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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X BOLIVIANAS E TRABALHO DOMÉSTICO EM SÃO PAULO Eloah Maria Martins Vieira 1 RESUMO: O trabalho doméstico remunerado é uma das atividades mais executadas por mulheres migrantes internacionais. Este trabalho está entre os trabalhos desempenhados por bolivianas na cidade de São Paulo desde 1950. Muitas bolivianas executam os trabalhos de cozinha e limpeza em oficinas de costura. Além disso, algumas bolivianas moram em seus trabalhos, o que inclui não só oficinas como também casas de terceiros. Estas características adicionam complexidades às análises das experiências destas mulheres, porém pouco são estudadas. Há estudos sobre mulheres migrantes trabalhadoras domésticas, mas poucos abordam estas experiências na América Latina ou as conexões entre trabalho doméstico remunerado e não remunerado. Dada esta lacuna, temos como objetivo apresentar a pertinência de refletir sobre como trabalhadoras domésticas bolivianas, que moram em São Paulo, articulam a execução do trabalho doméstico remunerado e não remunerado. Ser imigrante e trabalhadora doméstica pode dar contornos específicos a forma como o trabalho doméstico não remunerado é organizado. Esta mulher pode ter dificuldades para estabelecer redes de apoio, assim como pode integrar cadeias globais de cuidado. Além disso, o trabalho doméstico pode envolver negociações com empregadores, companheiros, familiares e instituições. Assim, buscamos mostrar como a análise de relações entre trabalho doméstico remunerado e não remunerado elucida complexidades deste trabalho e diferentes dimensões das vidas das bolivianas. Palavras-chave: Bolivianas. Trabalho doméstico remunerado. Trabalho doméstico não remunerado. São Paulo. 1. Bolivianos e bolivianas em São Paulo Neste artigo 2 , apresentaremos considerações sobre a pertinência de se refletir sobre a forma como trabalhadoras domésticas bolivianas em São Paulo articulam o trabalho doméstico remunerado e não remunerado. Para isso, inicialmente, faremos breves considerações sobre a história desse movimento migratório, para, na sequência, comentar sobre as relações entre trabalho doméstico e migrações e, por fim, apresentar possibilidades de articulações de trabalho doméstico remunerado e não remunerado. Considerando que até o momento, fizemos apenas um mapeamento do campo, este artigo é construído com base em revisão bibliográfica. 1 Mestranda em Antropologia na Universidade Federal de Pernambuco Recife, Brasil. 2 O presente artigo é resultado de reflexões que vêm sendo construídas para minha pesquisa de mestrado. Em 2017.1, ingressei no mestrado em Antropologia na Universidade Federal de Pernambuco com o objetivo de estudar como trabalhadoras domésticas bolivianas na cidade de São Paulo articulam estratégias para a realização do trabalho doméstico em suas casas e famílias.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

BOLIVIANAS E TRABALHO DOMÉSTICO EM SÃO PAULO

Eloah Maria Martins Vieira1

RESUMO: O trabalho doméstico remunerado é uma das atividades mais executadas por mulheres

migrantes internacionais. Este trabalho está entre os trabalhos desempenhados por bolivianas na

cidade de São Paulo desde 1950. Muitas bolivianas executam os trabalhos de cozinha e limpeza em

oficinas de costura. Além disso, algumas bolivianas moram em seus trabalhos, o que inclui não só

oficinas como também casas de terceiros. Estas características adicionam complexidades às análises

das experiências destas mulheres, porém pouco são estudadas. Há estudos sobre mulheres migrantes

trabalhadoras domésticas, mas poucos abordam estas experiências na América Latina ou as

conexões entre trabalho doméstico remunerado e não remunerado. Dada esta lacuna, temos como

objetivo apresentar a pertinência de refletir sobre como trabalhadoras domésticas bolivianas, que

moram em São Paulo, articulam a execução do trabalho doméstico remunerado e não remunerado.

