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Examinando-se uma série mais longa de janelas de 12 meses, o mercado de seguros, previdência e capi- talização teve até agora dois momentos: (i) o primeiro, entre janeiro e março, de sucessivo crescimento (a taxa 2016/2015 foi de 9,3%) até atingir 11,6%; e (ii) o segundo, de abril até julho, de reduções mensais de taxas, tendo o aumento se estabilizado em 7,7% nos últimos dois meses. No período de crescimento de taxas, os ramos líderes foram os Planos de Acumulação da família VGBL, os Planos de Risco/Seguro Individuais, o Habitacional, o Rural e o de Crédito e Garantias, respondendo de modo consis- tente aos vetores da economia e à preferência de proteção de rendas. Nesse intervalo, o ramo de Automóveis sofreu bastante com as quedas da produção e venda de veículos. Já no período de desaceleração do mercado, curiosa- mente também foram os Planos de Acumulação que pesaram muito no ambiente de reversão. Desta vez, as preferências de aplicadores devem ter sido diversificadas pela forte visibilidade da queda da taxa nominal de juros, efeito antecedido pela queda das taxas de inflação. Ainda neste último período, enquanto o ramo Rural também perdeu impulso, considerando a “cauda” de comparação em períodos de 12 meses, o de Automóveis voltou a apresentar crescimento consistente, de reduzidos 0,3% em abril até auspiciosos 3,5% em julho. Em ambos os períodos, ocorreu extraordinária persistência do ramo de Patrimonial/Massificados (6% a 7,6%), bem como Seguro Individual/Risco (em torno de 27%). Em face do ainda imprevisível ambiente de recuperação de vários setores econômicos, é difícil arriscar tendência até dezembro. Embora alguns analistas possam entender que os Massificados devem se beneficiar dos ganhos de renda, enquanto os riscos mais altos sofrerão impacto da conjuntura, ainda de estabilização. O professor Lauro Faria prossegue com sua excelente ava- liação da conjuntura do setor. Boa leitura! Série de arrecadação anualizada em 2017 mostra desaceleração até junho, com mesma taxa em julho Marcio Serôa de Araujo Coriolano Presidente da CNseg EDITORIAL ENTREVISTA João Manoel Pinho de Mello Chefe da Assessoria Especial de Reformas Microeconômicas do Ministério da Fazenda O governo vem tentando melhorar a produtividade da economia brasileira de forma a permitir um crescimento sustentado de 3,5% anuais pelos próximos 30 anos, afirma o assessor especial do Ministério da Fazenda. 1. Por que a produtividade no Brasil é tão baixa? A evidência mostra que nós misturamos mal os insumos que temos: trabalho, capital e terra. Isso se dá por várias razões. Por exemplo, legislação tributária que distorce as decisões dos agentes financeiros, legislação trabalhista que impõe muito risco aos empregados e aos empregadores. Enfim, uma pletora de fatores que faz com que, com os mesmos recursos, não consigamos produzir tanto quanto os EUA ou outros países centrais ou mesmo outros emergentes. 2. Que medidas o governo pretende tomar para melhorar a produtividade? O governo já vem tomando medidas que vão melhorar a produtividade no médio e no longo prazo. Por exemplo, a reforma trabalhista, que diminui o risco de contratação, e a redução do spread bancário, para facilitar o melhor uso do capital a juros menores. Essa agenda olha transversalmente a economia, para melhorar a produtividade de todos os setores e fazer com que possamos produzir mais. Na parte trabalhista, a atual legislação induz muito à litigiosidade. Parte da reforma trabalhista corrige um pouco os incentivos para que quem vá à Justiça buscar direitos seja de fato quem tem esses direitos. Outro pilar da reforma é reconhecer relações laborais que existem na prática. Por exemplo, o trabalho intermitente: o sujeito que trabalha num bufê, onde tem muita festa de final de ano de empresa. Esse tipo de relação existe, e hoje fica à margem. Então se criaram várias categorias, para reconhecer o que existe na informa- lidade. Com esses dois pilares, vamos litigar menos e ter mais trabalhadores formais, o que ajudará a aumentar a produtividade e a produção. Com a Lei da Terceirização, você deve decidir se vai contratar um terceirizado para a lanchonete ou se vai fazer uma lanchonete da empresa. A lei anterior proibia quase tudo. A nova reconhece que essa decisão tem que ser empresarial. Isso afeta muito a produtividade. 3. Qual o resultado esperado dessas medidas sobre o crescimento da economia? Nós temos um problema conjuntural: estamos saindo de uma recessão quase sem precedentes. Esse crescimento que vem da conjuntura é pouco afetado por várias dessas medidas no curto prazo, até porque algumas ainda dependem de regulamen- tação e de sua total implantação prática. O que estamos fazendo é uma estratégia de intervenção que vai assentar as bases para que a gente possa crescer mais ao longo de muitos anos. Esperamos que, implantada essa estratégia de reformas, o Brasil possa crescer nos próximos 30 anos, de maneira sustentada, 3,5% (ao ano), em vez do crescimento razoavelmente insatisfatório que tivemos nos últimos 30. Isso é que nos levará para o clube dos países ricos. Aumento da produtividade é essencial para o país crescer de maneira sustentada S ETEMBRO DE 2017 ANO 2 N O . 1 0

