c1 continuação

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  • 8/15/2019 C1 Continuação

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    Continuação do Cap 1

    SumárioCapítulo 1 Loucura..........................................................................................................10

    1.1 - A loucura trágica embarcada nas águas do desatino...........................................26

    1.2 - O trágico e a ausncia de !undamento.................................................................""

    1." - Apreensão da loucura# o !undamento do $ardim da ra%ão...................................&1

    1.& - O no'o solo da loucura ancorada na nature%a (umana.......................................&6

    1.) * O círculo antropol+gico ou (omem como medida da loucura...........................)2

    1.6 * ,omar os corpos# disciplina e biopoder.............................................................)

    1. * /ub$eti'idade e poder entre a norma e a lei........................................................6"

    1. * orma re!erencial !re3uncia estatística e !uncionamento regular# a Saúde

    org4nica e a 'ida biol+gica dos corpos........................................................................6

    1. * 5ipo ideal erro e corpo mecani%ado# ar3ueologia da !ormação.........................

    1.10 * Adaptação e produção de signos numa perspecti'a clínica..............................)

    Adaptação ortopedia social e naturali%ação da eperincia (umana.........................."

    Administração alienação e teraputica.....................................................................100

    Ob$eti'ação 'ida e loucura# o insubordinado calado e medido - egati'idade

    !undadora e positi'idade dos saberes# ob$eti'ação e su$eição da loucura.................10

    5ecnologias ormali%ação e (umani%ação# teraputica e moral...........................126

    5rs dimens7es de ormali%ação..............................................................................12

    8ensamento re!lei'o#...........................................................................................1"&

    Artaud e os !luos desterritoriali%ados......................................................................1&)

    Artaud#.......................................................................................................................1)1

    1.1 - A loucura trágica embarcada nas águas do desatino

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    1.2 - O trágico e a ausncia de !undamento

    1." - Apreensão da loucura# o !undamento do $ardim da ra%ão

    1.& - O no'o solo da loucura ancorada na nature%a (umana

    1.) * O círculo antropol+gico ou (omem como medida da loucura

    1.6 * ,omar os corpos# disciplina e biopoder 

    1. * /ub$eti'idade e poder entre a norma e a lei

    1. * orma re!erencial !re3uncia estatística e !uncionamento regular# a /a9de

    org4nica e a 'ida biol+gica dos corpos

    1. * 5ipo ideal erro e corpo mecani%ado# ar3ueologia da !ormação

    1.10 * Adaptação e produção de signos numa perspecti'a clínica

    1.: 3uando !alo da arqueologia da formação:: Ou cap dois:

    A arqueologia !oucaultiana ; parte da tarefa destrutiva de nossa pes3uisa. O?CA?L5 2000@. O pr+prio conceito de (omem ; no entanto (ist+rico e !inito o

    3ue e'idencia o caráter problemático da normali%ação $usti!icada sobre uma nature%a

    (umana básica.

    direç7es para a tese

    do louco trágico ao louco 3ue produ% obra deste ao 3ual3uer ao mais comum das

    eperincias 3ue ic(eau !a% alusão a3ui.

    /ingular sem ind em simondon in deleu%e id

    ccc p. 1# a rosa e caos 3ue antecede a arte 3ue antecede as di'is7es e em tudo está.

    : ccc 20# um

    territ+rio assinala a arte antes da arte. 'elocidades e lentid7es.

    Catástro!e ccc21 ,e'ir intenso... a nature%a s+ age contra si mesma.

    Aat A nature%a ; lenta e arte apressada e logo se cansa esgota os estados.

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    experiência , quer dizer, improvisação , utilização de oorr!nias" ela é tentativa em

    todos os sentidos” =CM 1) p.11@.

    operando rotas e camin(os eistenciais.

    máquina apresenta uma

    finalidade determinada reali%ando um programa previamente traçado no

    organismo (á a possibilidade de numa situação acidental um +rgão ade3uar-se a

    no'as condiç7es ser'indo a !unç7es impre'istas. Um organismo tem, portanto, mais

    liberdade de ação que uma máquina. Ele é menos finalidade e mais potencialidade”

    na má3uina todo o e!eito ; dependente da ordem das causas o organismo nem

    sempre segue o princípio de causalidade

    esmo composto de uma 3uantidade de partes * primeiro os +rgãos depois os

    tecidos 3ue per!a%em os +rgãos etc. con!orme a (ist+ria das cincias da 'ida

    apresentada por Canguil(em =2002@ * o corpo mecanismo conser'a para si o controle

    da integração e da compensação

    8ere% 106

    Comparati'amente se a pr+pria má3uina ergue uma rigidez funcional  para

    seguir uma !inalidade 9nica e uni'alente determinada por uma razão externa, isto é, a

    razão de seu construtor ineiste no organismo uma !inalidade predeterminada pois ;

    impro'isando 3ue ele descobre seus !ins

     possí'eis6&. ,esta !orma se ; possí'el atribuir uma !inalidade F vida  ela

    somente

     pode ser pensada num sentido organísmico6).

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    má3uina apresenta uma rigidez funcional por seguir uma !inalidade

    rígida e uni'alente ditada pela razão externa!de seu construtor no organismo

    não (á uma !inalidade predeterminada pois ; impro'isando 3ue ele descobre seus !ins

     possí'eis6&. ,esta !orma se ; possí'el atribuir uma !inalidade F vida  ela

    somente

     pode ser pensada num sentido organísmico6).

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    se no pensamento canguil(emiano a frequência  e o valor  ='ital positi'o@ dão

    corpo Fs constantes normati'as o sentido destas ; entretanto autoinstituído

    situacionalmente na 'i'ncia dos su$eitos.

    des'alori%ação da 'ida em nome de

    'ida temporal Pem sua transitoriedadeQa partir de um mundo supra-sensí'el e eterno

    considerado como o bom e o 'erdadeiro * 'er L/ 2)-21 =crítica platonismo@

    li'ro seis de A Kep9blica preocupado com

    a constituição de um !undamento 8latão trata do 3ue ele pr+prio

    denominou a doutrina dos dois mundos # o mundo sensí'el =de 'ariação e estran(e%a@ e

    o mundo intelig"vel  o mundo superior aparecem os ob$etos matemáticos, as

    essências fixas e os modelos imutáveis referencial normaQ

    Ao re'elar o encoberto seriam então descobertas A Origem O #em A $erdade

    mplica recon(ecer a %istoricidade das di'ersas !ormas e estrat;gias racionais

    de apreensão da loucura no nosso caso e 3ue nos condu%em a outra 3uestão# 3uais são as

    condições para 3ue a razão se torne a norma e a con%ecedora dos sendeiros outrora

    insondá'eis da loucura:

    ,e acordo com >oucault =1@ o espaço da loucura passa paulatinamente da

    circulação com a nau dos louos para a clausura com o  grande internamento clássico e

    daí F possibilidade de cura e recuperação do louco com o nasimento do asilo moderno.

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    reaparição do trágico na literatura  e nas artes modernas. ,aí a insistente alusão

    !oucaultiana a er'al Man Rog( RoSa Tlderlin e iet%sc(e. O?CA?L5 161U1a@.

    ?ma 'e% 3ue o campo da psicologia e da clínica psicol+gica ; transposto ao

    campo das cincias naturais o recurso F profundidade e F re'elação 'isa alcançar a

    realidade natural originária da loucura. A pro!undidade do desatino e da desra%ão

    são res'aladas e tornadas opacas com a aplicação ou pelo menos a tentati'a obstinada

    de aplicar F clínica os métodos das cincias naturais tentati'a instituir relaç7es de

    causalidade e de dependência de um fen'meno a outros. Logo a pro!undidade da

    loucura moderna s+ pode ser encontrada na articulação com o saber m;dico isto ; no

    encontro da pro!undidade do saber m;dico * suas categorias teorias e aplicaç7es * com

    a super!ície da !igura concreta do louco.

    PP1.6... boa !ormação tipo estat e ideal

    (ormal coincide com a !re3uncia estatística e com a noção abstrata de tipo

    social médio  e le'am a um ethos  de restituição deste tipo normal e portanto de

    conservação de um estado de coisas. A normali%ação consiste na instituição de um

    normal e uma normalidade prévios ao momento normativo momento de criação de

    'alores e direcionamentos para a 'ida sendo sua ação a aplicação de valores  pré)

    determinados para a eistncia de um su$eito coleti'a ou indi'idualmente considerado.

    /ua tese de doutorado trata das !ormas com 3ue o normal e o patol#gio

    =CAR?L

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    especi!icidade de campo e ao estudo estatístico das populaç7es. A psi3uiatria se inscre'e

    entao como protetora da ordem social instituída.

    PP1.

    di%er 3ue o movimento mec*nico  não abole a configuração  ; di%er 3ue o

    funcionamento normalizado * 3ue insistimos abarca o anormal * não desestabili%a a

    forma igualmente instituída normati'amente.

    ?ma 'e% formado conforme as con!iguraç7es normati'as 3ue o instituem o

    corpo normali%ado sup7e ainda a vigil*ncia e a correção a atenção ao des'io e a

    restituição F unidade originária =c!. >O?CA?L5 1@.

    1.

    5omados sob a +tica do !ato natural o (omem ob$eti'ado como organismo sob

    as leis da nature%a e a eperincia sub$eti'a (umana são subordinados a um sistema

    limitado e espec"fico de funcionamento * cu$o fundamento é o corpo mecanizado.

    O?CA?L5 2000@ ;

    3ue os saberes podem eercer sobre um campo especí!ico a aplicação de suas regras e

    normas.

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    F tona uma eperincia cultural com as regras 3ue 'isa colocar em marc(a uma empreita

    tipicamente moderna de matematização  da mathesis  e submissão  do insubordinado

     pr+prio ao 'i'o.

    As sensaç7es e os sentidos o pathos e corpo en!im estão submetidos F unidade total do

    su$eito.

    PP!inal para antrop

    (orma e vida são relacionadas =mesmo na sua instabilidade e !lutuação@ em

    suas e3ui'alncias e seus en!rentamentos  pela !igura conceitual do homem. A

    regularidade ontol+gica deste e das leis da nature%a 3ue o regem ; 3ue !ornece o

    substrato para tal apreensão. Ketomamos a seção passada e o início desta

    PPantropologia Voa !ormação#

    A domesticação das forças  3ue atra'essam o (omem le'ou a uma concepção de

    (omem morno, requentado na interioridade psicol&gica uma pro!undidade uma

    espessura interna 3ue !undamenta a sub$eti'idade como lugar da 'erdade a partir do

    s;culo JJ.

    A3ueles 3ue no cerne de nossa cultura Edes!rutam a liberdade de toda coerção socialG

    =5 R p. 12@ seus EWinstrumentos da culturaW são uma 'ergon(a para o (omemG o

    3ue le'a o !il+so!o do martelo a asse'erar 3ue En+s sofremos do %omemG p. 1".

    8or !im 3ue nossa cultura cede en!im Eao menos capaz de vida, ao menos afirmador

    de 'idaG 1". ossa sociedade acumula um banco de dados 3ue relaciona padrões e traços

    biol&gicos aos e!eitos de cura psicol&gica e de verdade na 'ida. A noção de identidade

    biopsicossocial  articula a interioridade psicol+gica F eterioridade da 'ida da 'ida

     biologicamente apreendida.

