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Cabanagem 1. Introdução Para que se entenda de forma ampla e contextualizada como ocorreu e quando culminou a Cabanagem, faz-se necessária uma breve análise de alguns acontecimentos que antecederam essa revolta. Com a independência político-administrativa do Brasil em relação a Portugal, iniciou-se o Primeiro Reinado, período que foi de 1822 a 1831. Após esta independência, os grandes territórios conhecidos como capitanias hereditárias, tornaram- se províncias, porém em muitas províncias houve resistências à separação de Portugal. O Imperador D. Pedro l utilizou oficiais e soldados mercenários para combater possíveis revoltas e manter a unidade territorial. Ainda assim, existiram resistências nas províncias do Pará, Maranhão, Piauí, Cisplatina e Bahia. Vários fatores que permeiam a decadência do governo de D. Pedro serão relatados a seguir, numa sucessão de fatos e erros que resultaram na mudança administrativa do país, por conta disso, mais adiante, aconteceria um dos episódios mais sangrentos das revoltas populares no Brasil, que conhecemos hoje por Cabanagem. Muitos motivos levaram D. Pedro a abdicar o trono, um dos problemas cruciais que ocasionou sua renuncia foi a Guerra da Cisplatina, região que atualmente se localiza o Uruguai. Os habitantes daquele local não aceitavam fazer parte do Brasil por questões culturais e de crença, resolveram então lutar contra o Brasil Império pela sua independência, com isso, o

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Cabanagem

1. Introdução

Para que se entenda de forma ampla e contextualizada como ocorreu e

quando culminou a Cabanagem, faz-se necessária uma breve análise de alguns

acontecimentos que antecederam essa revolta. Com a independência político-

administrativa do Brasil em relação a Portugal, iniciou-se o Primeiro Reinado,

período que foi de 1822 a 1831. Após esta independência, os grandes territórios

conhecidos como capitanias hereditárias, tornaram-se províncias, porém em muitas

províncias houve resistências à separação de Portugal.

O Imperador D. Pedro l utilizou oficiais e soldados mercenários para

combater possíveis revoltas e manter a unidade territorial. Ainda assim, existiram

resistências nas províncias do Pará, Maranhão, Piauí, Cisplatina e Bahia.

Vários fatores que permeiam a decadência do governo de D. Pedro serão

relatados a seguir, numa sucessão de fatos e erros que resultaram na mudança

administrativa do país, por conta disso, mais adiante, aconteceria um dos episódios

mais sangrentos das revoltas populares no Brasil, que conhecemos hoje por

Cabanagem.

Muitos motivos levaram D. Pedro a abdicar o trono, um dos problemas

cruciais que ocasionou sua renuncia foi a Guerra da Cisplatina, região que

atualmente se localiza o Uruguai. Os habitantes daquele local não aceitavam fazer

parte do Brasil por questões culturais e de crença, resolveram então lutar contra o

Brasil Império pela sua independência, com isso, o governo brasileiro gastou

fortunas com a repressão, ocasionando um aumentou considerável na dívida

pública.

A poderosa Inglaterra que tinha interesses econômicos na região interveio

promovendo a paz, resultando na derrota brasileira. A imagem política de D. Pedro I

se desgastou ainda mais, sem contar o desequilíbrio econômico que esta guerra

causou ao governo imperial.

2. Abdicação de D.Pedro

Para contribuir com sua decadência pública, o estilo autoritário de D. Pedro I

tirou-lhe o apoio de grande parcela do povo, entre eles os liberais e moderados,

além dos integrantes do partido português.

A balança comercial foi outro indicador do fracasso imperial, acumulava

déficits em função do desequilíbrio das importações e exportações. A dívida externa

não parava de crescer, sendo agravada com os gastos ocasionados pela guerra e

pela resolução dos conflitos.

Contudo, a crise culminou quando um jornalista liberal foi assassinado e sua

morte foi associada ao autoritarismo do Imperador, Isso acarretou um aumento

incorrigível na impopularidade de D. Pedro, fazendo-o renunciar em favor do seu

filho, na manhã de 7 de abril de 1831.

