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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO BIOMÉDICO FACULDADE DE ENFERMAGEM COORDENAÇÃO DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE MESTRADO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR: A ENFERMAGEM E A EXPOSIÇÃO AO RISCO BIOLÓGICO RIO DE JANEIRO 2006

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO BIOMÉDICO

FACULDADE DE ENFERMAGEM

COORDENAÇÃO DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

CURSO DE MESTRADO

ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR:

A ENFERMAGEM E A EXPOSIÇÃO AO RISCO BIOLÓGICO

RIO DE JANEIRO

2006

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ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR:

A ENFERMAGEM E A EXPOSIÇÃO AO RISCO BIOLÓGICO

DENISE REGO DE SÁ VIANA

Dissertação apresentada ao

Programa de Mestrado da

Faculdade de Enfermagem da

Universidade do Estado do Rio

de Janeiro, como requisito para a

obtenção do título de Mestre em

Enfermagem.

ORIENTADORA: PROFª DR.ª GERTRUDES TEIXEIRA LOPES

Rio de Janeiro

2006

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CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/CBB

V662 Viana, Denise Rego de Sá

Atendimento pré-hospitalar: a enfermagem e a exposição ao risco biológico / Denise Rego de Sá Viana. - 2006. 114 f. Orientador: Gertrudes Teixeira Lopes. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem. 1. Enfermagem em emergência – Recursos humanos. 2. Enfermagem Ocupacional. 3. Exposição ocupacional. 4. Riscos ocupacionais. I. Lopes, Gertrudes Teixeira. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Enfermagem. III. Título.

CDU 614.253.5

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ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR:

A ENFERMAGEM E A EXPOSIÇÃO AO RISCO BIOLÓGICO

Por

DENISE REGO DE SÁ VIANA

Banca Examinadora

...............................................................................

Profª. Dr.ª Gertrudes Teixeira Lopes Presidente

.............................................................................. Profª. Dr.ª Lucia Helena Silva Correa Lourenço

1ª Examinadora – UFRJ

............................................................................ Profª. Dr.ª Lolita Dopico da Silva

2ª Examinadora – UERJ

.......................................................................... Profª. Dr.ª Maria da Luz Barbosa Gomes

Suplente – UFRJ

.............................................................................. Profª. Dr.ª Maria Madalena de Andrade Santiago

Suplente – UERJ

Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 2006

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DEDICATÓRIA

A todos os profissionais da saúde que dignificam o seu trabalho, em particular

àqueles que dedicam parte de suas vidas ao serviço público, a despeito de toda

precariedade e desvalorização que insistem em prevalecer nesses serviços. Profissionais

que ainda conseguem prestar atendimento e conforto ao usuário, onde, na maioria das

vezes, a forma sobre-humana de trabalho de exceção vira regra – Há muito que

deixaram de ser anjos para serem heróis!

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AGRADECIMENTOS

À minha família, pelo amor, compreensão e apoio em todos os momentos da

minha vida.

À Profª Drª Gertrudes Teixeira Lopes que mais do que orientar o estudo com

dedicação, deu-me uma lição de vida ao mostrar-me o verdadeiro significado da palavra

resiliência.

Ao Comando e aos profissionais do Grupamento de Socorro de Emergência do

Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, por contribuírem com o

estudo.

À Coordenação de Ensino de Pós-graduação Programa de Mestrado da

Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Aos Professores do Programa de Mestrado da Faculdade de Enfermagem da

UERJ.

Aos Doutores e Mestres que compuseram as bancas de todas as etapas do

processo desta Dissertação, todos extremamente gentis e cujas observações,

indiscutivelmente, agregaram valor ao estudo.

Aos funcionários do Programa de Mestrado da Faculdade de Enfermagem da

UERJ, Renan e Fabíola, pela paciência e gentileza de sempre.

Aos colegas da turma do Curso de Mestrado dos anos de 2004/2005.

Às enfermeiras Máuria C. Viegas, Rosemary V. Pinto e Sheila G. C. Silva, pelo

apóio e amizade em todos os momentos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

A Aproximação ao Objeto do Estudo Objeto do Estudo Objetivos Estrutura do Estudo

14 14 21 21 22

CAPÍTULO 1 – REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO 1.1. Base Teórico-Conceitual 1.2. Revisão de Literatura

1.2.1. Atendimento Pré-Hospitalar no Brasil 1.2.2. Risco Ocupacional 1.2.3. Risco Biológico 1.2.4. Biossegurança

1.3. Desenho da Pesquisa

23 23 27 27 29 33 41 47

CAPÍTULO 2 – PERCEPÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE E DAS CONSEQÜÊNCIAS DO RISCO BIOLÓGICO

55

CAPÍTULO 3 – PERCEPÇÃO DOS BENEFÍCIOS NA UTILIZAÇÃO DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO

70

CAPÍTULO 4 – PERCEPÇÃO DAS BARREIRAS À ADOÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

80

CONSIDERAÇÕES FINAIS Sugestões

90 96

REFERÊNCIAS

97

APÊNDICES A - Carta ao Comitê de Ética B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido C - Carta de Autorização à Instituição D - Instrumento da Entrevista

103 104 105 106 107

ANEXOS 1 - CAT – Comunicado de Acidente de Trabalho (fac simile) 2 - Ficha de Investigação de Acidente de Trabalho com Exposição a

Material Biológico (fac simile) 3 - Resposta do Comitê de Ética 4 - Autorização da Instituição

108 109 110 113 114

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VIANA, Denise Rego de Sá. Atendimento pré-hospitalar: a enfermagem e a exposição ao risco biológico. 114 f. Dissertação/ Mestrado em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2006.

RESUMO

O presente estudo aborda o tema biossegurança no atendimento pré-

hospitalar e tem como objeto o comportamento preventivo adotado pelos

profissionais de enfermagem diante da exposição a material biológico no

atendimento pré-hospitalar. O objetivo geral foi avaliar o profissional de

enfermagem de nível médio quanto à adoção de comportamento preventivo em

relação ao material biológico no atendimento às vítimas. Derivaram-se como

objetivos específicos: analisar a percepção que o profissional de enfermagem

tem da sua exposição ao risco biológico e de suas conseqüências; analisar a

percepção dos profissionais de enfermagem acerca dos benefícios na utilização

das medidas de segurança em relação ao risco biológico; e discutir o

comportamento preventivo adotado pelo profissional no Atendimento Pré-

Hospitalar em relação ao risco biológico. O estudo se apropriou do

Comportamento Preventivo em Saúde sob a perspectiva do Modelo de Crenças

em Saúde de Rosenstock (1974) como referencial teórico. Este modelo avalia o

comportamento preventivo de indivíduos frente a uma condição de risco, onde,

a adoção de um comportamento preventivo depende das seguintes dimensões

básicas: susceptibilidade percebida (os riscos subjetivos de contrair uma

doença), severidade percebida, benefícios percebidos (crença na efetivação da

ação) e barreiras percebidas (aspectos conflitantes para a prevenção). Trata-se

de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa. O cenário da pesquisa foi

o serviço de Atendimento Pré-Hospitalar do Grupamento de Socorro de

Emergência do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro. Os

sujeitos foram os profissionais de enfermagem de nível médio, que são militares

integrantes das unidades móveis dos socorros básicos e avançados, em

atendimento na cidade do Rio de Janeiro. Para a coleta de dados foi adotada a

entrevista semi-estruturada, orientada por roteiro. A análise dos dados da

entrevista semi-estruturada foi baseada na Análise de Conteúdo, preconizada

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por Bardin (1977). Os resultados fundamentados no pressuposto do referencial

teórico do Modelo de Crenças em Saúde evidenciaram três categorias:

Percepção da Susceptibilidade e das Conseqüências do Risco Biológico, com a

Subcategoria – Percepção da Susceptibilidade ao Risco Biológico e a

Subcategoria – Percepção da Conseqüência de Exposição a Material Biológico;

Categoria Percepção dos Benefícios na Utilização das Medidas de Proteção e

Categoria Percepção das Barreiras à Adoção dos EPI. As variáveis

susceptibilidade e severidade percebidas, benefícios percebidos e barreiras

percebidas, foram de certa forma atendidas. Entretanto, como as decisões

quanto às condutas diante de situações de risco são mediadas pelo equilíbrio

gerado entre essas variáveis e, tendo sido evidenciado certo desequilíbrio entre

estas, gerado principalmente pela variável barreiras percebidas, o estudo leva a

crer que a adesão aos equipamentos de proteção individual (EPI) por estes

trabalhadores, perpassaria por uma necessária formação de cultura, o que pôde

ser evidenciado na plena adesão às luvas pelos profissionais da saúde. Prática

reforçada após o advento da AIDS e que não ocorre com os demais

equipamentos. Os resultados do estudo evidenciaram que o profissional

consegue identificar no seu ambiente de trabalho as possíveis formas de

contato com o agente biológico e associa-las à possibilidade de ser acometido

pelo contágio de diferentes agentes patogênicos. Embora o profissional de

enfermagem do APH tenha desenvolvido a percepção da sua exposição ao

risco biológico e das possíveis conseqüências advindas desta exposição e que

esta condição pode ser prevenida por medidas de biossegurança, ainda existe

uma distância considerável entre o conhecimento que estes profissionais

demonstraram possuir e as ações que deveriam realizar no dia a dia. Com o

estudo confirmaram-se falhas nas práticas preventivas adotadas pelos técnicos

e auxiliares de enfermagem na exposição ao material biológico no atendimento

pré-hospitalar, condição esta que implica em riscos à saúde desta população,

necessitando principalmente de ações reformuladoras por parte da instituição

que abriga estes trabalhadores.

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VIANA, Denise Rego de Sá. Prehospitalar setting: the nursing and the exposition to the biological risk. 114 f. Dissertação/ Mestrado em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2006.

ABSTRACT

The present study it approaches the subject biossegurança in the

Prehospitalar setting and has as object the preventive behavior adopted by the

professionals of nursing ahead of the exposition the biological material in the

Prehospitalar setting. The general objective was to evaluate the professional of

nursing of average level how much to the adoption of preventive behavior in

relation to the biological material in the attendance to the victims. They had been

derived as objective specific: to analyze the perception that the nursing

professional has of its exposition to the biological risk and of its consequences;

to analyze the perception of the professionals of nursing concerning the benefits

in the use of the measures of security in relation to the biological risk; e to argue

the preventive behavior adopted by the professional in the Prehospitalar setting

in relation to the biological risk. The study if it appropriated of the Preventive

Behavior in Health under the perspective of the Model of Beliefs in Health of

Rosenstock (1974) as theoretical referential. This model evaluates the

preventive behavior of individuals front to a risk condition, where, the adoption of

a preventive behavior depends on the following basic dimensions: perceived

susceptibility (the subjective risks to contract an illness), perceived severity,

perceived benefits (belief in the efficiency of the action) and perceived barriers

(conflicting aspects for the prevention). One is about a descriptive study, with

qualitative boarding. The scene of the research was the service of prehospitalar

setting of the Grupamento de Socorro de Emergência of the Corpo de

Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro. The citizens had been the

professionals of nursing of average level, who are integrant military of the mobile

units of the basic and advanced emergency, in attendance in the city of Rio de

Janeiro. For the collection of data the half-structuralized interview was adopted,

guided for script. The analysis of the data of the half-structuralized interview was

based on the Analysis of Content, praised for Bardin (1977). The results based

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on the estimated one of the theoretical referential of the Model of Beliefs in

Health had evidenced three categories: Perception of the Susceptibility and the

Consequences of the Biological Risk, with the - Perception of the Susceptibility

to the Biological Risk and the - Perception of the Consequence of Exposition the

Biological Material; Category Perception of the Benefits in the Use of the

Measures of Protection and Category Perception of the Barriers to the Adoption

of the equipment of individual protection. The variable Susceptibility and severity

perceived, perceived benefits e perceived barriers, had been of certain form

taken care of. However, as the decisions how much to the behaviors ahead of

risk situations they are mediated by the balance generated between these

variable and, having been evidenced certain disequilibrium between these,

mainly generated for the variable perceived barriers, the study lead to believe

that the adhesion to the equipment of individual protection (EIP) for these

workers, would depended upon a necessary formation of culture, what it could

be evidenced in the full adhesion to the gloves for the professionals of the

health. Practical after strengthened the advent of the AIDS and that it does not

occur with the too much equipment. The results of the study had evidenced that

the professional obtains to identify in its environment of work the possible forms

of contact with the biological agent and associates them it the possibility of being

infects it of different pathogenic agents. Although the professional of nursing of

the APH has developed the perception of its exposition to the biological risk and

of the possible happened consequences of this exposition and that this condition

can be prevented by measures of biossegurança, still exists a considerable

distance between the knowledge that these professionals had demonstrated to

possess and the actions that would have to carry through in the day the day.

With the study imperfections in the practical preventive adopted for the

technician and nurse aid in the exposition to the biological material in the

prehospitalar setting had been confirmed, condition this that implies in risks to

the health of this population, needing reformuladoras actions on the part of the

institution mainly that shelters these workers.

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VIANA, Denise Rego de Sá. Participation pré-hospitalar: la métier d'infirmier et l'exposition au risque biologique. 114 f. Dissertation. Mestrado em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2006.

RÉSUMÉE

Présente étude il aborde le sujet biossegurança dans la participation pré-

hospitalar et a comme objet le comportement préventif adopté par les

professionnels de métier d'infirmier devant l'exposition à matériel biologique

dans la participation pré-hospitalar. L'objectif général a été évaluer le

professionnel de métier d'infirmier de niveau moyen combien à l'adoption de

comportement préventif concernant le matériel biologique dans la participation

aux victimes. Ils se sont dérivés mange des objectifs spécifiques : analyser la

perception que le professionnel de métier d'infirmier a de son exposition au

risque biologique et de leurs conséquences; analyser la perception des

professionnels de métier d'infirmier concernant les bénéfices dans l'utilisation

des mesures de sécurité concernant le risque biologique; et discuter le

comportement préventif adopté par le professionnel à la Participation Pré-

Hospitalar concernant le risque biologique. L'étude il s'est approprié de

Comportement Préventif dans Santé sous la perspective du Modèle de

Croyances dans Santé de Rosenstock (1974) je mange du référentiel théorique.

Ce modèle évalue le comportement préventif de personnes devant à une

condition de risque, où, l'adoption d'un comportement préventif dépend des

suivantes dimensions basiques : susceptibilité perçue (les risques subjectifs de

contracter une maladie), sévérité perçue, bénéfices perçus (croyance dans

l'efetivação de l'action) et barrières perçues (aspects conflictuels pour la

prévention). Il s'agit d'une étude descriptive, avec abordage qualitatif. Le

scénario de la recherche a été le service de Participation Pré-Hospitalar du

Grupamento de Socorro de Emergência do Corpo de Bombeiros Militar do

Estado do Rio de Janeiro. Les sujets ont été les professionnels de métier

d'infirmier de niveau moyen, que ce sont des militaires intégrants des unités

mobiles des aides basiques et avancées, dans participation dans la ville de Rio

de Janeiro. Pour il rassemble de données est adopté l'entrevue semi-

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estruturada, guidée par manuscrit. L'analyse des données de l'entrevue semi-

estruturada a été basée sur l'Analyse de Contenu, faite l'éloge par Bardin

(1977). Les résultats basés dans le présupposition du référentiel théorique du

Modèle de Croyances dans Santé ont prouvé trois catégories : Perception de la

Susceptibilité et des Conséquences du Risque Biologique, avec la Subcatégorie

- Perception de la Susceptibilité au Risque Biologique et la Subcatégorie -

Perception de la Conséquence d'Exposition à Matériel Biologique ; Catégorie

Perception des Bénéfices dans l'Utilisation des Mesures de Protection et

Catégorie Perception des Barrières à l'Adoption d'EPI. Les variables

susceptibilité et sévérité perçues, bénéfices perçus et barrières perçues, ont été

de certain se forme faites attention. Néanmoins, comme les décisions combien

aux conduites devant situations de risque ils sont négociés par l'équilibre produit

entre ces variables et, en ayant été prouvé correctement déséquilibre entre

celles-ci, produit principalement par la variable des barrières perçues, l'étude il

porte à croire que l'adhésion aux équipements de protection individuelle (EPI)

par ces travailleurs, perpassaria par une nécessaire formation de culture, ce qui

a pu être prouvé dans la complète adhésion aux gants par les professionnels de

la santé. Pratique renforcée après l'avènement du sida et qu'il ne se produit pas

avec les autres équipements. Les résultats de l'étude ont prouvé que le

professionnel réussit à identifier dans son environnement de travail les possibles

formes de contact avec l'agent biologique et les associe à la possibilité d'être

attaquée par la contagion de différents agents pathogènes. Bien que le

professionnel de métier d'infirmier de APH ait développé la perception de son

exposition au risque biologique et de possibles conséquences arrivées de cette

exposition et que cette condition peut être empêchée par des mesures de

biossegurança, encore existe une distance considérable entre la connaissance

que ces professionnels ont démontré posséder et les actions qui devraient

réaliser dans le quotidien. Avec l'étude se sont confirmées des imperfections

dans les pratiques préventives adoptées par les techniciens et les assistants de

métier d'infirmier à l'exposition au matériel biologique dans la participation pré-

hospitalar, condition qui implique dans des risques à la santé de cette

population, en ayant besoin principalement d'actions reformuladoras de la part

de l'institution qui abrite ces travailleurs.

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“Pode-se viver no mundo uma

vida magnífica quando se sabe

trabalhar pelo que se ama e amar

aquilo em que se trabalha”.

Tolstoi

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INTRODUÇÃO

A Aproximação ao Objeto do Estudo

Esta aproximação deu-se com o meu ingresso no Atendimento Pré-

Hospitalar (APH) móvel de uma instituição pública do Rio de Janeiro, onde

aproximadamente 65%1 do total dos atendimentos realizados destinam-se às

vítimas de eventos traumáticos, havendo um esforço voltado para desenvolver

ações assistenciais rápidas e eficazes, como a manutenção das funções vitais e

a remoção de forma adequada dessas vítimas para uma unidade hospitalar,

visando reduzir-lhes o sofrimento, as seqüelas ou mesmo a morte.

O Serviço de Atendimento Pré-Hospitalar móvel é uma atribuição da área

da saúde cuja finalidade é chegar precocemente à vítima, após ter ocorrido um

agravo à sua saúde, seja de natureza clínica, cirúrgica, traumática ou

psiquiátrica a fim de prestar-lhe atendimento e/ou transporte adequado a um

serviço de saúde devidamente integrado e hierarquizado ao Sistema Único de

Saúde (SUS). Este serviço deve estar vinculado a uma Central de Regulação

de Urgências e Emergências, cabendo ao médico regulador julgar cada caso e

definir a resposta apropriada, seja um conselho médico, o envio de uma equipe

de atendimento ao local da ocorrência, ou ainda, o acionamento de múltiplos

meios. O atendimento no local deve ser monitorado via rádio pelo médico

regulador a fim de que ele possa orientar a equipe de intervenção quanto aos

procedimentos necessários à condução do caso. Para esta modalidade de

atendimento, é imprescindível a existência de uma rede de comunicação entre

1 Fonte: Seção de Estatística do Grupamento de Socorro de Emergência.

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a Central de Regulação, as ambulâncias e todos os serviços que recebem os

pacientes (BRASIL, 2002).

