigação de co-locar no mercado de trabalho 70% dos treinados.

Já Jorgiane Moura, do De-partamento de Mobilização Para o Trabalho da Sedict, esclarece o seguinte: “Aten-demos uma média de 853 pessoas por dia, e a maioria está em busca de seu primei-ro emprego. Notamos que a busca por emprego de babá

e doméstica caiu muito. Ou-tro fator importante nessa mudança é a terceirização de serviços de faxina, vigilância e outros pelo poder público, o que gerou novas oportu-nidades de emprego. Neste momento estamos carrean-do uma média de 30 candi-datos a emprego para serem selecionados pelo Atacadão/Carrefour”, diz ela.

“Ter o ensino fundamental completo hoje é básico para conseguir um emprego, exi-ge-se segundo grau até para domésticas. Em São Paulo se oferecem cursos técnicos para domésticas e babás com salários superiores a R$ 1.500 por mês. Até as patroas rece-bem treinamento para saber gerenciar a casa e dar ordens sem desrespeitar as pessoas”.

Sempre alertaJorgiane esclarece que

um dos maiores proble-mas enfrentados pelo setor é a dificuldade para contatar os candidatos a emprego quando surge a tão esperada vaga. “As pessoas trocam seus te-lefones e mudam e-mail com muita facilidade, e isso é um problema para nós, que queremos ajudá--las. Para que as pessoas mantenham seu cadastro atualizado, basta acessar o site http://.maisempre-go.mte.gov.br”.

Você também pode contatar o Sine-Acre uti-lizando telefone gratui-to 0800-6478182, bem como o 3224-3622. Para se cadastrar deve ter à mão documentos origi-nais de identidade, CPF, comprovante de escolari-dade e o comprovante de endereço com CEP.

Sine é mais que uma porta de entrada para o mercado de trabalho

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PRODUCÃO&

A saga empresarial de Raiolando e seus múltiplos empreendimentos

Desde menino o senso de oportunidade fez de Raiolando um negociante que aprendeu a crescer junto com o Acre

Juracy Xangai

Da banquinha em que ven-dia bombons e cigarros aos

12 anos de idade, em Sena Madureira, às fazendas de gado e grãos, postos de com-bustíveis a maior indústria de produtos plásticos da Ama-zônia, a história de vida de Raiolando Costa de Oliveira, 55 anos, demonstra seu senso de oportunidade e capacida-de para solucionar problemas imprevistos.

Em Sena, Raiolando tam-bém montou seu primeiro posto de lavagem de carros, borracharia e um cinema. Mas essa história começa bem antes. Em 1902, quan-do o avô paterno Francisco Costa de Oliveira e a esposa Joaquina Xavier de Oliveira

vieram do Ceará na comitiva do coronel Siqueira de Mene-zes para abrir uma empresa às margens do Rio Iaco. O local serviria de ponto de apoio à ocupação dos seringais da-quela região, onde está hoje a cidade e o município de Sena Madureira, que logo fi-cou cheia de imigrantes sírio--libaneses que estimulavam o comércio.

Em pleno ciclo de ouro da borracha, isso a transformou na cidade mais importante do Acre. Os tempos áureos aca-baram, e o pai de Raiolando, Raimundo Costa de Oliveira, trabalhou como operário na construção da pista de pouso do aeroporto de Sena Madu-reira arrastando terra e areia amontoados sobre couros de boi puxados por juntas de animais, num tempo em que nem se sonhava com tratores.

Empreendedor ao modo de seu tempo, Raimundo Costa de Oliveira aplicou o dinheiro apurado com os car-retos nas obras da pista, para montar sua primeira loja de compra e venda de produtos vindos de navio para “aviar” os regatões. Com a quebra do sistema da borracha, ele per-cebeu, na falta de moradias, a oportunidade de iniciar a construção do primeiro con-junto habitacional às margens do igarapé Cafezal, na perife-ria da cidade de Sena Madu-reira, para onde migravam os seringueiros retirantes dos se-ringais desativados já na dé-cada de 60.

