associaÇÃo brasileira de orÇamento pÚblico – abop

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP Hammurábi Trovão Barbalho da Silva O EFEITO DA COMPOSIÇÃO DE GASTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL ENTRE CUSTEIO E INVESTIMENTO NA TAXA DE CRESCIMENTO: UMA ANÁLISE DO PERÍODO DE 2000 A 2012 Brasília - DF 2013

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Page 1: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

Hammurábi Trovão Barbalho da Silva

O EFEITO DA COMPOSIÇÃO DE GASTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

FEDERAL ENTRE CUSTEIO E INVESTIMENTO NA TAXA DE

CRESCIMENTO: UMA ANÁLISE DO PERÍODO DE 2000 A 2012

Brasília - DF

2013

Page 2: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

HAMMURÁBI TROVÃO BARBALHO DA SILVA

O EFEITO DA COMPOSIÇÃO DE GASTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

FEDERAL ENTRE CUSTEIO E INVESTIMENTO NA TAXA DE

CRESCIMENTO: UMA ANÁLISE DO PERÍODO DE 2000 A 2012

Monografia apresentada a Universidade

Federal de Brasília, como requisito

parcial para obtenção do título de

Especialização em Orçamento e

Políticas Públicas, sob a orientação do

Professor Mestre James Giacomoni.

Brasília - DF

Page 3: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

2013

HAMMURÁBI TROVÃO BARBALHO DA SILVA

O EFEITO DA COMPOSIÇÃO DE GASTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

FEDERAL ENTRE CUSTEIO E INVESTIMENTO NA TAXA DE

CRESCIMENTO: UMA ANÁLISE DO PERÍODO DE 2000 A 2012

Monografia apresentada a Universidade

Federal de Brasília, como requisito

parcial para obtenção do título de

Especialização em Orçamento e

Políticas Públicas, sob a orientação do

Professor Mestre James Giacomoni.

Aprovado em _____de _____________ de 2013

BANCA EXAMINADORA

________________________________

Page 4: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

Para Heide e Iara

Page 5: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

RESUMO

O EFEITO DA COMPOSIÇÃO DE GASTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

FEDERAL ENTRE CUSTEIO E INVESTIMENTO NA TAXA DE

CRESCIMENTO: UMA ANÁLISE DO PERÍODO DE 2000 A 2012

A presente dissertação, intitulada – “O efeito da composição de gasto da

administração pública federal entre custeio e investimento: uma análise do

período de 2000 a 2012” – teve como intuito analisar a variação na composição

dos gastos do governo federal entre custeio e investimento, e o seu efeito na

taxa de crescimento no curto prazo enquanto fonte de sustentabilidade do atual

modelo de gestão. Justificou-se a necessidade dessa pesquisa, baseada na

Teoria Geral de Keynes, na qual o nível planejado de gastos com investimento

varia em função da taxa de juros, e no Modelo Clássico que reserva efeitos

distintos entre os gastos com consumo dos gastos com investimentos, quanto à

taxa de crescimento no curto prazo. Assim sendo, considerando a

característica das finanças públicas brasileiras nesse início de século que é a

grande atuação governamental na economia, sobretudo no incremento dos

gastos para o desempenho das atividades sociais básicas como pagamentos

com previdência e assistência social, será este modelo sustentável sob uma

lógica intertemporal? Esta dissertação contemplou uma análise segundo

método dedutivo e comparativo; quanto ao método de procedimento, o

monográfico. A técnica de pesquisa predominante foi a bibliográfica. Os

resultados previstos e constatados ao longo da dissertação analisam o fluxo da

variação das despesas com custeio e investimento a partir da execução

orçamentária de cada ano. Foi verificado como a taxa de crescimento reagiu ao

longo do período e até que ponto o atual modelo de gestão da administração

pública federal, baseado na inclusão social, é viável considerando a lógica

intertemporal.

Palavras-chaves: Composição de Gasto. Lógica Intertemporal. Execução

Orçamentária.

Page 6: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

ABSTRACT

THE EFFECT OF COMPOSITION OF PUBLIC ADMINISTRATION EXPENSES

BETWEEN FEDERAL FUNDING AND INVESTMENT IN GROWTH RATE: AN

ANALYSIS OF THE PERIOD FROM 2000 TO 2012

This dissertation , entitled - " The effect of the composition of government

spending between federal funding and investment : an analysis of the period

from 2000 to 2012 " - was meant to examine how the variation in the

composition of government spending between federal funding and investment

and their effect on the growth rate in the short term as a source of sustainability

of current management model . Justified the need for this research, based on

Keynes's General Theory , in which the level of planned investment spending

varies depending on the interest rate, and the Classic Model that allows

different effects between consumer spending in investment spending , as the

growth rate in the short term . Therefore , considering the characteristic of the

Brazilian public finances early this century is the great government action in the

economy , especially in the increase of expenditures for the performance of

activities as basic social welfare payments and social assistance , this model

will be sustainable under a logic intertemporal? This work included an analysis

comparing second and deductive method , the method of procedure, the

monograph . The research technique was the predominant literature. The

expected results and observed throughout the dissertation analyzes the flow of

the variation in costs and investment expenses from the budget execution of

each year. Was verified as the growth rate over the period reacted and the

extent to which the current management model of the federal public

administration, based on social inclusion, it is feasible considering the

intertemporal logic .

