aula de generos textuais

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PAR - PA CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS E EDUCAO CURSO DE LETRAS DISCIPLINA: Atividades Prticas de Docncia III Gneros textuais Assim como grande a diversidade de situaes sociais, tambm grande a diversidade de textos destinados a atender a diferentes intenes comunicativas. Um dilogo familiar, uma exposio pedaggica, um pedido de emprego, um artigo de jornal, so textos que preenchem distintas finalidades, o que determina a forma com que cada um desenvolve a organizao do contedo referencial, o grau de formalidade da linguagem, o tipo de vocabulrio, as marcas do tempo e lugar em que foi produzido em entre outros. De acordo com nossa experincia, desenvolvemos determinadas expectativas a respeito dos textos, sejamos autores ou leitores/ouvintes. Por exemplo, espera-se que uma bula de remdio tenha como objetivo informar o leitor sobre as propriedades do remdio, suas indicaes, a posologia e efeitos colaterais, e no que ele seja um texto que vise a convencer o leitor dos benefcios do medicamento. Por isso, uma bula tem caractersticas bem distintas de um texto publicitrio, j que a inteno comunicativa de cada um bem diferente. Gneros textuais Dirio, biografia Conto de fadas, romance, lenda objetivos comunicativos relatar experincias contar histrias

Editorial,

carta

de

leitor,

ensaio, contestar, questionar, debater, defender opinio

resenha crtica Conferncia, relatrio tomada de

notas, expor, detalhar uma informao

Instruo, receita, regra de jogo, ensinar a realizar uma ao regulamento Propaganda estimular a mudana de comportamento

A tabela a seguir, exemplifica os objetivos comunicativos de alguns gneros textuais: Por exemplo, um dilogo familiar, uma exposio pedaggica, um pedido de emprego, um artigo de jornal, dentre, so textos que preenchem distintas finalidades, o que determina a forma com que cada um desenvolve a organizao do contedo referencial, o grau de formalidade da linguagem, o tipo de vocabulrio, as marcas do tempo e lugar em que foi produzido em entre outros.

Por isso, ao produzir textos devemos levar em conta os gneros e os diferentes modos de organiz-los. Mas ateno, como vimos anteriormente, preciso tomar cuidado, no vamos confundir modo de organizao e gnero textual. Usamos modos de organizao para uma seqncia linguistica definida pela natureza de sua composio: aspectos, sintticos, tempos verbais, relaes lgicas. Em geral, abrangem cerca de meia dzia de categorias como narrao, argumentao, exposio, descrio, injuno e dialogo. Exemplo: A notcia jornalstica um gnero e a narrao um tipo textual. Um texto publicitrio, cientifico, jornalstico pode resultar da composio de vrios modos: descritivo, narrativo, argumentativo. J gnero textual refere-se aos textos encontrados na vida diria e que apresentam caractersticas sociocomunicativos definidas por contedos, propriedades funcionais, composio e estilo caractersticos. Assim, os gneros textuais so textos orais e escritos que circulam na sociedade, tm funo scio-comunicativa, resultam das prticas sociais de uso da lngua. Logo, todo texto falado ou escrito, pertence a um certo gnero, corresponde a grupo social. Convivemos com inmeros gneros: novela de TV, e-mail, batepapo, outdoor, cano popular, leis, receita culinria, artigo cientfico etc. Segundo Bakhtin, 1997:279.

Ao contrrio dos tipos textuais, os gneros so inmeros, lembram? Exemplos: telefonema, sermo, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula expositiva etc. bom lembrar, que os diferentes modos de organizao textual nem sempre aparecem, num contexto de produo, isoladamente. Em romances e contos, por exemplo, a narrao do enredo conjuga-se com a descrio do espao e dos personagens. J nos textos cientficos, possvel encontrar-se a combinao de dissertao, descrio e injuno. A abordagem de anncios polmicos, que fazem parte do nosso dia- a- dia pode conjugar a argumentao na defesa de pontos de vista com passagens narrativas e descritivas. Por causa disso, num mesmo gnero devemos atentar para o tipo predominante. Assim, na noo de tipos textuais predomina a identificao de determinadas sequncias lingusticas, enquanto na noo de gnero textual prevalecem os critrios de circulao scio-histrica, tema, funcionalidade, finalidade. Vejamos: Cada gnero de texto pode construir-se em sequencias textuais de base descritiva, narrativa, expositiva, argumentativa, injuntiva e dialogal, com caractersticas e objetivos definidos: a) A seqncia textual descritiva tem a finalidade de caracterizar a paisagem, o ambiente, as pessoas ou os objetos; b) A seqncia textual narrativa tem o objetivo contar fatos ou

acontecimentos que ocorreram em determinado tempo e lugar, envolvendo personagens; c) A seqncia textual dissertativa tem a finalidade de apresentar informaes sobre assuntos numa linguagem objetiva e impessoal. d) A seqncia textual argumentativa busca convencer, influenciar, persuadir algum; e) A seqncia textual injuntiva tem o objetivo de dizer como fazer ou realizar uma ao; f) A seqncia textual dialogal tem o objetivo de trocar, entre pessoas, idias e informaes sobre determinado assunto. Para exemplificar apresentamos vamos ver alguns exemplos:

1- Descrio consiste na enumerao das caractersticas prprias dos lugares, pessoas, coisas, costumes; envolve a imobilidade do objeto descrito fora de qualquer acontecimento e de qualquer dimenso temporal. A descrio u processo de enumerao e expanso que mobiliza a competncia lexical do descritor. Exemplos: poema, conto. Texto 1 Estavam no ptio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chiqueiro das cabras arruinado e tambm deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava abandono. Certamente o gado se finara e os moradores tinham fugido. Fabiano procurou em vo perceber um toque de chocalho. (Ramos, Graciliano. Vidas Secas.) Porque o texto de base descritiva: - caracteriza lugar por meio de palavras. H a descrio do espao fsico e geogrfico. - emprega adjetivos, locues adjetivas, oraes adjetivas: sem vida, deserto, arruinado, fechada, abandono. - faz referencia s impresses sensoriais som e cor: procurou perceber um toque de chocalho. 2- Narrao consiste no relato de acontecimentos ou fatos, reais ou imaginrios, envolvendo ao e movimento, no transcorrer do tempo; ou seja, conta os acontecimentos, os fatos que ocorrem num determinado espao de tempo. Exemplos: contos de fadas, fbulas, lendas, narrativas de aventura, narrativas de fico cientfica, romance policial, crnica literria, etc, envolvem a capacidade de mimeses da ao atravs da criao de uma intriga no domnio do verossmil. Vejamos: Texto: Mudana Fabiano procurou em vo perceber um toque de chocalho. Avizinhou-se da casa, bateu, tentou forar a porta. Encontrando resistncia, penetrou num cercadinho cheio de plantas mortas, rodeou a tapera, alcanou o terreiro do

fundo, viu um barreiro vazio, um bosque de catingueiras murchas, um p-deturco e o prolongamento da cerca do curral. (Ramos, Graciliano. Vidas Secas.) de base narrativa porque: - apresenta os fatos em sequencia, numa relao de causa-efeito. Fabiano aproxima-se da casa da fazenda, tenta entra nela, percorre a parte externa e v que tudo esta abandonado. - os fatos so vividos por personagem em um determinado espao e tempo. Aqui o personagem Fabiano esta vivenciando a ao. - os tempos verbais e os advrbios marcadores de tempo e espao so elementos essenciais para a coeso e coerncia na narrativa. As aes do Fabiano so descritas numa sequncia temporal; avizinhou-se da casa, bateu, tentou forar a porta, penetrou num cercadinho, rodeou a tapera, alcanou o terreiro do fundo. - os fatos so contados por um narrador, que no participa da narrativa, mas conhece todos os aspectos da historia (narrador-observador). 3- Dissertao consiste na exposio de idias, pensamentos, doutrinas; reflete, explica, avalia, conceitua, expe idias, analisa, informa, situa-se no conhecer. Texto bito do autor

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memrias pelo principio ou pelo fim, isto , se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja comear pelo nascimento, duas consideraes me levaram a adotar diferentes mtodos: a primeira que eu no sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi o bero; a segunda que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moiss, que tambm contou a sua morte, no a ps no intrito, mas no cabo: diferena radical entre este livro e o Pentateuco. (Machado de Assis, Memrias Pstumas de Brs Cubas, 99). Dissertativo porque:

- Apresenta dados objetivos: discute a questo de como iniciar um livro de memrias. -organiza-se de acordo com a estrutura: idia principal, desenvolvimento e concluso. - A maioria dos verbos est no modo indicativo: suponho, , sou. 1- Argumentao - consiste no emprego de provas, justificativas, arrazoados, a fim de apoiar ou rechaar uma opinio ou uma tese; um raciocnio destinado a provar ou a refutar uma dada proposio; predominam seqncias contrastivas explcitas. Um discurso argumentativo visa a intervir diretamente sobre opinies, atitudes ou comportamentos de um interlocutor ou de um auditrio crvel ou aceitvel um enunciado(concluso) apoiado sobre um outro (argumento, dado ou razes). Exemplos: textos de opinio, dilogo argumentativo, carta de leitor, carta de reclamao, carta de solicitao, debate regrado, editorial, requerimento, ensaio, resenhas crticas, artigo assinado, etc. envolvem as capacidades de sustentar, refutar e negociar posies.

