atendimento prÉ-hospitalarlivros01.livrosgratis.com.br/cp134188.pdf · aos colegas da turma do...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO BIOMÉDICO
FACULDADE DE ENFERMAGEM
COORDENAÇÃO DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE MESTRADO
ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR:
A ENFERMAGEM E A EXPOSIÇÃO AO RISCO BIOLÓGICO
RIO DE JANEIRO
2006
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR:
A ENFERMAGEM E A EXPOSIÇÃO AO RISCO BIOLÓGICO
DENISE REGO DE SÁ VIANA
Dissertação apresentada ao
Programa de Mestrado da
Faculdade de Enfermagem da
Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, como requisito para a
obtenção do título de Mestre em
Enfermagem.
ORIENTADORA: PROFª DR.ª GERTRUDES TEIXEIRA LOPES
Rio de Janeiro
2006
CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/CBB
V662 Viana, Denise Rego de Sá
Atendimento pré-hospitalar: a enfermagem e a exposição ao risco biológico / Denise Rego de Sá Viana. - 2006. 114 f. Orientador: Gertrudes Teixeira Lopes. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem. 1. Enfermagem em emergência – Recursos humanos. 2. Enfermagem Ocupacional. 3. Exposição ocupacional. 4. Riscos ocupacionais. I. Lopes, Gertrudes Teixeira. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Enfermagem. III. Título.
CDU 614.253.5
ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR:
A ENFERMAGEM E A EXPOSIÇÃO AO RISCO BIOLÓGICO
Por
DENISE REGO DE SÁ VIANA
Banca Examinadora
...............................................................................
Profª. Dr.ª Gertrudes Teixeira Lopes Presidente
.............................................................................. Profª. Dr.ª Lucia Helena Silva Correa Lourenço
1ª Examinadora – UFRJ
............................................................................ Profª. Dr.ª Lolita Dopico da Silva
2ª Examinadora – UERJ
.......................................................................... Profª. Dr.ª Maria da Luz Barbosa Gomes
Suplente – UFRJ
.............................................................................. Profª. Dr.ª Maria Madalena de Andrade Santiago
Suplente – UERJ
Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 2006
DEDICATÓRIA
A todos os profissionais da saúde que dignificam o seu trabalho, em particular
àqueles que dedicam parte de suas vidas ao serviço público, a despeito de toda
precariedade e desvalorização que insistem em prevalecer nesses serviços. Profissionais
que ainda conseguem prestar atendimento e conforto ao usuário, onde, na maioria das
vezes, a forma sobre-humana de trabalho de exceção vira regra – Há muito que
deixaram de ser anjos para serem heróis!
AGRADECIMENTOS
À minha família, pelo amor, compreensão e apoio em todos os momentos da
minha vida.
À Profª Drª Gertrudes Teixeira Lopes que mais do que orientar o estudo com
dedicação, deu-me uma lição de vida ao mostrar-me o verdadeiro significado da palavra
resiliência.
Ao Comando e aos profissionais do Grupamento de Socorro de Emergência do
Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, por contribuírem com o
estudo.
À Coordenação de Ensino de Pós-graduação Programa de Mestrado da
Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Aos Professores do Programa de Mestrado da Faculdade de Enfermagem da
UERJ.
Aos Doutores e Mestres que compuseram as bancas de todas as etapas do
processo desta Dissertação, todos extremamente gentis e cujas observações,
indiscutivelmente, agregaram valor ao estudo.
Aos funcionários do Programa de Mestrado da Faculdade de Enfermagem da
UERJ, Renan e Fabíola, pela paciência e gentileza de sempre.
Aos colegas da turma do Curso de Mestrado dos anos de 2004/2005.
Às enfermeiras Máuria C. Viegas, Rosemary V. Pinto e Sheila G. C. Silva, pelo
apóio e amizade em todos os momentos.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
A Aproximação ao Objeto do Estudo Objeto do Estudo Objetivos Estrutura do Estudo
14 14 21 21 22
CAPÍTULO 1 – REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO 1.1. Base Teórico-Conceitual 1.2. Revisão de Literatura
1.2.1. Atendimento Pré-Hospitalar no Brasil 1.2.2. Risco Ocupacional 1.2.3. Risco Biológico 1.2.4. Biossegurança
1.3. Desenho da Pesquisa
23 23 27 27 29 33 41 47
CAPÍTULO 2 – PERCEPÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE E DAS CONSEQÜÊNCIAS DO RISCO BIOLÓGICO
55
CAPÍTULO 3 – PERCEPÇÃO DOS BENEFÍCIOS NA UTILIZAÇÃO DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
70
CAPÍTULO 4 – PERCEPÇÃO DAS BARREIRAS À ADOÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL
80
CONSIDERAÇÕES FINAIS Sugestões
90 96
REFERÊNCIAS
97
APÊNDICES A - Carta ao Comitê de Ética B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido C - Carta de Autorização à Instituição D - Instrumento da Entrevista
103 104 105 106 107
ANEXOS 1 - CAT – Comunicado de Acidente de Trabalho (fac simile) 2 - Ficha de Investigação de Acidente de Trabalho com Exposição a
Material Biológico (fac simile) 3 - Resposta do Comitê de Ética 4 - Autorização da Instituição
108 109 110 113 114
VIANA, Denise Rego de Sá. Atendimento pré-hospitalar: a enfermagem e a exposição ao risco biológico. 114 f. Dissertação/ Mestrado em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2006.
RESUMO
O presente estudo aborda o tema biossegurança no atendimento pré-
hospitalar e tem como objeto o comportamento preventivo adotado pelos
profissionais de enfermagem diante da exposição a material biológico no
atendimento pré-hospitalar. O objetivo geral foi avaliar o profissional de
enfermagem de nível médio quanto à adoção de comportamento preventivo em
relação ao material biológico no atendimento às vítimas. Derivaram-se como
objetivos específicos: analisar a percepção que o profissional de enfermagem
tem da sua exposição ao risco biológico e de suas conseqüências; analisar a
percepção dos profissionais de enfermagem acerca dos benefícios na utilização
das medidas de segurança em relação ao risco biológico; e discutir o
comportamento preventivo adotado pelo profissional no Atendimento Pré-
Hospitalar em relação ao risco biológico. O estudo se apropriou do
Comportamento Preventivo em Saúde sob a perspectiva do Modelo de Crenças
em Saúde de Rosenstock (1974) como referencial teórico. Este modelo avalia o
comportamento preventivo de indivíduos frente a uma condição de risco, onde,
a adoção de um comportamento preventivo depende das seguintes dimensões
básicas: susceptibilidade percebida (os riscos subjetivos de contrair uma
doença), severidade percebida, benefícios percebidos (crença na efetivação da
ação) e barreiras percebidas (aspectos conflitantes para a prevenção). Trata-se
de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa. O cenário da pesquisa foi
o serviço de Atendimento Pré-Hospitalar do Grupamento de Socorro de
Emergência do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro. Os
sujeitos foram os profissionais de enfermagem de nível médio, que são militares
integrantes das unidades móveis dos socorros básicos e avançados, em
atendimento na cidade do Rio de Janeiro. Para a coleta de dados foi adotada a
entrevista semi-estruturada, orientada por roteiro. A análise dos dados da
entrevista semi-estruturada foi baseada na Análise de Conteúdo, preconizada
por Bardin (1977). Os resultados fundamentados no pressuposto do referencial
teórico do Modelo de Crenças em Saúde evidenciaram três categorias:
Percepção da Susceptibilidade e das Conseqüências do Risco Biológico, com a
Subcategoria – Percepção da Susceptibilidade ao Risco Biológico e a
Subcategoria – Percepção da Conseqüência de Exposição a Material Biológico;
Categoria Percepção dos Benefícios na Utilização das Medidas de Proteção e
Categoria Percepção das Barreiras à Adoção dos EPI. As variáveis
susceptibilidade e severidade percebidas, benefícios percebidos e barreiras
percebidas, foram de certa forma atendidas. Entretanto, como as decisões
quanto às condutas diante de situações de risco são mediadas pelo equilíbrio
gerado entre essas variáveis e, tendo sido evidenciado certo desequilíbrio entre
estas, gerado principalmente pela variável barreiras percebidas, o estudo leva a
crer que a adesão aos equipamentos de proteção individual (EPI) por estes
trabalhadores, perpassaria por uma necessária formação de cultura, o que pôde
ser evidenciado na plena adesão às luvas pelos profissionais da saúde. Prática
reforçada após o advento da AIDS e que não ocorre com os demais
equipamentos. Os resultados do estudo evidenciaram que o profissional
consegue identificar no seu ambiente de trabalho as possíveis formas de
contato com o agente biológico e associa-las à possibilidade de ser acometido
pelo contágio de diferentes agentes patogênicos. Embora o profissional de
enfermagem do APH tenha desenvolvido a percepção da sua exposição ao
risco biológico e das possíveis conseqüências advindas desta exposição e que
esta condição pode ser prevenida por medidas de biossegurança, ainda existe
uma distância considerável entre o conhecimento que estes profissionais
demonstraram possuir e as ações que deveriam realizar no dia a dia. Com o
estudo confirmaram-se falhas nas práticas preventivas adotadas pelos técnicos
e auxiliares de enfermagem na exposição ao material biológico no atendimento
pré-hospitalar, condição esta que implica em riscos à saúde desta população,
necessitando principalmente de ações reformuladoras por parte da instituição
que abriga estes trabalhadores.
VIANA, Denise Rego de Sá. Prehospitalar setting: the nursing and the exposition to the biological risk. 114 f. Dissertação/ Mestrado em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2006.
ABSTRACT
The present study it approaches the subject biossegurança in the
Prehospitalar setting and has as object the preventive behavior adopted by the
professionals of nursing ahead of the exposition the biological material in the
Prehospitalar setting. The general objective was to evaluate the professional of
nursing of average level how much to the adoption of preventive behavior in
relation to the biological material in the attendance to the victims. They had been
derived as objective specific: to analyze the perception that the nursing
professional has of its exposition to the biological risk and of its consequences;
to analyze the perception of the professionals of nursing concerning the benefits
in the use of the measures of security in relation to the biological risk; e to argue
the preventive behavior adopted by the professional in the Prehospitalar setting
in relation to the biological risk. The study if it appropriated of the Preventive
Behavior in Health under the perspective of the Model of Beliefs in Health of
Rosenstock (1974) as theoretical referential. This model evaluates the
preventive behavior of individuals front to a risk condition, where, the adoption of
a preventive behavior depends on the following basic dimensions: perceived
susceptibility (the subjective risks to contract an illness), perceived severity,
perceived benefits (belief in the efficiency of the action) and perceived barriers
(conflicting aspects for the prevention). One is about a descriptive study, with
qualitative boarding. The scene of the research was the service of prehospitalar
setting of the Grupamento de Socorro de Emergência of the Corpo de
Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro. The citizens had been the
professionals of nursing of average level, who are integrant military of the mobile
units of the basic and advanced emergency, in attendance in the city of Rio de
Janeiro. For the collection of data the half-structuralized interview was adopted,
guided for script. The analysis of the data of the half-structuralized interview was
based on the Analysis of Content, praised for Bardin (1977). The results based
on the estimated one of the theoretical referential of the Model of Beliefs in
Health had evidenced three categories: Perception of the Susceptibility and the
Consequences of the Biological Risk, with the - Perception of the Susceptibility
to the Biological Risk and the - Perception of the Consequence of Exposition the
Biological Material; Category Perception of the Benefits in the Use of the
Measures of Protection and Category Perception of the Barriers to the Adoption
of the equipment of individual protection. The variable Susceptibility and severity
perceived, perceived benefits e perceived barriers, had been of certain form
taken care of. However, as the decisions how much to the behaviors ahead of
risk situations they are mediated by the balance generated between these
variable and, having been evidenced certain disequilibrium between these,
mainly generated for the variable perceived barriers, the study lead to believe
that the adhesion to the equipment of individual protection (EIP) for these
workers, would depended upon a necessary formation of culture, what it could
be evidenced in the full adhesion to the gloves for the professionals of the
health. Practical after strengthened the advent of the AIDS and that it does not
occur with the too much equipment. The results of the study had evidenced that
the professional obtains to identify in its environment of work the possible forms
of contact with the biological agent and associates them it the possibility of being
infects it of different pathogenic agents. Although the professional of nursing of
the APH has developed the perception of its exposition to the biological risk and
of the possible happened consequences of this exposition and that this condition
can be prevented by measures of biossegurança, still exists a considerable
distance between the knowledge that these professionals had demonstrated to
possess and the actions that would have to carry through in the day the day.
With the study imperfections in the practical preventive adopted for the
technician and nurse aid in the exposition to the biological material in the
prehospitalar setting had been confirmed, condition this that implies in risks to
the health of this population, needing reformuladoras actions on the part of the
institution mainly that shelters these workers.
VIANA, Denise Rego de Sá. Participation pré-hospitalar: la métier d'infirmier et l'exposition au risque biologique. 114 f. Dissertation. Mestrado em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2006.
RÉSUMÉE
Présente étude il aborde le sujet biossegurança dans la participation pré-
hospitalar et a comme objet le comportement préventif adopté par les
professionnels de métier d'infirmier devant l'exposition à matériel biologique
dans la participation pré-hospitalar. L'objectif général a été évaluer le
professionnel de métier d'infirmier de niveau moyen combien à l'adoption de
comportement préventif concernant le matériel biologique dans la participation
aux victimes. Ils se sont dérivés mange des objectifs spécifiques : analyser la
perception que le professionnel de métier d'infirmier a de son exposition au
risque biologique et de leurs conséquences; analyser la perception des
professionnels de métier d'infirmier concernant les bénéfices dans l'utilisation
des mesures de sécurité concernant le risque biologique; et discuter le
comportement préventif adopté par le professionnel à la Participation Pré-
Hospitalar concernant le risque biologique. L'étude il s'est approprié de
Comportement Préventif dans Santé sous la perspective du Modèle de
Croyances dans Santé de Rosenstock (1974) je mange du référentiel théorique.
Ce modèle évalue le comportement préventif de personnes devant à une
condition de risque, où, l'adoption d'un comportement préventif dépend des
suivantes dimensions basiques : susceptibilité perçue (les risques subjectifs de
contracter une maladie), sévérité perçue, bénéfices perçus (croyance dans
l'efetivação de l'action) et barrières perçues (aspects conflictuels pour la
prévention). Il s'agit d'une étude descriptive, avec abordage qualitatif. Le
scénario de la recherche a été le service de Participation Pré-Hospitalar du
Grupamento de Socorro de Emergência do Corpo de Bombeiros Militar do
Estado do Rio de Janeiro. Les sujets ont été les professionnels de métier
d'infirmier de niveau moyen, que ce sont des militaires intégrants des unités
mobiles des aides basiques et avancées, dans participation dans la ville de Rio
de Janeiro. Pour il rassemble de données est adopté l'entrevue semi-
estruturada, guidée par manuscrit. L'analyse des données de l'entrevue semi-
estruturada a été basée sur l'Analyse de Contenu, faite l'éloge par Bardin
(1977). Les résultats basés dans le présupposition du référentiel théorique du
Modèle de Croyances dans Santé ont prouvé trois catégories : Perception de la
Susceptibilité et des Conséquences du Risque Biologique, avec la Subcatégorie
- Perception de la Susceptibilité au Risque Biologique et la Subcatégorie -
Perception de la Conséquence d'Exposition à Matériel Biologique ; Catégorie
Perception des Bénéfices dans l'Utilisation des Mesures de Protection et
Catégorie Perception des Barrières à l'Adoption d'EPI. Les variables
susceptibilité et sévérité perçues, bénéfices perçus et barrières perçues, ont été
de certain se forme faites attention. Néanmoins, comme les décisions combien
aux conduites devant situations de risque ils sont négociés par l'équilibre produit
entre ces variables et, en ayant été prouvé correctement déséquilibre entre
celles-ci, produit principalement par la variable des barrières perçues, l'étude il
porte à croire que l'adhésion aux équipements de protection individuelle (EPI)
par ces travailleurs, perpassaria par une nécessaire formation de culture, ce qui
a pu être prouvé dans la complète adhésion aux gants par les professionnels de
la santé. Pratique renforcée après l'avènement du sida et qu'il ne se produit pas
avec les autres équipements. Les résultats de l'étude ont prouvé que le
professionnel réussit à identifier dans son environnement de travail les possibles
formes de contact avec l'agent biologique et les associe à la possibilité d'être
attaquée par la contagion de différents agents pathogènes. Bien que le
professionnel de métier d'infirmier de APH ait développé la perception de son
exposition au risque biologique et de possibles conséquences arrivées de cette
exposition et que cette condition peut être empêchée par des mesures de
biossegurança, encore existe une distance considérable entre la connaissance
que ces professionnels ont démontré posséder et les actions qui devraient
réaliser dans le quotidien. Avec l'étude se sont confirmées des imperfections
dans les pratiques préventives adoptées par les techniciens et les assistants de
métier d'infirmier à l'exposition au matériel biologique dans la participation pré-
hospitalar, condition qui implique dans des risques à la santé de cette
population, en ayant besoin principalement d'actions reformuladoras de la part
de l'institution qui abrite ces travailleurs.
“Pode-se viver no mundo uma
vida magnífica quando se sabe
trabalhar pelo que se ama e amar
aquilo em que se trabalha”.
Tolstoi
14
INTRODUÇÃO
A Aproximação ao Objeto do Estudo
Esta aproximação deu-se com o meu ingresso no Atendimento Pré-
Hospitalar (APH) móvel de uma instituição pública do Rio de Janeiro, onde
aproximadamente 65%1 do total dos atendimentos realizados destinam-se às
vítimas de eventos traumáticos, havendo um esforço voltado para desenvolver
ações assistenciais rápidas e eficazes, como a manutenção das funções vitais e
a remoção de forma adequada dessas vítimas para uma unidade hospitalar,
visando reduzir-lhes o sofrimento, as seqüelas ou mesmo a morte.
O Serviço de Atendimento Pré-Hospitalar móvel é uma atribuição da área
da saúde cuja finalidade é chegar precocemente à vítima, após ter ocorrido um
agravo à sua saúde, seja de natureza clínica, cirúrgica, traumática ou
psiquiátrica a fim de prestar-lhe atendimento e/ou transporte adequado a um
serviço de saúde devidamente integrado e hierarquizado ao Sistema Único de
Saúde (SUS). Este serviço deve estar vinculado a uma Central de Regulação
de Urgências e Emergências, cabendo ao médico regulador julgar cada caso e
definir a resposta apropriada, seja um conselho médico, o envio de uma equipe
de atendimento ao local da ocorrência, ou ainda, o acionamento de múltiplos
meios. O atendimento no local deve ser monitorado via rádio pelo médico
regulador a fim de que ele possa orientar a equipe de intervenção quanto aos
procedimentos necessários à condução do caso. Para esta modalidade de
atendimento, é imprescindível a existência de uma rede de comunicação entre
1 Fonte: Seção de Estatística do Grupamento de Socorro de Emergência.
15
a Central de Regulação, as ambulâncias e todos os serviços que recebem os
pacientes (BRASIL, 2002).
A equipe profissional dos Serviços de Atendimento Pré-Hospitalar móvel
é composta por profissionais de saúde; todavia, a precariedade e a insuficiência
da formação específica para atuação nesta área, torna necessário que todos
busquem alcançar a capacitação e a habilitação indispensáveis ao atendimento
das situações de urgência / emergência (BRASIL, 2002).
Neste contexto de trabalho estou inserida há treze anos, tenho exercido
atividades assistenciais e gerenciais, sendo que nas assistenciais, durante o
atendimento pré-hospitalar, deparei-me freqüentemente com a possibilidade de
exposição a material biológico.
Nesse sentido, o Protocolo de Exposição a Materiais Biológicos do
Ministério da Saúde, Brasil (2005) considera como exposição a material
biológico aquela de cunho ocupacional que envolva sangue, fluídos orgânicos
potencialmente infectantes (sêmen, secreção vaginal, líquor, líquido sinovial,
peritoneal, pericárdico e amniótico), fluídos orgânicos potencialmente não
infectantes (suor, lágrima, fezes, urina e saliva), exceto se contaminado com
sangue; que implicam em sério risco para os profissionais da área da saúde nos
seus locais de trabalho. Além destes riscos, devem ser também considerados
os físicos, químicos, ergonômicos e cognitivos aos quais estão expostos os
profissionais da saúde no respectivo ambiente laboral.