Ser imigrante e trabalhadora doméstica pode dar contornos específicos a forma como o trabalho

doméstico não remunerado é organizado. Esta mulher pode ter dificuldades para estabelecer redes

de apoio, assim como pode integrar cadeias globais de cuidado. Além disso, o trabalho doméstico

pode envolver negociações com empregadores, companheiros, familiares e instituições. Assim,

buscamos mostrar como a análise de relações entre trabalho doméstico remunerado e não

remunerado elucida complexidades deste trabalho e diferentes dimensões das vidas das bolivianas.

Palavras-chave: Bolivianas. Trabalho doméstico remunerado. Trabalho doméstico não

remunerado. São Paulo.

1. Bolivianos e bolivianas em São Paulo

Neste artigo2, apresentaremos considerações sobre a pertinência de se refletir sobre a forma

como trabalhadoras domésticas bolivianas em São Paulo articulam o trabalho doméstico

remunerado e não remunerado. Para isso, inicialmente, faremos breves considerações sobre a

história desse movimento migratório, para, na sequência, comentar sobre as relações entre trabalho

doméstico e migrações e, por fim, apresentar possibilidades de articulações de trabalho doméstico

remunerado e não remunerado. Considerando que até o momento, fizemos apenas um mapeamento

do campo, este artigo é construído com base em revisão bibliográfica.

1 Mestranda em Antropologia na Universidade Federal de Pernambuco – Recife, Brasil. 2 O presente artigo é resultado de reflexões que vêm sendo construídas para minha pesquisa de mestrado. Em

2017.1, ingressei no mestrado em Antropologia na Universidade Federal de Pernambuco com o objetivo de estudar

como trabalhadoras domésticas bolivianas na cidade de São Paulo articulam estratégias para a realização do trabalho

doméstico em suas casas e famílias.

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O fluxo migratório de pessoas vindas de outros países da América Latina para o Brasil é

intenso. Em 2010, os fluxos de bolivianos, paraguaios e peruanos foram os que tiveram maior

crescimento dentre os fluxos de pessoas provenientes de outros países latino americanos para o

Brasil (OLIVEIRA, 2012). Sendo assim, bolivianos estão entre os grupos de latino americanos em

maior número no Brasil (BAENINGER, 2012) e dada sua expressividade numérica têm atraído a

atenção de estudos como o que aqui propomos.

A partir dos anos 1980, o fluxo de bolivianos para o Brasil se intensificou. Entretanto, desde

1950, já era possível observar bolivianos em São Paulo. Sobre este período, Iara Xavier (2012)

comenta que, entre os bolivianos, migraram mulheres que, chegando em São Paulo, trabalhavam

como trabalhadoras domésticas. Atualmente, a maioria dos bolivianos na cidade trabalham em

oficinas de costura (SILVA, 2006). Além desta ocupação, pode-se encontrar bolivianos trabalhando

em outras atividades como artesanato, indústria, comércio e trabalho doméstico (FREITAS, 2012).

No Brasil, São Paulo é a cidade que tem o maior número de imigrantes bolivianos e este

grupo é o maior entre os hispano-americanos moradores da cidade (SILVA, 2006). Sendo assim,

ainda que já tenha existido a predominância da migração boliviana na fronteira, atualmente, esta

migração tem grande importância em São Paulo (BAENINGER, 2012). Estes são fatores que nos

motivaram a escolher São Paulo como a cidade onde pesquisar sobre a população boliviana.

Quando falamos sobre migração, além de pensarmos de onde vêm e para onde vão os

migrantes, também é importante pensarmos quem são estes migrantes. As mulheres correspondem a

uma grande parcela dos/as migrantes internacionais. Com relação aos/às bolivianos/as imigrantes

residindo na Região Metropolitana de São Paulo, as mulheres correspondem a 44,1% de acordo

com o Censo 2000 (XAVIER, 2012). Sendo assim, o grupo de bolivianas em São Paulo tem

percentual expressivo, fundamentando também nossa escolha e a pertinência de estudá-las.