“Construiu 14 casas de pa-xiúba com cobertura de palha de jaci, e as vendeu aos serin-gueiros, manteve o comércio que minha mãe cuidava, mas animou-se com o ramo da

construção, organizou uma olaria e fazia os tijolos que assava na caieira e usava nas obras das 33 casas de alvena-ria que construiu. Adoeceu, teve de fazer uma operação,

mas faleceu por causa de um acidente durante sua recupe-ração da cirurgia, Deixou a esposa grávida, mais sete fi-lhos todos menores”, recorda Raiolando.

Sempre atento às novidades do mercado e seus produtos que levam a novas oportunidades

Máquinas pesadas tornam mais ágil a colheita de grãos e aumentam a produtividade por hectare plantado

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Empreendedorismo no sangue

O espírito negociante de Raiolando, que na época da morte de seu pai contava ape-nas 12 anos, aflorou ao ver as dificuldades da mãe. Ele então decidiu ajudar no orça-mento doméstico, montando uma banquinha para vender bombons e cigarros. “Cada filho ajudava como podia, no comércio, com o gado da colônia. Comecei vendendo bombons, logo montei uma borracharia em parceria com um amigo que também era menino, a primeira borracha-ria da cidade, ele era de famí-lia seringalista, foi estudar em Brasília, encerramos aquele negócio e resolvi montar um posto de lavagem de carros”, lembra.

Em meados dos anos 70 praticamente não existiam carros em Sena, então arruma-va muita roda de bicicleta, mas nunca tinha trocado um pneu de verdade. Até que chegaram uns caminhões carregando as máquinas para construir a usina de energia de Sena. “O motorista deixou um pneu pra eu consertar, comecei a bater e me assustei ao ver que o aro estava partido, quando o motorista chegou pra buscar , quatro horas depois, expliquei que tinha quebrado a roda, ele riu, então me mostrou como se fazia, aprendi, mas entendi que aquele não seria o meu negócio e mudei de ramo”, conta.

Raiolando montou o pri-meiro lavador de carros da cidade, onde só havia três caminhonetes, uma delas da prefeitura, que praticamente só circulava na cidade, mas o prefeito Remarques de Quei-roz mandava lavar de manhã e à tarde. “Nessa época o IBGE começou a chamar gente pra trabalhar no censo. Fui se-lecionado e com um amigo meu, nos deram o trecho do seringal Guanabara até o rio Macauã, em Sena Madureira, para recensear. Disseram para ir a Xapuri, contratar um carro pra nos levar até o Guanabara

e iniciar o trabalho. Lá desco-brimos que pela falta de con-servação, a estrada que tinha sido aberta pelo Jorge Kalume tinha samaúma com tronco de meio metro de grossura bem no meio de onde era a pista, então carro não andava. Con-tratamos duas mulas que nos levaram até uma colocação nos fundos do seringal Nova Olinda e ali começamos a re-censear, tomando carona no comboio. Quando chegamos ao Iaco compramos duas ca-noas e descemos no remo 45 dias, visitando as colocações. Um trabalho de doido, mas valeu a pena. Era 1977 e com o dinheiro montei um bar em Sena”.

Distribuidora de bebidas

A partir do bar ele criou uma distribuidora de bebidas, e para atender a freguesia foi a Porto Velho, de lá, por estrada, até Manaus, onde comprou uma carga de cerveja. Essa foi a primeira e última viagem com bebidas. O negócio das bebidas ia bem até Raiolando contratar um motorista vindo do Paraná que estava vivendo havia poucos dias na cidade. “Ele tinha um caminhão Mer-cedes cara chata, fomos pra Manaus e na volta ele e o ca-minhão foram presos porque descobriram que tinha rouba-do o caminhão no Paraná. A polícia entendeu que eu não tinha má-fé, mandou entregar a cerveja em Rio Branco, onde fiz um mau negócio vendendo para um comerciante que não me devolveu os engradados nem as garrafas”, conta o em-presário.

