caderno pedagogico 7.14 com titulo
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CADERNOS PEDAGÓGICOS DE FORMAÇÃO GERAL VOLUME 7
Cidadania e Democracia.
VOLUME 7
2013/1
ALU
NO
(A
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
2
CADERNOS PEDAGÓGICOS DE FORMAÇÃO GERAL
VOLUME 7
REITOR
Arody Cordeiro Herdy
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO ACADÊMICA
Carlos de Oliveira Varella
PRÓ-REITOR DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Emilio Antonio Francischetti
PRÓ-REITORA COMUNITÁRIA E DE EXTENSÃO
Sônia Regina Mendes
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
José Luiz Rosa Lordello
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
3
INOVA
NÚCLEO INOVADOR Unigranrio – INOVA
Coordenadora: Maria Rita Resende Martins da Costa Braz
ESCOLA DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS, LETRAS, ARTES E HUMANIDADES
Diretora: Haydéa Maria Marino de Sant´anna Reis
INSTITUTO DE ESTUDOS FUNDAMENTAIS I
Diretora: Lúcia Inês Kronemberger Andrade
INSTITUTO DE ESTUDOS FUNDAMENTAIS II
Diretor: Lindonor Gaspar de Siqueira
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
2
NÚCLEO ALÉM DA SALA DE AULA
Benjamin Salgado Quintans
Frederico Adolfo Schiffer Junior
Haydéa Maria Marino de Sant‟anna Reis
Herbert Gomes Martins
Hulda Cordeiro Herdy Carmim
José Luiz Rosa Lordello
Sonia Regina Mendes
NÚCLEO DE APOIO METODOLÓGICO - NAM
Anna Paula Soares Lemos
Carlos de Oliveira Varella
José Luiz Rosa Lordello
Lindonor Gaspar de Siqueira
Lúcia Inês Kronemberger Andrade
Maria Rita Resende Martins da Costa Braz
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
2
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
Lúcia Inês Kronemberger Andrade
Vanessa Olmo Pombo
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
Anna Paula Soares Lemos
Edeusa de Souza Pereira
Joaquim Humberto Coelho de Oliveira
Lucimar Levenhagen Alarcon da Fonseca
Tania Maria da Silva Amaro de Almeida
NÚCLEO DE MEMÓRIA E DOCUMENTAÇÃO INSTITUCIONAL
Tania Maria da Silva Amaro de Almeida
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
2
NÚCLEO DE PRÁTICAS INCLUSIVAS
Lucimar Levenhagen Alarcon da Fonseca
ORGANIZAÇÃO / REVISÃO / DIAGRAMAÇÃO DESTE MATERIAL:
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
Professores(as)
Anna Paula Lemos
Edeusa de Souza Pereira
Joaquim Humberto Coelho de Oliveira
Lucimar Levenhagen Alarcon da Fonseca
Tania Maria da Silva Amaro de Almeida
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
1
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
2
FICHA DE UNIDADE DE APRENDIZAGEM
Disciplina:
AE 1 / Trabalho Acadêmico Efetivo 1. (Atividades Integradas de Formação Geral I)
Unidade Nº:
Sete ( 7/14)
Título:
Cidadania e Democracia.
Objetivos de aprendizagem:
Analisar os riscos do consumo para a democracia e cidadania.
Compreender o processo de fragmentação das identidades.
Identificar a separação entre poder e política.
Criticar os modelos tradicionais de autoridade frente às democratizações das relações.
Tópicos abordados:
Identidade na sociedade de consumo.
Democracia e crise política.
Autoridade e democratização das relações.
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
3
Paradigma da colaboração.
Introdução:
Já vimos anteriormente que, em um sentido pleno, a cidadania não pode estar dissociada da
democracia. Assim, correndo riscos a democracia, a cidadania também se vê ameaçada. Então,
quais são os riscos atuais para a democracia?
A cidadania e a democracia.
http://www.humorpolitico.com.br/wp-content/uploads/2012/06/democracia-paraguaia-260612-pelicano-humor-
politico.jpg
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
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Acompanhemos a entrevista concedida pelo sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, disponível
em ttp://www.cpflcultura.com.br/2012/05/02/zygmunt-bauman-estrategias-para-a-vida/, sobre
alguns temas relevantes para os dias de hoje e, em particular, para a nossa questão.
Na primeira parte desse vídeo, Bauman caracteriza o nosso tempo como sendo o da sociedade de
consumo, ou melhor, para o consumo. Segundo ele, a partir do século XX, deixamos de viver
numa sociedade de produção para vivermos numa sociedade de consumo. Mas, indaguemos, não
temos que produzir para consumir? O consumo não deveria incrementar a sociedade de
produção, em vez de substituí-la.
Charge: Democracia e crise política.
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http://cageos.files.wordpress.com/2012/09/557497_337884129592964_406866078_n.jpg
Além disso, a vida humana deixa de ter uma linearidade e passa a ser fragmentada. Como
assim? Antes, era mais comum imaginarmos um futuro onde ocuparíamos uma determinada
profissão (escolhida dentre as que já existiam), casaríamos, teríamos filhos, moraríamos em
determinado lugar, etc.... Havia modelos de identidades e estilos de vida a serem perseguidos.
Hoje, nem a própria imaginação nos permite tantas certezas. A vida, segundo nos diz Bauman
neste vídeo, está “dividida em episódios”, que não podem gerar um projeto de vida. Isso quer
dizer, que o futuro não pode ser pensado a longo prazo.
