cact informa #5, julho de 2012

6
CENTRO ACADÊMICO DE GEOGRAFIA E CIÊNCIAS DA TERRA — GESTÃO LEVANTA, CACT! Anderson Cordeiro Sabino (101466), Anderson Sirini dos Santos (116106), André Lopes de Souza (080674), Carolina Leardine Zechinatto (090698), Diego Luciano do Nascimento (102018), Diogo Ronchi Negrão (081170), Everton Vinicius Valezio (091055), Frederico Zilioti Amorim (104955), Guilherme Henrique Gabriel (081542), Gustavo Henrique Beraldino Teramatsu (081566), Guilherme Rodrigues Ramos (091433), Jéssica Cecim (117337), João Paulo Marçola (081744), Luciano Pereira Duarte Silva (106127), Maico Diego Machado (083826), Rolver Bernardes Costa (120130), Stéphanie Rodrigues Panutto (092994), Thais Moreno de Barros (104166), Valderson Salomão da Silva (104238). www.ige.unicamp.br/cact facebook.com/geocact [email protected] Boletim dos estudantes de Geografia da Unicamp | n. 5| jul ’12 CACT informa O dia em que a Unicamp dobrou E m 1959, João Adhemar de Almeida Prado (1905-1976), herdeiro do Banco de São Paulo S/A, adquiriu a Fazen- da Rio das Pedras em troca do per- dão de empréstimos não quitados de seus proprietários. A posse dessas terras se dava por herança desde o tempo do Brigadeiro Luís António de Sousa Queirós (1746-1819), a quem foi concedida uma sesmaria no fim do século XVIII. O brigadeiro era so- gro de Albino José Barbosa de Oli- veira (1809-1889), que, por sua vez, era sogro do Barão Geraldo de Re- zende (1846-1907), neto materno do brigadeiro, que deu nome ao distrito criado em 1953. Poucos anos depois, Almeida Prado vendeu uma gleba de 30 alqueires da fazenda pelo preço simbólico de um cruzeiro. O lança- mento da pedra fundamental da Uni- camp ocorreu em outubro de 1966. Cumpriam-se os delírios determinis- tas de Zeferino Vaz (1908-1981), que imaginava instalar a Universidade em um terreno de solo fértil para que seu crescimento fosse garantido. Almeida Prado, também pre- sidente do Jockey Club de São Paulo, ficou conhecido pela doação do terre- no da Unicamp e por ter se beneficia- do da valorização de suas proprieda- des, loteadas posteriormente, mar- cando a história da Unicamp desde seu início pela especulação imobiliária. 45 anos depois, em 27 de ju- nho de 2012, o Conselho Universitário aprovou às pressas, sob protestos, a compra de um terreno de 143 ha para expandir o campus, numa nova rodada de valorização das terras devido à im- plantação do CIATEC II. continua na página 3 >> O CONSU aprovou a compra da Fazenda Argentina por R$ 150 milhões. A aquisição praticamente dobra a área do campus e suscita diversas questões ainda não respondidas NOVA ÁREA

Upload: centro-academico-de-geografia-e-ciencias-da-terra

Post on 31-Mar-2016

215 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

CACT informa #5, julho de 2012

TRANSCRIPT

Page 1: CACT informa #5, julho de 2012

CENTRO ACADÊMICO DE GEOGRAFIA E CIÊNCIAS DA TERRA — GESTÃO LEVANTA, CACT! Anderson Cordeiro Sabino (101466), Anderson Sirini dos Santos (116106), André Lopes de Souza (080674), Carolina Leardine Zechinatto (090698), Diego Luciano do Nascimento (102018), Diogo Ronchi Negrão (081170), Everton Vinicius Valezio (091055), Frederico Zilioti Amorim (104955), Guilherme Henrique Gabriel (081542), Gustavo Henrique Beraldino Teramatsu (081566), Guilherme Rodrigues Ramos (091433), Jéssica Cecim

