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Director: Augusto Santos Silva Director-adjunto: Silvino Gomes da Silva Internet: www.ps.pt/accao E-mail: [email protected] Nº 1194 - 9 Abril 2003 COM OS MILITANTES NA LUTA PELAS CAUSAS “Normalmente as remodelações têm dois cenários possíveis. Ou resultam de uma vontade política expressa e de uma grande determinação por parte do primeiro- ministro ou da necessidade por imperativo das circunstâncias, que não são controláveis, de fazer alterações no Governo. Foi claramente a segunda situação que se verificou.” É com determinação e vontade política que desempenha as funções de secretário-geral do PS, talvez por entender este lugar mais como um serviço do que como uma ambição pessoal, apesar de nunca ter tido o desejo de se catapultar para este cargo. Em entrevista ao “Acção Socialista”, que pela primeira vez chega a todos e a cada um dos militantes do PS, Ferro Rodrigues pede participação activa no partido e, internamente, avisa para os perigos do fogo amigo que “pode matar”. “Se o País estava de tanga, agora está de fio dental”, afirma Ferro Rodrigues em relação à situação económico-financeira a que Portugal foi conduzido pelo Governo de direita que mais parece estar em fim de mandato e não a comemorar um ano de existência. Centrais Governo em crise leva a remodelação forçada 3 ACTUALIDADE O PS tudo fará para corrigir a lei do Rendimento Social de Inserção no sentido apontado por Sampaio PARLAMENTO EUROPA 7 Conferência interparlamentar deve substituir COSAC 14 6ª feira, 11 Abril 2003 - 21:30 h Pavilhão Nun'Álvares Fafe 9 PELO EMPREGO E PELA PAZ Ferro Rodrigues em Fafe

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Page 1: Augusto Santos Silva Silvino Gomes da Silva Internet: E-mail: COM … · 2018-02-26 · Por isso, está convencido “de que a memória não vai ser curta e que nos próximos ciclos

Director: Augusto Santos Silva Director-adjunto: Silvino Gomes da SilvaInternet: www.ps.pt/accao E-mail: [email protected]

Nº 1194 - 9 Abril 2003

COM OSMILITANTES NA

LUTA PELASCAUSAS

“Normalmente as remodelações têm dois

cenários possíveis. Ou resultam de uma

vontade política expressa e de uma grande

determinação por parte do primeiro-

ministro ou da necessidade por imperativo

das circunstâncias, que não são

controláveis, de fazer alterações no

Governo. Foi claramente a segunda

situação que se verificou.”

É com determinação e vontade política que desempenha as funçõesde secretário-geral do PS, talvez por entender este lugar mais comoum serviço do que como uma ambição pessoal, apesar de nuncater tido o desejo de se catapultar para este cargo. Em entrevista ao“Acção Socialista”, que pela primeira vez chega a todos e a cadaum dos militantes do PS, Ferro Rodrigues pede participação activa

no partido e, internamente, avisa para os perigos do fogo amigoque “pode matar”.“Se o País estava de tanga, agora está de fio dental”, afirma FerroRodrigues em relação à situação económico-financeira a que Portugalfoi conduzido pelo Governo de direita que mais parece estar em fim demandato e não a comemorar um ano de existência. Centrais

Governo em criseleva a remodelaçãoforçada 3

ACTUALIDADE

O PS tudo fará paracorrigir a lei doRendimento Socialde Inserção nosentido apontadopor Sampaio

PARLAMENTO

EUROPA

7

Conferênciainterparlamentardeve substituirCOSAC 14

6ª feira, 11 Abril 2003 - 21:30 h Pavilhão Nun'Álvares Fafe

9

PELO EMPREGO E PELA PAZ Ferro Rodrigues em Fafe

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2 9 ABRIL 2003

UM JORNALPARA TODOS OS

SOCIALISTAS

ABERTURA

Hoje inicia-se uma nova fase na vida do “Acção Socialista”. Cumprindo as

determinações estatutárias aprovadas no último Congresso, o jornal passa a ser

distribuído a todos os militantes. Ao mesmo tempo, a sua periodicidade passa a

quinzenal.

Esta mudança é capital. O “Acção” transformar-se-á plenamente num instrumento

de ligação entre todos os membros do PS, o canal privilegiado da informação e

também, queremo-lo, da formação, da mobilização, do interconhecimento e do

debate de ideias.

Aumentam as responsabilidades da direcção e da redacção. Este número reflecte

já algumas mudanças que julgámos necessário ou útil introduzir, no plano gráfico

e dos conteúdos. Outras serão introduzidas gradualmente, de modo a que, sem

qualquer ruptura com o passado, possamos renovar e enriquecer o órgão oficial

do nosso partido.

Gostaria de destacar os pontos essenciais da organização das secções e dos

conteúdos do jornal. Assim, em primeiro lugar, queremos aumentar a capacidade

de transmissão da informação relevante, em tempo útil. Para além da secção de

Actualidade, conservaremos e desenvolveremos as páginas sobre o Parlamento,

as Autarquias, a Europa e a Iniciativa do partido e das suas diferentes estruturas.

Ao mesmo tempo, procuraremos destacar sempre, em cada número, a Agenda

das iniciativas futuras do PS, de forma a que o “Acção” seja o meio de contacto e

mobilização dos militantes e simpatizantes para as acções políticas.

No sentido de consolidar a qualidade jornalística e diversificar as abordagens,

continuaremos a privilegiar a Entrevista, sobre temas de actualidade, a

personalidades da esquerda democrática; prosseguiremos também com os Perfis,

quer de militantes quer de estruturas partidárias. Faremos também, sempre que

Esta mudança é capital. O “Acção”

transformar-se-á plenamente num

instrumento de ligação entre todos os

membros do PS, o canal privilegiado da

informação e também, queremo-lo, da

formação, da mobilização, do

interconhecimento e do debate de ideias.

oportuno, Inquéritos sobre temas específicos, sendo que o primeiro incidirá

naturalmente sobre os projectos das candidatas que se apresentarão à eleição da

presidente do Departamento das Mulheres Socialistas.

Mas reforçaremos a área da formação, mantendo sempre uma secção de

Argumentos, na qual porta-vozes qualificados apresentarão sistematicamente as

posições do PS em questões-chave da vida política. Começando, como não

podia deixar de ser, hoje, pela divulgação da posição final do PS sobre o projecto

de Código de Trabalho.

Queremos também dar mais destaque e consistência à troca de ideias. Fá-lo-

emos de três maneiras: continuando como o nosso espaço de Tribuna livre,

aberto à participação espontânea dos leitores; mantendo as colunas de Opinião; e

abrindo uma nova secção de Polémica, na qual se procurará lançar novas ideias

e submetê-las a debate franco e livre. Procuraremos ainda não esquecer o Humor,

esse bom companheiro da democracia, e tentaremos que a última página do

jornal seja ocupada com sugestões lúdicas e culturais, que possa ajudar às

Escolhas de cada um.

O programa parece ambicioso. Depende muito da redacção, do “lado de cá”.

Mas depende também, depende fundamentalmente dos leitores, isto é, dos

socialistas. Só é possível levar o jornal a todos se todos assegurarem o pagamento

atempado das quotizações. Só é possível dar conta, no jornal, das iniciativas, se

todas as federações, concelhias, secções, vereações, grupos parlamentares,

nos fizerem chegar informação precisa sobre o que fazem e o que vão fazer. Só

é possível vitalizar o jornal, se ele for lido, comentado, criticado, em suma, se for,

cada vez mais, doravante, um recurso e uma companhia habitual da vida cívica

de cada um.

AUGUSTO SANTOS SILVA

ANTOONIO COLAÇO

ALÁ!!! ALÁ!!!

— RUA!— PRONTO, PRONTO, RENDEMO-NOS!

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39 ABRIL 2003 ACTUALIDADE

Ferro Rodrigues dedicou grande partedos discursos que proferiu na aberturado congresso do Porto e no encer-ramento do de Lisboa às críticas aoExecutivo de Durão Barroso, nomea-damente as “promessas esquecidas” debaixar os impostos e aumentar aspensões. “Durão Barroso prometeu tudoa todos, mas no Governo pratica umprograma escondido”, afirmou. Apontan-do a crise orçamental, a recessãoeconómica e o aumento dos índices dedesemprego, Ferro Rodrigues no Portoquestionou a real existência de reformas:“Eu pergunto se os portugueses selembram de alguma reforma que tenhamudado as suas vidas?” disse, para emseguida acusar o Executivo de nãodemonstrar “capacidade de resposta”face à “gravíssima crise de desemprego”.Pelo contrário, afirmou o secretário-geraldos socialistas, “o que os portuguesessentem é que a crise orçamental queexistia não foi resolvida e que ao mesmotempo há uma recessão económica e umagravíssima crise de desemprego”. Poroutro lado, Ferro Rodrigues afirmouainda que “as respostas que o Governotem dado em termos de restrição doinvestimento público e de aumento deimpostos são erradas nesta conjunturaeconómica nacional e internacional”.Na sessão de encerramento do Con-gresso da Federação da Área Urbanade Lisboa do PS, reforçou as críticas ecarregou no tom relativamente aosnomes indicados para a substituição deIsaltino Morais e Valente de Oliveira.“Quando é difícil arranjar grandesnomes é sinal de que o Governo já estáem fase terminal”, afirmou FerroRodrigues, aludindo à sua experiênciaenquanto membro dos governos deAntónio Guterres. “Este Governo já estácom problemas de substituição do seupessoal político, típico de um Governoque está em decadência”, haviaafirmado horas antes no Porto. Apesardo estado de “fase terminal” do Governode coligação, o PS não irá reivindicareleições antecipadas nem provocar uma

O Governo de direita padece de envelhecimentoprematuro que não lhe dá quaisquer razões paracelebrar um ano à frente dos destinos do País,como pretendeu fazer com o Conselho deMinistros de Fronteira. A esta “amargacomemoração”, como lhe chamouo secretário-geral, respondeu este fim-de-semanao PS com uma manifestação da sua pujançapolítica ao realizar os congressos federativosque prepararam o terreno para a implementaçãode uma estratégia ganhadora. Este foi o núcleocentral das mensagens que Ferro Rodriguesdeixou nos Congresso de Lisboa e Porto,fazendo um apelo especial à unidade interna:“Os nossos adversários estão todos fora doPartido Socialista”, sublinhou.

“crise política artificial”. “Temos de teralgum oxigénio porque queremos queos prazos eleitorais se cumpram equeremos que o Governo faça aquiloque prometeu”, afirmou o líder socialistano encerramento do XI Congresso daFAUL, que decorreu no Centro deCongressos da antiga FIL da capital.Para Ferro Rodrigues, a coligação PSD/CDS-PP passou directamente de umaprimeira fase marcada pelas “reformasque iam ser, com muita conversa e muitaameaça”, para uma segunda fase emque o “desânimo já reina”.Em relação à situação económica, o líderdo PS chamou a atenção para o factodeste ano de Governo ser marcado pela“irresponsabilidade, pela depressão epela falta de confiança”. Com o discursoda tanga, “eles conseguiram criar umambiente muito depressivo, mas o queé um facto é que o País está hoje nasruas da amargura a vários níveis, desdea economia até ao nível social” afirmou.Os indicadores que saíram no mês deMarço, segundo Ferro Rodrigues, re-velam que se “conseguiu bater o recor-de de falta de confiança dos

portugueses”, desde os consumidoresaos empreiteiros.

Votar contrao Código do Trabalho

Sobre o Código do Trabalho que adireita se prepara para aprovar nopróximo dia 10, o líder o PS afirmou“ser uma vergonha que não tenhamaceite uma única proposta”. “Sem medoque nos chamem radicais ou deesquerda, vamos votar contra porqueé uma coisa negativa para Portugal epara os portugueses” declarou FerroRodrigues.Sem complacências na análise, osecretário-geral do PS considerou queo Governo aposta tudo na gestão dociclo segundo a fórmula “fazer todo omal agora” na esperança de que osportugueses tenham curta memória,para mais tarde, na segunda partedeste mesmo ciclo, “apresentaremalgumas melhorias inevitáveis”. Mas,Ferro Rodrigues avisa que depois dascoisas terem descido abaixo do queseria normal, qualquer pequena

melhoria “pode ser vista como granderealização”. “Mas eu acho que elesmenosprezam o povo português e oeleitorado. Em todas as sondagens eestudos de opinião, os portuguesesmostram que não gostam de serenganados, o eleitorado não gosta demistificações”, afirmou o líder socialista.Por isso, está convencido “de que amemória não vai ser curta e que nospróximos ciclos eleitorais vamos ter nãoapenas a oportunidade mas o deverde dar ao País respostas positivas,respostas socialistas”.A situação internacional serviu tambémpara nova ofensiva contra o Governo.“Também nos meteram numa posiçãoem relação à guerra no Iraque que écontrária ao sentimento do povo

português, ao Direito Internacional e atoda prática política seguida pelosgovernos portugueses depois do 25de Abril”, sublinhou.Na análise que faz do posicionamentode Portugal nesta grave crise, Ferroconsidera que “o País não perdoatambém ao Dr. Durão Barroso o factode ter estado nas Lajes a fazer umultimato não a Saddam, mas aoConselho de Segurança das NaçõesUnidas. Aliás, o ultimato que foi feito nacimeira das Lajes ao Conselho deSegurança deu menos tempo aoConselho de Segurança do que maistarde a administração americana deua Saddam Hussein e aos seus filhos”.Segundo o secretário-geral do PS,assim se demonstra que Portugal, “com

GOVERNO EM DECADÊNCIA

DEMISSÕES PRECISAM DE SERTOTALMENTE ESCLARECIDAS

Instando pelos jornalistas a pronunciar-se sobre as demissões dos ministrosIsaltino Morais e Valente de Oliveira e a subsequente remodelaçãogovernamental, o secretário-geral do PS, à chegada ao Forum da Maiaonde presidiu à abertura do Congresso da Federação do Porto, considerouque “o Governo ao longo deste ano criou uma situação de recessãoeconómica e de crise de desemprego muito grave, criou um ambientedepressivo, um ambiente de falta de confiança. É esse ambiente queagora se sente dentro do próprio Governo”. Para Ferro Rodrigues, “estanão é uma remodelação dirigida pelo primeiro-ministro, esta foi umaremodelação a que o primeiro-ministro se viu obrigado 48 horas antesduma comemoração de um ano de Governo onde se esperavam medidas,aliás, nas áreas do ambiente e do investimento público debaixo da tutelado Ministério das Obras Públicas”.Sobre os nomes indicados para as pastas remodeladas, Ferro Rodriguesafirmou que “do ponto de vista político e técnico os nomes escolhidos têmmuito menos currículo, pelo que há um enfraquecimento do Governo”.Por outro lado, do ponto de vista da representação nacional no Executivo,o líder do PS considerou que “a saída do ministro Valente de Oliveirarepresenta também o enfraquecimento da região Norte “.Em relação aos motivos que rodearam a demissão do ministro IsaltinoMorais, o líder socialista exigiu cabais esclarecimentos: “Todas asquestões ligadas a essa célebre conta na Suíça, quem é de facto o seutitular, de que forma é que o património foi crescendo, o que se passa emtermos fiscais, tudo isso tem de ser esclarecido”, afirmou Ferro Rodrigues.

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4 9 ABRIL 2003ACTUALIDADE

esta administração, entrou numa lógicacompletamente contraditória com tudoaquilo que é prática democrática, lógicaconstitucional e interesses do País”.Para o pós-guerra, Ferro Rodriguesconserva a esperança de que Portugal“possa erguer a sua voz no sentido denão permitir que o futuro político danação iraquiana seja comandada porquem quer que seja fora do quadrodas Nações Unidas”.Falando sobre o futuro do partido e dopróximo ciclo eleitoral, Ferro sublinhouque o PS concorrerá sozinho com listaspróprias ao Parlamento Europeu.“Concorreremos às eleições europeiascom o nosso programa, com a nossaautonomia, com os nossos objectivos”,pois, adiantou, “nem outra coisa seriade esperar do partido que foi fundadordo ideal europeu em Portugal e quesabe o que quer para a Europa e paraPortugal na Europa”.

Afinar a estratégia

O Congresso Nacional do PS de2004, segundo o secretário-geral,servirá sobretudo para afinar aestratégia das autárquicas, daspresidenciais e das legislativas, tendotambém presente que no próximo ano

haverá eleições regionais “muitoimportantes para nós, nomeadamentenos Açores”.“Para partirmos bem para as presiden-ciais e para as legislativas, temos departir com um vitória nas autárquicasde 2005. Estamos a preparar-nos para

isso, temos todas as condições para oconseguirmos fazer”, assegurou tantoaos congressistas de Lisboa como doPorto.Mostrando-se convencido de que o PSsai mais forte depois de todos oscongressos federativos que se

realizaram no passado fim-de-semanaem que os socialistas amplificaram nas19 distritais um único discurso político,Ferro Rodrigues congratulou-se coma “participação fortíssima dos militantesdo PS nos actos eleitorais”.“O partido tem hoje militantes que

querem ter uma voz activa, interve-niente e permanente na sua vidainterna e que não querem serchamados apenas quando há comíciosou grandes reuniões” afirmou.Ferro Rodrigues deixou também pala-vras de grande apreço quer para osanteriores presidentes das federaçõesquer para os novos dirigentes.No Porto, sublinhou que NarcisoMiranda esteve sempre a seu lado eao lado do PS, e que com FranciscoAssis partilhou bons e maus momentosdurante da última passagem socialistapelo Governo, quando este camaradaera líder parlamentar. Em Lisboaelogiou o papel de Edite Estrela“património vivo do PS”, e destacou ofacto de Joaquim Raposo ser ademonstração de que “é possívelrenovar com homens e mulheres quehá muitos anos fazem parte do PS”.Foi com um apelo à unidade que olíder do partido terminou as suasintervenções no Porto e em Lisboa:“Quando um congresso acaba ofundamental é que o bom senso permitaque todos estejamos unidos porque navida democrática não há inimigos, sóhá adversários. Os nossos adversáriosestão todos fora do PS”, concluiu.

S.G.S.