A equipe profissional dos Serviços de Atendimento Pré-Hospitalar móvel

é composta por profissionais de saúde; todavia, a precariedade e a insuficiência

da formação específica para atuação nesta área, torna necessário que todos

busquem alcançar a capacitação e a habilitação indispensáveis ao atendimento

das situações de urgência / emergência (BRASIL, 2002).

Neste contexto de trabalho estou inserida há treze anos, tenho exercido

atividades assistenciais e gerenciais, sendo que nas assistenciais, durante o

atendimento pré-hospitalar, deparei-me freqüentemente com a possibilidade de

exposição a material biológico.

Nesse sentido, o Protocolo de Exposição a Materiais Biológicos do

Ministério da Saúde, Brasil (2005) considera como exposição a material

biológico aquela de cunho ocupacional que envolva sangue, fluídos orgânicos

potencialmente infectantes (sêmen, secreção vaginal, líquor, líquido sinovial,

peritoneal, pericárdico e amniótico), fluídos orgânicos potencialmente não

infectantes (suor, lágrima, fezes, urina e saliva), exceto se contaminado com

sangue; que implicam em sério risco para os profissionais da área da saúde nos

seus locais de trabalho. Além destes riscos, devem ser também considerados

os físicos, químicos, ergonômicos e cognitivos aos quais estão expostos os

profissionais da saúde no respectivo ambiente laboral.

Esta situação fez-me refletir sobre diferentes questões a respeito, e

indagar: como os profissionais de nível médio percebiam a possibilidade de

exposição a material biológico, e se percebiam, como se comportavam a

respeito? Em outras palavras: considerando a formação de cada um, em

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diferentes instituições de ensino, teriam eles a correta percepção da gravidade

deste problema?

Em circunstância de trabalho, a partir do levantamento dos acidentes 2

com material biológico entre técnicos e auxiliares de enfermagem, verifiquei

que havia um número reduzido de notificações, se comparado ao descrito na

literatura. Tal fato fez-me retomar os questionamentos anteriores: estaria

claro para aqueles profissionais o real significado da exposição a material

biológico no ambiente laboral?

Apesar de todos os riscos, alguns estudos demonstram que

aproximadamente 50% das exposições a material biológico são sub-

notificadas (BRASIL, 2005). Queiroz (1998) pode comprovar que nos casos

de exposição com material biológico que não acarretam lesão corporal ou

perturbação funcional significantes, como as contaminações de lesões

preexistentes de pele, os respingos em mucosas ou o rompimento de luvas,

são erradamente entendidos como acidentes sem importância, ficando a sua

notificação comprometida. Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2003), a

gravidade do acidente está diretamente relacionada com o tipo de exposição

e com o material biológico envolvido. Assim, considera-se exposição com

risco as seguintes: percutânea; de mucosa; de pele comprometida por lesão,

dermatite ou ferida aberta; ou de pele íntegra, envolvendo exposição com

volume elevado de material biológico em contato prolongado e de superfície

extensa da pele exposta.

2 Estudo realizado em 2002, por Denise Rego de Sá Viana.

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Assim, o risco presente no ambiente ocupacional pode ser

interpretado como sendo a quantificação da vulnerabilidade do trabalhador3

exposto a determinado agente, expressando-se na capacidade de causar

danos à sua saúde. Todavia, no que se refere ao agente, para determinar a

sua natureza, concentração ou intensidade, assim como o tempo de

exposição do trabalhador, torna-se indispensável à quantificação desta

vulnerabilidade (BRASIL / NR-9, 1978).

Ademais, considerar os agentes nocivos isoladamente, não levará à

compreensão no desenvolvimento de certos danos que estariam

relacionados à multifatoriedade, quando se deve levar em conta o modelo

epidemiológico multicausal (LAURELL, NORIEGA, 1989).

Dentre os riscos ocupacionais, a exposição aos agentes biológicos é o

mais comum a que o profissional da área de saúde está sujeito (MASTROENI,

2004), podendo ocorrer tanto por contato direto como indireto, seja por vetor

biológico ou mecânico, ou ainda, pelo ar. Vendrame (2001) complementa

esclarecendo que um agente biológico pode atingir o organismo por inalação,

ingestão ou penetração através da pele, e ainda por contato com as mucosas

dos olhos, nariz e boca.

Dentre os profissionais da área de saúde, os auxiliares e técnicos de

enfermagem dos serviços pré-hospitalares acham-se em condição ímpar, pois,

diferentemente dos profissionais da área hospitalar, eles atuam em via pública,

atendendo a eventos decorrentes de causas externas (acidentes, violência

interpessoal, causas clínicas). Assim, seu trabalho não fica restrito às ações

rotineiras de assistência à saúde. Eles também executam procedimentos

3 Nota: no estudo, trabalhador refere-se à atuação em qualquer área ocupacional.

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realizados normalmente por bombeiros militares, como a manobra de

extricação4. Além disso, existe a condição de emergência que norteia todo

atendimento.

Estas peculiaridades caracterizam o ambiente do APH onde, por mais

que as circunstâncias dos atendimentos se assemelhem, sempre existirão

novos e diferentes fatores com os quais não se contava. Em um ambiente de

trabalho com estas características, os profissionais que aí exercem as suas

atividades estão sujeitos, de forma distinta a diferentes riscos ocupacionais,

dentre os quais o biológico, que merece atenção especial pelos seguintes

motivos: as atividades do APH implicam na possibilidade de exposição aos

agentes biológicos pertencentes aos vários grupos (BRASIL / NR-15, 1978); o

perfil epidemiológico das vítimas atendidas é desconhecido; os profissionais de

serviços de emergência constituem um grupo de alto risco, a partir da

freqüência e intensidade no contato com materiais biológicos (SCHNEIDER,

1996).

Os profissionais de enfermagem são os mais sujeitos à exposição, como

comprovam os dados epidemiológicos da Secretaria Municipal de Saúde do Rio

de Janeiro, tanto que no período de 1997 a 2000, dos 6.700 casos notificados

de acidentes com material biológico envolvendo profissionais de saúde nesta

cidade, 42% ocorreram com auxiliares e técnicos de enfermagem (SMS-RJ

2001), o que talvez se justifique por estarem em maior número nas instituições

de assistência à saúde ou serem os que estabelecem contato mais próximo no

cuidado ao paciente.

4 Manobra que visa remover de forma segura uma vítima de um local do qual ela não possa, ou não deva,

sair por meios próprios.

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Estudo realizado por Viana (2003) identificou que entre os acidentes com

material biológico notificados pelos profissionais do APH em questão, o sangue

foi o material biológico responsável por 100% das exposições, e a mucosa foi a

parte mais atingida (56%); o atendimento à vítima sangrando predominou como

situação que causou a exposição ao material biológico (56%); o perfil dos

expostos foi constituído de pessoas jovens, entre 20 e 30 anos de idade (89%);

dentre os acidentados, 44% apresentavam o esquema vacinal completo para

hepatite B; e 78% dos acidentados eram profissionais da enfermagem.

Sabe-se que na exposição a material biológico, os trabalhadores estão

sujeitos ao contato com agentes de doenças infecciosas e parasitárias. Estes

agentes podem infectá-los e levá-los ao adoecimento ou à condição de

portador assintomático. O Ministério da Saúde elencou as seguintes doenças,

que podem estar relacionadas a agentes ou fatores de risco de natureza

ocupacional: tuberculose, carbúnculo (antraz), brucelose, leptospirose, tétano,

psitacose, ornitose, doença dos tratadores de aves, dengue (dengue clássico),

febre amarela, hepatites virais, doença pelo vírus da imunodeficiência humana

(HIV), dermatofitose e outras micoses superficiais, candidíase,

paracoccidioidomicose (blastomicose sul-americana, blastomicose brasileira,

Doença de Lutz), malária e a leishmaniose cutânea ou leishmaniose cutâneo-

mucosa (BRASIL, 1999).

O crescimento da incidência de algumas doenças como tuberculose,

hepatite B e a infecção por HIV em trabalhadores da saúde, vem sugerindo a

necessidade do aumento de ações preventivas. Na prevenção de doenças

infecciosas e parasitárias relacionadas ao trabalho é fundamental que os

envolvidos tenham uma percepção sobre suas tarefas, a saúde e as normas e

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regulamentos vigentes envolvendo biossegurança (BRASIL / OPAS, 2001).

A adoção de comportamento preventivo pelo trabalhador, diante do risco

biológico presente em seu cotidiano, somente acontecerá se houver ação

conjunta entre empregado e empregador. Dependerá, então, do nível de

percepção do primeiro quanto ao risco e a incorporação de atitudes que

eliminem ou reduzam a exposição ao risco, e no empenho do segundo em não

limitar suas ações ao atendimento das exigências legais. Dentre as ações

preventivas, que devem ser adotadas pelo trabalhador e apoiadas pela

instituição, destacam-se as medidas de biossegurança ou segurança biológica.

Trata-se de um conjunto de medidas que se baseiam no conhecimento, nas

técnicas e nos equipamentos, com o fim de prevenir a exposição do

trabalhador, do laboratório e do ambiente a agentes potencialmente infecciosos

(MASTROENI, 2004).

O comportamento preventivo em saúde somente será adotado pelo

trabalhador submetido a risco biológico, se houver a conjugação dos seguintes

fatores: percepção pelo trabalhador da ameaça à sua saúde na exposição a

material biológico; reconhecimento do equipamento de proteção individual (EPI)

e do equipamento conjugado de proteção individual (ECPI) como elementos

fundamentais na redução da ameaça; disponibilidade dos EPI e dos ECPI; e

incorporação desses elementos no dia-a-dia, mesmo que causem algum

desconforto ao serem utilizados.

A compreensão do comportamento adotado por indivíduos submetidos à

condição de risco em atividades laborativas é fundamental para a elaboração e

implementação de programas de prevenção, visando a proteção e a redução

dos agravos à saúde deste trabalhador.

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A partir da problematização, definiu-se como objeto do estudo: o

comportamento preventivo adotado pelos profissionais de enfermagem de nível

médio diante da exposição a material biológico no atendimento pré-hospitalar.

O estudo visou atender aos seguintes objetivos:

Geral: Avaliar o comportamento preventivo do profissional de

enfermagem de nível médio em relação ao material biológico no atendimento

pré-hospitalar prestado às vítimas de eventos traumáticos.

Específicos:

1. Identificar a percepção do profissional de enfermagem de nível médio

em relação à possibilidade de risco biológico durante o atendimento

pré-hospitalar;

2. Analisar a percepção do profissional de enfermagem de nível médio

quanto aos benefícios decorrentes da adoção de medidas preventivas

de segurança em relação ao risco biológico durante o atendimento

pré-hospitalar;

3. Discutir o comportamento preventivo do profissional de enfermagem

de nível médio em relação à possibilidade de risco biológico durante o

atendimento pré-hospitalar.

Pretende-se que os resultados do estudo: a) contribuam tanto para o

desenvolvimento dos profissionais já inseridos no APH, quanto para os que

pretendem fazê-lo, pela reflexão crítica a respeito de como os profissionais de

enfermagem estão exercendo suas tarefas no dia-a-dia e se prevenindo em

relação aos riscos biológicos a que estão submetidos, considerando o previsto

na Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e

Violências (BRASIL, 2001); b) estimulem a realização de novas pesquisas

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científicas numa área de atuação ainda pouco estudada no Brasil, assim

contribuindo para a saúde do trabalhador ao preencher lacunas de

conhecimento sobre a temática e agregar conhecimentos que venham a

diminuir os riscos no APH.

Estrutura do Estudo

Para atender ao proposto no estudo, foram elaborados quatro Capítulos:

Capítulo 1 - o referencial teórico-metodológico descreve os conceitos

utilizados para discutir e apoiar os resultados da pesquisa, além do caminho

metodológico percorrido pela autora para desenvolvê-la. Apresenta-se,

também, uma suscinta revisão de literatura que dá ênfase ao atendimento pré-

hospitalar no Brasil, enfocando os riscos à saúde decorrentes do processo de

trabalho dos profissionais de enfermagem.

Capítulo 2 - aborda a percepção dos profissionais de enfermagem

acerca das possibilidades e formas de exposição ao risco biológico e a

gravidade ou severidade decorrente desta condição.

Capítulo 3 - trata do conhecimento que o profissional de enfermagem

dispõe acerca da possibilidade de exposição a riscos biológicos e de como esta

condição pode ser prevenida por medidas de biossegurança.

Capítulo 4 - enfoca a percepção dos profissionais de enfermagem em

relação aos fatores que interferem ou impedem o uso cotidiano de

equipamentos de proteção e/ou impedem a utilização rotineira dos mesmos.

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CAPÍTULO 1

REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

1.1. Base Teórico-Conceitual

O estudo teve como base teórica o conceito de Comportamento

Preventivo em Saúde, definido por Pender (1975) como ações individuais ou

coletivas, executadas voluntariamente pelo indivíduo em estado assintomático

em relação a uma doença específica, com o objetivo de minimizar o potencial

de ameaça percebido em relação à mesma, dividindo-se em tomada de decisão

e ação.

Segundo Katalski (1977), o Comportamento Preventivo em Saúde é

qualquer atitude adotada por uma pessoa que se acredita saudável, com o

propósito de prevenir doenças ou detectá-las num estado assintomático. Para

Candeias e Marcondes (1979), é um processo seqüencial que se efetiva em

cinco fases: aquisição de conhecimento correto; formação de atitude favorável à

adoção de uma determinada prática em saúde; avaliação da situação,

considerando que a mesma é formada:

a) pelas normas sociais e padrões culturais favoráveis ao objeto;

b) pelos apoios estruturais e seus impactos sobre o comportamento do

indivíduo; e

c) pela coerção social; aceitação das práticas de saúde identificadas

como adequadas; adoção das práticas de saúde.

Alguns modelos psicológicos interpretam a adoção ou não dessas

práticas preventivas a partir das relações estabelecidas entre modo de agir e

crenças pessoais. De acordo com estes modelos, para o indivíduo que se

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encontra em determinada situação de risco, adotar uma atitude preventiva

significa assumir mudanças comportamentais frente ao risco (JANZ e BECKER,

1984).

O uso de bases teóricas e de modelos conceituais, técnicos ou

operativos, é um dos fatores que melhoram significativamente as probabilidades

de êxito das investigações e intervenções na saúde pública em geral. Neste

aspecto, têm sido especialmente relevantes os aportes teórico-conceituais

originados nas áreas comportamentais e psicossociais, ao determinarem os

modelos de cognição social para estudar e intervir na mudança de

comportamentos relacionados com a saúde. Nesta perspectiva conceitual, as

crenças em saúde reiteradamente aparecem como aporte da maioria das

propostas descritas na literatura. Assim, o Modelo de Crenças em Saúde é

considerado como um dos mais influentes dentre os aplicados nos estudos e

intervenções dos comportamentos individuais com efeitos na saúde.

Entre os modelos utilizados na área específica dos comportamentos

direcionados à saúde, optou-se pelo referencial do Health Belief Model (HBM)

de Rosenstock (1974), referido aqui como Modelo de Crenças em Saúde de

Rosenstock, para melhor compreender a adoção deste comportamento pelos

auxiliares e técnicos de enfermagem, diante da exposição a material biológico

no atendimento pré-hospitalar. A eleição deste modelo como referencial teórico

deveu-se ao fato de ter sido ele desenvolvido para entender a busca de

mecanismos de prevenção de doença, segundo opinião de Janz & Becker

(1984).

De acordo com os autores citados (Op.cit.), o modelo é útil para explicar

condutas individuais, mas não para prevê-las, uma vez que foi desenvolvido

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para entender a busca de mecanismos de prevenção de doença.

Segundo Johnston (1991) o Modelo de Crenças em Saúde propõe-se a

explicar o comportamento do indivíduo quanto à prevenção de doenças a partir

da compreensão do que o leva a adotar medidas preventivas, dos motivos

capazes de causar retardo na busca de auxílio médico, e dos motivos que o

fazem assumir e seguir as orientações transmitidas pelo profissional.

O Modelo de Crenças em Saúde, segundo Rosenstock (1974),

pressupõe três grupos de comportamentos fundamentais: comportamento na

saúde; frente ao sintoma e na doença. O modelo é composto por quatro

dimensões básicas: susceptibilidade percebida, severidade percebida,

benefícios percebidos e barreiras percebidas.

De acordo com o modelo proposto, a adoção de comportamento

preventivo em saúde pelo profissional, dependerá deste considerar ser

vulnerável à exposição a material biológico contaminado e acreditar que, ao se

expor, poderá contaminar-se (Percepção de Suscetibilidade); ser capaz de

estabelecer associação entre contaminar-se com agente biológico e tornar-se

portador assintomático ou adoecer, percebendo que esta contaminação pode

ter sérias consequências (Percepção de Severidade); acreditar que a exposição

a material biológico pode ser prevenida por medidas de biossegurança

(Percepção de Benefícios); e do profissional avaliar essas medidas em função

dos seus aspectos negativos, tais como impedimentos, obstáculos, desconforto

e gastos financeiros, dentre outros (Percepção de Barreiras).

Para Rosenstock (1974) o comportamento preventivo de um indivíduo

em relação a uma ameaça à sua saúde, é dependente dessas quatro variáveis,

sendo que as decisões quanto a condutas de risco são mediadas pelo equilíbrio

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gerado entre elas.

O modelo foi aplicado para avaliar o atendimento das quatro dimensões

básicas no comportamento preventivo assumido pelo profissional de

enfermagem no atendimento pré-hospitalar, frente ao risco biológico decorrente

do seu processo de trabalho.

Quadro 1 - Diretrizes Teóricas Orientadoras do Estudo

PERCEPÇÕES FATORES PROBABILIDADE INDIVIDUAIS MODIFICADORES DE AÇÃO

Fonte: Baseada no Modelo de Crenças em Saúde de Rosenstock (LESCURA, MAMEDE, 1990)

• Variáveis demográficas (idade, sexo, raça,

etnicidade, etc.)

• Variáveis sócio-psicológicas

(personalidade, classe social, pares ou

pressão do grupo de referência, etc.)