Loja das novidades

Em 1978 Raiolando ven-deu tudo que tinha e partiu para São Paulo e ao chegar lá se encantou com a quantida-de de brinquedos e objetos domésticos, um mundo pra-ticamente desconhecido para ele e para a população de Sena Madureira. “Eu tinha meu di-nheiro e um talão de 50 folhas

de cheques do Banacre, lotei dois caminhões de mercado-rias, e quando cheguei a Sena foi uma festa. Quando era criança eu nunca tive um brin-quedo, por isso é que fiquei tão encantado quando vi aqui-lo tudo em São Paulo. Pensei que aquelas pessoas também ficariam tão encantadas quan-to eu. Deu certo, vendi tudo muito rápido, cobri os che-ques e voltei pra São Paulo pra buscar mais. As mercado-rias vinham pela estrada até Rio Branco e subiam de barco pelo rio até Sena Madureira”.

Em 1984, Raiolando já estava muito bem de vida com seus negócios, mas uma compra feita em fevereiro só chegaria ao Acre em pleno período de vazante, quando a embarcação que trazia as mercadorias afundou no Rio Purus. “Perdi todo o dinheiro que tinha, fiz a ocorrência na polícia, entrei em contato com as lojas fornecedoras de São Paulo e eles me deram crédi-to, enviando mais mercadoria para que pudesse ir quitando os débitos. Assim recuperei

tudo, trabalhei desse modo até 1985, quando vendi tudo e vim para Rio Branco, onde montei outra loja”, lembra.

Fábrica de Papelim

Ainda em 82, ao ir fazer compras na loja dos Kassias Nahas, em São Paulo, Raiolan-do foi convidado para conhecer o Rio de Janeiro fazendo com-panhia a um cunhado do lojista que tinha acabado de chegar do Líbano, e concordou. No cami-nho pararam em uma gráfica, onde viu os funcionários cor-tando papel para fazer cigarro, interessou-se pelo produto, pe-gou telefone da fábrica de papel e já de volta a São Paulo com-prou, de segunda mão, uma gui-lhotina semiautomática da Catu. Isso daria origem à sua fábrica de papelim Oliveira, que che-gou a vender até 15 toneladas de papel por mês aos fumantes de tabaco do Acre, Rondônia e Amazonas.

Em 84 ele tinha montado um cinema em Sena Madu-reira. Na mesma semana em que inaugurou o novo em-Raiolando exibe com orgulho a plantação de grãos em sua fazenda

Diversificação dos negócios foi a opção de quem sempre ousou enfrentar novos desafios

preendimento, o governador Nabor Júnior montou uma antena parabólica na cidade pra transmitir a programação das televisões.

“Eu não botava fé naquilo”, recorda. “Pouco antes tinha ido a São Paulo e comprado uma daquelas antenas e não tinha funcionado, talvez por falta de sinal de satélite, mas a do go-verno funcionou, a Globo es-tava apresentando o filme Ala-dim e os Trapalhões, o mesmo que estava em cartaz no meu cinema. Trouxe depois o Dia Seguinte (Day after), não deu certo. Alguém me deu a dica de apresentar filme pornográfico, mandei vir o Garganta Profun-da, então a juíza da cidade fez plantão para impedir a entrada de menores, já um padre dizia que o cinema estava acabando com a moral da família. Vendi as máquinas do cinema para o Osmeth Duque, que as usou para recuperar o cine Recreio. O galpão foi vendido para ser distribuidora de bebidas. Com o dinheiro comprei uma casa no Bairro do Bosque, em Rio Branco”.

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PRODUCÃO&

Juracy Xangay

Para realizar o sonho de mon-tar a fábrica de plástico,

Raiolando vendeu o que era possível, além de dar o galpão e outros bens, entre eles a própria casa onde vi-via com a esposa no bairro do Bosque. Passou a tocar uma loja para bancar as despesas pessoais.

Com muito sacrifício, nascia a Acreplast, empresa que hoje gera 80 empregos diretos e fabrica sacos, sa-colas e outras embalagens plásticas, além de forros de PVC. Com as máqui-nas montadas no galpão, faltava capital de giro para comprar o polietileno, matéria-prima básica para a fabricação de produtos plásticos.