    A passagem da indi'iduali%ação para os di'iduais Eda segunda metade do s;culo JJ a

    tendncia dos =in@di'íduos a serem di'iduais no sentido 3ue ,eleu%e =12b p.

    222@ con!eria a este termo isto ; !luos dados ci!ras porcentagens índices.G/+ pode ser interrompida pela proposição dos princípios de individuação =/imondon@

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    Rregário

    ,epreende-se então 3ue a verdade sobre o %omem  se esgota em seu ser 

    natural e 3ue uma 'e% inserido na ordem do fato natural o (omem está submetido a

    leis  determin"sticas ou probabil"sticas de !uncionamento =>O?CA?L5 1)U1@.

    5al naturalização ; e!eito pol"tico de um cientificismo 3ue lança mão de uma esp;cie

    de naturalismo para conceber a nature%a como sistema capa% de tudo esgotar e no cerne

    do 3ual a realidade pode ser plenamente apreendida.

    Con!erir# tese seção sessão capítulo

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    Capítulo 1 Loucura

    A loucura en3uanto problema conceitual e desa!io para a prática concerne ao

    campo da cl"nica  e por isso começamos com sua apreensão pelos saberes sob a perspecti'a 3ue toma ic(el >oucault =1@. ,e !ato %ist#ria da louura se disp7e ao

    estudo da constituição das di'ersas !ormas de objetivações em torno da loucura estudo

    dos modos  sob os 3uais ela se torna ob$eto. 8or isso continuando as pes3uisas

    desen'ol'idas na dissertação de mestrado A voz do sil!nio =8KA,O 201"@ lançamos

    um outro ol(ar sobre a eperincia da loucura numa perspectiva trágica. 8ara tanto

    contrastamos a esta perspecti'a uma experiência de apreensão cr"tica a partir da 3ual

    se desdobram as imagens 3ue representam a loucura en3uanto fen'meno %ist&rico esocial =3ue inclui sua problemati%ação no campo da sa9de.

    A eperincia crítica condi% a um tipo de con%ecimento  3ue presume 3ue o

    mundo seus elementos e a 'ida como todo não pode deiar de obedecer certas leis

    naturais e necessárias 3ue regem a ordem do mundo. Logo os elementos dissonantes

    ecedem a (armonia das leis uni'ersais se$a como descon%ecimento das causas se$a

    como acontecimento singular incapa% de a!etar as leis uni'ersais. 5ratando-se da

    incapacidade de determinar as causas ou bem da causa !ictícia de um impre'isto a

    3uestão ; de um modo ou de outro subtrair o caráter ecessi'o da loucura.

    /eguindo o compasso da ordem de nossa cultura a eperincia crítica assume a

    'erdade e a essncia da loucura atra';s da sua ob$eti'ação e da su$eição dos loucos

    mediante a ra%ão e o con(ecimento. O?CA?L5 1@ e F pr+pria 'ida

    =CAR?L

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    con'erter o con(ecimento das necessidades em poder. 8ois o necessário ; o 3ue emana

    dos saberes na tare!a de sobrepu$ar o aspecto 'i'encial da eperincia loucura.

    O poder de inter'enção da comunidade instaura e sal'aguarda um sistema

    teleol&gico  'oltado para a %ierarquia  das qualidades e essências  3ue imprime na

    realidade da loucura en3uanto experiência. as o 3ue signi!ica tomar a loucura

    en3uanto eperincia: um momento inicial de seus estudos >oucault =1)&U1

    161U1@ pauta uma noção de eperincia pr+ima F !enomenologia eistencial como

    lugar  de descoberta na re!leão sobre o 'i'ido 3ue 'isa superar o transit&rio  para

     buscar significações originárias. /upondo um re!erencial originário procura-se

    desdobrar todo o 'i'í'el cabí'el F eperincia cotidiana buscando suas signi!icaç7es

     para colocar o su$eito como !undador de ambas da eperincia e de suas signi!icaç7es.

     este sentido ; 3ue o pensador !rancs pode recorrer a um grau zero da loucura como

    eperincia indi!erenciada no &refáio suprimido de %ist#ria da 'ouura.

    A concepção na 3ual a eperincia aparece como !undação o su$eito e como

    a3uilo 3ue o coloca como re!erencial para a instauração e apropriação do mundo ; logo

    deiada de lado em prol da rede!inição da eperincia como índice de dessubjetivação+

    Assentado na leitura de iet%sc(e Vataille e Vlanc(ot >oucault =1U2010@ passa a

    entender a eperincia como ficção 3ue se !abrica para si mesmo em determinado

    momento tendo como (ori%onte um con$unto de práticas e discursos. ,este modo ;

    3ue a eperincia se aproima do não)viv"vel * e não partil(á'el no caso da loucura * 

    3ue re3uer o máimo de intensidade e de impossibilidade para o engendramento de

    outros possí'eis nos 3uais se arranca o su$eito de si mesmo. ,eslocamento não raro

    associado F aniquilação e dissolução  do su$eito na3uilo 3ue >oucault =16"U2001

    1@ considera a loucura como experiência)limite e como Outro de nossa cultura.

    O não-'i'í'el e a dissolução podem ser ressigni!icados a partir da entre'ista com

    KabinoX =>O?C?AL5 1&U200&@ &ol!mia, pol$tia e problematizaç(es 3ue colocaao ní'el %ist&rico  da constituição de objetividades da !ormação de um pol"tica de

    cognição e intervenção sobre o mundo e das relaç7es ;ticas no governo e práticas de

    si. I ao ní'el destes etratos 3ue cada eperincia da loucura se !a% como !icção local

    transit+ria e modulá'el no tempo de acordo com suas condiç7es e sua de!inição

    en3uanto forma %ist&rica de subjetivação.

    O 3ue le'a >oucault =1&U201&@ a entender por !im no pro$eto de  &refáio )

     %ist#ria da Se*ualidade o estudo das formas da experiência como eio atra'essador de seus escritos 3ue o condu% a pensar a %istoricidade pr+pria Fs !ormas da eperincia

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    nas condiç7es em 3ue cada eperincia se !orma se desen'ol'e e se trans!orma. Logo

    des'inculado da suposição de lugar originário indi!erenciado e cru a e*peri!nia  se

     pauta como possibilidade e estrat;gia de dessubjetivação baseada na transitoriedade

    das distintas !ormas de eistncia e aparição da loucura na (ist+ria.

    5endo isto em 'ista pautamos nossa pes3uisa partindo do pri'il;gio da

    experiência trágica da loucura como modo de articulação e desen'ol'imento a partir 

    do 3ual a loucura pode se ani3uilar e se superar para deiar de ser loucura.

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    embarcaç7es no interior das 3uais são atirados Fs águas num descamin(o simb+lico de

    incerte%a e puri!icação mas da pr+pria viagem 3ue o lança no espaço não)qualificado

    de desregramento e deri'a.

    ,estarte mediante a impossibilidade de estabelecimento de um ob$eto 9nico e

     permanente para estudar a loucura os estudos !oucaultianos se 'oltam para as regras

    3ue determinam o espaço de 3uali!icação em 3ue desatino desra%ão loucura e doença

    mental se per!ilam numa lin(a e se trans!ormam em trs ní'eis  como podemos in!erir a

     partir de algumas re!le7es !oucaultianas =>O?CA?L5 16 2006@. 8rimeiramente a

    aparição de cada uma destas mani!estaç7es necessita de uma superf"cie de emergência

    que confere sua realidade espec"fica. /egundo perante inst4ncias de normalização

    institucional instituiç7es 3ue delimitam a eperincia da loucura como a medicina a

    ordem $urídica os saberes psi a igre$a a !amília etc. 8or 9ltimo como grades de

    especificação a partir da qual são separadas, reagrupadas ou derivadas as diversas

    experiências da loucura ob$eti'ada pelos saberes sob a sombra do dualismo alma-

    corpo ou da determinabilidade da (ist+ria de 'ida do indi'íduo.

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    reunida numa !igura de bricolagem em cada ;poca# desatinado desarra%oado doente

    mental =>O?CA?L5 1 2006@. Al;m disso os ob$etos do discurso patol+gico

    'ariam dentro de um mesmo campo de saber ao longo do tempo. 8inel Vleuler e os

     psi3uiatras contempor4neos * apoiados ou não no re!erencial ,/1 * certamente tratam

    de loucuras diferentes, e de loucos bem distintos entre si.

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    como valor maior di%endo Sim  ao 3ue ela tem de estran%o, intempestivo e

    questionável =O?CA?L5 1@.

     este 4mbito a razão aparece como inst4ncia de con%ecimento da loucura e

    como par*metro normativo  a partir do 3ual esta de'e ser medida. Con$ugando a

    conscincia prática a um discurso analítico a terapêutica proporciona o aparecimento

    da psi3uiatria moderna e da no'a super!ície da loucura concebida como !ato natural e

    social coetensi'o ao (omem. ,e!inida a especificidade da loucura a partir do del"rio

    e das paixões a alienação aparece como condicionante da possibilidade teraputica dedesalienação e cura# alienando sua 'ontade F do m;dico o alienado pode 'oltar F ra%ão.

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    O saber psi3uiátrico ; re!orçado pelo aumento do poder do psi3uiatra =>O?CA?L5

    2006@ !a%endo com 3ue loucura  se$a reiteradamente re!erida F uma din*mica

    normativa assentada numa figura de ascendência  sob o louco =encarnados nos

    operadores da normali%ação@ como o m;dico ou o $ui%.

    8aulatinamente a loucura 'ai sendo assentada num solo !io. /nclausurada

     passa a ser circunscrita a um rosto recon%ec"vel primeiramente como mal e castigo de

    ,eus ordenado sob a obra da razão divina. sto signi!ica 3ue na era clássica a loucura ;

    inscrita na ordem natural e en3uanto !ato de nature%a* articulado na nature%a do mundo

    com a ra%ão e a sabedoria di'ina * ela encarna o ser supremo do al e na se3uncia

     passa a ser progressi'amente recon(ecida em suas 'árias mani!estaç7es. Assim ; 3ue se

    distingue no s;culo JM lunáticos =ligados Fs mudanças da lua e !atores eternos@

    insanos =loucura atribuída ao nascimento e a !atores de pri'ação de alimento ou bebida@

    e melanc+licos =ligado ao 'ício@. ,e modo 3ue todo trabal(o de classi!icação passa a

    e'idenciar uma no'a ordem da racionalidade 3ue está se !ormando =>O?CA?L5

    1@.

     o desdobramento desta trans!ormação >oucault =2006 p. 2"@ salienta 3ue o

    louco passa a ser recon(ecido com a E insurreição da força o !ato de 3ue nele se

    desencadeia certa !orça não dominada e tal'e% indominávelG. Misando submeter a !orça

    contingencial de arrebatamento ; 3ue as !ormas de recon%ecimento  e !iguras da

    fixação da loucura são superpostas. ,este modo ; 3ue a loucura trágica misteriosa e

    insubmissa se redu% F triste !ace do erro e da falta moral determinada pela estrutura

    material do internamento. a aurora da modernidade =s;culo JM ao JJ@ a

    super!ície concreta da !igura do louco encontra na profundidade médica  sua

    delimitação e justaposição ao quadro das doenças somáticas . O delírio e as pai7es

    são a contrapartida da imaginação desregrada e da irresponsabilidade 3ue o louco

     padece. 8or isso o alienista se3uestra sua 'ontade e sua liberdade por3ue a ra%ãocont;m a desra%ão. Kedu%ida a um momento menor e submisso F3uela esta 9ltima

     pode ser des!eita na desalienação operada pelo alienista =>O?CA?L5 2006@.

