cadeia produtiva da avicultura de postura: um estudo … · ovos santa maria, a primeira granja...

Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

1

CADEIA PRODUTIVA DA AVICULTURA DE POSTURA: UM ESTUD O NO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA DE JETIBÁ NO ESTADO DO ESP ÍRITO SANTO [email protected] APRESENTACAO ORAL-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais JULYANA COVRE; ROBERTO AMADEU FASSARELLA. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITÓRIA - ES - BRASIL.

Cadeia produtiva da avicultura de postura: um estudo no município de

Santa Maria de Jetibá no estado do Espírito Santo1

Food Chain of Laying Aviculture: a Study in the council of Santa Maria de Jetibá in Espírito Santo

Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e

Cadeias Agroindustriais

RESUMO A avicultura do Espírito Santo é vital para o setor agrícola, sendo fonte de renda e de emprego e importante catalisadora da economia rural capixaba alimentando economicamente outros setores. O município de Santa Maria de Jetibá é responsável por 93% da produção estadual e segundo maior produtor nacional. Desta forma, tendo em vista a importância socioeconômica da atividade no município, o estudo avalia a cadeia produtiva da avicultura de postura no mesmo. A análise utiliza o conceito de sistema agroindustrial demonstrando o fluxo desde a produção de insumos até o consumidor final, com enfoque no sistema produtivo. Conclui-se que, o município possui Know-how de produção na criação de aves, tendo a seu favor as características climáticas, culturais e de relevo da região, contudo possui muitas disparidades entre os produtores. Palavras-chaves: Cadeia produtiva. Avicultura de postura. Município de Santa Maria de Jetibá.

ABSTRACT

The poultry industry of the Espírito Santo is vital for the agricultural sector, a source of income and employment and an important catalyst for rural economy capixaba feeding other economic sectors. The council of Santa Maria de Jetibá is responsible for 93% of the 1 Artigo extraído da monografia de conclusão da graduação apresentada ao Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, orientada pelo Prof. Roberto Amadeu Fassarella.



2

state production. Therefore, considering the social-economical importance of this activity in the council, this study analyses the productive chain of egg-laying aviculture there. The analysis uses the agro industrial system to show this process from the raw material production until reaches the final customer, focusing on the productive system. It is concluded that the council bares a bird raising know-how, having climate, cultural and geographical characteristics as allies, but has many differences between producers. Key words:Food chain. Laying aviculture. Santa Maria de Jetibá council.



3

1. INTRODUÇÃO As evoluções das relações políticas, econômicas e das comunicações que culminaram na globalização, trouxeram consigo uma nova visão da agricultura, uma visão sistêmica, que considera todos os agentes envolvidos na produção, desde o fornecedor de insumos, até o consumidor final, este por sua vez está cada vez mais exigente quanto a qualidade e procedência do que consome. Assim, é imperativo que os estudos de cadeias produtivas se desenvolvam com a finalidade de melhorar a coordenação e comunicação entre os elos, e deste modo, entender as demandas do consumidor e supri-las o mais rápido e melhor possível. Cadeias produtivas organizadas conseguem identificar problemas de comunicação e falhas no sistema produtivo mais rapidamente e também articular-se para sanar tais entraves, tornando-se mais competitivas. Então, estudos para mapear e elaborar diagnósticos sobre as cadeias são importantes para entender as relações e o comportamento dos agentes. Destarte, o objetivo geral deste trabalho foi caracterizar as diferentes etapas do processo de produção da avicultura de postura no município de Santa Maria de Jetibá, para assim analisar o processo produtivo e identificar os principais fatores facilitadores e limitadores do setor. 2. REVISÃO TEÓRICA A agricultura, até primeira metade do século XX, agrupava atividades diversificadas, os produtores rurais eram qualificados para executar todo o processo produtivo da época. Contudo, “a partir da segunda metade do século XX, com o desenvolvimento econômico, a crescente urbanização e a revolução tecnológica [...] o agricultor passou a ser um especialista” (JANK et al, 2003).