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Page 1: Aumento da produtividade é essencial para o país crescer ... · perdeu impulso, considerando a “cauda” de comparação em períodos de 12 meses, o de Automóveis voltou a apresentar

Examinando-se uma série mais longa de janelas de 12 meses, o mercado de seguros, previdência e capi-talização teve até agora dois momentos: (i) o primeiro, entre janeiro e março, de sucessivo crescimento (a taxa 2016/2015 foi de 9,3%) até atingir 11,6%; e (ii) o segundo, de abril até julho, de reduções mensais de taxas, tendo o aumento se estabilizado em 7,7% nos últimos dois meses.

No período de crescimento de taxas, os ramos líderes foram os Planos de Acumulação da família VGBL, os Planos de Risco/Seguro Individuais, o Habitacional, o Rural e o de Crédito e Garantias, respondendo de modo consis-tente aos vetores da economia e à preferência de proteção de rendas. Nesse intervalo, o ramo de Automóveis sofreu bastante com as quedas da produção e venda de veículos.

Já no período de desaceleração do mercado, curiosa-mente também foram os Planos de Acumulação que pesaram muito no ambiente de reversão. Desta vez, as preferências de aplicadores devem ter sido diversificadas pela forte visibilidade da queda da taxa nominal de juros, efeito antecedido pela queda das taxas de inflação. Ainda neste último período, enquanto o ramo Rural também perdeu impulso, considerando a “cauda” de comparação em períodos de 12 meses, o de Automóveis voltou a apresentar crescimento consistente, de reduzidos 0,3% em abril até auspiciosos 3,5% em julho. Em ambos os períodos, ocorreu extraordinária persistência do ramo de Patrimonial/Massificados (6% a 7,6%), bem como Seguro Individual/Risco (em torno de 27%).

Em face do ainda imprevisível ambiente de recuperação de vários setores econômicos, é difícil arriscar tendência até dezembro. Embora alguns analistas possam entender que os Massificados devem se beneficiar dos ganhos de renda, enquanto os riscos mais altos sofrerão impacto da conjuntura, ainda de estabilização.

O professor Lauro Faria prossegue com sua excelente ava-liação da conjuntura do setor.

Boa leitura!

Série de arrecadação anualizadaem 2017 mostra desaceleraçãoaté junho, com mesma taxa em julho

Marcio Serôa de Araujo CoriolanoPresidente da CNseg

EDITORIALENTREVISTA

João Manoel Pinho de MelloChefe da Assessoria Especial de Reformas Microeconômicas do Ministério da Fazenda

O governo vem tentando melhorar a produtividade da economia brasileira de forma a permitir um crescimento sustentado de 3,5% anuais pelos próximos 30 anos, afirma o assessor especial do Ministério da Fazenda.

1. Por que a produtividade no Brasil é tão baixa?

A evidência mostra que nós misturamos mal os insumos que temos: trabalho, capital e terra. Isso se dá por várias razões. Por exemplo, legislação tributária que distorce as decisões dos agentes financeiros, legislação trabalhista que impõe muito risco aos empregados e aos empregadores. Enfim, uma pletora de fatores que faz com que, com os mesmos recursos, não consigamos produzir tanto quanto os EUA ou outros países centrais ou mesmo outros emergentes.