    Kegulamentando e punindo a nascente psi3uiatria moderna alme$a normali%ar * colocar 

    sob o registro de uma norma dominante * e restringir o espaço eistencial da loucura.

    O no'o rosto da loucura moderna ; delimitado pelo solo !io da !igura do

    %omem moderno !igura da finitude 3ue se per!a% nas sombras do 3ue !ora ,eus para

    era Clássica para pensar a eistncia a partir dos limites e da (istoricidade pr+pria F'ida ao trabal(o e F linguagem =>O?CA?L5 2000@. /imultaneamente su$eito e ob$eto

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    do con(ecimento este homo natura ; tomado como norma e re!erncia anterior a toda

    eperincia (umana. oucault =2000@ c(ama de ciências emp"ricas 3ue se

    dedicam Fs empiricidades da 'ida do trabal(o e da linguagem se desenlaça o campo

    das ciências %umanas. Operador da regulamentação em torno de normas e !unç7es o

    campo das cincias (umanas acopla toda experiência moderna  a um sistema 3ue

    instaura e coloca o %omem =tal como de!inido pelos c4nones modernos@ como origem e

    fim de toda experiência.

    A noção de %omem da antropologia moderna ; o índice de captura da vivênciaconcreta e da formação e movimento dos indiv"duos   em nossa cultura. ela se

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    desenlaçam duas tecnologias de normali%ação complementares e indissociá'eis 3ue se

    aplicam sobre os corpo coleti'o da população e o indi'idual# o biopoder e a disciplina

    =c!. >O?C?AL5 1 2002 2006 200a@. ,e!inida em relação com as cincias

    (umanas na terceira parte de -igiar e punir  =>O?CA?L5 1@ a disciplina consiste

    num con$unto de t;cnicas de individualização  assentadas na obser'ação do corpo nos

    detal(es de sua organização  interna 'isando o aumento de sua !orça econHmica e a

    diminuição de sua !orça política. /e a disciplina não ; outra coisa 3ue esta e!icácia da

    anatomia política do corpo tornado -til na medida de sua docilidade o biopoder  se

    apropria e estende a disciplina do corpo indi'idual a !im de obter e!eitos de gestão das

     populaç7es. ,este modo ao tomar a 'ida considerada em par4metros biol+gicos de

    !ormação e !uncionamento a normali%ação remete-a aos saberes a !im de ordenar o

    insubordinado 3ue nela aparece na !orma do ecessi'o do irredutí'el e do não-

    e3uipará'el.

    ,ecalcados da distinção e da delimitação entre normal e patol+gico o campo da

     biologia e da clínica determinam um campo de possí'eis e uma realidade especí!ica

     para a eperincia como desdobramento da positi'idade ontol+gica dos saberes e dos

    operadores normati'os. O biopoder e a disciplina se articulam com o social para atuar 

    de maneira m9ltipla na interpenetração entre a es!era p9blica e pri'ada de modo

    eercer um controle a ní'el indi'iduali%ante e no da gestão sobre o su$eito sua

     produção e sua eistncia no mundo. Com estas duas tecnologias ; 3ue se instaura o

    imp;rio moderno da norma em lugar da ordem da lei clássica.

    A modernidade de!ine um no'o uso do $urídico não como lei da 'ontade

    soberana mas como sistema de regulação normati'a 3ue ob$eti'a a 'ida concreta e a

    loucura na su$eição a um sistema normati'o assentado na !igura do (omem.

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    super!ície de nossa cultura este sistema inscreve e registra toda 'i'ncia

    3ualitati'amente ecessi'a numa gramática $urídico-normati'a 3ue a delimita

    negati'amente.

    O contingencial insubordinado e não-necessário da eperincia ; capturado

    atra';s da especi!icação de uma natureza  e de um sistema de causalidades. este

     ponto a norma socialmente estabelecida tende a sobrepu$ar toda normati'idade 'ital

    estabelecida na 'i'ncia em prol da distribuição do real sobre um campo repleto de

    saberes normati'os. Atra';s das normas 3ue instituem os saberes)poderes  são os

    operadores materiais de dominação 3ue atuam amplamente determinando a nature%a e o

    modo de !uncionamento em prol da apropriação econHmica dos corpos tornados d+ceis

    e 9teis.

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    na instituição de um normal e uma normalidade prévios 0 situação  propriamente

    normativa isto ; ao momento de criação de 'alores e direcionamentos para a 'ida

    sendo sua ação a aplicação de valores  pré)determinados  para a eistncia de um

    su$eito coleti'a ou indi'idualmente considerado.

    Kede!inido em relação ao anormal  =>O?C?AL5 200@ ao contingencial

    re!erentemente Fs normas  socialmente em 'oga em determinada ;poca o normal se

    torna ponto de partida para a instituição dos valores  associados F boa !ormação e ao

    !uncionamento regular. Ao passo em 3ue estes !uncionam sob a ;gide dos modelos

     pedag+gico e da sa9de p9blica a noção de %omem  !unciona como fundamento

    emp"rico da norma e condiciona portanto a pr+pria apreensão da vida. Atra';s da

    noção de su$eito ; 3ue se busca uma regularidade ontol&gica  * condição de

    inteligibilidade e operacionali%ação dos saberes * decalcada de leis naturais e

    determinada pelo meio social e pelo comportamento indi'idual.

    8ara apreender os !atos compleos e as !unç7es 'ariá'eis inerentes F 'ida num

    sistema de regularidades  e %ierarquização se recorre ao uso ampliado da estatística

    com a !inalidade de estabelecer relaç7es de causalidade para determinar o 3ue ; normal

    e o 3ue ; !uncionamento ade3uado. A partir desta generalização mecanizada da norma

    estatística social ; 3ue se instaura as con!ormaç7es ao normal e se de!ine a sa9de de um

    corpo ou a loucura de um su$eito estatisticamente pelo diagn&stico avaliativo no

    comportamento gregário ou na en3uete 3ue garante a e!icácia da cura =c!.

    CAR?LO?CA?L5 200 200a@. 8ois a loucura s+ pode ser lida na

    gramática deste sistema m;dico-normati'o de apreensão 3ue instaura a partir de um

    re!erencial negati'o anormal normas 3ue engendram positi'amente modos de

    eistncia nos 3uais o louco ; relegado a um 4mbito restrito de circulação 3ue  o

    determina e o de!ine negati'amente sob uma relação indel;'el de dom"nio.

    A continuidade estabelecida entre normal e patol+gico sob o ponto de 'istaanatHmico da unidade somática do corpo biol+gico indi'idual  =c!. CAR?LO?CA?L5 2011@ e entre o terreno s+lido da antropologia moderna e a outrora

    insubmissa deri'a da loucura redu%ida F alienação tomam de se3uestro o caráter 

    ecessi'o e 3ualitati'amente insubordinado da loucura e da doença em geral. Kedução

    3ue ; um desdobramento da racionali%ação da medicina 3ue por sua 'e% completa a

    apreensão da loucura como !enHmeno patol+gico re!erindo-a ao terreno !io do

    (umanismo para apreend-la sobre uma gramática normati'a.

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    Como complementação da medicalização da sociedade e da racionalização da

    medicina aparece norma ideal etraída da ação !isiol+gica normal 3ue ser'e de modelo

     para a inter'enção clínica. (orma ideal  3ue ; problemati%ada a partir de Claude

    Vernard =c!. CAR?L

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    A positi'idade dos saberes e dos operadores normati'os con!ere o ser da loucura

    moderna.

    /e a psiquiatria ; o monologo da ra%ão sobre a loucura =c!. >O?CA?L5 :::@ ela

     propicia a não)relação  entre m;dicos e en!ermos F medida em 3ue trata não do

    encontro clínico entre duas pessoas mas da Erelação da ra%ão com a3uilo de 3ue ela

    !ala# a loucuraG =c!. IKVO 10 p. 11@. ,e !ato a racionalidade m;dica se ocupa

    da3uilo a 3ue ela se ocupa em capturar e !or$ar# o doente mental e sua loucura o louco e

    sua doença+

    5emos es3uematicamente não obstante o cenário em 3ue se desenrola a

    eperincia moderna da loucura. 2oliticamente separada por uma lin(a limítro!e 3ue ;

    antes normativa a loucura resta como possibilidade interior 0 pr&pria razão que,

    entretanto a abarca e a contém. ão obstante muito pr+ima e potencialmente

    re'ersí'el em boa parte dos casos a loucura não passa de um momento uma parte

    menor alienada e subordinada F ra%ão tida como estado ou capacidade original e

    propriamente %umana F 3ual de'e ser restitu"da.

    nstrumento 3ue coloca em marc(a a política de restituição as instituições

    disciplinares médica, asilar e psiquiátrica dão o tom de uma objetivação 3ue acaba

     por repercutir a l+gica primordial da psi3uiatria moderna de sujeição do alienado ao

    m;dico. 5al relação dissimétrica estabelecida no seio do aparel(o m;dico persiste e

    re'erbera no se3uestro da liberdade e dos direitos do doente mental cu$o desregro ; tido

    como um atentado F pr+pria comunidade. Logo o ethos de toda ação m;dica orienta-se

     para a conservação da razão unidade primeira total e 'erdade 9ltima da natureza

    (umana perante a 3ual a loucura não passa de um estágio de segunda ordem.sto por3ue na modernidade loucura ; um des'io da alçada do ser e não mais do

    não-ser.

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    mundo. ,e um $eito ou de outro ele tem de ser de'ol'ido F unidade sub$eti'a identitária

     * nem 3ue para isto ten(a de se alienar F !igura do m;dico * e remetido ainda F

    din4mica mesma da ra%ão.

    1.6 adaptação ortopedia....

    Agora tal'e% caiba $usti!icarmos as opç7es pelos autores utili%ados para

    intermediar nossa pes3uisa sobre a cl"nica  en3uanto eperincia com as normas.

    5ratando das maneiras de $ulgar e inter'ir sobre a 'ida . /asimento da l$nia

    =>O?CA?L5 2011@ tra% uma outra !ace da norma estudada por Canguil(em =2002@ na

    sua tese de 1&".

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    O corpo do psi3uiatra comporta o do doente literalmente en'olto no interior deste

    atra';s da 'ontade. ,a alienação da 'ontade.

