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Director: Augusto Santos Silva Director-adjunto: Silvino Gomes da Silva Internet: www.ps.pt/accao E-mail: [email protected] Nº 1229 - 12 Outubro 2004 “Portugal precisa hoje de criação, de inovação e decisão. Portugal precisa de definir Novas Fronteiras” NOVA LIDERANÇA NOVAS FRONTEIRAS Com a realização do Congresso de Guimarães o PS refundou a democracia dos partidos no nosso país. Pela primeira vez em Portugal os candidatos à liderança de um partido submeteram-se ao voto directo e universal dos militantes, depois de terem conduzido um debate público em que confrontaram as respectivas propostas. O novo secretário-geral do PS, José Sócrates, foi sufragado por 36 mil votantes em eleições internas. Que contraste com o processo de nomeação, por conclave da nomenclatura partidária, de Santana Lopes para a presidência do PSD. Ao mesmo tempo, o PS ganhou um novo impulso e definiu como objectivo imediato a convocação do fórum “Novas Fronteiras” para a intensificação do diálogo com a sociedade civil e a preparação da sua alternativa política e programática. ELEIÇÕES REGIONAIS ELEIÇÕES REGIONAIS ELEIÇÕES REGIONAIS ELEIÇÕES REGIONAIS ELEIÇÕES REGIONAIS AÇORES E MADEIRA AÇORES E MADEIRA AÇORES E MADEIRA AÇORES E MADEIRA AÇORES E MADEIRA 17 17 17 17 17 OUTUBRO Vote e mobilize Eleitos novos órgãos em clima de unidade interna COMISSÃO NACIONAL 15 3 a 11 Seguro denuncia dupla fragilidade do Governo PARLAMENTO 13 Episódio indigno de um país europeu CASO MARCELO 13 Triste espectáculo da incompetência EDUCAÇÃO 12

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Page 1: Augusto Santos Silva Silvino Gomes da Silva Internet: E ...meses. Foi um bom debate, um debate rico e vibrante, que decorreu à vista de todos e que continuou em Guimarães”. E,

Director: Augusto Santos Silva Director-adjunto: Silvino Gomes da SilvaInternet: www.ps.pt/accao E-mail: [email protected]

Nº 1229 - 12 Outubro 2004

“Portugal precisa hoje decriação, de inovação e decisão.Portugal precisa de definirNovas Fronteiras”

NOVA LIDERANÇANOVAS FRONTEIRAS

Com a realização do Congresso de Guimarães o PS refundou ademocracia dos partidos no nosso país. Pela primeira vez emPortugal os candidatos à liderança de um partido submeteram-seao voto directo e universal dos militantes, depois de teremconduzido um debate público em que confrontaram as respectivaspropostas.O novo secretário-geral do PS, José Sócrates, foi sufragado por

36 mil votantes em eleições internas. Que contraste com oprocesso de nomeação, por conclave da nomenclatura partidária,de Santana Lopes para a presidência do PSD.Ao mesmo tempo, o PS ganhou um novo impulso e definiu comoobjectivo imediato a convocação do fórum “Novas Fronteiras” paraa intensificação do diálogo com a sociedade civil e a preparaçãoda sua alternativa política e programática.

ELEIÇÕES REGIONAISELEIÇÕES REGIONAISELEIÇÕES REGIONAISELEIÇÕES REGIONAISELEIÇÕES REGIONAISAÇORES E MADEIRAAÇORES E MADEIRAAÇORES E MADEIRAAÇORES E MADEIRAAÇORES E MADEIRA1717171717

OUTUBROVote e

mobilize

Eleitos novosórgãos em climade unidadeinterna

COMISSÃO NACIONAL

15

3 a 11

Segurodenuncia duplafragilidade doGoverno

PARLAMENTO

13

Episódioindigno de umpaís europeu

CASO MARCELO

13

Tristeespectáculo daincompetência

EDUCAÇÃO

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2 12 OUTUBRO 2004ABERTURA

ANTOONIO COLAÇO

AUGUSTO SANTOS SILVA

COM O GOVERNO À DERIVA, NOVASRESPONSABILIDADES PARA O PS1. O Partido Socialista tem uma nova liderança. Com a reunião da Comissão

Nacional eleita pelo Congresso de Guimarães, finalizou-se o processo daescolha de todos os órgãos dirigentes. Este processo constitui umaverdadeira refundação do sistema de partidos na democracia portuguesa.Pela primeira vez na nossa história, a liderança de um partido foi decididadepois de uma disputa pública entre vários candidatos e moções deorientação geral e pelo conjunto dos militantes. 36.000 socialistasparticiparam na eleição directa do seu secretário-geral e dos delegadosao Congresso pelas diferentes moções. A representação de todas ascorrentes de opinião no debate político interno, a sua expressão emcandidaturas distintas, a intensidade e a vivacidade da campanha e aenorme adesão dos militantes conferem uma clareza e uma legitimidadeinquestionáveis à nova orientação política e à nova liderança. O PS saiumais forte e mais unido do Congresso de Guimarães. Mais unido, porqueconstruiu a unidade a partir da expressão da pluralidade das ideias e daspropostas, e não através do seu silenciamento. Mais forte, face à opiniãopública, porque esta viu desenrolar-se o debate a seus olhos e percebeua mensagem de determinação e clareza que o PS quis transmitir.Entretanto, a disputa interna concluiu-se no Congresso. Não quer istodizer que tenham desaparecido as diferenças de opinião no interior doPartido Socialista, ou que se vá passar uma esponja sobre os temas e asposições que dividiram as pessoas e os grupos. Mesmo que isso fossepossível (e sabemos todos que não é), não seria, em caso algum,desejável. Mas, como é típico destes processos – e constitui uma dassuas grandes riquezas – as propostas apresentadas pelos várioscandidatos acabaram por influenciar-se reciprocamente, de tal modo quese pode e deve dizer que elas se tornaram mais ricas no fim do debate doque o eram no seu início.O ponto principal não reside, portanto, nos aspectos internos do nossopartido, que continuará a distinguir-se pela pluralidade das opiniões e avivacidade dos debates. O ponto está no nosso meio envolvente: a tarefaimediata tem de ser, agora, potenciar a nossa posição de alternativapolítica e governativa na comunicação com a sociedade civil e o eleitorado.É para os portugueses que o PS fala e é na comunicação com eles que oPS se deve concentrar.

Temos, hoje, uma agenda política de oposição à coligação de direita queas pessoas reconhecem sem qualquer ambiguidade ou dúvida:identificamos o falhanço da política económica e financeira de DurãoBarroso e de Santana Lopes, denunciamos as promessas eleitoralistaspor cumprir, confrontamo-los com as gravíssimas consequências sociaisdos seus governos, estamos nos antípodas da contra-reforma social queos motiva, opomo-nos às tentativas de condicionar a opinião pública,controlar a comunicação social, minar a liberdade de expressão e crítica.Para que a agenda de oposição tenha sequência, o momento é de privilegiaruma agenda de proposição: construção de uma alternativa política, deuma nova plataforma programática e de uma nova aliança de forças sociais,a que o PS possa dar expressão e efectividade política. É este o sentido doFórum Novas Fronteiras, que José Sócrates já lançou e terá o seu arranqueno próximo 29 de Janeiro. O formato retoma uma feliz tradição, a de o PSchamar à colaboração personalidades e círculos independentes, dispostosa trabalhar connosco nessa nova plataforma. E introduz, como também ésalutar, um elemento novo, que é o desafio de pensarmos, nãosectorialmente, mas em função de problemas e bloqueamentos, queconstituem outras tantas oportunidades, assim saibamos erguer,convocando diferentes ângulos de abordagem e recursos de diversasáreas, respostas globais.

2. O tempo é, pois, de novas responsabilidades para o PS. Ainda mais debatede ideias, ainda mais debate de propostas, ainda maior abertura social,ainda maior empenhamento político.É neste quadro que interpretamos a decisão da Comissão Nacional quereconduziu a direcção do “Acção Socialista” e a mandatou para estreitara convergência entre o “Acção” e o “Portugal Socialista”. No início de umnovo mandato, ficam, pois, dois compromissos: o compromisso de mantere reforçar a imprensa do partido como instrumento de comunicação einformação entre todos; e o compromisso de imaginar novas formas dechegar a mais gente com melhores conteúdos e mais interesse.A realização destes compromissos depende também da cumplicidadecrítica dos leitores. Quanto mais exigentes forem, maior será a motivaçãoda equipa que trabalha no jornal.

A representação detodas as correntes deopinião no debatepolítico interno, a suaexpressão emcandidaturas distintas,a intensidade e avivacidade dacampanha e a enormeadesão dos militantesconferem uma clarezae uma legitimidadeinquestionáveis à novaorientação política e ànova liderança.

ESTÁ NA HORA!

– QUEM VIER A SEGUIR QUE FECHE AS PORTAS!

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312 OUTUBRO 2004

SÓCRATES ANUNCIA FÓRUM“NOVAS FRONTEIRAS”

“Novas fronteiras”. Este o novo fórum do PSlançado por José Sócrates, aberto aos cidadãosindependentes, para impulsionar “uma viragempolítica de fundo em Portugal”. No discurso comque encerrou o XIV Congresso do PS emGuimarães, o novo líder dos socialistasprometeu ainda vida difícil a este Governo “àderiva”, que já só tem como objectivo “aguentar-se no poder”. E avisou: “O PS está presente eestá de volta”.

O Fórum “Nova Fronteiras”, cuja data dearranque foi fixada no dia 29 de Janeiro,é um “espaço de participação política ecívica” e de “abertura à sociedadeportuguesa”, que visa relançar o espíritodos Estados Gerais, mas com “outromodelo”.Para esse grande debate, Sócratesconvocou “todos os portugueses queestão disponíveis para construir umprojecto de futuro para Portugal e paraajudar o PS a afirmar uma alternativa e apromover uma viragem política de fundono país”, recolocando-o “no centro damudança”.Segundo o pensamento do secretário-geral do PS, “ambicionar NovasFronteiras é procurar o caminho para ummodelo de desenvolvimento que rompacom o caduco sistema dos salários

baixos e da economia intensiva, paraapostar no que conta na economiaglobal: conhecimento, ciência,inovação, tecnologia”.Na sua intervenção, depois de evocar amemória de Sousa Franco, o lídersocialista salientou que o Congresso“não durou apenas três dias. Durou trêsmeses. Foi um bom debate, um debaterico e vibrante, que decorreu à vista detodos e que continuou em Guimarães”.E, acima de tudo, disse, “os portuguesespuderam ver no PS, ao longo destassemanas, aquilo que nunca puderam verem nenhum partido em Portugal”, ouseja, “à escolha directa feita pelosmilitantes, através do voto democráticoe secreto, por sufrágio universal edirecto”.“Eles escolheram uma estratégia. Eles

escolheram o caminho. Não tenhodúvidas que um dia todos os partidosserão assim”, declarou.E sublinhou que “o PS sai desteCongresso mais forte, mais unido”, mastambém com a sua “identidadereforçada. Como um partido orgulhosoda sua história, fiel aos seus valores. Masum partido virado para o futuro. O PSapresenta-se aos portugueses como umpartido da Esquerda Moderna. Um partidoatento à linguagem dos factos, comabertura às novas ideias e capaz deprocurar novas soluções para os novosdesafios do nosso tempo”.Mas, para além do efeito que teve no PS,Sócrates referiu que este Congresso teveconsequências importantes na direita,já que “pôs o Governo verdadeiramenteà beira de um ataque de nervos”, que“sente o chão a tremer-lhe debaixo dospés”.É que, adiantou, a razão é simples, “oGoverno dá-se conta que o PS está agoramais forte, mais motivado e mais forte.O PS está presente e está de volta”.Perante os cerca de 1500 delegados, olíder do PS reservou grande parte da suaintervenção no ataque cerrado àspolíticas e postura ao Governo dacoligação PSD/PP, concluindo que “osportugueses sabem bem que o país estáhoje muito pior do que estava há apenasdois anos e meio”.Para José Sócrates, “os portugueses jánão se queixam só das promessas que oGoverno não cumpriu, mas queixam-secada vez mais daquilo que o Governo faze se esqueceu de prometer”, dando como

exemplos os atrasos na colocação deprofessores, o desemprego, ocongelamento dos salários da funçãopública e a introdução de portagens nasregiões do interior do país.

Caixinha de surpresasdesagradáveis

“Este Governo é uma caixinha desurpresas, mas as surpresas são todasdesagradáveis. O Governo não cumpreas suas promessas mas passa o tempo afazer aquilo que escondeu aosportugueses nas últimas eleiçõeslegislativas”, lamentou.Sócrates criticou ainda a intenção doExecutivo de direita de criar uma centralde comunicação que “melhorasse a suaimagem” na Comunicação Social,afirmando que o problema do Governo“não é um problema de cosmética masde políticas erradas, de objectivosfalhados e, sobretudo, um problema deincompetência e de falta de estratégiapara o futuro de Portugal”.“Este é um Governo à deriva, que governasem rumo e sem programa, que um diadiz uma coisa e no mesmo dia diz outra.Já não é bem um Governo mas umconjunto desarticulado de ministros,que não se entendem”, disse.O ideal agora para um ministro “é sair naprimeira oportunidade”, referiu,sublinhando que os “os incentivos sãotentadores”, já que “para os ex-ministrosmenos bem sucedidos há sempre umlugar à espera numa empresa pública ounum banco. E um lugar com uma

reforma milionária”.Sempre muito aplaudido, Sócratesreferiu que a afirmação do PS neste novociclo político começa já este mês, naspróximas eleições regionais, garantindoque estará na campanha com ossocialistas dos Açores, “paradefendermos a obra notável de CarlosCésar à frente do Governo Regional”, mastambém na Madeira, ao lado de JacintoSerrão, “para lutarmos pelo reforço davotação do PS, a bem da democracia e abem do futuro dos madeirenses”.

Sim à Constituição europeia

Sobre o próximo referendo sobre aConstituição europeia, que considerou“um passo na direcção certa”, Sócratesreafirmou que os socialistas vão votar“sim” no referendo. “Vamos estar do ladoque sempre foi o nosso, vamos estar dolado da Europa”, disse.É que, argumentou, “só o reforço daintegração europeia pode fazer triunfaros valores europeus da defesa da esferapública e do modelo social. Só oprojecto europeu pode melhorar aeconomia europeia, aumentar aprodutividade e reduzir a desigualdadenas nossas sociedades”.De realçar, entretanto, que na intervençãoque efectuou na abertura do Congresso,o secretário-geral anunciou que o PSvotará contra o Orçamento de Estado,caso o Governo não volte atrás na decisãode retirar os incentivos fiscais aos PPR,medida que penaliza sobretudo a classemédia em Portugal.

XIV CONGRESSO DO PS

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4 12 OUTUBRO 2004XIV CONGRESSO PS

FEDERACÃO INSCRITOSTAXA DE MANUEL ALEGRE JOÃO SOARES JOSÉ SÓCRATES

PARTICIP. VOTOS % VOTOS % VOTOS %

ALGARVE 2.292 58,50% 358 26,80% 20 1,50% 957 71,70%ÁREA URBANA LISBOA 11.769 55,70% 1.256 19,30% 498 7,70% 4.755 73,10%AVEIRO 3.657 47,60% 362 20,90% 69 4,00% 1.304 75,20%BAIXO ALENTEJO 1.398 43,80% 101 16,50% 46 7,50% 466 76,00%BRAGA 9.235 40,50% 420 11,30% 72 1,90% 3.226 86,80%BRAGANÇA 1.386 47,00% 122 18,80% 17 2,60% 510 78,60%CASTELO BRANCO 1.194 67,50% 61 7,60% 3 0,40% 739 92,00%COIMBRA 5.162 48,80% 493 19,70% 42 1,70% 1.969 78,60%ÉVORA 803 51,80% 102 24,80% 19 4,60% 290 70,60%GUARDA 1.080 45,40% 111 23,00% 13 2,70% 358 74,30%LEIRIA 2.082 55,70% 227 19,70% 37 3,20% 888 77,10%PORTALEGRE 1.143 46,80% 73 13,70% 11 2,10% 449 84,20%PORTO 14.320 46,80% 716 10,70% 150 2,20% 5.804 87,00%REGIONAL OESTE 730 53,40% 56 14,40% 13 3,30% 320 82,30%SANTARÉM 2.140 49,40% 234 22,30% 42 4,00% 772 73,70%SETÚBAL 4.613 48,60% 397 17,90% 215 9,70% 1.607 72,40%VIANA DO CASTELO 2.100 40,70% 59 7,00% 39 4,60% 746 88,40%VILA REAL 1.821 56,70% 101 9,80% 1 0,10% 926 90,10%VISEU 2.564 49,30% 152 12,10% 10 0,80% 1.096 87,10%AÇORES 3.050 30,70% 120 12,90% 32 3,40% 779 83,70%MADEIRA 2.587 41,70% 120 11,20% 54 5,00% 898 83,80%EMIGRAÇÃO 5 0 2 58,40% 52 18,60% 102 36,60% 125 44,80%

TOTAL 75.628 48,20% 5.693 15,70% 1.505 4,20% 28.984 80,10%

SÓCRATES VENCEEM TODA A LINHAO secretário-geral José Sócrates foi o vencedor incontestável do XIV Congressodo PS ao obter maiorias superiores a 80 por cento tanto para os órgãos nacionaisdo partido como para a moção que apresentou como primeiro subscritor.Após a vitória retumbante nas eleições directas para o lugar de secretário-geral,que venceu com o expressivo número de 80,1 por cento, a que correspondem28.984 votos, José Sócrates logrou ainda, na eleição de delegados ao Congresso,obter uma folgada maioria. O secretário-geral do PS fez eleger pela sua moção1199 delegados, enquanto a de Manuel Alegre se quedou pelos 145 e JoãoSoares não foi além dos 27 delegados. A moção subscrita por Porfíro Silvaapenas conseguiu a eleição de três representantes ao conclave socialista deGuimarães.No Congresso, a moção de estratégia “Esquerda Moderna” arrecadou 951 votos(86,92 por cento) num universo de 1094 delegados votantes, contra os 143votos da moção defendida por Manuel Alegre (13,8 por cento).No sufrágio para a Comissão Nacional, órgão máximo do PS entre congressos, alista do vice-presidente da Assembleia da República elegeu 46 dos 251 membros,com 208 votos que equivalem a 18,8 por cento, e o novo líder socialista elegeu205 comissários, com 931 eleitores a seu favor, ou seja, 81,74 por cento dosvotos introduzidos nas urnas.Para a Comissão Nacional de Jurisdição, a lista de José Sócrates manteve osresultados acima dos 82 por cento, reunindo 944 votos, contra 205 somadospela lista de Manuel Alegre.No que respeita à Comissão de Fiscalização Económica e Financeira do PS, osresultados mantiveram a tendência, com a lista de Alegre a conquistar 17,87 porcento dos votos (num total de 200), enquanto a de Sócrates assegurava 82,52por cento (944 votos).