ELEIÇÕES FEDERATIVAS REFORÇAMLUTA NO TERRENO CONTRA O PSD/PPAs federações distritais do PartidoSocialista realizaram este fim-de-semanaos seus congressos, dando assim o tirode partida para a afirmação do partidono terreno e para os combates eleitoraisque estão já no horizonte, designa-damente as eleições que em 2005 serealizam para o Parlamento Europeu epara as autarquias. Concluído que estáo processo eleitoral, o adversário detodo o partido é agora só um: o PSD ea coligação de direita.Do conjunto dos congressos, aquelesonde se travou uma luta mais renhida,registando até alguns resultadosinesperados, foram Porto, Setúbal eFaro. Mas mesmo nestes, apesar dadisputa interna, os candidatos estãosintonizados no mesmo sentido, depretenderem um partido coeso, abertoao exterior e pronto para a denúnciadas políticas PSD/PP, que tanto têmprejudicado os portugueses.O secretário-geral do PS, FerroRodrigues, e perto de uma dezena dedirigentes nacionais estiveram presentesnos congressos federativos, encer-rando-os com apelos à mobilização dopartido e ataques cerrados às políticasdo Governo de direita. Almeida Santos,Paulo Pedroso, António Costa, AugustoSantos Silva, Ana Gomes, JoãoCravinho, Pedro Adão e Silva, JoséSócrates, Vieira da Silva, Luís Nazaré,Ana Benavente, Ana Gomes, AntónioJosé Seguro, Alberto Martins e RuiCunha, foram os dirigentes nacionaisque estiveram presentes de norte a suldo país, amplificando junto dos militantesa mensagem política do Partido Socialistae fazendo um balanço negro de primeiroano de governação.Em Aveiro, Alberto Souto confirmou asua liderança, numa disputa acesa. Nocongresso, acabou por eleger para a

Comissão Política 33 membros da sualista, contra apenas 28 de AfonsoCandal, o seu opositor.Vítor Baptista, que se apresentou àcabeça da Lista B, obteve um vitóriaclara em Coimbra, depois de na eleiçãopara presidente da federação terconseguido 72,5 por cento dos votos.Para a Comissão Política Distrital, opresidente eleito conseguiu eleger 54membros, contra 17 da sua adversária,Teresa Alegre.Em Faro, onde se registou umaafluência recorde de 80 por cento, opresidente eleito foi Miguel Freitas,embora tivesse sido a moção deestratégia de Luís Carito a obter maisvotos (139) do que as do seusopositores. Assim, Miguel Freitas obteve111 votos, ainda menos do que a doterceiro candidato, Manuela Neto, com131 votos.Em Setúbal, Maria Amélia Antunes,presidente da Câmara do Montijo,ganhou a presidência da federação,

mas não conseguiu obter a maioria paraa Comissão Política, já que AlbertoAntunes elegeu 22 apoiantes e EmídioXavier 6.Em Beja, o autarca de Ferreira doAlentejo, Luís Ameixa, voltou a ganharà vontade as eleições para a ComissãoPolítica com a moção de orientação “OPS, Primeiro, Sempre”. Conseguiueleger dois terços dos elementos da sualista, isto é, 35 contra apenas 16 da queapoiou António Camilo.Em Évora e em Portalegre não houvesurpresas, já que Henrique Troncho eCeia da Silva, respectivamente,concorreram sozinhos. Troncho, com amoção “Pelo Alentejo, sempre” obteve253 dos 258 votos expressos, e Ceiada Silva não teve oposição à sua moção“Pelo norte alentejano fazer bem,sempre”.Em Castelo Branco, FernandoSerrasqueiro, que concorreu semopositores, viu a sua moção “Prosseguirna rota certa” ser aprovada por

unanimidade. Também aprovadasforam as moções de Fernando Cabral,na Guarda, intitulada “A força de umideal”, e a de Miguel Medeiros, emLeiria, que elegeu os 55 representantesapenas com 9 votos contra. A moçãoque apresentou tinha o título “Pelofuturo, convergir para vencer”.Em Viana do Castelo, Rui Solheiro foieleito com 84,8 por cento dos votos. Jápara a Comissão Política, Solheiroelegeu 42 apoiantes, contra apenas 9do seu concorrente, José CarlosResende.Em Vila Real, Ascenso Simões tambémnão teve dificuldade em ser reeleito. Coma moção “Um novo tempo”, aprovadapor unanimidade, elegeu os 31elementos da Comissão Política com 117votos favoráveis num universo de 124.Em Braga, Joaquim Barreto foi o únicoa apresentar-se, com a lista “Unidospelo distrito para novos desafios”. AComissão Política será liderada peloautarca de Braga, Mesquita Machado.

Em Bragança, Mota Andrade conseguiuser reeleito, embora com algumadisputa. Nas eleições para a ComissãoPolítica, Mota Andrade, que seapresentou com a moção “O futuro como PS”, elegeu 28 elementos, contra 17da lista opositora, encabeçada por AiresFerreira.Em Viseu, José Junqueiro disputou aseleições com Paulo Albernaz, ganhandocom uma folga considerável. Junqueiro,com a moção “Preparar o futuro”,elegeu 58 dos 71 membros para aComissão Política e manteve-sepresidente da Federação com aconfiança de 79,3 por cento dosmilitantes que exprimiram o seu voto.Na Federação do PS/Oeste, JoséAugusto Carvalho apresentou-se coma moção “Afirmar as bases do futuro” eelegeu os 27 membros da ComissãoPolítica com 83 votos, registando apenasquatro brancos.Em Santarém, a luta foi mais renhida emvirtude de existirem três candidaturas,não obstante Paulo Fonseca ter ganhoà primeira volta de forma inequívocacom 55,1 por cento dos votos. Para aComissão Política, Paulo Fonsecaarrecadou 67,2 por cento dos votos,contra 32,7 de Rui Barreiro.No Porto, a lista de Narciso Mirandasurpreendeu ao conseguir 36 lugares,contra 35 da lista apresentada porFrancisco Assis. Tanto na Comissão deJurisdição como na ComissãoEconómica, Narciso elegeu mais umelemento que Francisco Assis. De referirque Francisco Assis ganhou as eleiçõespara presidente da Federação do Portocom 52 por cento dos votos expressos.Em Lisboa, Joaquim Raposo foi o únicoa apresentar lista para a ComissãoPolítica, sucedendo assim semquaisquer obstáculos a Edite Estrela.

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59 ABRIL 2003

ISABEL PIRES DE LIMA

ARGUMENTOS

PORQUE SOMOS CONTRAESTE CÓDIGO DO TRABALHO1. O PS defende que a lei e a contratação colectiva de trabalho devem responder melhor aos

desafios da promoção da cidadania e da equidade no trabalho e no emprego, da melhoria doemprego e do acréscimo da produtividade empresarial. A proposta de Código de Trabalho quea direita quer aprovar vai em sentido contrário: degrada os direitos dos trabalhadores; ataca aliberdade sindical, o direito à negociação colectiva e o direito à greve; e pouco ou nada contribuipara o aumento sustentável da competitividade das empresas.

2. O novo Código do Trabalho é conservador e retrógrado porque ignora a própria evolução doDireito do Trabalho ao longo de todo o século XX: assenta na ficção da igualdade das partes narelação laboral, sobrepõe a relação individual de trabalho às relações colectivas de trabalho ecombina a desregulamentação dos mercados de trabalho com intervenções casuísticase autoritárias do Governo.Esta orientação é contrária à consagrada na Constituição da República Portuguesa.

3. O novo Código do Trabalho adopta, à revelia do direito comunitário, uma concepção restritivada desigualdade de género no trabalho e na vida familiar e, ao arrepio do que a Constituiçãoimpõe, não promove a igualdade entre os sexos no trabalho e na família. Por exemplo, nãoreconhece ao pai o direito a não prestar trabalho extraordinário durante os primeiros dozemeses da vida do filho ou filha. Este Código prejudica ainda mais a condição das mulheres e oequilíbrio das famílias.

4. Este Código mantém a indefinição quanto a vários regimes jurídicos como é o caso do aplicávelao trabalhador estudante, da protecção jurídica dos salários, dos direitos das comissões detrabalhadores e dos delegados sindicais, entre outros. Por exemplo: com este Código, otrabalhador estudante ficará sem saber que direitos tem quanto a licenças e dispensas para aprestação de provas escolares; com este Código, as comissões de trabalhadores verão reduzidosos créditos de horas para a sua actividade.

5. Este Código põe em causa a segurança e estabilidade no emprego, aumentando a duração dacontratação a termo, facilitando os despedimentos e permitindo que certas empresas possamopor-se à reintegração de trabalhadores ilegalmente despedidos, comprando miseravelmenteo “direito” a despedir!

6. Este Código altera o conceito de trabalho nocturno, diminuindo o número de horas consideradascomo de trabalho nocturno e produzindo efeitos discriminatórios nas remunerações dostrabalhadores recém-contratados.

7. Este Código restringe os direitos individuais dos trabalhadores, facilitando a mobilidade funcionale geográfica involuntária, o que põe em causa, uma vez mais, princípios fundamentais comexpressão constitucional.

8. Este Código reforça os mecanismos de adaptabilidade não negociada, com prejuízo nítido paraos trabalhadores e suas famílias beneficiarem da conciliação entre a vida profissional e pessoal.

9. Este Código desrespeita claramente o princípio da liberdade sindical e o direito de negociaçãocolectiva, protegidos pela Constituição da República e definidos pelas normas internacionais dotrabalho como pilares fundamentais dos direitos sociais do trabalho.

10. Este Código permite a criação de “vazios contratuais” em sectores e empresas onde actualmentevigoram convenções colectivas de trabalho.

11. Este Código torna lícita a intervenção casuística, discricionária e autoritária do Governo nadeterminação da regulamentação do trabalho, o que contraria frontalmente as normas e adoutrina da Organização Internacional do Trabalho.

12. Este Código ataca duramente o direito constitucional à greve. Por um lado, permite a substituiçãode grevistas por empresas de prestação de serviços, mesmo que não se trate de assegurar osserviços mínimos. Por outro lado, permite escandalosamente que sindicatos, ainda que nemsequer representativos, prescindam do direito à greve que a Constituição reconhece aostrabalhadores, só para poderem assinar um contrato colectivo.

13. Por todas estas razões, o Código do Trabalho não permitirá atingir nenhum dos objectivos quese propõe: não promoverá a competitividade empresarial, não promoverá o emprego nemcombaterá o desemprego e a desigualdade de oportunidades. Constituirá um ataque da maiorgravidade contra as liberdades e a cidadania no mundo do trabalho e contra a liberdade sindicale os direitos colectivos dos trabalhadores.Por isso, o PS está frontalmente contra o Código do Trabalho da direita.

LER (JOSÉ CRAVEIRINHA) UMA BELÍSSIMA POESIA NOSSA IRMÃJosé Craveirinha, poeta moçambicano recentemente falecido, aos 80 anos, é umadas vozes fundadoras da literatura moçambicana. Xigubo(1964) foi o seu primeirolivro, logo apreendido pela PIDE, ao qual se seguiram muitos outros de que sedestaca Karingana ua Karingana, Cela 1, Maria. Muito premiado nacional einternacionalmente (prémio Camões em 1991), foi um embaixador da literaturamoçambicana no mundo.A sua poesia canta a revolta, a raiva, o amor, a solidariedade e faz a denúnciafrontal da injustiça social e racial, como testemunham estes versos do poema “Gritonegro”:

Eu sou carvão.Tenho que arderQueimar tudo com o fogo da minhaCombustão.Sim!Eu sou o teu carvão, patrão.

E canta um ideal de mestiçagem harmoniosa, que de resto o marca biologicamente,filho que foi de pai algarvio branco e de mãe ronga negra, mestiçagem culturalespelhada no poema, “A fraternidade das palavras”, que termina assim :

E eis que num espasmode harmonia como todas as coisaspalavras rongas e algarvias ganguissamneste satanhoco papele recombinam em poema.

Craveirinha foi um apaixonado pela língua portuguesa que cultivou com exaustivo

trabalho e que aprendeu a amar pelos lábios desse pai algarvio, colono pobre,cuja voz grave relembra “recitando Guerra Junqueiro ou Antero”, a quem elededicou um extraordinário poema intitulado “Ao meu belo pai ex-emigrante”, noqual garante:(...) não esqueçomeu antigo português puroque me geraste no ventre de uma tombasanaeu mais um novo moçambicanosemiclaro para não ser igual a um brancoqualquere seminegro para jamais renegarum glóbulo que seja dos Zambezes domeu sangue.

Perdemos, moçambicanos e portugueses, um grande poeta de língua portuguesa.Sugiro a leitura da sua poesia, que está publicada entre nós pela Editorial Caminho,e garanto que terão a confirmação dos seguintes versos seus:

Amigos:as palavras mesmo estranhas

se têm música verdadeirasó precisam de quem as toqueao mesmo ritmo para seremirmãs.

Descobrirão ou redescobrirão, os que já o leram, uma belíssima poesia nossairmã.

PERCURSOS

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6 9 ABRIL 2003INICIATIVA

O “ACÇÃO SOCIALISTA”AGORA É GRÁTISBasta ter as quotas em dia.

PreâmbuloNos termos da lei 56/98 com aredacção da lei 23/2000 e alteradapela lei – orgânica 1/2001 de 14/08/01, vulgo – lei dos financiamentos dospartidos políticos, os artºs 3º Receitaspróprias e financiamento privado, e 4ºRegime dos donativos admissíveis,distinguem-se claramente.Assim, no seguimento do art.º 15 dosEstatutos do PS nas suas alíneas f) ...“Pagar centralmente nos termosdefinidos pelo Secretariado Nacional,uma quota mensal, a ser transferidapara a secção em que estiver inscrito.”,conjugado com a alínea h)... “Assinaro “Acção Socialista”, jornal oficial doPartido”, é elaborado o presenteregulamento de QUOTIZAÇÃO.

Artigo 1ºDo tipo de quotasA quota mensal a pagar por cadamilitante pode ser Normal, Suplementarou Solidariedade.

Artigo 2ºDo montante das quotas1 - A Quota Normal é de dois Euros (2•) por mês.2 - É considerada Quota Suplementar,todo e qualquer montante pago pelomilitante a título de quota, que excedao montante fixado para a Quota Normal.3 - A Quota de Solidariedade é de umEuro (1 •) por mês.

Artigo 3ºDa distribuição da receita dasquotas1 - Da receita das quotas pagas pelosmilitantes é entregue à secçãorespectiva, o valor de 50% da quotanormal, ou da quota de solidariedadepor cada militante, por chequeperiodicamente pela Sede Nacional,acompanhado de extracto bancáriocomprovativo.2 –Os restantes 50% das referidasquotas destinam-se a suportar oscustos de produção e envio do AcçãoSocialista.3 – A quota suplementar reverte paraa secção indicada pelo militante, e na

REGULAMENTO DE QUOTIZAÇÃOausência de indicação para atesouraria central do Partido.

Artigo 4ºDa Quota de Solidariedade1 - Podem beneficiar do pagamentoda Quota Solidariedade os militantesque comprovadamente:a) Sejam beneficiários de abonocomplementar a crianças e jovensdeficientes;b) Sejam beneficiários de subsídiomensal vitalício;c) Sejam pensionistas que recebampensão não superior ao salário mínimonacional;d) Sejam beneficiários de prestaçãopor situação de carência, paga porserviços oficiais;e) Sejam pensionistas de doençaprofissional com grau de incapacidadepermanente global não inferior a 50%.2 – O pagamento da Quota deSolidariedade deve ser requerido,pelos militantes que se encontrem nascondições referidas no númeroanterior, junto das secções deresidência, e de acção sectorial, oucyber secções e cujo pedido sejaenviado à Sede Nacional.

Artigo 5ºDa assinatura do jornal oficial doPartido1 - O valor da quotização paga pelosmilitantes inclui a assinatura e envioquinzenal do “Acção Socialista” para aresidência indicada pelo militante.2 – Um mês após a data de pagamentoda quota e tendo-se verificado que elanão foi paga, será suspensa a entregado jornal para a residência, até que asituação seja regularizada.

Artigo 6ºDo pagamento1 – As quotas podem ser pagasAnualmente , durante o mês deFevereiro, ou Semestralmente,durante os meses de Fevereiro eOutubro.2 - Os militantes podem pagar asquotas por Via bancária ou Viamultibanco.

3 – O pagamento por Via bancária éefectuado em conta especificamenteaberta para o efeito, indicada em anexoa este regulamento, através de:a) Ordem Permanente de Transferência;b) Depósito em Cheque;c) Depósito em Numerário.4 – Os militantes podem, também,proceder ao pagamento das quotas Viamultibanco, cujas instruções estãopreenchidas em anexo.5 - No pagamento por Via bancária eVia multibanco os militantes têm queindicar obrigatoriamente o código dasecção a que pertencem (4 dígitos)seguido do número de militante (5dígitos), o qual será enviadopreviamente aos militantes.

Artigo 7ºDisposição Transitória1 – No ano de 2003, o período anualde pagamento bem como o do primeirosemestre prolonga-se, excepcional-mente, até 30 de Abril.2 – Para efeitos de efectividade de direi-tos considera-se que, nos actos eleito-rais a decorrer até ao fim do 1º semestrede 2003, a quotização será consideradaregularizada com a apresentação daquota de Dezembro de 2002.3- Sem prejuízo do art.º 27 (dosEstatutos do Partido Socialista naRegiões Autónomas) aplica-se esteRegulamento a todo o Universo doPartido Socialista.

ANEXO I

Ao Art.º 6º - n.º 3

Conta - BCP - Nova Rede -“PSQUOTIZAÇÕES”Número - 452 341 62873NIB - 0033 0000 45234162873 05

Ao Art.º 6º - n.º 4

Entidade 20132

Referência 0000 XXXXX N.º Militante

Valor •

NOVO SISTEMADE QUOTAS

Com a recente aprovação e entrada em vigor do novo Regulamento deQuotização o sistema de pagamento de quotas foi substancialmentealterado.Em carta dirigida aos militantes, o secretário Nacional para aOrganização, Paulo Pedroso, explica que o regulamento aprovadovisa “introduzir alterações para cumprimento das regras estipuladaspelo Tribunal Constitucional e pela Lei do Financiamento dos PartidosPolíticos, na identificação das receitas do Partido”, ao mesmo tempoque melhora comunicação interna no PS.As quotas, que incluem o envio do “Acção Socialista” quinzenalmentepara a residência de cada militante, foram classificadas de modo diferente.Assim, nos termos do novo regulamento, coexistem as quotas ditas“normais”, cujo montante foi fixado em 2 (dois) euros mensais, as“suplementares” definidas como qualquer montante pago pelo militanteque exceda o valor estipulado, e as de “solidariedade”, ajustadas em 1(um) euro, sendo estas pagas apenas pelos camaradas em situaçãoeconómica desfavorável comprovada.O pagamento das quotizações pode ser feito anualmente (em Fevereiro)ou por semestre (em Fevereiro e Outubro), mediante ordem permanentede transferência bancária, depósito de cheque ou numerário ou aindapor via multibanco. Neste último caso é sempre necessário os respectivoscódigos.A título excepcional, as quotas deste ano podem ser pagas até 30 deAbril. Em caso de dúvida, os camaradas poderão ligar para a Linha Azul808 201 695.

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79 ABRIL 2003 PARLAMENTO

VIEIRA DA SILVA

CONSTITUIÇÃO DESRESPEITADANO RENDIMENTO SOCIAL DE INSERÇÃO

GOVERNO À DERIVAAssim, é evidente que a senhora ministra

está totalmente enganada. O País, asempresas, as pessoas precisam de mais e

melhor investimento. Reclamar o aumento deprodutividade e de competitividade e

desprezar o investimento necessário paraatingir esses objectivos só prova o irrealismo

da actual política.

