o patriarcado no discurso falado

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USP – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FFLCH - FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DLCV – DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS Profª DRª Marli Quadros Leite Ana Beatriz Augustinho (8973098) Bianca Coelho de Azevedo (8973205) Felipe Lopes (8976192) Nicolas Leonezi (8973042) Vitória Aniz (8973101) Trabalho de Introdução aos Estudos da Língua Portuguesa II SÃO PAULO 2014 5 10 15 20 25 5

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Analise de conversação do ponto de vista da diferença de genero

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Prof DR Marli Quadros Leite

Ana Beatriz Augustinho (8973098)Bianca Coelho de Azevedo (8973205)Felipe Lopes (8976192)Nicolas Leonezi (8973042)Vitria Aniz (8973101)

Trabalho de Introduo aos Estudos da Lngua Portuguesa II

USP UNIVERSIDADE DE SO PAULOFFLCH - FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANASDLCV DEPARTAMENTO DE LETRAS CLSSICAS E VERNCULAS

SO PAULO2014Ana Beatriz Augustinho (8973098)Bianca Coelho de Azevedo (8973205)Felipe Lopes (8976192)Nicolas Leonezi (8973042)Vitria Aniz (8973101)

Patriarcado no discursoA influncia do gnero no comportamento lingustico de dois informantes (em dialogo)

Trabalho de transcrio e anlise apresentado professora Marli Quadros Leite da disciplina Introduo aos Estudos da Lngua Portuguesa II da turma de 2014, do segundo horrio matutino do curso de Letras da USP.

Sumrio

1INTRODUO32CONTEXTUALIZAO43RECURSOS CONVERSACIONAIS53.1Simetria e Assimetria no dilogo53.2Monitoramento73.3Interrupes104CONCLUSO155BIBLIOGRAFIA166Anexo A Transcrio17

INTRODUO

Neste trabalho, procuramos analisar um dilogo sob a tica do gnero e como ele influencia a interao. Os tpicos que abordamos dizem respeito histria das anlises de gnero, aos recursos de conversao utilizados por homens e mulheres, a quais mtodos de pesquisa tiveram foco no meio acadmico ao longo dos anos e a como as relaes de poder e o contexto social influenciam todo o resto. A metodologia utilizada foi a transcrio de udio, contagem de termos, turnos, perguntas, interrupes e assaltos e a posterior anlise dos dados coletados com base nas teorias de Marcuschi (1988), Tannen (2003), Wodak & Denken (2005) e Galembeck (1999). A tese tem como objetivo problematizar as diferenas entre gneros no discurso, levando em conta os aspectos sociolgicos envolvidos.O dilogo transcrito de carter familiar entre dois interactantes casados, ambos pertencentes segunda faixa etria (36-55 anos): um professor de cinquenta e um anos, nascido em So Paulo, de pais baianos; e uma biloga de quarenta e seis anos, tambm nascida em So Paulo, de pais pernambucanos. Gravado no dia trinta de outubro de dois mil e quatorze, o udio tem quarenta e sete minutos, mas apenas trinta minutos foram transcritos. O tema proposto para os entrevistados foi lembranas de infncia.

CONTEXTUALIZAO

Estudos sobre variaes lingusticas determinadas a partir de gnero comearam a ser feitos a princpio por William Labov na dcada de 1960. Nesses estudos ele declarou que a diferena de gnero seria um fator, dentre vrios outros, que interferiria na conversao e, dessa forma, ocasionaria variaes no comportamento lingustico. Para explicar essa variao sociofonolgica, ele usou o argumento de que as diferenas sociais entre homens e mulheres interferem no desenvolvimento do lxico de ambos desde o incio e no seu comportamento diante de uma interao.Nas dcadas seguintes mais estudos foram realizados e diferentes teorias sobre gnero na conversao surgiram, e elas so frequentemente divergentes. Lakoff (1975) estabeleceu que o modelo conversacional feminino seria deficiente com relao ao masculino e apresentaria caractersticas de subordinao no dilogo. No entanto, outra teoria conferiu mais prestgio ao modelo feminino, pois as mulheres tendem a cooperar com o interlocutor para construir a interao, enquanto o estilo masculino competitivo e menos benfico progresso do dilogo.Pesquisadores, em geral, realizaram estudos que consideram apenas o aspecto biolgico dos interlocutores e negligenciaram o contexto social em que esto inseridos e que influenciam no comportamento lingustico. Esse outro aspecto pode ser relacionado com as variaes lingusticas que ocorrem entre homens e mulheres alm da questo de gnero, como o aspecto social, que pode interferir no histrico pessoal de um indivduo como um todo, desde sua classe social, at seu nvel de escolaridade, etc. Essas variaes lingusticas geram a identidade lingustica de cada indivduo e se mostram perante uma conversao.A conversao determinada como uma atividade coletiva da qual participam dois ou mais interlocutores que se alternam para falar e, dessa forma, organizam a fala em turnos e disponibilizam de uma srie de recursos conversacionais para manter o dilogo. Um dilogo geralmente acontece sem ter sido premeditado e todos os seus tpicos planejados e, por isso, natural que os interactantes faam pequenas pausas para organizarem seu texto falado e pequenos desvios ou mesmo insiram tpicos variados para prosseguir com a interao. Alm disso, fazem uso de outros recursos durante o desenrolar da conversao com a mesma finalidade de dar continuidade conversa como: interrupes, monitoramento, marcadores conversacionais, etc. No dilogo analisado neste trabalho pode ser constatado que alguns recursos conversacionais so usados mais do que outros e tambm que um locutor faz mais uso de determinado recursos do que outro. RECURSOS CONVERSACIONAIS

Simetria e Assimetria no dilogo

A assimetria conversacional ocorre quando apenas um dos participantes do dilogo desenvolve o tpico conversacional no seu turno por determinados motivos - como o maior nvel de conhecimento do assunto tratado, exposio de opinio, etc. -, com isso a conversa ganha tons de monlogo principalmente quando o outro participante aceita seu papel de ouvinte, porm quando este no aceita o papel e quer tambm desenvolver sua fala surge a necessidade da troca de turno - a alternncia de falas com o objetivo comum do desenvolvimento do tpico - , o que ocorre muitas vezes por assalto. J a simetria da conversao ocorre quando ambos os participantes respeitam as regras conversacionais e realizam a troca de turno permitindo o desenvolvimento do assunto de acordo com a teoria de Galembeck (1999).No dilogo transcrito o incio assimtrico com a predominncia do L1 (ex. 1), mas com os assaltos de turno de L2 comea uma leve disputa que deixa a conversa mais simtrica (ex. 2) conforme se desenvolve.Contudo, ainda existe a predominncia de L1, com turnos maiores. Considerando um turno de 4 ou mais linhas (na transcrio presente) como grande, L1 tem 9 turnos grandes, enquanto L2 tem apenas 3.