Com o declínio do governo de D. Pedro I, outra forma de administrar o país

foi implantada através das Regências, tendo em vista que o sucessor legal do

imperador D. Pedro I, tinha na ocasião, apenas cinco anos de idade, e dessa forma

estava impossibilitado de assumir o poder, conforme determinava as regras do

Império brasileiro.

Dessa forma, as várias províncias que compunham o Brasil Império,

perceberam a fragilidade administrativa do governo maior, as províncias mais

insatisfeitas enxergaram nessa situação a oportunidade de assumirem o controle

administrativo de suas respectivas províncias e ter uma melhoria de vida além de

uma representatividade maior com o governo imperial.

3. Periodo regencial

A fase regencial foi politicamente a mais instável da história do Brasil. Os

principais agrupamentos políticos lutavam pela posse do poder, defendendo

tendências diversas.

Nesse período o Brasil ficou dividido em 3 grupos diferentes que dominaram

a vida pública brasileira, várias regências se sucederam no período regencial como:

Regência Trina Provisória, Regência Una e tantas outras, porém, foi no período da

Regência Feijó que eclodiram várias revoltas, entre elas, a Cabanagem.

4. As rebeliões regenciais

Para as camadas livres, mas não proprietárias, as rebeliões eram a única

alternativa que lhes restavam para mudar a situação sócio-política, pois na

realidade, a independência foi apenas uma estratégia política da aristocracia rural

brasileira que conservou e até ampliou seus privilégios. Por outro lado a miséria se

agravava na fase regencial com a crise econômica financeira. A população pobre,

vivendo em estado de miséria em várias partes do país, nada podia esperar de um

governo dominado pelos ricos aristocratas rurais.

5. Cabanagem – O início de uma revolta sangrenta

A Cabanagem foi uma revolta popular ocorrida entre os anos de 1835 à 1840

na época da Regência Feijó, aconteceu na província do Grão Pará, que na época

era composta pelos atuais estados do Pará e Amazonas, envolveu fazendeiros e

comerciantes da região, além de populares que moravam as margens dos rios,

compostos em sua maioria por índios, mestiços e negros que viviam em condições

precárias e até mesmo sub-humanas.

Vivendo uma situação insustentável por conta das péssimas condições de

vida, como falta de saneamento básico, moradia precária, alimentação escassa,

aumento das doenças e sem nenhuma perspectiva de melhoria; esses habitantes

da margem do rio, moradores das cabanas feitas de barro, daí o termo cabanagem,

se aliaram aos comerciantes e fazendeiros locais para ganhar força.

Os registros sobre a Cabanagem encontram-se em poucos livros específicos,

motivo pelo qual dificulta a análise sob diferentes pontos de vista, porém passa a

ser unânime entre os pesquisadores a classificação dessa revolta como a mais

importante já ocorrida na Amazônia e uma das mais violentas da história do Brasil.

6. Causas e objetivos

Embora por causas diferentes, os cabanos (índios e mestiços, em

sua maioria) e os integrantes da elite local (comerciantes e fazendeiros) se

uniram contra o governo regencial e tinham como objetivo principal a

conquista da independência da província do Grão-Pará. Os cabanos

pretendiam obter melhores condições de vida (trabalho, moradia,

alimentação), já os fazendeiros e comerciantes que lideraram a revolta,

pretendiam obter maiores participações nas decisões administrativas e

políticas da província, uma vez que se sentiam desprestigiados pelo

Império.

7. A revolta

A abdicação de D. Pedro I e o estabelecimento do governo provisório

propiciou um movimento com perigo iminente de violência, iniciado em

1832. Neste ano um grupo armado impediu a posse do governador

nomeado pela regência e exigia a expulsão dos comerciantes portugueses

da província. No ano seguinte, Bernardo Lobo de Sousa, novo governador

nomeado, administrou o Pará de forma opressiva e autoritária

Em janeiro de 1835, os cabanos ocuparam a cidade de Belém

(capital da província). Extremamente insatisfeitos e sem a menor

possibilidade de continuarem a se sujeitar ao governador da província e as

regras do governo regencial, os membros dessa manifestação declararam e

iniciaram de forma violenta a revolta. Após acertarem um tiro certeiro em

José Joaquim da Silva Camargo, comandante de armas da Província, e

posteriormente atingir com outro tiro Bernardo Lobo de Souza, presidente

da província do Pará, declaram de maneira violenta o início da Cabanagem.

