bpi análise mercados financeiros jan.2015

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Estudos Económicos e Financeiros Análise Mensal 14 de Janeiro de 2015 Mercados Financeiros Paula Gonçalves Carvalho Agostinho Leal Alves Luisa Teixeira Felino Pedro Miguel Mendes Teresa Gil Pinheiro Vânia Patrícia Duarte 2015: divergência e volatilidade Espera-se que o crescimento económico global se reforce em 2015, embora a divergência entre as principais economias mundiais deva aumentar e exista o risco de que possa novamente desapontar. Mais uma vez, as economias anglo-saxónicas deverão destacar-se – veja-se os sinais muito positivos que emanam do mercado de trabalho nos EUA, por exemplo – sendo maiores as dúvidas relativamente à performance quer da UEM quer do Japão. A região do euro, com um peso relevante no PIB mundial, deverá continuar a mostrar desempenhos modestos. Apesar das actuais condições propícias ao impulso da actividade na Europa - política monetária com pendor muito acomodatício, políticas orçamentais tendencialmente menos restritivas (ou mesmo expansionistas), depreciação da moeda, queda prolongada dos preços do petróleo – duvida-se do seu efeito sob a economia real num contexto político complexo, em que grassam os desafios a curto/médio prazo. Em contrapartida, nos EUA os balanços mais robustos do sector privado, o mercado de trabalho mais firme, lucros e cash-flows empresariais robustos, os sinais de aceleração do consumo e investimento, para além da queda dos preços do petróleo, suportam um cenário de aceleração do crescimento de regresso à fasquia dos 3%. Acresce referir que este será mais um ano difícil para as economias emergentes, a braços (ainda) com os reajustamentos na procura interna da China, a queda dos preços das principais commodities e a perspectiva de alteração do ciclo de taxas de juro nos EUA. O Euro quebrou a fasquia de 1.20 face ao dólar, reflexo da maior incerteza política que ensombra o cenário Europeu e das perspectivas económicas e de política monetária divergentes dos dois lados do Atlântico. Esta é uma situação que poderá perdurar durante o ano, podendo o EUR/ USD aproximar-se da fasquia de 1.15. A intensidade do movimento estará também dependente da concretização de um programa audaz de compra de dívida soberana pelo BCE, nos primeiros meses do ano. A liquidez continuará a ser abundante em 2015 e os bancos centrais manter-se-ão actores principais no cenário económico-financeiro global. O ano será marcado pela possibilidade de inversão do ciclo de taxas de juro pela Reserva Federal o que, a materializar-se, seria o primeiro sinal concreto de que as consequências mais nefastas da crise financeira de 2007/08 teriam sido ultrapassadas. Apesar da recente queda das expectativas inflacionistas motivadas pelo andamento dos preços do petróleo, tudo aponta que a Fed tentará, pelo menos, iniciar o processo de normalização da política monetária. Caso as circunstâncias globais o permitam, o ritmo de normalização poderá mesmo surpreender. Entretanto o Banco do Japão e o Banco Central Europeu prosseguirão o caminho de políticas de cariz não convencional ultra-acomodatício, embora com efeitos não assegurados na economia real. Em concreto, na zona euro, o pleno funcionamento do mecanismo de transmissão estará sobretudo dependente do desanuviamento dos factores de ordem política e do reforço dos níveis de confiança de famílias e empresas. Apesar dos actuais níveis mínimos das taxas de juro de dívida pública dos mercados de referência, não é certo que 2015 marque o momento da inversão da tendência, atendendo sobretudo às actuais perspectivas de continuação do crescimento fraco/moderado e reforço da possibilidade de inflação mais baixa ou mesmo negativa (na região do euro). Sobretudo no primeiro semestre, a situação de taxas longas muito baixas deverá persistir. Nos mercados periféricos de dívida soberana, embora se possa intensificar a volatilidade caso as posições políticas entre os próximos governantes helénicos e os líderes Europeus se extremem, os restantes mercados da periferia parecem estar mais resguardados. Efectivamente, para além do reforço dos mecanismos de assistência financeira e da maior robustez dos alicerces que sustentam a união monetária, foi feito um caminho importante na resolução de desequilíbrios estruturais, apesar de ainda persistirem desafios neste domínio. Pelo que, aparentemente, os restantes mercados da periferia deverão manter-se, por ora, resguardados. Em 2015, apesar do início de ano marcado pela tendência de correcção, a perspectiva de aceleração do crescimento económico global deverá suportar as valorizações dos mercados accionistas de referência. Todavia, o ciclo de subidas já é longo, sugerindo que a volatilidade será uma constante ao longo do ano. Por um lado, as políticas de quantitative-easing deverão favorecer o mercado nipónico e europeu enquanto nos EUA as valorizações encontram suporte numa economia mais robusta. Em contrapartida, os factores de risco também abundam, aconselhando posturas mais cautelosas. Para além do recrudescimento dos factores de ordem política, a eventual concretização da alteração do ciclo das taxas de juro do dólar poderá induzir uma correcção mais significativa.