Exemplo 1:L2 nasci na Lapa... s que eu morava em Osasco na poca que eu nasci na Lapa... e voc nasceu na Bahia...L1 eu nasci em So Paulo... na Vila Mariana no hospital So Paulo... os meus pais se mudaram para Osasco... em mil novecentos e sessenta e TRS:::... e es/ e esse bai/ essa casa onde eu moro a:: a mesma casa que os meus pais moraram... desde que eu nasci... aqui era um bairro... que era uma fazenda que foi loteAda... e a sa/ e:: a/ e::: os e os lotes foram divididos:::... e cada::: comprador pagou durante ach/ acho que QUINze anos::L2 mas o/ onde que comeava a::: fazenda e terminava?L1 Bradesco Linhas (3-14)Exemplo 2:L2 c lembra at HOje?L1 pegava a Narciso Esturli::ne e na saci... no final da Saci eu descia... direita tem uma praa... aquela praa atrs da pizzaria eu ia por ali e chegava na escolaL2 no eu sei mas quando voc ia com a sua tia voc ia at a casa delaL1 at a casa dela... daqui at a casa delaL2 a ela levo s por dois meses depois cs iam sozinhosLinhas (62-69)Durante a conversa, a maioria dos assaltos de turno de L1 so para manter do turno ou contestar L2 (ex. 3). Enquanto as interrupes de L2 so mais voltadas para o monitoramento, mas com o desejo da tomada da conduo do turno.Exemplo 3:L2 porque quando eu te conheci... a rua:: esse pedao da rua num era asfalTAdo por que que num era asfaltado?L1 noL1 por que a prefeitura num afa/ asfaltou responsabilidade da do asfaltamento da prefeitura... na verdade o asfaltamento pago pelo... ((bate na mesa)) pela:::s pessoas da casa... pelos donos da casa num pago pela prefeitura a prefeituraL2 e quem que mora/Linhas (54-61)Sendo L1 homem e L2 mulher claro um grande motivo para os assaltos recorrentes no dilogo: homens costumam ter turnos de fala maiores do que os das mulheres, e no s isso, eles tambm tem a confiana de que possuem mais lgica e razo em seus argumentos - devido ao respaldo da sociedade patriarcal que d voz razo deles, o que dificulta que as mulheres, mesmo com argumentos lgicos e embasados, sejam ouvidas e aplaudidas dignamente assim como o so os homens -, o que pode levar a situaes onde ele corrija a mulher no tpico de especialidade dela, no permita a troca de turno deixando a tentativa do assalto como nica forma possvel de conseguir falar, que nem sempre se realiza-, e etc. (ex. 4).Exemplo 4:L1no existia... o frangoL2 e o chuveiro? o chuveiroL2 o chuveiro era um balde... todo furadoL1 e aquele chuveiro era moderno/L2era modernoLinhas (319-323)

Monitoramento

Nos dados do entrevistador sobre fatores de personalidade dos entrevistados, constam duas informaes muito relevantes para essa anlise: (1) L1 e L2 so marido e mulher e (2) L1 raramente troca informaes sobre experincias vividas na infncia. Isso interessante, j que algo que chama ateno no texto que praticamente inteiro sobre as lembranas de L1, suscitadas pela a determinao de L2 para faz-lo falar, sempre colocando em questo as situaes narradas por aquele, problematizando-as, em forma de pergunta. O que se explorar nesse tpico ser qual a motivao das perguntas de L2 e porque L1 reage deste modo a elas.Pode-se explicar este questionamento constante de L2 pela informao anteriormente citada, a respeito da postura de L1 quando se trata de conversar sobre lembranas: L2, aproveitando-se do tema que lhes foi proposto, faz de tudo para conseguir informaes de L1 sobre este tema. Mas, mais que isso, deve-se pensar por que to importante para L2 obter essas informaes sobre a experincia do outro, uma vez que L1 no parece importar-se em fazer o mesmo com a interlocutora, como observa-se, por exemplo, no trecho a seguir, quando os dois esto falando do tpico escola, e L2 diz:

L2 hum... c lembra o nome da sua primeira professora?... eu lembroL1eu no lembroL2no... c aprontava muito... que acho que c era... a minha professora chamava ElianaL1 s sei que ela batiaLinhas (661-665)Em seguida pergunta, L2 diz que lembra o nome de sua professora, o que nos diz que sua pergunta no era apenas para extrair informaes do interlocutor, mas tambm para expor para este informaes sobre si. Porm isto no ocorre: L1 apenas responde e no pergunta de volta. Na linha 657 observa-se ento certo embarao por parte de L2 j que a resposta de L1 no correspondeu s suas expectativas. Por fim, acaba falando o nome de sua professora, mas seu interlocutor ignora isso, e continua ainda respondendo pergunta que lhe foi feita: no lembra o nome da professora, entretanto lembra que ela batia. Aps isso, L2 diz que nunca apanhou na escola e que no tinha palmatria na sua poca, ao que L1 rebate, explicando como era a palmatria e outras punies. E L2, querendo revolver o dilogo para suas experincias, diz:L2 eu stenho boas lembranasL1 voc ficava ajoelhado no milhoL2 a:: professora Elia:: neL1 eu tambm s tenho boas lembranasL2 que voc apanhoL1 ce ficava ajoelhado no mi::lho... voc vinha pro canto da sa:: laLinhas (691-696)

Observa-se que, por duas vezes, na linha tal e tal, L2 tenta compartilhar suas experincias, mas no consegue: L1 est obstinado a continuar no tpico que aquela pergunta de L2 sugeriu. Dessa forma parece seguir o texto inteiro: L2 introduz um tpico por meio de uma pergunta para L1, que responde, no pergunta e no tem o cuidado de deix-la comunicar o que quer.Desconsiderando as marcas conversacionais n?, tem-se noventa e trs ocorrncias de perguntas vindas de L2 e apenas dez vindas de L1, sendo que dessas dez, cinco so respondidas por ele prprio e duas, que sero mostradas adiante, so feitas em um tom de crtica. Trs so perguntas comuns, porm diferem-se das perguntas de L2 no sentido que nunca introduzem um tema novo para o interlocutor desenvolver, parecem ser usadas apenas quando surge alguma questo-problema que empaca a continuidade do tpico do qual falava: a primeira logo no incio da transcrio, quando L1 comea a falar onde L2 nasceu, porm se d conta de que no sabe e pergunta voc nasceu em Osasco ou So Paulo?; as duas outras em um momento em que L1 tenta fazer L2 entender uma localizao, perguntando num tem a viela? e depois aquela viela que desce?.As duas perguntas restantes aparecem em um contexto de tenso na conversa: L2 ao falar da viagem que fizeram Bahia, mostra que se sentiu mal diante das diferenas com as quais se deparou l, com nfase no tamanho da cidade e na comida, o que no agrada L1:L2 ::... nossa... a cidade muito pequena n... no grandeL1 mas... peQUEna? mas a cidade cresceu inclusive pro ouTRO ladoL2 a sua tia fez:: frango ao molho pardo... ah::: ela matou a galinha, tirou o sangue da galinha e fez o frango ao molho pardo...L1 galinha no vende no aougueL2 ai... serviu um prato desse tamanho... com aquele monte e eu ai meu deus e agora? eu tenho que comer issoL1 mas a gente... mas isso era comumL2 ai e eu punha pra um lado e punha pro outroL1 mas... mas era coMUML2 ::::::... mas o o ...L1 sua me no matava galinha?L2 minha tia Quininha, minha me... no sabia matar galinhaLinhas (209-310)Observa-se que essas duas perguntas marcam a tenso desse trecho, porque condenam a viso de L2: primeiro sobre o tamanho da cidade, L1 no acha que a cidade era pequena; e aps a pergunta, entende-se um argumento para essa questo (mas a cidade cresceu inclusive pro ouTRO lado), portanto, quando pergunta a ela peQUEna?, no quer simplesmente uma resposta, mas pretende que ela explique sua viso e, ainda, que concorde com ele.Depois, sobre a questo de ser ou no comum matar galinha, L1 quer mostrar que era comum e por essa razo faz a segunda pergunta, que polemiza a situao para demonstrar que L2 quem a exceo, o que fica claro um pouco depois no trecho da linha tal quando diz a questo cultural... c/ c acostumada com frango de aougue. Essas perguntas tm ento um carter no de compartilhamento de experincias como as de L2, mas sim de juzo muito explcito.Segundo Tannen (2003), para as mulheres, a troca de experincias algo muito importante para um bom relacionamento. um mecanismo de conexo, uma forma de criar proximidade com o outro. Porm, Quando um homem e uma mulher membros de uma famlia interagem, as diferenas de gnero nas expectativas em relao ao uso da conversao para criar proximidade podem levar a intercmbios desequilibrados. Um ritual comum que ilustra esses intercmbios desequilibrados nas famlias o que ela chama de Telling Your Day, quando as mes encorajam os filhos a contar ao pai como foi seu dia e os pais tomam o papel de julgar as aes recontadas nas histrias porque eles acham que por esse motivo que as histrias esto sendo contadas. Porm, Tannen afirma que a real meta das mes ao tomarem essa atitude , na verdade, envolver o pai na vida dos filhos, criando proximidade entre eles com base na troca de experincias, e no suscitar o juzo daquele sobre as aes dos filhos.Da mesma forma pode-se assumir que a real meta de L2 no fazer um interrogatrio sobre o passado de L1, mas compartilhar informaes pessoais, pois isso um mecanismo que cria proximidade para ela; que gera intimidade. com esse objetivo que o pergunta tanto. Ele, por no entender o que L2 objetiva, toma o sentido daquilo como apenas um questionrio a ser respondido e na sua obstinao para continuar o respondendo, impede-a de expor tambm suas experincias e criar a conexo que ela almejava.