(117337), João Paulo Marçola (081744), Luciano Pereira Duarte Silva (106127), Maico Diego Machado (083826), Rolver Bernardes Costa (120130), Stéphanie Rodrigues Panutto (092994), Thais Moreno de Barros (104166), Valderson Salomão da Silva (104238).

www.ige.unicamp.br/cact facebook.com/geocact [email protected]

Bolet im dos es tudantes de Geograf ia da Un icamp | n . 5| ju l ’12

CACT informa

O dia em que a Unicamp dobrou

E m 1959, João Adhemar de Almeida Prado (1905-1976), herdeiro do Banco de São Paulo S/A, adquiriu a Fazen-

da Rio das Pedras em troca do per-dão de empréstimos não quitados de seus proprietários. A posse dessas terras se dava por herança desde o tempo do Brigadeiro Luís António de Sousa Queirós (1746-1819), a quem foi concedida uma sesmaria no fim do século XVIII. O brigadeiro era so-gro de Albino José Barbosa de Oli-veira (1809-1889), que, por sua vez, era sogro do Barão Geraldo de Re-

zende (1846-1907), neto materno do brigadeiro, que deu nome ao distrito criado em 1953. Poucos anos depois, Almeida Prado vendeu uma gleba de 30 alqueires da fazenda pelo preço simbólico de um cruzeiro. O lança-mento da pedra fundamental da Uni-camp ocorreu em outubro de 1966. Cumpriam-se os delírios determinis-tas de Zeferino Vaz (1908-1981), que imaginava instalar a Universidade em um terreno de solo fértil para que seu crescimento fosse garantido. Almeida Prado, também pre-sidente do Jockey Club de São Paulo,

ficou conhecido pela doação do terre-no da Unicamp e por ter se beneficia-do da valorização de suas proprieda-des, loteadas posteriormente, mar-cando a história da Unicamp desde seu início pela especulação imobiliária. 45 anos depois, em 27 de ju-nho de 2012, o Conselho Universitário aprovou às pressas, sob protestos, a compra de um terreno de 143 ha para expandir o campus, numa nova rodada de valorização das terras devido à im-plantação do CIATEC II.

continua na página 3 >>

O CONSU aprovou a compra da Fazenda Argentina por R$ 150 milhões. A aquisição praticamente dobra a área do campus e suscita diversas questões ainda não

respondidas

NOVA ÁREA

Page 2: CACT informa #5, julho de 2012

2012) com a GBVT Engenharia é de R$ 69.999,97. Os trabalhos já começaram e devem ir até o fim de agosto. Comenta-se que a próxima cor — a EB já foi azul — será rosa. Só vendo!

Quebra-molas Em abril, a Rua da EB também recebeu novas placas, uma lombada e nova pin-tura das faixas. Faltou só o repelente contra motoristas que insistem em esta-cionar sobre a faixa de pedestres.

60 impressões a mais Também neste semestre, depois de a-nos, a cota semestral para os alunos de graduação aumentou de 19 para 25 re-ais. Falta agora rever a Lexmark T630, que está na ativa desde maio de 2004 e apresenta problemas há algum tempo.

PI 00275 A mudança da sede das entidades estu-dantis para o imóvel abaixo, que tem o PI acima, ficou para o próximo semestre.

Lobão Os alunos elogiaram a participação do professor Lobão na exposição A Ditadu-ra no Brasil 1964–1985 -- A Verdade da Repressão, a Memória da Resistência, em debate realizado após a exibição do do-cumentário "O dia que durou 21 anos", dia 19/jun, na Casa do Lago.

Doação de livros

Parte da doação anônima de livros rece-bida pelo CACT foi repassada para bibli-oteca. Foram oito livros, incluindo al-guns títulos da coleção O novo mapa do mundo e Grandes cientistas sociais. Em abril, o CACT também deixou na biblio-teca alguns livros em nome da profª Catia Antonia da Silva, da UERJ.