Esta situação fez-me refletir sobre diferentes questões a respeito, e
indagar: como os profissionais de nível médio percebiam a possibilidade de
exposição a material biológico, e se percebiam, como se comportavam a
respeito? Em outras palavras: considerando a formação de cada um, em
16
diferentes instituições de ensino, teriam eles a correta percepção da gravidade
deste problema?
Em circunstância de trabalho, a partir do levantamento dos acidentes 2
com material biológico entre técnicos e auxiliares de enfermagem, verifiquei
que havia um número reduzido de notificações, se comparado ao descrito na
literatura. Tal fato fez-me retomar os questionamentos anteriores: estaria
claro para aqueles profissionais o real significado da exposição a material
biológico no ambiente laboral?
Apesar de todos os riscos, alguns estudos demonstram que
aproximadamente 50% das exposições a material biológico são sub-
notificadas (BRASIL, 2005). Queiroz (1998) pode comprovar que nos casos
de exposição com material biológico que não acarretam lesão corporal ou
perturbação funcional significantes, como as contaminações de lesões
preexistentes de pele, os respingos em mucosas ou o rompimento de luvas,
são erradamente entendidos como acidentes sem importância, ficando a sua
notificação comprometida. Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2003), a
gravidade do acidente está diretamente relacionada com o tipo de exposição
e com o material biológico envolvido. Assim, considera-se exposição com
risco as seguintes: percutânea; de mucosa; de pele comprometida por lesão,
dermatite ou ferida aberta; ou de pele íntegra, envolvendo exposição com
volume elevado de material biológico em contato prolongado e de superfície
extensa da pele exposta.
2 Estudo realizado em 2002, por Denise Rego de Sá Viana.
17
Assim, o risco presente no ambiente ocupacional pode ser
interpretado como sendo a quantificação da vulnerabilidade do trabalhador3
exposto a determinado agente, expressando-se na capacidade de causar
danos à sua saúde. Todavia, no que se refere ao agente, para determinar a
sua natureza, concentração ou intensidade, assim como o tempo de
exposição do trabalhador, torna-se indispensável à quantificação desta
vulnerabilidade (BRASIL / NR-9, 1978).
Ademais, considerar os agentes nocivos isoladamente, não levará à
compreensão no desenvolvimento de certos danos que estariam
relacionados à multifatoriedade, quando se deve levar em conta o modelo
epidemiológico multicausal (LAURELL, NORIEGA, 1989).
Dentre os riscos ocupacionais, a exposição aos agentes biológicos é o
mais comum a que o profissional da área de saúde está sujeito (MASTROENI,
2004), podendo ocorrer tanto por contato direto como indireto, seja por vetor
biológico ou mecânico, ou ainda, pelo ar. Vendrame (2001) complementa
esclarecendo que um agente biológico pode atingir o organismo por inalação,
ingestão ou penetração através da pele, e ainda por contato com as mucosas
dos olhos, nariz e boca.
Dentre os profissionais da área de saúde, os auxiliares e técnicos de
enfermagem dos serviços pré-hospitalares acham-se em condição ímpar, pois,
diferentemente dos profissionais da área hospitalar, eles atuam em via pública,
atendendo a eventos decorrentes de causas externas (acidentes, violência
interpessoal, causas clínicas). Assim, seu trabalho não fica restrito às ações
rotineiras de assistência à saúde. Eles também executam procedimentos
3 Nota: no estudo, trabalhador refere-se à atuação em qualquer área ocupacional.
18
realizados normalmente por bombeiros militares, como a manobra de
extricação4. Além disso, existe a condição de emergência que norteia todo
atendimento.
Estas peculiaridades caracterizam o ambiente do APH onde, por mais
que as circunstâncias dos atendimentos se assemelhem, sempre existirão
novos e diferentes fatores com os quais não se contava. Em um ambiente de
trabalho com estas características, os profissionais que aí exercem as suas
atividades estão sujeitos, de forma distinta a diferentes riscos ocupacionais,
dentre os quais o biológico, que merece atenção especial pelos seguintes
motivos: as atividades do APH implicam na possibilidade de exposição aos
agentes biológicos pertencentes aos vários grupos (BRASIL / NR-15, 1978); o
perfil epidemiológico das vítimas atendidas é desconhecido; os profissionais de
serviços de emergência constituem um grupo de alto risco, a partir da
freqüência e intensidade no contato com materiais biológicos (SCHNEIDER,
1996).
Os profissionais de enfermagem são os mais sujeitos à exposição, como
comprovam os dados epidemiológicos da Secretaria Municipal de Saúde do Rio
de Janeiro, tanto que no período de 1997 a 2000, dos 6.700 casos notificados
de acidentes com material biológico envolvendo profissionais de saúde nesta
cidade, 42% ocorreram com auxiliares e técnicos de enfermagem (SMS-RJ
2001), o que talvez se justifique por estarem em maior número nas instituições
de assistência à saúde ou serem os que estabelecem contato mais próximo no
cuidado ao paciente.
4 Manobra que visa remover de forma segura uma vítima de um local do qual ela não possa, ou não deva,
sair por meios próprios.
19
Estudo realizado por Viana (2003) identificou que entre os acidentes com
material biológico notificados pelos profissionais do APH em questão, o sangue
foi o material biológico responsável por 100% das exposições, e a mucosa foi a
parte mais atingida (56%); o atendimento à vítima sangrando predominou como
situação que causou a exposição ao material biológico (56%); o perfil dos
expostos foi constituído de pessoas jovens, entre 20 e 30 anos de idade (89%);
dentre os acidentados, 44% apresentavam o esquema vacinal completo para
hepatite B; e 78% dos acidentados eram profissionais da enfermagem.
Sabe-se que na exposição a material biológico, os trabalhadores estão
sujeitos ao contato com agentes de doenças infecciosas e parasitárias. Estes
agentes podem infectá-los e levá-los ao adoecimento ou à condição de
portador assintomático. O Ministério da Saúde elencou as seguintes doenças,
que podem estar relacionadas a agentes ou fatores de risco de natureza
ocupacional: tuberculose, carbúnculo (antraz), brucelose, leptospirose, tétano,
psitacose, ornitose, doença dos tratadores de aves, dengue (dengue clássico),
febre amarela, hepatites virais, doença pelo vírus da imunodeficiência humana
(HIV), dermatofitose e outras micoses superficiais, candidíase,
paracoccidioidomicose (blastomicose sul-americana, blastomicose brasileira,
Doença de Lutz), malária e a leishmaniose cutânea ou leishmaniose cutâneo-
mucosa (BRASIL, 1999).
O crescimento da incidência de algumas doenças como tuberculose,
hepatite B e a infecção por HIV em trabalhadores da saúde, vem sugerindo a
necessidade do aumento de ações preventivas. Na prevenção de doenças
infecciosas e parasitárias relacionadas ao trabalho é fundamental que os
envolvidos tenham uma percepção sobre suas tarefas, a saúde e as normas e
20
regulamentos vigentes envolvendo biossegurança (BRASIL / OPAS, 2001).
A adoção de comportamento preventivo pelo trabalhador, diante do risco
biológico presente em seu cotidiano, somente acontecerá se houver ação
conjunta entre empregado e empregador. Dependerá, então, do nível de
percepção do primeiro quanto ao risco e a incorporação de atitudes que
eliminem ou reduzam a exposição ao risco, e no empenho do segundo em não
limitar suas ações ao atendimento das exigências legais. Dentre as ações
preventivas, que devem ser adotadas pelo trabalhador e apoiadas pela
instituição, destacam-se as medidas de biossegurança ou segurança biológica.
Trata-se de um conjunto de medidas que se baseiam no conhecimento, nas
técnicas e nos equipamentos, com o fim de prevenir a exposição do
trabalhador, do laboratório e do ambiente a agentes potencialmente infecciosos
(MASTROENI, 2004).
O comportamento preventivo em saúde somente será adotado pelo
trabalhador submetido a risco biológico, se houver a conjugação dos seguintes
fatores: percepção pelo trabalhador da ameaça à sua saúde na exposição a
material biológico; reconhecimento do equipamento de proteção individual (EPI)
e do equipamento conjugado de proteção individual (ECPI) como elementos
fundamentais na redução da ameaça; disponibilidade dos EPI e dos ECPI; e
incorporação desses elementos no dia-a-dia, mesmo que causem algum
desconforto ao serem utilizados.
A compreensão do comportamento adotado por indivíduos submetidos à
condição de risco em atividades laborativas é fundamental para a elaboração e
implementação de programas de prevenção, visando a proteção e a redução
dos agravos à saúde deste trabalhador.
21
A partir da problematização, definiu-se como objeto do estudo: o
comportamento preventivo adotado pelos profissionais de enfermagem de nível
médio diante da exposição a material biológico no atendimento pré-hospitalar.
O estudo visou atender aos seguintes objetivos:
Geral: Avaliar o comportamento preventivo do profissional de
enfermagem de nível médio em relação ao material biológico no atendimento
pré-hospitalar prestado às vítimas de eventos traumáticos.
Específicos:
1. Identificar a percepção do profissional de enfermagem de nível médio
em relação à possibilidade de risco biológico durante o atendimento
pré-hospitalar;
2. Analisar a percepção do profissional de enfermagem de nível médio
quanto aos benefícios decorrentes da adoção de medidas preventivas
de segurança em relação ao risco biológico durante o atendimento
pré-hospitalar;
3. Discutir o comportamento preventivo do profissional de enfermagem
de nível médio em relação à possibilidade de risco biológico durante o
atendimento pré-hospitalar.
Pretende-se que os resultados do estudo: a) contribuam tanto para o
desenvolvimento dos profissionais já inseridos no APH, quanto para os que
pretendem fazê-lo, pela reflexão crítica a respeito de como os profissionais de
enfermagem estão exercendo suas tarefas no dia-a-dia e se prevenindo em
relação aos riscos biológicos a que estão submetidos, considerando o previsto
na Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e
Violências (BRASIL, 2001); b) estimulem a realização de novas pesquisas
22
científicas numa área de atuação ainda pouco estudada no Brasil, assim
contribuindo para a saúde do trabalhador ao preencher lacunas de
conhecimento sobre a temática e agregar conhecimentos que venham a
diminuir os riscos no APH.
Estrutura do Estudo
Para atender ao proposto no estudo, foram elaborados quatro Capítulos:
Capítulo 1 - o referencial teórico-metodológico descreve os conceitos
utilizados para discutir e apoiar os resultados da pesquisa, além do caminho
metodológico percorrido pela autora para desenvolvê-la. Apresenta-se,
também, uma suscinta revisão de literatura que dá ênfase ao atendimento pré-
hospitalar no Brasil, enfocando os riscos à saúde decorrentes do processo de
trabalho dos profissionais de enfermagem.
Capítulo 2 - aborda a percepção dos profissionais de enfermagem
acerca das possibilidades e formas de exposição ao risco biológico e a
gravidade ou severidade decorrente desta condição.
Capítulo 3 - trata do conhecimento que o profissional de enfermagem
dispõe acerca da possibilidade de exposição a riscos biológicos e de como esta
condição pode ser prevenida por medidas de biossegurança.
Capítulo 4 - enfoca a percepção dos profissionais de enfermagem em
relação aos fatores que interferem ou impedem o uso cotidiano de
equipamentos de proteção e/ou impedem a utilização rotineira dos mesmos.
23
CAPÍTULO 1
REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
1.1. Base Teórico-Conceitual
O estudo teve como base teórica o conceito de Comportamento
Preventivo em Saúde, definido por Pender (1975) como ações individuais ou
coletivas, executadas voluntariamente pelo indivíduo em estado assintomático
em relação a uma doença específica, com o objetivo de minimizar o potencial
de ameaça percebido em relação à mesma, dividindo-se em tomada de decisão
e ação.
Segundo Katalski (1977), o Comportamento Preventivo em Saúde é
qualquer atitude adotada por uma pessoa que se acredita saudável, com o
propósito de prevenir doenças ou detectá-las num estado assintomático. Para
Candeias e Marcondes (1979), é um processo seqüencial que se efetiva em
cinco fases: aquisição de conhecimento correto; formação de atitude favorável à
adoção de uma determinada prática em saúde; avaliação da situação,
considerando que a mesma é formada:
a) pelas normas sociais e padrões culturais favoráveis ao objeto;
b) pelos apoios estruturais e seus impactos sobre o comportamento do
indivíduo; e
c) pela coerção social; aceitação das práticas de saúde identificadas
como adequadas; adoção das práticas de saúde.
Alguns modelos psicológicos interpretam a adoção ou não dessas
práticas preventivas a partir das relações estabelecidas entre modo de agir e
crenças pessoais. De acordo com estes modelos, para o indivíduo que se
24
encontra em determinada situação de risco, adotar uma atitude preventiva
significa assumir mudanças comportamentais frente ao risco (JANZ e BECKER,
1984).
O uso de bases teóricas e de modelos conceituais, técnicos ou
operativos, é um dos fatores que melhoram significativamente as probabilidades
de êxito das investigações e intervenções na saúde pública em geral. Neste
aspecto, têm sido especialmente relevantes os aportes teórico-conceituais
originados nas áreas comportamentais e psicossociais, ao determinarem os
modelos de cognição social para estudar e intervir na mudança de
comportamentos relacionados com a saúde. Nesta perspectiva conceitual, as
crenças em saúde reiteradamente aparecem como aporte da maioria das
propostas descritas na literatura. Assim, o Modelo de Crenças em Saúde é
considerado como um dos mais influentes dentre os aplicados nos estudos e
intervenções dos comportamentos individuais com efeitos na saúde.
Entre os modelos utilizados na área específica dos comportamentos
direcionados à saúde, optou-se pelo referencial do Health Belief Model (HBM)
de Rosenstock (1974), referido aqui como Modelo de Crenças em Saúde de
Rosenstock, para melhor compreender a adoção deste comportamento pelos
auxiliares e técnicos de enfermagem, diante da exposição a material biológico
no atendimento pré-hospitalar. A eleição deste modelo como referencial teórico
deveu-se ao fato de ter sido ele desenvolvido para entender a busca de
mecanismos de prevenção de doença, segundo opinião de Janz & Becker
(1984).
De acordo com os autores citados (Op.cit.), o modelo é útil para explicar
condutas individuais, mas não para prevê-las, uma vez que foi desenvolvido
25
para entender a busca de mecanismos de prevenção de doença.
Segundo Johnston (1991) o Modelo de Crenças em Saúde propõe-se a
explicar o comportamento do indivíduo quanto à prevenção de doenças a partir
da compreensão do que o leva a adotar medidas preventivas, dos motivos
capazes de causar retardo na busca de auxílio médico, e dos motivos que o
fazem assumir e seguir as orientações transmitidas pelo profissional.
O Modelo de Crenças em Saúde, segundo Rosenstock (1974),
pressupõe três grupos de comportamentos fundamentais: comportamento na
saúde; frente ao sintoma e na doença. O modelo é composto por quatro
dimensões básicas: susceptibilidade percebida, severidade percebida,
benefícios percebidos e barreiras percebidas.
De acordo com o modelo proposto, a adoção de comportamento
preventivo em saúde pelo profissional, dependerá deste considerar ser
vulnerável à exposição a material biológico contaminado e acreditar que, ao se
expor, poderá contaminar-se (Percepção de Suscetibilidade); ser capaz de
estabelecer associação entre contaminar-se com agente biológico e tornar-se
portador assintomático ou adoecer, percebendo que esta contaminação pode
ter sérias consequências (Percepção de Severidade); acreditar que a exposição
a material biológico pode ser prevenida por medidas de biossegurança
(Percepção de Benefícios); e do profissional avaliar essas medidas em função
dos seus aspectos negativos, tais como impedimentos, obstáculos, desconforto
e gastos financeiros, dentre outros (Percepção de Barreiras).
Para Rosenstock (1974) o comportamento preventivo de um indivíduo
em relação a uma ameaça à sua saúde, é dependente dessas quatro variáveis,
sendo que as decisões quanto a condutas de risco são mediadas pelo equilíbrio
26
gerado entre elas.
O modelo foi aplicado para avaliar o atendimento das quatro dimensões
básicas no comportamento preventivo assumido pelo profissional de
enfermagem no atendimento pré-hospitalar, frente ao risco biológico decorrente
do seu processo de trabalho.
Quadro 1 - Diretrizes Teóricas Orientadoras do Estudo
PERCEPÇÕES FATORES PROBABILIDADE INDIVIDUAIS MODIFICADORES DE AÇÃO
Fonte: Baseada no Modelo de Crenças em Saúde de Rosenstock (LESCURA, MAMEDE, 1990)
• Variáveis demográficas (idade, sexo, raça,
etnicidade, etc.)
• Variáveis sócio-psicológicas
(personalidade, classe social, pares ou
pressão do grupo de referência, etc.)
• Variáveis sociais (conhecimento sobre a
doença, contato anterior com a doença)
• Benefícios percebidos da ação preventiva • Barreiras percebidas da ação
• Suscetibilidade percebida para a doença x • Severidade percebida para a doença X
AMEAÇA PERCEBIDA DA
DOENÇA X
• Probabilidade de tomar medidas de ações
preventivas em saúde
ESTÍMULOS PARA AÇÃO • Campanhas de massa • Conselhos e advertências recebidas • Lembretes escritos de médicos ou dentistas • Doença de um membro da família ou amigo •Artigos de jornal ou revista
27
1.2. Revisão de Literatura
1.2.1. Atendimento Pré-Hospitalar no Brasil
O Atendimento Pré-Hospitalar surgiu a partir da necessidade do
estabelecimento de um novo conceito de atenção à saúde, com ações
desenvolvidas e ambientadas fora das estruturas físicas voltadas para este fim.
Este conceito é decorrente de uma nova demanda assistencial, a das vítimas
de causas externas, que desencadeia, então, a necessidade de reformulação
do modelo de atendimento às emergências clínicas e traumáticas,
principalmente nos grandes centros urbanos.
Este modelo tem sido orientado em todo mundo por duas tradicionais
escolas: o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (modelo francês) e o
Serviço de Emergência Médica (modelo norte-americano). Ambas as escolas
acumularam conhecimentos que possibilitaram classificar os diferentes agravos
à saúde. Desse modo, as causas externas figuram na Classificação
Internacional de Doenças (CID), constituindo-se no conjunto de eventos que
pode ou não levar à óbito, no qual se incluem as causas ditas acidentais -
devidas ao trânsito, trabalho, quedas, envenenamentos, afogamentos e outros
tipos de acidentes - e as causas intencionais (agressões e lesões
autoprovocadas), representando um grave problema de saúde pública em todo
o mundo, com conseqüente impacto na morbidade e na mortalidade das
populações (OMS, 1995).
No Brasil, a partir do ano de 1980, as mortes decorrentes destes eventos
passaram a responder pela segunda causa de óbitos no quadro de mortalidade
geral, ficando atrás apenas das doenças do aparelho circulatório. Devido à sua
28
maior incidência no grupo de adolescentes e adultos jovens, estes eventos são
responsáveis pelo maior número de Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP).
Entre 1996 e 1997, os acidentes e as violências foram responsáveis por,
aproximadamente, 120 mil óbitos anuais, sendo os acidentes de trânsito e os
homicídios os dois subgrupos responsáveis por mais da metade dos óbitos por
acidentes e violências (PRADO, 1998).
Neste contexto, ficava a cargo dos Corpos de Bombeiros, o atendimento
das emergências nas diversas situações, inclusive o resgate e o salvamento de
vítimas de agravos decorrentes de causas externas. No entanto, tais
atendimentos eram realizados por pessoal não qualificado e com recursos
materiais inadequados.
A relevância do problema e a ausência, até então, de diretrizes nacionais
para a área de emergência, particularmente de APH, fez surgir no Brasil um
verdadeiro mosaico de modelos de atenção pré-hospitalar, principalmente a
partir da década de 80, quando passou a ser estabelecido de forma mais
sistematizada por alguns Corpos de Bombeiros, sendo estruturado conforme as
peculiaridades de cada Unidade da Federação.