Isso indica que as “sociedades foram individualizadas”. Os indivíduos envolvem-se na criação
de uma identidade própria; na busca de novos estilos de vida, desprendidos do passado e sem
certezas futuras. O que, de certa forma, incentiva a busca e pelas novidades e o seu consumo
imediato.
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Consumo imediato.
http://3.bp.blogspot.com/-J3MENgs-9BY/TiYgvcxuZsI/AAAAAAAAA38/vorXEj9xKrE/s1600/consumismo.jpg
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Essa compulsão consumista, estimulante do imediatismo e do individualismo, pode colocar em
risco a cidadania e a democracia que, de alguma maneira, precisam que também nos dediquemos
às questões públicas.
Como a democracia está sempre correndo riscos, além desse impulso ao consumismo, há
também o divórcio entre poder e política, tratado na terceira parte do vídeo. O Estado,
instituição política por excelência, perde aos poucos o poder de realizar as suas próprias
promessas. Não que somente não queira realizá-las, mas também lhe falta poder para tal. Se
antes era falta de vontade, parece que agora é também falta de competência. Com isso o jogo
democrático do poder, com a disputa e alternância dos partidos políticos, sofre cada vez mais o
descrédito do cidadão.
No entanto, se na esfera pública há sinais de desgaste da democracia e da própria cidadania, nas
relações privadas, elas fortalecem-se dia a dia. Basta olharmos para os tradicionais modelos de
relação de autoridade. Se antes as mulheres confortavam-se com a submissão e as crianças não
eram muito notadas, hoje são exigidas para esses casos, cada vez mais, relações mais
democráticas, menos autoritárias. Como toda mudança, são provocados exageros e
desequilíbrios, principalmente, no que diz respeito a se encontrar o tom da autoridade, fora dos
padrões convencionais.
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Para refletirmos sobre a questão da autoridade em uma sociedade que cada vez mais reivindica a
democratização das relações, indicamos o vídeo com Itay Talgan, que se encontra no seguinte
link: http://www.veduca.com.br/play?v=5333&t=0&p=maestros .
O conceito moderno de liderança, inclusive, evoluiu da visão do chefe que dá ordens
para a visão do coordenador que organiza processos colaborativos. O sentimento de
realização de uma equipe que terminou um trabalho bem feito é muito grande
(DOWBOR, 2013).
Indicamos também as reflexões sobre novas inteligências para gerar e administrar as atividades
empresariais e econômicas. Elas apontam para a “gradual substituição do paradigma da
competição pelo paradigma da colaboração.” (DOWBOR, 2013).
Uma mudança sistêmica do paradigma de maximização da competição econômica
global e do crescimento do produto nacional bruto para um paradigma do
desenvolvimento mais cooperativo, sustentável – o que, em épocas mais antigas, teria
exigido centenas de anos –, é pelo menos possível no sistemamundial interdependente e
em rápida evolução dos dias de hoje. (DOWBOR, 2013).
Isso tudo nos indica que “não há como escapar à busca ativa de processos econômicos mais
democráticos, descentralizados e participativos” (DOWBOR, 2013).
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Conteúdo:
BAUMAN, Zygmunt. Diálogos. Disponivel em:
<ttp://www.cpflcultura.com.br/2012/05/02/zygmunt-bauman-estrategias-para-a-vida/>. Acesso
em 04 fev 2013.
TALGAN, Itay. Liderando como os grandes maestros. Disponível em:
<http://www.veduca.com.br/play?v=5333&t=0&p=maestros>. Acesso em 04 fev 2013.
Síntese:
A cidadania, no seu entendimento mais elaborado, caminha junto com a democracia. Esta corre,
nos dias de hoje, riscos postos pela sociedade de consumo e pela desarticulação ou esvaziamento
da política. Ao mesmo tempo, as relações que envolvem nossas vidas privadas e as que
envolvem as dimensões empresariais e econômicas são remodeladas pelo novo paradigma da
colaboração, que estabelece processos mais democráticos, descentralizados e participativos.
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Sociedade de Consumo
http://padregabriel.com.br/publica/imgs/mascara-direita.png
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Leituras complementares:
DOWBOR, Ladislau. O paradigma da colaboração. Disponível em
<http://diplo.dreamhosters.com/2007-10,a1935.html>. Acesso em 01 mar 2013.
UNIVESP. Caminhos da cidadania no Brasil I (parte 1). Disponível em
<http://univesptv.cmais.com.br/caminhos-da-cidadania-no-brasil-i-1-2>. Acesso em 01 mar
2013.
UNIVESP. Caminhos da cidadania no Brasil I (parte 2) Acesso em 01 de marçoa de 2013.
Disponível em <http://univesptv.cmais.com.br/caminhos-da-cidadania-no-brasil-i-2-2>. Acesso
em 01 mar 2013.
Bibliografia recomendada:
BLOG FORMAÇÃO GERAL UNIGRANRIO. Disponível em
http://blogs.unigranrio.com.br/formacaogeral/. Acesso em 22 fev 2013.
CARVALHO, José Murilo de Carvalho.Cidadania no Brasil. O longo caminho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2005.
DIMENSTEIN, Gilberto. Cidadão de papel. São Paulo: Ática, 2001.
MATTA, Roberto. A casa e a rua. Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. Rio de Janeiro:
Rocco, 1997.