Keywords: Composition of Expenditure. Intertemporal logic. Budget Execution.

Page 7: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - Evolução da dívida líquida do setor público...........................................20

GRÁFICO 2 - Taxa de crescimento da dívida pública (em termos reais).....................21

GRÁFICO 3 - Evolução da relação dívida/PIB.............................................................22

GRÁFICO 4 - Resultado primário e nominal.................................................................23

GRÁFICO 5 - Linha de tendência do resultado nominal (%PIB)..................................24

GRÁFICO 6 - Relação dívida/arrecadação...................................................................26

GRÁFICO 7 - Percentual do serviço da dívida.............................................................28

GRÁFICO 8 - Evolução da despesa executada total (R$ milhões)..............................30

GRÁFICO 9 - Composição de gasto por grupo de natureza da despesa.....................32

GRÁFICO 10 -Linha de tendência do percentual do GND 3.........................................35

GRÁFICO 11 - Despesa Executada GND 4 (Investimento)..........................................39

GRÁFICO 12 - Despesa Executada GND 4 (%)...........................................................42

GRÁFICO 13 - Taxa de crescimento do PIB (%) (2000-2012)......................................46

GRÁFICO 14 -Linha de tendência da taxa de crescimento do PIB (%)........................47

Page 8: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

LISTA DE TABELA

TABELA 1 - Componente da Programação Financeira por Grupo de Natureza da

Despesa........................................................................................................................14

TABELA 2 - Relação Dívida PIB................................................................................22

TABELA 3 - Relação dívida/arrecadação...................................................................25

TABELA 4 - Pagamento do INSS a pensionistas (em R$ bilhões)............................37

TABELA 5 - Gasto com seguro desemprego (em R$ bilhões)...................................38

Page 9: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

LISTA DE SIGLAS

APF - Administração Pública Federal

DE - Despesa Empenhada

GND - Grupo de Natureza da Despesa

MTO - Manual Técnico de Orçamento

LRF - Lei de Responsabilidade Fiscal

DLSP - Dívida Líquida do Setor Pública consolidado

IPCA - Índice de Preço ao Consumidor Amplo

PIB - Produto Interno Bruto

Page 10: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................ 5

LISTA DE GRÁFICOS ........................................................................................................... 7

LISTA DE TABELA ................................................................................................................ 8

LISTA DE SIGLAS ................................................................................................................. 9

1. Introdução ..................................................................................................................... 11

2. Fundamentação teórica ................................................................................................... 13

2.1 – Do Direito Administrativo ........................................................................................ 13

2.2 – Da Contabilidade Pública ....................................................................................... 14

2.3 – Da Teoria Econômica ............................................................................................. 15

3. A dívida pública enquanto componente da despesa total ............................................ 18

3.1 – A dívida pública ....................................................................................................... 18

3.2 – Resultado primário e nominal ................................................................................ 23

4. A composição de gastos entre custeio e investimento ................................................. 30

4.1 - A composição por GND .......................................................................................... 30

4.2 – Análise dos gastos com custeio ............................................................................ 34

4.3 – Análise dos gastos com investimento ................................................................... 38

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 49

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 51

Page 11: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

11

1. Introdução

Esta é uma pesquisa que tem como tema a composição de gasto do

orçamento público federal, seu objetivo é analisar como a composição de

gastos entre custeio e investimento afetou a taxa de crescimento do PIB entre

o período de 2000 a 2012, sob o argumento de que uma maior parcela

reservada ao investimento público induz a um maior investimento privado, que,

juntos afetam a taxa de crescimento. Para tal, a pesquisa admite alguns outros

pressupostos quais sejam: a) a atuação da Administração Pública Federal

(APF), também chamado de “setor público”, realiza, através dos seus gastos,

um componente da demanda agregada que exerce uma função indutora na

atividade econômica em geral, por se tratar este do maior agente econômico do

sistema; b) uma composição de gastos, entre custeio e investimento, eficiente,

capaz de garantir um taxa de crescimento sustentável a médio e longo prazo;

c) a essencialidade do investimento público, enquanto investimento autônomo,

para a expansão da capacidade produtiva da economia; d) a relação de

complementaridade entre investimento público e privado; e) um passivo de

investimento, sobretudo em infraestrutura do país.