Muro das lamentações

A edição anterior deste boletim, expos-ta no mural da Graduação, foi retirada mais cedo para dar lugar às planilhas com as médias finais, dando início aos tradicionais comentários sobre as notas alheias que só cessam com o início das férias, que ainda bem, já chegaram. Até agosto!

R$ 8.715,28 Com o professor Márcio Cataia reali-zando seu pós-doutorado na Sorbonne Nouvelle, em Paris, até abril de 2013, está aberta a vaga para docente a ser contratado em caráter emergencial para ministrar as disciplinas GF406 -- Geografia Política (duas turmas) e GF129 -- Geografia Econômica (uma turma), que será oferecida pela segun-da vez. Os alunos fazem a matrícula sem saber quem será o(a) professor(a).

XVII ENG

Na iminência do maior evento nacional de Geografia, os estudantes preparam seus trabalhos para apresentação e os ânimos para passar uma semana na capital mineira, levando o nome da Unicamp à comunidade geográfica brasileira. O ônibus sai da Unicamp à meia-noite de 22/jul e chega a Campi-nas na noite de 28/jul. Ainda há vagas!

Iniciação científica Na primeira chamada, divulgada no dia 26 de junho, doze alunos da Geografia foram contemplados com bolsas de iniciação científica nos programas PRP/PIBIC/CNPq, PIBIC-AF e Bolsas Pesqui-sa Unicamp/SAE. A segunda chamada sai em 1º de agosto. Para o XX Con-gresso Interno de Iniciação Científica, estão inscritos 24 alunos do curso, que apresentam no dia 24/out. A profª A-driana Bernardes faz parte do Comitê Interno responsável pela indicação dos melhores trabalhos inscritos.

Vicente na Carta Capital

O prof. Vicente assinou o artigo O geó-grafo humanista na Carta na Escola de junho, em homenagem a Aziz Ab’Sá-ber, morto em março. Vale a leitura. “Um curso de Formação Geral para a

contemporaneidade” A proposta de uma criação da gradua-ção em Estudos Contemporâneos, um bacharelado de três anos, foi apresen-tada a alguns docentes no dia 5/jul pela profª Silvia Figueirôa. Resta saber qual seria a participação do IG neste curso, que prevê a criação de discipli-nas como Estudos da Cidade e Globali-zação e Novas Geopolíticas.

A EB era azul

O prédio da EB receberá pintura exter-na nestas férias. O contrato (144/

2 | CACT informa | n. 5, jul ’12

Representando na Congregação Everton Valezio, eleito com 26 votos, junta-se aos demais RDs eleitos em maio. No último ano, o corpo discente foi representado na Congregação por Luciano Duarte e Valderson Salomão. A este órgão compete elaborar o Regi-mento do IG, deliberar alterações nos regimentos dos demais órgãos colegia-dos, na estrutura administrativa do IG e também sobre penalidades e san-ções disciplinares (a última foi em 2008); aprovar procedimentos inter-nos de admissão, contratação, promo-ção, afastamento, licenças, demissão ou alteração de regime de trabalho de docentes; propor e aprovar a abertura dos concursos para a carreira docente; aprovar as normas gerais relativas ao curso, o currículo, os programas, o va-lor dos créditos e pré-requisitos das disciplinas etc.

Avaliação Mais uma vez, alguns professores dei-xaram de aplicar a avaliação de suas disciplinas. Cada vez mais, pesam as razões para se fazer a avaliação interna online: além de não haver desculpas para não realizá-la, a Secretaria de Gra-duação economizaria tempo precioso: da maneira como é feito hoje, é neces-sário imprimir algumas resmas de sulfi-te, separá-las em envelopes identifica-dos, acompanhar e conferir o preen-chimento — chegam a preencher elas mesmas os códigos dos questionários! — tabular os dados, digitar as respos-tas dissertativas e — ufa! — fazer a revisão. O ganho também está na agili-dade: atualmente, o produto final é um CD-R com capinha em wordart que só é finalizado meses depois. Pela in-ternet, os dados podem ser organiza-dos automaticamente.

