biografia de agostinho neto

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Biografia de Agostinho Neto1922 - As cinco horas do dia dezassete de Setembro nasce Agostinho Neto em Kaxicane, freguesia de S. Jos, conselho de Icolo e Bengo, Distrito de Luanda, filho de Agostinho Neto, catequista de Misso americana em Luanda, sendo mais tarde pastor e professor nos Dembos, e de Maria d Silva Neto, professora. 1934 - A dez de Junho obtm o certificado da escola primria, que frequentou em Luanda. 1937 - Os seus pais mudam-se para Luanda, onde Agostinho Neto prossegue os seus estudos secundrios no Liceu Salvador Correia. 1944 - Completa o 7 ano dos Liceus, obtido no Liceu Salvador Correia, de Luanda. -Sendo funcionrio dos servios de sade deixa Angola e embarca para Portugal, a fim de frequentar a Faculdade de Medicina de Coimbra. -Integra-se e participa nas actividades sociais, politicas e culturais da seco de Coimbra da Casa dos Estudantes do Imprio, com sede em Lisboa, que esteve sob o regime compulsivo de direco administrativa (nomeada pelo Governo) desde 1951 at 1957. 1947 - Surge o grupo que actua sob o lema vamos Descobrir Angola, que d origem ao Movimento dos Jovens Intelectuais de Angola de que Agostinho Neto foi elemento integrante, embora vivendo em Portugal. 1948 - concedida a Agostinho Neto uma bolsa de estudos pelos Metodistas americanos. - Transfere a sua matrcula para a Faculdade de Medicina de Lisboa, cidade onde passa a residir e onde continua a sua actividade cultural e politica no seio da Casa dos Estudantes do Imprio. - Funda em Coimbra, com Lcio Lara e Orlando de Albuquerque a revista Momento, na qual colabora. 1950 - Publicao em Luanda, da revista Mensagem, rgo da Associao dos Naturais de Angola, de que se publicaram 4 nmeros (2 cadernos, sendo o ultimo em 1952, no qual Agostinho Neto colabora). - Preso pela PIDE, em Lisboa, quando recolhia assinaturas para a conferncia Mundial da Paz de Estocolmo ficando encarcerado durante trs meses. - Em Lisboa, Agostinho neto, de parceria com Amilcar Cabral, Mrio de Andrade, Marcelino dos Santos e Francisco Jos Tenreiro fundam, clandestinamente o Centro de estudos Africanos, que tinham finalidades culturais e polticas orientadas para a afirmao da nacionalidade africana. 1951 - Representante da Juventude das colnias portuguesas junto do MUD - Juvenil (Movimento de unidade democrtica - Juvenil) portugus. - Novamente preso pela PIDE, em Lisboa, 1951 - As autoridades policiais acabam com o centro de Estudos Africanos, fundado no ano anterior. - Em Lisboa, com trabalhadores martimos angolanos funda o Club Martimo Africano, correia de transmisso entre os patriotas angolanos que se encontravam em Portugal e os que, em Angola, preparavam os Alicerces do movimento de libertao. 1955 - Preso no ms de Fevereiro e, posteriormente, condenado a dezoito meses de priso. 1956 - Uma petio internacional circula nos meios intelectuais a pedir a sua libertao que, em Frana assinada por nomes altamente prestigiados, como aragon, Simone de Beauvoir, Franois Mariac, Jean-paul Sartre e o poeta cubano Nicols Guilln. -Em Setembro realiza-se em paris o 1 congresso de escritores e Artistas Negros, no qual participaram escritores das colnias portuguesas, tais com Marcelino dos Santos, e onde foi lamentada a ausncia de Agostinho Neto. - A 10 de Dezembro funda-se o MPLA Movimento Popular de Libertao de Angola, a partir da fuso de vrios movimentos patriticos, encontrando-se Agostinho neto, nessa data, nas prises de Lisboa. 1957 - Solto das prises da PIDE no ms de Julho. 1958 - A 27 de Outubro licenciado em medicina pela Universidade de Lisboa e no mesmo dia casa com Maria Eugenia Neto. -Toma parte na fundao do Movimento Anticolonialista (MAC). Que congregava patriotas das