Interrupes

Segundo Ferguson (1977), qualquer acontecimento que no permita a troca suave de turnos chamado interrupo. Tanto no meio acadmico quanto em seu uso coloquial, o termo tem sido evitado devido s conotaes negativas que carrega. Comumente se pensa na interrupo como algo agressivo, um rudo na conversa ou um assalto explcito de turno, consideraes que a pesquisa de campo tem tentado desmistificar.As interrupes no so necessariamente verbais (ex. gestos que pedem silncio) ou necessariamente sobreposies de fala (ex. interjeies durante pausas entre palavras), tambm nem sempre comprometem a harmonia da comunicao. Murmurar, balanar a cabea, concordar ou discordar monossilbicamente, ajudar o locutor a encontrar palavras, nenhum desses aspectos prejudicial conversa, mas todos podem ser formas de se interromper algum. Como todo recurso conversacional, a interrupo tem vrias funes, utilizada de modo diferente por pessoas diferentes e cumpre bem ou mal um propsito pr-estabelecido pelo falante.Muitos pesquisadores, principalmente durante o sculo XX, se dedicaram a estudar as interrupes. A anlise da conversao utilizada em diversas reas (antropologia, psicologia, lingustica, etc.) e, uma vez que um mesmo fenmeno pode ser visto sob inmeros ngulos, nunca houve como unificar os termos e as classificaes criadas para definir e dividir os diferentes tipos de interrupo. Deste modo, preciso deixar claro que os meios aqui apresentados podem no corresponder totalidade das teorias de cada autor e so, na verdade, recortes escolhidos de acordo com o quo relevante eles eram para os tpicos abordados neste trabalho.Primeiramente temos o que Yngve (1970) chamou de respostas backchannel, que so a emisso de palavras e sons curtos pelo ouvinte, como uhum, ok, ah, entendi, de modo a oferecer um pequeno feedback ao locutor. No dilogo, a pessoa que no tem a posse do turno muitas vezes procura demonstrar que ela est prestando ateno a sua fala e que a compreende. um modo de manter a conversa fluindo e de incentivar o locutor a continu-la.L1 eu me lembro do Largo de OSASco... o Largo de Osasco tinha uma FONte... depois eles desmancharam a fon teL2 ah... tinha mesmoLinhas (502-504)Goldberg (1990) vai abordar dois tipos de interrupo parecidos: esclarecimento e adio de informao. As de esclarecimento so usadas quando h algum tipo de falha de comunicao. Se o interlocutor no compreendeu um conceito, precisa que uma palavra seja repetida, que indicar que j entendeu algo que est sendo explicado demoradamente, ele poder indicar isso ao locutor sem roubar-lhe o turno. L1[...] dePOis que eles asfaltaram aqui:: e asfaltaram aqui no essaL2 a Joo Hoffman? L1Ernesto:::... Dummond Vi/ acho que Ernesto Vilares --essa que desce aqui.Linhas (66-70)Alm disso, o locutor pode fazer perguntas ou ter dvidas sobre o assunto que aborda durante sua fala e mesmo assim no pretender ceder o turno. Deste modo, o interlocutor que confere respostas, define conceitos, o ajudar a encontrar palavras, entre outros, est fazendo uma interrupo de adio de informao.L2 mas como que era o barranco daqui? Que aqui era um baRRANcoL1 era um deCLIve... e o poo onde encontraram gua foi aqui em cima... onde mais ou menos a entrada da casaL2 na casa da DonabelaLinhas (38-42)

L1 [...] era tudo de terra e onde a::: a prefeitura era um lote de tubos de::: de canalizao... e l tinha uma mina d'gua... at hoje tem a mina d'gua que ... onde as pessoas::L2 onde fica o regionalL1 onde fica o regionalLinhas (25-30)As interrupes de erro de clculo (Didia 1987 e Coates 1989) ocorrem com bem menos frequncia em dilogos familiares do que entre estranhos. Elas dizem respeito s invases acidentais de turno que podem ocorrer quando o interlocutor pensa erroneamente que o locutor j terminou de falar. comum que, quando isso acontea, o interlocutor perceba seu erro e ceda o turno novamente ao locutor.L2 [...] que ns chega::mos... Ribeira do Pombal... lembra? a::... L1 ainda bem que eu me lembrava do caminhoLinhas (294-296)Tannen (1989) analisa as classificaes mencionadas acima e percebe que elas constituem por volta de 75% de todas as interrupes emitidas durante uma conversao. H, portanto a necessidade, de se dividir os tipos de interrupo em grupos maiores, de acordo com o modo com o qual eles operam dentro de uma interao. A essa maioria, a autora confere o termo interrupes construtivas e s outras, interrupes disruptivas. Candem (1989) complementa a pesquisa separando as disruptivas em interrupes de desacordo e interrupes de disconfirmao, sendo as segundas referentes a mudanas de assunto e a apontamentos tangenciais conversa.Na transcrio temos 50 interrupes construtivas e 20 disruptivas. Dentre as disruptivas foi a mudana de assunto brusca que se destacou, ocorrendo mais vezes. Courtright (1979), ao analisar dilogos entre pessoas casadas, verificou que quanto mais dominante o parceiro, maior o nmero de interrupes disruptivas. O conceito de dominncia foi estudado por Kellock e Blumstein & Swartz (1985) e ele possui forte relao com a noo de poder que h na sociedade. Portanto, pessoas com menor aquisio econmica e que pertencem a grupos marginalizados, como os negros, tem menor poder e, portanto, tendem a se mostrar menos dominantes em situaes mistas.Essas pesquisas implicaram em um segundo mtodo de organizao: entre interrupes bem sucedidas e mal sucedidas. Citada pela primeira vez em Farina (1960), essa classificao separa as interrupes (em sua maioria as disruptivas) pela tentativa de tomada de turno. O falante que interrompe com inteno de ganhar o turno e continua falando teve uma interrupo bem sucedida, o falante que no continua teve uma interrupo mal sucedida. Pessoas com maior dominncia tem mais sucesso em suas interrupes.Na transcrio em anexo foram encontradas 140 interrupes, sendo 70 delas iniciadas por L1 e 70 delas iniciadas por L2. Destas, 70 so construtivas e 20 so disruptivas; das disruptivas 13 foram iniciadas por L1 e 7 por L2. Das interrupes com tentativa de tomada de turno bem sucedias, 13 foram feitas por L1 e 3 foram feitas por L2. Se o dilogo ntimo familiar e as relaes de poder de classe, cor e credo so bastante equivalentes entre ambos locutores, preciso que se questione porque h uma disparidade entre alguns aspectos da dominncia e, portanto, entre as interrupes.Existem diversos fatores envolvidos na diferena do uso de recursos conversacionais como entre duas pessoas. Porm, por mais que a personalidade dos locutores, o tema, as condies laboratoriais e o tipo de interao sejam aspectos importantes a toda problematizao da anlise de dilogo,neste caso ainda seguro recorrer s questes de gnero para explicar certas ocorrncias e fenmenos observados na transcrio.Os estudos de Bilous e Krauss (1998), assim como Street & Murphy (1987), sugerem que h uma tendncia por parte das mulheres para o uso de interrupes colaborativas e de mais respostas backchannel em maior nmero do que as vistas nos dilogos masculinos. Essa teoria de fato demonstrada na transcrio anexada, quando notamos que L2 produz a maioria das interjeies de entendimento e demonstrao de interesse contidas no dilogo. O falante feminino costuma ter um alto grau de envolvimento na conversa, vendo grande importncia nas funes sociais e emocionais que os recursos de feedback podem apresentar. Tambm foi notado que homens dialogando entre si, tendem a produzir um menor nmero de interrupes em sua totalidade do que mulheres dialogando entre si.No captulo Women, Men, and Interruptions: A Critical Review, contido no livro Gender and Conversation Interaction, Deborah James e Sandra Clarke analisam uma srie de pesquisas sobre conversao e delas tiram concluses estatsticas a respeito das relaes entre interrupo e gnero. De 21 dilogos transcritos em estudos, por exemplo, as autoras coletaram que em 6 deles homens interromperam mulheres mais do que mulheres interromperam homens, em 2 deles mulheres interromperam homens mais do que homens interromperam mulheres, e em 13 deles no foi vista diferena significativa entre as interrupes de homens e mulheres. Na maioria dos dilogos mistos, portanto, h uma relao de igualdade entre o nmero de interrupes entre gneros. Esse achado condiz tanto com o que foi verificado na transcrio em anexo (70 interrupes de L1 e 70 interrupes de L2) quanto com a suposio de Krauss (1988) quando ele diz que tanto homens quanto mulheres se adaptam fala um do outro, diminuindo ou aumentando o nmero de interrupes que produziriam normalmente de modo a atingir essa equivalncia descoberta.A dominncia mais encontrada em grupos de homens do que em grupos de mulheres. Borger, Rosenfeld e Zelditch vo falar do conceito de competitividade masculina e da relao dele com o nmero de interrupes de tentativa de roubo de turno bem sucedidas, algo tambm claramente observvel em L1 em comparao com L2. preciso, porm, questionar no s quem est ativamente assaltando os turnos de seus locutores, mas tambm quem que est sofrendo esses assaltos. Deste modo, sensato procurar entender alm de todo resto, qual gnero est sendo mais interrompido na conversao.Deborah James e Sarah Clarke vo novamente analisar uma srie de estudos e listar suas concluses. Foi notado que, de 23 publicaes, 12 demonstravam que as mulheres so, de fato, mais interrompidas por homens, em 11 delas no havia diferena entre gneros quanto a esse respeito e em nenhuma delas os homens foram mais interrompidos que as mulheres. Discernindo ainda mais esses dados, tem-se quehomens interrompem mais mulheres em 6 estudos, mulheres interrompem mais mulheres em 2 deles, mulheres interrompem mais homens em 2 deles, e que em nenhum estudo homens interrompem homens mais do que eles interrompem mulheres.L1 , no dilogo estudado, mais dominante. Por ser homem ele quem interrompe e L2 e lhe rouba o turno com grande frequncia. Esse fato base daquilo que leva compreenso de toda assimetria constatada aqui.