RESULTADOS FINAIS DA ELEIÇÃO DO SECRETÁRIO-GERAL

Comissão NacionalEleitos pela lista de JoséSócrates

1 Jaime Gama2 António Vitorino3 Jorge Coelho4 Carlos César5 António Costa6 Edite Estrela7 Francisco Assis8 António Campos9 Maria Amélia Antunes10 Alberto Costa11 Joaquim Raposo12 Maria Carrilho13 António Reis14 João Proença15 Maria da Luz Rosinha16 Carlos Lage17 Sérgio Sousa Pinto18 Leonor Coutinho19 José Lello20 José Lamego21 Maria Antónia Almeida Santos22 Capoulas Santos23 Vitalino Canas24 Helena Torres Marques25 Correia de Campos26 Joaquim Pina Moura27 Custódia Fernandes28 Mesquita Machado29 Jacinto Serrão30 Cândida Cavaleiro Madeira31 Pedro Silva Pereira32 Miranda Calha33 Celeste Correia34 Armando Vara35 Fernando Gomes36 Jamila Madeira37 Miguel Coelho38 Marcos Perestrello39 Maria de Lurdes Ruivo40 Renato Sampaio41 Carlos Zorrinho42 Otília Areal43 Victor Baptista44 Mário de Almeida45 Elisa Carvalho46 António Magalhães47 Carlos Candal48 Dias Batista49 Ângela Pinto Correia50 Horácio Antunes51 Alberto Souto52 Fernanda Almeida53 Rui Solheiro54 António Braga55 Carla Tavares56 Nuno Cardoso57 Miguel Ginestal

180 Ana Paula Vitorino181 Costa Velho182 Luís Marinho183 Dalila Araújo184 Rui Paulo Figueiredo185 Mafalda Gonçalves186 José Contente187 Luís Filipe Pires Fernandes188 Fernanda Asseiceira189 Fernando Silva190 Joaquim Sarmento191 Fernando Cerqueira192 Jesuína Ribeiro193 Domingos Bragança194 Pedro Coimbra195 Paulo Farinha196 Irene Lopes197 José Alberto Alves198 Umberto Pacheco199 João Paulo Feteira200 Isabel Cabaço Antunes201 José Fateixa Palmeiro202 António Gameiro203 José Luís Catarino204 Ana Cristina Costa205 Vítor Pereira Dias

Eleitos pela lista deManuel Alegre

1 Manuel Alegre2 João Cravinho3 Maria Belém Roseira4 Osvaldo Castro5 Alberto Martins6 Ana Catarina Mendes7 Marques Júnior8 Augusto Santos Silva9 Ana Gomes10 Emanuel Jardim Fernandes11 João Rui Gaspar Almeida12 Ana Paula Damas Fitas13 Jorge Lacão14 Jorge Strecht Ribeiro15 Helena Roseta16 José Leitão17 Medeiros Ferreira18 Maria Manuela Palmeira Neto19 Vera Jardim20 Manuel Maria Carrilho21 Margarida Teixeira Moreira22 Paulo Pedroso23 Aires Ferreira24 Ana Sara Brito25 Amadeu José Silva Penim26 Carlos Filipe Brandão27 Mariana Rodrigues Franco28 Nelson Baltasar29 Delmiro Carreira30 Isabel Maria Patrício31 Jerónimo Silva32 Carlos Trindade

58 Rosa Albernaz59 Joaquim Barreto60 Orlando Gaspar61 Joana Lima62 Carlos Teixeira63 Rui Lourenço64 Idália Moniz65 José Miguel Medeiros66 Laurentino Dias67 Bernardo Trindade68 Nélson Carvalho69 José Apolinário70 Andreia Cardoso71 Arons de Carvalho72 Eduardo Cabrita73 Elisabete Lemos74 Barbosa Ribeiro75 Nuno Freitas76 Profetina Conceição Dinis77 José Mota78 Rui Oliveira e Costa79 Rosalina Martins80 António Martinho81 Joaquim Couto82 Monique Rodrigues83 Carlos Santos Ferreira84 Fernando Serrasqueiro85 Jacira Fonseca86 José Rondão de Almeida87 Sérgio Àvila88 Eurídice Pereira89 M. Isabel Sena Lino90 Armando França91 Carla Sousa92 Sérgio Paiva93 Luís Ameixa94 Maria Helena André95 Joaquim Morão96 João Serrano97 António Borges98 Maria do Carmo Sequeira99 Eduardo Brito100 Júlio Henriques101 Luís Milheiro Vilar102 Ricardo Bexiga103 Isabel Vigia Almeida104 Fernando Rocha Andrade105 Joel Hasse Ferreira106 Jorge Catarino107 Ercília Costa108 Carlos Santos109 Luís Vaz110 Francisco Ferreira111 Palmira Reis112 José M. Rosa do Egipto113 Jorge Bento114 Luís Nazaré115 Maria Albertina Jorge116 Jorge Rosendo Gonçalves117 Palmira Maciel118 Antero Gaspar

119 António Galamba120 Marta Rebelo121 Fonseca Ferreira122 Miguel Fontes123 Castro Fernandes124 Glória Araújo125 Domingos Quintas126 Emídio Xavier127 Vasco Franco128 José Luís Carneiro129 Rui Pedro Soares130 Fernando de Jesus131 Francisco Leal132 Cláudia Santos133 José Lemos134 Nélson Correia135 Maria Helena Barreira136 José Ernesto de Oliveira137 João de Almeida Santos138 Fernanda Rocha139 Pedro Farmhouse140 António dos Reis Marques141 Carla Silva142 Henrique Ferreira143 José Ribeiro144 Idalina Trindade145 Álvaro J.G. Pedro146 Fernando Gomes Rodrigues147 Horácia Pedrosa148 Luís Carito149 João Paulo Santos150 Vítor Freitas151 José Correia da Luz152 Orlando Soares Gaspar153 Fátima Campos154 Henrique Lopes Fernandes155 José Matos Leitão156 Romana Romão157 Renato Leal158 Artur Penedos159 Inácia Odete Azevedo160 Jaime Leandro161 João Cunha162 Ana Maria Feijó163 Fernando Peixinho164 Afonso Abrantes165 Carla Celina Pacheco166 José M. Carpinteira167 António Paiva168 Santos Oliveira169 Paulo Caldas170 Ana Maria Ferreira171 Afonso Lobão172 Carlos Cabral173 Jorge Videira174 Fernanda Maria Freitas Dias175 Emanuel Martins176 Maria Flora Silva177 Natália Maria Conde178 Paulo Campos179 Luís Lopes

33 Carolina Tito Morais34 Luís Miranda35 Nuno Almeida36 Rosa Maria Pita37 José Carlos San Bento38 Albano António Sousa

Varela Silva39 Maria Tereza Sá Melo Freitas40 Jorge Silva41 António Joaquim Pires da

Silva42 Luísa Portugal43 António Mota Prego Faria44 António Farinha45 Carla Alves46 Jorge Ginja

Comissão Nacionalde JurisdiçãoEleitos pela lista deJosé Sócrates

1 António Ramos Preto2 Roque Lino3 Alzira Serrasqueiro4 Paulo Penedos5 Nuno Godinho de Matos6 Susana Amador7 António Silva Reis8 Francisco Ribeiro9 Paula Cunha Alves10 Vítor Manuel Pinheiro

Pereira11 Jacinto Leandro12 Rita Madeira13 João Santos

Eleitos pela lista deManuel Alegre

1 José Magalhães2 João Pedroso

Comissão Nacionalde Fiscalização Eco-nómica e FinanceiraEleitos pela lista deJosé Sócrates

1 Mário Lino Soares Correia2 Mário Lourenço3 Ana Paula Noivo4 José Cabeças5 Fernando Carvalho6 Ana Paula Enes Morais

Eleito pela lista deManuel Alegre

1 José Torres Campos

JOSÉ SÓCRATES

CONSTRUIR A ALTERNATIVAEM CLIMA DE UNIDADEINTERNAOs socialistas estão “na linha da frente da mudança e da renovação”, garanteJosé Sócrates, para quem “a democracia portuguesa ficou com a certeza de quepode contar com o PS”.No primeiro discurso de vitória após a sua eleição como líder do partido comcerca de 80 por cento dos votos, Sócrates classificou o sufrágio interno de“votação histórica”, em que “mais de 30 mil militantes fizeram uma escolhaclara, quer para o seu secretário-geral, quer para a linha estratégica do partido”.“Os militantes decidiram. Está decidido”, afirmou, considerando-se “honrado”com a responsabilidade de suceder na liderança dos socialistas a Mário Soares,Victor Constâncio, Jorge Sampaio, António Guterres e Ferro Rodrigues.Sobre a actualidade nacional, José Sócrates afirmou que a mudança política emPortugal começou com o encerramento do processo eleitoral dos socialistas,assegurando que “o Governo pode contar com uma oposição mais forte, maisenérgica, mais eficaz e que se afirmará pela apresentação de uma alternativaconstrutiva e credível”.No plano interno, o novo secretário-geral do PS saudou Manuel Alegre e JoãoSoares, seus adversários na corrida à liderança do partido, apelando à preservaçãoda unidade e pedindo-lhes que trabalhem com a sua direcção na construção deuma alternativa política ao Executivo de coligação PSD/CDS-PP.

Alegre felicita Sócrates

Por seu turno e afirmando que “em democracia ganha-se ou perde-se”, ManuelAlegre considerou que José Sócrates obteve “uma grande vitória política”.À sua candidatura, Alegre atribuiu o mérito pela forte participação dos socialistasnestas eleições – as mais participadas de sempre –, ao ter transformado “umanomeação” num “debate controverso”.“A minha candidatura constituiu um serviço ao PS, à democracia e ao país.Ousámos enfrentar os interesses instalados e apresentámos soluções inovadoras”,acrescentou, para depois elogiar a forma como se criou uma “estrutura nacional”à volta da sua candidatura em cerca de dois meses, grupo que, assegurou, “vaicontinuar a militar activamente”.“Nada ficará na mesma”, frisou, antes de advertir que a unidade do partido “sópode construir-se na pluralidade”.

Soares reconhece vitória “retumbante” de Sócrates

Já Soares não hesitou em reconhecer a vitória “retumbante” de José Sócratesnas eleições, felicitando-o como “secretário-geral de todos os socialistas”.“Só é derrotado quem desiste de lutar e eu nunca desisti de lutar em nenhumacircunstância”, acrescentou, citando Jaime Cortesão.Quanto ao seu futuro Soares disse que “em democracia não há situaçõesimpossíveis nem imprevisíveis”, embora tenha adiantado que, nos próximostempos, estará “empenhado enquanto militante de base do PS em todas asbatalhas que o partido travar para derrotar a direita”.O deputado socialista frisou ainda que o partido “estará unido em torno dosecretário-geral” e manifestou a sua disponibilidade para trabalhar com Sócrates.

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512 OUTUBRO 2004 XIV CONGRESSO PS

FERRO RODRIGUES APELA À UNIDADEFerro Rodrigues despediu-se daliderança do PS com uma intervençãoem que apelou à camaradagem e unidadedo partido. Certo de que nada ficará igualnos outros partidos após as eleiçõesdirectas no PS, Ferro previu uma grandevitória de Guterres nas presidenciais.Sobre o novo secretário-geral salientouque lhe tinha respeito, admiração eestima.Num discurso acolhido com aplausosde pé dos delegados presentes na sessãoinaugural do XIV Congresso, o lídersocialista cessante disse esperar que“daqui a um ano estejamos todos comAntónio Guterres nesse grande combatedas presidenciais, com uma grandevitória”.Ferro Rodrigues apelou ainda à “cama-radagem, frontalidade, participação emobilização” entre todos os socialistas,sublinhando que “todos devem contarcom todos. Ninguém se pode auto-excluir e ninguém pode ser excluído”.No seu discurso, Ferro Rodrigues faloudos laços de convívio e trabalho quemanteve com José Sócrates nosgovernos de António Guterres e nosúltimos dois anos e meio, no

Secretariado Nacional do PS, salientandoque aprendeu a “respeitar, admirar eestimar” o novo líder socialista de quem,garantiu, nunca teve “nenhumademonstração de deslealdade, tivesempre dele a solidariedade nosmomentos mais difíceis”.E acrescentou: “José Sócrates tem asqualidades políticas necessárias paraconduzir o PS à vitória com maioriaabsoluta que é o que o PS há muitosanos quer e há muito tempo merece”.No seu discurso de despedida daliderança, Ferro Rodrigues fez questãode saudar diversos dirigentes socialistas,entre os quais Vera Jardim, que foi porta-voz do PS nas questões relativas aoprocesso Casa Pia, a quem agradeceu asolidariedade.Lembrando os “miseráveis” ataques deque foi alvo, Ferro Rodrigues deixoutambém uma “saudação especial” aVieira da Silva, secretário nacional paraa Organização e presidente da COC, quedescreveu como “um grande militante”.O ex-líder socialista teve ainda palavrasde muito apreço para com António Costae António José Seguro pela forma comodirigiram com “combatividade” a

bancada parlamentar do PS, numa alturaem que “era preciso resistir à máquinatrituradora da maioria”.E elogiou também o camarada JorgeCoelho, coordenador para as autarquiasdo PS, pelo “papel de grande sacrifícioem momentos difíceis da sua vida”.Na sua intervenção, o secretário-geralcessante evocou ainda a memória deSousa Franco, provocando um aplausode pé dos congressistas. “Quero dizerque tenho muitas saudades do professorSousa Franco, a quem muito devemosos resultados que tivemos nas eleiçõeseuropeias”.Por outro lado, afirmou estar“orgulhoso” por ter escolhido umSecretariado Nacional “o mais pluralistapossível”, já que dos seus 11 membros“houve quem apoiasse João Soares,Manuel Alegre, José Sócrates e quemficasse sem apoiar qualquercandidatura”.Sobre as eleições directas para a suasucessão, Ferro Rodrigues elogiou aparticipação de mais de 36 mil militantesno escrutínio, concluindo que depoisdesta disputa “nada ficará igual nosoutros partidos”.

JOÃO SOARES ELOGIADEBATE INTERNO

João Soares considerou que o debate interno realizado no PS “fez história”e constitui “um precedente inovador”, manifestando ainda a sua inteiradisponibilidade e empenho em colaborar com o novo secretário-geral para“combater a direita dos interesses que nos desgoverna”.“José Sócrates, conta comigo para todos os combates, com solidariedadee determinação”, disse, acrescentando que os socialistas saem do debatee do congresso “mais rejuvenescidos”.Na sua intervenção no Congresso de Guimarães, João Soares que optou porvotar a favor das moções de Sócrates e Alegre, voltou a defender algumasdas linhas-força da sua candidatura à liderança do PS, nomeadamente aaplicação da taxa Tobin, o fim das “off-shores”, a defesa da ética republicanade serviço público, a defesa intransigente do Serviço Nacional de Saúde, apossibilidade de todas as mulheres terem direito a recorrer aos hospitaispúblicos para interromper voluntariamente a gravidez até às 12 semanas e aretirada imediata da GNR do Iraque, “para onde fomos levados por um logrode Durão Barroso”.Refira-se ainda que João Soares não apresentou listas aos órgãos nacionaisnem viu a sua moção discutida no Congresso, por não ter obtido osnecessários 50 delegados exigidos pelos Estatutos para esse fim.

ALMEIDA SANTOS REELEITO PRESIDENTE DO PS

ESQUERDA MODERNA

GAMA ASSUME ESTRATÉGIA PARAUM NOVO CICLO POLÍTICO

MAIS IGUALDADE, MELHOR DEMOCRACIA

ALEGRE DISPONÍVELPARA COLABORAR COM

A NOVA DIRECÇÃO“A disputa cá dentro terminou. A partir de agora, a luta é entre nós e adireita”. Esta a mensagem de unidade deixada por Manuel Alegre aosdelegados do XIV Congresso do PS, o primeiro que se realizou fora deLisboa e do Porto.O candidato derrotado à liderança socialista garantiu que ele e os que oapoiaram vão colaborar com a nova direcção, advertindo, porém, queexigirão sempre o “respeito pelo pluralismo” no interior do partido, umavez que a moção “Mais Igualdade, Melhor Democracia” contém “ideiasque podem ajudar o PS a vencer”.Ao intervir na apresentação da moção de que era primeiro subscritor,Manuel Alegre invocou o valor unidade na diversidade e o respeito pelosresultados verificados nas eleições internas.“José Sócrates será é o meu secretário-geral e de todos os socialistas”,afirmou, lembrando ainda que a sua candidatura “contribuiu para reforçara qualidade da democracia no PS e também no país”.No seu discurso, Alegre garantiu que o grupo que o apoiou no confrontocom José Sócrates “não se constituirá numa tendência organizada dentrodo partido”.“Estamos disponíveis para colaborar”, mas “a unidade interna constrói-se no respeito pelas minorias”, defendeu, insistindo em dois temas que odistanciaram, em campanha, do novo secretário-geral do PS: a políticade alianças do partido e a existência de destinatários preferenciais damensagem dos socialistas.“Continuo sem perceber o que fará o PS se não tiver maioria absoluta naseleições legislativas”, disse então, sublinhando a necessidade do partidofazer entendimentos à esquerda caso obtenha apenas maioria relativa.Manuel Alegre sustentou ainda que o PS não deverá esquecer a suaorigem ideológica nascida das lutas operárias e, como tal, “não deveráser neutro nas questões sociais”.“Em Portugal, quem reinventou a luta de classes foi o Governo de direita”,recordou ainda o vice-presidente da Assembleia da República,incentivando Sócrates a “bater-se pela reforma da Lei de Bases daSegurança Social, pela revogação Código do Trabalho”, e contra o“desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde”.Considerando “completamente gasto” o modelo de desenvolvimentoportuguês, baseado em salários baixos e na baixa qualificação das pessoas,Manuel Alegre defendeu um novo paradigma apostado na sociedade doconhecimento e apoiado num “Estado estratega que não se limite àcondição de árbitro, mas que se assuma como um instrumento de combateàs desigualdades e da promoção do desenvolvimento económicosustentado”.Este Estado, lembrou Alegre, fazendo uma síntese da sua moção, deve ser“um fornecedor de serviços públicos”.A defesa de um contrato social baseado na igualdade de género,enquadrado no modelo social europeu, a par da confirmação da prioridadeàs políticas sociais como marca do socialismo democrático constaramna sua moção e foram relembradas por Alegre aos delegados no Congresso.