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Análise de mercados financeiros

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Page 1: BPI Análise Mercados Financeiros Jan.2015

Estudos Económicos e Financeiros

Análise Mensal14 de Janeiro de 2015

Mercados FinanceirosPaula Gonçalves Carvalho

Agostinho Leal AlvesLuisa Teixeira Felino

Pedro Miguel MendesTeresa Gil Pinheiro

Vânia Patrícia Duarte

2015: divergência e volatilidade

Espera-se que o crescimento económico global se reforce em 2015, embora a divergência entre as principais economias mundiais deva aumentar e exista o risco de que possa novamente desapontar. Mais uma vez, as economias anglo-saxónicas deverão destacar-se – veja-se os sinais muito positivos que emanam do mercado de trabalho nos EUA, por exemplo – sendo maiores as dúvidas relativamente à performance quer da UEM quer do Japão. A região do euro, com um peso relevante no PIB mundial, deverá continuar a mostrar desempenhos modestos. Apesar das actuais condições propícias ao impulso da actividade na Europa - política monetária com pendor muito acomodatício, políticas orçamentais tendencialmente menos restritivas (ou mesmo expansionistas), depreciação da moeda, queda prolongada dos preços do petróleo – duvida-se do seu efeito sob a economia real num contexto político complexo, em que grassam os desafios a curto/médio prazo. Em contrapartida, nos EUA os balanços mais robustos do sector privado, o mercado de trabalho mais firme, lucros e cash-flows empresariais robustos, os sinais de aceleração do consumo e investimento, para além da queda dos preços do petróleo, suportam um cenário de aceleração do crescimento de regresso à fasquia dos 3%. Acresce referir que este será mais um ano difícil para as economias emergentes, a braços (ainda) com os reajustamentos na procura interna da China, a queda dos preços das principais commodities e a perspectiva de alteração do ciclo de taxas de juro nos EUA.

O Euro quebrou a fasquia de 1.20 face ao dólar, reflexo da maior incerteza política que ensombra o cenário Europeu e das perspectivas económicas e de política monetária divergentes dos dois lados do Atlântico. Esta é uma situação que poderá perdurar durante o ano, podendo o EUR/USD aproximar-se da fasquia de 1.15. A intensidade do movimento estará também dependente da concretização de um programa audaz de compra de dívida soberana pelo BCE, nos primeiros meses do ano.

A liquidez continuará a ser abundante em 2015 e os bancos centrais manter-se-ão actores principais no cenário económico-financeiro global. O ano será marcado pela possibilidade de inversão do ciclo de taxas de juro pela Reserva Federal o que, a materializar-se, seria o primeiro sinal concreto de que as consequências mais nefastas da crise financeira de 2007/08 teriam sido ultrapassadas. Apesar da recente queda das expectativas inflacionistas motivadas pelo andamento dos preços do petróleo, tudo aponta que a Fed tentará, pelo menos, iniciar o processo de normalização da política monetária. Caso as circunstâncias globais o permitam, o ritmo de normalização poderá mesmo surpreender. Entretanto o Banco do Japão e o Banco Central Europeu prosseguirão o caminho de políticas de cariz não convencional ultra-acomodatício, embora com efeitos não assegurados na economia real. Em concreto, na zona euro, o pleno funcionamento do mecanismo de transmissão estará sobretudo dependente do desanuviamento dos factores de ordem política e do reforço dos níveis de confiança de famílias e empresas.

Apesar dos actuais níveis mínimos das taxas de juro de dívida pública dos mercados de referência, não é certo que 2015 marque o momento da inversão da tendência, atendendo sobretudo às actuais perspectivas de continuação do crescimento fraco/moderado e reforço da possibilidade de inflação mais baixa ou mesmo negativa (na região do euro). Sobretudo no primeiro semestre, a situação de taxas longas muito baixas deverá persistir. Nos mercados periféricos de dívida soberana, embora se possa intensificar a volatilidade caso as posições políticas entre os próximos governantes helénicos e os líderes Europeus se extremem, os restantes mercados da periferia parecem estar mais resguardados. Efectivamente, para além do reforço dos mecanismos de assistência financeira e da maior robustez dos alicerces que sustentam a união monetária, foi feito um caminho importante na resolução de desequilíbrios estruturais, apesar de ainda persistirem desafios neste domínio. Pelo que, aparentemente, os restantes mercados da periferia deverão manter-se, por ora, resguardados.