“Em 1990 vendi até a fábrica de papelim, mas já não tinha mais de onde tirar dinheiro. Então pro-curei o genro do Osmeth, que era meu amigo e geren-te do banco, que acreditou no negócio e me fez um empréstimo de emergência para comprar minha quota de 15 mil quilos de polie-tileno. Transformei tudo em saquinhos para sorve-te dindim, que estava na moda e que vendeu como água. Foi minha salvação. Em seguida iniciei a pro-dução de sacolas artesa-

Acreplast foi a aposta mais ousada de empresário acreano

nalmente. Até a pintura da marca das empresas era feita a mão, e aos poucos fomos comprando outras máquinas e diversificando a produção. Só em 1994 é que consegui-mos comprar a máquina que produzia as sacolas com im-pressão”, diz Raiolando.

Busca de incentivos

Voltando a 1992, Raio-lando lembra que o então recém-empossado governa-dor Edmundo Pinto visitou sua fábrica de plásticos e na ocasião, ouvindo seus apelos para criar mecanismos que

favorecessem a industrializa-ção do Acre, prometeu aju-dar quando voltasse de sua viagem a Brasília. “Edmun-do nunca mais voltou, mas seu vice, Romildo, que tinha participado da visita à fábrica, reafirmou o compromisso de ajudar e me disse para procu-rar o secretário de Fazenda da época, o qual marcou dia e hora, mas nunca me recebeu. Continuei trabalhando por conta e risco”, diz.

O Pior negócio

Naquele ano, Raiolando tinha comprado um conjun-to de máquinas e fôrmas para montar uma fábrica de espu-ma para fazer colchões e esto-fados no Acre. Sem incentivo, desistiu da ideia e vendeu tudo para um empresário de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, que em troca lhe repassou um fábrica de reciclagem de plásticos.

“A fábrica de reciclagem me interessava para reapro-veitar as aparas de plástico, mas foi o pior negócio que fiz na vida, aquilo me deu muita dor de cabeça. Logo apareceu uma ONG que propôs reali-

zar uma campanha piloto no Conjunto Tucumã com o tema Trocando Lixo Por Livro. Me perguntaram se receberia o lixo plástico, e aceitei. Com uma semana começaram a pesar para me cobrar, desistiram de cobrar, continuei recebendo. Fiquei com o depósito cheio de lixo que não podia proces-sar, então decidi queimar, levei uma multa e proibiram a reciclagem dizendo que poluía a água. Só cobravam, mas não davam nenhuma orientação”, diz.

Por fim, Raiolando deci-diu moer os resíduos plásti-cos, prensar e pagar o frete dos caminhões para levar o lixo para fora do Estado. “Parei com aquilo porque os resíduos estavam conta-minando a resina plástica e com isso causava problemas na fabricação dos sacos e sa-colas. Hoje tenho seis pes-soas trabalhando na recicla-gem. Reciclo mais de dez mil quilos de resíduos por mês, mas só da nossa fábrica em sistema de circuito fechado, ecologicamente correto, e que é um dos mais moder-nos do Brasil”, afirma.

Para montar o empreendimento, Raiolando precisou vender até a casa em que morava, no Bosque

De uma simples banca de bombos ao mais ousado dos empreendimentos da sua carrreira empresarial

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Tião Maia

“Vo c ê s s e -rão os nossos

olhos e os nossos guias para nos levarem até quem mais precisa”, disse a secretária--adjunta de Pequenos Ne-gócios, Sílvia Monteiro, du-rante reunião com dirigentes do movimento comunitário com atuação no Segundo Distrito de Rio Branco, no “Centro Cultural Dona Ne-ném Sombra”, bairro Quin-ze, ao abrir uma série de dis-cussões com presidentes e outros dirigentes de associa-ções de moradores. As dis-cussões visam definir, com a participação do movimento comunitário, quais os cur-sos profissionalizantes que devem ser proporcionados pela Secretaria de Estado de Pequenos Negócios (SEPN) nos bairros às pessoas de baixíssima ou de nenhuma renda. São cursos nas mais diversas áreas como de cos-tureiras, cabeleleiros, açou-gueiros, pedreiros, serralhei-ros, encanadores, mecânica de moto e bicicleta e outros que os líderes comunitários apontarem.