diversas colnias portuguesas para uma aco revolucionria conjunta nas cinco colnias portuguesas: Angola, Guine, Cabo Verde, Moambique, S. Tom e Prncipe. 1959 - A 29 de Maro, em Luanda, efectuam-se prises massivas de nacionalistas proeminentes e assistese a uma escalada de terror policial. - Em Julho irrompe novas escaladas de terror, mais prises massivas e sequentes julgamentos em que so aplicadas penas severas aos militantes do MPLA. - Nasce em Lisboa, o seu primeiro filho, Mrio Jorge Neto aos 9/11/58 - A 22 de Dezembro, de 1959 acompanhado da mulher e do filho Mrio Jorge, de tenra idade, deixa Lisboa regressando a Luanda, onde abre um consultrio mdico. - Agostinho neto ocupa a chefia do MPLA, em territrio angolano. 1960 - Eleito Presidente Honorrio do MPLA. - 8 De Junho de 1960 preso em Luanda. As manifestaes de solidariedade diante do seu consultrio mdico e na sua aldeia so esmagadas pela polcia. Transita para cadeia do Algarve em Portugal, Pouco depois deportado para o arquiplago de Cabo Verde, ficando instalado na Vila de Ponta do Sol, ilha de Santo Anto; depois transita para Santiago at Outubro de 1962. 1961 - A 4 de Fevereiro desencadeada a luta armada pelo MPLA, com assalto as cadeias de Luanda, seguindo-se uma forte represso. - A 5 de Fevereiro realiza-se o funeral dos policias mortos durante os ataques as prises de Luanda e urdem-se pretextos para um massacre sobre os patriotas angolanos. - Agostinho Neto preso na cidade da Praia, ilha de Santiago, Cabo verde e transferido para as prises do Aljube, em Lisboa, onde deu entrada a 17 de Outubro de 1962. 1961 - Campanha internacional em prol da libertao de Agostinho Neto. A revista Prsence Africaine dedica um nmero especial a Angola e condena severamente as autoridades fascistas portuguesas, expondo o receio pela vida dos prisioneiros, incluindo Agostinho neto, formulando um apelo universal contra os torturadores da PIDE. - The Times publica manifestaes de protesto contra a priso de Agostinho Neto, assinadas por figuras de mais elevada craveira intelectual, como o historiador Basil Davidson; os romancistas Day Lewis, Doris Lessing, Iris Murdoch, angus Wilson, Alan Silitoe; o poeta Jonh wain; o crtico de teatro ingls Kermeth Tynan; os dramaturgos jonh Osborne e Arnold Wesker. - A propsito da resposta inaceitvel por parte das entidades portuguesas denncia feita por aqueles intelectuais, estes desencadeiam novo e veemente protesto. - A peguin Books edita o livro Persecution 1961, da autoria de Peter Benenson, denunciado a situao de nove prisioneiros polticos, entre eles Agostinho Neto, atravs de artigos para a Imprensa e em carta para a embaixada de Portugal, solicitando os cuidados urgentes, para melhorar a situao de sade de Agostinho Neto, que se temia pudesse tuberculizar. - Fica preso nas prises do Aljube, em Lisboa, at Maro de 1963. - Solto das prises, em Lisboa, com residncia fixa na capital portuguesa. Em Junho de 1963 vade-se de Portugal com sua mulher Maria Eugenia Neto e os filhos, Mrio Jorge e Irene Alexandra, chegando a Lopoldville (Kinshasa), onde o MPLA tinha a sua sede Exterior. - Eleito presidente do MPLA durante a Conferncia Nacional do Movimento. 1963 - O MPLA instala-se em Brazaville em consequncia da sua expulso do Congo (R. do Zaire) que passou a dar o apoio total a FNLA. - Abertura de uma frente em Cabinda a Segunda Regio politica - Militar. 1966 - Abertura de nova frente no Leste de Angola - a Terceira Regio 1968 - Transfere a sua famlia para Dar-es-Salaam onde continuar at 1975. 1970 - Galardoado com o prmio Lotus, atribudo pela 4 Conferncia dos Escritores afro-asitico. 1974 - A guerra nas colnias, componente determinante, conduz a Revoluo dos Capites, em Portugal, a 25 de Abril. - Apenas em Outubro o novo regime portugus reconhece o direito das colnias a independncia, aps que o MPLA assina o cessar-fogo. 1975 - Em 4 de Fevereiro regressa a Luanda. - Est presente no encontro de Alvor, em Portugal, onde acordado estabelecer um governo de transio que inclui o MPLA, Portugal, FNLA e UNITA. - recebido pela associao Portuguesa de Escritores, na sua sede em Lisboa, que assim o quis homenagear, sendo presidente Jos Gomes Ferreira e vice-presidente Manuel Ferreira. Acompanhado de sua mulher, Agostinho Neto agradece as saudaes que lhe foram dirigidas por Jos Gomes Ferreira, e apela para que os escritores portugueses continuem fiis e interessados no processo revolucionrio angolano. - Em Maro, a FNLA declara guerra ao MPLA e inicia o massacre da populao de Luanda. Agostinho Neto lidera a resistncia popular e apela a mobilizao geral do povo para se opor invaso do pais por foras estrangeiras, pelo Norte e pelo Sul, que procuram impedir o MPLA de proclamar a independncia.