PINSKY, Jaime e PINSKY, Carla Bassanezi. História da Cidadania. São Paulo: Contexto,
2003.
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Reflexão:
Poema:
Carrego Comigo
Carlos Drumond de Andrade
Clique no título do poema leia-o e reflita:
O que significa o embrulho para você?
Que adjetivos são dados ao embrulho pelo autor?
Você acha que as suas relações com a sociedade que o cerca o ajuda a formar a sua identidade e a sua cidadania? Ou você já nasce
pronto?
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Sociedade individualizada:
A criação de uma identidade própria e a busca por novidades acarretam um consumo imediatista.
Clique na imagem abaixo ou acesse o link abaixo dela e veja a exposição na galeria Urban Arts (zona oeste de São Paulo). Há várias
Monalisas, cada qual única em sua unimultiplicidade e vivendo de acordo com seu tempo.
30 versões criativas e ousadas da "Monalisa", de Leonardo da Vinci.
http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/13713-releituras-de-monalisa
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Músicas com a temática Cidadania e democracia, tema deste volume:
Clique sobre o nome da música e ouça.
Leia a letra, assista ao vídeo e reflita.
Democracia
Tom Zé
Geração Coca-Cola
Legião Urbana
Infinito Particular
Marisa Monte
Caçador de Mim
Milton Nascimento
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Autorretratos
Dá-se o nome de autorretrato quando o retratista procura descrever o seu aspecto e o seu caráter, revelando o que captou da expressão mais
profunda de si mesmo. O autorretrato constitui um exercício que permite revelar traços pessoais.
Sendo assim, podemos dizer que o autorretrato na construção do Eu, na descoberta da personalidade e da cidadania mostra o universo
particular de cada um. Conheça alguns autorretratos de pintores famosos.
Clique no nome deles e saiba mais sobre sua vida e obra.
Rembrandt
http://downloads.passeiweb.com/arte_cultura/galeria/rembrandt/1634_auto_retrato_jovem.jpg
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Você sabe quem foi Frida Kahlo ? clique no autorretrato abaixo e saiba mais.
Frida Kahlo
http://fridakahlopaintings.org/fridakahlopinturas/
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E Van Gogh ? sabe quem foi? clique no seu nome ou autorretrato e saiba mais .
Van Gogh
http://www.vangoghgallery.com/
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E você, como se vê?
Que tipo de cidadão é você? Você exerce sua cidadania?
“O cidadão tem direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei, ou seja, os direitos civis são apresentados como
o ponto de saída. O cidadão deve participar dos destinos da sociedade e ter seus direitos políticos.”
http://www.significados.com.br/cidadao/
Que tal criar seu próprio autorretrato digital?
Pense nas suas características físicas e emocionais. Clique no aplicativo abaixo e mãos a obra. Faça seu cadastro, crie seu autorretrato e
inclua sua voz.
http://www.voki.com/pickup.php?scid=5038694&height=267&width=200
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TEXTO
TEXTO 1
DOWBOR, Ladislau. O paradigma da colaboração. Disponível em <http://diplo.dreamhosters.com/2007-10,a1935.html>. Acesso em: 01
mar 2013.
O PARADIGMA DA COLABORAÇÃO
O padrão de produção e consumo típico do capitalismo, e hegemônico há séculos, está em crise. Em seu lugar, emergem relações sociais
mais sustentáveis, democráticas e... prazerosas.
Ladislau Dowbor
terça-feira, 2 de outubro de 2007
TEXTO 1
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O deslocamento sísmico mais importante na teoria econômica se refere ao gradual esgotamento da competição como principal instrumento
de regulação econômica, além de principal conceito na análise da motivação, da força propulsora que estaria por trás das nossas decisões
econômicas.
A visão herdada, é que se nos esforçarmos todos o máximo possível para obter o máximo de vantagem pessoal na corrida econômica, no
conjunto tudo vai avançar mais rápido. Misturando a visão de Adam Smith sobre a soma de vantagens individuais, de Jeremy Bentham e
Stuart Mill sobre o utilitarismo, e de Charles Darwin sobre a sobrevivência do mais apto, geramos um tipo de guerra de todos contra todos,
o que os americanos chamam de global rat race, que está se esgotando como mecanismo regulador, e que está inclusive nos levando a
impasses planetários cada vez mais inquietantes.
O que está despontando com cada vez mais força, é que somos condenados, se quisermos sobreviver, a desenvolver formas inteligentes de
articulação entre os diversos objetivos econômicos, sociais, ambientais e culturais, e consequentemente formas inteligentes de colaboração
entre os diversos atores que participam da construção social destes objetivos. O deslocamento sísmico consiste na gradual substituição do
paradigma da competição pelo paradigma da colaboração.
Hazel Henderson conta como “entrou” para a economia. Em Nova Iorque os apartamentos eram equipados com pequenos incineradores.
Resolvia problemas individuais, mas o resultado era roupa suja nos varais de todos, crianças sujas nos parques onde a poeira negra se
depositava, doenças respiratórias, etc. Quando protestou junto às autoridades, foi-lhe explicado que os incineradores geravam empregos,
dinamizando a economia. Hazel ficou perplexa: construir com muito esforço coisas inúteis ou nocivas, é bom porque dinamiza a
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economia? E o esforço das mães que lavam a roupa e os filhos não é custo porque não custa? Não foi a máquina econômica que acabou
com os incineradores, e sim o movimento de mães organizadas em torno aos seus interesses.