Então, as etapas do processo de produção como processamento, comercialização, distribuição e transporte passaram a ser realizadas por empresas e não mais pelos produtores. As mudanças no panorama da agricultura geraram uma nova definição da agricultura, onde se refere somente a atividades ligadas ao dentro da porteira - plantio, colheita, produção animal, etc. (NEVES; SPERS, 1996, p. 2). O conceito de cadeias produtivas provém desta evolução dos complexos rurais para os complexos agroindustriais, da agricultura para o agribusiness. Este processo decorre do desenvolvimento do mercado interno no capitalismo apoiado pela “intensificação da divisão do trabalho e das trocas intersetoriais, a especialização da produção agrícola e a substituição das exportações pelo consumo produtivo interno como elemento central da alocação dos recursos produtivos do setor agropecuário” (SILVA,1998,p.1).

O termo agribusiness surgiu em 1957, nos trabalhos dos professores John Davis e Ray Golberg, nos quais apresentam o termo agribusiness representando um marco conceitual que dimensiona a totalidade dos sistemas de produção. Os autores definem o termo agribusiness como “a soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do



4

armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles” (NEVES; SPERS, 1996, p. 2). Estas transformações geraram uma nova dinâmica das relações comerciais, que por sua vez gerou problemas relacionados com a agricultura, os quais não poderiam ser discutidos no enfoque estático da agricultura e sim baseados no enfoque do agribusiness. Surge assim, o conceito de visão sistêmica. Esta abordagem engloba os setores “antes da porteira”, “dentro da porteira” e “depois da porteira”, ou seja, considera como cada agente econômico interage com os demais nas diferentes etapas do processo produtivo e como cada agente contribui para a eficácia do processo.

Diversas metodologias definem os negócios agroindustriais, sendo que os Sistemas Agroindustriais (CSA Commodity System Approach) advindo dos trabalhos de Davis e Goldberg, e Filières de origem francesa são os que mais se destacam no cenário internacional, as quais foram definidas como referencial teórico do presente trabalho.

Os Sistemas Agroindustriais (Sistema de Commodities – Commodity System Approach) são “todos os participantes envolvidos na produção, processamento e marketing de um produto específico. Inclui o surgimento das fazendas, as fazendas, operações de estocagens, processamento, atacado e varejo envolvidos em um fluxo desde a produção de insumos até o consumidor final. Inclui as instituições que afetam e coordenam os estágios sucessivos do fluxo do produto, tais como Governo, associações e mercados futuros” (NEVES; SPERS, 1996, p. 4).

Neste contexto, o agribusiness é o aglomerado dos inúmeros sistemas agroindustriais existentes. Esta visão sistêmica possibilita uma melhor compreensão do funcionamento da atividade agropecuária, [...] sendo fator indispensável para que [...] os tomadores de decisão tenham possibilidades de formular políticas com precisão, justiça e maior probabilidade de acerto (NEVES; SPERS, 1996, p.5).

O conceito de filières surgiu a partir da década de 1970 na Escola Francesa de Organização industrial. O termo filières pode ser traduzido para o português como “cadeias agroindustriais” e segundo Montigaud (1991), são sucessões de atividades ligadas verticalmente, necessárias a produção de um ou mais produtos. 3. ASPECTOS METODOLÓGICOS

O estudo da cadeia produtiva da avicultura de postura no município de Santa Maria

de Jetibá foi de caráter exploratório, com coleta de dados em entrevistas com avicultores e com a cooperativa da região, observação do fluxo de produção e pesquisas bibliográficas.

O estudo foi realizado na Cooperativa Avícola de Santa Maria de Jetibá Ltda, na fábrica de ração localizada no mesmo município, e em granjas da região, em destaque os Ovos Santa Maria, a primeira granja instalada no local.



5

4. CARACTERIZAÇÃO DA AVICULTURA DE POSTURA NO MUNIC ÍPIO DE SANTA MARIA DE JETIBÁ 4.1. Breve histórico do município

A origem do município de Santa Maria de Jetibá é decorrente do processo migratório no Espírito Santo. Estima-se que cerca de 2/3 das terras capixabas ainda não eram habitadas, no início do século XX. As montanhas, de acesso difícil e de florestas maciças, eram regiões inexploradas. O fluxo imigratório europeu foi determinante para a ocupação e integração econômica dessas terras.