1975 - A 11 de Novembro proclamado seu presidente, continuando Comandante-em-Chefe das foras Armadas Populares de Libertao de Angola e Presidente do MPLA. - Membro fundador da Unio dos Escritores Angolanos, criada em 10 de Dezembro de 1975. - Foi o primeiro Reitor da universidade Agostinho neto. - Presidente da Assembleia Geral da Unio dos Escritores Angolanos, cargo que desempenhou at a data do seu falecimento. - Reconhecimento da Repblica popular de Angola por mais de uma centena de pases. 1976 - O exrcito invasor Sul-Africano expulso de Angola a 27 de Maro. 1977 - Em 10 de Dezembro cria o MPLA Partido do Trabalho 1979 - Preside cerimnia do encerramento da 6 Conferncia dos Escritores Afro Asiticos, realizada de 26 de Junho a 3 de Julho, proferindo o discurso de encerramento. - A 10 de Setembro, Agostinho Neto falece em Moscovo.

Obra Potica: Quatro Poemas de Agostinho Neto, 1957, Pvoa do Varzim, e.a.; Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos Estudantes do Imprio; Sagrada Esperana, 1974, Lisboa, S da Costa (inclui os poemas dos dois primeiros livros); A Renncia Impossvel, 1982, Luanda, INALD (edio pstuma).

QuitandeiraA quitanda. Muito sol e a quitandeira sombra da mulemba. - Laranja, minha senhora, laranjinha boa! A luz brinca na cidade o seu quente jogo de claros e escuros e a vida brinca em coraes aflitos o jogo da cabra-cega. A quitandeira que vende fruta vende-se. - Minha senhora laranja, laranjinha boa! Compra laranja doces compra-me tambm o amargo desta tortura da vida sem vida. Compra-me a infncia do esprito este boto de rosa que no abriu