“Em janeiro de 1835. O tupi Filipe, conhecido como mãe da chuva, deu um tiro no peito de José Joaquim da Silva Camargo. Outro tiro, disparado por Domingos, o Onça, matou Bernardo Lobo de Souza. A primeira vítima era comandante de armas e a segunda, o presidente da Província do Pará... Muitos chegaram a mijar na cova, um buraco aberto no cemitério da igreja das Mercês. A Cabanagem começava.” ( LUÍS BALKAR, 2001, P.9 )

Os cabanos, liderados por Félix Malcher e Francisco Vinagre,

proclamaram a independência do Pará e a República, além de expropriar

armazéns e depósitos de alimentos para distribuí-los entre a população

pobre.

Após assumirem o controle da Província, os revoltosos puseram na

presidência o fazendeiro e até então aliado, Félix Malcher. Porém, Malcher

havia se aliado aos pobres cabanos apenas para ganhar representatividade

e força militar, mas na verdade não compactuava com as mesmas

ideologias, pois não tinha as mesmas dificuldades e privações as quais os

cabanos passavam. Dessa forma, na primeira oportunidade Malcher fez

acordo com o governo regencial, traindo o movimento. Francisco Vinagre

aproveitando o fato de controlar as forças armadas do movimento, tentou

tirar o então governador Félix Malcher do comando da província, porém foi

surpreendido e preso pelo governador. Em retaliação, Antônio Vinagre

irmão de Francisco, assassinou Malcher e pôs seu irmão no comando do

governo.

A elite local se estabelecia no governo do Grão Pará, mas rompia

com o povo humilde que era a maior força militar, ocasionando o

enfraquecimento do movimento. O governo Imperial sabendo do fato, enviou

o almirante John Taylor que assumiu o controle da província, no entanto, os

populares que eram a maioria, não se submeteram a vitória imperial.

Com um exército de 3 mil homens liderados pelo líder popular

Eduardo Angelim, os cabanos retomaram o controle e nomearam um novo

governo republicano, composto somente por pessoas do povo, gente

humilde que compactuava as mesmas necessidades e tinham as mesmas

ideologias. Com Angelim no governo, os cabanos viram a possibilidade de

ter suas necessidades atendidas e de ter representatividade no governo.

Porém, a falta de apoio político das outras províncias e a escassez de

recursos em todos os sentidos, prejudicaram a continuidade da republica

popular.

“Livres dos opressores e dos legalistas, isto é, dos que apoiavam o imperador, os cabanos tiveram de enfrentar um novo inimigo: a fome. Durante este tempo de guerra as plantações foram abandonadas e a carne que vinha da ilha de Marajó foi bloqueada pelos navios da Marinha. A fome em Belém era tanta que, segundo um escritor da época, o povo só tinha para comer “ervas agrestes dos quintais abandonados, raízes e couro seco, reduzido a uma espécie de cola dura e indigesta”. Fonte: (Brasil Indígena: 500 anos de resistência).

Sem muita estrutura e organização, os problemas só aumentaram. A

falta de comida estimulava as intrigas e as divergências. Em abril de 1836,

chegava a Belém um novo governador, acompanhado de um grande número

de soldados, mercenários estrangeiros e criminosos soltos das prisões do

Sul. Sem condições de enfrentar este novo ataque, Eduardo Angelim e os

cabanos fugiram para o interior, onde a resistência continuou.

8. Fim da revolta

Após cinco anos de sangrentos combates, o governo regencial

conseguiu reprimir a revolta. A repressão desencadeada pela nova investida

do governo imperial foi massacrante. De quase 80 mil pessoas que viviam na

província, foram mortas aproximadamente 30 mil. Os mais perseguidos

foram os indíos e os tapuios. Na região de Tapajós, em 1820, haviam 30 mil

índios, quatro décadas depois só restavam 3 mil.