É crucial aprovar uma “estratégia de longoprazo”, afirmou peremptório Jaime Gamaaos delegados do XIV Congresso socia-lista, ao apresentar a moção “EsquerdaModerna, cujo primeiro subscritor é JoséSócrates.“Queremos que este congresso trace todaa linha política para o ciclo político até aopróximo congresso”, afirmou, sublinhandode seguida que “chegou a hora da decisãosobre a linha política do PS”.Definindo o encontro de Guimarães como“o congresso da clarificação políticasobre a estratégia do PS”, Gama salientouvárias vezes a necessidade de o partidoser “de toda a sociedade” e de se voltarpara a acção mais do que para a crítica,enquanto principal força da oposição queaspira a ser poder nas próximaslegislativas.E para vencer o país, segundo JaimeGama, é preciso reformar o partido. A estepropósito declarou: “O PS não é um fimem si mesmo. A sua razão de ser, da suahistória, da sua identidade e sobretudodo seu futuro é ser um instrumento demudança”.Para Jaime Gama, os socialistas têm deser “capazes de pensar, mas tambémcapazes de agir, de criticar, de propor, desonhar, mas também de governar”

afirmou, defendendo, consequentemente,que “os portugueses olham para o PScomo o seu único instrumento políticopara a formação de um novo Governo comnovas escolhas e novas políticas” e de“trazer de novo a esperança ao país”.Após ter afastado eventuais coligaçõescom o PCP e o Bloco de Esquerda, porqueseriam “entendimentos precários sembase política”, o deputado do PS consi-derou que “qualquer apoio parlamentarnunca pode defraudar ou ser contraditóriocom o programa do PS sufragado peloseleitores”.Gama disse que estes partidos “devemser questionados”, nomeadamente “sobre

as posições políticas que têm em matériade economia, segurança e defesa e sobrea Europa”.Quanto à orientação estratégica do Estado,o dirigente socialista entende que este“não pode ser o patrão anónimo dapolítica democrática”, pelo que no âmbitoda sua reforma é preciso assegurar “umserviço público que coloque a prioridadena defesa dos utilizadores, consumidores,utentes”, apontando duas áreas onde asmudanças são essenciais: a Educação ea Saúde.Ainda como propostas políticas para país,Gama explicou que a moção “EsquerdaModerna” faz ponto de honra no planotecnológico (com vista a cumprir aEstratégia de Lisboa), nas políticassociais, na modernização das empresas esua internacionalização adequada, numanova estratégia económica nacional, numreforço das políticas da igualdade (coma retoma da luta pelo referendo peladescriminalização do aborto), naafirmação de Portugal na Europa e nomundo, na irradiação da língua e culturaportuguesas e nas missões de paz só commandato da ONU.Tudo porque, lembrou mais uma vez, “ofuturo do PS é ser um instrumento demudança”.

Almeida Santos foi reeleito presidente do PS pelos delegadosdo XIV Congresso do partido, cargo que exerce há 12 anos epara o qual se candidatou com o apoio do novo secretário-geral, José Sócrates.A reeleição de Almeida Santos por 1.084 votos a favor, seis

em branco e cinco nulos dos cerca de 1.500 delegados foianunciada pelo próprio.Na abertura do segundo dia do congresso socialista, AlmeidaSantos garantiu que este será o último mandato napresidência do PS.

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6 12 OUTUBRO 2004XIV CONGRESSO PS

O CONGRESSO DE TODAS AS EMOÇÕES

JUNTOS VAMOS CONSTRUIRUM NOVO CICLO DE VITÓRIAS

RUI CUNHAApoiante da candidatura

de João Soares

IDÁLIA MONIZApoiante da candidatura

de José Sócrates

Com a declaração proferida por João Soares, em reunião da Comissão Nacionalde Março de 2004, de que seria candidato a secretário-geral, encerrou-se ociclo de dez anos de falso unanimismo em que o PS esteve mergulhado.Ao longo da sua história, tem vindo exaustivamente a ser demonstrado queo partido sai reforçado quando assume o pluralismo e o debate franco eaberto de ideias, e enfraquecido sempre que pretende ignorá-los. NesteCongresso isso mais uma vez ficou provado.O XIV Congresso não decorreu ao longo de três dias, como era tradicional,mas sim ao longo de dois meses.A História virá a demonstrar que as três candidaturas, com tudo o queinevitavelmente as une e identifica, mas também com visões diferentes sobrevárias questões fulcrais e estratégicas, prestaram um contributo inestimávelpara o reforço do PS, para a sua imagem de partido vivo e dinâmico, e paradar uma nova esperança a Portugal.Os debates realizados em todo o País foram largamente participados e onúmero de votantes bateu folgadamente tudo o que anteriormente tinhaocorrido em eventos partidários. Torna-se agora indispensável que cadamilitante passe a ser um sujeito político activo, pronto para todas as batalhaspolíticas e capaz de dialogar, acolher e articular com todos os cidadãos quese identificam com o PS e que com ele estão disponíveis a colaborar.Como exaustivamente foi afirmado e reafirmado, os militantes decidiram,está decidido. José Sócrates é o secretário-geral de todos os socialistas.Eleito por uma maioria confortável, o processo que acabámos de viver é ogarante de que terá a vantagem clara de não ser alvo de um falso unanimismonefasto.Todos estamos confiantes que a inteligência e argúcia de José Sócrates oleve a tirar as ilações positivas desta situação. Em primeiro lugar, porque oPS sempre provou que a melhor forma de se afirmar e de ganhar a confiançados portugueses é cultivando o pluralismo interno de ideias, bem como a

transparência e lhaneza traduzidas numa forte solidariedade e num cimentoaglutinador para as verdadeiras batalhas políticas, que são as externas;Em segundo lugar, porque José Sócrates irá liderar um partido vivo;Em terceiro lugar, porque não será um secretário-geral apenas rodeado de“yes men”, mas terá sempre aquilo que um líder mais deve desejar – quemassuma frontal e lealmente as discordâncias, as fundamente e lhe proponhaalternativas;Em quarto lugar, porque o Congresso se manifestou de forma inequívocano sentido de que o PS deverá continuar a empunhar galhardamente algumasdas bandeiras caras ao socialismo democrático, como as do Serviço Nacionalde Saúde e da Segurança Social Pública.Estão pois criadas as condições para um novo ciclo de vitórias do PS, queconduzam a uma maior justiça social e que renovem a confiança dos agenteseconómicos.Aqueles que apoiaram a moção e a candidatura de João Soares recusaramassumir qualquer “expediente” que lhes viesse a permitir, eventualmente,integrar listas para os órgãos dirigentes do partido. As regras democráticassão para ser cumpridas. Julgo que também nesta matéria colaborámospara a implementação de uma nova cultura na vida política partidária.O nosso contributo, cuja determinação é inquestionável, terá o mesmovalor na militância de base e nos órgãos intermédios. As posições queentendermos dever assumir no debate interno do partido serão veiculadasnas estruturas de base, nas concelhias e nas federações, no grupoparlamentar e nas reuniões conjuntas deste com a comissão política nacional.Estou certo que ninguém se auto-excluirá e estou certo que a nova liderançanão excluirá ninguém.O XIV Congresso foi claro na assumpção de que será com todos juntos quevamos conseguir.O PS vai conseguir. E, como sempre afirmámos, “vamos a isto juntos”.

O Congresso de Guimarães foi palco de uma mudança estratégicaprotagonizada por José Sócrates, que reforçou a confiança dos militantesdo Partido Socialista e deu início a um novo ciclo político que vai de encontroao anseio dos portugueses.O País está agora atento ao desenrolar dos próximos acontecimentos econta com o Partido Socialista para que seja invertido o ciclo de governaçãode uma maioria de direita, autoritária e sem capacidade de articular as medidasavulsas que implementa, assim comprometendo o desenvolvimento doPaís e travando o seu crescimento.Se dúvidas existiram durante a campanha interna, protagonizada pelos trêscandidatos, a eleição do secretário-geral, por 80,1 por cento dos militantes,legitimou José Sócrates para decidir e implementar as melhores estratégiaspara os próximos actos eleitorais. A legitimação decorrente destes factosleva-nos a poder afirmar que, a partir do Congresso de Guimarães, nadaserá como dantes.O PS está, mais do que nunca, em condições de pedir uma maioria absolutaaos Portugueses, apresentando-se autonomamente a sufrágio e denunciandoo Governo, passo a passo, por cada ataque que desfere contra os legítimosdireitos dos cidadãos. À Comissão Organizadora do Congresso, liderada pelo seu presidenteVieira da Silva, coube a missão de, num curto espaço de tempo, dar respostaao cumprimento dos estatutos e à organização da grande e complexa máquinado Congresso. Não se mostrou fácil (num país desiludido e desmotivado,desmobilizado para uma indispensável participação partidária e registando-se um grande défice de participação de mulheres) fazer cumprir os requisitossobre a paridade, enunciada nos Estatutos, sobretudo quando nosconfrontamos com uma realidade de militância feminina muito inferior aos33 por cento previstos nos Estatutos. Cabe portanto, a todos, ocompromisso de dar mais confiança às mulheres para que se inscrevam noPartido Socialista e participem mais activamente na sociedade.Considero, porém, que deverá ser revisto, em futuros Congressos, umformato que preveja dar voz a todos os militantes, salvaguardando as opiniõese as experiências de cada um, instituindo-se um espaço de intervenção ede apreciação atenta por parte dos dirigentes. Mas só uma nova estrutura,

orgânica e funcional, do Congresso poderá contemplar as intervenções detodos quantos deverão ter uma palavra a dizer sobre o partido e o País. Notável foi o trabalho desenvolvido pelas estruturas de base do Partido quemobilizaram cerca de 38 mil militantes, na sua maioria gente anónima mascheia de vontade de participar e, sobretudo, de passar uma imagem muitoclara de que estão prontos para os combates que se avizinham. Que estãoprontos para trabalhar e, sobretudo, que têm vontade de apresentar novassoluções. Será fundamental que, cada um de nós, na medida das suascapacidades, se empenhe na conquista do Poder e mostre, nas suas áreasde intervenção, que o PS está pronto para governar para as pessoas e pararesolver com eficácia os seus problemas. No entanto, é fundamentalmodernizar as estruturas do partido e o secretário-geral demonstrou comclareza, na moção que submeteu ao Congresso, o compromisso que assumecom os militantes, modernizando o partido e contribuindo para modernizara vida político-partidária do País.Deste Congresso saíram ideias muito claras: que o PS está pronto para voltarao Poder, mas que não está disposto a tudo para o alcançar. José Sócrates iráprotagonizar o Fórum Novas Fronteiras, com data de arranque marcada para29 de Janeiro de 2005, abrindo o partido à sociedade, contando para issocom a participação política e cívica de todos os portugueses com contributosnas áreas do Conhecimento, da Ciência, Inovação e Tecnologia, constituindo,assim, a alavanca para um projecto global modernizador, conducente aoreforço da economia portuguesa e da qualidade de vida dos portugueses.Os socialistas saíram do Congresso de Guimarães reafirmando-se comooposição construtiva e activa e com José Sócrates como líder inequívocoda oposição.Um líder frontal, com capacidade de decisão e com vontade de modernizaro partido e o País, com ideias claras e com confiança, atento à história dopartido e aos contributos dos militantes e dos Portugueses em geral.Depois de tudo o que passámos no Partido Socialista e confrontados comos constantes desrespeitos do Governo de Direita pelos direitos fundamentaisconstitucionalmente consagrados, considero que o Congresso de Guimarãesfoi o Congresso de todas as emoções. Por isso rumei a Sul com umalágrima no canto do olho e com uma forte vontade de trabalhar.

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NOVOS DESAFIOSMais um Congresso do Partido Socialista, aquele que ocorreu emGuimarães. Dir-se-á: um novo ciclo na nossa vida política. É sempreassim no final de qualquer congresso!!!Este Congresso marcou a vida política portuguesa. Abriu-se o debatepara dentro e para fora do Partido Socialista. Mostramos ao País que épossível a união com pluralidade e diversidade de pontos de vistaVotaram 36000 militantes, um número inimaginável e que podemos,hoje, desafiar qualquer outro partido português a tentar repetir.Uma reforma inteligente, verdadeiramente reformista e inovadora é oque se espera desta nova direcção do PS.Assume particular relevância o Fórum Novas Fronteiras. Será este adefinir os moldes do debate político que o Partido Socialista quer travarno futuro muito próximo. Atentos à nova situação política que se viveno País. Um Governo que apela, sem qualquer vergonha, ao populismomais descarado, às promessas eleitoralistas que em nada representamreformas estruturais para o país, mas antes se traduzem num aumentoda pobreza, no agravar das assimetrias sociais, no aumento dodesemprego, no desinvestimento em sectores estruturantes de qualquersociedade, como a Saúde e a Educação. O País e os portugueses exigemdo Partido Socialista resposta para os seus problemas.É, assim, vital um rumo, uma estratégia, uma acção que traduza a novaesperança e confiança para os portugueses.Num mundo globalizado, na era das novas tecnologias, no momentoem que Portugal se deve afirmar no seio da União Europeia, o “slogan”Novas Fronteiras pode gerar equívocos de interpretação. Mas entendo-o como um desafio aos militantes e simpatizantes do Partido Socialistapara, em conjunto, construirmos a alternativa urgente e necessária

para o País.Não posso deixar de referir, também como balanço deste XIV Congresso,que uma das questões mais prementes para o Partido Socialista é teruma resposta adequada aos problemas que a nossa Democracia enfrenta.Começando pelo interior do Partido Socialista, nos métodos, nosprocedimentos exigirmos para nós próprios o cumprimento dos princípiosda transparência, da tolerância pelas opiniões diversas, no cumprimentoda igualdade entre todos. Só assim será possível formular as alternativasque os portugueses agora esperam que o PS lhes apresente, devemos,por isso, defender radicalmente os princípios basilares da nossademocracia como exigência que não pode, não deve, ser desprezada.Os Direitos, liberdades e Garantias, bem como os Direitos Sociais têmsofrido os maiores abalos nos últimos dois anos de Governação PSD/PP.Pugnar por uma Esquerda Moderna tem que ser lutar pela consolidaçãodas nossas Instituições Democráticas, pela defesa radical dos direitosfundamentais, na definição de um projecto e acção para o País emnome do PS e dos portugueses.Encontrar condições de governabilidade tendente à transformação social,em ruptura com a direita e o populismo, é o grande desafio de todos osque se revêem politicamente na esquerda.Saídos de um Congresso em que se voltou a ter debate político vivo,escolhas claras, propostas diferentes, importa agora que o processo deconstrução de uma plataforma política ganhadora honre esse clima,estimulando a diversidade, exigindo a todos lealdade e respeito mútuo,continuando, assim, a inovar na Democracia portuguesa e abrindo oPS para dentro e para fora das fronteiras da sua militância.

ANA CATARINA MENDESApoiante da candidatura

de Manuel Alegre

PEDRO SILVA PEREIRAApoiante da candidatura

de José Sócrates

TEMPO DE UNIDADETEMPO DE COMBATEO XIV Congresso do Partido Socialista não foi um Congresso igual aosoutros. É certo que já noutras ocasiões se verificaram no PS disputasacesas pela liderança, mas não há memória de um debate político tãointenso e prolongado, diante dos olhos de todos os portugueses esuscitando tanta atenção da Comunicação Social e da opinião pública.Acresce que a participação eleitoral de mais de 36.000 militantes setraduziu numa afirmação de vitalidade democrática absolutamente semprecedentes. Esta massiva votação revelou à sociedade portuguesa umPS vivo e empenhado, em flagrante contraste com a decadência deoutras instituições da nossa democracia. Para muitos, este vivo debateinterno terá sido uma descoberta: a descoberta de um espaço políticoem que vale a pena participar. E isto pode ser muito promissor para ofuturo do PS. Precisamos de um PS mais atractivo, sobretudo para asnovas gerações.Os militantes socialistas escolheram a sua liderança e a sua estratégia.De forma absolutamente clara. O tempo agora é, portanto, de unidade ede combate político. O País espera e desespera por uma alternativapolítica que ressuscite a esperança e ponha fim a este estado de coisasna governação. A verdade é que os portugueses já não esperam nadadeste Governo e, por isso, têm os olhos postos no PS. É muito importanteque o PS não falte à chamada. A responsabilidade para que isso aconteçacabe a todos. A apresentação de uma lista única para a ComissãoPolítica e os sinais de abertura e respeito pelas minorias já dados pela

nova liderança são, sem dúvida, passos na boa direcção. Aos sinaisde desagregação na maioria e no Governo, aos evidentes indícios dedesnorte estratégico no Executivo, é fundamental que o PS respondaassumindo-se como um referencial de estabilidade e de lucidez política.As tarefas do PS são claras: dar voz ao descontentamento popular,denunciar o erro das políticas e fazer a oposição enérgica e forte que osportugueses desejam. Mas trata-se também de preparar uma alternativade Governo. Para isso, importa dar seguimento ao trabalho que temvindo a ser desenvolvido pelo Gabinete de Estudos e preparar umPrograma de Governo no quadro de um processo de abertura do PS àsociedade portuguesa. Nestas condições, o Fórum Novas Fronteirasapresenta-se como um passo decisivo na mobilização das energias doPaís em torno desse projecto político alternativo.O Congresso de Guimarães foi apenas um começo e funcionou comouma convocação para o combate político. O surgimento de uma novaliderança no PS, claramente legitimada e assumindo uma candidatura àchefia do Governo, capaz de suscitar expectativas e de formular propostasalternativas está a causar a maior perturbação na maioria e no Governo.Tomara que a afirmação dessa alternativa incentivasse o Governo agovernar melhor. Mas não parece ser esse o caso. Tanto pior. Mas osportugueses vão-se dando conta, progressivamente, que podem contarcom o PS. E é para isso que devemos trabalhar. Fazê-lo é estar á alturado nosso dever.

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RELATÓRIO DO SECRETÁRIO-GERAL, EDUARDO 1. De acordo com os estatutos do PartidoSocialista, compete ao Secretário-Geral “apresen-tar ao Congresso Nacional o relatório das activi-dades desenvolvidas pelo Secretariado Nacional”.Neste contexto, como Secretário-Geral cessante,procurarei, sob minha exclusiva responsa-bilidade, de forma muito sintética, fazer umbalanço do trabalho realizado.A forma mais correcta de proceder consiste, ameu ver, em relembrar os aspectos mais relevantesda moção apresentada ao XIII Congresso Nacionale comparar os compromissos então assumidoscom o trabalho entretanto realizado.