princpio impelido ainda para um incio. Laranja, minha senhora! Esgotaram-se os sorrisos com que chorava eu j no choro. E a vo as minhas esperanas como foi o sangue dos meus filhos amassado no p das estradas enterrado nas roas e o meu suor embebido nos fios de algodo que me cobrem. Como o esforo foi oferecido segurana das mquinas beleza das ruas asfaltadas de prdios de vrios andares comodidade de senhores ricos alegria dispersa por cidades e eu me fui confundindo com os prprios problemas da existncia. A vo as laranjas como eu me ofereci ao lcool para me anestesiar e me entreguei s religies para me insensibilizar e me atordoei para viver. Tudo tenho dado. At mesmo a minha dor e a poesia dos meus seios nus entreguei-as aos poetas. Agora vendo-me eu prpria. - Compra laranjas minha senhora! Leva-me para as quitandas da Vida o meu preo nico: - sangue. Talvez vendendo-me eu me possua. - Compra laranjas! (Sagrada esperana)

Voz do sanguePalpitam-me os sons do batuque e os ritmos melanclicos do blue negro esfarrapado do Harlem danarino de Chicago

negro servidor do South negro de frica negros de todo o mundo eu junto ao vosso canto a minha pobre voz os meus humildes ritmos. Eu vos acompanho pelas emaranhadas fricas do nosso Rumo Eu vos sinto negros de todo o mundo eu vivo a vossa Dor meus irmos. (A renncia impossvel)

Mussunda amigoPara aqui estou eu Mussunda amigo Para aqui estou eu Contigo Com a firme vitria da tua alegria e da tua conscincia O i kalunga ua mu bangele! O i kalunga ua mu bangele-l-lele... Lembras-te? Da tristeza daqueles tempos em que amos comprar mangas e lastimar o destino das mulheres da Funda dos nossos cantos de lamento dos nossos desesperos e das nuvens dos nossos olhos Lembras-te? Para aqui estou eu Mussunda amigo A vida a ti a devo mesma dedicao ao mesmo amor com que me salvaste do abrao da jibia tua fora que transforma os destinos dos homens A ti Mussunda amigo a ti devo a vida E escrevo versos que no entendes

compreendes a minha angstia? Para aqui estou eu Mussunda amigo escrevendo versos que tu no entendes No era isto o que ns queramos, bem sei Mas no esprito e na inteligncia ns somos! Ns somos Mussunda amigo Ns somos Inseparveis e caminhando ainda para o nosso sonho No meu caminho e no teu caminho os coraes batem ritmos de noites fogueirentas os ps danam sobre palcos de msticas tropicais Os sons no se apagam dos ouvidos O i kalunga ua mu bangele... Ns somos! (Sagrada esperana)

ContratadosLonga fila de carregadores domina a estrada com os passos rpidos Sobre o dorso levam pesadas cargas Vo olhares longnquos coraes medrosos braos fortes sorrisos profundos como guas profundas Largos meses os separam dos seus e vo cheios de saudades e de receio mas cantam Fatigados esgotados de trabalhos mas cantam Cheios de injustias calados no imo das suas almas e cantam

Com gritos de protesto mergulhados nas lgrimas do corao e cantam L vo perdem-se na distncia na distncia se perdem os seus cantos tristes Ah! eles cantam... (Sagrada esperana)

AspiraoAinda o meu canto dolente e a minha tristeza no Congo, na Gergia, no Amazonas Ainda o meu sonho de batuque em noites de luar ainda os meus braos ainda os meus olhos ainda os meus gritos Ainda o dorso vergastado o corao abandonado a alma entregue f ainda a dvida E sobre os meus os meus os meus sobre o o tempo os meus cantos sonhos olhos gritos meu mundo isolado parado

Ainda o meu esprito ainda o quissange a marimba a viola o saxofone ainda os meus ritmos de ritual orgaco Ainda a minha vida oferecida Vida ainda o meu desejo Ainda o meu sonho o meu grito o meu brao a sustentar o meu Querer E nas sanzalas nas casas no subrbios das cidades para l das linhas nos recantos escuros das casas ricas onde os negros murmuram: ainda

O meu desejo transformado em fora inspirando as conscincias desesperadas. (Sagrada esperana)