    A produção de loucura identi!icada com os aparel(os normali%adores 3ue captam

    a loucura e a inscrevem no corpo do indiv"duo   como marca de uma valoração

    intr"nseca. Atra';s de um golpe 3ue torna o su$eito e suas relaç7es com mundo um

    su$eito interiorizado  sujeitado  perante sua natureza e sua ontologia produ%indo

    uma dobra 3ue se

    1. Ob$eti'ação 'ida e loucura# o insubordinado calado e medido - egati'idade

    !undadora e positi'idade dos saberes# ob$eti'ação e su$eição da loucura

    Canguil(em e >oucault o anormal ; (istoricamente anterior ao normal ; sobre o

    anormal 3ue se cria !ormas de normali%ação. I a partir do mal uso da liberdade 3ue se

    cria as !ormas de normali%ação

    8ara >oucault o poder normati'o tem e!eito de inter'enção e trans!ormação[ o

    3ue con!ere F normali%ação uma concepção =e por 3ue não poderíamos di%er !unção:@

     positi'a t;cnica e política

    /e os saberes psi não podem se apropriar do corpo para ancorar e de!inir sua

    especi!icidade dentro dos saberes da 'ida esta dimensão parece ser estrategicamente

     $ustaposta por uma concepção de sa9de mental pautada pelo 3ue >oucault =1@denomina $rulo antropol#gio por certa ideia de %omem. As a eperincia com as

    normas se desdobra ao lado do estudo das funções e dos comportamentos elementos

    interpenetráveis 3ue acabam por de!inir de 'e% o %omem moderno.

    8ois de !ato a loucura en3uanto doença mental depreende um campo especial

    da patologia destacado da patologia em geral e esse campo ; o do %omem do su$eito

    moderno =>O?CA?L5 1)@. O louco s+ pode ser apreendido en3uanto tal dentro de

    um entendimento do (omem en3uanto sujeito da razão. a modernidade este su$eito

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    do pensamento reflexivo sobre si mesmo tem como contrapartida o louco en3uanto

    ser despossu"do de si, investido de forças insurgentes e disruptivas.

    Com e!eito tal

    Econ%ecimento do %omem di!erentemente das cincias da nature%a estásempre ligado mesmo sob sua !orma mais indecisa a éticas ou a pol"ticas[mais pro!undamente o pensamento moderno a'ança na3uela direção em 3ueo outro do (omem de'e tornar-se o 4esmo que eleG =>O?C?AL5 2000 p.&")@.

    Bual ;tica e 3ual política encontramos na eperincia moderna 3ue ' o louco sob os

    lentes da noção de (omem !undada entretanto por ele mesmo:

    8or tra% das di!iculdades epistemol+gicas e cientí!icas =algumas superá'eis ou $á

    superadas (o$e em dia@ a ausncia de corpo 3ue caracteri%a a psi3uiatria remete a um

    recalcamento F uma captura F uma es3ui'a da dimensão sens+ria F dimensão pática do(umano. Os saberes psi se es3ui'am da dimensão produti'a do corpo e do inconsciente

    segundo a!irmam de ,eleu%e e Ruattari =2011@. ,imensão 3ue ad';m dos !luos

    desterritoriali%ados do dese$o colocados em pauta com a !igura do es3ui%o.

    8rimeiro (á um espaço de circulação e poli'alncia. /egue-se um momento de

    enclausuramento de apreensao. as 3ual o risco a 3ue se 3uer de!ender: O das !orças

    desterritoriali%adas. I isto 3ue apreendemos com Artaud.

    Logo nos 'oltamos para o mane$o deste corpo mágico de Artaud

    1.1 - A loucura trágica embarcada nas águas do desatino

    /em nos atermos a um suposto grau %ero e indi!erenciado capa% de de!inir uma

    essncia primordial da loucura =c!. >OC??AL5 161U1 1@ !ocamos a

    eperincia da loucura nas diferenciações 3ue a colocam em 3uestão e !undam suas

    di'ersas concepç7es. ,estarte abordamos as distintas experiências da loucura as

    !ormas estruturais cambiantes re!erentes ao con$unto de práticas e discursos a respeito

    da loucura encontradas em di!erentes ní'eis =>O?CA?L5 161U1a@

    Cada eperincia ; articulada em trs instancias. 8rimeiramente no das práticas

    3ue operam simbolicamente rituais e !ormas institucionais de separação =como a nau

    dos loucos o grande internamento a psi3uiatria moderna@. A essa se seguem os

    di'ersos discursos da razão sobre a loucura =de ordem $urídica m;dica dos saberes

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     psi@ 3ue operam se orientam progressi'amente F ob$eti'ação positi'a da loucura. < por 

    !im sub$a% a linguagem pr&pria da loucura em 3ue ela aparece seu ser ruidoso e

    subterr4neo. /ão os modos como a loucura resiste pri'ilegiadamente na arte mas

    tamb;m os gritos e murm9rios de uma linguagem sem poder de troca em nossa cultura.

    Assim remontamos de início F eperincia 3ue 'ai da baia dade ;dia ao

    Kenascimento de circulação e tr*nsito  entre desra%ão e ra%ão. 5al re!erncia tem o

    intuito não apenas de ressaltar 3ue a clausura da loucura ; um !ato pontual na nossa

    (ist+ria como de apontar um ense$o de perspecti'a 3ue nos interessa. A saber nos

    'alemos da perspecti'a trágica de afirmação da vida e dos 'alores do indeterminado

    'aloração do contingencial e da dimensão pática da experiência. 5rata-se em suma

    de a!irmar a 'ida seu poder de a!etação e sua capacidade de ser a!etada no paradoal

    mo'imento de metaboli%ação do contingente de !orças 3ue a atra'essam presando sua

    irredutibilidade. 8ois o pathos ; a potência não)diferenciada pr+pria F linguagem e ao

     pensamento 3ue se op7e ao sentido 9nico e geral e 3ue não pode ser redu%ida F unidade

    total da ra%ão.

    oucault =1@ 'isita algumas !ormas de eclusão da

    di!erença radical no s;culo JM. ,a peste negra F lepra e daí F eperincia 3ue na ;poca

    aparece como desatino o pensador !rancs tra% a !igura da Stultifera /avis  como

    tecnologia de eclusão na 3ual a3uilo 3ue se eclui * a loucura desatinada no caso * 

     pode estabelecer diálogo e troca com a eperincia cotidiana da 3ual !ora ritualmente

    apartada. A separação do desatino ; $usti!icada pelos aspectos improdutivo  e

    indeterminado 3ue ela carrega em sua realidade não)%umana+

    Stultifera /avis ; um poema satírico e moralista publicada pelo te+logo e $urista

    /ebastien Vrant =2010@ no !inal do s;culo JM. nspirada ao mesmo tempo na literatura

    didática medie'al * de cun(o moralista e conser'ador * e no ciclo dos Argonautas a

    obra narra a err4ncia dos embarcados na busca de sentido e de um solo !irme para suaeistncia 'iciosa e pecadora. Aliando a temática medie'al da morali%ação dos 'ícios e

    dos pecados F busca milenar pelo sentido da 'ida e da eistncia a obra de Vrant não

    deia de aproimar-nos F improdução e a indeterminação como aspectos pr+prios e

    inerentes ao real %umano  3ue se espel(a nas di'ersas !iguras desatinadas da

    embarcação. Ao !im e ao cabo a nau dos loucos ilustra como o louco na idade ;dia ;

    colocado em circulação  e como a sociedade parece nele recon(ecer a necessidade

    pr&pria ao %omem da busca de sentido.

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    oucault =1@ se tais embarcaç7es de !ato eistiram. ndependentemente disto dado

    o sucesso e a ampla di!usão do teto de Vrant as ideias e 'alores ali epostos

    certamente marcam pelo menos um arcabouço de 'alores para determinada ;poca. A

    (istoriadora Nose!ina Vralic =2010@ ressalta 3ue a 'ariedade de re!erncias e de obras

    inspiradas na nau s+ tm sentido no conteto cultural da baia dade ;dia europeia2.

     este conteto ; 3ue se dá o desatino descrito por >oucault =1@.

    Ora o pensador !rancs traça um itinerário (ist+rico dos mecanismos de

    exclusão e aparatos de repressão com os 3uais nossa cultura ocidental lança mão de

    soluç7es 'iolentas e ine!icientes para lidar com a3ueles 3ue são diferentes 3ue estão

    !ora de seu solo de !undamentação.

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    renascentista abre a eperincia da loucura * e sob a !orma de contaminação

    eperincia a (umana em geral * para o indecid"vel e a flutuação.

    Com e!eito a loucura embarcada se oblitera do ser e de 3ual3uer 'erdade

    essencial 3ue se possa aprender irredutí'el um sentido estático ela (abita um espaço

    m&vel cu$o e!eito ; de busca permanente. 5al Ee!eito po;tico de es3uecer o aprendido

    tem sido !iloso!icamente interpretado em geral como um acesso místico F essncia do

    ser uma esp;cie de contato imediato com uma intimidade do real  con!usamente

    representada como a 'erdade do ser =KO//rancisco de Assis por eemplo. Logo eistem a3ueles 3ue se associam

    'oluntariamente a seu nome no intuito de crítica da sociedade caso dos loucos e bobos

    da corte de acordo com eers =1@. Com e!eito surgem neste conteto as !estas deloucos celebraç7es populares em 3ue se in'ertem as (ierar3uias e tem a !unção de

    " 5ese semel(ante F 3ue recorre Artaud em 'ários de seus escritos. Ke!erindo-se a ele

    mesmo ou a -an 1ogh, o suiidado da soiedade Artaud =sUd 1@ coloca o louco

    como mártir como bode epiat+rio. Ainda seguindo tal lin(a por;m numa clara

    di'ergncia o crítico e literato argentino Kicardo 8iglia =201)@ coloca o louco como

    agente duplo como a3uele 3ue 'ai at; o territ+rio descon(ecido e eplora as no'as

     possibilidades de ser.

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    desafogo social con!orme itre =200&@. /eus protagonistas são retardados +r!ãos e

    marginais de toda sorte !iguras das 3uais o louco não ; mais 3ue uma radicali%ação. O

    !ilão crítico implícita nestas práticas recoloca a loucura como possibilidade de tomar

    outros rumos para a existência.

    Assim a con$ugação do sentido trágico  da eperincia da loucura está na

    articulação entre uma loucura ancorada no %umano * mais especi!icamente no caráter 

    uni'ersal da busca * e o lugar de tr*nsito 3ue implica na possibilidade de e!eti'amente

    cair  na loucura. Cair na profundidade da linguagem sem partil%a e na queda sem

    termo. A inter!ace entre a metáfora do %omem =en3uanto super!ície de sentido ou do

    (umano como sal'aguarda de uma eperincia !undamentalmente de sentido@ e a

    mobilidade da embarcação 3ue circula dá o tom e o sentido de uma perspecti'a trágica

    acerca da loucura segundo a 3ual não (á !undamento possí'el.