A imigração mantida na segunda metade do século XIX produziu um incremento substancial na produção de café e alimentos, desempenhando importante papel no crescimento da economia estadual. Para Celin (1984), o processo de povoamento capixaba através da imigração possui quatro fatores essenciais, sendo eles: a política imperial de povoamento; a promoção da imigração; as condições favoráveis à emigração nos países de origem e a grande disponibilidade de terras devolutas e não-apropriadas. A política imperial de povoamento no estado teve como principal finalidade a promoção de uma classe agrícola que atendesse a necessidade de alimentos da região do vale do Paraíba e da capital federal.

O município de Santa Maria de Jetibá era inicialmente um distrito da colônia de Santa Leopoldina. Esta por sua vez, foi demarcada, em 1856, numa extensão de terra de quatro por quatro léguas, situada às margens do rio Santa Maria da Vitória.

Na década de 1870, a Pomerânia sofria com as disputas territoriais entre a Alemanha e países vizinhos, devido à unificação alemã. Neste contexto inúmeros pomeranos buscaram uma nova vida nas Américas, migrando para o Brasil. Deste modo, a região do rio Santa Maria da Vitória recebeu um grande fluxo imigratório de pomeranos, e de imigrantes oriundos da Alemanha, Holanda e Luxemburgo. Porém, a cultura pomerana foi assimilada religiosa e socialmente por todos.

O município de Santa Maria de Jetibá foi criado no dia 6 de maio de 1988 por meio da Lei Estadual nº4. 067, emancipando-o do município de Santa Leopoldina. Atualmente, o município possui 736,30 Km² de área com representatividade de 1,59% da área total do estado e altitude variável de 400 a 1300 metros. Com 31.845 habitantes (destaque na Figura 1) situa-se no centro-oeste do Espírito Santo à 80 km da capital. Registrou PIB a preços correntes de R$ 371.202.000,00 no ano de 2007.



6

Figura 1 – Mapa do Espírito Santo

Fonte: Google Imagens

O município tem como fundamental fonte de renda a atividade agrícola, herdada dos colonizadores pomeranos. As atividades centrais são a avicultura, a olericultura, a cafeicultura e o comércio, seguidas pela fruticultura, avicultura de corte, bovinocultura e suinocultura, sendo a avicultura a principal fonte de renda. A cultura do feijão é consorciada à cultura do milho, esta a maior do estado, embora supra menos de 10% do consumo do grão pela avicultura local. 4.2. Caracterização da avicultura de postura no município

O primeiro produtor avícola de Santa Maria de Jetibá foi o senhor Erasmo Berger em 1960 com um plantel de 500 aves. A avicultura surgiu no município com o intuito de produzir esterco, tendo em vista que as terras pouco férteis necessitavam deste suplemento, mas desenvolveu-se rapidamente e trinta anos depois o município tornou-se o maior produtor de ovos do estado e ocupou a posição no ranking nacional de segundo maior município em alojamento de galinhas do Brasil, ficando atrás apenas de Bastos – interior paulistano. O município tem cerca de 200 avicultores, que consistem em cinco grandes produtores com plantel aproximado de 5 milhões de aves, e o restante pequenos produtores independentes ou cooperados da Associação de Avicultores do Estado do Espírito Santo (AVES) e/ou Cooperativa Agropecuária Centro-Serrana (Coopeavi), que somados possuem plantel aproximado de 2 milhões de aves. Deste modo, 71% da produção avícola estão concentradas em 2,5% dos produtores, enquanto 29% da produção correspondem a 97,5% dos avicultores. Este panorama reflete uma economia baseada na agricultura



7

familiar que predomina não só na atividade avícola, mas toda atividade agrícola local. A pequena propriedade agrícola corresponde a 99,49% da estrutura fundiária do município (Tabela 1). Isto significa que a maior parte dos avicultores do município geralmente mantêm outras atividades agrícolas paralelamente à produção de aves. Tabela 1 Estrutura fundiária do município de Santa Maria de Jetibá – 1995/96 Extrados de Área (ha)