CACTadas

do

guaxinim

Page 3: CACT informa #5, julho de 2012

CACT informa | n. 5, jul ’12| 3

U ma das maiores polêmicas do semestre envolveu a compra, aprovada pelo CONSU, de área de 143 ha

contígua à Cidade Universitária — a Fazenda Argentina. O assunto surgiu na pauta da sessão extraordinária de 5/jun e foi vista com estranheza por parte da comunidade acadêmica. A reunião daquele dia adiou a discus-são, considerando que deveria ser melhor estudada. Os protestos de estudantes (DCE), do STU e até de alguns docen-tes — o prof. Jorge Stolfi, do IC, fez comentários bem pertinentes ao lon-go do mês em seu site — não basta-ram e, quando a pauta voltou a ser discutida, em outra reunião extraor-dinária (27/jun), a compra foi aprova-da pela grande maioria dos membros do Conselho: 49 a favor, com 6 abs-tenções e 6 votos contra. Os questionamentos se refe-rem 1) à grande quantia destinada à aquisição do terreno; 2) à real neces-sidade de tal ampliação do campus no momento atual; 3) ao processo de aprovação da compra, feita direta-mente com o proprietário e por inicia-tiva deste; 4) à possibilidade de haver interesses político-partidários — de direita — envolvidos no item 3. A Rei-toria se limitou a dizer que se trata de oportunidade única para a expansão futura do campus atual. A falta de argumentos só aumentou a desconfi-ança. O STU, que tratou a compra como golpe e defende que o dinheiro pode ser usado para bancar a isono-mia salarial dos servidores pelo próxi-mo ano, informou que acionará o Mi-nistério Público Estadual contra a de-cisão. Ao mesmo tempo, eternas ban-deiras estudantis voltaram à discus-são, como a ampliação de vagas na Moradia e a conclusão do novo IG, o elefante branco da Calourada ‘09. O valor do terreno — cortado por três áreas de preservação perma-nente: há nascentes de dois córregos e o leito Ribeirão Anhumas, na porção mais próxima à Rodovia Adhemar de

Barros — foi calculado a partir da média de dois laudos, um deles bem acima do preço de mercado. De qual-quer forma, o preço final — 150 mi — só foi acertado após negociação feita diretamente com o proprietá-rio.

Itaú-Unibanco desistiu de compra A questão da Fazenda Argentina de-ve ser compreendida também fora dos limites da Unicamp. O terreno faz parte do CIATEC II, onde a ocupa-ção é controlada. Lembremos que o Banco Itaú havia se proposto a com-prá-lo para instalar seu Centro Tec-nológico de Operações, mas desistiu no início do ano após intervenção do Ministério Público, que pediu o lote-amento da área fazendo cumprir a legislação vigente. O CTO vai para Mogi Mirim, que afrouxou o zonea-mento urbano e deu incentivos para sua instalação, cujo investimento será bilionário. Em Campinas, o Itaú seria responsável pela ampliação da Avenida Guilherme Campos, que ras-gará o terreno que a Unicamp pre-tende comprar, e a duplicação da estrada que leva ao CPqD. O plano urbanístico do se-gundo parque do Polo de Alta Tec-nologia de Campinas prevê, ao longo deste prolongamento, a construção de um boulevard — mais uma das amenidades que buscam tornar a região mais atrativa a investimentos. A ideia de um polo tecnológico pró-ximo à Unicamp vinha desde a déca-da de 1970 com as iniciativas do pro-fessor emérito Rogério Cezar de Cer-queira Leite, do IFGW. Disse ele, cer-

ta vez, que o polo campineiro seria a primeira experiência do mundo em racionalizar um fenômeno espontâ-neo como foi o Vale do Silício.