Neste cenário, através do Decreto-lei nº 9.053, de 9 de julho de 1986, o
então governador Leonel de Moura Brizola foi o primeiro a implantar o serviço
de atendimento pré-hospitalar com profissionais do quadro de saúde, tendo
como missão atender às situações de emergência clínica e traumática em vias
e logradouros públicos da Cidade e do Estado do Rio de Janeiro, cabendo ao
Corpo de Bombeiros a responsabilidade pelo serviço, o qual foi inicialmente
realizado exclusivamente por profissional médico.
Deve ser ressaltado que o atendimento pré-hospitalar no Brasil é
29
contemplado pela Portaria nº 2.048/GM, de 05 de novembro de 2002, que
estabelece o Regulamento Técnico dos Sistemas Estaduais de Urgência e
Emergência em todo território nacional (BRASIL, 2002).
1.2.2. Risco Ocupacional
No Brasil, o direito dos trabalhadores à segurança e medicina no trabalho
é garantido pela Lei 6.514, de 22 de dezembro de 1977, regulamentada pela
Portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978, do Ministério do Trabalho, que aprova
as Normas Regulamentadoras (NR) da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) relativas à Segurança e Medicina do Trabalho, sendo que, em empresas
públicas e privadas (incluindo os hospitais) com empregados regidos pela CLT,
é obrigatório manter Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e
Medicina do Trabalho (SESMT) e Comissões Internas de Prevenção de
Acidentes (CIPA) (BRASIL, 1995).
A Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabeleceu como competência
do Sistema Único de Saúde (SUS) a realização de ações voltadas para a saúde
do trabalhador (BRASIL, 2001), as quais são regulamentadas pela Lei Orgânica
da Saúde (LOS) nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e definidas em seu
Artigo 6º, parágrafo 3º como
um conjunto de atividades que se destina, por meio das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde do trabalhador, assim como visa à recuperação e à reabilitação dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho.
Os riscos e agravos a que estão submetidos os trabalhadores devem ser
reconhecidos; é importante a identificação, a fonte geradora, a trajetória e o
meio de propagação dos agentes no ambiente de trabalho, o número de
30
trabalhadores expostos, a caracterização das atividades e o tipo de exposição
(BRASIL /NR-15, 1978).
O reconhecimento dos riscos e agravos presentes no ambiente de
trabalho, e a posterior confecção do "Mapa de Riscos", foram atribuídos à CIPA
pela Portaria nº 5, de 17 de agosto de 1992, do Ministério do Trabalho. As
finalidades básicas deste mapa são a representação gráfica dos riscos
existentes nos diversos locais de trabalho e a possibilidade do conhecimento
destes riscos pelos trabalhadores (BRASIL, 1995).
Neste mapa, os riscos devem estar simbolizados por círculos de três
tamanhos, conforme a gravidade, e em cores, conforme o tipo de risco, como
explicitado no Quadro 2 a seguir:
Quadro 2 - Cores Representativas dos Riscos Ambientais
Riscos Ambientais Cores Representativas
Agentes Físicos Verde
Agentes Químicos Vermelho
Agentes Biológicos Marrom
Agentes Ergonômicos Amarelo
Agentes Mecânicos Azul
Riscos Locais Laranja
Riscos Operacionais Preto
Fonte: Portaria nº 5, de 17.08.92, do Diretor do Departamento Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador (MTb), publicada no Diário Oficial da União em 20.08.92 (BRASIL, 1992).
Trivelato (1998) destaca o caráter bidimensional do risco quanto a
possibilidade de causar dano, ou não, à saúde dos indivíduos, à propriedade ou
ao meio ambiente, sendo representado por determinada condição ou por um
conjunto de circunstâncias com este potencial, cuja origem pode ser ambiental
(física, química, biológica), situacional (instalações, ferramentas, equipamentos,
materiais, operações) e humana ou comportamental (decorrentes da ação
31
ou omissão humana).
Mastroeni (2004) entende o risco como uma condição biológica, química
ou física que apresenta potencial para causar dano ao trabalhador, ao produto
ou ao ambiente. Já para Mauro (1991), os riscos ocupacionais originam-se das
atividades insalubres e perigosas, decorrentes de sua natureza, condição ou
método de trabalho.
De acordo com Laurell & Noriega (1989), para o enfoque teórico proposto
por eles no que diz respeito ao trabalho e ao desgaste do trabalhador, a
categoria ―risco‖ utilizada pela Medicina do Trabalho é considerada insuficiente
para definir os elementos considerados isolados e de forma monocausal
relacionados ao trabalho e que têm potencialidade de causar danos à saúde do
trabalhador.
A despeito de conceitos mais ou menos amplos sobre os riscos, eles
estão presentes em todos os ambientes; entretanto, não devem ser
considerados parte do processo de trabalho, como faz crer a Constituição
Federal de 1988 (SOUTO, 2003), devido à sua disposição pragmática nas
questões de segurança e saúde do trabalhador, quando declara serem os
riscos inerentes ao trabalho.
Estudo desenvolvido por Silva (2000) revelou que a convivência dos
trabalhadores de enfermagem intensivistas com o risco ocupacional, fez com
que os mesmos apresentassem comportamentos de negação, resistência e
adaptação, o que levou a autora a questionar se essas reações não estariam
sendo assumidas pelos trabalhadores como forma de sobrevivência diante do
risco.
Estas reações podem ser interpretadas, segundo Dejours (1992), como
32
decorrentes dos conteúdos das tarefas e das pressões de responsabilidade da
organização do trabalho, que atuariam como agentes capazes de estabelecer
um conflito com o funcionamento psíquico. Este mesmo comportamento pode
estar sendo adotado também pelos profissionais de enfermagem do APH na
sua convivência com o risco ocupacional, em especial o biológico, em
conseqüência da adversidade do seu ambiente de trabalho, fator que conduz o
profissional à exposição a material biológico.
Para melhor compreensão da adversidade deste ambiente laboral, deve-
se visualizar, por exemplo, o cenário de uma colisão entre veículos onde haja
vítima presa às ferragens, apresentando lesões cutâneas sangrando, fraturas e
agitação psicomotora, dentre outros agravos. Neste contexto, antes que seja
desencarcerada, caberá ao profissional de enfermagem prestar-lhe
atendimento, apesar dos estilhaços de vidro e dos ferros retorcidos, da
presença de material biológico, derrame de combustível e risco de incêndio.
Neste ambiente, as ações voltadas à promoção e proteção da saúde dos
trabalhadores, relativas aos riscos e agravos advindos das condições de
trabalho, devem ser elaboradas e implementadas a partir de suas
peculiaridades, como na implantação do Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais5, que não contempla ambientes externos.
5 Programa que visa à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores pela antecipação,
reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho (BRASIL / NR-9, 1978).
33
1.2.3. Risco Biológico
Os riscos estão presentes em todos os ambientes ocupacionais, sendo
que os biológicos são vivenciados mais de perto por alguns trabalhadores; nos
casos das atividades que envolvam agentes biológicos, a insalubridade é
caracterizada pela avaliação qualitativa, isto é, independe do estabelecimento
de limites de tolerância quantitativos, mas pela presença do agente biológico.
Seu grau de insalubridade vai de médio a máximo, de acordo com o nível de
exposição (BRASIL / NR-15, 1978).
Entre os trabalhadores cujas atividades envolvam agentes biológicos,
destacam-se os da área da saúde que, pela natureza de suas ocupações,
experimentam aproximação a diferentes agentes biológicos. Seguindo esta
mesma linha de pensamento, em algumas atividades, esses agentes podem ser
conhecidos pela possibilidade de sua identificação, e devido ao perfil da
clientela assistida. No serviço pré-hospitalar, por ser destinado ao atendimento
de emergência em via pública, com grande demanda, torna-se improvável este
reconhecimento, sugerindo que seja considerada a possibilidade de exposição
a agente biológico dos vários grupos. Assim, o risco deve ser avaliado com
base no perigo representado por todos os agentes biológicos, identificados ou
prováveis (Quadro 3, a seguir) (BRASIL, 2002).
34
Quadro 3 - Classificação dos Agentes Biológicos em Grupos
GRUPO 1 Os que apresentam baixa probabilidade de causar doenças ao homem.
GRUPO 2 Os que podem causar doenças ao homem e constituir perigo aos trabalhadores, sendo diminuta a probabilidade de propagação na coletividade e para os quais em geral existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento.
GRUPO 3 Os que podem causar doenças graves ao homem e constituir um sério perigo aos trabalhadores, com risco de se propagarem na coletividade, embora passíveis de profilaxia e tratamento eficazes.
GRUPO 4 Os que causam doenças graves ao homem e constituem um sério perigo aos trabalhadores, com elevadas possibilidades de propagação na coletividade, para os quais praticamente inexistem meios eficazes de profilaxia ou tratamento.
Fonte: BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego / Norma Regulamentadora 21 (Anexo 1).
Os agentes biológicos estão presentes de alguma forma, em todos os
ambientes; mas, para que assumam condição de risco aos indivíduos, há
necessidade do estabelecimento de um conjunto de fatores. No tocante ao
ambiente de trabalho dos profissionais de saúde, este risco caracteriza-se pela
possibilidade de contato com sangue e fluidos orgânicos potencialmente
contaminados (BREVIDELLI, 1997). Portanto, a exposição do trabalhador a um
desses materiais caracteriza o acidente de trabalho, e sua gravidade deverá ser
avaliada sob alguns aspectos.
A gravidade do acidente estará diretamente relacionada com o tipo de
exposição e com o material biológico envolvido. As exposições a material
biológico consideradas mais graves são as que envolvem maior volume de
sangue, cujos marcadores são: lesões profundas provocadas por material
perfurocortante, presença de sangue visível no instrumento, acidentes com
agulhas previamente utilizadas na veia ou artéria do paciente-fonte e acidentes
com agulhas de grosso calibre.
As exposições que podem trazer riscos de transmissão ocupacional do
35
HIV e dos vírus das hepatites B (HBV) e C (HCV) são definidas como:
percutâneas (lesões provocadas por instrumentos perfurantes e cortantes: p.
ex., agulhas, bisturi, vidrarias); em mucosas (quando há respingos na face
envolvendo olhos, nariz, boca ou genitália); cutâneas (pele não-íntegra, por
exemplo, contato com pele com dermatite ou feridas abertas); e mordeduras
humanas – consideradas exposição de risco quando envolverem a presença
de sangue, devendo ser avaliadas tanto para o indivíduo que provocou a lesão
quanto para aquele que tenha sido exposto (BRASIL, 2003).
O risco da exposição a material biológico reside no fato de, após esta
situação ocorrer, o profissional poder vir a contaminar-se com patógenos
presentes no material e a desenvolver uma condição de portador assintomático
ou de adoecimento. Este risco vem se consolidando com o crescimento do
número de indivíduos infectados pelo vírus HIV e pelos vírus das hepatites B e
C na população geral, com conseqüente aumento do risco para o profissional
de saúde, o que fez com que as autoridades sanitárias de todo o mundo
estabelecessem medidas de prevenção e de controle, destinadas à transmissão
dessas doenças (MASTROENI, 2004).
O risco de infecção por HIV pós-exposição ocupacional percutânea com
sangue contaminado é de aproximadamente 0,3%, e de 0,09% após exposição
de mucosa. No caso de exposição ocupacional ao vírus da hepatite B (HBV), o
risco de infecção varia de 6 a 30%, podendo chegar até a 60%, dependendo do
estado do paciente-fonte, dentre outros fatores. Quanto ao vírus da hepatite C
(HCV), o risco de transmissão ocupacional após um acidente percutâneo com
paciente-fonte HCV positivo é de aproximadamente 1,8% (variando entre 0 e
7%) (BRASIL, 2005).
36
Dentre as medidas preventivas visando proteger os profissionais de
saúde, encontram-se os protocolos a serem seguidos imediatamente após a
exposição a material biológico, que prescrevem as seguintes condutas:
cuidados imediatos com a área exposta; determinação do risco da exposição;
avaliação do paciente-fonte; avaliação do profissional de saúde acidentado;
início das medidas profiláticas em exposições com riscos de transmissão dos
vírus da Hepatite B (HBV) e da Imunodeficiência Humana (HIV) (CENTERS
FOR DISEASES CONTROL AND PREVENTION, 2001), conforme demonstram
os Quadros 4 e 5 a seguir:
Quadro 4 - Aspectos e Avaliação Inicial da Exposição
. Tipo de exposição Percutânea Mucosa Pele não-íntegra Mordedura humana
. Tipo e quantidade do material biológico (líquidos, tecidos) Sangue Material biológico contendo sangue Líquidos e tecidos potencialmente infectantes (sêmen, secreção vaginal, líquor, líquidos sinovial, pleural, peritoneal, pericárdico e amniótico) Contato direto com material contendo vírus em grande quantidade
. Situação infecciosa da fonte Presença de HBsAg Presença de anti-VHC Presença de anti-HIV
. Susceptibilidade do profissional exposto Situação quanto à vacina contra hepatite B e resposta vacinal Situação quanto à infecção por HIV / HBV / HCV
Fonte: Centers for Diseases Control and Prevention, 2001.
37
Quadro 5 – Status Sorológico da Fonte (Origem do Acidente)
Quando a fonte é conhecida
- Solicita-se consentimento para a realização dos seguintes exames: HBsAg, Anti-HBC
IgM, Anti-HCV e Anti-HIV. Deve ser utilizado o teste rápido para HIV, sempre que
disponível, junto com os exames acima especificados.
- Fonte não infectada, comprovadamente por exames realizados nos últimos 30 dias, é
desnecessário realizar os exames do acidentado no momento zero, bem como observar o
seguimento;
- Caso a fonte seja conhecida, mas seu estado sorológico desconhecido, ou havendo
recusa em realizar os testes, considerar o diagnóstico médico, sintomas e história de
comportamento de risco;
- Não testar agulhas descartadas, quanto aos marcadores virais;
- Exames de detecção viral não são recomendados como testes de triagem.
Quando a fonte é desconhecida
- Levar em conta as probabilidades clínica e epidemiológica de infecção pelo HIV,
HCV, HBV (prevalência de infecção naquela população, local onde o material
perfurante foi encontrado, procedimento ao qual ele esteve associado, presença
ou não de sangue etc.).
Fonte: BRASIL – Ministério da Saúde, 2005.
Para a implementação das rotinas assistenciais à prevenção do HIV,
HBC e HCV são necessárias medidas gerenciais que possibilitem estabelecer
condições de implantar um adequado modelo de atendimento assistencial ao
profissional da saúde exposto a material biológico. Dos recursos laboratoriais
necessários ao atendimento destes acidentes, cabe à Rede de Atendimento
Primária providenciar: teste rápido para HIV; acesso a laboratório para coleta de
exames do paciente-fonte (HbsAg, Anti-HBc-IgM, Anti-HCV, anti-HIV) e do
acidentado (HbsAg, anti-HBs, anti-Hbc-IgM, anti-HCV, anti-HIV, TGP/ALT,
hemograma com plaquetas, uréia, creatinina, TGO/TGP, bilirrubinas, glicemia,
EQU).
38
Às Redes de Atendimento Secundária e Terciária cabem, além das
incumbências da Rede Primária, a realização de PCR-RNA HCV para
diagnóstico precoce da infecção pelo HCV.
A estimativa de consultas para atendimento de um acidente prevê o
seguinte fluxo: o primeiro atendimento, imediatamente após o acidente; o
segundo, para informação dos resultados dos exames, com término da
investigação ou encaminhamento para seguimento; o terceiro, para controle /
revisão de 15 dias, com coleta da amostra de bioquímica para avaliar o impacto
da profilaxia pós-exposição (PPE); o quarto atendimento, para novos controles,
realizado quando decorridos 30 a 45 dias; o quinto, para controle de 3 meses, e
o sexto, para controle de 6 meses.
Entre as informações práticas de divulgação no ambiente de trabalho da
área de saúde para atendimento de acidentes com exposição / contato com
material biológico, devem constar os exames a serem realizados no paciente-
fonte do acidente (teste rápido para HIV, HbsAg, Anti-HBc-IgM, Anti-HCV, Anti-
HIV convencional) e no acidentado (Anti-HBs maior ou igual a 10ui/ml, Anti-
HCV, TGP/ALT, Anti-HIV. Se não houver evidência de proteção para hepatite B,
ou ele souber informar se foi ou não realizado, serão necessários o HbsAg,
anti-HBc-IgM, anti-HBs, anti-HCV.
São os seguintes os exames a serem solicitados no caso de indicação de
profilaxia pós-exposição (PPE): hemograma com plaquetas, TGO (ast) e TGP
(alt), bilirrubinas, uréia, creatinina, glicemia e exame qualitativo de urina se
houver o uso de Indinavir.
O esquema básico de profilaxia, indicado em exposições com risco
conhecido de transmissão pelo HIV, pós exposição prevê que sejam
39
administradas a Zidovudina (AZT) e a Lamivudina (3TC). O esquema ampliado
de profilaxia, indicada em exposições com risco elevado de transmissão pelo
HIV, além do AZT e do 3TC, inclui um inibidor de protease (Nelfinavir ou
Indinavir) (BRASIL, 2005).
Essas medidas profiláticas vêm sendo amplamente avaliadas, como por
exemplo, em estudos de caso-controle e multicêntricos envolvendo profissionais
de saúde que tiveram exposições percutâneas com sangue sabidamente
infectado pelo HIV, no qual o uso do AZT foi associado a um efeito protetor de
81% (CARDOSO, CULVER, CIESIELSKI et al., 1997). Entretanto, a
quimioprofilaxia pós-exposição ao HIV é complexa, tanto pela falta de dados
mais precisos sobre o risco relativo de diferentes tipos de exposição, quanto
pelo risco de toxicidade dos medicamentos anti-retrovirais.
Sendo assim, o profissional de saúde acidentado deverá ser informado
de que o conhecimento científico sobre a eficácia desta terapêutica ainda é
limitado, existindo casos documentados de transmissão, mesmo com o uso
adequado da profilaxia e pacientes-fonte sabidamente infectados pelo HIV com
carga viral indetectável, sendo direito do mesmo recusar-se a realizar a
quimioprofilaxia ou outros procedimentos recomendados pós-exposição. Nestes
casos, porém, deverá assinar um documento onde esteja claramente
explicitado que durante o seu atendimento, recebeu todas as informações
sobre os riscos da exposição e os riscos e benefícios da conduta indicada
(BRASIL, 2003).
O formulário específico de comunicação de acidente de trabalho deve ser
preenchido para o devido encaminhamento. No caso de acidentes com
trabalhadores da iniciativa privada, essa comunicação deverá ser feita em 24h,
40
por meio de formulário padrão denominado Comunicação de Acidente de
Trabalho (CAT) (Anexo 1). Quanto aos acidentes ocorridos com trabalhadores
do serviço público federal, o Regime Jurídico Único (RJU) dos funcionários da
União (Lei nº 8.112/90) regula o acidente de trabalho nos Artigos 211 a 214,
sendo que o fato classificado como acidente de trabalho deverá ser comunicado
até 10 (dez) dias após ter ocorrido. Vale ressaltar que os funcionários dos
Estados e dos Municípios devem observar os Regimes Jurídicos Únicos que
lhes são específicos (BRASIL, 2003).
O serviço é o responsável pelo fornecimento de medicamentos para a
quimioprofilaxia, a vacina para hepatite B e a imunoglobulina hiperimune para
hepatite B, devendo ser disponibilizados pelos locais de trabalho públicos ou
privados. Essa é uma exigência amparada pela Legislação Trabalhista
Brasileira no âmbito da iniciativa privada (Consolidação das Leis Trabalhistas e
suas Normas Regulamentadoras), assim como pelo Artigo 213 do RJU da
União. As unidades hospitalares do setor privado deverão ter os medicamentos
de profilaxia pós-exposição percutânea (PEP) ao vírus da imunodeficiência
humana (HIV) e a vacina para hepatite B adquiridos às suas expensas
(BRASIL, 2003).
Dados epidemiológicos da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de
Janeiro, referentes ao período de 1997 a 2000, mostram que foram notificados
6.700 acidentes com um aumento mensal nítido, sendo mantida uma tendência
ascendente. De acordo com esta Secretaria, certamente o número real de
acidentes é superior ao registrado, visto que os profissionais desconhecem ou
subestimam os riscos aos quais estão expostos, acarretando importante
subnotificação (SMS-RJ, 2001).