ESTABELECIMENTOS ÁREA TOTAL Nº % % acumulada Ha % % acumulada

<5 1234 35,12 35,12 2888 5,73 5,73 5 - 10 670 19,07 54,18 4451 8,83 14,56 10 - 20 711 20,23 74,42 9764 19,36 33,92 20 - 50 737 20,97 95,39 21609 42,86 76,78 50 - 100 144 4,10 99,49 9057 17,96 94,74 100 - 200 14 0,40 99,89 1742 3,45 98,19 > 200 4 0,11 100,00 911 1,81 100,00 TOTAL 3514 100,00 100,00 50422 100,00 100,00

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário de 1995/96.

O município produz 446.992 caixas de ovos por mês sendo destinadas para o mercado interno (30%), Rio de Janeiro (42%), Minas Gerais (15%), Bahia (11%) e outros estados (2%).

5. CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA A estrutura da cadeia produtiva em Santa Maria de Jetibá pode ser decomposta em fornecimento de insumo, processo produtivo, comercialização, descarte e atividades de apoio. Devido às grandes disparidades encontradas entre os grandes e pequenos avicultores, estabeleceu-se também uma divisão entre estes, conforme demonstrado na Figura 2.



8

Figura 2–Cadeia Produtiva do Ovo

Fonte: Adaptado de MARTINS et AL, 2000.

Avozeiros

Criadores de galinhas

Indústria alimentícia

Abatedouros

Varejo

Indústria de ovo

Atacadistas

Indústria alimentícia

Fábricas de

equipamentos, de insumos químicos e

farmacêuticos, fábricas de

rações

Supermercados

Feiras, sacolões e varejões

Avícolas

Empórios e quitandas

Importação de ovos de avós

Matrizeiros

Incubatórios

Atividades de Apoio

• Transportes • Embalagens • Cooperativa • Associação

Grande produtor

Produção

Esterco

Subprodutos

Varejo aves vivas

Pequeno produtor

Descarte

Descarte

Esterco

Subprodutos

• Horticultura • Cafeicultura • Fruticultura

• Horticultura • Cafeicultura • Fruticultura

Varejo



9

5.1. Fornecimento de insumos

Na avicultura de postura, os principais insumos utilizados são: a importação de material genético e a produção local de avós, matrizes e pintaínhas, rações, vacinas e as máquinas e equipamentos utilizados no processo de produção.

A produção do ovo tem como prelúdio a importação de material genético (bisavós) dos países europeus, e produção no Brasil das avós e matrizes, e por meio destas as pintainhas, que são comercializadas para as granjas formarem seu plantel de poedeiras. Este processo tem um alto custo, e assim os avicultores do município de Santa Maria de Jetibá optam por adquirir suas pintaínhas no Estado de São Paulo e no município mineiro de Uberlândia, não produzindo nenhum elo da cadeia genética do ovo. Os insumos químicos e farmacêuticos representam cerca de 4% do custo total de produção, principalmente pela alta concentração dos fabricantes, segundo Meirelles (2004) os fabricantes dos insumos químicos e farmacêuticos são poucos (Quadro 1), tornando-os detentores de preço.

Origem Empresa

Estados Unidos

Fort Dodge Elanco Schering Plough Coopers Pfizer Alpharma

Alemanha

Basf

Bayer

Boehringer Ingelheim

Degussa

França Merial

Ceva Santé Animale

Holanda Akzo Nobel NV Quadro 1 Maiores grupos fabricantes de produtos para sanidade avícola Fonte: Meirelles, H., et al, 2004. Elaboração Própria

Desde o primeiro dia de vida até o descarte, as poedeiras são vacinadas em média

32 vezes com o intuito de diminuir a ocorrência de doenças de notificação como Newcastle, Salmonelas e Micoplasmas (Quadro 2). Os programas de vacinação são elaborados através das especificações do Programa Nacional de Sanidade Avícola2, respeitando os desafios sanitários de cada região.