2. Há dois anos, tomei a iniciativa de convocaro XIII Congresso do Partido. Fi-lo, depois de tersido eleito, 10 meses antes, por voto directodos militantes do PS, porque considerei que, apósas eleições legislativas de 2002, disputadas emcondições excepcionais, era absolutamentenecessário, como ficou escrito na moção de quefui o primeiro subscritor, “proceder a um debateaprofundado sobre todos os aspectos relevantesda vida do partido, incluindo a questão daliderança”.Foi neste sentido que, nos meses que antecederamo Congresso, o Partido debateu, de forma parti-cipada, quer uma nova declaração de princípios,quer uma revisão dos seus estatutos.O XIII Congresso – que se realizou sem a pressãoresultante da existência de um acto eleitoralpróximo – foi uma oportunidade para discutir oPartido que queríamos, solidificando a nossaidentidade programática e lançando os alicercesdo que deve ser uma organização partidária de ecom futuro. Mas foi também o momento em quelançámos a nossa agenda política, para a novasituação em que nos encontrávamos e em queaprovámos a nossa estratégia eleitoral para estesdois anos, com particular relevância para aseleições europeias.

3. Naturalmente que o último Congresso serealizou ainda no rescaldo das eleições legislativasde Março de 2002, na sequência das quais o PartidoSocialista passou a ocupar um lugar semprecedentes no panorama político português.Nunca, até então, o maior partido daoposição tinha tido a responsabilidade derepresentar quase 40 por cento doseleitores. Apesar de termos sido derrotados e determos sabido viver a nova situação de passagemde poder à oposição, não apenas no país, masnum número muito relevante de autarquias locais,continuámos a representar uma parte muitosubstancial da população portuguesa e obtivemosum dos melhores resultados da nossa história.Como é sabido, as legislativas de 2002 foramumas eleições disputadas em condições muitodifíceis, mas nas quais, contámos com o apoioda grande maioria daqueles que, oito anos antes,haviam estado com o PS nos Estados Gerais. Nãosó este facto serviu para contrariar a ideia de muitosde que éramos um partido excessivamente fechadosobre si próprio, como sublinhou que muitos dossectores mais dinâmicos da sociedadeportuguesa, apesar das críticas até então feitas,continuavam e continuam a ver no PS o principalreferencial de uma governação progressista,democrática e solidária.Contudo, em Novembro de 2002, era essencialque interiorizássemos a ideia de que estávamosna oposição e já não no Governo. Como tal, haviaque analisar com rigor as causas das nossasderrotas, as lições das eleições de Março de 2002e traçar as linhas mestras do nosso trabalho naoposição.

4. Há dois anos, alertámos os portugueses parao que seriam as consequências da acçãogovernativa da direita coligada. O que entãoprevimos veio a acontecer.Avisámos que as políticas do Governo PSD/CDSestavam a transformar o que era então uma crise

financeira numa gravíssima crise económicae social, de contornos dramáticos para as famíliasportuguesas e cuja duração e intensidade eramimprevisíveis. Em primeiro lugar, porque com o“discurso da tanga” o Governo promoveu umaquebra de expectativas e de confiança nos agenteseconómicos que lançou a economia numarecessão de duração inédita desde que há sériesestatísticas em Portugal. Em segundo lugar,porque levou a cabo uma política fiscal pró-cíclica, em lugar de utilizar os instrumentos aodispor do Estado para contrariar esse mesmo ciclo.Com a política levada a cabo o Governo conseguiunão só não resolver nenhum dos problemasfinanceiros que se propôs como, pelo caminho,deu ainda um rude golpe na economiaO desinvestimento e o abandono daeducação, da qualificação e da ciênciacomo áreas prioritárias da acção gover-nativa, ocorrido ao longo destes anos, são nãosó a prova da visão míope que a actual maioriatem do futuro do país, como também um aspectodistintivo do que foi a prática governativa do PSno passado e deve ser no futuro. Apostar nestesfactores, é, simultaneamente, a garantia de queteremos uma economia competitiva no futuro ede que cada um dos portugueses estará sempremais capacitado para um exercício maisaprofundado da cidadania. Além de que o que setem passado, ao longo de mais de dois anos,nestas áreas, fará recuar o país para uma situaçãoque, nomeadamente quando comparada com osnovos estados-membros da União Europeia,envergonha Portugal.Por outro lado, a forma como a actual coligaçãoadoptou uma atitude seguidista face àguerra do Iraque, que sempre considerá-mos ilegítima, significou uma ruptura profundacom a importante prática portuguesa de consensoentre os dois maiores partidos em torno de políticaexterna. Este facto representa uma nova etapa nosequilíbrios inter-partidários no espaço políticoportuguês. Equilíbrios que, depois de trinta anosde democracia, foram dramaticamente abalados.Com a guerra no Iraque não foi apenas uma respostade sinal errado que foi dada face ao principalinimigo que as nossas sociedades enfrentam – oterrorismo – foi também um consenso existentena política portuguesa em torno da políticainternacional que foi quebrado. Afirmamo-lo hádois anos e repetimo-lo, ainda com maiorveemência agora: “como foi sublinhado pelosataques terroristas de 11 de Setembro nos EUA, aconstrução de um espaço de liberdade, segurançae justiça tem uma importância estratégica. Só aUnião Europeia está em condições de se afirmardecisivamente como pólo bloqueador detendências hegemonistas e de construção de ummodelo mais equilibrado de poderes a todos osníveis à escala global.” Dois anos depois parece-me claro que a maioria de direita não contribuiude todo para alcançarmos este objectivo.Chamámos a atenção que, quer por força dodesastre da política económica, quer emconsequência da contra-reforma social, jáentão em marcha, a vida das famílias portuguesaspioraria drasticamente. Três anos decongelamento de salários, de perda depoder de compra, de ataque sistemáticoaos mais fracos – das alterações aos subsídiosde doença e de desemprego, passando pelorendimento mínimo e terminando em algunspontos do Código de Trabalho –, estão aí paraconfirmar o nosso diagnóstico. Mas, o elementomais dramático da irresponsabilidade social desteGoverno é, sem dúvida, o aumento brutal dodesemprego, que atinge hoje perto de meiomilhão de portugueses, sem que se tenhavislumbrado um gesto no sentido de fazer face aesse autêntico flagelo social.No entanto, não menos grave do que a profundarecessão em que o Governo nos mergulhou, é aprópria degradação do sistema político a quetemos assistido nos dois últimos anos. Vários

factores a isso têm levado.Antes de mais, o facto da actual coligação terassentado numa plataforma eleitoral baseada empromessas irrealistas que, uma vez no poder, logoesqueceu. É que há poucas coisas tãoresponsáveis pelo aumento do descrédito da classepolítica e pela deslegitimição do próprio sistemacomo prometer aquilo que já se sabe não se podecumprir e fazê-lo apenas com propósitoseleitoralistas. E às promessas não cumpridas épreciso juntar o processo de transformaçãodo sistema português numa democracia decasos, que só tem servido para lançar umasuspeição generalizada sobre as instituições e ospolíticos, não permitindo apurar com rigorresponsabilidades, em cada situação.Neste contexto, a postura assumida, desde oprimeiro momento, pelo governo da direita de fazeroposição à oposição, gerou uma troca depapéis institucionais que mina também acredibilidade do sistema. Aos governoscompete governar e não iludir a sua acçãogovernativa com ataques sistemáticos àoposição e ao governo anterior. Mais de doisanos depois, é claro que esta é uma dascaracterísticas identitárias da coligação PSD/PP.

5. Mas a batalha pela credibilização do sistemademocrático implica que se avance de formadeterminada também do lado da reforma dasinstituições e do sistema político. Foi,precisamente, por considerar esta dimensãofundamental para a vida pública portuguesa, queo Partido Socialista liderou um processo tendenteà introdução de uma série de reformas no sistemapolítico. No entanto, a pedra basilar dessa reforma,a alteração do sistema de financiamentopartidário para um modelo de financia-mento fundamentalmente público, pelo qualme bati, apesar de um acordo estabelecido com oentão líder do PSD, Dr. Durão Barroso, que não foipor este cumprido, foi adiada para Janeiro de2005, protelando a entrada em vigor de um alicercefundamental para a melhoria da vida democráticaportuguesa. Aliás, a vontade de reforma dosistema político que o PS preconizou foiobstaculizada pela inércia e pela recusaactiva da maioria PSD/PP, com consequênciasgravosas para o futuro da democracia portuguesa.Os impasses nas leis eleitorais para a Assembleiada República e para as autarquias aí estão para odemonstrar.Na verdade, este foi apenas mais um caso em queapresentámos alternativas políticas e querevelámos, inclusivamente, disponibilidade paraalcançar consensos em áreas fundamentais paraa sociedade portuguesa e que dessem, comodefendemos na moção, “um sinal de mobilizaçãopara responder a difíceis exigências conjunturaise estruturais”. No entanto, em todos os momentos,o governo optou por uma política de confrontosistemático, preferindo ser oposição à oposiçãodo que, como lhe competia, governar o país.Em cerca de dois anos, primeiro sob a liderançade António Costa e depois sob a de António JoséSeguro, o Grupo Parlamentar do PS na Assembleiada República desempenhou um papel fundamentalneste combate. Em todos os momentos, osparlamentares do PS revelaram grande comba-tividade face à ofensiva de que todo o partido foialvo. Mas, o PS soube também apresentaralternativas e propostas, ainda que tenhamenfrentado o chumbo e a recusa absoluta do PSDe do PP. Nos temas fundamentais das finançaspúblicas, da economia, do trabalho e das áreassociais, da ciência e da tecnologia, da defesa doambiente, o PS apresentou propostas que foramrecusadas, praticamente sem discussão, atravésdo rolo compressor da maioria de direita naAssembleia da República.Em Maio de 2003, apenas seis meses depois doúltimo Congresso, o PS e o seu Secretário-Geralviram-se confrontados com um situaçãogravíssima. Uma situação limite, que me deixou

não apenas perplexo, mas, também, revoltado. Onosso camarada Paulo Pedroso foi preso. Osmiseráveis ataques caluniosos que também meatingiram têm já resposta nos tribunais, masexigiram, durante um longo período, a nãocedência a quem quer que fosse queprocurasse atingir o PS. Ao não ceder perantea patifaria e a campanha de ataque pessoal quedefrontei, considero ter contribuído não apenaspara a defesa do PS, mas, também, para asalvaguarda do regime democrático departidos, que não pode ficar à mercê de ataquesde bandidos, venham eles de onde vierem.O balanço do que se passou, com as consequen-tes ilações, terá de ser feito no momento adequado.Com todo o rigor, com toda a exigência. Quantoao “Processo Casa Pia”, é fundamental que asverdadeiras vítimas sejam ressarcidas eos verdadeiros criminosos severamentepunidos. Mas é também absolutamentenecessário que os caluniadores sejamcastigados e que os responsáveis, com doloou por incompetência, pela promoção edifusão das calúnias, não fiquem impunes.

6. Partindo de uma análise fundamentada sobrea situação política do país e sua previsívelevolução, o PS fez do XIII congresso um momentode modernização ideológica e organizativa. Hásempre quem desconfie dos processos demudança. É normal que isso aconteça. Mas,considerei fundamental contrariar esta tentaçãoconservadora. Seria muito fácil não fazer nadainternamente, esquecer que a sociedade haviamudado, que haviam emergido novos valores emovimentos. Poderíamos esperar que a coligaçãode direita caísse por si, numa lógica rotativista depoder pelo poder. Esse era um caminho possível.Mas nunca foi o meu caminho.Nesse sentido, assumi há dois anos que «O PSprecisava de mudar no plano interno porque ospartidos são um esteio fundamental da demo-cracia: um cenário político de enfraquecimentodos partidos, da sua credibilidade e da suainfluência, cria as condições para o fortalecimentodo discurso demagógico e populista». Assumi eprocurei cumprir. Foi com empenhamento quecoloquei o PS na vanguarda da reforma dos parti-dos. Hoje, mais do que nunca, sabemos que opopulismo mina a qualidade da demo-cracia e que a reforma do sistema políticocomeça pela democratização dos partidos.O PS tem hoje os estatutos mais democrá-ticos da vida política portuguesa e umadeclaração de princípios adaptada ao século XXI.Está, pois, mais forte para enfrentar os desafios eas ameaças dos novos tempos.Este processo de modernização começou, emrigor, antes do último congresso, com a refili-ação. Foi um importante processo de clarificaçãodas nossas estruturas e de reafirmação damilitância de todos os socialistas portugueses.Agora sabemos quantos somos e o que queremos.Por outro lado, com a introdução do novo regimede quotizações, a militância e os actos eleitoraispassaram a assentar na verdade. Julgo aliás queas resistências de que foi alvo a introdução donovo regime de quotas são, também, sintomáticasda importância desta profunda mudança para ofuncionamento interno do Partido. Passámos tam-bém a ter no Acção Socialista um útil instrumentode debate e de informação internos, que não sótodos os militantes passaram a receber, mas,simultaneamente, no qual todos os militantespassaram a poder expressar as suas opiniões.Julgo que, hoje como nunca, o PS funciona commais verdade e mais transparência. O processoeleitoral conducente a este congresso foi, aliás,um exemplo de que nos podemos orgulhar e quemarca uma diferença assinalável em relação aosrestantes partidos portugueses. Do debate travado,entre os três candidatos, os camaradas JoséSócrates, Manuel Alegre e João Soares, aoprocesso eleitoral em si – conduzido com

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FERRO RODRIGUES, AO XIV CONGRESSO DO PSgrande serenidade e rigor pelo camarada JoséAntónio Vieira da Silva, num quadro em que, umavez mais, o Presidente Almeida Santos, mostrouser um grande Presidente do PS – demos umexemplo a todo o país de transparência, depluralismo e de democracia.Mas o trabalho realizado foi apenas um primeiropasso, de muitos que se devem seguir. Tenho paramim que os partidos não existem para se servir asi, mas sim para servirem as sociedades em queactuam. Nesse sentido, sempre que necessário,devem reformar o seu modo de organização efuncionamento, aumentando a sua democraciainterna e abrindo-se aos contributos daqueles quepodem ajudá-los a aproximarem-se dos anseiosdos cidadãos. É que sempre que o PS se abriu, oPS ganhou.Os Estados Gerais para uma Nova Maioria foramuma experiência de sucesso que mobilizou ossectores mais qualificados e dinâmicos dasociedade portuguesa. O problema é que depoisdas eleições de 1995, o PS foi-se fechandoprogressivamente. Criou-se uma espécie deseparação artificial entre um partido de militantese um partido paralelo de independentes. Era urgenteintegrar o espírito dos Estados Gerais no interiordo próprio PS. Penso que a revisão dos estatutosconstituiu um passo importante para essa novaabertura. Para que o diálogo com a sociedade civilse fizesse de forma institucionalizada e permanente.Mas, também, é verdade que deveríamos terido muito mais longe neste domínio. Peseembora o trabalho que foi feito, designadamenteem articulação com o Gabinete de Estudos, narealização de um número significativo de Fórunspara as Novas Políticas.Todos sabemos da importância política dotrabalho diário das secções de residência e dasestruturas federativas do partido. Mas as secções,as concelhias, as federações, não podiam esgotaras instâncias de participação política no PS. Daía importância de prevermos nos nossos estatutosas novas formas de intervenção. Não podemosdeixar de ouvir também aqueles que, pelo seuperfil, se sentem mais à vontade nestes novosmodelos de cidadania política. Foi por isso quecriámos os Fóruns Socialistas, que dinamizámoso gabinete de estudos e que promovemos váriasiniciativas no âmbito do grupo parlamentar. Foi,também em nome dessa convicção, queconsagrámos nos estatutos os clubes de política,as secções de duração limitada e as cibersecções.Há que reconhecer que nos dois últimos casosaté agora com resultados fraquíssimos.Há dois anos, apostámos que «O PS tem muito aganhar se der expressão estatutária à figura dosclubes de política». Foi uma aposta ganha.Aproveitando experiências que já se disseminavamde forma informal entre socialistas, em poucotempo, nasceram em vários pontos do país fórunsde reflexão política que juntaram militantes eindependentes no sentido de contribuírem maiseficazmente para uma nova governação socialista.Mas, hoje, há que insistir que os Clubes dePolítica não devem, do meu ponto de vista, sertransformados em organizações detendência, quando não era esse, de modo algum,o seu objectivo. Só há um Partido Socialista,não podemos ser nós socialistas a promover adissenção interna.Muito se falou e também alguma coisa deimportante se fez em matéria de renovação no PS.Todos reconhecíamos que o surgimento de novosprotagonistas tem sido prejudicado pelas lógicasde exclusão que as organizações têm tendência adesenvolver. O círculo vicioso tinha que começara ser rompido, sem dramatismos mas comdeterminação. Foi o que começámos a fazer noPS, com a eleição dos novos órgãos, e com aintrodução de limites aos mandatos de algunsórgãos executivos e de incompatibilidades deacumulação simultânea de cargos executivosao nível dos estatutos. As reformas institucionaispodem não mudar tudo de um dia para o outro,

mas estou certo que potenciam a mudança. Masestou convicto que o essencial da renovação nãopassa, sobretudo, pela mudança de protagonistas,mas, sim, pela capacidade de mudar as práticasdos partidos.Foi nesse sentido que apostámos em diversasdimensões. Antes de mais, algo que considerofundamental. Os órgãos do partido passaram afuncionar regularmente e de acordo com oestatutariamente definido. Passámos todos a saberquem decidia e em que moldes a decisão era tomada.Este é para mim um elemento fundamental darevalorização da actividade partidária. Não apenas oSecretariado, que passou a ser mais pequeno ecom funções executivas, reuniu semanal-mente, como a Comissão Política Nacional fê-lo cada três semanas, tendo a ComissãoNacional também reunido de acordo com oprevisto estatutariamente. Ainda assim, importareconhecer que, nomeadamente, a iniciativa“Secretariado Aberto”, que se realizou emalgumas federações, deveria ter sido levadamais longe e coberto a totalidade do país.Neste contexto, não posso deixar de sublinhartambém o novo papel assumido quer pelo De-partamento das Mulheres Socialistas, querpela Tendência Sindical Socialista. Nãoapenas porque assentou numa valorizaçãopolítica de duas áreas chaves para umapolítica moderna (a igualdade de género eo mundo do trabalho), como estas estruturas,tendo órgãos eleitos, passaram a ter uma forçarepresentativa que até então não pos-suíam. Desse ponto de vista, o facto da Presi-dente das Mulheres Socialistas ser eleitapor voto directo e o facto de quer os socia-listas da UGT, quer os da CGTP-in passarema integrar, em igualdade de circunstâncias, adirecção da Tendência Sindical Socialistatraduzem-se em legitimidades acrescidaspara ambas as organizações.Ainda neste contexto, o relacionamento com aJuventude Socialista, bem como com o PS Açorese com o PS Madeira, decorreram sempre dentrode um quadro de grande diálogo e aprofundadacolaboração. O processo conducente à revisãoconstitucional, que acarretou importantesconquistas para o aprofundamento das autonomiasfoi, aliás, um exemplo paradigmático dissomesmo, no que toca ao PS Açores e Madeira.É evidente que a democraticidade interna dospartidos enfrenta problemas muito relevantes eseria um erro tentar ocultá-los. Mas os apare-lhos organizativos são constituídos porpessoas eleitas e cujo poder assenta na legiti-midade do voto dos seus pares, os militantes.Importa recordar, por exemplo, que nas eleiçõespara as federações, alguns dos actuais presidentesforam eleitos concorrendo contra presidentes entãoem exercício, no que é também um sinal dapossibilidade de alternância interna.Mas, também do ponto de vista da militância,somos hoje um partido renovado. Uma larga fatiados nossos militantes aderiu ao PS nos últimosdez anos. Aliás, na sequência das eleiçõeslegislativas, e quando lancei um apelo para quenovos militantes aderissem ao PS, passámos acontar com largos milhares de novosmilitantes, o que representa uma garantia para ofuturo e um sinal de confiança no PS.