Poesia AfricanaL no horizonte o fogo e as silhuetas escuras dos imbondeiros de braos erguidos No ar o cheiro verde das palmeiras queimadas Poesia africana Na estrada a fila de carregadores bailundos gemendo sob o peso da crueira No quarto a mulatinha dos olhos meigos retocando o rosto com rouge e p de arroz A mulher debaixo dos panos fartos remexe as ancas Na cama o homem insone pensando em comprar garfos e facas para comer mesa No cu o reflexo do fogo e as silhuetas dos negros batucando de braos erguidos No ar a melodia quente das marimbas Poesia africana E na estrada os carregadores no quarto a mulatinha na cama o homem insone Os braseiros consumindo consumindo a terra quente dos horizontes em fogo. (No reino de Caliban II - antologia panormica de poesia africana de expresso portuguesa)

Fogo e ritmoSons de grilhetas nas estradas cantos de pssaros sob a verdura mida das florestas frescura na sinfonia adocicada dos coqueirais fogo fogo no capim fogo sobre o quente das chapas do Cayatte. Caminhos largos cheios de gente cheios de gente em xodo de toda a parte

caminhos largos para os horizontes fechados mas caminhos caminhos abertos por cima da impossibilidade dos braos. Fogueiras dana tamtam ritmo Ritmo na luz ritmo na cor ritmo no movimento ritmo nas gretas sangrentas dos ps descalos ritmo nas unhas descarnadas Mas ritmo ritmo. vozes dolorosas de frica! (Sagrada esperana)

Fire and rhythmThe sound of chains on the roads the songs of birds under the humid greenery of the forest freshness in the smooth symphony of the palm trees fire fire on the grass fire on the heat of the Cayatte plains Wide paths full of people full of people an exodus from everywhere wide paths to closed horizons but paths paths open atop the impossibility of arm fire dance tum tum rhythm Rhythm in light rhythm in color rhythm in movement rhythm in the bloody cracks of bare feerhythm on torn nails yet rhythm rhythm Oh painful African voices (Sacred hope)

kinaxixiGostava de estar sentado num banco do kinaxixi s seis horas duma tarde muito quente

e ficar... Algum viria talvez sentar-se sentar-se ao meu lado E veria as faces negras da gente a subir a calada vagarosamente exprimindo ausncia no kimbundu mestio das conversas Veria os passos fatigados dos servos de pais tambm servos buscando aqui amor ali glria alm uma embriagues em cada lcool Nem felicidade nem dio Depois do sol posto acenderiam as luzes e eu iria sem rumo a pensar que a nossa vida simples afinal demasiado simples para quem est cansado e precisa de marchar. (Sagrada esperana)

NoiteEu vivo nos bairros escuros do mundo sem luz nem vida. Vou pelas ruas s apalpadelas encostado aos meus informes sonhos tropeando na escravido ao meu desejo de ser. So bairros de escravos mundos de misria bairros escuros. Onde as vontades se diluram e os homens se confundiram com as coisas. Ando aos trambolhes pelas ruas sem luz desconhecidas pejadas de mstica e terror de brao dado com fantasmas. Tambm a noite escura. (Sagrada esperana)

Nocheyo vivo en los barrios oscuros del mundo sin luz ni vida. voy por las calles a tientas

apoyado en mis informes sueos tropezando con la esclavitud a mi deseo de ser. barrios oscuros mundos de miseria donde las voluntades se diluyeron con las cosas. ando a los tropezones por las calles sin luz desconocidas impregnadas de mstica y terror del brazo con fantasmas. tambin la noche es oscura. (Sagrada esperanza)

ConsciencializaoMedo no ar! Em cada esquina sentinelas vigilantes incendeiam olhares em cada casa se substituem apressadamente os fechos velhos das portas e em cada conscincia fervilha o temor de se ouvir a si mesma A historia est a ser contada de novo Medo no ar! Acontece que eu homem humilde ainda mais humilde na pele negra me regresso frica para mim com os olhos secos. (Sagrada esperana)