CONCLUSO

O discurso tem papel fundamental na definio de um sujeito. Esse transparece as particularidades de cada ser, que por sua vez esto influenciadas pelas ideias apregoadas pela sociedade da qual esse sujeito faz parte. Para ser feliz em suas interaes sociais, necessrio que, no mnimo, se compreenda os alicerces em que est firmada a cultura que rege essas relaes e ideologias comuns maioria das pessoas.Ao se observarem os resultados deste trabalho, notou-se uma visvel segurana por parte de L1 durante todo o dilogo. L1 no se incomoda com as vezes em que atropela o turnos de L2, mesmo enquanto so abordados assuntos que pertencem rea de formao de sua interlocutora (ela bacteriologista e ele praticamente no a deixa falar quando o assunto doenas). L2 se v, em muitos momentos, obrigada a participar do dilogo apenas com turnos de acompanhamento, ficando restrita a uma posio de quem apenas no quer deixar que a interao chegue ao fim.A interao, claramente assimtrica em seu todo, evidencia a diferena de poder social entre L1 e L2 baseada no gnero, visto que ambos possuem as mesmas condies sociais nos aspectos tnicos e econmicos. Como definiu Luz Antnio Marcuschi, no texto Manifestaes de Poder em Formas Assimtricas de Interao (UFPE, 1988): O controle pode ser exercido, na interao interpessoal, direta e explicitamente em atos discursivos tais como dar ordens, inquirir, proibir, etc. Mas indiretamente em atos como definir e decidir o que pode ser tomado como tratvel, deter por mais tempo os turnos, ter a prerrogativa de iniciar ou concluir tpicos, regular o estilo, etc.. L1 se vale de sua condio de indivduo do gnero masculino como prerrogativa para exercer o controle sobre todo o dilogo.No contexto de uma sociedade patriarcal, as mulheres, principalmente as mais marginalizadas, so muitas vezes ignoradas e silenciadas. necessrio que se reavalie as relaes de poder e assimetria a que estamos submetidos, a fim de que todos, independentemente de seu gnero, etnia ou condio social, tenham vez e voz, principalmente nos espaos mais meritocratas e elitizados, como os espaos acadmicos, por exemplo, onde se comum a organizao de assembleias, palestras, debates e a presena predominante de homens frente desses eventos alarmante.

BIBLIOGRAFIA

CHAGAS, C. E. das. O Texto Oral Dialogado: A Importncia dos Marcadores Conversacionais. Disponvel em: .

MARCUSCHI, L. A. Manifestaes de Poder em Formas Assimtricas de Interao. In: Investigaes, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1988

SWAMINATHAN, N. Gender Jabber: Do Women Talk More Than Men?. Scientific American, jun. 2007. Disponvel em: . Acesso em: 08 dez. 2014.

TANNEN, D. Gender and Family Interaction. In: HOLMES, J. & MEYERHOFF, M (org) The Handbook of Language and Gender, Blackwell Publishing, 2003

WODAK, R., BENKE, G. Gender as a Sociolinguistic Variable: New Perspectives on Variation Studies. In: COULMAS, F. (org) The Handbook of Sociolinguistics, Blackwell Publishing, 2005. p. 127-150. GALEMBECK, P. T. O turno conversacional. In: PRETI, D. (org) Anlise de textos orais, Editora Humanitas, 1999. p. 55-79.

Anexo A Transcrio

Transcrio de dilogo entre dois informantesTipo de inqurito:dilogo entre dois informantes (D2)Durao:47 min (total); 30 min (transcrio)Data do registro:30/10/2014Tema:LembranasLocutor 1:Homem, 51 anos, casado, professor, paulistano, pais baianos, 2 faixa etriaLocutor 2:Mulher, 46 anos, casada, biloga, paulistana, pais pernambucanos, 2 faixa etria17

L1((risos de L2)) voc nasceu...((risos de L2)) Osa::sco... voc nasceu em Osasco ou So Paulo? L2 nasci na Lapa... s que eu morava em Osasco na poca que eu nasci na Lapa... e voc nasceu na Bahia...L1 eu nasci em So Paulo... na Vila Mariana no hospital So Paulo... os meus pais se mudaram para Osasco... em mil novecentos e sessenta e TRS:::... e es/ e esse bai/ essa casa onde eu moro a:: a mesma casa que os meus pais moraram... desde que eu nasci... aqui era um bairro... que era uma fazenda que foi loteAda... e a sa/ e:: a/ e::: os e os lotes foram divididos:::... e cada::: comprador pagou durante ach/ acho que QUINze anos::L2 mas o/ onde que comeava a::: fazenda e terminava?L1 BradescoL2 de l at aQUI? L1 L2 e o Bradesco tambm era... par te da fazenda?L1 Bradesco j era OUtra... no Bradesco

j era outra fazen daL2 e num tinha o Bradesco ainda?L1 tinha... no... num seiL2 e onde era o campinho de futebol?L1 era... na descida da... da rua era um terreno baldi/ era um lote... comprada pelo s::/ um senhor chamado... ZaBOto... e aqui era um LOte/ isso aqui era tudo cheio de TErra... era tudo de terra e onde a::: a prefeitura era um lote de tubos de::: de canalizao... e l tinha uma mina d'gua... at hoje tem a mina d'gua que ... onde as pessoas::L2 onde fica o regionalL1 onde fica o regional... e a::L2e num tinha gua aqui? tinha que pegar na mina?L1 no... tinha gua encanada... nu/ num tinha gua no... eu le/L2 tinha POoL1 tinha po::oL2 eu lem broL1 a as pessoas cava/ cada... cada casa daqui tinha um pooL2 mas como que era o barranco daqui? que aqui era um baRRANcoL1 era um deCLIve... e o poo onde encontraram gua foi aqui em cima... onde mais ou menos a entrada da casaL2 na casa da DonabelaL1 no... onde a entrada da da casa... era a entra/ era o poo s foi encontrado gua ali... e a o poo devia ter mais ou menos uns cinco seis metros de... de fundura e era aL2 mas por que que tem gua hoje aqui::... (aflorada)L1 porque eXISte... porque existe um lenol fretico... s que se ca/ cavar/ cavaram ali se tivesse cavado... do outro lado tinha achado gua mais fcil... mas num podia cavar do outro lado porque j tinha uma casa... que era onde morava::... a Pirri taL2 mas num tinha o::... num tinham essas ruas que tem agoraL1 TI::nhaL2 porque quando eu te conheci... a rua:: esse pedao da rua num era asfalTAdo por que que num era asfaltado?L1 noL1 por que a prefeitura num afa/ asfaltou responsabilidade da do asfaltamento da prefeitura... na verdade o asfaltamento pago pelo... ((bate na mesa)) pela:::s pessoas da casa... pelos donos da casa num pago pela prefeitura a prefeituraL2 e quem que mora/L1lote::ia... m/ calcula o metro quadrado do asfalto... voc paga metade e a outra::... pessoa paga a outra metade ento a rua pa/... aQUI esse pedao como rua sem sada ficou se:::m... asfalto... quando voc me conheCEU... eles tava/ eles::... e/ era de barro at l em cima... porque o asfalto parou l na... na Julio Mesquita... dePOis que eles asfaltaram aqui:: e asfaltaram aqui no essaL2 a Joo Hoffman?L1Ernesto:::... Dummond Vi/ acho que Ernesto Vilares essa que desce aqui.L2: e o seu Nelson j morava l?L1 j... seu Nelson um dos lo/ u/ um dos:: um dos primeiros a::: a comprarL2 compradores L1na verdade NESte NESta regio aqui tem quem... n/ e/ n/L2 a DonabelaL1 ns... a Donabela que mora aQUI L2a LURdesL1 a LURdes que mora ali

L2aquela amiga da sua m::eL1 pera a descendo:: descendo aquela senhora... L2 aquela amiga da sua meL1uma loira... que m/ que o filho baterista... que mora aLI::... o bombeiro::... o bombeiro tambm e:: raL2 e cada um comprou um lote?L1o bombeiro tambm e::ra... aquele que... no final da rua tambm e::ra... o seu::... onde a Pirrita mora hoje... se/ / tambm era... ento so poucas as pessoas que originalmente esTAvam... aqui... e que continuam aqui... ou seus descendentes continuam aquiL2 e mas... a sua famlia morava na Vila Mariana?L1 no... me/ meus pais moravam no JaanL2 onde o Jaan?L1 na zona::... norte de So Paulo e a:::L2 veio da Bahia pro JaanL1 issoL2 quantos anos sua me tinha... quando ela veio da Bahia?L1 minha me? dezoitoL2 mas ela casou aqui ou casou na Bahia?L1 casou na BahiaL2 por que que ela veio para So Paulo?L1 e a no dia do... a/ a tradio no dia voc que ela casou... ela::... subiram no nibus e vieram para c... ca saram de manh/L2 mas nem sabiam onde ficarL1no... meu pai j estava aqui... em So Paulo... meu pai ve::io... arrumou traba::lhoL2 a ele volto::u L1 volto::u... caso::u... no dia que eles casaram eles subiram no nibus L2 e a foram pro Jaan e eles j tinham onde morarL1 e a eles j... tinha uma ca/ tinha uma... ele tinha uma u::ma casa no Jaan e depo:::is... ele havia comprado um lote aqui... quando ele comprou um lote aQUI a construo quando a construo comeou da casa eu morava na/ ns morvamos na:: Jos (Cidistera) que (uma antes)L2 alugo::u uma casa lL1 isso... alugou um quar/

L2 onde a Pirrita morava... aliL1 noL2num aquela rua?L1 n::oL2/ a rua da padaria L1a:::h... onde a Magali moraL2no... a rua de cimaL2ah::...L1a Magali mora na Luiz de Souza... a Valdice Stella a de cimaL2mas a (Pitu) j morou nessa rua...L1 uhumL2que eu lembro do endereo dela... no?L1no... a Rita morou aqui:: L2 a rua aonde mora a Adenizia? L1 morou na Joo Hoffman... e mora aLI... ... a rua onde mora a Adenizia. L2ah::... por isso que eu conheo ma::is...L1 perto da casa do... dos pais da AdeniziaL2oh... os pais da Adenizia so muito antigos aqui tambmL1 ento... ento... uma... tem a...L2mas....L1 num tem a viela?L2quantos anos...L1 aquela viela que desce? L2ah... sei...L1eram duas casas pra baixoL2 quantos anos a sua me tiNHA quando voc nasceu?L1acho que deZOItoL2ento ela casou::... veio pro Jaan::... a logo veio... alugou uma casa aqui... comprou aquiL1 alugou pra... L2 e que que seu pai trabalhava nessa poca?L1meu pai era::... cozinheiroL2cozinheiro daonde?L1ele era cozinhe::iro.. da::s::.. indstrias... indstrias... toda indstria... grande indstria... tem um restaurante... e a meu pai trabalhava n/ nesse restauranteL2e onde que ele aprendeu a cozinhar?L1ele aprendeu... eles entr/ todo cozinheiro entra como ajudante de cozinha...L2ah...L1depo::is:: que ele vira cozinheiroL2e a::.. mas depois ele trabalhou l naquela... churrascaria l que era pizzariaL1a um... um dos trabalhos dele era trabalhar na anTIga churrascaria Paulino... o primeiro lugar de Osasco onde se vendia... PIzza... e eu comia TOdo dia::... PIzza L2 pizza de caf da manh L1de caf da manhL2e era pizza igual a::... que tem a:: HOje?L1 com::... com::... sete... oito anos... h quarenta anos atrs eu j comia pizza de caf da manhL2mas ::.. e era igual ao que tem ho::je?L1 igualL2tinha calabresa e os negcio? L1tinha... calabre/ antigamente era calabresa e muarelaL2 no::ssa... eu vim comer pizza eu j::...L1... eu comia pizza todo diaL2no tinha pizza...L1meu pai trazia pizza todo diaL2o que mais voc lembra daquela poca que voc tem muita saudade?L1 ah::::.. ((fez um barulho com a lngua)) a::QUEla RUA a Narciso Stur/ a Narciso SturLINI... ali::...L2Narciso Sturlini a da prefeituraL1 a da prefeitura... ali TInha a FI::TO...L2eu lembro... ((bocejou))L1e um r/ ... ali tinha a FITO E a prefeiTUra... n... e aquela rua tamBM no era asfaltada... depois que ela veio a ser asfaltadaL2 a Narciso Sturilini?L1...L2nossa... eu no lembroL1mas eu lembro... a Narciso Sturlini era ali... e pra frente da Narciso Sturlini... tinha j aqueles BAres... tinha a fbrica SACI::... que era uma fbrica que era de tingimento de::...L2 de roupaL1 de roupa... onde... onde...L2 de teCIdo... na verdade... n::L1 isso... onde... ento... onde eles esto construindo os prdios agoraL2 voc... ::... voc lembra que::... L1 e na frente da SACI tinha o::.. o restauranteL2voc lembra que tinha uma gua... bem escu::ra... que saa do esgoto e ia pro corrgo?L1 a SACIL2... era uma gua::...L1de tintaL2acho que misturava todas as coresL1 ::... das tintas... nL2a ficava uma cor::...L1a pra frente tinha a SACI::... depo::is.. eu me lembro que ali... tem uma:: L2 mas a Cidade de Deus j era daquela poca?L1j::... j tinha a Cidade de Deus... j ti/ j tinha os prdios em...L2 s que no tinha... no tinha quase nadaL1 s que depois daLI era uma::... era uma::... uma mataL2ah::.. ((bocejou)) no tinha o prdio noL1 entre o Bradesco... entre o Bradesco E a SACI::... era uma mata... toda uma mata que dividia:: aquele::... aquele espaoL2 e tinha um crrego L1e o mesmo crrego... o crrego BussocabaL2ah::...L1a o...L2e sempre teve na poca da fazenda?L1si::m... sempre... a o crrego Bussoca::ba... ele:: atravessa::va e ele dava aQUI... que era outra fazenda... ali embaixo... que onde hoje eles esto construindo::... a r/ a... a Hon::da::... L2ah... que TEM at uma casa lL1que tem uma casa que era... que era a sede da fazendaL2 que ainda mora uma senhora lL1tu::do pra C... era... era delesL2e onde que foi que seu::... ah... o seu irmo pegou amarelo que a sua... a sua me falou que ele foi nadar no rio...L1foi nadar nesse crrego...L2 (...) e ele pegou amarelo... ((riu)) L1ele.. foi nesse crrego que ele foi nadar.. que era um crrego do esgotoL2 ele pegou amarelo mesmo?L1eu no me lembro disso no...L2 e disse que ele ficou com uma barriga enorme assim...

L1uhm... as crianas no... as crianas no...L2 e::... e que a a sua me foi l e ele tava nadando nesse... nesse::... no crrego BussocabaL1 que inclusive::... nesse crrego tinha inclusive... sanguessuga L2ah::... no era... L1 os meninos que...L2(...) mas no era poludo ento... daonde vem esse... essa gua?L1 gozado n... porque... ah... essa gua vem l::... l de cimaL2mas da::onde?L1 a::.. que nessa... tanto que os meninos que mergulhavam depois saam com sanguessuga... grudado...L2 cre::::do...L1nad/ nadavam no rio e saam com sanguessuga... umas::...L2c j tinha::... c foi nadar l... j?L1(j)... eu saa com umas coisa preta assim... a eu j AI::... ((exclamou))... a eu puxa::va... ficava ferida...L2 ficava marca nL1ficava ferida... quando puxava assim ficava ferida... eles jogavam at lcoolL2ai... a sua me me contou uma vez que... que deu uma surra no seu irmo porque... pegou ele l... e logo depois ele ficou doente com uma barriga imensa... e que o mdico falou que era... teve que fazer tratamento e tudo... que ele teve esquistossomose::... isso que ela falou pra mimL1no...L2esquistossomose no... marelo...L1... esquistossomose no...L2foi amareloL1esquistossomo::se... a gente corria quando ia pra Bahi::a...L2ah::...L1nadar... nas lagoas l... a... podia serL2e voc ia todo ano n?L1no... um tempo a gente foi um ano... outro ano... depois... no foi maisL2 quantas vezes c foi?L1ah... eu fui umas cinco vezes...L2quantos anos voc tinha?L1de::z... onze::... a ltima vez que eu fui acho que eu tinha uns treze... catorzeL2no... ((bocejou)) a ltima vez que c foi... foi comigoL1ah verdade...L2esqueceu...L1foi mesmo... a ltima vez que a gente foi... a::... a minha tia faleceu logo em seguida... n?L2no::ssa... que viagem... emagreci dez:: quilos::L1((latidos))...( )...qualhada?L2::... Vi... ... tinha sapo no quintal...L1tinha sa::po... perere::ca...L2... a::... L1 a casa era do lado de um lago...L2 que ns chega::mos... Ribeira do Pombal... lembra? a::...L1 ainda bem que eu me lembrava do caminho... n?L2 ::... nossa... a cidade muito pequena n... no grandeL1 mas... peQUEna? mas a cidade cresceu inclusive pro ouTRO ladoL2 a sua tia fez:: frango ao molho pardo... ah::: ela matou a galinha, tirou o sangue da galinha e fez o frango ao molho pardo...L1 galinha no vende no aougueL2 ai... serviu um prato desse tamanho... com aquele monte e eu ai meu deus e agora? eu tenho que comer issoL1 mas a gente... mas isso era comumL2 ai e eu punha pra um lado e punha pro outroL1 mas... mas era coMUML2 ::::::... mas o o ...L1 sua me no matava galinha?L2 minha tia Quininha, minha me... no sabia matar galinhaL1 ela pegava destroncava o pescoo cortava o pescoo pendurava e deixa o sangue cairL2 eu... eu tava l quando ela fez... lembro quando ela fez...c no lembra? L1 e depois...L1 pegava o a gua fervendo numa panela colocava a galinha dentro e despenaVAL2 nossa aquele cheiro... da galinha

L1 no existia...o frangoL2 e o chuveiro? o chuveiro...L2 o chuveiro era um balde...todo furadoL1e aquele chuveiro era moderno/L2 era moDERnoL1 num lugar onde faz quarenta GRAUs de calorL2 mas como que... a gua descia no lembro?L1 era o balde... c enchia o balde pendurava l e depois puxavaL2 no tinha o furinho... os furinhos L1 era um balde... c pendurava o balde no gancho puxavaL2 e era daqueleL1 debaixo do balde tinha um chuveiroL2 ah:::::: era... eraL1 chuveiro ecolgico... s gastava aquela quantidade de guaL2 e o sapo? desse tamanho c saia... do do banho aqueles L1 por isso que ele chama cururu... cururu por que grande... menino da cidade no sabe o que issoL2c lembra quantos quilos eu emagreci?... depois a sua me cheGO L1 no minha me j tava L L2 j tava a gente foi se encon/... foi...L1 ns encontramos o Fernando RenataL2 ai tive que dormir com a Renata naquele calor com mosquiTEIro... a Renata de/ tinha quantos anos?L1 uns dez nL2 a Renata se MExia:: L1 o problema no voc ter problemaL2 e voc dormiu aonde?L1 dormi no sof... na redeL2 tinha uma rede na salaL1 e o problema era os pernilongo e talL2 tinha um mosquiteiroL1 ma/ um monte de gente vinha pra l... pra C... os os primos da minha me por exemplo eram todos eles vinham e moravam aQUI... entoL2 mas aquele monte/ aquele comida so muito esquisitasL1 no so muito esquisita... a questo cultural... c/ c acostumada com frango de aougue L2 e a carne? sem refrigerao com aquele gostoL1 nossa que delicia... gosto de SANgue assim L2 mas c sabe que eu/ uma vez o lvaro explicou por que que a carne fresca a gente no ta acostumado com o gosto um gosto muito forteL1 gosto de feRROL2 por causo do pH... tem a ve com oxidao do ferro... quando voc mata/L1 por isso que a/ fica escura oxida rapidamenteL2 quando voc:: mata e resfria a carne dez graus quatro GRUASs... ::::... o gosto totalmente diferente a gente t acostumado com o gosto da carne resfriaDA... mas aquele gosto... muito/L1 e a carne fica mais () rapidamenteL2 eu no sei nem/L2 voc lembra o:::/ a cabea do BOi... no meio da rua e uns cachorro puxando a cabea do boi pum lado a cabea do boi po outro... e aquele monte de MOSca nas carne sem refrigerao no mercadoL1 por isso que vendia tudoL2 vendia tudo no mesmo/ a a sua tia tinha geladeira?L1 tinhaL2 tinha?L1 () sem recenteL2 mas voc lembra que a gente foi em julho a gente tava em/ e eu queria faze bolo de seu aniversrioL1 mas mas ()/ geladeira uma coisa reCENte... num uma coisa velha... como as famlias faziAM?L2 sei la... salgavam a carneL1 no ento... pegavam a a carne e faziam o maior... o maior pedao possvelL2 e punham na banhaL2 carne de solL1 eles chamam de/ taLHAvam a carne... pegavam o sal e espalhavam o sal na carne... e ai pegavam TUle colocavam a carne literalmente L2 eu no vi tule nenhum... era um ()L1 colocavam/L1 colocava/ pegava carne colocava no varal com prendedor mesmoL2 a sua me fazia com tuleL1 colocava o prendedor e jogava um TUle em cima e deixava baixoL2 s que l:: / l no tinha tuleL1 ai a carne seca ao sol... por isso que chamado de carne de solL2 mas l/L1 e isso garante a carne... um BOM bocadoL2 sim... a sua me fazia aqui eu lembro L1 ... que eu eu por exemplo/ eu me lembro que geladeiraL2 c tinha geladeira?L1 uma.../ no comeo no... geladeira eu fui ter eu acho quando eu tinha uns dez anos...L2 eu tambm no tinha geladeira quando era pequenaL1 uns dez onze anos L1 a gente foi ter geladeira.../ por que no tinha/ por que a a questo da refrigerao/... geladeira era ... muitoL2 na sua casa tinha vaso sanitrio?L1 tinhaL2 na minha casa no tinha... quando eu era crianaL1 s buraco no cho () PernambucoL2 no era L1 tinha vaso sanitrio e voc no tinha ()...L2 () banheiroL1 e voc no tinha/ e qual o grande problema?... dos po/ dos POos depois? por que voc tinha fossa L2 no... l era.../ quando eu morava naquela casa na vila --c lembra? at que voc foi l uma vez que a minha v morava na frente-- aquela casa meu pai comprou aquela casa s que ela tava incabada por dentro e a gente moro l um tempo sem ter vaso sanitrio era um buraco no cho ai minha me punha uma latinha de CEra e punha uma tampinha... e olha a gente demoro bem unsL1 l em casa sempre teveL2 ento c era mais rico que euL1 no:::... l s no tinha banho banheiro de bacia L2 l l era um cano L1 meu banheiro de bacia pegava a bacia enchiaL2 s que o banheiro era bem GRANde... no tinha azulejo nem nada era tudo noL1 na parede no concretoL2 na parede... e era vermeLHOL1 ... desde:: depo::isL2 s que era uma casa grandeL1 dePOis... depois que...L2 a sua casa tambm era grande... aquiL1 ah num era muito... a sala era grandeL2 L1 o quarto da minha me era grande mas o meu num eraL2 tinha dois QUARtos... a SAla ... a coZInha...L1 e tinha o quarto da minha ME a sa la do outro LAdoL2 que nem a casa da dona ( )L1 a::... meu quarto... e o nossos quartos e a cozinhaL2 e tinha um quarTInho pequenininho que a sua me costurava que depois voc::L1 e a cozinha... dePOis que fez um quart/um apndice no quarto da minha (irm)L2 L1 mas a::... as carnes... essas coisas todas... todas eram guardadas em pratos... num tinha::/e prateleiras... ainda bem se cozinhava PAra... ((bate na mesa)) a::quele momento n... no tenha... num tinha a ideia de cozinhar para o dia inteiRO... para o dia inteiro... ento c faz o almoo ( ) com sobra...L2mas sobrava?L1 sobrav no L2 sobrava (amor)L1 voc fazia poucoL2 ah... (num tinh)L1 na verdade nem podia sobrar n... que a questo do desperdcio no existiaL2 N::O... voc pode por/eles punham a banha em cima... a no estragava... por exemplo... cozinhava feijo e punha uma banha em cima assim... a carne tambm... sabia que deixava a carne na banha?L1 no... co/co/cozinhava s o necessrioL2 a minha casa l na ( )L1 tem trs pessoas? trs bifesL2 ... a minha casa l na::... na VIla... era grande... tinha um quarto... a sala... outro quarto... a cozinha... e tinha um... um::... um::/uma... uma varanda bem grande que era uma garagem... s que era toda inacabada por dentro... e a::... a... uma vez eu tava dormindo no meu quarto e o ladro entrou... porque num tinha uma janela/num tinha ferrolho na janela... a ele abriu e entrou e passou por cima de mim e minha me viu o vulto... a quando meu pai acordou ele pulou de volta e eu nem acordeiL1 aqui na... aqui em casa o grande problema era a chuva... porque como era em deCLIve... a gua batia toda embaixoL2 teve que fazer um buraco?L1 no... a tinha... c tinha que t constantemente de olho no ralo... existia uma tubulao (...)L2 nossa... era um barranco...L1 (...) que na/a na tubulao tinha que cair gua... se tivesse algum papel pra gua (em) x:::: ((simula barulho de gua)) entrava pra dentro da casa...L2 que descia na casa daquela senhora lL1 (descia) na casa daquela senhoraL2 (que era) enjoadaL1 era no... L2 ... era muito difcil n... c passou fome?L1 ah num era difcil... as coisas eram mais adaptveisL2 mas c num passou fome?!L1 no... (no)... passar fome no... meu pai era cozinheiro... era difcil passar fomeL2 ()...L1 ele trazia tudo... pudi::m... pizza... que mais que ele trazia...L2 e sua me fazia o qu?L1 asSAdo... h?L2 sua me costurava?L1 minha me costurava... (minha me) costuRAva... depois ela deu aula de corte e costura... depois ela cortava o cabelo... depois ela fazia unha... depois o que ela fazia...L2 mas eu no lembro de Osasco... naquel nessa pocaL1 eu me lembro... eu me lembroL2 eu num lembro muitoL1 eu me lembro do Largo de OSASco... o Largo de Osasco tinha uma FONte... depois eles desmancharam a fon teL2 ah... tinha mesmoL1 tinh/depois eles desmancharam a fonte... eu me lembro que nessa fonte por eXEMploL2 (onde) o:: nibus fazia a voltaL1 isso... onde o nibus fazia a volta... e nessa fonte por exemplo quando o Corinthians foi campeo em mil novecentos e sessenta e... setenta e SEte... toMAram aque/aquele largo ficou todo ele preenchido em todos os cantos... todo mundo foi pra aqueleL2 voc foi l?L1 fo/fui... fui... eu e meu pai...L2 quantos anos c tinha? ah... seu pai era vivo?L1 eraL2 ento c era bem jovem... seu pai tambm era corinthiano?L1 eraL2 hum::... ele te levou no estdio?L1 levou... eu fui ver vrios jogos no Pacaembu com eleL2 ai que legalL1 e aL2 mas voc era muito jovem... tinha onze anosL1 em setenta e sete eu tinha... no (set)L2 sessenta e trs pra se tenta e sete...L1 setenta e sete caTORze... foi ltima vez... foi... foi... a meu pai depois adoeceu depois disso... e::... e a (a gente) L2 levava o seu irmo tambm... ou s voc?L1 levava... ns amos os dois... levava no Morumbi... leva va noL2 tinha o Pacaembu?L1 tinha... o Pacaembu mais velho... e o Largo d/tinha o Largo de Osasco.... a tinha a:: Joo Batista e tinha a rua da estao e ali tinham V::rias lojasL2 e o (Cinearte)L1 ti/tinha o ciNEma... o primeiro cinema de Osasco era o GlamourL2 isso eu lembroL1 e dePO::is que veio o Estoril... l em cimaL2 voc ia no Estoril assistir?L1 ia no Estoril assistir filme... a o Glamour foi caindo n L2 que a virou s::...L1 e a o/e a o:: centro velho da cidade foi tambm se deteriorandoL2 mas c lembra ali do lado do::/do Cinearte que tinha umas lojas BEM:: anTIgas assim? de ferRAgens e bem no estilo assim do teLHAdo...L1 ... ... aquele ali o centro velho... o (mercado) ( ) essas lojas cresceram em volta do merCAdo municipal... tinha um merc/ tem um mercado...L2 ah... ainda tem o mercadoL1 tem o merc/ainda tem o mercado... mas num ( ) naquele modelo...L2 num naquele lugar?L1 no... era um mercado mais cereaLISta... ento vendia muito:: arroz... feijo... milho... aquelas coisas... hoje vende tudo... (n)... mas no merc/que do LAdo do Cinearte que era tambm...L2 ((boceja)) que era muito tradicional L1 (que) o Cinearte a seGUNda escola de Osasco... a primeira o BittencourtL2 voc estudou no BittencourtL1 no... eu estudei no CampesinaL2 mas voc num estudava no Bittencourt?L1 e depois estudei no LiberatiL2 ah ... foi LiberatiL1 estudei no LiberatiL2 mas... onde que/como que/onde que voc fez a::::... c foi no primeira srie?L1 ... na verdade eu estudei nesse colgio aqui em cima...L2 Peixoto?L1 no... no:: Independncia... a como eu no tinha seis anos completos/que eu tinh/eu era::... sou de JUlho...L2 eles no aceitaram vocL1 no... eles me aceitaram por um ms... a eles me convidaram pra sair...L2 mas por qu? c aprontou l?L1 () porque eu era um pouco assim... rebeldeL2 convidaram voc pra sair no primeiro ANo?L1 , me convidaramL2 c... que que c fez?L1 ( ) a minha me foi pro campesina... que era l:: embaixoL2e voc ia sozinho?L1 no... no/ nos dois primeiros meses eu fui com a minha tia L2 mas engraado n a genteL1 depois eu no fui maisL2 ... a gente andava sozinho... hm... assim longas distncias n?L1 deve ter uns... uns trs quilmetros daqui lL2 uns uns trs quilmetros...n? pra uma criana que... de se/ seis pra sete anos andar sozinhoL1 eu andava sozinhoL2 ... engra adoL1 eu ia com o meu p/ primeiro eu ia com a minha tia e com o meu primo e eu no gostava a eu fui sozinhoL2 os... com a sua tia:: L1 Mari caL2a que mora... ahnL1 que eu tinha ti um primo... hum eu tinha um primo mais velho... que era o humberto... ele acho que ele tava no:: terceiro ou quarto anoL2 foi ele que faleceu?L1 e tinha o meu outro meu primo Gilberto que tava no... segundo ano... e:: e/ no... tava no terceiro anoL2 o Gilberto mais velho que voc?L1 ... a tinha o Ivan que era mais novo que tava no... segundo anoL2 um ano ele deveL1e eu a/L2o Ivan mais velho que vo c tambm?L1 mais velho que eu um ano... e eu ia porque eu estava no... priMEiro anoL2 hmmL1ento a mos nsL2 vocs e a:: e a sua tia levava porque sua me ficava trabalhandoL1 levava eu Gilberto e o IvanL2e onde a sua tia morava?L1aonde ela mora ainda... embaixoL2e voc descia p sozinho l pra com ela ou ela vinha te busc?L1no eu descia l P a ia na casa dela a ela/L2e a Analice Sakatauska era uma avenida?L1 era a mesma coisaL2e voc atravessava sozimL1eu ia eu ia aven/ eu ia direto na anali::ce pegava na... a/L2 c lembra at HOje?L1 pegava a Narciso Esturli::ne e na saci... no final da Saci eu descia... direita tem uma praa... aquela praa atrs da pizzaria eu ia por ali e chegava na escolaL2 no eu sei mas quando voc ia com a sua tia voc ia at a casa delaL1 at a casa dela... daqui at a casa delaL2a ela levo s por dois meses depois cs iam sozinhosL1 a na verdade ela me levo dois meses a eu no gostei pedi pra ir sozinho e fui sozinhoL2por que c no gosto/?L1porque eu no gostava, era muita ba/ muita encrenca... muita babaguna a eu fui sozinhoL2seus primos brigavam?L1ah direto+5 segL2 a::hnL1 a eu fui sozinho... eu i:::a e voltavaL2 a l voc ficou at:: o oitavo anoL1 a meu irmo depois entrou l tambm... a eu ia e eu ia eu e meu irmoL2nessa poca voc brigava com seu irmo?L1brigava... briguei vida inteira com ele... a... eu ia com... a ns amos separados... por que que ns amos separados?... ah eu estudava de manh e ele estudava tardeL2mas por que se era uma srie s de diferena?L1porque na verdade voc... e::h... tinha... tinha que ter vaga n?...ento acho que quando ele entrou num tinha vaga... tinha vaga s tardeL2mas ele ele/L1e a ele ficava de tar deL2 quando voc tava no segundo ano ele tava no primeiro ouL1 tava no primeiro... a eu fui pra de manh e ele foi pra tarde... ele ficava tarde... ento quando eu estava i::ndo ele estava... quando eu estava voltando ele estava indoL2humL1a::L2e ele ia sozinho tambm?L1ele i::a... ele ia sozinho tambmL2hum... c lembra o nome da sua primeira professora?... eu lembroL1eu no lembroL2no... c aprontava muito... que acho que c era... a minha professora chamava ElianaL1s sei que ela batiaL2ELA BATIA?L1claro... voc apanhava na escolaL2e::u nunca apanhei na escolaL1ixi, claro que voc apanhava na escola... tinha palmaTRIAL2 s na sua escola... num ti/... na minha poca num tinha noL1claro que tinha... minha poca tinha... voc apanha::va... voc apanhava na m::oL2VOC que fazia bagunaL1apanhava na mo... c tinha uMA... a professora... as professoras tinha palmatria... era u::m... uma umaL2 n::o... no peguei essa poca noL1era uma redoma... assim re/... um negcio redondo... de madeira... geralmente pero ba... de perobaL2 de madeira?... e voc apanhava?L1 e um e um e um cabo L2 e voc j tinha...L1 e a voc... ela pegava sua mo... co/ empurrava os dedos pra baixoL2 CREdoL1 os de/ os ossos da mo ficavam salientes e a ela dava uma pancada... voc ia pro canto da sa::laL2 no... no lembro de nada dissoL1 voc ficava ajoelhado no mi::lhoL2 maGInaL1 CLA::roL2 eu s tenho boas lembranasL1 voc ficava ajoelhado no milhoL2 a:: professora Elia:: neL1 eu tambm s tenho boas lembranasL2 que voc apanhoL1 ce ficava ajoelhado no mi::lho... voc vinha pro canto da sa:: laL2 mas o QUE que voc fazia com seis pra sete anos?L1 que eu ... s vezes o que voc NO fazia n?L2 nossa mas uma criana dessa idade... humL1 ::... batia... pegava sua cabea batia contra:::: contra::... a carteiraL2 no acreditoL1 batia com a rgua na sua cabe::a... os professores tinham um... umL2 por isso que todo mundo respeitavaL1 um... tinhu::m domnio muito/L2chegava todo mundo levan tavaL1 quando os professores entravam TODO MUNDO levantavaL2 ... mas eu no lembro dis so noL1 e quando a professora sa::a... todo mundo levantavaL2 eu lembro que minha professora morava perto da minha casa e a genteL1 todo mundo levantavaL2 e ela s vezes passava na minha ca::sa conversava com a minha m::e no lembro sL1 quando a prof/L2 dela bater em ningumL1e ningum falava sem erguer a mo... tinha que erguer a mo e esperar a vez de falarL2 mas... que ano que era isso... n?L1 se... TEN::taL2 era::... setentaL1 no... setentaL2 ((clique)) tst... e voc tinha que cantar o hino nacional? todo dia?L1 todo santo diaL2 de fazer fila e cantar o hino nacionalL1 faz fi::la... ser revista::do... a... a diretora passava a fila em revi::sta... pra conferir se o/L2 por que que voc trazia coisa p/L1 pra conferir se o seu uniforme estava adequado com a esco:: laL2 c lembra o nome da::... da diretora?L1 lembro... Maria BatalhonaL2 ((risos))