7. Há dois anos, na moção da qual fui o primeirosubscritor, o PS afirmava-se, simultaneamente,como grande partido de governo e comogrande partido de causas. Depois de umgrande debate, hoje afirmamos as causas para umagovernação socialista no início do século XXI.Avaliando as experiências dos governos decentro-esquerda, e percebendo o que mudou emPortugal, na Europa e no mundo, actualizámosuma declaração de princípios que era, recorde-se, anterior à queda do muro de Berlim. Comosempre dissemos, não havia que ter receio emmudar. Ao longo do século XX foi sempre esta a

tradição do socialismo democrático e da social-democracia: encontrar novas políticas para novosproblemas, na fidelidade aos valores da liberdade,igualdade e solidariedade. Como dissemos hádois anos, «temos de estar à altura da rapidez e daprofundidade das transformações do mundo».Penso que estivemos.Foi para honrar esta herança histórica e para enfrentaros desafios do futuro que adaptámos a nossadeclaração de princípios à integração europeia dePortugal, à nossa experiência de governo e aomundo pós-guerra fria. A ideia de uma globalizaçãomundialmente regulada, a revalorização radical dademocracia, a regulação da economia de mercado,a defesa dos serviços públicos, a preservação doambiente, a aposta em sociedades cosmopolitas –são causas que constam agora da nossa declaraçãode princípios. Não temos hoje problemas deidentidade programática. Ao longo de dois anos,estas causas enformaram o nosso discurso eorientaram, com sucesso, a nossa estratégia emvárias batalhas políticas e eleitorais.As eleições europeias são um exemplo dissomesmo. Assumi totalmente o ónus da feiturada lista, com a inerente responsabilidade deinclusões e exclusões, e defini uma fasquiaalta – a vitória contra a direita coligada. Foi umavitória histórica e que ultrapassou todas as ex-pectativas. Uma vitória que contou decisivamentecom a determinação e a inteligência do Prof.Sousa Franco – a quem mais uma vez prestosentida homenagem – e de todos os candidatos.Nunca o Partido Socialista havia alcançadoum resultado tão expressivo e, simultanea-mente, nunca a nossa diferença para osdois partidos da direita havia sido tãopronunciada. Demos um sinal decisivo de quesozinhos podemos vencer a direita coligada. Eesta é uma conclusão muito importante. Foi aprimeira vez que o PS venceu a direita uni-da. Estou convicto que não será a última. Éa partir desta autonomia, da capacidadede sozinhos vencermos a direita quepodemos construir uma alternativa quedevolva a esperança aos portugueses. Éesse principal dos trabalhos que agora se iniciam.

8. No dia 9 de Julho, apresentei ao Presidente doPS a minha demissão de Secretário-Geral. A situaçãopolítica alterou-se substancialmente nas poucassemanas que decorreram desde as eleiçõeseuropeias, em que, sem margem para dúvidas, osdois factos relevantes foram a enorme vitória do PSe a intenção firme, por mim explicitada, de sercandidato a Secretário-Geral no Congresso, já entãoprevisto para o último trimestre de 2004. Comoentão tive ocasião de explicar, havia que retirarconsequências da derrota política que o PS tevecom a não dissolução do Parlamento e a nãorealização de eleições antecipadas. A esmagadoramaioria do PS pronunciou-se, na sequência doimprevisível abandono do Primeiro-Ministro comquem eu havia disputado directamente eleições em2002, pela necessidade democrática de devolver apalavra aos eleitores. Para a esmagadora maioriados socialistas, o país, perante a grave situaçãoeconómica e social, as enormes dificuldades nasfinanças públicas e a desmotivação existente emáreas estratégicas para o desenvolvimento dePortugal, precisava de uma solução de médio prazopara a crise política. Uma solução como aquelaque foi escolhida, de formação de um governoprovisório, de dois anos, período em que seefectuarão todos os actos eleitorais, com excepçãodas europeias, é, como aliás, estes pouco mais dedois meses têm cabalmente provado, nefasta paraPortugal. Além do mais, a conjugação de doisfactores – a demissão do então Primeiro-Ministro,por sua exclusiva opção, vontade e responsa-bilidade, e a derrocada da direita que se tinhaverificado nas eleições europeias, em que pela,primeira vez, a não pré-anunciada coligação dedireita tinha sido avaliada nas urnas – tornavam adevolução da palavra ao eleitorado, a única

solução compreensível, transparente e delegitimidade democrática indiscutível. Por fim, nonosso sistema constitucional, semi-presiden-cialista, o voto directo para eleições presidenciais,em lugar da eleição do Presidente da Repúblicapelo Parlamento, deveria significar autonomiapolítica e responsabilidade constitucional daquele,exactamente para ser exercida aquando de crisescomo aquela que vivemos, sem qualquercondicionamento, nem mesmo o de uma maioriaparlamentar.A decisão do Senhor Presidente da Repúblicaatingiu todo o PS e em especial quem o dirigiae tinha expectativas que considerava fundadas deque iria haver eleições. Aliás, resulta hoje nítidoque, caso o Senhor Presidente tivesse convocadoeleições, estaríamos neste preciso momento à beiradelas e a possibilidade de uma maioriaabsoluta para o PS seria muito forte.Portanto, a divergência entre por um lado o PS e oseu Secretário-Geral e, por outro, o SenhorPresidente da República, não foi centrada emquestões que se pudessem considerar secundárias,embora importantes. Foi uma divergência emquestões essenciais de regime, de governo,de papel de um Presidente da República,eleito directamente pelos cidadãos e nãopelo Parlamento. Foi o PS e a afirmação dassuas posições e alternativas, bem como a minhaliderança que ficaram em causa. Para que fossepossível uma nova página com um relacionamentoinstitucional positivo com o Senhor Presidenteda República, importava ao PS ter umaliderança nova. Como é óbvio, o meu pedidode demissão foi uma decisão amadurecida,racional e política, para além de umimperativo de consciência e não umaatitude precipitada, emocionada oupessoal. Foi uma decisão exclusivamenteindividual e sem qualquer pré-aviso. Quem meconhece sabe que nunca condicionaria comargumentos pessoais o Senhor Presidente daRepública. Foi sem dúvida, no entanto, umadecisão dolorosa, porque não pude assim cumprirtodos os compromissos assumidos no anteriorcongresso e na sequência das eleições europeias.Mas passados estes quase três meses, consideroque foi a decisão correcta, a melhor para o PS.É verdade, contudo, que a minha decisão mudou ocontexto e as características deste congresso.Havíamos, aquando do último conclave, decididoque era agora a altura de apresentarmos as basesprogramáticas para a nossa alternativa. Naturalmenteque a mudança de circunstâncias impediu-o. Mas,julgo que, se soubermos unir-nos no respeitopelas nossas salutares divergências, temoscondições de, nos próximos dois anos,construir uma alternativa programática,que volte a dar esperança aos portugueses.Os novos órgãos eleitos, e em particular onovo Secretário-Geral, o camarada JoséSócrates, devem esperar, nos próximos anos,de todos os socialistas solidariedade eparticipação. O que está em causa é construirum Portugal mais próximo dos nossossonhos e o PS tem de ser um actor à altura dessedesafio.Estou convicto que os militantes do PS nãodeixarão de estar mobilizados, sem preconceitosde “vencidos ou vencedores”, para a participaçãoexigente, mas activa e plural em redor do novoSecretário-Geral, que foi apoiado de forma muitoexpressiva em eleições directas.Estou convicto de que, como sempre, o PS saberáresponder às enormes expectativas e esperançasdos portugueses e das portuguesas, ganhandoeleições, exercendo depois o poder como grandepartido de causas e de acções, visando atransformação de Portugal num país em que cadapessoa seja um cidadão.

30 de Setembro de 2004.

Eduardo Ferro Rodrigues

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EDUCAÇÃO

TRISTE ESPECTÁCULODE INCOMPETÊNCIA

TRABALHO

GOVERNO BLOQUEIA CONTRATAÇÃO COLECTIVAE FECHA OS OLHOS A DESPEDIMENTOS ILEGAIS

TV MARCELO,TELE SANTANA

Santana Lopes anunciou para hoje,segunda-feira, uma comunicação soleneao país, presume-se que sobre o casoMarcelo, a pretexto da qual “canceloutoda a sua agenda”. Independentementedo que venha a acontecer, há já factosque são incontornáveis.O primeiro, e talvez o mais estruturante,é o de que a democracia portuguesacontinua a revelar sinais preocupantesde fragilidade e de insuficienteconsolidação nas práticas e discursosdos principais protagonistas. O pro-blema é que se isto já era (re)conhecido,e crónico, em fenómenos locais eregionais dificilmente classificáveiscomo o dr. Alberto João Jardim, ou como o presidente de câmara que deixaa dita para entrar num “reality show” da TVI , bem como na prática reiteradade Portas e dos seus apaniguados da direita da direita portuguesa, descobre-se agora que o próprio partido mais forte do Governo, começando peloprimeiro-ministro e por ministros da sua máxima confiança, não está imunea tiques populistas e autoritários que se julgavam impensáveis num partidodemocrático.O PSD, aparentemente, deu há uns dias conta que o professor Marcelo tinhaum tempo de antena pessoal, sem qualquer tipo de contraditório e de limiterazoável, seja nos tempos, seja nos conteúdos. Notável. Que se saiba, os“comentários” do professor existiam há anos naquele mesmo formato,naquele mesmo canal. Mas enquanto houve um ex-presidente do PSD afazer campanha contra o Governo do PS, ou a aparar golpes ao Governo dacoligação de direita, mandando no máximo umas farpas ao amigo Portas, aquestão, denunciada tantas e tantas vezes, não mereceu qualquer reparo. Jáquando o ex-presidente do PSD decide usar, como fez muitas outras vezesem sentido inverso, o seu tempo de antena contra o actual líder do PSD, acoisa mudou – e radicalmente – de figura.Como é evidente, é vergonhoso que isto tenha sido possível que um ex-presidente do PSD, político no activo e com ambições pessoaisindisfarçáveis, tenha tido a possibilidade de ter durante anos um palcoindisputado sem que houvesse ou contraditório no próprio formato ou que,mínimo dos mínimos, a mesma possibilidade fosse dada a outras forçaspolíticas. Mas o que move o PSD não é a defesa da pluralidade, da igualdadee da democracia; o que preocupou o Governo foi agir no sentido de silenciar,e depressa, alguém que de repente se transformara num potencial incómodo.Como é óbvio, no meio disto tudo, o que importa não são as palavras maisou menos infelizes de Gomes da Silva. O que importa é que, melhor ou piorformuladas, elas exprimem uma posição política de fundo partilhada peloGoverno e pelo PSD e uma atitude face à crítica, à dissensão, e à própriademocracia.O silêncio, durante dias, do primeiro-ministro, a que se seguiráprovavelmente uma tentativa de vitimização, é bem elucidativo a este respeito.E o que vem a público sobre as pressões exercidas envolvendo negóciosimportantes para a Media Capital diz-nos tudo sobre o tipo de gente comque lidamos. Esqueçamos, pois, Gomes da Silva, mero peão de algo maior:um combate pela qualidade da democracia em Portugal, que cabe a todosnós travar. E um combate pelo poder, verdadeiro duelo entre um jogador dexadrez, Marcelo, e um jogador de póquer, Santana.Marcelo joga no longo prazo, com estratégia e paciência, e percebeu bemque sacrificar agora uma peça importante (o “comentário” na TVI), queainda por cima estava já seriamente ameaçada, era a melhor maneira demaximizar os estragos que poderia causar no adversário. Sendo que aindapor cima continuará seguramente a “comentar”, noutro sítio qualquer.Já Santana joga sempre nas paradas altas, é um mestre do “bluff”, do riscoe do curto prazo e não tem medo nenhum de arriscar tudo. Não olha a meiosporque sabe que o tempo joga contra si. A fuga para a frente é, sempre, oúnico caminho. Apoiante de Cavaco, demissão pouco antes do fim docavaquismo, disputa de congressos do PSD, Figueira da Foz (um sómandato), Lisboa (meio mandato), pré-candidatura a Presidente daRepública permanentemente alimentada, primeiro-ministro (meio mandatocaído do céu, se chegar ao fim). É um carrossel que não se sabe onde vaiacabar. Tudo em directo na televisão, e o país pode esperar.

www.paisrelativo.blogspot.com

MIGUEL CABRITA

O que move o PSD não é a defesa dapluralidade, da igualdade e da democracia; oque preocupou o Governo foi agir no sentido desilenciar, e depressa, alguém que de repente setransformara num potencial incómodo

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A “queda drástica” do número de conven-ções colectivas publicadas e de trabalha-dores por elas cobertos, desde a entrada emvigor do Código de Trabalho, motivou umrequerimento por parte de Artur Penedos,onde se questionam as medidas que oGoverno tenciona implementar para des-bloquear este tipo de contratação e evitarmais efeitos nefastos ao nível da negociação.A “gravidade sem precedentes” da actual“crise da contratação colectiva” precisa,segundo o deputado do PS, de umaresposta urgente do ministro dosAssuntos Económicos e do Trabalho.“Como avalia a tutela o facto de a entradaem vigor do Código do Trabalho estar aprivar a esmagadora maioria dostrabalhadores e das empresas portuguesas

de disporem de uma convenção colectivaactualizada”, inquiriu.Penedos alerta ainda para o facto do atrasona publicação dos regulamentos deextensão estar a agravar ainda mais estasituação, exigindo saber o que se fez ouestá a fazer para normalizar e acelerar oprocesso.O deputado socialista quer saber tambémse o Governo tenciona ou não propor aalteração do Código do Trabalho.Entretanto, Artur Penedo manifestou“profunda preocupação” pela situação dedespedimento colectivo dos trabalha-dores da Prosegur de Torres Novas,questionando a tutela, em novorequerimento, sobre o acompanhamentoque essa crise laboral está a ter, em

particular no que concerne às denúnciasfeitas pelo Sindicato dos Trabalhadoresdas Actividades Diversas (STAD).Para a STAD, os trabalhadores estão a serobjecto de um “despedimento colectivoilegal e inaceitável” que “resulta exclusi-vamente de um acto de retaliação por parteda empresa pelo facto destes teremrejeitado alteração aos respectivoshorários de trabalho.Assim, o parlamentar quer que o ministrodo Trabalho clarifique o que vai fazer casose confirmem as denúncias do sindicato,bem como as razões que justificam “a totalausência e desinteresse aparentesassumidos pela Inspecção-Geral doTrabalho no processo” dos trabalhadoresda Prosegur.

“Não é admissível que a vossa incompe-tência provoque retrocessos tão dramá-ticos na educação”, uma área de gover-nação tão vital para Portugal. Indignada,Ana Benavente declarou que a maioriade direita no poder tem demonstrado“total incapacidade” para “simples-mente assegurar o funcionamento dosistema no seu aspecto mais básico queé a abertura das aulas”.No debate parlamentar com a ministraMaria do Carmo Seabra, a coordenadorado GP/PS para as questões da Educaçãofez um balanço negro da actuação doGoverno neste sector, acusando-o deestar a dar ao País “um triste espectáculode incompetência”.“Voltámos à Idade da Pedra, a situaçõesque já não se viviam há 25 anos”,exclamou, exigindo da ministraesclarecimentos quanto à forma “comoo Executivo vai assumir a responsa-bilidade política por este processo queprejudicou e prejudica tantos milharesde pessoas e hipoteca a formação dosnossos jovens”.Depois de lembrar o desinvestimentofinanceiro e pedagógico, a falta deacompanhamento e de apoio às escolas,a ausência de regulamentação das leis eo ranking dos estabelecimentos deensino “mal preparados, mal feitos erapidamente retirados”, Ana Benaventeinsistiu no tema da desastrosa colocaçãodos professores, porque, assegurou, “oproblema ainda não está resolvido”. Namedida em que, segundo a parlamentarsocialista, a última lista que saiu, pelaterceira vez, para colocação de docentes,com três meses de atraso, “está cheia defalhas inaceitáveis”.“Os sindicatos, que têm feito umaanálise detalhada dessas situaçõesatravés dos seus serviços jurídicos, têmvindo a público esclarecer que não sãocentenas mas milhares os erros que estãopor corrigir”, corroborou, assegurando

de seguida que “o ano lectivo estáirremediavelmente comprometido”,porque este “não depende apenas dachegada dos professores às escolas, masde todo um trabalho de preparação quedesta vez não pôde ser feito”.Criticando directamente Carmo Seabrapor não ter ido ver, no terreno, comomuitas escolas ainda estão por abrir, oumesmo abertas funcionam deficitaria-mente, Ana Benavente questionou asrazões que levaram o ministério da 5 deOutubro a romper com os procedimentosque para efeito de colocação de profes-sores estavam instituídos e que, garantiu,“funcionavam com normalidade”.O modo como os erros vão ser corrigidose o calendário para a conclusão de todoo processo foram questões levantadasigualmente pela deputada socialista semobter da ministra, porém, soluçõesconcretas ou convincentes, ficando-seapenas no enunciado de lamentações eboas intenções.

Indemnizaçõespara professores

A parlamentar do PS frisou aindao dever do Ministério de Educaçãode compensar os docentes“lesados por este terrível caos”,perguntando à titular da pasta daEducação se vai assegurar, pormeios administrativos, a resposta“às legítimas expectativas destesprofessores”, ou se, “depois dapenoso processo dos concurso,estes terão ainda de “viver maisuma via-sacra nos tribunais”.Preocupada com a forma comoas escolas e os parceiroseducativos vão recuperar face à“desorganização gritante doMinistério”, manifestou-se adeputada Cristina Granada, paraquem a tutela “definitivamente nãodá conta do recado” e também

não consegue resolver “a grandeconfusão instalada nos serviços dopróprio ministério”.Já o parlamentar socialista LuísFagundes Duarte criticou Maria do CarmoSeabra pelo “vazio das intervenções”,prova da “ausência total de uma políticapara a Educação” e desafiou o Governonacional a seguir o exemplo dos Açoresque, “com menos meios e custos fez oque a tutela ainda não conseguiu fazercom sucesso”.“Falta cá uma coligação de compe-tência técnica e competência política”,concluiu.De destacar também que o PS, queentregou um projecto no Parlamentocom vista à criação de uma comissãoeventual para debater questõeseducativas até 2006, confrontou aindaCarmo Seabra com as problemáticas darevisão curricular, da educação sexualnas escolas e do sistema de avaliaçãodos estabelecimentos de ensino. M.R.