2. Que medidas o governo pretende tomar para melhorar a produtividade?

O governo já vem tomando medidas que vão melhorar a produtividade no médio e no longo prazo. Por exemplo, a reforma trabalhista, que diminui o risco de contratação, e a redução do spread bancário, para facilitar o melhor uso do capital a juros menores. Essa agenda olha transversalmente a economia, para melhorar a produtividade de todos os setores e fazer com que possamos produzir mais. Na parte trabalhista, a atual legislação induz muito à litigiosidade. Parte da reforma trabalhista corrige um pouco os incentivos para que quem vá à Justiça buscar direitos seja de fato quem tem esses direitos. Outro pilar da reforma é reconhecer relações laborais que existem na prática. Por exemplo, o trabalho intermitente: o sujeito que trabalha num bufê, onde tem muita festa de final de ano de empresa. Esse tipo de relação existe, e hoje fica à margem. Então se criaram várias categorias, para reconhecer o que existe na informa-lidade. Com esses dois pilares, vamos litigar menos e ter mais trabalhadores formais, o que ajudará a aumentar a produtividade e a produção. Com a Lei da Terceirização, você deve decidir se vai contratar um terceirizado para a lanchonete ou se vai fazer uma lanchonete da empresa. A lei anterior proibia quase tudo. A nova reconhece que essa decisão tem que ser empresarial. Isso afeta muito a produtividade.

3. Qual o resultado esperado dessas medidas sobre o crescimento da economia?

Nós temos um problema conjuntural: estamos saindo de uma recessão quase sem precedentes. Esse crescimento que vem da conjuntura é pouco afetado por várias dessas medidas no curto prazo, até porque algumas ainda dependem de regulamen-tação e de sua total implantação prática. O que estamos fazendo é uma estratégia de intervenção que vai assentar as bases para que a gente possa crescer mais ao longo de muitos anos. Esperamos que, implantada essa estratégia de reformas, o Brasil possa crescer nos próximos 30 anos, de maneira sustentada, 3,5% (ao ano), em vez do crescimento razoavelmente insatisfatório que tivemos nos últimos 30. Isso é que nos levará para o clube dos países ricos.

Aumento da produtividade é essencialpara o país crescer de maneira sustentada

Se t e m b ro d e 2017 • a n o 2 • no. 10

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TAXAS DE CRESCIMENTO ANUALIZADAS (12 meses contra 12 meses)

por Lauro FariaEconomista da Escola Nacional de Seguros

Os dados de julho passado recentemente divulgados pela Susep e referentes ao desempenho do mercado de seguros, previdência complementar aberta e capitali zação mostram arrecadação de R$ 20,3 bilhões, o que representa crescimento praticamente nulo frente ao verif icado no mês anterior.

Entretanto, quando se calcula o total arrecadado em julho fora os prêmios de DPVAT, que foram administrativamente reduzidos pelo CNSP em f ins de 2016, e os aportes a planos de capitali zação, que ainda sofrem os feitos do desemprego elevado, o total arrecadado (R$ 18,2 bilhões) mostra taxa de crescimento de 0,6% sobre o dado do mês anterior (7,4% anuali zado), por tanto, evidenciando a manutenção da trajetória de recuperação do citado mercado.

Em julho, verif icou-se crescimento de 5% sobre junho nos aportes aos planos de acumulação (VGBL e PGBL), queda de 4,7% nos prêmios de cobertura de risco de seguros de pessoas e de 2,9% nos prêmios de ramos elementares (exceto DPVAT). Porém, tais quedas podem ref letir variações sazonais de meio de ano.

A comparação do acumulado de 2017 até julho sobre igual período de 2016 ratif ica esses resultados positivos, embora mostre inversão da tendência verif icada nos anos anteriores de maior crescimento dos aportes aos planos de acumulação VGBL e PGBL em comparação com os prêmios de seguros de ramos elementares e com os prêmios de coberturas de risco de seguros de pessoas.

De fato, os aportes aos planos de acumulação (R$ 63,3 bilhões até julho passado) cresceram nessa base de comparação 4,6%, os prêmios de ramos elementares (exceto DPVAT), 6,7% e os prêmios de coberturas de risco de seguros de pessoas, 11,7%. Todos esses percentuais são claramente superiores à inf lação medida pelo IPCA que entre julho de 2017 e julho de 2016 arriou para apenas 2,7%. Os prêmios de DPVAT e os aportes aos planos de capitali zação, pelas razões expostas acima, caíram 31,4% e 2,8%, respectivamente. Ainda assim, a arrecadação total do mercado regulado pela Susep (R$ 138,2 bilhões) mostrou crescimento de 4% no acumulado de 2017 sobre 2016.

