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Revista de Jornalismo Especializado do Centro Universitário Metodista do IPA: Econômico, Investigativo, Ambiental e Científico.

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editorialespecializados

Integrada ao currículo diferenciado do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista, do IPA, aqui está a 1ª edição da

Revista online de Jornalismo Especializado.Esta publicação surge com o intuito de conferir

maior visibilidade aos trabalhos acadêmicos e, também, como alternativas: ecologicamente sustentável e economicamente viável. Ao não ser impressa, a revista online, além de poupar o corte de árvores destinadas à produção do papel, incide no custo final do curso de Jornalismo, que consegue operar com valores inferiores aos demais da Capital e Grande Porto Alegre.

Nas páginas que seguem estão postados os trabalhos produzidos por acadêmicos das disciplinas de Jornalismo Ambiental, Científico, Econômico e Investigativo, no decorrer 1º semestre de 2010.

A seleção dos artigos e reportagens é de responsabilidade dos professores das respectivas disciplinas: Dra Laura Glüer (Econômico), Ms Lisete Ghiggi (Ambiental), Ms Maria Lúcia Melão (Investigativo) e Dra Michele Limeira (Investigativo e Científico).

Aos acadêmicos que se dedicaram à produção dos trabalhos, a publicação é uma recompensa pelo empenho; aos demais, um estímulo, e aos professores, o melhor retorno: a satisfação de receber e publicar trabalhos qualificados.

A todos, uma boa leitura! Profª Lisete GhiggiSUPERVISORA DA AGÊNCIA EXPERIMENTAL DE JORNALISMO

Dra Mariceia BenettiCOORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO

expedienteIPA - INSTITUTO PORTO ALEGRE DA IGREJA METODISTA Conselho Diretor: Paulo Roberto Lima Bruhn - Vice-Presidente (em exercício da Presidência) Secretário: Nelson Custódio Fer Conselheiros titulares: Augusto Campos de Rezende, Carlos Alberto Ribeiro Simões, Eric de Oliveira Santos, Henrique de Mesquita Barbosa, Maria Flávia Kovalski, Osvaldo Elias de Oliveira e Ronald da Silva Lima Conselheiro suplente: Jairo Werner Junior CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA DO IPA Reitor: Roberto Pontes da Fonseca

Revista elaborada pelos(as) estudantes do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA Disciplinas: Jornalismo Econômico, Jornalismo Investigativo, Jornalismo Ambiental e Jornalismo Científico. Coordenação de Jornalismo: Mariceia Benetti Professoras: Laura Glüer, Lisete Ghiggi, Michele Limeira e Maria Lúcia Melão Projeto gráfico e Editoração: Carlos Tiburski

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jornalismoinvestigativo

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profª Laura Glüer

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sumárioEntrevista com Zé Adão Barbosa ............... 5Um novo mercado de consumo ................... 8Valores de ingressos para shows em Porto Alegre geram polêmica ..... 10Porto Alegre em 33 rotações ................... 14Dia dos Namorados ........................................... 18

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José Adão Barbosa (Zé Adão) ator, diretor de Teatro, Cinema e TV tem trinta anos de carreira no cenário nacional e gaúcho.

Iniciou a sua vida profissional em Porto Alegre e conta como foi a sua trajetória de ator neste período. Segundo ele, a época em que iniciou a carreira, o mercado de trabalho era restrito. Por isso, exercia outras atividades onde também ganhava bastante dinheiro. Considera que teve uma trajetória vitoriosa como ator, mas com muito trabalho. Foi um dos fundadores do TEPA – Teatro Escola de Porto Alegre e hoje dirige a Casa do Teatro em Porto Alegre, que está localizado na rua Garibalde. Lá ministra cursos de teatro para iniciantes. Apresentamos uma entrevista com os principais pontos de sua carreira e de como um ator pode se manter economicamente.

Jornalismo Econômico - Quando o senhor começou a sua carreira como ator?

José Adão Barbosa - Comecei em 1980.

JE - Conte-nos como foi e quais as dificultardes que você enfrentou no início da carreira?

Zé - Foi como em qualquer profissão. O início muito complicado, naquela época não existia trabalho para atores, o mercado era restrito. Mas era um mercado normal para qualquer atividade. Pois, penso que nas outras profissões devia estar acontecendo a mesma dificuldade. Acho que em qualquer profissão existem bons profissionais, médios e pequenos. A evolução está lincado ao esforço de cada um. O ator chega por este caminho, ou seja, é necessário trabalhar bem.

Como o ator de teatro se mantém economicamente

com trabalho

por Romeu Lauxen

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JE - Há trinta anos, início da década de 1980, qual era o mercado de trabalho do ator? Comparando com os dias atuais financeiramente o que representa?

Zé - É como falei, há trinta anos em Porto Alegre não existiam muitos teatros, menos trabalho na cidade e poucos nichos nesta área. Hoje temos além de mais teatros a TV, publicidade, teatro empresa, ou seja, tem vários escaninhos onde o ator vive muito bem. Em comparação com 1980 tudo era restrito.

JE - Quando você não estava em cartaz como fazia para se manter?

Zé - Eu fiz muitas coisa, lecionei, trabalhei como artista plástico fazendo obras para vender. Também atuai como locutor de rádio e ganhava um bom dinheiro. Neste período,

o trabalho de locução era bem pago, creio que muito melhor do que hoje. Eu sempre fiz várias coisas e continuo até hoje.

JE - Hoje o mercado de trabalho para o ator em Porto Alegre está como? E para os iniciantes?

Zé - O mercado está muito bom. Aluno que se forma hoje como ator tem uma oportunidade muito grande. Ele pode sobreviver plenamente da sua profissão. Claro que isto não é muito conhecido das pessoas. O cidadão tem uma ideia muito fechada sobre o artista. Hoje um bom ator ganha muito bem e trabalha muito. Pois, o mercado se ampliou bastante. Não tem uma empresa que faça sua convenção sem ter algo de teatro no meio. Portanto, é difícil encontrar um ator sem

trabalho. Estão aí as agências com ofertas e diversas áreas para atuar.

JE - O mercado de trabalho é só gaúcho?Zé - Fora do Rio Grande do Sul tem muito

trabalho. Eu estou em atividade aqui e faço trabalhos em São Paulo, Rio inclusive em Buenos Aires, mas meu ponto fixo é em Porto Alegre. Minha vida toda é aqui.

JE - Qual a mensagem que o senhor tem para o ator iniciante para se manter economicamente no palco?

Zé - Primeiro estude muito, quanto mais souber, maior será o domínio sobre o seu trabalho. É isto que qualifica o ator. É como um peixeiro, ele tem que entender de todos os peixes, é necessário ter conhecimento. O

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médico tudo sabe sobre o corpo humano, o advogado sobre o direito e nos atores tem que saber de tudo sobre o nosso trabalho. Estudar muito e muito pela vida toda. Isso significa trabalhar bastante. E tem duas palavras fundamentais aos iniciantes: disciplina e ética profissional.

Vivo numa profissão de egos, então repito, com disciplina e ética você está feito, é um case que você leva para toda vida. Muito Obrigado!

® ATOR JOSÉ ADÃO BARBOSA

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Se há dez anos perguntassem a um lojista gaúcho o que ele achava da rua 25 de Março, de São Paulo, a resposta não seria

de apreço. Hoje, o quadro é outro. O lugar que recebe cerca de 400 mil pessoas diariamente, sendo que em novembro e dezembro o número chega a 1 milhão, tem movimentado na região 17,6 bilhões de reais por ano, conforme dados da pesquisa feita pela TNS Research International, encomendada pela Revista Exame. O valor apontado corresponde a mais que o triplo do total das receitas em 2008 dos 11 shoppings do grupo Iguatemi, um dos maiores do país. Na rua tem de tudo, desde camêlos, falsificações, roupas, brinquedos, jóias e artigos esportivos. A variedade é oferecida a um preço, muitas vezes, surpreendentemente baixo.

     Conforme Trícia Fernanda Queiroz Becker, 34 anos, empresária gaúcha que abastece sua loja em parte com produtos vindos de São Paulo, o maior atrativo da 25 de Março, além do preço, que pode ser 70% mais baixo do que se comparado aos de fora da região, é a variedade de produtos encontrados no mesmo lugar. “Para quem compra em grande quantidade, como eu, o custo-benefício é compensatório”, explica. Ao longo de 18 ruas, espalham-se 3 mil pontos de venda dos mais variados tipos – galerias comerciais, lojas de até 3 mil metros quadrados, cubículos com mercadorias oferecidas numa portinhola e inúmeras bancas de camelôs. “A rotina de quem vai para abastecer seu estoque é puxada. Às vezes, o tempo é curto e as compras pesam nos braços. Mas isso é apenas uma questão de

Um novo mercado de

consumo

por Tássia Jaeger e Márcia Christofoli

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hábito”, conta Trícia.        Ainda conforme a TNS, a maior parte da

clientela é formada por mulheres, grupo que representa 74% do público freqüentador. Cada uma gasta em torno de R$ 190 por compra. Os consumidores da classe C (com renda domiciliar de até R$ 4.800) representam 39% do mercado. Mas, para surpresa dos analistas, a classe B é preponderante. Além disso, quem passou muito tempo com vergonha de dizer que comprava lá, hoje assume com muita naturalidade. É o caso da administradora Carolina Ramos, 32 anos: “Faz anos que vou a São Paulo para reunião de negócios. Sempre comprei na 25, mas só há pouco tempo percebi que isso era mais comum do que eu imaginava.” ® APÓS ALGUMAS DÉCADAS SENDO CONSIDERADA APENAS COMO‘RUA DE COMÉRCIOPOPULAR,

HOJE A 25 DE MARÇO DESPONTA COMO NOVA OPÇÃO PARA EMPREENDEDORES :: FOTO: DIVULGAÇÃO

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Porto Alegre é uma cidade que nos últimos três anos vem recebendo shows de grandes nomes da música internacional. De 2008

para cá vieram nomes conhecidos como R.E.M., Iron Maiden, Metallica, Oasis, James Blunt, Offspring, Paramore, Guns`n`Roses,

Franz Ferdinand, Placebo, dentre vários outros. Recentemente, foi confirmada a vinda da banda norte-americana Aerosmith para a capital gaúcha, que se apresentará no mês de maio. No entanto, junto com a boa maré de shows para quem gosta de atrações

Valores de ingressos para

shows em Porto Alegre geram

polêmica

por Matheus Simon ® AEROSMITH FEZ SHOW EM PORTO ALEGRE EM MAIO DE 2011 :: FOTO: DIVULGAÇÃO

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internacionais, surgem as reclamações de valores de ingressos muito altos para os padrões brasileiros, e estas reclamações são ainda maiores quando é levado em conta o fato de que na capital gaúcha não existe a lei da meia entrada para somente um show, como ocorre na capital paulista: segundo a lei municipal, em Porto Alegre para ser disponibilizada meia entrada em shows de artistas internacionais, são necessários três espetáculos seguidos do mesmo artista, o que é praticamente impossível de ocorrer.

Jornalismo Econômico entrevistou diversos fãs de shows internacionais e chegou à conclusão que o assunto gera grande polêmica: para alguns, os preços apesar de altos estão dentro da média, para outros, os valores são absurdos, como é o que pensa

a estudante Patrícia Rieth: “Os preços dos ingressos não andam nada acessíveis, principalmente para estudantes, que deveriam sim, ter algum tipo de privilégio, no caso,

direito à meia-entrada. O público-alvo da maioria das bandas que têm passado por Porto

Alegre acaba sendo na faixa etária dos 16 aos 30 anos. No caso, os mais jovens, maioria dependente de estágio, encontra dificuldade na compra do ingresso.” O jornalista William Lampert concorda que os ingressos estão caros, mas ele considera que estão dentro do normal para grandes espetáculos e compara os valores dos shows com os de grandes partidas de futebol: “Estão dentro dos padrões de espetáculos das mais diversas formas. Um ingresso para assistir a um jogo da Liga dos Campeões da Europa está no mínimo 40

euros, um ingresso para jogo da Liga inglesa custa 45 libras, preços que convertidos são semelhantes aos dos grandes shows. E um jogo da Liga dos Campeões e da Liga Inglesa está para o futebol assim como está um show do Aerosmith e do Metallica para a música.”

O empresário Rafael Moraes entende que os preços em Porto Alegre estão na média, no entanto, algumas vezes extrapolam o valor, quando é show internacional. Segundo ele “Oasis, por exemplo, foi um valor aceitável, mas em contrapartida os valores divulgados como vip e super vip no recente show do Metallica e o futuro do Aerosmith são exorbitantes”. A Analista Técnica em Informática, Francielle Kesseler, também faz parte dos que acreditam que em Porto Alegre também deveria ter meia-entrada

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para estudantes e complementa: “isso tudo tem um lado positivo: o nível das pessoas que freqüentam os shows é outro”. Mas como a grande maioria, ela também vê o lado negativo: “muitas vezes, nem todo mundo pode pagar 130 reais para ir a um show (ou até mais) porque tem outras necessidades em primeiro lugar, e acabam não realizando algo que gostariam”.

polêmica Sobre o alto valor dos ingressos, os

produtores amenizam a situação, dando seus argumentos de como são calculados os valores dos ingressos. Alexandre Lopes, produtor da Opinião Produtora, explica que no cálculo do valor do ingresso entram duas questões: a

primeira é matemática, valor do cachê somado ao custo de produção e a expectativa de lucro dividido pela capacidade do local. A segunda é sensorial e não muito exata que é o momento que o artista está atravessando na carreira, ineditismo do espetáculo, além da expectativa que o público tem sobre o espetáculo.

A coordenadora de programação da Opus Promoções, Cláudia Ferreira, explica que na maioria dos casos, os eventuais patrocínios captados cobrem apenas parte das despesas para realização de um show ou espetáculo. Assim o valor dos ingressos acaba sendo onerado para suprir as demais despesas necessárias para a sua realização, como custos de transporte, equipamentos, hospedagem, divulgação, entre outros. Carlos Branco, Produtor da Branco Produções, complementa

o raciocínio sobre os custos das produções, explicando detalhadamente: “Somam-se todos os custos, que são cachês, passagens, vistos de trabalho, despesas consulares, som, luz, hospedagem, alimentação, teatro, e o cálculo é feito sobre este valor, sobre uma projeção de vendas equivalente a uns 60% da capacidade da casa de show”.

shows internacionais Quando o assunto é a facilidade de trazer

os shows para a capital gaúcha, os produtores possuem opiniões divergentes: para Carlos Branco, é mais difícil trazer espetáculos de grande porte para a capital gaúcha. Pois Porto Alegre é uma cidade com uma população bem menor do que São Paulo ou Buenos Aires, por

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exemplo, numa proporção de um para dez, ou seja, a expectativa de público aqui é sempre bem menor. Mas ele completa explicando que cada caso é diferente: “Cada caso é um caso, varia do interesse do grupo em se promover no país ou dos custos envolvidos na vinda de um grupo já consagrado.”