2 O Programa Nacional de Sanidade Avícola foi criado (Portaria Ministerial nº 193 de 19 de setembro de 1994) pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), com o intuito de normatizar e fiscalizar a atividade avícola para melhorar a sanidade animal. Para mais informações ver: http://www.agricultura.gov.br/portal/page?_pageid=33,981919&_dad=portal&_schema=PORTAL.



10

Quanto à estrutura física necessária nas granjas - galpões, silos para estocagem de ração, classificadoras de ovos, embaladoras, entreposto, entre outros - são importadas de São Paulo e da região sul do país. As máquinas como a de compostagem do esterco, com tecnologia mais moderna são importadas da Europa ou Japão.

A nutrição de aves de postura procura a produção máxima de ovos de boa qualidade e o equilíbrio alimentar das poedeiras. No município existem quatro fábricas formais de ração e aproximadamente trinta informais. As fabricas de ração formais são de propriedade da cooperativa (COOPEAVI) e dos avicultores de grande porte, enquanto as informais são dos pequenos produtores.

Dia ideal de vacinação

Tipo de doença prevenida Via de vacinação

1º Marek Intramuscular Bouba Aviária Intramuscular Gumboro Intramuscular ou nasal

7º Newcastle Ocular ou nasal Broquite Infecciosa Na água de beber Gumboro Intramuscular ou nasal

14º, 21º e 28º Gumboro Intramuscular ou nasal

35º

Gumboro Intramuscular ou nasal Broquite Infecciosa Na água de beber Newcastle Ocular ou nasal Coriza Infecciosa Intramuscular ou nasal

42º Micoplasma Gallysepticum Ocular ou nasal

60º

Encefalomielite Intramuscular Bouba Aviária Intramuscular ou nasal Broquite Infecciosa Na água de beber Newcastle Ocular ou nasal

90º Broquite Infecciosa Na água de beber Newcastle Ocular ou nasal

105º

Broquite Infecciosa Na água de beber Newcastle Ocular ou nasal Coriza Infecciosa Intramuscular ou nasal Síndrome da Queda de Postura Intramuscular

140º, 200º, 260º e 320º

Broquite Infecciosa Na água de beber Newcastle Na água de beber

QUADRO 2 Exemplo de Programa de Vacinação Fonte: Merial, 2008. Elaboração Própria Nota: As vias de vacinação podem variar de acordo com a empresa fabricante das vacinas. As vias de vacinação acima especificadas são as usadas comumente.



11

Dentre os principais componentes da ração para poedeiras na fase de postura

destacam-se o milho (ou sorgo, utilizado por ser mais barato em relação ao milho), em maior proporção, juntamente com farelo de soja, calcário, farelo de trigo, sal, farinha de carne, minerais e vitaminas (Quadro 3). Todavia, as porcentagens dos insumos podem mudar com a fase de criação e respectivas necessidades energéticas.

Insumo Porcentagem da ração

Origem

Milho 60 MG, GO, MT, MS Farelo de Soja 18 MG Calcário 8 MG Farelo de Trigo 3 Vitória (Buaiz Alimentos) Sal 0,5 RN Farinha de Carne 8 RJ, ES (Frigopar) Minerais e Vitaminas 2,5 SP

Quadro 3 composição da ração para poedeiras Fonte: BERGER, 2008. Elaboração Própria.

Os principais entraves no fornecimento de insumos são os custos de transporte e a

dependência do fornecimento de insumos de material genético e para nutrição animal (95% dos insumos para composição da ração são exportados de outros estados). Destaca-se também a aquisição de insumos químicos e farmacêuticos, tendo em vista que, estes insumos são adquiridos através de empresas de produtos agropecuários que tenham contratos de venda com os fabricantes dos mesmos. Os grandes avicultores e a cooperativa compram diretamente das empresas de produtos agropecuários em grandes quantidades que lhes confere um poder de negociação de preços, os pequenos avicultores optam por comprar através de cooperativa pelo sistema de subsídio da mesma, no qual o avicultor liquida suas compras com parte de sua produção, e assim aproveitam os preços da cooperativa. 5.2. Processo de Produção O processo de produção inicia-se com a compra de pintaínhas com um dia de vida para a recria, consistindo no desenvolvimento da pintaínha em franga. Este procedimento dura 18 semanas, após o qual as frangas são transferidas para o galpão de produção. A produção consiste em dois ciclos. O primeiro ciclo dura 80 semanas, período em que a produtividade das aves atinge o ponto máximo e declina. Nesta fase, o produtor pode descartar as galinhas ou entrar no segundo ciclo de produção através da muda forçada3.

3A muda forçada é um processo de 28 dias, nos quais as aves não recebem alimento e durante um dia também não

recebem água. Durante este período as aves mudam todas as penas e voltam a ser “frangas”, produzindo por mais 36 semanas. Posteriormente ao segundo ciclo as aves são descartadas e o galpão de produção recebe um novo plantel.



12

Esta decisão é tomada baseada no preço do ovo. Se o preço do ovo estiver alto o segundo ciclo de produção é efetuado, caso contrário as aves são descartadas.

Os ovos produzidos passam por uma triagem, os trincados são separados para serem industrializados e os ovos em bom estado são classificados por peso e embalados para comercialização (Tabela 2).

TABELA 2 CLASSIFICAÇÃO DOS OVOS POR PESO Classificação Peso (gr) Pequeno <50 Médio >50 ou ≤ 55 Grande >55 ou ≤ 60 Extra >60 ou ≤ 66 Jumbo >66

Fonte: BERGER, 2008. Elaboração Própria.

Figura 3: Plantel Rudimentar Fonte: Ovos Santa Maria



13

As disparidades entre os avicultores no processo de produção são relativas à

mecanização da produção. Os pequenos avicultores produzem em galpões rudimentares (Figura 3), com coleta dos ovos e distribuição da ração feitos manualmente. Em contrapartida, os grandes produtores possuem plantéis totalmente automáticos (Figura 4), com classificadoras elétricas que por sensor classificam e embalam os ovos (Figuras 5), diminuindo o desperdício e conseqüentemente os custos.

Figura 4: Plantel Automático Fonte: Ovos Santa Maria



14

Figura 5: Classificadora mecânica Fonte: Ovos Santa Maria

5.3. Comercialização

A produção de ovos in natura do município excede a demanda estadual. Por isso, os grandes produtores escoam 30% da produção no mercado interno, suprindo esta demanda, e os 70% excedentes são encaminhados para os estados de Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. Os pequenos produtores, através da cooperativa, escoam toda a produção para os estados acima mencionados, pois não estão dispostos a disputar preço com os grandes produtores no mercado capixaba. Os ovos trincados são comercializados para a indústria de processamento, convertendo-os em ovos industrializados (ovo em pó, ovo em pó liofilizado e ovo líquido pasteurizado), por não possuir fábricas que beneficiem o ovo in natura, o município retira da casca os ovos trincados, congela e envia principalmente para Belo Horizonte (BH), onde passam pelo processo de beneficiamento.



15

5.4. Descarte Após o ciclo de produção as aves são “descartadas” para que a granja seja ocupada por um novo plantel. O avicultor pode optar pela comercialização das aves vivas para o varejo ou direto para abatedouros. Os avicultores de pequeno porte consideram o descarte como uma fonte de renda, deste modo, optam por comercializar as aves vivas (especialmente no sul da Bahia onde os preços são maiores que os praticados no Espírito Santo), devido ao preço da ave de descarte no comércio varejista de aves vivas excede em mais de 30% o preço da ave vendida para abatedouros.

Em contrapartida, os grandes avicultores do município optam pela venda das aves para abatedouros, por visualizarem o descarte como parte do processo de produção.

O Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) normatiza que o descarte deve ser feito em abatedouros com Serviço de Inspeção Federal (SIF), Serviço de Inspeção Estadual (SIE) ou Serviço de Inspeção Municipal (SIM). Contudo, em Santa Maria de Jetibá não existem abatedouros registrados. O Espírito Santo usufrui somente de dois abatedouros, localizados em Viana e Linhares autorizados a fazer o descarte por possuírem SIF. Este panorama significa um grande entrave para os produtores que optam por vender as aves aos abatedouros, tendo em vista que devido à distância o custo de transporte aumenta, diminuindo a receita com a venda das mesmas. 5.5. Atividades de apoio

O transporte da atividade avícola (de insumos para ração, de ração, de pintaínhas, de aves para descarte e de ovos) do município, é noventa por cento de propriedade do avicultor restando somente 10 % para transporte terceirizado. O transporte próprio em Santa Maria de Jetibá é característica da colonização. A segurança econômica é um atributo da cultura pomerana, deste modo os avicultores reservam capital próprio para adquirir seus automóveis.

As embalagens para a comercialização dos ovos são importadas de São Paulo e Rio de Janeiro. Existem embalagens para estocar ovos de diferentes tamanhos, sendo as comumente utilizadas as de meia dúzia, uma dúzia, 30 ovos e para os ovos jumbo caixas com 20 unidades.

A Cooperativa Agropecuária Centro-Serrana (COOPE-AVI) foi fundada em 6 de setembro de 1964 por 20 avicultores de Santa Maria de Jetibá, com sede no mesmo município (Figura 6). Possui 110 avicultores associados. Os principais objetivos eram superar as dificuldades a infra-estrutura e viabilizar a avicultura da região. A COOPE-AVI expandiu suas atividades e atualmente está presente no mercado de ovos, nutrição animal, produtos agrícolas, recria de aves, café e prestação de consultoria técnica em cinco municípios (Santa Maria de Jetibá, Santa Tereza, Afonso Cláudio, Itarana e Domingos Martins) com 13 lojas.



16

Figura 6: Sede da Coopeavi Fonte: Site da Coopeavi

A COOPE-AVI atua através de uma política de subsídio, na qual os avicultores

cooperados obtêm os insumos através da cooperativa e a mesma se compromete com a classificação e venda dos ovos. 6. CONCLUSÃO

Com apenas 38 anos a avicultura de postura no município de Santa Maria de Jetibá é a principal fonte de renda da economia local. O estudo detectou diversos fatores facilitadores e limitadores. Como fator limitador cabe ressaltar as diferentes realidades encontradas. Por um lado observar-se o grande produtor, o qual possui planteis totalmente automatizados que diminuem os custos de produção, fabricas próprias de ração e equipamentos para a classificação e embalagem mecânica. E por outra face o pequeno avicultor com planteis antigos, classificadoras manuais, entre tantas outras disparidades.

Outra dificuldade encontrada na cadeia produtiva da avicultura de postura no município de Santa Maria de Jetibá refere-se ao alto custo de produção decorrente do transporte de insumos básicos para a fabricação da ração. O custo de produção é cerca de 17% maior que em outros estados, devido principalmente ao abastecimento do milho, ao considerar que o estado do Espírito Santo produz somente 5% dos insumos necessários para a produção de ração. Esta dificuldade afeta todos os avicultores locais, independente do tamanho do plantel.

Dentre os fatores facilitadores pode-se destacar a abundância de águas, a interação com outras atividades agrícolas que necessitam de adubo orgânico, o conhecimento técnico e a proximidade de grandes centros consumidores. O clima do município aliado a disposição geográfica montanhosa também é uma vantagem, pois conjugados agem como barreira sanitária. A cultura dos produtores também é um importante fator para a manutenção da avicultura local, tendo em vista que, os pomeranos evitam comprometer a



17

atividade com empréstimos e são precavidos em relação aos momentos de crise. Acumulando capital próprio e tendo outras atividades agrícolas como fonte de renda, sobrevivem às crises sazonais.

O estudo possibilitou também identificar as principais oportunidades da cadeia, as quais são as exportações, mas para isso a cadeia tem que atender as novas regulamentações internacionais do Protocolo sobre o Bem-Estar Animal, e o aumento do consumo interno através de campanhas que trabalham a imagem benéfica do produto.



18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, Reginaldo A. Cadeia Produtiva da carne bovina – organizar para competir. Informe Agropecuário da EPAMIG, BH-MG, v 21, nº 205, p.17-22, jul/ago-2000. ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos de agronegócio. São Paulo: Atlas, 2003. AULER, José Renato. Impacto da evolução futura dos preços dos ovos no desempenho de uma granja de aves de postura comercial. 2006. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) - Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças, Vitória. AVES. Perfil da Avicultura do Espírito Santo 2007/2008. Disponível em: < http://www.associacoes.org.br/perfilavicultura.php> Acesso em: 10 mai 2008. AVEWORLD. Mercado de postura comercial: situação atual e perspectivas. 2007. Disponível em: <http://www.aveworld.com.br/index.php?documento=1435>. Acesso em: 25 mar 2008 AVISITE. Disponível em: <http://www.avisite.com.br>. Acesso em: 2 fev 2008. BELLARDT, Marcelino .A Coopeavi na história da avicultura de Santa Maria de Jetibá. 2008. Entrevista concedida a Julyana Covre por meio eletrônico, 13 mai. 2008. BERGER, Volkmar. A avicultura em Santa Maria de Jetibá: ovos Santa Maria. Entrevista concedida a Julyana Covre, Santa Maria de Jetibá-ES, 23 mai. 2008. BERGER, Volkmar; CUPERTINO, Edwiney Sebastião. O cenário da avicultura no município de Santa Maria de Jetibá. Entrevista concedida a Julyana Covre, Santa Maria de Jetibá-ES, 23 mai. 2008. BUNGE ALIMENTOS. Alimentação de aves de postura. Disponível em: <HTTP://www.bungealimentos.com.br/nutricao/artigos.asp?id=3036>. Acesso em: 29 maio 2008. CELIN, José Lazaro. Migração européia, expansão cafeeira e o nascimento da pequena propriedade no Espírito Santo. 1984. Dissertação (Mestrado em Economia) – Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. CENTRO DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO DO CAFÉ. Cafeicultura capixaba. Disponível em:< http://www.cetcaf.com.br >. Acesso em 05 nov. 2007



19

CUPERTINO, Edwiney Sebastião. A importância da Coopeavi para os pequenos avicultores de Santa Maria de Jetibá. Entrevista concedida a Julyana Covre, Santa Maria de Jetibá-ES, 23 mai. 2008. HAND, Nélio. Grandes desafios na avicultura e suinocultura capixaba. Jornal do Agronegócio, Espírito Santo, Ano 5, nº 17, p.2, 2008. IBGE, Censo Agropecuário de 1995/96. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 20 nov. 2007. JÚNIOR, José Alfredo. Economia.Século Diário, Vitória, 4 jan. 2007. Disponível em: <http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2007/janeiro/04/noticiario/economia/04_01_04.asp>. Acesso em: 30 abr. 2008. MARTINS, Sônia Santana. et al. Cadeia produtiva do ovo no Estado de São Paulo. Informações econômicas, SP, v.30, n.1, jan. 2000. NEVES, Marcos Fava; SPERS, Eduardo Eugênio. Agribusiness: a origem, os conceitos e tendências na Europa. In: MACHADO FILHO, Claudio A. Pinheiro. (Org.) Agribusiness europeu. Sao Paulo: Pioneira, c1996. cap. 1. PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA MARIA DE JETIBÁ. Disponível em: <http://pmsmj.es.gov.br>. Acesso em: 13 mai 2008. SEAG. Setor avícola: histórico e cenário. Disponível em: <http://www.seag.es.gov.br/setores/avicutura>. Acesso em: 30 abr 2008. SILVA, José Graziano da. A nova dinâmica da agricultura brasileira. 2. ed. rev. - Campinas: UNICAMP, 1998. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Departamento de Economia e Sociologia Rural. Economia e administração agroindustrial . -. 2. ed. - Piracicaba, SP: Departamento de Economia e Sociologia Rural-ESALQ/USP, 2003. cap.10. ZYLBERSZTAJN, Decio. Conceitos gerais, evolução e apresentação do sistema agroindustrial. In: _______. Economia e gestão dos negócios agroalimentares: indústria de alimentos, industria de insumos, produção agropecuária, distribuição. São Paulo: Pioneira, 2000. cap. 1.

cadeia produtiva da avicultura de postura: um estudo … · ovos santa maria, a primeira granja...

Documents