Para efeito de metodologia de pesquisa, adotou como “despesa” o

conceito de Despesa Empenhada (DE) em função da indisponibilidade de fonte

de dados que consolidassem as despesas liquidadas dos anos que

compreendem o período estudado (2000-2012). Adotou-se ainda a

classificação das despesas por Grupo de Natureza da Despesa (GND) do

Manual Técnico de Orçamento (MTO 2012) para efeito de análise da

composição de gastos do governo federal.

Portanto o cerne dessa pesquisa é a análise da composição dos gastos

público do governo federal, considerando a hipótese de que o padrão de

atuação do Estado, através do modelo de gestão na APF, se reflete na

composição de gasto do governo, que por sua vez, afeta a taxa de

crescimento.

Page 12: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

12

Essa pesquisa está divida em cinco momentos, sendo o primeiro

reservado aos fundamentos teóricos, o segundo analisará o maior componente

da despesa que é a parcela a serviço da dívida pública, portanto, o segundo

momento se reserva a uma análise pormenorizada da dívida pública. Na sua

terceira etapa, a pesquisa analisará a parcela correspondente ao fluxo de

custeio da atuação da APF. No quarto momento, será analisado o fluxo da

parcela reservada as despesas com investimento. E, por fim, será analisado

como a taxa de crescimento reagiu às variações da composição de gasto ao

longo do período.

Page 13: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

13

2. Fundamentação teórica

Iniciaremos esta pesquisa reservando este primeiro capítulo para a

fundamentação teórica dos conceitos que dão sustentação a hipótese

levantada; a de a taxa de crescimento é afetada pelo taxa de investimento

agregada que, por sua vez, é composta pela taxa de investimento privado,

mais a taxa de investimento público. Sendo esse último, um componente

produto da composição de gasto que atende o modelo de gestão vigente da

APF e seu padrão político ideológico.

Antes de qualquer coisa, é razoável aqui propor uma subclassificação de

conceitos em três categorias: a primeira sendo a do Direito Administrativo com

a definição do que vem a ser APF; a segunda, referente à Contabilidade

Pública, mais especificamente o marco regulatório do processo orçamentário

no Brasil, e a terceira e última, os conceitos advindo da Teoria Econômica.

2.1 – Do Direito Administrativo

De acordo com a subclassificação sugerida acima, o primeiro item a ser

definido aqui será o conceito de “Administração Pública Federal” (APF). Este

conceito advém da Constituição Federal de 1988, Capítulo I, da Organização

Político-Administrativa do Estado, também conhecida como “União”, que assim

o diz: “a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil

compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios”. Já um

segundo autor (NASCIMENTO, 2007, p. 18) afirma que a administração pública

nacional está dividida nos três níveis de governo: o Governo Federal, os

Governos Estaduais e os Governos Municipais. Uma restrição relevante a ser

destacada é o fato de essa pesquisa se limitar somente ao governo federal.

Ainda em relação ao termo APF, uma terceira definição apud (MEIRELLES;

2004) cita:

pode-se falar de administração pública aludindo-se aos instrumentos

de governo, como a gestão mesma dos interesses da coletividade. (...).

Subjetivamente a Administração Pública é o conjunto de órgãos a

serviço do Estado agindo in concreto para a satisfação de seus fins de

Page 14: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

14

conservação, de bem-estar individual dos cidadãos e de progresso

social. (MEIRELLES; 2004)

Ademais, (ALEXANDRINO. PAULO, 2012, p.23) define:

Administração pública em sentido amplo abrange os órgãos de

governo, que exercem função política, e também os órgãos e pessoas

jurídica que desempenham função meramente administrativa. (...).

Administração pública em sentido estrito só inclui os órgãos e pessoas

jurídicas que exercem função meramente administrativa, de execução

dos programas de governo. (ALEXANDRINO. PAULO, 2012,

p.23)

Portanto, fica assim entendido, com vista o propósito dessa pesquisa, a

definição de Administração Pública Federal como a atividade administrativa da

União e somente dela, excluindo os governos estaduais, municipais e distritais.

2.2 – Da Contabilidade Pública

Outro item relevante diz respeito ao “pano de fundo” da pesquisa que é

metodologia oficial da matéria orçamentária, mais precisamente o Orçamento

Público Federal. Portanto, toda a pesquisa será ambientada dentro da

metodologia estabelecida pelo governo federal. No Brasil, o desenho

institucional que estabelece a matéria orçamentária é a Constituição Federal,

em sua seção II, Dos Orçamento, Art. 165: a) o plano plurianual; b) as diretrizes

orçamentárias; c) os orçamentos anuais; d) Lei Complementar nº 101, de 04 de

maio de 2000, mais conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF),

que estabelece o equilíbrio de resultados primários;e) por fim, os Manuais

Técnicos de Orçamento. Portanto, será considerada somente a metodologia

oficial de governo, aqui, sugerida pelo Manual Técnico de Orçamento (MTO)

2012, que sugere, diga-se de passagem, como componentes da programação

financeira quanto ao GND à classificação que segue na tabela 1, abaixo:

Tabela 01 – Componente da Programação Financeira por Grupo de Natureza da Despesa.

