apresentaÇÃo do livro cabanagem amazÔnidas indignados

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Resgate das lutas dos amazônidas contra o colonialismo interno a que estão submetidos. Como diz o General Villas Boas, comandante militar da Amazônia: o Brasil trata a Amazônia como se fosse uma colônia.

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  • 1. 1

2. Inicialmente faremos algumas consideraes de carter metodolgico para que se entenda este trabalho como um trabalho geogrfico: geografia (des)humna ou regional e no histrico e que se complementaro na introduo. 2 3. Este trabalho tem sua fundamentao terica nas colocaes feitas por Edward Soja em sua obra Geografias psmodernas. Reafirmao do espao na teoria social crtica. Segundo Edward Soja a questo das regies subnacionais no contexto do desenvolvimento geograficamente desigual est ligada s mudanas ocorridas na diviso espacial do trabalho. Edward W. Soja - 1993 - O objetivo do autor espacializar a narrativa histrica, associar ao tempo uma geografia humana crtica permanente.3 4. EDWARD SOJA Y LA GEOGRAFA CONTEMPORNEAEdward Soja afirma que as regies subnacionais resultam de uma regionalizao no nvel do Estado nacional e que a especializao resultante decorre das lutas competitivas e de conjunturas particulares, repleta de tenses, poltica, ideologia e poder.http://geoperspectivas.blogspot.com.br/2012/03/edward-soja-y-la-geografia.html4 5. Complementando as suas reflexes a respeito da regionalizao dentro do processo de formao dos Estados nacionais, Edward Soja acrescenta que nesse processo que surge o regionalismo: O regionalismo pode assumir muitas formas polticas e ideolgicas diferentes, que vo desde a solicitao aquiescente de recursos adicionais at tentativas explosivas de secesso. 5 6. Concretamente, no Brasil, aps a Independncia, a sociedade brasileira manifesta regionalmente sua insatisfao contra a chamada centralizao do poder na 6 figura do imperador. 7. MA, CE, PIAssim que no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, de 1835 at 1845, acontece a chamada Revoluo Farroupilha. De 1837 at 1838, na Bahia, ocorre o que ficou conhecido como a Sabinada.No Maranho, parte do Cear e do Piau, de 1838 a 1841, sucede outro movimento de insatisfao popular que passou para a histria com o nome de Balaiada.E no Gro-Par e Rio Negro, de 1835 a 1840, a Cabanagem. 7 8. e Rio Negro8 9. Este trabalho apenas uma abordagem geogrfica de um fato da maior relevncia para a formao da sociedade regional amaznica que nunca mereceu a ateno dos gegrafos, que nunca atentaram para a dimenso histrica do conceito geogrfico de regio amaznica. 9 10. As caractersticas da regio amaznica sempre foram vistas a partir da natureza, sobretudo da floresta, da bacia hidrogrfica e da bacia geolgica, naquilo que pde e pode ser transformado em mercadorias para o mercado capitalista mundial, e nunca a partir da formao da sociedade regional e das necessidades e interesses de seu povo. 10 11. As naes indgenas, caboclos e caboclas que so os sujeitos marcantes da sociedade amaznica, nunca foram considerados como pessoas plenas pelos conquistadores e colonizadores e pelas elites atuais detentoras do poder nacional e regional. Os chamados interesses nacionais sempre se sobrepem aos legtimos interesses e necessidades regionais. A poltica transformou-se numa feira quadrienal na qual o voto o objeto de escambo. 11 12. Este trabalho se coloca, portanto, na linha daqueles que consideram legtimas as manifestaes de indignao popular contra governos, governantes e polticos corruptos que adquirem mandatos atravs de falsas promessas, comprando votos, e de outras autoridades que, sem mrito algum, so nomeadas para cuidarem dos interesses esprios de quem as 12 indicou. 13. Vem de longas datas a prtica de criminalizar e reprimir com violncia as justas reivindicaes dos segmentos populares pelos seus direitos, enquanto os segmentos da classe dominante so prontamente atendidos quando reclamam por privilgios, isenes fiscais, perdo de dvidas e outras regalias. 13 14. Como atualmente, no incio do sculo XXI, as manifestaes populares contra a ordem econmica, poltica e social injusta e corrupta, desde os indignados da Europa e de Wall Street, nos Estados Unidos, at os estudantes e trabalhadores de Manaus e das outras capitais brasileiras, so sempre acusados de baderneiros, arruaceiros, 14 oportunistas polticos etc. 15. 