• Variáveis sociais (conhecimento sobre a

doença, contato anterior com a doença)

• Benefícios percebidos da ação preventiva • Barreiras percebidas da ação

• Suscetibilidade percebida para a doença x • Severidade percebida para a doença X

AMEAÇA PERCEBIDA DA

DOENÇA X

• Probabilidade de tomar medidas de ações

preventivas em saúde

ESTÍMULOS PARA AÇÃO • Campanhas de massa • Conselhos e advertências recebidas • Lembretes escritos de médicos ou dentistas • Doença de um membro da família ou amigo •Artigos de jornal ou revista

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1.2. Revisão de Literatura

1.2.1. Atendimento Pré-Hospitalar no Brasil

O Atendimento Pré-Hospitalar surgiu a partir da necessidade do

estabelecimento de um novo conceito de atenção à saúde, com ações

desenvolvidas e ambientadas fora das estruturas físicas voltadas para este fim.

Este conceito é decorrente de uma nova demanda assistencial, a das vítimas

de causas externas, que desencadeia, então, a necessidade de reformulação

do modelo de atendimento às emergências clínicas e traumáticas,

principalmente nos grandes centros urbanos.

Este modelo tem sido orientado em todo mundo por duas tradicionais

escolas: o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (modelo francês) e o

Serviço de Emergência Médica (modelo norte-americano). Ambas as escolas

acumularam conhecimentos que possibilitaram classificar os diferentes agravos

à saúde. Desse modo, as causas externas figuram na Classificação

Internacional de Doenças (CID), constituindo-se no conjunto de eventos que

pode ou não levar à óbito, no qual se incluem as causas ditas acidentais -

devidas ao trânsito, trabalho, quedas, envenenamentos, afogamentos e outros

tipos de acidentes - e as causas intencionais (agressões e lesões

autoprovocadas), representando um grave problema de saúde pública em todo

o mundo, com conseqüente impacto na morbidade e na mortalidade das

populações (OMS, 1995).

No Brasil, a partir do ano de 1980, as mortes decorrentes destes eventos

passaram a responder pela segunda causa de óbitos no quadro de mortalidade

geral, ficando atrás apenas das doenças do aparelho circulatório. Devido à sua

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maior incidência no grupo de adolescentes e adultos jovens, estes eventos são

responsáveis pelo maior número de Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP).

Entre 1996 e 1997, os acidentes e as violências foram responsáveis por,

aproximadamente, 120 mil óbitos anuais, sendo os acidentes de trânsito e os

homicídios os dois subgrupos responsáveis por mais da metade dos óbitos por

acidentes e violências (PRADO, 1998).

Neste contexto, ficava a cargo dos Corpos de Bombeiros, o atendimento

das emergências nas diversas situações, inclusive o resgate e o salvamento de

vítimas de agravos decorrentes de causas externas. No entanto, tais

atendimentos eram realizados por pessoal não qualificado e com recursos

materiais inadequados.

A relevância do problema e a ausência, até então, de diretrizes nacionais

para a área de emergência, particularmente de APH, fez surgir no Brasil um

verdadeiro mosaico de modelos de atenção pré-hospitalar, principalmente a

partir da década de 80, quando passou a ser estabelecido de forma mais

sistematizada por alguns Corpos de Bombeiros, sendo estruturado conforme as

peculiaridades de cada Unidade da Federação.

Neste cenário, através do Decreto-lei nº 9.053, de 9 de julho de 1986, o

então governador Leonel de Moura Brizola foi o primeiro a implantar o serviço

de atendimento pré-hospitalar com profissionais do quadro de saúde, tendo

como missão atender às situações de emergência clínica e traumática em vias

e logradouros públicos da Cidade e do Estado do Rio de Janeiro, cabendo ao

Corpo de Bombeiros a responsabilidade pelo serviço, o qual foi inicialmente

realizado exclusivamente por profissional médico.

Deve ser ressaltado que o atendimento pré-hospitalar no Brasil é

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contemplado pela Portaria nº 2.048/GM, de 05 de novembro de 2002, que

estabelece o Regulamento Técnico dos Sistemas Estaduais de Urgência e

Emergência em todo território nacional (BRASIL, 2002).

1.2.2. Risco Ocupacional

No Brasil, o direito dos trabalhadores à segurança e medicina no trabalho

é garantido pela Lei 6.514, de 22 de dezembro de 1977, regulamentada pela

Portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978, do Ministério do Trabalho, que aprova

as Normas Regulamentadoras (NR) da Consolidação das Leis do Trabalho

(CLT) relativas à Segurança e Medicina do Trabalho, sendo que, em empresas

públicas e privadas (incluindo os hospitais) com empregados regidos pela CLT,

é obrigatório manter Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e

Medicina do Trabalho (SESMT) e Comissões Internas de Prevenção de

Acidentes (CIPA) (BRASIL, 1995).

A Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabeleceu como competência

do Sistema Único de Saúde (SUS) a realização de ações voltadas para a saúde

do trabalhador (BRASIL, 2001), as quais são regulamentadas pela Lei Orgânica

da Saúde (LOS) nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e definidas em seu

Artigo 6º, parágrafo 3º como

um conjunto de atividades que se destina, por meio das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde do trabalhador, assim como visa à recuperação e à reabilitação dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho.

Os riscos e agravos a que estão submetidos os trabalhadores devem ser

reconhecidos; é importante a identificação, a fonte geradora, a trajetória e o

meio de propagação dos agentes no ambiente de trabalho, o número de

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trabalhadores expostos, a caracterização das atividades e o tipo de exposição

(BRASIL /NR-15, 1978).

O reconhecimento dos riscos e agravos presentes no ambiente de

trabalho, e a posterior confecção do "Mapa de Riscos", foram atribuídos à CIPA

pela Portaria nº 5, de 17 de agosto de 1992, do Ministério do Trabalho. As

finalidades básicas deste mapa são a representação gráfica dos riscos

existentes nos diversos locais de trabalho e a possibilidade do conhecimento

destes riscos pelos trabalhadores (BRASIL, 1995).

Neste mapa, os riscos devem estar simbolizados por círculos de três

tamanhos, conforme a gravidade, e em cores, conforme o tipo de risco, como

explicitado no Quadro 2 a seguir:

Quadro 2 - Cores Representativas dos Riscos Ambientais

Riscos Ambientais Cores Representativas

Agentes Físicos Verde

Agentes Químicos Vermelho

Agentes Biológicos Marrom

Agentes Ergonômicos Amarelo

Agentes Mecânicos Azul

Riscos Locais Laranja

Riscos Operacionais Preto

Fonte: Portaria nº 5, de 17.08.92, do Diretor do Departamento Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador (MTb), publicada no Diário Oficial da União em 20.08.92 (BRASIL, 1992).

Trivelato (1998) destaca o caráter bidimensional do risco quanto a

possibilidade de causar dano, ou não, à saúde dos indivíduos, à propriedade ou

ao meio ambiente, sendo representado por determinada condição ou por um

conjunto de circunstâncias com este potencial, cuja origem pode ser ambiental

(física, química, biológica), situacional (instalações, ferramentas, equipamentos,

materiais, operações) e humana ou comportamental (decorrentes da ação

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ou omissão humana).

Mastroeni (2004) entende o risco como uma condição biológica, química

ou física que apresenta potencial para causar dano ao trabalhador, ao produto

ou ao ambiente. Já para Mauro (1991), os riscos ocupacionais originam-se das

atividades insalubres e perigosas, decorrentes de sua natureza, condição ou

método de trabalho.

De acordo com Laurell & Noriega (1989), para o enfoque teórico proposto

por eles no que diz respeito ao trabalho e ao desgaste do trabalhador, a

categoria ―risco‖ utilizada pela Medicina do Trabalho é considerada insuficiente

para definir os elementos considerados isolados e de forma monocausal

relacionados ao trabalho e que têm potencialidade de causar danos à saúde do

trabalhador.

A despeito de conceitos mais ou menos amplos sobre os riscos, eles

estão presentes em todos os ambientes; entretanto, não devem ser

considerados parte do processo de trabalho, como faz crer a Constituição

Federal de 1988 (SOUTO, 2003), devido à sua disposição pragmática nas

questões de segurança e saúde do trabalhador, quando declara serem os

riscos inerentes ao trabalho.

Estudo desenvolvido por Silva (2000) revelou que a convivência dos

trabalhadores de enfermagem intensivistas com o risco ocupacional, fez com

que os mesmos apresentassem comportamentos de negação, resistência e

adaptação, o que levou a autora a questionar se essas reações não estariam

sendo assumidas pelos trabalhadores como forma de sobrevivência diante do

risco.

Estas reações podem ser interpretadas, segundo Dejours (1992), como

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decorrentes dos conteúdos das tarefas e das pressões de responsabilidade da

organização do trabalho, que atuariam como agentes capazes de estabelecer

um conflito com o funcionamento psíquico. Este mesmo comportamento pode

estar sendo adotado também pelos profissionais de enfermagem do APH na

sua convivência com o risco ocupacional, em especial o biológico, em

conseqüência da adversidade do seu ambiente de trabalho, fator que conduz o

profissional à exposição a material biológico.

Para melhor compreensão da adversidade deste ambiente laboral, deve-

se visualizar, por exemplo, o cenário de uma colisão entre veículos onde haja

vítima presa às ferragens, apresentando lesões cutâneas sangrando, fraturas e

agitação psicomotora, dentre outros agravos. Neste contexto, antes que seja

desencarcerada, caberá ao profissional de enfermagem prestar-lhe

atendimento, apesar dos estilhaços de vidro e dos ferros retorcidos, da

presença de material biológico, derrame de combustível e risco de incêndio.

Neste ambiente, as ações voltadas à promoção e proteção da saúde dos

trabalhadores, relativas aos riscos e agravos advindos das condições de

trabalho, devem ser elaboradas e implementadas a partir de suas

peculiaridades, como na implantação do Programa de Prevenção de Riscos

Ambientais5, que não contempla ambientes externos.

5 Programa que visa à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores pela antecipação,

reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho (BRASIL / NR-9, 1978).

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1.2.3. Risco Biológico

Os riscos estão presentes em todos os ambientes ocupacionais, sendo

que os biológicos são vivenciados mais de perto por alguns trabalhadores; nos

casos das atividades que envolvam agentes biológicos, a insalubridade é

caracterizada pela avaliação qualitativa, isto é, independe do estabelecimento

de limites de tolerância quantitativos, mas pela presença do agente biológico.

Seu grau de insalubridade vai de médio a máximo, de acordo com o nível de

exposição (BRASIL / NR-15, 1978).

Entre os trabalhadores cujas atividades envolvam agentes biológicos,

destacam-se os da área da saúde que, pela natureza de suas ocupações,

experimentam aproximação a diferentes agentes biológicos. Seguindo esta

mesma linha de pensamento, em algumas atividades, esses agentes podem ser

conhecidos pela possibilidade de sua identificação, e devido ao perfil da

clientela assistida. No serviço pré-hospitalar, por ser destinado ao atendimento

de emergência em via pública, com grande demanda, torna-se improvável este

reconhecimento, sugerindo que seja considerada a possibilidade de exposição

a agente biológico dos vários grupos. Assim, o risco deve ser avaliado com

base no perigo representado por todos os agentes biológicos, identificados ou

prováveis (Quadro 3, a seguir) (BRASIL, 2002).

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Quadro 3 - Classificação dos Agentes Biológicos em Grupos

GRUPO 1 Os que apresentam baixa probabilidade de causar doenças ao homem.

GRUPO 2 Os que podem causar doenças ao homem e constituir perigo aos trabalhadores, sendo diminuta a probabilidade de propagação na coletividade e para os quais em geral existem meios eficazes de profilaxia ou tratamento.

GRUPO 3 Os que podem causar doenças graves ao homem e constituir um sério perigo aos trabalhadores, com risco de se propagarem na coletividade, embora passíveis de profilaxia e tratamento eficazes.

GRUPO 4 Os que causam doenças graves ao homem e constituem um sério perigo aos trabalhadores, com elevadas possibilidades de propagação na coletividade, para os quais praticamente inexistem meios eficazes de profilaxia ou tratamento.

Fonte: BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego / Norma Regulamentadora 21 (Anexo 1).

Os agentes biológicos estão presentes de alguma forma, em todos os

ambientes; mas, para que assumam condição de risco aos indivíduos, há

necessidade do estabelecimento de um conjunto de fatores. No tocante ao

ambiente de trabalho dos profissionais de saúde, este risco caracteriza-se pela

possibilidade de contato com sangue e fluidos orgânicos potencialmente

contaminados (BREVIDELLI, 1997). Portanto, a exposição do trabalhador a um

desses materiais caracteriza o acidente de trabalho, e sua gravidade deverá ser

avaliada sob alguns aspectos.

A gravidade do acidente estará diretamente relacionada com o tipo de

exposição e com o material biológico envolvido. As exposições a material

biológico consideradas mais graves são as que envolvem maior volume de

sangue, cujos marcadores são: lesões profundas provocadas por material

perfurocortante, presença de sangue visível no instrumento, acidentes com

agulhas previamente utilizadas na veia ou artéria do paciente-fonte e acidentes

com agulhas de grosso calibre.

As exposições que podem trazer riscos de transmissão ocupacional do

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HIV e dos vírus das hepatites B (HBV) e C (HCV) são definidas como:

percutâneas (lesões provocadas por instrumentos perfurantes e cortantes: p.

ex., agulhas, bisturi, vidrarias); em mucosas (quando há respingos na face

envolvendo olhos, nariz, boca ou genitália); cutâneas (pele não-íntegra, por

exemplo, contato com pele com dermatite ou feridas abertas); e mordeduras

humanas – consideradas exposição de risco quando envolverem a presença

de sangue, devendo ser avaliadas tanto para o indivíduo que provocou a lesão

quanto para aquele que tenha sido exposto (BRASIL, 2003).

O risco da exposição a material biológico reside no fato de, após esta

situação ocorrer, o profissional poder vir a contaminar-se com patógenos

presentes no material e a desenvolver uma condição de portador assintomático

ou de adoecimento. Este risco vem se consolidando com o crescimento do

número de indivíduos infectados pelo vírus HIV e pelos vírus das hepatites B e

C na população geral, com conseqüente aumento do risco para o profissional

de saúde, o que fez com que as autoridades sanitárias de todo o mundo

estabelecessem medidas de prevenção e de controle, destinadas à transmissão

dessas doenças (MASTROENI, 2004).

O risco de infecção por HIV pós-exposição ocupacional percutânea com

sangue contaminado é de aproximadamente 0,3%, e de 0,09% após exposição

de mucosa. No caso de exposição ocupacional ao vírus da hepatite B (HBV), o

risco de infecção varia de 6 a 30%, podendo chegar até a 60%, dependendo do

estado do paciente-fonte, dentre outros fatores. Quanto ao vírus da hepatite C

(HCV), o risco de transmissão ocupacional após um acidente percutâneo com

paciente-fonte HCV positivo é de aproximadamente 1,8% (variando entre 0 e

7%) (BRASIL, 2005).

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Dentre as medidas preventivas visando proteger os profissionais de

saúde, encontram-se os protocolos a serem seguidos imediatamente após a

exposição a material biológico, que prescrevem as seguintes condutas:

cuidados imediatos com a área exposta; determinação do risco da exposição;

avaliação do paciente-fonte; avaliação do profissional de saúde acidentado;

início das medidas profiláticas em exposições com riscos de transmissão dos

vírus da Hepatite B (HBV) e da Imunodeficiência Humana (HIV) (CENTERS

FOR DISEASES CONTROL AND PREVENTION, 2001), conforme demonstram

os Quadros 4 e 5 a seguir:

Quadro 4 - Aspectos e Avaliação Inicial da Exposição

. Tipo de exposição Percutânea Mucosa Pele não-íntegra Mordedura humana

. Tipo e quantidade do material biológico (líquidos, tecidos) Sangue Material biológico contendo sangue Líquidos e tecidos potencialmente infectantes (sêmen, secreção vaginal, líquor, líquidos sinovial, pleural, peritoneal, pericárdico e amniótico) Contato direto com material contendo vírus em grande quantidade

. Situação infecciosa da fonte Presença de HBsAg Presença de anti-VHC Presença de anti-HIV

. Susceptibilidade do profissional exposto Situação quanto à vacina contra hepatite B e resposta vacinal Situação quanto à infecção por HIV / HBV / HCV

Fonte: Centers for Diseases Control and Prevention, 2001.

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Quadro 5 – Status Sorológico da Fonte (Origem do Acidente)

Quando a fonte é conhecida

- Solicita-se consentimento para a realização dos seguintes exames: HBsAg, Anti-HBC

IgM, Anti-HCV e Anti-HIV. Deve ser utilizado o teste rápido para HIV, sempre que

disponível, junto com os exames acima especificados.

- Fonte não infectada, comprovadamente por exames realizados nos últimos 30 dias, é

desnecessário realizar os exames do acidentado no momento zero, bem como observar o

seguimento;

- Caso a fonte seja conhecida, mas seu estado sorológico desconhecido, ou havendo

recusa em realizar os testes, considerar o diagnóstico médico, sintomas e história de

comportamento de risco;

- Não testar agulhas descartadas, quanto aos marcadores virais;

- Exames de detecção viral não são recomendados como testes de triagem.

Quando a fonte é desconhecida

- Levar em conta as probabilidades clínica e epidemiológica de infecção pelo HIV,

HCV, HBV (prevalência de infecção naquela população, local onde o material

perfurante foi encontrado, procedimento ao qual ele esteve associado, presença

ou não de sangue etc.).

Fonte: BRASIL – Ministério da Saúde, 2005.

Para a implementação das rotinas assistenciais à prevenção do HIV,

HBC e HCV são necessárias medidas gerenciais que possibilitem estabelecer

condições de implantar um adequado modelo de atendimento assistencial ao

profissional da saúde exposto a material biológico. Dos recursos laboratoriais

necessários ao atendimento destes acidentes, cabe à Rede de Atendimento

Primária providenciar: teste rápido para HIV; acesso a laboratório para coleta de

exames do paciente-fonte (HbsAg, Anti-HBc-IgM, Anti-HCV, anti-HIV) e do

acidentado (HbsAg, anti-HBs, anti-Hbc-IgM, anti-HCV, anti-HIV, TGP/ALT,

hemograma com plaquetas, uréia, creatinina, TGO/TGP, bilirrubinas, glicemia,

EQU).

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Às Redes de Atendimento Secundária e Terciária cabem, além das

incumbências da Rede Primária, a realização de PCR-RNA HCV para

diagnóstico precoce da infecção pelo HCV.

A estimativa de consultas para atendimento de um acidente prevê o

seguinte fluxo: o primeiro atendimento, imediatamente após o acidente; o

segundo, para informação dos resultados dos exames, com término da

investigação ou encaminhamento para seguimento; o terceiro, para controle /

revisão de 15 dias, com coleta da amostra de bioquímica para avaliar o impacto

da profilaxia pós-exposição (PPE); o quarto atendimento, para novos controles,

realizado quando decorridos 30 a 45 dias; o quinto, para controle de 3 meses, e

o sexto, para controle de 6 meses.