CÓDIGO GRUPO DE NATUREZA DA DESPESA

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15

1 Pessoal e Encargos Sociais

2 Juros e Encargos da Dívida

3 Outras Despesas Correntes

4 Investimento

5 Inversões Financeiras

6 Amortização da Dívida Fonte: Manual Técnico de Orçamento 2012

Esta classificação permitirá separa os gastos da APF em seis grupos

nos quais agregam as mesmas despesas com as mesmas características

quanto ao objetivo de gasto. Essa distinção é necessária para acompanhar os

gastos com investimento, pessoal, custeio, encargos da dívida etc. Logo, é

imprescindível para APF monitorar e avaliar a conformidade dos gastos

proveniente da atuação do governo federal em relação inclusive aos objetivos

da política econômica.

Para efeito de metodologia, adotou-se o GND 3 (outras despesas

correntes) como a parcela que representa os gastos com custeio da “máquina”;

e o GND 4 (investimento) como a parcela que representa os gastos com

formação e manutenção de capital fixo. Essa adaptação foi necessária porque

o orçamento federal não faz distinção, em sua metodologia, entre o gasto com

investimento em geral, do gasto com investimento em infraestrutura. Todavia,

sabe-se que o último atua mais diretamente no sentido de ampliar a

capacidade produtiva. Quanto ao parcela de custeio, sabe-se que, além das

“outras despesas correntes”, compõem essa categoria econômica as despesas

com pessoal, bem como as despesas de encargos da dívida pública (Juros e

Amortização), no entanto, restringiu-se ao GND 3 pelo de ser esse grupo o

mais imediato a discricionariedade dos gestores dos órgãos que compõem a

APF.

2.3 – Da Teoria Econômica

A contribuição da teoria econômica será basicamente fazer a distinção

entre os efeitos dos tipos de gastos: custeio e investimento. Sabe-se que a

despesa de custeio constitui componente da demanda agregada, além de

Page 16: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

16

intensificar o efeito do “multiplicador keynesiano” (REIS, 2008, p. 11). Já as

despesas em investimento, além das mesmas propriedades dos gastos

públicos em geral, como componente da demanda agregada e determinante do

multiplicador, representa também a criação de capacidade produtiva, ou seja,

representam expansão da capacidade produtiva da economia. Ademais, o

investimento público se distingue do investimento privado, pois o primeiro é

autônomo (depende da decisão de governo) (REIS, 2008, p. 11), enquanto o

privado depende da viabilidade de lucro. Essa propriedade o torna ainda mais

essencial, pois se sabe que, em determinadas situações, ainda que essenciais,

o mercado não tem estímulo para realizá-los, principalmente quando o

horizonte de retorno é de longo prazo ou de alto risco. É o caso clássico da

área de investimento em educação e infraestrutura apud (REIS; 2008).

A primeira pontuação importante a estabelecer é que o investimento

público, um tipo de gasto público, possui um papel ainda mais

específico do que o gasto público em geral. Enquanto os gastos

públicos constituem-se em um componente da demanda agregada e

determinam a intensidade do multiplicador, o investimento público

representa, também, criação de capacidade produtiva. Entretanto, ao

contrário do investimento privado, ele é autônomo, pois depende da

decisão das autoridades do governo. (REIS; 2008)

Quanto ao aparato estatístico, esta pesquisa se valerá de algumas

medidas de tendência central como média; também de medida de dispersão

como desvio-padrão; e por fim, quando da necessidade de projeção de série,

deverá ser utilizado o modelo de regressão linear simples, admitindo uma

margem de erro de 5%.

Por conta da indisponibilidade de dados consolidados referente à

despesa pública, precisamente entre 2000 e 2012, esta pesquisa se utilizou

dos Boletins Gerais da União como fonte de dados nos quais destacam a etapa

da Despesa Empenhada como o marco da realização da despesa conforme

previsto em lei. Porém é necessário aqui destacar o fato de que esta etapa da

realização da despesa não corresponde efetivamente ao valor realizado, por se

Page 17: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

17

tratar de um compromisso, ou melhor, uma sinalização de intenção de

realização da despesa.

Aproveito a ocasião para manifestar a insatisfação, na qualidade de

pesquisador, quanto ao fato de o governo federal não disponibilizar os dados

referentes às séries históricas fiscais, de forma consolidada, em um único site

especializado, pois o mesmo iria contribuir muito para a realização das

pesquisas futuras.