Hazel se voltou para a economia, chegando gradualmente à visão que hoje expõe no seu livro Construindo um mundo onde todos ganhem,
em torno do hoje popular conceito de win-win [1]. A idéia básica é simples, e se reflete na popular imagem de dois burrinhos puxando em
direções opostas para atingir cada um o seu monte de feno, e que descobrem o óbvio: comem juntos o primeiro, e depois comem juntos o
segundo. Segundo Hazel, “as redes da atual era da informação funcionam melhor com base em princípios em que todos ganham (win-win),
mas ainda são dominadas pelo paradigma da guerra econômica global” [2].
Construindo um mundo onde todos ganhem explora o cenário e mapeia a colisão entre o paradigma do crescimento econômico
externamente focalizado e tecnologicamente acionado, que culminou numa guerra econômica global insustentável, e a ascensão de
preocupações globais populares no paradigma emergente e nos movimentos a favor do desenvolvimento humano sustentável...Uma
mudança sistêmica do paradigma de maximização da competição econômica global e do crescimento do produto nacional bruto para um
paradigma do desenvolvimento mais cooperativo, sustentável – o que, em épocas mais antigas, teria exigido centenas de anos –, é pelo
menos possível no sistema mundial interdependente e em rápida evolução dos dias de hoje [3].
Há uma dimensão que vai inclusive além da ética no processo: a colaboração para criar coisas novas ou simplesmente úteis é uma das
fontes mais importantes de prazer. O conceito moderno de liderança, inclusive, evoluiu da visão do chefe que dá ordens para a visão do
coordenador que organiza processos colaborativos. O sentimento de realização de uma equipe que terminou um trabalho bem feito é muito
grande [4].
O mundo, naturalmente, não é um mar de rosas, e tende a predominar a esperteza burra de quem vê nos processos colaborativos uma
oportunidade de aumentar as suas próprias vantagens: a colaboração, para esta gente, consiste em fazer com que os outros colaborem para
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os seus lucros. A visão da luta pela sobrevivência do mais apto está sem dúvida generalizada. Impregna a escola com as suas lutas pelo
primeiro lugar ou a melhor nota, a competição pela sobrevivência que representa o vestibular, aparece em cada programa de televisão. A
idéia é “vencer” os outros, ainda que a batalha seja fútil, e os resultados ruins para todos.
Vale a pena citar aqui o aporte de David Korten, no seu livro O Mundo Pós-Corporativo. Korten parte da compreensão que teve das
limitações da visão biológica do mundo como um espaço de competição pela sobrevivência das espécies: na realidade, o pássaro que come
a fruta dissemina a semente, a raiz que nasce precisa dos microorganismos para assimilar o nitrogênio e assim por diante. Ou seja, a
dimensão colaborativa é amplamente dominante no processo, e assegura que a vida no planeta se desenvolva de forma sistêmica. Não se
“arquiva” a competição, que é real: trata-se de entender a presença maior da dimensão colaborativa.
Na visão de Korten, o mercado, dentro de condições muito precisas, pode constituir um ambiente de colaboração sistêmica, mas não é o
que acontece na economia real: “Os mercados, constituem uma instituição humana notável para agregar as escolhas de muitos indivíduos
para conseguir uma alocação eficiente e equitável de recursos produtivos com o fim de responder às necessidades humanas. A sua função,
no entanto, depende da presença de numerosas condições críticas. Reconhecendo o poder do ideal de mercado, o capitalismo se veste com
uma retórica de mercado. Mas busca apenas o seu próprio crescimento, e assim as suas instituições procuram destruir sistematicamente as
funções saudáveis do mercado. Eliminam as regulamentações que protegem os interesses humanos e ambientais, removem fronteiras
econômicas para se colocar além do alcance do Estado, negam aos consumidores acesso a informações essenciais, buscam monopolizar
tecnologias benéficas, e utilizam fusões, aquisições, alianças estratégicas e outras práticas anticompetitivas para minar a capacidade do
mercado de auto-organizar” [5].
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A realidade é que a economia está mudando, em geral mais rapidamente do que a nossa ciência. As atividades hoje se tornaram muito mais
amplas, complexas e interativas, fazendo com que as economias de colaboração, materializadas no capital social, sejam cada vez mais
importantes. Nas grandes empresas, esta necessidade em geral já foi compreendida, levando à redução do leque hierárquico, à organização
de equipes e assim por diante. A partir dos anos 1980, ampliou-se a compreensão da necessidade de colaboração já não só dentro da
empresa, mas entre empresas, dando lugar a conceitos como “capitalismo de alianças”, “arranjos colaborativos” inter-empresariais,
managed market e assim por diante.
No plano das empresas, o livro que marcou um deslocamento da visão é Alliance Capitalism, de Michael Gerlach, que analisa as formas
realmente existentes de colaboração inter-empresarial, em particular no Japão, e sugere que “a teoria econômica pode e deve enfrentar os
limites dos mercados atomizados e anônimos, visando explicar as formas institucionais que se desenvolveram nas economias modernas
para vencer estas limitações. Particularmente interessante tem sido o papel das contratações de longo prazo e a organização corporativa
como alternativas aos mercados competitivos. Os mercados e as empresas capitalistas são vistas, assim, não como entidades isoladas que
seguem a sua própria lógica, mas como arranjos institucionais complexos inseridos na ordem legal da sociedade e nas regras básicas sob as
quais os atores operam” [6].