41
Neste período, foram identificados quatro casos de profissionais que se
contaminaram, sendo dois para hepatite C, um para hepatite B e um em que a
contaminação foi simultânea para os vírus das hepatites B e C; não houve
relato de casos de soroconversão para o HIV, mas é importante observar que o
preenchimento incompleto ou incorreto das fichas de notificação acarretam
dificuldades importantes para a análise dos dados (SMS-RJ, 2001).
Até 1998 foram reportados 79 casos documentados e 144 casos
possíveis de transmissão ocupacional do Vírus da Imunodeficiência humana
(HIV) no mundo (CENTERS FOR DISEASES CONTROL AND PREVENTION –
CDC, 1998). No Brasil, não há estabelecido um sistema de vigilância relativo
aos acidentes de trabalho com material biológico e a escassez de dados
sistematizados sobre esses acidentes não permite conhecer a magnitude global
do problema, o que dificulta a avaliação das medidas preventivas utilizadas
atualmente (MARZIALE, RODRIGUES, 2002).
1.2.4. Biossegurança
O termo biossegurança tem sido amplamente empregado pelos meios de
comunicação por englobar diferentes temas, desde os relacionados ao
bioterrorismo à produção de alimentos geneticamente modificados
(transgênicos). Neste estudo, o termo refere-se à segurança aplicada ao risco
representado pelos agentes biológicos cuja necessidade de proteção é definida
pela fonte do material, pela natureza da operação ou do experimento a ser
realizado, bem como pelas condições em que ocorrerá.
Neste caso, a biossegurança está relacionada com a Precaução Padrão
ou Básica, normatizações publicadas no ano de 1996 pelo CDC e que visam
42
reduzir a exposição aos materiais biológicos. Estas normatizações estabelecem
a prevenção do contato com todos os fluidos corporais, secreções, excreções,
pele não-íntegra e membranas mucosas de todos os pacientes, ao contrário do
conceito anterior das Precauções Universais em que a prevenção estava
associada somente aos fluidos corporais que pudessem transmitir o HIV e
outros patógenos de transmissão sangüínea (RISCOBIOLÓGICO - ON LINE,
2002).
Biossegurança ou segurança biológica, de acordo com Mastroeni (2004,
p. 84) é a ―aplicação do conhecimento, técnicas e equipamentos, com a
finalidade de prevenir a exposição do trabalhador, laboratório e ambiente a
agentes potencialmente infecciosos ou biorriscos‖. O mesmo autor atribui à falta
de uma cultura prevencionista o principal obstáculo para as pessoas agirem
com precaução nos locais de trabalho, daí porque ―alguns trabalhadores
tendem a menosprezar os riscos, levando em consideração somente o
experimento‖ (Op.cit.).
A falta desta cultura nos profissionais de enfermagem foi verificada por
Figueiredo et al. (1999), que creditaram ao abrandamento do sentimento de
pânico gerado no momento do acidente pela própria rotina do serviço, como um
dos fatores relacionados ao alto índice de acidentes com a equipe de
enfermagem. Já Robazzi e Marziale (1999) alegaram a existência de uma
concepção idealizada da profissão, aonde os profissionais da enfermagem
submetem-se a variados riscos ocupacionais, sofrem acidentes de trabalho e
adoecem, sendo que na maior parte das vezes não atribuem estes problemas
às questões decorrentes de sua atividade laboral.
No entanto, para a construção de uma cultura de prevenção, é
43
indispensável a conscientização desta categoria de trabalhadores acerca dos
riscos aos quais estão submetidos, visto que assim passariam a adotar uma
nova postura diante do problema, inclusive reivindicando melhores condições
de trabalho, modificando o quadro atual.
A instituição de saúde deve divulgar e treinar seus profissionais quanto
aos procedimentos de prevenção à exposição a material biológico, e
estabelecer medidas preventivas e gerenciais que visem:
1. a identificação dos riscos a que este profissional está exposto;
2. o estabelecimento das práticas de trabalho (ex. não reencapar
agulhas, descarte adequado de material);
3. o controle de engenharia, compreendendo todas as medidas de
controle que isolem ou removam um risco do local de trabalho, abrangendo não
somente instrumentos perfurocortantes modificados com proteção contra lesões
e sistemas sem agulha, mas também outros dispositivos médicos destinados a
reduzir o risco de exposição a material biológico;
4. a utilização de equipamentos de proteção, nas circunstâncias em que
as práticas de trabalho e o controle de engenharia são insuficientes para
propiciar uma proteção adequada;
5. a investigação, controle e registro dos casos de exposição a sangue
ou fluidos corporais (BRASIL, 2005).
Da capacitação e educação em saúde também devem constar as
atribuições gerenciais, visto que o programa de treinamento é fundamental e
deve ser repetido regularmente a fim de formar uma consciência prevencionista.
Ademais, o conteúdo do programa deve contemplar:
44
. Os tipos de riscos a que o profissional está exposto;
. O modo de transmissão dos agentes veiculados pelo sangue e outros
fluidos corporais.
. As ações a serem adotadas em caso de acidentes:
a) desinfecção da área física quando for o caso;
b) lavar o local do corpo atingido com água em abundância;
c) identificar se possível a fonte do acidente;
d) comunicar a exposição do Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN) (Anexo 2)
e) realizar os controles médicos indicados;
. As recomendações sobre o uso do Equipamento de Proteção Individual
(EPI) sobre as práticas de trabalho adotadas e as limitações desses meios
incluem:
a) lavagem freqüente das mãos - é a precaução mais importante e
deve ser realizada sempre, após contato com paciente e/ou
material biológico e ao descalçar as luvas;
b) luvas – devem ser usadas no exame de paciente, incluindo
contato com sangue, fluidos corporais, mucosas ou pele não
íntegra;
c) óculos, protetor facial, máscara - devem ser utilizados sempre que
se antecipar a possibilidade de respingo de sangue ou fluidos
corporais;
d) avental - deve ser de uso restrito à área de trabalho (BRASIL,
2005).
45
Para Souza, Arantes e Abreu (2000), os benefícios no uso dos
dispositivos destinados à proteção física do profissional somente são
percebidos a partir da ocorrência de situações ameaçadoras, quando ocorre a
percepção da susceptibilidade aos riscos, e o conseqüente reforço positivo no
uso desses equipamentos, pois, de acordo com os autores (Op.cit.), apesar de
os profissionais de enfermagem conhecerem as medidas de biossegurança
recomendadas para a prevenção de acidentes com material biológico, não as
têm empregado no cotidiano de sua prática.
O Equipamento de Proteção Individual (EPI) é o dispositivo ou produto
de uso individual, utilizado pelo trabalhador com a finalidade de protegê-lo de
riscos suscetíveis de ameaçar a sua segurança e saúde no trabalho.
O Equipamento Conjugado de Proteção Individual (ECPI) é aquele
composto por vários dispositivos, associados contra um ou mais riscos que
possam ocorrer simultaneamente e que sejam suscetíveis de ameaçar a
segurança e a saúde no trabalho (BRASIL / NR-6, 1978).
Estes equipamentos, descartáveis ou não, deverão ser armazenados em
número suficiente nos locais de trabalho, de forma a garantir o imediato
fornecimento ou reposição, sempre que necessário (BRASIL, 2002).
Para a prevenção da exposição ao sangue ou a outros materiais
biológicos, que é a principal medida para que não ocorra contaminação por
patógenos de transmissão sangüínea nos serviços de saúde, as Normas de
Biossegurança do Ministério da Saúde prescrevem as Precauções Básicas ou
Precauções Padrão, devendo ser utilizadas sempre que houver manipulação
de artigos médico-hospitalares e também na assistência a todos os pacientes,
independente do diagnóstico definido ou presumido de doença
46
infecciosa (BRASIL, 2003).
Para a realização de procedimentos que envolvam a manipulação de
material perfurocortante, deve-se ter a máxima atenção durante a realização
dos procedimentos: jamais utilizar os dedos como anteparo durante a
realização de procedimentos que envolvam estes materiais; não reencapar
agulhas entortadas, quebradas ou retiradas da seringa com as mãos; não
utilizar agulhas para fixar papéis; todo material perfurocortante (agulhas, scalp,
lâminas de bisturi, vidrarias, entre outros), mesmo que estéril, deve ser
desprezado em recipientes resistentes à perfuração e com tampa; os coletores
específicos para descarte de material perfurocortante não devem ser
preenchidos acima do limite de 2/3 de sua capacidade total e devem ser
colocados sempre próximos do local onde for realizado o procedimento
(BRASIL, 2003).6
Os EPI devem estar disponíveis e serem adequados, incluindo luvas,
protetores oculares ou faciais, protetores respiratórios, aventais e proteção para
os membros inferiores. As luvas devem ser utilizadas sempre que houver
possibilidade de contato com sangue, secreções e excreções, com mucosas ou
com áreas de pele não íntegra (ferimentos, escaras, feridas cirúrgicas e outros).
A máscara, o gorro e os óculos de proteção estão indicados para uso durante a
realização de procedimentos em que haja possibilidade de respingos de sangue
e outros fluidos corpóreos nas mucosas da boca, nariz e olhos do profissional.
Os capotes devem ser utilizados durante procedimentos com possibilidade de
contato com material biológico, inclusive em superfícies contaminadas. Os
6 Os resíduos de serviços de saúde devem seguir a Resolução RDC nº 33, de 25 de fevereiro de 2003,
publicada no DOU de 05/03/2003 – ANVISA/ MS (BRASIL/MS, 2003).
47
calçados fechados e as botas devem ser utilizados na proteção dos pés em
locais úmidos ou com quantidade significativa de material infectante
(BRASIL/MS, 2003).
Apesar das normas de biossegurança instituídas pelo Ministério da
Saúde, Souza (2000) citado por Mastroeni (2004, p. 78) alerta para o fato de
que
vêm sendo publicados relatos de transmissão e surtos de infecção em trabalhadores da saúde, provando que eles podem transmitir ou adquirir doenças em relação ao trabalho (...) ainda deparamos com profissionais que não valorizam as medidas de proteção, individuais e coletivas, de eficácia amplamente comprovada.
1.3. Desenho da Pesquisa
Trata-se de estudo de caso, do tipo descritivo e abordagem qualitativa,
tendo como técnica de coleta de dados a entrevista semi-estruturada. De
acordo com Lüdke e André (1986) e Trivinos (1992), a pesquisa qualitativa
permite ao pesquisador a possibilidade de captar a perspectiva dos
participantes, permitindo a compreensão do problema no meio em que ele
ocorre sem artificialidades que mascarem a realidade e que podem levar a
equívocos.
No estudo foi utilizado como referencial teórico o Conceito de
Comportamento Preventivo em Saúde interpretado pelo Modelo de Crenças em
Saúde de Rosenstock (1974). A opção por este modelo deveu-se ao fato de o
estudo tratar do comportamento preventivo de indivíduos frente a uma condição
de risco, adotado na dependência das seguintes dimensões básicas:
susceptibilidade percebida (os riscos subjetivos de contrair uma doença),
48
seriedade percebida, benefícios percebidos (crença na efetivação da ação) e
barreiras percebidas, que são aspectos conflitantes para a prevenção,
variáveis que lidam com o mundo subjetivo do comportamento individual e não
com o mundo objetivo dos profissionais de saúde. O modelo facilitou o
estabelecimento de uma ponte de ligação entre a subjetividade da percepção e
o comportamento preventivo.
O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética do Hospital
Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(HUPE/UERJ), sendo aprovado sem restrições.
A pesquisa teve como cenário o Serviço de Atendimento Pré-Hospitalar
(APH) da cidade do Rio de Janeiro, de responsabilidade do Corpo de
Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, que se incumbe do atendimento
das emergências clínicas e traumáticas nas vias e logradouros públicos deste
município, bem como do Transporte Inter-Hospitalar (TIH) de pacientes
oriundos do SUS e da participação em sistemas de segurança em grandes
eventos.
As unidades móveis do APH estão distribuídas por 39 postos, sendo 37
de socorro terrestre e duas de socorro aéreo. A unidade de socorro terrestre,
denominada Auto Socorro de Emergência (ASE), é classificada em duas
categorias: Auto Socorro de Emergência Avançado (ASE-A) e Auto Socorro de
Emergência Básico (ASE-B). No primeiro caso, o socorro é realizado por
médico; no segundo, a liderança é exercida por profissional técnico de
enfermagem, capacitado como Técnico em Emergência Médica (TEM), que
desempenha atendimento básico sob supervisão médica à distância. Além dos
comandantes de socorro, tanto no ASE-A quanto no ASE-B, existe um segundo
49
profissional que participa como auxiliar no socorro. Este profissional pode ser
um técnico ou auxiliar de enfermagem, ou mesmo um socorrista7.
Toda unidade de ASE dispõe de aparato tecnológico para estabilização,
manutenção e monitoramento das condições vitais das vítimas assistidas, tais
como monitores-desfibriladores, monitores da saturação de oxigênio e
dispositivos especiais para imobilização de fraturas e de coluna vertebral. Os
ASE-A também contam com suportes para ventilação mecânica, medicamentos
e soluções endovenosas.
Os sujeitos do estudo foram os profissionais que trabalhavam nas
unidades e formavam um contingente de, aproximadamente, duzentos
bombeiros militares, técnicos e auxiliares de enfermagem, integrantes como
líder ou auxiliar nas equipes dos ASE-A e ASE-B do serviço de APH do
município do Rio de Janeiro.
Como critério de inclusão estabeleceu-se que: a) os sujeitos fossem
profissionais de enfermagem lotados na unidade do APH; b) estarem
submetidos à mesma jornada de trabalho e c) exercerem atividade no serviço
há pelo menos doze meses. Portanto, os sujeitos da pesquisa foram
constituídos do conjunto de profissionais entrevistados até a saturação das
informações, totalizando doze profissionais, sendo nove líderes do ASE-B; um
Auxiliar do ASE-B e dois Auxiliares dos ASE-A, cujas características
apresentam-se a seguir:
7 BRASIL, Ministério da Saúde, Portaria nº 2.048/GM, de 05 de novembro de 2002. Regulamento Técnico
dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência.
50
Quadro 6 – Perfil dos Sujeitos da Pesquisa
SEXO Masculino - 58,3%
Feminino - 41,7%
IDADE Entre 20 e 29 -17%
Entre 30 e 39 - 83%
EXERCÍCIO NA ENFERMAGEM
Até 5 anos - 33,3%
De 6 a 10 anos - 33,3%
De 11 a 15 anos - 25%
De 16 a 20 anos - 8,4%
EXERCÍCIO NO APH
Até 5 anos - 66,7%
De 6 a 10 anos - 25%
De 11 a 15 anos - 8,3%
ESCOLARIDADE
2º grau completo - 41,7%
Superior em curso- 33,3%
Superior completo - 25%
ATIVIDADE NO APH
Líder do ASE-B - 75%
Auxiliar do ASE-B - 8,3%
Auxiliar do ASE-A -16,7%
QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
Técnico de Enfermagem - 100%
51
Para a coleta de dados, foram atendidos os preceitos da Resolução nº
196/96 do Conselho Nacional de Saúde (MS, 1996), que dispõe sobre Pesquisa
Envolvendo Seres Humanos. Os indivíduos convidados a participar receberam
explicações acerca dos objetivos do estudo, sendo-lhes esclarecido que a não
anuência não implicaria em qualquer medida disciplinar visto que, apesar de
todos estarem sob hierarquia militar, o estudo em questão era de interesse
particular; assim, muito embora a autora exercesse um papel hierárquico em
relação aos entrevistados, naquele momento estaria atuando como
pesquisadora, daí porque a voluntariedade na adesão seria imprescindível aos
resultados.
Do total de indivíduos convidados, dois recusaram-se a participar e foram
prontamente respeitados em suas decisões. Entre os que anuíram, a interação
transcorreu tranqüilamente, superando as expectativas e propiciando um ganho
indiscutível ao estudo, fato reconhecido até mesmo por alguns dos
entrevistados, por proporcionar-lhes a possibilidade de uma reflexão sobre suas
tarefas diárias. Ressalta-se que os dados só foram coletados após os sujeitos
terem assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) previsto
na Resolução CNS-196/96.
A coleta foi realizada no local de trabalho, nos meses de março e maio
de 2005, sendo que em alguns casos o entrevistado encontrava-se em seu dia
de plantão, e em outros, encontrava-se na unidade para solucionar alguma
questão administrativa ou participar de alguma reunião regular. Apesar de ter
sido considerada a possibilidade de ocorrer acionamento do socorro durante o
processo da entrevista, tal fato não ocorreu, e as entrevistas transcorreram sem
nenhuma interrupção.
52
As entrevistas foram gravadas em fitas magnéticas com a concordância
dos entrevistados, e a transcrição das mesmas foi realizada pela pesquisadora
logo após cada encontro, visando assegurar a fidedignidade daquilo que havia
sido dito e a validação do teor pelos respectivos entrevistados. A etapa da
coleta de dados foi considerada concluída quando houve a saturação das falas,
o que ocorreu antes da 12ª entrevista.
A fim de preservar o sigilo quanto à identificação dos depoentes, os
mesmos foram apresentados no estudo por suas funções na Instituição,
seguida de algarismos romanos. Portanto, o TEM pertence à categoria de
técnico de enfermagem, com formação em emergência médica pré-hospitalar e
função no APH como líder de equipe. O AUX é o profissional técnico ou o
auxiliar de enfermagem, e exerce a função de auxiliar de socorro básico ou
avançado do APH.
Para analisar os dados, foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo,
preconizada por Bardin (1977), composta das seguintes fases: pré-análise,
exploração dos dados, tratamento e interpretação dos resultados. Na pré-
análise, foi realizada uma leitura superficial dos depoimentos. Após, procedeu-
se a uma leitura cautelosa e aprofundada que permitiu selecionar nos textos as
unidades de registro (UR) que se enquadraram nos critérios definidos,
identificando os conteúdos recorrentes e as contradições que espontaneamente
emergiram. Em seguida, foi realizada a exploração do material, selecionando as
unidades de análise contidas em cada caso, atribuindo-lhes codificações. Os
códigos foram definidos considerando-se a temática e o referencial teórico-
metodológico. Na etapa seguinte, foram construídas as categorias de
significados. A categorização é um procedimento de separação de elementos
53
componentes de um todo, por diferenciação e por reagrupamento, mediante os
critérios estabelecidos. As categorias são classes que reúnem um conjunto de
elementos (unidades de análise) sob um título genérico. Esse agrupamento é
feito considerando-se os aspectos comuns dos elementos.
Da análise e síntese dos depoimentos foram identificadas três categorias
analíticas, sendo que a primeira foi dividida em duas subcategorias, as quais
serão apresentadas nos Capítulos 2, 3 e 4.
A construção das categorias tomou por base os conceitos do referencial
teórico em relação às quatro dimensões básicas do Modelo.
O Quadro 7, a seguir, mostra com clareza as Unidades de Significação e
as Categorias.
54
Quadro 7 – Unidades de Significação e Categorias
Fonte: Adaptado de OLIVEIRA (2002).
Unidade de
Significação
Nº de
U R
%
U R Categorias
Nº de
UR/C
%
U R/C
Material contaminado
14
11,2
PERCEPÇÃO DA
SUSCEPTIBILIDADE E DAS
CONSEQUÊNCIAS DO
RISCO BIOLÓGICO
56
45%
Exposição de pele e mucosa
11
8,8
Peculiaridades do APH
12
9,6
Contrair alguma doença
11
8,8
Contrair Hepatite ou AIDS
8
6,4
Equipamentos de proteção
13 10,4
PERCEPÇÃO
DOS BENEFÍCIOS
NA UTILIZAÇÃO
DAS MEDIDAS
DE PROTEÇÃO
38
30%
EPI em todo tipo de evento 12 9,6
Relaciona o EPI com o evento 6 4,8
A luva o EPI priorizado 7 5,6
Comodismo na adesão do EPI 5 4
PERCEPÇÃO DAS
BARREIRAS
À ADOÇÃO DOS EPI
31
25%
Conscientização do grupo 9 7,2
Disponibilidade do EPI 8 6,4
Interação da equipe 4 3,2
Abordar o tema
5
4
Total 125 100
125 100%
55
CAPÍTULO 2
PERCEPÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE E DAS CONSEQUÊNCIAS DO RISCO BIOLÓGICO
Para esta e as demais categorias do estudo, como já mencionado, foi
utilizada a nomenclatura referente às variáveis do Modelo de Crenças em
Saúde de Rosenstock (1974).