Ao refletir sobre as bolivianas em São Paulo, Ribeiro (2016) faz interessantes ponderações a

respeito do “crescimento” do número de mulheres na população imigrante. Segundo a autora, seria

difícil afirmarmos que este número cresceu pois existem poucos dados sobre a migração feminina

em décadas e séculos passados. Ribeiro (2016) destaca que mais do que afirmar este aumento,

pode-se dizer que houve um acirramento das contradições de gênero e uma maior atenção teórica

sobre o tema. Em consonância com Ribeiro (2016), Assis (2007) afirma os estudos de migração não

estavam atentos às diferenças de gênero, raça e etnia até o início dos anos 70. Sendo assim, o

presente artigo pretende ser uma contribuição aos recentes estudos que refletem sobre as

experiências das mulheres migrantes. Na sequência, apresentaremos demais aspectos que baseiam a

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pertinência de nosso estudo, mostrando a importância de estudar conjuntamente as temáticas de

migrações e trabalho doméstico.

2. Trabalho doméstico e migrações

Atualmente vêm sendo realizados estudos sobre as vivências de mulheres migrantes

internacionais e parte deles aborda os trabalhos que as mulheres executam quando migram

(DUTRA, 2012; 2013; RIBEIRO, 2016; ILLES; TIMÓTEO; PEREIRA, 2008; HIRATA e

KERGOAT, 2007; ZANELLA, 2015; VILELA e NORONHA 2013). Segundo algumas autoras

(DUTRA, 2013; HIRATA e KERGOAT, 2007), a mulher imigrante executa trabalhos

tradicionalmente femininos, como as atividades em confecção, comércio e trabalho doméstico

remunerado e não remunerado. Dessa forma, relaciona-se a migração feminina com a divisão sexual

do trabalho (HIRATA e KERGOAT 2007) e constata-se que muitas mulheres imigrantes se inserem

no setor de serviços domésticos (ASSIS, 2007), fazendo com que o trabalho doméstico remunerado

ou não remunerado ocupe posição central na experiência migratória das mulheres. Esta

centralidade, assim como a recorrência de mulheres imigrantes internacionais executando trabalho

doméstico remunerado ou não, são fatores que compõe a pertinência desta pesquisa.

Hirata e Kergoat (2007) destacam que muitas imigrantes exercem o trabalho doméstico que

é repassado a elas por outras pessoas que ocupam diferentes posições no mercado de trabalho. Esta

externalização do trabalho doméstico é nomeada por estas autoras como “delegação”. Segundo

Dutra (2012), empregadores conseguem exercer suas profissões e manter seus padrões de vida uma

vez que as imigrantes executam o trabalho doméstico na casa deles, e assim, elas concederiam

grande parte de seu tempo para cuidar dos filhos e das casas dos outros e não dos seus e das suas,

respectivamente. Dado que as trabalhadoras domésticas executam o trabalho doméstico nas casas e

famílias de outras pessoas, nos perguntamos e discutimos mais adiante: como que as trabalhadoras

domésticas organizam o trabalho doméstico em suas casas e famílias?

No Brasil, também podemos observar a presença de mulheres imigrantes trabalhando nos

postos de trabalho doméstico. Ainda que, este trabalho seja mais executado por migrantes nacionais

do que por imigrantes internacionais no Brasil (GUIMARÃES; HIRATA; SUGITA, 2012), existem

imigrantes internacionais que trabalham como trabalhadoras domésticas no país. Vilela e Noronha

(2013) destacam que considerável quantidade de paraguaias (35,2%) trabalha em serviços como

trabalho doméstico, vendedoras ambulantes e coletoras de lixo no Brasil. Além das paraguaias,

também há relatos sobre as peruanas em Brasília (DUTRA, 2012) e as bolivianas em São Paulo

trabalhando como trabalhadoras domésticas (ZANELLA, 2015; XAVIER, 2012).