Entre as informações práticas de divulgação no ambiente de trabalho da

área de saúde para atendimento de acidentes com exposição / contato com

material biológico, devem constar os exames a serem realizados no paciente-

fonte do acidente (teste rápido para HIV, HbsAg, Anti-HBc-IgM, Anti-HCV, Anti-

HIV convencional) e no acidentado (Anti-HBs maior ou igual a 10ui/ml, Anti-

HCV, TGP/ALT, Anti-HIV. Se não houver evidência de proteção para hepatite B,

ou ele souber informar se foi ou não realizado, serão necessários o HbsAg,

anti-HBc-IgM, anti-HBs, anti-HCV.

São os seguintes os exames a serem solicitados no caso de indicação de

profilaxia pós-exposição (PPE): hemograma com plaquetas, TGO (ast) e TGP

(alt), bilirrubinas, uréia, creatinina, glicemia e exame qualitativo de urina se

houver o uso de Indinavir.

O esquema básico de profilaxia, indicado em exposições com risco

conhecido de transmissão pelo HIV, pós exposição prevê que sejam

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administradas a Zidovudina (AZT) e a Lamivudina (3TC). O esquema ampliado

de profilaxia, indicada em exposições com risco elevado de transmissão pelo

HIV, além do AZT e do 3TC, inclui um inibidor de protease (Nelfinavir ou

Indinavir) (BRASIL, 2005).

Essas medidas profiláticas vêm sendo amplamente avaliadas, como por

exemplo, em estudos de caso-controle e multicêntricos envolvendo profissionais

de saúde que tiveram exposições percutâneas com sangue sabidamente

infectado pelo HIV, no qual o uso do AZT foi associado a um efeito protetor de

81% (CARDOSO, CULVER, CIESIELSKI et al., 1997). Entretanto, a

quimioprofilaxia pós-exposição ao HIV é complexa, tanto pela falta de dados

mais precisos sobre o risco relativo de diferentes tipos de exposição, quanto

pelo risco de toxicidade dos medicamentos anti-retrovirais.

Sendo assim, o profissional de saúde acidentado deverá ser informado

de que o conhecimento científico sobre a eficácia desta terapêutica ainda é

limitado, existindo casos documentados de transmissão, mesmo com o uso

adequado da profilaxia e pacientes-fonte sabidamente infectados pelo HIV com

carga viral indetectável, sendo direito do mesmo recusar-se a realizar a

quimioprofilaxia ou outros procedimentos recomendados pós-exposição. Nestes

casos, porém, deverá assinar um documento onde esteja claramente

explicitado que durante o seu atendimento, recebeu todas as informações

sobre os riscos da exposição e os riscos e benefícios da conduta indicada

(BRASIL, 2003).

O formulário específico de comunicação de acidente de trabalho deve ser

preenchido para o devido encaminhamento. No caso de acidentes com

trabalhadores da iniciativa privada, essa comunicação deverá ser feita em 24h,

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por meio de formulário padrão denominado Comunicação de Acidente de

Trabalho (CAT) (Anexo 1). Quanto aos acidentes ocorridos com trabalhadores

do serviço público federal, o Regime Jurídico Único (RJU) dos funcionários da

União (Lei nº 8.112/90) regula o acidente de trabalho nos Artigos 211 a 214,

sendo que o fato classificado como acidente de trabalho deverá ser comunicado

até 10 (dez) dias após ter ocorrido. Vale ressaltar que os funcionários dos

Estados e dos Municípios devem observar os Regimes Jurídicos Únicos que

lhes são específicos (BRASIL, 2003).

O serviço é o responsável pelo fornecimento de medicamentos para a

quimioprofilaxia, a vacina para hepatite B e a imunoglobulina hiperimune para

hepatite B, devendo ser disponibilizados pelos locais de trabalho públicos ou

privados. Essa é uma exigência amparada pela Legislação Trabalhista

Brasileira no âmbito da iniciativa privada (Consolidação das Leis Trabalhistas e

suas Normas Regulamentadoras), assim como pelo Artigo 213 do RJU da

União. As unidades hospitalares do setor privado deverão ter os medicamentos

de profilaxia pós-exposição percutânea (PEP) ao vírus da imunodeficiência

humana (HIV) e a vacina para hepatite B adquiridos às suas expensas

(BRASIL, 2003).

Dados epidemiológicos da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de

Janeiro, referentes ao período de 1997 a 2000, mostram que foram notificados

6.700 acidentes com um aumento mensal nítido, sendo mantida uma tendência

ascendente. De acordo com esta Secretaria, certamente o número real de

acidentes é superior ao registrado, visto que os profissionais desconhecem ou

subestimam os riscos aos quais estão expostos, acarretando importante

subnotificação (SMS-RJ, 2001).

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Neste período, foram identificados quatro casos de profissionais que se

contaminaram, sendo dois para hepatite C, um para hepatite B e um em que a

contaminação foi simultânea para os vírus das hepatites B e C; não houve

relato de casos de soroconversão para o HIV, mas é importante observar que o

preenchimento incompleto ou incorreto das fichas de notificação acarretam

dificuldades importantes para a análise dos dados (SMS-RJ, 2001).

Até 1998 foram reportados 79 casos documentados e 144 casos

possíveis de transmissão ocupacional do Vírus da Imunodeficiência humana

(HIV) no mundo (CENTERS FOR DISEASES CONTROL AND PREVENTION –

CDC, 1998). No Brasil, não há estabelecido um sistema de vigilância relativo

aos acidentes de trabalho com material biológico e a escassez de dados

sistematizados sobre esses acidentes não permite conhecer a magnitude global

do problema, o que dificulta a avaliação das medidas preventivas utilizadas

atualmente (MARZIALE, RODRIGUES, 2002).

1.2.4. Biossegurança

O termo biossegurança tem sido amplamente empregado pelos meios de

comunicação por englobar diferentes temas, desde os relacionados ao

bioterrorismo à produção de alimentos geneticamente modificados

(transgênicos). Neste estudo, o termo refere-se à segurança aplicada ao risco

representado pelos agentes biológicos cuja necessidade de proteção é definida

pela fonte do material, pela natureza da operação ou do experimento a ser

realizado, bem como pelas condições em que ocorrerá.

Neste caso, a biossegurança está relacionada com a Precaução Padrão

ou Básica, normatizações publicadas no ano de 1996 pelo CDC e que visam

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reduzir a exposição aos materiais biológicos. Estas normatizações estabelecem

a prevenção do contato com todos os fluidos corporais, secreções, excreções,

pele não-íntegra e membranas mucosas de todos os pacientes, ao contrário do

conceito anterior das Precauções Universais em que a prevenção estava

associada somente aos fluidos corporais que pudessem transmitir o HIV e

outros patógenos de transmissão sangüínea (RISCOBIOLÓGICO - ON LINE,

2002).

Biossegurança ou segurança biológica, de acordo com Mastroeni (2004,

p. 84) é a ―aplicação do conhecimento, técnicas e equipamentos, com a

finalidade de prevenir a exposição do trabalhador, laboratório e ambiente a

agentes potencialmente infecciosos ou biorriscos‖. O mesmo autor atribui à falta

de uma cultura prevencionista o principal obstáculo para as pessoas agirem

com precaução nos locais de trabalho, daí porque ―alguns trabalhadores

tendem a menosprezar os riscos, levando em consideração somente o

experimento‖ (Op.cit.).

A falta desta cultura nos profissionais de enfermagem foi verificada por

Figueiredo et al. (1999), que creditaram ao abrandamento do sentimento de

pânico gerado no momento do acidente pela própria rotina do serviço, como um

dos fatores relacionados ao alto índice de acidentes com a equipe de

enfermagem. Já Robazzi e Marziale (1999) alegaram a existência de uma

concepção idealizada da profissão, aonde os profissionais da enfermagem

submetem-se a variados riscos ocupacionais, sofrem acidentes de trabalho e

adoecem, sendo que na maior parte das vezes não atribuem estes problemas

às questões decorrentes de sua atividade laboral.

No entanto, para a construção de uma cultura de prevenção, é

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indispensável a conscientização desta categoria de trabalhadores acerca dos

riscos aos quais estão submetidos, visto que assim passariam a adotar uma

nova postura diante do problema, inclusive reivindicando melhores condições

de trabalho, modificando o quadro atual.

A instituição de saúde deve divulgar e treinar seus profissionais quanto

aos procedimentos de prevenção à exposição a material biológico, e

estabelecer medidas preventivas e gerenciais que visem:

1. a identificação dos riscos a que este profissional está exposto;

2. o estabelecimento das práticas de trabalho (ex. não reencapar

agulhas, descarte adequado de material);

3. o controle de engenharia, compreendendo todas as medidas de

controle que isolem ou removam um risco do local de trabalho, abrangendo não

somente instrumentos perfurocortantes modificados com proteção contra lesões

e sistemas sem agulha, mas também outros dispositivos médicos destinados a

reduzir o risco de exposição a material biológico;

4. a utilização de equipamentos de proteção, nas circunstâncias em que

as práticas de trabalho e o controle de engenharia são insuficientes para

propiciar uma proteção adequada;

5. a investigação, controle e registro dos casos de exposição a sangue

ou fluidos corporais (BRASIL, 2005).

Da capacitação e educação em saúde também devem constar as

atribuições gerenciais, visto que o programa de treinamento é fundamental e

deve ser repetido regularmente a fim de formar uma consciência prevencionista.

Ademais, o conteúdo do programa deve contemplar:

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. Os tipos de riscos a que o profissional está exposto;

. O modo de transmissão dos agentes veiculados pelo sangue e outros

fluidos corporais.

. As ações a serem adotadas em caso de acidentes:

a) desinfecção da área física quando for o caso;

b) lavar o local do corpo atingido com água em abundância;

c) identificar se possível a fonte do acidente;

d) comunicar a exposição do Sistema de Informação de Agravos de

Notificação (SINAN) (Anexo 2)

e) realizar os controles médicos indicados;

. As recomendações sobre o uso do Equipamento de Proteção Individual

(EPI) sobre as práticas de trabalho adotadas e as limitações desses meios

incluem:

a) lavagem freqüente das mãos - é a precaução mais importante e

deve ser realizada sempre, após contato com paciente e/ou

material biológico e ao descalçar as luvas;

b) luvas – devem ser usadas no exame de paciente, incluindo

contato com sangue, fluidos corporais, mucosas ou pele não

íntegra;

c) óculos, protetor facial, máscara - devem ser utilizados sempre que

se antecipar a possibilidade de respingo de sangue ou fluidos

corporais;

d) avental - deve ser de uso restrito à área de trabalho (BRASIL,

2005).

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Para Souza, Arantes e Abreu (2000), os benefícios no uso dos

dispositivos destinados à proteção física do profissional somente são

percebidos a partir da ocorrência de situações ameaçadoras, quando ocorre a

percepção da susceptibilidade aos riscos, e o conseqüente reforço positivo no

uso desses equipamentos, pois, de acordo com os autores (Op.cit.), apesar de

os profissionais de enfermagem conhecerem as medidas de biossegurança

recomendadas para a prevenção de acidentes com material biológico, não as

têm empregado no cotidiano de sua prática.

O Equipamento de Proteção Individual (EPI) é o dispositivo ou produto

de uso individual, utilizado pelo trabalhador com a finalidade de protegê-lo de

riscos suscetíveis de ameaçar a sua segurança e saúde no trabalho.

O Equipamento Conjugado de Proteção Individual (ECPI) é aquele

composto por vários dispositivos, associados contra um ou mais riscos que

possam ocorrer simultaneamente e que sejam suscetíveis de ameaçar a

segurança e a saúde no trabalho (BRASIL / NR-6, 1978).

Estes equipamentos, descartáveis ou não, deverão ser armazenados em

número suficiente nos locais de trabalho, de forma a garantir o imediato

fornecimento ou reposição, sempre que necessário (BRASIL, 2002).

Para a prevenção da exposição ao sangue ou a outros materiais

biológicos, que é a principal medida para que não ocorra contaminação por

patógenos de transmissão sangüínea nos serviços de saúde, as Normas de

Biossegurança do Ministério da Saúde prescrevem as Precauções Básicas ou

Precauções Padrão, devendo ser utilizadas sempre que houver manipulação

de artigos médico-hospitalares e também na assistência a todos os pacientes,

independente do diagnóstico definido ou presumido de doença

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infecciosa (BRASIL, 2003).

Para a realização de procedimentos que envolvam a manipulação de

material perfurocortante, deve-se ter a máxima atenção durante a realização

dos procedimentos: jamais utilizar os dedos como anteparo durante a

realização de procedimentos que envolvam estes materiais; não reencapar

agulhas entortadas, quebradas ou retiradas da seringa com as mãos; não

utilizar agulhas para fixar papéis; todo material perfurocortante (agulhas, scalp,

lâminas de bisturi, vidrarias, entre outros), mesmo que estéril, deve ser

desprezado em recipientes resistentes à perfuração e com tampa; os coletores

específicos para descarte de material perfurocortante não devem ser

preenchidos acima do limite de 2/3 de sua capacidade total e devem ser

colocados sempre próximos do local onde for realizado o procedimento

(BRASIL, 2003).6

Os EPI devem estar disponíveis e serem adequados, incluindo luvas,

protetores oculares ou faciais, protetores respiratórios, aventais e proteção para

os membros inferiores. As luvas devem ser utilizadas sempre que houver

possibilidade de contato com sangue, secreções e excreções, com mucosas ou

com áreas de pele não íntegra (ferimentos, escaras, feridas cirúrgicas e outros).

A máscara, o gorro e os óculos de proteção estão indicados para uso durante a

realização de procedimentos em que haja possibilidade de respingos de sangue

e outros fluidos corpóreos nas mucosas da boca, nariz e olhos do profissional.

Os capotes devem ser utilizados durante procedimentos com possibilidade de

contato com material biológico, inclusive em superfícies contaminadas. Os

6 Os resíduos de serviços de saúde devem seguir a Resolução RDC nº 33, de 25 de fevereiro de 2003,

publicada no DOU de 05/03/2003 – ANVISA/ MS (BRASIL/MS, 2003).

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calçados fechados e as botas devem ser utilizados na proteção dos pés em

locais úmidos ou com quantidade significativa de material infectante

(BRASIL/MS, 2003).

Apesar das normas de biossegurança instituídas pelo Ministério da

Saúde, Souza (2000) citado por Mastroeni (2004, p. 78) alerta para o fato de

que

vêm sendo publicados relatos de transmissão e surtos de infecção em trabalhadores da saúde, provando que eles podem transmitir ou adquirir doenças em relação ao trabalho (...) ainda deparamos com profissionais que não valorizam as medidas de proteção, individuais e coletivas, de eficácia amplamente comprovada.

1.3. Desenho da Pesquisa

Trata-se de estudo de caso, do tipo descritivo e abordagem qualitativa,

tendo como técnica de coleta de dados a entrevista semi-estruturada. De

acordo com Lüdke e André (1986) e Trivinos (1992), a pesquisa qualitativa

permite ao pesquisador a possibilidade de captar a perspectiva dos

participantes, permitindo a compreensão do problema no meio em que ele

ocorre sem artificialidades que mascarem a realidade e que podem levar a

equívocos.

No estudo foi utilizado como referencial teórico o Conceito de

Comportamento Preventivo em Saúde interpretado pelo Modelo de Crenças em

Saúde de Rosenstock (1974). A opção por este modelo deveu-se ao fato de o

estudo tratar do comportamento preventivo de indivíduos frente a uma condição

de risco, adotado na dependência das seguintes dimensões básicas:

susceptibilidade percebida (os riscos subjetivos de contrair uma doença),

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seriedade percebida, benefícios percebidos (crença na efetivação da ação) e

barreiras percebidas, que são aspectos conflitantes para a prevenção,

variáveis que lidam com o mundo subjetivo do comportamento individual e não

com o mundo objetivo dos profissionais de saúde. O modelo facilitou o

estabelecimento de uma ponte de ligação entre a subjetividade da percepção e

o comportamento preventivo.

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética do Hospital

Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

(HUPE/UERJ), sendo aprovado sem restrições.

A pesquisa teve como cenário o Serviço de Atendimento Pré-Hospitalar

(APH) da cidade do Rio de Janeiro, de responsabilidade do Corpo de

Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, que se incumbe do atendimento

das emergências clínicas e traumáticas nas vias e logradouros públicos deste

município, bem como do Transporte Inter-Hospitalar (TIH) de pacientes

oriundos do SUS e da participação em sistemas de segurança em grandes

eventos.

As unidades móveis do APH estão distribuídas por 39 postos, sendo 37

de socorro terrestre e duas de socorro aéreo. A unidade de socorro terrestre,

denominada Auto Socorro de Emergência (ASE), é classificada em duas

categorias: Auto Socorro de Emergência Avançado (ASE-A) e Auto Socorro de

Emergência Básico (ASE-B). No primeiro caso, o socorro é realizado por

médico; no segundo, a liderança é exercida por profissional técnico de

enfermagem, capacitado como Técnico em Emergência Médica (TEM), que

desempenha atendimento básico sob supervisão médica à distância. Além dos

comandantes de socorro, tanto no ASE-A quanto no ASE-B, existe um segundo

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profissional que participa como auxiliar no socorro. Este profissional pode ser

um técnico ou auxiliar de enfermagem, ou mesmo um socorrista7.

Toda unidade de ASE dispõe de aparato tecnológico para estabilização,

manutenção e monitoramento das condições vitais das vítimas assistidas, tais

como monitores-desfibriladores, monitores da saturação de oxigênio e

dispositivos especiais para imobilização de fraturas e de coluna vertebral. Os

ASE-A também contam com suportes para ventilação mecânica, medicamentos

e soluções endovenosas.

Os sujeitos do estudo foram os profissionais que trabalhavam nas

unidades e formavam um contingente de, aproximadamente, duzentos

bombeiros militares, técnicos e auxiliares de enfermagem, integrantes como

líder ou auxiliar nas equipes dos ASE-A e ASE-B do serviço de APH do

município do Rio de Janeiro.

Como critério de inclusão estabeleceu-se que: a) os sujeitos fossem

profissionais de enfermagem lotados na unidade do APH; b) estarem

submetidos à mesma jornada de trabalho e c) exercerem atividade no serviço

há pelo menos doze meses. Portanto, os sujeitos da pesquisa foram

constituídos do conjunto de profissionais entrevistados até a saturação das

informações, totalizando doze profissionais, sendo nove líderes do ASE-B; um

Auxiliar do ASE-B e dois Auxiliares dos ASE-A, cujas características

apresentam-se a seguir:

7 BRASIL, Ministério da Saúde, Portaria nº 2.048/GM, de 05 de novembro de 2002. Regulamento Técnico

dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência.