Santander à moda chinesa O planejamento e o esforço político para o polo tecnológico Campinas não são modestos, embora os bene-fícios para aqueles que mais precisam sejam. Recentemente, outro terreno contíguo à Unicamp, de 1.190.000 m², foi vendido ao Banco Santander para a instalação de seu Centro de Processamento de Dados, uma das muitas empresas que pretendem investir em Campinas. Ao longo da construção do data center, a popula-ção local protestou contra a presen-ça dos operários, considerados inde-sejáveis (ler texto do Barão em Foco Chega de migração para Campinas e Barão Geraldo! E não é xenofobia). De outro lado, não tardou para aparecer denúncias contra irregularidades e as péssimas condições de trabalho às quais os terceirizados estão sendo submetidos. Depois de poucos me-ses, a inauguração está prevista para o próximo mês.

Futuro, que futuro? Muito se falou sobre o futuro da Uni-versidade, tão incerto e imprevisível, e sobre como a aquisição da fatia menos nobre do CIATEC traria bene-fícios à Unicamp. Em tempos em que se discute tanto o papel social da Universidade, parece não restar dúvi-das sobre em qual lado ela está. Bus-ca-se a qualquer custo criar sinergias entre a Unicamp, paga com recursos públicos, e grandes empresas priva-das; ao mesmo tempo, a população baronense não se vê como parte do projeto de Vaz que justificou a pró-pria ocupação e o crescimento de Barão Geraldo. No futuro, ao menos, tam-bém reside a esperança e, pensando nisso, devemos insistir em um proje-to de universidade verdadeiramente democrática e mais compromissada com a sociedade.

1.434.843,13 m², R$150.000.000,00

O cruzeiro de Almeida Prado — área desapropriada para a Unicamp nos

anos 60 foi vendida por valor simbólico

Page 4: CACT informa #5, julho de 2012

do que atuava, afinal, o Departamen-to de Geografia da UFRJ é de reco-nhecida excelência no ensino e pes-quisa, com um programa de pós-graduação que tem nota máxima da CAPES e de produção intelectual que é leitura obrigatória para a Geografia Brasileira. Por outro lado, não se po-de negar a excelência do Departa-mento de Geografia da Unicamp e de seu curso de Geografia no cenário brasileiro. Veja o que já foi consegui-do em menos de 15 anos, desde a entrada da primeira turma na Geo-grafia na Unicamp. Assim, posso afir-mar que, respeitando suas histórias e especificidades, ambos os cursos são de excelência. Voltar para São Paulo tam-bém foi um projeto pessoal, de estar próximo dos familiares e também uma fuga do atual custo de se viver no Rio de Janeiro. É praticamente impossível projetar um futuro finan-ceiro seguro com os preços do alu-

CACT — Depois de concluir o mes-trado no IG e ir para o Rio de Janeiro, você volta, agora como professor doutor, depois de dez anos. Quais foram as principais motivações para o retorno e o que você já percebeu que mudou — e o que continua igual — em nosso Instituto nessa década? Rafael Straforini — Não poderia di-zer que meu retorno à Unicamp seja motivado exclusivamente por moti-vos profissionais, digo, ir ao encon-tro de um Departamento de Geogra-fia academicamente mais qualificado

guéis e dos imóveis para compra. É como se o seu salário fosse jogado pelo ralo pela simples justificativa de se morar numa cidade olímpica! Mas sabemos que os Jogos Olímpicos representa um projeto de cidade que não beneficia a todos, mas é pago por todos. Mais, são projetos urbanos excludentes! Quanto às mudanças no IG nesses dez anos, não tenho condi-ções de tecer uma avaliação com profundidade, afinal, depois que en-cerrei o mestrado só retornei para o concurso e para a posse. Mas avalio que temos grandes transformações em movimento, principalmente com a separação das entradas dos cursos de Geografia e Geologia e do novo currículo de licenciatura em Geogra-fia. Trata-se de reformas curriculares importantíssimas e currículo não po-de ser compreendido apenas como grade curricular, mas como “campo de disputas”! O que isso implicará no

4 | CACT informa | n. 5, jul ’12

CACT entrevista Rafael Straforini

O professor Rafael Straforini, aprovado em concurso em fevereiro deste ano (foto), já está em Campinas e inicia suas atividades na docência já no próximo semestre. O docente mais jovem do DGEO, em entrevista ao CACT,

agradeceu a atenção dispensada — ele foi a capa do primeiro CACT informa, de março deste ano — e revelou que se anima em trabalhar em uma Instituição onde os alunos demonstram tamanho interesse pelo ensino de Geografia.