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Trabalhadoras domésticas bolivianas em São Paulo não é uma realidade apenas

contemporânea. Como dissemos anteriormente, em 1950 já havia bolivianas em São Paulo

trabalhando como trabalhadoras domésticas (XAVIER, 2012). Zanella (2015) observa que as

bolivianas imigrantes em São Paulo atualmente também estão inseridas no trabalho doméstico como

babás, cozinheiras e empregadas domésticas. Entretanto, não há estudos que foquem nas

experiências das trabalhadoras domésticas bolivianas. Dado esta lacuna, defendemos que pesquisas

sobre suas experiências, como aqui propomos, são de extrema pertinência.

Sobre as bolivianas em São Paulo, destacamos que elas podem ser trabalhadoras domésticas

nas casas de terceiros, assim como nas oficinas de costura. Segundo Ribeiro (2016), Illes, Timóteo e

Pereira (2008) as bolivianas executam o trabalho de cozinha e limpeza das oficinas. Considerando

que o contrato de trabalho nas oficinas inclui a moradia no emprego na maioria das vezes, a oficina

se caracteriza como domicílio (RIBEIRO, 2016). Por isso, os trabalhos de limpeza e cozinha destes

espaços também são por nós tidos como trabalho doméstico, e assim, compreendemos que as

pessoas que executam este trabalho nas oficinas são trabalhadoras domésticas.

Segundo Ribeiro (2016), o trabalho doméstico nas oficinas de costura tem uma menor

remuneração que o trabalho de costura, é executado exclusivamente pelas mulheres e naturalizado

como feminino. Além disso, o trabalho doméstico executado pelas mulheres nas oficinas pode não

ser remunerado (RIBEIRO, 2016), o que para nós configuraria uma precarização ainda maior. A

remuneração ou não do trabalho doméstico depende, em geral, do porte da oficina. As oficinas

grandes tendem a contratar uma mulher para executar os trabalhos de limpeza dos ambientes

comuns e de preparação de comida (RIBEIRO, 2016). Ainda que estas mulheres sejam

remuneradas, elas recebem o menor salário da oficina. Além disso, haveria mulheres que não são

remuneradas pelo trabalho doméstico nas oficinas. Estes seriam os casos de oficinas familiares

quando a mãe e as filhas executam o trabalho doméstico. Nestes casos, o trabalho doméstico é tido

como uma obrigação destas mulheres (RIBEIRO, 2016).

Considerando que a maioria da população boliviana em São Paulo trabalha nas oficinas de

costura, acreditamos que o trabalho doméstico pode estar presente na vida de muitas bolivianas

nestas confecções, mas invisibilizado por ser realizado de forma associada ao trabalho de costura

e/ou sem remuneração. Sendo assim, estudar as bolivianas trabalhadoras domésticas das oficinas e

não só as bolivianas trabalhadoras domésticas que trabalham nas casas de terceiros, é uma forma de

visibilizar essas experiências. Além disso, dada a situação de precarização destes postos de trabalho,

estudá-los é uma oportunidade de problematizar desigualdades e contradições.

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Assim como algumas trabalhadoras domésticas das oficinas de costuras moram em seus

trabalhos, algumas trabalhadoras domésticas que trabalham nas casas de terceiros residem em seus

empregos. Segundo Ávila (2009), morar no emprego pode significar uma maior dificuldade de

delimitar a jornada de trabalho. Ademais, Dutra (2012) destaca que aquelas que trabalham e moram

no serviço viveriam um autoconfinamento em seus quartos e, assim, teriam um sentimento de

isolamento ainda maior do que demais imigrantes. Sendo assim, surgem outras complexidades

quando pensamos as vivências das trabalhadoras domésticas que moram em seus trabalhos.