    Com e!eito entre a !orça 3ue !a% os (omens buscarem !Hlego numa super!ície de

    sentido e o na'egar da embarcação 3ue pode ou não encontrar um solo está'el e seguro

     para seus tripulantes a perspecti'a trágica se assenta sobre uma indecidibilidade

    elementar. 8ois não (á como apartar total e e!eti'amente a loucura do (umano. ,e um

    lado a loucura entendida a partir da err*ncia de uma busca sem garantias (abita o

    coração dos (omens de outro o navegar 3ue tra% a esperança de uma superf"cie de

    sentido  e de um solo tran3uilo tra% tamb;m a ameaça da queda  no absurdo do

    enlou3uecimento.

    8erante este cenário ; toda a %umanidade 3ue parece coabitar a nau dos loucos. A

    título de prmio ou condenação toda (umanidade se encamin(a para a nau eposta em

    seus 'ícios e pecados pois a loucura aparece tamb;m como espel(o =VKA5 2010@. 5al

    como espel%o5 a loucura re'ela não somente a !alta de algo * a ausência da pessoa ali

    re!letida * como igualmente produz uma imagem onde algo no'o pode se re'elar * 

    uma outra perspectiva sobre n+s mesmos sobre o (umano 3ue se ' ali re!letido.

    & Aludindo F gra'ura 3ue acompan(a a portada do li'ro o teto Vrant =2010 p. 22@ ;

    categ+rico# Ec(amo-o de

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    Kicardo 8iglia =201) p. 1&@ se 'ale da eperincia do espel%ismo  para

    descre'er a literatura argentina de!inindo-a como articulação entre dois mundos duas

    realidades e duas linguagens. Com o espel%ismo se 'islumbra no vazio do deserto

    a3uilo 3ue não se pode 'er com o ol(ar cotidiano !ora do espel(o. Assim as condiç7es

    de criação são tradu%idas a partir deste espaço de indiscernibilidade como luta entre

    civilização e barbárie * no caso atuali%ada como comunidade e loucura.

     ão obstante a !ace positi'a do !ato do indi'íduo poder mesmo 3ue

     potencialmente 'er-se a si mesmo como louco na nau consiste no !ato de ocupar um

    umbral entre dois mundos. 8ois a eperincia medie'al ; caracteri%ada não apenas

     pela ideia da coeistncia de dois mundo como pela de 3ue a da vida terrena é uma

    limitação  da 'ida celestial  F 3ual o louco pode ter acesso e colocar em marc(a a

     produção de sentido.

    Logo Vrant =2010 p. 22@ enaltece o caráter uni'ersal dessa mirada no espel(o 3ue ; a

    nau dos loucos#

    3uem recon(ecer a si mesmo como tolo logo será colocado ao lado dossábios mas 3uem insistir na pr+pria sapincia não passa de um !átuo umcompatriota dos n;scios 3ue !ará bem em tomar como compan(eiro esteli'rin(o. ele não !altam insensatos# todos encontram a3ui a carapuça 3uel(es ser'e[ tamb;m descobrem para o 3ue nasceram e por3ue são tãonumerosos os palermas 3uantas (onras e !elicidades são recebidas pela

    sabedoria e 3uão lamentá'el ; a condição dos tolos. A3ui se ' como anda omundo.

    O louco se torna o espel(o do (omem re!lete o tempo !ora dos gon%os a

    eperimentação despo$ada do tempo 3ue coloca o %omem em questão ao a!irmar sua

    precariedade e abre por outro lado outras possibilidades de busca de sentido para a

    eistncia. A imagem re!letida do (omem no louco ; da busca. 8ois a ausncia de uma

    nature%a essencial des'elada pela imagem da loucura re!letida no (omem propicia a

    desnaturalização do ser do (omem. Aludindo ao caráter ilus+rio do 3ue se toma como

    !undamento da eperincia medie'al a desnaturali%ação presente no teto de Vrant ouna iconogra!ia de Vosc( ad3uire o signi!icado não de perda mas de liberação. I deste

     porto de ancoragem trágico comum 3ue parte a incessante e interminá'el a'entura

    (umana na 3ual alguns (omens se perdem e outros em se perdendo são !adados a

    nunca se encontrar e (abitar o terreno insondá'el do desatino.

    EI possí'el 3ue essas naus de loucos 3ue assombraram a imaginação de toda a

     primeira parte da Kenascença ten(am sido nau peregrinação na'ios altamente

    simb+licos de insanos em busca da ra%ãoG =>O?C?AL5 1 p. 1&-1)@. 8ois aviagem ; uma !orma de se situar no mundo e a analogia da eperincia (umana com a

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    loucura 3ue reali%a Vrant ; uma radicali%ação desta de deriva desta

    desterritorialização . /ob certo aspecto o desatinado na'egante da nau pode 'ir a

    materiali%ar a e!icácia 3ue condu% e encamin(a F ra%ão. /e o (omem se perde de sua

    'erdade na 'iagem correndo o risco de !icar eilado ele encontra na nau a

     possibilidade de encontrar seu pr+prio camin(o sendo ele mesmo.

    oucault =2006@ retoma a água como meio para os

     procedimentos de ascensão F 'erdade puri!icação e reno'ação mesmo numa ;poca mais tardia.

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    como uma interioridade do fora 3ue encontra na embarcação um regime ade3uado não

    tanto a um !ec(amento =3ue não parece ser a 3uestão ainda ao momento@ 3uanto a uma

    separação F eclusão e ao abandono Fs correntes 3ue le'am estas pessoas Fs torrentes

    do acaso.

    ndeterminação epressa na aproimação do tema da morte com o desatino no

    Kenascimento 3ue sinali%a uma torção em torno da in3uietude 3ue ronda

    continuamente a eistncia (umana. este conteto o pr+prio 'ínculo da loucura com a

    lepra se dá em torno da in3uietante proximidade com a morte. 8ois o desatino aparece

    como !orma da loucura 3ue se encontra em relação profunda em relação de

    profundidade com as forças do mundo no perigo em 3ue carregam a dissolvência e a

    ru"na. 5al proimidade ; 'ariadamente sinali%ada na iconogra!ia de ieronSmus Vosc(.

     o 3uadro 3ue retrata /anto AntHnio sobre uma ár'ore a nature%a secreta do (omem ;

    epressa em !iguras de animais impossí'eis e igualmente nos demHnios 3ue o assolam

    3ue parecem !a%er parte de seus tra$es.

    Assim as interpenetraç7es das !iguras da morte, do leproso, do profeta e do

    alquimista %eréticos, do bufão e do desatinado  E!a%em da loucura  como 3ue a

    mani!estação no (omem de um elemento obscuro e aquático, sombria desordem, caos

    movediço germe e morte de todas as coisas 3ue se op7e F estabilidade luminosa e

    adulta do espíritoG =>O?CA?L5 1 p. 1@. A associação da loucura com a parte

    obscura da eistncia determina a emergncia do desatino medie'al e Kenascentista

    colateralmente em proimidade com a morte, com a ru"na e o desabamento. 8ois em

    seu elemento a3uático a loucura não pode ser contida embora tampouco possa ser 

    suprimida e a consistncia indeterminada seu 'olume ; a epressão dos limites da

    existência por um lado e dos limites da razão por outro =>O?C?AL5 1@.

    A consistncia indeterminada da loucura ; possi'elmente o 3ue !a% Vrant a colocar no

    espaço desterritoriali%ado e m+'el da na'egação. 8or;m al;m da 3uestão damobilidade pr+pria ao tr4nsito de mundos entre cada embar3ue e desembar3ue (á

    ainda a direção o rumo =incerto@ 3ue a nau toma. /e de início Vrant brada rumo F

    nsensatol4ndia logo a nau se perde em deriva. ão apontando uma direção 9nica ela

    está numa encru%il(ada 3ue condi% não somente aos desatinados mas F toda

    (umanidade.

     o umbral entre a ausência de fundamento  e a busca por um solo e uma

    superf"cie de sentido a (umanidade se recon(ece ou se ' re!letida nos gra'ados ounos 'ersos 3ue descre'em a nau da loucura e seus desatinados. Condu%indo a certe%a do

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    (umano ao absurdo da loucura ou tra%endo o inabitá'el do louco para a intimidade do

    (omem Vrant 'isita toda classe de (omens e dos mais escandalosos F3ueles 3ue se

    creem ou são colocados acima de 3ual3uer suspeita todos se mostram pecadores e

    viciosos.  Logo ao colocar toda a (umanidade em comun%ão com a nau dos loucos

    Vrant !a% outra coisa 3ue eilar a loucura afirma o destino do pr&prio %omem 3ue

    em sua viagem interminá'el 3ue busca seu destino descon%ecido e imenso.

    ?nindo o são e o louco pelo destino indeterminá'el e errante da eistncia

    >oucault =1@ ' na nau um re!leo da inquietude (umana e F tiracolo o louco não

     passa de uma ameaça ridícula. 8or;m se o louco ; tido como uma ameaça !rí'ola ao

    tentar epulsar a loucura do solo comum o (omem sobe F embarcação tornando-se

    assim não menos louco 3ue os demais tripulantes 3ue outrora tentara epulsar do 4mbito

    cotidiano.

    Ao embarcar o (omem é colocado em deriva  e em decorrncia disto

    desterritorializa seu solo de pertencimento se aproimando ineorá'el e

     perigosamente da loucura. Ao enunciar a falta de fundamento ; pr+prio o solo do

    (omem 3ue se dissol'e sobre seus p;s não restando a ele outro destino 3ue a subir F

    nau dos loucos. 8erspecti'a a ser desen'ol'ida a seguir ao de!inirmos o trágico a partir 

    da ausncia de !undamento.

    1.2 - O trágico e a ausência de fundamento

    . ser humano é tão apai*onado pelo sistema e pela

    onlusão abstrata, que é apaz de fazer2se de ego

    e surdo somente para 3ustifiar sua l#gia.

    ,ostoie's^i * otas do subsolo

    oucault =1@ com a dimensão alteritária epressa

     por Vlanc(ot =2011b@ como condição da escrita literária.

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    nau da loucura uma 'e% 3ue a dimensão não)%umana epressa a tensão entre 'ida e

    morte entre criação e destruição na 3ual o su$eito se desen(a como embate de forças

    3ue combatem entre si pela dominação =

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    aproimação com as !orças 3ue alçamos ao outro de n+s mesmos ao outro de nosso

    tempo de nossa cultura e de nosso mundo 3ue (abita nossa intimidade mais (umana.

    A realidade deste $ogo de !orças assume um aspecto indecid"vel e não obstante

    a !orma con!usa =ambígua polissmica@ e obscura do sagrado a 3ue aludimos acima.

    aneira pela 3ual con'i'em na ;poca medie'al e renascentista a al3uimia a cincia e a

    arte nos laborat+rios e atelis $untamente aos pro!etas cristãos. ela o desatino circula e

    na'ega pelas águas 3ue separam a loucura * como signo da di!erença radical * e ao

    mesmo tempo engol!am o solo (umano comum na promessa um renascimento * na

     busca interminá'el do espírito (umano. O simbolismo da circulação da nau dos loucos

    ; po'oado desta ambiguidade embarcar, partir e buscar na deriva a ra%ão perdida

    são os 'alores implícitos nesta prática.