Civilizao ocidentalLatas pregadas em paus fixados na terra fazem a casa Os farrapos completam a paisagem ntima O sol atravessando as frestas acorda o seu habitante Depois as doze horas de trabalho

Escravo Britar pedra acarretar pedra britar pedra acarretar pedra ao sol chuva britar pedra acarretar pedra A velhice vem cedo Uma esteira nas noites escuras basta para ele morrer grato e de fome. (Sagrada esperana)

Adeus hora da largadaMinha Me (todas as mes negras cujos filhos partiram) tu me ensinaste a esperar como esperaste nas horas difceis Mas a vida matou em mim essa mstica esperana Eu j no espero sou aquele por quem se espera Sou eu minha Me a esperana somos ns os teus filhos partidos para uma f que alimenta a vida Hoje somos as crianas nuas das sanzalas do mato os garotos sem escola a jogar a bola de trapos nos areais ao meio-dia somos ns mesmos os contratados a queimar vidas nos cafezais os homens negros ignorantes que devem respeitar o homem branco e temer o rico somos os teus filhos dos bairros de pretos alm aonde no chega a luz eltrica os homens bbedos a cair abandonados ao ritmo dum batuque de morte teus filhos com fome com sede com vergonha de te chamarmos Me com medo de atravessar as ruas com medo dos homens ns mesmos

Amanh entoaremos hinos liberdade quando comemorarmos a data da abolio desta escravatura Ns vamos em busca de luz os teus filhos Me (todas as mes negras cujos filhos partiram) Vo em busca de vida. (Sagrada esperana)

Literatura africana:

A identidade e esperana angolana nas poesias de Agostinho NetoPara conhecer a literatura angolana, preciso conhecer a poesia de Agostinho Neto. Nascido em Catete, Angola, em 1922, Agostinho Neto faleceu em 1979. Fez seus estudos primrios e secundrios em Angola. Licenciou-se em Medicina pela Universidade de Lisboa. Sempre esteve ligado atividade poltica em Portugal, onde fundou a revista Momento com Lcio Lara e Orlando de Albuquerque em 1950. Como outros escritores africanos, foi preso e desterrado para Cabo Verde.

"Poeta da hora revolucionria, combatente da luta anticolonial, primeiro presidente da Repblica Popular de Angola, sua obra, ultrapassando os limites da histria literria, confunde-se com a prpria histria recente do pas. Condicionada pelas dificuldades do momento em que foi escrita, tanto a construo, quanto a publicao desta obra se do de forma esparsa e irregular..." ("Agostinho Neto: o lugar da poesia em tempo de luta" de Dalva Maria Calvo Verani in frica & Brasil: Letras em laos. Org. de Maria do Carmo Seplveda e Maria Teresa Salgado. RJ: Ed. Atlntica, 2000)Sua obra potica pode ser encontrada em quatro livros principais, que ainda no tm edies brasileiras: Quatro Poemas de Agostinho Neto (1957), Poemas (1961), Sagrada Esperana (de 1974 que inclui os poemas dos dois primeiros livros) e a obra pstuma A Renncia Impossvel (1982). A poesia de Agostinho Neto uma poesia engajada que apresenta as imagens poticas das vivncias do homem angolano. Mas ele no fala s do passado e do presente, mas tambm da busca, da preparao do futuro.

Amanh entoaremos hinos liberdade quando comemorarmos a data da abolio desta escravatura Ns vamos em busca de luz Os teus filhos Me (todas as mes negras cujos filhos partiram) Vo em busca de vida. ("Adeus hora da largada" do livro Sagrada Esperana)

A poesia de Agostinho Neto fala da necessidade de lutar, de sonhar, de lutar pela independncia. preciso lutar por uma nova Angola, reconquistar a identidade angolana apesar da presena do colonizador.