FINANCIAMENTO DOS PARTIDOS

GOVERNO DEVE TOMAR A INICIATIVANA PROPOSTA DOS VALORES

JUSTIÇA

EXTINGUIR OS TRIBUNAIS MILITARESÉ MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS

Neste momento o Governo encontra-secompletamente perdido, sem estratégia, nomeio de uma grave crise económica esocial que ele próprio ajudou a criar.Confundindo determinação com teimosia,lançou-se numa acintosa gestão deexpectativas, por razões puramentepartidárias, e subordinou toda a políticaeconómica a uma visão puramentecontabilística do défice.É mais que tempo de travar essa corridapara o abismo, usando a margem demanobra ainda existente na aplicaçãointeligente e benéfica do Pacto deEstabilidade e Crescimento.Em grande parte por responsabilidadedeste Governo, perspectiva-se uma

recessão prolongada, bem como o aumento brutal do desemprego e adiminuição da capacidade competitiva da nossa economia. Com este Governo,em menos de um ano, há mais 100.000 desempregados e haverápossivelmente mais outros 100.000 no fim deste ano. O investimento caiuquatro pontos percentuais em 2002 e em 2003 cairá outro tanto, pelo menos.E sem investimento de qualidade em maior quantidade não se criam postos detrabalho, não aumentará suficientemente a produtividade, não se ganharácompetitividade e aumentará a divergência em relação aos níveis europeus.Por detrás de uma fachada contabilística construída à base de golpes dereceitas extraordinárias, a actual política orçamental perde credibilidade de diapara dia. O Governo não pode continuar agarrado a uma visão contabilísticado défice.Não tem sentido continuar a baralhar no mesmo saco despesa corrente edespesa de investimento. Concordamos integralmente com a supressão domau investimento. Mas discordamos com igual força da repressão do bominvestimento que a senhora ministra das Finanças tão cegamente nos promete.O crescimento futuro terá de ser comandado pela produtividade. É o factorinstrumental decisivo será o bom investimento nas pessoas, nos equipamentose nas infra-estruturas. No seu último relatório sobre Portugal a OCDE demonstrouque o investimento na educação e na formação é responsável por cerca demetade do crescimento da produtividade nas últimas décadas. Demonstrouigualmente que, apesar de inegáveis problemas de qualidade, a superioridadeda nossa taxa de investimento em relação à média da OCDE é responsávelpor um extra de crescimento anual de ½ ponto percentual do PIB.Assim, é evidente que a senhora ministra está totalmente enganada. O País, asempresas, as pessoas precisam de mais e melhor investimento. Reclamar oaumento de produtividade e de competitividade e desprezar o investimentonecessário para atingir esses objectivos só prova o irrealismo da actual política.O Governo está a afastar-se radicalmente da resolução da AR votada em 9 deJaneiro deste ano sobre a revisão do Programa de Estabilidade e Crescimento.Não só o Governo continua a não entender que “o equilíbrio nas finançaspúblicas deve ser articulado com uma política económica e social que aumentea confiança, diminua a incerteza, garanta a estabilidade social e promova aactividade económica”.Como também se coloca contra a posição unânime da Assembleia da Repúblicaque há três meses reafirmou “a necessidade de assegurar níveis estáveis esignificativos de investimento público, instrumento fundamental para, no horizontedo PEC, garantir a absorção dos fundos estruturais comunitários, acelerar amodernização infraestrutural e promover a convergência real com a UniãoEuropeia”.Não é o Pacto de Estabilidade e Crescimento que impede o Governo deajustar anticiclicamente a sua política à recessão e à severidade da situaçãointernacional. Como disse a senhora ministra em declarações recentes, 28 deMarço, “o Orçamento de Estado para 2003 pressupõe uma redução do déficeestrutural maior que a recomendação da Comissão Europeia no contexto daactual interpretação do Pacto”. Que a senhora ministra queira submeter o Paísa um tratamento tão masoquista, sai fora de qualquer entendimento. Razãotinha Miguel Cadilhe quando pede mais e melhor investimento público. Porquehá margem de manobra para isso.A ministra quer ser mais papista que o Papa à custa dos portugueses. SeDurão Barroso não mudar de orientação terá de ser responsabilizado pormais 100.000 desempregados este ano, por acrescidas dificuldades decompetitividade e de produtividade das nossas empresas, por quebra deinvestimentos infra-estruturais necessários à atracção de novas iniciativas.

JOÃO CRAVINHO

O Partido Socialista vai fazer tudo o quepuder para corrigir a lei que institui o Ren-dimento Social de Inserção (RSI) caso amaioria não altere o diploma no sentidoapontado pelo Presidente da República.Numa intervenção na Assembleia daRepública, o deputado socialista Vieirada Silva afirmou que o “PS não deixaráde usar todos os meios ao seu alcancepara que a Constituição seja respeitadae a solidariedade social defendida”,exortando ainda a coligação de direita a“responder positivamente ao apelo” deJorge Sampaio.O deputado socialista acusou a maioriade reagir “com reserva mental” às razõesinvocadas pelo Presidente da Repúblicapara vetar o diploma governamental.

Na opinião de Vieira da Silva, as alteraçõesao documento introduzidas pelo Governo“não resolveram o problema da inconstitu-cionalidade e mantiveram uma atitude

discriminatória”.Vieira da Silva criticou a posição doGoverno sobre a discriminação naatribuição do RSI aos jovens que têm entre18 e 30 anos, uma vez que “ não lhesbasta provar que vivem em extremapobreza, exige-se-lhes que só após de,pelo menos, meio ano de carência extre-ma possam aceder ao rendimento deinserção”.O dirigente socialista apelou à coligaçãode direita para que “não persista no erroe numa obstinação incompreensível” eretire do diploma as “condições restritivasde acesso dirigidas aos jovens”, acres-centando ainda que se o Governo “insistirneste caminho poderá ser uma prova deforça mas não será uma prova de razão”.

O Governo deve ser o primeiro a apre-sentar uma proposta sobre os novos va-lores dos financiamentos públicos a atribuiraos partidos, no âmbito da reforma do sis-tema político. Esta a posição oficial do Par-tido Socialista expressa por Alberto Martins.O deputado lembrou que “o poder deapresentar proposta pertence a cadagrupo parlamentar”, mas, ressalvou,“quem gere os fundos públicos é oGoverno”.O dirigente do PS explicou aos jornalistasque o grupo de trabalho para a revisãoda lei de financiamento não está,actualmente, a discutir a “natureza,

controlo e regime sancionatório” dassubvenções estatais aos partidos”,adiantando porém que, face às novaslimitações projectadas para os apoiosfinanceiros de particulares, os socialistasentendem que deverá haver um reforçocompensatório da componente estatal aonível das subvenções.Quanto à revisão da lei eleitoral para asautarquias, o dirigente socialista salientouque o PS não fechou as portas a “umasolução de compromisso” com a propostado PSD, embora tenha frisado que naanterior legislatura, os socialistasapontaram para a sua inconstituciona-

lidade por desrespeitar o princípio daproporcionalidade.Recorde-se que o projecto laranja visaatribuir executivos maioritários, automati-camente, à força política que vence aseleições, sendo os restantes lugares navereação distribuídos por método de“hondt”.Assim, os socialistas esperam umaaproximação do PSD à sua proposta,prevendo que o primeiro membro da listavencedora para uma Câmara Municipalpossa formar um executivo homogéneoentre os membros eleitos para a respectivaAssembleia Municipal.

O projecto de lei socialista sobre o fimdos tribunais militares em tempo de pazfoi aprovado por unanimidade, na ge-neralidade, na Assembleia da Repú-blica, juntamente com as propostascomunista e da maioria de direita.Os sete diplomas (três do PS) descemagora a sede de Comissão Parlamentarde Defesa Nacional, sendo previsível aextinção dos tribunais militares no iníciode 2004.Em defesa do projecto socialista, VitalinoCanas subiu à tribuna para afirmar que“a extinção de tribunais militares emtempo de paz não deve ser identificadacom qualquer preconceito anti-militar”,pois, se assim fosse o Grupo Parla-mentar do Partido Socialista “recusariaresolutamente” associar-se a tal medida.O deputado socialista explicou que umanova justiça militar viria reforçar direitos,aperfeiçoar o Estado de Direito econtribuir para a modernização dasForças Armadas e da GNR.

Esta a razão pela qual a bancada do PSapresentou, no passado dia 2, naAssembleia da República, um projectode lei prevendo a extinção dos tribunaismilitares em tempo de paz e garantindouma reforma do sistema baseada “nasnecessárias garantias de independência,nomeadamente no que toca ao estatutoexterno e interno dos respectivos mem-bros que não sejam juízes de carreira.”Assim, os juizes militares passarão aintegrar, em minoria, os tribunais comunspara efeitos de julgamento de “crimesestritamente militares” e eles serãoescolhidos entre oficiais do activo, sendonomeados para comissões de serviçode três anos, renováveis uma só vez,pelo Conselho Superior de Magistratura,ouvido o Conselho de Chefes de Estado-Maior ou o Conselho Superior da GNR.O parlamentar socialista salientou assima substituição da expressão “crimesessencialmente militares”, adoptada pelaConstituição até 1997, pela denomi-

nação “crimes estritamente militares”,destacando o comando de maiorrestrição subjacente ao conceito aonovo conceito e frisando que o projectode Código de Justiça Militar do PSprocurou interpretar adequadamente avontade constitucional, diminuindocorrespondentemente o número detransgressões qualificadas dessa forma.Para o deputado, será preciso “decidirse a tipificação de certas condutasprevistas no Estatuto do Tribunal PenalInternacional cabe no Código de JustiçaMilitar” e avaliar “a conveniência depromover uma alteração avulsa aoCódigo Penal no sentido de transferirpara o Código de Justiça Militar algunscrimes ali tipificados que podem serqualificados de estritamente militares”.Um outro aspecto destacado por Canasprendeu-se com a eliminação, dosvestígios do foro pessoal que persistemna justiça militar.

MARY RODRIGUES

Op

iniã

o

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8 9 ABRIL 2003PARLAMENTO

TRIBUNAIS

GOVERNO DEVE TOMAR MEDIDASIMEDIATAS PARA EVITARPARALISIA NA JUSTIÇA

APOLINÁRIO CONTRA CORTESNAS EMISSÕES REGIONAIS DA RDP

JOSÉ MAGALHÃES QUER EXPLICAÇÕESSOBRE COMPRAS DE MATERIAL INFORMÁTICO

ADMINISTRAÇÃO INTERNA

GP/PS PREOCUPADO COMDESCONTENTAMENTONOS BOMBEIROS

O Grupo Parlamentar do Partido Socialista quer que o ministro daAdministração Interna dê explicações sobre o actual desentendimentoentre os bombeiros e o Serviço Nacional de Bombeiros/Protecção Civil(SNBPC), estrutura que os vai tutelar.Num requerimento enviado à Comissão de Assuntos Constitucionais,Direitos Liberdades e Garantias, os deputados socialistas solicitam apresença de Figueiredo Lopes e do presidente do SNBPC, Leal Martins,da Liga dos Bombeiros Portugueses e de outros representantes daquelesprofissionais.Na base deste pedido do GP/PS estão as “notícias que dão conta dealguma instabilidade no âmbito dos corpos dos bombeiros portugueses”,atrasos nos pagamentos aos mesmos e “eventuais deficiências naconstituição” das suas estruturas dirigentes.Segundo Vitalino Canas, subscritor do requerimento, vive-se no sector“um verdadeiro ambiente de pré-guerra”, com os bombeiros “de costasvoltadas para o ministro”, numa altura em que a estratégia de combate aosincêndios “não está preparada sequer”.Há também informações, alertou, de uma tentativa de “partidarizar asestruturas distritais de bombeiros”.Vitalino Canas chamou também a atenção para o facto de este não ser oúnico problema que se vive no Ministério da Administração Interna,apontando questões por resolver na área da imigração e nas polícias.“Não é possível fazer-se uma reforma sem contar com os bombeiros”,disse, referindo-se aos protestos destes profissionais no que se refere aoprocesso de criação do SNBPC.

JAMILA QUESTIONA GOVERNOSOBRE INCENTIVOS A JOVENSEMPRESÁRIOSJamila Madeira, num requerimentoenviado ao Governo, quer saber se nareformulação do Programa Operacionalde Economia (POE) está previstaalguma medida de apoio exclusivo àcapacidade empreendedora dos jovensempresários.O requerimento da deputada socialistasurge na sequência de notícias vindasa lume na imprensa, segundo as quaiso POC vai dar lugar ao PRIME econsequentemente as medidas deauxílios e de incentivos passarão a ternovas regras.No documento enviado ao ministro daEconomia, Jamila Madeira perguntatambém se não deveria ser dada umamaior visibilidade ao actual SAJE 2000que até agora tem efectuado um trabalho de parceria com as entidadescoordenadoras do POE, designadamente “na avaliação dos projectospromovidos por jovens e na respectiva atribuição de majorações e quetem sido reconhecido como a entidade melhor posicionada para fazer aponte com os jovens empresários”.

O deputado José Magalhães quer saberse a ministra das Finanças, Manuela Fer-reira Leite, pretende comunicar ao Minis-tério Público casos em que serviços daAdministração Pública compram materialinformático a fornecedores fora da lista doEstado, o que configura uma violação doquadro legal que regula esta matéria.Em requerimento apresentado na Mesada Assembleia da República, o vice-pre-sidente da bancada socialista questionatambém a ministra sobre as razões que alevaram a não homologar os resultadosdo concurso que visava actualizar osfornecedores em matéria de equipamentoinformático.

“Depois de um bizarro silêncio - que deixouboquiabertos os que tinham confiando nointerlocutor Estado - veio a explicação secae dogmática da ministra das Finanças: ocongelamento seria a forma inovadora decombater a inércia em matéria de políticade aquisições”, salientou José Magalhães.O deputado socialista considera “gravíssi-mas as consequências práticas” resultan-tes desta medida do Governo e diz nãoperceber qual a estratégia do Executivoem matéria de aquisição de bens eserviços informáticos.No documento, José Magalhães querainda informação “urgente” sobre apossibilidade de existirem práticas de

contratação por ajuste directo, mas “foradas condições que a lei admite”, para “oschamados grandes projectos daAdministração Pública”.A confirmarem essas práticas, segundo odeputado socialista, estar-se-ão a“contornar as regras comunitárias enacionais sobre livre concorrência emmatéria de contratos de fornecimento”.O deputado do PS quer ainda explicaçõessobre “as más práticas de serviços quecomeçam a usar o leilão electrónico paralesão da concorrência e celebração demaus contratos de aprovisionamento,contornando as limitações legais fixadasem 1999”.

O deputado socialista José Apolináriopediu explicações ao Governo sobre aredução de emissão própria por partedos centros regionais da RDP, quepassaram a ter apenas uma hora,considerando esta medida “centralista earrogante”.No requerimento dirigido ao ministro daPresidência, Morais Sarmento, oparlamentar socialista eleito pelo círculoeleitoral de Faro sublinha que “aquelaque foi ao longo de décadas a voz doAlgarve fica doravante reduzida àemissão de 60 minutos”.Até aqui, lembra, as emissões regionais

da RDP/Sul, inauguradas em 1959,tinham quatro horas diárias, divididas emdois períodos, e dois blocos noticiosos,às 11h30 e 18h30.Doravante, “as emissões terão 60minutos nesse verdadeiro ‘pico deaudiência’ radiofónica que é o período14h/15h”, refere num tom irónico.Apolinário acusa ainda o Governo deestar a tomar uma “opção centralista earrogante, de menosprezo para com aspopulações fora dos grandes centros”, àsemelhança do que já fizera com a RTP,“ao eliminar a RTP/Regiões”.“O Algarve e outras regiões pagam assim

mais uma factura pelo Não à Regio-nalização, numa opção anti-região, emcontraponto à opção descentralizadorada estação de rádio mais ouvida do País,a Rádio Renascença, que mantém umaestratégia própria em Braga, Leiria eÉvora”, afirma.“Pretende-se com esta iniciativa reduzircustos? Se sim, quais? Em pessoal? Emmeios operacionais? E não considera oGoverno que o serviço público deradiodifusão nas regiões também integrao núcleo essencial do serviço público aprestar pela RDP?”, pergunta Apolináriono requerimento a Morais Sarmento.

A Justiça portuguesa está a chegar a umponto sem retorno. “Ou o Governo tomamedidas imediatas ou os tribunais podem,a breve trecho, passar por uma fase deaguda paralisação, agravando-se amorosidade processual e as pendências”.Este o alerta lançado pelo deputadoOsvaldo Castro, no passado dia 2.O parlamentar socialista falava naAssembleia da República, por ocasião dadiscussão do diploma apresentado pelamaioria de direita sobre recrutamento demagistrados e que, segundo disse, “nadaresolve nesta matéria”, limitando-se a“regularizar, aliás, mal”, as situações de27 juízes temporários, 55 substitutos deprocuradores adjuntos e 15 assessores.Depois de denunciar “a paralisia quegrassa no Ministério [da Justiça] em matériatão candente”, o parlamentar do PSadvertiu que “se não forem tomadasadequadas e urgentes medidas quanto àentrada em vigor da Acção Executiva, osjuízes correm o risco de se ver afogadoscom os processos que correrão pela leiantiga”.Num dossier em que “não se vai lá por

pequenos passos”, disse, torna-senecessária “uma reflexão de fundo, masurgente, de todo o sistema de formaçãode magistrados e da orgânica judiciária”.“É mesmo preciso adequar a justiça e oseu funcionamento às novas necessidadessociais e económicas”, frisou OsvaldoCastro, lembrando que esta é umaexigência dos juízes, dos advogados ede todos os operadores judiciais e

cidadãos, “a quem a justiça deve servir”.Voltando à proposta do Executivo, o de-putado afirmou que o PS votaria favora-velmente na generalidade o documento,anunciando, porém, que “em sede deespecialidade há correcções inadiáveis afazer sob pena de a presente lei fingir queignora a lei 3/2000 que introduziu, essasim, um regime excepcional derecrutamento de magistrados”. M.R.

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99 ABRIL 2003 INICIATIVA

OVIBEJA

FERRO DENUNCIAINCAPACIDADE GOVERNATIVANA AGRICULTURA

SESSÃO PÚBLICA EM FAFE

PELO EMPREGOE PELA PAZ

O Partido Socialista promove, no próxima sexta-feira, dia 11, emFafe, uma sessão pública “Pelo Emprego e Pela Paz”.Com a presença do secretário-geral, Eduardo Ferro Rodrigues,o evento terá lugar no Pavilhão do Grupo Cultural e RecreativoNun’Álvares, a partir das 21.30h, com o objectivo de “mobilizar asociedade para a retoma da confiança”.Assim, o PS prossegue na sua determinação de fazer “oposiçãofirme e consistente” a um Governo “que não olha o dia a dia dosportugueses, das suas famílias, que aos milhares sentem aredução do poder de compra e confrontam-se com a situação dodesemprego”, conforme explica, em carta aos militantessocialistas, o secretário nacional para a organização.Paulo Pedroso, na missiva, acusa o Executivo de Durão Barrosode “aplicar rudes golpes nos mais desfavorecidos” com as suaspolíticas, das quais destaca o Código de Trabalho, “precarizador”e “cheio de inconstitucionalidades”.Pedroso censura igualmente a “política irresponsável” de Barrosopelo seu alinhamento cego e acrítico “com aqueles que face àgrave situação [no Iraque] seguiram apenas a lei do mais forte epromoveram a guerra”.