Na sequência refletiremos sobre como que as trabalhadoras domésticas bolivianas podem

articular suas demandas por trabalho doméstico no que se refere ao cuidado de seus filhos e/ou

parentes idosos e animais, à cozinha, à organização e à limpeza em suas casas ou seus espaços

privativos, no caso de morarem em seus trabalhos.

3. Articulação do trabalho doméstico em suas casas e famílias

Neste tópico refletiremos sobre as formas como trabalhadoras domésticas bolivianas podem

articular o trabalho doméstico em suas casas e famílias. Tratando-se de uma reflexão a partir de

outros autores, nem sempre as experiências abordadas por estes referem-se a trabalhadoras

domésticas bolivianas em São Paulo, mas sim a experiências de trabalhadoras domésticas e/ou

imigrantes. É a partir destas experiências que levantaremos hipóteses sobre o que podemos

encontrar em campo ao longo da pesquisa de mestrado e fundamentaremos a pertinência de estudos

que pensam as relações entre trabalho doméstico remunerado e não remunerado a partir das

experiências de trabalhadoras domésticas bolivianas em São Paulo.

Autoras como Jurema Brites (2013) e Betânia Ávila (2009) reconhecem que surgem

complexidades quando pensamos as relações entre o trabalho doméstico remunerado e não

remunerado. Ávila (2009), por exemplo, elenca que há tensões na forma como a administração do

tempo é organizada em função do trabalho doméstico não remunerado e remunerado. A autora

ainda elenca que quando estamos refletindo sobre as vivências de trabalho doméstico remunerado e

não remunerado das trabalhadoras domésticas, podemos pensar não só nas relações de sexo/gênero,

como também nas relações de classe e de trabalho.

Dado que trabalhadoras domésticas executam o trabalho doméstico remunerado nas casas e

famílias de outras pessoas, questionamos: como que as trabalhadoras domésticas organizam o

trabalho doméstico geralmente não remunerado em suas casas e famílias? Quem realiza este

trabalho? São as mulheres? Outras pessoas participam? Como? Acreditamos que estas questões

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apontam para a complexidade do tema. Muito desta complexidade se deve ao fato de que quando

refletimos sobre o embricamento entre o trabalho doméstico remunerado e não remunerado,

podemos pensar sobre as relações que as trabalhadoras domésticas estabelecem com diferentes

atores, como: seus companheiros, empregadores, familiares e amigos no país destino ou no país de

origem.

3.1. Quando a mulher executa sozinha o trabalho doméstico em sua casa e família

Ao lermos sobre a realização do trabalho doméstico nas casas e famílias de trabalhadoras

domésticas, percebemos que muitas vezes elas também se responsabilizam pelo trabalho doméstico

em suas casas e famílias. Ribeiro (2016) mostra que nas oficinas, onde muitas bolivianas trabalham,

o trabalho de costura é intercalado com o trabalho doméstico da oficina, com o cuidado de filhos e

com limpeza do próprio quarto.

Quando são mulheres solteiras ou divorciadas com filhos, a mulher precisa sozinha

conjugar trabalho produtivo, limpeza do próprio quarto (...) e cuidado com as

crianças. (…) Vale ressaltar que essa é uma condição ocupada apenas pelas

mulheres, que sempre ficam com os filhos após a separação do casal. Acaba

colocando as mulheres em situação ainda mais precarizada, já que têm que

sustentar a si e aos filhos, lidar com a sobrecarga de trabalho produtivo e

atividades de reprodução também de si e das crianças(…). (RIBEIRO, 2016, p.112.

Grifo nosso)

Sendo assim, as bolivianas comumente executam estes trabalhos sozinhas, havendo,

consequentemente, sobrecarga. Esta situação configuraria não apenas sobrecarga, como dupla

jornada de trabalho (SARDENBERG, 1997).