Esta categoria aborda a percepção dos profissionais de enfermagem
acerca das possibilidades e formas de exposição ao risco biológico e sua
gravidade ou severidade, sendo atendida quando o profissional consegue
identificar no seu ambiente de trabalho as possíveis formas de contato com o
agente biológico e associar à essas exposições a possibilidade de ser
acometido pelo contágio de diferentes agentes patogênicos. Abrangeu 56 (45%)
unidades de registro identificadas nos depoimentos, cujos temas foram
relacionados com a contaminação de material, a exposição de pele e da
mucosa a material biológico, referências às peculiaridades do APH e à
possibilidade de contrair alguma doença, hepatite ou AIDS.
De acordo com Rosenstock (1974), a suscetibilidade está relacionada
aos riscos subjetivos de se contrair uma dada condição percebida pelos
indivíduos de forma variada, podendo desprezar percepções de risco, acreditar
em determinadas possibilidades de risco ou apresentar sentimentos que
denotem a percepção do risco real de estar sujeito a determinado dano à sua
saúde.
Ainda segundo o mesmo autor (Op.cit.), o reconhecimento da
possibilidade de contágio biológico como conseqüência da exposição a material
humano pode ser avaliada tanto pelo grau de perturbação emocional diante da
56
possibilidade de se tornar portador ou doente de algum mal, quanto pelas
repercussões do adoecimento. Em seu Modelo de Crenças em Saúde, o
conceito de percepção de severidade vai além do reconhecimento das
conseqüências clínicas de uma doença; engloba, também, relações familiares,
posição financeira e ocupação.
O alcance da percepção do risco real, pelos sujeitos expostos às condições de risco latente,
conseqüentemente leva ao entendimento das medidas preventivas e, possivelmente, à sua adesão. A partir
deste conceito e da análise das falas, foi possível identificar que os sujeitos desta
pesquisa tinham plena percepção do risco real de contrair determinado dano à sua saúde.
Desse modo, esta categoria será apresentada em duas subcategorias, a saber:
1) Percepção da susceptibilidade ao risco biológico, referente aos
temas: Material Contaminado, Exposição de Pele e Mucosa por Sangue
e Secreção e Peculiaridades do APH.
2) Percepção da conseqüência de exposição à material biológico,
referente aos temas contrair alguma doença e contrair hepatite ou AIDS.
SUBCATEGORIA 1 PERCEPÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE AO RISCO BIOLÓGICO, REFERENTE AOS TEMAS: MATERIAL CONTAMINADO, EXPOSIÇÃO DE PELE E MUCOSA POR SANGUE E SECREÇÃO E PECULIARIDADES DO APH
O contato dos trabalhadores com microorganismos ou material infecto-
contagioso pode causar doenças como tuberculose, hepatite, rubéola, herpes,
escabiose e AIDS (JANSEN, 1997). Portanto, há risco de exposição a material
biológico, visto que os trabalhadores estão sujeitos ao contato com agentes de
doenças infecciosas e parasitárias que podem infectá-los (BRASIL, 1999).
Para a prevenção dessas doenças infecciosas e parasitárias
57
relacionadas ao trabalho, é fundamental que os envolvidos tenham percepções
corretas acerca das suas tarefas, da saúde e das normas e regulamentos
vigentes (BRASIL / OPAS, 2001). De acordo com Czeresnia (2003, p.45), as
ações preventivas definem-se como
intervenções orientadas a evitar o surgimento de doenças específicas, reduzindo sua incidência e prevalência nas populações. A base do discurso preventivo é o conhecimento epidemiológico moderno. Seu objetivo é o controle de transmissão de doenças infecciosas e a redução do risco de doenças degenerativas ou outros agravos específicos.
Estudo realizado por Carapinheiro e Lopes (1997) confirma que mais da
metade das situações de risco estão relacionadas com o perigo de contágio por
doenças infecto-contagiosas, o que se constitui em um alerta para os
profissionais da saúde que militam em situações de risco. Corroborando estas
afirmativas, os depoimentos transcritos abaixo evidenciam o reconhecimento
dos sujeitos quanto à possibilidade de contágio por agente biológico, a partir do
contato com materiais contaminados.
Material biológico é aquele que leva à contaminação. (TEMI) Seria o sangue [...] secreção [...] agente biológico seria o causador [...] da infecção. (TEMIV) Agente biológico [...] é [...] o causador [...] e o material é aquilo que [...] está contaminado [...] na coleta de sangue, na punção venosa. (TEMIX) Secreção, [...] fluidos corporais, sangue, enfim tudo relacionado ao que sai do corpo [...] sangue ou secreção contaminada. (TEMXII) Vários tipos de bactérias, de vírus, que podem estar ali [...] naquele material. (AUXVI)
58
Os resultados apontam para uma variedade de possibilidades de
veículos contaminantes, geradores de riscos. Com isso, a exposição ao agente
biológico pode ocorrer tanto pela forma direta, em que mucosas e pele não
íntegras fiquem expostas a fluidos e tecidos biológicos de risco, quanto pela
forma indireta, nos casos em que a exposição ao material humano decorra de
lesões provocadas por instrumentos perfurantes e/ou cortantes contaminados
por estes materiais (BRASIL, 2005).
Os entrevistados têm claro quais são os veiculadores de contaminação a
que um indivíduo poderá estar exposto durante suas atividades profissionais,
especialmente em situações de emergência, no atendimento pré-hospitalar à
vítimas de trauma.
Nesta lógica, Rosenstock (1974) destaca que a Percepção de
Susceptibilidade ao risco é uma das dimensões básicas a ser atendida com
vistas ao comportamento preventivo em saúde. É uma percepção subjetiva do
risco de contrair doenças como a tuberculose e o câncer, dentre outras. Este
tipo de percepção está diretamente relacionado com o conhecimento adquirido
sobre o risco. Neste caso, a percepção pode estar influenciada por aspectos
otimistas ou pessimistas, o que vai determinar o comportamento do indivíduo de
sobrestimar ou subestimar a possibilidade de contrair enfermidade.
O que se entende, a partir do que foi discutido até o momento, é que na
medida em que os trabalhadores reconhecem os riscos biológicos existentes e
aos quais podem estar expostos, estariam atendendo parcialmente aos
preceitos do comportamento preventivo. Além de identificarem os agentes
biológicos presentes no material humano, os sujeitos da pesquisa ainda
reconhecem em instrumentos como as agulhas, possíveis veiculadores desta
59
contaminação. Esses instrumentos seriam responsáveis pelas exposições
ocupacionais do tipo percutâneas, capazes de provocar lesões perfurantes e/ou
cortantes; além das agulhas, o bisturi e as vidrarias (BRASIL, 2005).
Você se contaminando com o material [...] com as agulhas [...] as agulhas contaminadas. (TEMI) Agulha ou uma seringa [...] contaminado com alguma coisa, com algum tipo de [...] agente. (TEMXI)
Neste contexto, pode-se encontrar no APH uma condição específica de
situação de risco de exposição ocupacional a material biológico, durante os
atendimentos às vítimas de acidentes automobilísticos que se encontram
presas às ferragens, o que força naturalmente o profissional a penetrar no
veículo, tornando-o suscetível à lesão que pode decorrer do contato com os
estilhaços de vidro e pelas ferragens retorcidas, neste caso, potenciais
instrumentos veiculadores de material biológico.
Por outro prisma, Souto (2003) considera que o corre-corre caracterizado
pelos atendimentos emergenciais, associado à sobrecarga de trabalho, também
pode ser condicionante e gerador em potencial dos acidentes de trabalho.
As falas dos entrevistados denotam que os profissionais reconhecem no
acidente ocasionado por material perfurocortante o tipo de exposição a material
biológico com maior risco, agravado pelo fato de os trabalhadores de
enfermagem manipularem freqüentemente este tipo de material, como citam
Marziale, Nishimura e Ferreira (2004).
Os estudos de Carapinheiro e Lopes (1997) identificaram que 61% dos
acidentes ocorridos nos serviços hospitalares foram decorrentes de materiais
perfurocortantes, o que confirma que estes instrumentos constituem-se nos
60
maiores responsáveis pelos riscos no trabalho de enfermagem; entretanto, a
exposição biológica não fica restrita às formas diretas, tanto assim que os
profissionais reconhecem a possibilidade de exposição indireta, como pode ser
percebido na fala a seguir:
Um equipamento, um aparelho que estiver contaminado com [...] secreção, resíduos [...] pode propagar a contaminação [...] havendo assim o risco biológico. (AUXVI)
Em seu cotidiano, os trabalhadores de enfermagem lidam com materiais
de diferentes naturezas, quase sempre portadores de resíduos humanos, o que
os elegem como fontes de transmissão de doenças; todavia, é importante notar
que os profissionais do APH reconhecem esses materiais como fontes de
riscos. Sendo assim, e na medida em que o profissional de enfermagem possui
conhecimento sobre os riscos biológicos aos quais está exposto, mais fácil se
torna aderir às medidas de proteção, o que está em consonância com o
conceito de ações de proteção de Rosenstock (1974), em que a pessoa
motivada adere às decisões de prevenção em saúde quando se acredita
suscetível ao dano.
Muito embora os profissionais tenham clareza da existência de agentes
contaminantes, tem sido observado no trabalho cotidiano que, em decorrência
da natureza das atividades que desenvolvem e das circunstâncias em que
acontecem, os sujeitos da pesquisa podem estar submetidos a riscos biológicos
em conseqüência do estresse decorrente das suas condições de trabalho, o
que é corroborado por Schneider (1996) quando afirma que os profissionais de
serviços de emergência constituem grupo de alto risco, a partir da freqüência e
intensidade no contato com materiais biológicos.
61
Neste contexto estão os trabalhadores de enfermagem que por estarem
junto ao paciente, praticando o ―cuidar‖ na perspectiva do ―fazer‖, expõem-se a
vários riscos, podendo adquirir doenças ocupacionais e do trabalho, além de
lesões em decorrência dos acidentes de trabalho, como esclarece Bulhões
(1998). Nessa linha de raciocínio, a percepção dos sujeitos da pesquisa sobre
os riscos de exposição vai além daqueles representados pelo material
perfurocortante e outros equipamentos contaminados.
Nesta lógica, os depoentes também identificaram como fonte de risco as
exposições da pele e da mucosa aos materiais biológicos, fato confirmado por
Souto (2003) em seu estudo, ao concluir que o contato com secreções e
excreções constitui-se no principal meio de contaminação do pessoal de
enfermagem.
As situações diretas [...] que atinjam normalmente alguma lesão que a gente possa ter [...] ou a parte de mucosa [...] de olhos [...] boca, é exposição direta no caso. (TEMIV) Ter o contato direto [...] com sangue [...] não só o sangue [...] mas até mesmo com gotículas [...] provenientes de alguma situação. (TEMV)
A pessoa se expor à secreção. (AUXIII)
Dentre as atividades cotidianas que os profissionais do APH realizam,
destaca-se o atendimento às vítimas de trauma, seja em decorrência do
acidente de trânsito ou da violência interpessoal, e nestas situações entram em
contato direto com o sangue e as demais secreções das vítimas, o que
caracteriza uma peculiaridade deste tipo de atendimento, embora se constitua
numa situação de vulnerabilidade à saúde desses trabalhadores.
62
Que tenham mais exposição ao sangue [...] eventos de baleado, acidente de trânsito. (TEMIV)
No pré-hospitalar [...] O primeiro contato com vítima presa em ferragem [...] O risco é maior porque você entra, o material ali já está contaminado. Tem sangue da vítima nas ferragens e você passa pela ferragem, você encosta na ferragem. (TEMXII) Clientela de rua, você não sabe a que patologia esse paciente está exposto [...] você não sabe que [...] vírus ou que patologia pode tá naquele cidadão. (AUXIII) Tem socorro que há necessidade, por exemplo [...] de entrar debaixo de um carro, ou uma coisa parecida e você fica exposto [...] no caso de trauma os movimentos, aquela agitação toda [...] secreção e tudo mais. (AUXVII)
Com base nos estudos de Mauro (1991), Mendes (1993) e Bulhões
(1998), pode-se afirmar que dentre os riscos ocupacionais aos quais os
profissionais da saúde estão submetidos, o biológico é apontado como o
principal responsável por doenças infecto-contagiosas em geral. Nesta
lógica, se este agente de risco assume esta dimensão no aspecto geral de
contaminação, no aspecto particular do atendimento pré-hospitalar ele se
constitui em uma situação preocupante, na medida em que faz parte do
cotidiano de trabalho dos profissionais do APH. E nesta perspectiva, ao
relacionarem a possibilidade da exposição direta aos resíduos biológicos
nas situações vivenciadas especificamente no APH, os entrevistados
também enfatizaram a inadequação da roupa que utilizam no trabalho.
Protegesse mais, porque a gente fica com os braços, a parte do braço exposta. (TEMXII)
63
A respeito da roupa [...] da questão da roupa [...] então no nível assim de roupa, seria uma coisa que poderia ser analisada. (AUXVII)
A qualidade da indumentária é também um fator de proteção e,
conseqüentemente, de prevenção contra os riscos biológicos. Neste sentido, os
depoentes identificaram que as roupas que utilizam não lhes dão segurança
nem proteção para enfrentar um trabalho com as características do APH.
Assim, em suas manifestações consideraram-nas inadequadas para suas
atividades profissionais visto que, na maioria das vezes o atendimento produz
situações de riscos pela contaminação de fluídos.
A vestimenta do profissional de APH deve ser capaz de impedir ou
minimizar a exposição do seu corpo ao material biológico; para tanto, precisa
ser confeccionada com material resistente e impermeável, capaz de cobrir todo
o tronco e os membros.
O Atendimento Pré-Hospitalar caracteriza-se como uma atividade que
gera estresse por conta da imprevisibilidade do atendimento a ser realizado
pela equipe. Neste sentido, a situação de expectativa pode gerar ansiedade e
ser um dos determinantes da contaminação pela equipe de socorro.
A qualquer momento nós estamos expostos a qualquer tipo de exposição [...] tanto na rua, quanto dentro do ASE. (TEMVIII)
No meu dia-a-dia trabalhando, porque eu trabalho num ambiente pré-hospitalar, não trabalho num ambiente hospitalar, dependendo do que eu vou fazer, do que eu vou pegar na rua, do evento que for. (TEMXI)
64
Estudo desenvolvido por Souto (2003, p. 54), sobre o trabalho da equipe
de enfermagem em um CTI oncológico, identificou na situação de estresse um
dos fatores desencadeante de riscos. De acordo com a referida autora, os
riscos psíquicos são os menos estudados e raramente considerados como
capazes de causar doenças ocupacionais, o que não minimiza seus efeitos
perniciosos. Concluiu destacando que ―as situações permanentes de exposição,
de desequilíbrio fisiológico, de fadiga constante, de estresse e de outras
condições decorrentes do trabalho [...] podem ser indicativos para o acidente de
trabalho‖.
SUBCATEGORIA 2 PERCEPÇÃO DA CONSEQÜÊNCIA DE EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO
A percepção da conseqüência à exposição de risco ou, como afirma
Rosenstock (1974), a Percepção de Severidade, expressa-se de duas
maneiras: em relação à própria enfermidade e aos efeitos físicos, sociais,
econômicos e mentais que podem acometer a pessoa. Portanto, a severidade
ou a percepção das conseqüências de exposição aos riscos relaciona-se com a
percepção que cada indivíduo tem a respeito do quanto poderá existir de dano
a ser produzido à sua saúde, pelo contato com materiais contaminantes.
Para Brevidelli (2003), ao se expor a material biológico, o profissional de
saúde arrisca-se a adquirir infecções transmitidas por via sangüínea, sendo
esta uma das questões mais proeminentes na área da Saúde e Segurança
Ocupacional.
Para Dejours (1992), o risco que a nocividade das condições de trabalho
impõe ao corpo gera ansiedade como seqüela psíquica, fato que pode ser
65
constatado se for considerada a subjetividade do risco biológico visto que, após
a exposição, reconhecido como um acidente de trabalho, dificilmente o
indivíduo apresentará os transtornos ou as incapacidades físicas imediatas que
normalmente caracterizam outros tipos de acidentes, exceto a ansiedade que
irá acometê-lo em decorrência da expectativa de adoecer:
Uma contaminação é a médio ou a longo prazo, porque de imediato eu, a princípio, não vou sentir nada. (TEMVIII)
Ainda neste contexto, Brandão (2000) afirma que o impacto emocional
também é um aspecto preocupante, pois o acidente pode ter repercussões
psicossociais e levar a mudanças comportamentais nas relações sociais,
familiares e de trabalho.
Sempre atento [...] se prevenindo contra esses acontecimentos, porque isso à minha saúde vai trazer grandes transtornos em termos físicos, a parte de contaminação. (TEMV)
No caso de contaminação [...] o fator psicológico, você já fica já desestruturada acerca da doença que pode vir, que pode aparecer. (TEMIX)
No que diz respeito à possibilidade de contaminação, os depoentes
reafirmaram suas preocupações quanto aos aspectos físico e mental que o
problema causaria. Nesta direção, Lancman e Sznelwar (2004, p.36) afirmam:
O trabalho real é tanto subjetivo como intersubjetivo e repousa sobre as energias do domínio afetivo. Não observar a dimensão subjetiva do trabalho leva os agentes a sofrerem e a resistirem em seu sofrimento com estratégias de defesa, hoje identificadas como psicodinâmica do trabalho, com possíveis efeitos desastrosos sobre a produtividade – desavenças, desmobilização, individualismo – e conseqüências nefastas para a saúde mental e somática dos agentes.
66
Em suas análises, os autores (Op.cit.) chamam a atenção para as
conseqüências que uma condição qualquer do trabalho pode trazer para o
equilíbrio do trabalhador. No caso desta pesquisa, o fato de o profissional estar
na iminência de um ataque à sua saúde poderá causar-lhe desequilíbrio físico e
mental, que devem ser identificados e considerados no ambiente de trabalho.
Ainda em relação à possibilidade de contrair doenças, os depoentes
deste estudo reconheceram que isto pode acontecer, em especial no que se
refere às Hepatites e ao vírus HIV, pela natureza e características do trabalho
que realizam que leva ao contato com agentes de doenças infecciosas e
parasitárias, podendo fazê-los adoecer ou portar assintomaticamente alguma
patologia.
Eu posso [...] contrair algum tipo de doença [...] qualquer tipo de doença. (TEMI) Doenças que [...] possa dar uma infecção. (TEMIV)
Depende do que você foi exposto, você pode desencadear uma patologia. (AUXIII) Contaminações, por vários tipos de doenças. (AUXVII)
A percepção dos respondentes acerca da possibilidade de contrair
qualquer tipo de doença desvela o conhecimento sobre a severidade que o seu
objeto de trabalho poderá acarretar à sua saúde. No entanto, como analisado
adiante, isto não serve de parâmetro para a adoção de um comportamento
preventivo.
Muito embora grande parte da população deste estudo tenha sido
submetida a um esquema vacinal para a prevenção da transmissão sanguínea
da Hepatite B, juntamente com o HIV / AIDS, esta foi a doença infecciosa mais
citada pela possibilidade do contágio ocupacional, sendo mesmo ignorado por
67
estes indivíduos o fato de tratar-se de uma doença imunologicamente
prevenível.
Situação semelhante a esta ocorreu em estudo realizado por
Carapinheiro e Lopes (1997), em que a possibilidade de contrair HIV / AIDS e
Hepatite B era a que mais afligia os profissionais de enfermagem, revelando
serem estas as doenças que ainda suscitam grande preocupação entre esses
trabalhadores, conforme os depoimentos abaixo:
A contaminação do HIV [...] da hepatite. (TEMII) Várias doenças [...] hepatite, AIDS. (TEMIV)
Posso contrair várias doenças [...] hepatite B, hepatite C, HIV e outras doenças ainda. (TEMX) Dependendo do quê que a gente ficar exposto [...] pode pegar desde uma hepatite até um HIV positivo, vamos supor. (TEMXI) Contaminação [...] por hepatite, AIDS [...] toda doença [...] transmitida [...] por sangue. (TEMXII) Dependendo [...] posso adquirir desde infecção por HIV, Hepatite B, C, A [...] Sífilis, e por aí vai. (AUXVI)
O depoente a seguir reconhece que se expor a material biológico poderá
trazer transtornos à sua saúde e à da sua família:
Eu me contaminar [...] podendo levar essa contaminação [...] pra minha esposa [...] filhos.