    A a!irmação 3ue o su$eito moderno s+ se constitui a partir da  profundidade da 3ue se

    desdobra sobre e a partir das !orças de !initude ; o to3ue de pedra do pensamento de

    >oucault =2000@ em  As palavras e as oisas. Ao tentar atribuir F !initude !ormas

    concretas eplorando sistematicamente Kicardo Cur'ier e Vopp esta obra busca as

     bases de !undamento do 3ue 'em a se tornar o su$eito moderno. 5al ancoramento

    !undamental 'em a combater a !lutuação de sentido na 3ual o (omem desli%a na

    super!ície de sentido ao sabor das !orças da eistncia. O contorno ontol+gico em meioF !lutuação nas super!ícies e ao desdobramento ao in!inito pr+prios F era clássica ; a

    limitação l+gica. Ná com a introdução da pro!undidade atra';s das !initudes o limite ;

    dado por oposição real como aponta o comentário de ,eleu%e =201&@ sobre a obra

    !oucaultiana. ,aí o su$eito moderno e autHnomo =c!. >O?CA?L5 1) 2000@ ser 

     postulado em oposição ao louco. igualmente a (ist+ria opera as oposiç7es 3ue

    condicionam a !ormação de um corpo antropol+gico para o (omem moderno pois Es+

    (á (ist+ria =trabal(o produção acumulação e crescimento dos custos reais@ na medidaem 3ue o (omem como ser natural ; !inito# !initude 3ue se prolonga muito al;m dos

    limites primiti'os da esp;cie e das necessidades imediatas do corpo mas 3ue não cessa

    de acompan(ar ao menos em surdina todo o desen'ol'imento das ci'ili%aç7es. Buanto

    mais o (omem se instala no cerne do mundo 3uanto mais a'ança na posse da nature%a

    tanto mais !ortemente tamb;m ; acossado pela !initude tanto mais se aproima de sua

     pr+pria morteG =>O?CA?L5 2000 p.")6@. a na'egação sem !im sem termo ; limitada

     portanto pela l+gica e pelas oposiç7es reais na era clássica e na moderna

    respecti'amente.

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    8recisamente a ausncia de !undamento 3ue le'a ao sentimento de absurdo F

    eperimentação da falta de sentido  nos limites do ser 3ue epressa a contingncia

     pr+pria ao trágico. /egundo Cl;ment Kosset =1& p. "1)@ Eo trágico da eistncia

    consiste em prescindir de toda re!erncia ontol+gica * Ynão temos nen(uma

    comunicação com o serZ di% ontaigne * mas seu pri'il;gio por;m ; paradoalmente

    YserZG. O absurdo ; caracteri%ado por uma exclusão aberta pela ausência de

    finalidade ao destino (umano 3ue ; sem compreender seu destino e as condiç7es de

    sua 'iagem ontol+gica. A tese de Kosset ; 3ue a nature%a (umana ; despro'ida de

    !inalidade não caracteri%ando portanto nada distinto de uma antinatureza.

    A ausncia de mastro ao destino (umano caracteri%a a mirada trágica 3ue os

    loucos eperimentam na baia dade ;dia eperimentando a exclusão aberta

    eatamente a mesma a 3ue o gnio de Vrant relega aos (omens.

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    ten(a em mãos sua pr+pria existência e os limites desta. 8or;m no mito esta mesma

    sabedoria se 'olta contra a nature%a e no !undo contra ele mesmo.

     a perspecti'a epressa por iet%sc(e =12@ em . nasimento da tragédia o

    dionis"aco ; a energia devoradora e engendradora a criação e a potencialização da

    vida  3ue despedaça a !iguração apolínea indi'iduali%ada numa !orma (istoricamente

     pontuada crHnica una e total. O aspecto trágico da sabedoria dionisíaca consiste

     precisamente no !ato de 3ue este saber abre !endas =esquizas@ no !undamento da

    eistncia apontando seus limites e interpelando as leis a unidade e a sistemática

    totali%ante da nature%a.

     a suspensão da nature%a e da unidade total e pr+pria ao su$eito a cl"nica não

    deia de ser uma atividade construtivista  3ue em parte presume um

    desconstrutivismo uma potenciali%ação da dimensão disrupti'a das !orças 3ue

    con$ugam o su$eito. 8ois a desintegração do mundo dos ob$etos e da temporalidade

    ob$etal complica 3ual3uer pretensão F ob$eti'idade. A impiedade da desconstrução do

    abalo sísmico 3ue os atra'essamentos das !orças dionisíacas desencadeia o crep9sculo

    dos deuses =en3uanto ordem eplicati'a da nature%a no mundo antigo@ e do eu.

    8or3ue se aproima perigosamente dos limites da eistncia a 'iagem trágica

    tem o poder de romper com a !igura sedimentada do su$eito. Assim as !endas abertas

     por tal abalo por tal deslocamento propiciam a ascensão de um outro tempo e um no'o

    su$eito no de'ir de trans!ormação das !ormas. Ati'idade F 3ual o !il+so!o alemão alude

    com imagem do !ogo prometeico não como dádi'a celestial mas como raio incendiário

    3ue 3ueima todo o !undamento sob a lu% do sol. Com e!eito o domínio do !ogo ; um

    ar3u;tipo do saber trágico-dionisíaco# sacril;gio ao 3ual o (umano ; condenado a

     padecer da !9ria di'ina F medida em 3ue des'ia a nature%a das coisas do mundo

    etrapolando os limites da !orma e da !iguração propriamente apolíneas.

    8or um lado a desconstrução ; essencial para !a%er sobressair o m-ltiplo

    substantivo uma 'e% 3ue toda subjetivação sob 3ual3uer inst4ncia total ou unitária

    não ; mais 3ue efeito da multiplicidade de forças 3ue atra'essa e constitui a eistncia

    =,

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    8or outro o construtivismo  acompan(a o caos da desconstrução  na

    sustentação de um paradoo 3ue s+ pode eistir no plano das multiplicidades as 3uais

    gan(am consistncia sob o ass;dio do !ogo prometeico 3ue 'apori%a e des!a% as

    unidades e as totalidades. 8ois o construtivismo desenlaça sobretudo um plano em 3ue

    a eistncia segue por uma rota autHnoma. ?ne o relati'o ao absoluto como nas

    imagens trágicas Fs 3uais nos re!erimos acima 3ue tra%em o místico $unto ao

    destemperado o constituti'o insepará'el da loucura.

    ` título de retomada no re!leo do espel%o da loucura a eperincia (umana ;

    desnaturalizada !rente F ausncia de !undamento e realocada como antinature%a.

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    com o EpiorG da l+gica trágica# o primeiro designa um dado de !ato osegundo a impossibilidade prévia de todo dado  =en3uanto nature%aconstituída@. Ou ainda# o pior pessimista designa uma l+gica do mundo o

     pior trágico uma l&gica do pensamento =descobrindo-se incapa% de pensar um mundo@.

    A l+gica de mundo ; o !undamento da3uilo 3ue iet%sc(e =RC:: p. 16"@ c(ama

    nZ A 1aia 4i!nia  de Epessimismo dionisíacoG. O 3ual toma a 3ueda com paião e

    con!unde a idiossincrasia de sua dor com uma pretensa lei uni'ersal ao passo 3ue !a%

    da3uela =da 3ueda@ o !undamento e o destino do mundo e da eistncia. 8ois iet%sc(e

    =200@ $á sinali%ara 3ue mesmo os gregos se inteiram do pessimismo para supera-lo.

    8assando ao largo do !atalismo da 3ueda a !+rmula niet%sc(iana do trágico se

    assenta na noção de abund*ncia. 8ois o 'i'o * como asse'era iet%sc(e =2006 p. ::@

    num !ragmento p+stumo * 3uer mais do 3ue l(e ; permitido Ede maneira insensata ele

    absorve mais do que exigiria  sua conser'ação e com isso sobretudo ele não Yse

    conser'aZ mas se decomp7emG. A auto-conser'ação implica tomar o su$eito de !orma ao

    mesmo tempo unitária e totali%ante. 8osição impossí'el F sua pr+pria constituição na

    din4mica das !orças 3ue se mo'em no espaço !luido em 3ue todo !undamento ;

    suspenso e no 3ual (abita um excesso de vida 3ue nem todo interesse nem toda auto-

    conser'ação consegue preenc(er.

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    'ida !rente ao pathos das !orças 3ue combatem entre si para impor a decisão das 'ias e

    camin(os. Antes a vida ; a mani!estação de potências absurdas e sem objetivo e em

    sua liberdade essencial não se deia resol'er. 8ortanto mais 3ue necessidade e auto-

    conser'ação trata-se de di%er Sim mesmo ao so!rimento a!irmando supremamente o

    fluir e o destruir da vida   e ao mesmo tempo o intempestivo o estran%o  e o

    questionável da eistncia.

    Logo nosso !oco consiste na constatação de 3ue mediante a indecidibilidade a

    ausncia de !undamento e a impossibilidade de determinação positi'a ou negati'a da

    dimensão !actual da 'ida o trágico se a!irma pela reiteração de uma aposta nos termos

    de Vlanc(ot =200@. Aposta 3ue se tradu% em termos de um construti'ismo 3ue ao in';s

    de lutar contra o caos a ele se agencia em torno de algo 3ue podemos recon(ecer como

    criação estética, mas 3ue ; tamb;m criação de possí'eis para a eistncia diante da

     pro!usão de forças transbordantes da vida, forças que excedem o especificamente

    %umano, que o limita e o situa+

    O trágico  se de!ine então pela conjugação das forças indomáveis e com as de

    agregação, coordenação e direcionamento numa atitude de respeito integral Fs forças

    vivas universo m-ltiplo e polivalente  =oucault =161U1a p. 1)0@ 3uando

    este pondera 3ue a loucura Es+ eiste em uma sociedade ela não eiste !ora das !ormas

    de repulsa 3ue a ecluem ou a capturamG pois assim a loucura passa de fato estético

     presente no cotidiano para o silêncio do internamento  a partir do s;culo JM.

    8odemos a'eriguar desta maneira 3ue a circulação e a produção da loucura passa a

    ser enclausurada sob os pontos de 'ista institucional, ontol&gico e produtivo. >oucault=1@ narra proli!icamente tal 'irada no mo'imento em 3ue a loucura passa a ser 

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    ecluída da ordem social recluída no interior de um indi'íduo para por !im de!inir 

    sua essncia como ausência de obra. Como a3uilo não 3ue encontra legitimidade em

    (ip+tese alguma e 3ue não pode (abitar o solo de nossa cultura sem estremec-la em

    sues pressupostos basais e 3ue em decorrncia disto de'e ser desbaratada para longe de

    toda comunidade.

    A pr+ima seção do teto aborda esta passagem !ocando-se nos pontos de

    ancoramento do aprisionamento dos elementos contranaturais disruptivos,

    questionadores, transgressivos e produtivos da loucura. /ão $ustamente estes os

    elementos ;ticos políticos e est;ticos 3ue buscamos na eperincia trágica da loucura

    não uma apolog;tica ou uma nostalgia mas a possiblidade de construirmos um outro

     paradigma para a clínica em sa9de mental para a clínica da loucura.