A revolta terminou sem que os cabanos conseguissem permanecer no

poder e ter seus anseios atendidos, pelo contrário, foram praticamente

dizimados. Porém foi a única revolta no Brasil, que a classe popular assumiu

de forma interina o poder, por mais que tenha sido por um curto período de

tempo.

9. Referências bibliográficas

BALKAR, Luís, Visões da Cabanagem: editora Valer, 2001.

SCHNEEBERGER, Carlos , Uma Síntese da História da Amazônia, editora Mensana, 2002, São Paulo, SP

COELHO, Lenílson , Mini Manual Compacto da História do Brasil, editora Rideel, 2003, Manaus, AMBrasil Indígena: 500 anos de resistência / Benedito Prezia, Eduardo

Hoomaert. - São Paulo: FTD, 2000

EM

9. ACONTECIMENTOS QUE ANTECEDERAM A REVOLTA

1.2 A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DO BRASIL

Após a independência política do Brasil em relação a Portugal, iniciou-se o

Primeiro Reinado que abrangeu o período de 1822 a 1831. Após esta

independência, os grandes territórios conhecidos como capitanias hereditárias

passaram a se chamar províncias; Porém em muitas províncias houve resistência à

separação de Portugal.

O Imperador D.Pedro l utilizou oficiais e soldados mercenários para combater

possíveis revoltas e manter a unidade territorial. Ainda assim, houveram

resistências nas províncias do Pará, Maranhão, Piauí, Cisplatina e Bahia.

1.3 ABDICAÇÃO DE D.PEDRO I ( 1831 )

Vários motivos levaram D. Pedro a abdicar o trono devido a uma série de

problemas enfrentados em seu governo. Um dos problemas cruciais que ocasionou

sua renuncia foi a Guerra da Cisplatina, onde atualmente se localiza o Uruguai. Os

habitantes daquele local não aceitavam fazer parte do Brasil por questões culturais

e de crença, resolveram então lutar contra o Brasil Império pela sua

independência.

A Inglaterra que tinha interesses econômicos na região, interviu promovendo

a paz, e com isso o Brasil perdeu a guerra. A imagem política de D.Pedro se

desgastou ainda mais, sem contar o desequilíbrio econômico que esta guerra

causou ao governo imperial. Com isso, o governo brasileiro gastou fortunas com a

repressão e a dívida pública aumentou consideravelmente.

D. Pedro renunciou na manhã de 7 de abril de 1831, voltou à Portugal para

lutar pelo trono. Após encabeçar uma guerra civil, conseguiu chegar a Lisboa, onde

foi aclamado com o título de D. Pedro IV. Três anos depois morre vítima de

tuberculose.

1.4 PERÍODO REGENCIAL ( 1831 – 1840 )

Após abdicar o trono em favor de seu filho D. Pedro de Acântara, que na

ocasião tinha apenas cinco anos, D. Pedro I causou agitação e estimulou a

participação política das camadas urbanas e dos militares. Porém mais uma vez a

aristocracia dominante foi a grande favorecida.

Pelo fato de o herdeiro de D. Pedro ter apenas cinco anos, não seria possível

assumir o governo, e pelo fato de Assembléia está de recesso no dia da abdicação,

não foi possível escolher uma Regência Trina, como determinava a Constituição

imperial. Um grupo de parlamentares se reuniu e escolheu uma Regência Trina

Provisória, constituída pelos senadores Carneiro de Campos, conservador; Campos

Vergueiro, liberal; e pelo brigadeiro Francisco de Lima Silva, militar.

A fase regencial foi politicamente a mais instável da história do Brasil. Os

principais agrupamentos políticos lutavam pela posse do poder, defendendo

tendências diversas.

Nesse período o Brasil ficou dividido em 3 grupos diferentes que dominaram

a vida pública brasileira:

Grupo dos Restauradores: Lutava pelo regresso de D. Pedro e pela volta do antigo

regime que era composto por comerciantes portugueses ligados a este regime.

Grupo dos Moderados: Lutava pela unificação territorial do país. Defendia a

monarquia mas eram contrários ao absolutismo.

Grupo dos Liberais Exaltados: Lutava pela descentralização do poder, pela

autonomia das províncias, e muitos desejavam o fim da monarquia e queriam a

república.