Voltar para São Paulo também foi um projeto pessoal, de es-tar próximo dos familiares e também uma fuga do atual custo de se viver no Rio de Janeiro. (...) É como se o seu salário fosse jogado pelo ralo pela simples justificativa de se morar numa cidade olímpica!

Gustavo Teram

atsu

Page 5: CACT informa #5, julho de 2012

eventos ótimos, com uma boa recep-tividade dos docentes das redes mu-nicipal e estadual da região metro-politana de Campinas! Creio que os professores careciam muito desse tipo de atividade e eles tinham mui-to prazer e satisfação em participar de atividades realizadas na Unicamp! Nas fichas de avaliação dos eventos isso ficava claro! Mas, enfim, claro que tenho interesse em retornar esses encontros, quem sabe até or-ganizar um Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia! Você pretende dar continuidade, na Unicamp, ao Ateliê de Pesquisas e Prática em Ensino de Geografia? Tem planos para o PIBID? Evidentemente. O cenário que en-contro na Unicamp é o mesmo que encontrei na UFRJ: um currículo de licenciatura recém-reformulado, úni-co professor do departamento volta-do exclusivamente para atuar no ensino, pesquisa e extensão em Edu-cação em Geografia e, fundamental-mente, um desejo muito grande por parte dos alunos em mergulhar na temática. Justiça tem que ser feita, pois o Ateliê na UFRJ só foi possível graças aos alunos que abraçaram a ideia, carregaram caixas, enfrenta-ram os desafios. Nas primeiras Jorna-das de Iniciação Científica eles deram a cara para bater, foram hipercorajo-sos em apresentar suas pesquisas que, aparentemente aos olhos dos geógrafos, nada têm a ver com Geo-grafia! Agora estão lá atuando, al-guns no mestrado e com participa-ção em muitos eventos. Quanto ao PIBID, estou con-versando com o atual coordenador. Esse é um momento de encerramen-to de semestre, de elaboração de relatórios etc. Assim que tudo isso acabar vamos aprofundar o diálogo. Os docentes da UFRJ estão em gre-ve desde maio. Como você avalia a situação dos professores das Univer-

futuro, eu não posso avaliar no mo-mento, mas vai ser um processo de construção dialético em que seus sujeitos praticantes (professores, alunos, administração da unidade e também universitária) atuarão. Um dos pontos que a separação e o cur-rículo de licenciatura implicará será na construção da identidade profis-sional dos seus alunos, formando junto a esses também uma psicosfe-ra de atuação nesse “campo de dis-putas”!

Quanto à disciplina que você minis-trará no próximo semestre [GF126 — Tópicos Avançados em Geografia II, que será oferecida nas noites de se-gunda-feira], quais são suas ideias para o programa ? Será uma eletiva para refletir sobre a Geografia Escolar, passando pela história da disciplina nos âmbitos escolar e acadêmico, de suas rela-ções de proximidade e separação e de práticas cotidianas e curriculares da geografia escolar nos níveis fun-damental e médio. Um colóquio temático sobre ensino de Geografia é uma demanda do corpo discente já há algum tempo. Você pensa em retomar a organiza-ção de eventos como os Encontros Regionais de Ensino de Geografia de 2000 e 2001? Uau... a pergunta me fez retornar ao passado, um flashback desses even-tos. Vocês acreditam que eu e o pro-fessor Antonio Carlos Pinheiro [que à época fazia doutorado também orien-tado pelo prof. Archimedes, e hoje é professor adjunto da UFPB] fazíamos “de um tudo” nesses eventos? De coordenação das mesas-redondas a passar o café para ser servido aos participantes! Eles foram organiza-dos pela Seção Local da AGB, que inclusive foi transferida para as de-pendências do IG na ocasião. Foram