    1.3 - Apreenso da loucura! o fundamento do "ardim da ra#o

    8odemos re!a%er rapidamente a trans!ormação narrada por >oucault =1@ ao

    assinalar 3ue com a instalação dos ospitais gerais e seus análogos na

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    !ormas cosmo-transcendentais aludidas acima e 3ue a partir da era clássica passa a ser 

    ordenada como eperincia crítica da loucura10.

    /ob a perspecti'a crítica clássica a desra%ão ; ainda uma experiência

    qualitativa+ sto signi!ica 3ue ali a loucura aparece como mal  e a nature%a deste mal ;

    determinada por seus limites e gradaç7es. ndependentemente do 3uão gra'e se$a a

    loucura sua !ace terrí'el ; o 3ue de'e ser enclausurado a !im de purificar o ra%oá'el

    terreno de nossa cultura.

    Com e!eito seu aspecto mais singular ; a err4ncia. O louco erra pelas

    trajet&rias da existência  e sua desra%ão aparece como encarnação do mal numa

    cultura onde o destino correto ; designado na ordem di'ina. ` medida em 3ue

    compromete esta ordem do mundo ; 3ue a massa (eteromor!a de desarra%oados

    des'iantes ; relegada F exclusão. 8or;m de alguma maneira se a loucura ; valorada

    negativamente na era clássica ela porta ainda as c(a'es do sentido de sua existência * 

    mesmo 3ue se$a sob a !orma do mal . 5oda a verdade da loucura como mal ; uma

    'erdade de tipo teleol+gico# ; instaurada com !ins a ocasionar e $usti!icar sua eclusão

    do solo da eperincia clássica.

    Com o paulatino desaparecimento recalcamento da eperincia trágica da

    loucura desde o Kenascimento a loucura passa a ser apreendida na simultaneidade no

    conflito interno e na unidade complexa e instável de uma tradição cr"tica  no cerne

    da 3ual >oucault =1@ identi!ica uma conscincia crítica uma conscincia prática

    uma conscincia enunciati'a e uma conscincia analítica. A condição para o

    ordenamento destas 3uatro conscincias ; precisamente a emergncia da loucura e da

    razão clássicas  num espaço ético de decisão e vontade espaço distinto do uni'erso

    10 8ercebemos assim 3ue a loucura clássica não se re!ere ao espírito * como o !ora at;

    o Kenascimento * mas F dobradiça F pertença recíproca entre alma e corpo de!inidaentre as perturbaç7es da imaginação e as pai7es do corpo. ,obradiça locali%ada na

    noção de causalidade na in'estigação das causas da loucura a serem locali%adas na

     busca da essncia do delírio e no estudo das pai7es.

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    trágico de arrebatamento tr4nsito e circulação entre o desatino e a eperincia cotidiana

    comum. Conteto no 3ual não (á mais 'iagem simb+lica não (á circulação e deri'a

     pois o desarra%oado ; diretamente endereçado ao solo da instituição de clausura no

    caso o ospital Reral.

     o período 3ue >oucault =1@ considera a era clássica * s;culos JM e JM

     * todo um mundo orreional  ; organi%ado em torno do internamento não mais apenas

    em torno do papel negativo de exclusão  do di!erente mas no sentido positivo de

    organização das práticas acerca da desra%ão. o asilo personagens e valores são

    aproximados e unificados num processo contínuo de pareamento e associação de tudo

    o 3ue está !ora da cultura F desra%ão ao continente s+lido 3ue se !orma ao redor da

    loucura.

    ,e desatinados at; o s;culo JM a desarra%oados a partir do JM uma s;rie de

    trans!ormaç7es nos c(amam a atenção. A loucura passa a ser tomada na era clássica

    como fato natural. 5rata-se da inauguração de um ol(ar cr"tico e se'ero 3ue a coloca

    como retrato da3uilo 3ue não constitui su$eito 'erdade ou obra. A consciência cr"tica

    marca este posicionamento negati'o 3ue descon!ia da loucura encontrando uma !orma

    de epressão do mal, do erro e da doença  do mundo na !igura particular do

    desarra%oado.

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    emergente. ,este modo ; 3ue mesmo sob uma taati'a separação a loucura contamina

    e se espraia sobre o solo da ra%ão podendo esta derrapar nas margens escorregadias da

    desra%ão e se encontrar na atordoante proimidade da3ueles desarra%oados aos 3uais se

    considerara tão distinta.

    A conscincia crítica determina uma massa con!usa e (eterognea de

    desarra%oados * pobres mendigos +r!ãos incurá'eis 'el(os loucos e in'álidos * 3ue

    encontra seu lugar no asilo no momento !undamental 3ue a >oucault =1@ alude como

    o  grande internamento. omento 3ue e'idencia a organi%ação de uma di!erenciação

     perante a inquietação dialética entre loucura e ra%ão * como assegurar 3ue se está

    louco ou não: * e a repetição ritual de uma separação  entre ambas. ,ial;tica

    resol'ida nos termos de uma escol(a con!inada F %omogeneidade do interior da não)

    loucura. /omente o não-louco pode escol(er 3uem está no interior da ra%ão e 3uem

    toma partido pelo lado da desra%ão.

    A organi%ação desta Econsciência prática  3ue separa, condena e faz

    desaparecer  o louco está necessariamente misturada com uma certa concepção

    pol"tica jur"dica e econ'mica do indi'íduo na sociedadeG =1 p. 1"@. sto signi!ica

    3ue a partir da era clássica a loucura ; tornada um desdobramento de uma sensibilidade

    social e política e conse3uentemente uma eperincia ético)normativa do su$eito como

    sujeito social. sto por3ue de acordo com Vadiou =200&@ at; a modernidade a ética ;

    3uase sinHnimo de moralidade F medida tem como centro de reflexão no indiv"duo * 

     posição presente desde ,escartes at; ]ant =com o reino da ra%ão prática@ e egel.

    Atuando como princípio de  julgamento  das práticas de um su$eito indi'idual ou

    coleti'o a ética  relaciona a ação subjetiva  com o con$unto de suas intenç7es

    representá'eis F uma lei universal. este sentido ; 3ue a loucura passa a ser situada

    =negativamente@ perante a norma social.

    /xcluindo  o louco do con'í'io social e re'elando a dimensão social e

    normativa da apreensão da loucura esta não-escol(a sinali%a a !alta de liberdade e o

    silenciamento o não-diálogo entre ra%ão e desra%ão 3ue começa a tomar cabo na era

    clássica. a serenidade de se saber possuidora da 'erdade e na in3uietude do

    recon(ecimento do poder perturbador da desra%ão 3ue se espreita a luta entre ra%ão e

    desra%ão * en3uanto atuali%ação da luta entre o bem e o mal * não ; mais 3ue a

    conjuração de uma separação imemorial. :eparação pol"tica naturali%ada separação

    tida como original.

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    ,e um lado opera-se esteticamente a den9ncia de um desvio+ ,e outro uma

    separação ;tica de decisão política entre loucura e não-loucura determina a ra%ão como

    lei natural como estado original a 3ue se de'e restituir. O?CA?L5 1@. A articulação da

    natureza com a razão  re'ela a sabedoria divina 3ue organi%a o campo das 'árias

     patologias assim como o !a% com o campo das esp;cies animais e bot4nicas.

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    alguma esta conscincia não tange aos 'alores aos riscos e perigos da loucura. 5rata-se

    de uma enunciação l"rica  3ue parte antes da tran3uilidade de $á ter dominado a

    loucura. Assenta-se na certe%a de 3ue ela mesma não ; loucura para caucionar uma

    constatação percepti'a a ní'el do ser.

    Ná a consciência anal"tica interpela a loucura partindo não da !igura material do

    louco mas da noção de doença em geral =enumeração dos sintomas para buscar sua

    essncia@.

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    lado desta !unção de sujeito de con%ecimento a ra%ão aparece como norma 3ue al;m

    de especi!icar a loucura determina $unto F regra social =de decisão sobre o

    internamento ou não na era clássica@ a !igura material do louco =>O?CA?L5 1

    2006@.

    A consciência prática  opera discriminati'amente num ní'el social ela

    normali%a e não coincide com a anal"tica 3ue opera dedu%indo a loucura do 3uadro

    geral das doenças. A conjunção entre ambas ; dada pela terapêutica na re'ira'olta 3ue

    se dá no sistema a partir do encontro do m;dico com o paciente[ encontro c(a'e para a

    medicina moderna no s;culo JJ como salientado em . /asimento da 4l$nia

    =>O?CA?L5 2011b@.

    ,estarte no momento em 3ue a medicina da loucura alcança o %omem

    concreto ela c(ega a uma dupla problemática# uma ordem causal e outra de ordem

    moral. A problemática causal se desdobra de maneira distinta do 3ue !ora at; então.

    /em a pretensão de cobrir o espaço patol+gico em sua totalidade em esp;cies e !amílias

    no s;culo JM a medicina moderna admite um "ndice de descon%ecimento relati'o

    ao con(ecimento da loucura. Bual ; este ní'el de indeterminação causal:

     ão obstante a impossibilidade de determinação da 'erdade da loucura assim

    como da identi!icação dos sintomas 3ue a de!inem a causa material  acaba se

    interpondo como causa maior. A loucura não ; mais um erro ou um pecado uma fal%a

    moral. Antes ela se de!ine por sua falta.

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    clássica. Con!orme a no'a !igura de louco surge no (ori%onte e se indi'iduali%a

    di!erenciando-se e destacando-se das demais o neo entre loucura e internamento

    agora ligado F noção de teraputica !ica cada 'e% mais !orte.

    oucault =1@

    demonstra 3ue tudo a3uilo 3ue caracteri%ara a loucura clássica do s;culo JM passa

     paulatinamente ao ocaso.

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     a era clássica a ideia de nature%a ; con'ocada com !ins F distinguir a nature%a

    3ualitati'amente oposta da cultura do bem 3ue alicerça a cultura ocidental arra%oada do

    mal encarnado na !igura multi!acetada do desarra%oado dela epelido. Ao passo 3ue na

    modernidade a continuidade entre o (umano e a loucura a solda suas raí%es ao campo

    da doença  para en!im propor seu subjugo  na !orma de reversibilidade. A ra%ão

    moderna cont;m e compreende a loucura em seu cerne redu%indo-a a uma

    parcialidade classificável e manipulável en3uanto ob$eto de re!leão 3ue reside em

    seu pr+prio interior.

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     este sentido Enão (á 'erdade para a psicologia 3ue não se$a ao mesmo tempo

    alienação para o (omem. O desaparecimento da liberdade de conse3uncia 3ue era

    torna-se !undamento segredo essncia da loucuraG =>O?CA?L5 1 p. &@. ,e um

    lado a desra%ão como mal  de'e ser enclausurada no asilo clássico no ospital Reral.

    ,e outro por;m o louco moderno propriamente caracteri%ado pela perda da sua

    liberdade. /ua loucura pro';m do !ato de estar alienado a !orças 3ue muito embora

    internas a ele mesmo dominam suas aç7es e pensamentos desencadeiam um  pathos

     patol+gico * pai7es e imaginação desregradas * e embaçam as condiç7es constituti'as

    e cogniti'as ade3uadas F boa formação.

     a era clássica a loucura antecede a perda da liberdade com o internamento da

    3ual ela ; pressuposto $á na alienação moderna ; a perda da liberdade que passa a

    caracterizar a loucura.