Os bons resultados do mercado de seguros no presente ano se devem a fatores gerais e específicos: em termos gerais, destacam-se a recuperação da economia expressa no crescimento de 0,9% do PIB real nos primeiros seis meses de 2017 contra os seis meses anteriores, no aumento de 1,6% no volume real de ren-dimentos do trabalho nos primeiros sete meses de 2017 contra os sete meses anteriores e na forte queda da inflação, comentada acima.

Em termos específicos, são destaques a safra recorde de grãos de 2017, com aumento esperado de 30,4% em relação a 2016, a retomada do consumo das famílias expressa em aumentos de 4,6% e 4%, respectiva-mente, das vendas reais no varejo ampliado e das vendas reais de auto veículos e autopeças e o aumento de 5,2%, na série dessazonalizada, das concessões reais de crédito às pessoas físicas no acumulado de janeiro a julho de 2017 contra os sete últimos meses de 2016, certamente, estimuladas pela queda das taxas de juros acompanhando a inflação.

ANÁLISE CONJUNTURAL

9,310,3 10,7

11,610,3 9,7

7,7 7,7

dez. 2016

jan.2017

fev.2017

mar.2017

abr.2017

mai.2017

jun.2017

jul.2017

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ANÁLISE CONJUNTURAL

Esses fatores explicam a evolução positiva da arrecadação de diversos ramos de seguros, notadamente: os seguros de automóveis, os mais importantes nos ramos elementares, cujos prêmios tiveram crescimento de 6,4% no acu-mulado de 2017 até julho ante igual período de 2016; os seguros rurais, cujos prêmios aumentaram 13,7% nessa mesma base de comparação; e os ramos prestamista, de crédito e garantias e habitacional, cujas receitas cres-ceram, respectivamente, 23,1%, 38,3% e 11,3%.

Inversamente, como a recuperação da economia não se dá uniformemente entre os setores, ramos tipicamente dependentes de investimentos em capital físico e do maior volume de transações ainda se ressentem do ambiente de fraca expansão: os prêmios de seguros de riscos de engenharia, por exemplo, caíram 30,6% no acumulado de 2017 até julho frente a igual período de 2016; idem para os prêmios de seguros marítimos e aeronáuticos, com queda de 23,1% e também para os multirriscos empresariais, cujos prêmios caíram 2,3%. Os prêmios do grupo de seguros de transporte ficaram praticamente constantes entre os dois períodos.

A sinistralidade geral do mercado de seguros regulado pela Susep diminuiu de 49% no acumulado até julho de 2016 para 46,2% em igual período de 2017, porém, com grande variabil idade entre os diversos ramos. O índice geral de despesas de comerciali zação subiu de 22,6% para 24% na mesma base de comparação, resultado que foi mais homogêneo entre os vários ramos. As evoluções desses dois indicadores são consistentes com o verif icado em períodos anteriores quando houve queda das taxas de juros que reduz o resultado f inanceiro das seguradoras e exige revisões na área técnica (subscrição e precif icação de riscos). Ante a expectativa de continuação do movimento de queda dos juros até o f inal do ano, é de se esperar intensif icação desses movimentos à frente.

Assim, o mercado de seguros nacional caminha para o f inal de 2107 em situação bem melhor da que estava no mesmo período do ano anterior. Isto apesar da demora na aprovação de reformas econômicas necessárias (em especial , a reforma previdenciária), da consequente piora da situação f iscal e do horizonte turvo de 2018 em função da notória situação de instabil idade política. O que dá induz a pensar também na instabil idade de tal recuperação, mormente no cur to prazo.

Em médio e longo prazo, entretanto, as forças mais perenes que operam na economia brasileira e na economia mundial tendem, sem dúvida, a favorecer a expansão de tal mercado. Citemos as mais importantes: retomada do crescimento da renda e geração e riqueza; perda de conf iança no sistema público de aposentadoria; perda de conf iança no sistema público de saúde; envelhecimento da população; crescente conscientização dos riscos patrimoniais, ambientais e vitais e consequente demanda de coberturas; baixo potencial de crescimento nos mercados de seguros desenvolvidos e alto potencial nos mercados emergentes cronicamente sub-segurados (baixa diversif icação de produtos, baixa densidade de segurados e coberturas insuf icientes) e revolução tecnológica tendente a baratear preços e custos de comerciali zação.

/CNseg @CNsegOficial

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DESEMPENHO DO MERCADO

EXPEDIENTE Superintendência de Comunicação Externa da CNseg | [email protected]

Fonte: Superintendência de Estudos e Projetos (SUESP) da CNseg

ARRECADAÇÃO (em R$ bilhões)