Na Terceira Italia formou-se a compreensão de que além dos processos colaborativos inter-empresariais, seria útil organizar a colaboração
com iniciativas públicas e do Terceiro Setor que podem gerar economias que são externas à empresa, mas internas a uma região, tornando o
trabalho de todos mais produtivo. O livro de Carlo Trigiglia, citado acima, representa bem esta compreensão do território como espaço de
construção de arranjos colaborativos.
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Esta dimensão prática está apoiada em mudanças estruturais dos processos de reprodução social vistos ao longo deste ensaio. Ao tornar-se
o conhecimento crescentemente o principal fator de produtividade, e já que o conhecimento compartilhado não tira conhecimento de
ninguém, pelo contrário tende a multiplicar-se, a evolução natural não é a de nos trancarmos numa floresta de patentes e proibições, mas
sim de criar ambientes colaborativos abertos, como vemos por exemplo no caso do Linux, da Wikipedia, ou nas formas colaborativas da
Pastoral da Criança. A guerra baseada no “isto é meu” não tem sentido quando se trata de conhecimento.
Outra dinâmica que torna a colaboração muito mais presente é a conectividade: é tão fácil colaborar inclusive entre agentes muito distantes,
que a idéia medieval do castelo isolado e autosuficiente torna-se cada vez mais ridícula, como se torna cada vez mais limitada a visão da
empresa com o seu “capitão” empresário, indo à luta contra todos, trancando os seus segredos. As redes inter-universitárias de colaboração
neste sentido estão demonstrando caminhos mais inteligentes e modernos, ainda que o grosso do mundo universitário tenda também a se
proteger nas suas torres.
Uma terceira dinâmica está ligada à nossa forma básica de organização demográfica, a cidade, com o seu entorno rural. Já não somos
populações rurais dispersas, e mesmo os espaços rurais pertencem a um processo de modernização “urbano”, como têm definido os
pesquisadores da Unicamp. Neste sentido, como vimos, cada cidade com o seu entorno passa a constituir uma unidade de acumulação
econômica que será mais ou menos produtiva, como sistema, segundo consiga ou não organizar-se num espaço colaborativo e coerente
dentro do seu território e na região onde está situada.
Enfim, uma quarta dinâmica que também vimos acima está ligada ao deslocamento da composição intersetorial das atividades econômicas,
cada vez mais centradas em políticas sociais como saúde, educação, cultura, informação, lazer e outras. Estas atividades, muito mais do que
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a produção industrial, envolvem processos colaborativos intensos, não se regulam adequadamente pelo lucro, e dependem vitalmente da
constituição do capital social e de processos participativos de decisão. A resistência a formas mais modernas de gestão é natural. Anos
atrás, houve grandes lutas contra a vacinação obrigatória das crianças, em nome da liberdade de cada um decidir segundo as suas
preferências. Naturalmente, vacinar uma parte da população não erradica doença alguma.
Estas quatro macro-tendências, da economia do conhecimento, da conectividade, da urbanização e da primazia do social, geraram
condições profundamente renovadas no conjunto do processo de reprodução social, e as velhas práticas que privilegiam a competição, o
segredo, os clubes fechados, constituem simplesmente a aplicação de uma ideologia econômica antiga a uma realidade nova. Ou seja, o
paradigma da colaboração, além de constituir uma visão ética, e de materializar valores das pessoas que querem gozar uma vida agradável,
trabalhar de maneira inteligente e útil, em vez de ter de matar um leão por dia, – constitui hoje bom senso econômico em termos de
resultados para o conjunto da sociedade.
Voltando ao princípio, à “rentabilidade social” de que fala Celso Furtado, a colaboração tem de se dar em torno ao objetivo simples da
alocação racional de recursos em função da qualidade de vida social.
Hoje sem dúvida as grandes empresas de medicamentos têm entre elas arranjos colaborativos que lhe permitem realizar lucros fabulosos,
ao restringirem acesso à livre fabricação das drogas, o que por sua vez permite elevar os preços. Os banqueiros no Brasil colaboram
intensamente na manutenção de um sistema de restrição ao crédito, de juros elevados e de tarifas caríssimas, o que lhes permite drenar
grande parte da riqueza produzida pela sociedade, sem precisar contribuir para produzi-la. Os grandes grupos da mídia colaboram com as
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grandes empresas que compram espaço publicitário, e adaptam o conteúdo da informação aos interesses empresariais. Os exemplos não
faltam deste tipo de círculos fechados em torno de interesses minoritários.
Putnam resume bem a questão, no seu Bowling Alone já citado, ao lembrar que a Ku Klux Klan é uma organização da sociedade civil, mas
cujo objetivo é excluir um segmento da sociedade, em vez de incluir de forma equilibrada os diversos interesses. Isto não é colaboração, é
corporativismo na sua pior manifestação. Ou seja, a construção dos processos colaborativos necessários a uma economia moderna passa
por romper os diversos tipos de fortificações que constituem os cartéis, trustes e outros clubes de ricos que desequilibram o
desenvolvimento. Não há como escapar à busca ativa de processos econômicos mais democráticos, descentralizados e participativos.