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Quadro 6 – Perfil dos Sujeitos da Pesquisa

SEXO Masculino - 58,3%

Feminino - 41,7%

IDADE Entre 20 e 29 -17%

Entre 30 e 39 - 83%

EXERCÍCIO NA ENFERMAGEM

Até 5 anos - 33,3%

De 6 a 10 anos - 33,3%

De 11 a 15 anos - 25%

De 16 a 20 anos - 8,4%

EXERCÍCIO NO APH

Até 5 anos - 66,7%

De 6 a 10 anos - 25%

De 11 a 15 anos - 8,3%

ESCOLARIDADE

2º grau completo - 41,7%

Superior em curso- 33,3%

Superior completo - 25%

ATIVIDADE NO APH

Líder do ASE-B - 75%

Auxiliar do ASE-B - 8,3%

Auxiliar do ASE-A -16,7%

QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

Técnico de Enfermagem - 100%

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Para a coleta de dados, foram atendidos os preceitos da Resolução nº

196/96 do Conselho Nacional de Saúde (MS, 1996), que dispõe sobre Pesquisa

Envolvendo Seres Humanos. Os indivíduos convidados a participar receberam

explicações acerca dos objetivos do estudo, sendo-lhes esclarecido que a não

anuência não implicaria em qualquer medida disciplinar visto que, apesar de

todos estarem sob hierarquia militar, o estudo em questão era de interesse

particular; assim, muito embora a autora exercesse um papel hierárquico em

relação aos entrevistados, naquele momento estaria atuando como

pesquisadora, daí porque a voluntariedade na adesão seria imprescindível aos

resultados.

Do total de indivíduos convidados, dois recusaram-se a participar e foram

prontamente respeitados em suas decisões. Entre os que anuíram, a interação

transcorreu tranqüilamente, superando as expectativas e propiciando um ganho

indiscutível ao estudo, fato reconhecido até mesmo por alguns dos

entrevistados, por proporcionar-lhes a possibilidade de uma reflexão sobre suas

tarefas diárias. Ressalta-se que os dados só foram coletados após os sujeitos

terem assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) previsto

na Resolução CNS-196/96.

A coleta foi realizada no local de trabalho, nos meses de março e maio

de 2005, sendo que em alguns casos o entrevistado encontrava-se em seu dia

de plantão, e em outros, encontrava-se na unidade para solucionar alguma

questão administrativa ou participar de alguma reunião regular. Apesar de ter

sido considerada a possibilidade de ocorrer acionamento do socorro durante o

processo da entrevista, tal fato não ocorreu, e as entrevistas transcorreram sem

nenhuma interrupção.

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52

As entrevistas foram gravadas em fitas magnéticas com a concordância

dos entrevistados, e a transcrição das mesmas foi realizada pela pesquisadora

logo após cada encontro, visando assegurar a fidedignidade daquilo que havia

sido dito e a validação do teor pelos respectivos entrevistados. A etapa da

coleta de dados foi considerada concluída quando houve a saturação das falas,

o que ocorreu antes da 12ª entrevista.

A fim de preservar o sigilo quanto à identificação dos depoentes, os

mesmos foram apresentados no estudo por suas funções na Instituição,

seguida de algarismos romanos. Portanto, o TEM pertence à categoria de

técnico de enfermagem, com formação em emergência médica pré-hospitalar e

função no APH como líder de equipe. O AUX é o profissional técnico ou o

auxiliar de enfermagem, e exerce a função de auxiliar de socorro básico ou

avançado do APH.

Para analisar os dados, foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo,

preconizada por Bardin (1977), composta das seguintes fases: pré-análise,

exploração dos dados, tratamento e interpretação dos resultados. Na pré-

análise, foi realizada uma leitura superficial dos depoimentos. Após, procedeu-

se a uma leitura cautelosa e aprofundada que permitiu selecionar nos textos as

unidades de registro (UR) que se enquadraram nos critérios definidos,

identificando os conteúdos recorrentes e as contradições que espontaneamente

emergiram. Em seguida, foi realizada a exploração do material, selecionando as

unidades de análise contidas em cada caso, atribuindo-lhes codificações. Os

códigos foram definidos considerando-se a temática e o referencial teórico-

metodológico. Na etapa seguinte, foram construídas as categorias de

significados. A categorização é um procedimento de separação de elementos

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componentes de um todo, por diferenciação e por reagrupamento, mediante os

critérios estabelecidos. As categorias são classes que reúnem um conjunto de

elementos (unidades de análise) sob um título genérico. Esse agrupamento é

feito considerando-se os aspectos comuns dos elementos.

Da análise e síntese dos depoimentos foram identificadas três categorias

analíticas, sendo que a primeira foi dividida em duas subcategorias, as quais

serão apresentadas nos Capítulos 2, 3 e 4.

A construção das categorias tomou por base os conceitos do referencial

teórico em relação às quatro dimensões básicas do Modelo.

O Quadro 7, a seguir, mostra com clareza as Unidades de Significação e

as Categorias.

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54

Quadro 7 – Unidades de Significação e Categorias

Fonte: Adaptado de OLIVEIRA (2002).

Unidade de

Significação

Nº de

U R

%

U R Categorias

Nº de

UR/C

%

U R/C

Material contaminado

14

11,2

PERCEPÇÃO DA

SUSCEPTIBILIDADE E DAS

CONSEQUÊNCIAS DO

RISCO BIOLÓGICO

56

45%

Exposição de pele e mucosa

11

8,8

Peculiaridades do APH

12

9,6

Contrair alguma doença

11

8,8

Contrair Hepatite ou AIDS

8

6,4

Equipamentos de proteção

13 10,4

PERCEPÇÃO

DOS BENEFÍCIOS

NA UTILIZAÇÃO

DAS MEDIDAS

DE PROTEÇÃO

38

30%

EPI em todo tipo de evento 12 9,6

Relaciona o EPI com o evento 6 4,8

A luva o EPI priorizado 7 5,6

Comodismo na adesão do EPI 5 4

PERCEPÇÃO DAS

BARREIRAS

À ADOÇÃO DOS EPI

31

25%

Conscientização do grupo 9 7,2

Disponibilidade do EPI 8 6,4

Interação da equipe 4 3,2

Abordar o tema

5

4

Total 125 100

125 100%

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55

CAPÍTULO 2

PERCEPÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE E DAS CONSEQUÊNCIAS DO RISCO BIOLÓGICO

Para esta e as demais categorias do estudo, como já mencionado, foi

utilizada a nomenclatura referente às variáveis do Modelo de Crenças em

Saúde de Rosenstock (1974).

Esta categoria aborda a percepção dos profissionais de enfermagem

acerca das possibilidades e formas de exposição ao risco biológico e sua

gravidade ou severidade, sendo atendida quando o profissional consegue

identificar no seu ambiente de trabalho as possíveis formas de contato com o

agente biológico e associar à essas exposições a possibilidade de ser

acometido pelo contágio de diferentes agentes patogênicos. Abrangeu 56 (45%)

unidades de registro identificadas nos depoimentos, cujos temas foram

relacionados com a contaminação de material, a exposição de pele e da

mucosa a material biológico, referências às peculiaridades do APH e à

possibilidade de contrair alguma doença, hepatite ou AIDS.

De acordo com Rosenstock (1974), a suscetibilidade está relacionada

aos riscos subjetivos de se contrair uma dada condição percebida pelos

indivíduos de forma variada, podendo desprezar percepções de risco, acreditar

em determinadas possibilidades de risco ou apresentar sentimentos que

denotem a percepção do risco real de estar sujeito a determinado dano à sua

saúde.

Ainda segundo o mesmo autor (Op.cit.), o reconhecimento da

possibilidade de contágio biológico como conseqüência da exposição a material

humano pode ser avaliada tanto pelo grau de perturbação emocional diante da

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possibilidade de se tornar portador ou doente de algum mal, quanto pelas

repercussões do adoecimento. Em seu Modelo de Crenças em Saúde, o

conceito de percepção de severidade vai além do reconhecimento das

conseqüências clínicas de uma doença; engloba, também, relações familiares,

posição financeira e ocupação.

O alcance da percepção do risco real, pelos sujeitos expostos às condições de risco latente,

conseqüentemente leva ao entendimento das medidas preventivas e, possivelmente, à sua adesão. A partir

deste conceito e da análise das falas, foi possível identificar que os sujeitos desta

pesquisa tinham plena percepção do risco real de contrair determinado dano à sua saúde.

Desse modo, esta categoria será apresentada em duas subcategorias, a saber:

1) Percepção da susceptibilidade ao risco biológico, referente aos

temas: Material Contaminado, Exposição de Pele e Mucosa por Sangue

e Secreção e Peculiaridades do APH.

2) Percepção da conseqüência de exposição à material biológico,

referente aos temas contrair alguma doença e contrair hepatite ou AIDS.

SUBCATEGORIA 1 PERCEPÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE AO RISCO BIOLÓGICO, REFERENTE AOS TEMAS: MATERIAL CONTAMINADO, EXPOSIÇÃO DE PELE E MUCOSA POR SANGUE E SECREÇÃO E PECULIARIDADES DO APH

O contato dos trabalhadores com microorganismos ou material infecto-

contagioso pode causar doenças como tuberculose, hepatite, rubéola, herpes,

escabiose e AIDS (JANSEN, 1997). Portanto, há risco de exposição a material

biológico, visto que os trabalhadores estão sujeitos ao contato com agentes de

doenças infecciosas e parasitárias que podem infectá-los (BRASIL, 1999).

Para a prevenção dessas doenças infecciosas e parasitárias

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relacionadas ao trabalho, é fundamental que os envolvidos tenham percepções

corretas acerca das suas tarefas, da saúde e das normas e regulamentos

vigentes (BRASIL / OPAS, 2001). De acordo com Czeresnia (2003, p.45), as

ações preventivas definem-se como

intervenções orientadas a evitar o surgimento de doenças específicas, reduzindo sua incidência e prevalência nas populações. A base do discurso preventivo é o conhecimento epidemiológico moderno. Seu objetivo é o controle de transmissão de doenças infecciosas e a redução do risco de doenças degenerativas ou outros agravos específicos.

Estudo realizado por Carapinheiro e Lopes (1997) confirma que mais da

metade das situações de risco estão relacionadas com o perigo de contágio por

doenças infecto-contagiosas, o que se constitui em um alerta para os

profissionais da saúde que militam em situações de risco. Corroborando estas

afirmativas, os depoimentos transcritos abaixo evidenciam o reconhecimento

dos sujeitos quanto à possibilidade de contágio por agente biológico, a partir do

contato com materiais contaminados.

Material biológico é aquele que leva à contaminação. (TEMI) Seria o sangue [...] secreção [...] agente biológico seria o causador [...] da infecção. (TEMIV) Agente biológico [...] é [...] o causador [...] e o material é aquilo que [...] está contaminado [...] na coleta de sangue, na punção venosa. (TEMIX) Secreção, [...] fluidos corporais, sangue, enfim tudo relacionado ao que sai do corpo [...] sangue ou secreção contaminada. (TEMXII) Vários tipos de bactérias, de vírus, que podem estar ali [...] naquele material. (AUXVI)

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Os resultados apontam para uma variedade de possibilidades de

veículos contaminantes, geradores de riscos. Com isso, a exposição ao agente

biológico pode ocorrer tanto pela forma direta, em que mucosas e pele não

íntegras fiquem expostas a fluidos e tecidos biológicos de risco, quanto pela

forma indireta, nos casos em que a exposição ao material humano decorra de

lesões provocadas por instrumentos perfurantes e/ou cortantes contaminados

por estes materiais (BRASIL, 2005).

Os entrevistados têm claro quais são os veiculadores de contaminação a

que um indivíduo poderá estar exposto durante suas atividades profissionais,

especialmente em situações de emergência, no atendimento pré-hospitalar à

vítimas de trauma.

Nesta lógica, Rosenstock (1974) destaca que a Percepção de

Susceptibilidade ao risco é uma das dimensões básicas a ser atendida com

vistas ao comportamento preventivo em saúde. É uma percepção subjetiva do

risco de contrair doenças como a tuberculose e o câncer, dentre outras. Este

tipo de percepção está diretamente relacionado com o conhecimento adquirido

sobre o risco. Neste caso, a percepção pode estar influenciada por aspectos

otimistas ou pessimistas, o que vai determinar o comportamento do indivíduo de

sobrestimar ou subestimar a possibilidade de contrair enfermidade.

O que se entende, a partir do que foi discutido até o momento, é que na

medida em que os trabalhadores reconhecem os riscos biológicos existentes e

aos quais podem estar expostos, estariam atendendo parcialmente aos

preceitos do comportamento preventivo. Além de identificarem os agentes

biológicos presentes no material humano, os sujeitos da pesquisa ainda

reconhecem em instrumentos como as agulhas, possíveis veiculadores desta

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contaminação. Esses instrumentos seriam responsáveis pelas exposições

ocupacionais do tipo percutâneas, capazes de provocar lesões perfurantes e/ou

cortantes; além das agulhas, o bisturi e as vidrarias (BRASIL, 2005).

Você se contaminando com o material [...] com as agulhas [...] as agulhas contaminadas. (TEMI) Agulha ou uma seringa [...] contaminado com alguma coisa, com algum tipo de [...] agente. (TEMXI)

Neste contexto, pode-se encontrar no APH uma condição específica de

situação de risco de exposição ocupacional a material biológico, durante os

atendimentos às vítimas de acidentes automobilísticos que se encontram

presas às ferragens, o que força naturalmente o profissional a penetrar no

veículo, tornando-o suscetível à lesão que pode decorrer do contato com os

estilhaços de vidro e pelas ferragens retorcidas, neste caso, potenciais

instrumentos veiculadores de material biológico.

Por outro prisma, Souto (2003) considera que o corre-corre caracterizado

pelos atendimentos emergenciais, associado à sobrecarga de trabalho, também

pode ser condicionante e gerador em potencial dos acidentes de trabalho.

As falas dos entrevistados denotam que os profissionais reconhecem no

acidente ocasionado por material perfurocortante o tipo de exposição a material

biológico com maior risco, agravado pelo fato de os trabalhadores de

enfermagem manipularem freqüentemente este tipo de material, como citam

Marziale, Nishimura e Ferreira (2004).

Os estudos de Carapinheiro e Lopes (1997) identificaram que 61% dos

acidentes ocorridos nos serviços hospitalares foram decorrentes de materiais

perfurocortantes, o que confirma que estes instrumentos constituem-se nos

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maiores responsáveis pelos riscos no trabalho de enfermagem; entretanto, a

exposição biológica não fica restrita às formas diretas, tanto assim que os

profissionais reconhecem a possibilidade de exposição indireta, como pode ser

percebido na fala a seguir:

Um equipamento, um aparelho que estiver contaminado com [...] secreção, resíduos [...] pode propagar a contaminação [...] havendo assim o risco biológico. (AUXVI)

Em seu cotidiano, os trabalhadores de enfermagem lidam com materiais

de diferentes naturezas, quase sempre portadores de resíduos humanos, o que

os elegem como fontes de transmissão de doenças; todavia, é importante notar

que os profissionais do APH reconhecem esses materiais como fontes de

riscos. Sendo assim, e na medida em que o profissional de enfermagem possui

conhecimento sobre os riscos biológicos aos quais está exposto, mais fácil se

torna aderir às medidas de proteção, o que está em consonância com o

conceito de ações de proteção de Rosenstock (1974), em que a pessoa

motivada adere às decisões de prevenção em saúde quando se acredita

suscetível ao dano.

Muito embora os profissionais tenham clareza da existência de agentes

contaminantes, tem sido observado no trabalho cotidiano que, em decorrência

da natureza das atividades que desenvolvem e das circunstâncias em que

acontecem, os sujeitos da pesquisa podem estar submetidos a riscos biológicos

em conseqüência do estresse decorrente das suas condições de trabalho, o

que é corroborado por Schneider (1996) quando afirma que os profissionais de

serviços de emergência constituem grupo de alto risco, a partir da freqüência e

intensidade no contato com materiais biológicos.

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Neste contexto estão os trabalhadores de enfermagem que por estarem

junto ao paciente, praticando o ―cuidar‖ na perspectiva do ―fazer‖, expõem-se a

vários riscos, podendo adquirir doenças ocupacionais e do trabalho, além de

lesões em decorrência dos acidentes de trabalho, como esclarece Bulhões

(1998). Nessa linha de raciocínio, a percepção dos sujeitos da pesquisa sobre

os riscos de exposição vai além daqueles representados pelo material

perfurocortante e outros equipamentos contaminados.

Nesta lógica, os depoentes também identificaram como fonte de risco as

exposições da pele e da mucosa aos materiais biológicos, fato confirmado por

Souto (2003) em seu estudo, ao concluir que o contato com secreções e

excreções constitui-se no principal meio de contaminação do pessoal de

enfermagem.

As situações diretas [...] que atinjam normalmente alguma lesão que a gente possa ter [...] ou a parte de mucosa [...] de olhos [...] boca, é exposição direta no caso. (TEMIV) Ter o contato direto [...] com sangue [...] não só o sangue [...] mas até mesmo com gotículas [...] provenientes de alguma situação. (TEMV)

A pessoa se expor à secreção. (AUXIII)

Dentre as atividades cotidianas que os profissionais do APH realizam,

destaca-se o atendimento às vítimas de trauma, seja em decorrência do

acidente de trânsito ou da violência interpessoal, e nestas situações entram em

contato direto com o sangue e as demais secreções das vítimas, o que

caracteriza uma peculiaridade deste tipo de atendimento, embora se constitua

numa situação de vulnerabilidade à saúde desses trabalhadores.

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Que tenham mais exposição ao sangue [...] eventos de baleado, acidente de trânsito. (TEMIV)

No pré-hospitalar [...] O primeiro contato com vítima presa em ferragem [...] O risco é maior porque você entra, o material ali já está contaminado. Tem sangue da vítima nas ferragens e você passa pela ferragem, você encosta na ferragem. (TEMXII) Clientela de rua, você não sabe a que patologia esse paciente está exposto [...] você não sabe que [...] vírus ou que patologia pode tá naquele cidadão. (AUXIII) Tem socorro que há necessidade, por exemplo [...] de entrar debaixo de um carro, ou uma coisa parecida e você fica exposto [...] no caso de trauma os movimentos, aquela agitação toda [...] secreção e tudo mais. (AUXVII)

Com base nos estudos de Mauro (1991), Mendes (1993) e Bulhões

(1998), pode-se afirmar que dentre os riscos ocupacionais aos quais os

profissionais da saúde estão submetidos, o biológico é apontado como o

principal responsável por doenças infecto-contagiosas em geral. Nesta

lógica, se este agente de risco assume esta dimensão no aspecto geral de

contaminação, no aspecto particular do atendimento pré-hospitalar ele se

constitui em uma situação preocupante, na medida em que faz parte do

cotidiano de trabalho dos profissionais do APH. E nesta perspectiva, ao

relacionarem a possibilidade da exposição direta aos resíduos biológicos

nas situações vivenciadas especificamente no APH, os entrevistados

também enfatizaram a inadequação da roupa que utilizam no trabalho.