Page 18: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

18

3. A dívida pública enquanto componente da despesa total

Definitivamente, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) foi um marco de

inflexão na história da política fiscal do Brasil. A partir da sua promulgação,

assistiu-se a uma persistente redução da despesa pública a serviço dos

encargos da dívida pública. Tal fato inverteu a tendência crescente do ritmo de

progressão da dívida até então, diga-se de passagem, desde tempos coloniais.

Portanto, decidiu-se iniciar o estudo dos componentes da despesa pública pelo

estudo da dívida pública.

A razão pela qual essa pesquisa se inicia pelo estudo da dívida pública se

dá em função da significância da parcela da despesa pública reservada a

serviço dos encargos da dívida. Aqui, leia-se “serviço da dívida” como sendo a

soma dos valores dos GND 2 e 3 (Juros e Encargos da Dívida mais

Amortização da Dívida)”. Para se ter uma idéia geral dessa representação,

segundo valores extraídos dos Boletins Gerais da União, entre os anos de

2000 a 2012, a participação média dessa parcela foi de 51%.

3.1 – A dívida pública

Por tanto, fica assim considerado o estudo da dívida como o ponto de

partida para esta pesquisa. Assim sendo, é oportuno delimitar o intervalo

cronológico compreendido no período entre o ano de 2000 a 2012. O período

escolhido se deu por conta da promulgação da Lei Complementar 101 de 04 de

maio de 2000 (LRF), que estabeleceu o equilíbrio dos resultados primários das

contas públicas – um novo marco institucional para a política de gestão da

dívida pública.

O conceito de Dívida Pública não é um consenso. A necessidade de se

mensurar a dívida sob abordagens diferentes fez com que o governo federal

desenvolvesse series estatísticas distintas; cada qual partindo de um conceito

de dívida pública, mas seguramente não é esse o propósito da pesquisa,

portanto, adotou-se o conceito mais usual entre especialistas que é o conceito

de Dívida Líquida do Setor Público Consolidado (DLSP).

Page 19: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

19

A medida mais ampla e conhecida disponível para a avaliação do

tamanho da dívida pública no Brasil é a Dívida Líquida do Setor

Público (DLSP). Esta corresponde à soma de todos os passivos de

todos os níveis do setor público, deduzidos dos ativos financeiros

detidos por estes, como as disponibilidades de caixa e créditos a

receber (TUROLLA; 2003).

Uma restrição relevante a ser feita aqui é quanto à análise do perfil da

dívida. Não será considerado item relevante ao objetivo da pesquisa a analise

do perfil da dívida; seja quanto a sua composição por indexador; seja quanto a

sua composição por modalidade, ou ainda, quanto ao prazo médio de

vencimento dos títulos. A dívida será avaliada sob seu aspecto geral, com o

foco no fluxo e no estoque da dívida, ao longo do período escolhido.

Para se ter a idéia geral da evolução da dívida em termos absolutos,

levou-se em consideração os montantes em termos nominais; todavia, há de se

observar a necessidade da correção monetária dos valores nominais

registrados nos fim de cada exercício, considerando o ano de 2012 como ano

base, e o indexador IPCA (índice de preço ao consumidor amplo) como

indexador dos valores. Isso se dá em função de uma análise mais realista.

O gráfico 1, abaixo, trás a evolução do estoque da dívida entre 2000 e

2012. Também foi avaliada a evolução da relação da DLSP consolidado com o

Produto Interno Bruto (PIB) – a chamada “relação Dívida PIB”. E em seguida,

analisou-se a relação da dívida com a arrecadação do governo federal. Apesar

de a arrecadação guardar uma correlação forte com o crescimento do PIB, esta

segunda estatística se justifica pelo fato de ser mais precisa enquanto fonte

direta de liquidez – admitindo que o PIB é a soma dos valores agregados dos

agentes (governo e terceiros), enquanto a arrecadação é a fonte de liquidez

exclusiva do setor público, ou seja, é mais precisa. Além do mais, a relação

“dívida arrecadação” pode revelar alguma tendência sutil, de longo prazo, que

a relação dívida - PIB não alcance. Vale aqui destacar um provérbio popular

que diz que “quem tem com que me pague, nada me deve”.

Page 20: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

20

Segue o gráfico 1 abaixo que trás a evolução do estoque da dívida.

Inicialmente, optou-se pela análise dos valores nominais para se terá idéia

geral da variável “estoque da dívida” e seu ritmo de crescimento.

Gráfico 1 – Evolução da Dívida Líquida do Setor Público.

Fonte: série temporais da Dívida Pública Líquida – consolidado; disponível no site do Banco Central do Brasil.

Gráfico elaborado pelo autor; Em termos nominais, entre 2000 a 2012, tem-se um incremento anual

médio na ordem de R$ 82.055 milhões; equivalente a 9,83% ao ano. A dívida

registrou, no ano de 2000, o valor de R$ 542.562 milhões, chegando a R$

1.550.083 milhões em 2012. Vale destacar que, em termos nominais, o

estoque foi triplicado, no entanto, esse indicador é limitado quanto a noção real

de valor, pois apesar de revelar um crescimento bastante acelerado, tem-se um

crescimento real apenas de 40%, se considerar a correção monetária.