“Dispomos de recursos não só para financiar esses cursos como também para a aquisição dos equipamentos

Secretaria de Pequenos Negócios monta parcerias com movimento comunitário

Dirigentes de associações de moradores devem indicar as pessoas mais necessitadas para cursos profissionalizantes que vão resultar em novos empreendimentos

com os quais as pessoas vão trabalhar”, anunciou o secre-tário de Pequenos Negócios, José Carlos dos Reis, ao par-ticipar de outra reunião, no centro cultural do bairro das Placas, na Estrada Apolônio Sales, ao se reunir com ou-tro grupo de dirigentes de associações de moradores. Segundo ele, a SEPN dispõe, para 2012, de pelo menos R$ 5 milhões para este tipo de atividade, dos quais, R$ 1,5

milhão serão gastos com o financiamento dos cursos e o restante, na compra dos equipamentos.

“Por isso é importante que os senhores e as senho-ras nos auxiliem na listagem das pessoas que precisam fazer esses cursos”, disse José Carlos dos Reis. “Nós estamos trabalhando com os cadastros do governo, que apontam aquelas pessoas que vivem abaixo da linha de

pobreza. Mas o problema é que, em muitos bairros, há pessoas que, de tão excluí-das, não estão sequer dentro dos programas assistenciais do governo. Por isso precisa-mos do auxílio do movimen-to comunitário na indicação de quem são e onde estão essas pessoas”, disse.

De acordo com José Car-los dos Reis, a determinação do governador Tião Viana é para que, em 2012, sejam

criados, só em Rio Branco, pelo menos 1,5 mil novos negócios. No ano passado, quando a SEPN foi criada, o órgão conseguiu criar 1,2 mil negócios em todo o Es-tado. “Nossa meta é ousada. Temos, até 2014, o compro-misso de criar pelo menos cinco mil novos negócios. E os estudos apontam que, para atingir essa meta, nos-so trabalho passa, primeiro, pela qualificação das pessoas interessadas”, afirmou.

Na semana que passou, tanto José Carlos dos Reis como Sílvia Monteiro, acom-panhados de técnicos e asses-sores para a área de criação de novos negócios, se reuniram com dirigentes de pelo me-nos 30 bairros de Rio Branco. A ideia é estender as reuniões para todos os bairros.

Maria José Lopes Experiência na venda de bombos de chocolate de

porta em porta

Dirigentes de associações de bairros do Segundo Distrito de Rio Branco

Líderes do movimento comunitário com secretário José Carlos Reis e técnicos da Secretaria de Pequenos Negócios

Líderes comunitários manifestam apoio à iniciativaOs líderes do movimento

comunitário receberam bem as propostas da Secretaria de Esta-do de Pequenos Negócios. Em todas as reuniões, eles apontam quais as maiores demandas por cursos em seus bairros e sinali-zam os nomes das pessoas que devem participar. “Fiquei mui-to feliz com esta iniciativa por-que, além de valorizar o movi-mento comunitário, o governo está mostrando que trabalha com responsabilidade”, disse o presidente da Associação de Moradores do Bairro Taquari, Salim Manasfi da Silva. “Afinal, somos nós que vivemos nos bairros e que conhecemos de perto as pessoas e suas neces-sidades”, elogiou.

“Eu sobrevivi, quando es-tava desempregada, por mais de um ano, vendendo, de por-

ta em porta, bombons de cho-colate que eu mesmo fazia”, revelou a presidente da Asso-ciação de Moradores do bairro Bahia Nova, Maria José Lopes, durante uma das reuniões dos dirigentes da SEPN com diri-gentes do movimento comu-nitário dos bairros da localida-de conhecida como “Baixada do Sol”. “Por isso, eu acho que um curso sobre como fazer essas iguarias é uma boa inicia-tiva e vou incentivar para que as pessoas mais pobres que moram no meu bairro possam aprender e sobreviver como eu sobrevivo no momento mais difícil da minha vida”, afirmou.