sidades federais? Não se pode falar exclusivamente da situação dos professores das institui-ções federais, mas das condições gerais de trabalho dos docentes uni-versitários. Se pensarmos que nossa carreira implica na formação máxima para ingresso e os salários que rece-bemos, veremos “que há alguma coisa fora da ordem”. Os professores federais estão lutando é para um plano de carreira que os aproxime dos pesquisadores do IBGE, INPE etc. Por que um doutor do IBGE pode ganhar mais que um professor dou-tor lotado em uma universidade fe-deral? Isso para ficarmos somente nesse nível, pois se compararmos nossos salários com outras funções que exigem nível médio apenas, em que se ganha muito mais, aí fica difí-cil de engolir! É preciso que fique claro que o processo de desqualificação da profissão docente não foi um proje-to de Estado apenas para a Educação Básica, mas também para o Ensino Superior. É preciso, urgentemente, que lutemos pela recomposição da qualificação da docência! Algumas áreas mais tecnológicas estão tendo um apagão de professores universi-tários, afinal, quem quer ganhar sete ou oito mil reais se no mercado pro-fissional pode se ganhar o triplo des-se valor? Isso também já começa a rebater nos programas de pós-graduação, pois a moçada nem ter-mina os cursos de Engenharia, Geo-logia, entre outros, e já estão empre-gados com um salário quatro, cinco, seis vezes maiores que a bolsa de mestrado do CNPq. É uma competi-ção desleal! Enfim, a docência preci-sa ser valorizada!

Temos grandes transfor-mações em movimento, principalmente com a se-paração das entradas dos cursos de Geografia e Geo-logia e do novo currículo de licenciatura

Por que um doutor do IBGE pode ganhar mais que um professor doutor lotado em uma universi-dade federal?

Gostaria de ver uma entrevista com

alguém? Envie sugestão para

[email protected]!

Agradecemos a disposição do Prof. Ra-

fael, que nos respondeu prontamente!

Para ler as edições passadas do boletim,

incluindo a cobertura do concurso em

que Rafael Straforini foi aprovado,

acesse ige.unicamp.br/cact/informa

CACT informa | n. 5, jul ’12| 5

Page 6: CACT informa #5, julho de 2012

uma pesquisa mais ampla, feita no interesse coletivo. E isso é útil até didaticamente porque o candidato poderá valer-se de conselhos da par-te de um professor muito bem infor-mado sobre o assunto, e utilizar co-mo material de fundo e de compara-ção as teses já elaboradas por outros estudantes sobre temas afins. Assim, caso execute um bom trabalho, o candidato pode esperar uma publica-ção ao menos parcial de seus resulta-dos, talvez no âmbito de uma obra coletiva. Há aqui, entretanto, alguns inconvenientes possíveis: 1. O professor está entusiasmado com seu próprio tema e violenta o candidato que, por seu lado, não tem o mínimo interesse naquela di-reção. O estudante torna-se, nesse caso, um carregador de água que se limita a recolher penosamente mate-rial que depois outros irão interpre-tar. Como sua tese será modesta, sucederá que o professor, ao elabo-rar a tese definitiva, talvez só use algumas partes do material recolhi-do, não citando sequer o estudante, até porque não se lhe pode atribuir nenhuma ideia precisa. 2. O professor é desonesto, põe os estudantes a trabalhar, aprova-os e utiliza desabusadamente o trabalho deles como se fosse seu. Às vezes se trata de uma desonestidade quase de boa fé: o mestre acompanhou a tese com paixão, sugeriu várias idei-as e, algum tempo depois, não mais distingue sua contribuição da do es-tudante, tal como, depois de uma acalorada discussão coletiva, não conseguimos mais recordar quais as ideias que perfilhávamos de início e quais as que assumimos depois por estímulo alheio. Como evitar tais inconveni-entes? O estudante, ao abordar um determinado professor, já terá ouvi-do falar dele, já terá entrado em con-

