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SISTEMA DE CARREIRAS E SUBSÍDIO: FERRAMENTAS DO GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO PARA MELHORIA DO GERENCIAMENTO DE PESSOAS E CONTROLE DO GASTO COM PESSOAL Ozenira Félix Soares de Souza Graduada em Letras com habilitação em Língua Portuguesa, Literaturas de Língua Portuguesa e Língua Inglesa, especialista em Administração Pública na área de Gestão de Pessoas pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, Gestora Governamental da Secretaria de Estado de Administração do Estado de Mato Grosso. E-mail [email protected] RESUMO Este artigo trata da implantação da remuneração por subsídio no Poder Executivo Estadual de Mato Grosso. Através dos resultados das pesquisas bibliográficas realizadas é traçado um perfil das três grandes reformas administrativas pelas quais passou o Estado a partir da década de 70 e estabelece uma relação entre as reformas e os Planos de Cargos, Carreiras e Salários adotados em cada período. Identifica os motivos que levaram a opção pela remuneração por subsídio, relaciona as principais dificuldades enfrentadas e os principais avanços conseguidos que resultaram no controle do gasto com pessoal e encargos sociais, na definição de uma política de remuneração e na melhoria da qualificação dos servidores. Palavras-chaves: Reforma do Estado; Administração Pública; política salarial; planos de carreira, Mato Grosso.

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SISTEMA DE CARREIRAS E SUBSÍDIO: FERRAMENTAS DO GOV ERNO DO

ESTADO DE MATO GROSSO PARA MELHORIA DO GERENCIAMENT O DE

PESSOAS E CONTROLE DO GASTO COM PESSOAL

Ozenira Félix Soares de Souza

Graduada em Letras com habilitação em Língua Portuguesa, Literaturas de

Língua Portuguesa e Língua Inglesa, especialista em Administração Pública na

área de Gestão de Pessoas pela Universidade Federal de Mato Grosso –

UFMT, Gestora Governamental da Secretaria de Estado de Administração do

Estado de Mato Grosso. E-mail [email protected]

RESUMO

Este artigo trata da implantação da remuneração por subsídio no

Poder Executivo Estadual de Mato Grosso. Através dos resultados das

pesquisas bibliográficas realizadas é traçado um perfil das três grandes

reformas administrativas pelas quais passou o Estado a partir da década de 70

e estabelece uma relação entre as reformas e os Planos de Cargos, Carreiras

e Salários adotados em cada período. Identifica os motivos que levaram a

opção pela remuneração por subsídio, relaciona as principais dificuldades

enfrentadas e os principais avanços conseguidos que resultaram no controle do

gasto com pessoal e encargos sociais, na definição de uma política de

remuneração e na melhoria da qualificação dos servidores.

Palavras-chaves : Reforma do Estado; Administração Pública; política salarial; planos de carreira, Mato Grosso.

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1. INTRODUÇÃO

As profundas mudanças pelas quais passou o Estado nas últimas

décadas do século XX, em especial a partir dos anos 70, trouxe nos anos 80

uma mudança no seu perfil econômico-social, demarcado pelo pensamento

neoliberal totalmente avesso à intervenção do Estado na economia e favorável

à restrição no atendimento aos serviços públicos e à delegação de setores

antes estatais à iniciativa privada. Este novo modelo de Estado foi marcado

pela tentativa de introdução de novos valores para a administração pública e

que visavam dar legitimidade ao Estado mediante o atendimento, com

qualidade, aos usuários dos serviços públicos.

A crítica incisiva que se fez a um modelo de Estado com forte

intervenção na economia, burocrático e auto-referenciado, de baixo

compromisso com os usuários dos serviços, com ausência de gestão,

avaliação e sistema de responsabilização cria as bases para que tenha força a

idéia neoliberal de um novo modelo gerencial de administração pública, com

foco em resultados.

Neste contexto de reformas, na década de 90, o governo do estado de

Mato Grosso inicia um processo de mudanças na administração pública

estadual através da Reforma Administrativa e Fiscal no Estado que tinha como

cerne a mudança de cultura nas organizações públicas.

Em diagnóstico realizado à época constatou-se que a gestão dos

recursos humanos do Estado praticamente inexistia e que a falta de um plano

de carreiras capaz de motivar e envolver os servidores na busca de maior

eficiência, eficácia e efetividade na ação do Estado seria um dos principais

entraves ao processo de mudanças.

Decide-se então por estabelecer no novo modelo de gestão de

pessoas calçado em sistema de planos de carreira que associasse o sistema

remuneratório a qualificação profissional e desempenho funcional. Neste

contexto a Administração Pública estadual optou pela remuneração por

subsídio.

Contudo o ciclo de melhoria contínua não conseguiu se formar e a

Administração Pública Estadual não conseguiu inicialmente utilizar os planos

de carreira como instrumentos de mudança da cultura burocrática em

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gerencial, contudo após 10 (dez) anos da implantação do primeiro Plano de

Carreira avanços significativos podem ser constatados.

Neste contexto, este estudo, além de promover uma revisão

bibliográfica sobre as reformas e os planos de cargos, carreiras e salários na

administração pública do estado de Mato Grosso, enfocando a adoção do

subsídio como forma de remuneração e aponta as principais dificuldades e os

principais avanços alcançados.

2. AS REFORMAS ADMINISTRATIVAS E OS PLANOS DE CARGO S,

CARREIRAS E SALÁRIOS EM MATO GROSSO

Nas três últimas décadas do século XX, Mato Grosso passou por três

grandes reformas administrativas que tiveram forte repercussão no

gerenciamento dos recursos humanos, considerando que foram estabelecidos

diferentes planos de cargos, carreiras e salários em cada momento.