"A poesia de Neto traz o reconhecimento de que nunca se est s, de que no se pode ignorar a presena do outro, mesmo que o outro reduza suas possibilidades de ser. O outro, nas palavras de Agostinho neto, mistura-se ao Eu-angolano, define-o, mas no lhe rouba as origens. Antropofagicamente, o outro assumido, compondo a imagem autntica do ser angolano contemporneo: ser frica porque, ' calibanescamente', o outro - que historicamente determinou os desvios da cultura originria angolana - se fez presena no corpo de Angola. Ser frica dos caminhos entrecruzados, mas fazer-se frica." ("O Eu e o Outro em Sagrada Esperana" de Marcelo Jos Caetano - Caderno CESPUC de pesquisa PUC - Minas - BH, n.5, abr.1999) Enquanto os poemas de Agostinho Neto no so publicados no Brasil, o Sitedeliteraturatraz para os leitores alguns poemas para que todos possam conhec-lo. Confiram abaixo: Do livro Sagrada Esperana Adeus hora da largada Civilizao ocidental Consciencializao Fogo e ritmo Noite Criar Voz do sangue Valria de Oliveira Alves Agosto/2004

Do livro A renncia impossvel

Voz do sangueAgostinho NetoPalpitam-me os sons do batuque e os ritmos melanclicos do blue negro esfarrapado do Harlem danarino de Chicago negro servidor do South negro de frica negros de todo o mundo eu junto ao vosso canto a minha pobre voz os meus humildes ritmos. Eu vos acompanho pelas emaranhadas fricas do nosso Rumo

Eu vos sinto negros de todo o mundo eu vivo a vossa Dor meus irmos.

Exemplos de Agostinho Neto devero ser seguidos pela juventudeNdalatando - A persistncia de Agostinho Neto em priorizar sempre a formao acadmica, visando a elevao dos seus ideais em prol da luta de libertao de Angola, devero continuar a constituir um exemplo para as crianas e jovens em resposta aos actuais desafios de reconstruo e unidade nacional, segundo o governador do Kwanza Norte, Henrique Andr Jnior. Henrique Jnior defendeu esta posio durante um encontro que manteve hoje com crianas afectas Organizao do Pioneiro Agostinho Neto (OPA), por ocasio do 17 de Setembro, dia do Heri Nacional, e apelou aos jovens a nunca desistirem ante as dificuldades da vida e a priorizarem a formao acadmica como segredo para a contnua auto-superao e investimento para o futuro pessoal e do pas. No seu contacto com os petizes, Henrique Juniores descreveu as vrias etapas que caracterizaram a luta de libertao nacional e os factores que motivaram Agostinho Neto a lutar contra a opresso colonial, bem como os valores e momentos que caracterizaram a resistncia at a conquista da independncia nacional, a 11 de Novembro de 1975. Henrique Jnior destacou a personalidade do primeiro Presidente da Repblica como mdico, humanista, poltico e escritor, que sabendo interpretar os anseios do seu povo decidiu lutar pela independncia de Angola. O governante considerou Agostinho Neto como um promotor da unidade nacional, que aps ascender a presidncia da Repblica considerou Angola uma nao una indivisvel, isenta de descriminaes culturais, tribais ou raciais. O mesmo considerou a morte prematura do primeiro lder da nao angolana, quadro anos aps sua ascenso presidncia (1975-1979), como um acontecimento que mexeu com a nao, mas o governo angolano liderado pelo partido MPLA soube fazer a escolha certa, ao indicar Jos Eduardo dos Santos como novo presidente de Angola, o qual tem sabido corresponder com os anseios do povo, sobretudo no mbito do combate fome e a pobreza. O municpio do Ngonguembo foi a regio do Kwanza Norte escolhida para albergar o acto provincial do dia do Heri Nacional, durante uma actividade marcada pela inaugurao de vrios empreendimentos sociais e realizao de actividades msico-culturais em saudao efemride. O 17 de Setembro celebrado como Dia do Heri Nacional em homenagem ao primeiro Presidente de Angola, Antnio Agostinho Neto, nascido a 17 de Setembro de 1922, na aldeia de Kaxicane, municpio de Icolo e Bengo (provncia do Bengo). Alm de mdico e poltico, Antnio Agostinho Neto destacou-se como um dos maiores poetas da histria da literatura angolana.