“Cabo Oliveira”, presi-dente da Associação de Mo-radores do Tancredo Neves, também elogiou a iniciativa da

Secretaria de Pequenos Negó-cios em procurar os dirigentes do movimento comunitário para o estabelecimento dessas

parcerias. “Mesmo sendo uma secretaria nova, este setor do governo inspira muita con-fiança. A gente percebe que as

pessoas envolvidas nesta rela-ção estão de fato interessadas em ajudar a quem mais preci-sa”, disse.

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Rio Branco – AC, DOMINGO, 05.02.20128NEGÓCIOS

PRODUCÃO&

E x p E d i E n t E :Textos publicados nesta página são de responsabilidade da Assessoria de Comunicação do Sebrae no Acre Jornalista Responsável: Lula Melo MTB 015/90 - e-mail: [email protected]. Colaboradores: Juracy Xangai, Vanessa França e Evandro Souza. Sugestões, comentários e-mail para [email protected]. Central de atendimento: 0800-5700800

Quem tem conhecimentovai pra frente!

Juracy Xangai

Com um total de 7.399 empreen-dedores indivi-duais o Estado

do Acre vem se destacando no cadastro nacional de formali-zação de pequenos negócios considerado o maior progra-ma de inclusão social e finan-ceira já realizado no Brasil e que já começa a ser reprodu-zido em outros países. Den-tre os 7.399 empreendedores acreanos, 5.160 estão em Rio Branco, 760 em Cruzeiro do Sul e o restante distribuído pe-los 20 municípios.

O desempenho acreano foi elogiado pelo presidente Nacional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas, Sebrae, Luiz Barreto que destacou: “Mais de 2.500 pequenos empre-sários surgiram na cidade de Rio Branco nos últimos 12 meses. São Empreendedores individuais que formaliza-ram negócios como a venda de roupas, salões de beleza, pequenas lanchonetes e etc.” Barreto lembra que em janeiro de 2011, a capital tinha 2,6 mil empreendedores individuais e no fim do ano já ultrapassava os 5,1 mil, praticamente o do-bro do início do ano. “Supon-do que cada um fature os R$ 5 mil mensais previstos em lei, eles podem movimentar até R$ 300 milhões por ano”.

Impulso econômico

A posição de destaque é garantida por pessoas como Francisco Brito Correa, 31 proprietário da bicicletaria Ci-clo Correa que funciona no bairro da Vila Ivonete que es-

Empreendedorismo acreano é destaque nacional

Mais 2.500 empreendedores individuais formalizaram seus negócios na Capital em 2011 e podem movimentar até R$ 250 milhões por ano

tão dando esse novo impulso econômico ao Acre formali-zando seus pequenos negó-cios. “Durante nove anos eu trabalhei como empregado em uma bicicletaria, até o dia em que pedi as contas e há sete anos trabalho por conta pró-pria e minha vida melhorou muito mesmo!”

Mas a decisão de tocar seu próprio negócio também ge-rou uma série de transtornos para sua vida, conforme relata Francisco: “Pouco tempo de-pois que comecei a trabalhar, lá veio a fiscalização, pediram documentos que eu não ti-nha, então fui multado várias vezes até descobrir que podia registrar o negócio no Sebrae. Fui lá, o pessoal me atendeu muito bem, hoje tenho tudo legalizado, sou empreende-dor individual e hoje procurei orientação pra fazer minha declaração do imposto de renda. Gostei do atendimen-to que recebo aqui e hoje eu

trabalho com tudo legalizado, sem problemas!”