É importante entender aqui a razão da distinção do tratamento da dívida

pública em termos nominais e reais. Como um dos indicadores de

acompanhamento da dívida pública é a relação dívida PIB, e, como a

metodologia de cálculo do PIB considera somente a variação em termos reais

do produto, o mesmo raciocínio deve ser aplicado à dívida.

542.

562

677.

431

892.

292

932.

138

982.

509

1.04

0.04

6

1.12

0.05

3

1.21

1.76

2

1.12

0.05

3

1.36

2.71

1

1.47

5.82

0

1.50

8.54

7

1.55

0.08

3

-

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

1.600.000

1.800.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

DLSP (R$ em milhões)

Page 21: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

21

A observação acima é relevante porque a correção monetária do valor

da dívida para o ano de base de 2012 produz uma taxa distinta de crescimento

real da taxa de crescimento nominal. Logo, deverá ser considerada somente a

taxa de crescimento real – ou seja, a taxa de variação nominal, descontada a

taxa de inflação do ano. Para o propósito dessa pesquisa, será considerada

somente a variação real.

O gráfico 2 analisa a taxa de crescimento da dívida em termos reais.

Aqui, a pesquisa destaca o ritmo de crescimento da dívida que, conforme a

leitura do gráfico 2, se mostra bastante instável. Em 2002, a taxa de variação

da dívida, em valores nominais, registrou crescimento acima de 30%, enquanto

no ano de 2008, registrou uma redução de 8%. Em termos reais, tem-se em

2002, um crescimento de quase 20%, contra uma redução de

aproximadamente 13% em 2008.

Gráfico 2 – Taxa de crescimento da dívida pública (em termos reais).

Fonte: séries temporais da Dívida Pública Líquida – consolidado; disponível no site do Banco Central do Brasil.

Gráfico elaborado pelo autor;

Ao analisar o gráfico 2, antes de tudo, é razoável destacar um ponto

positivo quanto a evolução da dívida, o fato de a mesma estar relativamente

bem controlada. Sua evolução no período reflete o efeito daquilo que tem sido

6%

17%19%

-5%-2%

0%

5% 4%

-13%

17%

2%

-4% -3%

-20%

-15%

-10%

-5%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Taxa de crescimento da dívida pública(em termos reais)

Variação real Média (V. Reais)

Page 22: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

22

a tônica da política fiscal a partir da LRF. Entre os doze anos analisados,

somente em três deles registrou-se uma taxa de crescimento de dois dígitos. A

taxa média de incremento anual foi de 3% ao ano entre o período.

Agora, vamos analisar a relação dívida PIB. O gráfico 3 a seguir trás os

percentuais de cada exercício.

Gráfico 3 – Evolução da relação dívida PIB.

Fonte: séries temporais da Dívida Líquida do Setor Público – consolidado; disponível no site do Banco Central do Brasil. o Produto

Interno Bruto foi pesquisa no site do IBGE;

Gráfico elaborado pelo autor.

Tabela 02 – Relação Dívida PIB.

Média 39%

Desvio Padrão 7%

Correlação Dívida PIB 0,96

Entre 2000 a 2012, a trajetória da relação dívida PIB indica uma inflexão

no ano de 2002 quando se registrou um percentual de 60%. A partir daí então,

tem-se uma redução gradual, chegando a 35% em 2012. A média do período

foi de 39%. A tendência observada foi a de redução da dívida em relação ao

PIB predominantemente. O que reforça a hipótese de efeito positivo da LRF. O

estabelecimento de metas sucessivas para o resultado nominal do orçamento,

46,0

0% 52,0

2% 60,3

8%

54,8

3%

50,6

1%

48,4

4%

47,2

7%

45,5

3%

36,9

4%

42,0

7%

39,1

5%

36,4

1%

35,2

1%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Evolução da relação dívida PIB

Page 23: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

23

aliado ao crescimento econômico do período garantiu a manutenção dessa

tendência de queda da relação em análise.

3.2 – Resultado primário e nominal

O outro indicador aqui a ser analisado é o resultado fiscal que é o objeto

imediato da LRF. São dois os indicadores que correspondem a essa análise; o

resultado primário e o resultado nominal. O primeiro corresponde à diferença

entre receitas e despesas do governo (excluindo-se da conta as receitas e

despesas de juros). O segundo é o Resultado Nominal, também bastante

conhecido pelos analistas como Necessidade de Financiamento do Setor

Público (NFSP), equivale à variação nominal dos saldos da dívida interna

liquida, mais os fluxos externos efetivo, convertidos para reais pela taxa média

de câmbio de compra, apud (NASCIMENTO, 2007, p. 18). Segue abaixo o

gráfico 4 que trás os resultados fiscais entre o período estudado.

