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167 Educação, Batatais, v. 5, n. 2, p. 167-190, 2015 Atendimento educacional especializado de estudantes com deficiência física Samuel VINENTE 1 Sarah Raquel Almeida LINS 2 Maria Amélia ALMEIDA 3 Resumo: A política de educação voltada às pessoas com deficiência tem avançado ao longo dos últimos anos e incluído o atendimento educacional especializado, bem como a utilização de recursos e estratégias em ambiente escolar. Apesar disso, estudos recentes indicam a existência de dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência física no processo de inclusão social e escolar. Este estudo tem o objetivo de apresentar aspectos relacionados à deficiência física e ao atendimento educacional especializado dessa população alvo da educação especial com base na legislação vigente, bem como nas políticas públicas de educação, aprofundando o tema por meio da apresentação de estudos recentes. Trata-se de uma reflexão sobre a deficiência física e as possibilidades de estratégias e recursos utilizados em ambiente escolar com esse público com vistas à inclusão social e escolar. Palavras-chave: Educação Especial. Deficiência Física. Políticas Públicas. Atendimento Educacional Especializado. 1 Samuel Vinente. Mestrando em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Graduado em Pedagogia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (FAPEAM). E-mail: <samueljunior.ns@ gmail.com>. 2 Sarah Raquel Almeida Lins. Doutoranda em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Terapia Ocupacional pela mesma instituição. Especialista em Docência no Ensino Superior pelo Instituto Athenas. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo UNICEUMA. E-mail: <[email protected]>. 3 Maria Amélia Almeida. Professora Associada do Departamento de Psicologia, Licenciatura em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Professora do Programa de Pós-graduação em Educação Especial da UFSCar. E-mail: <[email protected]>.

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Educação, Batatais, v. 5, n. 2, p. 167-190, 2015

Atendimento educacional especializado de estudantes com deficiência física

Samuel VINENTE1

Sarah Raquel Almeida LINS2

Maria Amélia ALMEIDA3

Resumo: A política de educação voltada às pessoas com deficiência tem avançado ao longo dos últimos anos e incluído o atendimento educacional especializado, bem como a utilização de recursos e estratégias em ambiente escolar. Apesar disso, estudos recentes indicam a existência de dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência física no processo de inclusão social e escolar. Este estudo tem o objetivo de apresentar aspectos relacionados à deficiência física e ao atendimento educacional especializado dessa população alvo da educação especial com base na legislação vigente, bem como nas políticas públicas de educação, aprofundando o tema por meio da apresentação de estudos recentes. Trata-se de uma reflexão sobre a deficiência física e as possibilidades de estratégias e recursos utilizados em ambiente escolar com esse público com vistas à inclusão social e escolar.

Palavras-chave: Educação Especial. Deficiência Física. Políticas Públicas. Atendimento Educacional Especializado.

1 Samuel Vinente. Mestrando em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Graduado em Pedagogia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (FAPEAM). E-mail: <[email protected]>.2 Sarah Raquel Almeida Lins. Doutoranda em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Terapia Ocupacional pela mesma instituição. Especialista em Docência no Ensino Superior pelo Instituto Athenas. Bacharel em Terapia Ocupacional pelo UNICEUMA. E-mail: <[email protected]>.3 Maria Amélia Almeida. Professora Associada do Departamento de Psicologia, Licenciatura em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Professora do Programa de Pós-graduação em Educação Especial da UFSCar. E-mail: <[email protected]>.

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Specialized educational services for students with disabilities

Samuel VINENTESarah Raquel Almeida LINS

Maria Amélia ALMEIDA

Abstract: The education policy geared to people with disabilities has advanced over the past few years, including specialized educational services, and resources and strategies using in the school environment. Nevertheless, the recent studies indicate the existence of difficulties faced by people with physical disabilities into the social and educational inclusion. This study aims to present aspects related to physical disabilities and specialized educational services targeted population of special education based on current legislation and public policy education, deepening the theme through the recent studies presentation. It is a reflection on the disability and the possibilities of strategies and resources used in the school environment with these stakeholders with a view to social and educational inclusion.

Keywords: Special Education. Physical Disability. Public Policy. Educational Service Specialist.

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1. INTRODUÇÃO

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996) classifica os estudantes com deficiência (física, auditiva, intelectual, múltipla ou visual) e aqueles com transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação como integrantes do grupo dos alunos público-alvo da educação especial (PAEE), de acordo com a redação dada por intermédio da Lei nº 12.796/2013 (BRASIL, 2013).

Inúmeros estudos evidenciam a necessidade de qualificação dos profissionais da educação para o atendimento educacional especializado (AEE) dos estudantes que compõem o PAEE (TEZANI, 2008; ALVES, 2009; SILVA; VINENTE; MATOS, 2014; JANNUZZI, 2015). Na atual legislação, o AEE é entendido como o conjunto de recursos de acessibilidade, de atividades e de recursos pedagógicos organizados institucional e continuamente oferecido de forma complementar ou suplementar (BRASIL, 2011).

O AEE possui caráter complementar quando é ofertado aos estudantes com deficiência e transtornos globais do desenvolvimento, podendo também ser oferecido de forma suplementar aos estudantes com altas habilidades ou superdotação. Nessa perspectiva, tal atendimento não é substitutivo à escolarização, tendo como local de oferta as salas de recursos multifuncionais, os centros de AEE ou as instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos (BRASIL, 2011).

Os estudantes com deficiência física, foco deste trabalho, integram o grupo de estudantes com deficiência (subgrupo do PAEE), de acordo com a atual Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), com o Decreto nº 7.611/2011 (BRASIL, 2011) e com a Lei nº 12.796/2013 (BRASIL, 2013). Apesar da existência dessa extensa legislação que garante o acesso à educação e ao AEE com fins de inclusão social e escolar, ainda há muito que se alcançar em termos de direitos, recursos didático-pedagógicos e acessibilidade voltados para esse público.

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Assim, pretende-se problematizar, neste artigo, aspectos sobre a definição, a caracterização e a prevenção da deficiência física a partir da literatura (SOUZA, 1999; NAMBU, 2003; CASTRO et al., 2008; IBGE, 2010; OMS, 2012; REDE SACI, 2015) e dos marcos legais que subsidiam a inclusão desses estudantes nos sistemas de ensino (BRASIL, 1996; BRASIL, 1999; BRASIL, 2011). São abordados, também, as contribuições da Tecnologia Assistiva e os demais recursos utilizados como estratégias para a aprendizagem e inclusão escolar de alunos com deficiência física, a partir do arcabouço teórico apresentado (BERSCH; SCHIRMER, 2005; ALVES, 2009; SARTORETTO; BERSCH, 2010; MARINS, 2011).

2. DEFINIÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E PREVEÇÃO DA DEFICIÊNCIA FÍSICA

A partir da 2º Guerra Mundial, período em que houve o retorno dos militares com ferimentos, deficiências e amputações, as pessoas com deficiência passaram a receber maior atenção nas políticas de educação, saúde e assistência social (REDE SACI, 2015). A partir daí, pode-se citar a realização de conferências e assinaturas de acordos internacionais para que os países elaborassem políticas de educação e saúde para esse segmento populacional.

Castro et al. (2008) ressaltam que, apesar de as pessoas com deficiência necessitarem de maior atenção devido às limitações oriundas de algum tipo de incapacidade física ou mesmo cognitiva, essa população, em sua maioria ainda, não foi devidamente contemplada por meio de melhorias e/ou implementação de estratégias voltadas para a educação e saúde.

Diversos autores ressaltam a mobilização da população por meio de movimentos que visavam à reivindicação dos direitos da pessoa com deficiência (FIGUEIRA, 2010; MENDES, 2010; JANNUZZI, 2015). Essa tendência foi reforçada por meio da criação de leis que visam à proteção e à garantia dos direitos dessa população; apesar disso, ainda há muito que se avançar em termos de implementação dessas leis (CASTRO et al., 2008).

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Segundo dados do Relatório Mundial sobre a deficiência, divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2012, n.p.), estima-se que, no mundo inteiro, mais de um bilhão de pessoas convivam com alguma forma de deficiência, dentre as quais 200 milhões experimentam dificuldades funcionais consideráveis.

No Brasil, segundo dados do mais recente Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010, n.p.), 45.606.048 milhões de pessoas declararam ter pelo menos uma das deficiências investigadas, o que corresponde a 23,9% da população brasileira. Desse total significativo, os dados do Censo apontaram que 38.473.702 dessas pessoas estão em áreas urbanas e 7.132.347 em áreas rurais.

A crescente identificação das pessoas com deficiência e sua progressão no processo de escolarização têm se tornado um intenso objeto de estudo na área de educação especial. Sendo a deficiência, de acordo com a legislação vigente, considerada “[...] toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade [...]” (BRASIL, 1999, n.p.), no próximo tópico serão apresentados aspectos sobre a definição e caracterização da deficiência física a partir da legislação, bem como suas formas de prevenção.

Definição e caracterização da deficiência física

O Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999 (BRASIL, 1999), ao regulamentar a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, passa a dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Com base no documento, considera-se pessoa com deficiência, para efeitos legais, a que se enquadra nas seguintes categorias: deficiente físico, auditivo, visual, mental e múltiplo (BRASIL, 1999). Segundo o mesmo dispositivo, a deficiência física pode ser definida como uma:

[...] alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia,

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ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções (BRASIL, 1999, n.p.).

Contudo, diversos autores apontam que o conceito de deficiência vem se transformando ao longo do tempo e, atualmente, deixa-se de focar na incapacidade e na ausência para que haja foco nas potencialidades a serem desenvolvidas para a eliminação das barreiras (TEZANI, 2008; MENDES, 2010; FIGUEIRA, 2010; JANNUZZI, 2015). Na perspectiva da Organização Mundial de Saúde, a deficiência é “[...] complexa, dinâmica, multidimensional e questionada” (OMS, 2012, p. 4). A partir dessa ótica, as representações sociais sobre a deficiência precisam ser questionadas, pelo fato de esta estar relacionada não apenas a fatores biológicos, mas principalmente a sociais.

Partindo da definição proposta no Decreto nº 3298/1999 (BRASIL, 1999), ao mesmo tempo em que se delimitam aspectos da deficiência física, também são garantidos direitos a uma categoria populacional. O Quadro 1 ilustra os tipos de deficiência física apresentados na legislação brasileira:

Quadro 1. Tipos de deficiência física a partir do Decreto nº 3298/1999.

Tipo Definição

Paraplegia Perda total das funções motoras dos membros inferiores.

Paraparesia Perda parcial das funções motoras dos membros inferiores.

Monoplegia Perda total das funções motoras de um só membro (inferior ou superior).

Monoparesia Perda parcial das funções motoras de um só membro (inferior ou superior).

Tetraplegia Perda total das funções motoras dos membros superiores e inferiores.

Tetraparesia Perda parcial das funções motoras dos membros superiores e inferiores.

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Tipo Definição

Triplegia Perda total das funções motoras em três membros.

Triparesia Perda parcial das funções motoras em três membros.

Hemiplegia Perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo).

Hemiparesia Perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo).

Amputação Perda total ou parcial de um determinado membro ou segmento do membro.

Paralisia Cerebral

Lesão de uma ou mais áreas do Sistema Nervoso Central (SNC), tendo como consequência alterações psicomotoras, associada ou não à deficiência intelectual.

Nanismo Crescimento esquelético anormal, onde o indivíduo possui membros curtos em relação ao tronco.

Ostomia Intervenção cirúrgica que cria um ostoma (abertura, ostio) na parede abdominal para adaptação de bolsa de coleta; processo cirúrgico que visa à construção de um caminho alternativo e novo na eliminação de fezes e urina para o exterior do corpo humano (colostomia: ostoma intestinal; urostomia: desvio urinário).

Fonte: adaptado de Nambu (2003).

Diversos autores abordam a deficiência física, clarificando a possibilidade da variedade com que ela pode se manifestar. Dentre as deficiências físicas encontradas no ambiente escolar, têm-se como as mais frequentes a paralisia cerebral (PC), a lesão medular, a mielomeningocele, a espinha bífida e as amputações.

De acordo com Tabaquim (1996), a paralisia cerebral, resultado de lesão no sistema nervoso central, caracteriza-se por apresentar comprometimento psicomotor em diversos níveis, dependendo da área do cérebro que foi atingida, além de apresentar: (1) causa fixa; (2) presença nos dois primeiros anos de vida da criança; e (3) manifestação de desordem da postura e do movimento.

No entanto, o autor supracitado considera que estudantes com PC que possuam comprometimento global leve podem movi-mentar-se com independência, realizando atividades motoras finas, como desenhar, encaixar, recortar, colar e realizar outras atividades em ambientes escolares de aprendizagem.

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No caso da lesão medular, comumente causada por acidente de trânsito ou agressão por arma de fogo, geram-se perdas parciais ou totais da motricidade e sensibilidade e, ainda, comprometimento vasomotor, intestinal, dentre outros. As consequências causadas por esse tipo de lesão geralmente são irreversíveis e exigem longos programas de reabilitação, que têm o objetivo de proporcionar adaptação à nova condição, com foco na independência funcional, qualidade de vida e inclusão social (VALL; BRAGA; ALMEIDA, 2006).

A espinha bífida é uma malformação congênita decorrente de uma falha no fechamento do tubo neural, sendo a mielomeningocele uma das principais formas de manifestação, que se caracteriza por apresentar uma protrusão cística com tecido nervoso exposto não coberto por tecido (pele) (GAIVA; NEVES; SIQUEIRA, 2009).

De causa desconhecida, a mielomeningocele geralmente afeta a região lombossacral da medula espinhal e é considerada a segunda causa de deficiência motora infantil. A doença afeta o sistema nervoso, musculoesquelético, genitourinário, e, assim como no caso da paralisia cerebral, a gravidade e o grau da lesão dependem do local em que esta ocorreu e de outros fatores neurológicos. Porém, as principais manifestações relacionam-se à dificuldade em levantar, andar e controlar de maneira voluntária o sistema vesical e intestinal (BRANDÃO; FUGISAWA; CARDOSO, 2009).

Além disso, têm-se as amputações, que podem ser causadas por diversos fatores, como malformação, traumas e entre outros, e que podem acarretar limitações para o indivíduo que as possui.

Agne et al. (2004) caracterizam a amputação como a retirada total ou parcial de um membro do corpo por meio de um procedimento cirúrgico, sendo as causas mais frequentes por doença vascular periférica, diabetes, infecções com gangrena, isquemia, doença arterial difusa, dentre outras.

O acompanhamento profissional do indivíduo amputado é importante para proporcionar qualidade de vida, realizar adaptações necessárias à independência e autonomia, bem como melhorar a sua condição física e incluí-lo nas atividades comuns da sociedade,

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como o acesso e permanência à educação, direito garantido pela Constituição Federal.

Nesse contexto, pode-se perceber que esses desafios não são frequentes apenas em estudos, mas na prática docente cotidiana. Por integrarem o grupo de alunos com deficiência física, os alunos que possuem tais deficiências se tornam cada vez mais presentes em ambientes escolares, evidenciando a necessidade de formação de recursos humanos e articulação entre a educação e a saúde para melhor inclusão escolar e social desses estudantes.

Entretanto, ainda nos dias atuais, parece que há uma dificuldade da sociedade em reconhecer o deficiente físico como um indivíduo que pode e deve contribuir de algum modo com o contexto no qual está inserido. Além disso, muitos profissionais ainda não estão devidamente preparados para lidar com os deficientes físicos tanto por questões estruturais das instituições, quanto pelo desconhecimento ou pela falta de compromisso com a promoção da saúde e da qualidade de vida dessa população (ARAGÃO et al., 2012).

Nesse contexto, compreende-se a importância de se discutir sobre a deficiência física, no intuito de ampliar a visão dos leitores em relação às possibilidades de atuação com esse público-alvo, bem como clarificar sobre as potencialidades que podem ser desenvolvidas para lograr êxito no que se refere à participação social em todos os seus quesitos, seja cultural, seja econômico, seja, principalmente, educacional.

Sabe-se que os desafios são inúmeros para a efetivação da inclusão escolar; sendo assim, torna-se necessário que professores e pesquisadores se atentem para o fato de que:

[...] o aluno ou sujeito de pesquisa é um ser completo, um cidadão com direitos e deveres, um ser tal como nós que se constitui, se forma nas relações sociais com todos, no mundo tal como existe, em transformação (JANNUZZI, 2015, p. 29).

Nesse contexto, o estudante com deficiência física precisa ser visto a partir da ótica dos direitos humanos, fundamentada na valo-rização e no respeito à diversidade.

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Prevenção da deficiência física

Os diversos tipos de deficiência precisam ser conhecidos, pois a possibilidade de se adquirir algum tipo de deficiência ao longo da vida é grande, devendo-se em parte tanto pelo crescimento da população idosa quanto pela ausência de políticas de prevenção às deficiências nos países em desenvolvimento. O Relatório Mundial sobre a Deficiência (OMS, 2012) aponta que a prevenção de problemas de saúde associados à deficiência se refere essencialmente à questão do desenvolvimento. O documento enumera diversos fatores ambientais ou não que podem reduzir a incidência dos problemas de saúde que podem causar deficiência tais como: (a) doenças passíveis de prevenção; (b) água potável; (c) saneamento; e (d) segurança nas estradas e nos locais de trabalho (OMS, 2012).

A Rede Saci – Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação, projeto da Universidade de São Paulo (USP), sinaliza para diversas medidas que podem ser tomadas com vistas à prevenção das deficiências, tais como a realização de acompanhamento médico pré-natal, utilização de infraestrutura nos berçários, vacinação atualizada e adoção de medidas de segurança no trânsito e no trabalho (REDE SACI, 2015). Além dessas medidas simples que podem ser tomadas, podem-se enumerar diversas formas de prevenção com foco numa abordagem de saúde pública que distingue três tipos de prevenção: (a) primária; (b) secundária; e (c) terciária:

Quadro 2. Prevenção primária, secundária e terciária.

Primária Secundária Terciária

Ações para evitar ou remover a causa de um problema de saúde em um indivíduo ou uma população antes do seu surgimento. Ela inclui a promoção da saúde e proteção específica.

Ações para detectar um problema de saúde em um estágio inicial em um indivíduo ou uma população, facilitando a cura, ou reduzindo ou prevenindo sua difusão, reduzindo ou prevenindo seus efeitos de longo prazo.

Ações para reduzir o impacto de uma doença já estabelecida restaurando-se a função e reduzindo as complicações associadas à doença.

Fonte: adaptado do Relatório Mundial sobre a Deficiência (OMS, 2012, n.p.).

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Ao exemplificar os tipos de prevenção com base no Quadro 2, podemos tecer as seguintes considerações: (a) é necessário que o Poder Público adote políticas de prevenção que evitem problema de saúde; (b) é preciso que haja campanhas de prevenção e um investimento no atendimento à saúde básica; e, (c) no caso de doenças já estabelecidas, torna-se crucial a realização de ações que reduzam seus impactos na população (BRASIL, 2012). Nessa perspectiva, a prevenção primária é a mais eficaz, pois traz promoção da saúde e proteção mais específica. No entanto, as prevenções secundária e terciária também precisam ser levadas em consideração para que possíveis deficiências não decorram de problemas de saúde que podem ser evitados.

Por exemplo, no caso da Paralisa Cerebral (PC), um quadro clínico recorrente da deficiência física, Souza (1999) descreve uma série de fatores pré, peri e pós-natais que podem ocasionar a PC, como se pode observar no Quadro 3.

Quadro 3. Causas da Paralisia Cerebral: fatores pré, peri e pós--natais.

Pré-natais Perinatais Pós-natais- Predisposição a abortos.- Infecções.- Sangramento.- Drogas.- Traumatismos.- Desordens metabólicas.- Fator sanguíneo.- Irradiação.

- Hipóxia.- Hemorragias cerebrais.- Ablação da placenta.- Anóxia.- Infecções do Sistema Nervoso Central (SNC).- Prematuridade.- Pós-maturidade.

- Traumatismo craniano.- Desordens metabólicas.- Tumores cerebrais.- Distúrbios vasculares.- Meningites.

Fonte: adaptado de Souza (1999).

Os fatores apresentados no Quadro 3 também podem ocasionar, além da PC, outros quadros que delimitam a deficiência física, tais como a paraplegia, a paraparesia, a monoplegia, a monoparesia, a tetraplegia, a tetraparesia, a hemiplegia, a hemiparesia, a ostomia, o nanismo e membros com deformidade congênita. A deficiência física pode ser congênita ou adquirida; por isso, a adoção de algumas

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medidas (acompanhamento pré/pós-natal, realização dos testes da orelhinha e pezinho, dentre outras) pode evitar muitos casos.

Nessa perspectiva, é fundamental que os professores em formação e demais profissionais da educação possuam conhecimentos tanto sobre a prevenção, a caracterização e o atendimento educacional de alunos com deficiência física. No próximo tópico, serão apresentados aspectos históricos, políticos e legais do AEE, bem como a utilização de recursos de Tecnologia Assistiva (TA), Comunicação Alternativa (CA) e atividades de vida diária para os estudantes com deficiência física.

3. POLÍTICAS PÚBLICAS E ATENDIMENTO EDUCACIO-NAL ESPECIALIZADO

A Constituição Federal (BRASIL, 1988) apresenta, no artigo 6º, a educação como um direito social, sendo competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios “[...] proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência” (BRASIL, 1988, p. 13). A Educação Básica como direito foi sendo garantida na legislação brasileira ao longo da história, o que traduziu atualmente uma iniciativa do Poder Público no oferecimento da educação obrigatória e gratuita dos quatro aos dezessete anos4 (BRASIL, 2013).

O mais recente Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) apontou que 7,5% das crianças de zero a quatorze anos apresentam pelo menos algum tipo de deficiência, sendo que, na prevalência das deficiências investigadas, incide em pessoas de quinze a sessenta e quatro anos, atingindo mais de 24,9%. Os dados evidenciam fatores como a ausência de políticas sociais para atendimento desse público nas diversas esferas.

No contexto da Educação Especial, a década de 1990 ocasionou mudanças na legislação e no paradigma de atendimento às 4 A redação original da Constituição Federal (1988) previa apenas a oferta do Ensino Fundamental como obrigatório e gratuito. Posteriormente, essa obrigatoriedade/gratuidade passou a ser estendida à parte da Educação Infantil e ao Ensino Médio, como pode ser observado na Emenda Constitucional nº 59/2009 e na Lei nº 12.796/2013.

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pessoas com deficiência, presentes principalmente em documentos normativos resultantes de acordos internacionais dos quais o Brasil foi signatário, tais como a Declaração de Jomtien (UNESCO, 1990), resultante da Conferência Mundial sobre Educação para Todos.

A Lei de Diretrizes e Bases – LDB5 legitima, no artigo 59, que os sistemas de ensino devem assegurar aos educandos público-alvo da educação especial: (a) currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos; (b) flexibilidade para a conclusão da etapa escolar aos superdotados e terminalidade específica; (c) professores com especialização adequada em nível médio ou superior; (d) educação especial para o trabalho; (e) acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais (BRASIL, 1996).

Em 2008, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) é publicada objetivando a articulação intersetorial nas políticas públicas e na formação de professores e demais profissionais da educação para a inclusão escolar. Para tanto, os sistemas de ensino devem promover respostas às necessidades do alunado. O documento define como PAEE os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, definindo cada um deles.

Ao mesmo tempo em que os direitos dessas pessoas passam a ser reconhecidos, o discurso legislativo nacional incorpora prerrogativas de documentos internacionais. A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, realizada em 30 de março de 2007 em Nova York, é promulgada no Brasil por meio do Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. O documento reafirma que:

[...] as crianças com deficiência devem gozar plenamente de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais em igualdade de oportunidades com as outras crianças e relembrando as obrigações assumidas com esse fim pelos Estados Partes na Convenção sobre os Direitos da Criança (BRASIL, 2009).

5 Na redação dada pela Lei nº 12,796/2013, a Lei de Diretrizes e Bases tem o termo “portadores de necessidades especiais”, substituído pelos termos “[...] educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação” (BRASIL, 2013, n.p.).

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Sendo assim, o Brasil compromete-se em assegurar e promover o exercício dos direitos humanos para as pessoas com deficiência sem discriminação. No contexto educativo, o documento dá muita ênfase na necessidade de não discriminar nenhuma pessoa em virtude de sua deficiência. Além disso, os ambientes escolares devem maximizar o desenvolvimento social e acadêmico dos educandos (BRASIL, 2009).

Marcos políticos do Atendimento Educacional Especializado

O artigo 1º do Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011, dispõe sobre a Educação Especial e o AEE, passando a dispor so-bre o dever do Estado com a educação dos estudantes PAEE. Se-gundo o documento, a educação especial deve garantir os serviços de apoio especializado voltado a eliminar as barreiras que possam obstruir o processo de escolarização (BRASIL, 2011). São obje-tivos do AEE:

I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e garantir serviços de apoio especializados de acordo com as necessidades individuais dos estudantes;

II - garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular;

III - fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e

IV - assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino. (BRASIL, 2011, n.p.).

Por meio da concretização dos objetivos do AEE, deve-se prover aos estudantes com deficiência física condições de acesso, participação e aprendizagem, bem como condições para a continuidade dos estudos. A partir disso, um dos maiores desafios para a efetivação da inclusão escolar desses alunos tem sido a garantia da educação especial como transversal e o trabalho

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colaborativo dos profissionais da sala de recursos multifuncionais6 e da sala comum.

Com base em orientações para o atendimento desses estudantes nas salas de recursos multifuncionais ou nas salas comuns, serão apresentadas, no próximo tópico, as contribuições da utilização dos recursos de tecnologia assistiva, comunicação alternativa e outros recursos didático-pedagógicos que podem ser utilizados por profissionais da educação que atuam com estudantes que apresentam os mais diversificados quadros de deficiência física.

Contribuições da Tecnologia Assistiva

A Tecnologia Assistiva (TA) é uma estratégia muito utilizada em prol da acessibilidade e da educação de indivíduos com deficiência, além de previsto pela legislação (BRASIL, 2011). Dentre os conceitos de TA, tem-se o da ABNT-NBR (2004), o qual se baseia no “[...] conjunto de técnicas, aparelhos, instrumentos, produtos e procedimentos que visem auxiliar a mobilidade, a percepção e a utilização do meio ambiente e seus elementos por pessoa com deficiência” (ABNT, 2008, p. 3).

Esse tipo de tecnologia pode ser classificado em baixa e alta tecnologia que, de acordo com Marins (2011, p. 23):

[...] a baixa tecnologia é caracterizada pelo baixo custo, simplicidade de confecção e facilidade de ser obtida, enquanto que a alta tecnologia envolve alto custo, maior elaboração na produção e maior dificuldade em ser obtida.

Alguns autores citam exemplos de recursos de alta e baixa tecnologia e destacam a importância da utilização desses recursos no avanço do processo de ensino de crianças com necessidades educativas especiais (PELOSI; NUNES, 2009; BERSCH, 2013; CORREIA; CORREIA; FRASSINETTI, 2005).

6 As salas de recursos multifuncionais são espaços organizados com equipamentos de informática, tecnologia assistiva, materiais pedagógicos e mobiliários adaptados para o atendimento dos alunos PAEE. Objetivam apoiar os sistemas públicos de ensino na organização e oferta do AEE, visando contribuir para o fortalecimento do processo de inclusão educacional nas classes comuns de ensino.

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Em relação aos recursos de alta tecnologia, têm-se os facilitadores de comunicação oral e escrita com utilização do computador (PELOSI; NUNES, 2009), os vocalizadores elaborados por meio de pranchas com produção de voz, computadores com softwares específicos e pranchas dinâmicas utilizadas através do tablet (BERSCH, 2013), o teclado de conceitos, que facilita a aprendizagem de crianças com necessidades educacionais especiais por meio do uso do computador, escrita com símbolos que incorpora um sintetizador de voz em português que permite ler tudo o que está escrito, facilitando a expressão e comunicação, jogos educativos em aplicativos que podem ser utilizados no computador ou tablet, além de outros softwares disponíveis na rede mundial de computadores (CORREIA; CORREIA; FRASSINETTI, 2005)7.

Como exemplos de recursos de baixa tecnologia, pode-se citar a confecção de acionadores artesanais, interruptor de pilha e comunicador (PELOSI; NUNES, 2009), confecção de cartas para comunicação (BERSCH, 2013), grelhas para impressão (que são quadros de comunicação e materiais de aprendizagem bastante úteis construídos e impressos que incluem informações sobre horários), fichas de trabalho, livros de comunicação, jogos, símbolos coloridos ou em preto e branco de expressões do rosto ou de objetos, e ainda os jogos educativos (CORREIA; CORREIA; FRASSINETTI 2005).

A Tecnologia Assistiva é classificada, ainda, em categorias de acordo com a finalidade do recurso, o que contribui para a “[...] utilização, prescrição, estudo e pesquisa de recursos e serviços em TA, além de oferecer ao mercado focos específicos de trabalho e especialização” (BERSCH, 2013, p. 4). Para este trabalho, optou-se por considerar a descrição de José Tonolli e Rita Bersch, realizada em 1998 e descrita por Bersch em 2013, que é organizadas e apresentada no Quadro 4:

7 Exemplos de softwares voltados para as necessidades educativas especiais podem ser encontrados nas páginas: <http://www.papim.com> e <http://www.cercifaf.org.pt/mosaico.edu/> (CORREIA; CORREIA; FRASSINETTI, 2005).

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Quadro 4. Categorias da Tecnologia Assistiva de acordo com Bersch (2013).

Categoria DescriçãoAuxílios para a vida diária e prática

São aqueles que contribuem para a autonomia no desenvolvimento de atividades como alimentar, vestir, tomar banho, cozinhar, dentre outros.

Comunicação alternativa e aumentativa

Voltadas para pessoas com limitações na fala e/ou escrita. Utilizam-se pranchas de comunicação (eletrônicos ou não) com simbologia gráfica para expressar suas questões, desejos, sentimentos, entendimentos.

Recursos de acessibilidade ao computador

Adaptações físicas (no teclado, tela, mouse) e criação de softwares (ajuste de cores, tamanho, leitor de texto, impressão em relevo) para uso do computador.

Sistemas de controle de ambiente

Utilização de sistemas eletrônicos por pessoas com limitações motoras para utilizar equipamentos eletrônicos (televisão, luz, som, ventilador, dentre outros).

Projetos arquitetônicos para acessibilidade

Adaptações estruturais que facilitem a mobilidade da pessoa com deficiência física ou sensorial (rampas, elevadores, etc.).

Órteses e próteses Recursos que substituem partes do corpo (prótese) ou que auxiliam na mobilidade (órtese).

Adequação Postural Adaptações que visem o conforto, estabilidade e melhora postural (assentos e encostos anatômicos, almofada especial, dentre outros).

Auxílios de mobilidade Recursos que auxiliem a mobilidade pessoal, tais como bengala, muleta, andador, cadeira de rodas, dentre outros.

Auxílios para pessoas com baixa visão ou cegas

Auxílios como lentes, lupas manuais, lupas eletrônicas, softwares ampliadores de tela, material gráfico com texturas e relevos, etc.

Auxílios para pessoas com surdez ou com déficit auditivo

Auxílios que inclui vários equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para surdez, telefones com teclado – teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual, entre outros.

Mobilidade em veículos Acessórios e adaptações que possibilitam a condução do veículo, elevadores para cadeiras de rodas, carros modificados.

Esporte e Lazer Recursos que favorecem a prática de esporte e participação em atividades de lazer.

Fonte: adaptado de Bersch (2013).

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Inúmeros recursos envolvem o uso de tecnologia assistiva para a inclusão de alunos com deficiência física na escola. Segundo Alves (2009), criar oportunidades para o desenvolvimento de alunos com deficiência é possível por meio de materiais didáticos adaptados e recursos pedagógicos para o ensino dos conteúdos propostos nos currículos escolares.

Nas SRMs destinadas ao atendimento educacional especializado, o aluno com deficiência física deve experimentar várias opções de equipamentos até que encontre o que melhor se ajusta à sua necessidade e condição. Nesse sentido, é possível ensinar os mesmos conteúdos escolares propostos aos demais alunos da sala, porém, é necessário promover a participação desses alunos nas atividades.

A produção científica sobre a inclusão de alunos com deficiência cresceu nos últimos de forma significativa. Pesquisas problematizam questões como a formação docente, a acessibilidades, os recursos pedagógicos adaptados, a implementação das políticas públicas e o acesso e permanência de pessoas com deficiência na escola de ensino regular (ARAUJO, 2007).

O estudo desenvolvido por Alves (2009), que identificou os efeitos do uso da tecnologia assistiva no contexto da escolarização do aluno com paralisia cerebral a partir de sua própria percepção, do seu cuidador e de seu professor, revelou que professores, cuidadores e as crianças participantes reconheceram que esses recursos favorecem o processo de escolarização dos escolares com paralisia cerebral, sendo um recurso auxiliar à produção, à participação e à escolarização.

No contexto educacional, para descrever a utilização de recursos pedagógicos de acessibilidade na escola, é preciso estar atento às características do aluno, à atividade que o professor propõe na sala de aula e aos objetivos educacionais que pretendem ser alcançados (SARTORETTO; BERSCH, 2010).

Uma das principais categorias da TA é a comunicação alternativa. Devido a essa importância, nesse trabalho, será dado destaque a esta categoria, que é considerada parte do processo de escolarização.

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A comunicação é destinada a pessoas sem fala ou sem escrita funcional, com defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade em falar ou escrever com o objetivo de ampliar as habilidades de comunicação (BERSCH; SCHIRMER, 2005; SARTORETTO; BERSCH, 2010).

Para Gomes e Barbosa (2006), o Brasil ainda está em processo de efetivação da proposta da educação inclusiva, uma vez que ainda existem barreiras a serem superadas. Ao mesmo tempo, acredita-se que, sem recursos pedagógicos adaptados, recursos de tecnologia assistiva e de comunicação alternativa, não há inclusão efetiva, pois são itens necessários para aprimoramento da relação entre o deficiente e a sociedade (SILVA; VINENTE; MATOS, 2014).

Diversos autores abordam a comunicação suplementar (complementação alternativa8) e ressaltam a importâncias dessa estratégia no processo educacional, bem como no desenvolvimento da linguagem oral, escrita e visual (SILVA, 2006; POSONI, 2010).

Silva (2006) e Posoni (2010) desenvolveram estratégias de comunicação suplementar com indivíduos com PC, respectivamente, a utilização de pranchas de comunicação de baixa tecnologia por meio do sistema Picture Communication Symbols e aplicação de um programa de intervenção do recurso de comunicação narrativa. Os resultados de ambos os estudos foram positivos, facilitando a autonomia, o acesso à informação, o desenvolvimento de linguagens, bem como o aumento de habilidades expressivas desses escolares.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho foram apresentadas informações sobre a deficiência física: conceitos, tipos e política, com base nos principais autores da área e na legislação vigente. Uma das principais formas de prevenção da deficiência física está no acompanhamento com profissional desde as fases iniciais do período gestacional.

As políticas educacionais referentes a esse público-alvo também foram abordadas, bem como as estratégias do Poder Público para 8 É importante ressaltar alguns autores utilizam a expressão “comunicação suplementar”; outros utilizam “comunicação aumentativa”; porém, ambas têm o mesmo significado.

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sua permanência em ambientes escolares. Discutiu-se o atendimento educacional especializado aos estudantes com deficiência física, no qual se insere o uso da tecnologia assistiva para a potencialização das habilidades de pessoas com deficiência física, visando à sua autonomia e efetiva participação.

As imagens apresentadas, com base nos escritos de Bersch (2013), proporcionam uma noção dos principais recursos de TA utilizados por deficientes físicos, bem como sugerem estratégias que podem ser utilizadas por docentes e por outros profissionais que atuam com essa população-alvo.

Entende-se que, apesar de a garantia ao acesso ao sistema educacional ser uma das questões fundamentais para o sucesso escolar, se deve pensar em outras questões, como o preparo do docente para atuação com essa população, bem como a concessão de uma estrutura que contemple as demandas dos deficientes físicos. Para isso, faz-se necessária a intervenção do Poder Público através da realização de maiores investimentos no sentido de oferecer cursos de formação aos professores e atenção à saúde da população brasileira, para que a prevenção de acometimentos físicos seja privilegiada.

Considera-se que este material trouxe contribuições para área do conhecimento em educação especial que podem subsidiar a realização de estudos futuros que promovam novas reflexões sobre a deficiência física no âmbito da educação especial.

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