atividades econômicas e impacto ambiental

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Page 1: Atividades econômicas e impacto ambiental

Fernanda Meneguzzo Beneduzi

Existem atividades econômicas que não causem impacto na natureza?

É visto que toda atividade econômica gera impacto na natureza. Este impacto pode ser muito destrutivo, pode ser pequeno o suficiente para ser remediado pela própria natureza, ou pode ainda contribuir para a recuperação ambiental. A agroecologia é uma atividade econômica que vem contribuir para a recuperação ambiental. Ela vem ganhando espaço cada vez maior tanto na sociedade como um todo,(em assentamentos do MST, como o Sepet Araju em Serra Azul, a Fazenda São Luiz em São Joaquim da Barra e tantas outras espalhadas pelo país) quanto no meio acadêmico (já existe um curso de agroecologia na Ufscar no Câmpus de Araras e a Unesp de Jaboticabal, em seu curso de Agronomia tradicional, oferece a Semana de Agroecologia).

O sistema agroflorestal (SAF), defendido e tão difundido por Ernst Götsch (1995) baseia-se em suas observações e teorizações. Segunde ele, quando tentamos entender o ambiente, considerando também a organização e interação de suas formas de vida, devemos procurar inserir a atividade humana no fluxo de vida do Planeta, de forma a perseguir sempre um aumento de qualidade e quantidade de vida consolidada, aliando as necessidades humanas com a sustentabilidade dos recursos. Isso pressupõe preservar qualquer tipo de vida no ambiente e manter ou melhorar a qualidade ambiental, gerando recursos para possibilitar mais vida. Os fundamentos e conceitos que utiliza na eleboração e condução do SAF são: 1 – replicar os processos que ocorrem naturalmente; 2 – compreender o funcionamento do ecossistema original do local; 3 - assim como uma forma de vida dá lugar a outra, criando condições ambientais satisfatórias, um consórcio também cria outro (baseia-se na sucessão natural); 4 – inserir a espécie de interesse para o homem no sistema de produção dentro da lógica sucessional, tentando se basear na origem evolutiva daquela espécie (condições ambientais originais, consórcios que geralmente acompanham a espécie, suas necessidades ecofisiológicas, etc.) (Peneireiro, 1999 apud Götsch, 1995). A agricultura praticada segundo os princípios da agrofloresta dispensa o uso de agrotóxicos e insumos químicos, cujos malefícios ao meio são tão amplamente conhecidos. Respeita os estágios da sucessão natural contribuindo para o aumento da vida no local. Depois de alguns anos, o que se observa neste meio onde se consorciam plantas de interesse econômico e espécies arbóreas nativas ou não, é uma floresta formada, com todos os estratos (emergente, alto, bosque, sub-bosque, herbáceo) representados e que cumpre sua função ecológica, atraindo e sendo capaz de sustentar a fauna nativa, além de gerar alimentos e lucro para as populações humanas. Esta atividade econômica é capaz de impactar positivamente o ambiente, sendo usada para recuperar solos bastante erodidos e empobrecidos tornando-os férteis e produtivos novamente.

Qual a viabilidade do desenvolvimento sustentável como meio de manter o bem-estar e a qualidade de vida da sociedade em geral? É possível citar exemplos locais

ou regionais? Quais?

Segundo a comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas, desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de

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suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das gerações futuras. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Para que este modelo de desenvolvimento realmente seja viável, deve-se objetivar primeiramente a qualidade em vez da quantidade, buscar produtos duráveis, reduzindo a extração de matérias primas e a emissão de poluentes, em detrimento dos produtos com senescência programada, que duram pouco, sendo prontamente substituídos por novos produtos. Deve-se também incentivar a reutilização e a reciclagem.

Esta viabilidade depende também do empenho de pesquisadores em encontrar alternativas que não sejam tóxicas para os componentes de produtos que são amplamente utilizados, como cosméticos, xampus, e na composição de outros bens de consumo.

Também são necessárias políticas públicas que forcem as indústrias a recolher o “lixo” resultante do uso ou consumo de seus produtos, bem como descontaminá-los, recicla-los ou encaminhar corretamente os resíduos que não podem passar por nenhum destes processos, como é o caso de lâmpadas, pilhas, latas de alumínio, peças de computador, celulares, etc.. Neste sentido, algumas empresas de óleo de cozinha na região, em parceria com supermercados trocam 2l de óleo de cozinha usado por 900ml (uma garrafa) de óleo novo. Este óleo é destinado então à produção de biocombustível.

O desenvolvimento sustentável, a meu ver, também está intimamente ligado à educação e igualdade na distribuição de renda. Ninguém preserva o que não conhece. Não se pode fazer escolhas sustentáveis, sem saber o que é sustentabilidade. E ainda, não se pode escolher “produtos sustentáveis”, sem dinheiro para pagar por eles. O sistema vigente, capitalista, visa o desenvolvimento econômico prioritariamente em relação ao desenvolvimento sustentável. Enquanto o lucro for mais visado que a igualdade social e a preservação ambiental, alguns passos podem ser dados em direção ao desenvolvimento sustentável, mas não se pode alcançá-lo.

Em entrevista à revista Pesquisa Fapesp, Israel Klabin, presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) diz sobre o desenvolvimento sustentável: “Sustentável ainda é uma qualidade abstrata. Eu mesmo não deixo de repensar essa expressão “desenvolvimento sustentável”, usada em excesso e muitas vezes mal empregada. Nós precisamos pensar no desenho de um novo modelo econômico que garanta a continuidade dos meios naturais, e pouco ou nada será feito se não entendermos que eles são finitos. Da mesma forma, o conceito de que o excesso de emissões acima da capacidade de absorção do planeta é um dos vetores críticos do ambientalismo, um problema que já começava a tomar pé já em fins do século XIX com a Revolução Industrial. Sabemos que em 2050 teremos mais de 9 bilhões de habitantes e somente aí o avanço do impacto demográfico deverá se equilibrar. Então, o ambientalismo é a preparação de todos os modelos para dar conta desse futuro. É um pensamento prospectivo que nos obriga a repensar a matriz energética, o conceito e os mecanismos usados hoje para o desenvolvimento e o próprio modelo de governança democrática, que está incapacitado para colocar em ação em tempo hábil o que a humanidade precisa com rapidez.”

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Referências Bibliográficas:

Götsch, E. Break-thropugh in agriculture. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1995. 22p.

Peneireiro, F. M. Sistemas agroflorestais dirigidos pela sucessão natural: um estudo de caso. Piracicada, SP. 1999. Dissertação apresentada à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Ciências, Área de Concentração: Ciências Florestais.

Revista Pesquisa Fapesp, 187, p. 10-15, setembro de 2011.

Conta-se que Mahatma Gandhi, ao ser perguntado se, depois da independência, a Índia perseguiria o estilo de vida britânico, teria respondido: "...a Grã-Bretanha precisou de metade dos recursos do planeta para alcançar sua prosperidade; quantos planetas não seriam necessários para que um país como a Índia alcançasse o mesmo patamar?"