É interessante perceber que esta forma de organização do trabalho doméstico não

remunerado em suas casas não estaria restrito às mulheres solteiras ou separadas destacadas por

Ribeiro (2016). Segundo Ávila (2009), mesmo quando homens companheiros de trabalhadoras

domésticas coabitam com as mesmas e estão desempregados, eles não executam o trabalho

doméstico em suas casas. A autora destaca que quando há algum tipo de divisão, esta divisão se dá

com outras mulheres.

Diferentemente das autoras até aqui elencadas, Assis (2004; 2007) destaca alguns casos de

homens brasileiros imigrantes nos Estados Unidos que executavam o trabalho doméstico em suas

casas. Segundo a autora, isto se deveria ao fato de eles trabalharem como trabalhadores domésticos

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junto com suas companheiras em casas de terceiros. A partir deste trabalho, estes homens passaram

a reconhecer o trabalho doméstico como um trabalho e começaram a participar da sua execução em

suas casas. Além disso, Assis (2004; 2007) também identifica que esta mudança se deve ao fato de

os Estados Unidos ter um outro padrão de relações de gênero, com uma maior divisão das tarefas.

Ainda assim, ela destaca que esta maior divisão não é unanimidade entre os imigrantes e, quando

ocorre, não se dá sem conflitos ou dificuldades. Ademais, as outras autoras aqui elencadas não

identificaram a participação de homens no trabalho doméstico das casas e famílias de trabalhadoras

domésticas e/ou imigrantes.

Quando o trabalho doméstico não remunerado em suas casas é executado apenas pelas

mulheres, há grandes impactos em suas vidas. Como o trabalho doméstico é intermitente e equivale

a grande parte do dia destas mulheres (POMBO, 2010; ÁVILA, 2009), diminuem as chances das

mesmas terem tempo para executar outras atividades e a sua qualidade de vida é impactada

(POMBO, 2010). Considerando a grande parcela de tempo que este trabalho representa na vida

destas mulheres, impactando-a, destacamos a importância e pertinência de estudá-lo. Além disso,

consideramos ser pertinente estudá-lo pois a partir dele podemos refletir sobre sensações e

sentimentos das mulheres trabalhadoras domésticas como: cansaço e sobrecarga, assim como

problematizar sobre as desigualdades que perpassam a vida destas mulheres, quando, por exemplo,

não há divisão do trabalho doméstico em suas casas.

3.2. Redes de mulheres

Muitas vezes as trabalhadoras domésticas executam o trabalho doméstico de suas casas e

famílias sozinhas como dissemos no tópico anterior. Entretanto, também há casos de divisão deste

trabalho com outras pessoas. Quando há algum tipo de divisão é comum que esta ocorra com outras

mulheres, reforçando a divisão sexual do trabalho. Ao falar sobre trabalhadoras domésticas, Ávila

(2009) comenta: “De uma maneira geral, quando da existência de filhos/as pequenos/as, a

ausência da mãe durante o tempo de trabalho remunerado é sustentada por uma rede entre

mulheres. Mãe, sogra, vizinha, ou até a filha mais velha” (p. 205. Grifo nosso).

Assim como Ávila (2009), Hirata e Kergoat (2007) consideram que trabalhadoras

domésticas organizam uma rede de mulheres para conseguir gerir as demandas de trabalho

doméstico em suas próprias casas e famílias. Ávila (2009) ainda acrescenta que esta rede de

mulheres pode ser feita através da solidariedade e também através de pagamento. Sendo assim, o

trabalho doméstico das casas e famílias das trabalhadoras domésticas pode ser remunerado. Sobre

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isto, destacamos que apenas Ávila (2009) elencou esta possibilidade de pagamento. Vasconcelos

(2013) pontua, dentre as brasileiras que migram para a Venezuela, apenas as imigrantes que compõe

famílias nucleares de classe média contratam outras mulheres para executar o trabalho doméstico

em suas casas e famílias no país destino; demais mulheres imigrantes, às quais incluímos as

trabalhadoras domésticas, não teriam esta condição financeira. Sendo assim, ao pensarmos sobre

como o trabalho doméstico é organizado nas casas e famílias, também devemos considerar a

dimensão de classe.