Korten busca soluções na articulação dos espaços de desenvolvimento local, onde os agentes econômicos se conhecem e podem construir
sistemas colaborativos: “Resolver a crise depende da mobilização da sociedade civil para resgatar o poder que as corporações e os
mercados financeiros globais usurparam. A nossa maior esperança para o futuro está com economias apropriadas e geridas localmente que
se apoiem predominantemente em recursos locais para responder às necessidades de vida locais dos seus membros em formas que
mantenham um equilíbrio com a terra. Um tal deslocamento nas estruturas institucionais e prioridades poderá abrir caminho para a
eliminação da escassez e extrema desigualdade das experiências humanas, instituindo uma verdadeira democracia cidadã, e liberando um
potencial presentemente não realizado de crescimento e criatividade individuais e coletivos" [7].
Não há soluções simples nesta área, mas o paradigma da colaboração abre sem dúvida uma visão renovada, onde a simples competição não
resolve, e os mercados se tornaram cada vez menos operantes. A visão renovada envolve o resgate do planejamento, mecanismos de gestão
participativa local, articulações inter-empresariais, e também mecanismos tradicionais de mercado onde ainda sejam úteis, além de
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mecanismos de concertação internacional cada vez mais necessários, apontando no conjunto para uma articulação de diversos mecanismos
de regulação em vez das alternativas simplificadas em torno do estatização versus privatização [8].
A nossa intuição simplificada – aqueles argumentos não explicitados mas poderosos que temos em algum lugar profundo da nossa cabeça –
nos sugere que a política não funcional, e que a economia de mercado, ao definir regras de jogo iguais para todos os agentes econômicos,
ainda constitui o melhor mecanismo de regulação. A realidade é que a própria política está mudando, evoluindo para a democracia
participativa, enquanto os mecanismos de mercado sobrevivem em espaços cada vez mais limitados da economia tradicional, substituídos
pela força das articulações corporativas. A democracia econômica constitui um complemento necessário que pode racionalizar tanto a
política como a economia.
NOTAS:
[1] Hazel Henderson – Construindo um mundo onde todos ganhem (Building a Win-Win World), ed. Cultrix, São Paulo 1996.
[2] id., ibid., p. 293 – É interessante ver também o texto de Daniel Cohen, em La Mondialisation et ses ennemis, sobre esta defasagem entre
a economia real e as instituições: “A melhor maneira, em princípio, de encontrar uma idéia nova para resolver um problema dado é de
coordenar a pesquisa dos que a desenvolvem e, uma vez realizada a descoberta, colocá-la à disposição de todos. O “bom” modelo de
referência aqui não é o do mercado, mas o da pesquisa acadêmica que recompensa por diversas distinções o “bom pesquisador”, ao mesmo
tempo que deixa as suas descobertas livres para todos. O sistema da propriedade intelectual conduz a fazer exatamente o contrário. As
equipes que competem na mesma área, por um determinado medicamento por exemplo, não compartem os seus conhecimentos, e uma vez
realizada, a descoberta será a propriedade exclusiva de quem a realizou primeiro. Temos aqui, para o mundo moderno, uma idéia que Marx
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havia enunciado, de uma contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas, aqui da inovação, e o das relações de propriedade” –
p. 228.
[3] Henderson, ibid., p. 19 e 24
[4] O texto já mencionado de Frey e Stutzer desenvolve este tema: “As pessoas têm tendência a se sentirem felizes não só pelo resultado
mas também pelo próprio processo...Scitovsky propõe que „a diferença entre gostar ou não gostar do trabalho que se faz pode ser mais
importante do que a diferença na satisfação econômica gerada pelas disparidades na nossa renda‟. As pessoas podem também se sentir mais
eatisfeitas ao agirem de maneira correta e ao serem honestas, independentemente do resultado...Assim, a utilidade é colhida do processo de
tomada de decisão mais além do resultado gerado” (“Thus utility is reaped from the decision-making process itself over and above the
outcome generated”.) – Happiness and Economics, op. cit., p. 153
[5] David Korten – The Post-Corporate World – Berrett-Koehler, San Francisco, 1999., p. 62 – Edição brasileira pela Editora. Vozes,
Petrópolis, 2003
[6] Michael L. Gerlach – Alliance Capitalism – University of California Press, Berkeley, 1992, p. 39 – Gerlach constata que as trocas
propriamente baseadas no espaço anônimo de mercado “na prática se tornaram raras e limitadas a uma faixa relativamente estreita de
transações rotineiras” (p. 41); ver também os trabalhos de James E. Austin, The collaboration Challenge, publicado pela Drucker
Foundation, bem como a visão institucionalista de Douglass C. North, Institutions, Institutional Change and Economic Performance,
Cambridge University Press, 1990
[7] - Korten, op. cit. p. 7
[8] O argumento da articulação dos mecanismos de regulação foi desenvolvido no nosso A Reprodução Social, vol. II.
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
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Atividades para Autoavaliação
Atividade: TAE 001 / TRABALHO ACADÊMICO EFETIVO – ATIVIDADES
INTEGRADAS DE FORMAÇAO GERAL I
Unidade Nº: 07
Título: CIDADANIA E DEMOCRACIA
QUESTÃO 1
Tópico Associado: Identidades na sociedade de consumo
A sociedade de consumo mantém uma correlação com o neoliberalismo, que
amplia o espaço privado, restringe o espaço público e transforma os direitos
sociais em serviços demarcados pelo mercado. Sobre essa dinâmica, considere as
afirmativas a seguir.
I. Na lógica neoliberal do mercado, a busca do sucesso, a qualquer preço, pelo
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
30
indivíduo e a volatilidade do sistema econômico financeiro geram fatores de
insegurança social.