PS COMEMORA 30 ANOS

O PS vai assinalar os 30 anos da sua fundação e de democracia em Portugal,com um vasto programa de comemorações, assente nas componentes memória,conhecimento, debate e futuro, no quadro da abertura do partido ao exterior.Trata-se de um programa que irá decorrer durante um ano, desde o próximodia 19 de Abril, data do aniversário do partido, até ao dia 25 de Abril dopróximo ano, tendo sido constituída para o efeito uma Comissão Organizadorapresidida por António Reis, um dos fundadores do partido, e que integraainda os camaradas Pedro Adão e Silva, Augusto Santos Silva, Vieira daSilva, Vitalino Canas e Jamila Madeira.O habitual almoço dos fundadores do PS, no dia 19 de Abril, data doaniversário do partido, que este ano contará com a presença de FerroRodrigues e Almeida Santos, respectivamente, secretário-geral e presidentedo PS, é a primeira iniciativa destas comemorações, cujo programa detalhadoserá apresentado nesse mesmo dia.

PS/AÇORES ADIACONGRESSO REGIONAL

O PS/Açores decidiu adiar para Setembro o Congresso Regionalconvocado para Maio na ilha Terceira.A decisão deve-se à opção da direcção do partido de submeter aoCongresso as linhas gerais do programa de Governo com que ossocialistas açorianos vão disputar as eleições de 2004 para aAssembleia Legislativa Regional.Na sua reunião magna o PS/Açores deverá ratificar a liderança deCarlos César que anunciou, recentemente, disponibilidade para voltara candidatar-se à chefia do Governo Regional nas regionais do próximoano, para continuar a mudança.

Ferro Rodrigues fez um diagnóstico muitopessimista do actual estado da agriculturaportuguesa, onde se regista uma“paralisia absoluta”, fruto da “incapacidadegovernativa para superar as dificuldadese os problemas” que afectam este sector.Na Ovibeja, onde se deslocou em visitaacompanhado pelo antigo ministro daAgricultura Capoulas Santos, o líder doPS mostrou-se particularmentepreocupado com o caso dos nitrofuranosdetectados em explorações de aves, quepode pôr em causa 50 mil postos detrabalho, sem que o Governo tomemedidas “que permitam que se volte aganhar confiança nessa área”.Ferro Rodrigues mostrou-se tambémpreocupado com as confusões sobre odestino a dar ao Alqueva, uma das obrasemblemática dos governos socialistas, jáque o desígnio agrícola foi preterido parapriorizar o turismo e a energia, umasituação que ainda não mereceu “qualquerreacção” do ministro da Agricultura.Questionado pelos jornalistas sobre aguerra no Iraque, o líder do PS voltou acriticar o seguidismo do Governoportuguês em relação à AdministraçãoBush, e considerou “profundamenteimoral” a corrida aos contratos para arecuperação daquele país, quando sesabe que há “interesses ligados àAdministração americana”.

Diferenciação positiva para oturismo

Ferro Rodrigues manifestou-se favorávela “uma diferenciação positiva em relaçãoa algumas actividades, nomeadamentea turística”. A este propósito, lamentou oaumento do IVA, que considerou “um erronão apenas económico, mas também emtermos de finanças públicas”.Falando no Largo do Rato, após umareunião com a direcção da Confederaçãodo Turismo Português (CTP), em queparticiparam também Luís Nazaré e JoséApolinário, o secretário-geral do PSsustentou que numa altura em que oPaís “entrou numa espiral depressiva” osector do turismo “é fundamental pararestaurar a confiança”, lamentando queo Euro-2004 não esteja a serdevidamente aproveitado para a“promoção de Portugal como um país depaz e desenvolvimento”.Para Ferro Rodrigues, o “Governo devia

ter estruturas preparadas pararesponder já com o incentivo deactividade turística em Portugal”, mas,adiantou, “há uma grande paralisia nãoapenas no investimento privado, mastambém na Administração Pública”.Sobre a recente admissão da CTP noConselho Permanente de ConcertaçãoSocial, o líder do PS disse que é “umpasso positivo”, uma vez que “éimportante que esta confederação, de tãogrande importância, esteja representadanuma estrutura em que está o Governo,os sindicatos e outros parceiros sociais”.

Militares no activo na RTP

Ferro Rodrigues apoia a iniciativa dodeputado socialista Manuel Alegre, quequestionou o ministro Paulo Portas sobreo facto de militares, no activo, fardados,aparecerem nas televisões a comentar aguerra no Iraque.Sublinhando que, em guerras passadas,os comentários foram normalmente feitospor militares que não estão no activo, olíder do PS referiu ser preciso esclareceras razões desta “inovação”, que “não épositiva”.

“O que aconteceria se um daquelesmilitares no activo assumisse umaposição contra a guerra? Certamente quehaverá militares no activo com diferentespensamentos sobre a matéria, certamenteque há uma escolha, quem faz essaescolha, com que critérios? É algo que éimportante que o senhor ministro daDefesa esclareça”, disse.Para Ferro Rodrigues, quando oscomentadores são militares na reservaisso deve também ser claro, para que osseus comentários não impliquem aposição do Estado “perante esta ouaquela situação”.O secretário-geral manifestou também asua solidariedade “pessoal, política einstitucional” com Ana Gomes, negandoa existência de divergências quanto aopapel que a secretária nacional do PSpara as Relações Internacionais temvindo a desempenhar.Ferro Rodrigues falava em Rio Maiordurante uma visita à Feira dasTasquinhas, onde se deslocouacompanhado por Capoulas Santos, aconvite do presidente da câmara local, osocialista Silvino Sequeira.

J. C. C. B.

PS/SINTRA

NOVA SECÇÃO EM CASAL DE CAMBRAO PS continua a crescer em Sintra. EditeEstrela anunciou, em Belas, a criação deuma nova secção em Casal de Cambra.No âmbito da ronda que está a efectuarpelas secções sintrenses, a presidentedo PS/Sintra deslocou-se a Belas paracontactos com militantes e análise dasituação política concelhia, tendo tambémexortado o secretariado a trabalhar na

captação de novos militantes.No balanço de um ano de administraçãolaranja da Câmara de Sintra, Edite Estrelacriticou fortemente a paralisia em que caiuo executivo local e sublinhou que “o queestá a ser feito não é mais do que acontinuidade do que foi deixado peloPS”.A dirigente do PS acusou ainda o

Governo de direita de “continuar adesrespeitar os interesses e asnecessidades dos cidadão que resideme trabalham neste concelho”, já que “nãosó introduziu as portagens na CREL, mastambém não faz concursos públicos paraa construção do IC30 e do IC16”,adiando desta forma a resolução dorecorrente problema das acessibilidades.

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10 9 ABRIL 2003ENTREVISTA

Que comentário faz às reformas datributação do património anunciadas nodomingo, em Fronteira, após o Conse-lho de Ministros? Não lhe pareceverdadeiramente extraordinário que oinício do prometido choque fiscal incidasobretudo na mudança do nome dosimpostos?Sem dúvida nenhuma que as mudanças denomes são coisas que têm uma grandetradição na política portuguesa, sobretudo umamá tradição, que não resolvem o essencialdos problemas. Agora, é preciso dizer queos governos do PS, nomeadamente o último,prepararam toda a reforma na área dopatrimónio, que eu espero possa vir adesenvolver-se de uma forma que sejacorrecta e que permita mais justiça fiscal. Noentanto, a grande mudança, designadamenteno imposto sucessório, não me parece queseja especialmente relevante, até pelasreceitas que este imposto tinha, que já erambastante baixas e o facto de, em boa parte,isto corresponder a uma mudança que vaisobretudo favorecer as heranças maisvultuosas e portanto as famílias mais ricasna sociedade portuguesa.

A propósito das comemorações emFronteira do primeiro ano de actividadedo Governo, as demissões de IsaltinoMorais e Valente de Oliveira estragaram,de certo modo, a pompa e a circunstânciaprevistas para a festa e deram nota deum Governo precocemente envelhecido.Concorda com a ideia de que aremodelação a contragosto a que oprimeiro-ministro se viu obrigado doisdias antes constitui um evidente erro de“casting”?O que me parece é que normalmente asremodelações têm dois cenários possíveis.Ou resultam de uma vontade políticaexpressa e de uma grande determinação porparte do primeiro-ministro ou da necessidadepor imperativo das circunstâncias que não

são controláveis de fazer alterações noGoverno. Foi claramente a segunda situaçãoque se verificou. O primeiro-ministro foiobrigado a remodelar num momento em quenão queria e que não esperava. Antes foiempurrado pelas circunstâncias, pelo“Independente”, pelas contas na Suíça, pelossobrinhos, por um conjunto de fenómenosparanormais e, portanto, aquilo que dá asensação é que os dois nomes a substituirIsaltino Morais e Valente de Oliveira sãonomes com muito menor relevância políticae com muito menor currículo técnico. Portanto,fica a ideia que este tipo de remodelação émais típica de um governo em final de mandatodo que de um governo que ainda não tinhacompletado um ano de acção.

Admitindo a existência de dificuldadesorçamentais no último Governo soci-alista, justificam-se os discursos da tangae do passa-culpas que o Executivo dedireita fez ao longo deste ano de gover-nação?O discurso da tanga foi um instrumento tácticopara levar o País a aceitar o não cumprimentodas promessas que o PSD tinha feito naseleições legislativas, o que se revelou comoalgo extremamente pernicioso. Eu diriamesmo que se na altura o País estava detanga, agora está de fio dental, visto que acircunstância do discurso da tanga ter sidofeito em conjugação com uma série depolíticas erradas que levaram à contracçãodo investimento público e à quebra dasexpectativas dos consumidores e dasempresas, o que conduziu o País de umasituação orçamental difícil para uma criseeconómica e social extremamente grave,nomeadamente em matéria de desemprego.

A opção doentia pelo controlo do déficeconduziu o País a um quadro de recessãoeconómica que, por sua vez, abriu asportas às falências e ao desemprego. Oprograma com que Durão Barroso se

apresentou ao eleitorado é precisamenteo contrário daquilo que tem feito. Haviade facto, como tem repetidamenteafirmado, um programa escondido?Todos os portugueses se recordam que oPSD ganhou as eleições, aliás com umavantagem pequena em relação ao PS, nabase de um programa que prometia mundose fundos, que prometia um crescimentoeconómico maior do que os governossocialistas tinham conseguido, tudo istobaseado num choque fiscal que permitiriaque as empresas e os cidadãos pagandomenos impostos tivessem muito maiorapetência pela actividade económica,estimulando o investimento e o crescimento.Ora, foi precisamente o contrário aquilo quese passou. Durante a campanha eleitoral tivepor diversas ocasiões a oportunidade dedizer que havia um programa escondido eque a prática política do PSD caso ganhasseseria bastante diferente daquilo que tinhaprometido e não há dúvida nenhuma que

infelizmente se concretizaram todas as pioresprevisões. O País hoje já reconhece que foienganado.

Tendo sido ministro do Trabalho e daSolidariedade, quais as razões técnicase políticas que o levam a considerar queo verdadeiro défice do País é o desem-prego?Penso que um país como Portugal, apesardas melhorias que conseguiu desde a entradapara a União Europeia e depois do 25 deAbril, continua a ter imensas fragilidades eum tecido económico e social débil. Por isso,não se pode brincar com a situação daspessoas e não se pode ver o desempregocomo uma variável macroeconómica, mascomo um objectivo social fundamental. Adireita menospreza a questão do desempregopor natureza, porque para a direita a existênciade mais desemprego é um factor que permiteque haja menor pressão sobre os salários euma menor reivindicação em termos sociais.A direita tem uma maneira de ver as questõesde produtividade que leva a que, em últimaanálise, se o desemprego crescer mais doque a recessão económica até podemos terum quadro absurdo que é o de recessãoeconómica, aumento do desemprego eaumentos de produtividade, como se osaumentos de produtividade fossem o aspectoessencial para a vida de um país.

O Parlamento prepara-se para votar estasemana o novo Código do Trabalho quepara além das inúmeras inconstitu-cionalidades, revela também um enormedesprezo pelos direitos dos trabalha-dores. Das propostas socialistasapresentadas na Comissão apenaspassaram uma ou duas. Será esta a provaacabada da arrogância da direita queactua como se de um rolo compressorse tratasse, chumbando tudo o que sejaproveniente da oposição?Normalmente a direita tem tido essa atitude,

com raríssimas excepções, ao longo destasessão legislativa. Portanto, no Código doTrabalho os partidos da direita funcionaramcomo frente de alguns parceiros sociais queterão assinado um acordo com o Governosobre esta matéria, e não como partidospolíticos disponíveis para debateraprofundadamente as propostas da oposiçãoe tentarem nalguns casos chegar a consensoe noutros casos justificar porque é quevotavam contra. Esta atitude só secompreende pela pressa de tentaremapresentar trabalho. Só que a pressa é máconselheira, e o que se vai verificar é quepara além de ser um mau código laboral, temainda variadíssimas inconstitucionalidades.

O Governo neste ano aprovou algumasdas ditas reformas estruturais. Háalguma que fique para a história?Eu julgo que a questão das reformasestruturais é uma mera conversa táctica e depropaganda da direita, dado que se nós formosver no concreto o que é que mudou nofuncionamento da economia, o que é quemudou no funcionamento da sociedadeportuguesa, o que é que mudou nofuncionamento das regras do jogo para osagentes económicos e sociais, verificamosque nada de substancial se alterou e asconsequências práticas daquilo que foiameaçado e nalguns casos levado à práticaforam negativas, ou seja, foi a recessão, odesemprego, a baixa do poder de compradas famílias e, por consequência, a conversadas reformas estruturais que tanto serviu paraatacar o PS, hoje serve para tentar justificaro injustificável, que é a existência de umGoverno que não cumpre com a sua palavra.

O PS manifestou-se desde a primeirahora contra a guerra no Iraque e criticouduramente a posição alinhada eseguidista do Governo português faceaos Estados Unidos e muito emparticular pronunciou-se contra o

AS REFORMAS ESTRUTURAISSÃO PROPAGANDA DA DIREITAÉ com determinação e vontade política que desempenha as

funções de secretário-geral do PS, talvez por entender este

lugar mais como um serviço do que como uma ambição

pessoal, apesar de nunca ter tido o desejo de se catapultar

para este cargo. Em entrevista ao “Acção Socialista”, que

pela primeira vez chega a todos e a cada um dos militantes

do PS, Ferro Rodrigues pede participação activa no partido

e, internamente, avisa para os perigos do fogo amigo que

“pode matar”.

“Se o País estava de tanga, agora está de fio dental”, afirma

Ferro Rodrigues em relação à situação económico-

financeira a que Portugal foi conduzido pelo Governo de

direita que mais parece estar em fim de mandato e não

a comemorar um ano de existência.

Fundamental, para o líder o socialista, é que se comece

bem o próximo ciclo eleitoral com “uma grande vitória nas

autárquicas”. No que respeita às europeias, se houver

coligação de direita só interesses eleitoralistas justificam

esse “escândalo nacional”, afirmou.

“A direita menosprezaa questão dodesemprego”

“O discurso da tangafoi um instrumentotáctico para levaro País a aceitar o nãocumprimento daspromessas do PSD”

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119 ABRIL 2003 ENTREVISTA

ultimato saído da cimeira das Lajes.Em seu entender, agora que a guerraestá prestes a chegar ao fim, o que deveser feito para que o mundo regresse aorespeito pelo direito internacional e quaisas medidas que devem ser tomadas parapreservar as Nações Unidas, a NATO e aUnião Europeia?A questão é muito complexa para se poderresponder em poucas palavras. Mas, semdúvida nenhuma, que o que se passar depoisdesta ofensiva militar no Iraque será muitoimportante, porque ou se encontram armasquímicas ou biológicas ou não se encontram,ou há efectivamente condições pararapidamente o Iraque avançar para umprocesso democrático para que o comandopolítico no Iraque seja determinado pelo seupovo ou não, ou as Nações Unidas têm umpapel central na reconstrução e mesmo nadeterminação dos investimentos que se terãode fazer em várias infra-estruturas e em váriasáreas do Iraque ou não. Ou seja, tudo istovai depender sem dúvida nenhuma dacomunidade internacional, mas também daAdministração Bush e da pressão que outrosgovernos possam fazer no sentido de evitara tentação de uma hegemonia total e dacontinuação do desrespeito pelo direitointernacional. Neste quadro, os aliados dosEstados Unidos terão uma palavra a dizer,porque ser aliado não significa ser cego eacrítico, mas, pelo contrário, significa ter umaposição forte no sentido de reconduzir a actualAdministração americana ao respeito pelasregras do jogo à escala internacional.Portanto, o futuro da ONU, a possibilidadede desta crise surgir uma União Europeiacapaz de perceber que tem que ter maiorautonomia nas áreas da defesa e da políticaexterna, a possibilidade da NATO se clarificarnos seus objectivos estratégicos e militares,são tudo questões que vão depender damaneira como a comunidade internacionalinteragir com os Estados Unidos e de sesaber se se ajoelha ou não.

Apesar de toda uma vida dedicada àpolítica, há mais de três décadas, algumavez imaginou que viria a suceder a MárioSoares, Vítor Constâncio, JorgeSampaio e António Guterres na liderançados socialistas, ou foram as circunstân-cias históricas que o impeliram para estelugar?Toda a gente se recorda que não erapropriamente algo que estivesse inscrito nasminhas ambições há um ano e meio atrásquando estava a desempenhar funçõesgovernamentais no Governo de AntónioGuterres com todo o empenhamento ecapacidade de que era capaz. Nunca tive aambição pessoal de me catapultar paralugares ou para funções importantes no PScomo aspecto central da minha vida, masneste momento e depois de uma eleiçãodirecta e de umas eleições legislativas emque o PS em circunstâncias difíceis teve,apesar de tudo, uma marca eleitoralimportante, 38 por cento, e depois de umcongresso em que voltei a ter a confiançados militantes, hoje é com toda adeterminação e com toda a vontade políticaque estou nestas funções para continuar estaluta pelas causas e princípios do nosso partido.

Foi o primeiro a importar para a políticaa expressão “fogo amigo”. Sendo o PSpor natureza um partido plural, há noentanto tiros que são evitáveis?Sim, sem dúvida. Aliás, a expressão fogoamigo é em si própria contraditória, como setem visto, infelizmente, por várias vezes nestaofensiva no Iraque. Portanto, foi uma forma,com alguma ironia, de procurar não dardemasiada importância a alguns episódiosque são menores e secundários na vidademocrática do Partido Socialista, mas aomesmo tempo chamar a atenção para o factode que às vezes o fogo amigo pode matar, epor isso é preciso que nós tenhamos sempreem consideração os valores e os princípiose os aspectos essenciais da estratégia do

PS e não esta ou aquela vaidadezinhaindividual, esta ou aquela afirmação pessoaljunto deste ou daquele jornalista. Não podemser esses os aspectos mais valorizados naacção partidária.

Que leitura faz dos resultadosverificados nos congressos federativosdo passado fim-de-semana?Como sabe, a direcção do PS e eu própriotivemos o cuidado de não ter qualquerinterferência nas decisões que demo-craticamente os militantes tomaram naseleições para os presidentes das federaçõese depois também nos congressos e na formacomo estes se desenvolveram. Penso queo que está à vista é que o PS continua a serum partido muito forte, com uma grandeexpressão popular, com muita vontade departicipação activa dos seus militantes, comalguma capacidade de renovação, mas épreciso ter em conta que tudo o que tem aver com pessoas e com funções políticas,evidentemente que muitas vezes é traumáticoe não se faz por decreto, nem com grandefacilidade. Assim, a renovação é um processoque vai durar anos, mas que já está a terboas consequências, com novas equipas ecom novas pessoas a protagonizarem nas

comissões políticas e nas diversasfederações estes novos desafios que o PStem pela frente.