15 16. Argumentam as elites detentoras do poder ser difcil atender as demandas populares, pois so reinvindicaes difusas e micro utpicas, e que no conseguem ver na massa indistinta rostos identificveis com RG e CPF com os quais possam conversar. Entretanto, os identificados so sempre acusados, no mnimo, de desacato autoridade. 16 17. Estudar a dimenso geogrfica da cabanagem certamente nos ajudar muito a entender a formao da sociedade regional amaznica dentro do quadro geral da formao do Estado brasileiro nas relaes com o poder central que se estabelece no sudeste e com as outras formas de poder regional, as chamadas oligarquias regionais, sobretudo do norte, nordeste e sul. 17 18. Membro da aristocracia portuguesa, em Santos. O pai, Bonifcio Jos Ribeiro de Andrada, era a segunda fortuna da cidade, possuidor de bens no valor de 8:000$000. Jos Ribeiro de Andrada, o av, casado com Ana da Silva Borges, pertencia a antiga famlia portuguesa do Minho e de Trs-os-Montes, parente dos condes de Amares e marqueses de Montebelo, ramo dos BobadelasFreires de Andrada.A cabanagem se d no contexto da emergncia e afirmao da sociedade brasileira unificada pela sua territorialidade mas submissa a uma estrutura de poder superestrutural, sem legitimidade e representatividade resultado de um acordo de lideranas instaladas no centro do poder poltico no sudeste, comandado por Jos Bonifcio que no considerou a existncia das outras regies, ou seja das outras sociedades regionais. 18 19. A independncia foi proclamada em setembro, Dom Pedro foi aclamado imperador em outubro e, dois meses depois coroado pelo bispo do Rio de Janeiro, com o ttulo de Dom Pedro I. 19 20. A cabanagem toda uma sociedade que luta pela sua autodeterminao e pela participao na vida poltica do pas, a partir de todos os seus componentes e segmentos sociais com um projeto poltico e reivindicaes bem claras e especficas e que teve como resposta um saldo imediato de aproximadamente quarenta mil cidados e cidads amaznidas massacrados e assassinados. 20 21. A cabanagem a dimenso histrica da geografia humana da Amaznia que pertence aos ndios, aos negros, aos tapuios e cabocos: homens e mulheres morenas que pagaram e ainda hoje pagam muito caro para serem brasileiros. 21 22. Em vo intelectuais mazombos comprometidos com o poder estabelecido que desenvolvem essa poltica neocolonial tentam se apropriar do potencial revolucionrio da cabanagem e da capacidade de indignao do povo brasileiro e dos amaznidas. No brinquem, no menosprezem nem debochem da capacidade de indignao dos amaznidas e de todos os 22 brasileiros. 23. O POVO SE V REPRESENTADO Nas Cmaras de vereadores? Nas Assembleias Legislativas? No Congresso nacional?A cabanagem foi um movimento organizado dos amaznidas reivindicando entre outras demandas participao na administrao regional uma vez que na Amaznia, decorridos treze anos aps a Independncia do Brasil a estrutura de poder local continuava nas mos dos portugueses.23 24. Desde o incio de sua colonizao em 1616 que o Estado do Maranho e Gro-Par, posteriormente a partir de 1751 denominado o Gro-Par e Maranho, e, a partir de 1772 Estado do Gro-Par e Rio Negro constituram-se em uma colnia diretamente governada por Lisboa sem grandes relaes administrativas, comerciais, econmicas e polticas com a sede da colnia no Rio de Janeiro. 24 25. A Independncia do Brasil cria em consequncia a necessidade de um novo reordenamento das relaes polticas e econmicas do Gro-Par e Rio Negro com o novo centro de poder estabelecido no Rio de Janeiro.25 26. Dom Pedro I mantm rituais levados a efeito anteriormente por seu pai, como o do Beija mo. (Esboo de Debret). 26 27. A imagem de D. Pedro I foi distribuda por todos as regies do imprio poca de sua coroao, em dezembro de 1822. Era possvel v-la em calendrios, canecas e capas de livros. Desse modo, rituais de aclamao poderiam ser levados a efeito nas vilas mais remotas dispensando-se a presena fsica do 27 imperador. (Souza 1999: 263 e ss). 28. Neste quadro Debret declara que, vrios smbolos lhe foram encomendados, os quais foram diretamente supervisionado por Jos Bonifcio de Andrada e Silva: "O governo imperial representado, nesse trono, por uma mulher sentada e coroada". Abaixo dela se v "uma 28 cornucpia derramando frutas do pas". 29. A barca que se v esquerda est, "carregada de sacos de caf e de maoes de cana-de-acar". As pessoas ali representadas possuem um sentido especial: "Ao lado, na praia, manifesta-se a fidelidade de uma famlia negra em que o negrinho armado de um instrumento agrcola acompanha a sua me, a qual, com a mo direita, segura vigorosamente o machado destinado a derrubar as rvores das florestas virgens e a defend-las contra a usurpao, enquanto com a mo esquerda, ao contrrio, segura ao ombro o fuzil do marido arregimentado e pronto para partir". Outras figuras so destacadas por Debret: "a indgena branca, ajoelhada ao p do trono", um "oficial da marinha" e "um ancio paulista" que, "apoiado a um de seus jovens filhos que carrega o fuzil a tiracolo, protesta fidelidade" (Schwarcz 2000: 29 41). 