Assim como Branco, Cláudia Ferreira também considera que cada caso é diferente:

“Embora os artistas e produtores de forma geral apreciem fazer shows em Porto Alegre, em alguns casos o que dificulta e até inviabiliza a vinda de alguns espetáculos é exatamente a questão dos custos.”

Alexandre Lopes é o mais otimista em relação a futuros shows em Porto Alegre, segundo ele, atualmente está mais fácil trazer grandes shows, principalmente

devido à atual situação econômica: “Hoje é mais fácil trazer shows para Porto Alegre por vários motivos: o dólar mais barato, a crise nas gravadoras obrigou muito artista a ter que voltar a fazer shows, o histórico de boas produções com bom público na cidade, alternativas de salas, e, fundamental: estar no roteiro entre Buenos Aires e São Paulo”.

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Em

plena era dos iPhones, iPods, MP4, entre outros, eis que surge uma nova sobrevida para o mundo perdido dos LP’s. Esta reviravolta surpreendente na história da indústria musical ocorre paralelamente com o declínio explícito nas vendas de CD’s, acrescentada ao desenfreado número de downloads de arquivos musicais na internet. Uma pequena parcela dos amantes da boa música torna a voltar suas atenções para os discos de vinil.

Segundo informações

da edição de junho de 2008 da

revista americana “Rolling Stone”, em 2007, foi realizada uma pesquisa que mostrou que cerca de um milhão de LP’s foram comprados, contra 858 mil em 2006; sendo que este número poderia subir para 1,6 milhão até o fim do ano, conforme o estudo.

Em Porto Alegre, o reflexo deste fenômeno musical não é diferente. Nos últimos

Porto Alegre em 33 rotações

por Lucas Rivas

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anos, houve um crescimento expressivo de consumidores em busca dos antigos “bolachões”.

O proprietário da loja Boca do Disco, tradicional estabelecimento comercial musical de Porto Alegre, Getúlio Costa, reforça que o entusiasmo pelos discos de vinil cresceu nos últimos anos. “O vinil voltou a ser valorizado pela maioria dos ouvintes. Aqui na loja, muitas pessoas procuram e compram discos de vinil. De um ano para cá, eles voltaram a ser mais procurados, e diversas pessoas que me venderam um lote ‘X’ de discos no passado, hoje, arrependem-se e buscam readquirir seus antigos vinis”, afirma. Trabalhando há quase 25 anos na Rua Marechal Floriano Peixoto, 474, Getúlio, como é mais

conhecido, esclarece que os discos de rock são os mais procurados. “Os vinis que mais vendem são aqueles raros e de poucas prensagens na área do rock, punk, hard core, metal extremo, rock anos 60 e 70, além de artistas clássicos da MPB”, diz.

Há poucas quadras dali, na Loja 1 do Viaduto Otávio Rocha, os consumidores também encontram os mais variados gêneros musicais em vinil. No sebo do Flores, são vendidos de 20 a 30 discos por dia, aproximadamente. Os preços variam entre R$ 5 e R$ 25. Para a esposa do proprietário e vendedora de LP’s há quase 10 anos, Serli Santo de Mello, a procura por discos cresceu no estabelecimento. “O número de clientes aumentou nos últimos anos, porém, os antigos colecionadores sumiram”, alerta.

Na capital gaúcha, já virou rotina para os aficionados por discos comparecem à Feira do Vinil, que ocorre na segunda semana de cada mês, no segundo piso do Mercado Público. Coordenador do evento há sete anos, Natanael Perez destaca a variedade de gêneros expostos na feira. “São colocados cerca de 30 mil discos à venda, que vão do rock à música tradicionalista e do samba à música clássica”, comemora.

Em dias de semana, Natanael Perez transforma-se em um vendedor ambulante. Comercializando vinis há quase 20 anos nas ruas de Porto Alegre, o vendedor encontrou embaixo do viaduto da Silva Só, na Avenida Protásio Alves, um bom ponto para vendas. Segundo ele, são comercializados, em média, 30 a 40 discos por dia. Para o vendedor, a

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procura por LP’s disparou consideravelmente nos últimos tempos. “A procura por discos é muito grande. O número de clientes em busca de vinil cresceu muito nos últimos anos. As pessoas que queriam se desfazer de seus discos, agora ficam ‘segurando’ seus LPs”, salienta.

Além de lojas, feiras, sebos e pontos de venda de discos, muitos clientes conseguem adquirir seus exemplares diretamente dos colecionadores. O jornalista Marcello Campos, que ganha e repassa alguns vinis, explica como funciona este mercado, muitas vezes não sustentável. “Na verdade, eu não costumo vender discos para amigos, nem trocar. Se um amigo gosta muito de um disco que tenho, mas que não é da minha ‘coleção’ principal, eu dou de presente, não quero

saber. O que eu mais fiz até hoje foi vender para colecionadores pela internet ou trocar discos em lojas do ramo, deixando vinis usados para levar novos”, esclarece.

A busca por raridades é muito grande neste mundo do vinil. Os LP’s limitadíssimos e de baixa tiragem abrangem todos os gêneros musicais. Um deles se encontra justamente na nossa música brasileira. O cantor Tim Maia, que na década de 70 entrou em contato com a doutrina Cultura Racional, revelando a seus seguidores a origem e o destino da humanidade, gravou, em 1975, os álbuns “Tim Maia Racional”, volumes 1 e 2. Desiludido com a doutrina, Tim Maia rebelou-se e tirou de circulação os álbuns, que tornaram-se itens preciosos de poucos colecionadores devido a sua raridade. O

jornalista e apreciador de discos Marcello Campos conseguiu ter em mãos dois destes exemplares. Os vinis raríssimos logo foram adquiridos por um bom preço junto a outros colecionadores. Campos explica como adquiriu e faturou uma boa grana em cima destes LP’s. “O primeiro, ‘Tim Maia Racional Vol.1’, eu havia comprado num sebo, em São

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Paulo, em 2000, e acabei vendendo semanas depois para um cara da

Famecos, que pagou R$ 500 e depois vendeu, pelo que

soube, por 500 dólares para um colecionador

do exterior. O outro exemplar era um compacto raro do Racional que eu havia ganho de um

amigo e que vendi por R$ 200 para um

colecionador de São Leopoldo, via Mercado

Livre”, relembra.A publicitária e pós-

graduada em Marketing Estratégico

pela PUCRS, Carolina Hauber Bucci, estudou o crescimento que envolve a procura desenfreada por discos em vinil no mercado porto-alegrense. Para ela, o retorno dos LP’s é uma tendência de mercado significativa, que vem crescendo cada vez mais, pois ele responde a uma carência do mercado por um formato com maior qualidade de reprodução da música. O design de capa, a reprodução dos graves, a distinção dos instrumentos e o ritual lúdico de escutar o vinil, por exemplo, preenchem estas lacunas que foram deixadas pelo CD e o MP3. Durante a pesquisa, Bucci mapeou as características que envolvem os consumidores de vinil na capital. “Este público é formado geralmente por pessoas acima de 25 anos, que escutavam e conviviam com o vinil na infância e adolescência.

São, na sua grande maioria, do sexo masculino e possuem, normalmente, grande conhecimento técnico sobre música. Muitos também são músicos”, explica. A publicitária acrescenta, também, que as mulheres geralmente sofrem alguma influência masculina ao comprar o vinil e, nesses casos, na maioria das vezes, são presentes oferecidos por elas a pais e namorados.

Portanto, compre uma vitrola ou pegue o seu antigo toca discos deixado de lado, e faça bom proveito dos LP’s, pois o gostoso chiado oriundo dos discos, a arte de preparar a agulha para ouvir uma determinada faixa, o cuidado de se trocar o lado A pelo B, ou a oportunidade de conferir, tocar e esmiuçar capas e encartes maravilhosos está disponível somente no mundo redondo dos “bolachões”.

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Dia dos Namorados, no Brasil, é uma data declaradamente comercial. Sua origem certa é desconhecida, mas uma

de suas versões mais famosas data do século III, durante o reinado do imperador romano Claudius II. São Valentim, padroeiro dos casais, foi um padre romano que acabou preso e executado por desobedecer as ordens do imperador, casando jovens cristãos apaixonados, que na época eram perseguidos por Claudius II. Seu dia oficial, segundo o Martirológio Romano, é 14 de fevereiro.

Então por que os brasileiros comemoram no dia 12 de junho?

Em 1949, as lojas Clipper, de São Paulo, pediram ajuda para o publicitário João Dória para criar uma campanha publicitária que aumentasse suas vendas. Acontece que junho

é um mês pobre de feriados e Dória sugeriu criar uma versão brasileira do Valentine’s Day. O dia 12 foi escolhido por ser um dia antes do dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro. Com o slogan “Não é só com beijos que se prova o amor” foi dada a largada para o que seria um dos feriados mais rentáveis do país.

O Dia dos Namorados é a terceira data comemorativa que mais gera lucro no país, perdendo apenas para o Dia das Mães e o Natal. Todos querem provar (ou comprar) seu amor, comemorar o ato da união ou até mesmo conseguir um par, em meio a tantas festas para solteiros que são realizadas por todo o país. Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, não é uma exceção.

A boate Beco (Av. Independência, 936), terá uma noite especial para celebrar o rock e

Não é só com beijos que se prova o amor

por Paloma Rodrigues

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amor com dose dupla de whisky, que garante que ninguém sairá sozinho da festa. Já a Beco Diskoclub (R. Félix da Cunha, 977) terá uma noite mais picante e casais que beijarem na entrada ganham desconto no ingresso, que fica de R$36 por R$25.

O dia 12 também é um dos dias mais movimentados em restaurantes e bares, que oferecem programações especiais para os casais, mas que não disponibilizam reservas e aumentam seus preços. Para conseguir uma mesa, só tendo muito dinheiro e muita paciência. O restaurante Riversides (Av. Nilo Peçanha, 1766) é um deles. Serão sorteados durante a noite, estadias na Serra Gaúcha, mas apenas para quem comprar algum produto da Vinhos do Mundo. “Em função da grande procura, fica complicado reservar”, diz o setor

de marketing do restaurante.Para concorrer com lugares mais cobiçados,

restaurantes menores acabam recorrendo à promoções e cardápios diferenciados. Como o Café Santo de Casa (Casa de Cultura Mario Quintana), que oferecerá drinques afrodisíacos e show romântico. Tudo em nome do amor... Ao dinheiro.

Uma das opções mais procuradas pelos apaixonados são os motéis. Assim como os restaurantes, é praticamente impossível conseguir um lugar para celebrar o poder do amor. O movimento dos motéis da capital devem aumentar em 40% e, segundo funcionários, é praticamente impossível fazer reservas, já que não param de chegar clientes. No Motel dos Alpes (Av. Prof. Oscar Pereira, 3923), não haverá nem reserva, nem pernoites,

devido ao movimento. Mas os quartos serão decorados para criar um clima romântico para aqueles que tiverem sorte de conseguir um quarto.

Mas são os presentes que geram mais lucro no meio de todo esse razzle-dazzle. O Dia dos Namorados é uma das datas comemorativas com maior volume de venda de flores do mundo. As vendas nos shopping centers aumentam em torno de 12% nesta época e as vendas online cresceram em 40%. Muitos casais apaixonados, querendo provar a todo custo o seu amor, acabam gastando fortunas em presentes. E as lojas utilizam todas as suas armas para aumentar suas vendas. A loja de sapatos Gaston criou um concurso cultural que premiará um casal com cinema gratuito por um ano. Além disso, quem compra

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presentes lá ganha um urso de pelúcia.A Gang, loja voltada para o

público jovem, está com a campanha “Hexaaapaixonados Gang, porque zero a zero não eras”, que une as duas coisas mais rentáveis do período: o Dia dos Namorados e a Copa do Mundo. “O conceito surgiu de uma paródia àqueles jogadores que levantam as camisetas de seus clubes para agradecer a Deus ou à sua cidade natal; nas peças da campanha, eles e elas mandam o recado às suas paixões, com aquele toque de bom humor característico da Gang”, diz Letícia Steibel, coordenadora de marketing e vendas da loja. A campanha conta com a ajuda de spots e peças gráficas que estão localizadas em painéis internos, ações

digitais e mídia exterior.A rede de lojas Renner apela para o lado

mais sentimental e bonitinho, com ilustrações feitas pelo artista plástico Luciano Martins. A campanha foi criada pela Paim Comunicação e se propõe a esquentar a relação ou conseguir um par, para aqueles que usam produtos Renner. As ilustrações de Lucianos Martins decoram o interior das lojas, os materiais publicitários e também produtos exclusivos, como blusas, pijamas, canecas e até mesmo o cartão presente Renner.

Locadoras também lucram nesta data, já que filmes românticos e dramas mais leves aumentam muito. Mauricio Trilha, funcionário da locadora E o Vídeo Levou (Rua Itaboraí, 550), afirma que os filmes

mais locados nessa época são romances como Titanic, Um Lugar Chamado Notting Hill, Cidade dos Anjos, As Pontes de Madison, Lendas da Paixão e Diário de Uma Paixão. “O que mais percebemos nesta data é o crescimento da compra de pôsteres de cinema; as vendas aumentam cerca de 20% no período. É uma opção de presente bastante criativo e econômico”, conta Mauricio. Além dos pôsteres, a loja também disponibiliza DVD Gift Cards, cartões temáticos com um DVD e frases românticas.

“Não é só com beijos que se prova o amor” é a campanha publicitária mais eficiente de toda a história da humanidade! Já dura 61 anos e não tem previsão de parar de render. João Dória ficaria orgulhoso de sua façanha.

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AndréEsse Dia dos Namorados vai ser bem econômico, visto que ambos estamos apertados

de dinheiro e guardando qualquer ‘sobra’ para as despesas com casamento e a compra do apartamento. Então vamos fazer um jantar em casa mesmo. Certamente um fondue de queijo e de chocolate. Também combinamos de não comprar presentes. Vamos comprar um livro para lermos juntos e fica como presente para os dois.