1.5 AS REBELIÕES REGENCIAIS

Para as camadas livres, mas não proprietárias, as rebeliões eram a única

alternativa que lhes restavam para mudar a situação sócio-política, pois na

realidade, a independência foi apenas uma estratégia política da aristocracia rural

brasileira que conservou e até ampliou seus privilégios. Por outro lado a miséria se

agravava na fase regencial com a crise econômica financeira. A população pobre,

vivendo em estado de miséria em várias partes do país, nada podia esperar de um

governo dominado pelos ricos aristocratas rurais.

10.CABANAGEM

2.1 O INÍCIO DE UMA REVOLTA SANGRENTA

A Cabanagem foi uma revolta popular que abrangeu o período de 1835 à

1840. Aconteceu basicamente no atual estado do Pará se estendendo de forma

mais tímida a Barra do rio Negro, atual estado do Amazonas. Esses dois Estados

formavam nesta época, a Província do Grão Pará.

Esta Revolta envolveu fazendeiros e comerciantes da região do Grão Pará,

além de populares que moravam em cabanas as margens dos rios nessa mesma

localidade. Essas cabanas eram feitas de barro e a população que as habitava era

em sua maioria índios e mestiços que viviam em condições precárias e até mesmo

sub humanas.

Dentre as várias rebeliões ocorridas no período regencial, destaca-se a

Cabanagem, uma das revoltas mais sangrentas da história do Brasil.

“Em janeiro de 1835. O tupi Filipe, conhecido como mãe da chuva, deu um tiro no peito de José Joaquim da Silva Camargo. Outro tiro, disparado por Domingos, o Onça, matou Bernardo Lobo de Souza. A primeira vítima era comandante de armas e a segunda, o presidente da Província do Pará... Muitos chegaram a mijar na cova, um buraco aberto no cemitério da igreja das Mercês. A Cabanagem começava.” ( LUÍS BALKAR, 2001, P.9 )

Os registros sobre a Cabanagem encontram-se em poucos livros específicos,

motivo pelo qual dificulta a análise sob diferentes pontos de vista, porém passa a

ser unânime entre os pesquisadores a classificação dessa revolta como a mais

importante já ocorrida na Amazônia e uma das mais violentas da história do Brasil.

2.2 CAUSAS E OBJETIVOS

Embora por causas diferentes, os cabanos (índios e mestiços, em

sua maioria) e os integrantes da elite local (comerciantes e fazendeiros) se

uniram contra o governo regencial e tinham como objetivo principal a

conquista da independência da província do Grão-Pará. Os cabanos

pretendiam obter melhores condições de vida (trabalho, moradia,

alimentação), já os fazendeiros e comerciantes, que lideraram a revolta,

pretendiam obter maiores participações nas decisões administrativas e

políticas da província, uma vez que se sentiam desprestigiados pelo

Império.

a. A REVOLTA

A abdicação de D. Pedro I e o estabelecimento do governo provisório

propiciou um movimento com perigo iminente de violência, iniciado em

1832, neste ano um grupo armado impediu a posse do governador

nomeado pela regência e exigia a expulsão dos comerciantes portugueses

da província. No ano seguinte, Bernardo Lobo de Sousa, novo governador

nomeado, administrou o Pará de forma opressiva e autoritária

Em janeiro de 1835, os cabanos ocuparam a cidade de Belém

(capital da província). Extremamente insatisfeitos e sem a menor

possibilidade de continuarem a se sujeitar ao governador da província e as

regras do governo regencial, os membros dessa manifestação declararam e

iniciaram de forma violenta a revolta. Após acertarem um tiro certeiro em

José Joaquim da Silva Camargo, comandante de armas da Província, e

posteriormente atingir com outro tiro Bernardo Lobo de Souza, presidente

da província do Pará, declaram de maneira violenta o início da Cabanagem.

Os cabanos, liderados por Félix Malcher e Francisco Vinagre, proclamaram

a independência do Pará e a República, além de expropriar armazéns e

depósitos de alimentos para distribuí-los entre a população pobre.