Protegesse mais, porque a gente fica com os braços, a parte do braço exposta. (TEMXII)

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A respeito da roupa [...] da questão da roupa [...] então no nível assim de roupa, seria uma coisa que poderia ser analisada. (AUXVII)

A qualidade da indumentária é também um fator de proteção e,

conseqüentemente, de prevenção contra os riscos biológicos. Neste sentido, os

depoentes identificaram que as roupas que utilizam não lhes dão segurança

nem proteção para enfrentar um trabalho com as características do APH.

Assim, em suas manifestações consideraram-nas inadequadas para suas

atividades profissionais visto que, na maioria das vezes o atendimento produz

situações de riscos pela contaminação de fluídos.

A vestimenta do profissional de APH deve ser capaz de impedir ou

minimizar a exposição do seu corpo ao material biológico; para tanto, precisa

ser confeccionada com material resistente e impermeável, capaz de cobrir todo

o tronco e os membros.

O Atendimento Pré-Hospitalar caracteriza-se como uma atividade que

gera estresse por conta da imprevisibilidade do atendimento a ser realizado

pela equipe. Neste sentido, a situação de expectativa pode gerar ansiedade e

ser um dos determinantes da contaminação pela equipe de socorro.

A qualquer momento nós estamos expostos a qualquer tipo de exposição [...] tanto na rua, quanto dentro do ASE. (TEMVIII)

No meu dia-a-dia trabalhando, porque eu trabalho num ambiente pré-hospitalar, não trabalho num ambiente hospitalar, dependendo do que eu vou fazer, do que eu vou pegar na rua, do evento que for. (TEMXI)

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Estudo desenvolvido por Souto (2003, p. 54), sobre o trabalho da equipe

de enfermagem em um CTI oncológico, identificou na situação de estresse um

dos fatores desencadeante de riscos. De acordo com a referida autora, os

riscos psíquicos são os menos estudados e raramente considerados como

capazes de causar doenças ocupacionais, o que não minimiza seus efeitos

perniciosos. Concluiu destacando que ―as situações permanentes de exposição,

de desequilíbrio fisiológico, de fadiga constante, de estresse e de outras

condições decorrentes do trabalho [...] podem ser indicativos para o acidente de

trabalho‖.

SUBCATEGORIA 2 PERCEPÇÃO DA CONSEQÜÊNCIA DE EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO

A percepção da conseqüência à exposição de risco ou, como afirma

Rosenstock (1974), a Percepção de Severidade, expressa-se de duas

maneiras: em relação à própria enfermidade e aos efeitos físicos, sociais,

econômicos e mentais que podem acometer a pessoa. Portanto, a severidade

ou a percepção das conseqüências de exposição aos riscos relaciona-se com a

percepção que cada indivíduo tem a respeito do quanto poderá existir de dano

a ser produzido à sua saúde, pelo contato com materiais contaminantes.

Para Brevidelli (2003), ao se expor a material biológico, o profissional de

saúde arrisca-se a adquirir infecções transmitidas por via sangüínea, sendo

esta uma das questões mais proeminentes na área da Saúde e Segurança

Ocupacional.

Para Dejours (1992), o risco que a nocividade das condições de trabalho

impõe ao corpo gera ansiedade como seqüela psíquica, fato que pode ser

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constatado se for considerada a subjetividade do risco biológico visto que, após

a exposição, reconhecido como um acidente de trabalho, dificilmente o

indivíduo apresentará os transtornos ou as incapacidades físicas imediatas que

normalmente caracterizam outros tipos de acidentes, exceto a ansiedade que

irá acometê-lo em decorrência da expectativa de adoecer:

Uma contaminação é a médio ou a longo prazo, porque de imediato eu, a princípio, não vou sentir nada. (TEMVIII)

Ainda neste contexto, Brandão (2000) afirma que o impacto emocional

também é um aspecto preocupante, pois o acidente pode ter repercussões

psicossociais e levar a mudanças comportamentais nas relações sociais,

familiares e de trabalho.

Sempre atento [...] se prevenindo contra esses acontecimentos, porque isso à minha saúde vai trazer grandes transtornos em termos físicos, a parte de contaminação. (TEMV)

No caso de contaminação [...] o fator psicológico, você já fica já desestruturada acerca da doença que pode vir, que pode aparecer. (TEMIX)

No que diz respeito à possibilidade de contaminação, os depoentes

reafirmaram suas preocupações quanto aos aspectos físico e mental que o

problema causaria. Nesta direção, Lancman e Sznelwar (2004, p.36) afirmam:

O trabalho real é tanto subjetivo como intersubjetivo e repousa sobre as energias do domínio afetivo. Não observar a dimensão subjetiva do trabalho leva os agentes a sofrerem e a resistirem em seu sofrimento com estratégias de defesa, hoje identificadas como psicodinâmica do trabalho, com possíveis efeitos desastrosos sobre a produtividade – desavenças, desmobilização, individualismo – e conseqüências nefastas para a saúde mental e somática dos agentes.

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Em suas análises, os autores (Op.cit.) chamam a atenção para as

conseqüências que uma condição qualquer do trabalho pode trazer para o

equilíbrio do trabalhador. No caso desta pesquisa, o fato de o profissional estar

na iminência de um ataque à sua saúde poderá causar-lhe desequilíbrio físico e

mental, que devem ser identificados e considerados no ambiente de trabalho.

Ainda em relação à possibilidade de contrair doenças, os depoentes

deste estudo reconheceram que isto pode acontecer, em especial no que se

refere às Hepatites e ao vírus HIV, pela natureza e características do trabalho

que realizam que leva ao contato com agentes de doenças infecciosas e

parasitárias, podendo fazê-los adoecer ou portar assintomaticamente alguma

patologia.

Eu posso [...] contrair algum tipo de doença [...] qualquer tipo de doença. (TEMI) Doenças que [...] possa dar uma infecção. (TEMIV)

Depende do que você foi exposto, você pode desencadear uma patologia. (AUXIII) Contaminações, por vários tipos de doenças. (AUXVII)

A percepção dos respondentes acerca da possibilidade de contrair

qualquer tipo de doença desvela o conhecimento sobre a severidade que o seu

objeto de trabalho poderá acarretar à sua saúde. No entanto, como analisado

adiante, isto não serve de parâmetro para a adoção de um comportamento

preventivo.

Muito embora grande parte da população deste estudo tenha sido

submetida a um esquema vacinal para a prevenção da transmissão sanguínea

da Hepatite B, juntamente com o HIV / AIDS, esta foi a doença infecciosa mais

citada pela possibilidade do contágio ocupacional, sendo mesmo ignorado por

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estes indivíduos o fato de tratar-se de uma doença imunologicamente

prevenível.

Situação semelhante a esta ocorreu em estudo realizado por

Carapinheiro e Lopes (1997), em que a possibilidade de contrair HIV / AIDS e

Hepatite B era a que mais afligia os profissionais de enfermagem, revelando

serem estas as doenças que ainda suscitam grande preocupação entre esses

trabalhadores, conforme os depoimentos abaixo:

A contaminação do HIV [...] da hepatite. (TEMII) Várias doenças [...] hepatite, AIDS. (TEMIV)

Posso contrair várias doenças [...] hepatite B, hepatite C, HIV e outras doenças ainda. (TEMX) Dependendo do quê que a gente ficar exposto [...] pode pegar desde uma hepatite até um HIV positivo, vamos supor. (TEMXI) Contaminação [...] por hepatite, AIDS [...] toda doença [...] transmitida [...] por sangue. (TEMXII) Dependendo [...] posso adquirir desde infecção por HIV, Hepatite B, C, A [...] Sífilis, e por aí vai. (AUXVI)

O depoente a seguir reconhece que se expor a material biológico poderá

trazer transtornos à sua saúde e à da sua família:

Eu me contaminar [...] podendo levar essa contaminação [...] pra minha esposa [...] filhos.

(TEMV)

A preocupação deste depoente é salutar e reflete o seu grau de

percepção em relação aos possíveis riscos laborais, contribuindo para que

adote um comportamento preventivo em relação aos riscos ocupacionais. Vale

enfatizar que o crescimento da incidência de doenças como tuberculose,

hepatite B e infecção por HIV em trabalhadores da saúde, tem aumentado os

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investimentos em ações preventivas nesta área de atuação (BRASIL / OPAS,

2001).

O motivo pelo qual um dos grupos de depoentes referiu especificamente

a possibilidade de adoecer por Hepatite ou AIDS pode ser justificado pelo fato

de estarem ocorrendo maiores investimentos sanitários no controle da

transmissão dessas doenças: no caso da Hepatite B, a promoção de

campanhas de imunização dos trabalhadores da saúde, e no da AIDS, o

estabelecimento do protocolo de quimioprofilaxia como rotina para os

trabalhadores expostos.

Outro motivo que justifica o profissional reconhecer a possibilidade de se

tornar portador do HIV é que a preocupação com riscos biológicos para

profissionais que atuam na área da saúde surgiu somente a partir da epidemia

da AIDS nos anos 80, quando as normas para as questões de segurança no

ambiente de trabalho foram melhor estabelecidas (RISCOBIOLÓGICO - ON

LINE, 2002), o que faz com que os indivíduos associem o risco biológico ao

risco de contrair a doença, como é identificado nas falas a seguir:

Eu posso contrair AIDS [...] a doença que a gente fica mais preocupada. (TEMI) Muita gente se preocupa só em contato com sangue em pegar HIV. (TEMV) Caso de contaminação, HIV. (TEMIX)

Diante do exposto, é possível afirmar que, ao reconhecerem os riscos a

que estão expostos no dia-a-dia, os trabalhadores da APH investigados podem,

na perspectiva das percepções de susceptibilidade ao risco e da gravidade ou

severidade de Rosenstock (1974), adotar comportamentos preventivos em

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saúde. Para tanto, precisam encontrar um fórum de discussão e de

instrumentalização que lhes possibilite, ao mesmo tempo, apropriarem-se de

novos conhecimentos e conscientizarem-se da necessidade de mudança

comportamental diante das situações de trabalho enfrentadas.

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CAPÍTULO 3

PERCEPÇÃO DOS BENEFÍCIOS NA UTILIZAÇÃO DE MEDIDAS DE PROTEÇÃO

Esta categoria está diretamente vinculada à temática anterior, que trata

do reconhecimento da suscetibilidade e da severidade do risco biológico, isto é,

do fato de que o profissional de enfermagem somente alcançará benefícios na

utilização das medidas de proteção, se anteriormente houver desenvolvido a

percepção da sua exposição ao risco biológico, e de que esta condição poderá

trazer-lhe algum dano à saúde. Neste caso específico, apresentar a percepção

de benefícios é acreditar que a exposição a material biológico pode ser

prevenida por medidas de biossegurança.

Por medidas de biossegurança, de acordo com Mastroeni (2004),

entende-se a aplicação do conjunto de conhecimentos, técnicas e

equipamentos, com a finalidade de prevenir a exposição do trabalhador,

laboratório e ambiente a agentes potencialmente infecciosos ou biorriscos.

A categoria representou 38 (30%) unidades de registro identificadas nos

depoimentos, e os temas foram relacionados de acordo com o reconhecimento

dos equipamentos de proteção e da necessidade de utilização do EPI em todo

tipo de evento; no estabelecimento do EPI necessário conforme o tipo de

evento, e no destaque da luva como EPI priorizado.

Em estudo sobre a adesão de trabalhadores de enfermagem a

tratamento com anti-retrovirais pós-exposição a material biológico e os

benefícios percebidos, Sailer (2004, p.48) concluiu que a percepção dos

indivíduos expostos referia-se “à crença na efetividade da ação e na sua

percepção, com resultados positivos”; em outras palavras, “uma alternativa vista

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como benéfica”, relacionada à redução da suscetibilidade ou severidade de

uma determinada doença.

Para Rosenstock (1974), o grau de ameaça percebido pelo indivíduo,

traduzido na percepção do risco biológico real, é o que determina o

reconhecimento dos benefícios relacionados às medidas preventivas. Portanto,

a discussão que se faz a este respeito pauta-se nas medidas de prevenção que

os profissionais identificaram como indispensáveis à sua proteção quanto a este

risco. Nessa linha de raciocínio, foi possível constatar que todos têm clareza a

respeito dos equipamentos de proteção e de sua importância, tanto assim que

reconheceram sua utilidade na prevenção da exposição ao material biológico:

Estar com a proteção devida! [...] usando os EPI necessários [...] Luva, máscara, óculos. (TEMI) Proteção de luvas, óculos, aventais no caso [...] máscara de proteção. (TEMIV) Eu uso tudo que possível, luva [...] óculos [...] máscara. (TEMIX) A utilização [...] a prevenção mesmo [...] equipamento de proteção individual, luva, óculos, máscara. (TEMXII) Material de prevenção individual [...] na medida do possível com material individual, luva, gorro, máscara, óculos, avental. (AUXIII)

Além do reconhecimento da importância da adesão aos EPI na

prevenção à exposição ao material biológico, foi possível observar que os

depoentes associaram os equipamentos às suas finalidades, como

demonstrado nas falas a seguir:

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Por causa do sangue [...], você usa luva [...] quando você vai fazer um acesso venoso, quando você vai aspirar você usa óculos, você usa máscara. (TEMX) Luvas, óculos de proteção, máscara. Máscara também é importante no caso pegar um paciente [...] com histórico de tuberculose [...] seria importante. (AUXVI)

No evento [...] envolvendo projétil de arma de fogo [...] traumatismos graves também [...] no caso utilizo óculos de proteção, a luva, e em alguns casos eu coloco a máscara [...] pela grande quantidade [...] de sangramento. (AUXVII)

Também foi identificada a necessidade de proteção específica nos casos

em que o profissional apresenta perda de integridade da pele:

Onde tiver lesão no nosso corpo é bom fazer um curativo [...] não deixar exposto. (TEMIV)

A pele humana, dentre suas diferentes funções, é um órgão natural de

barreira aos microorganismos; porém, se não estiver íntegra, pode causar risco

biológico para o profissional, como ocorre quando há presença de dermatites ou

feridas abertas, casos em que deverá ser estabelecida uma barreira artificial, ou

mesmo a readaptação funcional do trabalhador, até a sua total recuperação

(BRASIL, 2005). O que se percebe no depoimento anterior é que, por ser um

discurso idealizado, não refletindo uma ação ou atitude concreta do sujeito,

deixa entrever um certo distanciamento entre o que deve ser feito, o que é bom

que seja feito e o que realmente é feito. Ainda assim, o fato de os depoentes

reconhecerem os agentes causadores de riscos de natureza biológica, já

pressupõe um passo adiante para a adoção de medidas de proteção que

venham a se traduzir em benefícios à saúde de cada um.

De acordo com Rosenstock (1974), o comportamento assumido pelo

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indivíduo frente a uma condição adversa está diretamente relacionado ao grau

da ameaça percebida por este, sendo que esta condição ameaçadora leva-o à

percepção dos benefícios das alternativas conhecidas para reduzir a ameaça à

qual está submetido.

Nos depoimentos, no entanto, percebeu-se certo distanciamento entre os

conceitos emitidos pela maioria dos depoentes e suas práticas cotidianas,

constatado a partir de falas que sugeriram haver negligência no uso da máscara

e dos óculos de proteção.

Muito embora os sujeitos da pesquisa reconheçam a ameaça imposta

pelo trabalho e a importância e finalidade da adesão aos EPI na prevenção da

exposição ao material biológico, estes não estão suficientemente conscientes

dos benefícios que o uso desses materiais pode trazer para a sua saúde e a de

seus familiares, pois, não se valem dos recursos como medidas de proteção, o

que denotaria uma mudança de comportamento, ou seja, de crença nas

orientações determinadas. Ao expressarem suas opiniões, os depoentes

descreveram a utilização do material de proteção como se a adesão aos EPI

fosse uma realidade em seu dia-a-dia de trabalho:

O equipamento [...] normal, que é os nossos óculos, a luva [...] avental [...] a máscara também. (TEMXI)

Luvas de procedimentos, óculos de proteção [...] o material assim básico, que eu costumo usar [...] em alguns casos, até máscara. (AUXVII)

Apesar das afirmativas anteriores, o que se tem percebido no cotidiano

destes trabalhadores de enfermagem é que, exceto pela utilização das luvas, os

demais equipamentos de proteção são negligenciados pela maioria. Assim, o

que se constata é que todos são conhecedores das medidas reais a serem

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adotadas nestas circunstâncias, muito embora não as tenham internalizado, a

ponto de realizarem procedimentos assistenciais sem uma total segurança e

proteção.

Seguindo o referencial de Rosenstock (1974), a análise das falas revela

que os profissionais em questão reconhecem os benefícios na utilização das

medidas de proteção e que, em diferentes momentos, identificam os

equipamentos de proteção. Entretanto, chamou atenção nesta categoria o fato

de a mesma apresentar temas conflitantes entre si, posto que as falas em um

dado momento demonstram reconhecer a necessidade do uso dos EPI em todo

tipo de evento, e em outro, expressam o condicionamento do uso dos EPI a um

certo tipo de evento. Outro dado bastante relevante foi constatar que os

profissionais reconhecem a luva como o equipamento de proteção prioritário,

que deve ser utilizada em todas as situações de socorro.

A seguir, os depoimentos que representam a situação dicotômica

identificada nesta categoria. Inicialmente apresentaremos as falas que

reconhecem a necessidade do uso dos EPI para todo tipo de evento:

Eu acho que em todas as situações você deve usar os equipamentos [...] apropriados. (TEMI) Em todos os momentos [...] até o capote, o avental [...] em todos os momentos deveriam ser usados. (TEMII) No mal súbito, também tem que ser usado é óbvio que pode ter uma secreção tipo vômito em jato e que possa também causar algum problema. (TEMIV) Em todas as situações são importantes [...] a gente nunca sabe o que é que vai acontecer. Os imprevistos tão aí prontos pra acontecer a qualquer momento e os mais diversos possíveis. (TEMV)

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Em todas as situações a princípio, independente de material biológico ou não, porque isso se chama auto-proteção, equipamento de proteção individual. (TEMVIII)

Independe do tipo de doente, o mal súbito ou a vítima de trauma eu estou sempre me protegendo [...] em todas as situações [...] porque você nunca sabe o que o paciente tem, o que a vítima tem. (TEMIX) Eu acho que todo evento, toda situação a gente tem que usar o material adequado [...] desde o mal súbito até [...] um projétil de arma de fogo [...] todas as situações é preciso você descer (da ambulância) [...] bem preparado. (TEMXI) Em toda situação. Por exemplo [...] num acidente [...] numa colisão [...] sangue pra tudo quanto é lado [...] secreção [...] e nos atingir. (AUXVI)

Ao se referirem ao uso dos equipamentos de proteção, os depoentes

parecem também estar falando de uma situação idealizada, ou seja, daquilo

que deveria ser, e não das medidas que adotam no cotidiano do trabalho. Em

suas afirmações, expressam com segurança o conhecimento que um

trabalhador de APH deve ter para agir nas diversas circunstâncias, seja em

acidentes aonde o material biológico se extravaza para o exterior, seja nas

patologias em que poderá haver riscos de contaminação ou não. Entretanto,

são contraditórios quando circunstancializam o uso do material de proteção,

denotando que o grau de ameaça que percebem nas situações reais de

trabalho, são insuficientes para desenvolver comportamentos relativos aos

benefícios advindos do uso das medidas de proteção (ROSENSTOCK, 1974).