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    objetivação da loucura  com a necessidade de sujeição do louco  3ue aparece

    caucionada por uma modalidade de eperincia com as normas 3ue denominamos de

    normalização+ 7 sujeição e objetivação da loucura tem como !undamento a ideia

     pr+pria de %omem, perante a 3ual toda eperincia é submetida ao cri'o qualitativo da

    noção de su$eito moderno.

    1.' ( O círculo antropol)gico ou &omem como medida da

    loucura

    At; agora nos dedicamos a percorrer o tra$eto (ist+rico 3ue le'a de umaconcepção trágica da loucura como antinatureza essencial  at; a sua apreensão

    moderna como desvio a ser julgado =relati'amente a par4metros 3ue l(e são mais 3ue

    impenetrá'eis intangí'eis@ e normalizado num certo entorno 3ue articula o indiv"duo

    a seus pares de maneira assim;trica e coerciti'a. 5raçado 3ue le'a de uma eperincia

    3ualitati'a singularmente indomá'el e irredutí'el F outra re!erenciada a normas e

    par*metros racionalizados 3ue tm como pedra angular a noção de sujeito. Atra';s

    dela ; !undada todo um sistema antropol&gico 3ue ao !im e ao cabo engendram a

    doença mental  como fato natural  na continuidade  com a natureza %umana tida

    normal e racional.

    A'ançamos at; o ponto em 3ue se interp7e a 3uestão da terapêutica como !oco

    operador normativo  e articulador dos conceitos modernos  de loucura  e de

    psiquiatria. Assim sendo a primeira en3uanto doença mental é naturalizada  na

    es!era do %umano+ ?ma 'e% introdu%ida no 4mbito da nature%a (umana como falta,

    como  desvio da norma 3ue se tradu% e ocasiona um  erro de !ormação * não mais

    err4ncia eistencial * a ser re'ertido pela segunda cu$o papel eminentemente curati'o

    se assenta na moral+

    A condição para tal apreensão terapêutica e moral da loucura  ; como

    eploramos na seção anterior a eistncia de uma eperincia com as normas 3ue ;

    cultural e consiste na inserção de no crculo antropol!gico. O in'estimento do poder 

    sobre os corpos os re!ere a uma nature%a eplicitada moral e (ierar3uicamente na

    vontade na racionalidade e na responsabilidade. sto 3uer di%er 3ue con$ugado como

    e!eito do processo de individuação normalizada o %omem moderno  surge como

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    es3uema representati'o 3ue assegurara a linguagem e a ordem do mundo clássico1) a

    antropologia  ; de!inida entre a anal"tica da finitude  e din4mica das ciências

    %umanas.

    ,es'encil(ando-se do modelo clássico meta!ísico do in!inito desdobrado nas

    !ormas de representação ; 3ue se passa a pensar o finito a partir das finitudes. sto

    signi!ica 3ue a reali%ação da figura antropol&gica do %omem  s+ ; possí'el como

    conse3uncia o regime de finitização imposto pela !initude da 'ida do trabal(o e da

    linguagem 3ue surgem na aurora da modernidade no !inal do s;culo JM. ,este

    modo cabe F anal"tica da finitude designar e articular a !initude das empiricidades da

    vida, do trabal%o e da linguagem F finitude concreta do corpo, do desejo e da fala .

    A segunda ordem de !initude concretamente eperimentada pelos indi'íduos dá a

    realidade da primeira tal como se articulam com a noção moderna de %omem.

    ?ma 'e% 3ue a soberania do ogito cartesiano não assegura mais as sínteses

    empíricas elas de'em passar pela !initude da conscincia do (omem 3ue 'i'e trabal(a

    e !ala pois 'ida trabal(o e linguagem são anteriores e determinam o (omem. ão

    sendo mais limitada pelo in!inito do mundo di'ino a finitude %umana se apresenta sob

    a roupa do indefinido ao mesmo tempo em 3ue ; decalcada da finitização da3uelas

    inst4ncias a ele superior.

    O 3ue (á de inde!inido na !initude do (omem ; cerceada pela sua experiência en3uanto

    su$eito. sto signi!ica 3ue a eistncia concreta indi'idual apenas acessa a vida atra';s

    de seu pr+prio corpo. Assim como o (omem acessa as determinações produtivas

    mediante seus desejos e a materialidade (ist+rica das línguas ao pronuncia-las na sua

    fala. A atitude proeminentemente moderna de pensar o finito em relação Fs finitudes

    experienciáveis e não em contraste com o in!inito meta!ísico re!ere os saberes  a um

    fundamento e uma positividade na pr+pria !initude./e o pensamento clássico busca a origem !undamental como origem da

    representação na modernidade a 'ida o trabal(o e a linguagem gan(am (istoricidade

     pr+pria. A %istoricidade pr&pria e aut'noma !a% brotar a necessidade de uma origem

    1) oucault =2000@ argumente 3ue a reintrodução da linguagem nas artes e

    na3uilo 3ue ele c(ama de contra-cincias (umanas * a psicanálise a etnologia e a

    linguística * indicam o atual inade3uação do conceito de (omem e seu !im eminente

    em nossa tese não nos parece con'eniente eplorar esta (ip+tese.

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    simultaneamente interna e estran%a 3ue propicia a busca da natureza e da verdade

    do (omem nas empiricidades da 'ida do trabal(o da linguagem de acordo com >oucault

    =2000@ e em contraste  dialético  com a loucura16. >istoricidade independente do

    %omem mesmo relati'a a uma 'ida li're e anterior F ele ao trabal(o (istoricamente

    institucionali%ado e F impossibilidade de alcançar a pala'ra primeira a partir da 3ual a

    linguagem se desenrola.

    ,esta !orma não (á mais origem pro!unda ao (omem moderno. /ua origem e

    !undamento está na !ina super!ície repleta de mediações 3ue liga seu ser F 'ida ao

    trabal(o e F (ist+ria * Fs empiricidades 3ue constituem as cincias empíricas e as ligam

    com as eatas e as (umanas. 8or um lado a origem das coisas escapa * ; maior ou

    anterior de toda maneira inacessí'el * ao ser do (omem. 8or outro o %omem é

    condição para a instauração do tempo na duração no !io 3ue liga toda uma cronologia a

     partir da 3ual se pode plantear a 3uestão da origem * das coisas do mudo e do pr+prio

    (omem.

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    institui os modos com os 3uais as !unç7es instalam =inconscientemente na maior parte

    das 'e%es@ suas pr+prias regras.

    8or !im entre a !unção e a norma entre a apreensão empírica reali%ada pelas

    cincias (umanas e a captura da !ormação e do !uncionamento do corpo indi'idual

    ob$eti'ado como organismo biol+gico se instala a sociedade de normali%ação com as

    tecnologias da disciplina e do biopoder. ,e !ato estas ob$eti'am a liberdade do louco

     para capturar a loucura na !orma de doença mental como desdobramento de uma

    apreensão normati'a particular. A 3ual consiste em r emeter a eperincia 3ualitati'a de

    um sentir e 'i'enciar pr+prios F eistncia concreta Fs estruturas psicodin*micas,

    f"sio)determin"sticas, comportamentais ou neurobiol&gicas dentre outras do vivente

     * do 'i'o tal 3ual tomado na inteligibilidade e apreensão pelos saberes.

    1.* ( +omar os corpos! disciplina e biopoder

     o cerne do ogito moderno 3ue toma o (omem como !undamento nature%a e

    origem !initos da eperincia se desen'ol'em as tecnologias da disciplina e do

     biopoder.

     este 4mbito a redução  da desra%ão clássica ao !undamento da doença mental

    identi!ica a loucura num processo de formação !ormatada dos corpos individuais  na

    sociedade de normalização 3ue al;m disso organi%a o corpo coletivo da população

    =>O?C?AL5 /58::@. 8or outro ao designar um rosto para o doente mental no lugar 

    do 3ue na era clássica !ora a !ace obscura da desra%ão cu$a 'erdade coincide com o mal

    o erro e o não-ser a normali%ação restringe o espaço simb+lico-social e os territ+rios

    eistenciais da loucura e aplaca as in3uietaç7es instituindo um cinturão de silncio ao

    seu redor =idem 1@.

    A supressão de uma 3ualidade pr+pria da loucura como deri'ação quantitativa e

    (ierar3uicamente negativa  da natureza original e primeira do %omem ; uma das

    operaç7es elementares operadas pela modernidade. sto signi!ica 3ue ao percorrer as

    condiç7es de codi!icação normati'a da loucura com as análises de ic(el >oucault

    =1 2006 /58::@ nos deparamos com o solo de !ormação de nossa pr+pria cultura

    ocidental disposta sobre as tecnologias da disciplina e da regulação.

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    Outro se$a o mal na !orma de patologia ou delin3uncia se$a a loucura como deri'ação

    da anormalidade e signo da periculosidade =c!. >O?CA?L5 1 2006 200@.

    A distinção e repartição entre normal e patol&gico central na biologia  =3ue

    in'este a 'ida sob um modo biol+gico-instrumental@ e na cl"nica =em geral m;dica ou

     psicol+gica@ não se resume F con!iguração natural do dado ou a uma 3uestão t;cnica.

    Antes di% sobre os espaços privilegiados com 3ue a racionalidade moderna con!igura

    silenciosamente o 3ue 'em a ser o campo da experiência poss"vel  e a pr+pria

    realidade. 8osto isso a !im de elucidar como se organi%a a eperincia moderna da

    loucura ; necessário situar como a norma se torna tão importante em nossa cultura.

    8artimos da constatação de 3ue na modernidade a loucura deia o terreno

    mo'ediço do não-ser 3ue (abitara na era clássica. ele o louco ecluído da

    comunidade e encerrado no ospital Reral circula restrita por;m ainda obscura e

    negati'amente no $ardim das esp;cies ao passo 3ue a partir do s;culo JM ele ;

    alocado na positividade ontol&gica dos saberes e operadores normativos 3ue

    con!iguram o poder propriamente moderno.

    A dobradiça saberesUpoderes atua sobre a unidade indi'idual do corpo dos

    cidadãos com a disciplina  e sobre o corpo coleti'o de uma população com a

    regulamentação para dar marc(a F sociedade moderna de normali%ação.

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    Caracteristicamente o poder moderno  se mo'e entre o direito p-blico da

    soberania e a mec*nica polimorfa da disciplina e dos operadores normativos. oucault

    =/58:: p. 2@ se di% especialmente interessado em Ecomo a partir e abaio nas

    margens e tal'e% at; mesmo na contramão de um sistema da lei se desenvolvem

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     para produzir realidades  cotidianas inscre'endo-as sobre um campo total de

    regulação.

    Logo não podemos deiar de destacar a a!irmação de Reorges Canguil(em

    =2002 p. 11@ de 3ue Ea regulação social tende portanto para a regulação org*nica e

    a imita mas nem por isso deia de ser composta mecanicamenteG. A regulação social

    se apropria