II. O planeta foi transformado em uma unidade de operações das corporações
financeiras, sendo a fragmentação e a dispersão socioeconômica considerada
como natural e positiva.
III. Os valores sociais constituídos no seio das comunidades tradicionais são
respeitados por indivíduos egocentrados, portadores dos valores essenciais do
neoliberalismo.
IV. A democracia encontra-se prestigiada pela capacidade dos cidadãos de vender
os direitos conquistados como serviços.
Assinale a alternativa correta.
A) Somente as afirmativas I e II são corretas.
B) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
D) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
FEEDBACK DA QUESTÃO 1
Resposta certa: Vide gabarito no final deste caderno.
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QUESTÃO 2 : Tópico Associado: Democracia e crise política.
“A imprensa, que sempre esteve alinhada às grandes causas da cidadania, está
convicta de que o próximo passo para a consolidação da democracia em nosso
país passa pelo restabelecimento imediato da ordem pública”. (Manifesto “Basta
à violência”, de 16/08/06, das associações de jornais, de editores de revistas e das
emissoras de rádio e televisão.)
Com base no texto, pode-se afirmar que, no Brasil, como no resto do Ocidente,
“as grandes causas da cidadania” e a “consolidação da democracia”:
A) Surgiram, fortuitamente, em decorrência da ação de grandes estadistas
devotados à causa dos direitos do homem.
B) Apareceram, simultaneamente, em decorrência do impacto provocado pela
Revolução Francesa sobre praticamente todos os países.
C) Caminharam juntas e, em geral, na seguinte ordem: primeiro, a igualdade
jurídica, depois, os direitos políticos; e, por último, os direitos sociais.
D) Derivam, respectivamente, do absolutismo, que transformou os súditos em
cidadãos, e do liberalismo, que garantiu os direitos políticos.
FEEDBACK DA QUESTÃO 2
Resposta certa: Vide gabarito no final deste caderno.
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QUESTÃO 3
Tópico Associado: Identidade na sociedade de consumo.
Começar o dia com vergonha alheia é uma droga…
Matéria no “Bom Dia Brasil”, da TV Globo, na manhã desta quinta, mostrou a fila
formada na porta da loja da Apple, em Nova Iorque, de consumidores ansiosos
para pôr as mãos em um iPhone 5. Gente que chegou uma semana antes do
lançamento. E, o pior, diz isso com orgulho. [...] Para alguns, o iPhone é um
instrumento de trabalho – muitas vezes desnecessário, é claro. Para outros, é um
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33
elemento que ajuda a dar sentido às coisas, contribui na formação da imagem que
temos de nós mesmos e fornece um símbolo para que a comunidade o reconheça.
Lembram-me daquelas cabeças ocas de ampola usuários de iPhone que jorraram
preconceito nas redes sociais quando o Instagram tornou-se acessível também aos
usuários do Android? Reclamavam que a rede social de fotos iria virar coisa do
populacho, uma vez que elas seriam as que possuem telefones com esse sistema
operacional, normalmente mais acessíveis. São a versão moderna do sujeito que
reclama que a calça de grife dele agora está em desconto, o que vai fazer com que
mais pessoas a tenham, perdendo – portanto – a exclusividade – razão que o levou
a adquirir tal peça. Não é a qualidade do produto que está em jogo, mas o que ele
significa socialmente. O preço estipulado tem pouca relação ou nenhuma com
custos de produção, mas serve para segregar.
(SAKAMOTO, Leonardo. Blog do Sakamoto. Direitos Humanos, Trabalho
Decente, Meio Ambiente. Disponível
em:http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2012/09/20/estou-com-
vergonha-alheia-da-fila-na-porta-da-apple/ Acesso em: 21 set 2012.)
Qual das opções abaixo está em desacordo com o autor desse texto?
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A) As indústrias de consumo vendem estilos de vida, muitas das vezes impondo-
nos o que deveríamos ser.
B) Nas sociedades de consumo, a busca pela felicidade passa cada vez mais pelo
ato de comprar.
C) Nas sociedades de consumo os produtos possuem obsolescência programada,
influenciando-nos a comprar sempre mais.
D) Nas sociedades de consumo, a expansão do crédito tem como principal
consequência gerar mais riqueza, trabalho e felicidade para a classe trabalhadora.
FEEDBACK DA QUESTÃO 3
Resposta certa: Vide gabarito no final deste caderno.
QUESTÃO 4
Tópico Associado: Identidade na sociedade de consumo
Leia o poema de Carlos Drumond de Andrade, “Eu Etiqueta”:
Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório.
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Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nessa vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu
aquilo,
Desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos
visuais, ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência, indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda seja negar
minha Identidade, ...
Agora sou anúncio, ora vulgar, ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
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E nisto me comparo, tiro glória de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender em bares festas praias
pérgulas, piscinas.
E bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e
sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum a
compromete.
Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas
idiossincrasias tão pessoais, tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar, cada vinco da roupa. Sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa, da vitrine me tiram, recolocam, objeto pulsante
mas objeto que se oferece como signo dos outros objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
(ANDRADE, Carlos Drumond de. Eu, etiqueta.)
Assinale a alternativa que representa a ideia central do texto de Drumond:
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
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A) Na sociedade de consumo, as necessidades são artificialmente estimuladas,
sobretudo pelos meios de comunicação de massa, levando as pessoas em busca de
sua identidade social, levando ao risco do consumo alienado e comprometendo o
verdadeiro significado do exercício da cidadania.