(TEMV)
A preocupação deste depoente é salutar e reflete o seu grau de
percepção em relação aos possíveis riscos laborais, contribuindo para que
adote um comportamento preventivo em relação aos riscos ocupacionais. Vale
enfatizar que o crescimento da incidência de doenças como tuberculose,
hepatite B e infecção por HIV em trabalhadores da saúde, tem aumentado os
68
investimentos em ações preventivas nesta área de atuação (BRASIL / OPAS,
2001).
O motivo pelo qual um dos grupos de depoentes referiu especificamente
a possibilidade de adoecer por Hepatite ou AIDS pode ser justificado pelo fato
de estarem ocorrendo maiores investimentos sanitários no controle da
transmissão dessas doenças: no caso da Hepatite B, a promoção de
campanhas de imunização dos trabalhadores da saúde, e no da AIDS, o
estabelecimento do protocolo de quimioprofilaxia como rotina para os
trabalhadores expostos.
Outro motivo que justifica o profissional reconhecer a possibilidade de se
tornar portador do HIV é que a preocupação com riscos biológicos para
profissionais que atuam na área da saúde surgiu somente a partir da epidemia
da AIDS nos anos 80, quando as normas para as questões de segurança no
ambiente de trabalho foram melhor estabelecidas (RISCOBIOLÓGICO - ON
LINE, 2002), o que faz com que os indivíduos associem o risco biológico ao
risco de contrair a doença, como é identificado nas falas a seguir:
Eu posso contrair AIDS [...] a doença que a gente fica mais preocupada. (TEMI) Muita gente se preocupa só em contato com sangue em pegar HIV. (TEMV) Caso de contaminação, HIV. (TEMIX)
Diante do exposto, é possível afirmar que, ao reconhecerem os riscos a
que estão expostos no dia-a-dia, os trabalhadores da APH investigados podem,
na perspectiva das percepções de susceptibilidade ao risco e da gravidade ou
severidade de Rosenstock (1974), adotar comportamentos preventivos em
69
saúde. Para tanto, precisam encontrar um fórum de discussão e de
instrumentalização que lhes possibilite, ao mesmo tempo, apropriarem-se de
novos conhecimentos e conscientizarem-se da necessidade de mudança
comportamental diante das situações de trabalho enfrentadas.
70
CAPÍTULO 3
PERCEPÇÃO DOS BENEFÍCIOS NA UTILIZAÇÃO DE MEDIDAS DE PROTEÇÃO
Esta categoria está diretamente vinculada à temática anterior, que trata
do reconhecimento da suscetibilidade e da severidade do risco biológico, isto é,
do fato de que o profissional de enfermagem somente alcançará benefícios na
utilização das medidas de proteção, se anteriormente houver desenvolvido a
percepção da sua exposição ao risco biológico, e de que esta condição poderá
trazer-lhe algum dano à saúde. Neste caso específico, apresentar a percepção
de benefícios é acreditar que a exposição a material biológico pode ser
prevenida por medidas de biossegurança.
Por medidas de biossegurança, de acordo com Mastroeni (2004),
entende-se a aplicação do conjunto de conhecimentos, técnicas e
equipamentos, com a finalidade de prevenir a exposição do trabalhador,
laboratório e ambiente a agentes potencialmente infecciosos ou biorriscos.
A categoria representou 38 (30%) unidades de registro identificadas nos
depoimentos, e os temas foram relacionados de acordo com o reconhecimento
dos equipamentos de proteção e da necessidade de utilização do EPI em todo
tipo de evento; no estabelecimento do EPI necessário conforme o tipo de
evento, e no destaque da luva como EPI priorizado.
Em estudo sobre a adesão de trabalhadores de enfermagem a
tratamento com anti-retrovirais pós-exposição a material biológico e os
benefícios percebidos, Sailer (2004, p.48) concluiu que a percepção dos
indivíduos expostos referia-se “à crença na efetividade da ação e na sua
percepção, com resultados positivos”; em outras palavras, “uma alternativa vista
71
como benéfica”, relacionada à redução da suscetibilidade ou severidade de
uma determinada doença.
Para Rosenstock (1974), o grau de ameaça percebido pelo indivíduo,
traduzido na percepção do risco biológico real, é o que determina o
reconhecimento dos benefícios relacionados às medidas preventivas. Portanto,
a discussão que se faz a este respeito pauta-se nas medidas de prevenção que
os profissionais identificaram como indispensáveis à sua proteção quanto a este
risco. Nessa linha de raciocínio, foi possível constatar que todos têm clareza a
respeito dos equipamentos de proteção e de sua importância, tanto assim que
reconheceram sua utilidade na prevenção da exposição ao material biológico:
Estar com a proteção devida! [...] usando os EPI necessários [...] Luva, máscara, óculos. (TEMI) Proteção de luvas, óculos, aventais no caso [...] máscara de proteção. (TEMIV) Eu uso tudo que possível, luva [...] óculos [...] máscara. (TEMIX) A utilização [...] a prevenção mesmo [...] equipamento de proteção individual, luva, óculos, máscara. (TEMXII) Material de prevenção individual [...] na medida do possível com material individual, luva, gorro, máscara, óculos, avental. (AUXIII)
Além do reconhecimento da importância da adesão aos EPI na
prevenção à exposição ao material biológico, foi possível observar que os
depoentes associaram os equipamentos às suas finalidades, como
demonstrado nas falas a seguir:
72
Por causa do sangue [...], você usa luva [...] quando você vai fazer um acesso venoso, quando você vai aspirar você usa óculos, você usa máscara. (TEMX) Luvas, óculos de proteção, máscara. Máscara também é importante no caso pegar um paciente [...] com histórico de tuberculose [...] seria importante. (AUXVI)
No evento [...] envolvendo projétil de arma de fogo [...] traumatismos graves também [...] no caso utilizo óculos de proteção, a luva, e em alguns casos eu coloco a máscara [...] pela grande quantidade [...] de sangramento. (AUXVII)
Também foi identificada a necessidade de proteção específica nos casos
em que o profissional apresenta perda de integridade da pele:
Onde tiver lesão no nosso corpo é bom fazer um curativo [...] não deixar exposto. (TEMIV)
A pele humana, dentre suas diferentes funções, é um órgão natural de
barreira aos microorganismos; porém, se não estiver íntegra, pode causar risco
biológico para o profissional, como ocorre quando há presença de dermatites ou
feridas abertas, casos em que deverá ser estabelecida uma barreira artificial, ou
mesmo a readaptação funcional do trabalhador, até a sua total recuperação
(BRASIL, 2005). O que se percebe no depoimento anterior é que, por ser um
discurso idealizado, não refletindo uma ação ou atitude concreta do sujeito,
deixa entrever um certo distanciamento entre o que deve ser feito, o que é bom
que seja feito e o que realmente é feito. Ainda assim, o fato de os depoentes
reconhecerem os agentes causadores de riscos de natureza biológica, já
pressupõe um passo adiante para a adoção de medidas de proteção que
venham a se traduzir em benefícios à saúde de cada um.
De acordo com Rosenstock (1974), o comportamento assumido pelo
73
indivíduo frente a uma condição adversa está diretamente relacionado ao grau
da ameaça percebida por este, sendo que esta condição ameaçadora leva-o à
percepção dos benefícios das alternativas conhecidas para reduzir a ameaça à
qual está submetido.
Nos depoimentos, no entanto, percebeu-se certo distanciamento entre os
conceitos emitidos pela maioria dos depoentes e suas práticas cotidianas,
constatado a partir de falas que sugeriram haver negligência no uso da máscara
e dos óculos de proteção.
Muito embora os sujeitos da pesquisa reconheçam a ameaça imposta
pelo trabalho e a importância e finalidade da adesão aos EPI na prevenção da
exposição ao material biológico, estes não estão suficientemente conscientes
dos benefícios que o uso desses materiais pode trazer para a sua saúde e a de
seus familiares, pois, não se valem dos recursos como medidas de proteção, o
que denotaria uma mudança de comportamento, ou seja, de crença nas
orientações determinadas. Ao expressarem suas opiniões, os depoentes
descreveram a utilização do material de proteção como se a adesão aos EPI
fosse uma realidade em seu dia-a-dia de trabalho:
O equipamento [...] normal, que é os nossos óculos, a luva [...] avental [...] a máscara também. (TEMXI)
Luvas de procedimentos, óculos de proteção [...] o material assim básico, que eu costumo usar [...] em alguns casos, até máscara. (AUXVII)
Apesar das afirmativas anteriores, o que se tem percebido no cotidiano
destes trabalhadores de enfermagem é que, exceto pela utilização das luvas, os
demais equipamentos de proteção são negligenciados pela maioria. Assim, o
que se constata é que todos são conhecedores das medidas reais a serem
74
adotadas nestas circunstâncias, muito embora não as tenham internalizado, a
ponto de realizarem procedimentos assistenciais sem uma total segurança e
proteção.
Seguindo o referencial de Rosenstock (1974), a análise das falas revela
que os profissionais em questão reconhecem os benefícios na utilização das
medidas de proteção e que, em diferentes momentos, identificam os
equipamentos de proteção. Entretanto, chamou atenção nesta categoria o fato
de a mesma apresentar temas conflitantes entre si, posto que as falas em um
dado momento demonstram reconhecer a necessidade do uso dos EPI em todo
tipo de evento, e em outro, expressam o condicionamento do uso dos EPI a um
certo tipo de evento. Outro dado bastante relevante foi constatar que os
profissionais reconhecem a luva como o equipamento de proteção prioritário,
que deve ser utilizada em todas as situações de socorro.
A seguir, os depoimentos que representam a situação dicotômica
identificada nesta categoria. Inicialmente apresentaremos as falas que
reconhecem a necessidade do uso dos EPI para todo tipo de evento:
Eu acho que em todas as situações você deve usar os equipamentos [...] apropriados. (TEMI) Em todos os momentos [...] até o capote, o avental [...] em todos os momentos deveriam ser usados. (TEMII) No mal súbito, também tem que ser usado é óbvio que pode ter uma secreção tipo vômito em jato e que possa também causar algum problema. (TEMIV) Em todas as situações são importantes [...] a gente nunca sabe o que é que vai acontecer. Os imprevistos tão aí prontos pra acontecer a qualquer momento e os mais diversos possíveis. (TEMV)
75
Em todas as situações a princípio, independente de material biológico ou não, porque isso se chama auto-proteção, equipamento de proteção individual. (TEMVIII)
Independe do tipo de doente, o mal súbito ou a vítima de trauma eu estou sempre me protegendo [...] em todas as situações [...] porque você nunca sabe o que o paciente tem, o que a vítima tem. (TEMIX) Eu acho que todo evento, toda situação a gente tem que usar o material adequado [...] desde o mal súbito até [...] um projétil de arma de fogo [...] todas as situações é preciso você descer (da ambulância) [...] bem preparado. (TEMXI) Em toda situação. Por exemplo [...] num acidente [...] numa colisão [...] sangue pra tudo quanto é lado [...] secreção [...] e nos atingir. (AUXVI)
Ao se referirem ao uso dos equipamentos de proteção, os depoentes
parecem também estar falando de uma situação idealizada, ou seja, daquilo
que deveria ser, e não das medidas que adotam no cotidiano do trabalho. Em
suas afirmações, expressam com segurança o conhecimento que um
trabalhador de APH deve ter para agir nas diversas circunstâncias, seja em
acidentes aonde o material biológico se extravaza para o exterior, seja nas
patologias em que poderá haver riscos de contaminação ou não. Entretanto,
são contraditórios quando circunstancializam o uso do material de proteção,
denotando que o grau de ameaça que percebem nas situações reais de
trabalho, são insuficientes para desenvolver comportamentos relativos aos
benefícios advindos do uso das medidas de proteção (ROSENSTOCK, 1974).
Assim, alguns dos depoimentos a seguir corroboram o condicionamento
do uso dos equipamentos de segurança ao tipo de evento:
76
Luva, óculos [...] quer dizer [...] os óculos a gente só usa mesmo se a gente vê que a situação é necessária. (TEMI) Não uso constantemente mais a máscara, mas deveria usar mais vezes. (TEMII) E dentro do quadro que a gente encontra [...] a gente vai se precavendo [...] colocar óculos [...] colocar máscara. (TEMV) Eu me protejo também com máscara [...] quando estou de serviço, trabalhando. (TEMVIII) Óculos e a máscara quando [...] vítimas mais graves [...] quando vou trabalhar diretamente na face da vítima. (TEMXII) Eu saio e avalio a cena [...] se precisa utilizar os óculos, a máscara. Nem tanto a máscara [...] a máscara fica no bolso. (AUXVII)
A maioria dos trabalhadores de APH investigados condicionou o uso dos
equipamentos de proteção individual a uma avaliação prévia da situação de
emergência que se apresenta, o que contraria toda a orientação e o
conhecimento sobre o assunto. Um deles chegou a reconhecer que negligencia
o uso de material de proteção básico, como a máscara, embora devesse fazê-
lo, numa demonstração de que conhecia a necessidade de se proteger, e no
entanto, não o fazia. Tal atitude mostra que a percepção dos benefícios na
utilização das medidas de proteção destes trabalhadores não corresponde ao
grau de riscos identificados no trabalho cotidiano e ao conhecimento que os
mesmos professam em relação à sua profissão.
O depoimento a seguir é revelador de uma atitude consciente da
importância que os EPI têm na proteção dos trabalhadores, e este deveria ser o
comportamento adotado por todos os profissionais em qualquer situação
77
de trabalho:
Eu uso todos [...] os óculos, a máscara, a luva, se tiver, se for trauma até o avental eu uso. (TEMIX)
De acordo com o Modelo de Crenças em Saúde, já mencionado, a
percepção de benefícios e a sua prática são os elementos constitutivos para a
ação preventiva, materializando-se a partir da compreensão e dos padrões de
comportamento preventivo adotados pelos sujeitos.
O depoimento a seguir, implicitamente revela a existência da lacuna
entre o comportamento desejado e o assumido, em que a palavra ‗ideal‘
utilizada pelo entrevistado atribui conotação utópica à sua afirmativa, o que
pode levar à compreensão da contradição presente nas falas dos sujeitos da
pesquisa nesta categoria:
O ideal é usar em todas as situações, por mais simples que seja [...] o ideal é você descer da viatura com tudo [...] a utilização sempre do equipamento de proteção. (TEMXII)
Em estudo sobre o modelo explicativo da adesão às precauções-padrão,
Brevidelli (2003) comenta que a revisão da literatura aponta para a análise dos
fatores que interferem na tomada de decisão dos profissionais de saúde,
baseada em três dimensões: indivíduo, trabalho e organização. Comenta a
autora que, apesar dos investimentos e incentivos para mudança de atitudes,
os resultados não têm sido animadores e, apesar de mais de uma década de
esforços dirigidos para incentivar as medidas preventivas, estudos em
diferentes países têm demonstrado níveis insatisfatórios de adesão às
recomendações das referidas precauções.
No mesmo estudo, a autora constatou um alto índice de adesão à luva
78
em relação aos demais equipamentos de proteção, fato que também foi
observado no presente estudo em que o uso do citado EPI foi
reconhecidamente priorizado pelos profissionais, recebendo a adesão
indiscutível de todos em quaisquer modalidades de eventos assistenciais:
A luva, eu acho que é o equipamento mais necessário. (TEMI) Não punciono nenhuma veia sem luva. E no mínimo, no mínimo de tudo você tem que tá [...] pelo menos com o par de luvas na mão [...] é o mínimo possível, um par de luvas na mão. (TEMII) Luva de procedimento, porque eu não sei se existe [...] um HIV positivo. (TEMVIII) Eu calço duas ou às vezes até três pares de luvas. (TEMXI) A luva sempre. (TEMXII)
Primeiramente luvas [...] não tem como, não consigo me imaginar trabalhando sem luvas. (AUXVI)
Os depoimentos foram incisivos em relação ao uso das luvas, por
considerarem os trabalhadores que elas são indispensáveis para o trabalho
cotidiano destes profissionais durante o APH. Visto por outro ângulo, a luva tem
sido o EPI mais utilizado no cuidado de enfermagem em geral, o que confirma
que a enfermagem absorveu a idéia do seu uso como um benefício para evitar
riscos e preservar a saúde do trabalhador, segundo o conceito de percepção de
benefícios de Rosenstock (1974).
Desse modo, foi possível concluir que a maioria dos trabalhadores do
APH apresenta alguma distorção de comportamento quando não associa à
prática do cuidado diário, os preceitos teóricos dos benefícios que o uso dos
EPI podem oferecer, confirmando a existência de uma distância considerável
79
entre o conhecimento que têm acerca dos riscos a que estão submetidos e as
ações que devem realizar no dia-a-dia.
80
CAPÍTULO 4
PERCEPÇÃO DAS BARREIRAS À ADOÇÃO DOS EPI
Esta categoria aborda o nível de percepção dos profissionais de
enfermagem acerca dos aspectos negativos relacionados com as ações
preventivas, ou seja, os fatores que interferem ou impedem a adesão ao uso
rotineiro dos equipamentos de proteção. São aspectos avaliados sob a ótica
custo-benefício, ou seja, o indivíduo faz um ―balanço‖ entre os benefícios
decorrentes da adoção de uma ação preventiva e os fatores que identifica como
inconvenientes à prática desta ação.
Todos os aspectos considerados negativos à adoção das práticas
preventivas geram conflito nos indivíduos e são caracterizados como barreira
ao comportamento preventivo em saúde. Assim, quanto mais acurada for a
percepção dos benefícios das medidas preventivas, melhor serão identificados
os fatores restritivos percebidos como barreiras os quais, uma vez identificados,
poderão ser eliminados ou reduzidos.
Esta categoria abrangeu 31 (25%) unidades de registro identificadas nos
depoimentos, sendo os temas relacionados ao comodismo na adesão aos EPI,
o EPI disponível, a necessidade de conscientização das equipes, o
entrosamento das equipes e a dificuldade de abordar o tema.
Segundo Rosenstock (1974), há maior possibilidade de incorporação
cotidiana dos EPI se os benefícios percebidos na sua utilização superarem as
barreiras percebidas na adoção dos mesmos. Esta categoria será considerada
atendida se o profissional conseguir identificar as barreiras que interferem na
utilização dos EPI, ou que a impedem.
81
De acordo com o mesmo autor, a percepção de barreira se dá
principalmente no aspecto psicológico, quando situações como custos,
conveniência, sensação de dor, incômodos provocados por exames ou por
ações preventivas, não são superadas pelos indivíduos, exacerbando e
priorizando as barreiras em detrimento dos benefícios de proteção e prevenção.
Nas falas dos depoentes foi possível verificar que estes identificaram as
barreiras à prevenção da exposição ao material biológico, tendo no comodismo
um dos impeditivos à adesão plena dos EPI:
Às vezes passa despercebido por usar um óculos, um avental [...] por comodismo não se usa. (TEMII) Alguns até sabem que existe [...] o risco, mas acham que isso nunca pode acontecer, acham que isso nunca vai acontecer comigo [...] acontece com os outros, mas nunca vai acontecer comigo, tá errado, nós estamos assim expostos, conseqüentemente a gente pode se expor. (TEMVIII)
Geralmente as pessoas acham que nunca vai acontecer com ela. (TEMIX) Eu acho que todo evento, toda situação, a gente tem que usar o material adequado, embora às vezes o comodismo nosso, no dia-a-dia. (TEMXI)
Silva (2000) afirma que comportamentos de negação, resistência e
adaptação apresentados por trabalhadores de enfermagem de terapia intensiva,
podem ser uma forma de sobrevivência diante da convivência com o risco
ocupacional.
Também Dejours (1992) explicita que as reações apresentadas podem
ser decorrentes dos conteúdos das tarefas e das pressões de responsabilidade
da organização do trabalho que, às vezes, estabelecem um conflito psíquico.