Ao tratar de trabalhadoras domésticas brasileiras nos Estados Unidos, Assis (2004) comenta

que algumas delas, quando têm filhos pequenos, recebem a visita de suas mães e irmãs para auxílio

no cuidado de seus filhos. Além disso, Assis (2004) também destaca casos de amigas imigrantes

que auxiliam imigrantes brasileiras neste cuidado. Sendo assim, estas imigrantes comporiam redes

de mulheres no país destino como estratégia de articulação do trabalho doméstico em suas famílias.

Até então, estamos considerando redes de mulheres que se formam quando mãe e filhos

moram no país destino. Iremos considerar portanto em nosso estudo de mestrado a possibilidade de

bolivianas trabalhadoras domésticas dividirem com outras mulheres, também no Brasil, o trabalho

doméstico de suas casas e famílias. Porém, nas trajetórias de migrantes, pode acontecer de as

mulheres migrarem para outro país e seus filhos permanecerem no país de origem. Para o cuidado

destes filhos, as imigrantes teriam que articular redes transnacionais construídas pelo apoio de avós,

irmãs e cunhadas (HIRATA e KERGOAT, 2007; ASSIS, 2004;2007; VASCONCELOS, 2013).

Sobre as relações entre mulheres no país destino e os parentes no país de origem,

Vasconcelos (2013) destaca que as mulheres imigrantes participam do cuidado de filhos e

familiares idosos à distância. A autora evidencia que mesmo separadas de seus filhos, as mulheres

acompanham o crescimento e a educação deles, fazendo uso de estratégias de comunicação como

ligações telefônicas ou contatos pela internet. Assim elas mantêm o contato e monitoram o cuidado

de seus filhos, assim como de familiares idosos. Dessa forma, consideramos que elas participam da

execução do trabalho doméstico em suas famílias e, assim, estas mulheres compõe cadeias globais

de cuidado (PÉREZ OROZCO, 2010) pois o trabalho de cuidado que elas executavam no país de

origem é rearticulado ao mesmo tempo que elas mantêm os vínculos com o país de origem e seus

residentes.

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Com base nestas reflexões, podemos pensar como que as bolivianas trabalhadoras

domésticas podem estabelecer redes de mulheres tanto no país destino como transnacionais para a

execução do trabalho doméstico de cuidado dos filhos e demais familiares no Brasil ou na Bolívia.

3.3. Relação com empregadores

Por fim, destacamos como que a organização do trabalho doméstico nas casas e famílias das

trabalhadoras domésticas pode envolver negociações com empregadores. Ávila (2009) e Ribeiro

(2016) mostram que os empregadores de trabalhadoras domésticas costumam não gostar que as

trabalhadoras tenham filhos, pois isso significaria uma menor disponibilidade de tempo para o

trabalho remunerado, além de mais gastos no caso dos donos de oficina, que teriam que garantir

comida, assim como um quarto privado para a mãe e seu filho.

Dado que nem todos os donos de oficina aceitam trabalhadoras com filhos (RIBEIRO,

2016), acreditamos que a presença dessas crianças nas oficinas e o trabalho doméstico de cuidado

para com elas ocorre mediante tensão e negociação com os empregadores. Essas negociações são

apresentadas por Ávila (2009) ao estudar mulheres que trabalham nas casas de terceiros. Segundo a

autora, as trabalhadoras domésticas têm que negociar com suas patroas a possibilidade, por

exemplo, de acompanhar seus filhos em serviços de saúde.