No actual quadro interno, Porto eSetúbal afiguram-se, porventura, comoas distritais onde se espera maiorturbulência política. Como sublinhouno seu discurso de abertura noCongresso do Porto e reafirmou depoisno do enceramento do Congresso deLisboa, é lá fora que estão osadversários do PS. Vê-se também nopapel de “fazedor de pontes”?Eu penso que o secretário-geral de umpartido, e nomeadamente de um grande eenorme partido como é o PS, tem que teruma função de direcção e uma funçãodinamizadora, mas tem que ter tambémuma função estabilizadora e de procurados consensos internos, de forma apermitir que o partido avance e não fiqueparalisado e desse ponto de vista pensoque aquilo que nos une a todos é muitíssimomais forte do que aquilo que nos separa.Portanto, estou convicto de que aquilo aque as regras democráticas conduziram,ou seja, a existência de determinadascomposições nas comissões políticas emvárias distritais é perfeitamente compatívelcom um partido actuante desde que hajauma coisa que é muito importante em todosos aspectos da vida e também na política,que é bom senso.

A realização dos congressos federa-tivos marca o fim de um ciclo na vidainterna do partido em que a palavra deordem foi a renovação. A partir de agorapassam a estar reunidas as condiçõespara que o PS se prepare para aspróximas batalhas eleitorais, nomea-damente as europeias e as autárquicas.Qual é a estratégia de afirmação quepretende seguir para termos sucessonessas eleições?

Nós vamos ter no próximo ano doismomentos eleitorais muito relevantes, aseleições europeias e as eleições regionais.Nas europeias, o grande desafio serámostramos que é altura de o eleitoradoajustar algumas contas com este Governo,com esta maioria de direita, com aspromessas não cumpridas e com ocaminho que o País está a seguir, e julgoque o PS tem uma especial respon-sabilidade, na medida em que é um partidofundador do ideal europeu e é um partidomuito determinado também na sua linhapolítica pela postura pró-europeísta e deaposta na construção de uma Europa cadavez mais forte no plano internacional. Poroutro lado, também não nos podemosesquecer que se a direita for unida nessaseleições isso constituirá um escândalonacional, visto que ainda há bem poucotempo Paulo Portas era pura esimplesmente contra o euro e assistirmosagora a esta extraordinária metamorfose sóexplicável por interesses eleitoralistas purose simples e, portanto, o PS terá quedenunciar claramente essa posição e essapostura. As eleições regionais sãofundamentais para que o trabalho excelenteque o Carlos César e a sua equipa têmdesenvolvido na região autónoma dosAçores possa ser confirmado durante maisuma legislatura e também para que o PScomece a dar mostras na Madeira de quepoderá vir a ser uma alternativa a considerara prazo.

E quanto às autárquicas?As autárquicas já só serão realizadas depoisde um próximo Congresso do PS, vistoque vamos ter um Congresso em finais de2004, e portanto este será o momentoindicado para se tirarem conclusões maispráticas sobre como agir nas eleiçõesautárquicas, na perspectiva de que estassão o início de um ciclo políticoabsolutamente decisivo para os próximosanos, uma vez que em poucos mesesvamos ter eleições autárquicas,presidenciais e legislativas, e é fundamentalque se comece bem esse ciclo com umagrande vitória nas eleições autárquicas. Éque convém não esquecer que foi nasúltimas autárquicas que as coisascomeçaram a correr mal para o PS etambém para o País. Assim, é imperiosoque nas próximas autárquicas haja um sinalde mudança muito forte dado pelosportugueses.

Sendo que esta é a primeira vez que sedirige a todos e a cada um dosmilitantes do PS através do “AcçãoSocialista”, qual era a principalmensagem que gostaria de lhes dirigir?A principal mensagem que eu quero deixaraos militantes do PS que finalmente vãopassar a poder ter permanentementeacesso ao “Acção Socialista” é quetenham uma aspiração de participaçãoactiva na vida do partido cada vez maisforte, que não deleguem noutros a suavontade política e que estejam activos nãoapenas nos momentos eleitorais internosou externos, mas em permanência, e quesobretudo tenham a combatividade parapoder utilizar os nossos argumentos paraque não fiquem demasiadamente cercadospelas críticas dos nossos adversários. Osnossos militantes têm de compreender queos membros dos outros partidos, mais àesquerda ou mais à direita, atacam oPartido Socialista muitas vezes tentandodividir-nos, pôr-nos uns contra os outros.Por isso, é fundamental que tenhamos osnossos argumentos, que saibamosdefender-nos, e que não sejamos tãopermeáveis muitas vezes às críticas dosadversários. E, sobretudo, que sejamoscapazes também de os criticar, visto queestamos na oposição e podemos edevemos não apenas apresentaralternativas mas também denunciar aquiloque vai mal no nosso país.

CONFIDÊNCIASSabendo-se que é um apaixonado pelo futebol, como tem seguidoesta temporada em que o seu clube não tem estado à altura dospergaminhos leoninos?Eu acho que esta temporada, para terminar a vida do Estádio José Alvaladenão podia ter corrido pior, visto que não me lembro de num mesmo anoterem acontecido tantas desgraças, como a eliminação por uma equipa da2ª divisão, muito respeitável mas do escalão secundário, na Taça dePortugal em Alvalade, o facto de se ter perdido duas oportunidades departicipação nas competições europeias, ter-se perdido em casa com oBenfica e com o FC Porto, não se ter conseguido ganhar em casa nem aoBoavista nem ao Vitória de Guimarães, perder por três bolas a zero como Gil Vicente, é de facto muita coisa negativa numa mesma época. Portanto,espero que com o novo estádio, a partir de Agosto, a vida mude paramelhor também no meu clube. Agora, não posso considerar como negativoo facto de nos últimos quatro anos ter sido por duas vezes campeãonacional, ter ganho uma Taça de Portugal e duas Supertaças.

Tenciona ir ver jogos do Euro-2004?Sim, tenciono, se puder. Eu gosto do futebol bem jogado, independentementedaquele amor à camisola que se tem. E certamente que vamos ter grandesjogos no Europeu em Portugal e espero poder ver alguns.

O facto de ter sido avô ainda há pouco tempo mudou algumacoisa na sua vida?Mudou bastante porque acho que cria uma muito maior tranquilidade pessoal.Há uma beleza nas crianças e na relação entre um avô e uma neta que eunão supunha que fosse tão grande e que contribui muito para se estar bem.

É conhecida a sua afeição pelo seu cão Gastão. Agora, o que nãoera ainda público, e esta é uma inconfidência, é também o seubom relacionamento com os gatos. Qual o fascínio que lhedespertam os animais?Eu fui sempre habituado desde criança a conviver com animais, com cãese com gatos, em casa dos meus avós e numa quinta de uns tios meus. Eusempre achei que os animais tinham qualquer coisa de fascinante, porqueao mesmo tempo têm grande dependência de nós, mas são muitoautónomos, têm personalidades vincadas e muito diferentes uns dos outros.Eu tive um gato em casa durante muitos anos que me fez muita companhia,sobretudo quando lia livros ou o jornal, e agora é este cão. Costuma-sedizer que aos cães só lhes falta falar, mas eu acho que este fala.

Como lida com as críticas?Tem dias. Às vezes lido melhor outras vezes pior. Não lido bem quandosão manifestamente injustas ou servindo interesses menos confessáveis.Quando são correctas, quando são justas, aprendo bastante com as críticas.

O que mais o estimula?O que mais me estimula é a possibilidade de podermos defender os nossosargumentos, de conseguirmos ter uma relação muito positiva com aspessoas, e o que mais me estimula é realmente a presença junto dasportuguesas e dos portugueses, dos jovens. Bastante mais do que asreuniões internas é a presença junto das populações que me estimula.

Acompanhei-o durante este último fim-de-semana e constatei queo Ferro Rodrigues hoje em dia se dirige às pessoas e ascumprimenta e que antes se retraía. Há aqui portanto uma mudançada sua atitude?Não tenho essa ideia. Tenho a ideia de que sempre tive mais gosto pelorelacionamento fora do quadro dos gabinetes e das reuniões internas eque sempre tive algum à-vontade na relação com a população.

Qual é a importância que atribui às sondagens?As sondagens são importantes para se poder analisar a evolução dealguns aspectos qualitativos e também para se poder saber qual é osentimento das pessoas em relação aos problemas e em relação aospartidos e aos políticos. Isto não quer dizer, no entanto, que a acção dospartidos e dos políticos se deva adaptar às sondagens, porque estes têmtambém a obrigação de influenciar a opinião pública e de poderem alteraras sondagens e o pensamento das pessoas em relação a este ou aquelefenómeno quando acreditam que têm razão. Agora é evidente que noactual contexto político português as sondagens exprimem aquilo que éum sentimento de grande amargura e de grande decepção e de algumarevolta que os portugueses têm contra este Governo e contra esta formade fazer política em que a mistificação e a fuga às responsabilidades estãoa conduzir o País para becos de onde depois vai ser muito difícil nósvirmos a sair.

Mas com os últimos resultados sente-se concerteza mais motivadoa continuar o seu trabalho à frente do PS?O facto de nós olharmos para as sondagens e verificarmos que o PartidoSocialista está em todas elas à frente é um bom sinal, mas também não nospodemos esquecer que só há eleições daqui a um ano, no caso daseuropeias, e só depois virá o restante calendário eleitoral. Portanto, o queé importante é que possamos estar à frente no final e não no princípio.

“O Código do Trabalhoé mau e tem váriasinconstitucionalidades”

“Se a direita se unir naseuropeias será umescândalo nacional”

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12 9 ABRIL 2003AUTARQUIAS

MONTIJO

NOVA ATITUDE PARA AS PESSOASCOM DEFICIÊNCIA

ABRANTES

AÇUDE INSUFLÁVELDEVOLVE O TEJO À CIDADEA Câmara Municipal de Abrantes aprovou a execução do projecto de umaçude insuflável no rio Tejo, com o objectivo de reter as águas, de modoa criar uma espécie de pequena albufeira onde se possam praticaractividades ligadas ao lazer.O açude insuflável é a obra fundamental do Projecto Aquapolis, que aautarquia socialista está a desenvolver nas duas margens da zonaribeirinha da cidade. Esta infra-estrutura que terá um custo de 10,2 milhõesde euros, será feita ao longo de dois anos.Uma praia fluvial, parques infantis, circuitos para peões e circuitos parapeões e ciclistas, zonas de contemplação da paisagem estão tambémprevistas no Projecto Aquapolis, com o qual Nelson Carvalho quer“devolver o Tejo a Abrantes”.

BARREIRO

CÂMARA FAZ LEVANTAMENTOHISTÓRICO DO MOVIMENTOASSOCIATIVOA Câmara Municipal do Barreiro vai proceder a um levantamento dahistória e das memórias das colectividades locais que ao longo dos anosdedicaram muito do seu tempo à intervenção associativa e social.Segundo a autarquia, este projecto tem como objectivo “dar a conhecer àsnovas gerações a verdadeira dimensão social do movimento associativona vivência da cidade, ao longo de mais de 100 anos”.Este trabalho vai ser desenvolvido com a colaboração do movimentoassociativo concelhio, estando prevista ainda uma compilação documentale iconográfica, a par de testemunhos de sócios que presenciaram eventose datas marcantes das colectividades.

BRAGA

EDILIDADE APROVA CANDIDATURAA CAPITAL DA CULTURAA Câmara Municipal de Braga aprovou por unanimidade a preparaçãoda candidatura da cidade a Capital Nacional e Europeia da Cultura.O presidente da autarquia, Mesquita Machado, acredita que “Braga temcondições únicas para honrar o seu passado, para se orgulhar do seupresente e para acreditar no seu futuro”.No documento entretanto enviado ao Ministério da Cultura, refere que“no riquíssimo concerto cultural nacional e europeu, a cidade de Bragapode intervir com importantes contribuições no domínio do progressohumano dos povos, uma vez que tem a possibilidade de exibir ao Paíse à Europa uma marca própria, ‘sui generis’, ao mesmo tempo antiga emoderna”.

LOURES

AUTARQUIA QUER AVANÇARCOM POLÍCIA MUNICIPALA Câmara de Loures apresentou ao Governo a sua candidatura para acriação de uma Polícia Municipal.A actividade desta força vai desenvolver-se em todas as freguesias doconcelho, com funções em áreas tão diferentes como a vigilância dasescolas, do trânsito, o ordenamento do estacionamento ou a preservaçãodo ambiente.A autarquia prevê, numa primeira fase, a contratação de 60 agentes aquem será ministrada formação na Escola Prática de Polícia e no Centrode Estudos Autárquicos, de modo a prepará-los jurídica eadministrativamenteO município socialista espera receber do Estado uma comparticipação quepoderá atingir os 40 por cento, o que representa um investimento daordem dos 645 mil euros, enquanto a cargo da câmara fica o pagamentode cerca de 840 mil euros.

PORTIMÃO

TRANSPORTE ALTERNATIVO ECOLÓGICO

VILA FRANCA DE XIRA

MUNICÍPIO EFECTUA ESTUDOSOBRE RECOLHA DE LIXO

A qualidade de vida dos portadoresde deficiências, é uma preocupaçãopara a autarquia do Montijo, pelo vaidesenvolver um conjunto de iniciativasnas áreas da sensibilização, inte-gração e acção, projectos que seinserem no Ano Europeu das Pessoascom Deficiência.“A adesão da autarquia ao Ano Europeué importante para despertar, sensibilizare mobilizar a comunidade para uma novaatitude face às pessoas com deficiências”,disse a presidente Maria Amélia Antunes,na cerimónia de abertura oficial dascomemorações no Montijo.Num concelho em que 2213 munícipessão portadores de deficiências, a autarcasocialista salientou que “cabe à autarquia,às associações e a todos os cidadãos con-tribuir para que estes sejam cidadãos depleno direito e perfeitamente integrados”.A edilidade vai atribuir um subsídio de1100 euros à Confederação Nacional dosOrganismos Deficientes (CNOD), outraparceira nas comemorações do AnoEuropeu, para apoiar a campanha desensibilização promovida por esteorganismo.Na área da integração, a autarquiasocialista vai ceder um apartamento quefuncionará como residência para jovensdeficientes e criar uma Associação dePais e Amigos do Deficiente.O município vai também promover acriação de um Guia de Recursos dacidade, concebido em suportes acessí-veis a todos, incluindo versões em

Braille que serão enviadas a todos osinvisuais do concelho.Outra iniciativa anunciada pela autarquiaé o Programa EQUAL - EmpregoApoiado que será desenvolvido até 2004com vista à integração de pessoas emdesvantagem, acompanhando-as noprocesso de contratação e promover aentrega de um prémio à empresa doconcelho que mais se distinga nesta área.Vai ser ainda lançado o projecto “Des-porto Igual na Diferença”, que terá como

Visando a melhoria da mobilidadeurbana e ambiental, a cidade dePortimão passou recentemente a disporde dois mini-autocarros eléctricosintegrados nas frotas de transportepúblico urbano.O baixo custo de exploração eausência de poluição são algumas dasvantagens que fazem do mini-autocarro eléctrico o veículo maisadequado para transportes noscentros urbanos.Segundo o presidente da autarquialocal, Manuel da Luz, trata-se de umaexperiência pioneira no Algarve, sendo

Portimão a única cidade que vai ter afuncionar este tipo de transporte denome técnico “Gulliver”, baptizado de“Limpinho”.“Estamos conscientes da importância damobilidade e do equilíbrio ambiental parao desenvolvimento sustentável dacidade, sendo para nós uma prioridadeincrementar uma política de transporteseficazes e que passem pela utilizaçãode alternativas amigas do ambiente”,disse.Ainda de acordo com o autarcasocialista, o circuito do mini-autocarropassa pela maioria dos parques de

A Câmara de Vila Franca de Xira vaielaborar um estudo económicotendente à transferência do serviçode recolha de lixo para uma empresaprivada.Para Maria da Luz Rosinha apesarda transferência dos serviços de

recolha de lixo para uma empresaprivada não estar nos planos daautarquia, pretende-se “analisar aqualidade do serviço e os custos deuma empresa de especialidade”, jáque o município despende anual-mente de 1,2 milhões de euros nesta

actividade.“Não podemos considerar a questãodo pé para a mão”, afirmou Maria daLuz Rosinha, relembrando ainda queos trabalhadores da câmara quefazem esse serviço “não podem serpostos de lado”.

estacionamento existentes na cidade,com o intuito de possibilitar umaalternativa aos automobilistas,contribuindo para evitar a circulaçãoautomóvel no centro da cidade.O “Limpinho” transporta 22 passageiros,dos quais oito sentados, tendo instalaçãopara segurar uma cadeira de rodas.Paralelamente, a autarquia vai desen-volver acções de sensibilização juntodas escolas, chamando a atençãopara os problemas ambientais, numacampanha que termina em Maio comum encontro sobre “Energias Alter-nativas e Mobilidade Urbana”.

objectivo proporcionar o acesso eenquadramento nas diferentes activida-des desportivas dos alunos comdeficiências motoras dos ensinos básicoe secundário. do concelho.Na via pública, também se vai procederao rebaixamento dos passeios junto àspassadeiras, o alargamento de algunspasseios e a instalação de rampas deacesso ao centro comercial Parque e deum elevador no edifício dos Paços doConcelho.

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139 ABRIL 2003 INICIATIVA

ANA GOMES EM JANTAR-DEBATE

PORTUGAL DEVERECUPERARDIGNIDADE PERDIDA

O Governo português deve trabalharpara recuperar a dignidade perdida nacrise que desencadeou a guerra doIraque. Esta a exigência feita por AnaGomes, para quem o futuro do Globonão está condenado ao imperialismonorte-americano, uma vez que osEstados Unidos, enquanto potênciadominante, enfrentam problemaseconómicos, políticos e diplomáticos quepõem em causa o seu desejo de auto-suficiência.As declarações da responsável pelopelouro das Relações Internacionais noSecretariado Nacional foram proferidasnum jantar-debate sobre “Portugal e aNova Ordem Mundial”, organizado peloClube de Política “Imaginar Portugal”,que se realizou no passado dia 1, emLisboa, e em que também participaramJoão Pinheiro (ex-adjunto do ministrosocialista da Defesa Rui Pena), e JoséManuel Pureza (deputado municipalpelo BE).Numa intervenção em que reiterou ailegalidade, a ilegitimidade e até o“carácter criminoso” da acção militarcontra Bagdade, Ana Gomes alertoupara o elevado preço desta “aventurabelicista” em vidas humanas e danosmateriais.“É provável que este conflito seja ganhomilitarmente, dado o desequilíbrio deforças, mas é muito difícil que se dêemvitórias no campo diplomático e político”,alertou, salientando que as opiniõespúblicas dos diferentes países

envolvidos na crise não vêem com bonsolhos os desmentidos e as contradiçõessucessivas da aliança anglo-americana.Por outro lado, frisou, é “absolutamenteimoral que as comadres da coligaçãose zanguem ao discutir publicamente oscontratos da reconstrução do Iraque”.Na actual conjuntura, “é preciso que osportugueses continuem a manifestar-se,para mostrar ao Governo que o povoportuguês não apoia esta guerra, disse,avisando que o conflito já está a “servirde desculpa” ao Executivo de DurãoBarroso para justificar as dificuldadeseconómicas, que serão “dramaticamenteagravadas” com o decurso da guerra.A dirigente socialista manifestou o seudesejo de que a guerra “acabe o quantoantes” e que os governantes que aapoiaram percebam “que cometeram umerro”, saudando depois a posição doGoverno de recusar a expulsão dediplomatas iraquianos pedida pelosEUA.Para o período pós-guerra, Ana Gomesdefendeu que a reconstrução do Iraqueseja feita sob a égide da ONU.“Não concebo que Portugal ou outrasnações europeias viessem a legitimar acolonização do Iraque pelos seusagressores”, afirmou, defendendo emseguida que devem ser as NaçõesUnidas a determinarem a administraçãoiraquiana, por forma a garantir “umgoverno legitimado pelo povo, aintegridade territorial e os recursos dopaís, como aconteceu em Timor-Leste”.