PARLAMENTO

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1312 OUTUBRO 2004 PARLAMENTO

ANTÓNIO JOSÉ SEGURO

LEGITIMIDADE DO GOVERNO É DUPLAMENTE FRÁGIL“O PS tem um líder eleito, o engenheiroJosé Sócrates, e o PSD tem um líderdesignado, o dr. Santana Lopes. O PStem um líder que foi a votos; o País temum primeiro-ministro em quem ninguémvotou”, afirmou ontem no plenário daAssembleia da República o líderparlamentar do PS, António José Seguro,numa intervenção em que apresentou asconclusões do XIV Congresso do PS.Para o líder parlamentar do PS, a campanhaque conduziu à eleição de José Sócratesconstituiu uma lufada de ar fresco nosistema partidário português, não só pelamaciça participação de socialistas noacto eleitoral, mas também por ter sidotravado um debate “livre e intenso”, semprecedentes na escolha de um secretário-geral.Ao contrário da legitimidade esclarece-dora do líder do PS e do rumo que sedelineou no Congresso, o Governo esco-lheu a via das ilusões. Prometeu baixar osimpostos e eles subiram; prometeuconvergência com a média da UniãoEuropeia e houve divergência; em vez deacabarem com as listas de espera,aumentou o número de portugueses quedesesperam por cuidados de saúde;prometeram baixar o IRC e não o fizeram;

em vez dos incentivos às poupanças, ogoverno atacou os benefícios fiscais queincentivam muitas famílias da classemédia, e a listas de promessas podiacontinuar. É por isso que, para AntónioJosé Seguro, o Governo ao não cumprir oque prometeu aos portugueses, tem “umalegitimidade duplamente frágil”.Em contraste com a situação que existeno nosso país em virtude do desnorte doGoverno, o PS surge com uma forçarenovada para preparar uma alternativapolítica que devolva a esperança aosportugueses e que surgirá em torno doanunciado fórum “Novas Fronteiras”.Para o líder parlamentar, esta alternativadeve recusar a cegueira da obsessãoorçamental e apostar na prioridade aocrescimento e ao emprego e apresentaroutro caminho para a nossa economia.Esta alternativa tem como ideia central aaposta num plano tecnológico que aposteno conhecimento, na ciência e naqualificação, que invista na inovação eno espírito empreendedor dosportugueses, na tecnologia, na infor-matização e na qualidade da nossaprodução”.António José Seguro afirma que o PSquer liderar uma alternativa para a

sociedade portuguesa assente numprograma de Governo claro que tenha emconta as necessidades imediatas dosportugueses e que prepare solidamente o

futuro das novas gerações. E é por issoque o PS “vai pedir aos portugueses umaoportunidade para governar e executar umprograma de governo em condições de

estabilidade. “O PS vai pedir aosportugueses uma maioria absoluta”,concluiu o líder parlamentar do PS.Já no período de pedidos de esclareci-mento feito pelos representantes dosoutros partidos com assento parlamentar,António José Seguro reafirmou, quantoàs alianças, que o PS quer vencer aseleições legislativas de 2006 e tercondições para implementar o seuprograma de Governo, cabendo aos outrospartidos mostrar disponibilidade paraconvergir nas propostas do PS.Contestou também que no Congresso doPS tivesse havido um clima de guerra-fria, antes pelo contrário houve, isso sim,um ambiente de verdadeira pluralidadeinterna, como está inscrito no códigogenético do partido.Aludiu também ao mais recente caso queagita a sociedade portuguesa, tendo ditoque uma coisa o PS nunca faria se fosseGoverno: silenciar um comentador detelevisão, só porque tem posiçõescontrárias às do Governo, referindo-seassim às pressões sobre Marcelo Rebelode Sousa para moderar as suas críticasno jornal de domingo da TVI, o que levouo professor a rescindir o contrato que tinhacom aquela estação de televisão.

LIDERANÇA DO GP/PS

SÓCRATES MANIFESTACONFIANÇA EM SEGURO

O novo secretário-geral do PS, José Sócrates, manifestou a sua confiançaem António José Seguro para continuar a liderar o Grupo Parlamentarsocialista.As declarações de Sócrates foram produzidas no passado dia 7, na partefinal da reunião semanal da bancada do PS e a sua intervenção destinou-sea transmitir a sua confiança em Seguro, que havia colocado o seu lugar àdisposição do novo líder.“António José Seguro tem feito um bom trabalho como presidente do GP/PS e confio nele e nos deputados socialistas para contribuírem para aafirmação do partido”, declarou Sócrates, que, interpelado pelos jornalistas,à saída da reunião, esclareceu também que os alinhamentos da fase de pré-congresso não relevam no processo de escolha das pessoas para os lugares.Neste sentido, frisou: “A partir de agora, dentro do partido, as escolhas nãoserão feitas com base em nenhum alinhamento interno”.“Isso acabou! Os princípios que nos orientarão serão os do mérito e daqualidade individual de cada militante”, reafirmou, para sublinhar de seguidaque as mudanças que forem operadas na direcção do grupo parlamentar“serão da competência de António José Seguro”.Durante a reunião com os deputados, Sócrates fez ainda uma breve análiseda situação política nacional, sustentando que a bancada socialista “tempela frente dois anos muito intensos até ao final da legislatura”.“Tenho esperança que o nosso adversário seja mais fraco nos próximosdois anos, disse, acrescentando depois: “Olhando com frieza para a realidadepolítica, verifica-se uma crescente descredibilização do Governo e do seulíder”.Em termos de curto prazo, José Sócrates defendeu que o “grupo parlamentardo PS terá de jogar ao ataque, de forma a não permitir que o Governo saiadas cordas”.No final do encontro, em declarações à Comunicação Social, AntónioJosé Seguro referiu sentir-se “honrado” com a confiança expressa porSócrates, adiantando que, durante o mês de Outubro, irá “finalizar umprocesso de reorganização do grupo parlamentar do PS”, incidindosobretudo nos lugares de coordenação política, admitindo igualmente queas mudanças possam estender-se a lugares na direcção da bancada.Seguro deixou claro que “nenhuma das posições individuais que foramtomadas por cada um dos deputados em relação ao congresso contará parao meu processo de reorganização”. Isso seria “intolerável”, declarou.

CASO MARCELO

EPISÓDIO INDIGNO DE UM PAÍS EUROPEUO PS quer ver esclarecidos todos oscontornos da saída do comentadorpolítico Marcelo Rebelo de Sousa daTVI. Por isso, o deputado socialistaArons de Carvalho propôs no passadodia 7 na Assembleia da República queos principais intervenientes neste caso,o ministro Gomes da Silva, o presidenteda Media Capital, Paes do Amaral, e oex-líder do PSD Marcelo Rebelo deSousa sejam ouvidos na Comissãoparlamentar de Assuntos Constitu-cionais, Direitos, Liberdades e Garantias.Na sua intervenção, o ex-secretário deEstado da Comunicação Social do PSafirmou que “este episódio, indigno deum país europeu”, não constitui “umainsólita excepção à regra”, já que parececlaro que o primeiro-ministro “optou poresconder as insuficiências da governaçãosob o tapete da propaganda”.Arons de Carvalho lembrou, a propósito,a “recente criação do Gabinete de Infor-mação e Comunicação” do Governo, oqual “será tutelado pelo mesmo membrodo Governo que tem a seu cargo a áreada comunicação social”, o que cons-titui “um excelente exemplo de como arealidade pode, por vezes, ultrapassar aspiores expectativas”.E acrescentou: “Dir-se-á que estaconjugação de tutelas não é inédita, masnão é nada tranquilizador saber que ela éhabitual nos regimes autoritários doTerceiro Mundo”.O deputado socialista referiu depois aescolha de Luís Delgado para liderar ogrupo de media da PT em substituiçãode Henrique Granadeiro como “um sinalda atenção do primeiro-ministro pelos

‘media’”, sublinhando que Luís Delgado,de quem não se conhece “assinalávelcurrículo como gestor”, tem-se notabili-zado pela “voluntariosa e pertinaz defesa”de Santana Lopes.E afirmou ignorar se esta escolha“decorre da influência estatutária que oGoverno mantém na PT, da vontade dosseus accionistas privados em agradar aoExecutivo ou de ambas”.Também a presença dos ex-ministros doPSD Silva Peneda e Deus Pinheiro naadministração da Lusomundo Media foiapontada por Arons de Carvalho comoexemplo da crescente “governa-mentalização da PT”, com conse-quências já visíveis “nos problemasinternos do foro editorial no ‘Diário deNotícias’”.Neste contexto, Arons de Carvalhoconsiderou que “importa avaliar a

razoabilidade de manter estes órgãos decomunicação social integrados nomaior operador de comunicações dopaís, onde o Estado possui essa influên-cia estatutária”Entretanto, no decorrer do debate, Aronsde Carvalho admitiu que o PS possaaceitar alterações limitativas daconcentração de meios de comunicaçãosocial, bem como a limitação dapossibilidade de interferência do podernos “media”.O ex-secretário de Estado da Comuni-cação Social reafirmou que o PS não écontra grupos de “media”, mas defendeuque foi atingido em Portugal “um pata-mar de concentração e de interferênciasdo poder político” que é “indesejável” eque pode e deve ser objecto deregulamentação.

J.C.C.B.

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14 12 OUTUBRO 2004INICIATIVA

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PAULO PEDROSO

IV CONFERÊNCIA DA TSS DA UGT

SÓCRATES DENUNCIA FALTA DEAUTORIDADE DO PRIMEIRO-MINISTRO

O Governo está completamente “desco-ordenado” porque “não há qualquerentendimento entre os ministros do PSDe do PP” e isto “explica-se pela falta deautoridade” de Pedro Santana Lopes.A crítica ao Executivo deixada por JoséSócrates na sua primeira intervençãoperante militantes após o Congresso doPS marcou a sessão de encerramento daIV Conferência da Tendência SindicalSocialista (TSS) da União Geral deTrabalhadores (UGT).Nesta ocasião, e depois de ter saudado areeleição com ampla maioria de JoãoProença como secretário-geral datendência, o líder socialista frisou que“a autoridade do primeiro-ministro sópoderia provir da legitimidade de ter sidoeleito pelos portugueses – o que nãoaconteceu –, ou de um dom especial de

capacidade para liderar equipas – coisade que (Santana) não tem dado provas”.“Este primeiro-ministro tem umproblema de legitimidade e, conse-quentemente, uma problema também deautoridade, o que provoca uma totaldescoordenação no seu Governo”, frisouainda Sócrates.A propósito do recente escândalo decensura de que foi alvo o comentadorpolítico Marcelo Rebelo de Sousa, osecretário-geral do PS acusou o Governode estar a dar “espectáculo de enormebalbúrdia política” e é revelador das“profundas clivagens existentes no PSD,partido que tenta desesperadamentedisfarçá-las”.Antes de José Sócrates, também osecretário-geral da UGT, João Proença,se referiu ao caso da saída de Rebelo

FEDERAÇÕES

Perante a situação de “deriva” do Ministério da Educação “comproporções escandalosas no desenvolvimento do ensino públicoportuguês”, o Secretariado da Federação do PS de Portalegreemitiu um comunicado onde se solidariza com os “milhares deprofessores que aguardam com angústia a sua colocação”, critica a“leveza” e o “desrespeito” da ministra da tutela e acusa o Governo deter fragilizado o ensino público na sua missão de garantir educaçãocom qualidade para todos

O PS/Algarve vai empenhar-se na recolha de assinaturas para umapetição pública que demonstre à saciedade o repúdio face à decisãodo Governo de introduzir portagens na Via do Infante.Para os socialistas algarvios, “esta medida, a concretizar-se, seráuma machadada profunda na economia regional”.Recordando que a Via Longitudinal do Algarve foi criada para resolverproblemas de estrangulamento de tráfego na EN 125, a federaçãodistrital algarvia do PS acusou Santana Lopes e a sua equipagovernativa lesarem a economia e o turismo regionais.

CONCELHIAS

O PS de Marco de Canaveses exigiu a demissão imediata dopresidente da câmara local, Avelino Ferreira Torres, afirmando que asua participação como concorrente num “reality show” televisivoestá a humilhar o concelho.Segundo o líder da Concelhia socialista, Luís Almeida, a participaçãodo autarca neste programa tem fins e interesses “meramente pessoais”,e destina-se a “retocar” a sua imagem.

O PS Abrantes apelou à criação de uma “frente conjunta” dos

BR

EV

ES autarcas e dirigentes partidários dos concelhos prejudicados pela

anunciada introdução de portagens nas Scut.Categoricamente contra a proposta de instituir portagens na A23, aconcelhia de Abrantes considera que essa decisão do Governo estáa “prejudicar a capacidade de atracção do interior” do país.

A Comissão Política Concelhia de Ourique do PS denunciou,em nota de Imprensa, a “descontinuidade” no Serviço deAtendimento Permanente do Centro de Saúde local, que segundoexplica, “tem causado sérios transtornos aos utentes”, pelo queexige a reposição da normalidade.Acresce ainda, que devido ao não funcionamento do SAP de Ourique,também o Serviço de Emergência Médica, auxiliado pela viatura deintervenção rápida, não dispõe de médico que lhe proporcione apoiopara a sua acção, tornando-o inoperacional.

O PS de Alcobaça quer que a requalificação de São Martinho doPorto seja alvo de uma consulta popular, porque, considera, háoutros “problemas mais básicos a resolver com urgência”.Acusando a autarquia local, de maioria PSD, de insistir em “obras deestética e de fachada”, o presidente da Concelhia, Daniel Adrião,lembrou que “a vila tem uma série de carências, como a falta de umcentro de saúde, a despoluição da praia, ainda não tem saneamentobásico completo, o parque de campismo é ilegal e o estacionamentonão é suficiente”.

GRUPO PARLAMENTAR

O presidente da bancada parlamentar socialista, AntónioJosé Seguro, recebeu, no passado dia 28 de Setembro, umadelegação da CGTP que lhe entregou um documento onde consta apolítica reivindicativa da central sindical e que chama a atenção para

“a necessidade de os trabalhadores recuperarem o poder de compraperdido nos últimos anos”.Seguro garantiu que o texto seria analisado, adiantando que tencionaagendar nova reunião com a CGTP após ter conhecimento da propostade Orçamento de Estado.

A direita evidencia uma total insensibilidade para os problemas doambiente e é “responsável pelo declínio do Dia Sem Carros”, que nopassado dia 22 de Setembro se cumpriu em 51 dos 308 municípiosportugueses.A denúncia partiu do deputado socialista Pedro Silva Pereira,para quem é “deplorável que o ministro do Ambiente permaneça emabsoluto silêncio sobre aquela que devia ser, como sucedeu nopassado, uma grande jornada de educação ambiental”.“Este silêncio é bem revelador da falta de empenho do Governo nestainiciativa europeia e da sua insensibilidade para os problemasambientais da circulação de automóveis nas cidades”, declarouSilva Pereira.

AUTARQUIAS

O PS venceu com maioria absoluta a eleições intercalares para aAssembleia de Freguesia de S. Vicente do Pigeiro (Évora), realizadasno passado dia 26 de Setembro.A lista socialista obteve 214 votos, contra 104 da candidatura daCDU, num universo de cerca de 380 eleitores.Nas eleições, em que apenas concorreram socialistas e a coligaçãoliderada pelos comunistas, foi eleito José Manuel Calado parapresidente da junta de freguesia.As eleições intercalares foram convocadas pelo governador civil deÉvora, na sequência da demissão dos membros eleitos dos órgãosautárquicos da freguesia.

Em Portugal, nesta fase, todos são peloServiço Nacional de Saúde com pilarespúblicos essenciais.Se escrevo “nesta fase” é porque com otempo tudo pode mudar e o caso doshospitais pode ilustrá-lo.Até certa altura, estes eram serviçospúblicos com gestão reconhecidamenteineficiente. Pensaram-se alternativas.Houve uma concessão, criou-se ummodelo dito empresarial dentro doserviço público, ensaiado, comomandam as regras, num número restrito,no caso de novos hospitais.Quanto à concessão, o único estudodisponível demonstra, pelo menos, quenão é mais eficiente que um hospital público equivalente.Quanto à experiência, esta foi abruptamente abortada e, sem ser avaliada, oPSD-PP criou os hospitais SA. Esclarecendo, evidentemente, que não tinhaintenção de os privatizar.Agora, o presidente da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), em entrevistaao “Diário Económico” (de 6 de Outubro), perguntado se os piores hospitaisSA deviam ser privatizados, vem dizer que “nesta fase o compromisso é quecontinuem a ser hospitais públicos”, mas na próxima legislatura o admitiria“só se a questão fosse submetida ao escrutínio popular”. Ou seja, noutrafase, começando pelos piores…Devagarinho, o que o senhor presidente da ERS fez foi abrir o debate sobrea privatização de hospitais. Como no velho adágio, quem numa parede põeuma porta, mais tarde ou mais cedo acabará por a querer abrir.

Devagarinho, o que o senhor presidente daERS fez foi abrir o debate sobre aprivatização de hospitais. Como no velhoadágio, quem numa parede põe uma porta,mais tarde ou mais cedo acabará por aquerer abrir.

de Sousa da TVI.“Estamos perante um ataque dos poderespolítico e económico à liberdade deexpressão. Penso que o Presidente daRepública deverá intervir, porque está emcausa um dos pilares fundamentais doEstado democrático”, sustentou odirigente sindical.Na sua intervenção do passado dia 8,Proença referiu que a acção dos governosde direita “está a ser dramática para ostrabalhadores portugueses”, tendo porisso apelado ao PS para dialogarconstrutivamente com a UGT, no sentidode reforçar um movimento sindicalpluralista e independente, mas“claramente disponível para lutar nadefesa dos direitos dos trabalhadores eao serviço de Portugal”.