Assim, alguns dos depoimentos a seguir corroboram o condicionamento

do uso dos equipamentos de segurança ao tipo de evento:

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Luva, óculos [...] quer dizer [...] os óculos a gente só usa mesmo se a gente vê que a situação é necessária. (TEMI) Não uso constantemente mais a máscara, mas deveria usar mais vezes. (TEMII) E dentro do quadro que a gente encontra [...] a gente vai se precavendo [...] colocar óculos [...] colocar máscara. (TEMV) Eu me protejo também com máscara [...] quando estou de serviço, trabalhando. (TEMVIII) Óculos e a máscara quando [...] vítimas mais graves [...] quando vou trabalhar diretamente na face da vítima. (TEMXII) Eu saio e avalio a cena [...] se precisa utilizar os óculos, a máscara. Nem tanto a máscara [...] a máscara fica no bolso. (AUXVII)

A maioria dos trabalhadores de APH investigados condicionou o uso dos

equipamentos de proteção individual a uma avaliação prévia da situação de

emergência que se apresenta, o que contraria toda a orientação e o

conhecimento sobre o assunto. Um deles chegou a reconhecer que negligencia

o uso de material de proteção básico, como a máscara, embora devesse fazê-

lo, numa demonstração de que conhecia a necessidade de se proteger, e no

entanto, não o fazia. Tal atitude mostra que a percepção dos benefícios na

utilização das medidas de proteção destes trabalhadores não corresponde ao

grau de riscos identificados no trabalho cotidiano e ao conhecimento que os

mesmos professam em relação à sua profissão.

O depoimento a seguir é revelador de uma atitude consciente da

importância que os EPI têm na proteção dos trabalhadores, e este deveria ser o

comportamento adotado por todos os profissionais em qualquer situação

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de trabalho:

Eu uso todos [...] os óculos, a máscara, a luva, se tiver, se for trauma até o avental eu uso. (TEMIX)

De acordo com o Modelo de Crenças em Saúde, já mencionado, a

percepção de benefícios e a sua prática são os elementos constitutivos para a

ação preventiva, materializando-se a partir da compreensão e dos padrões de

comportamento preventivo adotados pelos sujeitos.

O depoimento a seguir, implicitamente revela a existência da lacuna

entre o comportamento desejado e o assumido, em que a palavra ‗ideal‘

utilizada pelo entrevistado atribui conotação utópica à sua afirmativa, o que

pode levar à compreensão da contradição presente nas falas dos sujeitos da

pesquisa nesta categoria:

O ideal é usar em todas as situações, por mais simples que seja [...] o ideal é você descer da viatura com tudo [...] a utilização sempre do equipamento de proteção. (TEMXII)

Em estudo sobre o modelo explicativo da adesão às precauções-padrão,

Brevidelli (2003) comenta que a revisão da literatura aponta para a análise dos

fatores que interferem na tomada de decisão dos profissionais de saúde,

baseada em três dimensões: indivíduo, trabalho e organização. Comenta a

autora que, apesar dos investimentos e incentivos para mudança de atitudes,

os resultados não têm sido animadores e, apesar de mais de uma década de

esforços dirigidos para incentivar as medidas preventivas, estudos em

diferentes países têm demonstrado níveis insatisfatórios de adesão às

recomendações das referidas precauções.

No mesmo estudo, a autora constatou um alto índice de adesão à luva

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em relação aos demais equipamentos de proteção, fato que também foi

observado no presente estudo em que o uso do citado EPI foi

reconhecidamente priorizado pelos profissionais, recebendo a adesão

indiscutível de todos em quaisquer modalidades de eventos assistenciais:

A luva, eu acho que é o equipamento mais necessário. (TEMI) Não punciono nenhuma veia sem luva. E no mínimo, no mínimo de tudo você tem que tá [...] pelo menos com o par de luvas na mão [...] é o mínimo possível, um par de luvas na mão. (TEMII) Luva de procedimento, porque eu não sei se existe [...] um HIV positivo. (TEMVIII) Eu calço duas ou às vezes até três pares de luvas. (TEMXI) A luva sempre. (TEMXII)

Primeiramente luvas [...] não tem como, não consigo me imaginar trabalhando sem luvas. (AUXVI)

Os depoimentos foram incisivos em relação ao uso das luvas, por

considerarem os trabalhadores que elas são indispensáveis para o trabalho

cotidiano destes profissionais durante o APH. Visto por outro ângulo, a luva tem

sido o EPI mais utilizado no cuidado de enfermagem em geral, o que confirma

que a enfermagem absorveu a idéia do seu uso como um benefício para evitar

riscos e preservar a saúde do trabalhador, segundo o conceito de percepção de

benefícios de Rosenstock (1974).

Desse modo, foi possível concluir que a maioria dos trabalhadores do

APH apresenta alguma distorção de comportamento quando não associa à

prática do cuidado diário, os preceitos teóricos dos benefícios que o uso dos

EPI podem oferecer, confirmando a existência de uma distância considerável

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entre o conhecimento que têm acerca dos riscos a que estão submetidos e as

ações que devem realizar no dia-a-dia.

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CAPÍTULO 4

PERCEPÇÃO DAS BARREIRAS À ADOÇÃO DOS EPI

Esta categoria aborda o nível de percepção dos profissionais de

enfermagem acerca dos aspectos negativos relacionados com as ações

preventivas, ou seja, os fatores que interferem ou impedem a adesão ao uso

rotineiro dos equipamentos de proteção. São aspectos avaliados sob a ótica

custo-benefício, ou seja, o indivíduo faz um ―balanço‖ entre os benefícios

decorrentes da adoção de uma ação preventiva e os fatores que identifica como

inconvenientes à prática desta ação.

Todos os aspectos considerados negativos à adoção das práticas

preventivas geram conflito nos indivíduos e são caracterizados como barreira

ao comportamento preventivo em saúde. Assim, quanto mais acurada for a

percepção dos benefícios das medidas preventivas, melhor serão identificados

os fatores restritivos percebidos como barreiras os quais, uma vez identificados,

poderão ser eliminados ou reduzidos.

Esta categoria abrangeu 31 (25%) unidades de registro identificadas nos

depoimentos, sendo os temas relacionados ao comodismo na adesão aos EPI,

o EPI disponível, a necessidade de conscientização das equipes, o

entrosamento das equipes e a dificuldade de abordar o tema.

Segundo Rosenstock (1974), há maior possibilidade de incorporação

cotidiana dos EPI se os benefícios percebidos na sua utilização superarem as

barreiras percebidas na adoção dos mesmos. Esta categoria será considerada

atendida se o profissional conseguir identificar as barreiras que interferem na

utilização dos EPI, ou que a impedem.

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De acordo com o mesmo autor, a percepção de barreira se dá

principalmente no aspecto psicológico, quando situações como custos,

conveniência, sensação de dor, incômodos provocados por exames ou por

ações preventivas, não são superadas pelos indivíduos, exacerbando e

priorizando as barreiras em detrimento dos benefícios de proteção e prevenção.

Nas falas dos depoentes foi possível verificar que estes identificaram as

barreiras à prevenção da exposição ao material biológico, tendo no comodismo

um dos impeditivos à adesão plena dos EPI:

Às vezes passa despercebido por usar um óculos, um avental [...] por comodismo não se usa. (TEMII) Alguns até sabem que existe [...] o risco, mas acham que isso nunca pode acontecer, acham que isso nunca vai acontecer comigo [...] acontece com os outros, mas nunca vai acontecer comigo, tá errado, nós estamos assim expostos, conseqüentemente a gente pode se expor. (TEMVIII)

Geralmente as pessoas acham que nunca vai acontecer com ela. (TEMIX) Eu acho que todo evento, toda situação, a gente tem que usar o material adequado, embora às vezes o comodismo nosso, no dia-a-dia. (TEMXI)

Silva (2000) afirma que comportamentos de negação, resistência e

adaptação apresentados por trabalhadores de enfermagem de terapia intensiva,

podem ser uma forma de sobrevivência diante da convivência com o risco

ocupacional.

Também Dejours (1992) explicita que as reações apresentadas podem

ser decorrentes dos conteúdos das tarefas e das pressões de responsabilidade

da organização do trabalho que, às vezes, estabelecem um conflito psíquico.

Nesta linha de raciocínio, deve-se levar em conta que o atendimento

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pré-hospitalar caracteriza-se como uma atividade geradora de estresse, uma

vez que a imprevisibilidade e a condição de emergência que permeiam os

atendimentos causam expectativas que levam seus profissionais à ansiedade.

Desta forma, conviver com o risco ocupacional biológico na adversidade

deste ambiente laboral, pode reproduzir comportamentos de negação,

resistência e adaptação em resposta aos conteúdos das tarefas e das pressões

de responsabilidade da organização do trabalho.

Por outro lado, o comodismo de alguns profissionais de saúde frente a

determinadas ações realizadas no cotidiano, pode contribuir para a introjeção

de hábitos desencadeadores de riscos à saúde. Portanto, entende-se que uma

ação de alerta freqüente a estes profissionais, reintroduzindo-os no

comportamento preventivo de saúde, é da maior valia na prevenção de danos à

sua saúde e à dos seus familiares.

A disponibilidade de equipamentos de proteção foi mais um tema

presente nas falas dos depoentes, identificada como possível causa de barreira

à prevenção da exposição ao material biológico, por impedir a adesão plena

dos EPI, muito embora a qualidade e a disponibilidade desses itens tenham

sido questionadas.

É bom que nós tenhamos o material pra gente poder também usar. (TEMIV) O que eu tiver prá usar [...] se tiver disponível eu utilizo [...] o que tiver prá utilizar. (TEMX) Maior oferta de material de proteção individual [...] tá muito precário. (AUXIII)

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Estes depoimentos chamam a atenção para a responsabilidade das

instituições de saúde no sentido de disponibilizarem materiais suficientes e com

qualidade para utilização durante o atendimento pré-hospitalar, considerando

que pela sua natureza, este tipo de trabalho favorecer a ocorrência de riscos e

adoecimentos.

Na opinião de Sailer (2004), além dos problemas relacionados à

utilização de EPI, também devem ser consideradas as condições de segurança

dos materiais disponíveis, como referido pelos entrevistados, que corroboram o

conceito de barreira e impedem o trabalhador de se proteger adequadamente

contra os riscos ocupacionais:

Depende do material que a gente está usando, se ele rasga à toa [...] e quando dá, a gente também põe uma máscara, entendeu? (TEMXI) Uma roupa que a manga fosse até o punho. As luvas [...] que fossem de um material um pouco mais resistente [...] porque elas rasgam com facilidade. (TEMXII) Este tipo de luva (quis dizer máscara) que nós temos aqui, acho que no caso não seria o ideal. (AUXVI) Em São Paulo eles usam aquele macacão impermeável, um material que você possa sujar por acaso [...] o pano não vai ficar molhado, e esse material, ele protege os braços, o antebraço, o membro superior. (AUXVII)

Entretanto, o próprio profissional reconhece que a não adesão ou a

adesão parcial não se limita unicamente à indisponibilidade dos equipamentos

de proteção, mas tem a ver também com a disposição interna dos sujeitos que

poderá estabelecer um balanço positivo aos benefícios percebidos e assim,

superar as percepções de barreira.

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Não adianta ter o material e as pessoas não utilizarem esses materiais. (TEMIV)

Percebe-se, entretanto, que a adoção ao uso efetivo e permanente dos

materiais de proteção está associada ao valor atribuído pelos sujeitos ao seu

uso. A fala anterior ressalta um fato que se observa com freqüência entre os

profissionais de saúde: a negligência em proteger a sua própria saúde.

Neste aspecto, cabe chamar a atenção para o treinamento permanente

dos profissionais no sentido de mantê-los sempre alertas para as possibilidades

de exposição aos riscos ocupacionais, em conseqüência da natureza das

atividades que desenvolvem no dia-a-dia, em especial por ser relevante o grau

de desprofissionalização que apresentam nesta área, principalmente devido à

deficiência de formação específica, o que torna fundamental o resgate do

processo de capacitação e educação em serviço.

O comportamento preventivo em saúde dos trabalhadores em questão

será determinante para a adoção de posturas compatíveis com os riscos a que

estão expostos. Cabe à instituição empregadora estabelecer ações educativas,

além de disponibilizar os equipamentos necessários à proteção individual e

coletiva. Uma vez que todos estejam conscientes, crescerá sobremaneira a

possibilidade de o trabalhador reconhecer na adoção das medidas preventivas,

a maneira mais eficaz e adequada de evitar danos à saúde no trabalho.

No estudo de Braga (2000) enfocando acidente de trabalho com material

biológico, no qual os trabalhadores da equipe de enfermagem foram

questionados sobre precauções básicas e treinamento, estes enfatizaram que o

próprio local de trabalho deveria ser o local privilegiado para a discussão do

cotidiano de trabalho e da prevenção do acidente com material biológico, o que

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não representa a realidade atual.

A falta de conscientização dos profissionais de enfermagem também foi

apontada nos depoimentos como fator capaz de estabelecer uma barreira à

adesão ao uso dos EPI:

Conscientização [...] as pessoas não têm ciência. (TEMV)

Conscientização [...]. Maior investimento na conscientização. (AUXIII)

A conscientização é algo que se dá no interior das pessoas e se

manifesta no comportamento social de cada um. A não conscientização pode

decorrer da concepção idealizada da profissão, como sugerem Robazzi e

Marziale (1999), isto é, quando o trabalhador submete-se aos riscos

ocupacionais, acidenta-se, adoece e, invariavelmente, não relaciona às

condições laborais os agravos que acometem a sua saúde.

A conscientização [...] tirar da cabeça que aquela coisa nunca vai acontecer. (TEMVIII)

A partir do momento em que os profissionais reconhecerem nos

equipamentos de proteção a forma segura de se prevenirem, ou seja, quando

se conscientizarem de que o uso dos EPI não se constitui apenas em uma

indumentária, mas em um mecanismo de proteção, provavelmente o quadro de

acidentes e de adoecimentos tenderá a se reduzir. Nesse sentido, o

treinamento dos indivíduos foi apontado nos depoimentos como possível

solução para a ausência de conscientização:

Reforço maior sobre os perigos [...] palestra sobre os perigos. (TEMII) Orientações [...] focar bem na nossa proteção individual. (TEMIV)

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Tem que estar com tudo isso na cabeça [...] pensar em preservar a nossa saúde a nossa integridade [...] sempre ligado [...] ter isso já amarrado na mente [...] sempre atento [...] se prevenindo. (TEMV) Esclarecimento [...] palestras de esclarecimento. (TEMVIII) Muita informação [...] palestra [...] conscientização. (TEMIX) Uma equipe [...] bem treinada. (AUXVI)

Sabe-se que o processo educativo permanente é hoje considerado como

a mais poderosa arma para as instituições alavancarem suas atividades

produtivas. Na área da saúde, e em particular na enfermagem, este processo

ainda não alcançou o patamar desejado, em que pesem a reciclagem e o

aperfeiçoamento do pessoal trabalhador, isto porque tanto as instituições como

os próprios profissionais ainda não se deram conta de que este é o grande

desafio que está colocado pelo modelo econômico atual.

É sempre válido ressaltar que o mundo globalizado exige dos profissionais

cada vez mais criatividade e versatilidade no desempenho de suas funções, e a

enfermagem precisa estar engendrada neste contexto, tendo o pensamento

voltado para a modernidade. Estar engajada é estar consciente das próprias

responsabilidades a fim de adotar atitudes conscientes e consentâneas com

aquilo que realiza.

A falta de entrosamento da equipe foi outro item apontado pelos

depoentes, que citaram a boa interação do grupo como um fator modificador

das barreiras à adoção do comportamento preventivo:

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Trabalhando em conjunto [...] acontece muito em hospital e tudo [...] agulha que o pessoal coloca. (TEMIV) Uma boa interação com a equipe [...] a equipe toda tem que estar em interação e sintonia [...] principalmente falando [...] sermos coordenados naquilo que a gente faz. Eu além de me proteger, eu também vejo os colegas. (TEMXI)

O desentrosamento apontado pelos sujeitos do estudo pode decorrer do

modelo adotado para compor as equipes do APH que, em sua organização, não

prevê todos os integrantes da equipe de enfermagem. De acordo com Braga

(2000, p. 49),

o trabalho de enfermagem pressupõe um trabalho em equipe com uma divisão técnica, onde cada categoria possui funções definidas e parceladas, cabendo ao enfermeiro (nível superior) a função de administrar, supervisionar e disciplinar o trabalho e aos demais membros da equipe, procedimentos e responsabilidades diferentes.

Nesse sentido, a Resolução COFEN-300 / 2005, do Conselho Federal de

Enfermagem (COFEN), dispõe sobre a atuação de seus profissionais no

Atendimento Pré-hospitalar e Inter-hospitalar, e seu Artigo 1° prevê que:

No atendimento pré-hospitalar e inter-hospitalar de Suporte Básico e de Suporte Avançado de Vida os procedimentos de Enfermagem previstos em Lei sejam privativamente desenvolvidos por Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem e Auxiliares de Enfermagem, de acordo com a complexidade da ação e após avaliação do Enfermeiro.

Sendo assim, considerando que o exercício dos profissionais de

enfermagem de nível médio é subordinado à supervisão (direta) do enfermeiro,

e que este princípio faz parte da formação profissional de todas as categorias, é

possível inferir que este grupo esteja ressentido da ausência de liderança, pois,

de acordo com Blank (1987), é o enfermeiro quem detém o conhecimento do

processo de trabalho da enfermagem, além do ser o responsável pelo controle

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das atividades dos elementos auxiliares da sua equipe. Pelo exposto, vale

ressaltar o pensamento de Souto (2003) no sentido de que o bom

relacionamento entre os componentes de uma equipe é um dos determinantes

da qualidade do trabalho e, portanto, deve ser cultivado.

Dentre as intervenções que têm sido enfatizadas na prevenção da

exposição do profissional de saúde a material biológico, estão as mudanças nas

práticas de trabalho com o objetivo de programar e desenvolver uma política

específica da revisão de procedimentos e treinamento dos profissionais

(RISCOBIOLÓGICO - ON LINE, 2002).