30. Os cabanos queriam repblica, o Brasil se torna um imprio. Os cabanos queriam trabalho livre, o Imprio Brasileiro defendia e fomentava o trabalho escravo. Os cabanos queriam terra pra trabalhar, reforma agrria o Imprio Brasileiro se baseou em uma estrutura latifundiria associada ao trabalho escravo. 30 31. A cabanagem , portanto a luta indignada de todo um povo contra uma estrutura de poder autoritrio e absolutista que comea a se arruinar de cima para baixo, pela arrogncia e corrupo dos dirigentes e pela revolta da populao contra condies de vida indignas de pessoas livres e de desrespeito e deboche sistemtico contra os direitos elementares dos cidados e das cidads, como ainda hoje fazem as elites detentoras do poder poltico e econmico. 31 32. Os detentores de poder em todos os tempos impuseram ordem e sempre atravs da violncia da fora das armas. Isaas, j no Antigo Testamento no captulo 32, versculo 17 afirma com bastante veemncia: O fruto da justia a paz. 32 33. Na verdade a Cabanagem a nvel internacional e em uma outra conjuntura poltica do mundo ocidental o eco das vozes vindas da Europa e da Amrica que clamavam por liberdade, igualdade e fraternidade e que no riacho Ipiranga ecoa independncia ou morte e aqui no rio Amazonas vivam os descendentes de Ajuricaba e nhengabas! Vivam os paraenses livres! Viva o 33 Par. 34. Portanto, a cabanagem um fato geo-histrico que transcende geograficamente os limites locais e regionais e historicamente se coloca alm da linha do tempo colonial. 34 35. Os cabanos revelam o nvel de conscincia de todas as pessoas, sociedades e de todos os povos que conquistaram a cidadania e querem exerc-la em plenitude participando da vida poltica do pas que ajudaram a construir.35 36. Portanto, o holocausto desses quarenta mil amaznidas h de permanecer na Geografia e na Histria da Amaznia como um exemplo concreto indelvel para todas as geraes que o habitat natural para o desenvolvimento de todos os seres humanos a liberdade, a autodeterminao e a participao na vida poltica e social da comunidade humana em qualquer lugar que ela se organize. 36 37. A mensagem que nossos antepassados cabanos nos do a de que a cabanagem no foi uma luta em vo. A escravido foi abolida. O imprio e a monarquia foram derrotados e a repblica foi proclamada. A luta pela demarcao das terras indgenas (Humait) e pela reforma agrria continuam e os quilombolas esto recebendo o ttulo definitivo de suas terras.37 38. esta a herana cvica e cidad deixada pelos nossos antepassados cabanos que estimulam as geraes atuais dos amaznidas a unirem-se a todos os brasileiros nessas lutas vitoriosas de conquistas sociais contra os neocolonizadores e neoexploradores, sobretudo contra os polticos corruptos e autoridades desonestas.Quando o povo quer ningum domina. 38 39. Na verdade a cidadania brasileira, a nao brasileira vem sendo construda geogrfica e historicamente nas lutas de todos os segmentos populares desde as lutas das naes indgenas em suas aldeias na defesa de suas terras defrontando-se contra as tropas de resgate; desde a luta dos negros na defesa de seus quilombos enfrentando os capites-do-mato at hoje nas lutas urbanas de jovens estudantes, professores e trabalhadores nas ruas, avenidas e praas confrontando-se com as tropas de choque. 39 40. Assim a luta dos primitivos espoliados e explorados continua hoje com a luta dos agora chamados excludos e continuar no futuro com os nossos descendentes contra todas as injustias e exploraes na construo desta utopia colocada na mente e na vontade de todos os povos.40 41. Assim como Thomas Morus pensou [...] uma sociedade sem propriedade privada, com absoluta comunidade de bens e do solo, sem antagonismos entre a cidade e o campo, sem trabalho assalariado, sem gastos suprfluos e luxos excessivos, com o Estado como rgo administrador da produo e deu-lhe o nome de Utopia41 42. Aqui na Amaznia, nossos antepassados construram o projeto da utopia cabocla, um mundo fraterno, feliz, alegre e justo para todos os curumins e cunhants que entrou para a histria e geografia do mundo ocidental com o nome de Pas das Amazonas, ou simplesmente Amaznia. 42 43. 43 44. Muito Obrigado Prof. Dr. Roberto [email protected]