B) A globalização ajuda aos indivíduos a realizarem escolhas conscientes de
consumo em busca de sua identidade.
C) Numa sociedade de consumo, o individuo consumidor tem maior possibilidade
de se incluir socialmente, favorecendo o exercício da cidadania.
D) A liberdade é o que de fato distingue o ser humano dos outros seres no mundo;
e o consumo, por defender a liberdade de escolha, vem afirmando esse aspecto da
condição humana e a verdadeira expressão da democracia.
FEEDBACK DA QUESTÃO 4
Resposta certa: Vide gabarito no final deste caderno.
QUESTÃO 5
Tópico Associado: Democracia e crise política
A noção de cidadania gerada pela visão liberal, a partir do século XVIII, foi uma
resposta do Estado às reivindicações da sociedade, e levou à institucionalização
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dos direitos civis, direitos políticos e direitos sociais. Mais contemporaneamente, a
noção de cidadania redefine a ideia de direitos. O ponto de partida é a concepção
de um direito a ter direitos e inclui a criação de novos direitos que emergem de
lutas específicas.
Assinale a opção que contempla um dos direitos sociais:
A) Liberdade de expressão.
B) Liberdade de ir e vir.
C) Direito à propriedade.
D) Direito à educação.
FEEDBACK DA QUESTÃO 5
Resposta certa: Vide gabarito no final deste caderno.
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
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Questão discursiva
Tópico Associado: Autoridade e democratização das relações
Carrego Comigo
Carlos Drummond de Andrade
Carrego comigo
há dezenas de anos
há centenas de anos
o pequeno embrulho.
Serão duas cartas?
será uma flor?
será um retrato?
um lenço talvez?
Já não me recordo
onde o encontrei.
Se foi um presente
ou se foi furtado.
Se os anjos desceram
trazendo-o nas mãos,
se boiava no rio,
se pairava no ar.
Não ouso entreabri-lo.
Que coisa contém,
Quero responder.
A rua infinita
vai além do mar.
Quero caminhar.
Mas o embrulho pesa.
Vem a tentação
de jogá-lo ao fundo
da primeira vala.
Ou talvez queimá-lo:
cinzas se dispersam
e não fica sombra
sequer, nem remorso.
Ai, fardo sutil
que antes me carregas
do que és carregado,
para onde me levas?
Por que não me dizes
a palavra dura
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
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ou se algo contém,
nunca saberei.
Como poderia
tratar esse gesto?
O embrulho é tão frio
e também tão quente.
Ele arde nas mãos,
é doce ao meu tato.
Pronto me fascina
e me deixa triste.
Guardar um segredo
em si e consigo,
não querer sabê-lo
ou querer demais.
Guardar um segredo
de seus próprios olhos,
por baixo do sono,
atrás da lembrança.
A boca experiente
saúda os amigos.
Mão aperta mão,
peito se dilata.
Vem do mar o apelo,
oculta em teu seio,
carga intolerável?
Seguir-te submisso
por tanto caminho
sem saber de ti
senão que te sigo.
Se agora te abrisses
e te revelasses
mesmo em forma de erro,
que alívio seria!
Mas ficas fechado.
Carrego-te à noite
se vou para o baile.
De manhã te levo
para a escura fábrica
de negro subúrbio.
És, de fato, amigo
secreto e evidente.
Perder-te seria
perder-me a mim próprio.
Sou um homem livre
mas levo uma coisa.
Não sei o que seja.
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
41
vêm das coisas gritos.
O mundo te chama:
Carlos! Não respondes?
Eu não a escolhi.
Jamais a fitei.
Mas levo uma coisa.
Não estou vazio,
não estou sozinho,
pois anda comigo
algo indescritível.
Agora reflita e elabore um texto respondendo:
- O que significa o embrulho para você?
- Que adjetivos são dados ao embrulho pelo autor?
- Você acha que as suas relações com a sociedade que o cerca o ajuda a formar a
sua identidade e a sua cidadania? Ou você já nasce pronto?
NÚCLEO DE FORMAÇÃO GERAL
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GABARITO
FEEDBACK DA QUESTÃO 1:
Resposta certa: Letra A
FEEDBACK DA QUESTÃO 2 :
Resposta certa: Letra C
FEEDBACK DA QUESTÃO 3:
Resposta certa: Letra D
FEEDBACK DA QUESTÃO 4:
Resposta certa: Letra A
FEEDBACK DA QUESTÃO 5:
Resposta certa: Letra D
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FEEDBACK DA QUESTÃO DISCURSIVA:
COMENTÁRIO: Em relação ao embrulho, nós, seres humanos, somos únicos.
Não há uma só pessoa igual a outra. Carregamos dentro de nós um misto de
emoções, um infinito particular. Nosso eu é construído também nas relações
exteriores: com os amigos, trabalho e família; moldando nossa personalidade, com
o dia a dia , com a vida hodierna.
Nossa personalidade, nosso eu é moldado dos sabores e dissabores que a vida nos
traz. Enquanto isso, vamos pintando nosso autorretrato com as cores que
gostamos e com outras nuances que se agregam. O aprendizado é contínuo e o que
nos faz cidadãos e nos representa é o que trazemos dentro de nós. Como eu me
leio e como me leem: o que carrego comigo. Esse "embrulho", herança de muitos,
é um traço individual.
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