Na construção da cultura prevencionista no ambiente de trabalho, é

indispensável que haja investimento institucional, a fim de que o trabalhador

reconheça a necessidade de abandonar a atitude passiva e adote uma postura

pró-ativa, diante das condições ambientais que lhe impõem risco à saúde. De

acordo com Braga (2000), para que os esforços voltados à prevenção da

exposição ocupacional a material biológico possam contribuir para a superação

do atual quadro de gravidade nessa área, torna-se necessário, principalmente,

a incorporação dos saberes dos trabalhadores que vivenciam as situações de

trabalho.

O tema ―dificuldade em abordar o assunto‖ aparece como um aspecto

contraditório, uma vez que foi adequadamente atendida a categoria que aborda

o nível de percepção dos profissionais de enfermagem acerca das

possibilidades e formas de exposição ao risco biológico, bem como sua

gravidade ou severidade. Assim, o surgimento deste tema parece que é apenas

um problema semântico. Também é relevante considerar a dificuldade em

abordar o assunto sob a ótica da negação do risco, como mecanismo psíquico

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desenvolvido pelos trabalhadores para reduzir o sofrimento advindo das

condições do trabalho.

Os depoimentos a seguir referem-se ao questionamento sobre a

diferença entre agente biológico e material biológico. Como se pode perceber,

houve dificuldade entre os depoentes em conceituar ou mesmo estabelecer

diferenças entre as duas categorias:

Eu não estou sabendo me expressar! (TEMI) Nossa! já começou complicado [...].acho que no caso, vamos tentar [...] ah não sei explicar! (TEMII) Como é que eu posso colocar esta questão [...] está me fugindo a palavra agora. (TEMV) Mas como assim? Eu não entendi! (TEMX)

Diante do que foi exposto, é possível afirmar que entre os trabalhadores

do APH investigados existem fatores que estabelecem barreiras ao

comportamento preventivo em saúde na perspectiva das percepções de

barreiras à ação de Rosenstock (1974), ou seja, as ações são avaliadas sob a

ótica custo-benefício. Entretanto, as barreiras foram identificadas e estão

relacionados ao comodismo, ao EPI disponível, ao treinamento das equipes, à

necessidade de entrosamento das equipes e à dificuldade em abordar a

temática.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crescente aumento do contingente populacional, principalmente nos

grandes centros urbanos, fez crescer na mesma proporção o número de

acidentes e de casos de violência, elevando a demanda por serviços na área de

Urgência e Emergência. Estas situações vêm fazendo com que os gestores do

Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, em

ação conjunta, estabeleçam novas estratégias de atendimento à população,

uma vez que os casos de acidentes e violência têm forte impacto social e no

Sistema Único de Saúde (SUS), o que pode ser medido pelos gastos crescentes

com internação hospitalar, altas taxas de permanência e aumento de 30% no

índice dos Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP), segundo dados recentes

do Ministério da Saúde.

Dentre as medidas já adotadas pelo referido Órgão governamental, em

parceria com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, destacam-se

aquelas reunidas no Programa de Apoio à Implantação de Sistemas Estaduais

de Referência Hospitalar em Atendimento de Urgência e Emergência, que tem

por finalidade realizar investimentos de custeio, adequação física e

equipamentos dos serviços integrantes destas redes, na área de assistência

pré-hospitalar, nas Centrais de Regulação, e também de promover a

capacitação de recursos humanos. A estrutura dos Sistemas Estaduais de

Urgência e Emergência prevê toda a rede assistencial, desde a pré-hospitalar,

onde está inserido o Serviço de Atendimento Pré-Hospitalar móvel (SAMU,

resgate, ambulâncias do setor privado, etc.), até a rede hospitalar de alta

complexidade.

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Foi no contexto de assistência à saúde do Serviço de Atendimento Pré-

Hospitalar Móvel (referido no estudo como Atendimento Pré-Hospitalar – APH),

que surgiu o interesse em investigar o comportamento dos profissionais de

enfermagem frente ao risco biológico, em especial os de nível médio, visto ser

ainda bastante incipiente a atenção dada a esta área de atuação, tanto nos

cursos de graduação quanto nos cursos técnicos profissionalizantes, o que

compromete bastante a capacitação, a habilitação e a educação continuada

desses profissionais.

O comportamento deste segmento profissional em relação ao risco

biológico despertou especial atenção, considerando onde são ambientadas e

sob quais condições desenvolvem suas ações de trabalho. São pessoas que se

acham em condição laboral singular, pois, diferentemente dos profissionais da

área hospitalar, atuam em via pública e assistem, além dos eventos clínicos,

aos eventos traumáticos decorrentes de acidentes e violência interpessoal.

Os sujeitos do estudo convivem no dia-a-dia com a condição de

emergência norteando o atendimento, com exposição à violência urbana, além

de também executarem procedimentos pertinentes às funções do bombeiro

militar, o que caracteriza que este grupo submete-se constantemente a

situações desencadeadoras de estresse devido, principalmente, à

imprevisibilidade que antecede suas ações.

Estas peculiaridades caracterizam o ambiente de trabalho dos sujeitos

do estudo, submetendo-os a riscos ocupacionais diferenciados. Tal fato torna

imprescindível problematizar a realidade deste serviço e estabelecer o nexo

entre trabalho e educação, de forma a resgatar o processo de capacitação e de

educação continuada para o desenvolvimento pessoal e profissional de

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cada um.

Dentro desta ótica, o estudo visou avaliar o profissional de enfermagem de

nível médio que atuam no atendimento pré-hospitalar, quanto à adoção de

comportamento preventivo em relação ao material biológico durante o

atendimento às vítimas.

A partir do referencial teórico do Comportamento Preventivo em Saúde,

sob a perspectiva do Modelo de Crenças em Saúde de Rosenstock, chegou-se

ao alcance dos objetivos propostos no estudo, sendo o primeiro deles analisar a

percepção do profissional de enfermagem em relação ao risco biológico no

atendimento pré-hospitalar.

Segundo o Modelo de Crenças em Saúde acima referido, esta percepção

ocorre se o indivíduo relacionar o risco subjetivo de uma dada condição ao risco

real de contrair determinado dano à sua saúde. Nesta perspectiva, os

resultados evidenciaram que o profissional consegue identificar no seu

ambiente de trabalho as possíveis formas de contato com o agente biológico, e

associá-las à possibilidade de ser acometido pelo contágio de diferentes

agentes patogênicos, cujos temas relacionados foram a contaminação de

material, a exposição de pele e mucosa a material biológico, referências às

peculiaridades do APH, a possibilidade de contrair alguma doença e/ou de

contrair hepatite ou AIDS.

Reconhecer-se suscetível ao contágio biológico como conseqüência da

exposição a material humano pode levar este profissional a uma perturbação

emocional decorrente do pensamento acerca da possibilidade, mesmo que

remota, de se tornar portador ou doente de algum mal e das repercussões deste

adoecimento.

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Apesar de os indivíduos do estudo terem demonstrado percepção do

risco real de adoecimento ao se exporem a material biológico, de terem

identificado com clareza os equipamentos de proteção e de reconhecerem sua

utilidade na prevenção ao risco biológico, os depoimentos permitiram constatar

que, na prática, recorrentemente são negligenciados os itens de proteção que

seriam imprescindíveis à segurança desses indivíduos. Conseqüentemente o

grupo possui o entendimento das medidas preventivas, entretanto, ainda não o

suficiente para promover a sua adesão.

Considerando o perfil apresentado pelos sujeitos, que é constituído por

83% de indivíduos na faixa etária dos 30 aos 39 anos; por 75% de indivíduos

com escolaridade de ensino médio; por 58,3% de indivíduos com tempo de

exercício na enfermagem entre 06 e 15 anos; por 66,7% de indivíduos com até

05 anos de atividade no atendimento pré-hospitalar, pode-se constatar que

embora sejam adultos e não sejam recém-formados, o fato de a maioria ter

formação profissional de nível médio e exercício de até cinco anos no APH leva

a acreditar que, em sua formação e no seu exercício profissional, não é dada

ênfase às questões do risco ocupacional, o que pode ocasionar uma percepção

simplista do problema e, possivelmente, a constante aproximação do risco

biológico decorrente do trabalho no APH, pode estar levando a subestimar este

risco como mecanismo psicológico de adaptação à condição de insegurança.

O segundo objetivo proposto foi analisar a percepção do profissional de

enfermagem sobre os benefícios na adoção das medidas de segurança em

relação ao risco biológico no atendimento pré-hospitalar. De acordo com

Rosenstock, o grau de ameaça percebido pelo indivíduo, a percepção do risco

real, determinará o reconhecimento dos benefícios relacionados às medidas

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preventivas. Este objetivo foi alcançado, revelando que a maioria dos

trabalhadores do APH apresenta alguma distorção de comportamento quando

não associa a prática do cuidado diário aos preceitos teóricos dos benefícios

que o uso do EPI pode oferecer.

Embora o profissional de enfermagem do APH tenha desenvolvido a

percepção da sua exposição ao risco biológico e das possíveis conseqüências

advindas desta exposição e que esta condição pode ser prevenida por medidas

de biossegurança, expressando claro reconhecimento dos benefícios na

utilização das medidas de proteção, ainda existe uma distância considerável

entre o conhecimento que estes profissionais demonstraram possuir e as ações

que deveriam realizar no dia-a-dia.

Em relação ao terceiro objetivo: discutir o comportamento do profissional

de enfermagem em relação ao risco biológico no atendimento pré-hospitalar,

ficou confirmado o paradoxo descrito no fim do parágrafo anterior. Em

consonância com o modelo teórico proposto, esta discussão foi pautada sob o

aspecto das barreiras percebidas, ou, percepção das barreiras à adoção dos

EPI, trazendo à tona o nível de percepção dos profissionais de enfermagem

acerca dos aspectos negativos às ações preventivas, ou seja, os fatores que

interferem ou impedem a adesão aos equipamentos de proteção. Dentre os

aspectos considerados negativos à adoção das práticas preventivas

destacaram-se aqueles relacionados ao comodismo na adesão aos EPI, à

qualidade e a quantidade do EPI disponível, a necessidade de conscientização

das equipes, a necessidade de entrosamento na equipe e a dificuldade de

abordar o tema.

Dos fatores mencionados que estabeleceriam barreiras à adoção das

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medidas preventivas, o comodismo na adesão aos EPI, diferentemente dos

demais fatores, é exclusivamente individual e independe de ações institucionais

para ser superado, levando a acreditar que tal ―relaxamento‖ no uso do EPI seja

em decorrência de predominar entre esses profissionais uma percepção

simplista de como se proteger e o que fazer diante do risco. Esta percepção

distorcida leva ao reducionismo na utilização dos equipamentos de proteção,

onde, o uso das luvas apresenta alto índice de adesão em relação aos demais

equipamentos de proteção, sendo o EPI reconhecidamente priorizado pelos

profissionais do estudo, indiscutivelmente aderido por todos, em todas as

modalidades de eventos, muito embora reconheçam que no atendimento das

situações de emergência, qualquer que seja ele, há necessidade de

indumentária e EPI completos.

Partindo do pressuposto do referencial teórico do Comportamento

Preventivo em Saúde sob a perspectiva do Modelo de Crenças em Saúde, foi

possível evidenciar que as variáveis susceptibilidade e severidade percebidas,

benefícios percebidos e barreiras percebidas, foram de certa forma atendidas.

Entretanto, como as decisões quanto a condutas de risco são mediadas pelo

equilíbrio gerado entre essas variáveis, e no estudo foi evidenciado certo

desequilíbrio entre estas, gerado pela variável barreiras percebidas, conclui-se

que o comportamento preventivo do profissional de enfermagem de nível médio

do atendimento pré-hospitalar em relação ao material biológico no atendimento

às vítimas apresenta deficiências importantes, o que implica em riscos à saúde

desta população.

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Sugestões

O que foi discutido ao longo deste estudo abre possibilidades para que

sejam apresentadas algumas sugestões às áreas de formação e capacitação

profissional e de gestão de recursos humanos:

1. Formação e capacitação profissional

Base curricular específica para a formação de profissionais da área do

atendimento pré-hospitalar, com disciplinas que abordem os riscos

ocupacionais e as medidas preventivas.

2. Gestão de recursos humanos

Consolidação das práticas gerenciais voltadas para a saúde

ocupacional:

a) Educação em serviço voltada para saúde ocupacional;

b) Fornecimento do equipamento de proteção adequado às atividades;

c) Controle do uso do equipamento de proteção;

d) Adequação física e psíquica do profissional.

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SOUTO, M. C. CTI oncológico: as experiências do trabalhador de

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A P Ê N D I C E S

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104

A - CARTA AO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO BIOMÉDICO

FACULDADE DE ENFERMAGEM COORDENAÇÃO DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

CURSO DE MESTRADO

COMPORTAMENTO PREVENTIVO DOS PROFISSIONAIS

DE ENFERMAGEM NA EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR

Como aluna do Curso de Mestrado em Enfermagem da UERJ, solicito a

este Comitê de Ética exarar parecer acerca da qualidade ética deste projeto de

Dissertação, de acordo com a Resolução CNS-196/96 do Ministério da Saúde..

Aguardo pronunciamento para iniciar a pesquisa.

Atenciosamente.

Denise Rego de Sá Viana

Rio de Janeiro, .......de.........................de 2004

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105

B - TERMO DO CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO BIOMÉDICO FACULDADE DE ENFERMAGEM

COORDENAÇÃO DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE MESTRADO

Informação e Consentimento Pós-informado para Pesquisa

Meu nome é Denise Rego de Sá Viana e estou desenvolvendo a pesquisa Comportamento Preventivo dos Profissionais de Enfermagem na Exposição a Material Biológico no Atendimento Pré-hospitalar (APH), sob orientação acadêmica da Profª Drª Gertrudes Teixeira Lopes. O objetivo da pesquisa é avaliar estes profissionais, quanto à adoção de comportamento preventivo, em relação ao material biológico no atendimento às vítimas. Este estudo é necessário porque a compreensão do comportamento adotado por indivíduos submetidos à condição de risco em atividades laborativas, é fundamental para a elaboração e a implementação de programas de prevenção. Para a coleta de dados, serão realizados dois tipos de procedimentos, em momentos diferentes: a observação de campo direta não-participante e a entrevista gravada em fita magnética, orientada por roteiro. Estes procedimentos não implicam em risco, entretanto, podem trazer desconforto ao participante pela observação de campo e pelo confronto com a realidade. No entanto, esperamos que tragam contribuição ao desenvolvimento de uma categoria profissional, a medida que provocarão reflexão crítica sobre como estão exercendo suas tarefas no dia-a- dia, considerando que suainserção no APH tende a aumentar, devido ao estabelecimento de políticas públicas voltadas para a redução da morbimortalidade por acidentes e violências, uma área de atuação peculiar e pouco estudada, onde esperamos que esta pesquisa contribua como incentivo à realização de mais estudos, principalmente os que agreguem novos conhecimentos à saúde do trabalhador. Ao participante desta pesquisa estão assegurados o anonimato, o seu desligamento a qualquer momento que desejar, que sua participação não implica em custo nem em recebimento de valores monetários, e que os dados conseqüentes da sua participação serão utilizados somente nesta pesquisa. Se surgir dúvida em relação ao estudo, se decidir participar do estudo ou se não quiser mais fazer parte do mesmo, entrar em contato comigo, pelos telefones: 2560-0208 ou 9624-8761.

Assinatura da pesquisadora: __________________________ RG. : ______________________

Assinatura da orientadora: ___________________________RG:_______________________

Consentimento Pós-informado

Eu, (nome completo por extenso e em letra de forma)...............................................................,

abaixo assinado(a), fui esclarecido(a) sobre a pesquisa Comportamento Preventivo

Profissionais de Enfermagem na Exposição a Material Biológico no Atendimento Pré-hospitalar,

concordo em participar e também em que os dados decorrentes desta participação sejam

utilizados na mesma.

Rio de Janeiro, ........de............................................de 2005.

Assinatura do(a) participante: .......................................................... RG: .......................................

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106

C - CARTA DE AUTORIZAÇÃO À INSTITUIÇÃO

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO BIOMÉDICO

FACULDADE DE ENFERMAGEM COORDENAÇÃO DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

CURSO DE MESTRADO

Ao Comando do Grupamento de Socorro de Emergência do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro Att.: Cel BM Méd. Marcelo Dominguez Canetti.

Solicito autorização para realizar nesta instituição um estudo, que visa

avaliar o profissional de enfermagem (técnicos e auxiliares de enfermagem),

quanto à adoção de comportamento preventivo na exposição a material

biológico no atendimento às vítimas do pré-hospitalar. Esta pesquisa se destina

a Dissertação de Mestrado do Programa da Escola de Enfermagem da UERJ e

está sendo orientada pela Profª Drª Gertrudes Teixeira Lopes.

O título previsto do estudo é: Comportamento Preventivo dos

Profissionais de Enfermagem na Exposição a Material Biológico no

Atendimento Pré-hospitalar.

Aguardo resposta.

Atenciosamente,

Denise Rego de Sá Viana

Rio de Janeiro, .........de......................... de 2005

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D - ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Nº do Instrumento: ______________

Iniciais do entrevistado: __________ Hora do início da entrevista: _______

Data da entrevista: ______________ Hora do término da entrevista:______

a) Perfil

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino;

Idade: ( ) Entre 20 e 29 anos; ( ) Entre 30 e 39 anos; ( ) Mais de 40 anos

Tempo de exercício na enfermagem: _______

Tempo de exercício no APH: _______

Nível de escolaridade: ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo

( ) superior incompleto ( ) superior completo;

Qualificação profissional: ( ) Técnico de enfermagem

( ) Auxiliar de enfermagem;

Atividade no APH:

( ) Líder do ASE-B ( ) Auxiliar do ASE-B ( ) Auxiliar do ASE-A.

b) Perguntas

1- Qual a diferença que você faz entre agente biológico e material biológico?

2- Em sua opinião, quais são as situações de exposição a material biológico

que apresentam maior risco?

3- Após exposição a material biológico, o quê poderá ocorrer à sua saúde?

4- Como você se protege diante da possibilidade de exposição a material

biológico?

5- Em quais situações você acha importante usar os equipamentos de proteção

e quais equipamentos?

6- Qual sugestão você daria para reduzir o risco de exposição aos agentes

biológicos no atendimento pré-hospitalar?

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A N E X O S

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109

ANEXO 1 – COMUNICADO DE ACIDENTE DO TRABALHO – CAT

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110

ANEXO 2 – FICHA DE INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO

COM EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO

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111

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112

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ANEXO 3 – RESPOSTA DO COMITÊ DE ÉTICA

(colagem)

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ANEXO 4 – AUTORIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO

(colagem

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