Para Ana Gomes, a ONU deve serpreservada enquanto “espaço dediscussão para as nações”, sofrendo,no entanto, profundas reformas noâmbito da sua constituição efuncionamento.Partidária da criação de “um exércitorápido” no âmbito da ONU, a dirigentedo PS sublinhou a necessidade de umarecomposição do Conselho deSegurança, com vista a uma melhorrepresentação das relações económicasda actualidade.No que diz respeito à União Europeia,a antiga diplomata reclamou dois votoscativos na sede das Nações Unidas,um rotativo pela Alemanha, França eReino Unido e o outro em nome dospequenos países.Depois de considerar fundamental oreforço do Direito Internacional, que nãodeve ser concebido em função dasegurança das nações, mas em tornoda salvaguarda dos direitos humanos,a secretária nacional do PS apontoucomo questão essencial para a Europaa consolidação do euro e a adesão daGrã-Bretanha à moeda única.Perfila-se igualmente, segundo AnaGomes, a necessidade de se criar naUE um sistema de defesa, comcapacidade de intervenção militar,interactivo e não alternativo à NATO,mas que vai implicar investimento emarmamento, do qual Portugal “não podeficar à margem”.

MARY RODRIGUES

IMAGINAR PORTUGALCriado a partir do novo quadro estatutário do PS, o “ImaginarPortugal” reúne várias dezenas de jovens, a maior parte dosquais socialistas, que pretendem fomentar “uma nova relaçãoentre os partidos políticos e os cidadãos”.O movimento - nascido a partir do manifesto “Imaginar Portugal2006”, lançado no último congresso do partido -, foi concebidocomo um “espaço de fronteira” entre militantes e não militantes

e enquadra o seu “centro de gravidade na área política docentro-esquerda”, representando uma experiência pioneirano País, segundo declarou ao “Acção Socialista” MiguelCabrita, dinamizador do clube.Não se trata de uma tendência, asseguram os seus membro,adiantando que a ideia central do clube é mobilizar e motivaras pessoas para as questões políticas.

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PEDRO ADÃO E SILVA

www.paisrelativo.blogspot.com

A CRISECHEGOU AO

GOVERNO

Nos últimos doze meses o Governoparou uma série de áreas degovernação. É preciso estarexcessivamente atento para dar pelaexistência de uma política cultural,científica, de educação, de administraçãointerna e, claro, ambiental e deplaneamento. É um dado absolutamentetrágico. Há um ano que o País não sabiaque tinha um Ministério do Planeamentoe há um ano que o País não sabia quetinha um ministério do Ambiente. Mas,na passada sexta-feira, foi dado umpasso em frente, continua a não haverpolítica de ambiente e de planeamento,mas deixou de haver o Ministro

respectivo. Um ministro que deixou de o ser porque se tinha esquecido dedeclarar que o sobrinho tinha umas contas na Suíça, apesar do titular dasmesmas não ser o sobrinho, mas o dr. Isaltino, himself. Obrigado Tio, diráo rico sobrinho. Estranho, não é? Para completar o ramalhete, só faltavamesmo a comoção nacional que logo se começou a gerar, sublinhando ahonradez do personagem. O ministro fez, agora, evidentemente a únicacoisa que tinha a fazer. No entanto, verdade seja dita, até prova emcontrário, este acto não lhe servirá para lavar a honra do pecado suíçocometido antes.No meio de todo este rebuliço, o eng. Valente de Oliveira, que tinha sidoum Ministro clandestino das obras públicas, a não ser quando reteve unstempos um relatório da Procuradoria, aproveitou para ir à vida dele. Feznaturalmente bem.Claro que o rebuliço não deveria ter ficado por aqui. Era, aliás, umaoportunidade para fazer a remodelação de que o Governo e o Paísprecisavam. Ficamos à espera da verdadeira remodelação. A da ministrada Justiça, do ministro da Administração Interna e, naturalmente, do outroministro, envolvido numa grandíssima trapalhada, e que há muito já deviater zarpado do Governo. Mas esta é uma história que sendo moderna, éainda assim já antiga. A ética republicana exigia o zarpanço. Houvesseética e fosse ela republicana. Era, aliás, um comportamento que servia deamostra.No meio de tudo isto assistimos à rábula do ministro que ia ser do Ambientee afinal foi para as Obras Públicas e a verdadeira debandada de secretáriosde Estado, que se puseram ao fresco a um ritmo que nem a agência Lusaconseguiu acompanhar.O problema é que há em todo este processo um sinal de enorme fragilidadedeste Governo. Um ano após tomar posse e apenas um ano, a verdadeé que a crise que os portugueses sentem há 12 meses chegou também aointerior do Governo. É, antes de mais, preocupante que ministros quetinham um peso político próprio tenham sido substituídos por outros ministros,autênticos pesos “pluma”. As primeiras declarações do ministro Teias sãoa este nível surpreendentes, esperemos que tenho sido a tremedeira daestreia, porque, caso contrário, inaugura-se um admirável mundo novo.O mundo dos ministros que nem percebem da área que tutelam, nem têmpeso político próprio.Um ano depois o Governo do PP/PSD está isolado do País, o primeiro-ministro não sai à rua, provavelmente para não ser pateado, e o Governoremodela-se à pressa e com evidentes sinais de cansaço, próprios dequem é Governo há largos anos. Era mesmo isto que os portuguesesprecisavam para juntar à crise. O País não merecia este desgoverno.

Há um ano que o País não sabia que tinha umMinistério do Planeamento e há um ano que o País

não sabia que tinha um ministério do Ambiente. Mas,na passada sexta-feira, foi dado um passo em frente,

continua a não haver política de ambiente e deplaneamento, mas deixou de haver o Ministro

respectivo. Um ministro que deixou de o ser porquese tinha esquecido de declarar que o sobrinho tinha

umas contas na Suíça, apesar do titular das mesmasnão ser o sobrinho, mas o dr. Isaltino, himself.

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14 9 ABRIL 2003EUROPA

CARLOS LAGE

NOMEAÇÃO DE DIRECTOR-GERALSUSCITA PEDIDODE ESCLARECIMENTOSOs deputados socialistas portugueses noParlamento Europeu querem esclarecerem que condições foi nomeado para aComissão Europeia o director-geralportuguês, já que uma intervenção naAssembleia da República de DurãoBarroso levantou dúvidas sobre se seriapor uma questão de mérito ou por resultarde uma pressão diplomática, o quedistorceria o espírito de independênciado funcionalismo público europeu face aosGovernos nacionais.Numa pergunta dirigida à Comissão, opresidente da delegação socialistaportuguesa, Carlos Lage, considera que a escolha de um português para ocargo de director-geral, com a qual se congratulou, seria pacífica se nopassado dia 26 de Março, num debate na Assembleia da República, oprimeiro-ministro não tivesse declarado que a nomeação do referido candidatoconstituiu “uma vitória diplomática do seu governo”.Para Carlos Lage, é neste sentido que se coloca a questão de saber se essanomeação “resultou apenas do valor do candidato face a critérios de mérito,igualdade de oportunidades e equilíbrio geográfico”, ou se, pelo contrário,se ficou a dever à pressão diplomática do Governo português, caso em queos regulamentos da Comissão estariam a ser infringidos.

JORGE SAMPAIO DEFENDE

UNIÃO EUROPEIA DEVE DOTAR-SEDE POLÍTICA EXTERNAE DE DEFESA COMUMA União Europeia deve dotar-se de umaConstituição que preconize de formavinculativa uma política externa e desegurança comum e também de defesa,como forma de ultrapassar dificuldadescomo esta com que agora se deparaem virtude da intervenção militar noIraque, defendeu o Presidente daRepública, Jorge Sampaio.O Presidente, que falava na Faculdadede Economia de Coimbra, no dia 2,afirmou que o novo texto constitucionalque a União venha a adoptar no futurodeveria também ter como vinculativo odesenvolvimento do princípio de coesãoeconómica, social e territorial e outraspolíticas comuns reformuladas.Para Jorge Sampaio, que nos últimosmeses tem sido particularmente activono lançamento da discussão sobre ofuturo da Europa, só dessa forma seriapossível “superar o défice bem gritante

de uma União como actor globalequilibrador das relações interna-cionais”.A necessidade de dar este saltoconstitucional justificou-a com o facto deactualmente serem “evidentes asdificuldades políticas, económicas e atépsicológicas em que hoje se encontra aUnião”. Consciente das dificuldades,lembrou que a União Europeia precisade consensos “capazes de impedir queos egoísmos nacionais se sobreponhamao interesse europeu”. “Poderíamosdizer que vivemos um momento poucoexaltante de divergências e crispaçõesentre os parceiros europeus”,considerou, acrescentando que apresente conjuntura poderá projectar-se negativamente no normaldesenvolvimento dos trabalhos daConvenção sobre o Futuro da Europae no normativo que ela proporá.

ALBERTO COSTA NA CONVENÇÃO

CONFERÊNCIA INTERPARLAMENTAR EUROPEIADEVIA SUBSTITUIR ACTUAL COSACA COSAC, organismo que reúne anual-mente representantes dos parlamentosnacionais para discutir questõeseuropeias, devia ser substituído “poruma verdadeira conferência interparla-mentar com efectivos poderes decontrolo”, propôs o deputado AlbertoCosta, representante do parlamentoportuguês Convenção sobre o Futuroda Europa, na última reunião, que serealizou em Bruxelas.Nesta sessão de dois dias de trabalhoem que foram discutidas as finanças daUnião, o espaço de liberdade,segurança e justiça, a subsidiariedadee o papel dos parlamentos nacionais,Alberto Costa considerou sobre estatema que os poderes de que passaria aser dotada a conferência interparla-mentar deveriam exercer-se em áreascomo a justiça, assuntos internos, políticaexterna, segurança e defesa.“A Constituição da União Europeiadeveria não só prever esta conferênciainterparlamentar, como ainda atribuir-lheresponsabilidades efectivas econsequências para as suas decisõese acções de controlo”, defendeu. Parao deputado, este passo seria tanto maispertinente quanto a COSAC “é hoje umaentidade cuja denominação, funções econceito são insatisfatórias, e o seureconhecimento e prestígio junto dosparlamentares muito pequeno”.Já sobre o papel dos parlamentosnacionais, Alberto Costa considerou quedevem ser consagradas soluçõesconstitucionais e “não apenas merosarranjos e mecanismos de segundaordem a remover para anexos ou

exprimir a igualdade dos Estados e outraem que se tenda a exprimir a igualdadedos cidadãos”, afirmou.Por sua vez, o deputado Guilhermed'Oliveira Martins, também membro daConvenção, concordou com a distinçãoentre poder legislativo e executivo edefendeu a necessidade de ser feita umareflexão sobre as hipóteses de leisorgânicas europeias.Referência ainda para o comissárioAntónio Vitorino, que considerou queas leis devem ser da responsabilidadeconjunta do Parlamento Europeu e daComissão. “As excepções legislativasreservadas ao Conselho devem limitar-se a domínios muito bem identificados e,sobretudo, na base de uma lista quedeve ser discutida no seio daConvenção e num período transitório”,considerou.Na abertura dos trabalhos, opresidente da Convenção, ValerieGiscard d’Estaing, fez uma alusão aoperíodo que a União atravessa emvirtude da guerra no Iraque. “Navéspera de acontecimentos graves,não fechemos os olhos sobre o estadoda Europa. Mas não renunciemostambém ao nosso esforço para a tornardiferente, para que a unidade profundados seus povos venha à superfície ese torne uma força e um influênciacapaz de desempenhar um papeldeterminante na emergência de umnovo mundo justo, tolerante, baseadono respeito pelo direito e tambémdurante tanto tempo quanto possível,pacífico”, disse.

P.P.

protocolos”. Na sua opinião, “seriaincompreensível que o papel dosparlamentos nacionais permanecessefora da Constituição da União Europeia.

Quanto à discussão sobre o processolegislativo, considerou positivo oacolhimento que na Convenção teve oconceito de lei europeia e o de lei-

quadro europeia. “Todas as leis devemser adoptadas mediante debates evotações públicas em duas sedesrepresentativas, uma em que tende a

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159 ABRIL 2003 EUROPA

FERRO RODRIGUES EM MADRID

SOCIALISTAS PORTUGUESESE ESPANHÓIS VÃO PASSAR A TERENCONTROS ANUAIS

INTERNACIONAL SOCIALISTA APELAÀ LIBERTAÇÃO DE PRESOS EM CUBA

Os dirigentes dos partidos socialistasportuguês e espanhol vão passar arealizar reuniões bilaterais anuais aomais alto nível, alternadamente emPortugal e em Espanha. Esta foi umadas principais conclusões de umareunião que no passado dia 28 deMarço se realizou em Madrid, com osecretário-geral do PS, FerroRodrigues, e do PSOE, José LuísZapatero. No encontro, discutiu-setambém a guerra no Iraque, odesemprego e as consequências donaufrágio do Prestige na costa daGaliza.A guerra no Iraque concentrou grandeparte das atenções do encontro, tendoambos os partidos reiterado a suaoposição à guerra no Iraque e exigidoo fim da intervenção militar o mais rápidopossível.Ferro e Zapatero consideram que aguerra viola o Direito Internacional, põeem causa o Conselho de Segurançadas Nações Unidas e prejudicaseriamente o projecto de construçãoeuropeia. Defenderam também que seestabelecesse urgentemente umacordo básico sobre a ajuda huma-nitária e a reconstrução do Iraque.Por outro lado, os líderes dos doispartidos consideram que a UniãoEuropeia deve reforçar o seu

para que a Europa possa atingir asmetas definidas na “Estratégia deLisboa”. Neste âmbito, o PS e o PSOEconsideram que as respostas dadaspelos governo de Durão Barroso eJosé Maria Aznar estão erradas egeram mais inactividade e problemassociais.Defenderam também o desenvolvi-mento das relações económicas entreos dois países no respeito das regrasde livre e sã concorrência, sem prejuízode procurarem um crescente equilíbrioao nível das trocas e do investimentoprodutivo entre ambos.Consideram, por outro lado, que asrespostas dadas pelas autoridadesportuguesas e espanholas foraminadequadas para impedir o desastreambiental provocado pelo derrame doPrestige. Os dois partidos acordaramem, tanto a nível europeu comonacional, adoptar medidas destinadasa aumentar as exigências de segurançamarítima.Participaram também no encontro olíder parlamentar do PS, António Costa,e Pedro Adão e Silva, membro doSecretariado Nacional. Pelo PSOEestiveram presentes o líderparlamentar e o responsável pelasrelações internacionais, o ex-comissário Manuel Marín.

VITORINO VOLTA A SERAPONTADO PARA

SECRETÁRIO-GERALDA NATO

O nome do comissário António Vitorino voltou nasemana passada a ser dado como um dosprováveis sucessores do actual secretário-geralda NATO, George Robertson, que em Dezembrotermina o seu mandato e está determinado a não orenovar.Em Janeiro último foi a agência noticiosa Reuters eo Financial Times a divulgarem a preferência pelocomissário. Agora foi a vez do jornal alemãoFrankfurter Allgemeine considerar Vitorino “umauspicioso candidato”, na sequência de um

pequeno-almoço com embaixadores dos países membros, que decorreuem Bruxelas na missão diplomática portuguesa junto da NATO. O comissáriorecusou-se comentar “especulações” sem, no entanto, desmentir a notícia,como de resto aconteceu quando o seu nome foi posto a circular emJaneiro.O nome de António Vitorino não surge isolado. Os ministros da Defesa daNoruega e da Itália também são falados. Pelo caminho ficaram já o antigoprimeiro-ministro dinamarquês Poul Rasmussen e o do actual presidentepolaco, Alexsander Kwasniewski.O substituto de George Robertson deve ser escolhido no próximo conselhodo Atlântico Norte, que em princípio se realizará em Junho, em Madrid.De referir que a guerra no Iraque trouxe à NATO uma das suas maiorescrises desde a segunda Guerra Mundial, alterando o equilíbrio de influênciasdentro da organização.

ELISA DAMIÃO SOLIDÁRIACOM VÍTIMAS DA GUERRA

A recente vaga de repressão em Cubalevou a um coro de protestos interna-cionais sem precedentes com tomadasde posição e abaixo assinados a exigira libertação dos presos pelo regimede Fidel Castro. Também a Interna-cional Socialista emitiu um comunicadoexigindo a libertação rápida dos presospolíticos.“Libertem sem demora todos ospresos”, afirma o comunicado daInternacional Socialista, presidida porAntónio Guterres, recordando queCuba se comprometeu a respeitar aliberdade de expressão e deassociação.O comunicado pede o fim da repressão

em Cuba e que sejam assegurados atodos os cubanos as liberdadesfundamentais.Na semana passada começaram emCuba os julgamentos de dezenas deopositores ao regime, acusados de“actividades conspirativas” contra oEstado.Um conjunto diversificado de persona-lidades internacionais e nacionais, commuitos intelectuais e políticos, subscre-veram um abaixo-assinado em quepedem a libertação imediata dos dissi-dentes. Só nas últimas semanas forampresos mais de 80 opositores aoregime, alguns deles arriscando aprisão perpétua.