Além disso, quando os/as filhos/as são pequenos/as, são elas que os/as levam para

o serviço de saúde, e esse é um motivo de problema na relação com as patroas, pois

os horários de atendimento nos serviços de saúde são pela manhã, concorrendo

com o horário do trabalho remunerado. São dois usos do tempo em disputa, para

o cuidado com os/as filhos/as e para o trabalho remunerado. Muitas vezes, para

isso, as empregadas domésticas participantes da pesquisa afirmam que é necessário

recorrer à ajuda de outras mulheres. Para os sujeitos da pesquisa, essa é uma

situação vivida com muita angústia. (ÁVILA, 2009, p.208. Grifo nosso).

Aqui percebemos que para além da negociação com os empregadores, reaparece a rede de

mulheres como uma estratégia para a organização do trabalho doméstico nas casas e famílias das

trabalhadoras domésticas. Sendo assim, a organização deste trabalho pode envolver negociação com

companheiros e outras mulheres, como também, com os empregadores, de forma que várias

estratégias podem ser articuladas concomitantemente. Deste trecho que destacamos de Ávila

(2009), também evidenciamos que ao refletirmos sobre a articulação do trabalho doméstico

remunerado e não remunerado estamos pensando sobre a organização do tempo, o que, como coloca

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Ávila, pode envolver disputa e gerar angústia. Sendo assim, a partir da análise das negociações com

os empregadores surgem novos atores, sentimentos e sensações e, consequentemente, devem ser

consideradas novas complexidades para a análise da organização do trabalho doméstico nas casas e

famílias das trabalhadoras domésticas.

4. Considerações finais

Como mostrado ao longo do artigo, quando pensamos na forma como as trabalhadoras

domésticas bolivianas articulam o trabalho doméstico remunerado e não remunerado surge um

leque de possibilidades. Bolivianas podem trabalhar na casas de terceiros, assim como em oficinas

de costuras. Tantos estes trabalhos como os realizados em suas casas e famílias podem ser

remunerados ou não. Além disso, nas casas e famílias das trabalhadoras domésticas, o trabalho

doméstico pode envolver redes de mulheres, cadeias globais de cuidado, negociações com

empregadores e instituições como serviços de saúde. Ademais, estas diferentes estratégias podem

estar associadas a diferentes tipos de tensões, sentimentos e sensações. A partir das várias

possibilidades de articulação e suas complexidades, esta temática se apresenta como um campo de

estudo rico a ser explorado. São justamente estas complexidades que fundamentam nossa ideia de

estudar as articulações entre trabalho doméstico remunerado e não remunerado executadas pelas

trabalhadoras domésticas bolivianas em São Paulo. Pretendemos, através da pesquisa de mestrado,

aprofundar estes debates visando assim contribuir para o acúmulo de reflexões sobre trabalhadoras

domésticas bolivianas em São Paulo e suas estratégias para execução do trabalho doméstico.

5. Referências bibliográficas

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Bolivian women and domestic work in São Paulo

Abstract: Paid domestic work is one of the activities most performed by international migrant

women. Paid domestic work is among the jobs performed by Bolivian women in the city of São

Paulo since 1950. Many Bolivian women do the work of cooking and cleaning in sewing

workshops. Some of the Bolivian women live in their jobs, which include workshops and homes of

others. These characteristics add complexity to the analysis of these women's experiences, but they

are rarely studied. There are studies about migrant domestic workers women, but few studies

approaches these experiences in Latin America or the connections between paid and unpaid

domestic work. Based on this gap, we aim to present the pertinence of reflecting on how Bolivian

domestic workers women, who live in São Paulo, articulate the performance of paid and unpaid

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

domestic work. Being an immigrant women and domestic worker can mean a specific shape to how

unpaid domestic work is organized. This woman may have difficulty establishing support networks,

as well as can integrate global care networks. In addition, domestic work may involve negotiations

with employers, partners, family, and institutions. Thus we intend to show how the analysis of the

relationships between paid and unpaid domestic work elucidates the complexities of this work and

different dimensions of the lives of Bolivian women.

Keywords: Bolivian women. Paid domestic work. Unpaid domestic work. São Paulo.