Texto Este povo, esta Repblica, este Estado, no se pode sustentar sem ndios. Que nos h de ir buscar um pote de gua, ou um feixe de lenha? Quem nos h de fazer duas covas de mandioca? Ho de ir nossas mulheres? Ho de ir nossos filhos? Primeiramente no so estes os apertos em que vos hei de pr, como logo vereis; mas quando a necessidade e a conscincia obriguem a tanto, digo que sim, e torno a dizer que sim; que vs, que vossas mulheres, que vossos filhos, e que todos ns nos sustentvamos dos nossos braos; porque melhor sustentar do suor prprio, que do sangue alheiro. Ah fazendas do Maranho, que se esses mantos e essas capas se torceram, haviam de lanar sangue! (Vieira, Antonio. Sermes. Organizao Alcir Pcora. So Paulo:Hedra, 2001,t.2,p.460)

Base argumentativa porque:

-defende um ponto de vista sobre determinado assunto e procura convencer o interlocutor. -expe idias com base em argumentos; - organiza-se de acordo com a estrutura bsica: apresentao da idia principal, argumentos, confirmao da idia principal. -emprega expresses que exprimem opinio: digo que sim, e torno a dizer que sim. - os verbos esto, na maioria, na 1 ou na 3 pessoa do indicativo. No se pode sustentar, digo, torno a dizer. - nota-se nele a presena de muitos recursos lingusticos que criam estruturas mais complexas: estruturas subordinadas, uso do modo subjuntivo: ... quando a necessidade e a conscincia obriguem a tanto, digo que sim, e torno a dizer que sim; que vs, que vossas mulheres, que vossos filhos, e que todos ns nos sustentvamos dos nossos braos... Neste texto, o Padre Vieira defende com argumentao convincente, que no se devia escravizar o ndio. 5. Injuno diz como fazer, leva realizao de uma situao e, pro isso, organiza-se em seqncias imperativas; o fazer posterior ao momento de produo do texto. Ex: receitas, instrues de uso, instrues de montagem, bulas, regulamentos, regimentos, estatutos, construes, regras de jogos, etc.

envolvem a regulao mtua de comportamentos. Texto Manual de instrues Rdio AM/FM e toca-fitas com fone de ouvido (modelo wm2). Instrues de operao para reproduo de fita cassete: 1. Conecte os fones de ouvido. 2. Abra a porta de compartimento do CD e coloque um CD gravado. 3. Coloque o boto FUNCTION (4) na posio CD. 4. Pressione a tecla PLAY (8). 5. Ajuste o controle de volume. 6. Pressione o boto F.FWD (7) para avano RPIDO do CD. 7. Pressione o boto STOP (6) de modo a parar o CD.

de base injuntiva porque: - a estrutura constituda de maneira de fazer. - a linguagem objetiva, simples e didtica. - os procedimentos so organizados em ordem de ocorrncia . - os verbos designam aes concretas. Conecte, remova, abra, ajuste. - o modo verbal o imperativo que indica a induo do receptor a agir de uma determinada maneira. 6. Dilogal consiste no intercmbio verbal entre duas ou mais pessoas ou personagens. Todo dilogo implica troca de idias. Apesar de o dilogo ser um recurso dramtico por excelncia, aparece em romances, contos, novelas, entrevistas, misturando a narrao e descrio. Texto Prima Justina Passeamos alguns minutos na varanda, alumiada por um lampio. Quis saber se eu no esquecera os projetos eclesisticos de minha me, e dizendolhe que no, inquiriu-me sobre o gosto que eu tinha vida de padre. Respondi esquivo: _Vida de padre muito bonita. _ Sim, bonita; mas o que me pergunto se voc gostaria de ser padre, explicou rindo. _Eu gosto do que mame quiser. _Prima Glria deseja muito que voc se ordene, mas ainda que no desejasse, h c em casa quem lhe meta isso na cabea. _ Quem ? _ Ora quem! Quem que h de ser? Primo Cosme no , que no se importa com isso; eu tambm no. _Jos Dias? Conclu. _Naturalmente. (Machado de Assis, Dom Casmurro.) Forma de dilogo porque: - procura reproduzir o ritmo da conversa, da oralidade; - confere realismo s falas das personagens ou pessoas; -usa o discurso direto;

-apresenta correes.

caractersticas

prprias:

pausas,

interrupes,

retomadas,

Esse texto transcreve uma conversa entre as personagens Bentinho e Prima Justina, sobre o futuro de Bentinho.

Em sntese sobre os modos de organizao textual : Esses tipos de gneros mantem determinadas semelhanas entre si, no que diz respeito ao tempo, a dissertao, a descrio e o dilogo apresentam simultaneidade das situaes, enquanto a narrao e a injuno exigem sequencialidade. A narrao essencialmente o discurso do fazer (aes) e a injuno,o discurso do acontecer (fatos, fenmenos). A descrio essencialmente o discurso do ser e do estar, enquanto a dissertao o discurso do ser e do conhecer, e o dialogo, o discurso do dizer e do ouvir.

Outra semelhana, nos diferentes tipos de texto, refere-se presena do ponto de vista ou da opinio de quem os produz, seja de forma explicita ou implcita.

Referncia bibliogrfica

BRANDO, Helena N.(coord.). Gneros do discurso na escola: mito, conto, cordel, discurso poltico, divulgao cientifica. So Paulo: Cortez, 200. (Coleo Aprender e ensinar com textos; vol. 5). BRASIL, Parmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino Fundamental: introduo. Braslia:Mec/sef, 1998. GERALDI, Joo Wanderley (org.). O texto na sala de aula. So Paulo: tica, 1997. MARCUSCHI, Luis Antonio. Gneros textuais: definio e funcionalidade. IN: DIONISIO, A. P. ET alii. Gneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.