A eurodeputada Elisa Damião manifestouna semana passada a sua solidariedadepara com as vítimas iraquinas na guerra.Numa mensagem enviada ao embaixa-dor do Iraque em Portugal, ElisaDamião manifestou a sua apreensão e

solidariedade para com os iraquianosque passam por um “momento tãodramático”. “Como já vivi numa ditadura,sei perfeitamente distinguir o regime daspessoas e lamento que a distinção nãotenha sido feita neste caso”, afirma.

compromisso com o desenvolvimentode políticas que favoreçam o empregoe a coesão social. Neste contexto, deve

dar-se uma importância particular à lutacontra o desemprego dos jovens, àigualdade de oportunidades, assim

como ao reforço da empregabilidadedos cidadãos, ao investimento eminovação, com o objectivo de contribuir

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16 9 ABRIL 2003

PAULO CASACA CONSIDERA

CONTAS EUROPEIASNÃO SÃO ARMA PARADERRUBAR A COMISSÃO

MÁRIO SOARES DEFENDE

EUROPA DEVE SERCONTRAPONTODOS ESTADOS UNIDOS

A aprovação da contas europeias nãodeve ser utilizada como um instrumentopara tentar derrubar periodicamente aComissão Europeia, considerou oeurodeputado Paulo Casaca, numaconferência de imprensa, em Bruxelas,após a aprovação do seu relatóriosobre a execução orçamental de 2001,na Comissão do Controlo Orçamental.O relatório defende que seja dadaquitação à Comissão Europeia relati-vamente às contas de 2001, na medidaem que “não foram encontradas faltasgraves” e por o executivo comunitáriose ter comprometido a corrigir todos oserros e falhas detectadas.“Apesar da quitação ser o principalpoder do PE, não deve ser vista comoum jogo político, mas antes como umrigoroso mecanismo ao serviço docontrolo das contas europeias”,considerou o eurodeputado.Por outro lado, Manuel dos Santos ePaulo Casaca consideraram, na sessãoplenária de Bruxelas, que o dinheirodos contribuintes europeus seria melhorprotegido se existisse um ProcuradorPúblico Europeu, uma proposta que temgerado polémica.“A qualidade da cidadania europeiasairia reforçada com a criação de umProcurador, que funcionaria comogarante do bom uso dado ao pilarfinanceiro da União”, afirmou Manueldos Santos.

Por sua vez, Paulo Casaca considerouque as funções do procurador não sedeveriam limitar às questões financeiras,

“A União Europeia tem de ser umcontraponto aos Estados Unidos”,considerou a semana passada oeurodeputado Mário Soares, nolançamento do livro “A Incerteza dosTempos”, uma extensa entrevista feitapelo director do “Diário de Notícias”.Mário Soares acusou os Estados Unidosde encetarem uma guerra contra asNações Unidas, a NATO e a UniãoEuropeia e de pretenderem, no MédioOriente, fazer a reconstrução de todauma região que compreende o Iraque,Irão, Síria e Arábia Saudita.O eurodeputado aproveitou paracriticar, mais uma vez, a administraçãoBush e esclarecer que a suaaproximação dos Estados Unidosnuma dada altura da sua vida políticase deveu ao facto de então sernecessário escolher entre dois mundos.“Eu fui atlântico quando havia umatensão entre o Leste e o Oeste, mas

isso acabou”, afirmou.Mário Soares lançou também, emFamalicão, o seu livro “Memória Viva”,escrito a partir de uma série de

entrevistas publicadas pelo canalfrancês “Histoire”. O livro traça opercurso de uma vida dedicado àpolítica e à democracia.

mas estender-se também “aos crimesde tráfico de seres humanos,nomeadamente de crianças”.

INTERNACIONAL

UMA QUESTÃODE BOM SENSOÉ demasiado evidente que o actual Executivoiniciou um irreversível processo de desintegração.

O secretário-geral do Partido Socialistaafirmou recentemente que, em circunstân-cias normais, os calendários eleitorais sãopara cumprir e que os socialistas nãodevem “excitar-se” com circunstanciaissondagens que dão ao partido umasignificativa maioria eleitoral.Estou completamente de acordo com estejuízo que, para lá de revelar bom senso,se traduz fundamentalmente numexercício de pedagogia e de respeitodemocrático que caracterizam a vida e aacção política de Ferro Rodrigues.As eleições legislativas de 2002(inesperadas, escusadas mas,sobretudo, negativas para o País)abriram, apesar de tudo, um novo ciclopolítico que tem de ser esgotado.O PS perdeu essas eleições e por tal foi afastado do Governo; deve aproveitareste período de oposição para se renovar, mas sobretudo para mudar,criando e assegurando condições ideais e sustentadas de voltar ao poder.Nem sempre me pareceu que esta apreciação e a correspondente estratégiatenham orientado a acção política do partido.Por exemplo, não terá sido respeitada aquando da decisão recente deapresentar uma moção de censura ao Governo, num contexto parlamentardesfavorável e depois de se ter manifestado disponibilidade para elaborarpolíticas e acordos comuns sobre temas de interesse global.Tem de compreender-se, contudo, o nervosismo e a ansiedade dos quegenerosamente sabem que o projecto político que acarinharam e por vezesprotagonizaram não se encontra esgotado nem completado, mas tambémtem de exigir-se que todas as energias decorrentes dessa entrega aointeresse nacional sejam canalizadas para a construção do futuro do Paísque passa, obviamente, pelo regresso dos socialistas ao Governo.Por isso não têm sentido certas impaciências e se revelam desastrosasalgumas ambições fora de tempo que, sendo aceitáveis normalmente, nãose justificam numa altura em que a sua concretização se traduzirá peloincumprimento de compromissos livremente assumidos com o eleitorado quenão podem ser desrespeitados.Ainda bem, pois que num tempo de renovação e mudança, concretizadassem rupturas nem exclusões, o principal dirigente do partido venha lembraro que é essencial ou seja que o objectivo é atingir, tão próximo quantopossível, mas no respeito das calendários eleitorais e das normasconstitucionais, a maioria política no País.É demasiado evidente que o actual Executivo iniciou um irreversível processode desintegração.Incapaz de responder, com eficácia, aos problemas que assolam a conjunturaeconómico e social e responsável por um clima de desmotivação sem paralelona história recente do País, o Governo está condenado. É certo que a suaagonia vai ter um preço a pagar pela sociedade portuguesa mas também ésabido que esse é, por vezes, o ónus devido pelo fortalecimento dademocracia e dos seus orgãos representativos.De todo o modo tudo isto só terá sentido se o PS se preparar, entretanto,para o exercício do poder num novo ciclo económico, social e político.Algumas das indicações que surgiram nos últimos dias do interior do partidosão razoavelmente animadoras.Há uma nova geração de dirigentes preparada para assumir a conduçãodo PS a todos os níveis e capaz de definir um novo modelo de relacionamentocom a sociedade civil, com reflexos desde logo nas próximas eleiçõesautárquicas.Vencer as próximas eleições autárquicas, nomeadamente nos grandescentros urbanos, é um passo decisivo para a alternância do poder.A ausência de traumas e de dramas que a renovação em curso exige étambém uma condição absolutamente imprescindível para esse sucesso.Ora tal sucesso forja-se na disponibilidade de todos para a renúncia parciala interesses instalados e para a consequente eventual substituição.A clarificação da natureza do poder interno é, assim, ainda uma tarefainacabada porque tem-se revelada incapaz de absorver posiçõesdogmáticas e conservadoras.O delito de opinião e a ameaça de sancionamento, pelo seu exercício, sãolastimáveis e intoleráveis.Infelizmente estiveram presentes recentemente nalgumas disputas eleitoraisde âmbito regional.Só pode desejar-se que se trate apenas de tentativas patéticas de resistir àevolução dos tempos e à inevitabilidade das mudanças e, que logo que apoeira assente, se perceba a verdadeira natureza das suas motivações.Assumir o bom senso expresso pelo secretário-geral sobre a situação políticano País e criar condições internas para aproveitar a desagregação dopoder da coligação governamental é mais do que uma possibilidade, umaobrigação.Obrigação que resulta do dever que os partidos políticos responsáveis têmde orientar a sua actividade e participação públicas, em prioridade, para oserviço das sociedades donde emanam.

MANUEL DOS SANTOS

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179 ABRIL 2003 O MILITANTE

HELENA BANDOS

COERÊNCIA POLÍTICAAO SERVIÇO DA CULTURA ABRANTINA

PERFILNomeMaria Helena Moreira dos Santosdo Rosário Bandos

Idade64 anos

OcupaçãoProfessora de Históriaaposentada

HobbiesTeatro, música, leitura e viagens

Referências SocialistasMário Soares, Elisa Ferreira e OlofPalme

MilitânciaInscrição no PS em Outubro de1974

O Partido Socialista deu-lhe referências às quais HelenaBandos juntou disponibilidade, participação intensa econvicções que não se deixaram abalar, quase três décadasvolvidas de militância, pelos revezes eleitorais ou pelasdificuldades conjunturais.Aposentada, dedica agora o seu tempo a actividadesculturais, no âmbito das quais lidera o Grupo de TeatroPalha de Abrantes, preside ao Órfeão local e lecciona naUniversidade da Terceira Idade.Por todas estas iniciativas, que levam o espírito socialistaà cultura regional, a militante foi distinguida recentementecom o galardão Antena Livre Cidade de Abrantes.Como o PS, a camarada Helena põe as pessoas e o País emprimeiro lugar. Por isso, não partilha da ideia do podera todo o custo nem alinha com desestabilizações políticasque prejudiquem o regime democrático.

Depois de ter lido, reflectido e discutidocom amigos os programas dos principaispartidos que surgiram após o 25 deAbril, Helena Bandos decidiu aderir aoPartido Socialista em Outubro de 1974.“Achei que o Programa e a Declaraçãode Princípios do PS se identificavammais com a minha forma de pensar e devida”, diz hoje, quase 30 anos depois,afirmando com a mesma convicção deque “os ideais de liberdade e desolidariedade e o respeito pelos outrosfazem a diferença entre o nosso partidoe os outros”.E porque ser militante é “abraçar umacausa, um ideal e lutar por ele comcoerência e persistência”, a camaradaHelena fez parte do Secretariado da suaSecção, desde a sua adesão ao partido,tendo também pertencido aos órgãosFederativos.A decisão pela vida político-partidáriaactiva foi bem acolhida no seio familiar,onde o marido, o camarada AntónioBandos, já falecido, lhe seguiu ospassos.Entre as amizades a reacção foiigualmente satisfatória, até porque amaioria dos seus amigos eram e sãosocialistas.Mas, Helena Bandos não começou ainteressar-se por política apenas quandoviu os tanques deslocarem-se para oTerreiro do Paço. Já em 1958, comapenas 19 anos, a Helena era sensívelao défice de liberdade que se vivia emPortugal.Por ocasião das eleições presidenciaisdisputadas por Humberto Delgado(oposição) e Américo Tomás (candidatodo regime), a militante, que entãofrequentava um colégio em Guimarães,impressionou-se com “o receio que sevivia e com o cuidado tanto das madrescomo do professor de História em nãose falar do assunto, sobretudo quandose referia ao General Sem Medo”.Quatro anos depois da adesão ao PS,era já candidata a deputada da nação,experiência que repetiria em 1987,embora nunca tivesse sido eleita.O mesmo não aconteceu, porém, naseleições locais em que concorreu,chegando a desempenhar funções comopresidente da Assembleia da sua Junta

de Freguesia.Helena Bandos participou intensamenteem todas as campanhas eleitorais eCongressos do PS, sendo o momentomais alto da sua militância “a históricaeleição do camarada Mário Soares paraa Presidência da República, em 1986”.Dos desempenhos dos socialistas nopoder, entre 1995 e 2001, faz umbalanço realista, reconhecendo que“nem tudo correu como gostaríamos”.Para a camarada Helena, o primeiromandato liderado por António Guterresfoi “bastante positivo”: Já o segundoficou “marcado por contradições ehesitações que acabaram por frustraras expectativas dos militantes e dosportugueses que tinham dado quaseuma maioria absoluta aos socialistas”.Todavia, abre um parêntesis paralembrar “o contributo muito importantee decisivo que o PS deu para ademocratização do País”, destacandoainda que “o partido esteve semprena vanguarda dos grandes combatespolíticos que ocorreram depois daRevolução dos Cravos”.O Partido Socialista “lutou contra ofantasma da guerra civil no Verão

Quente de 1975 e, depois, contra aameaça do totalitarismo de esquerda.Preparou e fez a adesão de Portugalà CEE em 1986, mesmo contra avontade de Cavaco Silva, e combateuos governos maioritários do PSD, queculminam com a vitória socialista em1995”, recorda também.Quanto à vida interna do PS, acamarada Helena considera que opartido precisa de uma maioraproximação aos militantes, debatendocom eles os problemas que seapresentam no seu seio e para o País.“Cativar os jovens e as mulheres para

a vida partidária”, com “um discursocoerente e credível” é mais uma achegadeixada pela camarada que não hesitaem afirmar que se revê na actualorientação que a direcção e a liderançade Ferro Rodrigues têm dado aopartido.“O [último] congresso foi muito positivoporque projectou a imagem dosecretário-geral como um políticopreocupado com as questões sociaise que conseguiu unir o PS, saído deuma derrota, dando sinais de confiançae esperança aos portuguesescansados da política derrotista do

Governo de direita”, considera semdeixar de dirigir fortes críticas ao“discurso catastrofista” do Executivo deDurão Barroso, que acusou de terdesencadeado uma recessãoeconómica e originado falências edesemprego.Outro aspecto que Helena Bandosaponta como negativo no actualExecutivo prende-se com “a adesãocega do primeiro-ministro ao ataque dacoligação anglo-americana ao Iraque,sem ouvir o Parlamento e contrariandoa opinião do Presidente da Repúblicae da grande maioria dos portugueses”.Assim, na conjuntura em que vivemos,aponta, “a oposição socialista deveapresentar propostas fundamentadase que reflitam o sentir dos portugueses,que funcionem como alternativasválidas às do Governo, não selimitando a fazer críticas sem conteúdo”.Apesar das sondagens evidenciaremum grande descontentamento por partedo eleitorado perante os desmandos ea desorientação governativa, HelenaBandos não arrisca considerar a actualconjuntura como favorável para umacorrida às urnas.“Eleições muito frequentes sem umfundamento válido levam, a médioprazo, a um descrédito do regimedemocrático”, observou, acrescen-tando que, apesar de apoiar acandidatura de Ferro Rodrigues aprimeiro-ministro, “para Portugal nãoé conveniente ir a votos antes dotempo”, Alem disso, conclui, “enten-demos que os mandatos são para secumprir até ao fim”.

MARY RODRIGUES

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18 9 ABRIL 2003INICIATIVA

FÓRUM CIDADE

FERRO APONTA DIVERGÊNCIASNA ESFERA GOVERNAMENTALAs notórias divergências na esfera governamental, nomeadamente na condução dapolítica económica, foram um dos pontos focados por Ferro Rodrigues no lançamento do“Fórum Cidade”, uma iniciativa da Concelhia de Lisboa. Além das críticas à política doExecutivo de Durão Barroso, o líder do PS lamentou ainda que passado mais de um anode gestão da direita em Lisboa, “não haja um único projecto para a cidade ou uma únicamedida integrada”.Para inverter este quadro, foi criado este novo espaço de debate e reflexão, tendo emvista a construção de uma alternativa ao governo de Lisboa.

Artigo 1º(Autonomia)O Departamento é uma estrutura do PartidoSocialista com autonomia e organização próprias,que deve ser apoiada material, técnica efinanceiramente pelo Partido, de acordo com osEstatutos.

Artigo 2º(Objectivos)O Departamento tem como objectivo promoveruma efectiva igualdade de direitos entre asmulheres e os homens, bem como a participaçãoparitária em todos os domínios da vida política,económica, cultural e social e intervir naactividade do Partido.

Artigo 3º(Competências)São competências do Departamento:1 Organizar e promover actividades deinformação, formação e dinamização sobre osassuntos relativos à igualdade de direitos e deoportunidades entre mulheres e homens.2 Agir e desenvolver mecanismos quecontribuam activamente para uma mudança dementalidades, de modo a que seja atingida ademocracia paritária.3 Propor ao poder político e á sociedade civilmedidas de acção positiva conducentes árealização dos objectivos definidos no artigoanterior.4 Zelar pelo cumprimento do disposto nos nº4 e5 do artigo 116ºdos Estatutos do Partido Socialista,por forma a que seja garantida umarepresentatividade mínima de 33% de militantesde qualquer dos sexos nos órgãos partidários eem todas as listas de candidaturas plurinominaispor ele propostas.5 Fazer propostas para o aumento gradualdaquela percentagem tendo em vista ademocracia paritária.6 Elaborar os regulamentos referentes àorganização, funcionamento e eleição dos órgãosdo Departamento Nacional e DepartamentosFederativos.

Artigo 4º(Organização)São órgãos do Departamento Nacional:a) A Presidenteb) O Secretariado Executivoc) O Conselho Consultivo

Artigo 5º(Presidente)1. A Presidente dirige o Departamento, a cujosórgãos preside, e representa-o em todas asinstancias nacionais e internacionaisrelacionadas com os objectivos definidos no artigo2º, é por inerência membro do Congresso, daComissão Nacional, da Comissão PolíticaNacional e do Secretariado Nacional, de acordocom os Estatutos do Partido Socialista.2. A Presidente é coadjuvada por um membro doSecretariado Executivo por ela designado, que asubstituirá nos seus impedimentos, e na qualpoderá delegar as competências que entender.3. Compete à Presidente:a) Assegurar as relações entre o Departamento eo Secretariado Nacional e os restantes órgãosdo Partido.b) Convocar e dirigir o Secretariado Executivo eo Conselho Consultivo.c) Convocar eleições de acordo com as normaseleitorais.d) Promover, com a colaboração do ConselhoConsultivo e dos Departamentos Federativos deMulheres Socialistas., as condições necessáriasao cumprimento do disposto no artigo 116º dosEstatutos do Partido Socialista, sobretudo no quese refere às metas quantitativas de participaçãonas listas partidárias.

Artigo 6º(Secretariado Executivo)1. O Secretariado Executivo é presidido pelaPresidente que tem voto de qualidade, e reúne,no mínimo, duas vezes por mês.2. O Secretariado Executivo é constituído, alémda Presidente, por oito membros nos termos doartigo 9º.3. Compete ao Secretariado Executivo:a) Elaborar o plano de actividades anual e oorçamento, bem como o relatório de actividades econtas e submete-los à aprovação do ConselhoConsultivo;b) Executar o plano de actividades anual c) Garantir a apresentação de nomes demilitantes para as listas de candidaturasplurinominais, de acordo com o estabelecido nosnúmeros4 e 5 do artigo nº116 dos Estatutos do PartidoSocialista;d) Garantir, em todos os momentos, a defesa dosprincípios e valores definidos pelo Departamento,como bandeiras do movimento a favor de umaDemocracia Paritária nos termos em que esta foiaprovada em Congresso do Partido Socialista.

4. Aos membros do Secretariado Executivodeverão ser atribuídos pelouros.

Artigo 7º(Conselho Consultivo)1 O Conselho Consultivo é constituído por ummáximo de 30 militantes efectivas e 15 suplentes,eleitas nos termos do artigo 9º.2 Fazem parte do Conselho Consultivo, comomembros inerentes:a) As Presidentes dos Departamentos Federativos;b) As mulheres que são membros das ComissõesNacional, Nacional de Jurisdição e Nacional deFiscalização Económica e Financeira;c) As Deputadas, membros do Governo ePresidentes de Câmara, inscritas no PartidoSocialista3. Fazem parte do Conselho Consultivo ascandidatas a Presidente, não eleitas.4. Compete ao Conselho Consultivo:a) Aprovar o plano de actividades doDepartamento e o orçamento apresentados pelaPresidente.b) Aprovar o relatório de actividades e contas;.c) Exercer as demais competências definidas nopresente Regulamento e pronunciar-se sobrequalquer assunto a solicitação da Presidente.d) Aprovar as listas de candidatas para integrarnas listas plurinominais, de modo a darconsecução aos nºs 4 e 5 do artigo 116º dosEstatutos do Partido Socialista.5. Poderão participar nos trabalhos do ConselhoConsultivo a convite, mulheres simpatizantes doPartido Socialista bem como individualidades dereconhecido mérito na área da igualdade.