Gráfico 4 – Resultado primário e nominal.

Fonte de dados: site da Secretaria de Orçamento Federal

Gráfico elaborado pelo autor.

O gráfico 4 trás a série dos resultados (primário e nominal) fiscais do

governo federal, também chamados de “acima da linha” e “abaixo da linha”; o

primeiro corresponde ao resultado primário, enquanto o “abaixo da linha” é o

1,7% 1,7%2,2% 2,3%

2,7% 2,6%2,2% 2,2% 2,4%

1,3%2,1% 2,2%

-2,1% -1,9%

-0,7%

-3,7%

-1,4%

-3,4% -3,1%

-2,2%

-0,8%

-3,3%

-1,2%

-2,1%

-0,05

-0,04

-0,03

-0,02

-0,01

0

0,01

0,02

0,03

0,04

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Resultado Primário e Nominal

Resultado Primário Resultado Nominal

Page 24: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

24

resultado nominal, também chamado de Necessidade de Financiamento do

Setor Público (NFSP). Nota-se que ao longo do período analisado, o resultado

primário se mostra mais estável do que o resultado nominal – o que reflete o

esforço fiscal que o governo tem feito ao longo desses anos, pois a meta é

estabelecida em cima do resultado primário. Também relevante destacar que o

governo brasileiro tem conseguido com louvor atingir essas metas. Houve anos

em que houve mudanças na metodologia de cálculo do resultado primário (pró-

alcance da meta) o que levou alguma desconfiança por parte da comunidade

especializada na matéria. Mas no geral tem sido bem sucedida a política fiscal

quanto ao resultados esperados da LRF. O que não justifica as recentes

mudanças na metodologia de cálculo.

Para se analisar minimamente a perspectiva futura da NFSP, a presente

pesquisa se valeu do Modelo de Regressão Linear Simples como artifício

estatístico para projetar os percentuais da NFSP em relação ao PIB. A linha de

tendência da serie da NFSP revelou uma sutil inclinação, que nos permite aqui

aprofundar uma investigação a seguir.

Gráfico 5 – Linha de tendência do resultado nominal (%PIB).

Gráfico elaborado pelo autor.

Na leitura do modelo, tem-se, em primeiro lugar, o resultado dos

coeficientes da regressão (inclinação e intercepção). Lembrando que o modelo

de Regressão Linear Simples é do tipo E(Y/X) = β1 + β2 . X; apud (GUJARATI,

-2,1%-1,9%

-0,7%

-3,7%

-1,4%

-3,4%-3,1%

-2,2%

-0,8%

-3,3%

-1,2%

-2,1%

-1,4%

-4,0%

-3,5%

-3,0%

-2,5%

-2,0%

-1,5%

-1,0%

-0,5%

0,0%

1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Linha de tendência do resultado nominal (% PIB)

Resultado Nominal Linear (Resultado Nominal)

Page 25: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

25

2000). Aqui o coeficiente β1corresponde a interceptação da linha de tendência,

enquanto o β2, a inclinação da linha.

O gráfico 5 acima trás a linha de regressão linear calculada a partir do

ano base 2000. Os valores calculados para os coeficientes foram:

β1 = -0,0226; β2 = 0,0003, portanto, a equação resultante foi a seguinte:

E(Y/X) = - 0,0226 + 0,0003 . X .

Segundo o modelo de regressão linear, o governo federal somente irá

zerar seu resultado nominal no ano de 2075. No entanto, o governo tem

declarado que conseguirá zerar este indicador num horizonte de tempo bem

menor. É claro que há muitos outros fatores envolvidos numa análise dessa

natureza, todavia, é relevante considerar o fato de que o governo é parte direta

nesse “jogo”, logo, é prudente recorrer aos artifícios estatísticos que

possibilitem a predição do equacionamento. O mais importante, sobretudo, é

reconhecer que houve uma sutil melhora em termos de resultados nominais,

bem como uma melhora na relação dívida PIB.

Assim como o PIB, sabe-se que a arrecadação também reserva forte

correlação com fluxo da dívida, ambos (r = 0,96). Apesar de essa pesquisa já

ter analisar a relação Dívida - PIB anteriormente, vale a pena agora analisar

também a dívida sob a perspectiva da arrecadação, porque enquanto o produto

interno bruno é a soma dos produtos e serviços agregados de todos os agentes

(governo e terceiros), a arrecadação é exclusiva do agente governo, logo há

um ganho na precisão do indicador enquanto fonte de pagamento da dívida.

Segue abaixo o gráfico 6 que se refere ao percentual da relação dívida

arrecadação.

Tabela 03 - Relação dívida/arrecadação.