MARY RODRIGUES

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1512 OUTUBRO 2004 INICIATIVA

Alberto CostaAlberto MartinsAlberto Souto

Ana Catarina MendesÂngela Pinto Correia

António BragaAntónio Campos

António MagalhãesAntónio Marques Júnior

António ReisAntónio VitorinoArmando Vara

Capoulas SantosCarlos Zorrinho

Castro FernandesCeleste Correia

Custódia FernandesEduardo CabritaEurídice Pereira

Fernanda AsseiceiraFrancisco AssisHelena RosetaIsabel Oneto

Isabel Sena LinoJaime Gama

Jamila MadeiraJoão Cravinho

Joaquim Pina MouraJoaquim Raposo

Jorge LacãoJosé Apolinário

José Augusto CarvalhoJosé Contente

José JunqueiroJosé Lamego

José Medeiros FerreiraJosé Miguel Medeiros

José MotaJosé Vera Jardim

Júlio Miranda CalhaLaurentino DiasLeonor Coutinho

Luís AmeixaManuel Alegre

Manuel Maria CarrilhoMaria Amélia Antunes

Maria Antónia Almeida SantosMaria Carrilho

Maria da Luz RosinhaMaria de Belém Roseira

Maria do Carmo SequeiraMaria Helena AndréMário de Almeida

Marta RebeloMesquita Machado

Miguel CoelhoMota AndradeOrlando GasparOsvaldo CastroRosa Albernaz

Rosalina MartinsRui Soalheiro

Sérgio Sousa PintoVictor BaptistaVitalino Canas

LISTA DE EFECTIVOS DACOMISSÃO POLÍTICA NACIONAL

SECRETARIADO NACIONALSecretários nacionais

AnaPaulaVitorino

AntónioCosta

CarlosLage

EditeEstrela

IdáliaMoniz

JorgeCoelho

JoséLello

LuísAmado

MarcosPerestrello

PedroSilvaPereira

VieiradaSilva

Secretários nacionais por inerência

Secretários nacionais adjuntos

AscensoSimões

FernandoSerrasqueiro

SóniaFertuzinhosDMPS

Pedro NunoSantosJS

JacintoSerrãoPS/Madeira

Carlos CésarPS/Açores

SECRETÁRIO-GERAL DESTACAUNIDADE INTERNA E APONTABATERIAS CONTRA O GOVERNO

ELEITOS NOVOS ÓRGÃOS DO PS

CONSELHO COORDENADORDO FÓRUM “NOVAS FRONTEIRAS”O grupo de militantes socialistas quetem por incumbência coordenar edinamizar o Fórum “Novas Fronteiras”,o novo espaço de debate e participação,foi anunciado durante a Comissão

Nacional. Jaime Gama, António Vitorino,Sérgio Sousa Pinto, Maria JoãoRodrigues e Augusto Santos Silva sãoos cinco camaradas que integram oConselho Coordenador.

Oportunamente o PS divulgará os nomesdos cinco independentes queconnosco irão trabalhar na procura denovas soluções e propostas para umfuturo Governo de Portugal.

A Comissão Nacional procedeu tambémà eleição dos restantes órgãos do partido(ver listas anexas).A lista única para a Comissão Política,elaborada com base nos resultadospercentuais do Congresso Nacional ecomposta por camaradas quesubscreveram as duas moções emconfronto, foi aprovada por 208 votosdos 250 efectivos da ComissãoNacional, tendo-se ainda registado 34votos brancos e oito nulos.No que respeita ao Secretariado

Nacional, num universo de 250 votantes,a lista apresentada por José Sócratesobteve 204 votos a favor, tendo-seregistado 35 votos brancos e 11 nulos.Por sua vez, a Mesa da Comissão Nacionalrecolheu 232 votos, tendo-se registado16 votos brancos e dois nulos. Integrameste órgão os camaradas Almeida Santos(presidente), Joaquim Barreto e AméliaAntunes (vice-presidentes) e Maria doCarmo Sequeira, José Leitão e NélsonCarvalho (secretários).Para director do “Acção Socialista” foi

reeleito Augusto Santos Silva, quetambém vai passar a dirigir a revista“Portugal Socialista”.Esta eleição foi igualmente aprovada pelagrande maioria dos dirigentes do PS,obtendo 220 votos favoráveis, 27brancos e três nulos no primeiro caso, e210 votos favoráveis, 31 brancos e novenulos no segundo caso.O camarada Fernando Valle foi eleitopresidente honorário do PS, numavotação em que recolheu 246 votosfavoráveis e quatro brancos.

A unidade do PS, “verdadeira e genuína”,porque construída na “diferença”, na“pluralidade” e nascida de um“confronto democrático”, foi realçadapor José Sócrates na sua intervenção naComissão Nacional, em que tambémdestacou a apresentação de uma listaúnica para a Comissão Política comooutro passo dessa mesma unidade.Passado que foi o confronto interno, oscombates viram-se agora para o exteriordo partido, e centram-se nos adversáriosque são o Governo e a maioriaparlamentar que o suporta.Relativamente ao Executivo, osecretário-geral do PS sublinhou a sua“falta de legitimidade”, que está patente,aliás, na sua “descoordenação” quederiva da “falta de autoridade” doprimeiro-ministro que iniciou um novoestilo “dizer uma coisa hoje para sedesdizer no dia seguinte”.No imediato, o combate político, apontouSócrates, tem de fazer-se pelademonstração do falhanço económicodestes dois anos e meio. Nesse sentido,o debate do Orçamento de Estado para2005 será o momento privilegiado paraconfrontar o Governo com as promessasnão cumpridas e as suas própriascontradições.Segundo o secretário-geral do PS, oactual Governo desviou-se da consoli-dação das contas públicas – que tinhasido o cavalo de batalha de Durão Barroso– com o claro objectivo de “gerir o cicloeleitoral”. Outra contradição económicaque Sócrates destacou refere-se ao factodo Governo de Durão Barroso ter definidocomo “vítima” o investimento público ea administração pública, enquanto agoracom Santana Lopes as “vítimas” vão seras classes médias, nomeadamente atravésdo ataque aos benefícios fiscais.

Neste quadro político, o PS define comoalvos prioritários na sua actuaçãoimediata a falta de legitimidade e o estiloleviano do primeiro-ministro, adescoordenação que grassa no Governoe o falhanço das políticas económicas.O líder dos socialistas disse ainda quepartirá para as próximas semanas com“optimismo, apesar das dificuldades”,porque, adiantou, “sinto os portuguesesa chamarem por nós e a quererem denovo o regresso do seu PS”.Entretanto, questionado pelos jornalistasà entrada para a reunião da ComissãoNacional, José Sócrates acusou oGoverno de ter agido para silenciarMarcelo Rebelo de Sousa e exigiu umpedido de desculpas ao país doprimeiro-ministro, Santana Lopes.

“Houve uma queixa do Governo que levouao silêncio de um comentador, umaacção do Governo para reprimir uma livrecrítica”, disse, acrescentando: “Não melembro de um episódio tão triste e queenvergonhe tanto a democracia”.

Moções sectoriais

Entretanto, por sugestão do presidentedo PS, Almeida Santos, acolhida pelagrande maioria da Comissão Nacional,foi eleita uma comissão presidida pelocamarada Vitalino Canas que ficouencarregue de fazer uma apreciaçãocrítica das moções sectoriaisapresentadas ao Congresso, as quaisserão posteriormente analisadas emfutura Comissão Nacional.

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16 12 OUTUBRO 2004EUROPA

EDITE ESTRELA

COMISSÃO QUESTIONADA SOBRE NÚMERODE FUNCIONÁRIOS PORTUGUESES NA UNIÃOA eurodeputada Edite Estrela pretende saberquantos funcionários portugueses estãoem desempenho de funções nos diferentesserviços das instituições comunitárias, deforma a averiguar se Portugal está ou não aser prejudicado no preenchimento doslugares.Numa pergunta dirigida à ComissãoEuropeia, Edite Estrela refere que com oalargamento da União a política de recruta-mento de funcionários sofreu algumas alte-rações, passando a privilegiar-se aadmissão de pessoas oriundas dos novos

Estados-membros.A pertinência desta questão prende-se como facto de haver muitas listas de reservaque estão a ser anuladas e de continuar averificar-se a contratação de agentes, emdetrimento dos candidatos que fizeram osseus testes, com tudo quanto isso implicade esforço e de expectativas agora inúteis.Além disso, os funcionários portuguesestêm estado, no passado, em númeroinferior ao das possibilidades de ocupaçãode lugares existentes.Assim, para se averiguar se o número de

funcionários portugueses é proporcionalà dimensão do país e não está a ser desfavo-recido em relação a outros Estados-membros, Edite Estrela pretende saber qualo número de funcionários e de agentes denacionalidade portuguesa em desempenhode funções nos vários sectores dasinstituições comunitárias.A eurodeputada pretende também seresclarecida sobre qual a explicação parahaver uma preferência por agentes emdetrimento de funcionários, cujas exigênciasa nível das competências são mais rigorosas.

EURODEPUTADOS INTERROGAM MEMBROS DESIGNADOS

ANTÓNIO COSTA PROPÕE CHUMBO DE COMISSÁRIOPARA JUSTIÇA E ASSUNTOS INTERNOSO presidente da delegação socialistaportuguesa e membro da Comissão dasLiberdades Cívicas, Justiça e AssuntosInternos do Parlamento Europeu, AntónioCosta, fez uma apreciação extremamentenegativa do comissário italiano RoccoButiglione, indicado para a Justiça eAssuntos Internos, tendo afirmado queirá propor ao Grupo Socialista que seja“chumbado”.Para justificar a sua posição, AntónioCosta referiu as posições polémicas avários títulos do comissário, que aindaé ministro dos Assuntos Europeus doGoverno de Berlusconi, sobretudo as queiam contra as orientações e as políticasda União Europeia no âmbito da Justiçae dos Assuntos Internos.Segundo o eurodeputado, o comissáriopara a Justiça e Assuntos Internos “nãopode ser um membro do Governo de

Berlusconi, que procurou travar a criaçãodo espaço de liberdade, segurança ejustiça”, disse, recordando as dificulda-des então colocadas à adopção de ummandado de captura europeu. Ocomissário foi também muito criticadopor ter proposto a criação de campospara deportação de refugiados e pelassuas posições radicalmente conserva-doras quanto à homossexualidade.Também os eurodeputados Edite Estrela,Jamila Madeira e Emanuel JardimFernandes questionaram alguns doscomissários indigitados. Edite Estrelaperante o comissário para os AssuntosSociais e Igualdade de Género, VladimirStidla, quis saber como irão serutilizados os Fundos Estruturais para apromoção da igualdade de oportuni-dades entre homens e mulheres.Jamila Madeira, por sua vez, confrontou

a comissária para a Política Regional,Danuta Hubner, com a necessidade deutilização de outros critérios de avaliaçãodo desenvolvimento das regiões da Uniãoque não apenas a da riqueza média,apontando os índices de desenvolvi-mento das Nações Unidas e daarticulação de referências como a riquezaproduzida, o conhecimento, a educação,a saúde e a qualidade de vida.Também o eurodeputado madeirenseEmanuel Jardim Fernandes quis saberque orientações a comissária DanutaHubner irá adoptar nas estratégias para odesenvolvimento das Regiões Ultrape-riféricas, se são ou não baseadas naconvergência, competitividade eacessibilidade, bem como no apoio àacção de compensação de sobrecustosdecorrentes dos condicionalismosespecíficos das ultraperiferias. P. P.

PAULO CASACA

PS ACUSA JARDIM DE USAR INDEVIDAMENTEFUNDOS COMUNITÁRIOS PARA FINS PARTIDÁRIOSO Governo Regional da Madeira está a usaros fundos comunitários para finspartidários, acusou o eurodeputado PauloCasaca, membro da Comissão do ControloOrçamental do Parlamento Europeu, duranteum encontro com deputados socialistaseuropeus onde se discutiu “O desafio dasRegiões Ultraperiféricas na União Europeia”,que se realizou no Funchal nos passadosdias 23 e 24 de Setembro e em queparticiparam representantes das Canárias ede Cabo Verde.Em virtude da utilização indevida dosfundos comunitários, o PS vai apresentarqueixa contra João Jardim, o presidentedo Governo Regional da Madeira, já queaquele tipo de comportamento, paraPaulo Casaca, “colide com os princípiosda boa gestão dos fundos comunitáriosque se destinam ao desenvolvimento

regional e não podem ser usados parafins partidários”.O processo que o Partido Socialistaenviará ao presidente da ComissãoEuropeia, com conhecimento à Comissãodo Controlo Orçamental do ParlamentoEuropeu, contém um conjunto dedocumentos que comprovam o motivoda queixa e ainda registos dasparticipações do presidente do GovernoRegional em actos oficiais em que osdeveres de neutralidade e imparcialidadesão violados e chocam com asrecomendações da Comissão Nacionalde Eleições.Nas conclusões do encontro refere-se queas regiões ultraperiféricas devem ter emconta a necessidade de promover umamaior cooperação e complementaridadecom os países de África, Caraíbas e

Pacífico no campo das trocas comerciais,do alargamento do mercado de cada umadelas, da formação e do turismo.Também o eurodeputado EmanuelJardim Fernandes, da Madeira revelouque os presentes no encontro decidiramreforçar a coordenação estratégica paraque possam beneficiar de forma eficazdos recursos comunitários, tal comoprevisto nos Tratados.O eurodeputado chamou também aatenção para a abertura já manifestadapela nova Comissão Europeia paramanter e reforçar os mecanismos deapoio às ultraperiferias, no âmbito dareforma das políticas de coesão e dosmecanismos específicos de compensa-ção àquelas regiões, que estão em claradesvantagem em relação aos territórioscontinentais.

JAMILA MADEIRA VICE-PRESIDENTE DA COMISSÃOEURO-MEDITERRÂNICA

A eurodeputada socialista Jamila Madeira foi eleita, por unanimidade, vice-presidente da Comissão Económica, Financeira, dos Assuntos Sociais eda Educação da Assembleia Parlamentar Euro-mediterrânica (APEM), órgãoque tem por missão dinamizar as relações entre a União Europeia e ospaíses da bacia mediterrânica.Este fórum de discussão e estreitamento de relações criado em 1998, soba forma de um Fórum Parlamentar Euro-mediterrânico, no seguimento doProcesso de Barcelona de 1995, foi criado com o objectivo de contribuirpara o estabelecimento de uma zona de paz e de estabilidade baseada norespeito pelos direitos fundamentais, incentivar uma zona de prosperidadecomum e melhorar o entendimento mútuo entre os povos da região.Em 2003, aquela Comissão tomou a forma de Assembleia Parlamentar, o queconstituiu um passo decisivo para a institucionalização e o reforço da dimensãoparlamentar da parceria com os países do mediterrâneo. A APEM adoptaresoluções e faz recomendações com vista ao reforço da parceria entre asduas regiões, procurando assegurar, muito particularmente, o acompanhamentoda aplicação dos acordos de associação euro-mediterrânicos.Entretanto, a eurodeputada anunciou que irá fazer as diligências necessáriaspara criar um intergrupo sobre Turismo no Parlamento Europeu. JamilaMadeira manifestou esta intenção durante um encontro promovido pelaAssociação dos Hotéis, Restaurante e Cafés da Europa, para assinalar o DiaMundial do Turismo.

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1712 OUTUBRO 2004 ARGUMENTOS

TAXAS MODERADORASE TAXAS FINANCIADORAS NA SAÚDE

ANTÓNIO CORREIADE CAMPOS

Portugal adoptou, há 25 anos, um sistema de saúde que serve a totalidade dapopulação, independentemente da sua profissão, residência, idade, sexo, raça,religião, o qual é quase exclusivamente financiado por impostos e é gratuito ouquase gratuito no ponto de encontro do utente com o sistema de saúde. A este tipode sistema chama-se Serviço Nacional de Saúde (SNS). O SNS está consagradona Constituição como universal, geral e tendencialmente gratuito. Além disso, aConstituição ordena que ele seja gerido de forma descentralizada e participada. OSNS, ao longo dos seus 25 anos de existência, foi o maior equalizador socialjamais criado em Portugal e tem uma história de enorme sucesso.Sem o SNS não teria havido centros de saúde em todos os concelhos, não haveriadinheiro para pagar os meios de diagnóstico convencionados, os medicamentoscomparticipados, nem hospitais distritais confortáveis e acessíveis, modernatecnologia, ambulâncias e urgências, hemodiálise gratuita em todo o País. Sem oSNS não teria havido carreiras, sem carreiras não haveria clínicos gerais nos distritose concelhos do interior, não teria havido especialistas e enfermeiros bem treinados.Sem o SNS a mortalidade infantil, a materna, a perinatal, a juvenil e a atribuível adoenças transmissíveis não teriamregredido tão rapidamente para valoresque nos inseriram na Europa, a esperançade vida não teria aumentado, tãodepressa, em mais seis anos, asassimetrias regionais não se teriamdiluído.Claro que tudo isto custou dinheiro enem sempre ele foi utilizado como devia.Os gastos públicos em saúde passaramde 3,6 para 6,4 por cento do PIB, entre1980 e 2000. O Ministério da Saúdesubiu de 10 mil funcionários, em 1968,para 115 mil em 2001. Ao crescer amáquina pública aumentou o poder dosseus actores internos: burocratas,prestadores, fornecedores, mediadorese comunicadores, deixando osutilizadores quase sem voz.Organizaram-se ordens, sindicatos deprofissionais, especialistas egeneralistas, associações defornecedores. Ao longo de 25 anos omodelo institucional permaneceuimutável, bem como o estatuto depessoal, o regime financeiro, de obras ede aquisições. Com recursoscrescentes, as ineficiências eramdisfarçadas.Quando se chega aos anos de restrição financeira, a primeira tentação de umgoverno que fez parar a economia é obrigar os doentes a pagar uma parte do quegastam. Chamam a isto o “utilizador-pagador”, como se os hospitais fossem auto-estradas com vias alternativas. Argumentam com uma pretensa justiça social: osmais ricos deveriam pagar mais que os menos ricos. Só que a forma de distinguiros doentes por classe de rendimento não é fácil, baseia-se apenas nas declaraçõesfiscais e estas estão muito longe da verdade. Todos sabemos que as profissõesliberais, as empresas, os artesãos que nos reparam os electrodomésticos, os quevivem da especulação financeira e muitos empresários pagam muito menos impostos,proporcionalmente aos seus rendimentos, que os empregados por conta de outrem,ou os funcionários públicos. Viu-se isso há anos, quando o valor das propinas doensino superior era proporcional aos rendimentos fiscais declarados.Acresce que os que já pagam impostos honradamente, ou seja, um vasto númerode portugueses que constituem a classe média, incluindo a alta e a baixa, fazem-no na perspectiva de que a receita fiscal financie a saúde a educação, a cultura,a investigação científica, o desporto, o ambiente, o património, a segurança, asforças armadas, as infra-estruturas, tudo o que um Estado moderno necessitapara progredir. Obrigá-los a pagar cuidados de saúde na proporção dos impostosseria forçá-los a pagar duas vezes. Acresce que o custo de algumas doençasgraves é tão elevado que mesmo a classe média alta não teria dinheiro para pagar

uma percentagem, por exemplo 20 por cento, de uma cirurgia cardíaca, de umtratamento de cancro, de uma doença mental prolongada ou de uma infecção porhepatite ou por sidaMas se tal acontecesse, obrigados a pagar uma porção no ponto de encontro como sistema de saúde, os cidadãos mais prevenidos, muitas vezes os mais ricos,contratariam um seguro privado para pagar essa porção, conduzindo os hospitais aum tratamento diferenciado dos que pagam melhor, ou mais depressa, em detrimentodos que se atrasassem na sua percentagem, ou dos que nada pagassem por serempobres. Duas portas, dois tratamentos, dois confortos, dois estilos de acolhimento,ou seja, a violação da igualdade. Na base da lei actual, os que transferissem para umseguro privado de saúde uma parte do seu risco de saúde veriam os seus impostosbeneficiados com isenções fiscais proporcionais à sua colecta, ou seja, acabavampor beneficiar mais que aqueles que perdessem os papéis ou que sendo maispobres não pagassem imposto.Um outro argumento importante: se os que pagam mais imposto pagassem umaporção maior dos gastos individuais de saúde certamente não estariam sempre

atentos ao calendário de vacinas dos seus filhos, às consultas antes e depois doparto e reclamariam contra a gratuitidade da assistência aos doentes tuberculosos,ou com sida. Ora há vantagens para toda a sociedade em que as doençastransmissíveis sejam tratadas de graça, a todos por igual: um benefício para o meuvizinho acaba por me beneficiar também, pois tenho menos risco de contágioquando todos os doentes são tratados por igual, que quando só alguns, os maispobres e os mais ricos quando se tratam.Taxas financiadoras diferenciadas parecem uma solução justa, mas acabam por seruma medida demagógica e destruidora do princípio da igualdade dos cidadãos notratamento da doença pelo SNS.Coisa diferente são as taxas moderadoras que visam orientar ou disciplinar a procuradesnecessária, como seriam a repetição abusiva de consultas de meios de diagnósticoe medicamentos, o recurso por tudo e por nada a exames de custo desajustado emrelação à doença, como seria fazer um TAC ou um exame de Ressonância Magnéticapor uma simples dor de cabeça; ou quando se recorre a um especialista ou a umaurgência, bastando recorrer ao médico de família ou ao sistema telefónico Saúde 24,para doenças passageiras de crianças. Aí sim, justificar-se-ia que, com as isençõesdefendidas por lei, toda a gente pagasse taxa moderadora, mas por igual.