Após assumirem o controle da Província, os revoltosos puseram na

presidência o fazendeiro e até então aliado, Félix Malcher. Porém, Malcher

havia se aliado aos pobres cabanos apenas para ganhar representatividade

e força militar, mas na verdade não compactuava com as mesmas

ideologias, pois não tinha as mesmas dificuldades e privações as quais os

cabanos passavam. Dessa forma, na primeira oportunidade Malcher fez

acordo com o governo regencial, traindo o movimento. Francisco Vinagre

aproveitando o fato de controlar as forças armadas do movimento, tentou

tirar o então governador Félix Malcher do comando da província, porém foi

surpreendido e preso pelo governador. Em retaliação, Antônio Vinagre

irmão de Francisco, assassinou Malcher e pôs seu irmão no comando do

governo.

A elite local se estabelecia no governo do Grão Pará, mas rompia com

o povo humilde que era a maior força militar, ocasionando o

enfraquecimento do movimento. O governo Imperial sabendo do fato,

enviou o almirante John Taylor que assumiu o controle da província, no

entanto, os populares que eram a maioria e não se submeteram a vitória

imperial.

Com um exército de 3 mil homens liderados pelo líder popular

Eduardo Angelim, os cabanos retomaram o controle e nomearam um novo

governo republicano, composto somente por pessoas do povo, gente

humilde que compactuava as mesmas necessidades e tinham a mesma

ideologia. Com Angelim no governo, os cabanos viram a possibilidade de ter

suas necessidades atendidas e representatividade no governo.

Porém, a falta de apoio político das outras províncias e a escassez de

recursos em todos os sentidos, prejudicaram a continuidade da republica

popular.

“Livres dos opressores e dos legalistas, isto é, dos que apoiavam o imperador, os cabanos tiveram de enfrentar um novo inimigo: a fome. Durante este tempo de guerra as plantações foram abandonadas e a carne que vinha da ilha de Marajó foi bloqueada pelos navios da Marinha. A fome em Belém era tanta que, segundo um escritor da época, o povo só tinha para comer “ervas agrestes dos quintais abandonados, raízes e couro seco, reduzido a uma espécie de cola dura e indigesta”. Fonte: (Brasil Indígena: 500 anos de resistência).

Sem muita estrutura e organização, os problemas só aumentaram. A

falta de comida estimulava as intrigas e as divergências. Em abril de 1836,

chegava a Belém um novo governador, acompanhado de um grande número

de soldados, mercenários estrangeiros e criminosos soltos das prisões do

Sul. Sem condições de enfrentar este novo ataque, Eduardo Angelim e os

cabanos fugiram para o interior, onde a resistência continuou.

A repressão desencadeada pela nova investida do governo imperial

foi massacrante. De quase 80 mil pessoas que viviam na província, foram

mortas aproximadamente 30 mil. Os mais perseguidos foram os indíos e os

tapuios. Na região de Tapajós, em 1820, haviam 30 mil índios, quatro

décadas depois só restavam 3 mil.

11.FIM DA REVOLTA

Após cinco anos de sangrentos combates, o governo regencial

conseguiu reprimir a revolta. A repressão desencadeada pela nova investida

do governo imperial foi massacrante. De quase 80 mil pessoas que viviam na

província, foram mortas aproximadamente 30 mil. Os mais perseguidos

foram os indíos e os tapuios. Na região de Tapajós, em 1820, haviam 30 mil

índios, quatro décadas depois só restavam 3 mil.

A revolta terminou sem que os cabanos conseguissem permanecer no

poder e ter seus anseios atendidos, pelo contrário, foram praticamente

dizimados. Porém foi a única revolta no Brasil, que a classe popular assumiu

de forma interina o poder, por mais que tenha sido por um curto período de

tempo.

12.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALKAR, Luís, Visões da Cabanagem: editora Valer, 2001.

SCHNEEBERGER, Carlos , Uma Síntese da História da Amazônia, editora Mensana, 2002, São Paulo, SP

COELHO, Lenílson , Mini Manual Compacto da História do Brasil, editora Rideel, 2003, Manaus, AMBrasil Indígena: 500 anos de resistência / Benedito Prezia, Eduardo

Hoomaert. - São Paulo: FTD, 2000