Nesta linha de raciocínio, deve-se levar em conta que o atendimento
82
pré-hospitalar caracteriza-se como uma atividade geradora de estresse, uma
vez que a imprevisibilidade e a condição de emergência que permeiam os
atendimentos causam expectativas que levam seus profissionais à ansiedade.
Desta forma, conviver com o risco ocupacional biológico na adversidade
deste ambiente laboral, pode reproduzir comportamentos de negação,
resistência e adaptação em resposta aos conteúdos das tarefas e das pressões
de responsabilidade da organização do trabalho.
Por outro lado, o comodismo de alguns profissionais de saúde frente a
determinadas ações realizadas no cotidiano, pode contribuir para a introjeção
de hábitos desencadeadores de riscos à saúde. Portanto, entende-se que uma
ação de alerta freqüente a estes profissionais, reintroduzindo-os no
comportamento preventivo de saúde, é da maior valia na prevenção de danos à
sua saúde e à dos seus familiares.
A disponibilidade de equipamentos de proteção foi mais um tema
presente nas falas dos depoentes, identificada como possível causa de barreira
à prevenção da exposição ao material biológico, por impedir a adesão plena
dos EPI, muito embora a qualidade e a disponibilidade desses itens tenham
sido questionadas.
É bom que nós tenhamos o material pra gente poder também usar. (TEMIV) O que eu tiver prá usar [...] se tiver disponível eu utilizo [...] o que tiver prá utilizar. (TEMX) Maior oferta de material de proteção individual [...] tá muito precário. (AUXIII)
83
Estes depoimentos chamam a atenção para a responsabilidade das
instituições de saúde no sentido de disponibilizarem materiais suficientes e com
qualidade para utilização durante o atendimento pré-hospitalar, considerando
que pela sua natureza, este tipo de trabalho favorecer a ocorrência de riscos e
adoecimentos.
Na opinião de Sailer (2004), além dos problemas relacionados à
utilização de EPI, também devem ser consideradas as condições de segurança
dos materiais disponíveis, como referido pelos entrevistados, que corroboram o
conceito de barreira e impedem o trabalhador de se proteger adequadamente
contra os riscos ocupacionais:
Depende do material que a gente está usando, se ele rasga à toa [...] e quando dá, a gente também põe uma máscara, entendeu? (TEMXI) Uma roupa que a manga fosse até o punho. As luvas [...] que fossem de um material um pouco mais resistente [...] porque elas rasgam com facilidade. (TEMXII) Este tipo de luva (quis dizer máscara) que nós temos aqui, acho que no caso não seria o ideal. (AUXVI) Em São Paulo eles usam aquele macacão impermeável, um material que você possa sujar por acaso [...] o pano não vai ficar molhado, e esse material, ele protege os braços, o antebraço, o membro superior. (AUXVII)
Entretanto, o próprio profissional reconhece que a não adesão ou a
adesão parcial não se limita unicamente à indisponibilidade dos equipamentos
de proteção, mas tem a ver também com a disposição interna dos sujeitos que
poderá estabelecer um balanço positivo aos benefícios percebidos e assim,
superar as percepções de barreira.
84
Não adianta ter o material e as pessoas não utilizarem esses materiais. (TEMIV)
Percebe-se, entretanto, que a adoção ao uso efetivo e permanente dos
materiais de proteção está associada ao valor atribuído pelos sujeitos ao seu
uso. A fala anterior ressalta um fato que se observa com freqüência entre os
profissionais de saúde: a negligência em proteger a sua própria saúde.
Neste aspecto, cabe chamar a atenção para o treinamento permanente
dos profissionais no sentido de mantê-los sempre alertas para as possibilidades
de exposição aos riscos ocupacionais, em conseqüência da natureza das
atividades que desenvolvem no dia-a-dia, em especial por ser relevante o grau
de desprofissionalização que apresentam nesta área, principalmente devido à
deficiência de formação específica, o que torna fundamental o resgate do
processo de capacitação e educação em serviço.
O comportamento preventivo em saúde dos trabalhadores em questão
será determinante para a adoção de posturas compatíveis com os riscos a que
estão expostos. Cabe à instituição empregadora estabelecer ações educativas,
além de disponibilizar os equipamentos necessários à proteção individual e
coletiva. Uma vez que todos estejam conscientes, crescerá sobremaneira a
possibilidade de o trabalhador reconhecer na adoção das medidas preventivas,
a maneira mais eficaz e adequada de evitar danos à saúde no trabalho.
No estudo de Braga (2000) enfocando acidente de trabalho com material
biológico, no qual os trabalhadores da equipe de enfermagem foram
questionados sobre precauções básicas e treinamento, estes enfatizaram que o
próprio local de trabalho deveria ser o local privilegiado para a discussão do
cotidiano de trabalho e da prevenção do acidente com material biológico, o que
85
não representa a realidade atual.
A falta de conscientização dos profissionais de enfermagem também foi
apontada nos depoimentos como fator capaz de estabelecer uma barreira à
adesão ao uso dos EPI:
Conscientização [...] as pessoas não têm ciência. (TEMV)
Conscientização [...]. Maior investimento na conscientização. (AUXIII)
A conscientização é algo que se dá no interior das pessoas e se
manifesta no comportamento social de cada um. A não conscientização pode
decorrer da concepção idealizada da profissão, como sugerem Robazzi e
Marziale (1999), isto é, quando o trabalhador submete-se aos riscos
ocupacionais, acidenta-se, adoece e, invariavelmente, não relaciona às
condições laborais os agravos que acometem a sua saúde.
A conscientização [...] tirar da cabeça que aquela coisa nunca vai acontecer. (TEMVIII)
A partir do momento em que os profissionais reconhecerem nos
equipamentos de proteção a forma segura de se prevenirem, ou seja, quando
se conscientizarem de que o uso dos EPI não se constitui apenas em uma
indumentária, mas em um mecanismo de proteção, provavelmente o quadro de
acidentes e de adoecimentos tenderá a se reduzir. Nesse sentido, o
treinamento dos indivíduos foi apontado nos depoimentos como possível
solução para a ausência de conscientização:
Reforço maior sobre os perigos [...] palestra sobre os perigos. (TEMII) Orientações [...] focar bem na nossa proteção individual. (TEMIV)
86
Tem que estar com tudo isso na cabeça [...] pensar em preservar a nossa saúde a nossa integridade [...] sempre ligado [...] ter isso já amarrado na mente [...] sempre atento [...] se prevenindo. (TEMV) Esclarecimento [...] palestras de esclarecimento. (TEMVIII) Muita informação [...] palestra [...] conscientização. (TEMIX) Uma equipe [...] bem treinada. (AUXVI)
Sabe-se que o processo educativo permanente é hoje considerado como
a mais poderosa arma para as instituições alavancarem suas atividades
produtivas. Na área da saúde, e em particular na enfermagem, este processo
ainda não alcançou o patamar desejado, em que pesem a reciclagem e o
aperfeiçoamento do pessoal trabalhador, isto porque tanto as instituições como
os próprios profissionais ainda não se deram conta de que este é o grande
desafio que está colocado pelo modelo econômico atual.
É sempre válido ressaltar que o mundo globalizado exige dos profissionais
cada vez mais criatividade e versatilidade no desempenho de suas funções, e a
enfermagem precisa estar engendrada neste contexto, tendo o pensamento
voltado para a modernidade. Estar engajada é estar consciente das próprias
responsabilidades a fim de adotar atitudes conscientes e consentâneas com
aquilo que realiza.
A falta de entrosamento da equipe foi outro item apontado pelos
depoentes, que citaram a boa interação do grupo como um fator modificador
das barreiras à adoção do comportamento preventivo:
87
Trabalhando em conjunto [...] acontece muito em hospital e tudo [...] agulha que o pessoal coloca. (TEMIV) Uma boa interação com a equipe [...] a equipe toda tem que estar em interação e sintonia [...] principalmente falando [...] sermos coordenados naquilo que a gente faz. Eu além de me proteger, eu também vejo os colegas. (TEMXI)
O desentrosamento apontado pelos sujeitos do estudo pode decorrer do
modelo adotado para compor as equipes do APH que, em sua organização, não
prevê todos os integrantes da equipe de enfermagem. De acordo com Braga
(2000, p. 49),
o trabalho de enfermagem pressupõe um trabalho em equipe com uma divisão técnica, onde cada categoria possui funções definidas e parceladas, cabendo ao enfermeiro (nível superior) a função de administrar, supervisionar e disciplinar o trabalho e aos demais membros da equipe, procedimentos e responsabilidades diferentes.
Nesse sentido, a Resolução COFEN-300 / 2005, do Conselho Federal de
Enfermagem (COFEN), dispõe sobre a atuação de seus profissionais no
Atendimento Pré-hospitalar e Inter-hospitalar, e seu Artigo 1° prevê que:
No atendimento pré-hospitalar e inter-hospitalar de Suporte Básico e de Suporte Avançado de Vida os procedimentos de Enfermagem previstos em Lei sejam privativamente desenvolvidos por Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem e Auxiliares de Enfermagem, de acordo com a complexidade da ação e após avaliação do Enfermeiro.
Sendo assim, considerando que o exercício dos profissionais de
enfermagem de nível médio é subordinado à supervisão (direta) do enfermeiro,
e que este princípio faz parte da formação profissional de todas as categorias, é
possível inferir que este grupo esteja ressentido da ausência de liderança, pois,
de acordo com Blank (1987), é o enfermeiro quem detém o conhecimento do
processo de trabalho da enfermagem, além do ser o responsável pelo controle
88
das atividades dos elementos auxiliares da sua equipe. Pelo exposto, vale
ressaltar o pensamento de Souto (2003) no sentido de que o bom
relacionamento entre os componentes de uma equipe é um dos determinantes
da qualidade do trabalho e, portanto, deve ser cultivado.
Dentre as intervenções que têm sido enfatizadas na prevenção da
exposição do profissional de saúde a material biológico, estão as mudanças nas
práticas de trabalho com o objetivo de programar e desenvolver uma política
específica da revisão de procedimentos e treinamento dos profissionais
(RISCOBIOLÓGICO - ON LINE, 2002).
Na construção da cultura prevencionista no ambiente de trabalho, é
indispensável que haja investimento institucional, a fim de que o trabalhador
reconheça a necessidade de abandonar a atitude passiva e adote uma postura
pró-ativa, diante das condições ambientais que lhe impõem risco à saúde. De
acordo com Braga (2000), para que os esforços voltados à prevenção da
exposição ocupacional a material biológico possam contribuir para a superação
do atual quadro de gravidade nessa área, torna-se necessário, principalmente,
a incorporação dos saberes dos trabalhadores que vivenciam as situações de
trabalho.
O tema ―dificuldade em abordar o assunto‖ aparece como um aspecto
contraditório, uma vez que foi adequadamente atendida a categoria que aborda
o nível de percepção dos profissionais de enfermagem acerca das
possibilidades e formas de exposição ao risco biológico, bem como sua
gravidade ou severidade. Assim, o surgimento deste tema parece que é apenas
um problema semântico. Também é relevante considerar a dificuldade em
abordar o assunto sob a ótica da negação do risco, como mecanismo psíquico
89
desenvolvido pelos trabalhadores para reduzir o sofrimento advindo das
condições do trabalho.
Os depoimentos a seguir referem-se ao questionamento sobre a
diferença entre agente biológico e material biológico. Como se pode perceber,
houve dificuldade entre os depoentes em conceituar ou mesmo estabelecer
diferenças entre as duas categorias:
Eu não estou sabendo me expressar! (TEMI) Nossa! já começou complicado [...].acho que no caso, vamos tentar [...] ah não sei explicar! (TEMII) Como é que eu posso colocar esta questão [...] está me fugindo a palavra agora. (TEMV) Mas como assim? Eu não entendi! (TEMX)
Diante do que foi exposto, é possível afirmar que entre os trabalhadores
do APH investigados existem fatores que estabelecem barreiras ao
comportamento preventivo em saúde na perspectiva das percepções de
barreiras à ação de Rosenstock (1974), ou seja, as ações são avaliadas sob a
ótica custo-benefício. Entretanto, as barreiras foram identificadas e estão
relacionados ao comodismo, ao EPI disponível, ao treinamento das equipes, à
necessidade de entrosamento das equipes e à dificuldade em abordar a
temática.
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O crescente aumento do contingente populacional, principalmente nos
grandes centros urbanos, fez crescer na mesma proporção o número de
acidentes e de casos de violência, elevando a demanda por serviços na área de
Urgência e Emergência. Estas situações vêm fazendo com que os gestores do
Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, em
ação conjunta, estabeleçam novas estratégias de atendimento à população,
uma vez que os casos de acidentes e violência têm forte impacto social e no
Sistema Único de Saúde (SUS), o que pode ser medido pelos gastos crescentes
com internação hospitalar, altas taxas de permanência e aumento de 30% no
índice dos Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP), segundo dados recentes
do Ministério da Saúde.
Dentre as medidas já adotadas pelo referido Órgão governamental, em
parceria com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, destacam-se
aquelas reunidas no Programa de Apoio à Implantação de Sistemas Estaduais
de Referência Hospitalar em Atendimento de Urgência e Emergência, que tem
por finalidade realizar investimentos de custeio, adequação física e
equipamentos dos serviços integrantes destas redes, na área de assistência
pré-hospitalar, nas Centrais de Regulação, e também de promover a
capacitação de recursos humanos. A estrutura dos Sistemas Estaduais de
Urgência e Emergência prevê toda a rede assistencial, desde a pré-hospitalar,
onde está inserido o Serviço de Atendimento Pré-Hospitalar móvel (SAMU,
resgate, ambulâncias do setor privado, etc.), até a rede hospitalar de alta
complexidade.
91
Foi no contexto de assistência à saúde do Serviço de Atendimento Pré-
Hospitalar Móvel (referido no estudo como Atendimento Pré-Hospitalar – APH),
que surgiu o interesse em investigar o comportamento dos profissionais de
enfermagem frente ao risco biológico, em especial os de nível médio, visto ser
ainda bastante incipiente a atenção dada a esta área de atuação, tanto nos
cursos de graduação quanto nos cursos técnicos profissionalizantes, o que
compromete bastante a capacitação, a habilitação e a educação continuada
desses profissionais.
O comportamento deste segmento profissional em relação ao risco
biológico despertou especial atenção, considerando onde são ambientadas e
sob quais condições desenvolvem suas ações de trabalho. São pessoas que se
acham em condição laboral singular, pois, diferentemente dos profissionais da
área hospitalar, atuam em via pública e assistem, além dos eventos clínicos,
aos eventos traumáticos decorrentes de acidentes e violência interpessoal.
Os sujeitos do estudo convivem no dia-a-dia com a condição de
emergência norteando o atendimento, com exposição à violência urbana, além
de também executarem procedimentos pertinentes às funções do bombeiro
militar, o que caracteriza que este grupo submete-se constantemente a
situações desencadeadoras de estresse devido, principalmente, à
imprevisibilidade que antecede suas ações.
Estas peculiaridades caracterizam o ambiente de trabalho dos sujeitos
do estudo, submetendo-os a riscos ocupacionais diferenciados. Tal fato torna
imprescindível problematizar a realidade deste serviço e estabelecer o nexo
entre trabalho e educação, de forma a resgatar o processo de capacitação e de
educação continuada para o desenvolvimento pessoal e profissional de
92
cada um.
Dentro desta ótica, o estudo visou avaliar o profissional de enfermagem de
nível médio que atuam no atendimento pré-hospitalar, quanto à adoção de
comportamento preventivo em relação ao material biológico durante o
atendimento às vítimas.
A partir do referencial teórico do Comportamento Preventivo em Saúde,
sob a perspectiva do Modelo de Crenças em Saúde de Rosenstock, chegou-se
ao alcance dos objetivos propostos no estudo, sendo o primeiro deles analisar a
percepção do profissional de enfermagem em relação ao risco biológico no
atendimento pré-hospitalar.
Segundo o Modelo de Crenças em Saúde acima referido, esta percepção
ocorre se o indivíduo relacionar o risco subjetivo de uma dada condição ao risco
real de contrair determinado dano à sua saúde. Nesta perspectiva, os
resultados evidenciaram que o profissional consegue identificar no seu
ambiente de trabalho as possíveis formas de contato com o agente biológico, e
associá-las à possibilidade de ser acometido pelo contágio de diferentes
agentes patogênicos, cujos temas relacionados foram a contaminação de
material, a exposição de pele e mucosa a material biológico, referências às
peculiaridades do APH, a possibilidade de contrair alguma doença e/ou de
contrair hepatite ou AIDS.
Reconhecer-se suscetível ao contágio biológico como conseqüência da
exposição a material humano pode levar este profissional a uma perturbação
emocional decorrente do pensamento acerca da possibilidade, mesmo que
remota, de se tornar portador ou doente de algum mal e das repercussões deste
adoecimento.
93
Apesar de os indivíduos do estudo terem demonstrado percepção do
risco real de adoecimento ao se exporem a material biológico, de terem
identificado com clareza os equipamentos de proteção e de reconhecerem sua
utilidade na prevenção ao risco biológico, os depoimentos permitiram constatar
que, na prática, recorrentemente são negligenciados os itens de proteção que
seriam imprescindíveis à segurança desses indivíduos. Conseqüentemente o
grupo possui o entendimento das medidas preventivas, entretanto, ainda não o
suficiente para promover a sua adesão.
Considerando o perfil apresentado pelos sujeitos, que é constituído por
83% de indivíduos na faixa etária dos 30 aos 39 anos; por 75% de indivíduos
com escolaridade de ensino médio; por 58,3% de indivíduos com tempo de
exercício na enfermagem entre 06 e 15 anos; por 66,7% de indivíduos com até
05 anos de atividade no atendimento pré-hospitalar, pode-se constatar que
embora sejam adultos e não sejam recém-formados, o fato de a maioria ter
formação profissional de nível médio e exercício de até cinco anos no APH leva
a acreditar que, em sua formação e no seu exercício profissional, não é dada
ênfase às questões do risco ocupacional, o que pode ocasionar uma percepção
simplista do problema e, possivelmente, a constante aproximação do risco
biológico decorrente do trabalho no APH, pode estar levando a subestimar este
risco como mecanismo psicológico de adaptação à condição de insegurança.
O segundo objetivo proposto foi analisar a percepção do profissional de
enfermagem sobre os benefícios na adoção das medidas de segurança em
relação ao risco biológico no atendimento pré-hospitalar. De acordo com
Rosenstock, o grau de ameaça percebido pelo indivíduo, a percepção do risco
real, determinará o reconhecimento dos benefícios relacionados às medidas
94
preventivas. Este objetivo foi alcançado, revelando que a maioria dos
trabalhadores do APH apresenta alguma distorção de comportamento quando
não associa a prática do cuidado diário aos preceitos teóricos dos benefícios
que o uso do EPI pode oferecer.
Embora o profissional de enfermagem do APH tenha desenvolvido a
percepção da sua exposição ao risco biológico e das possíveis conseqüências
advindas desta exposição e que esta condição pode ser prevenida por medidas
de biossegurança, expressando claro reconhecimento dos benefícios na
utilização das medidas de proteção, ainda existe uma distância considerável
entre o conhecimento que estes profissionais demonstraram possuir e as ações
que deveriam realizar no dia-a-dia.
Em relação ao terceiro objetivo: discutir o comportamento do profissional
de enfermagem em relação ao risco biológico no atendimento pré-hospitalar,
ficou confirmado o paradoxo descrito no fim do parágrafo anterior. Em
consonância com o modelo teórico proposto, esta discussão foi pautada sob o
aspecto das barreiras percebidas, ou, percepção das barreiras à adoção dos
EPI, trazendo à tona o nível de percepção dos profissionais de enfermagem
acerca dos aspectos negativos às ações preventivas, ou seja, os fatores que
interferem ou impedem a adesão aos equipamentos de proteção. Dentre os
aspectos considerados negativos à adoção das práticas preventivas
destacaram-se aqueles relacionados ao comodismo na adesão aos EPI, à
qualidade e a quantidade do EPI disponível, a necessidade de conscientização
das equipes, a necessidade de entrosamento na equipe e a dificuldade de
abordar o tema.