2.1 Breve Histórico

A primeira reforma em Mato Grosso foi em 1979 que resultou na

introdução do conceito de administração sistêmica no Estado, na qual as áreas

meio, Administração, Planejamento e Fazenda, denominadas de “cabeças de

sistema”, passavam a coordenar as áreas específicas dentro dos órgãos das

áreas fim.

Neste período, houve o primeiro registro de tentativa de fazer gestão

de carreiras na administração pública estadual, vez que foram estabelecidas

diretrizes para classificação de cargos no serviço público através da

implantação do Plano de Classificação de Cargo que estabeleceu a existência

de dois tipos de cargo: o de provimento em comissão e o de provimento

efetivo.

A segunda reforma foi em 1992 que teve um caráter de redução de

gasto, reduziu de 22 para 17 o número de secretarias, permanecendo em 9 o

número de autarquias; reduzindo de 10 para 8 o número de Empresas de

Economia Mista; reduzindo de 3 para apenas 1 empresa pública e reduzindo

de 10 para apenas 6 o número de Fundações. O marco legal para esta nova

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estrutura foi a aprovação da Lei Complementar nº 13 de 1992 que estabeleceu

princípios e diretrizes para a Administração Pública Estadual.

Esta reforma também repercutiu no gerenciamento dos recursos

humanos, pois foi instituído o Estatuto dos Servidores Públicos Civis pela Lei

Complementar nº 04 de 1990 e estabelecido novo Plano de Cargos, Carreiras

e Salários do Poder Executivo Estadual disciplinado pelas leis nº 5.983 e nº

6.027 de 1992,

A Lei Complementar 13 estabeleceu também que a criação de cargos, a

majoração ou fixação de vencimentos e vantagens pecuniárias deveriam ser

feitas mediante lei e traçou também diretrizes e objetivos para a contratação,

movimentação, regime de trabalho e dispôs que o regime jurídico dos

servidores da Administração Direta, Autárquica e Fundacional seria o de direito

público administrativo.

A terceira reforma teve início em 1995 com a implementação do Projeto

de Modernização Administrativa e Gestão Pública do Estado de Mato Grosso,

através da Lei Estadual n° 6.695, de 19 de dezembro de 1995, que autorizou a

adesão ao Programa de Apoio à Reestruturação e ao Ajuste Fiscal dos

Estados (PNAFE) e o Decreto n° 752, de 12 de janeiro de 1996, que instituiu o

Programa de Reforma do Estado de Mato Grosso.

O Programa de Reforma do Estado tinha como objetivos fundamentais

concentrar a atuação do Estado em suas atribuições típicas, absorver na

Administração Direta as entidades da Administração Indireta que não

dispunham de recursos próprios para se auto-sustentar (ressalvadas as de

caráter social, assistencial e educacional), seriam revertidas aos municípios as

atividades e serviços de sua competência constitucional. Buscar-se-ia

promover ações articuladoras para o desenvolvimento do Estado e seria

eliminado assim gradualmente o déficit público, assegurando o equilíbrio

econômico-financeiro. Tais objetivos seriam implementados sob coordenação e

orientação do Conselho Diretor do Programa de Reforma do Estado de Mato

Grosso (PLANO DIRETOR DA REFORMA DO ESTADO – 1998)

Para implantar o Programa de Reforma, foi constituído em 20 de

março de 2000, pela Resolução nº 002/2000 do Conselho Diretor, um Grupo de

Trabalho, com a missão de avaliar a execução da Reforma Administrativa de

Mato Grosso e propor ao Conselho Diretor um novo modelo de gestão.

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O modelo de gestão escolhido foi o Voltado para Resultados, adotou-

se como princípio o Gerenciamento pelas Diretrizes, sendo que o ponto de

partida era a fixação de metas. Para este modelo, meta significava,

necessariamente, ter um objetivo gerencial, um valor e um prazo. Ou seja, o

que, quanto e quando se pretendia realizar. (FALCONI – 1998)

A base de sua construção era o método PDCA, que significava

Planejar (Plan), Executar (Do), Avaliar (Check) e Agir corretivamente (Action)

de forma continuada.

A inclusão do PDCA na gestão pública era para que a avaliação desse

início a uma ação efetiva de correção nos planos, formando um ciclo de

melhoria contínua que viabilizasse o alcance das metas e sobrevivência das

organizações.

Tomando como núcleo orgânico da Administração Pública a área meio,

composta pelas Secretarias de Estado de Planejamento e Coordenação Geral

– SEPLAN, de Fazenda – SEFAZ, de Administração – SAD e Auditoria Geral

do Estado – AGE, e como instrumentos legais e de gestão o Plano Plurianual,

a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei dos Orçamentos Anuais. O modelo,

tendo em vista o caráter sistêmico, estaria sob a coordenação central das

Secretarias de Estado de Planejamento e Coordenação Geral, de Fazenda, de

Administração e da Auditoria Geral do Estado, e era abrangente a toda

Administração Pública Estadual.

A escolha de um modelo de gestão com o propósito de atingir

resultados demandaria para a administração a necessidade do Planejamento e

da Avaliação de suas ações, além do gerenciamento dos processos para

viabilização desses resultados, de modo a produzir avaliações processuais,

redimensionamento das ações de governo na busca constante de melhoria,

visando antecipar a correção de erros e distorções.

Neste contexto, o Plano Diretor da Reforma estabeleceu dois pré-

requisitos básicos para a efetivação da reforma: o primeiro era a necessidade

de fazer uma revisão em toda base legal que regia o Estado, sendo que esta

mudança deveria ocorrer com maior ênfase no curto e médio prazo, porém

algumas medidas somente poderiam ter sua legalização proposta à longo

prazo, pois dependiam de medidas precedentes; o segundo era a

transformação da cultura organizacional através de um processo de

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sensibilização e capacitação de todos os gerentes e servidores públicos no

sentido de prepará-los para atuarem de acordo com metas pré-estabelecidas e

avaliação de resultados. (PLANO DIRETOR DA REFORMA DO ESTADO –

1998).

Diante dos pré-requisitos estabelecidos, coube a Secretaria de Estado

de Administração elaborar um modelo de gestão de pessoas capaz de

transformar a cultura burocrática instalada em uma cultura gerencial necessária

a implantação das reformas.

2.2 Da Gestão de Pessoas no Novo Modelo

A Gestão de Pessoas, produto sob a responsabilidade da Secretaria de

Estado de Administração (SAD) tinha como escopo o de estabelecer uma

política de pessoal para o Estado capaz de definir e orientar as ações e o

desenvolvimento dos servidores estaduais para a implantação do modelo

gerencial.

O citado escopo deu-se em função de diagnóstico realizado pelo

Grupo de Trabalho responsável pela implantação da Reforma que detectou nos

recursos humanos do Estado, principalmente na SAD, um quadro de

despreparo dos servidores para atuarem com informação e planejamento,

aliado a falta de uma estrutura de informações gerenciais que dessem suporte

ao gerenciamento efetivo dos recursos humanos.

Não existia no Estado uma Política adequada e integrada de suprimento

e aplicação de Recursos Humanos, que permitisse um remanejamento de

servidores entre as secretarias de acordo com suas aptidões e habilidades.

Faltavam critérios de planejamento, de alocação e movimentação interna, de

avaliação de qualidade, desempenho e cargos e de remuneração.

Os servidores públicos eram regidos pelo Plano de Cargos Carreiras e

Salários implantado em 1992. O referido plano tentou aglutinar em um único

plano a administração direta, as autarquias e as fundações, porém este intento

não foi alcançado, uma vez que algumas categorias do Estado conseguiram

Planos de Carreira distintos dos demais: Auditoria Geral do Estado; Polícia

Civil; Polícia Militar; Procuradoria Geral do Estado; Grupo TAF; Magistério e

Profissionais da Saúde.

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O Plano de Cargos e Salários vigente, embora definisse uma estrutura

para os grupos ocupacionais da Administração Direta e Categorias Funcionais,

não tinha sido elaborado a partir de um estudo completo e detalhado da

situação dos servidores do Estado na época, ou seja, através de um

recadastramento e um quadro de lotação de pessoal que servisse de base para

um Banco de Dados que pudesse ser atualizado constantemente, mantendo-se

assim a evolução das informações do plano.

Uma das questões mais urgentes, no entanto, era a falta de um banco

de dados capaz de fornecer informações necessárias para análises

quantitativas e qualitativas da força de trabalho disponível nas organizações

públicas e de critérios para auditoria permanente da aplicação das políticas e

procedimentos relacionados com os recursos humanos do Estado, tanto para

critérios de administração das pessoas, quanto para gerenciamento financeiro.

2.3 Do Gasto com Pessoal e Encargos Sociais

Ao longo da década de 90, segundo pesquisa efetuada pelo Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada, Mato Grosso, ao invés de investir em uma

política de ajuste fiscal e controle de gastos com pessoal, optou por uma

política de aumento de gastos financiados com recursos captados através de

operações de crédito. A dívida acumulada deixou o Estado, em dezembro de

1996, com um volume de dívida total de R$ 2,9 bilhões. (SALDANHA, 1997)

Com a estabilização da moeda, a crise financeira foi evidenciada, sendo

deflagrado, a partir de 1995, um processo de ajuste nas finanças estaduais.

Este processo tinha como pilar central de sustentação o Programa de Reforma

do Estado.

Em 1996, os primeiros resultados advindos do processo de ajuste das

finanças públicas começaram a ser evidenciados, no entanto, o Estado ainda

apresentava um déficit corrente, que reforçava a necessidade de aprofundar o

ajuste dos gastos públicos, que continuavam crescendo, ainda que em menor

intensidade.

Diante da situação, o papel estratégico das despesas com pessoal no

ajuste fiscal do Estado era evidente quando se verificava que estas despesas

representavam cerca de 50% das despesas correntes; 70% das Receitas

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Correntes Líquidas e 10% do PIB; e continuavam aumentando, sendo de

aproximadamente 20% no período de 1994-1996. (SALDANHA - 1998)

No ano de 1995, foi apurado o valor máximo de despesa com pessoal

registrado na história do Estado até então: R$ 761 milhões, cerca de 77% das

receitas correntes líquidas e 12% do PIB estadual. (SALDANHA - 1998).

No ano de 1996, registrou-se uma reversão da tendência de crescimento

dos gastos com pessoal, que passaram para o patamar de R$ 728 milhões,

significando uma queda de 4% em relação ao ano anterior. Contudo, este

montante de gastos era ainda superior em cerca de 20% ao registrado no ano

de 1994.

O crescimento das despesas com pessoal, contudo, não era fruto do

aumento do contingente de servidores. Neste período registrou-se uma queda

de cerca de 5% no número de servidores estaduais: em 1994, existiam cerca

de 60,6 mil servidores, em 1996, eram 57,6 mil (PLANO DIRETOR DA

REFORMA DO ESTADO, 1998).

O aumento era resultado de reajustes salariais concedidos aos

servidores públicos através da Lei nº 6.593, de 15 de dezembro de 1994, que

concedeu reajuste de até 105% para servidores de nível superior do Poder

Judiciário; Lei 6.583, de 13 de dezembro de 1994, concedeu reajuste de 38%

para todos os servidores da administração direta; Lei Complementar 33, de 07

de dezembro de 1994, que fixou 2% de adicional de tempo de serviço - e os

benefícios e as vantagens introduzidas pela Constituição de 1988, formaram os

principais fatores explicativos do crescimento das despesas com pessoal no

período, especialmente em 1995.

A implantação do Programa de Reforma do Estado, a partir de 1995,

resultou em extinção de vários órgãos da administração indireta, fato de

acarretou aumento expressivo das despesas com obrigações patronais e que

também contribuiu, ainda que em menor escala, para o aumento das despesas

com pessoal.

A análise das despesas com pessoal de todos os poderes revelou que o

custo do processo de ajuste das despesas com pessoal recaiu

fundamentalmente sobre os servidores do Poder Executivo, e dentre estes os

servidores ativos.

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Outra característica importante dos gastos com pessoal foi em relação a

expansão dos gastos com inativos e pensionistas que cresceram a um ritmo

superior ao do pessoal ativo: 20% e 43%, respectivamente, contra 16%

verificado nos gastos com ativos.

Segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas Aplicadas

(IPEA) (SALDANHA, 1996) “...a conclusão é que há um movimento

contraditório dos gastos com pessoal, onde cada poder/órgão passa a atuar a

partir de lógicas particulares e específicas, deixando de ver o Estado como um

ator unitário face à sociedade, o que acabou por determinar um padrão de

comportamento ascendente das despesas com pessoal. É, portanto, mister

sintonizar e sincronizar a gestão de pessoal no setor público estadual, sob

pena de por um lado não se atingir as metas de redução de gastos, e por

outro, comprometer a eficácia e efetividade das políticas públicas à medida em

que o Estado deixa de atuar como um ente articulado e coeso frente a

sociedade.(1)

Diante do cenário, uma intervenção na política de Recursos Humanos

do Estado era imprescindível para o equilíbrio fiscal e sucesso da Reforma

Administrativa proposta.

Segundo o Plano Diretor da Reforma (1998): “A adequação dos

Recursos Humanos ao Projeto de Reforma do Estado é tarefa prioritária,

exigindo a definição de uma Política que oriente desde a captação de

servidores, seu desenvolvimento, manutenção, remuneração e avaliação, bem

como a avaliação e desativação de carreiras existentes e a criação de novas

carreiras, mais adequadas a nova estrutura implantada. (...)Para que os novos

parâmetros da Reforma Administrativa do Governo Federal possam ser

implantados também no Estado e exista a possibilidade do desligamento de

servidores devido ao baixo desempenho; para que a qualificação dos

servidores possa ser direcionada para os objetivos do Estado e para que se

possa implantar um Sistema de Reconhecimento e Mérito no serviço público

estadual, serão necessários os resultados de um Sistema de Avaliação de

Desempenho.”(2)

Deu-se início, então, a definição de um modelo de gestão de pessoas

para a Administração Pública Estadual.

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3. O MODELO DE GESTÃO DE PESSOAS

Diante do perfil traçado nos diagnósticos realizados para elaboração

do Plano Diretor da Reforma do Estado de Mato Grosso e do modelo de

gestão, ficou evidente a necessidade de implantação de um modelo de gestão

de pessoas e que este fosse compatível com o Modelo de Gestão Voltado

para Resultado.

Foi concebido então um Modelo de Gestão de Pessoas para o Poder

Executivo do Estado de Mato Grosso, modelo este que se tornou parte

integrante do Programa de Reformas. O objetivo de se definir um modelo foi

traçar diretrizes conceituais e instrumentais para o gerenciamento dos

servidores estaduais.

O modelo proposto focalizava o elemento humano como uma

determinante importante da gestão para resultados e considerava que a

capacitação e motivação das pessoas eram os principais responsáveis pela

obtenção de qualidade e produtividade no exercício da função pública.

Diante da constatação, o enfoque adotado para construção do modelo

estava direcionado para o desenvolvimento do conhecimento e

comportamentos essenciais vinculados ao negócio do Estado, em

conformidade com o gerenciamento pelas diretrizes.

A implantação do modelo e a geração de resultados concretos eram

consideradas as grandes dificuldades a serem vencidas, pois entre a

concepção teórica e a efetivação das ações de gestão de pessoas, pelos

diversos órgãos da estrutura estadual havia uma grande distância.

3.1 Políticas de Gestão de Pessoas

A falta de políticas de gestão de pessoas havia levado a administração

pública estadual a uma situação caótica no gerenciamento da força de

trabalho. Logo a formulação de políticas era fundamental, pois possibilitaria o

direcionamento das intervenções de gestão de pessoas para implementação

de estratégias que traduzissem princípios em ações:

a) Manutenção de informações atualizadas sobre o perfil da força de

trabalho do Estado;

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b) Capacitação e manutenção de um quadro de Consultores Internos

de Gestão de Pessoas que atuariam na implementação

descentralizada do modelo de gestão de pessoas;

c) Desenvolvimento de procedimentos objetivando o gerenciamento

de desempenho vinculado à qualidade, produtividade e resultados das

unidades;

d) Mensuração, periódica do nível de satisfação dos servidores em

termos do clima organizacional que prevalecia no âmbito do Estado e

ações de qualidade de vida no trabalho;

e) Orientação a capacitação das pessoas para a sua

profissionalização em termos das prioridades da administração pública

estadual e plano de desenvolvimento de habilidades e competências;

f) Compatibilização dos resultados do redesenho de processos com

a identificação e descrição de cargos multifuncionais;

g) Aperfeiçoamento do modelo de gestão de pessoas através de

monitoramento contínuo dos resultados da sua execução em nível de

Estado.

h) Implantação de um sistema de carreira em que fossem

reconhecidas a capacitação profissional como critério para progressão

horizontal e a qualidade do desempenho individual como referencial

para a progressão vertical;

3.2 COMPONENTES DO MODELO DE GESTÃO DE PESSOAS

O modelo proposto necessitava que fossem implantados, de forma

integrada, os seguintes processos de gestão de pessoas:

a) Gestão por Resultados;

b) Consultoria Interna de Gestão de Pessoas;

c) Multifuncionalidade;

d) Capacitação;

e) Recompensas e Reconhecimento;

f) Gerenciamento de Desempenho;

g) Carreira por Habilidades e Competências.

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4. ESTRUTURA DOS PLANOS DE CARREIRA

Partindo da premissa que as carreiras deveriam fornecer elementos

para a qualificação profissional, relacionados ao exercício de um cargo

multifuncional, que permitisse a concessão de majorações salariais com base

na expansão do conhecimento necessário à execução do trabalho e que

fossem reconhecidas a capacitação profissional como critério para progressão

horizontal e a qualidade do desempenho individual e enquanto membro de uma

equipe como referencial para a progressão vertical, foram elaborados os planos

de carreira.

Primeira decisão tomada em relação aos planos de carreira foi a

adoção do subsídio como única forma de remuneração na Administração

Pública Estadual, fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer

gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação, ou outra

espécie remuneratória, conforme disposição do artigo 37, X e XI, e artigo 39

§§ 4º e 8º da Constituição Federal com nova redação dada pela Emenda

Constitucional nº 19, de 04 de junho de 1998:

O subsídio representava o somatório de todas as verbas

remuneratórias e demais vantagens pecuniárias percebidas pelos servidores

na implantação de cada plano, tendo em vista que até então os servidores

percebiam vencimentos mais as vantagens pessoais como adicional por tempo

de serviço, adicional por periculosidade, produtividade, incorporação de cargo

em comissão, entre outros.

Objetivando garantir que o servidor se qualificasse, os cargos que

compunham cada carreira foram estruturados em linha horizontal de acesso,

identificados por letras maiúsculas que representavam as classes, as quais o

servidor poderia ascender segundo os graus de formação exigidos para o

provimento do cargo (superior, médio ou elementar) e movimentação na

carreira denominada progressão horizontal.

Vejamos como exemplo o texto da Lei 7.461 de 13 de julho de 2001

que dispunha sobre a criação da Carreira da Área Instrumental do Governo:

Art. 7º O cargo de Técnico da Área Instrumental do Governo é estruturado em linha horizontal de acesso, identificados por letras

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maiúsculas, conforme Anexo IV, 40 (quarenta) horas, e Anexo V, 30 (trinta) horas, da presente lei. § 1º As classes são estruturadas segundo os graus de formação exigidos para o provimento do cargo da seguinte forma: I - Classe A – habilitação específica em grau superior e respectivo registro no órgão de classe; II - Classe B – curso de pós-graduação lato sensu, com carga mínima de 360 (trezentos e sessenta) horas; III - Classe C - título de Mestre, Doutor ou PhD. (3)

Os planos previam também cumprimento de interstícios entre uma

classe e outra, conforme se pode observar no texto da lei acima citada:

§ 2º A progressão horizontal, Classe, obedecerá à titulação exigida, com interstício de 03 (três) anos da Classe A para B e 05 (cinco) anos da Classe B para C. § 3º Cumprido o interstício de 15 (quinze) anos, o servidor que apresentar o título de Mestre, Doutor ou PhD progredirá para a classe correspondente. (4)

Associada a qualificação profissional os planos de carreira previam

também a progressão vertical que era determinada pelo desempenho individual

do servidor a ser medido por meio de avaliação anual de desempenho, sendo

que o método proposto de avaliação era o de 360 graus. Conforme se pode

observar no texto da lei acima citada:

§ 3º Cada classe desdobra-se em 10 (dez) níveis, indicados por numerais arábicos, que constituem a linha vertical de progressão, que obedecerá à avaliação de desempenho anual e ao cumprimento do interstício de 03 (três) anos. (5)

Considerando que não havia sido regulamentado o artigo da emenda

constitucional 19 que previa a demissão por insuficiência de desempenho, a

progressão vertical era a forma proposta para melhorar o desempenho do

servidor, à medida que este ascenderia verticalmente na carreira se aprovado

nas avaliações de desempenho a serem realizadas durante os três anos de

interstício.

Os planos previam também que toda a qualificação profissional deveria

estar relacionada a área de atuação do servidor ou do órgão de lotação.

Logo o sistema remuneratório associava qualificação profissional

relacionada a área de atuação e desempenho profissional.

O sistema acima descrito pode ser observado na tabela salarial do

cargo Técnico da Área Instrumental do Governo de 2001.

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TÉCNICO DA ÁREA INSTRUMENTAL DO GOVERNO

NÍVEIS A B C

1 1.600,00 1.920,00 2.400,00

2 1.670,00 2.004,00 2.505,00

3 1.740,00 2.088,00 2.610,00

4 1.810,00 2.172,00 2.715,00

5 1.880,00 2.256,00 2.820,00

6 1.950,00 2.340,00 2.925,00

7 2.020,00 2.424,00 3.030,00

8 2.090,00 2.508,00 3.135,00

9 2.160,00 2.592,00 3.240,00

10 2.230,00 2.676,00 3.345,00

Figura 1 – Exemplo de Tabela Salarial

Estabelecidos os critérios mínimos que cada carreira deveria ter,

conforme descrito acima, foram sendo implantados os planos por

Órgão/Entidade e em alguns casos por grupos de Órgãos, procurando respeitar

as peculiaridades de cada um. Este processo durou de 1998 a 2001 quando

foram implantados os últimos planos de carreira que seguiam basicamente a

estrutura abaixo de acordo com o Órgão ou Entidade:

ÓRGÃO CARREIRA CARGOS

Secretaria de Estado de

Administração

(SAD)

Profissionais da Área

Instrumental do Governo

1. Técnico da Área

Instrumental do Governo

2. Agente da Área

Instrumental do Governo

3. Auxiliar da Área

Instrumental do Governo

Gestor Governamental

1.Gestor Governamental

Figura 2 – Exemplo de Carreiras na Estrutura Organi zacional

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5. OS PLANOS DE CARREIRA E O MODELO DE GESTÃO VOLTA DO PARA

RESULTADOS

Conforme citado anteriormente, o Plano Diretor da Reforma

estabeleceu dois pré-requisitos básicos para a efetivação da reforma:

alterações legais e constitucionais e transformação da cultura gerencial.

Quanto ao Modelo de Gestão Voltado para Resultados escolhido para

ser implantado em Mato Grosso previa em seus princípios fundamentais:

satisfação do Cliente-Cidadão, envolvimento de todos através da gestão

participativa e gerência de processos, valorização das pessoas, constância de

propósitos, melhoria contínua, prevenção de erros, garantia da qualidade e

transparência. Observe-se, portanto, que todos os princípios norteadores do

modelo dependiam diretamente do comprometimento e atuação das pessoas,

neste sentido os planos foram concebidos em linhas horizontal e vertical de

progressão.

Pressupunha-se, portanto, que o servidor, visando progredir na

carreira, buscaria se qualificar cada vez mais, o que resultaria na melhoria da

prestação dos serviços. E, partindo do princípio que para progredir

verticalmente ele dependeria de resultados positivos na avaliações de

desempenho e esta por sua vez estaria diretamente ligada ao atingimento das

metas de governo, conforme modelo de gerenciamento pelas diretrizes,

também resultaria na melhoria contínua da prestação dos serviços ao cliente-

cidadão. Logo estaria transformada a cultura organizacional de burocrática em

gerencial.

Contudo, após análise dos resultados da implantação dos planos de

carreira percebe-se que os modelos conceituais propostos não conseguiram se

efetivar, devido principalmente a não observância do que estava estabelecido

no Plano Diretor da Reforma, no modelo conceitual de Gestão Voltado para

Resultados e no modelo conceitual de Gestão de Pessoas que resultaram em

distorções na implantação dos Planos de Carreira.

Tais distorções levaram a administração pública estadual a um

processo lento e desgastante de correção dos planos e busca pela formação

de um Sistema de Carreiras que fosse uma ferramenta de melhoria contínua da

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gestão de seus recursos humanos e de controle efetivo do gasto com pessoal e

encargos sociais.

5.1 Da Análise da Implantação

A política salarial, tanto de uma empresa da iniciativa privada quanto

da Administração Pública, deve ser um conjunto de princípios e diretrizes que

reflitam a orientação e a filosofia da organização.

Essa política deve conter, segundo Chiavennato (1999), em seu

conteúdo, a estrutura dos cargos e dos salários (iniciais e posteriores) e

previsão de reajustes salariais (coletivos e individuais).

A previsão de reajustes salariais, o autor divide em: reajustes por

promoção, por enquadramento ou por mérito.

Este conceito foi atendido nos planos de carreira implantados, contudo,

a adoção do subsídio como forma de remuneração demonstrou ter sido para

atender a necessidade da administração pública de conter o crescimento

vegetativo da folha de pagamento em cumprimento as metas estabelecidas de

ajuste das despesas à receita.

Devido a este caráter meramente financeiro, deixou-se de planejar a

implantação e não foi estabelecida uma regra geral para que os

órgãos/entidades pudessem se fundamentar quando da elaboração das suas

leis de carreira que instituiriam a remuneração por subsídio.

Por não ter havido a edição de uma regra geral, a exemplo do que

ocorreu em 1992, cada órgão/entidade elaborou a sua própria lei, criando

carreiras que hoje se encontram vigentes. Até dezembro de 2001 haviam sido

publicadas 28 (vinte e oito) leis de carreira.

Quando da edição do Plano de Cargos e Salários de 1992, foi possível

observar que a administração pública demonstrou estar cumprindo os preceitos

constitucionais que prevêem a isonomia de vencimentos para cargos de

atribuições iguais ou assemelhados no mesmo Poder, ressalvadas as

vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de

trabalho, pois, no teor das leis que implantaram o Planos de Cargos e Salários,

foram estabelecidas regras salariais que procuraram tratar de forma igualitária

os iguais.

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Dispensar tratamento igualitário não significa que todos devem ter o

mesmo salário. Ao contrário, os que são diferentes devem ser tratados de

acordo com as suas diferenças.

Como as leis de carreira criadas, além da instituição da remuneração

por subsídio, disciplinavam sobre critérios de promoção, progressão e

enquadramento na carreira surgiram regras que davam tratamento desigual

para iguais, como por exemplo: profissionais de nível superior, com mesma

formação, trabalhando em sua área de atuação nos órgãos, com carga horária

diferenciada e com valores de subsídio iniciais também diferentes.

Outro aspecto a ser considerado é que no bojo das leis editadas foram

estabelecidas regras desiguais para promoção e progressão nas carreiras,

sendo que leis editadas em um mesmo ano estabeleciam dentro outros

aspectos prazos de interstícios diferentes para progressão de classe.

Da análise efetuada em relação as tabelas salariais do Poder

Executivo foi observado que os índices aplicados entre os níveis (progressão

vertical) variaram de 2,5% (dois e meio por cento) à 8% (oito por cento).

As distorções geradas pelas leis contribuíram para que houvesse

descontentamento entre os servidores que compunham as carreiras

prejudicadas. Fato este que tornou imperativo diante das distorções criadas por

estas leis o estabelecimento de um padrão para ser seguido por todas as

carreiras, principalmente quanto aos aspectos que estavam sendo objeto das

solicitações de revisão: interstício, número de classes, critérios para a

progressão nas classes e também do percentual de reajuste a ser aplicado

entre as classes e níveis das tabelas salariais.

Outro ponto relevante a ser considerado e o primeiro pré-requisito

estabelecido no Plano Diretor da Reforma para que as reformas tivesse

sucesso: Alterações Legais e Constitucionais.

Apesar da garantia da Emenda Constitucional nº 19, não foram feitas

adequações na legislação estadual para implantação do subsídio e dos planos

de carreira nos moldes projetados.

O Estatuto dos Servidores Públicos Civis permaneceu adequado ao

Plano de Cargos, Carreiras de Salários de 1992 e a Constituição Estadual

também não foi alterada para se adequar a nova política, fatos estes que foram

objeto de várias ações judiciais por parte de sindicatos e associações.

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Logo os pré-requisitos estabelecidos no Plano Diretor da Reforma no

que se referem ao gerenciamento das pessoas não foram atingidos: não se

conseguiu alterar a cultura organizacional e não foram feitas as adequações

legais e constitucionais necessárias.

5.2 Das Medidas Adotadas

No decorrer dos dez anos desde a implantação do primeiro plano de

carreira (Lei Complementar nº 50/1998, que instituiu a Lei Orgânica dos

Profissionais da Educação Básica) até hoje, a Secretaria de Estado de

Administração de Mato Grosso gradativamente foi assumindo o papel gestora

de pessoas, em substituição ao papel de fazedora de folha de pagamento.

Gradativamente também está sendo adequada a legislação estadual

aos planos de carreira, sendo que está em curso na Assembléia Legislativa do

Estado a revisão da Constituição Estadual e o grupo de trabalho que vai

adequá-la aos Planos de Carreira adotados são servidores de carreira da

SAD/MT.

Foram extintas carreiras e criadas outras de forma a construir um

Sistema de Carreiras compatível com a missão dos órgãos e entidades que

compõe o Poder Executivo Estadual.

Todos os projetos de lei do Poder Executivo que versem sobre carreira

passam pela análise da SAD/MT, e nos casos em que a proposta não esteja

em consonância com os parâmetros estabelecidos é constituído um grupo de

trabalho em que há membros indicados pelo órgão/entidade e pelo sindicato da

categoria para participar da análise do projeto.

A partir de 2003, no mês de maio de cada ano, foi instituída por lei

Revisão Geral Anual dos Subsídios com base no INPC acumulado de

dezembro do ano anterior.

As revisões dos textos dos planos de carreira, a concessão da revisão

geral anual, todo aumento real ou qualquer fato que gere majoração na folha

de pagamento só é concedido após estudo de impacto orçamentário e

financeiro para o ano e de viabilidade orçamentária e financeira para os três

anos seguintes. O crescimento projetado é então comparado ao crescimento

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da Receita Corrente Líquida e projetados os percentuais do gasto com pessoal

e encargos sociais nos termos da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Foram retirados da folha de pagamento dos órgãos/entidades todos os

servidores aposentados e pensionistas e criado o Fundo Previdenciário do

Estado de Mato Grosso (FUNPREV), facilitando o controle do gasto com

pessoal e encargos sociais dos ativos e inativos.

Foi adquirido um novo sistema informatizado, que começa a funcionar

em 2008, denominado Sistema de Administração de Pessoal (SEAP) que

possibilitará o controle efetivo do quadro de pessoal, do lotacionograma, da

vida funcional, da folha de pagamento e estão sendo desenvolvidos módulos

que contemplem as demais funcionalidades para a gestão das pessoas como

por exemplo o módulo para gestão do desempenho.

6. AVANÇOS PARA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL

Muitos foram os percalços a partir da implantação do subsídio em Mato

Grosso, contudo muitos foram os avanços. Neste artigo, destacamos três

avanços significativos: o controle do gasto com pessoal e encargos sociais, a

definição de uma política de remuneração e a melhoria da qualificação dos

servidores.

6.1 Principais Avanços

Os motivos mais claros para a reforma do Estado nas últimas décadas

do século XX tiveram sua origem em um contexto internacional, apesar de que

as prioridades tenham variado com o tempo e de acordo com as circunstâncias

e os pontos de partida particulares de cada estado. Verifica-se, contudo, que o

motivo mais forte, especialmente durante os períodos da crise econômica do

início dos anos 80 e 90, foi à busca de reduzir despesas.

Neste contexto, a despesa com pessoal e encargos sociais se tornou

o alvo dos governos, tendo em vista ser, em geral, a maior despesa e devido

as dificuldades de controle, tendo em vista o crescimento vegetativo.

Em Mato Grosso, o desequilíbrio entre receita e despesa foi tão

significativo que em 1995 registrou-se um comprometimento de 77% (setenta e

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sete por cento) da receita corrente líquida com folha de pagamento. Este

desequilíbrio levou a Administração Pública Estadual em alguns períodos a

contrair empréstimos junto a agentes financeiros.

Como exposto anteriormente, um dos principais motivos da adoção do

subsídio como forma de remuneração foi para controlar a folha de pagamento,

intento este que foi alcançado, tendo em vista que o crescimento vegetativo

pode ser projetado com margem mínima de erro.

Considerando que o aumento de despesa só é autorizado após estudo

de impacto financeiro e orçamentário, a evolução do gasto tem permanecido

em patamares equilibrados, sendo que os percentuais em relação a receita

corrente líquida tiveram uma redução significativa em 2007, conforme quadro

demonstrativo abaixo, devido a criação do FUNPREV/MT e da política de

remuneração adotada.

EVOLUÇÃO DA DESPESA COM PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS

- PODER EXECUTIVO ESTADUAL -

1999 2002 2005 2006 2007

39% 40,86% 38,79% 39,26% 33,64% Limite prudencial LRF 46,55%

Figura 3: Relação Despesa de Pessoal e Encargos Soc iais x Receita Corrente

Líquida

Outro avanço significativo é a política salarial definida, pois à medida

que não há vantagens pessoais, é possível acompanhar a evolução

remuneratória por carreira, determinar os ganhos reais e assim conceder

aumentos diferenciados ou lineares com base nos dados estatísticos

produzidos.

Tais produção de dados e mecanismos de controle só se tornaram

possíveis através da melhoria da qualificação dos servidores que para

progredir na carreira tem se qualificado, sendo que através da Escola de

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Governo e das escolas setoriais são fornecidos cursos de capacitação

permanente contando com uma participação cada vez mais crescente de

servidores.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estado de Mato Grosso passa hoje pela quarta grande reforma

administrativa que já está repercutindo na gestão dos recursos humanos e já

provocou alterações no Sistema de Carreiras existente.

Está repercussão, contudo, é benéfica, pois é fruto do amadurecimento

da administração pública estadual. Através dos núcleos sistêmicos poderá ser

resolvido o último grande gargalo dos planos de carreira que é igualar as

condições dos servidores da área meio do Estado.

Relevante ressaltar que muito ainda precisa ser feito na área de gestão

de pessoas em Mato Grosso, mas o caminho para a definição de políticas

públicas com responsabilidade já está traçado.

NOTAS

1. SALDANHA, Rosangela. Análise do Gasto Estadual com Pessoal , IPEA. 1997. 2. SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO GERAL. Mato Grosso. Plano Diretor da Reforma do Estado . 1998. 3. BRASIL. Lei nº 7.461 de 13 de julho de 2001, Dispõe sobre a criação da Carreira dos Profissionais da área Instrumental do Governo e dá outras providências . Disponível em http://www.sad.mt.gov.br . Acesso em 06. março . 2008. 4. Idem. 5. Idem.

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TEXTOS E OBRAS CONSULTADAS

1. BRASIL. Lei Complementar nº 13 . Disponível em http://www.sad.mt.gov.br . Acesso em 12. março . 2008. 2. BRASIL. Lei Complementar nº 04 . Disponível em http://www.sad.mt.gov.br . Acesso em 22. março . 2008. 3. BRASIL. Lei nº 5.983 de 1992 . Disponível em http://www.sad.mt.gov.br . Acesso em 06. março . 2008. 4. BRASIL. Lei nº 6.027 de 1992 . Disponível em http://www.sad.mt.gov.br . Acesso em 06. março . 2008. 5. BRASIL. Lei nº 6.695 de 1995 . Disponível em http://www.sad.mt.gov.br . Acesso em 06. março . 2008. 6. 10. BRASIL. Lei nº 6.593 de 1994 . Disponível em http://www.sad.mt.gov.br . Acesso em 06. março . 2008. 7. BRASIL. Governo Federal. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado . Brasília. 1995. 8. BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos, Reforma do Estado: Administração Pública Gerencial . São Paulo. FGV. 1999. 9. SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO GERAL – SEPLAN. Estado de Mato Grosso. Plano Diretor da Reforma do Estado . 1998. 10.CHIAVENNATO, Idalberto, Gestão de Pessoas, o novo papel dos recursos humanos nas organizações . Rio de Janeiro: Campus, 1999. 11. DIAS, Maurício Leal. O neoliberalismo é intervencionista? . Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 31, maio 1999. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto . Acesso em: 05 março. 2008 . 12. DUTRA, Joel Souza, Administração de Carreiras: Uma Proposta para repensar a Gestão de Pessoas , - Atlas: São Paulo, 7ª tiragem, 1996. 13. FALCONI CAMPOS, Vicente. Gerenciamento pelas Diretrizes . Ed. DG. 1998. 14. SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO GERAL – SEPLAN. Estado de Mato Grosso. Plano Diretor da Reforma do Estado . 1998.