Em 2015, apesar do início de ano marcado pela tendência de correcção, a perspectiva de aceleração do crescimento económico global deverá suportar as valorizações dos mercados accionistas de referência. Todavia, o ciclo de subidas já é longo, sugerindo que a volatilidade será uma constante ao longo do ano. Por um lado, as políticas de quantitative-easing deverão favorecer o mercado nipónico e europeu enquanto nos EUA as valorizações encontram suporte numa economia mais robusta. Em contrapartida, os factores de risco também abundam, aconselhando posturas mais cautelosas. Para além do recrudescimento dos factores de ordem política, a eventual concretização da alteração do ciclo das taxas de juro do dólar poderá induzir uma correcção mais significativa.

Page 2: BPI Análise Mercados Financeiros Jan.2015

2015: divergência e volatilidade

Os factores de natureza política ensombram as perspectivas para 2015. Sobretudo na Europa, estes vêm acrescer a outros motivos que já justificavam crescimento endémico fraco. E apesar da ampla liquidez no sistema financeiro e das políticas monetárias muito acomodatícias, a queda substancial dos preços do petróleo sugere que as taxas de inflação subjacentes nos EUA e UEM poderão descer ainda mais. Entretanto, a dicotomia será uma constante ao longo do ano, pois enquanto a região do euro e Japão lutam contra situações recessivas e receiam o espectro deflacionista, nos EUA (quase) tudo parece estar preparado para uma reanimação mais vigorosa da actividade económica. No contexto global, as economias emergentes com maior peso deverão continuar a desapontar, penalizadas pelo andamento dos preços das principais matérias-primas e/ou pela perspectiva mais incerta quanto à capacidade de atracção de fluxos de capitais, num ambiente financeiro que se antecipa mais adverso.

Nos mercados financeiros, aumentará a volatilidade dos activos de maior risco, enquanto as taxas de juro de curto e de longo prazo dos países de referência deverão permanecer ancoradas, em valores historicamente baixos.

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS ECONÓMICOS E FINANCEIROS Paula Gonçalves Carvalho Economista ChefeTeresa Gil PinheiroLuísa Teixeira FelinoPedro Miguel MendesVânia Patrícia Duarte

Análise TécnicaAgostinho Leal Alves

Tel.: 351 21 310 11 86 Fax: 351 21 353 56 94 Email: [email protected] www.bancobpi.pt www.bpiinvestimentos.pt/Research

Page 3: BPI Análise Mercados Financeiros Jan.2015

E.E.F. Mercados Financeiros Janeiro 2015

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íNDICE Pág.

Perspectivas Globais e Principais Factores de Risco 04

Principais Mercados: Recomendações 05

Economias

Global - 2015, Factores Políticos e Petróleo na ordem do dia 07 EUA - Ainda alguns problemas por resolver 10 Zona Euro - Crescimento ligeiro em 2015 12 Portugal - Consolidação do crescimento 16 Espanha - Economia em recuperação 20 América Latina - Após anos de crescimento, as economias voltam a vacilar 22 Brasil - O ajustamento inevitável para 2015 24 México - Optimismo em torno das reformas estruturais e crescimento nos EUA 26 África Subsariana - Perspectivas de aceleração do crecimento mais sólidas 28 Angola - Petróleo condiciona 2015 29 Moçambique - Megaprojectos suportam o crescimento económico 32 África do Sul - Greves e Expotações atrasam retoma económica em 2014 34 Nigéria - Queda dos Preços do Petróleo é o principal desafio em 2015 37

Mercados

Mercado Cambial Aposta no dólar e desinteresse no euro 39 Ano da Rússia (pelos piores motivos) 41

Mercado Monetário Políticas acomodatícias com divergências 44

Mercado de Dívida Pública Liquidez e confiança condicionam dinamismo 48

Mercado de Dívida Diversa Condições mantiveram-se favoráveis em 2014, c/acumulação de riscos 50

Mercados Accionistas As bolsas europeias voltaram a decepcionar 52

Mercados de Commodities Mercados Energéticos lideram a queda de preços nas commodities em 2014 55 Previsões

Economias Desenvolvidas Mercados Emergentes Previsões Económicas do BPI 59

Taxas de Câmbio Taxas de Juro 60 Taxas Oficiais dos Principais Bancos Centrais 61

Taxas de Câmbio dos Mercados Emergentes Taxas de Juro e Spreads dos Mercados Emergentes 62 Bases de Dados 63