Dos fatores mencionados que estabeleceriam barreiras à adoção das
95
medidas preventivas, o comodismo na adesão aos EPI, diferentemente dos
demais fatores, é exclusivamente individual e independe de ações institucionais
para ser superado, levando a acreditar que tal ―relaxamento‖ no uso do EPI seja
em decorrência de predominar entre esses profissionais uma percepção
simplista de como se proteger e o que fazer diante do risco. Esta percepção
distorcida leva ao reducionismo na utilização dos equipamentos de proteção,
onde, o uso das luvas apresenta alto índice de adesão em relação aos demais
equipamentos de proteção, sendo o EPI reconhecidamente priorizado pelos
profissionais do estudo, indiscutivelmente aderido por todos, em todas as
modalidades de eventos, muito embora reconheçam que no atendimento das
situações de emergência, qualquer que seja ele, há necessidade de
indumentária e EPI completos.
Partindo do pressuposto do referencial teórico do Comportamento
Preventivo em Saúde sob a perspectiva do Modelo de Crenças em Saúde, foi
possível evidenciar que as variáveis susceptibilidade e severidade percebidas,
benefícios percebidos e barreiras percebidas, foram de certa forma atendidas.
Entretanto, como as decisões quanto a condutas de risco são mediadas pelo
equilíbrio gerado entre essas variáveis, e no estudo foi evidenciado certo
desequilíbrio entre estas, gerado pela variável barreiras percebidas, conclui-se
que o comportamento preventivo do profissional de enfermagem de nível médio
do atendimento pré-hospitalar em relação ao material biológico no atendimento
às vítimas apresenta deficiências importantes, o que implica em riscos à saúde
desta população.
96
Sugestões
O que foi discutido ao longo deste estudo abre possibilidades para que
sejam apresentadas algumas sugestões às áreas de formação e capacitação
profissional e de gestão de recursos humanos:
1. Formação e capacitação profissional
Base curricular específica para a formação de profissionais da área do
atendimento pré-hospitalar, com disciplinas que abordem os riscos
ocupacionais e as medidas preventivas.
2. Gestão de recursos humanos
Consolidação das práticas gerenciais voltadas para a saúde
ocupacional:
a) Educação em serviço voltada para saúde ocupacional;
b) Fornecimento do equipamento de proteção adequado às atividades;
c) Controle do uso do equipamento de proteção;
d) Adequação física e psíquica do profissional.
97
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 1977. BRAGA, D. Acidente de trabalho com material biológico em trabalhadores da equipe de enfermagem do centro de pesquisas Hospital Evandro Chagas – um olhar da saúde do trabalhador. [dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): Escola Nacional de Saúde Pública - Fundação Oswaldo Cruz; 2000. BRASIL. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução COFEN n°300/2005. Dispõe sobre a atuação do profissional de enfermagem no atendimento pré-hospitalar e inter-hospitalar. Brasília, COFEN, 2005. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, MS, 1990. _______. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Segurança no Ambiente Hospitalar., 1995. _______. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 1.339/1999. Lista de doenças infecciosas e parasitárias relacionadas ao trabalho. Brasília, MS, 1999. _____. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde do Trabalhador. Caderno de Saúde do Trabalhador: legislação. Elaborado e organizado por Letícia Coelho da Costa. Brasília : Ministério da Saúde, 2001. [Série E. Legislação de Saúde, 5]. _______. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Elizabeth C. Dias (Org.). Brasília: Ministério da Saúde do Brasil, 2001. [Série A. Normas e Manuais Técnicos, n.114]. _______. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria Executiva. Urgência e Emergência. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. [Série C. Projetos, Programas e Relatórios, n. 35]. _______. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências. Portaria MS/GM nº 737, de 16/5/01, publicada no DOU nº 96, de 18/5/01 / Ministério da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2002. _______. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 2.048/GM de 5/11/02. Instituiu o Regulamento Técnico dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência. Brasília, MS, 2002.
98
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Políticas de Saúde – Coordenação Nacional de DST e AIDS - Recomendações para atendimento e acompanhamento de exposição ocupacional a material biológico: HIV e Hepatites B e C. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Caminhos da análise de acidentes do trabalho. Ildeberto Muniz de Almeida (Org.). Brasília: MTE. 2003. _______. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde do Trabalhador. Protocolos Médicos Assistenciais de Complexidade Diferenciada. Protocolo de exposição a materiais biológicos. MS / COSAT, 2005. _______. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Norma Regulamentadora (NR) n.6. Equipamento de proteção individual. Portaria nº 3.214, de 08 de Junho de 1978. Aprova as NR da Consolidação das Leis do Trabalho relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. _______. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Norma Regulamentadora (NR) n.9. Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Portaria nº 3.214, de 08 de Junho de 1978. Aprova as NR da Consolidação das Leis do Trabalho relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. _______. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Norma Regulamentadora (NR) n.15. Atividades e Operações Insalubres. Portaria nº 3.214, de 08 de Junho de 1978. Aprova as NR da Consolidação das Leis do Trabalho relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. _______. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Consulta pública da proposta de texto de criação da Norma Regulamentadora n. 32 – Segurança
e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Assistência à Saúde. Departamento de Segurança e Saúde. Portaria n.° 37, de 06 de dezembro de 2002.
BRANDÃO, P. S. Jr. Biossegurança e AIDS: as dimensões psicossociais do acidente com material biológico no trabalho em hospital. [dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): Escola Nacional de Saúde Pública - Fundação Oswaldo Cruz; 2000. BREVIDELLI, M. M. Exposição ocupacional aos vírus da AIDS e da Hepatite B: análise da influência das crenças em saúde sobre a prática de re-encapar agulhas. [dissertação]. São Paulo (SP): Escola de Enfermagem / USP, 1997. _____. Modelo explicativo da adesão às precauções-padrão: construção e aplicação. [tese]. São Paulo (SP): Escola de enfermagem da USP, 2003. BULHÕES, I. Riscos do trabalho de Enfermagem. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1998.
99
CABRERA, A. G; TASCÓN, G. J; LUCUMÍ C. D. Creencias en salud: historia, constructos y aportes del modelo. Universidad del Valle. Cali, Colombia. Rev. Fac. Nac. Salud Pública, v. 19, n. 1, p. 91-101, 2001.
CANDEIAS, N. M; MARCONDES, R. S. Diagnóstico em educação em saúde: um modelo para analisar as relações entre atitudes e práticas na área de saúde pública. Revista de Saúde Pública, v. 13, n. 2, p. 63-68, 1979.
CARAPINHEIRO, G.; LOPES, N. M. Recursos e condições de trabalho dos enfermeiros portugueses: estudo sociográfico de âmbito nacional. Portugal; Lisboa: Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, 1997. CARDOSO, D. M; CULVER, D. H; CIESIELSKI, C. A. et al. A case–control study of HIV seroconversion in health care workers after percutaneous exposure. New England Journal Med., Londres, n. 337, p. 1485-90, 1997. CENTERS FOR DISEASES CONTROL AND PREVENTION – CDC. Case-control Study of HIV Seroconversion in Health-care workers after percutaneous exposure to HIV infected blood – France, United Kingdom, and United States, January 1998-August 1994. MMWR Morb Mortal Wkly Rep., n. 44, p. 929-933, 1995. _____. Serious adverse events attributed to nevirapine regimens for postexposure prophylaxis after HIV exposures — worldwide, 1997–2000. MMWR Morb Mortal Wkly Rep., n. 49, p. 1153-6, 2001. CZERESNIA, D. (Org.). O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e promoção. In: CZERESNIA, D. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendência. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003. DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 5.ed. Trad. Ana Isabel Paraguay e Lúcia Leal Ferreira. São Paulo: Cortez – Oboré, 1992. FIGUEIREDO, R. M. Acidentes com risco biológico: adesão dos profissionais de saúde ao seguimento. In Congresso Brasileiro de Enfermagem e 10º Congresso Panamericano de Enfermagem, 51, 1999, Florianópolis. Anais, 2 a 7/Out. 1999. JANSEN, A. C. Um novo olhar para os acidentes de trabalho na enfermagem: a questão do ensino. [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / USP; 1997. JANZ, N. K.; BECKER, H. M. The health belief model: a decade later. Health Education Behavior, n. 2, p. 1-47, 1984. JOHNSTON, L. Toward a theory of drug epidemics. In: DONOHEW L.; SYPHER, H.E.; BUKOSKI, W.J. (editors). Persuasive communication and drug abuse prevention. New Jersey: LEA; 1991.
100
KATALSKY, M. E. The health belief model as conceptual fromwork for explaining contraceptive compliance. Health Education Monographs, v.5, n.3, p. 232-243, 1977. LANCMAN, S.; SZNELWAR, L. I. (Org.). Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Trad. Franck Soudant. Rio de Janeiro: FIOCRUZ / Brasília: Paralelo 15, 2004.
LAURELL, A. C.; NORIEGA, M. Processo de Produção e Saúde – trabalho e desgaste operário. Trad. Amélia Cohn, Ana Pitta-Hoisel, Ana Isabel Paraguay e Lúcia Helena Barbosa. São Paulo: HUCITEC, 1989.
LESCURA, Y.; MAMEDE, M.V. Educação em saúde: abordagem para o enfermeiro. São Paulo: Sarvier, 1990. LÜDKE, M; ANDRÉ, M. E. D. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MARTINS, P.P.S.; PRADO, M.L. do. Enfermagem e serviço de atendimento pré-hospitalar: descaminhos e perspectivas. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília (DF), v. 56, n. 1, p. 71-75. 2003. MARZIALE, M. H. P. Condições ergonômicas da situação de trabalho, do pessoal de enfermagem em uma unidade de internação hospitalar. [dissertação]. São Paulo (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, 1995. MARZIALE, M. H. P.; NISHIMURA, K. Y. N.; FERREIRA, M. M. Riscos de contaminação ocasionados por acidentes de trabalho com material perfuro-cortante entre trabalhadores de enfermagem. Rev. Latino-am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 12, n. 1, p. 36-42, jan./fev., 2004. MARZIALE, M. H. P.; RODRIGUES, C.M. A produção científica sobre os acidentes de trabalho com material perfurocortante entre trabalhadores de enfermagem. Rev. Latino-am. de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 10, n. 4, p. 571-7, jul./ago., 2002. MASTROENI, M. F. de (Org.). Introdução à Biossegurança. In: MASTROENI, M. F. Biossegurança aplicada a laboratórios e serviços de saúde. São Paulo: Atheneu, 2004. MAURO, M.Y.C. Riscos ocupacionais em saúde. Enfermagem Científica, Rio de Janeiro, n. 2, ano I, p. 7-12, 1991.
MAURO, M.Y.C. Riscos Ocupacionais em Saúde. Enfermagem Científica, Rio de Janeiro, n. 3, ano I, p. 11-15, 1991. MENDES, R. D. E. Saúde do trabalhador. 4. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1993. [Cap. 14].
101
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Classificação Internacional de Doenças (CID). 1995.
PENDER, N. J. A conceptual model for preventive health behavior. Nursing Outlook, v. 26, n. 6, p. 385-390, 1975.
PRADO, M. L. Caminhos perigosos: violência e saúde à luz das ocorrências de trânsito. Pelotas: Universitária, 1998.
QUEIROZ, M.C.B. Biossegurança. In: OLIVEIRA, A.C.; ALBUQUERQUE, C.P.; ROCHA, L.C.M. Infecções hospitalares – abordagem, prevenção e controle. Rio de Janeiro: MEDSI, 1998. RISCOBIOLOGICO. Precauções padrão ou básica. Disponível em: http://wwwriscobiologico.org/riscos/caract_precbasicas.htm. Acesso em: 03 de outubro de 2002. ROBAZZI, M.L.C.C.; MARZIALE, M.H.P. Alguns problemas ocupacionais decorrentes do trabalho de enfermagem no Brasil. Rev. Bras. Enfermagem, v. 52, n. 3, p. 331-338, jul./set., 1999. ROSENSTOCK, I. M. Historical origins of the health belief model. Health Education Monographs, v. 2, n. 4, p. 328-35, 1974. _____. The health belief model and preventive health behavior. Health Education Monographs, v. 2, n. 4, p. 354-387, 1974. SAILER, G. C. Adesão de trabalhadores de enfermagem a tratamento com anti-retrovirais pós-exposição ocupacional a material biológico. [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, 2004. SANTOS, R.R.; CANETTI, M.D.; ALVAREZ, F.S. et al. Manual de socorro de emergência. São Paulo: Atheneu, 1999.
SCHNEIDER, L.O.D. Tópicos de Saúde Ocupacional em Hospitais. In: VIEIRA, S.I. (Coord.) Medicina básica do trabalho. 3.ed. Curitiba: Genesis, 1996. [V. 5, p. 173-208]. SAÚDE.RIO Vigilância Epidemiológica - Acidentes de trabalho material biológico - Dados das notificações por Gerência DST/AIDS. Disponível em: http://www.saúde.rio.rj.gov.br . Acesso em 20 de maio de 2004. SILVA, L. D. A educação revelando os riscos ocupacionais no trabalho da enfermagem intensivista. [tese]. Rio de Janeiro: UFRJ/EEAN, 2000. SOUTO, D. F. Saúde no Trabalho: uma revolução em andamento. Rio de Janeiro: SENAC Nacional, 2003.
102
SOUTO, M. C. CTI oncológico: as experiências do trabalhador de
enfermagem com os riscos, sofrimento e prazer. [dissertação]. Rio de
Janeiro: FENF/UERJ, 2003.
SOUZA, M.; ARANTES, D. V.; ABREU, E. Assistência de enfermagem em infectologia. In: MASTROENI, M.F. (Org.). Biossegurança. São Paulo: Atheneu, 2000. TRIVELATO, G. C. Metodologias de reconhecimento e avaliação qualitativa de riscos ocupacionais. São Paulo: FUNDACENTRO, 1998. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1998. VENDRAME, A. C. Insalubridade por agentes biológicos. Biossegurança aplicada a laboratórios e serviços de saúde. Revista CIPA, v. 241, p. 1-9, 2001. VIANA, D. R. S. Risco ocupacional biológico no atendimento pré-hospitalar. Monografia de Pós-Graduação Lato Sensu. Rio de Janeiro: Universidade Estácio de Sá, 2003.
103
A P Ê N D I C E S
104
A - CARTA AO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO BIOMÉDICO
FACULDADE DE ENFERMAGEM COORDENAÇÃO DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE MESTRADO
COMPORTAMENTO PREVENTIVO DOS PROFISSIONAIS
DE ENFERMAGEM NA EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR
Como aluna do Curso de Mestrado em Enfermagem da UERJ, solicito a
este Comitê de Ética exarar parecer acerca da qualidade ética deste projeto de
Dissertação, de acordo com a Resolução CNS-196/96 do Ministério da Saúde..
Aguardo pronunciamento para iniciar a pesquisa.
Atenciosamente.
Denise Rego de Sá Viana
Rio de Janeiro, .......de.........................de 2004
105
B - TERMO DO CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO BIOMÉDICO FACULDADE DE ENFERMAGEM
COORDENAÇÃO DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE MESTRADO
Informação e Consentimento Pós-informado para Pesquisa
Meu nome é Denise Rego de Sá Viana e estou desenvolvendo a pesquisa Comportamento Preventivo dos Profissionais de Enfermagem na Exposição a Material Biológico no Atendimento Pré-hospitalar (APH), sob orientação acadêmica da Profª Drª Gertrudes Teixeira Lopes. O objetivo da pesquisa é avaliar estes profissionais, quanto à adoção de comportamento preventivo, em relação ao material biológico no atendimento às vítimas. Este estudo é necessário porque a compreensão do comportamento adotado por indivíduos submetidos à condição de risco em atividades laborativas, é fundamental para a elaboração e a implementação de programas de prevenção. Para a coleta de dados, serão realizados dois tipos de procedimentos, em momentos diferentes: a observação de campo direta não-participante e a entrevista gravada em fita magnética, orientada por roteiro. Estes procedimentos não implicam em risco, entretanto, podem trazer desconforto ao participante pela observação de campo e pelo confronto com a realidade. No entanto, esperamos que tragam contribuição ao desenvolvimento de uma categoria profissional, a medida que provocarão reflexão crítica sobre como estão exercendo suas tarefas no dia-a- dia, considerando que suainserção no APH tende a aumentar, devido ao estabelecimento de políticas públicas voltadas para a redução da morbimortalidade por acidentes e violências, uma área de atuação peculiar e pouco estudada, onde esperamos que esta pesquisa contribua como incentivo à realização de mais estudos, principalmente os que agreguem novos conhecimentos à saúde do trabalhador. Ao participante desta pesquisa estão assegurados o anonimato, o seu desligamento a qualquer momento que desejar, que sua participação não implica em custo nem em recebimento de valores monetários, e que os dados conseqüentes da sua participação serão utilizados somente nesta pesquisa. Se surgir dúvida em relação ao estudo, se decidir participar do estudo ou se não quiser mais fazer parte do mesmo, entrar em contato comigo, pelos telefones: 2560-0208 ou 9624-8761.
Assinatura da pesquisadora: __________________________ RG. : ______________________
Assinatura da orientadora: ___________________________RG:_______________________
Consentimento Pós-informado
Eu, (nome completo por extenso e em letra de forma)...............................................................,
abaixo assinado(a), fui esclarecido(a) sobre a pesquisa Comportamento Preventivo
Profissionais de Enfermagem na Exposição a Material Biológico no Atendimento Pré-hospitalar,
concordo em participar e também em que os dados decorrentes desta participação sejam
utilizados na mesma.
Rio de Janeiro, ........de............................................de 2005.
Assinatura do(a) participante: .......................................................... RG: .......................................
106
C - CARTA DE AUTORIZAÇÃO À INSTITUIÇÃO
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO BIOMÉDICO
FACULDADE DE ENFERMAGEM COORDENAÇÃO DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE MESTRADO
Ao Comando do Grupamento de Socorro de Emergência do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro Att.: Cel BM Méd. Marcelo Dominguez Canetti.
Solicito autorização para realizar nesta instituição um estudo, que visa
avaliar o profissional de enfermagem (técnicos e auxiliares de enfermagem),
quanto à adoção de comportamento preventivo na exposição a material
biológico no atendimento às vítimas do pré-hospitalar. Esta pesquisa se destina
a Dissertação de Mestrado do Programa da Escola de Enfermagem da UERJ e
está sendo orientada pela Profª Drª Gertrudes Teixeira Lopes.
O título previsto do estudo é: Comportamento Preventivo dos
Profissionais de Enfermagem na Exposição a Material Biológico no
Atendimento Pré-hospitalar.
Aguardo resposta.
Atenciosamente,
Denise Rego de Sá Viana
Rio de Janeiro, .........de......................... de 2005
107
D - ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
Nº do Instrumento: ______________
Iniciais do entrevistado: __________ Hora do início da entrevista: _______
Data da entrevista: ______________ Hora do término da entrevista:______
a) Perfil
Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino;
Idade: ( ) Entre 20 e 29 anos; ( ) Entre 30 e 39 anos; ( ) Mais de 40 anos
Tempo de exercício na enfermagem: _______
Tempo de exercício no APH: _______
Nível de escolaridade: ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo
( ) superior incompleto ( ) superior completo;
Qualificação profissional: ( ) Técnico de enfermagem
( ) Auxiliar de enfermagem;
Atividade no APH:
( ) Líder do ASE-B ( ) Auxiliar do ASE-B ( ) Auxiliar do ASE-A.
b) Perguntas
1- Qual a diferença que você faz entre agente biológico e material biológico?
2- Em sua opinião, quais são as situações de exposição a material biológico
que apresentam maior risco?
3- Após exposição a material biológico, o quê poderá ocorrer à sua saúde?
4- Como você se protege diante da possibilidade de exposição a material
biológico?
5- Em quais situações você acha importante usar os equipamentos de proteção
e quais equipamentos?
6- Qual sugestão você daria para reduzir o risco de exposição aos agentes
biológicos no atendimento pré-hospitalar?
108
A N E X O S
109
ANEXO 1 – COMUNICADO DE ACIDENTE DO TRABALHO – CAT
110
ANEXO 2 – FICHA DE INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO
COM EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO
111
112
113
ANEXO 3 – RESPOSTA DO COMITÊ DE ÉTICA
(colagem)
114
ANEXO 4 – AUTORIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
(colagem
Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas
Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo