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Privacidade na web: você acredita que ela existe? A DÍVIDA PÚBLICA DO ESTADO Novo perfil social reconhece o grafite como valor cultural Página 6 Entenda como o Estado chegou a este cenário. Página XX ARTE URBANA E OS JOVENS

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Page 1: Especializado News

Privacidade na web: você acredita que ela existe?

A DÍVIDA PÚBLICA DO ESTADO

Novo perfil social reconhece o grafite como valor culturalPágina 6

Entenda como o Estado chegou a este cenário.Página XX

ARTE URBANA E OS JOVENS

Page 2: Especializado News

CAPA PÁGINA 08Privacidade na web: você acredita que ela existe?

Nesta edição:

COMPORTAMENTODepressão é a doença que mais afeta os jovens do século XXI

CVV aponta aumento de casos de suicídio entre jovens

O percurso do ciclismo em Porto Alegre

TECNOLOGIAPrivacidade na web: você acredita que ela existe?

CULTURA

POPULAR

ESPORTE

POLÍTICA

ECONOMIA

RURAL

AMBIENTAL

03

04

05Arte urbana dita novo perfil comportamental 06

08

Universo Heavy Metal retratado em longa metragem 12Bom Fim: um bairro, muitas histórias 13Sebos e tecnologia: amigos ou adversários? 14

Moradores da Dique lutam para permanecer na comunidade 15Mercado Público segue reerguendo após incêndio 16

Mercado Público segue reerguendo após incêndio 18A ciência quebrando recordes 20

A Reforma Política e o Espelho de Ojesed 17

Para entender a Dívida Pública Estadual

Suco de uva orgânico é a aposta de casal de médicos

RS 2030: novos cenários desafiam o futuro do Estado

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Eucalipto: vilão ou herói dos Pampas?

Cultivo orgânico cresce, mas custo ainda é alto

A lavoura embranqueceu

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28Controvérsias além do rótulo

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O papel da educação ambiental na preservação da água

Situação precária de lixão irregular em São Borja

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Tecnologia sem fio paraimpulsionar as vendas 10

A Especializado News se propõe a tratar dos temas mais diversos, sejam eles históricos, atuais ou projeções. Cada repórter tem a liberdade para abordar a pauta através do ângulo que achar ide-al, dando a cada publicação um toque pessoal, principal carac-terística da Especializado. Essa liberdade não garante, em hipó-tese alguma, que preceitos bási-cos do jornalismo sejam esque-cidos ou ignorados. Todas as matérias veiculadas em qualquer edição desta revista buscam a is-enção e a isonomia, afim de che-gar ao melhor produto final para o leitor.

A Especializado não tem a pre-tensão de julgar o certo e o erra-do, e, menos ainda, de ditar ao leitor o que pensar. Trabalhamos sob o ideal de que o papel da im-prensa é dar ao leitor ferramentas para que, junto com seus ideais, entenda e interprete o mundo ao seu redor.

Nesta primeira edição, a Espe-cializado News aborda temas de nove editorias diferentes, dando ao leitor um panorama que vai do esporte à agricultura, passando por economia e tecnologia. Cada reportagem é trabalhada com ig-ual cuidado e relevância, para levar ao público todos os pon-tos de vista, de uma forma leve e prazerosa.

EDITORIAL

Porto Alegre, 22 de junho de 2015.

Page 3: Especializado News

De acordo com um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em maio de 2014, a depressão é o principal problema de saúde entre os adolescentes. Esse fator é dire-tamente relacionado ao suicídio, uma das três maiores causas de morte na faixa etária de 10 a 19 anos. Segundo a Associação Brasileira de Psicanálise, este distúrbio emocional atinge cerca de 10% dos adolescentes e 2% a 5% das crianças brasileiras, afetando diversas áreas de suas vidas.

O estresse crônico é um dos transtornos psiquiátricos mais comuns e faz com que a pessoa tenha dificuldade de relacionamento. Também interfere na habilidade para estudar e em hábitos simples, como comer e dormir, po-dendo provocar anorexia e insônia. Conforme o Ministério da Saúde, os sintomas devem trazer sofrimento significativo, alterar a vida social, afe-tiva ou laboral do indivíduo e não ser a causa de um luto recente. É comum um jovem depres-sivo sentir-se triste durante a maior parte do dia, como, também, perder o prazer ou o interesse em atividades rotineiras, ter irritabilidade, deses-perança, dificuldade de concentração, entre out-ros fatores.

A assessora do Departamento Pedagógico da Secretaria Estadual da Educação (Seduc), Lú-cia Guazzelli, alertou para importância de tratar sobre estas dificuldades emocionais no âmbito escolar. “Essas disfunções psicológicas que os estudantes apresentam, dificultam e, às vezes, até impedem que hajam progressos na apren-dizagem. É preciso que as escolas estejam aten-tas quanto a detecção e encaminhamento de situações problemáticas”, comenta a professora. Segundo ela, anos atrás já existiam pessoas que previram a depressão como o mal do século e, atualmente, os números vem aumentando. De acordo com a OMS, a depressão é considerada a quinta maior questão de saúde pública. E, até 2030, os estudos indicam que seja a principal causa de incapacidade em todo o mundo.

Os dados divulgados pela OMS ainda mostram que o Brasil é o quarto país latino-americano com o maior crescimento no número de suicídios en-tre 2000 e 2012 e o oitavo do mundo em númer-

os absolutos. Foram 11.821 suicídios no período, aumento de 10% em relação à década anterior. Para a psicóloga Vânia Franke, o ritmo de nossa sociedade deixa pouco tempo para o convívio e afeto de pais com seus filhos. “Vemos que, na maioria das famílias, as crianças e jovens vão cedo para a escola e pouco convivem com seus pais, que também têm uma longa rotina de tra-balho. Aí está uma das raízes do aumento des-sas perturbações.”, explica.

É possível enxergar essa realidade dentro das escolas, seja particular ou estadual. No Colégio Marista Assunção, em Porto Alegre, cerca de 15% dos alunos de ensino fundamental apre-sentam quadros psicológicos alterados. Já na Escola Estadual Plácido Castro, seis em cada dez alunos apresentam problemas emocionais. “Quando percebemos que algum aluno está em crise, tentamos realizar uma conversa calma, buscando trazê-lo para a realidade. Muitos são carentes de afeto.”, comenta a diretora da escola estadual, Iara Strack.

As instituições educacionais dispõem do

Serviço de Orientação Educacional, que atua diretamente com os pais, professores e alunos que apresentam dificuldades nas áreas afetiva, cognitiva e social. Assim, realizam encaminham-entos necessários juntamente aos órgãos gov-ernamentais disponíveis no âmbito Municipal, Estadual ou Federal, a depender da situação es-pecífica, na busca de alternativas para minimizar dificuldades pedagógicas, investigando as impli-cações da defasagem de aprendizagem.

Nos casos que apresentam esse tipo de con-flito emocional na infância ou adolescência e não adquirem um diagnóstico, a probabilidade de ter o segundo em dois anos é de 40%, e de 72% em 5 anos. Especialistas afirmam que é preciso prestar atenção a qualquer sinal que a criança ou o adolescente demonstre de sinais tristeza pro-longada, mudança brusca de comportamento e intolerância. Os tipos de tratamento são diversi-ficados, podendo ser uma alteração de estilo de vida, psicoterapia ou a utilização de medicamen-tos, estes indicados pela clinica resp’ons’ável pelo acompanhamento do caso.

ESPECIALIZADO NEWS03

Depressão é a doença que mais afeta os jovens do século XXI

O aumento do diagnóstico desta doença na etapa anterior à vida adulta demonstra o pouco cuidado que se tem em relação ao estado emocional da juventude

Por Edissa Waldow

A Depressão pode interferir significativamente na vida diária, nas relações sociais e no bem-estar do adolescente.

COMPORTAMENTOFO

TO: ED

ISSA W

ALD

OW

Page 4: Especializado News

O Centro de Valorização a Vida, mais conhecido pela sigla CVV, é uma das maiores e mais antigas entidades sem

fins lucrativos do Brasil. Com 53 anos de existên-cia, o Centro tem como missão valorizar a vida, de forma com que as pessoas com problemas tenham uma vida mais plena e evitem o suicídio. Tem como principais valores o comprometimen-to e a disciplina, a direção centrada no grupo, a confiança na tendência construtiva e da natureza humana, o trabalho voluntário motivado pelo es-pírito samaritano de acordo com a proposta de vida e o aperfeiçoamento contínuo.

Nos últimos anos a tendência de suicídio entre os jovens vem aumentando mais e mais. Apenas nos últimos 25 anos, foi contabilizado um aumen-to de 30% na taxa de suicídio entre os jovens de todo o país. Mas a que se deve esse aumento? A diretora da sede do CVV de Porto Alegre, Adri-ana Machado, conta que a maioria dos jovens que procuraram a entidade por cogitarem o suicí-dio são motivados por problemas familiares, de-cepções com pessoas as quais confiavam, per-da de entes queridos, decepções ou desilusões em sequência que as fazem perder a vontade de viver, entre outros fatores. “A maioria dos jovens que contata o centro relata algum acumulo de carência emocional que o levou a depressão e a consequente vontade de cometer o suicídio”, relata Adriana.

Todos os casos que chegam até o CVV são tratados de forma que o paciente volte a se sen-tir bem e inserido no mundo o qual vivia antes. São inicialmente realizadas conversas, onde o voluntário sente qual a maior carência do paci-ente para ai trabalhar em cima dela através de palestras motivacionais, conversas psicológi-cas, além da realização de atividades de lazer e cultura que façam com que a pessoa que tenha tendência ao suicídio volte a ter esperanças de viver. Geralmente, o centro apresenta bons re-sultados perante aos casos tratados e se man-tém como exemplo a ser seguido nesse âmbito. Adriana cita que nenhum caso é perdido, apenas batalhado para ser recuperado.

Perguntado sobre um caso que tenha o mar-cado durante seus cinco anos de CVV, o vol-

untário Marcos Antunes cita o caso da menina Laura. “Ela contatou a gente pelo site falando que sofria de diversos problemas, mas os prin-cipais eram dentro de casa. O pai bebia e além de agredir a mãe na sua frente, cometia abusos sexuais com a mesma. Tudo isso além de cau-sar um grande trauma a desmotivou totalmente. Ela chegou sem perspectiva alguma de melhora, muito embora que estivesse procurando ajuda.

Tinha todos os motivos do mundo para se sentir de tal forma que se sentia. Eu mesmo com toda minha experiência na entidade, acreditava muito pouco em uma total volta por cima. Mas através de nossa luta e de nossos programas oferecidos conseguimos salvar a vida da Laura e hoje ela e feliz e nos agradece sempre que possível pela diferença que conseguimos fazer em sua vida”.

ESPECIALIZADO NEWS04

CVV aponta aumento de casos de suicídio entre jovens

Segundo o Centro de Valorização a Vida (CVV), a taxa aumentou em 30% nos últimos 25 anos no país

Por Bárbara Benini

Nos últimos 25 anos, a taxa de suicídio no Brasil foi de 30% entre os jovens.

COMPORTAMENTOFO

TO: BÁ

RBARA

BENIN

I

Page 5: Especializado News

A bicicleta é utilizada para o esporte desde 1890. Nas áreas urbanas, principalmente no Brasil, ainda é novidade. Além da prati-

cidade, a bicicleta é uma alternativa menos polu-ente e mais econômica para o dia-a-dia. Para dar espaço a esse novo integrante no trânsito, algu-mas mudanças estão acontecendo. Atualmente, existem em torno de 35 milhões de bicicletas us-adas como meio de transporte no país. No entan-to, as ciclovias representam apenas 1% da malha viária das capitais.

Quem opta pela bicicleta como meio de trans-porte pensa em agilidade, praticidade, sustent-abilidade, saúde e economia. Rafael Guimarães, funcionário do Banco Central, relata que se tornou ciclista quando percebeu que o tempo de trajeto de sua casa para o trabalho era quase o mesmo de bicicleta e de carro. Para veículos automotores, o trânsito era muito lento e já com a bicicleta, ele encontrava um trânsito com um fluxo melhor e ao mesmo tempo se exercitava. Ana Inés Latorre, juí-za federal, fez a escolha devido ao menor impacto ao ambiente, os benefícios para a saúde e o dese-jo de escapar do trânsito. Mateus Cócaro, técnico em enfermagem, foi incentivado pelo irmão mais novo, que já era ciclista. “A sensação de viver e in-teragir com o que está ao redor de maneira plena e ativa me conquistou desde o primeiro desloca-mento de bicicleta pela cidade”, conta.

O Plano Diretor Cicloviário Integrado (PDCI) de Porto Alegre, criado em 2008, planejava a criação de uma rede de extensão de ciclovias e ciclofaixas para garantir a bicicleta como meio de transporte para cerca de 200 mil habitantes. Dos 495 quilômetros previstos, apenas 24,7km estão concluídos. No último ano, as ciclovias ganha-ram apenas 3,8 quilômetros novos. Pablo Weiss, presidente da Associação dos Ciclistas de Porto Alegre (ACPA), critica os trechos que já estão finalizados. “As partes que apresentam pontos cegos mostram a falta de planejamento dessas obras”, declara. Também reclama da ciclovia da Av. Ipiranga que, além de estreita, tem muitos ob-stáculos em seu caminho. Para Cócaro, são mui-to mal planejadas e por vezes roubam espaço do pedestre. “As ciclovias que temos são para ciclis-tas de lazer que pretendem fazer um passeio no

final de semana”, explica. O crescimento do ciclismo nas ruas tem re-

flexos no aquecimento do mercado de bicicletas e acessórios. Segundo a Abraciclo, o Brasil é o quinto maior mercado consumidor e o terceiro maior produtor de bicicletas do mundo. Do total de vendas no Brasil, cerca de 50% é voltada para a locomoção e transporte, 32% para o público in-fantil, 17% para recreação e lazer, e apenas 1% para competição. Sendo assim, a frota nacional de bicicletas conta atualmente com mais de 70 milhões de unidades, valor acima da frota de car-ros (cerca de 55 milhões) e de motocicletas (mais de 20 milhões). Em Porto Alegre, o comércio da área também sente o aumento da procura pelos artigos. Wagner Moreira, gerente comercial da loja Bike Sul, conta que, além de notar o cresci-mento das vendas, a procura é por produtos de melhor qualidade.

Parte da população ainda é resistente em relação ao uso da bicicleta como transporte. Có-caro acredita que a bicicleta pode substituir o carro no dia-a-dia. Mas avisa que escolher a bici-cleta como transporte principal não significa que abdicar de ter um carro. “Acho que se pode ter os dois e conseguir usar o carro apenas quando necessário”, relata. Guimarães vê a bicicleta como complementar ao carro no trânsito. “Não ando de bicicleta na chuva e nem quando estou cansado”,

conta. Para Ana Inés, depende de fatores como distância, tempo, relevo no trajeto, horário e se-gurança.

Uma das causas que levam as pessoas a adotarem a bicicleta como transporte é a bus-ca por uma vida fora do estresse do trânsito. No entanto, a juiza federal acredita que, em Porto Alegre, o trânsito é mais estressante para o ci-clista. “Quem está de carro não precisa temer por sua vida constantemente, como o ciclista”, relata. Ela explica que andar de carro ainda é mais tran-quilo, apesar dos engarrafamentos. O funcionário do Banco Central acha que a opção de andar de bicicleta torna o trânsito menos estressante ape-nas quando se está na ciclovia. Já para o técnico em enfermagem, o próprio ato de pedalar dese-stressa. Mas ele lembra que existe o estresse da atenção redobrada ou o de quando se passa por alguma adversidade, como um pneu furado em um temporal.

A falta de respeito parte tanto dos motoristas como dos pedestres, relata o funcionário públi-co. Ele conta que não anda fora das ciclovias por medo de carros, ônibus, lotações e caminhões e pedestres que utilizam a via como calçada. Para a magistrada, o maior problema da bicicleta como meio de transporte é a insegurança, sendo ela devido ao trânsito ou a vulnerabilidade a roubos e outros ataques.

ESPECIALIZADO NEWS

Ciclistas que escolheram usar a bicicleta também como meio de transporte defendem agilidade, saúde, praticidade, economia e sustentabilidade.

O percurso do ciclismo em Porto Alegre

O uso da bicicleta se transforma: em vez de pedalar apenas por esporte ou lazer, os ciclistas concretizam uma nova forma de transporte que preserva o meio-ambiente

Por Luísa Franke

05

COMPORTAMENTOFO

TO: LU

ÍSA FRA

NK

E

Page 6: Especializado News

Cultura erudita, cultura tradicional cam-ponesa, separação entre “alta cultura” e cultura popular, cultura burguesa e cultu-

ra de massa. São muitas as transformações do que se considera “cultura” ao longo dos anos. Isso porque esse termo é entendido como um processo de adaptação e readaptação social e historicamente datadas de um conjunto de man-ifestações artísticas, sociais, linguísticas e com-portamentais de uma determinada sociedade.

Segundo o professor e doutor em História, Charles Monteiro, cultura é sinônimo do que é produzido e criado socialmente. Dessa forma, um critério para se considerar um movimento cultural seria o reconhecimento dele como tal. O problema é que, às vezes, essas manifestações

encontram resistência por parte da sociedade, que vê nas antigas tradições uma forma segu-ra de manutenção da ordem. Geralmente, esse impasse se dá com as gerações mais velhas. “Os jovens teriam menos bagagem cultural e experiência e estariam, em certo sentido, mais abertos a experimentar novas práticas e novos modos de fazer diferentes dos tradicionais”, es-clarece Charles.

Confirmando essa teoria, um movimento que iniciou como uma manifestação jovem e sem reconhecimento é a arte urbana. Obras que ligam a realidade dos seus artistas com a arte eram an-tes vistas como rueiras e ligadas ao vandalismo, sendo hoje consagradas e consideradas como parte cultural brasileira. Porém, vale lembrar que

esse processo de valorização do “urbano” foi um processo longo para quem se envolveu.

Preconceito, descrença e negação foi como começou a história do grafite no Brasil e no mundo. Considerada como poluição visual por pintar muros de locais públicos, essa forma de expressão ganhou força em Nova Iorque na dé-cada de 70, quando jovens começaram a fazer uma crítica social através de desenhos. Logo de-pois disso, essa arte chegou ao Brasil e conquis-tou muitos amantes, principalmente das classes mais desfavorecidas.

Em Porto Alegre, um grupo de amigos se jun-tou há quase seis anos para desenvolver essa arte como trabalho. O Núcleo Urbanóide tem o objetivo de defender a promoção e a execução

ESPECIALIZADO NEWS06

Arte urbana dita novo perfil comportamental

Antes marginalizado, esse movimento é atualmente reconhecido como verdadeira ação social

Por Nathalia Pessel

Elementos do estilo urbano já são os novos desejos de compra de consumidores.

COMPORTAMENTOFO

TO: N

ATHA

LIA PESSEL

Page 7: Especializado News

de projetos visuais de arte urbana e design autoral. O projeto ainda é responsável pela orga-nização de workshops para difundir essa cultura. Segundo um dos grafiteiros do grupo e tatuador Lucas Pasecinic, conhecido como “Paçoka”, o grafite começou a conquistar espaço natural-mente quando “as pessoas entenderam que o foco dessa arte é embelezar lugares públicos, não os vandalizar”, explicou. Porém, o profis-sional admite que ainda há preconceito com essa forma de expressão, uma vez que existe uma diferenciação entre a forma como valorizam as obras expostas em galerias daquelas que estão nas ruas.

Outro movimento que teve história semelhan-te a essa é o do rap. Muito ligado ao grafite, esse estilo musical nasceu nos guetos jamaicanos na década de 1960, quando foi levado para ser comercializado nos Estados Unidos. No Brasil, essa moda só chegou em 1980, quando grupos da periferia se reuniram na estação São Bento, em São Paulo, para criar rimas e mixar a bati-

da musical. Porém, com as canções abordando aspectos sociais, criticando governo e relatando situações vividas nos subúrbios, o rap sempre foi uma cultura ainda mais difícil de ser reconhecida.

Quem vive diariamente essa realidade é a ban-da gaúcha Viralataz. Segundo um dos vocalistas do grupo, Gustavo Vianna, o Negão, esse estilo, apesar de ainda enfrentar bastante preconceito, já avançou muito no que se refere a alcançar pú-blico. Para ele, por mais que algumas pessoas não gostem da batida, elas conhecem e enten-dem que é uma forma de expressão. “Alguns artistas de rap, que já são mais reconhecidos, enriqueceram o cenário musical e oportunizaram o crescimento dos movimentos independentes”, justificou o MC.

Esses dois exemplos remetem a uma nova mudança do que consideramos ser o cenário cultural brasileiro. Essa alteração, que pulou os muros da cidade, mostra uma sociedade mais aberta ao diferente, ao dinâmico e ao movimen-to. Observando as mudanças artísticas do Brasil,

quem ditava essas modificações era sempre a classe dominante da vez. Hoje, diferente disso, é a própria comunidade quem determina o que pode ser considerado cultura. Essa valorização da arte urbana à categoria cultural representa, assim, um novo perfil social brasileiro, que aceita movimentos que nasceram na rua, foram feitos para ela e através dela. Esses dois exemplos remetem a uma nova mudança do que consider-amos ser o cenário cultural brasileiro. Essa alter-ação, que pulou os muros da cidade, mostra uma sociedade mais aberta ao diferente, ao dinâmi-co e ao movimento. Observando as mudanças artísticas do Brasil, quem ditava essas modifi-cações era sempre a classe dominante da vez. Hoje, diferente disso, é a própria comunidade quem determina o que pode ser considerado cul-tura. Essa valorização da arte urbana à categoria cultural representa, assim, um novo perfil social brasileiro, que aceita movimentos que nasceram na rua, foram feitos para ela e através dela.

A mistura de desenho e escrita é uma das principais combinações do grafite.

ESPECIALIZADO NEWS07

FOTO

: NATH

ALIA

PESSEL

Page 8: Especializado News

A internet consome grande parte de nossas vidas. Hoje é quase impossível se imaginar sem as redes sociais, os serviços do Google e a fa-cilidade de saber tudo a hora que for. Mas nem tudo na web vem ou vai de graça. Nossos dados, por exemplo, são informações valiosas que en-tregamos a empresas para usufruir de serviços. Afinal, você já se perguntou como o Facebook sugere quem são seus amigos mais próximos? Ou por que o seu perfume favorito aparece na tela do computador sempre que você acessa um site? Sim, eles cruzam informações e entendem bastante de você!

Uma pesquisa, desenvolvida pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Facul-dade de Administração, Contabilidade e Econo-mia da PUCRS, revelou o grau de preocupação dos brasileiros com relação à privacidade na

internet, em sites como o Facebook, Twitter, Ins-tagram, LinkedIn.

A pesquisa ouviu 11.004 pessoas das cinco regiões do Brasil, entre 2014 e 2015. Os resulta-dos mostram que 70,9% têm preocupação com a procedência dos seus dados preenchidos, prin-cipalmente nas regiões Sul e Sudeste ,  aonde a desconfiança com a privacidade dos usuários é maior.

Edimara, que trabalha com a privacidade de dados desde 2009, diz que esse assunto é bastante discutido internacionalmente, mas que no Brasil tem pouca repercussão. Segundo ela, apesar dos brasileiros se preocuparem com a procedência das suas informações, eles descon-hecem para que os seus dados são usados na internet.

Senhas, número de cartão de crédito, de

conta corrente e agência, saldo bancário, gastos com cartão de crédito e limite de cheque especial são algumas das informações apon-tadas como mais preocupantes. Entre as infor-mações menos sensíveis estão orientação sex-ual, vícios, escola onde estudou ou estuda, data de nascimento e notas escolares.

O processo funciona assim: as empresas pre-cisam conhecer melhor o seu público para vend-er mais e driblar a concorrência. Para isso, elas apostam na análise de Big Dates e identificam os perfis para realizar vendas personalizadas.

- “A venda de informação é o grande negócio do século XXI. Os resultados disso vão desde mostrar um anúncio que você não deseja, até a divulgação de coisas específicas ou simples-mente a venda de informações pessoais para a customização em massa”, comenta a professora.

ESPECIALIZADO NEWS08

TECNOLOGIA

Privacidade na web: você acredita que ela existe?

A troca e venda de informações é a grande sacada da publicidade para vender mais. Nesse processo, quem pode estar sendo impactado é você.

Por Camila Benvegnú

Senhas, número de cartão de crédito e conta corrente são informações que os usuários consentem em revelar na web

FOTO

: DC

AM

ILA

BEN

VEG

Page 9: Especializado News

O Marco CivilO Marco Civil da Internet (oficialmente chama-

do de Lei nº 12.965, aprovado em 23 de abril de 2014) é a lei que regula o uso da Internet no Brasil. O artigo sete do documento garante ao usuário o seguinte direito: “não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive reg-istros de conexão, e de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, ex-presso e informado ou nas hipóteses previstas em lei”.

Para o especialista em Cultura Digital Vinícius Ghise, as pessoas não consideram que antes de entrar em qualquer rede social, você preci-sa aceitar determinados termos de uso, perten-centes a uma organização privada. Nesse pro-cesso, os dados pessoais vão sendo acumulados numa base cada vez maior de inteligência, para que as empresas possam oferecer produtos com mais assertividade. Com isso, apesar de você usufruir do serviço sem um custo físico, você é ser impactado por publicidade.

- “Quando você não paga por um produto, o produto é você”, comenta Ghise.

O problema está no momento em que nin-guém lê esses termos e, portanto, não sabe o que é feito com os seus dados. Para o especial-ista, o primeiro passo é ter uma consciência de que existem organizações globais que vão acu-mulando informações, fazendo alianças estraté-gias, para conseguir agregar cada vez mais in-formações das pessoas no seu banco de dados.

O caso SnowdenVocê deve se lembrar de Edward Snowden,

um analista de sistemas, ex-funcionário da Agên-cia Central de Inteligência (CIA) e ex-contratado da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos da América. Em junho de 2013, através do site The Intercept, ele revelou docu-mentos secretos que declaram como o governo americano monitora seu povo. Segundo as rev-elações, a NSA é acusada de desenvolver um sistema para gerir milhões de computadores in-fectados por códigos espiões, o Turbine.

Neste mesmo ano, Snowden fez outra reve-lação que afetou a segurança de dados do gov-erno brasileiro. Segundo ele, e o governo amer-icano espionou ligações telefônicas e troca de e-mails de empresas e políticos brasileiros — o que gerou certo desconforto entre as autoridades dos dois países e a expulsão de Snowden do ter-ritório estadunidense. Segundo Edimara, o caso contribui para que o assunto passasse a ser mais conhecido e debatido entre os brasileiros.

- “O caso fez com que aumentasse o nível de preocupação relacionada a privacidade no Bra-sil”.

Recentemente, em entrevista à revista Época, Snowden fez o seguinte questionamento: “Você não precisa se preocupar com a privacidade na internet a não ser que tenha algo a esconder, certo? Bom, não é bem assim.” Segundo ele, quando estamos conectados com o Facebook, por exemplo, cada pessoa faz parte de uma teia com pelo menos três graus. Se um usuário tem

190 amigos no Facebook, ela está conectada a mais de 5 milhões de pessoas, considerando as conexões amigos de amigos de amigos - o que deixa evidente a grande exposição que os usuários se submetem ao utilizarem os serviço.

Aonde isso vai parar?Em janeiro deste ano, o Facebook divulgou da-

dos sobre os usuários ativos diariamente — 890 milhões — e os que usam pelo celular —  745 mil-hões em todo mundo. A grande presença dos usuários nas redes sociais prova que o serviço virou parte da vida das pessoas. Segundo Ghise, a tendência para o futuro é que cada vez mais seja oferecido um produto em troca de algo, neste caso o impacto pela publicidade.

O recente descobrimento dessas tecnologias causam deslumbramento e pouca reflexão en-tre os usuários. Para o especialista, estamos na etapa de descobrimento para depois começar a enxergar o que realmente acontece.

- Vai um bom tempo até alguém — que teve acesso a isso recentemente — tentar entender o que pode ser feito.

Há mais de quatro anos presente nas redes sociais, o mestrando em artes visuais Vinícius Albernaz, diz que apesar de saber da exposição e invasão de privacidade que possivelmente sof-re dos sites que usufrui, não deixaria de usar os serviços.

- “Você se acostuma e precisa disso. É normal querer estar presente aonde as pessoas estão”, afirma Albernaz.

ESPECIALIZADO NEWS09

FOTO

: DC

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ILA

BEN

VEG

Page 10: Especializado News

Imagine ir a uma padaria diariamente para comprar pão e alguns outros pro-

dutos do café da manhã. Até que um dia você recebe um voucher da sua padaria no Facebook, dizendo que se você comprar aquele produto novamente, ganhará outro. Então você se pergunta: como a rede sabe que vou todo dia lá? Como eles sabem que eu consumo aquele produto?

Nas últimas semanas, o Facebook, a rede social mais popular do mundo, lançou sua nova campanha para lojas de varejo nos Es-tados Unidos, o Place Tips. A rede vai ofere-cer gratuitamente a tecnologia beacon para as empresas, a fim de impulsionar vendas personalizadas ao gosto do cliente, bem como estabelecer uma ponte entre a loja física e a loja virtual.

Beacon é um nome mais amigável para definir “indoor proximity system”, ou “sistema de proximidade em ambientes fechados”, em português. Ele é baseado em Bluetooth de baixa energia (BLE, na sigla em inglês) que funciona como um GPS para ambien-tes internos. Basicamente, os beacons es-tão para ambientes fechados assim como o GPS está para ambientes abertos. São pequenas antenas, sem formato definido, mas com mesma a estrutura: um dispositi-vo Bluetooth, uma bateria com duração de um ano encapsulados em algum formato pequeno e discreto.

Ele pode funcionar de duas maneiras. A primeira é a percepção de aproximação de um usuário. Por exemplo, é possível saber que um usuário de smartphone de determi-nada marca passou pelo corredor de leites da padaria. A outra maneira funciona de forma ativa, quando há uma comunicação entre as duas pontas. É possível enviar notificações, iniciar alguma ação dentro de um aplicativo específico, fazer check-in em alguma rede social, dentre outras interações. Por exemp-lo, a empresa percebe que o cliente está no corredor dos leites há cinco minutos. Perce-bendo que ele está indeciso em sua escolha,

a padaria envia uma notificação de desconto em uma das marcas de leite.

Por se tratar de uma tecnologia barata, precisa e aplicável em grande escala, mui-to se fala sobre como os pontos de venda, eventos, sistemas de trânsito, prédios corpo-rativos, instituições e qualquer tipo de esta-belecimento poderão se transformar em da-dos e revolucionar a relação do cliente com esses espaços. Basta que as pessoas ten-ham um smartphone e espaço para circular, até mesmo dentro de casa.

Com 25 bilhões de “coisas” já conectadas pelo mundo, a IoT (ou Internet das Coisas, em português) é o novo espaço a ser explo-rado pela inovação no campo da tecnologia móvel e alavancar o mercado. As empresas que desenvolvem IoT estão começando a investir nas casas. A Amazon, por exemp-

lo, lançou o “Dash Button”, um botão físico que pode ser adesivado à máquina de lavar, cafeteiras ou no armário da cozinha, com a marca do produto (sabão em pó, por exemp-lo. Quando o botão é acionado, automatica-mente um novo sabão em pó será comprado. O dispositivo é configurado préviamenteo no aplicativo da loja e pode oferecer diversas possibilidades de mercado, no entanto, ain-da não está disponível para clientes.

No Brasil, já há empresas que desen-volvem iniciativas dentro do mercado de “In-ternet das Coisas”. Uma dessas empresas é o Grupo Binário, com matriz na cidade de São Paulo, está desenvolvendo soluções de mobilidade para shoppings, hospitais, eventos e aeroportos. A companhia não só oferecerá as soluções para os clientes finais, como também fechou uma parceria com um

ESPECIALIZADO NEWS10

Tecnologia sem fio paraimpulsionar as vendas

Para aquecer o varejo, empresas investem em tecnologia de geolocalização para interagir com consumidor

Por Felipe Nogueira

TECNOLOGIA

O usuário poderá consultar as lojas que estão oferecendo descontos ou buscar o caminho para determinado estabelecimento. Arte: Felipe Nogs

Page 11: Especializado News

fabricante chinês para importar os hardwares e vendê-los para companhias que também desejam desenvolver a iniciativa no país.

“Não é uma solução monalítica. A ideia é ter um beacon com a marca Binário, para que outras empresas possam desenvolver sobre elas”, afirma Eduardo Diaz, gerente da vertical de mobilidade do grupo Binário.

Em Porto Alegre, a Tagpoint trabalha com outra estratégia de atuação: um aplicativo para diversos clientes. Ou seja, o dono da padaria pode ir até a empresa e solicitar seus serviços. Eles já têm uma base da aplicação, que só precisa ser personalizada e aplicada no comércio. Dessa forma, os comerciantes poderão ter de seus pontos de vendas a análise de dados do comportamento do con-sumidor em tempo real.

Vitor Loreto, CEO da empresa, explica que o valor máximo para o comerciante é R$200 por mês pelo acesso a plataforma e manutenção do aplicativo. No Rio Grande do Sul, já existem 200 estabelecimentos que abraçaram a tecnologia.

“Investimos 18 meses para desenvolver e lançar nossa aplicação. Não se tratava so-mente de produzir uma plataforma ou aplica-tivo, mas há um investimento na fabricação, já que o nosso hardware é feito aqui no país”, explica o CEO, que projeta ter dois milhões de usuários nos próximos seis meses.

Apesar do otimismo, há algumas impli-cações neste caminho. Privacidade é uma delas, algo que costuma ser prioridade para alguns fabricantes de smartphones em ger-al, com os beacons não é diferente. Embora exista uma comunicação entre os hardwares

e o celular, o smartphone nunca envia dados sobre o usuário para o beacons, a menos que o usuário tenha autorizado que isto aconteça.

“O usuário tem sempre que permitir esse rastreio, com os beacons, por exemplo”, ex-plica Eduardo, CEO da Binário. “Se o seu smartphone não tiver instalado o aplicativo da loja, a aplicação não terá como se comu-nicar com seu smartphone e o comerciante não conseguirá rastrear os dispositivos”, ga-rante.

O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL), Gustavo

Schifino, acredita que os desafios desta ferramenta tecnológica não é nem a imple-mentação nem o valor, mas sim convencer o usuário a baixar os aplicativos em seus celu-lares e oferecer conteúdo suficiente para o usuário sobre os produtos.

“Mesmo em um momento de crise, se as lojas oferecerem esta tecnologia ao cliente, ela vai funcionar. O problema atual são as ameaças tributárias e a atual situação do va-rejo no Brasil, mas acredito que tecnologias como essa tendem a aumentar as vendas”, afirma o presidente da CDL.

ESPECIALIZADO NEWS11

Vitor Loreto, CEO da Tagpoint.

Beacons não conseguem detectar sua local-ização geográfica. Ele só sabe que você está perto ou não está longe dele. Todo o resto deve ser feito através de tecnologias comple-mentares como GPS, Geofencing ou até redes wi-fi.

Beacons não funcionam somente em iPhone, mas também em Android e Windows. Na ver-dade eles funcionam em qualquer dispositivo com Bluetooth 4.0 ou superior – seja ele um laptop, um celular, um relógio, um óculos ou uma pulserinha inteligente.

Beacons não são inteligentes. Toda a inteligên-cia precisa ser criada pelo aplicativo instalado no dispositivo que interagirá com o Beacon.Beacons não conseguem instalar aplicativos no seu dispositivo. Você precisa ter o app pre-viamente instalado para que consiga utilizar todos os benefícios da tecnologia.

Quebrando mitos dos beacons

Beacons no mercado

A Macy’s e a American Eagle já estão testando experiências aumentadas dentro da loja, adi-cionando valor ao usuário de seus aplicativos.Desde janeiro a Giant Eagle e a Safeway estão usando Beacons para simplificar a experiên-cia de compra dentro das lojas.A R/GA, em parceria com a MasterCard,

espalhou Beacons por um festival de músi-ca no Brooklyn e distribuiu tickets surpresa para festivais de cinema e para descontos em restaurantes da região.A Apple já está utilizando a tecnologia em suas 254 lojas embutidos com o iOS, sistema operacional. Além disso, também está in-

vestindo em toda sua plataforma de “Smart Home”.A Major League Baseball confirmou que 20 times instalarão iBeacons em seus estádios para que os usuários consigam usufruir de benefícios contextuais em seu aplicativo “At the Ballpark”.

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Um tributo encharcado de sangue aos filmes de terror e ao heavy metal. Assim foi descrito pelo próprio diretor o longa-metragem Death-gasm. Vencedor do concurso “Make My Movie”, da Nova Zelândia, teve única exibição em solo brasileiro no Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre (Fantaspoa) e ainda passará em outros festivais destinados ao gênero em países como Canadá e Austrália.

A história se desenrola quando os adoles-centes Brodie, interpretado por Milo Cawthrone, e Zakk, interpretado por James Blake, fãs de heavy metal encontram uma partitura com o “Hino Sombrio”, que promete trazer à terra o demônio conhecido como “The Blind One” e conceder poderes ao seu invocador. Mas as coisas saem do controle e a população da cidade inteira tam-bém acaba se tornando demônios. Então os dois adolescentes, em companhia de seus amigos fracassados e a garota mais popular da escola, Medina, que tem como atriz Kilberly Crossman, se encarregam de salvar o dia, maquiados no melhor estilo Kiss e Marlin Manson. E o mundo acaba sendo salvo pelo poder do heavy metal.

Dirigido por Jason Lei Howden, Deathgasm é uma espécie de filme autobiográfico. Excluindo as partes de possessões demoníacas e, segundo Howden, das garotas, todo o resto era feito por ele na adolescência. “Eu queria fazer um filme que eu pudesse assistir junto com meus amigos metalheads e que a gente compreendesse”.

O filme foi financiado pelo órgão governamen-tal New Zealand Film Comission (NZFC), que é como a Ancine da Nova Zelândia. Os espectado-res ainda se espantam que um filme tão sangren-to e satírico possa ter sido financiado pelo gover-no. E, quanto a isso, Jason se defende dizendo que foi a própria comissão da NZFM que escol-heu o seu roteiro. O concurso Make My Movie é composto de várias fases e em cada uma os in-scritos devem criar algum produto relacionado à sua futura produção. Durante as etapas, Howden e sua equipe produziram poster, teaser e, na fase final, o próprio roteiro. “Eu escrevi o roteiro em nove dias. E eu estava a maior parte bêbado e ouvindo heavy metal sem parar. Eu queria voltar ao tempo que tinha 16 anos e acho que o álcool ajudou bastante”, confessou Jason.

Falando um pouco mais sobre o título: se-gundo o produtor Ant Timpson, que participa-va da comissão do concurso, Deathgasm era o preferido desde o começo, por tudo que a pala-vra representa. “Foi doido quando eu soube que de norte a sul esse era o filme mais esperado apenas pelo título”, disse o produtor, impressio-nado com a potência de uma escolha certeira de palavra. “O concurso começou com uns quatro-centos projetos e afunilou para vinte e o filme de Jason continuava lá. Consultamos alguns espe-cialistas dos Estados Unidos como compradores e programadores e todos disseram que era um dos filmes mais certos que tinham visto”, disse o Timpson quando questionado sobre o que os especialistas pensaram do roteiro no durante o concurso.

Segundo a organização do Fantaspoa, Death-gasm foi o filme escolhido para a abertura do fes-tival desse ano e teve exibição simultânea nos dois cinemas. Além de ter sido a sessão com mais procurada e de maior bilheteria. A empol-gação a redor do longa era tão grande que João Fleck, um dos idealizadores do festival, estava

maquiado tal e qual os personagens do filme, assim como diretor. Ainda se-gundo a organização, houve pessoas que tiveram de ficar do lado de fora das salas porque os lugares estavam lotados nas duas sessões. “O filme tem todos os ingredientes adolescentes. Música pesada, cenas de colégio, dis-puta por namoradas e revolta com a vida”, disse o crítico de cinema Roble-do Milani. “São todos os principais ele-mentos adolescentes somados a metal e muito sangue cenográfico. Surpreen-dentemente essa mistura agradou até mesmo um público mais adulto. Muito provavelmente pelo elemento musi-cal.”, explicou o crítico.

“Eu não esperava muito do filme, mas achei a forma que eles trataram do ‘metal’ muito coerente. Até respeito-sa., comentou Maicon Leite, autor do livro - reportagem Tá no Sangue: Uma História do Rock Pesado Gaúcho.

ESPECIALIZADO NEWS12

Universo Heavy Metal retratado em longa metragem

Filme neozelandês lançado este ano agrada plateias do gênero e é apresentado em festivais de cinema fantástico ao redor do mundo

Por Naomi Kiesel

CULTURA

Um tributo encharcado de sangue aos filmes de terror e ao heavy metal.

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As ruas do Bom Fim hoje em dia pouco lembram a efervescência cultural de 30 anos atrás. Durante as décadas de 80 e 90, o bairro abrigou uma di-versidade de práticas sociais e serviu como um es-paço de expressão para os jovens da época. Ali se produzia e consumia músicas barulhentas, filmes em super 8 sobre o cotidiano, revistas, etc. Esse cenário é retratado no “Filme Sobre Um Bom Fim”, do diretor Boca Migotto, que deve estrear nos cin-emas este ano.

A frequência de shows na redondeza, os filmes e músicas que citavam o Bom Fim fizeram com que o bairro se tornasse referência também para jovens de outras cidades. Boca era um deles. “Morava no interior, mas sabia o que circulava pelo Bom Fim por causa da divulgação da rádio Ipanema. A partir da música compreendi que o universo era maior, que o bairro tinha relação com a produção cinematográfi-ca, teatral, com a literatura, e que tudo se encontra-va e se misturava a partir daquele cenário.”, conta.

Após se mudar para Porto Alegre, o cineasta passou a compreender melhor o cenário e a se in-teressar cada vez mais pelo bairro. A ideia de re-alizar um filme surgiu em 2003. “Estava morando em Londres e fiquei saudosista. Quando voltei, eu e minha sócia decidimos abrir uma produtora. Pre-cisávamos de um projeto de filme e propus fazer-mos um documentário sobre os anos 80 em Porto Alegre, no Bom Fim.”

Desde então, o filme foi inscrito Fumproarte ano após ano, em editais nacionais, internacionais, mas ninguém havia demonstrado interesse. Até que em 2013, o projeto foi contemplado e começou a ser rodado. Em 2014, o documentário ganhou o prêmio de finalização IECINE do Governo do Estado.

Em abril deste ano, o longa teve sua première no Festival “É Tudo Verdade”, maior festival de doc-umentários no Brasil, realizado em São Paulo e no Rio de Janeiro. “O filme foi muito bem recebido, as pessoas curtiam as músicas, riam com alguns de-poimentos mais exaltados, chegaram até a aplaudir um depoimento do Peninha, no Rio, quando ele fala sobre a destruição do Cine Baltimore.” Ele explica, falando do cinema do Bom Fim que foi demolido no final dos anos 90. “No Rio mesmo, as duas sessões estavam lotadas, com direito a debate improvisado na primeira sessão, devido ao interesse das pes-soas.”

O documentário é formado a partir de diversos comentários de músicos, atores, escritores e fre-quentadores do bairro. Boca conta que a maioria dos entrevistados foram receptivos. “Destaco a ajuda e a disponibilidade especial do Carlos Ger-base, da Luciana Tomasi, da Ana Azevedo e do Giba Assis Brasil. Essas pessoas nos ajudaram e estiveram com a gente ao longo do tempo, dando entrevistas em mais do que uma oportunidade e também liberando imagens de arquivo que ajuda-ram a contar a história.”

Entre os entrevistados está Fiapo Barth, um dos fundadores do bar Ocidente, bar mais frequentado na época e um dos únicos que ainda esta na ativa. De acordo com o proprietário a ideia era fazer um bar diferente dos outros. “A gente queria um lugar mais charmoso e com apresentações artísticas. Criar referências na vida noturna, uma agenda, porque antes não existia. explica. A música se tor-nou marca registrada dos shows que embalaram as noites do local. Muitas bandas se formaram lá, entre elas, os Replicantes, Cascavelettes, DeFal-la,. Os primeiros shows já tinham casa lotada. “O

público estava lá por causa do próprio Bom Fim. As pessoas passavam na frente, escutavam uma banda, e entravam.”

A música foi o fator principal que ajudou os fre-quentadores do Bom Fim à criarem um vinculo mais forte entre si, pois proporcionou encontros e assuntos a serem compartilhados. A baterista da banda DeFalla, Biba Meira, explica o sentimento da época. “Eu adorava aquele ambiente bem propício para a agitação cultural da época. O Ocidente foi um bar que abraçou as bandas. O DeFalla sobre-viveu muito bem à tudo isso, pois tínhamos a cara desse ambiente alternativo. Sempre questionando tudo, se vestindo de uma maneira “anormal”, com posturas “anormais” para uma banda”.

Para quem passa pelo Bom Fim nos dias atuais, o que sobra é a sensação de nostalgia. “As pessoas se identificam muito com os anos 80. Não só os gaúchos, o que aconteceu aqui também aconteceu em Brasilia, no Rio, Recife, São Paulo. O cenário, as pessoas, as músicas que estão no filme são daqui, mas a história é brasileira.”, finaliza Boca Migotto.

ESPECIALIZADO NEWS13

Bom Fim: um bairro, muitas histórias

Longa-metragem sobre vida noturna do bairro Bom Fim, dirigido por Boca Migotto, estreia no segundo semestre do ano

Por Roberta Vargas

CULTURA

Filmes e músicas que citavam o Bom Fim fizeram com que o bairro se tornasse referência para os jovens.

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Uma infiltração em um dos sebos da Rua Riachuelo, em Porto Alegre, em função de chu-vas, não conseguiu acabar com as obras da loja Martins Livreiro. Ivo Alberto Almansa, 61 anos, é proprietário da livraria desde 1980. Em 1999, a loja se mudou para a Riachuelo, e, antes disso, passou por três locais diferentes na Capital.

A história da Martins Livreiro se iniciou 57 anos atrás, quando o ex-sogro de seu Ivo se tornou o primeiro dono do sebo. Atualmente, há uma equi-pe de cinco pessoas trabalhando na livraria todos os dias. Grande, a loja tem não somente obras literárias, mas também quadros, mapas e fotos de figuras importantes como Getúlio Vargas, Le-onel Brizola e João Goulart, decorando as pare-des. Seu Ivo considera isso um atrativo para seu negócio, mas quando perguntado sobre a procu-ra por livros, é sincero: “Em números de livros comercializados, a demanda tem decaído. Mas acho ótimo que na internet tu tens uma vitrine para todo o Brasil”. Para ele, o desenvolvimento da tecnologia é bom para ambos os lados, tanto para o leitor quanto para os donos de sebos. “Existe uma concorrência com os sites de livros usados. O ris-co que se corre, neste caso, é o livro vir com um carimbo no meio ou al-guma página faltando. Antigamente tudo era muito restrito, e hoje com editoras pequenas é fácil de conse-guir até mesmo livros estrangeiros. Nisto a ciência tem ajudado”.

Para quem está acostumado a ler o livro em papel, é muito difícil desistir dele. Mas, quem já está ha-bituado, não vê problemas em ler suas obras favoritas um uma tela. Seu Ivo, particularmente, prefere er o livro em mãos.

Se a Martins Livreiro mantém seu negócio há mais de 50 anos, a loja Sebo do Café é novata em um meio comercial e literário diver-sificado. Com um ambiente con-fortável e convidativo, o nome não é apenas para enfeite. Antes de ser sebo, o antigo Beco dos Livros,

como era chamadoe, já era bar há oito anos. Jo-nas Moesch, 24 anos, trabalha no local há quase uma década, e conta que o diferencial da loja é exatamente o que o nome quer dizer: as pessoas podem comprar livros e iniciar a leitura lá mes-mo, apreciando um café oferecido pela casa.

Apesar disso, Jonas e Leona Nunes, tam-bém funcionária, contam, assim como seu Ivo, que a compra dos livros diminuiu com o desen-volvimento de novas formas de texto. “A venda do livro palpável decresceu. Mas apesar disso, acredito que ao mesmo tempo o livro em si nun-ca deixará de existir. Tu teres o livro, encostar nele, envolver o tato, o cheiro, traz uma história com ele que a tela com computador não trans-mite”. Limitação de bateria e dor nos olhos são alguns dos motivos que Moesch prefere ter o liv-ro em mãos para apreciação. O dono do Sebo com Café é Peter Dullius, 64 anos. Entrou para o mercado dos livros em 1992, e apenas uma loja não era suficiente. Em 98 abriu um estabeleci-mento na Rua General Câmara e, em 2004, na

Rua dos Andradas. Para Peter, os pontos fortes dos sebos são o preço e as raridades. Segun-do ele, trabalhar no ramo dá a possibilidade de encontrar edições históricas de uma obra. Além disso, levar o cliente ao passado permite um re-encontro com outras épocas.

Diferentemente de seu Ivo, Jonas, Leona e Peter, Letícia Bogado, 19 anos, estudante de Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul (UCS) acredita que há maior fac-ilidade na compra de uma obra pela internet do que indo à livraria. “Claro que eu gosto de ter os livros, mas se eu preciso de algo rápido, o pri-meiro lugar que procuro é na internet. Na maio-ria dos casos, se não estiver disponível, passo para as livrarias”, relata. Sua visão está dividida em procuras de curto e longo prazo. A estudante diz que pesquisa com calma exemplares que não são urgentes e que podem ser contempla-dos com mais calma fora das bibliotecas digitais. Daniel Steigleder, 30 anos, Relações Públicas, falou sobre suas experiências com os sebos du-

rante a faculdade. “Desde que eu saí do colégio, eu procuro montar minha própria biblioteca. Na faculdade, eu procurava livros físicos pra que isso pudesse acontecer, não somente os exigidos pelos professores, mas que poderiam complementar o meu estu-do”.

Quando as livrarias convenciona-is não tinham a obra disponível, nem a internet, Daniel ia aos sebos e, as-sim, foi montando sua estante par-ticular. Segundo seu Ivo, da Martins Livreiro, e Jonas, do Sebo do Café, a época do ano com mais vendas é in-ício de semestres das universidades. “O livro didático é vendido principal-mente em março. Depois disso, ele é vendido esporadicamente. Início de semestre sempre se vende”, diz. Filosofia, jurídico e história do Rio Grande do Sul são os gêneros mais procurados pelos estudantes, assim como as leituras obrigatórias dos vestibulares.

Sebos e tecnologia: amigos ou adversários?

A era digital pode ser considerada tanto uma inimiga quando uma aliada pra quem sobre-vive do sebos na Capital

Por Ana Carolina Lopes

CULTURA

ESPECIALIZADO NEWS14

A infiltração causada pelas chuvas não impediu a Martins Livreiro de continuar seu negócio.FOTO:L ANA CAROLINA LOPES

Page 15: Especializado News

A Prefeitura de Porto Alegre deve finalizar, até o final de 2015, o processo de re-moção de cerca de 650 famílias que ain-

da residem na Vila Dique, nas redondezas do Aeroporto Internacional Salgado Filho, na capi-tal gaúcha. Os moradores da comunidade lutam para permanecer no local onde estabeleceram suas raízes. “Vai ter resistência, nós não sere-mos removidos”, afirma Scheila Motta, que vive na Dique há 40 anos.

O terreno está sendo exigido pela Infraero sob justificativa de ampliação da pista de pousos e decolagens do aeroporto. Em janeiro de 2011, a Prefeitura repassou a posse da área ao Gov-erno do Estado, que depois entregou à Infraero. No total, 922 famílias já foram transferidas para o Conjunto Habitacional Porto Novo, no bairro Rubem Berta. As casas do projeto têm cerca de 40m² e o custo do complexo ultrapassa R$ 56 milhões.

“Aqui na Dique, nós temos espaço, nos-sas crianças brincam na rua, criamos porcos,

galinhas e coelhos. Lá, onde eles querem nos colocar, não teremos isso”, argumentou Maria Jocelia Matter, carroceira e moradora da vila há 25 anos. Scheila salienta que a localização da Dique favorece profissionalmente os residentes da comunidade, que na maioria são carroceiros que trabalham com reciclagem. “Lá não tem tra-balho, vamos ter que achar outra forma de sus-tento”, falou. No Porto Novo, Scheila perdeu um dos seus filhos, um jovem de 17 anos e que foi vítima de uma bala perdida em uma disputa da boca do tráfico entre gangues.

A Vila Dique começou a ser construída em 1979, quando pessoas vindas principalmente do interior do estado se estabeleceram na região à procura de melhores oportunidades em Porto Alegre. “Tudo o que foi construído na Dique foi a base de mutirão, a própria comunidade se mobi-lizou, desde a primeira escola até a nossa igreja. A comunidade cresceu por ela mesma, com as mãos e os pés dos seus moradores, sem ajuda do Governo do Estado ou da Prefeitura”, conta

Scheila. Com o tempo, o serviço público chegou

ao local e os moradores passaram a contar com posto de saúde e creche. No entanto, com o in-ício das remoções, os atendimentos foram cor-tados e, de acordo com as famílias que rema-nescem na vila, nem mesmo os Correios chegam na região. “Se nós vamos em alguma repartição pública, não somos atendidos, porque dizem que a Dique não existe mais”, denunciou Maria Jocelia. Ela ressalta que as casas do Conjunto Habitacional sequer estavam prontas quando as realocações começaram. “A remoção foi muito agressiva. Algumas famílias foram levadas para casas que nem mesmo estavam prontas, não tin-ham janelas “.

O Departamento Municipal de Habitação defende que a relocação dos moradores da Dique para o Conjunto Habitacional Porto Novo trará benefícios para a comunidade, como san-eamento básico adequado e ruas asfaltadas. A Prefeitura de Porto Alegre negou que o CEP da

Avenida Dique tenha sido reti-rado do cadastro dos correios.

A principal entrada da Dique é demarcada por uma estreita ponte que cruza um valão, onde escoa o esgoto da comunidade. O cheiro forte se confunde com o do material de reciclagem espalhado nos ter-renos. O chão batido conduz o caminho para o interior da vila. A história dos moradores é revelada na construção de suas casas, onde azulejos de cores e desenhos diferentes se encontram em um mesmo piso, tábuas e arame farpado formam a cerca que delimita os terrenos. O que para a maioria dos cidadãos porto-alegrens-es é lixo, para os moradores da Dique é onde encontraram oportunidade para recomeçar e sobreviver.

Moradores da Vila Dique lutam para permanecer na comunidadeInfraero está exigindo a área para ampliação do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em

Porto Alegre

Por Gabriela Rabaldo

ESPECIALIZADO NEWS15

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Grafite feito na associação de moradores da Vila Dique.

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Fundado em 1989, o Mercado ainda hoje é referência comercial na Capital de Porto Alegre

ESPECIALIZADO NEWS16

POPULAR

Mercado Público segue reerguendo após incêndio

O avanço da cultura algodoeira na região central do Brasil coloca o país entre os maiores produtores mundiais.

O Mercado Público existe desde 1869. Ele foi fundado para abrigar o comércio de abastecimento da cidade de Porto

Alegre, e com isso gerar emprego e renda para pessoas que gostariam de comercializar seus produtos.

O local atraí muitos compradores por ter uma ótima política de preços e também por ser um espaço aberto para a cultura e movimentos co-munitários. Porém, desde julho de 2013, após o incêndio que destruiu completamente o segundo pavimento, o número de clientes diminuiu bas-tante, prejudicando os comerciantes.

O Comerciante da Banca 25, Jonas Poppen, se instalou no Mercado Público há 13 anos. A banca é administrada por Jonas e seus famili-ares. O ramo de seus produtos é tradicionalista, focado na erva-mate e utensílios para churrasco. Mas, com a queda nas vendas, o vendedor se

mostra bastante preocupado. “O Mercado Públi-co foi sempre bom porque gira muita gente aqui dentro, mas depois da Copa do Mundo foi que deu uma queda, foi bem complicado ali. E tam-bém por causa do incêndio, onde a parte superi-or foi queimada e acabou dando uma murchada, até na apresentação do mercado que esta meio largada por causa da reforma, então tudo isso acaba afetando,” disse Jonas.

O vendedor já percebe uma melhoria nas ven-das dos últimos dois meses. A apreensão entre os comerciantes,segundo ele, diminuiu bastante com essa rápida melhora nos resultados.

O Presidente do Comércio da Associação do Mercado Público, Ivan Konig Vieira, disse que o incêndio não é apenas um dos fatores da queda no movimento do Mercado, mas também a crise toda que o Brasil está passando. ”Nós, que es-tamos no varejo, não sabemos a gravidade de-

sta crise. Estamos sentindo essa dificuldade a mais de um ano”, afirmou. Segundo ele, o ano de 2015 começou ruim. Os preços aumentaram e as pessoas diminuíram o consumo. “ O público tem comprado menso carne, menos arroz. A situação está bem difícil”, lamentou. “O poder de compra das pessoas diminuiu. O Governo tem que tomar providências quanto a isso, fortalecer a indústria, no momento que as mesmas perdem a força, os empregos diminuem”, ressaltou.

Segundo o coordenador de Próprios Munic-ipais do Mercado Público, Antonio Lorenzi, a restauração e reforma das partes atingidas pelo incêndio já estão em estágio avançado, com os projetos complementares quase todos executa-dos. “A Prefeitura Municipal, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional e das empresas Arquium e Metasa são responsáveis pela reforma do prédio histórico”, disse.

Por Vitoria Hnszel

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A Reforma Política e o Espelho de Ojesed

“Os brasileiros estão cientes de que precisamos da Reforma para mudar a estrutura legis-lativa que organiza as estâncias políticas do país, porém, cada indivíduo propõe algo difer-

ente e, algumas vezes, visando o seu próprio interesse”

No primeiro livro da saga de Harry Potter, escrito pela britânica J. K. Rowling e intit-ulado “A Pedra Filosofal”, Harry encontra

na escola de magia e bruxaria de Hogwarts um objeto peculiar: o Espelho de Ojesed. A singulari-dade do espelho é que duas pessoas podem ad-mirá-lo ao mesmo tempo e ver coisas diferentes, pois ele nos mostrará o desejo mais profundo do nosso coração. Essa história veio-me à cabeça após ler as notícias sobre a atual situação do projeto da Reforma Política no Brasil: os brasile-iros estão cientes de que precisamos dela para mudar a estrutura legislativa que organiza as es-tâncias políticas do país, porém, cada indivíduo propõe algo diferente e, algumas vezes, visando o seu próprio interesse.

A principal pauta do projeto, e mais polêmica, é sobre o fim das doações de empresas privadas para campanhas políticas. O tema foi levanta-do após o julgamento do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) sobre as doações, que foram alvo de uma Ação Direta da Inconstitucionalidade por parte da Ordem dos Advogados do Brasil. Em 2014, a maioria dos ministros do STJ se posicio-nou a favor da proibição e entenderam que os in-vestimentos provocam desequilíbrio no processo eleitoral, mas o julgamento foi interrompido por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes.

Segundo a doutora em educação e sociologia Ruth Ignácio, “As pessoas dizem que não querem financiar campanha de partidos políticos, mas, se elas pararem para pensar, elas estão usando o dinheiro delas para financiar sim, pois os candi-datos ao legislativo recebem fortunas de empre-sas privadas para depois barganhar privilégios, como sonegar impostos e criar falcatruas dentro das licitações”. Ruth afirma que, indiretamente, os cidadãos financiam as campanhas políticas, e que temos que disputar o nosso candidato com as grandes corporações que vão manipulá-lo.

Já o deputado e presidente da Assembleia Legislativa de Porto Alegre, Edson Brum (PMDB-RS), comenta sobre o que é proposto na emenda da PEC 182/07, apresentada pelo deputado Cel-so Russomanno (PRB-SP). “O projeto defendido é para que exista uma lei futura definindo os lim-ites máximos de arrecadações e gastos de re-

cursos para o período eletivo, permanecendo um sistema de doação mista, entre dinheiro público do Fundo Partidário e do horário eleitoral gratuito e privada, com doação de pessoas e empresas”.

No dia 26 de maio de 2015, a Câmara dos Deputados decidiu que não irá incluir na Consti-tuição a permissão de financiamento de pessoas jurídicas e empresas a candidatos e partidos, mas, no dia seguinte, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMBD), organizou uma “mano-bra” e colocou o tema em votação novamente e, com isso, foi aprovada, por 330 votos a 141, uma emenda aglutinativa que permite que partidos, e não candidatos, recebam doações de empresas nas eleições. Se a PEC for aprovada também no Senado, os candidatos continuam proibidos de aceitar financiamento empresarial de forma dire-ta.

Outra proposta de emenda que dividiu opin-iões foi a do modelo de eleição de deputados e senadores chamada “distritão”. Com ele, ficaria extinto o quociente eleitoral, cálculo que baseia as eleições proporcionais conforme os votos por candidato e por partido e, desta forma, o proces-so passaria a ser majoritário: o candidato com mais votos, vence. Conforme este modelo, cada estado e município se tornaria um distrito eleito-

ral e cada eleitor votaria em um nome para ver-eador ou deputado de cada distrito.

Para o ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT), o “distritão” favorece os sen-hores feudais da política tradicional brasileira, aju-dando a manter os partidos balcões de negócios, sem contornos ideológicos e programáticos claros. Outro ponto negativo seria que esse tipo de eleição enfraqueceria alguns partidos políti-cos, dificultando a formação de maiorias no Con-gresso e fazendo com que o prefeito, governador ou presidente fizesse mais concessões para que haja uma governabilidade.

O que os defensores desse sistema alegam, segundo Brum, é que esse tipo de eleição facili-taria o processo para os eleitores entenderem. A emenda do “distritão” também foi rejeitada pela Câmara.

Para finalizar, o Espelho de Ojesed é um teste ao caráter de quem o olha. Nele pode estar re-fletido nossa vaidade, nosso egoísmo e ganân-cia. Dumbledore, o diretor da escola, falou para Harry que muitos homens já enlouqueceram ao contemplar o espelho, mas o mais feliz deles poderia olhá-lo e o enxergaria exatamente como seu reflexo é. Depois de tantos pontos de vistas diferentes, como você veria a Reforma Política?

Por Bruno Sant’Anna

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A reforma política é um processo que tem dividido opiniões em todo o Brasil

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O ano de 2015 apresentou inúmeras mu-danças no grupo principal de jogadores da dupla Gre-Nal, revertendo um quadro

predominante nos dois principais times do Sul do Brasil. Em tempos que os salários fartos tomam conta do mercado futebolístico, os dois clubes do Estado recorreram ao que sempre tiveram de melhor: as categorias de base.

Procurando fazer equipes competitivas para a disputa dos campeonatos durante a tempora-da, a direção acaba mergulhando em busca de atletas que já sejam conhecidos. Em um primeiro momento, qualificar o elenco com experientes e rodados pela Europa. Segundo, entra o fator tor-cida. Uma contratação de peso alimenta o sonho de qualquer apaixonado. No entanto, acaba des-

valorizando o que se foi criado na própria casa, com critérios que o próprio clube impõe e acaba não aproveitando.

Dois fatores contribuíram para a mudança neste ano: necessidade e planejamento. Com o cofre totalmente vazio para reformar o elenco, o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan assumiu a estratégia de promover pratas da casa junto ao elenco de 2014, que apresentava alguns jovens já revelados. Além disso, houve a troca na co-ordenação das categorias de base, que agora é comandada por Luciano Dias, ex-jogador tricolor.

Na apresentação do contratado, o mandatário destacou a importância de dar sequência ao tra-balho. “Temos que andar para frente. Para mim, a formação tem que ser de excelência. Aqui nas

categorias de base nós temos as perspectivas mais concretas de fazer a recuperação do clube”.

Após um levantamento feito sobre a base tri-color, um dado chama a atenção: desde de 2012, o Grêmio realizou a venda expressiva de apenas cinco garotos. A última foi em janeiro de 2014, Leandro foi negociado com o Palmeiras por 5 mil-hões de euros. No grupo atual, ao menos cinco jogadores têm se destacado, são eles: Marcelo Grohe, Walace, Lincoln, Luan e Yuri Mamute. O coordenador conclui o pensamento de Romildo. “Vamos nos reorganizar para seguir fortes no tra-balho de formação dos nossos atletas, auxiliando o futebol profissional no que for preciso”.

Já do lado colorado, as alterações no elenco foram mais por planejamento do que necessi-

dade. No início da temporada, a direção foi às compras, trazen-do sete reforços para o grupo principal com condições para serem titulares. Mas a novidade estava por vir. Oscilando o time por disputar duas competições em paralelo, Diego Aguirre deu chance aos garotos, que foram ganhando destaque com boas atuações e hoje são titulares ab-solutos, desbancando todos os medalhões.

Depois de trabalhar 18 anos com a base e agora assumindo a função de gerente de futebol, Jorge Macedo prometeu fazer a transição entre os jovens e o profissional, e conseguiu fazê-la. Ainda no final do ano passado, em conversa com o presidente Vitório Piffero e a direção, foram traçados alguns detalhes para o começo de 2015, durante a pré-temporada. “Promovemos alguns meninos, uns já estavam ano passado como Valdivia e teve a promoção de outros meni-nos em todas posições, caso do Willian na lateral direita, Gefer-son na lateral esquerda, Alisson

ESPORTES

ESPECIALIZADO NEWS18

Volante Rodrigo Dourado, no Inter desde 2006, subiu para equipe principal no início da temporada

Categorias de base: o futuro dos clubes de futebol

Em momentos diferentes financeiramente, Inter e Grêmio depositam as fichas nos pratas da casa em busca de títulos na temporada

Por Jean Chollet

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Farias, enfim são diversos jogadores para com-por o elenco. A ideia era ter no mínimo três atle-tas por posição, sendo que cada posição tivesse um menino da base. Aos poucos, com o rodízio que o Aguirre foi fazendo no início da temporada fazendo que todos atletas jogassem, eles foram conquistando seus espaços através das opor-tunidades”, avaliou.

Jogando seu futebol eficiente e sem muitas fir-ulas, Rodrigo Dourado foi um dos sortudos nesta safra colorada. Com a incerteza no início do ano se treinaria com a turma de cima ou se seria em-prestado, o jovem de apenas 20 anos conquistou a confiança de todos no clube e hoje é um dos pilares da equipe de Aguirre. Em menos de seis meses já despertou o interesse de clubes euro-peus e é cobiçado por este mercado. “Cheguei em 2006, pude acompanhar Libertadores e Mun-dial. Estou desde o 12 anos fora de casa, per-

dendo infância e longe da família. Valeu o sacri-fício, e agora estou colhendo os frutos”.

Além destes novatos, o grupo principal con-ta com tantos outros meninos. Macedo tam-bém planeja um futuro muito promissor para o Inter e para os atletas que estão por subir para o profissional no próximo ano, ou talvez ainda nesta época, dependendo da necessidade. “Te-mos uma equipe sub-20, com vários nomes, com alguns jogadores que tiveram passagem pelo profissional, é o caso do zagueiro Eduardo, foi integrado ao grupo principal, tem mais jogadores como Gustavo Ferrareis, Leandro, Andrigo, são todos bons jogadores e se tiverem oportunidades podem estar surgindo no grupo profissional”.

Coincidência ou não, em 2013, o Inter, que brigou até a última rodada para não cair para a segunda divisão, sob o comando de Dunga, atual técnico da Seleção Brasileira, teve pouco

aproveitamento dos jovens. Apenas Fred, hoje no Shakhtar Donetsk, e Otavio, no Porto, foram os mais utilizados pelo treinador. O gerente de futebol colorado lembra que alguns titulares ti-veram outras oportunidades, mas só agora con-seguiram ganhar destaque. “As vezes o menino sobe e não consegue dar uma sequência, tinha uma época que tinha subido o Alan Costa que está jogando, o próprio Valdivia no final de 2013, o Sasha também já vinha nessa transição”, lem-brou.

O fato é que a ascendência destes jovens de-ram vida ao plantel principal das duas equipes. Resta saber se todo o trabalho, planejamento e até mesmo a necessidade, serão transforma-dos em boas atuações, títulos, destaque mundial destes atletas e até mesmo a recuperação dos clubes brasileiros.

ESPECIALIZADO NEWS19

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Dourado conquistou a confiança do terinador Diego Aguirre e hoje é titular absoluto da equipe do Inter.

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O Brasil será sede da 31ª edição dos Jogos Olímpicos da era moderna. O evento, a ser dis-putado na cidade do Rio de Janeiro em 2016, atrairá um grande número de turistas, movi-mentando a economia, além voltar os olhos dos apaixonados pelo esporte para o país.

Mas você sabe o que está por trás de uma medalha? Como se forma um atleta de alto nível? Essas são algumas perguntas que talvez pouca gente se faça. Se você é daqueles que pensa que um corredor dos 100 metros rasos só precisa ser rápido, se enganou. É claro que a prática esporti-va é essencialmente humana. Não são as máqui-nas que dão as braçadas nas piscinas ou dão um golpe de judô, mas é inegável que a ciência está diretamente relacionada ao esporte e, hoje, elas são indispensáveis para obter melhores resulta-dos nas competições. Ano após ano, os avanços tecnológicos vêm influenciando no rendimento de atletas. Possuir o conhecimento científico e ter investimento, é correr na frente dos adversários. Não é por acaso que o desempenho brasileiro nas Olimpíadas ainda está abaixo do esperado. Países como Estados Unidos e China possuem mais recursos, infraestrutura e preparo no trein-amento e desenvolvimento dos competidores.

Por trás de cada execução de movimento, eq-

uipamentos e estratégia, existe um estudo apro-fundado. Treinadores e atletas utilizam cada vez mais a física, a matemática e a química para cor-rigir erros e buscar a evolução constante. Para se ter uma ideia da diferença de resultados, em 1912, o americano Don Lippincott concluiu os 100 metros rasos em 10,6 segundos. Esse foi o primeiro recorde reconhecido pela Associação Internacional de Federações de Atletismo. Em 2009, 97 anos depois, o jamaicano Usain Bolt atingiu a marca de 9,58 segundos, no Mundial realizado em Berlim. É mais de 1 segundo de dif-erença. Pode parecer pouco, mas em uma pro-va que costuma ser decida por milésimos, é um avanço muito significativo.

O piloto gaúcho da Stock Car, Vitor Genz, en-trou no automobilismo aos nove anos de idade e pôde acompanhar de perto a evolução que a tecnologia proporcionou no seu dia a dia. “Tudo evoluiu muito, principalmente a parte da segu-rança. Hoje a gente tem um banco de fibra de carbono, importamos tecnologias de câmbio na direção e não precisamos usar embreagem. O carro sofreu muitas alterações”. Por mais que no automobilismo o desempenho nas provas passe muito pelas condições do carro, o piloto tam-bém deve fazer a sua parte. Vitor também conta

com uma psicóloga, que visita regularmente, e um simulador de corridas em casa. Funcionan-do quase como um videogame, o simulador dá a noção exata do que o espera nas pistas. Há 20 anos um piloto gaúcho não sobe ao pódio na Stock Car. Com o preparo em dia e o suporte científico ao seu alcance, Vitor Genz pode aca-bar com esse tabu. “Estou trabalhando pra con-hecer o carro e toda vez que eu precisar fazer uma mudança, tal mudança seja efetiva para que o tempo melhore. Pretendo fazer um pódio ainda esse ano”, almeja.

Para o treinador-chefe da Sogipa e diretor técnico da Confederação Brasileira de Atletismo, José Haroldo Loureiro Gomes, a ciência se uniu ao treinamento esportivo. Ele explica que atual-mente tudo é controlado e pensado nos míni-mos detalhes, desde uma passada na pista até ao que o atleta vai comer, beber e fazer em seu tempo livre. “A fórmula do sucesso é o talento so-mado ao preparo e ao comprometimento. O ser humano é treinável e pode fazer coisas fantásti-cas”. O treinador acredita que o fraco desempen-ho brasileiro em Olímpiadas se deve ao fato de que aqui, primeiro é preciso ganhar uma medal-ha para depois receber um patrocínio, enquanto em países como EUA e China ocorre o inverso.

“Falta a consciência de que é pre-ciso investir no jovem talento para formar um campeão. No Brasil, se trata a doença e não a prevenção, corrigem-se as leis depois das tragédias. É um problema cultur-al”. Ainda segundo José Haroldo, o avanço tecnológico e a ciência sempre são bem-vindos, desde que não se esqueça de que o atle-ta é feito de carne e osso e não de ferro. “Um treinamento sem base teórica é um voo cego, mas uma teoria sem uma prática verdadeira é uma bestialidade”, finaliza.

Esporte Olímpico vira tema de exposição

Pensando justamente em aproximar as pessoas dos “basti-dores”

ESPORTES

ESPECIALIZADO NEWS20

A ciência quebrando recordes

Entenda de que forma os avanços tecnologicos vêm auxiliando no preparo de atletas de alto nível

Por Felipe Ferraz

Crianças experimentam a sensação de ser um velocista olímpico.

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do esporte e resgatar histórias do passado, é que o Museu de Ciências e Tecnologia da PUC, em parceria com a Faculdade de Educação Física, Ministério da Cultura e do Instituto Brasileiro de Museus, inaugurou a exposição Esporte Olímpi-co – Memória e Ciência. A ideia é simples: cri-ar experiências que as pessoas geralmente não têm no dia a dia e mostrar-lhes a contribuição da ciência na prática do esporte.

São três andares onde os visitantes podem entender melhor a relação entre esporte e ciên-cia. No primeiro deles, uma das trações é a pista de atletismo. Nela, depois de correr 15 metros, o usuário sobe em um pódio interativo de realidade aumentada e se vê em primeiro lugar, em uma tela de televisão, dentro de um estádio olímpico lotado e ao lado de grandes nomes do atletismo. Você ainda recebe medalha, troféu e louros, tudo virtual. Uma câmera regista o momento e a foto pode ser compartilhada nas redes sociais. No segundo pavimento, experimentos relacionam o esporte olímpico com o corpo humano, funciona-mento dos músculos, movimentação da coluna e equilíbrio. Na chamada Arena 2 descobre-se, por exemplo, que o praticante de snowboard, ao afastar os pés e manter os joelhos flexionados sobre a prancha, está utilizando um conceito da Física para melhorar sua estabilidade. No ter-ceiro e último andar, painéis e materiais multi-mídia interligam olimpíadas, prática de esportes, tecnologia, física e ciência. Na cadeira giratória, o visitante simula os movimentos de um pati-nador artístico.

Para o encarregado da exposição, André Aya-

la, o projeto possui um papel muito importante: “É excelente para que as pessoas conheçam melhor outros esportes. O pessoal sabe bastante sobre futebol, vôlei, mas, sobre os outros, mui-to pouco”. O fato de se poder entender como os atletas fazem uso da ciência para se tornarem mais competitivos, segundo Ayala, é uma possi-bilidade única.

“Isso torna mais lúdico, didático e ilustrativo a experiência aqui no museu”, complementa. O coordenador afirmou ainda que a procura para visitar a exposição está sendo grande, principal-mente por parte de colégios, e que a expectativa é manter os trabalhos até o final das Olimpíadas do ano que vem.

Alguns esportes onde a tecnologia proporcionou melhor desempenho

O desenvolvimento tecnológico está cada vez mais presente na vida das pessoas, alterando atividades cotidianas sem que, na maioria das vezes, percebamos. No esporte acontece o mes-mo. Embora muitas pessoas não consigam no-tar, existe muita tecnologia e ciência envolvida em cada quebra de recorde.

Na natação, por exemplo, na primeira Olím-piada da era moderna, em 1896, os nadadores utilizavam maiôs com cerca de cinco quilos. A partir de então os trajes passaram a diminuir de tamanho e os recordes, consequentemente, também caíram. Tecidos mais leves e menos ab-sorventes ganharam a preferência dos atletas. No salto com varas, inicialmente, eram usadas varas de madeira, pesadas e rígidas. Aos pou-cos, elas foram sendo substituídas por varas de

bambu, material muito mais flexível e leve. Entre as décadas de 1950 e 1960, o alumínio e a fibra de vidro tornaram as varas mais competitivas. Também foram empregadas melhorias na área de pouso com colchões especialmente dimensio-nados. Atualmente, as varas são fabricadas com base em compostos de carbono, material mais leve, resistente e flexível.

Outros exemplos também foram importantes para o desenvolvimento do esporte e também na busca de um resultado mais justo. É o caso do sistema Hawk-eye (olho de falcão), utilizado no tênis, onde câmeras de alta velocidade captam imagens de todos os pontos da quadra, possi-bilitando aos jogadores desafiarem uma decisão da arbitragem quando discordam. Em uma mo-dalidade na qual a bola pode ultrapassar os 200 km/h, alguns lances são imperceptíveis ao olho humano. Mais uma vez, é a tecnologia em prol do esporte. Ainda mais recente são os chips nas bolas de futebol. Somado a um campo magnéti-co na linha do gol, o “GoalRef” permite ao árbitro saber com exatidão se a bola cruzou ou não a linha, determinando se foi ou não foi gol.

São vários os casos ao longo dos anos. Não podemos prever exatamente qual será o futu-ro do esporte, mas o certo é que a ciência e a tecnologia estarão cada vez mais presentes, at-uando direta ou indiretamente para que os atle-tas alcancem melhores desempenhos em suas competições. A certeza que fica é a de que o homem depende da ciência e a ciência depende do homem. Essa “parceria” vem se mostrando cada vez mais eficiente e inseparável.

ESPECIALIZADO NEWS21

Criada nos jogos da antiguidade, a Coroa de Louros é a mais alta honra para um atleta olímpico.

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: FELIPE FERRAZ

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Um dos principais entraves para o desen-volvimento do Rio Grande do Sul é a sua dívi-da pública. Ao longo dos anos, os gaúchos vêm sentindo os efeitos dessa crise. Suces-sivos governadores viraram administradores de dívidas, fazendo malabarismos para con-seguir investir no básico.

Após experimentar déficits fiscais recor-rentes entre os anos 1970 e 1990, que des-encadearam um grande aumento de sua Dívida Mobiliária, o Rio Grande do Sul – as-sim como outros Estados brasileiros – firmou acordo de renegociação da Dívida com a União em 1998. O valor devido na época era de R$ 9,57 bilhões.

LEI Nº 9.496, DE 11 DE SETEMBRO DE 1997.

Estabelece critérios para a consolidação, a assunção e o refinanciamento, pela União, da dívida pública mobiliária e outras que es-pecifica, de responsabilidade dos Estados e do Distrito Federal.

Para o auditor fiscal da Secretaria da Fa-zenda e representante da Federação Brasile-ira de Associações de Fiscais de Tributos Es-taduais, João Pedro Casarotto, na segunda metade da década de 90, ficou evidenciada a necessidade de equacionar as dificuldades financeiras enfrentadas pelos estados, em razão das mudanças econômicas ocorridas nos últimos anos. “Esta situação é politica-mente explosiva, já que cada vez mais toma vulto o espírito subnacionalista dos brasile-iros, o que, definitivamente, não combina com as restrições orçamentárias a que es-tão expostos os Estados Federados e muito menos com a desproporcional concentração de poder nas mão da União”, ressaltou Casa-rotto.

Já o economista e professor da PUCRS, Alfredo Meneghetti, considera que um dos principais desafios é ajustar a defasagem en-tre o ICMS e o PIB gaúcho. “Enquanto o PIB gaúcho cresceu cerca de 350% em relação a 1970, o ICMS reagiu somente com 295%,

ambos atualizados pelo IGP-DI”, lembrou o Meneghetti, que também é membro da Fundação de Economia e Estatística (FEE). Isso significa que o Estado vem tendo cada vez menos força para se impor para transfor-mar o aumento da base econômica em ter-mos de arrecadação.

Recentemente divulgado pela Secretar-ia da Fazenda, o relatório anual da Dívida Pública de 2014, aponta para um Rio Grande do Sul ainda no vermelho e em dificuldades. A dívida consolidada é duas vezes maior do que a receita, ou seja, é o dobro da ar-recadação anual. Em nenhum outro Estado, o nível de endividamento é tão alto. Segundo os dados, a conta ultrapassa R$ 54,7 bilhões. E nesse valor não estão incluídos os prec-atórios, nem o déficit anual da previdência. É como se cada gaúcho já nascesse devendo e operando no cheque especial

A proposta de mudança do indexador da dívida, disposta pela Lei Complementar no 148/2014, e ressaltada pelo atual secretário da fazenda, Giovani Feltes, no relatório anu-al da dívida, é vista como uma forma de de-safogar a dívida Estadual, além de viabilizar a abertura de espaço fiscal.

Para o auditor público externo do TCE/RS, Josué Martins, a dívida pública Estadual só será quitada após uma série de intervenções na constituição, entre elas a mudança do at-ual corretor monetário. Ele também cita que, em uma relação entre entes federados, não pode haver anatocismo, ou seja, a cobrança de juros sobre juros. “Nós oferecemos alter-nativas de enfrentamento da crise financeira do Estado que passam pela aplicação da Lei Federal 148/2014, mas que ainda precisa ser melhorada”, ressaltou Martins.

A origem do rombo remonta há pelo

Para entender a Dívida Pública Estadual

Especialistas avaliam causas e alternativas. Troca do atual indexador da dívida (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) é apontada como solução

Por Matheus Caporal

Auditores realizam ato público no dia 29/05 para explicar à população as principais causas da dívida Pública Estadual.

ECONOMIA

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menos 40 anos. Não há um único culpado. É resultado de uma combinação crônica e per-niciosa de gastos excessivos, descontrole e apostas erradas, cujos efeitos foram poten-cializados por crises econômicas nacionais e internacionais.

Dezoito anos depois, a história mostra que nem tudo saiu como o planejado. O acerto, que também foi feito e celebrado por outros Estados, funcionou como um balão de oxigê-nio e reorganizou as finanças, mas não pôs fim ao problema.

Com o IPCA (apenas um exemplo), ou seja, com a adoção de um índice de cor-reção dos valores equivalente à inflação, o PIB poderia crescer ainda mais. Visto que uma grande parcela está comprometida justamente por causa da dívida com a União. Isso representaria uma maior disponibilidade de recursos para o Estado investir em outras áreas como a saúde, educação, saneamento básico… Além de pagar a Dívida Pública do Estado num período relativamente curto, em torno de 10 anos.

ESPECIALIZADO NEWS23

A dívida fundada da administração di-reta do Estado, apurada ao final de 2014, apresentou um estoque de R$ 54.795.035.721,39. Este valor correspon-deu a um acréscimo percentual de 8,6% em relação ao final do ano anterio, em que dívida total ficou em R$ 49,1 bilhões. Do total deste ano, R$ 49.332.294.944,16 referem-se à dívida interna, e R$ 5.462.740.777,35 referem-se à dívida externa.

A dívida hoje

São três os principais fatores:- O indexador monetário; - A elevada acumulação de resíduos;- A taxa de juros real.

Por que a dívida aumentou tanto?

Os quadros a seguir mostram a importância de se encontrar uma alternativa para o atual indexador da dívida

O acordo de renego-ciação da Dívida com

a União estabelece que temos até 2028

para pagá-la.

Os dados mostram que se o indexador monetário fosse corrigido há 5 anos, economizaríamos 13,4 bilhões de reais.

Page 24: Especializado News

Suco de uva orgânico é a aposta de casal de médicos

O avanço da cultura algodoeira na região central do Brasil coloca o país entre os maiores produtores mundiais.

O casal Alfredo e Silva Reich resolveram deixar a atribulada rotina em hospitais da Capital gaúcha, Porto Alegre, e se muda-

ram para Sapiranga, em busca de uma melhor qualidade de vida. O casal herdou uma proprie-dade de 34 hectares, no interior de Araricá, ci-dade localizada a cerca de dez quilômetros de Sapiranga.

Nos finais de semana, longe do consultório, criam galinhas, porcos e vacas, e cultivam um pomar e uma horta, de onde tiram frutas e ver-duras para consumo e venda. Os dois filhos do casal tomaram gosto pela lida, e hoje ajudam o casal a tocar a propriedade da família.

O passatempo virou negócio no ano de 1996, quando a família decidiu investir na ovinocultu-ra. As ovelhas são criadas do modo mais natural possível, já que a intenção da família é oferecer um produto diferenciado tanto em sabor, quanto em qualidade. O desperdício de lã incomodava os proprietários, que decidiram, então, reaprove-itar o material, produzindo peças de vestuário, como casacos forrados e alpargatas. Os Reich apostam na filosofia de que tudo deve ser feito por eles, desde o plantio ao trato com os ani-mais. A colheita e a comercialização também es-tão a cargo da família.

Em 2010, eles decidiram aventurar-se no-vamente e embarcar em um novo desafio: a produção de suco de uva orgânico. Hoje, as parreiras ocupam mais de dois hectares da pro-priedade. O processo completo, desde o plantio, passando pela colheita até o engarrafamento é realizado pelos médicos e sua família.

Sílvia procura sempre inovar para alavan-car as vendas. No último ano, criou uma bolsa térmica com uma garrafa do suco. “Vendemos 600 bolsas para a Unicred”, conta entusiasmada com seu sucesso. Hoje o suco de uva é vendi-do em muitas cidades do estado, incluindo Por-to Alegre, Novo Hamburgo, Pelotas, Sapiranga, Araricá e Gramado. As entregas são feitas pelo próprio Alfredo. “Eu sou o guri das entregas, se precisar de suco em Porto Alegre, eu só cuido quando está passando um filme bom”, diverte-se.

Eles contaram também sobre a pretenção de expandir o negócio e contratar um representante

comercial para comercializar a bebida. “A ven-da tem que crescer. Buscamos lugares que ten-ham essa filosofia do orgânico como nós”, conta Sílvia. Atualmente, um litro da bebida custa R$ 12,50, enquanto a garrafa de 500 ml tem um val-or de R$ 7,00.

O ritmo da família não para. Um domingo por mês, servem um almoço para cerca de 40 pes-

soas em seu terreno em Araricá. O carro-chefe da casa, a ovelha, assim como todos os outros pratos, são preparados por eles mesmo, para garantir a qualidade do sabor. A sobremesa fica por conta da Vó Irany, que tem a mão cheia para os doces. O valor do almoço é de R$ 40,00 por pessoa.

Por Laura Zucchetti

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ECONOMIA

ESPECIALIZADO NEWS24

Atualmente, um litro da bebida custa R$ 12,50, enquanto a garrafa de 500 ml tem um valor de R$ 7,00.

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RS 2030: novos cenários desa-fiam o futuro do Estado

Transição populacional e concentração do PIB na metade leste do RS devem alterar per-spectivas sobre o planejamento do Estado

A dinâmica territorial do Rio Grande do Sul deve estabelecer novos desafios para o Estado nas próximas duas décadas.

É o que aponta o “RS 2030”, estudo feito pela FEE (Fundação de Economia e Estatística), que identificou futuros cenários futuros na realidade econômica do RS até 2030. Desafios como a transição populacional e a concentração do PIB estadual na metade leste do Estado começam, desde já, a demandar o foco das políticas públi-cas para o futuro dos gaúchos.

De acordo com o estudo, o PIB do Rio Grande do Sul deve continuar se concentrando na meta-de oeste do Estado pelos próximos 20 anos. Se, por um lado, cidades como Rio Grande, Caxias do Sul e Porto Alegre se mostram cada vez mais dinâmicas e atrativas para a indústria, o es-vaziamento populacional da metade oeste do RS pode estagnar ainda mais a produção de riquezas locais, com uma redução na partici-pação do PIB que pode chegar em 0,36% nas próximas décadas.

Para a economista da FEE, Cecília Hoff, a descentralização da produção pode ocorrer a partir de incentivos do Estado. “O governo pode estimular empresas a se alocarem lá, através de incentivo fiscal. O que não deixa de ser uma aposta arriscada, porque, às vezes, são empresas que não estão enraizadas naquele local, são estranhas ao lugar”, afirma. Na visão do professor de economia da PUCRS, Alfredo Meneghetti, cabe ao planejamento Estado ol-har para a região oeste, considerada a mais frágil do RS. “Os economistas devem ver de que forma estes municípios podem se articu-lar entre eles, criando consórcios, para que aja uma força conjunta da região inteira. Criando condições para que essas regiões não fiquem abaixo do crescimento econômico do resto do Estado”, afirma. Hoje, a metade das despesas pessoais do governo estadual já são destina-das aos funcionários inativos.

A queda das taxas de natalidade e mortali-dade, comum ao processo de desenvolvimento de uma região, começam a alterar o Estado em diferentes sentidos. No ano de 2025 o RS deve atingir um contingente máximo de 11 milhões

de habitantes. A partir de então, passará por uma redução gradual da sua população, totalizando 9,7 milhões em 2050, tornando-se um dos pri-meiros Estados a atingir uma taxa negativa de crescimento populacional no país. A mudança do perfil etário do gaúcho deve implicar na redução na taxa de desemprego, mas desafia o sistema previdenciário e o sistema público de saúde.

Para o economista Alfredo Meneghetti, uma das soluções possíveis para contornar o déficit no sistema previdenciário pode ser a busca pe-las previdências complementares. “A previdência está desiquilibrada, e não há possibilidade de au-mentar as alíquotas, para fazer dar mais acesso financeiro aos aposentados”, afirma. Na visão de Menghetti, é fundamental a criação de condições

para que os próximos contingentes não tenham carência no atendimento no sistema público de saúde, através de investimento no serviço e em equipamentos de logística voltados para a faixa idosa da população.

Segundo o diretor do Departamento de Plane-jamento da Secretaria do Planejamento do RS, Antonio Paulo Cargnin, a mudança etária da população gaúcha deve resultar, principalmente, numa nova forma de planejar a educação pública no país. “Nossa estrutura educacional vai mudar o foco. Vamos ter de nos preocupar com a qual-idade do ensino, em vez de pensar, apenas, em botar todos na Escola”, afirma o diretor, referin-do-se à mudança estrutural que devem ocorrer devido à queda de natalidade no Estado.

ESPECIALIZADO NEWS25

Por Gabriel Gonçalves

ECONOMIA

Page 26: Especializado News

Eucalipto: vilão ou herói dos Pampas?

Novos capítulos de um antigo debate: há mais de uma década incorporada à produção agrícola, a transgenia segue polêmica

Muitos mitos entornam o eucalipto desde que, na década de 60, o resultado de seu plantio foi um fracasso em diversas

tentativas. Tratando-se do século passado, a não apresentação dos resultados esperados da sua produtividade é atribuída à falta de conhecimento técnico e planejamento inadequado para o culti-vo da época. Ainda hoje, surgem críticas quanto a produção de um ponto de vista profissional, socio-ambiental e econômico.

Da planta australiana, atualmente, se aproveita desde as folhas até as fibras. As florestas plan-tadas, cuja produção é chamada de silvicultu-ra, geram, em suas aplicações, papel, celulose, carvão vegetal, móveis e outros.

De acordo com o assistente técnico estadual da Emater, Dirceu Luiz Slongo, o eucalipto é procura-do por produtores rurais, de um modo geral, pela sua versatilidade, pelo seu rápido crescimento e pela sua adaptação. Com excessão das áreas muito altas e frias, o eucalipto se adapta em prati-camente todo o Rio Grande do Sul. Existem diver-sas espécies de eucalipto, e, para cada região, há uma mais indicada.

“É difícil tu ir em uma propriedade rural que não tenha ao menos um pequeno bosque de eucalip-to. Porque quando se precisa, tem, seja pra lenha ou para a construção civil. Tudo se usa e vende-se o excesso. É o rendimento e a rentabilidade, começa aí a aceitação do eucalipto”, afirma Slon-go. Com relação ao impacto das monoculturas, ele acredita que qualquer plantação do tipo, ao longo do tempo, é prejudicial ao solo. Mas, segun-do ele, a do eucalipto é menos prejudicial do que uma monocultura anual.

No Rio Grande do Sul, esse tipo de plantação está em uma região no entorno das grandes in-dustrias de celulose. Tudo que é plantado é feito mediante licenciamento ambiental, e o Estado é o único brasileiro que possui um zoneamento ambi-ental para a sivicutura e para o ambiente. Onde é feito o plantio licenciado de eucalipto, ou de out-ra atividade como o pinus e a acácia, todas as questões de preservação permanente devem que ser cumpridas. Isso passa a ser uma garantia de que, nessas áreas, há preservação permanente e a reservas legais são respeitadas.

Para o pequeno produtor rural Alfredo Ro-

drigues, a decisão de plantar eucalipto veio a par-tir da necessidade de encontrar uma planta que sobrevivesse ao inundamento de suas terras e auxiliasse nessa questão. “Na época em que de-cidi plantar, todo mundo da minha região plantava acácia. Como queria fazer um plantio diferente, decidi pelo eucalipto. Outro fator foi que uma par-te do meu sítio era todo encharcado, e isso, com a acácia, não funcionava. Foi então que peguei três tipos de eucaliptos e deu tudo certo”, comemora.

Na plantação do eucalipto, há uma intervenção no solo quando é realizado o plantio. Ela pode ficar ali por uma década, dependendo da finali-dade, extraindo elementos, mas também devol-vendo, como se fora uma ciclagem. No Estado, há cerca de 2% de área cultivada com silvicultura. O eucalipto ocupa pouco menos de 1%, cerca de 310 mil hectares de cultivação. Estudos apontam que até 3% da área gaúcha poderia ser plantada sem causar problemas ambientais.

Segundo a geógrafa Tania Rodrigues Ferrer, o Pampa, que reúne Uruguai, Argentina e Brasil, é o maior bioma que está sendo alterado. A paisagem natural está sendo modificada com a produção de eucaliptos, ou seja, não como reflorestamen-to e sim florestamento. Para um produtor poder ter bosques de eucalipto com mais de 100 hect-ares, no âmbito comercial, ele deve possuir uma licença ambiental.

“Não tem nada que tu faça na natureza que não seja impactante. Tu matas algumas espécies e trazes outras. Com isso, mexemos no curso d’água, mas não estamos mexendo só por causa dos eucaliptos, e sim porque se está criando uma vegetação, trazendo uma paisagem para aquela região que não tinha.” conclui Tania.

Mesmo com a monocultura do eucalipto au-mentando anualmente, o pequeno produtor Ro-drigues garante que prefere não apostar na nova planta. “Hoje, existe um grande consumo de eu-calipto. Só que até que ponto? Pela comodidade, as pessoas deixam de investir em gado pra plan-tar eucalipto. Mas, mesmo com esta demanda, não pretendo parar com a minha plantação. Ainda é um bom negócio, acredito que daqui a dez anos não seja mais, mas agora ainda é. Certamente vou continuar”.

ESPECIALIZADO NEWS26

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Eucaliptos têm origem australiana e hoje ocupam cerca de 3% da área plantada no Rio Grande do Sul

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Por Vanessa Back

Page 27: Especializado News

Cultivo orgânico cresce, mas custo ainda é alto

Consumo de orgânicos está cada vez mais comum entre a população gaúcha

O consumo de produtos cultivados de for-ma orgânica tem se tornado cada vez mais frequente nos hábitos alimentares

da população brasileira. Atualmente, o cresci-mento da produção chega a 20% ao ano no Brasil e reflete na procura por melhor qualidade de vida. No entanto, produtores e consumidores ainda enfrentam obstáculos nesse segmento. O principal diz respeito à diferença de preço frente aos alimentos cultivados de maneira convencio-nal.

De acordo com dados divulgados pela Ema-ter, há hoje 930 produtores agroecológicos regis-trados no Rio Grande do Sul. Destes, 368 estão localizados na região metropolitana, e os demais distribuem-se pelas regiões do Estado. Em com-paração com o cenário nacional, o Rio Grande do Sul encontra-se na quarta posição entre os maiores produtores, atrás apenas de São Paulo, Paraná e Piauí. Ainda de acordo com a Emater, existem 89 feiras de orgânicos ativas em todo o Estado. Além disso, em uma pesquisa organiza-da pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 69 supermercados, lojas e restaurantes utili-zam produtos orgânicos em Porto Alegre.

Nessa forma de cultivo, hortaliças, grãos e frutas não recebem ação de agrotóxicos, fertil-izantes sintéticos ou transgenia. A produção de alimentos prioriza técnicas naturais e tem pú-blico consumidor que pertence principalmente à classe média-alta, por ter preços a cima da média. A ausência de controle químico para im-pedir o avanço de pragas nas lavouras e aumen-tar a produtividade implica um risco maior na produção, além de rendimentos em menor es-cala e elevação do custo de mão-de-obra. Esse aspecto influi diretamente no preço final do pro-duto, tornando os orgânicos cerca de 40% mais caros que alimentos convencionais.

“Por não conseguir produzir grandes quanti-dades, o nosso custo precisa ser compensado em um preço maior de venda”, afirma João Car-los Carvalho, que trabalha com produtos orgâni-cos há 30 anos.

Ainda assim, Carvalho destaca que a priori-dade dos produtores desse segmento é manter a qualidade dos alimentos e os consumidores

reconhecem isso na hora da compra. “Nosso mercado está crescendo e as pessoas que bus-cam esses produtos desejam modificar seus hábitos alimentares”, conta Carvalho.

A professora Eleonor Mello há 20 anos trocou verduras e vegetais tradicionais por alimentos orgânicos. Ela destaca que quando teve esta ideia, durante a década de 1990, não existia uma variedade tão grande de produtos, e também não encontrava-se lojas especializadas no ramo..

“Optei pelos orgânicos na mesma época em que meu pai começou um tratamento ortomolec-ular para curar um câncer. Ele viveu até os 104 anos e morreu de causas naturais. Desde então, prefiro investir um valor maior no meu gasto com alimentação e ter a certeza de que estou cuidan-do da minha saúde e melhorando minha quali-dade de vida”, ressalta Eleonor.

Mas não são apenas os altos custos de pro-dução que elevam o valor dos produtos orgâni-cos para os consumidores. Outro aspecto, que diz respeito à fiscalização e ao controle de qual-idade, também influi no preço. Desde o ano de 2011 está em vigor no Brasil a Lei dos Orgânicos, que foi criada para regularizar os produtores e garantir a qualidade. Para isso, há a necessidade

da certificação dos alimentos. E obter o selo im-plica em custos para o agricultor. Atualmente, existem três formas legais de receber o certifica-do de orgânicos: controle social na venda direta, certificação por auditoria e sistema participativo de garantia.

“Todas as despesas no processo de certifi-cação e manutenção do selo são de responsabil-idade dos agricultores, já que as certificadoras no Brasil são particulares. Os produtores precisam também pagar mensalmente uma porcentagem do que produzem para os órgãos certificadores”, explica o engenheiro agrônomo Juarez Reis.

Segundo Reis, esse é outro fator que dificulta que os orgânicos se tornem competitivos. Uma maneira de minimizar os custos da regulamen-tação é o processo de certificação participativa, que se estabelece na formação de uma asso-ciação de produtores, consumidores e técnicos que visitam as propriedades cadastradas e re-alizam a fiscalização. “Nesse sistema, há troca de experiência entre os agricultores e todos os membros assinam um relatório que tem a função de certificação. Os gastos são custeados pela associação, por isso, quanto mais agricultores associados, menor o custo individual”, finaliza.

ESPECIALIZADO NEWS27

RURAL

Produtos orgânicos não possuem intervenção de agrotóxicos nem modificações geneticas.

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Por Bárbara Biolchi

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A lavoura embranqueceu

O avanço da cultura algodoeira na região central do Brasil coloca o país entre os maiores produtores mundiais.

O Brasil é hoje o terceiro maior exportador de algodão do mundo. Nas últimas três safras, o volume médio de 1,7 milhão de

toneladas de pluma colocou o país entre os cinco maiores produtores mundiais, ao lado da China, Índia, EUA e Paquistão. Mas a posição brasilei-ra no ranking nem sempre foi motivo de orgulho. O país já foi o maior importador da matéria-pri-ma. Foi somente em 2001, com a consolidação do modelo empresarial da cultura nos estados do Centro-Oeste e na Bahia, que a condição foi revertida. A exportação é uma das maiores con-quistas do setor, mas a produção nacional é pri-oritariamente destinada à indústria têxtil.

Ouro BrancoA cotonicultura é o cultivo que mais recebe

aplicações de defensivos agrícolas e químicos. Do plantio até a colheita são cerca de 30. Por não ser um alimento, a quantidade de agrotóx-icos passa despercebida por ambientalistas e pela comunidade internacional, diferente de out-ras culturas, como a da soja e do milho. Ainda assim, é fator determinante para os produtores. Plantar algodão requer muito investimento. A safra 2015/2016 deve ter o maior custo de pro-dução da história. A expectativa é de que o cul-tivo de um hectare da fibra no Mato Grosso, o maior estado produtor do Brasil, fique em torno da fibra no Mato Grosso, o maior estado produtor do Brasil, fique em torno de R$ 7.560,46. “Não é coisa para gente pequena. No geral, são as grandes propriedades que apostam no algodão, porque já têm mais estrutura para pod-er arriscar”, analisa Cristiano Danieli, agrôno-mo que atua em Sorriso, Mato Grosso, cidade conhecida como a Capital Nacional do Agro-negócio. Além dos riscos climáticos, o cotonicul-

tor enfrenta uma infinidade de doenças e pra-gas, que contribuem para encarecer o cultivo. Quase nunca o algodão é a principal atividade de uma fazenda, atua como a chamada “cultura pro-gramada”. Diferente das outras culturas de saf-rinha, seu ciclo é mais longo e exige que a plantação que a antecede seja precoce, ou seja, de ciclo re-duzido. “Aqui, em Sorriso, quando os agricultores percebem que não vai dar tempo de plantar o al-godão, eles chegam a matar a soja, interrompen-do seu ciclo para colher antes”, conta Danieli.

Uma praga de difícil controleOs cotonicultores do Brasil se organizam em

associações estaduais e estão representados

pela Associação Brasileira dos Produtores de Al-godão (Abrapa). A primeira delas foi a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), que surgiu em 1997, antes mesmo da entidade nacional. Décio Tocantins, diretor exec-utivo da entidade regional, conta que na última safra (2013/14) o estado produziu sozinho 1 mil-hão de toneladas de pluma, número que repre-sentou 58% da produção brasileira. “Estimamos que em 2014/15 o Mato Grosso produza 865 mil toneladas de pluma, o que nos manterá na lid-erança do ranking brasileiro”, prevê Tocantins. O algodoeiro é cultivado em mais de 40 mu-nicípios mato-grossenses, sendo os principais Campo Verde, Rondonópolis,

ESPECIALIZADO NEWS28

RURAL

Curiosidade: O algodão é uma árvore. Reguladores de crescimento impedem que a planta cresça. Com a planta mais baixa, aumenta a população e a eficiência da apli-cação de inseticidas e da penetração da luz, contribuindo para a abertura mais rápida e uniforme dos frutos. Lavoura de algodão em Sorriso - MT. Cotonicultura é opção de safrinha para agricultores da região

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Por Bruna Zanatta

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Sorriso, Campo Novo do Parecis e Sapezal. A logística, segundo o diretor, é mais uma praga a ser combatida. Pires – Tapajós, obras previs-tas pelo Programa Hoje, o município com maior área de plantio é Sapezal, a aproximadamente 2000km do porto Santos, um dos principais por-tos de exportação do país. As toneladas que garantem o recorde de produção são transpor-tadas exclusivamente por caminhões. Numa tentativa de resolver os gargalos da infraestrutu-ra logística, a Ampa foi uma das fundadoras do Movimento Pró-Logística, que visa assegurar a sustentabilidade do agronegócio. Entre os proje-tos prioritários estão a conclusão da BR-163 até Santarém, no Pará, e viabilização da navegação na hidrovia Teles a conclusão da BR-163 até Santarém, no Pará, e viabilização da navegação na hidrovia Teles Pires – Tapajós, obras previs-tas pelo Programa de Aceleração do Crescimen-to (PAC), do Governo Federal, mas que ainda não saíram do papel. Da lavoura para o guarda-roupa

Mais da metade da produção de pluma do es-tado do Mato Grosso é responsável por abastecer 70% do consumo atual da indústria têxtil brasile-ira. Do total de 1 milhão de toneladas de pluma produzidas na safra passada (2013/14), aproxi-madamente 600 mil toneladas seguiram para os teares das indústrias de fiação e tecelagem no estado ou nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. O restante da produção seguiu para os portos, em direção a países como Indonésia, Coreia do Sul, Malásia, China e Vietnã. De acor-do com o diretor da Ampa, a qualidade da pluma brasileira é reconhecida mundialmente. “A qual-idade é nossa preocupação constante e implica cuidados desde a escolha da variedade de se-mente utilizada na lavoura”, revela.

Uma pesquisa desenvolvida na Embrapa Al-godão e apresentada em junho de 2015, pode promover ainda mais a matéria-prima brasile-ira. Quem nunca ouviu falar dos famosos fios egípcios? O algodão do Egito é o sonho de con-sumidores do mundo todo. As fibras do algodão são classificadas em curta, média, longa e ex-tralonga, medidas em milímetros ou polegadas. “Quanto maior o comprimento da fibra, melhor para a indústria têxtil. As fibras longas e ex-tralongas servirão para a obtenção de fios mais finos, usados na confecção de tecidos de luxo e linhas de costura”, explica o pesquisador Luiz Paulo de Carvalho.

Ele liderou a pesquisa que selecionou linha-gens de algodão de fibra longa adaptadas às condições de produção brasileiras. O ganho na qualidade, afirma, conferiria mais competitivi-dade ao produto nacional, além de suprir a atual demanda interna, que é de 30 mil toneladas, dis-pensando a importação. Em mais alguns anos, o pesquisador espera que as roupas de cama com fio brasileiro se tornem as queridinhas das donas de casa.

ESPECIALIZADO NEWS29

O algodão produzido no Brasil é, prioritariamente, destinado a indústrias do Sul e Sudeste do Brasil.

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Controvérsias além do rótulo

Novos capítulos de um antigo debate: há mais de uma década incorporada à produção agrícola, a transgenia segue polêmica

A autorização para o uso dos transgêni-cos no Brasil completou doze anos em 2015. Apesar de estar em circulação há mais de uma década, a utilização de or-

ganismos geneticamente modificados (OGM) na agricultura segue controversa. A aprovação na Câmara de um projeto de lei que dispensa o sím-bolo transgênico de rótulos de produtos que con-tenham matéria-prima geneticamente modifica-da reacendeu a polêmica na sociedade, opondo ambientalistas e ruralistas e levando a discussão para o âmbito político.

Na safra de 2003, as primeiras sementes de soja geneticamente modificadas foram introduz-idas nas lavouras do Rio Grande do Sul. Desen-volvida pela empresa transnacional Monsanto, a soja transgênica foi produzida para resistir ao herbicida glifosato. A transgenia foi autorizada pela lei nº 10.688/2003, sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde a au-

torização, os transgênicos se impuseram como uma realidade nacional e conquistaram espaço no mercado, despontando como o avanço mais recente do agronegócio para as monoculturas de larga escala, com a promessa de aumento da produtividade e da redução da quantidade de agrotóxicos necessários. “De fato, um aumento de produtividade é atingido, mas ao custo do es-gotamento constante de muitos recursos, o que gera uma demanda cada vez maior por insumos agrícolas. Aí entra o interesse das empresas de sementes”, afirma o biólogo, mestrando em eco-logia com ênfase em exploração sustentável de recursos biológicos, Paulo Barradas.

Segundo o relatório do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecno-logia (ISAAA, na sigla em inglês), referente ao ano 2014, o Brasil ocupa o segundo lugar na lista dos maiores produtores mundiais de alimentos geneticamente modificados, com 42,2 milhões

de hectares de plantações transgênicas, atrás somente dos Estados Unidos, que possui 73,1 milhões de hectares. No ano passado, 93% da área plantada de soja correspondia a variedades transgênicas, enquanto o percentual do milho foi de 82% e o do algodão, 66%. Paralelamente, en-tre 2000 e 2010, o mercado brasileiro de agrotóx-icos cresceu 190%, ritmo muito mais acentuado do que o registrado pelo mercado mundial (93%) no mesmo período, segundo dados da a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão vinculado ao Ministério da Saúde responsável pela liberação do uso comercial de agrotóxicos.

As lavouras de soja, milho e algodão, princi-pais apostas das grandes empresas de trans-genia, são líderes do consumo de insumos agrícolas. A expansão dos cultivos transgênicos contribuiu para que o Brasil se tornasse, desde 2008, o maior consumidor mundial de agrotóxi-cos, responsável por cerca de 20% do mercado

ESPECIALIZADO NEWS30

RURAL

Até 93% da área plantada de soja no país corresponde a variedades transgênicas

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Por Constance Laux

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global do setor, de acordo com a Anvisa. O con-sumo somado de herbicidas, inseticidas e fungi-cidas, entre outros, atinge mais de 1 milhão de toneladas e movimenta cerca de 8,5 bilhões de dólares por ano no país. Os principais produtores de defensivos agrícolas são justamente as seis grandes empresas transnacionais que lideram o setor de transgenia em nível global: Monsan-to (Estados Unidos), Syngenta (Suíça), Dupont (EUA), Basf (Alemanha), Bayer (Alemanha) e Dow (EUA).

O glifosato, vendido no Brasil desde 1978, é o herbicida mais usado no mundo. A Monsanto de-tém metade do mercado mundial desse princípio ativo, composto primário do seu produto Round-up. Empresas como Syngenta, Basf e Bayer tam-bém têm produtos à base de glifosato. Em abril de 2015, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC, em inglês), órgão ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS), publi-cou um artigo em que classificava o glifosato, e também os inseticidas malationa; diazinona; tetraclorvifóis e parationa, como prováveis agen-tes carcinogênicos para humanos. Em resposta, a Anvisa anunciou oficialmente que reavaliaria a liberação do uso do composto no país.

A relação entre os agrotóxicos e a trans-genia é determinada pela forma como se dá a manipulação genética das sementes transgêni-cas. O gene inserido artificialmente confere às plantas a capacidade de resistir a determinados agrotóxicos, enquanto outros organismos tidos como danosos são destruídos, permitindo que o cultivo alcance maiores índices de produtiv-idade. O biólogo explica que é essa tolerância a agrotóxicos específicos que possibilita o lucro das empresas, uma vez que “a mesma empre-sa que fornece as sementes, fornece também o agrotóxico, e tudo vem ‘embalado’ num grande pacote ao qual o agricultor tem a escolha, quan-do tem, de aderir ou não”. Mesmo após a com-pra das sementes, as empresas continuam sen-do suas donas. Por se tratar de um produto da biotecnologia, a semente é protegida por leis de patentes. “Dessa forma o agricultor está proibi-do de guardá-las para cultivar na próxima tem-porada, sob a pena de multas severas”, afirma Barradas.

No âmbito políticoDe acordo com o Decreto Federal nº 4680/03,

qualquer produto deveria ser rotulado caso pos-sua acima de 1% de ingredientes transgêni-cos em sua composição. O decreto pode vir a ser modificado pelo Projeto de Lei 4148/08, o chamado PL Heinze, por ter sido proposto pelo deputado federal Luis Carlos Heinze (PP-RS). O projeto, que já passou pela Câmara e agora segue para a aprovação do Senado, extingue a exigência do símbolo da transgenia nos rótulos dos produtos com organismos geneticamente modificados.

Segundo o parlamentar, o seu projeto foi ba-seado nos estudos da Comissão Técnica Nacio-nal de Biossegurança (CTNBio) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que atestam a confiança nos transgênicos. “O projeto que propus prevê a substituição do triân-gulo amarelo com a letra ‘T’ ao centro por uma das inscrições grafadas em destaque: ‘Nome do produto’ seguido da palavra transgênico ou por ‘contém nome do ingrediente transgênico’”, ex-plica o deputado em relação à proposta de disci-plinar as informações sobre o conteúdo dos pro-dutos que devem constar nas embalagens.

Para Barradas tais mudanças do governo acontecem por pressão do lobby das empresas de biotecnologia. “A proposta de retirada do sím-bolo do dos rótulos de alimentos contendo ingre-dientes transgênicos é apenas o exemplo mais recente dessa influência, e deixa transparecer a forma como o assunto é tratado: empurrado goela abaixo da população, para que fique ainda mais desinformada sobre o que está consumin-do”, defende Barradas.

O deputado Heinze, no entanto, argumen-ta que a aprovação visa apenas mudanças na norma de rotulagem de alimentos geneticamente modificados e não estabelece prejuízos. Res-salta que “a legislação não pode provocar na sociedade receio de consumo de produtos cuja segurança alimentar e ambiental foi garantida e atestada pelo próprio governo, por meio da prin-cipal autoridade no assunto do país, a CTNBio”.

A CTNBio é o órgão responsável por apro-var todos os pedidos de pesquisa, produção e comercialização de qualquer tipo de organismo

geneticamente modificado no país. A instituição citada pelo deputado Heinze é também alvo da oposição de ambientalistas na luta contra os transgênicos. A comissão técnica já aprovou, desde 2003, cinco tipos de soja transgênica, 18 de milho, 12 de algodão e uma de feijão.

O agrônomo Gabriel Fernandes, assessor técnico da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), acredita que a CTNBio aprova os projetos dessas seis empre-sas baseados apenas no laudo técnico que a própria empresa fornece acerca da segurança apresentada pela semente transgênica. Segun-do Fernandes, muitos desses relatórios pos-suíram técnica para serem publicadas em uma revista científica. Outro problema ressaltado pelo agronômo é a nomeação política, por parte do Ministério da Ciência e Tecnologia, dos indicados a integrar a comissão. O Ministério tem direito a indicar 12 das 27 pessoas que compõe a CTN-Bio. “Com 14 votos tu aprova qualquer conteúdo: o Ministério, cujo representante também tem di-reito a voto, indica 12 pessoa; basta outra pes-soa entrar no time para que tudo seja aprovado na comissão”, argumenta.

Fernandes afirma que os tipos de transgênic-os existentes hoje, no mercado, não cumprem a promessa das empresas que fazem essa manip-ulação genética. Vendem uma planta suposta-mente resistente a herbicidas, que, no final, de-manda um uso cada vez maior de agrotóxicos. “O que leva o debate para a questão de quem consome, da saúde, do comprometimento técni-co dessas empresas, de como foi aprovado, da Comissão, enfim, política”, explica.

ESPECIALIZADO NEWS31

Embrapa desenvolve pesquisas em sementes de soja transgênica

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O papel da educação ambiental na preservação da água

A cidade de São Leopoldo aliou educação com preservação, visando o bom aproveitamento da água e a manutenção de arroios que compõe o município

A bacia hidrográfica do Rio dos Sinos é uma das principais do Rio Grande do Sul. O Comitesinos foi o primeiro comitê de ger-

enciamento de bacia hidrográfica criado no Bra-sil, cumprindo a Lei Federal nº 9.433/97. Entre os 32 municípios que fazem parte da bacia do Rio dos Sinos está a cidade de São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre. O mu-nicípio é divido em sub-bacias, que são formadas por oito arroios. A cidade tem buscado aliar ed-ucação ambiental com mudança de hábitos para repensar o quadro de muitas famílias e da quali-dade da água. Em março de 2011, São Leopoldo criou o Centro Permanente de Educação Ambi-ental (CEPEA). A ideia é mostrar as diferentes visões da educação ambiental com aspectos so-ciais, culturais, econômicos e ecológicos.

Para o Secretário do Meio Ambiente de São Leopoldo, Gilmar Grub a educação de um povo é o princípio básico da sobrevivência sustentável e harmoniosa com o Meio Ambiente. Ele relata que “Considerando que o Brasil ainda está iniciando a sua gestão ambiental, no que tange a seus re-cursos naturais, a educação ambiental é funda-mental para que as novas gerações tenham mais responsabilidade e consciência da importância da convivência harmoniosa com o ambiente”.

Segundo o Plano de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos: A área da Bacia é de 3.696 Km², o que corresponde aproxima-damente a 4,4% da área da Região Hidrográfica

do Guaíba e a 1,3% da área do Rio Grande do Sul. Toda bacia hidrográfica tem função ecológi-ca, social e econômica. O Rio dos Sinos percorre um trecho de aproximadamente 150 km, desde a nascente até a foz, em Canoas, onde se junta ao Delta do Jacuí. “Neste percurso, a bacia atinge mais de 30 municípios. Para São Leopoldo, ela tem uma função ecológica na formação dos la-maçais e banhados, mantendo assim a sua flo-ra e fauna. Na questão social e econômica ela é nossa fonte de captação da água para abastecer uma população de mais de 200 mil habitantes e mais de mil empresas”, afirma o Secretário.

Ao longo dos anos, muitos arroios das sub-ba-cias foram invadidos para construção de moradi-as irregulares. As famílias que ocuparam a região são pobres e vivem numa situação precária e de risco. Segundo o Ministério da Saúde, quem tem contato com água contaminada pode ser afeta-do por diversas doenças como amebíase, cólera, giardíase e leptospirose. Além disso, a presença do homem nessa região destruiu matas ciliares das margens dos arroios. Segundo a Diretora do Licenciamento Ambiental de São Leopoldo, a bióloga Maria do Carmo Rodrigues Moraes, a su-pressão da mata ciliar deixa o curso da água de-sprotegido, podendo causar erosões. “Essa ação modifica o microclima, altera a temperatura local, o que contribuiu para o aquecimento do Planeta”, enfatiza.

Hoje, quase todas as famílias foram reassen-

tadas, o que possibilitou o projeto de revitalização de diversos arroios, de acordo com a Prefeitura de São Leopoldo. Elenor Costa, 57 anos, morava às margens do arroio e afirma que está melhor acomodado. “Aqui, onde estamos agora, mel-horou muito a qualidade de vida, principalmente no inverno”. O senhor se refere à distância que tomou do Rio do Sinos, que por vezes invadia sua casa.

“No projeto de revitalização está previsto o plantio de mudas de árvores para recompor a vegetação da área de preservação ambiental que foi suprimida”, salienta Maria do Carmo. Já o saneamento básico é outro ponto crucial para preservação da água e do meio ambiente. Não há como solucionar em curto prazo (4 anos) a falta de tratamento nas bacias. A engenheira ambien-tal da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de São Leopoldo (SEMMAM) Eliane Ocanha, afirma que “Para tanto seria necessário a efetivação dos Planos Municipais de Saneamento Básico, visando à universalização e ampliação progres-siva do acesso de todos os domicílios ao san-eamento básico, o que requer elevados investi-mentos”. De acordo com a engenheira, medidas em curto prazo, como o Sistema Individual de Tratamento de Esgoto são meramente paliativos, visto que a manutenção é precária e, em muitos casos, inexistentes. Além disso, a fiscalização é ineficiente, devido ao reduzido número de fiscais nas prefeituras.

ESPECIALIZADO NEWS32

Arroio Kruse (2011)

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RAES

Por Jéssica Moraes

AMBIENTAL

Arroio Kruze (2015) foi um dos primeiros a ter famílias removidas.

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Situação precária de lixão irregular em São Borja

Cidade da fronteira oeste do Estado sofre com os danos da falta de tratamento com os dejetos da população

A cidade de São Borja tem enfrentado, nas últimas duas gestões, um grande prob-lema de saneamento e tratamento dos

dejetos da população. O lixão, espaço que se-ria o destino dos resíduos, hoje, se encontra em situação precária e sem adequação para o uso. Enormes “salsichas” que, em tese, armazenari-am todo o lixo do município, se encontram hoje rasgadas, espalhando todo tipo de material e chorume pelo terreno.

O projeto surgiu na administração do prefeito Mariovane Weiss, como plano inovador para o tratamento de resíduos. O depósito de lixo se en-contra entre o bairro Passo e o cemitério da ci-dade, ambos os à uma distância pequena do Rio Uruguai. Todo coberto por vegetação, o espaço traz a impressão de se tratar de algum tipo de re-florestamento, mas sob a mata está o verdadeiro lixão da cidade, com 350 anos de acúmulo de material sem nenhum tipo de tratamento. Segun-do Jorge Santos, presidente da nova cooperativa de coleta de lixo, é impressionante a quantidade de produtos nunca usados que vão parar no de-pósito. “Roupas com etiquetas e sapatos nunca usados que vão para o lixo se misturar o resto”, comenta Jorge que usa roupas encontradas em uma de suas procuras no lixão.

Atualmente, é possível ver três cenários sobre o local: um espaço onde há descarga do lixo co-letado pela empresa “Eco Verde”, o qual depois de depositado é armazenado em contêineres e encaminhado a Capão do Leão para o aterro sanitário. Este espaço é cercado e não é pos-sível realizar a triagem e reciclagem de materiais pelos/as catadores; um local onde estão depos-itadas as “salsichas”, ou seja, o lixo ensacado em embalagens plásticas de cor amarela, sem nenhum tipo de seleção. Ali se encontram resídu-os de naturezas diversas: alimentos; animais; móveis; aparelhos elétricos; pilhas; baterias; lixo hospitalar, etc. Todo o material embalado está contaminado e está em adiantado estado de decomposição, o que traz sérios riscos à saúde dos trabalhadores desse espaço, bem como, à população, através da contaminação da terra, da água, dos alimentos (cultivos domésticos) e de animais que se alimentam desses resíduos.

De acordo com o Secretario do Meio Ambi-ente do município, Élcio dos Santos Carvalho, em reunião com representantes do projeto de Extensão da Universidade Federal do Pampa e da Cooperativa Unidos Venceremos, a propos-ta é de “que o município implante as ações pre-vistas na Política Nacional de Resíduos Sólidos, onde está a Gestão Integrada de Resíduos Só-lidos. Assim, a empresa licitada fará a coleta dos materiais. Esses materiais serão levados a ‘Usina de Reciclagem’ “. A professora Loiva de Oliveira, relata que até o momento nada está concreto e acrescenta. “A COOPUV está pleite-ando o espaço junto à Prefeitura. Também está no aguardo de maquinário como carrinhos, pren-sas e balanças, já liberado pelo Governo Federal e, atualmente, dependendo de encaminhamento do Governo do Estado do RS, para iniciar os tra-balhos, enquanto não se efetiva o processo lici-

tatório”.Se o Ministério Público Estadual exige o fim

da presença de catadores de resíduos no lixão e do depósito irregular, o governo estadual não fornece verba para a destinação de materiais. O conselheiro municipal de São Borja, Hamilton de Lima e Souza, define a relação da prefeitura e Estado como “complexa”. “O governo federal tem verbas para aplicar na destinação adequa-da, mas, depende dos projetos que são apresen-tados para tomar providências. Ainda não há um projeto exequível para a eliminação do lixão”, co-menta Hamilton. O impacto atinge o ar, a terra e a água. A região apresenta várias propriedades de plantio de arroz, que são irrigadas por açudes e em alguns trechos pelo próprio Rio Uruguai, am-bos contaminados com resíduos do lixo deposit-ado no lixão, bem como, com produtos químicos utilizados no plantio desses cultivos.

ESPECIALIZADO NEWS33

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: PEDRO

SILVA

Por Pedro Silva

AMBIENTAL

situação irregular de despejo de lixo em São Borja.

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