Antnio Agostinho Neto (colo e Bengo, 17 de Setembro de 1922 Moscovo, 10 de Setembro de 1979) foi um mdico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa, que em 1975 se tornou o primeiro presidente de Angola at 1979. Em 19751976 foi-lhe atribudo o "Prmio Lenine da Paz". Fez parte da gerao de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independncia dos seus pases naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela PIDE, a polcia poltica do regime Salazarista ento vigente

em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma priso poltica em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residncia em Portugal, de onde fugiu para o exlio. A assumiu a direco do Movimento Popular de Libertao de Angola (MPLA), do qual j era presidente honorrio desde 1962. Em paralelo, desenvolveu uma actividade literria, escrevendo nomeadamente poemas. Agostinho Neto dirigiu a partir de Alger e de Brazzaville as actividades polticas e de guerrilha do MPLA durante a Guerra de Independncia de Angola, 1961 - 1974, e durante o processo de descolonizao, 1974/75, que ops o MPLA a dois outros movimentos nacionalistas, a FNLA e a UNITA Tendo o MPLA sado deste ltimo processo como vencedor, declarou a independncia do pas em 11 de Novembro de 1975, assumindo as funes de Presidente da Repblica, mantendo as de Presidente do MPLA, e estabelecendo um regime monopartidrio, inspirado no modelo ento praticado nos pases do Leste europeu. Durante este perodo, houve graves conflitos internos no MPLA que puseram em causa a liderana de Agostinho Neto. Entre estes, o mais grave consistiu no surgimento, no incio dos anos 1970, de duas tendncias opostas direco do movimento, a "Revolta Activa" constituda no essencial por elementos intelectuais, e a "Revolta do Leste", formada pelas foras de guerrilha localizadas no Leste de Angola; estas divises foram superadas num intrincado processo de discusso e negociao que terminou com a reafirmao da autoridade de Agostinho Neto. J depois da independncia, em 1977, houve um levantamento, visando a sua liderana e a linha ideolgica por ele defendida; este movimento, oficialmente designado como Fraccionismo, foi reprimido de forma sangrenta, por suas ordens. Agostinho Neto, que era casado com a portuguesa Eugnia Neto, morreu num hospital em Moscovo no decorrer de complicaes ocorridas durante uma operao a um cancro heptico de que sofria, poucos dias antes de fazer 57 anos de idade. Foi substitudo na presidncia de Angola e do MPLA por Jos Eduardo dos Santos.

Mausolu de Agostinho Neto em Luanda

[editar] Obra literriaPoesia

1957 Quatro Poemas de Agostinho Neto, Pvoa do Varzim, e.a. 1961 Poemas, Lisboa, Casa dos Estudantes do Imprio 1974 Sagrada Esperana, Lisboa, S da Costa (inclui os poemas dos dois primeiros livros) 1982 A Renncia Impossvel, Luanda, INALD (edio pstuma)

Poltica

1974 - Quem o inimigo qual o nosso objectivo? 1976 - Destruir o velho para construir o novo 1980 - Ainda o meu sonho

[editar] Ver tambm

Iko Carreira, O pensamento poltico de Agostinho Neto, Lisboa: D. Quixote, 1996

[editar] Ligaes externas

Vida e Obras de Agostinho Neto Biogrfica e obra de Agostinho neto Biografia de Agostinho Neto Biografia e poemas de Agostinho Neto