Sobre esse consumismo todo para o Dia dos Namorados, acho até normal. Adoro dar presentes, principalmente para ela. Se as pessoas estão em condições de gastar, que aproveitem. Certamente farão muitos lojistas felizes. Quem tem idade para namorar também tem idade para saber o que faz com o dinheiro, não é mesmo? E é sempre bom agradar aquela pessoa que tu ama”.

® ANDRÉ BOZZETTI (31) E TATIANE GARBIN (23)

os casais

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Daniela“Já é o nosso 10º Dia dos Namorados(das) juntas, cada dia mais perfeito. Vamos comemorar

da maneira que mais gostamos, que é tirando o dia só prá nós. De manhã vamos caminhar e tomar um chimarrão aproveitando o sol, depois do almoço vamos ao cinema assistir algum filme bem divertido como Sex And The City e a noite farei uma janta especial, enquanto a Lú abre um bom vinho. Quanto a presentes, claro que vamos trocar, mas será algo mais sentimental do que caro. Algo entre flores, cartão e um presente que não extrapole o orçamento. Além disso, este ano combinamos de nos darmos uma TV Led de presente, para aproveitarmos juntas os filmes que adoramos assistir.

Na verdade, prá nós, os sentimentos têm muito mais significado do que um presente que estoure a conta bancária. Claro que às vezes se faz uma extravagância e se gasta um pouco mais, mas nada que nos coloque em dívidas gigantescas. Quando é início de namoro é normal as pessoas fazerem loucuras, e gastarem muito além do possível. Mas quando se tem uma vida junto, uma casa e contas para pagar, pensa-se de forma a não prejudicar as finanças do casal. São escolhas em conjunto”.

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® LUCIANA OLIVEIRA (30) E DANIELA MASCOLO (30)

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Ronaldo“O que eu planejo para este Dia dos Namorados é algo simples, mas que demonstre o que sinto

por ela. Darei uma que ela queria, flores e um cartão. E, é claro, sair juntos, fazer algum programa como cinema e mais tarde jantar, algo. Acredito que gastaria muito com isso, mas vale a pena, se é com uma pessoa tão importante.”

os casais

® RONALDO NOGUEIRA SILVEIRA (22) E ANDRESSA VICENTE DOS SANTOS (23)

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Bruno“Eu até gosto muito de dar presentes, mas não me prendo à datas. Se tiver que dar um presente,

eu dou. Não importa se é Natal, aniversário, Dia dos Namorados ou Páscoa. Muitas vezes nem dou um presente nessas datas, deixo pra depois. Prefiro a surpresa do momento à ação previsível dessas datas comemorativas.  Sobre gastos descontrolados, cada um sabe onde o sapato aperta. Eu só gasto o que posso e não uso isso pra impressionar. Posso deixar a minha namorada (levando em consideração o dia dos namorados) muito mais feliz com uma rosa e um cartão com belas palavras do que com um presente caro, como jóias, roupas, etc. Ela pensa da mesma forma.

Dificilmente damos presentes muito caros e não tem nada a ver com condições financeiras. Se eu achar uma jóia cara, mas legal, eu compro. Caso contrário, vou nas rosas, bombons, que tem o mesmo efeito.  Pra esse dia 12 eu vou comprar um urso de pelúcia gigante que ela viu no shopping e gostou. Eu achei muito legal também. Vai ser quase que um presente pra nós dois. E no mais, o dia 12 será um dia comum pra nós. Sem comemorações ou programas diferenciados. Apenas vamos ficar perto um do outro. Isso é um belo presente pra nós.”

os casais

® BRUNO VIEIRA PACHECO (24) E ELISANDRA NUNES DE MORAES (24)

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Priscilla“Acho que hoje em dia todas as datas comemorativas acabam se perdendo e se tornando muito

comerciais e não acho que eu deva esperar pelo Dia dos Namorados para surpreender o meu namorado ou dar um presente pra ele. Esse tipo de gesto tem que ser cultivado sempre. Só que, infelizmente, tudo te estimula a dar um presente bem legal, ainda mais que esse vai ser o meu primeiro Dia dos Namorados do Thiago, então eu quero que seja especial e marcante.

Não tive muita dificuldade de achar o que queria de presente, e até nem achei o shopping tão lotado quanto esperava. Mas acabei gastando bastante no presente... No fim, não considero como um gasto, e sim como um investimento, porque só de tentar fazer ele feliz eu já fico feliz também. Não estamos pensando em fazer nada caro na programação. O importante é passar o tempo juntos.”

os casais

® PRISCILLA ZORZI (22) E THIAGO DUARTE (23)

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jornalismoinvestigativo

profª Michele Limeira

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sumárioMedicamentos para emagrecer são vendidos ilegalmente na região metropolitana .............................. 28Cheques falsificados: ainda uma realidade nacional ................. 33

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Medicamentos para emagrecer

são vendidos ilegalmente

na região metropolitana

por Daniela Protti e Letícia Rebordinho

A comercialização de medicamentos vendidos de forma irregular e a automedicação no Brasil são motivos

de preocupação para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). O órgão lançou, recentemente, uma campanha de educação para o combate à falsificação e a

outros ilícitos sanitários que configuram crime e prejudicam a saúde. Ao mesmo tempo, o comércio irregular é uma realidade na região metropolitana. Um dos focos de venda são os medicamentos com a promessa de reduzir peso. Um kit de emagrecimento é comercializado ilegalmente, sem exigência

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de receita e orientação médica. A venda é feita através de encomenda do produto por telefone e tele-entrega. O próprio vendedor explica como os remédios devem ser usados e, inclusive, alerta sobre os possíveis efeitos colaterais e prejuízos à saúde do usuário.

A situação foi constatada pela nossa reportagem, informada por pessoas que compraram o kit. A princípio, os remédios eram vendidos em uma farmácia de Cachoeirinha, município da região metropolitana. Quando procurada, fomos informados pelo vendedor que deveríamos contatar outra pessoa, por meio de um celular. O número foi fornecido pelo próprio vendedor. Em contato com a pessoa indicada, que se identificou através do nome Guino, confirmamos a venda e recebemos orientações

sobre o uso dos medicamentos:- Tu deves tomar os comprimidos sempre

antes das refeições e não pode beber (bebida alcoólica), senão corta o efeito – explica o vendedor, por telefone. E complementa:

- Nos primeiros dias a sensação é de euforia, o cara quer fazer tudo na vida. Mas depois vai acostumando.

Segundo a pessoa que atendeu ao telefone, os remédios que compõem o kit comercializado por ele “emagrece por causa do dietil (dietilpropieno)”:

- Tira a fome. O cara vê comida e não consegue comer. Tenho clientes que usam uma semana e ligam sem entender. Se surpreendem sobre como o negócio funciona.

Para um ex-usuário dos medicamentos, que comprou o kit na farmácia, a combinação

realmente resultou em emagrecimento, mas causou dependência e sensações ‘estranhas’ no organismo, como por exemplo, desconforto respiratório, cansaço e disritmia cardíaca:

- Comecei a utilizar o kit por indicação de uma colega. Ela chegou a emagrecer quinze quilos em apenas um mês – recorda.

O ex-usuário comprou o kit na farmárcia de Cachoeirinha, sem qualquer prescrição ou retenção de receita. Em nenhum momento o atendente da farmácia perguntou se ele tinha orientação médica para utilizar os medicamentos. A farmárcia, que pertence a uma rede estadual, é a mesma que indicou o contato do vendedor, com o qual nossa reportagem conversou por telefone. Fomos até a famácia, e o vendedor evitou falar sobre os medicamentos:

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- Eu não sei nem o nome desses remédios. Liga para este número que ele informa tudo. Foi proibida a venda destes remédios em farmácia – afirma.

Na segunda ligação, o homem que atendeu confirmou os componentes que integram o kit comercializado por ele:

- São esses: o diazepan, o colágeno, a cáscara sagrada e o dietil (dietipropieno), que é o que faz emagrecer mesmo.

O vendedor traquilizou quanto ao uso:- Não dá problema. Nos primeiros dias fica

bem elétrica e depois vai passando. Eu tenho clientes que não querem mais emagrecer, mas ainda usam estes remédios porque gostam, porque ficam espertas.

venda controladaDe acordo com a Resolução da Diretoria

Colegiada (RDC) nº 58, da Agência Nacional de Vigilância Saniária (Anvisa), de 05 de setembro de 2007, específica para remédios utilizados no tratamento da obesidade, a compra e venda de medicamentos para este fim deve acontecer mediante retenção de receita. As normas da Anvisa tornam rígida e criteriosa a prescrição das substâncias denominadas anorexígenos, e existe para reduzir os danos causados pelo uso abusivo e descontrolado destas drogas. O dietilpropieno, que faz parte do kit, se enquadra no controle da lei RDC 58 e está entre os medicamentos mais utilizados para emagrecimento.

Segundo a farmacêutica Marília Conter, as receitas retidas nas farmácias são enviadas, diariamente, para a Anvisa, via sistema informatizado. Existem também balanços mensais, trimestrais e anuais:

Somente as farmácias têm autorização para vender medicamentos controlados. Outros tipos de vendas acontecem de forma ilegal - esclarece Conter.

Marília Conter reforça que os medicamentos chamados anorexígenos necessitam da receita azul B2. A compra e a venda acontecem quando a pessoa traz a receita devidamente preenchida, sem rasuras e dentro da validade, que são trinta dias após a prescrição médica. Segundo ela, no caso desse tipo de medicamento, a legislação específica RDC 58 fala inclusive na dosagem máxima

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permitida diária.O controle de medicamentos no Brasil

visa conter as estatísticas de mortalidade que tem como causa a automedicação. Segundo o IBGE, todos os anos, aproximadamente 20 mil pessoas morrem no Brasil por se automedicarem.

os riscos do dietilpropienoO dietilpropieno age no organismo com

a função de inibir o apetite ou a sensação de fome. Conforme a Lista IV da Convenção Internacional sobre Psicotrópicos, de 1971, entre as 14 substâncias existentes desta categoria, as mais consumidas mundialmente são a phentermina (45%), fenproporex (23%), anfepramona (18%), mazindol (9%)

e phendimetrazina (4%). Elas são receitadas principalmente contra a obesidade e para o tratamento de narco-lepsia (distúrbio do sono que resulta em sonolência diurna excessiva)  e DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção).

O dietilpropiona, também conhecida como anfepramona ou benzoiltrietilamina, é um dos anorexígenos mais utilizados em fórmulas para tratar a obesidade no Brasil. É importante ressaltar que este medicamento tem várias restrições de uso. O período de tempo deve ser limitado pelo médico responsável pelo tratamento, pois a substância potencializa rapidamente a dependência. Também já foi verificado que o efeito da dietilpropiona é minimizado com o uso concomitante. Desta forma, o tratamento deve acontecer em curto prazo e deve agregar

mudanças de hábitos de alimentação e estilo de vida que favoreçam o emagrecimento, conforme explica a endocrionologista Gracielle Tombini:

- A dieta é fundamental para o sucesso do tratamento. Se o médico der remédio, sem dar dieta, sem fazer perguntas básicas sobre a saúde, pedir exames, medir pressão, por favor, saia correndo – alerta”.

A médica ainda afirma que o uso destes medicamentos pode causar morte cardiovascular. Tombini também explica que se deve buscar sempre profissionais capacitados, nutricionistas e médicos endocrinologistas:

- O ideal é que sejam os dois. Em casos especiais, onde o paciente apresente risco, o cardiologista e até mesmo o psiquiatra devem

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ser consultados.Obesidade e os riscos para a saúdeA obesidade atualmente atinge

aproximadamente um terço da população mundial e por isso é chamada de “epidemia” do terceiro milênio. Segundo o IBGE, 36% da população brasileira é obesa ou está acima do peso. As causas são múltiplas, envolvendo fatores genéticos, metabólicos, comportamentais, culturais e sociais.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é considerada uma doença crônica, associada ao alto risco de morbiletalidade, que cresce em níveis epidêmicos. Inúmeras doenças podem ser relacionadas à obesidade, como diabetes

mellitus, dislipidemia, doença cárdio e cerebrovascular, alterações da coagulação, doenças articulares degenerativas, apneia do sono, entre outras.

O índice de Massa Corpórea (IMC) está estreitamente relacionado à gordura corporal e é obtido dividindo-se a massa corporal (kg) pelo quadrado da altura (em metros). Por esse índice, pode-se saber se o indivíduo encontra-se ‘saudável ou normal’, com ‘sobrepeso’ ou ‘obeso’, sendo a obesidade dividida em grau I, II ou III. Este último é considerado ‘obesidade mórbida”.

Para a endocrinologista Tombini, que é especialista em metabolismo, toda a obesidade tem tratamento. A médica explica que o

tratamento deve acontecer com profissionais capacitados e sob orientação médica.

- Com base em estudos científicos, está autorizado o uso de medicamentos, sob prescrição médica, em pacientes que apresentem IMC acima de 30 ou acima de 25 com fatores de risco – explica.

A endocrinologista ressalta também que nem todos pacientes se enquadram no tratamento medicamentoso:

- Temos que ficar alerta para o grande número de pessoas que tem IMC normal, mas que estão fora do peso por apresentarem gordura elevada. Músculo não traz riscos à saúde, o problema é a gordura corporal - afirma Tombini.

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Cheques falsificados: ainda

uma realidade nacional

por Klaus Fiedler, Alexandre Ricciardi e

Eduardo Jenisch Barbosa Segundo o Banco Central, no mês de abril, foram compensados no Brasil cerca de 93 milhões de cheques. Destes, mais de 250

mil eram falsificados. É uma questão que segue sendo um fator de preocupação para os clientes e para as instituições bancárias.

Exemplos de usuários que tem os seus cheques falsificados é o que não faltam. A

professora, que não quer ser identificada, L.M.G, conta a sua história. “Na volta das férias, com as despesas todas de março, eu vim buscar cheques e não tinha na agência na qual eu costumo utilizar. Já achei aquilo estranho e alguns dias depois, eu retirei um extrato e vi um cheque no valor de R$ 1.350,00 na minha conta. Cheque este que eu não passei, em

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uma numeração que eu desconhecia. Fui até o banco e 24 horas depois, o dinheiro estava na minha conta.”

O banco disse a ela que era um problema que estava ocorrendo, chamado de clonagem do cheque. Poucos dias depois, a professora depara-se com a mesma situação, desta vez com um cheque de R$ 1.200,00, que também não tinha emitido. “E o banco me mostrou a micro filmagem e é uma falsificação grosseira do cheque. Mas pela microfilmagem não tem como saber se é um clone do cheque, uma cópia ou se é a folha do cheque que foi tirada do teu talão.”, explicou.