Artigo 8º(Duração dos Mandatos)A duração dos mandatos dos membros dos órgãosprevistos no presente Regulamento é de dois anos

Artigo 9º(Regime Eleitoral)1. A Presidente e o Conselho Consultivo sãoeleitos por todas as militantes inscritas no PartidoSocialista, nos seguintes termos:a) A Presidente, pelo sistema de lista uninominal,por sufrágio, directo de entre candidataspropostas por um mínimo de 50 militantes;b) O Conselho Consultivo, segundo o método deHondt, em listas completas, propostas por ummínimo de 50 militantes e apresentadas pelascandidatas ao lugar de Presidente.2. O Secretariado Executivo é designado pelaPresidente, de entre os membros eleitos noConselho Consultivo, e ratificado por este.

Artigo 10º(Processo Eleitoral)1. O processo eleitoral inicia-se com aapresentação das candidaturas a Presidente edas listas para o Conselho Consultivo bem comocom a afixação dos cadernos eleitorais, durante30 dias seguidos e anteriores ao acto eleitoral.2. A campanha decorrerá nos 15 dias anterioresá data da acto eleitoral.3. A assembleia eleitoral decorrerá nas sedesdas secções de residência e sectoriais.

Artigo 11º(Mesa Eleitoral)1. As mesas da assembleia eleitoral serãocompostas por uma Presidente e duas vogais adesignar pelas secções e por um representantede cada uma das listas concorrentes, sempre quepossível.2. Do resultado das votações, em cada mesaeleitoral, é feita uma acta onde constarão todasas ocorrências. relativas ao acto eleitoral, sendoas mesmas enviadas ao Departamento Nacionalnos cinco dias seguintes.

Artigo 12º(Departamentos Federativos das MulheresSocialistas)1. A nível Federativo, devem ser constituídosDepartamentos Federativos das MulheresSocialistas, com estrutura e objectivos similaresaos do Departamento Nacional, eleitos por todasas militantes da área da Federação.2. São órgãos dos Departamentos Federativos aPresidente, o Conselho Executivo Federativo,composto por quatro membros, além daPresidente, e o Conselho Consultivo Federativo,composto por 16 membros efectivos eleitos e 8suplentes, além das militantes indicadas no nº2do artigo 7º, inscritas na área de cada Federação,como membros inerentes.3. Aplica-se à eleição dos órgãos federativos odisposto nos artigos 9º, 10º e 11º, com asnecessárias adaptações.

Artigo 13º(Disposições Finais)O presente regulamento entrará em vigor após asua aprovação pelo Conselho Consultivo dasMulheres Socialistas, sendo posteriormenteratificado pela Comissão NacionalR E G U L A M E N T O do D M P S de Janeiro de 2003

REGULAMENTODE ORGANIZAÇÃODO DEPARTAMENTO NACIONALDAS MULHERES SOCIALISTAS

Ao discursar perante mais de trêscentenas de militantes, no Hotel Altis,Ferro Rodrigues afirmou que nos“intervalos da guerra” também estão aaparecer “alguns sons e imagens destePaís em recessão, com desemprego edespedimentos”.“Nos meios do Governo, começam aaparecer divergências entre quempercebe que este é um caminho desuicídio para o País”, referiu, numaalusão às diferenças de posição vindasa público entre a ministra ManuelaFerreira Leite e Miguel Cadilherelativamente ao Pacto de Estabilidade eCrescimento (PEC) da União Europeia.Numa altura em que se discute a“flexibilidade” do PEC, é do lado doGoverno português que surgem “asatitudes mais ortodoxos” no seio daUnião, salientou, a propósito, o lídersocialista.Ferro Rodrigues referiu-se ainda às“obsessões” do Governo, tais comorendimento mínimo, “que vai levar pelaterceira vez ao Parlamento parasubvertê-lo”, e do Código do Trabalho,em que todas as propostas feitas pelo PSforam rejeitas liminarmente pela maioria,em sede de discussão na especialidade.Também a “gestão mediática” de SantanaLopes à frente da Câmara Municipal deLisboa foi alvo de fortes críticas de FerroRodrigues.“Não se vê um único projecto para acidade ou uma única medida integrada,apenas campanha eleitoral permanente,promessas de casinos e de hotéis decharme, numa lógica de ziguezagues”,disse.Ferro Rodrigues falou ainda do actualprocesso de renovação em curso no PS,mostrando-se particularmente satisfeitocom a elevada afluência às urnasregistada nas eleições federativas. “Háuma nova vontade dos militantes emparticipar e não delegarem o seu direito

de voto”, frisou.Por sua vez, Miguel Coelho, presidenteda Concelhia, sublinhou que o “FórumCidade” é um espaço aberto de reflexãodos militantes e dos cidadãosindependentes que queiram ajudar o PSa formular propostas que visem odesenvolvimento sustentável da cidade,a busca de soluções para questõesinadiáveis ou até a tomada de posiçãoem matérias que considere relevantes,no quadro da construção de uma

alternativa de governo para Lisboa.Por entre críticas às “políticas poucoconsistentes e até contraditórias” que têmmarcado o ano e meio de gestão dadireita na capital, Miguel Coelho afirmou-se convicto de que se o PS souber“trabalhar propostas mobilizadoras”estarão reunidas as condições para“recuperar para a esquerda” a Câmarade Lisboa.Já Eduardo Prado Coelho centrou a suaintervenção nalguns aspectos queconsidera marcantes para a qualidade devida numa grande cidade, como osprojectos de urbanização que devem terem conta a “escala humana”, a melhoria

dos transportes, que deve passar poruma gestão “flexível” dos horários dasempresas, e a insegurança, um problemapara o qual se devem já encontrarrespostas, sem se esperar pelos resultadosde “políticas preventivas”.De salientar que fazem parte da estruturaorganizativa do “Fórum Cidade” oConselho Consultivo, a ComissãoDinamizadora e Grupos de TrabalhoTemáticos e de Base Local, que deverãodesenvolver um conjunto de acções e

eventos indispensáveis ao cumprimentoda estratégia e dos objectivos propostosou a definir, como debates públicos sobretemas seleccionados, exposiçõesdocumentais e artísticas ligadas à cidadede Lisboa e aos seus percursos e umanewsletter.A Concelhia de Lisboa fará em breveuma comunicação aos militantes,convidando-os a inscrever-se no FórumCidade. No entanto, quaisqueresclarecimentos podem ser solicitados aocamarada Miguel Coelho, através dotelemóvel 917563296 ou pelo e-mail:[email protected]

J. C. CASTELO BRANCO

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199 ABRIL 2003 TRIBUNA LIVRE

A CONVENÇÃO DEGENEBRA E AS

MASMORRAS DEGUANTANAMO

São estes os senhores dos EUA que querem dirigir o mundo comesta ética, práticas e métodos? Ou será que pretendem um retrocesso

na sociedade, regressando à época esclavagista, respeitando aConvenção de Genebra para si e seus amigos e reservando para osoutros - como aos escravos do passado (agora os suspeitos de Al-

Qaeda) - as masmorras de Guantanamo?

Os EUA são sem dúvida, naturalmente, os grandesdefensores dos seus cidadãos, o que é a todos os títuloslouvável, desde que não desrespeitassem os direitos dosoutros povos, o que vem acontecendo ao longo dos anos,espezinhando os direitos humanos mais elementares.Vem isto a propósito da pressurosa defesa pelos EUA dosdireitos dos prisioneiros de guerra americanos efectuadospelos iraquianos logo a seguir aos primeiros momentos dasdetenções. E imediatamente foram evocados, e muito bem,os direitos que a Convenção de Genebra confere aosprisioneiros de guerra.Com a devida cortesia transcrevo alguns pontos daentrevista concedida por Mário Soares ao “Diário de Notícias”no dia 23 de Janeiro, sobre os presos suspeitos depertencerem à Al-Qaeda, detidos em Guantanamo, localque os EUA ainda conservam em Cuba: “Há pessoasencerradas há quase um ano... não têm a possibilidade de

ter advogado de defesa, estão totalmente condenadas só porque são ‘suspeitas’, sem qualquerjulgamento prévio e por tempo indeterminado ... os prisioneiros de Guantanamo não sãotratados como prisioneiros de guerra, senão ter-lhe-iam aplicado as Convenções de Genebra- o que não foi o caso”.Cito ainda o “Diário de Notícias”, artigo de Alexandra Prado Coelho, de 21 de Março, começandopor reproduzir o início do artigo: “Suspeitos de Al-Qaeda detidos na base norte-americana emCuba, são mostrados ajoelhados, algemados e com os olhos e ouvidos tapados”. Depois aopinião da Amnistia Internacional, que considera “desumanas” “cruéis” e “degradantes” ascondições em que os combatentes capturados no Afeganistão pela Aliança do Norte e entreguesàs tropas norte-americanas foram transportados e estão a ser mantidos em Guantanamo. ACruz Vermelha Internacional também defende “que os homens capturados no Afeganistão sãoprisioneiros de guerra” Acrescentamos ainda, continuando a mesma citação - “O advogadoWilliam Bourdon, citado ontem pelo ‘Liberation’, considera também que os EUA estão a cair emcontradição: Há uma incoerência americana em utilizar o direito internacional para lutar contrao hiperterrorismo através de resoluções da ONU que equiparam os atentados a actos deguerra, e ao mesmo tempo recusar-se a aplicar a Convenção de Genebra que codifica o direitoem guerra”.Comentários a todas estas indignantes evidências para quê? Mas sempre acrescento algo doque já vai começando a ser uma redundância.A superpotência, na atitude arrogante e insolente que caracteriza os dominadores imperiais,ignora a opinião das mais conceituadas e insuspeitas instituições internacionais, como a AmnistiaInternacional, a Cruz Vermelha Internacional, ou mesmo o Conselho de Segurança das NaçõesUnidas, de que é membro permanente, comportando-se como quem não deve quaisquerexplicações à comunidade mundial e num completo desprezo pelo Direito Internacional. Diga-se, em abono da verdade, que os chefes do Pentágono lá se vão reunindo com um ou outroeuropeu (especialmente os mais próximos da sua ideologia e não com os da “Europa Velha”),para manterem a reputação da democracia mais velha do mundo... - como se fosse possível nosesquecermos das purgas promovidas pelo senador Joseph McCarth, nos anos 50 do séculopassado...São estes os senhores dos EUA que querem dirigir o mundo com esta ética, práticas e métodos?Ou será que pretendem um retrocesso na sociedade, regressando à época esclavagista,respeitando a Convenção de Genebra para si e seus amigos e reservando para os outros -como aos escravos do passado (agora os suspeitos de Al-Qaeda) - as masmorras deGuantanamo?E não serão estas práticas e intenções de no futuro governarem o mundo que obstinadamentenão se queiram comprometer com a assinatura do nascimento do tratado do TPI - TribunalPenal Internacional?Há 30 anos, quando fundámos o Partido Socialista, a comunidade dos EUA era a típicarepresentante do capitalismo puro e duro e, como tal, era alvo de permanentes acometidas dossocialistas. Depois, parece que um certo temor reverencial fez calar muitas vozes...Será que é desta vez que vamos abrir os olhos definitivamente ao que nos rodeia e que tantosofrimento está a infligir a tantos povos?

O ORGULHO DE SERPORTUGUÊS E EUROPEUA grande força da Europa é e será sempre a de resolver os conflitos pelarazão e pela ética, nunca pelas armas como é o desejo de uma certa“falcoaria armamentista” europeia, residual e sem espaço e escrúpulos,que faz o jogo da indústria da bala.

O ataque bélico ao Iraque que está a ser levado a efeitopela aliança anglo-americana, com o apoio espanhol,pretensamente com o pretexto do derrube do ditadoriraquiano e do regime que este construiu com a sua proldirecta e indirecta, não pode deixar de merecer a atenção e com ela, a preocupação, de quemtem da cidadania e dos princípios em que esta se desenvolve, a devida conta.Não estamos interessados, com esta nossa opinião, em concorrer para o alargar da alarviceque está a constituir a difusão de notícias do quotidiano das operações militares, obedecendo àstécnicas costumeiras de manipulação soez, embora com recurso a métodos que utilizam novasformas de expressão para nos fazer crer da veracidade do que se noticia, mesmo que orepórter enfiado num quarto de um hotel se esforce para nos dar testemunhos e explicações doque se está a passar. Spielberg é mais atractivo e verdadeiro!Felizmente que pertenço a uma geração bem apetrechada de conhecimento e que sabe de coras receitas e os truques que nestas ocasiões são utilizados, por todas as partes, para nos fazerenredar em posicionamentos e opinião a favor ou contra de qualquer das mesmas.Como bem me adverte sempre o meu amigo Zbniew Bromirsky, de nacionalidade polaca eportuguês pelo casamento, antigo correspondente de guerra, sobrevivente do campo deconcentração nazi de Buchenwald e que escolheu há 23 anos o nosso neutral país para viver:“Isto é tudo um grande Teatro!”Infelizmente o futuro que se adivinha, com sincera preocupação o afirmo, não traz nada de positivo.E se as coisas não estavam bem, não há ninguém que se arrogue o direito responsável de afirmarque tudo irá ser melhor em 2004, em 2005 ou quando seja, porque de facto nada aponta para tal.Interessante é verificar a expressão do “sentimento” de alguns servidores/editores dacomunicação social nacional escrita, radialista e televisiva, no seu autoconvicto dever de informare, sem reserva, fazer o respectivo registo.É surpreendente a afirmação que agora sem decoro é produzida, relativamente ao pouco ounenhum interesse em Portugal se reconhecer como país da Europa, contrapondo o muito maisinteresse na sua vocação “atlantista”. Deve ser para rir, porque esta “assumida” constataçãoditada pela conjuntura não resiste aos argumentos mais simples que os factos demonstram ecomprovam. Poderá ser do nosso clima, que é instável, mas não acredito que a memória dosportugueses seja assim tão curta. Como é possível que se não reconheça que foi a Europaonde estamos e estaremos, que nos permitiu sair da letargia em que o Estado Novo nos deixou?Será que nos esquecemos do nosso atraso estrutural de há vinte anos e dos progressos quea nossa integração europeia nos permitiu, para concretizarmos políticas de progresso e demodernização que hoje são patentes e que há que prosseguir? A subsidariedade é e foi umapalavra vã? É mau termos uma moeda comum, com valor estável, tão forte como o dólar? (Defacto há quem não goste e que preferia o orgulhosamente sós, ainda...).Que falácia é essa e o que quer significar, de apelidar “velha” Europa à União Europeia? Qualé o continente neste mundo em que vivemos onde os direitos humanos sejam mais respeitadosdo que na União Europeia? Mais, qual é o continente e a associação moderna de países, ondemais se invista “per capita” na investigação? Onde mais se esteja a “desarmar” na produçãonuclear?E a criar uma cultura de respeito pelo Ambiente? Onde é que as novas tecnologias (cada vezmais limpas) mais se revelaram disponíveis para os cidadãos? No mundo, quem produz osmelhores automóveis, os melhores comboios e os melhores aviões? E até os melhorestelemóveis? Até nisto a Europa suplantou o Japão!A lista é irresistível em todos os domínios!E o que vale mais, uma União de Estados ou uma União de Nações, como é a União Europeia?Concertando Povos e Regiões, redimindo o passado de guerras e nessas desgraças dando ohúmus de civilização dá a força da razão à Humanidade em todos os continentes.Muitos pseudo-pensadores consideram que a Europa é tão frágil e contraditória que nemsequer é capaz de ter forças armadas conjuntas.Ainda bem!A grande força da Europa é e será sempre a de resolver os conflitos pela razão e pela ética,nunca pelas armas como é o desejo de uma certa “falcoaria armamentista” europeia, residual esem espaço e escrúpulos, que faz o jogo da indústria da bala.Porque será que tantas nações que estiveram obrigadas ao Pacto de Varsóvia estão agorasedentas de entrar nesta grande aliança pacífica de nações que é a União Europeia? Por quenão preferiam “atlantizar-se”?E que tese é essa de que a Europa Unida terá de ter aversão aos Estados Unidos da Américae ao povo americano?E já agora, porque não à China, à Índia, ao Brasil, etc.? Aos chineses, aos indianos e aosbrasileiros?Qual a base intelectual desta “tese”?Que sentido tem afirmar-se que se está a construir uma “nova esquerda” a pretexto da dita“guerra” do Iraque, quando quem usou o pretexto dessa guerra foi quem ilegalmente adesencadeou? É desonestidade intelectual flagrante e não resiste ao contraditório, a produçãodessa afirmação!Orgulhosos de sermos portugueses e europeus! Capazes sempre de dar Novos Mundos aoMundo! Capazes de fazermos Timores, sempre! Orgulhosos das nossas raízes históricas e danossa soberania feita de razão e humanismo, somos afirmadamente europeus e, como talpacificadores e neutrais, sobretudo face aos interesses tribais instalados, mesmo que as tribos eos seus chefes acabem por se considerar donos e usurpadores das nações, como é agora ocaso na peça que está em cena, boa para os novos “rotweillers” portugueses, soltos do canil.

PAULO BARRAL

JOSÉ NEVESFUNDADOR DO PS

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20 9 ABRIL 2003

ÓRGÃO OFICIAL DO PARTIDO SOCIALISTAPropriedade do Partido Socialista

FICHA TÉCNICA

DirectorAugusto Santos Silva

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RedacçãoJ.C. Castelo Branco [email protected]

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Francisco Sandoval

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Toda a colaboração deve ser enviadapara o endereço referido

Depósito legalNº 21339/88; ISSN: 0871-102X

ImpressãoMirandela, Artes Gráficas SA

Rua Rodrigues Faria 103, 1300-501 Lisboa

ECONOMIA

Indicador de Confiança

Consumidores

-46

-42

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Jan-02

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Jan-03

Mar-03

média

móvel de 3

meses

OS NÚMEROS DA CRISE ECONÓMICA E SOCIAL

O indicador de confiança dosconsumidores continua emqueda, atingindo novo valormínimo em Março.

Em Fevereiro, a taxa dedesemprego em Portugalsituou-se em 6,7%.Portugal foi o país da UE queregistou o maior aumento dataxa de desemprego (2,4pontos percentuais) emcomparação com o mêshomólogo do ano anterior,passando de 6º lugar emFevereiro de 2002, para 7ºem Fevereiro deste ano.Em Janeiro de 2003 a taxa dedesemprego em Portugaltinha-se situado em 6,5%.

O DESEMPREGO CRESCE...

... A CONFIANÇA BAIXA ... E O GOVERNO IMPLODE

Saíram dois ministros, um foi derrubado pelo “Independente” eo outro aproveitou a porta aberta para ir embora. Oitosecretários de Estado também abandonaram o barco emconflito com as respectivas tutelas. Entretanto, o desempregodispara. A confiança cai.