P or vezes o estudante esco-lhe um tema de seu próprio interesse. Outras vezes, ao contrário, aceita a sugestão

do professor a quem pede a tese. Ao sugerirem temas, os pro-fessores podem seguir dois critérios diferentes: indicar um assunto que conheçam bem e onde não terão dificuldades em acompanhar o alu-no, ou recomendar um tema que conhecem pouco e querem conhecer mais. Fique claro que, contraria-mente à primeira impressão, esse segundo critério é o mais honesto e generoso. O professor raciocina que, acompanhando uma tese dessas, terá seus próprios horizonte alarga-dos pois, se quiser avaliar bem o can-didato e ajudá-lo em seu trabalho, terá de debruçar-se sobre algo novo. Em geral, quando o professor opta por essa segunda via, é porque confi-a no candidato. E normalmente lhe diz explicitamente que o tema é no-vo para ele também e que está inte-ressado em conhecê-lo melhor. Exis-tem professores que se recusam a orientar teses sobre assuntos surra-dos, mesmo na atual situação da uni-versidade de massa, que contribui para temperar o rigor de muitos e incliná-los a uma maior compreen-são. Há, no entanto, casos especí-ficos em que o professor está fazen-do uma pesquisa de grande fôlego, para a qual são necessários inúmeros dados, e decide valer-se dos candida-tos como membros de sua equipe de trabalho. Ou seja, durante alguns anos, ele orienta as teses numa dire-ção específica. Se for um economista interessado na situação da indústria em um dado período, determinará teses concernentes a setores parti-culares, com o fito de estabelecer um quadro completo do assunto. Ora, tal critério é não apenas legíti-mo mas também cientificamente útil: o trabalho de tese contribui para

tato com diplomados anteriores e possuirá, destarte, uma ideia acerca de sua lisura. Terá lido seus livros e descoberto se o autor costuma men-cionar ou não seus colaboradores. No mais, entram fatores imponderá-veis de estima e confiança. Mesmo porque não convém cair na atitude neurótica de sinal contrário e julgarmo-nos plagiados sempre que alguém falar de temas semelhantes aos da nossa tese. Quem fez uma tese, digamos, sobre as relações entre darwinismo e la-marckismo, teve oportunidade de ver, percorrendo a literatura crítica, quantos outros já falaram sobre o mesmo assunto e quantas ideias co-muns a todos os estudiosos. Deste modo, não se julgue um gênio espo-liado se algum tempo depois o pro-fessor, seu assistente ou um colega se ocuparem do mesmo tema. Por roubo de trabalho cientí-fico entende-se, sim, a utilização de dados experimentais que só podiam ter sido recolhidos fazendo essa da-da experiência; a apropriação da transcrição de manuscritos raros que nunca tivessem sido transcritos an-tes de você; a utilização de dados estatísticos que ninguém havia cole-tado antes de você, sem menção da fonte (pois, uma vez tomada pública, todos têm direito de citar a tese); a utilização de traduções, que você fez, de textos que não tinham sido traduzidos ou o foram de maneira diferente. Seja como for, síndromes paranóicas à parte, o estudante deve verificar se, ao aceitar um tema de tese, está se inserindo ou não num trabalho coletivo, e pensar se vale a pena fazê-lo.

6 | CACT informa | n. 5, jul ’12

Como evitar ser explorado por seu orientador

Umberto Eco (1932-) é escritor, filósofo,

semiólogo, linguista e bibliófilo italiano. O texto é um trecho do

ensaio Como se faz uma tese (1977), em tradução de Gilson Cesar Cardoso de

Souza, disponível na biblioteca do IG (001.4 Ec71c)

CACT informa — Boletim informativo dos estudantes de Geografia da Unicamp editado pelo CACT, de perio-dicidade mensal, publicado na primeira quinzena de cada mês. Diagramação e edição: Gustavo Teramatsu. Leitura crítica: André Souza, Melissa Steda, Valderson Salomão e Wagner Nabarro