Em conclusão, sim às taxas moderadoras, não às taxas financiadoras diferenciadas.

Taxas financiadorasdiferenciadas parecemuma solução justa, masacabam por ser umamedida demagógicae destruidora doprincípio da igualdadedos cidadãos notratamento da doençapelo SNS.

www.ps.pt

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PROGRAMA DE GOVERNO DO PS/MADEIRA

POR UM NOVO MODELODE DESENVOLVIMENTOUma “nova visão estratégica” que faça daMadeira uma região “mais moderna, competitivae solidária, fundada na qualidade dos seusrecursos humanos e apostada nodesenvolvimento sustentável” é o que o PSpropõe no seu programa de governo de“alternativa democrática” aos madeirenses. Paraas eleições de 17 de Outubro os socialistasapresentam aos sufrágio “uma nova geração depolíticas” capazes de gerar o “sobressaltocívico” de que a região necessita.

Também na Madeira “as pessoas e oconhecimento, as actividades econó-micas, o ambiente e a coesão social sãoas prioridades das prioridades”. A apostatotal é na educação que deve serarticulada com a formação, com aciência e com a cultura, evidenciando-se assim a “prioridade absoluta àspessoas e à sua valorização”.A visão estratégica do PS/Madeira valo-riza, nomeadamente, o fortalecimento daeconomia pelo recurso à “inovação em-presarial”, pela promoção do desenvol-vimento de “capacidade estruturante eintegradora do turismo”, alargando estesector económico, às actividadesculturais, industriais e de comércio e orelançamento, em moldes modernos, dachamada “economia do mar”.A meta estabelecida como “grandedesígnio da região” é a convergênciacom os níveis educativos dos paíseseuropeus com maiores qualificações eproporcionar aos madeirenses “umaformação científica e técnica à altura dasexigências do século XXI”.Para este desiderato, um governosocialista terá como linha de orientação“reforçar a base educativa da população,proporcionar oportunidades de formaçãoao longo da vida, parar o escândalo doabandono escolar, que assume umasituação de emergência e como tal deveser combatido”.Outro dos compromissos de umagovernação socialista é a “prioridade àcoesão social e ao combate à pobrezae a todas as formas de exclusão”. Numaregião que “tem seis concelhos entreos 20 mais pobres de Portugal”, tal sinalconstitui “um sinal preocupante de faltade progresso social e de desigualdade”.Para os socialistas madeirenses, a lutacontra a pobreza, a ser directamentetutelada pelo presidente do GovernoRegional, deve ser objecto de umprograma, para que “a sua naturezaprioritária fique claramente estabelecidae seja fonte de preocupação de toda aacção governativa”, de forma aultrapassar em tempo útil os bloqueiosburocráticos e institucionais eproporcionar uma “coordenação eficaz

e com autoridade hierárquica”, quemobilize “parcerias institucionais e dasociedade civil”.No plano político, o PS atribui prioridadeà revisão eleitoral para a AssembleiaLegislativa Regional e à reformulação dosistema de governo dos órgãos dasautarquias locais, no sentido do reforçoda estabilidade do seu funcionamento,da personalização do voto e da aproxi-mação dos eleitos aos eleitores.Por outro lado, o PS/Madeira propõe-setambém a encetar uma nova forma degovernação assente “numa nova relaçãoda administração regional com ocidadão”.Assim, os objectivos ambiciososfixados pelos socialistas para a Madeirae Porto Santo serão viáveis num quadrode acção onde as políticas públicasdesempenham um papel essencial”.O papel do Estado, na visão do PS/Madeira para a região pauta-se por “umaintervenção do Estado reequacionada,moderna e eficaz, fundamental para queos cidadãos encontrem respostas paraos seus problemas e para que o potencialde crescimento e inovação dassociedades se afirme em compatibili-dade com a regulação proporcionadapelos mercados”.Consequentemente, um governo do PS/Madeira avançará para “uma reforma daAdministração Regional envolvendomaior autonomia e responsabilizaçãodos dirigentes, flexibilização dosmodelos organizacionais adoptadospelos serviços e institutos e generali-zação de uma cultura de avaliação emérito”.Salientando que “a competitividadecontém uma dimensão decisiva sociale ambiental”, o PS/Madeira defende noseu programa que “importa, no futuropróximo, crescer mais, crescer comestímulos diferentes, crescer comsolidariedade”, assumindo comoambição “a de apontar para a região ocaminho dos territórios europeus queelevaram, notavelmente, o seu nível dedesenvolvimento humano a partir deposições competitivas adquiridas efortes modelos de coesão social”.

Uma democracia com maisqualidade

Um governo do PS colocará também naagenda política a revisão da Lei deFinanças das Regiões Autónomas, queterá como princípios fundamentais “anecessidade de rigor na governação”, “aafirmação de princípios de estabilidade etransparência nas relações financeirasentre a República e as Regiões Autóno-mas” e a “regulamentação dos projectosde interesse comum previstos na Lei,cobrindo os investimentos executados naMadeira com características de projectosnacionais”.No domínio fiscal, o modelo socialeuropeu corresponde àquilo que o PSquer ver implementado na Madeira,propondo “o alargamento da basetributária e contributiva que é essencialpara a prossecução de um modelo dedesenvolvimento competitivo esolidário”. Neste quadro, o documentoaponta “a luta contra a fraude e a evasãofiscal” como uma prioridade.“Uma democracia com mais qualidade”,pressupõe no entender dos socialistas

“um novo enquadramento estratégicopara imprensa, a rádio e a televisão quepretende, por um lado, a fixação deprincípios de funcionamento e regulaçãoe, por outro, combater as restrições àliberdade de informação e de opinião eos abusos de situações monopolistasnos meios de comunicação social”.

Modelo do betão esgotado

O documento socialista procede tambémà análise do modelo de desenvolvimentoimplementado na região nas últimasdécadas, e critica as “opções erradas”,que deram aso a “factores de bloqueio eesgotamento muito fortes”.Para o PS, “uma opção continuada portúneis, pontes e acessos rápidos, em vezda aposta em recursos humanos,qualificações e competências” tevecomo consequência que “a maiorfragilidade” da sociedade madeirenseseja “a qualificação das pessoas”.É que, refere o programa de governo doPS, “a prossecução de uma política dedesenvolvimento, apostada quaseexclusivamente no ‘betão’, que se

mostrou rentável na formação declientelas que gravitam em torno dopoder instalado, resultou na criação deprofundas assimetrias, no seio dasociedade madeirense e na exclusão, deuma parte da população, da dinâmicade desenvolvimento”. Mas, sobretudo,“retirou sustentabilidade ao processo dedesenvolvimento e diminuiu o potencialde crescimento a prazo da região”.Além destas “fragilidades e contra-dições”, o PS-Madeira considera que omodelo político implementado “se fezao arrepio de sãos princípios de vivênciademocrática”. Com efeito, o documentosublinha que “a experiência madeirensemostra que os processos de autonomiae crescimento sendo condições neces-sárias não são condições suficientes dedemocracia e desenvolvimento”.Neste contexto, vincam os socialistasmadeirenses, assiste-se hoje a um“bloqueio dos factores que dinamizaramo modelo económico-social imple-mentando uma economia estatizante euma sociedade civil apática, enredadana teia e sem meios ou capacidadeestratégica autónoma”.

REGIONAIS 2004

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1912 OUTUBRO 2004

PROGRAMA DE GOVERNO DO PS/AÇORES

CONTINUAR A MUDAR A REGIÃOPARA MELHORConstruir nos Açores uma sociedade coesa, commelhores níveis de bem-estar, assente numcrescimento económico sustentável, na base deum contrato com todos os açorianos, é oobjectivo central do programa de governo do PS,cuja elaboração contou com a participação decentenas de personalidades sem filiaçãopartidária.

De forma a premiar a ultraperiferia dosAçores e o facto de ser a região mais jovemdo país, os socialistas apostam na boacaptação de fundos comunitários e nacapacidade empreendedora dos jovens.Aprofundar o trabalho desenvolvido nosúltimos oito anos pelo Governo de CarlosCésar segundo a ideia de que “o estímulona solidariedade não é inconciliávelcom o crescimento económico e muitomenos com uma sociedade maisdinâmica, mais competitiva e maisinovadora” é um dos vectores principaisdo programa de governo onde avalorização das pessoas é erguido aprincípio “central e inalienável”PS/Açores propõe-se “continuar adesenvolver uma estratégia forte para aprodutividade, o crescimento e a empre-gabilidade, associada à promoção dainserção profissional de qualidade comoelemento central de um conjunto depolíticas de inserção e de progressosocial alicerçado na sustentabilidadeeconómica”.Neste quadro, o PS propõe no seuprograma a criação de um Fundo deApoio à Coesão e ao DesenvolvimentoEconómico, “cuja estruturação está jáem curso e que começará a funcionarem 2005, agrupando parte das funçõesdo actual Fundo Regional de Apoio àsActividades Económicas, entre as quaisa de assegurar que os bens e serviçosessenciais tenham o mesmo preço emtodas as ilhas”.O PS/Açores pretende também “fomentaro estabelecimento de parcerias público-privadas e a gestão de participações nocapital social de empresas, segundocritérios absolutamente transparentes, apropor à Assembleia LegislativaRegional”.Segundo o programa de governo do PS,é necessário “melhorar o investimentonas políticas de emprego, promovendocolectiva e individualmente a valori-zação das pessoas como eixo central dapromoção da justiça e da coesão sociaise do bom funcionamento da economia”.Assim, as políticas de emprego estarãono “cerne de um leque de mecanismos,dispositivos e acções de integraçãosocial e de novas abordagens na criaçãoe distribuição de riqueza”, visandoaumentar os níveis de bem-estar epromover a coesão social.Para “manter e acentuar” o crescimentoeconómico registado nos últimos anos,

impõe-se, segundo o programa degoverno do PS, “reforçar o investimentoprodutivo e não abrandar os esforços, quesão fundamentais, na formaçãoprofissional, na educação e na sociedadedo conhecimento e da informação”.Referindo ser necessário “fomentar oinvestimento privado, concentrandorecursos nos projectos com maior retornono produto e na produtividade por postode trabalho”, o PS/Açores consideraprioritário “estimular a criação de novosserviços, a integração de novastecnologias e a qualidade dos serviçosprestados”.No que respeita ao quadro político, ossocialistas açorianos pretendem“aproveitar os poderes resultantes daúltima revisão constitucional”, para levara cabo “uma reforma autónoma daadministração pública da região,conjugando a informatização em cursocom uma nova atitude, organizando emobilizando o funcionalismo para aeficiência e para a celeridade deprocedimentos”.Conhecidas as dificuldades doarquipélago, o futuro Governo Regionalvai apostar no facto de ser a região maisjovem do país. Assim se compreende quese potencie e incentive os mais jovens ea sua capacidade empreendedora,“apoiando projectos de auto-emprego,promovendo a criação de novas empresas

e possibilitando, junto dos principaiscentros de formação profissional, ageração de ninhos de empresas”.O programa de governo refere ainda que agestão fiscal e orçamental “estará maisactivamente ao serviço da coesão sociale territorial e da cooperação institucional”.Os socialistas açorianos dão também“especial atenção” à captação doinvestimento externo, “prosseguindo adiversificação e a expansão da baseeconómica de exportação”, bem como o“reforço dos sectores tradicionaisprodutivos, com especial relevância paraas fileiras do leite, da carne e das pescas,intensificando, também, a política decrescimento e consolidação de todas asactividades correlacionadas com oturismo”.

Mais e melhor autonomia

No plano político, o PS/Açores, no

documento com que se apresenta aescrutínio no próximo dia 17 propõeatribuir “prioridade na AssembleiaLegislativa Regional a uma minuciosarevisão do estatuto político-adminis-trativo da região e do sistema eleitoral”da região autónoma, garantindo-seassim mais e melhor autonomia.O PS defende também a revisão doelenco de competências da região, deforma a clarificar, aprofundar e alargar o“núcleo de matérias sobre as quais sepoderão estabelecer soluções normativasdiferentes das seguidas no restanteterritório nacional”.A revisão do sistema eleitoral regionalassume, nesse âmbito, “a importância deverdadeira pedra angular”. Segundo oprograma de governo, “a melhoria daproporcionalidade do nosso sistema,garantida a representatividade de cada ilha,é possível e o PS/Açores já o provou”.Neste quadro, o PS assume o compro-

misso de, nos primeiros três meses dapróxima legislatura, apresentar, em sedede Assembleia Legislativa Regional,propostas que materializem as alteraçõesque a melhoria do sistema autonómicoexige, de acordo com a fórmula ‘“Mais eMelhor Autonomia’, essencial paracontinuar a mudar os Açores paramelhor”.O PS considera ainda que “quer nasáreas da saúde e assuntos sociais, querna área da economia, quer, ainda, naárea da educação, as novas possibi-lidades criadas permitem a adopção desoluções diferenciadas em relação aorestante território nacional, aspecto deimportância fundamental para umamelhor adequação e mais eficazconformação legislativa da nossaautonomia”.Quanto às relações dos Açores com oexterior, “o relacionamento com a UniãoEuropeia tem uma importânciadeterminante” para a região.Por isso, propõe como objectivos “me-lhorar a eficácia da região na resposta àsquestões europeias através de umcontinuado esforço de informação e deinfluência junto das instituições eopiniões públicas europeias” e “reforçara cooperação dos Açores com as regiõesultraperiféricas, com os países e regiõesque constituem a Macaronésia e comtodas as organizações da União Europeiaa que, por direito próprio, a RegiãoAutónoma dos Açores tem acesso”.Por outro lado, o PS quer ainda“aprofundar a cooperação com os EstadosUnidos da América, designadamente noâmbito do Acordo de Cooperação eDefesa e com o Canadá, especialmentenos estados e províncias onde as diversascomunidades açorianas têm maiorimplantação” e “manter e diversificar acooperação com os países africanos deexpressão oficial portuguesa e com osEstados do Brasil, onde as comunidadesaçorianas têm maior representatividade”.

REGIONAIS 2004

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20 12 OUTUBRO 2004

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XIV CONGRESSO PS

O PS saiu do congresso de Guimarãesmais forte, mais unido, com a suaidentidade reforçada e com a ambiçãode ser uma alternativa capaz de afirmarum projecto de futuro para Portugal.

O PS saiu do congresso de Guimarãesmais forte, mais unido, com a suaidentidade reforçada e com a ambiçãode ser uma alternativa capaz de afirmarum projecto de futuro para Portugal.

DECLARAÇÃO DE SANTANA LOPES É PURO ACTO DE PROPAGANDAPara o PS a declaração ao país doprimeiro-ministro da passada segunda-feira é “característica de um Governofrágil e sem norte”. Segundo Guilhermed’Oliveira Martins, “a obsessivaafirmação da estabilidade da coligaçãoapenas confirma os sinais evidente deinsegurança, falta de coordenação eorientação estratégica na governaçãodo país”.Reagindo a partir da sede nacional doLargo do Rato ao “inédito tempo deantena do Governo transmitido à horado Telejornal”, o vice-presidente dabancada socialista afirmou estarmos

perante o segundo anúncio da propostade Orçamento do Estado (OE) para2005, havendo uma “contradiçãoevidente entre o que foi dito há diaspelo ministro das Finanças e o que hojefoi confirmado pelo primeiro-ministro”.Recordou então, Guilherme d’OliveiraMartins que enquanto Santana Lopespromete baixar impostos Bagão Félixhavia dito que tal não era possível. Ouseja, segundo o deputado socialista,“mantém-se o estilo do Governo: dizernum dia e desdizer no outro”.Mas para o PS, à questão essencial oprimeiro-ministro não responde. E a

questão essencial é, segundo o ex-ministro das Finanças socialista, saber“se vai haver cortes nos benefíciosfiscais para os Planos Poupança, os PPRe as contas Poupança Habitação, comofoi anunciado, e se vai haverpagamento pelos portugueses dosserviços públicos, em especial nasaúde”. E conclui que “se isso seconfirmar tratar-se-á do maior ataque àclasse média de que há memória”.Por outro lado, Oliveira Mar tinssublinhou ainda que a divulgação daproposta do OE é feita pela primeira vezfora do Parlamento “sem mostrar um

número e sem possibilidade de haveruma análise serena e rigorosa”, o queconsiderou “absolutamente inacei-tável”.Vincando a ideia de que a Assembleiada República terá a última palavra eque o PS não deixará de analisar empormenor tudo aquilo que “agora nãofoi revelado”, o deputado socialistachamou a atenção para o facto de quea declaração de Santana Lopes não sermais do que “um acto de propaganda”reveladora de uma “obsessãoeleitoralista” por se estar em vésperasdas regionais dos Açores e Madeira.