O espírito empreendedor também desponta em pesso-as como a funcionária pública Pedrina Ramalho moradora do bairro Ruy Lino que há 27 anos trabalha na Secreta-ria Estadual da Educação. “O salário de funcionária não é lá essas coisas, então eu me viro fazendo serviços de contabili-dade para algumas pessoas e, à noite vendo churrasquinho na porta de casa. Hoje procurei o Sebrae para ajudar um amigo deficiente auditivo que quer montar uma fábrica de sacos de ráfia para embalar grãos e outras mercadorias. A gente sabe que no Acre não há ne-nhuma fábrica dessas, mas precisam deles para muitas coisas. Temos o terreno e o galpão, falta realizar a pesquisa de preço das máquinas e pre-parar um plano de viabilidade pra ver se compensa. Se der certo, acho que vou me apo-

sentar do governo e trabalhar com a produção de sacaria, pois hoje meus bicos já rendem mais dinheiro que o emprego!”

Construindo um novo Acre

O superintendente do Sebrae no Acre, João Fecury destacou que: “A formalização de negócios que até há pouco recebiam pou-ca atenção, demonstram o quanto eles são importantes enquanto ge-radores de emprego e renda capaz de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Nossa missão, en-quanto Sebrae é apoiar e orientar esses empreendedores para que tenham sucesso nos seus negó-cios. Quando vemos as ações da Secretaria dos Micro e Pequenos Negócios estimulando esse es-pírito empreendedor vemos que estamos no caminho certo para construir um novo Acre mais pro-dutivo e mais rico pelo trabalho. O que a sociedade espera dos em-presários grandes e pequenos é a geração de emprego e renda para que as pessoas possam viver me-lhor e com dignidade!”

Fecury lembra que sempre que um empreendedor informal formaliza seu negócio tornan-do-se um Empreendedor Indi-vidual que evolui tornando-se um micro empresário, ele ser-ve de exemplo e estímulo para que outras pessoas também to-mem coragem para montar seu próprio negócio. “Um EI que cresce vira micro empreendedor abre espaço para novos empre-endedores num círculo virtuoso que se multiplica beneficiando toda a sociedade pela geração de negócios que geram empregos e fazem o dinheiro circular cada vez mais porque o micro vira Empresa de Pequeno Porte e daí por diante o céu é o limite!”

Lenha de ouroBancário deixou o emprego para traba-

lhar com a venda de lenha e está se dando bem com o negócio

Depois de trabalhar sete anos no atendimento aos clientes Lucimaro Rodrigues Leal decidiu abandonar o emprego para começar a recolher as aparas de madeira das serrarias e vender para padarias e empresas que usam caldeiras alimentando sua linha de produção.

Hoje Lucimaro tem dois empre-gados e entrega cinco caminhões de lenha por semana só para o frigo-rífico Friboi, também atende outras empresas. “Sempre acreditei que era possível ganhar mais tocando meu próprio negócio. Depois de traba-lhar sete anos no atendimento aos clientes do Banco do Brasil decidi montar meu próprio negócio que está funcionando há um ano e vai muito bem, não me arrependo de jeito nenhum!”

Durante seis meses ele atuou in-formalmente, até que em julho do ano passado procurou o Sebrae para formalizar sua atividade. “Ganhei experiência trabalhando, mas gosto de fazer as coisas direito, então fiz questão de legalizar o negócio e só trabalho com madeira documentada para não ter dor de cabeça”.

Evolução da empresa

Agora, seis meses depois de ter formalizado a venda de lenha, Lu-cimaro voltou a procurar orientação do Sebrae: “O negócio vai muito bem, graças a Deus, tanto que ultra-passei a renda mensal de R$ 5 mil permitida para os Empreendedores Individuais, com isso vou ter que migrar para o sistema de micro em-presa, sei que isso vai trazer novas obrigações, mas é assim mesmo, quanto mais a gente cresce, mais responsabilidades vão chegando. Estou animado, até comecei a diver-sificar o negócio pra criar um pouco de gado, já tenho 50 cabeças e vou comprar mais!”

EMPREENDEDOR individual Francisco Correia foi ao Sebrae buscar orientação sobre declarações

LUCIMARO Leal: de empreendedor individual a micro empreendedor