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Captulo II -

Bases Constitucionais da Propriedade Intelectual1 4 5 55 5 8 11 12 13

CAPTULO II

-

BASES CONSTITUCIONAIS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL

SEO [ 1 ] - POR QUE FALAR EM CONSTITUIO? SEO [ 2 ] - NATUREZA CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL [ 2 ] 1 . - A propriedade intelectual nasce da lei[ 2 ] 1. 1. - No h direito natural aos bens intelectuais [ 2 ] 1. 2. - No h um direito humano ao royalty [ 2 ] 1. 3. - Dos impasses e superaes dos direitos humanos dos autores [ 2 ] 1. 4. - A patologia dos direitos humanos [ 2 ] 1.4. (A) Bibliografia referente a direitos humanos e propriedade intelectual [ 2 ] 1. 5. - O bem intelectual semeado em terra de domnio comum

[ 2 ] 2 . - O direito constitucional ao desenvolvimento[ 2 ] 2. 1. - O direito fundamental ao desenvolvimento [ 2 ] 2. 2. - O direito fundamental ao desenvolvimento e a interveno estatal [ 2 ] 2. 3. - Direito ao desenvolvimento como moderao apropriao da criaes [ 2 ] 2. 4. - Bibliografia do direito ao desenvolvimento e Propriedade Intelectual

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[ 2 ] 3 . - A funcionalizao dos direitos[ 2 ] 3.1. (A) Jurisprudncia: funcionalizao [ 2 ] 3. 2. - A importncia capital da funcionalizao para o direito autoral [ 2 ] 3. 3. - Funo social e outras ponderaes de interesses [ 2 ] 3. 4. - Funo social e funo poltica: o tema da nacionalidade e da soberania [ 2 ] 3. 5. - Funo social e funes dos direitos [ 2 ] 3. 6. - Bibliografia sobre funo social da Propriedade Intelectual

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SEO [ 3 ] - AS TENSES ABRIGADAS EM SEDE CONSTITUCIONAL [ 3 ] 1 . - A tenso constitucional concorrencial

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[ 3 ] 1. 1. - A noo deste monoplio no direito constitucional 28 [ 3 ] 1. 2. - Condies de aceitabilidade desse monoplio 29 [ 3 ] 1. 3. - A liberdade constitucional da concorrncia 31 [ 3 ] 1.3. (A) Jurisprudncia Monoplio sem direta autorizao constitucional inconstitucional32 [ 3 ] 1. 4. - A concorrncia na Constituio de 1988 33 [ 3 ] 1. 5. - Jurisprudncia: Liberdade de Concorrncia princpio fundamental 34 [ 3 ] 1. 6. - A Propriedade Intelectual sob o prisma da concorrncia 35 [ 3 ] 1. 7. - Jurisprudncia: todos podem exercer a empresa nas condies legais 35 [ 3 ] 1. 8. - O ponto mximo de tenso constitucional: a restrio concorrncia 35

[ 3 ] 2 . - Alm da concorrncia: outros elementos de tenso constitucional [ 3 ] 3 . - Alm da concorrncia: liberdade de informao e de expresso[ 3 ] 3. 1. - Um direito substantivo de acesso informao [ 3 ] 3.1. (A) A liberdade de expresso e as marcas [ 3 ] 3. 2. - Alm da concorrncia: o investimento estrangeiro

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[ 3 ] 4 . - A noo de propriedade[ 3 ] 4. 1. - Propriedade constitucional e propriedade no direito comum [ 3 ] 4.1. (A) Propriedade constitucional e a regra da desapropriao [ 3 ] 4.1. (B) Bem incorpreo fora da propriedade [ 3 ] 4.1. (C) Quando o bem incorpreo se faz propriedade Efeitos da exclusivao de um bem incorpreo [ 3 ] 4.1. (D) O que propriedade intelectual

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[ 3 ] 5 . - A razoabilidade resolve as tenses[ 3 ] 5. 1. - Como se resolve a tenso entre interesses constitucionais opostos [ 3 ] 5. 2. - Da noo de razoabilidade na doutrina [ 3 ] 5. 3. - Da noo de razoabilidade na jurisprudncia brasileira [ 3 ] 5. 4. - Da aplicao do princpio da razoabilidade Propriedade Intelectual [ 3 ] 5.4. (A) Dos vetores contrastantes no desenho constitucional da Propriedade Intelectual [ 3 ] 5. 5. - Dos limites lei ordinria [ 3 ] 5. 6. - Jurisprudncia: Exerccio de ponderao [ 3 ] 5.6. (A) Ponderao e prevalncia de interesses [ 3 ] 5. 7. - Da razoabilidade na interpretao das leis [ 3 ] 5.7. (A) A interpretao segundo os princpios [ 3 ] 5.7. (B) A interpretao das regras em si mesmas

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[ 3 ] 5.7. (C) Da razoabilidade como limitao legal aos direitos As duas funcionalidades das limitaes legais Limitao e constitucionalidade: o direito de fazer testes clnicos e pesquisas

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SEO [ 4 ] - OS PRINCPIOS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL EM GERAL [ 4 ] 1 . - Princpios genricos aplicveis a todas modalidades de PI [ 4 ] 2 . - Princpio da especificidade de protees[ 4 ] 2. 1. - Um exemplo: a novidade no caso de cultivares [ 4 ] 2. 2. - A cumulao das diferentes exclusivas constitucionais [ 4 ] 2.2. (A) Acumulao aparente se a funo diversa

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[ 4 ] 3 . - Princpio da Inderrogabilidade do Domnio Pblico subsequente[ 4 ] 3. 1. - Domnio pblico como o estado natural das criaes [ 4 ] 3. 2. - Uma vez expirada a proteo: Incondicional, Universal e definitivo [ 4 ] 3. 3. - Jurisprudncia: Inderrogabilidade do Domnio Pblico [ 4 ] 3. 4. - Um princpio geral [ 4 ] 3. 5. - Um possvel exceo: prorrogao autoral em favor s do autor

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[ 4 ] 4 . - Da noo constitucional de novidade[ 4 ] 4. 1. - Formulao do princpio [ 4 ] 4. 2. - Novidade autoral sobre obras expressivas [ 4 ] 4. 3. - Novidade sobre criaes tecnolgicas subsidirias ao regime autoral [ 4 ] 4. 4. - A novidade das patentes de inveno e modelos de utilidade, e dos desenhos industriais [ 4 ] 4. 5. - A novidade dos cultivares [ 4 ] 4. 6. - A novidade nos dados proprietrios [ 4 ] 4. 7. - A novidade nas topografias de semicondutores [ 4 ] 4. 8. - A especificidade dos signos distintivos

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[ 4 ] 5 . - Princpio do contributo mnimo[ 4 ] 5. 1. - A construo explcita do contributo mnimo [ 4 ] 5. 2. - A construo tcita do contributo mnimo

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SEO [ 5 ] - PRINCPIOS APLICVEIS PROPRIEDADE INDUSTRIAL[ 5 ] 1. 1. - Natureza do dispositivo [ 5 ] 1. 2. - A clusula finalstica [ 5 ] 1.2. (A) Clusulas finalsticas em direito estrangeiro e internacional [ 5 ] 1.2. (B) Jurisprudncia: efeito da clusula [ 5 ] 1. 3. - Bibliografia

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SEO [ 6 ] - PRINCPIOS RELATIVOS PROTEO DAS TECNOLOGIAS [ 6 ] 1 . - Patentes[ 6 ] 1. 1. - Uma equao de direito estrito [ 6 ] 1. 2. - Da natureza Constitucional das Patentes [ 6 ] 1. 3. - Exigncia da adequada divulgao do objeto [ 6 ] 1. 4. - Procedimento vinculado das patentes [ 6 ] 1.4. (A) Devido processo legal e procedimento patentrio em geral [ 6 ] 1. 5. - Princpio da autoria [ 6 ] 1.5. (A) Direito moral do autor do invento [ 6 ] 1.5. (B) Direito constitucional a pedir patente [ 6 ] 1. 6. - Princpio da Proteo limitada aos inventos industriais [ 6 ] 1.6. (A) Inventos e descobertas [ 6 ] 1.6. (B) Inventos e outra criaes industriais [ 6 ] 1.6. (C) Industrialidade do objeto Proteo dos mtodos de negcio nos Estados Unidos (1998-2008) [ 6 ] 1.6. (D) Quais tipos de invento so protegidos Jurisprudncia: Pode a Lei Brasileira escolher os campos a serem patenteados O caso dos produtos farmacuticos Produtos farmacuticos: o caso italiano [ 6 ] 1. 7. - Princpio da exclusividade sobre o novo [ 6 ] 1.7. (A) A incompatibilidade com a clusula finalstica [ 6 ] 1.7. (B) A incorporao do princpio na lei ordinria [ 6 ] 1.7. (C) As excees regra da novidade A prioridade sob a perspectiva constitucional Da constitucionalidade da prioridade nacional Perodo de graa sob o prisma constitucional [ 6 ] 1. 8. - O contributo mnimo nas patentes: atividade inventiva A definio do requisito em nossos textos anteriores A construo da sensibilidade para o contributo mnimo A equao de ponderao Devido processo legal e apurao de atividade inventiva [ 6 ] 1. 9. - Princpio da proteo temporria [ 6 ] 1.9. (A) Da formulao do princpio

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[ 6 ] 1. 10. - Proteo por exclusiva [ 6 ] 1. 11. - Um resumo do desenho constitucional das patentes

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[ 6 ] 2 . - Criaes Industriais[ 6 ] 2. 1. - Regime constitucional dos programas de computador [ 6 ] 2. 2. - Outras criaes industriais [ 6 ] 2.2. (A) Registros de desenhos industriais [ 6 ] 2.2. (B) Proteo de cultivares [ 6 ] 2.2. (C) Proteo de topografias de semicondutores [ 6 ] 2.2. (D) Proteo de dados proprietrios

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[ 6 ] 3 . - Os princpios relativos aos signos distintivos[ 6 ] 3. 1. - A noo constitucional de propriedade das marcas [ 6 ] 3. 2. - O direito constitucional ao registro da marca [ 6 ] 3.2. (A) Direito subjetivo constitucional [ 6 ] 3.2. (B) O princpio da especialidade [ 6 ] 3.2. (C) Apropriabilidade das marcas Jurisprudncia Constitucionalidade da novidade marcria [ 6 ] 3. 3. - Vedaes constitucionais ao registro [ 6 ] 3. 4. - Marca como um direito fundado na concorrncia [ 6 ] 3. 5. - Os aspectos no-concorrenciais do desenho constitucional das marcas [ 6 ] 3.5. (A) O direito de uso da lngua como parcela do patrimnio cultural [ 6 ] 3.5. (B) Direitos exclusivos e liberdade de informao [ 6 ] 3. 6. - Resumo da noo constitucional de propriedade das marcas [ 6 ] 3. 7. - Coliso de marcas com outras exclusivas [ 6 ] 3. 8. - Quais so os fins sociais da marca [ 6 ] 3. 9. - Efeitos da clusula finalstica quanto s marcas [ 6 ] 3. 10. - Tenso concorrencial especfica das marcas

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[ 6 ] 4 . - Nomes empresariais [ 6 ] 5 . - A Constituio e outros signos distintivos[ 6 ] 5.1. (A) Indicaes geogrficas

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SEO [ 7 ] - A PROTEO CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS AUTORAIS.[ 7 ] 1. 1. - Seriam naturais os direitos de autor? [ 7 ] 1. 2. - A expresso dos interesses coletivos

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[ 7 ] 2 . - Natureza dos direitos patrimoniais do inciso XVII [ 7 ] 3 . - Natureza dos direitos morais[ 7 ] 3. 1. - possvel direito autoral sem direito moral? [ 7 ] 3. 2. - Quais so os direitos morais? [ 7 ] 3. 3. - Outras consequncias do direito moral [ 7 ] 3.3. (A) A talvez perverso dos direitos morais

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[ 7 ] 4 . - Direitos patrimoniais e uso social da propriedade[ 7 ] 4. 1. - Direitos patrimoniais, livre concorrncia, e liberdade de informao e de expresso

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[ 7 ] 5 . - Dos direitos previstos no inciso XXVIII[ 7 ] 5. 1. - A questo da indstria cultural [ 7 ] 5. 2. - Jurisprudncia: direitos conexos, versus direitos autorais [ 7 ] 5. 3. - Voz e imagem. Direito de Arena. Direitos Conexos.

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[ 7 ] 6 . - A questo jurdica do domnio pblico autoral[ 7 ] 6.1. (A) Direitos exclusivos e liberdade de informao [ 7 ] 6. 2. - Direito subjetivo constitucional ao domnio pblico [ 7 ] 6.2. (A) A instrumentalizao do domnio pblico autoral [ 7 ] 6.2. (B) Prorrogaes autorais O caso Eldred v. Ashcroft [ 7 ] 6.2. (C) Um direito genrico ao domnio pblico [ 7 ] 6. 3. - Domnio pblico e tutela do Estado

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SEO [ 8 ] - O DIREITO CONSTITUCIONAL DA INOVAO[ 8 ] 1. 1. - A matriz constitucional da Inovao [ 8 ] 1. 2. - O art. 218 da Constituio [ 8 ] 1. 3. - A vocao da cincia ao domnio pblico [ 8 ] 1. 4. - A apropriabilidade da tecnologia em favor do sistema produtivo nacional [ 8 ] 1. 5. - Apropriao da Inovao resultante de recursos do Estado e regra de moralidade pblica [ 8 ] 1. 6. - Capacitao de recursos humanos [ 8 ] 1. 7. - Incentivo empresa inovadora [ 8 ] 1. 8. - A situao excepcional do trabalhador inovador [ 8 ] 1. 9. - A autonomia tecnolgica do art. 219 [ 8 ] 1. 10. - Os Arts. 218 e 219 como fundamento de incentivo Inovao

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Seo [ 1 ] - Por que falar em constituio?Technology lawyers, and especially intellectual property lawyers, have discovered the Constitution. They are filing suits to invalidate statutes and interposing constitutional defenses to intellectual property claims at an unprecedented rate.Mark Lemley, Berkeley Technology Law Journal, 2000

No em todo sistema constitucional que a Propriedade Intelectual tem o prestgio de ser incorporado literalmente no texto bsico. Constituios de teor mais poltico no chegam a pormenorizar o estatuto das patentes, do direito autoral e das marcas; nenhuma, aparentemente, alm da brasileira, abre-se para a proteo de outros direitos. Na Constituio Americana, o regramento da Propriedade Intelectual precede em tempo - e em dignidade - mesmo os dispositivos que protegem os direitos fundamentais, introduzidos pelas Emendas. Norma de supremacia federal, a regra de que os autores de criaes intelectuais e tecnolgicas tm direito proteo de suas realizaes tem sido discutido com profundidade e equilbrio faz mais de dois sculos; os subscritores da Constituio e eminentes constitucionalistas dedicam ateno e cuidado elaborao do equilbrio das normas e justeza de sua aplicao. A importncia econmica, tanto interna quanto diplomtica, da propriedade intelectual para os Estados Unidos assegura de outro lado que cada ensinamento do Direito Constitucional Americano seja importante para definir o equilbrio mais sbio, eqitativo e prudente da aplicao da Constituio Brasileira em matria de direitos intelectuais. Pois desse Direito se pode ler como se constri uma Propriedade Intelectual adequada ao povo que a concede sem presso desusada dos parceiros internacionais, e sem ameaas de retaliao. No se pode fugir, assim, de um estudo cotejado e constante entre aquele direito e o nosso; duas Constituies que dignificam a Propriedade Intelectual, onde se realizam as mesmas tenses internas, onde se tutelam o mesmo esprito criador, e se resguarda o mesmo investimento, tm a mesma vocao a do equilbrio e da proteo das gentes. Mas no s a elaborao constitucional americana se presta construo de nosso direito constitucional. A de outras Cortes Constitucionais, em especial a da Alemanha , como se ver, um aporte precioso e inevitvel aos nossos estudos.

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Seo [ 2 ] - Natureza constitucional dos direitos de propriedade intelectual

[ 2 ] 1 . - A propriedade intelectual nasce da lei [ 2 ] 1. 1. - No h direito natural aos bens intelectuais Um dos mais interessantes efeitos da doutrina do market failure evidenciar a natureza primria da interveno do Estado na proteo da Propriedade Intelectual. Deixado liberdade do mercado, o investimento na criao do bem intelectual seria imediatamente dissipado pela liberdade de cpia. As foras livres do mercado fariam com que a competio e os mais aptos nela absorvessem imediatamente as inovaes e as novas obras intelectuais 1. Assim que a interveno necessria restringindo as foras livres da concorrncia e criando restries legais a tais foras. Pois que a criao da Propriedade Intelectual completa e exclusivamente - uma elaborao da lei, que no resulta de qualquer direito imanente, anterior a tal legislao 2:The exclusive right Congress is authorized to secure to authors and inventors owes its existence solely to the acts of Congress securing it [Wheaton v. Peters, 33 U.S. (8 Pet.) 591, 660 (1834)], from which it follows that the rights granted by a patent or copyright are subject to such qualifications and limitations as Congress, in its unhampered consultation of the public interest, sees fit to impose [Wheaton v. Peters, 33 U.S. (8 Pet.) 591, 662 (1834); Evans v. Jordan, 13 U.S. (9 Cr.) 199 (1815)].

Mesmo aps a criao das leis de propriedade intelectual, o que permanece fora do escopo especfico da proteo fica no res communis ominium o domnio comum da humanidade 3. Disse Gama Cerqueira, o mais clssico dos doutrinadores brasileiros em propriedade industrial:As invenes, modelos de utilidade, desenhos e modelos industriais no patenteados no podem ser protegidos com base nos princpios da represso da concorrncia desleal, por pertencerem ao domnio pblico 4.

[ 2 ] 1. 2. - No h um direito humano ao royalty"O pensamento no pode ser objeto de propriedade, como as coisas corpreas. Produto da inteligncia, participa da natureza dela, um atributo da personalidade garantido pela liber-

1 A tese de que h um direito natural cpia pode ser encontrada em Donald F. Turner, The Patent System and Competitive Policy, 44 N.Y.U.L.VER.450 (1969) pginas 457 e 458 e Michael Lehmann, Property and Intellectual Property, 20 IIC I (1989), p. 12. Cabe sempre tambm lembrar Aristteles, Potica, parte IV: First, the instinct of imitation is implanted in man from childhood, one difference between him and other animals being that he is the most imitative of living creatures, and through imitation learns his earliest lessons; and no less universal is the pleasure felt in things imitated. 2 Annotations of Cases Decided by the Supreme Court of the United States prepared by the Congressional Research Service of the Library Of Congress as found in http://caselaw.lp.findlaw.com/data/constitution/article01/39.html. 3 O que faz questionar ao nvel constitucional as teses do parasitismo e da apropriao ilcita, especialmente em matria tecnolgica. 4 Joo da Gama Cerqueira, Tratado de propriedade industrial, v. 2, t. 2, parte 3, p. 379.

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dade da manifestao, direito pessoal. Uma vez manifestado, ele entra na comunho intelectual da humanidade, no suscetvel de apropriao exclusiva.O pensamento no se transfere, comunica-se. . . chamo a ateno da Comisso sobre a necessidade do harmonizar os direitos do autor com a sociedade..." Dom Pedro II (Ata sesses Comiss. Org. Proj. Cd. Civ. - 1889 - Rev. Inst. Hist., vol. 68, l parte, 33).

O nosso segundo Imperador, ao que parece, seria leitor do texto de Thomas Jefferson sobre a questo 5, to intensamente citado pela Suprema Corte dos Estados Unidos, em que analisa exatamente a razo pela qual no pode haver um direito natural aos bens intelectuais. Para ele, a Propriedade Intelectual uma criao exclusivamente do Direito Legislado, no caso pertinente a Clusula Oitava da Constituio Americana:Stable ownership is the gift of social law, and is given late in the progress of society. It would be curious then, if an idea, the fugitive fermentation of an individual brain, could, of natural right, be claimed in exclusive and stable property. If nature has made any one thing less susceptible than all others of exclusive property, it is the action of the thinking power called an idea, which an individual may exclusively possess as long as he keeps it to himself; but the moment it is divulged, it forces itself into the possession of every one, and the receiver cannot dispossess himself of it. Its peculiar character, too, is that no one possesses the less, because every other possesses the whole of it. He who receives an idea from me, receives instruction himself without lessening mine; as he who lights his taper at mine, receives light without darkening me. That ideas should freely spread from one to another over the globe, for the moral and mutual instruction of man, and improvement of his condition, seems to have been peculiarly and benevolently designed by nature, when she made them, like fire, expansible over all space, without lessening their density in any point, and like the air in which we breathe, move, and have our physical being, incapable of confinement or exclusive appropriation. Inventions then cannot, in nature, be a subject of property. Society may give an exclusive right to the profits arising from them, as an encouragement to men to pursue ideas which may produce utility, but this may or may not be done, according to the will and convenience of the society, without claim or complaint from anybody.

O belssimo e surpreendente texto frisa exatamente que o direito de exclusiva aos bens intelectuais dado de acordo com a vontade e convenincia da sociedade, sem pretenso nem demanda de quem quer que seja. um movimento de poltica, e poltica econmica mais do que tudo, e no um reconhecimento de um estatuto fundamental do homem. A essncia do homem que as idias e criaes fluam e voem em suas asas douradas, como Verdi propunha. Tambm no que toca ao direito autoral, como lembra Paul Geller citando Adam Smith, h tanto uma pretenso de poltica econmica quanto de poltica intelectual 6.In the eighteenth century, while developing marketplace theory in general, Adam Smith compared according an author a "monopoly ... of a new book" to granting a monopoly to a company "to establish a new trade with some remote and barbarous nation."( That is, copyrights were needed to encourage the making and marketing of works, since publishing ventures, like colonial expeditions to new lands, could vary from disastrous to profitable. This reasoning also looked to the Enlightenment goal of accelerating the progress of the human mind: as more works were disseminated, they would make more data and ideas more widely known.

5 Carta a Isaac McPherson, 1813, recolhido em Kock, A. & Peden, W. (1972). The Life and Selected Writings of Thomas Jefferson. Modern Library, New York. 6 Paul Edward Geller, Toward An Overriding Norm In Copyright: Sign Wealth, Revue Internationale du Droit d'Auteur (RIDA) (Jan. 1994), no. 159, at p. 3.

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A instituio da propriedade intelectual uma medida de fundo essencialmente econmico. Pois nem toda propriedade privada est sob a tutela dos direitos a garantias fundamentais:O reconhecimento constitucional da propriedade como direito humano liga-se, pois, essencialmente sua funo de proteo pessoal. Da decorre, em estrita lgica, a concluso quase nunca sublinhada em doutrina de que nem toda propriedade privada h de ser considerada direito fundamental e como tal protegida 7. (...) Tirante essas hipteses, claramente definidas na Constituio, preciso verificar, in concreto, se se est ou no diante de uma situao de propriedade considerada como direito humano, pois seria evidente contra-senso que essa qualificao fosse estendida ao domnio de um latifndio improdutivo, ou de uma gleba urbana no utilizada ou subutilizada, em cidades com srios problemas de moradia popular. Da mesma sorte, da mais elementar evidncia que a propriedade do bloco acionrio, com que se exerce o controle de um grupo empresarial, no pode ser includa na categoria dos direitos humanos. Escusa insistir no fato de que os direitos fundamentais protegem a dignidade da pessoa humana e representam a contraposio da justia ao poder, em qualquer de suas espcies. Quando a propriedade no se apresenta, concretamente, como uma garantia da liberdade humana, mas, bem ao contrrio, serve de instrumento ao exerccio de poder sobre outrem, seria rematado absurdo que se lhe reconhecesse o estatuto de direito humano, com todas as garantias inerentes a essa condio (...). 8

Assim tambm entendem eminentes constitucionalistas brasileiros. Jos Afonso da Silva, ao tratar do inciso XXIX do art. 5 propriedade industrial -, assim diz:O dispositivo que a define e assegura est entre os dos direitos individuais, sem razo plausvel para isso, pois evidentemente no tem natureza de direito fundamental do homem. Caberia entre as normas da ordem econmica 9

Manoel Gonalves Ferreira Filho foi da mesma opinio:Certamente esta matria no mereceria ser alada ao nvel de direito fundamental do homem. Trata-se aqui da chamada propriedade imaterial que seria protegida pelo inciso XXIII, referente ao direito de propriedade. Como se viu, propriedade, nos termos do citado inciso XXIII, no abrange apenas o domnio. Compreende todos os bens de valor patrimonial, entre os quais, indubitavelmente, se incluem as marcas de indstria e comrcio ou o nome comercial 10.

No mesmo sentido, Pontes de Miranda 11:O tom, com que se concebeu o 24, e a colocao na Declarao de Direitos so um tanto forados (..)

Na verdade, como diz Daniele Cristina Rossetto quanto questo, 12 trata-se na verdade7 [Nota do original] Um dos poucos autores que acentuam a distino entre a propriedade como direito humano e como direito ordinrio Hans-Jochen Vogel, que foi Ministro da Justia da Repblica Federal Alem. Cf. a sua conferncia pronunciada na Berliner Juristischen Gesellschaft em 20 de novembro de 1975, Kontinuitt und Wandlungen der Eigentumsverfassung. Berlim; New York:De Gruyter, 1976. p. 12. 8 Fbio Konder Comparato, Direitos e deveres fundamentais em matria de propriedade. Revista do Ministrio Pblico do Estado do Rio de Janeiro, no. 7, p. 73-88, 1998. 9 Curso de Direito Constitucional Positivo., pp. 245/46. 10 Comentrios Constituio, v.1, p.51.

11 Pontes de Miranda, Comentrios Constituio de 1967 - Tomo V (arts.150, 2-156), Revista dos Tribunais, 1969. 12 ROSSETTO, Daniele Cristina, Anlise da propriedade intelectual como direito (no) fundamental na Constituio Brasileira, Dissertao de Mestrado em DIreito, UNIVALI, 2006, encontrada em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp042786.pdf, visitada em 22/1/2009.

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de um direito (no) fundamental. Provavelmente haveria alguma razo para listar entre os direitos fundamentais o estrato moral dos direitos autorais e de propriedade industrial (por exemplo, entre estes ltimos direitos, o de ser reconhecido como inventor). J mencionamos, acima, o disposto no art. 27 da Declarao Universal dos Direitos do Homem, a que caberia adicionar tambm o art. 17. Cabe aqui, por pertinente, suscitar a deciso da Corte Constitucional da Colmbia j mencionada:De todo lo anterior se puede concluir que, conforme a la jurisprudencia constitucional: Los derechos morales de autor son fundamentales Los derechos patrimoniales de autor, aun cuando no son fundamentales, gozan de proteccin constitucional. Sentencia C-053/01,

Quanto ao aspecto patrimonial de tais direitos, ou se adota a posio de Manoel Gonalves Ferreira Filho e Jos Afonso da Silva, logo acima, ou se segue a posio menos radical de que os dispositivos sobre Propriedade Intelectual da Constituio, ainda que de natureza patrimonial, se acham corretamente vinculados ao art. 5o., mas integralmente submetidos s limitaes das propriedades em geral especialmente a do uso social alm das limitaes tpicas dos bens imateriais. [ 2 ] 1. 3. - Dos impasses e superaes dos direitos humanos dos autores Mencionados os direitos fundamentais, cabe agora ponderar sobre e existncia de direitos humanos Propriedade Intelectual 13. No tocante aos direitos do autor e inclusive do inventor 14, o discurso da Revoluo Francesa identificou a relao jurdica entre originador e criao como de propriedade. Propriedade original, primitiva, anterior lei 15, muito embora, paradoxalmente, at a lei revolucionria, no houvesse proteo de exclusiva. Outra fonte desse reconhecimento, mas igualmente transcendendo sua consagrao nos textos legais nacionais, se encontra na Declarao Universal dos Direitos do Homem de 1948, mas com uma articulao mais complexa: de um direito humano tanto do originador, quanto da sociedade como um todo 16:

13 Direitos humanos seriam aqueles positivados na esfera internacional, enquanto que direitos fundamentais so os reconhecidos ou outorgados e protegidos pelo direito constitucional interno de cada Estado, cf. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficcia dos direitos fundamentais. 2.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 35 14 Lei de 7 de janeiro de 1791: "Toute dcouverte ou nouvelle invention, dans tous les genres de l'industrie est la proprit de son auteur; en consquence, la loi lui en garanti la pleine et entire jouissance, suivant le mode et pour le temps qui seront ci-aprs dtermin". 15 O relator do projeto da Lei de 7 de janeiro de 1791 (Chevalier De Boufflers) assim descreveu essa "propriedade":"S'il existe pour un homme une vritable proprit, c'est sa pense ; celle-l parat du moins hors d'atteinte, elle est personnelle, elle est indpendante, elle est antrieure toutes les transactions; et l'arbre qui nat dans un champ n'appartient pas aussi incontestablement au matre de ce champ, que l'ide qui vient dans l'esprit d'un homme n'appartient son auteur. L'invention qui est la source des arts, est encore celle de la proprit ; elle est la proprit primitive, toutes les autres sont des conventions." 16 LOPES, Ana Maria Dvila. Os direitos fundamentais como limites ao poder de legislar. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2001. p. 55-56. Para Bobbio, a Declarao Universal de 1948 se constitui num sistema

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Artigo 27 Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso cientfico e nos benefcios que deste resultam. Todos tm direito proteo dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produo cientfica, literria ou artstica da sua autoria.

Como nota Afonso Rocha, citando Peter Yu 17, um dado histrico curioso que, originalmente, a Declarao apenas contivesse o direito de acesso:Nesse ponto, constata-se que o artigo 27 no foge da tenso e contraponto bsico que permeiam os direitos de propriedade intelectual, o perfil duplo de tais direitos pblico e privado. Faz-se necessria proteo dos interesses individuais, porm como forma de benefcio da sociedade como um todo. Se a primeira parte do artigo fosse promulgada sozinha, poderia ser interpretada como uma simples proclamao da possibilidade de participao cultural, porm o segundo item confirma que o escopo do artigo garantir que a proteo do indivduo no se torne tal que viabilize o acesso dos demais cultura e ao desenvolvimento humano. Os itens no devem inviabilizar-se mutuamente, pelo que necessria a harmonizao dos mesmos. Essa busca constante de um equilbrio entre a funo social e a proteo dos interesses individuais torna-se ainda mais marcante com a observao da histria da redao da clusula. Nas compilaes iniciais das clusulas discutidas pelas comisses responsveis dela declarao, a clusula somente inclua a primeira parte do artigo 27. Essa liberdade de participao ganhou especial nfase com a manifestao do representante peruano Jos Encinas, ao indicar que um direito limitado apenas participao no suficiente. Deveria a declarao enfatizar a liberdade que o pensamento criativo deve possuir, livre de presses negativas to freqentes no contexto histrico de ento. Dessa forma, a incluso da expresso livremente foi inserida com ampla aprovao 18.

Disposio similar consta do Pacto Internacional de Direitos Econmicos Sociais e Culturais de 1976 19. Tal dupla vinculao pessoa do originador e sociedade temde valores cujo fundamento o consenso geral acerca da sua validade. Os direitos do homem so, segundo o mestre italiano, condies para a realizao de valores ltimos, contudo, no so direitos. Apesar disso, em razo da enorme influncia que as declaraes tiveram na constitucionalizao dos direitos do homem, sendo, em alguns casos, quase que diretamente incorporadas no ordenamento jurdico de muitos pases, impossvel negar-lhes importncia jurdica. Dessa forma, a Declarao Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Assemblia Geral das Naes Unidas em 10 de dezembro de 1948, no possui carter coercitivo, sendo caracterizada como costume internacional. Mesmo assim, como aponta Euglio Luis Mller, a Carta da ONU, embora no contivesse normas concretas tendentes a proteger direitos fundamentais em casos especficos, teve o seu mrito por ter lanado os fundamentos de futura legislao internacional sobre a matria. "a maior parte das Constituies do segundo ps-guerra se inspiraram tanto na Declarao Universal de 1948, quanto em diversos documentos internacionais e regionais que a sucederam, de tal sorte que no que diz respeito ao contedo das declaraes internacionais e dos textos constitucionais est ocorrendo um processo de aproximao e harmonizao, rumo ao que j est sendo denominado (e no exclusivamente embora principalmente , no campo dos direitos humanos e fundamentais) de um direito constitucional internacional". 17 Quanto histria especfica deste dispositivo, vide YU, Peter K. Reconceptualizing Intellectual Property Interests in a Human Rights Framework. In: UC Davis Law Review Symposium Intellectual Property & Social Justice. Vol. 40. p. 1039-1149. 2006. p. 1052. 18 ROCHA, Afonso de Paula Pinheiro, Propriedade Intelectual E Suas Implicaes Constitucionais, Dissertao apresentada ao Curso de Ps-Graduao em Direito, da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Cear (UFC/CE), como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Direito, 2008 19 International Covenant on Economic, Social and Cultural Rights, 3 January 1976, Art. 15.1. Os EstadosPartes no presente Pacto reconhecem a cada indivduo o direito de: a) Participar da vida cultural; b) Desfrutar o progresso cientfico e suas aplicaes; c) Beneficiar-se da proteo dos interesses morais e materiais decorrentes de toda a produo cientfica, literria ou artstica de que seja autor. 2. As medidas que os Estados-Partes no presente Pacto

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moderado o impacto essencialmente privatista e egostica do entendimento da propriedade do autor 20. fundamental ou humano tanto o direito do originador, quanto o da sociedade em ter acesso ao resultado da produo intelectual. Qual desses interesses prepondera? H quem enfatize a prevalncia dos interesses gerais da sociedade, mesmo considerando a indivisibilidade e universalidade e interdependncia dos direitos humanos entre si 21. No obstante, subsiste um discurso principista, que recupera a viso poltica da tradio de 1789 pela atribuio incondicional de propriedade ao originador 22 e mesmo desfigura qualquer interesse da sociedade no acesso criao intelectual 23. Vale notar que a relao de direitos humanos ou fundamentais existentes em face pessoa que origina a obra se fulcra no bem incorpreo, ele mesmo, sem que se limite tal proteo ao bem j dotado de exclusividade. Ningum menos protegido pelos direitos humanos ou fundamentais pelo fato de, tendo criado, ainda no depositou pedido de patente. Fato , no entanto, que no se pode sob nenhuma lgica identificar a proteo dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produo cientfica, literria ou artstica da sua autoria com os direitos de exclusiva da Propriedade Intelectual 24.

devero adotar com a finalidade de assegurar o pleno exerccio desse direito incluiro aquelas necessrias conservao, ao desenvolvimento e difuso da cincia e da cultura. 3. Os Estados-Partes no presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade indispensvel pesquisa e atividade criadora. 4. Os Estados-Partes no presente Pacto reconhecem os benefcios que derivam do fomento e do desenvolvimento da cooperao e das relaes internacionais no domnio da cincia e da cultura.. O Pacto entrou em vigor no Brasil em 24 de fevereiro de 1992 (Decreto n 591, de 6 de julho de 1992).. 20 As a result, commentators working in this field have used these articles as a basis to increase pressure on states and the international community to foster a less property based approach to IP, one with more of a balance of private and public interests. Notable commentary has further argued that the human rights arising on this basis in respect of IP should in any event be limited to actual authors rather than corporations, focussing on an individualist approach to authorship. Abbe E. L. Brown, Socially responsible intellectual property: a solution?, Script-Ed, Volume 2, Issue4, December 2005, http://www.law.ed.ac.uk/ahrc/script-ed/vol2-4/csr.pdf 21 The right of access to knowledge, however, seems to have as its real essence being a measure for other human rights. It seems to be a background right of background rights; an instrumental background right, a right to have rights a right of urgent respect, protection and fulfillment, for whom the enforcement hinge calls the world to strive unremittingly to promote it in a universal, ubiquitous, equitable and affordable fashion so material, so essential that it shall make part of any updated survey of legal creatures. Marcelo Thompson Mello Guimares, Property Enforcement or Retrogressive Measure? Copyright Reform in Canada and the Human Right of Access to Knowledge, www.egovbarriers.org/downloads/deliverables/casestudy/Case_study_report.pdf 22 Alexandre Zollinger,Droits dauteur et droits de I Homme. Frana:LGDJ, 2008, P. 409,411. 1131. "D'une part, le droit de exclusif de lauteur se cretion revt indubitablement la qualit de droit de I'Homme. Cette appropriation originaire des fruits de la cration rpond en effet, au del de toute proccupation utilitaire, de nombreuses considrations de justice". 23 Alexandre Zollinger, op. cit. .1128 - "Tout d'abord, les droits du public la culture et L'information sont actuellement invoqus avec force pour contester la lgitimit du droit d'auteur ou en limiter la porte. Le droit ne peut certes rester fig, pos une fois pour toutes par un lgislateur infaillible. Les droits de I'Homme amnent ncessairement renvisager la pertinence du droit positif. Toutefois, il ne faut occulter dans ce dbat deux lments essentiels: la lgitimit du droit de l'auteur et le caractre imprcis, indfini, et donc ambigu des droits du public qui lui sont opposs. Toute rflexion sereine et efficace sur leur conciliation avec le droit d'auteur exige pralablement que leur objet et leur porte soient dtermins plus avant24

Porisso, infundada a preocupao de Rochelle Cooper Dreyfuss, Patents and Human Rights: Where is the Paradox?" NYU, Law and Economics Research Paper No. 06-38, NYU Law School, Public Law Research Paper No. 06-29, encontrada em http://ssrn.com/abstract=929498, de que houvesse uma oposio entre os direitos humanos e o sistema de patentes. A patente apenas uma forma de realizar os direitos humanos, tanto o de garantir os frutos materiais do autor, quanto o de garantir acesso da criao sociedade. No se ope a razo utilitria e a razo dos direitos do humanos, nem a razo utilitria especfica das patentes satisfaz plenamente o pressuposto dos direitos humanos.

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Como j vimos (Cap. I [4]1. 3.), inmeras foram e so as formas de garantir tais interesses, seja historicamente, seja no momento presente. O autor tem seus interesses protegidos tambm por um estipndio pblico as tenas que Cames auferia antes de qualquer direito autoral 25-, pelo subsdio da atual Lei Rouannet, pelo salrio de jornalista, pelo prmio Nobel. Mais ainda, h campos da produo intelectual que claramente no encontram estmulo na concesso de direitos de exclusiva 26 Alis, o contedo dos bens imateriais relativos s criaes intelectuais muito desigual, em suas vrias formas, e nem todas se colocam sob o plio da dignidade humana. Lembra Jos de Oliveira Ascenso 27:A dvida surge logo quando consideramos que o Direito Autoral um ramo do Direito muito recente, relativamente: entrar agora no seu terceiro sculo. Onde ento a fatalidade da atribuio de direitos exclusivos por referncia criao intelectual? A dignidade intelectual do ato criao ainda poderia encontrar um paralelo na interpretao do artista, cuja prestao altamente personalizada. No tem j, porm qualquer aplicabilidade s prestaes puramente empresariais do produtor de fonogramas e dos organismos de radiodifuso, que so tambm objeto de direitos conexos. A justificao pela dignidade do contributo intelectual s poderia assim ser, no mximo, uma justificao sectorial. Mas mesmo limitada, a justificao no convincente. Desde logo, a dignidade da criao existiu sempre, sem existir direito de autor; nada tem que ver com a emergncia da sociedade tecnolgica. No h, no ponto de vista intelectual, nada to nobre como a criao no domnio das idias. As concepes dos grandes filsofos da Grcia antiga, na sua perene modernidade, enchem-nos de assombro. Mas as idias so livres. O criador no tem nenhum exclusivo. Qualquer um as utiliza livremente. So patrimnio comum da humanidade. Ou ento, apelemos s figuras geniais de cientistas. Einstein, Max Planck, fazem descobertas revolucionrias. Mas as descobertas no recebem nenhuma proteo. S a aplicao prtica destas, que conduzam resoluo dum problema tcnico, objeto de patente.

[ 2 ] 1. 4. - A patologia dos direitos humanos Numa curiosa utilizao da retrica dos direitos humanos, a Corte Europia de Direitos Humanos passou a ser um ator importante na construo constitucional do nosso captulo do direito 28. Curiosamente, a jurisprudncia daquela corte aplicando a norma da

25 "Irs ao Pao. Irs pedir que a tena/Seja paga na data combinada", Sophia de Mello Breyner Andresen, Grades: Lisboa, Pub. Dom Quixote, 1970] 26 James Love,SciDev.Net, Science and Development Network, Wednesday, 26 March 2008. Prizes, not prices, to stimulate antibiotic R&D: "For an incentive system that efficiently rewards products that improve healthcare outcomes, and does not lead to rationing and ethical dilemmas over access, it is better to use prizes rather than prices.In theory, prizes can dominate prices in every important policy area when implemented as part of a scheme that separates the market for innovation from the market for products. The World Health Assembly recognised the importance of this concept in May 2007 when it urged the WHO director-general to encourage the development of new incentive mechanisms that address "the linkage of the cost of research and development and the price of medicines. 27 Jos de Oliveira Ascenso, Fundamento do Direito Autoral Como Direito Exclusivo, manuscrito, 2007.

28 Helfer, Laurence R.,The New Innovation Frontier? Intellectual Property and the European Court of Human Rights. Harvard International Law Journal, Vol. 49, p.1, 2008In Europe, human rights law is intellectual propertys new frontier. This statement will no doubt surprise many observers of the regions intellectual property system, which has steadily expanded over the last few decades. The mechanisms of that expansion have included a litany of now

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Conveno Europia que confere direitos humanos s pessoas jurdicas 29 tem se dedicado a tutelar interesses das grandes multinacionais em detrimento dos valores da sade e da dignidade humana. Assim que a Corte reconheceu o direito humano de uma cervejaria obter marca, com base num pedido de registro em Portugal 30. O mesmo tribunal reconheceu que uma multinacional farmacutica tem um direito humano contra a concesso, pelo Estado Holands, de uma licena compulsria de medicamentos 31. No que toca, no entanto, ao reconhecimento de direitos dos autores, pessoas fsicas, ao proveito econmico de suas obras, a mesma Corte tem-se mostrado extremamente menos favorvel 32

[ 2 ] 1.4. (A) intelectual

Bibliografia referente a direitos humanos e propriedade

GEIGER, Christopher, Constitutionalising" Intellectual Property Law? The Influence of Fundamental Rights on Intellectual Property in the European Union IIC 2006 Heft 4, p. 371. GEIGER, Christopher, Fundamental Rights, a Safeguard for the Coherence of Intellectual Property Law? IIC 2004 Heft 3, p.268; GRAU-KUNTZ, Karin, Dignidade Humana e Direito de Patentes: sobre o Problema do Acesso a Medicamentos, in Propriedade Intelectual - Estudos em Homenagem Professora Maristela Basso -, Juru Editora, 2005. GUIMARES, Marcelo Thompson Mello, Property Enforcement or Retrogressive Measure? Copyright Reform in Canada and the Human Right of Access to Knowledge.Dissertao, Universidade de Ottawa, 2006.familiar legal and regulatory toolsthe negotiation and ratification of multilateral agreements, the promulgation of European Community (EC) directives, the rulings of the powerful European Court of Justice, and the revision of national laws and administrative regulations.The result of these cumulative and interrelated initiatives is the worlds most highly developed intellectual property system, a regime comprised of legal rules that are substantively harmonized, procedurally streamlined, and strongly protective of creators, innovators, and businesses. 29 Protocols 1. Enforcement of certain Rights and Freedoms not included in Section I of the Convention Article 1 Every natural or legal person is entitled to the peaceful enjoyment of his possessions. No one shall be deprived of his possessions except in the public interest and subject to the conditions provided for by law and by the general principles of international law. 30 Helfer, Laurence R., op. cit: Anheuser-Busch, Inc. v. Portugal - Specifically, the majority held that the European Conventions right to property applies to trademark applications as well as to registered marks.To reach this result, the Grand Chamber reviewed the bundle of financial rights and interests that arise upon an application to register a mark. These rights and interests enable applicants to enter into transactions (such as assignments or licensing agreements) that may have substantial financial value. The majority categorically rejected Portugals claim that these transactions have only negligible or symbolic value, citing the numerous rights that domestic law grants to trademark applicants. The economic value of trademark applications was especially likely in the case of AnheuserBuschs Budweiser mark, which the ECHR recognized as enjoying international renown. Anheuser-Busch, Inc. v. Portugal The Courts judgment does not expressly delineate the relationship between the two factors. But its analysis strongly suggests that the domestic legal recognition of these exclusive rights creates a presumption of economic value, even if the applicant did not itself assign, license or otherwise derive financial benefit from the application. Thus, to the extent that patent, industrial design and similar laws confer such rights upon applications to register, those applications will fall within Article 1s ambit.. 31 Helfer, Laurence R., op. cit: "Smith Kline & French Laboratories Ltd. v. the Netherlands, the Commission considered whether a compulsory license issued by the Dutch Patent Office amounted to an interference. The state argued that such licenses were not interferences because patents are granted subject to the provisions of the Patent Act, which expressly limit the scope of the patent owners rights by providing for the grant of compulsory licenses . . . . The Commission disagreed. It reasoned that a patent initially confers on its owner the sole right of exploitation. The subsequent grant of rights to others under the patent is not an inevitable or automatic consequence. The Patent Offices decision to grant a compulsory license thus constituted a control of the use of property. 32 Por exemplo, nos casos Dima v. Romania, Melnychuk v. Ukraine.

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HELFER, Laurence R., The New Innovation Frontier? Intellectual Property and the European Court of Human Rights. Harvard International Law Journal, Vol. 49, p.1, 2008; Vanderbilt Public Law Research Paper No. 07-05; Vanderbilt Law and Economics Research Paper No. 07-05. Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=976485 MLLER, Euglio Luis. Direito de autor: um direito humano? Estudos Jurdicos, So Leopoldo, RS, v. 38, n. 1, p. 8-13, jan./abr. 2005. PRONER, Carol, Propriedade Intelectual Direitos Humanos: sistema internacional de patentes e direito ao desenvolvimento. Porto Alegre: Sergio Antonio Frabris, 2008 RAMOS , Carolina Tinoco, Direitos Autorais so Direitos Fundamentais?, manuscrito, 2008 TORREMANS, Paul L.C., Copyright a Human Right?, 2007 Mich. St. L. Rev. 271 (Spring 2007), http://tarlton.law.utexas.edu/copyright/Torremans_Human_01-28-08.pdf, YU, Peter K., "Reconceptualizing Intellectual Property Interests in a Human Rights Framework". UC Davis Law Review, Vol. 40, 2007 Available at SSRN:http://ssrn.com/abstract=927335, ZOLLINGER, Alexandre, Droits dauteur et droits de L'Homme. Frana:LGDJ, 2008

[ 2 ] 1. 5. - O bem intelectual semeado em terra de domnio comum O outro impressionante argumento de Thomas Jefferson quanto inexistncia de um direito natural egostico e exclusivo s criaes intelectuais de que o elemento de partida da criao intelectual sempre o repositrio precedente, cultural e tcnico, da humanidade. Seria assim uma apropriao inadequada do domnio comum considerar como exclusivo o que j era de todos. Vale aqui lembrar o que dizia Lydia Loren sobre a teoria do market failure:However, because any work inevitably builds on previous works, some to a greater extent than others, providing too large a monopoly will actually hinder the development of new works by limiting future creators use of earlier works. Herein lies the fundamental tension in copyright law. 33.

Nossos constitucionalistas clssicos repetem o tema:o direito do inventor no rigorosamente uma propriedade ou uma propriedade sui generis. O invento e antes uma combinao do que verdadeiramente criao. Versa sobre elementos preexistentes, que fazem desse repositrio de idias e conhecimentos que o tempo e o progresso das naes tm acumulado e que no so suscetveis de serem apropriados com o uso exclusivo por quem quer que seja, constituindo antes um patrimnio comum, de que todos se podem utilizar 34.

33 Lydia Pallas Loren, Redefining the Market Failure Approach to Fair Use in an Era of Copyright Permission Systems, the Journal of Intellectual Property Law, Volume 5 Fall 1997, No. 1 34 Joo Barbalho, Comentrios Constituio Federal Brasileira, Rio, 1902, p. 331-332, 2 coluna, in fine e p. seguintes

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[ 2 ] 2 . - O direito constitucional ao desenvolvimento O outro elemento dos direitos fundamentais que elemento central da construo da Propriedade Intelectual o Direito ao desenvolvimento direito de terceira gerao 35 especificamente citado tanto no contexto da propriedade industrial, quanto na regulao da cincia e da tecnologia. [ 2 ] 2. 1. - O direito fundamental ao desenvolvimento Em primeiro lugar, a Constituio diz que encargo do Estado Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios a promoo e o incentivo do desenvolvimento cientfico pesquisa e capacitao tecnolgica. As constituies anteriores falavam basicamente sobre a liberdade da cincia e sobre o dever do Estado em apoiar a pesquisa. Esse texto fala muito mais sobre como se exerce esse dever do Estado, mas curiosamente no se fala mais sobre a liberdade de pesquisa. O texto constitucional distingue, claramente, os propsitos do desenvolvimento cientfico, de um lado, e os da pesquisa e capacitao tecnolgica. Essa modalidade de desenvolvimento particulariza o principio fundacional do desenvolvimento:"Art. 3. Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: (...) II garantir o desenvolvimento nacional;"

Esse dever se cinge no contexto do chamado direito constitucional ao desenvolvimento, como indica Guilherme Amorim Campos da Silva 36:O direito ao desenvolvimento nacional impe-se como norma jurdica constitucional, de carter fundamental, provida de eficcia imediata e impositiva sobre todos os poderes da Unio que, nesta direo, no podem se furtar a agirem, dentro de suas respectivas esferas de competncia, na direo da implementao de aes e medidas, de ordem poltica, jurdica ou irradiadora, que almejem a consecuo daquele objetivo fundamental.

Seria tal direito um daqueles fundamentais de terceira gerao 37, consagrado inclusive em esfera internacional como um dos direitos humanos 38

35 Valerio de Oliveira Mazzuoli, Os Tratados Internacionais de Proteo dos Direitos Humanos e Sua Incorporao No Ordenamento Brasileiro, Revista Forense - Vol. 357 Suplemento, Pg. 603: "Um dos que propuseram esta frmula 'geracional' foi T. H. MARSHALL. Nos termos de sua clssica anlise sobre a afirmao histrica da cidadania, primeiro foram definidos os direitos civis no sculo XVIII, depois os direitos polticos no sculo XIX e, por ltimo, os direitos sociais no sculo XX. E, o roteiro feito por MARSHALL, mostrou que em pases capitalistas avanados, a soma do Estado com as lutas sociais que resulta na chamada 'cidadania' (cf. Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967, pp. 63-64).PAULO BONAVIDES tambm comunga desta idia geracional de direitos, mas com alguma variao. Para ele, primeiro surgiram os direitos civis e polticos (primeira gerao); depois os direitos sociais, econmicos e culturais (segunda gerao); posteriormente, o direito ao desenvolvimento, paz, ao meioambiente, comunicao e ao patrimnio comum da humanidade (terceira gerao); e, por ltimo (o que chamou de direitos de quarta gerao) os direitos que compreendem o futuro da cidadania e o porvir da liberdade de todos os povos (cf. seu Curso de direito constitucional, 10. ed. So Paulo: Malheiros Editores, 2000, pp. 516-525)". 36 Guilherme Amorim Campos da Silva, Direito Fundamental ao Desenvolvimento Econmico Nacional, So Paulo: Mtodo, 2004, p.67. O Direito ao desenvolvimento, em sua face internacional, sujeito a srios questionamentos. 37 Valerio de Oliveira Mazzuoli, Os Tratados Internacionais de Proteo dos Direitos Humanos e Sua Incorporao No Ordenamento Brasileiro, Revista Forense Vol. 357 Suplemento, Pg. 603: Um dos que propuseram esta frmula 'geracional' foi T. H. MARSHALL. Nos termos de sua clssica anlise sobre a afirmao histrica da cidadania, primeiro foram definidos os direitos civis no sculo XVIII, depois os direitos polticos no sculo XIX e, por ltimo, os direitos sociais no sculo XX. E, o roteiro feito por MARSHALL, mostrou que em pases capitalistas avanados, a soma do Estado com as lutas sociais que resulta na chamada 'cidadania' (cf. Cidadania, Classe Social e

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Ento, o texto constitucional distingue os propsitos do desenvolvimento cientfico, de um lado, e da pesquisa e capacitao tecnolgica, de outro. Essa modalidade de desenvolvimento 39, cientfico e tecnolgico, particulariza princpio bsico, elementar, constitutivo da Repblica, que diz que a Repblica tem como objetivo garantir o desenvolvimento nacional (art. 3., III, da Constituio de 1988). No entanto, esse tema o dos interesses do desenvolvimento em face da propriedade intelectual e da inovao um dos mais espinhosos no tocante definio do que seria desenvolvimento: simples crescimento econmico, ou efetiva maturao dos beneficirios desse direito humano como uma liberdade? Na esfera internacional, a questo momentosa 40. J no mbito do direito constitucional brasileiro, parece mais pacfico o entendimento:Adiante-se que a Constituio oferece, de imediato, alguns indicadores, que se podem considerar como elementos legitimadores, prima facie, de certas posturas pblicas no mbito das pesquisas cientficas e tecnolgicas; cite-se, nessa linha, o direito ao desenvolvimento

Status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967, pp. 63-64). PAULO BONAVIDES tambm comunga desta idia geracional de direitos, mas com alguma variao. Para ele, primeiro surgiram os direitos civis e polticos (primeira gerao); depois os direitos sociais, econmicos e culturais (segunda gerao); posteriormente, o direito ao desenvolvimento, paz, ao meio-ambiente, comunicao e ao patrimnio comum da humanidade (terceira gerao); e, por ltimo (o que chamou de direitos de quarta gerao) os direitos que compreendem o futuro da cidadania e o porvir da liberdade de todos os povos (cf. seu Curso de direito constitucional, 10. ed. So Paulo: Malheiros Editores, 2000, pp. 516-525). 38 Declarao e o Programa de Ao de Viena de 1993: 10. A Conferncia Mundial sobre Direitos Humanos reafirma o direito ao desenvolvimento, previsto na Declarao sobre Direito ao Desenvolvimento, como um direito universal e inalienvel e parte integral dos direitos humanos fundamentais. Como afirma a Declarao sobre o Direito ao Desenvolvimento, a pessoa humana o sujeito central do desenvolvimento. Embora o desenvolvimento facilite a realizao de todos os direitos humanos, a falta de desenvolvimento no poder ser invocada como justificativa para se limitar os direitos humanos internacionalmente reconhecidos. Os Estados devem cooperar uns com os outros para garantir o desenvolvimento e eliminar obstculos ao mesmo. A comunidade internacional deve promover uma cooperao internacional eficaz visando realizao do direito ao desenvolvimento e eliminao de obstculos ao desenvolvimento. O progresso duradouro necessrio realizao do direito ao desenvolvimento exige polticas eficazes de desenvolvimento em nvel nacional, bem como relaes econmicas eqitativas e um ambiente econmico favorvel em nvel internacional. No obstante a impressionante declarao, algumas consideraes merecem ser aqui suscitadas. O princpio de justia distributiva (sui cuique tribuere), reconhecido como prprio s sociedades em face a seus membros, seria extensivo s relaes entre as sociedades? No o que entende Rawls in The Law of Peoples: no tm as sociedades um direito justia distributiva, como teriam, no interior delas, seus membros; mas as sociedades liberais ou decentes tm um dever, limitado sem dvida, de assistncia s menos favorecidas. Adeus, assim, ao direito ao desenvolvimento. 39 A noo de desenvolvimento, que decorre do art. 3, III da Carta de 1988, supe dinmicas de mutaes e importa em que se esteja a realizar, na sociedade por ela abrangida, um processo de mobilidade social contnuo e intermitente. O processo de desenvolvimento deve levar a um salto, de uma estrutura social para outra, acompanhado da elevao do nvel econmico e do nvel cultural-intelectual comunitrio. Da porque, importando a consumao de mudanas de ordem no apenas quantitativa, mas tambm qualitativa, no pode o desenvolvimento ser confundido com a idia de crescimento. Este, meramente quantitativo, compreende uma parcela da noo de desenvolvimento. (GRAU, Eros Roberto. A ordem econmica na Constituio de 1988. 4. ed. So Paulo: Malheiros, 1998. p. 238-239). 40 Denis Borges Barbosa, Margaret Chon and Andrs Moncayo von Hase, Slouching Towards Development In International Intellectual Property, artigo a ser publicado na Michigan State Law Review, em 2007: The development as freedom model figures prominently in the United Nations Millennium Development Goals (UNMDG). The United Nations Development Programme (UNDP) has propounded the model of development as freedom since 1991. The human development index (HDI) approach, as opposed to the gross domestic product (GDP) approach, emphasizes the distribution of human capability opportunities in measuring development. It includes not only the growth measure of per capita GDP, but also literacy and health measures. It is now widely used as a development metric by other international agencies. By contrast, international intellectual property law institutions such as the WIPO and WTO unreflectively rely on a development as growth model. This approach, which is often shared by policymakers from developed countries with well-entrenched intellectual property industries, tends to view the goal of international intellectual property as encouraging economic growth, increasing trade liberalization, promoting foreign direct investment and ultimately enhancing innovation through technology transfer.

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nacional, presente no art. 3, II, da CB, e o direito erradicao da pobreza e reduo das desigualdades sociais, arrolados no art. 3, III, da CB 41.

[ 2 ] 2. 2. - O direito fundamental ao desenvolvimento e a interveno estatal Aparentemente, a acelerao do processo de desenvolvimento (em particular, o incentivo inovao) no prescinde mais da ao dos entes pblicos, mesmo em economias de mercado42. Hoje em dia, sem esta ao coordenando esforos, investindo, estimulando o desenvolvimento industrial e particularmente o tecnolgico, a economia corre srios riscos de declnio e de ser levada situao de satlite de economias mais poderosas, a ponto do comprometimento da independncia nacional no s no plano econmico e tcnico, como no poltico43. Adotados tais pressupostos, entende-se por poltica industrial o conjunto de estratgias e comportamentos pelos quais um ente pblico atua no mercado, com vistas a melhorar a prpria competitividade total do sistema onde atua44. Assim considerada, a poltica industrial no uma forma de ignorar ou reprimir as foras de mercado, como possivelmente ser visto pelo liberalismo ressurrecto, mas sim o conjunto de mtodos destinados fixao do ente estatal como ator no mercado, agente e paciente do espao concorrencial. Os condicionantes jurdicos da poltica industrial de inovao, no contexto constitucional e da lei ordinria o objeto deste trabalho 45.

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Andr Tavares Ramos, op. Cit.

42 "Cette volution rcente concerne tous les pays de l'OCDE: l'universalit des responsabilits publiques dans le dveloppement industriel est aujourd'hui un fait. Paradoxalement, ces interventions sont d'autant plus nombreuses que les conomies sont plus ouvertes, ou du moins que les criteres de comptitivit se basent sur des compairaisons internationales" Bertrand Bellon, Les Politiques Industrielles dans les pays de l'OCDE, in Les Cahiers Franais no 243 (1989) p. 41. 43 Tal afirmao no feita em relao economia brasileira, nem sequer dos pases latino-americanos. Neste ponto essencial verificar a evoluo da idia de poltica industrial no seio da Comunidade Econmica Europia (CEE). Conforme Cartou, L., Communauts Europenes. Dalloz, Paris, 9 Ed. (1989): "Le March Commun constitue donc une politique industrielle qui repose sur une conception librale, sur la responsabilit principale des entreprises industrielles, elles mmes". A concepo inicial do Tratado de Roma foi logo abandonada: "Mais vers la fin des anes 60, les insuffisances du Tratr sign en 1957 sont apparues. Le March Commun, tel qu'il avait et conu n'avait pas abouti la constituition d'une industrie europene la dimension du monde actuel, capable la fois d'affronter la concurrence des tiers ou d'tre en mesure de cooperer avec eux" (...) "Il s'agissait d'abord de faire face l'evolution des conditions de la production, au renouvellemente rapide des produits, des techniques" (...) "L'absence d'une politique rpondant aux problemes de la societ industrielle moderne aurait entrain pour la Communaut de graves risques de dclin ou de "satellisation" industrielle par de conomies plus puissantes, suscetibles de compromettre son indpendance, non seulemente conomique, mais aussi politique, technique, etc.". 44 Longe de tentar estabelecer os fundamentos tericos desta noo, pretende-se apenas lembrar que no s as empresas disputam entre si o mercado, como os entes de direito pblico internacional - Estados e instituies similares, como o Mercado Comum Europeu (MCE) - competem pelos recursos escassos, pela preponderncia poltica e estratgica, etc., atravs de "seus" grupos econmicos, com Estados e grupos no submetidos a seu controle ou influncia, ou mesmo em colaborao com estes outros Estados e grupos. A capacidade de competio do sistema sob comando ou influncia de tais entes pblicos - o conjunto de meios jurdicos, econmicos e diplomticos de que dispe para atuar - poderia ser chamada de "competitividade sistmica", em comparao com a competitividade de empresa a empresa. Se fosse precisar o estatuto terico de tal noo, este trabalho seguramente utilizaria o conceito de significante-zero de Lvi-Strauss (1950), no que ele inaugura como pensamento sobre a causalidade estrutural. Para suscitar tal conceito, devido tradio de Spinoza, Marx, Lenin, Gramsci, Mao e especialmente Althusser, vide Etienne Balibar: Structural Causality, Overdetermination, and Antagonism, in Postmodern Materialism and the Future of Marxist Theory: Essays in the Althusserian Tradition, Edited by Antonio Callari and David F. Ruccio, Wesleyan University Press, 1996. 45 No se entenda que a matria de carter mais econmico que jurdico. Como demonstra Jos Carlos de Magalhes, O Controle pelo Estado de Atividades Internacionais das Empresas Privadas, in Direito e Comrcio Internacional, Ed. Ltr, 1994, p 190, a questo tem importantssimos aspectos de Direito Constitucional e Internacional Pblico, sem falar dos bvios efeitos relativos ao Direito Econmico.

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A eficcia da interveno direta e franca do Estado no tocante poltica tecnolgica foi emprica e fartamente demonstrada, num dos exemplos mais claros de sucesso de economias nacionais. Estudos econmicos norte-americanos apontam que o uso que o Japo fez do seu sistema de propriedade intelectual como instrumento de poltica de desenvolvimento - via importao e licenciamento forado de tecnologias, imitao, adaptao, uso e aperfeioamento pelas empresas nacionais, favorecendo mais a difuso tecnolgica do que a criao - funcionou de forma brilhante, permitindo que o Japo chegasse a alcanar uma situao de quase paridade tecnolgica com os EUA em poucas dcadas46. As prximas consideraes quanto ao desenvolvimento e inovao partem da concepo de que o Estado brasileiro, neste momento da evoluo econmica nacional, no pode renunciar sua tradio histrica de comandar a economia e deve fazer-se mais eficiente, particularmente no que toca poltica de propriedade intelectual. Se verdade que o Estado deve abandonar, em seu processo de modernizao, a prtica centenria de interveno no domnio econmico para o favorecimento exclusivo de um determinado estamento social47, deixar de lado tal interveno, qual a totalidade dos pases desenvolvidos recorre com intensidade, parece resultar, necessariamente, na renncia modernidade. [ 2 ] 2. 3. - Direito ao desenvolvimento como moderao apropriao da criaes A outra face do direito ao desenvolvimento, em sua modalidade ampla de direito fundamental, o contraponto que ele oferece s perspectivas patrimonialistas dos direitos da Propriedade Intelectual 48. O ponto central desse uso em favor da sociedade dos direitos da Propriedade Intelectual definir qual desenvolvimento se visa na aplicao do valor expresso no art. 3 da Constituio Brasileira 49:By human development (or capability), we refer primarily to the concept advocated by Amartya Sen50 and Martha Nussbaum. According to the latter, there are certain basic func-

46 "This characterization of postwar Japanese practice underlies this chapter's simple thesis: Japan's system of intellectual property protection for technology has been discretionarily administered as one component of Japan's developmental industrial policy. Policy favored the import and forced licensing of foreign technology, its rapid imitation, adoption, use, and improvement by domestic companies, as a means of driving rapid economic growth without incurring the costs of autonomous, domestic technology development. The policy worked brilliantly, helping Japan to near technological parity with the US is a few short decades" Borrus, M. Macroeconomic Perspectives on the Use of Intellectual Property Rights in Japans Economic Performance. In: Intellectual Property Rights in Science, Technology and Economic Performance. Westview, (1990) p:262-263. 47 "A atividade industrial, quando emerge, decorre de estmulos, favores, privilgios, sem que a empresa individual, baseada racionalmente no clculo, inclume s intervenes governamentais, ganhe incremento autnomo. Comanda-a um impulso comercial e uma finalidade especulativa alheadores das liberdades econmicas, sobre as quais se assenta a revoluo industrial" Raymundo Faoro, Faoro, Os Donos do Poder, Globo, 4a. Ed., 1973 p. 22. 48 PRONER,Carol, Propriedade Intelectual Direitos Humanos: sistema internacional de patentes e direito ao desenvolvimento. Porto Alegre: Sergio Antonio Frabris, 2008, p.395. Novos direitos tambm passam a surgir com a mutao da propriedade intelectual. A apropriao do conhecimento sob forma de patente traz efeitos na garantia de direitos humanos j consolidados e outros futuros. A evoluo da propriedade intelectual supe o prprio desenvolvimento da tecnologia e de seus efeitos no porvir, gerando no apenas novas concepes de direitos a serem protegidos como tambm novos argumentos em defesa dos direitos humanos, novas formas de luta e de reivindicao capazes de acompanhar, no caso das cincias, a evoluo do pensamento cientfico e sua aplicao na vida dos seres humanos. 49 BARBOSA, Denis Borges, CHON, Margaret Chon e MONCAYO, Andrs Von Hase, Slouching Towards Development In International Intellectual Property Michigan State Law Review, Vol. 2007, No. 1, 2008. Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=1081366

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tional capabilities at which societies should aim for their citizens, and which quality of life measurements should measure . . . .51 This list includes: (1) LIFE. Being able to live to the end of a human life of normal length . . . . (2) BODILY HEALTH. Being able to have good health, including reproductive health; to be adequately nourished . . . . (4) SENSES, IMAGINATION, AND THOUGHT. Being able to use the senses; being able to imagine, to think, and to reasonand to do these things in a truly human way, a way informed and cultivated by an adequate education, including, but by no means limited to, literacy and basic mathematical and scientific training. . . .52 The development as freedom model figures prominently in the United Nations Millennium Development Goals (UNMDG).53 The United Nations Development Programme (UNDP) has propounded the model of development as freedom since 1991.54 The human development index (HDI) approach,55 as opposed to the gross domestic product (GDP) approach standing alone, emphasizes the distribution of human capability opportunities in measuring development. It includes not only the standard of living measure of per capita GDP, but also literacy and health measures. Other international agencies, including the World Health Organization, increasingly rely upon HDI as a development metric.56 By contrast, international intellectual property law institutions, such as the WIPO and WTO, unreflectively rely on a development as growth model. This approach, often shared by policymakers from developed countries with well-entrenched intellectual property industries, tends to view the goal of international intellectual property as encouraging economic growth, increasing trade liberalization, promoting foreign direct investment, and ultimately enhancing innovation through resulting technology transfer.57 The development as growth framework was initially set by international development agencies such as the International Monetary Fund and the World Bank.58 This framework has nonetheless influenced other institutionsincluding the WTO and WIPOwhich do not view development as their central mandate, but are increasingly under pressure to consider development in their norm-setting and norm-interpreting activities.

50. [Nota do original] See Amartya Sen, Development as Freedom (1999). 51 [Nota do original] Martha C. Nussbaum, Human Capabilities, Female Human Beings, in Women, Culture and Development: A Study of Human Capabilities 61, 82 (Martha C. Nussbaum & Jonathan Glover eds., 1995). 52 [Nota do original] Martha C. Nussbaum, Capabilities and Human Rights, 66 Fordham L. Rev. 273, 287 (1997). This list is slightly different from the version published earlier in Human Capabilities and was apparently revised as a result of recent visits to development projects in India. See id. at 286. 53 [Nota do original] United Nations Millennium Declaration, G.A. Res. 55/2, U.N. Doc. A/RES/55/2 (Sept. 18, 2000), available at http://www.un.org/millennium. Philip Alston claims that these have arguably attained the status of customary international law. Philip Alston, Ships Passing in the Night: The Current State of the Human Rights and Development Debate Seen Through the Lens of the Millennium Development Goals, 27 Hum. Rts. Q. 755, 771-75 (2005). The 2002 report by the UK Governments Commission on Intellectual Property Rights was an early attempt to link intellectual property to the UNMDG. See Duncan Matthews, NGOs, Intellectual Property Rights and Multilateral Institutions, at 3-4 (2006), http://www.ipngos.org/Report/IPNGOs%20final%20report%20December%202006.pdf. 54 [Nota do original] See Mahbub Ul Haq, Reflections On Human Development: How The Focus Of Development Economics Shifts From National Income Accounting To People-Centred Policies, Told By One Of The Chief Architects Of The New Paradigm (1995). 55 [Nota do original] See U. N. Dev. Programme, Human Development Report 1991, at 15-18, http://hdr.undp.org/reports/global/1991/en (inaugurating new criterion of development, the Human Development Index (HDI), which measures development through longevity, knowledge and income sufficiency). This is a highly simplified index; in fact, HDI is more than about education and health. Selim Jehan, Evolution of the Human Development Index in Readings in Human Development 128, 134 (Sakiko Fukuda-Parr and A.K. Shiva Kumar, eds. 2003); see also Richard Jolly, Human Development and Neo-liberalism: paradigms compared, id. at 82. 56. See, e.g., The World Health Org., Strategic Resource Allocation, EB188/7, May 11, 2006, at 14, available at http://www.who.int/gb/ebwha/pdf_files/EB118/B118_7-en.pdf. 57. Gervais, Intellectual Property, supra note 7, at 516-20; Maskus & Reichman, supra note 7, at 8-11. 58. See Joseph E. Stiglitz, Globalization and Its Discontents Page (2002).

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[ 2 ] 2. 4. - Bibliografia do direito ao desenvolvimento e Propriedade IntelectualANDERSON, Michael G. & BROWN, PAUL F., The Economics Behind Copyright Fair Use: A Principled And Predictable Body Of Law, 24 LOY. U. CHI. L. J. 143 (1993). BALIBAR, Etienne: Structural Causality, Overdetermination, And Antagonism, In Postmodern Materialism And The Future Of Marxist Theory: Essays In The Althusserian Tradition, Edited By Antonio Callari And David F. Ruccio, Wesleyan University Press, 1996. BARBOSA, Denis B., (ORG), Direito Inovao, Lumen Juris, Rio De Janeiro, 2006. BARBOSA, Denis Borges, CHON, Margaret CHON E MONCAYO, Andrs Von Hase, Slouching Towards Development In International Intellectual Property Michigan State Law Review, Vol. 2007, No. 1, 2008. Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=1081366 BELLON, Bertrand, Les Politiques Industrielles Dans Les Pays De L'OCDE, In Les Cahiers Franais No 243 (1989) P. 41. BORRUS, M. Macroeconomic perspectives on the use of intellectual property rights in japans economic performance. In: Intellectual Property Rights In Science, Technology And Economic Performance. Westview, (1990).. CARTOU, L., Communauts Europenes. Dalloz, Paris, 9 ED. (1989) FAORO, Raymundo, Os Donos do Poder, Globo, 4a. Ed., 1973 P. 22. GORDON, Wendy J, On Owning Information: Intellectual Property And The Restitutionary Impulse, 78 Va.L.Rev. 149, 222-58 (1992) _____________, Assertive Modesty: An Economy Of Intangibles, 94 Col.L.Rev. 8, 2587 (1994). ______________, Asymmetric Market Failure And Prisoners Dilemma In Intellectual Property, 17 U.Dayton L.Rev. 853, 861-67 (1992) ______________ Fair Use As Market Failure: A Structural And Economic Analysis Of The Betamax Case And Its Predecessors, 82 Colum. L. Rev. 1600 (1982) GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econmica Na Constituio De 1988. 4. Ed. So Paulo: Malheiros, 1998. P. 238-239. ICTSID/UNCTAD, Resource Book On Trips And Development, , Cambridge, 2005 LANDES, William M. E POSNER, Richard, The Economic Structure Of Intellectual Property Law, Harvard Press, 2003. MACHAAY , Ejan, Legal Hybrids: Beyond Property And Monopoly, 94 Col.L.Rev. 8, 2637 (1994). MAGALHES, Jos Carlos de, O Controle Pelo Estado de Atividades Internacionais das Empresas Privadas, In Direito e Comrcio Internacional, Ed. Ltr, 1994 MAZZUOLI , Valerio de Oliveira, Os Tratados Internacionais de Proteo dos Direitos Humanos e Sua Incorporao no Ordenamento Brasileiro, Revista Forense Vol. 357 Suplemento REICHMAN , J.H., Charting The Collapse Of The Patent-Copyright Dichotomy: Premises For A Restructured International Intellectual Property System 13 Cardozo Arts & Ent. L.J. 475 (1995).

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[ 2 ] 3 . - A funcionalizao dos direitos J um trusmo a noo que a propriedade, no nosso sistema jurdico, funcional 59; longe de ser um direito absoluto, ela se constri como uma derivada dos vetores constitucionais que se dirigem pessoa e a sua dignidade. Como se l no primeiro captulo deste livro:(...) o contexto e eficcia da instituio jurdica da Propriedade mudou radicalmente desde a noo romana da plena in re potestas. Esculpida como um direito-funo, com fins determinados, confiada a cada titular para realizao de objetivos socialmente importantes, a propriedade em geral tem seu estilo novo no desenho do Cdigo Civil de 2002 (...) A raiz histrica e os fundamentos constitucionais da propriedade intelectual so muito menos naturais e muito mais complexos do que a da propriedade romanstica; como se ver, disto resulta que em todas suas modalidades a propriedade intelectual ainda mais funcional, ainda mais condicionada, ainda mais socialmente responsvel, e seguramente muito menos plena do que qualquer outra forma de propriedade 60.

Sendo um trusmo no direito brasileiro, a no merecer quaisquer comentrios, vale no entanto notar que mesmo no sistema constitucional francs, bero dos absolutismos da Propriedade Intelectual, nosso ramo do direito se encontra firmemente finalizado, ou, como dizemos, funcionalizado 61. Com efeito, num sistema em que se dizia que o direito autoral e a patente era a mais sagrada, a mais legtima, a mais inatacvel, a a mais pessoal de todas as propriedades (Le Chapelier e Boufflers), hoje se dessacralizou essa propriedade, ou antes, se a santificou como sendo um poder-funo. Ou seja, superou-se o paradigma identificado por Gustavo Tepedino, em relao noo absolutista da propriedade:

59 Jos Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positivo, Ed. RT, 1989, p. 241: "a propriedade (sob a nova Constituio) no se concebe seno como funo social" 60 Muito antes da tendncia corrente pela funcionalizao da propriedade, prescrevia o art. 2 o Cdigo da Propriedade Industrial de 1945: "A proteo da propriedade industrial, em sua funo econmica e jurdica, visa a reconhecer e garantir os direitos daqueles que contribuem para melhor aproveitamento e distribuio da riqueza, mantendo a lealdade de concorrncia no comrcio e na indstria e estimulando a iniciativa individual, o poder de criao, de organizao e de inveno do indivduo." 61 VIVANT, Michel. Les grands arrts de la proprit intellectuelle.Paris: Dalloz, 2004, p.6."Le temps n'est pas si loign ou nos tribunaux, ignorants de toute rflexion sur la ratio legis, rptaient l'envi que la marque tait un droit absolu (par ex., pour rester dans une priode proche : Douai, 1're ch., 28 sept. 1998 : PIBD 1998, 665, III, 553. - Paris, 14e ch., 13 oct. 1999 : CCE 2000, Comm. N 2, note Caron) - le dernier droit absolu ? - et ou la Cour de cassation jugeait que " la contrefaon rsulte de la reproduction des lments caractristiques d'un signe protg au titre de la marque, quelle que soi! l'utilisation qui en est faite" (Com. 23 novo 1993: RDP11994, n 51, 64). Quelques auteurs approuvaient - approuvent encore? - cette vision tonnamment archaque. Sans doute avec un droit d'auteur proclam "la plus sacre, la plus lgitime, la plus inattaquable et ( ... ) la plus personnelle de toutes les proprits" selon le mot de Le Chapelier la Constituante (mot qu'on rpete toute occasion), et un droit de brevet dclar " la plus inattaquable, la plus sacre, la plus lgitime, la plus personnelle (des proprits)" par Boufflers l' Assemble nationale (formule, elle, curieusement passe sous silence), les droits de proprit intellectuelle peuvent prtendre un statut singulier (Y. M. Vivant, "Le droit d'auteur, un droit de l'Homme? ", RIDA oct. 1997, n 174, p. 61). On peut toujours prtendre tout. ..Mais statut singulier ne signifie pas " intouchable ". Et cela que l'on soit dans le registre, rput noble, du droit d'auteur ou celui, rput mercantile, du droit de brevet ou du droit de marque ... ou dans un tiers registre. La dcision du Conseil constitutionnel de 1991 (premiere dcision rapporte: Y. aussi GAPI n 26) rappelle bien, propos du droit de proprit - droit fondamental s'il en est -, que " les finalits et les conditions d'exercice (de ce droit) ont subi depuis 1789 une volution caractrise ( ... ) par des limitations son exercice exiges par l'intrt gnral ".L'absolu n'est plus ce qu'il tait. .. L'exercice des droits de proprit intellectuelle est encadr ... comme l'exercice de tout droit (1). Mais, plus substantiellement, l'influence communautaire aidant, c'est l'objet mme de ces droits qui, n'en pas douter, doit tre considr comme " finalis ", " profil " (II)".

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propriedade cumpriria necessariamente a sua funo social pela apropriao em si, sendo forma mxima de expresso e de desenvolvimento da liberdade humana.62

Certo que, no que for objeto de propriedade no sentido constitucional (ou seja, no alcance dos direitos patrimoniais), todos os objetos de exclusivas sobre bens incorpreos inclusive o direito autoral - est sujeito s limitaes constitucionalmente impostas em favor do bem comum - a funo social da propriedade de que fala o Art. 5, XXIII da Constituio de 1988 63. O Art. 5, XXII da Constituio, que assegura inequivocamente o direito de propriedade, deve ser sempre contrastado com as restries do inciso seguinte, a saber, que a esta atender sua funo social. Tambm, no Art. 170, a propriedade privada definida como princpio essencial da ordem econmica, sempre com o condicionante de sua funo social. Para os objetos da Propriedade Industrial, inclusive as criaes industriais e outros signos distintivos, que constituem clusluas abertas para abrigar novas formas destes direitos, a funcionalizao geral do Art. 5, XXIII da Constituio se soma clusula finalstica do Art. 5o., XXIX, objeto de uma seo deste captulo, mas abaixo. uma dupla incidncia de vetores:H que se ressaltar que a Constituio Federal assegura ao inventor de patentes monoplio temporrio para a sua utilizao, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnolgico e econmico do Pas (artigo 5, XXIX), mas a mesma Lei Magna tambm determina que a propriedade deve atender sua funo social (artigo 5, inciso XXIII). AI 200602010084342, decidido em 27 de junho de 2007, Relatora Marcia Helena Nunes, Juza Federal Convocada.

[ 2 ] 3.1. (A)

Jurisprudncia: funcionalizao

> Tribunal Regional Federal da 2 Regio "Assim, o direito intelectual, mesmo sendo garantia constitucional, deve ser funcionalizado a fim de promover a dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos do Estado Democrtico de Direito, e o seu exerccio no um fim em si mesmo, mas antes um meio de promover os valores sociais, cujo vrtice encontra-se na prpria pessoa humana. Assim, aspectos sociais devem prevalecer sobre as razes econmicas de um direito de patente, o que caracteriza a sua funo social. Um desses aspectos se mostra quando se verifica a imensa diferena tecnolgica existente entre os pases desenvolvidos e os subdesenvolvidos. Aumentar em demasia o perodo de vigncia da patente significar um prejuzo para toda a sociedade que no poder utilizar uma tecnologia j obsoleta para realizar novos desenvolvimentos ou simplesmente utilizar um produto de tecnologia ultrapassada". , 1 Turma Especializada, AMS 2006.51.01.524783-1, JC Mrcia Helena Nunes, DJ 12.12.2008.

[ 2 ] 3. 2. - A importncia capital da funcionalizao para o direito autoral A dupla incidncia da funcionalizao constitucional implica, no campo da Propriedade Industrial, de menos elaborao, ou de menos profundidade da doutrina pertinente. Da tambm porque a literatura autoralista compreenda a mais incisiva construo da funcionalizao do Direito em nossa literatura. No h outra vinculao dos direitos

62 TEPEDINO, Gustavo. A Nova Propriedade (O seu contedo mnimo, entre o Cdigo Civil, a legislao ordinria e a Constituio. In Revista Forense, vol. 306, p. 74. 63 E tambm s protees relativas s propriedades constitucionais, como o princpio da desapropriao.

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autorais ao propsito social, no texto constitucional, seno a clsusula geral do Art. 5o, XXIII. assim que nota Allan Rocha, em sua obra sobre o estatuto constitucional de tais direitos 64:A efetivao da funo social tem como objetivo principal a limitao da utilizao social dos bens intelectuais pelo titular, em razo de diversos interesses da coletividade. Esta realidade atual fruto do desenvolvimento jurdico do direito civil ao longo da segunda metade do sculo XX, com a superao do patrimonialismo e individualismo estrito de influncias liberais, daquele pelas preocupaes de preservao das qualidades intrnsecas do ser humano, como a personalidade, e - deste - pelo alargamento da concepo sobre o desenvolvimento humano, que passou a ser entendido como necessariamente integral, dentro de um contexto social e cultural. O alcance desta funo social sobre todos os direitos patrimoniais que se assemelhem s caractersticas proprietrias, incluindo a os direitos autorais em sua vertente econmica. Esta uma demanda constitucional e, portanto, obrigatria. A influncia das imposies constitucionais alcana todo o ordenamento e todas os sub-sistemas infraconstitucionais, cuja interpretao das relaes jurdicas internas destes sub-sistemas devem ser sustentadas a partir dos axiomas constitucionais aplicveis.

E particularizando seu impacto no campo autoral especfico:Entre os diversos interesses que devem ser coordenados podem-se apontar como essenciais os seguintes: - o interesse geral, pelo qual o direito de autor destina-se a servir para o desenvolvimento cultural, que tambm educacional; - o interesse dos consumidores, a quem afinal no cabe apenas o papel de absorver passivamente os postulados dos titulares; - o interesse empresarial, que consubstancia na equao entre investimento, risco, tempo e lucro, devendo ser diretamente admitido, e no travestido como interesse do criador; - os interesses das entidades de gesto coletiva, que so diversos de seus representados, ainda mais quando sua adeso forosa; o interesse de prestadores de atividades culturais, que so os titulares dos direitos conexos, e inclui todos os casos de prestaes relevantes na coordenao, utilizao e explorao dos bens intelectuais; e - os interesses do criador intelectual, que ser valorizado quando estiverem claramente todos os interesses expostos, lucrando o autor com o afastamento de interesses alheios fazendo passar por de autores, permitindo o ultrapassar da situao de menoridade onde encontra-se como pessoa de quem se fala e por quem se fala, e raramente sendo a pessoa que fala.65. Deve-se, deste modo, questionar sempre se as limitaes legais e derrogaes judiciais expressam corretamente a amplitude dos interesses envolvidos

64 SOUZA, Allan Rocha de, A Funo Social Dos Direitos Autorais, Faculdade De Direito de Campos, 2005. Para mais clara apreenso, especificamos a forma visual do texto. 65 [Nota do original] ASCENSO, Jos Oliveira. Direito do Autor como Direito da Cultura. In Cadernos de Ps-graduao, ano I, n.1, set., 1995, pp. 57-66. Rio de Janeiro: UERJ, 1995. p. 62-65.

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[ 2 ] 3. 3. - Funo social e outras ponderaes de interesses Permitindo-nos uma incurso num campo mais abstrato da teoria geral dos direitos, coisa que em princpio tentamos evitar, distinguimos a funcionalizao das propriedades (ou patrimonialidades) e a construo de nossos direitos do campo da Propriedade Intelectual como frutos da ponderao de interesses constitucionais. Entendemos que a funo social apenas uma das formas de construo constitucional dos interesses tutelados, para dar-lhes o equilbrio necessrio entre segurana jurdica e justia. Em nosso delineamento dos interesses relativos aos bens incorpreos, subsequentes produo intelectual, no que sejam tutelados no estamento constitucional, desde sempre apontamos os conflitos entre princpios e o espao de ponderao entre eles, sem nos ater especificamente funo social. Algumas razes nos levam a esta estratgia. Focados, por hbito e histria pessoal, mais ao campo da Propriedade Industrial, adquirimos o hbito de ver toda esse segmento do direito como sujeito a uma funo prpria, antes mesmo que a Constituio de 1988 e o Cdigo Civil incorporassem a viso principiolgica que ora o regra. Desde o CPI/45, a Propriedade Industrial foi funcionalizada. Assim propunha o velho Cdigo 66:Art. 2 - A proteo da propriedade industrial, em sua funo econmica e jurdica, visa a reconhecer e garantir os direitos daqueles que contribuem para melhor aproveitamento e distribuio da riqueza, mantendo a lealdade de concorrncia no comrcio e na indstria e estimulando a iniciativa individual, o poder de criao, de organizao e de inveno do indivduo.

A viso, ainda que mais privatista, vinculava a proteo aos fins econmicos da racionalidade econmica, e apontava um fim utilitarista da proteo. Renunciava-se, claramente, ao ao discurso dos direitos naturais, pr-jurdicos, absolutos, como o queria o Visconde de Ouro Preto, em sua obra de 1888:(...) o direito marca industrial no feitura da lei civil, seno preexistente a ella como os de propriedade e liberdade de trabalho, dos quaes emana directamente67

A mesma noo, ainda que de forma menos minudenciada, surge na Lei no. 5.648, de 11-12.1970, que, ao criar o INPI deu-lhe, no artigo 2 , por finalidade principal:... executar, no mbito nacional as normas que regulam a propriedade industrial, tendo em vista a sua funo social, econmica, jurdica e tcnica.

Desta raiz vem a clusula constitucional do art. 5, XXIX, que apenas fez elevar ao texto fundamental a proposta da lei ordinria. Tal clusula funcional da Propriedade Industrial, alis, aponta para elementos que se caracterizam muito mais como de fim poltico (no sentido de optar pelo nacional em face do no-nacional) do que em qualquer propsito stricto sensu social. Com efeito, a clusula reza que as propriedades industriais se concedero tendo em vista o interesse66 Como narra Clvis Costa Rodrigues, Concorrncia Desleal, Editorial Peixoto, 1945, p. 221, este texto proveio do Instituto dos Advogados Brasileiros. 67 Affonso Celso, Marcas Industriaes e Nome Comercial, B.L. Garnier, Rio de Janeiro, 1888, p. 29. Gama Cerqueira ainda entendia que " princpio indiscutvel que o Estado deve reconhecer e proteger o direito do homem aos frutos do seu trabalho e de sua atividade intelectual, de modo que a proteo jurdica do direito do inventor vem a ser uma exigncia do direito natural" No entanto, Didimo Agapito da Veiga Junior, Marcas de Fabrica, B.L. Garnier, Rio de Janeiro, 1887, p. 2, afilia-se a doutrina antpo