As explicações para o acontecido são as mais variadas possíveis. O certo é que esse problema ocorre e é bastante recorrente. São várias as hipóteses do que pode ter acontecido.

Ou alguém ligado a uma gangue tirou da agência o talão ou tirou só algumas folhas. Outra suspeita poderia ser a gráfica que imprime os cheques, em que eles retiram uma ou duas folhas de cada talão. Um conselho para o leitor: sempre contar as folhas do talão quando receber. “Mas era uma falsificação grosseira, porque era cheque batido a máquina e eu nunca fiz isso na vida e uma assinatura que não é a minha, absurda.”, conta a professora.

Ela também mostra descontentamento com a agência bancária e diz que sentia-se segura como cliente. “O que me surpreende é o banco ter pago, pois é um cheque de valor alto e antigamente o banco ligava para conferir. E eu não costumo passar cheques com esse valor, dificilmente ultrapasso R$ 600,00. Eu acho

que foi um descuido do banco, uma falha de segurança muito grande, fiquei preocupada e fui até a ouvidoria da instituição, porque como cliente, nos sentimos seguros, não gostaria de estar nessa apreensão. E eu soube de outros casos. A informática nos possibilita muitas coisas boas, mas também possibilita essas fraudes”

O caso da professora aconteceu em uma das inúmeras agências bancárias de Porto Alegre. Paulo Cunha, gerente em uma das agências da capital gaúcha, fala das atitudes da instituição em relação a esse problema. “O Banco, sempre que o correntista está recebendo pela primeira vez o seu talão de cheques, procura  informar alguns cuidados úteis que são importantes no manuseio dos documentos para evitar fraudes. O Banco por sua vez

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mantém rigoroso controle da utilização do cliente, acompanhando a quantidade mês e buscando orientar que outros meios de pagamentos em alguns casos são mais seguros e práticos. Da mesma forma os documentos são preparados com ítens de segurança que facilitam a identificação quando adulteradas, como a banda magnética,  por exemplo, o tipo de papel, a disposição dos campos e as informações, dentre outras”.

A professora afirmou que era muita ingênua nesta questão, mas que agora vai mudar a sua postura. “Eu fiquei meio paranóica depois desses casos, estou bem cuidadosa. Eu já não usava o banco pela internet, mas ás vezes é necessário, então se for usar, vou ter extremo cuidado, porque hoje estamos muito vulneráveis. A melhor coisa

seria tirar o dinheiro e guardar embaixo do colchão, mas isso não dá. Os bancos tem redes que podem ser burladas, tu está vulnerável atualmente. Um hacker pode fazer diversas coisas, clonar teu CPF. O gerente do banco me disse que alguns falsificadores chegam a simular sites dos bancos para pegar os dados dos clientes”.

O técnico em informática, Victor Almeida, ratifica a opinião sobre as operações virtuais. “A internet é uma terra sem lei, realmente. Esse anonimato permite que as pessoas cometam muitos crimes e a falsificação é um deles. Ainda estamos muito vulneráveis no mundo virtual e não é todo mundo que entende profudamente de internet. Os hackers, espécie de invasores virtuais, utilizam deste conhecimento para cometer os mais

diversos tipos de fraude. A tecnologia ajudou a evoluir, mas também ajudou a criar novas formas de burlar as regras”. 

Nós vivemos em uma sociedade na qual as pessoas nunca podem sentir-se 100% seguras. E L.M.G revela que sua preocupação aumentou. “Eu sempre fui muito prevenida em relação à segurança. Graças a Deus, nunca fui assaltada a mão armada, mas já vi o pai da minha filha ser assaltado. Eu sou paranóica com segurança pública e agora sou paranóica nesta questão da falsificação também. Vivemos em um mundo pós moderno que é muito ruim neste aspecto, o bom seria se tivéssemos mais liberdade. Vou ter mais cuidado a partir de agora”.

Ela cogita hipótese de ir para a justiça, mas revela um receio. “É uma situação

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difícil, pois estou fazendo um financiamento imobiliário para comprar o meu apartamento, então eu tenho medo do banco não me dar o financiamento se eu tiver com uma ação judicial. Por enquanto, não, porque o banco agiu rápido nas duas situações. Entrei no negativo, mas o banco me extornou rapidamente. Ainda não descarto a possibilidade, mas ainda vou pensar, é um caso a ser estudado”. 

           

a situação “Eu entendi que dois cheques caíram na

conta da professora, mas os valores em ambos os casos foram devolvidos. Ela menciona que foi buscar cheque na agência e não tinha disponível. Estranho, porque a agência geralmente manda

pelo correio um talão novo quando chegamos na folha 8. Então temos duas situações:

1. Ela recebia sempre pelo correio. Quando não recebeu, foi até a agência buscar e não havia talão. Poderíamos acreditar que alguém interceptou o talão no correio (tem gangues que roubam carteiros pelo talão).

2. O banco dela não manda talões pelo correio, então deveria ter talão disponível. Não tendo talão, alguém retirou o mesmo de lá ou da própria gráfica que faz.

Em qualquer caso, seria bom olhar o n.º do cheque usado, para ver se é do talão seguinte

ao que ela estava usando. Se o número do cheque for totalmente diferente, pode ser mesmo clonagem. Mas se o número bater com o talão seguinte dela, me parece desvio claro, eis que o “clonador” não deveria saber o número do cheque que ela está usando.

 Se for realmente caso de clonagem, na minha opinião, ela não teria direito a reclamar na justiça contra o banco. Se o cheque for do talão que ela deveria ter pego, então na minha opinião é culpa do banco e ela poderia buscar uma indenização por danos morais, eis que o texto demonstra que ela ficou apreensiva e com uma grande sensação de insegurança após o furto do talão de dentro do banco (ou do carteiro). O banco provavelmente vai dizer que ela não sofreu o suficiente para ser indenizada (que não foi sofrimento, mas um

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mero dissabor, como eles adoram dizer). Vão dizer também que devolveram os valores e como pagaram os cheques evitaram que ela entrasse no SPC/SERASA, o que com certeza seria dano moral. Aliás, se ela fosse inscrita no SPC/SERASA por um cheque “falso”, aí sim ela teria direito a indenização mesmo.”

Segundo Cunha, depois de ocorrida a falsificação, a instituição toma as seguintes atitudes. “O cliente que perceber que ocorreu a falsificação deve em primeiro lugar efetuar uma ocorrência policial informando que aquele cheque foi adulterado ou roubado. Após este procedimento, dirigir-se à sua agência de relacionamento para informar e protocolar a informação. Com estes dados os Bancos devolvem na forma de adiantamento os valores contestados e a

partir daí inicia o processo para averiguar a autenticidade ou não do documento, como o tipo de  clonagem, assinatura, valor, etc. Após estes procedimentos, constatando-se a veracidade da fraude, comunica-se o cliente do encerramento do processo.”

A nossa reportagem foi investigar quais são as principais formas de falsificação de cheques. Confira:

 - Clonagem que se dá a partir de um cheque

roubado ou dados bancários subtraídos de alguém que possibilitam a realização de cópias;

- Folhas brancas que se dá a partir de roubo de talonários em branco nas gráficas ou roubo de malotes e, a partir de dados conhecidos são confeccionados talões em

impressoras a jato de tinta ou laser;- Raspadinha – com uma lâmina os

golpistas raspam alguns dados dos cheques e preenchem com os valores que pretendem roubar;

-  Caneta que apaga – normalmente o golpista oferece a caneta para que o dono do cheque preencha, Após, com uma borracha os  dados são facilmente apagados;

-  Lavagem com produto químico – produto que apaga os valores e possibilita novo preenchimento;

-  Cirurgia onde de posse de uma lâmina o golpista retira a lâmina que pretende alterar e substitui por outra da mesma instituição bancária;

- Espaço – é a modificação dos dados

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jornalismoinvestigativo

informados utilizando os espaços deixados.

(Fonte: Banco Central)

 Também fomos atrás de métodos de

prevenção para o nosso leitor. - A guarda do talonário em local seguro;- Cruzar os cheques como forma de obrigar

que seja depositado em alguma instituição financeira;

- Não emitir para pessoas que exerçam atividade não legalizada (não possuam nota fiscal) ou pessoas desconhecidas;

- O preenchimento deve ser numérico e por extenso usando letras grandes e bem próximas umas das outras evitando

espaços;-  Evite ao portador, é mais seguro informar

o nome da empresa ou beneficiário como favorecido, pois somente será descontado por aquele que está informado ou será necessário o endosso;

- Cuidado com a caneta que apaga, o ideal é preencher com a sua própria caneta.

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jornalismoambiental

profª Lisete Ghiggi

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jornalismoambiental sumário

Um jardim diferente .................................................................................... 41Jean Michel Cousteau, o protetor do mar ............................. 45Porto Alegre e o meio ambiente ....................................................... 47O desafio da coleta seletiva na capital ....................................... 50A natureza chora com o derrame de óleo .............................. 52O ar precisa de ajuda! .................................................................................. 54A descentralização do licenciamento ambiental ........... 56Lixo radiotivo no Brasil ............................................................................ 58O ciclo vital ............................................................................................................. 60Jordão, um rio em agonia ........................................................................ 62O futebol e o aquecimento global .................................................. 65O ouro nos aterros .......................................................................................... 67O medo nuclear .................................................................................................. 69

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jornalismoambiental

Imaginem um tapete de flores contrastando com um belo gramado, pontuado por algumas árvores de maior porte, e

regado por um senhor de macacão, com um enorme chapéu de palha, movimentando-se

vagarosamente em meio à paisagem. Pois esta imagem de um jardim, hoje em dia, pode ser bem diferente. O que antes era horizontal, agora se apresenta com outras formas e inclui até mesmo uma orientação vertical. Ainda

Um jardim diferente

por Caroline Cruz

® JARDINS DO JARDIM DE BLANC :: FOTO: DIVULGAÇÃO

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jornalismoambiental

mais, depois que o francês Patrick Blanc, um especialista em Botânica, resolveu inventar esta modalidade.

Cavaleiro da Ordem de Arte e Letras, Blanc integra vegetais às paredes e transforma o que era para ser uma estrutura inerte, em verdadeira obra de arte com vida. O especialista em Botânica revolucionou a arquitetura e o paisagismo, ao inserir uma vegetação que não necessita de irrigação, na composição de muros externos urbanos e paredes internas de grandes magazines, com uma infinidade de desenhos.

Os seus jardins estão em Paris, Qatar, Índia, Kuala Lampur e outros lugares, e lhe renderam uma medalha de ouro em arquitetura na França. Blanc constrói muros de materiais artificiais, contendo espaços para

o plantio, e neles insere plantas que necessitam de uma quantidade de água equilibrada, a qual pode estar no ar, na própria natureza ou em ambientes climatizados, além de ser distribuída de forma automatizada e conter fertilizantes.

Além de ecologicamente corretos, os jardins verticais funcionam como isolamento térmico e são purificadores do ar. Quem vê as fotos dos jardins de Blanc, não consegue esconder o encanto, ou espanto. - Mas e os bichinhos? Imagina só! Quantos iriam se juntar em meu apartamento? - questionou Pâmela Baum, 22 anos, que mora em um prédio da Cidade Baixa, em Porto Alegre. Preocupada com a filha, que recém completou um ano de idade, Pâmela tentou imaginar como seria viver num ambiente com jardins

verticais, e logo questionou sobre a umidade e as conseqüentes infiltrações.

Ao contrário de Pâmela, o atendente de serviços, Juliano Pereira, mostrou-se fascinado com a paisagem diferenciada. Ele relata que gostaria muito de residir em um prédio com jardins verticais. Atualmente o atendente mora em um local onde o terreno é amplo e arborizado, mas se fosse morar em um prédio, afirma que faria o possível para escolher um que tivesse jardim, e se não fosse vertical, gostaria de ter, pelo menos, um bom espaço para possibilitar o plantio nas sacadas.

cuidado com os detalhes Entretanto, mesmo que o morador

admire este tipo de jardinagem, deve tomar

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jornalismoambiental

alguns cuidados ao adquirir um prédio com jardins verticais. É o que ressalta o técnico em edificações, Jones Ritta Rodrigues. “Geralmente esse tipo de adorno necessita de água, o que traz o pior inimigo de uma construção, a umidade”. Ele, também, menciona que o projeto da residência exige uma estrutura devidamente calculada para suportar, além das paredes, o peso do próprio jardim. Por isso, lembra alguns cuidados que um futuro morador deve ter antes de fechar o negócios e evitar surpresas desagradáveis. Para ele é essencial consultar o responsável pela construção sobre o tratamento que a parede recebeu contra infiltrações. Também adverte que fissuras, alteração na cor, e outras mudanças na estrutura confirmam suspeitas de falhas na construção.

Sem desprezar os cuidados, os jardins verticais se constituem num importante espaço verde em meio ao cinza das grandes cidades. De acordo com o biólogo, diretor presidente do Grupo Maricá e educador ambiental, Jorge Amaro Borges, a vegetação é importante, principalmente porque “Vivemos em uma sociedade cada vez mais urbana e com intensa ocupação das cidades. Isto tem ocasionado a redução das áreas verdes, e a inserção de vegetais de diferentes portes é fundamental, tanto sob o aspecto estético quanto ambiental, pois são essenciais ao equilíbrio ecológico”, afirma Borges.

Para o biólogo, vale destacar a importância da fotossíntese. “Toda a vida em nosso Planeta, depende desse processo. A glicose, substância produzida pelos vegetais durante a

fotossíntese, além de garantir o seu sustento, é muito energética e torna-se disponível para outros seres vivos”. Borges relembra, também, que o oxigênio liberado pelos vegetais, durante este mesmo processo, garante a respiração aeróbica dos próprios vegetais e dos animais.

“Como a maioria das cidades nasce sem planejamento, e cada região apresenta suas espécies de vegetais e animais específicos, se o sistema urbano incorpora outros vegetais adequados, haverá um favorecimento para a avifauna”, explica o biólogo.

“A conservação de áreas verdes, principalmente dos remanescentes florestais urbanos, é uma estratégia valiosa para a conservação, tanto de espécies vegetais quanto de espécies animais”, pontua o diretor-

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jornalismoambiental

presidente do Grupo Maricá. Ele explica, que ao longo de milhões de anos de convívio, a relação entre animais e plantas com flores foi se estabelecendo de forma harmônica, adaptando hábitos e necessidades mútuas. Dessa forma, com os jardins verticais, teremos a presença de um maior número de vegetais e, certamente, de animais, principalmente os

pássaros, compondo o ambiente natural. A perpetuação da espécie vegetal depende

principalmente da polinização de flores e dispersão de frutos e sementes. Cada pássaro tem características e preferências próprias que devem ser observadas no momento da escolha das espécies vegetais que se pretende plantar quando o objetivo é atraí-los. É o que destaca

o biólogo que aconselha, na composição de um jardim vertical, a escolha de vegetais compatíveis com o local, devendo, também, dar uma atenção especial ao tamanho que podem alcançar quando adultos”.

E quanto à preocupação da jovem mãe Pâmela com os “bichinhos”, talvez, seja melhor utilizar telas na janela!

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O velho ditado, ‘filho de peixe, peixinho é’, vale para o ambientalista francês, Jean Michel Cousteau, filho de Jacques

Cousteau, oceanógrafo e pioneiro na descoberta dos recursos do fundo do mar que, em visita a Porto Alegre, palestrou, no Centro de Eventos da Fiergs, na manhã da ultima quinta feira, 8 de julho.  

O encontro, promovido pelo Instituto Euvaldo Lod (IEL) e a  Fiergs, com o apoio do Sesi, reuniu empresários, ambientalistas, estudiosos e admiradores do trabalho do oceanógrafo, que  discorreu sobre a  responsabilidade de gerir a grande empresa chamada ‘natureza’.

Conhecido como um dos principais defensores dos oceanos, Jean Michel é o fundador Ocean Futures Society (OFS), uma

organização que busca desenvolver soluções sustentáveis para a vida marinha.  

No inicio do seminário Cousteau falou sobre o lixo que é lançado no mar, para ele, um dos maiores problemas ambientais. Como exemplo citou as ilhas no norte do Havaí, um grande depósito de mais de 50 países. Entretanto,  graças a sua intervenção e ajuda do governo americano, hoje o local faz parte do patrimônio internacional  e o problema foi solucionado. 

O pesquisador ressalta que o sistema aquático é único e as águas dos rios também são oceânicas. Se um saco de lixo for jogado num riacho ele chegará no mar em algum momento. E reforça: “Sem água, não há vida, a água poluída  é sinônimo de doença e morte”.

E quando o tema foi a água potável no planeta, o convidado lembrou sua importância

Jean Michel Cousteau,o protetor

do mar  

por Rafaela Haigertt

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jornalismoambiental

e também o seu custo. “Quando vou aos Estados Unidos, eu pago duas vezes mais por uma garrafa de água do que pela gasolina que coloco no meu carro, e isso é absurdo”, comenta.

Outro tema abordado pelo ambientalista foi à emissão de gás carbônico e a sua associação com as mudanças climáticas. Cousteau afirma que, desde o surgimento da humanidade, o homem contribui para alterar o clima. “Agora o que estamos fazendo é acelerar essas mudanças”.

Para ele, é fundamental gerirmos de forma mais adequada a natureza, tendo em mente que ela é uma grande empresa. “Trata-se de salvar a nós mesmos”, sintetiza. “Estamos tirando mais do que o oceano pode produzir”, denuncia Cousteau.  

É preciso mudar a idéia que temos de alguns animais aquáticos, alertou o

oceanógrafo, que  exemplifica com o tubarão.  Trata-se de um grande responsável pela limpeza do oceano, e no entanto, é muito mal retratado por Hollywood.  

Cousteau exibiu alguns filmes que produziu para a OFS, enquanto explicava  sobre o comércio e o cultivo de peixes. Uma das criações destacadas pelo convidado foi a de Salmão. “É preciso 12 quilos de peixes silvestres para se obter apenas um quilo de salmão, que é um peixe carnívoro”, relatou. “Hoje procuramos incentivar a cultura de peixes herbívoros”.

Otimista, o oceanógrafo vê o diálogo como possibilidade de  recuperar o planeta e acredita nas novas gerações, as quais nasceram com informações e ensinamentos de como preservar e lutar para proteger a natureza.  

Após a palestra, o oceanógrafo francês abriu espaço para perguntas da platéia. Ao longo dos questionamentos, Cousteau afirmou que os países devem se posicionar com relação à caça de tubarões.

O ativista defendeu que o público não pode ser culpado pelo que ignora. Mas, salienta, “nós consumidores podemos tomar decisões melhores”. O importante, conforme o cientista, é ajudar os pescadores a aprender a criar os peixes de uma forma correta.  “Estou do lado dos pescadores, quero ajudá-los”, assegurou.

Com apenas um quilograma de alimento não perecível, foi possível assistir a uma palestra histórica. E para  conhecer mais o trabalho da fundação presidida por Cousteau, basta acessar o site: http://www.oceanfutures.org/

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jornalismoambiental

O vereador Beto Moesch (PP) foi convidado para conversar com os alunos da disciplina de Jornalismo Ambiental sobre

a ‘Gestão Municipal Ambiental’, na última quinta-feira, dia 24 de junho.

Advogado, especialista em Direito Ambiental, ex- secretário municipal do Meio Ambiente, Moesch está em seu terceiro mandato como vereador da capital. Autor de importantes leis municipais, coordenou a elaboração do Código Estadual do Meio Ambiente e o Código Florestal do Rio Grande do Sul.

Beto Moesch se orgulha dos caminhos que a capital vem trilhando, quando o tema é a questão ambiental, e diz que Porto Alegre está muito além de outras cidades brasileiras. Também se mostra orgulhoso ao lembrar que a capital dos gaúchos é o berço do ambientalismo, ao criar

a primeira entidade de proteção ambiental mundial, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), fundada em 1971, seis meses antes do Greenpeace.

Mas o outro grande motivo que deve orgulhar os porto-alegrenses, destacou Moesch, é a Secretaria do Meio Ambiente, a primeira do Brasil. A estrutura da pasta fez parte da explanação do ex-secretário, que incluiu suas vitórias e algumas decepções, como ver as questões relacionadas ao meio ambiente ficarem em segundo plano no orçamento participativo. Entre as dificuldades enfrentadas, também, apontou a falta de apoio de outras secretarias, para obter pleno êxito dos objetivos. E revela “ ainda há muito que se fazer na capital”.

Entre tantos dados impactantes que o ambientalista apresentou, um deles refere-

Porto Alegre e o meio ambiente

 

por Rafaela Haigertt

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se à poluição do ar. Segundo o vereador, o poder público gasta 14 reais por segundo com saúde, para combater problemas respiratórios e cardiovasculares, decorrentes de impurezas do ar. E quando o tema são os resíduos sólidos, Moesch expôs que são recolhidas diariamente duas mil toneladas em Porto Alegre. Para solucionar o problema, conta que criou o projeto “Destino Certo”, o qual prevê a instalação de ‘ecopontos’ para atender pequenos geradores que possuem material reaproveitável para descarte. Para o vereador, esta é a melhor forma de combater os alagamentos e diversos tipos de doenças. O primeiro posto de recebimento, triagem e armazenamento temporário de resíduos sólidos de Porto Alegre está localizada na Zona Sul.

O palestrante também fez um alerta sobre

o projeto de lei do deputado Aldo Rebelo, do PCdoB, que pretende mudar o Código Florestal. Conforme o vereador, se aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça do senado, poderá causar grandes danos ambientais ao Brasil. E conclamou a todos a se movimentarem para a derrubada do projeto.

Para conhecer a realidade brasileira em termos de legislação ambiental, o advogado indicou uma analise da Lei Nacional 6938/81, referente à Política Nacional do Meio Ambiente, e foi contundente ao reclamar dos incentivos que nela estão previstos, mas que não contemplam quem de direito deveria recebê-lo. E exemplificou: “Os agricultores que se dedicam à produção de orgânicos não recebem incentivos fiscais, mas o agricultor que utiliza agrotóxicos recebe. É um absurdo”,

manifesta Moesch, que também enfatiza a importância da autonomia do órgão ambiental, a qual se resguarda em suas leis.

Para os alunos, o ambientalista deixou uma dica: “leiam o Almanaque Brasil Socioambiental”, uma publicação do Instituto Socioambiental (ISA), onde estão informações importantes sobre o meio ambiente e a sustentabilidade no Brasil.

De acordo com a acadêmica Juliana Uzeijka, “a palestra foi excelente”. Para ela, saber o que está sendo feito na área ambiental em nosso município é fundamental, não apenas para os estudantes de Jornalismo, mas a todos porto-alegrenses. A disciplina de Jornalismo Ambiental é ministrada pela professora Lisete Ghiggi, e ocorre no 5° semestre do curso.

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currículo ambientalO vereador Beto Moesch foi co-autor de

várias leis municipais e estaduais voltadas ao ambiente natural. Entre elas a Gestão dos Resíduos Sólidos, o Sistema Estadual de Recursos Hídricos, o ICMS ecológico, o Uso e Manejo do Solo Agrícola e a Lei que institui a licença ambiental.

Outro projeto aprovado neste ano pela Câmara Municipal estabelece áreas livres e vegetadas no Plano Diretor de Porto Alegre. Proposto na sua gestão como secretário municipal do Meio Ambiente, prevê para empreendimentos públicos e privados uma reserva, em média, de 20% da área do terreno livre de pavimentação e com vegetação.

® ADVOGADO, EX- SECRETÁRIO MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE, BETO MOESCH :: FOTO DE URIEL GONÇALVES

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Duzentos mil reais. Esse é o valor que Porto Alegre perde diariamente por causa dos cidadãos que não separam o lixo.

A cidade perde financeiramente e também ecologicamente. Árvores são desmatadas, rios são poluídos, a natureza é degradada.

Os porto-alegrenses geram cerca de mil

toneladas de lixo por dia. De acordo com a prefeitura 100% da cidade é atendida duas vezes por semana com o caminhão da coleta seletiva. O caminhão passa na casa das pessoas e pega todo o lixo seco que encontra pela frente, mas o problema é que muitas pessoas não sabem disso. Acham que é só separar o

O desafio da coleta seletiva

na capital

por Vanessa Gonçalves

ARTIGO

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jornalismoambiental

lixo em sacolas distintas, e pronto; o problema está resolvido. Não. Tem que cuidar os dias em que o caminhão da coleta seletiva passa no bairro. Será que os porto-alegrenses sabem disso?

Uma simples ligação ao 156, telefone de atendimento da prefeitura de Porto Alegre, e um atendente irá informar os dias que a coleta seletiva passa na localidade desejada. Será que falta vontade nas pessoas de se informar? Ou será que falta é conhecimento da importância desse simples ato de separar o lixo reciclável do não-reciclável.

Ao não separar o lixo seco do lixo orgânico, os dois se misturam e são levados para um

aterro sanitário que fica em Minas do Leão, a cerca de 100 quilômetros de Porto Alegre. Com isso, o meio ambiente, a cidade e as pessoas perdem. Um material que poderia ser reaproveitado acaba se misturando com dejetos e torna-se inutilizado.

Talvez a maioria dos porto-alegrenses não separe o lixo e não coloque nos dias adequados porque existem cerca de 12 mil catadores de lixo na cidade. Muitas vezes os catadores se antecipam à coleta seletiva, outras, eles mesmos pegam o lixo reciclável no meio do orgânico, nas lixeiras da capital. Se esses catadores forem chefes de família, o número de pessoas que depende do lixo seco

produzido pelos porto-alegrenses pode chegar a 30 mil. Isso mesmo: 30 mil pessoas vivem do lixo em Porto Alegre.

Há 20 anos existe a coleta seletiva na cidade e a prefeitura está investindo pesado nisso. Atualmente são 700 funcionários contratados para trabalhar com o tratamento do lixo. Nos próximos anos, 2000 mil empregos devem surgir nessa área, e será o fim dos catadores. Atualmente são 16 unidades de triagem em Porto Alegre, e nos próximos anos teremos mais três. Será que adianta investir tanto assim e não conscientizar as pessoas de que um simples ato do cotidiano pode resolver o problema na raiz?

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Sem dúvida estamos diante de um dos maiores desastres. O mundo sofre as consequências da interferência humana

na natureza, ao permitir que o óleo negro acomodado nas profundezas do mar jorre e inunde as águas e os pântanos do Golfo do México. Vivemos num planeta regido pelo capitalismo selvagem, onde muitos humanos, ao cultuar a ambição e a cobiça, esquecem completamente o valor da natureza.

O petróleo se espalha o seu pretume na imensidão do oceano, como vingança da ação toda poderosa de quem, a qualquer custo, teima em manter uma economia alimentada às custas de um combustível fóssil, não renovável, quando há inúmeras formas de se obter energia sem agredir ou violar a natureza..

Desde 20 de abril, a mancha preta com mais de 80 milhões de litros de combustível fóssil, se espalhou no mar, após a explosão de um das plataformas da British Petroleum (BP) e prossegue colocando milhares de seres vivos em perigo. E entre eles, além dos microorganismos, os mais ameaçados são os peixes de todos os portes, as tartarugas, as aves, entre outras vidas marinhas, muitas delas vivendo apenas neste local e outras em processo de extinção.

Mesmo com a fracassada tentativa de contenção do derrame, usando a técnica de injeção de lama e lixo sólido, o vazamento é contínuo. Atualmente outros meios têm sido estudados, sem que se consiga conter os efeitos de forma imediata. Cada segundo do relógio torna o caso um caos sem procedentes. O atual

A natureza chora com o

derrame de óleo

por Clarissa Madalozzo

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sistema de contenção recolhe em torno de 630 mil galões por dia, conforme o almirante Thad Allen, da Guarda Costeira dos Estados Unidos, o que minimiza, mas não resolve o problema, que segue sem solução.

A BP não tem explicações para o acidente catastrófico. E a cada manifestação torna tudo ainda mais absurdo. Mas, o presidente americano Barack Obama expôs sua indignação e prometeu cobrar os prejuízos. A estimativa é que os serviços de limpeza, pagos pelas seguradoras, estejam em torno de 1,5 bilhões de dólares, numa projeção que não leva em conta as indenizações por danos ambientais. Até agora foram gastos 69 milhões de dólares.

Mas não há dinheiro que pague pelas vidas asfixiadas e por espécies que não veremos nunca mais. O que nos resta é esperar que a natureza retome seu ciclo, com ou sem ajuda do homem, e que se recupere do imenso trauma causado por humanos, naquele triste 20 de abril de 2010!

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A capital gaúcha inicia os preparativos para sediar a Copa do Mundo de 2014, mas o seu sistema de trânsito gera preocupação,

principalmente quanto à poluição do ar provocada pelos automóveis, cujo número cresce de forma assustadora, dificultando a circulação e também a respiração nas principais vias de acesso.

A lentidão do trânsito nas principais vias de Porto Alegre já virou rotina, pois segundo dados da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), a capital possui 700 mil veículos que obrigam os motoristas a perderem horas no trânsito devido aos sucessivos congestionamentos.

Com um elevado número de automóveis em

circulação, torna-se constante o ato de parar e acionar o motor, o que aumenta o consumo e a queima de combustível. O resultado é que uma grande quantidade de gás carbônico e de outros gases lançados na atmosfera, o que afeta ainda mais o meio ambiente e a saúde. E tudo isso acontece devido à falta de medidas práticas para minimizar o número de carros e a poluição.

Segundo o Engenheiro Químico da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMAM), Fabiano Porto da Fontoura, regular corretamente o veículo e utilizar meio de transporte limpo, como a bicicleta, são opções viáveis para combater a poluição atmosférica.

O transporte coletivo pode ser uma opção

O ar precisa de ajuda!

por Rhavine Dinat Falcão

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para driblar o trânsito, mas a carência desse meio faz com que o número de carros aumente nas vias públicas, tornando a volta para casa cada vez mais lenta.

De acordo com a assessoria de comunicação da EPTC, o número de veículos cresce em 5% a cada ano, o que equivale a 35 mil veículos a mais nas ruas da Capital. Com um grande número de automóveis, Porto Alegre, em horário de pico, se transforma num verdadeiro caos, com dois agravantes: o estresse e a poluição.

Mas, a poluição do ar não é novidade. Em 2008, um estudo realizado pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre em parceria com a Universidade de São Paulo revelou que Porto Alegre é a segunda capital brasileira com o nível mais acentuado de concentração de poeira fina no ar, altamente

prejudicial à saúde. A fonte desse poluente está relacionada à queima de combustível, à pavimentação e ao atrito do pneu no asfalto. Em abril deste mesmo ano, a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre apresentou o resultado de outra pesquisa, na capital dos gaúchos, a qual aponta gastos na ordem de 360 milhões de reais por ano para tratamento de doenças relacionadas à baixa qualidade do ar.

Nesta pesquisa há uma avaliação da condição atmosférica em sete bairros de Porto Alegre: Centro, Jardim Botânico, Santa Cecília, Humaitá, Cristo Redentor, Cavalhada e Glória, feita a partir de 2006. O resultado mostra que o índice de poluição do ar é de dez microgramas por metro cúbico. Entretanto, no Centro de Porto Alegre, o índice detectado foi 16.

Segundo o engenheiro químico da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam), Fabiano Porto da Fontoura, a EPTC com o apoio da SMAM realiza duas vezes na semana a “Operação Ar Puro”, quando os veículos a diesel são aferidos em relação à emissão de fumaça preta. Além de caráter punitivo, a Operação também efetua trabalhos educativos de conscientização.

Com índices que mostram o aumento da poluição do ar, fica visível que o meio ambiente necessita de ajuda, e para isso é preciso que cada um faça a sua parte. Mas, tudo isso deve ocorrer antes da Copa do Mundo, pois nossos visitantes terão de circular pelas vias públicas com facilidade, além de respirar um ar menos poluído. Portanto, bem-vinda a Copa do Mundo de 2014!

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O licenciamento ambiental é uma ferramenta que visa a diminuir e controlar os impactos ambientais gerados

por diversas atividades. Cabe, de acordo com a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 237/1997, ao órgão ambiental competente, licenciar a localização, instalação, ampliação e a operação destes empreendimentos. Em nosso Estado, a Lei Estadual n° 11.520/2000 estabelece que,

“caberá aos municípios o licenciamento ambiental dos empreendimentos e atividades consideradas como de impacto local, bem como aquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por instrumento legal ou Convênio”. A Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (Fepam) deu início ao processo de descentralização do licenciamento em nosso Estado. Atualmente, dos 496 municípios gaúchos, 257 efetuam o

Descentralização do licenciamento

ambiental: um processo

facilitador

por Edimar Blazina

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licenciamento ambiental de impacto local, outorgado pela Fepam.

A liberação de uma licença passa por diversas etapas. Inicialmente temos a ‘Licença Prévia’, que é a fase de estudos para definição da localização do empreendimento. Após, temos a ‘Licença de Instalação’, emitida antes da implantação do empreendimento. E, por último a ‘Licença de Operação’, emitida antes do início da operação, que implica no compromisso em manter o funcionamento dos equipamentos de controle da poluição, de acordo com as condições estabelecidas pela licença.

Este é um processo criterioso. Necessita de uma análise da documentação e vistorias nas localidades para então ser emitido o documento. Sem a descentralização a Fepam teria que assumir os licenciamentos

municipais de todo o Estado, o que além de sobrecarregá-la, impediria a sua ação ágil na liberação de grandes empreendimentos que levariam o Rio Grande do Sul a um crescimento sustentável.

Cada processo de habilitação para o licenciamento passa por Câmaras Técnicas e por um parecer de um relator para, então, ser encaminhado ao Conselho Estadual de Meio Ambiente Consema). Sem a aprovação dos conselheiros e com o aval do Secretário de Meio Ambiente, o município não recebe a delegação. Os compromissos municipais, exigidos pelo Conselho garantem a qualidade no exercício do licenciamento local.

Esse processo aumenta a arrecadação dos municípios com as taxas licenciatórias, facilita a liberação das licenças para os

empreendedores locais, pois agiliza a emissão dos documentos, desafoga o Estado e, o mais importante, aumenta a fiscalização no âmbito municipal, o que proporciona melhor qualidade ao meio ambiente local.

A função do Estado é fiscalizar o ambiente como um todo. É seu dever potencializá-lo ao passar para os municípios poderes que, por lei, já lhe pertencem. Estes devem exercer a fiscalização com qualidade, promovendo a educação ambiental e aproximando a sociedade a sua responsabilidade ecológica. Fica, então, para a Fepam a emissão de licenças de grande impacto, as quais podem ser liberadas em menor tempo, sem comprometer os grandes empreendimentos, os quais não podem esperar por um longo tempo a sua resposta.

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No nosso dia a dia produzimos uma grande quantidade de lixo, mas nem sempre efetuamos a devida separação, porque,

talvez, desconhecemos o quanto é importante esse procedimento. Com a conscientização das pessoas em fazer em casa uma seleção do que pode ser reaproveitado e o que não pode, o Brasil não teria tantos problemas com o lixo. O ideal seria se as pessoas tivessem em suas residências e locais de trabalho, três lixeiras, uma para o lixo orgânico, outra para o lixo seco e uma especial para os lixos radioativos.

O Lixo radioativo é formado por elementos químicos que não deixam de ter utilidade e podem ser encontrados nos combustíveis, reatores, armas nucleares e ainda em

laboratórios médicos.A radioatividade é inofensiva para a vida

humana em pequenas doses, mas se a dose for excessiva, pode provocar inúmeros problemas de saúde como lesões no sistema nervoso, no aparelho gastrointestinal e na medula óssea, que podem levar à morte. As pessoas não imaginam a quantidade de lixo que produzem, onde se incluem as lâmpadas fluorescentes, pilhas e remédios vencidos. E, não somente as pessoas físicas desconhecem os perigos, mas também as empresas que trabalham com este tipo de material, nem sempre encaminham para o destino correto.

Metade desse lixo radioativo até agora não tem destino certo. No Brasil, o único

Lixo radioativo no Brasil

por Gisele Mendonça Azevedo

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lugar adequado é o deposito de Abadia, em Goiás. Depois desse, o que existe são depósitos provisórios como Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), que fica em São Paulo, Instituto de Energia Nuclear (IEN), no Rio de Janeiro, o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) em Minas Gerais, todos ligados a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). Ainda está em estudo o local adequado para a construção de depósitos definitivos para o lixo radioativo de Angra I e Angra II.

No Brasil, segundo o IBGE, o estado que mais produz lixo radioativo é São Paulo, onde 36% dos materiais que vão para a Cnen. A prefeitura de Porto Alegre tem o Departamento Municipal de Limpeza Urbana

(Dmlu) para fazer coletas de materiais radioativos, e a equipe de Resíduos Sólidos e Especiais tira dúvidas do que realmente é um lixo radioativo e onde entregá-lo.

Lâmpadas e pilhas devem ser entregues em qualquer estabelecimento que venda estes tipos de produtos. Caso os locais não queiram aceitar devem ser denunciados, para o Dmlu. Mesmo que a Prefeitura de Porto Alegre tenha este tipo de trabalho disponível, poucas pessoas sabem o que fazer com o seu lixo. Além da Prefeitura, a PUC/RS recolhe medicamentos vencidos. Basta levá-los ao prédio 40, onde funciona o curso de Farmácia.

Entretanto todas estas ações passarão a ser ainda mais valorizadas com a nova lei que cria a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, sancionada, no dia 2 de agosto deste ano,

pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tal legislação deverá incentivar a reciclagem do lixo e o correto manejo dos produtos com alto potencial de contaminação, onde se incluem os radioativos. A nova Política Nacional cria a “logística reversa”, que obriga os fabricantes, distribuidores e vendedores a recolher embalagens usadas e determina que as pessoas façam a separação doméstico nas cidades onde há coleta seletiva.

Mesmo considerando a nova política governamental, a qual deve passar por uma regulamentação, as pequenas ações empreendidas nos municípios e nas comunidades, somadas à conscientização de cada um de nós, devem fazer a diferença em relação ao encaminhamento dos resíduos radioativos ao seu correto destino.

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Quando pensamos em água, logo nos remetemos às nossas necessidades básicas e primárias, como hidratação

e alimentação. Porém, não paramos para analisar o quanto se gasta de água em outras tantas tarefas e funções do nosso cotidiano. Um quilo de arroz, por exemplo, até chegar às nossas mãos, gasta cerca de 1.500 litros de água para ser produzido. Um boi, até chegar à fase de abate, consome aproximadamente 100 mil litros de água. Quando exportamos uma tonelada de aço, estamos exportando também 15 mil litros de água que foram utilizadas para sua produção. É quase impossível acreditar nesses dados, publicados pelo autor, André Trigueiro, em sua obra “Mundo Sustentável”, os quais nos conduzem a uma profunda reflexão sobre a importância da água invisível

aos nossos olhos.Não é a toa que, em algumas cidades

brasileiras, já existem alternativas para amenizar problemas relacionados à água, considerando, inclusive, o reuso. A água da chuva é um ótimo exemplo a ser explorado, pois simplesmente cai do céu sobre nossas cabeças e telhados e, se capturada de forma correta, poderia servir para tarefas como lavar carros, calçadas, vasos sanitários, entre outras tantas funções para as quais não há a necessidade de água tratada. Utilizar água potável para tais funções acaba sendo um desperdício de recursos, tanto financeiros como naturais.

A exemplo de cidades como Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo, Porto Alegre também possui legislação sobre o assunto. A Lei nº

O ciclo vital

por Morgana Settin

ARTIGO

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10.506, de 5 de agosto de 2008, institui o Programa de Conservação, Uso Racional e Reaproveitamento das Águas. Estas leis e Decretos basicamente criam normas e regras para a utilização sustentável da água potável e instituem sistemas para tornar viável o reaproveitamento de água.

Tais “soluções” para a manutenção da água no planeta interferem inclusive no bolso do consumidor, pois o tratamento da água está se tornando cada vez mais caro. Algumas indústrias brasileiras já perceberam quanto podem economizar com o reaproveitamento e já praticam esta tática. A exemplo disto temos a montadora gaúcha da General Motor (GM), localizada em Gravataí (RS)s.

Entre os diversos processos em que a água se faz presente a pintura é o que mais

usa água na indústria automobilística. De acordo com o engenheiro Cseslaw Siwik, em entrevista à revista on line, EcoDigital, do curso de Jornalismo do IPA, a GM do sul começou a operar usando 3200 litros de água por automóvel e, em pouco tempo, o consumo passou para 1500 litros, sendo que a meta é chegar a um consumo 1300 litros, isto é, menos da metade de água utilizada inicialmente.

Soluções alternativas para os problemas relacionados à água no planeta existem. O que é necessário de fato é conscientizar a população de como proceder de forma sustentável com este bem indispensável em todos os sentidos para o ciclo vital. Teorias são muitas para ajudar a preservar os nossos recursos naturais. Basta, então, boa vontade para colocá-las em prática!

® ÁGUA É VIDA. ISSO TODO MUNDO SABE. MAS, POR QUE NEM TODOS RESPEITAM ESTE BEM TÃO

PRECIOSO E FUNDAMENTAL PARA O PLANETA?

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Os relatos bíblicos traçam o rio Jordão como um lugar de esperança e recomeço. Tudo aquilo que Deus prometeu ao

povo de Israel, outrora escravo no Egito, estava além do Jordão, onde receberiam a tão esperada terra prometida, terra onde havia leite e mel, frutas e pasto em abundância.

Os séculos se passaram e o Rio Jordão lá está correndo, desde o sul do Líbano, onde se alimenta das neves do Monte Hermom, até a fronteira com a Síria, onde recebe pequenos afluentes das montanhas de Golam. O rio desce em direção ao mar morto como a maior fonte de água doce da região. Situado em grande parte do seu curso, abaixo do nível do mar, chega a 430 metros negativos, quando deságua no mar morto, já quase sem fôlego.

Mas, hoje, o que chama atenção quanto ao

famoso rio não é a história, mas sim, o estado de poluição em que se encontra, devido, principalmente, à agricultura, que não apenas lhe drena a água, mas também o polui em níveis alarmantes.

Por tudo isso, os ecologistas do mundo inteiro já soaram o alarme: aquele que sempre foi um rio rico, descendo garboso da Galiléia, cheio de vida biológica e, acima tudo, como fonte de água potável para as pequenas cidades que o margeiam, agora está morrendo.

Com o passar do tempo, entretanto, o Jordão perdeu o glamour e mais do que isso encolheu de tamanho, volume e vida. Diminuiu também a capacidade de ser um agente de prosperidade à população que ali se instalou, principalmente depois da criação do Estado Hashemita, da Jordânia, em 1946,

Jordão, um rio em agonia

por Asaph Borba

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e de Israel, em 1948. Além de não conviverem pacificamente, judeus, jordanianos e palestinos, que já habitavam na região, fizeram do rio mais uma causa de disputa e de conflitos que duram até os dias de hoje.

As populações nativas árabes, palestinas e judaicas não causaram maiores transtornos ambientais à pequena, porém, importante bacia hidrográfica. Tanto é que, até meados do século 20, o Jordão não apresentava maiores problemas de sustentabilidade, pois em suas margens havia flora e fauna.

Na década de 1950, após a instalação das novas fazendas, os chamados kibutz, boa parte localizados em Israel, tornaram-se a base econômica do novo estado judeu. Nesta época, um intenso processo de produção agrícola e de irrigação, empreendido por um número

grande de imigrantes que voltavam à “terra prometida” para ali viver e produzir, provocou o esgotamento do rio.

O processo agrícola e imigratório, em ambas as margens, foi crescendo até atingir um nível insustentável no decorrer do século 20. Isto fez com que o Jordão chegasse em um estado crítico nos primeiros anos do século 21.

Mesmo com os acordos de paz firmados entre Israel e Jordânia, nos últimos trinta anos, e selados, em Oslo, em 1992, o Jordão não deixou de agonizar. Ao mesmo tempo em que nele são jogados os detritos habitacionais e agrícolas dos dois países, dele também é retirada água que dá sustentabilidade aos anseios de desenvolvimento das duas margens. O especialista em assuntos internacionais da Jordânia Houallah Abdell afirma que “os

acordos feitos com Israel trouxeram paz, mas não trouxeram o que mais a Jordânia precisa: água. Hoje quase todas as famílias passam por um racionamento, sem perspectiva de melhora, pois a água por aqui é mais preciosa do que o petróleo”.

A situação em Israel não é diferente, segundo fontes oficiais. A água do Jordão é usada basicamente na agricultura para cumprir o acordo com a Jordânia, por isso, depende da chuva e da neve do Hermon, cada vez mais sazonal e em menor intensidade. A prova disso pode ser vista no lago da Galiléia, formado pela primeira etapa do Jordão, que está com seu nível cada vez menor. O resultado é a destruição da vida natural que se reduz na pequena, mas importante bacia. O lendário Jordão, antes rico e largo, se tornou

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um pequeno córrego que deságua no Mar Morto, onde quase não há mais flora ou fauna.

Por seu valor histórico e, também, pelo que representa para as populações árabes e judaicas da região, já está mais do que na hora, do Rio Jordão se tornar um patrimônio natural da humanidade, guardado por leis internacionais de proteção ambiental, que possam devolver à região pelo menos um pouco da vida que ali já existiu.

Quem contempla o Rio Jordão de suas margens, percebe a sua incontestável beleza; quem dele depende para sobreviver, reconhece a sua importância, mas quem avalia o seu equilíbrio biológico, pede socorro.

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Em época de Copa do Mundo, quando todas as atenções estão voltadas para o futebol, a Terra segue girando e os problemas acontecendo. O aquecimento global é um dos entraves que temos, e a luta contra a emissão de gases de efeito estufa não pode parar nesse período. É nesta hora que as nações deveriam concentrar suas forças, já que, uma considerável parte do planeta está sentado em frente à televisão.

Existem inúmeras razões para que os governos se esforcem e colaborem efetivamente na luta contra as conseqüências do aquecimento global. Segundo dados da ONU divulgados em 2002, quase a metade da população mundial, ou 47,8% vivia em áreas urbanizadas. Quando a referência é a América Latina o número se mostrou ainda

maior, pois há oito anos, 76,2% de pessoas habitavam áreas urbanas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 84,7% da população brasileira está na área urbana, e isso pode nos dar a idéia de como estão os problemas ambientais nestas áreas, principalmente onde há grandes concentrações de pessoas.

No campeonato mundial, o torcedor não está preocupado com os problemas globais. Ele celebra a vontade de vencer os demais países e as suas energias se concentram para ouvir um único grito, o do gol.

Um estudo feito pelo Painel Intergovernamental sobre mudanças do clima (IPCC) mostra os impactos ambientais, sociais e econômicos sofridos na sociedade, e esse resultado é alarmante. É possível observar

O futebol e o aquecimento

global

por Rafaela Henrique

ARTIGO

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neste estudo a vulnerabilidade das cidades e a fragilidade de adaptação dos países que vão enfrentar as conseqüências dos efeitos climáticos.

Para a psicóloga Ana Maria Zófoli, o fato de um esporte conseguir unir todas as atenções, que num primeiro instante deveriam ser para os problemas do planeta se dá em função do nacionalismo. “As pessoas esquecem que não há atitude mais patriota do que a de cuidar de um bem comum como o nosso planeta”, ressalta Ana.

A Copa do Mundo provoca a ascensão de uma identidade nacional que vai além da localidade, religião, cultura ou tribo. “O sentimento pátrio é aflorado a cada quatro anos no torneio mundial, isto se justifica objetivamente com uma frase de

Eric Hobsbawn: “a comunidade de milhões aparece com mais realismo em um grupo de 11 pessoas do mesmo o país”, completou a psicóloga Ana Maria.

Portanto, é provável que hoje seja necessário discutir nas escolas, nas rodas de conversa, no trabalho e em casa com a família o que significa ‘nação’. Porém, não por conta do sentimento, mas sim por conta da cidadania, ao tornar assuntos como as catástrofes ambientais, mais importantes do que torneios de futebol.

É por isso que o importante nessa Copa do Mundo é torcer para que as ideias de sustentabilidade e de outras maneiras que contribuam para a redução de GEE se disseminem, e que as cidades e países se engajem na batalha contra o aquecimento global.

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De acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil pode economizar cerca de R$ 8

bilhões por ano com reciclagem. Entretanto, essa cifra só poderá ser alcançada, caso a sociedade brasileira recicle todos os resíduos que são encaminhados aos lixões e aterros sanitários.

Hoje, a economia gerada com a atividade de reciclagem varia em torno de 3 bilhões anualmente. O levantamento realizou a estimativa dos benefícios econômicos e ambientais da reciclagem. Atualmente, apenas 14% da população brasileira conta com o serviço de coleta seletiva, e somente 3% dos resíduos sólidos urbanos gerados nas cidades são coletados nos municípios. O Brasil produz cerca de 100 mil toneladas de lixo por dia,

mas recicla menos de 5% do lixo urbano, valor muito baixo se comparado à quantidade de material reciclado nos Estados Unidos e na Europa que chega a 40%.

O espantoso é ver que centenas de pessoas sobrevivem com aquilo tudo que jogamos no lixo. O que para nós não fazem falta, para outros, é uma mina de ouro. Tristemente, a reciclagem ainda é muito tímida no Brasil, além da falta de conscientização das pessoas, os catadores de lixo são desvalorizados por aqueles que compram seus materiais recolhidos. Hoje estima-se que 1 em cada 1000 brasileiros é catador. E três em cada 10 catadores gostariam de continuar na cadeia produtiva da reciclagem mesmo que tivessem outras alternativas. Tem gente que acha que catador é apenas mais um no “mundão”, um

O ouro nos aterros

por Guilherme Rosito

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pobre andarilho que não tem pra onde ir. Mas, engana-se quem pensa assim. Se pensarmos em termos ambientais e econômicos, veremos que os catadores são trabalhadores de grande valor sócio-econômico. A coleta de material reciclável é, muitas vezes, sua única fonte de renda que corresponde em média R$ 300,00 mensais.

De tudo que é jogado diariamente no lixo, pelo menos 35% poderia ser reciclado ou reutilizado, e outros 35%, transformados em adubo orgânico. Além do benefício ecológico da reciclagem temos a vantagem financeira: 1 kg de latinhas de alumínio recicladas rende R$ 3,50; garrafas PET, R$ 0,90; papelão, R$ 0,28; plástico, R$ 0,35; e por aí vai.

A reciclagem é importante todos nós. Certamente é uma mina de ouro, mas infelizmente, como tudo na Brasil, os lucros vão para os “grandes” sem o mínimo de esforço. E os humildes catadores continuam ajudando a economia brasileira sem receber nada em troca.

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Poucos são os acidentes que envolveram dispositivos nucleares com material radioativo. Temos na memória o desastre

de Three Mile Island, na Pensilvânia, o de Chernobyl, na Ucrânia, e outro aqui mesmo, no Brasil, em Goiânia, que provocou uma das maiores contaminações por radioatividade com o Césio 37.

Os três casos ocorreram entre 1979 e 1987, e todos foram decorrentes de falha ou imperícia humana. Mas, um outro caso histórico foi proposital mesmo. E é irônico, pois envolve os Estados Unidos, os únicos que já usaram uma arma nuclear, e que hoje agem como os reguladores da paz nuclear no mundo. Já quiseram investigar o programa de enriquecimento de urânio brasileiro e estão de olho no Irã do Ahmadinejad.

O Brasil possui a sétima maior reserva de urânio do mundo, e ela está sendo usada para produzir energia elétrica. A capacidade das usinas Angra 1 e 2 pode abastecer mais de 13 milhões de casas de médio porte durante um mês. É preciso buscar informações junto a fontes confiáveis para diminuir a nossa desconfiança em relação à energia nuclear. Ela pode ser uma ótima alternativa em tempos de aquecimento global, pois além de não colaborar para o efeito estufa, a quantidade de resíduos radioativos é extremamente pequena e compacta.

O químico e doutor em medicina e biofísica, James Lovelock, defende a energia nuclear. Em entrevista concedida ao jornalista Eduardo Szklarz para a revista Super Interessante declarou: “As pessoas sempre têm medo de

O medo nuclear

por Pedro Guilhon

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algo. Antes, eram fantasmas e vampiros. Hoje, energia nuclear. A oposição baseia-se numa ficção hollywoodiana, na mídia e em lobbies do movimento verde”. O mesmo Lovelock afirma que o Brasil pode sair beneficiado com relação ao mercado do urânio e não vê problemas com o lixo atômico.”O volume de lixo atômico, de alto nível, produzido por uma usina nuclear em 50 anos, equivale a 10 metros cúbicos. Se colocado numa caixa de concreto, esse lixo seria totalmente seguro e a perda de calor ainda poderia ser aproveitada para aquecer minha casa”. Assegura o defensor da energia nuclear.

Se um dos gurus dos ecologistas sustenta tais argumentos, a resistência ao uso da energia nuclear parece ser mesmo uma fobia. Então, explorá-la pode ser uma boa saída para uma alternativa energética, quando o aquecimento global parece não dar trégua. É tempo de buscar as melhores soluções, sem preconceitos e nem medos.

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profª Michele Limeira e profª Maria Lúcia Melão

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sumárioNovas tecnologias para o reaproveitamento e purificação da água ........................................... 73Anti-inflamatórios X analgésicos: riscos da automedicação ............................... 76Anvisa restringe a venda sibutramina .............................................. 79Consumo de transgênicos .......................... 82

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Com um processo simples e natural, pesquisadores gaúchos tem se destacado na purificação e reaproveitamento de

água poluída.Em um mundo cada vez mais escasso de

mananciais potáveis, todo e qualquer esforço para a manutenção dos recursos hídricos deve ser ressaltado.

Apesar de vivermos em um planeta coberto de água, 97% estão nos oceanos salgados. Dos 3% restantes, 2% estão presos em geleiras

polares e nas grandes cadeias de montanhas. O 1% que sobra, que chamamos de água doce, é utilizado para a manutenção dos seres vivos. Homens, animais e toda a flora do planeta, incluindo a agricultura, dependem dessa água para sobreviverem.

Infelizmente uma parcela significativa desses mananciais está poluído, ou em processo de poluição, em função, principalmente, da atividade humana. Isto faz da água um produto cada vez mais escasso,

Novas tecnologias para o reaproveitamento

e purificação da água

por Asaph Borba

® PESQUISA GAÚCHA TEM BOM RESULTADO NA DESPOLUIÇÃO DA ÁGUA :: FOTO: DIVULGAÇÃO

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caro e causa de disputa em muitos pontos da Terra.

Um método de reaproveitamento da água poluída, é o objetivo de uma série de pesquisas elaboradas nos últimos anos em universidades gaúchas em parceria com outros centros no Brasil e exterior. O esforço gerou um processo seguro, que purifica a água em ambientes poluídos como, esgotos, reservatórios, caixas de gordura, rios, lagos ou efluentes, tornando-os novamente reutilizáveis. O processo é também barato e de baixo impacto ambiental, como explica a especialista em bio – tecnologia Gisele Pessi Legramanti. “Pelo aumento da poluição, a natureza fica debilitada e não consegue eliminar as bactérias nocivas que causam a degradação da água e solo. Este processo foi

desenvolvido para compensar essa deficiência. Aumentando-se a carga biológica sobre o ambiente poluído, restauramos a capacidade desse ambiente de auto renovar-se, o que promove a despoluição e limpeza do mesmo. Esta técnica é chamada cientificamente de bio – aumento, que está dentro da técnica de bio – remediação”. A especialista salienta que esta pesquisa, antes exclusiva de poucas universidades, está agora disseminada em quase todos os cursos de bio-tecnologia do Estado e também do país.

O processo pode ser explicado da seguinte forma: Usa-se micro organismos, bactérias ou fungos “bons” que são aplicados em um ambiente cheio de poluentes, isto é, cheios de bactérias e fungos “maus”. Os “bons” vão comendo e eliminando os “maus” e

gradativamente a despoluição da água e solo vai sendo efetuada. Quando o processo é aplicado em reservatórios de água potável, a purificação chega a ser total, de modo que essa água pode ser então reutilizada para o consumo. Estes microorganismos do “bem” se multiplicam, pois se alimentam da matéria orgânica poluente e se transformam em uma superpopulação que potencializa em milhões de vezes os processos saneadores inerentes à própria natureza.

Para os ambientalistas, este tipo de bio – tecnologia é visto de forma positiva, mas com cautela. O químico e técnico ambiental Roberto Monte da Rocha adverte que mesmo sendo estas cepas de bactérias de origem natural, sua aplicação requer cuidado. “Quando super-aumentamos qualquer coisa

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na natureza, sempre corre-se o risco de ao final ter-se algum tipo de impacto ambiental. No caso da despoluição por processo bacteriológico o risco é pequeno, mas existe, principalmente quando não é feita uma análise do ambiente que se quer despoluir. Ao aplicar-se os microorganismos despoluidores, eles poderão eliminar também as bactérias positivas desse ambiente causando um desequilíbrio, mas sem dúvida este será menor do que o que ocorre com a continuidade do ambiente poluído, que é fonte de doenças e mau cheiro. Assim sendo o processo é positivo”.

A pesquisa transformou-se com rapidez em um produto que hoje é comercializado de forma ampla no mercado nacional e internacional. O administrador de empresas

e gerente comercial Eduardo Ruga, que é sócio em uma das empresas gaúchas que participa das pesquisas, produção e comercialização, afirma que o processo é eficiente e já tem a total aprovação dos órgãos governamentais e acrescenta: “Quem de uma forma bem prática avaliza a nossa pesquisa e a sua aplicação no meio ambiente, é o próprio IBAMA, que licenciou a prática do bio- aumento em qualquer efluente para eliminação de poluentes sem nenhuma restrição. Hoje estamos em fábricas, escolas, universidades, em rios e lagos que vão desde Porto Alegre a Manaus, como por exemplo, a lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro. Agora já estamos indo para Dubai, nos Emirados Árabes”, afirma o empresário.

As empresas além de comercializarem o produto, são responsáveis também por sua aplicação. Por isso, fazem sempre a venda mediante uma minuciosa análise laboratorial do local aonde será feita a bio – limpeza, podendo assim saber, que tipo de cepa bacteriológica é eficaz no combate aos poluentes ali encontrados.

Desta forma, a bio – tecnologia traz uma resposta segura ao problema de poluição dos recursos hídricos, principalmente nos grandes centros, onde as leis ainda estão sendo elaboradas para promoverem a proteção dos mananciais e o uso racional da água, que em muitos lugares já estão à beira do racionamento.

Infelizmente, cada vez mais pelo mundo afora, água potável para beber: Só comprando!

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Responda rápido: você está sentindo uma “dorzinha” incomoda na cabeça, na parte de trás dos olhos. Qual a primeira

providência que toma?Segundo alguns profissionais da área da

saúde, é costumeira a auto-medicação, ou seja, o consumidor vai até a farmácia mais próxima e solicita um analgésico ao balconista. Porém, há quem vá além: troca um analgésico por um anti-inflamatório, afirmando que “um é mais forte que o outro”. Foi num caso destes que Vivian Andrades, 37 anos, estudante do penúltimo semestre do Curso Técnico de Enfermagem, levou um pequeno susto. Mesmo trabalhando na área da saúde e conhecendo os riscos da auto-medicação, ao sentir dores nas costas tomou ibuprofeno (anti-inflamatório) por conta própria. A dor de

cabeça virou dor abdominal seguida de vômito. “Eu nunca leio as bulas, tomo por saber que um medicamento é bom para isso ou aquilo. Depois que tomo é que eu leio”. Vivian além de ter errado se automedicando, ignorou que sofre de hipotireoidismo, uma deficiência no funcionamento da glândula tireoide e por isso, é o tipo de pessoa que nunca, em hipótese alguma, deve automedicar-se. Hoje, o médico investiga se a dor não era causada por alguma deficiência no funcionamento dos rins, o que geralmente acompanha doenças glandulares. “No curso (Técnico em Enfermagem) já nos ensinaram que em caso de dor, se o tratamento não for correto, ela pode até ir embora, mas voltará triplicada, talvez até acompanhada de algum efeito colateral”, afirma Vivian, que ainda assim utiliza-se por conta própria de sprays para

Anti-inflamatórios xAnalgésicos

por Caroline Garcia

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a garganta ou pomadas para dores musculares. Segundo a farmacêutica Fernanda

Both, que atua há quatro anos na área, existem pessoas que vão até a farmácia e solicitam antibióticos para dores simples, assim como as de garganta, sem saber se o que tem é realmente um infecção. “O perigo está geralmente nas alergias. Há quem seja alérgico aos diclofenacos e não saiba, por exemplo. A alergia pode apresentar-se em manifestações que vão desde um enjoo até vermelhidões pelo corpo”, alerta a farmacêutica, que ainda aconselha sobre a importância de o paciente consultar um médico e respeitar sua opinião antes de tomar qualquer atitude: “O paciente tem que confiar no médico e tomar o que lhe foi receitado. Se tiver um efeito colateral, aí sim, deve ler a bula e comparar o que tem

escrito nela com o que está acontecendo; e se for o caso, retornar ao consultório”.

Já Marlize Ladwig, que trabalha como balconista de farmácia há 10 anos, e sua colega Fernanda Tavares, que exerce a profissão há três, acreditam que existe muito mais por trás da auto-medicação do que a vontade própria do cliente. “A maior parte da população depende do SUS (Sistema Único de Saúde ) para ser atendido. Por demora, ou negligência, acabam desistindo, e muitas vezes sentem-se até desestimulados a procurar um médico”, afirma Marlize, que ainda completa: “Outro fator importante é o preço. Muitas vezes, o cliente não dispõe do valor do anti-inflamatório, que é mais caro que o analgésico, e leva o segundo para ‘mascarar’ a dor”. Ao serem questionadas sobre as indicações

de medicamentos no balcão, Fernanda é categórica: “Não é correto, mas a maior parte dos medicamentos não exige apresentação de receita, e é o dia a dia que nos mostra o que é receitado pelos médicos para essa ou aquela doença. Acabamos auxiliando o paciente na sua escolha para que não leve nada que vá prejudicá-lo muito seriamente”.

Sobre os valores citados pelas balconistas, a farmacêutica alerta: “Não é necessário temer que o medicamento seja mais caro ou tenha apresentação mais ou menos confiável; pois além dos preços, tem quem venha nos procurar reclamando sobre a confiança nos laboratórios. O médico sempre prescreve tudo na apresentação genérica, de forma que a marca ou laboratório não faça diferença.

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jornalismocientífico xanti-inflamatórioAnti-inflamatório é um fármaco ou método

que combate a inflamação dos tecidos. Tais medicamentos atuam por favorecer o desaparecimento de edemas, desidratando os tecidos tumefeitos (inchados, contraídos ou estirados), por ativação da circulação local ou por vasoconstrição no local da aplicação ou por coagulação das albuminas tissulares. Os mais conhecidos são chamados Diclofenacos e são apresentados como de Potássio ou Sódio. Há também o Ibuprofeno, e outros menos conhecidos, como para-aminofenol, salicilatos, derivados do ácido propiônico, pirazolônicos, e pirrolacéticos.

analgésicoAnalgésico é um termo para designar

drogas usadas para aliviara a dor, não necessariamente inflamatória. Não são antibióticos, ou anti-inflamatórios, e geralmente são ministrados em conjunto a estes, para que o paciente possa enfrentar o tratamento de um male mais sério com menos sofrimento. São exemplos de analgésicos: morfina, acetanilida, tramadol, paracetamol.

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O cuidado com a saúde e a busca pelo corpo perfeito é o que faz com que a preocupação em emagrecer esteja

presente na vida de homens e mulheres. De acordo com uma pesquisa realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a sibutramina é o remédio, para emagrecer, mais usado no Brasil.

A Coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) divulgou relatório onde mostra que a população brasileira consumiu, só no ano de 2009, 1,9 tonelada do anorexígeno inibidor de apetite, sibutramina. O que significa, que a cada mil habitantes brasileiros foram consumidas quase três doses do medicamento

Anvisa restringe

a venda de sibutramina

por Rhavine Dinat Falcão

® SEGUNDO NOVA RESOLUÇÃO DA ANVISA, A SUBSTÂNCIA PASSA A SER MEDICAMENTO DE FAIXA PRETA :: FOTO: DIVULGAÇÃO

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por dia. A estudante de enfermagem, Elaine Costa, faz parte desta estatística, usou o medicamento por três meses, mas teve que parar, pois sentia tremores, irritabilidade e agitação.

O risco para quem usa a droga fez a Anvisa restringir a venda da sibutramina. A RDC nº 13/2010 remaneja a substância da lista C1 para a Lista B2 dos medicamentos sujeitos à controle especial. A sibutramina passou a ser medicamento de faixa preta. A medida entrou em vigor em 30 de março deste ano. A resolução determina que o medicamento só poderá ser comprado com a apresentação do receituário B2 azul, uma receita de controle especial da qual uma cópia fica retida na farmácia e na qual devem constar os dados do paciente.

O endocrinologista, Marcos Rovinski, concorda com a mudança e diz que a mesma não teve influência no trabalho que ele exerce, pois já usava a droga dentro das indicações em pacientes adequados. Para a farmacêutica, Siomara Berwanger, houve uma redução no número de pacientes que tomam esse medicamento, pois nem todos os médicos possuem a receita especial B2. A nutricionista Cleonice Steigleder também gostou da mudança de receituário, pois acredita que não existe cura para nada que venha de fora para dentro, pois é preciso um esforço maior, mais concentrado e verdadeiro, como mudar hábitos.

Em 2006, a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes da ONU (Organização das Nações Unidas) indicou o

Brasil como maior consumidor mundial de drogas com finalidade emagrecedora, com um total de 9,1 doses diárias para cada mil habitantes. “A mudança de receituário é uma boa tentativa e pode diminuir o alto consumo do medicamento, mas não acredito que vai mudar muito e nem deixar de ser vendida sem prescrição de profissionais especializados, o que pode acontecer é dificultar a venda ilegal”, afirma Elaine Costa.

Para o endocrinologista Rovinski, a mudança de receituário ocorre devido ao uso indiscriminado da droga e sem indicação adequada, principalmente por pessoas com contra-indicações. Ele acrescenta que sem uma prescrição médica correta, o paciente usa uma droga que não é isenta de complicações, sem controle de intercorrências que venham

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a ocorrer e de eventuais contra-indicações. O alto consumo de drogas para emagrecer não é novidade no Brasil, devido a grande produção doméstica e a facilidade na compra dos medicamentos, que podem ser adquiridos pela internet, sem exigência de prescrição médica. Estes fatores colaboraram para colocar o país no topo do ranking mundial no consumo da droga sibutramina.

A sibutramina foi criada em 1980, para ser usada como antidepressivo e no início desta década o medicamento foi liberado para a utilização no emagrecimento, pois atua na sensação de saciedade. Segundo Rovinski, a droga pode ter efeitos colaterais como hipertensão arterial, insônia, cefaleia, boca seca, constipação intestinal, alteração no

paladar e em casos raros depressão e edema.

em outros países Nos Estados Unidos a venda da droga foi

restrita em dezembro de 2009, após um estudo feito pela Food and Drug Administration (FDA) revelar que o risco de infarto e derrame aumenta 16% em pessoas que tomam o medicamento. A Agência Europeia de Medicamentos proibiu, em janeiro, a venda da sibutramina e a FDA solicitou ao laboratório Abbot, fabricante do medicamento emagrecedor, a intensificação do alerta, sobre os riscos do uso da droga, aos pacientes que sofrem de problemas cardíacos. “Temos que ter mais atenção, informar ao cliente a nova

norma e fazê-lo aceitar a mudança, já que alguns tentam comprar com a antiga receita branca, o que pode ocasionar no fechamento da farmácia”, diz Berwanger.

Em um artigo publicado pela British Medical Journal (BMJ), os pesquisadores da Agência Europeia de Medicamentos afirmam que os médicos não devem mais prescrever este medicamento. Mas, para Rovinski, trata-se de uma droga eficaz, funcionando bem por bastante tempo e não tem conhecimento de dependência a sibutramina. Steigleder pensa diferente, afirma que a sibutramina causa dependência e diz ter conhecimento de pacientes que nunca emagreceram com a droga, tendo apenas uma pequena e transitória diminuição da ansiedade.

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Apesar de muitas controvérsias e discussões em torno dos organismos geneticamente modificados (OGMs),

hoje já é possível imaginar uma refeição com tomates que não estragam acompanhados por frango alimentado por milho geneticamente modificado.

Se esse cardápio deu água na boca pode ser que alimentos dessa origem comecem a fazer parte do dia a dia da maioria da população.

O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial na produção de transgênicos, e especialistas brasileiros defendem o consumo desses produtos. Há 25 anos exercendo a

Consumo de transgênicos

por Rafaela Henrique

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profissão de engenheiro agrônomo o PhD em Fitopatologia pela Universidade de Wisconsin nos EUA, Marcelo Gravina, afirma que para um produto geneticamente modificado chegar às prateleiras de supermercados são feitas avaliações rigorosas de segurança exigidas pela Comissão Técnica de Biosegurança. “São emitidos relatórios feitos pelos produtores, para a comissão que avalia o grau de segurança, e esse processo pode durar em torno de sete anos para então chegar ao consumo”, afirmou Gravina.

O Conselho Nacional de Biosegurança, órgão do Governo, é o responsável pela deliberação desse produto.

Tecnicamente os OGMs são aqueles que passaram por alterações genéticas sendo inseridos ou retirados pequenos

fragmentos de DNA, conforme a agrônoma Daniela Soares, e que na maioria das vezes não podem ser diferenciados dos demais alimentos, podendo causar receio para alguns consumidores.

A nutricionista Rosa Silvestrim, não recomenda o uso de alimentos modificados aos seus pacientes, por mais que existam órgãos de defesa do consumidor. “Pelo fato de não saber ao certo o que estamos introduzindo a nossa alimentação prefiro não arriscar, por isso, sugiro aos meus pacientes que não façam uso desses alimentos”, disse Rosa. Ela ainda ressalta a importância de ler os rótulos para obter o maior número de informações do produto.

Nos países desenvolvidos, 90% dos consumidores exigem a rotulagem para

identificar esse tipo de produto, lá os transgênicos apresentam um nível alto de rejeição.

O Brasil é o segundo maior produtor do mundo na área de transgênicos em termos de planta, no ano passado chegou a 15 milhões de hectares na produção de soja, milho e algodão.

“Quanto mais se sabe, menos se teme”, afirmou o Dr. Marcelo Gravina, ao defender o uso de transgênicos, para ele o que o mercado oferece em termos de alimentos que sofrem intervenções não é diferente do que é feito na transgenia.

A engenheira agrônoma Daniela Soares afirma que esse tipo de alimento pode auxiliar no combate a fome: “um alimento geneticamente modificado se torna mais barato porque diminui o uso de insumos além de melhorar a qualidade do

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produto, a possibilidade de produzir variedades mais nutritivas, ajuda a resolver o problema da deficiência em algumas vitaminas”, avalia Daniela Soares, mestranda da UFRGS de Agronomia.

Para o membro do Instituto gaúcho de Estudos Ambientais, Mateus Raymundo da Silva, a defesa do consumo de transgênicos é uma atitude antidemocrática que beneficia apenas os órgãos criadores da transgenia. “Abomino o uso da transgenia”, completou

Mateus Raymundo da Silva. O representante do Instituto alega a defesa

da multiplicidade das espécies fato que não acontece com o cultivo de transgênicos que utilizam uma mesma área para o plantio de uma única espécie. Além disso, Mateus afirma que esse tipo de prática expulsa a população do campo de agricultura tradicional, e os obriga a viver nas periferias das grandes cidades.

A polêmica envolvendo os alimentos transgênicos foi descrita na reportagem, “transgênicos plantam dúvida”, escrita pelo jornalista Luís Peixoto, na revista Ecos, que analisa desde o equilíbrio ecológico aos perigos para a saúde humana. Se os transgênicos plantam dúvida ou não só o tempo e a aprovação definitiva da população e dos órgãos responsáveis pela segurança da sociedade é quem vão determinar.

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