atividades de construção do texto falado - seminário
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1. A NATUREZA DA FALA
No capítulo em questão, Koch (1997) desconstrói o conceito de fala em relação
à escrita que era comumente divulgada no meio acadêmico. Havia a visão
dicotômica entre fala e escrita, sendo esta com maior prestígio que aquela.
A fala, segundo Koch, era vista como uma linguagem descontínua, pouco
organizada, rudimentar em relação à escrita que, pelo seu planejamento prévio
e gramática própria, possuía maior prestígio.
Com os estudos atuais, contudo, a fala passou a ter características próprias.
Se o texto escrito detém uma maior densidade lexical, a linguagem falada
possui uma sintaxe particular, devido sua natureza dinâmica e imediata.
Pode-se confirmar com Koch que a fala possui algumas características
próprias, entre as quais apresentadas, de forma resumida, abaixo:
Pela sua necessidade imediata, deve ser “localmente planejada” e
“replanejada” a cada turno do jogo da comunicação.
Não há rascunhos ou esboços na linguagem falada, ela é seu próprio
rascunho. Planejamento e verbalização ocorrem concomitantemente.
O fluxo da fala é descontinua e apresenta muitas rupturas.
A linguagem falada possui uma sintaxe própria, entretanto sem
abandonar a normativa.
Enquanto que o texto escrito é estático, a fala é dinâmica.
Koch saliente, também, a importância do interlocutor na construção do
discurso. Esse não é uma entidade passiva no ato ilocutório. Há uma relação
de cooperação entre locutor e interlocutor na produção textual.
Pelas necessidades do texto falado em ser interativo, há sacrifícios sintáticos.
Contudo há a utilização de muitos recursos de argumentação como as
paráfrases, inserções e repetições.
Diante desses pressupostos, nota-se que o texto falado não é caótico como se
acreditava, somente possui estratégias de formulações próprias de acordo com
as necessidades interativas orais.
1.2 Atividades de construção do texto falado: tipos e funções
Há algumas estratégias de construção do texto falado explicitadas na segunda
parte do presente capítulo. As estratégias de processamento textual são
dividas entre inserções e reformulações, essa última subdividida entre
saneadoras ou retórica.
A inserção representa uma pausa do discurso o qual o locutor procura inserir
informações necessárias para o entendimento do texto. Outras funções da
inserção são:
Explicar e justificar;
Inserir um conhecimento prévio;
Exemplificar ou ilustrar;
Comentário metaformulativos (esclarecimento de um termo empregado
anteriormente);
A inserção pode ter a função interativa de despertar e manter o locutor
interessado pelo discurso. É comum no discurso didático. A estratégia mais
comum, nesse caso, é a formulação de indagações retóricas. Entre outras,
podem-se citar:
Anedotas;
Suporte à argumentação em curso;
A atitude de um locutor diante do seu dito, atenuando algo grosseiro ou
que possa causar mal-entendidos;
1.2.1 Reformulação retórica
A reformulação retórica se dá pela paráfrase e das repetições, com a função de
frisar e reforçar a argumentação em curso. Ela caracteriza-se pelo seu aspecto
interacional.
1.2.2 Reformulação saneadora
As reformulações saneadoras são caracterizadas pelas correções efetuadas
pelo locutor, após detectar alguma possível falha em seu discurso. Elas podem
ser autocondicionadas, quando o próprio locutor percebe seu erro, ou
heterocondicionada, que são provocadas pela interferência do interlocutor.
1.2.3 A hesitação
A hesitação também representa estratégia de construção de sentidos,
estritamente do texto falado. Alguns fatores como prolongamento das vogais e
consoantes, entruncamentos oracionais e repetição de palavras menores
manifestam a presença da hesitação. O interlocutor, contudo, não está
impedido de simular tal hesitação com o intuito de mostrar-se cauteloso no
dizer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora a sintaxe do texto falado seja um tanto caótica, menos elaborada, ele
não perde a complexidade. Tais fatores são plenamente substituídos por outros
recursos como as reformulações, inserções e hesitações, que dão suporte à
argumentação. Recursos esses que são de ordem pragmática e reforçam o
aspecto dinâmico e interacional da linguagem oral.
Diante dos pressupostos elencados, depreende-se que a oralidade possui uma
gama de estratégias de construção de sentidos próprias, análogas ao texto
escrito, detentor de maior prestígio pela gramática normativa e pela literatura.