Média 96%

Desvio Padrão 12%

Correlação 0,96

Page 26: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

26

Gráfico 6 – Relação dívida/arrecadação.

Fonte dos Dados: DLSP consolidado (site Banco Central do Brasil); Arrecadação (Boletim Geral da União 2000-2012)

Gráfico elaborado pelo autor.

A relação entre a dívida e a arrecadação revela uma trajetória

semelhante à relação dívida PIB conforme esperado, todavia um tanto mais

instável. O desvio padrão dessa é de 12%; contra 7% da relação dívida PIB –

fato que confirma essa instabilidade maior. No entanto, essa segunda relação

só vem a reforçar a evolução da gestão da dívida, pois apesar de, nos três

primeiros anos, entre 2000 e 2002, registrarem um incremento, a partir de

2003, segue uma nítida tendência de redução, chegando a 80% em 2012,

menor percentual do intervalo.

É razoável aqui destacar a limitação quanto ao uso dos modelos aqui

utilizados para avaliar a gestão da dívida liquida do setor público. É sabido que

para uma investigação mais específica a cerca da dívida, é necessário uma

análise mais rica, o que sugere a utilização de modelos mais sofisticados, que

considerassem a composição da dívida quanto ao prazo médio de vencimento,

o indexador, etc.. Entretanto, o propósito dessa passagem é uma análise

quantitativa, ou seja, do estoque.

Assim sendo, chegamos a seguinte conclusão de que a dívida continua

a crescer, porem a taxas cada vez menores. Tal fato permite uma melhora nas

83%

111% 12

4%

101%

105%

90% 94

%

97%

91%

89% 10

0%

89%

80%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

140%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Relação dívida/arrecadação

Relação DLSP/Arrecadação

Page 27: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

27

condições de pagamento da mesma – o que explica a redução da parcela da

despesa pública a serviço dos encargos da dívida (juros e amortização) que

veremos a seguir. Com destaque a Lei de Responsabilidade Fiscal que, por

meio do estabelecimento de metas de resultados primários consecutivos, tem

conseguido gerir a dívida pública federal sob as condições e diretrizes

propostas pelo objetivo de suprir de forma eficiente a necessidade de

financiamento do governo federal, ao menor custo de financiamento de longo

prazo, respeitando-se a manutenção de níveis prudentes de risco, apud

Secretaria do Tesouro Nacional.

Em sua última versão, o Relatório Anual da Dívida Pública (2012), o

governo reconhece esta evolução através da palavra do ministro da fazenda:

Mesmo realizando R$ 46 bilhões de desonerações tributárias,

reduzimos a dívida líquida do setor público para 35,1% do PIB,

garantindo a solidez das contas públicas no longo prazo e condições

cada vez mais favoráveis de financiamento para o País. (Brasil,

Relatório Anual da Dívida Pública Federal, 2012, 62 p.)

Além do reconhecimento do próprio governo, essa avaliação favorável

também ecoa nas conclusões de outros autores.

Além dessa proteção que foi criada com a estabilização da volatilidade

cambial e melhora do perfil da dívida, o país vive uma trajetória de

estabilidade inflacionária e taxas de juros menores. A conjugação dos

fatores: redução da relação DLSP/PIB, taxa de juros menores,

crescimento da economia, geração de superávits primários, traz

reflexos positivos para toda a economia. (ARAÚJO 2009, p. 50),

e

Dessa forma, ao mesmo tempo em que a consolidação da estabilidade

macroeconômica permitiu o aperfeiçoamento da estrutura das dívidas

públicas - interna e externa, tal aperfeiçoamento deu uma importante

contribuição para a consolidação da própria estabilidade econômica,

permitindo um ciclo virtuoso entre política macroeconômica estável e

gestão da dívida eficiente.” (PEDRAS 2009, p. 57)

Page 28: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

28

Vejamos agora como a redução do serviço da dívida se refletiu na

composição da despesa total. O gráfico 7 se refere ao percentual dos encargos

da dívida sobre o total das despesas.

Gráfico 7 – Percentual do serviço da dívida

Fonte dos Dados: Serviço da Dívida (soma de GND 2 e 6); (Boletim Geral da União 2000-2012).

Gráfico elaborado pelo autor.

O gráfico 7 trás a redução da parcela de despesa pública a serviço da

dívida. Aqui, entende-se como a soma das despesas dos GND 2 e 6 (Juros e

Encargos da Dívida mais Amortização da Dívida). A leitura gráfica revela o

predomínio de uma redução gradual e permanente do serviço da dívida em

relação ao total das despesas públicas. É mais um indicador que reforça os

efeitos positivos da gestão da dívida. Pode-se perceber que o serviço da dívida

reduz em média 2% ao ano.

Sabe-se que a composição de gastos do governo reflete o padrão

ideológico em termos de intervenção do Estado na economia. No entanto, nos

últimos anos, a dívida pública tem sido tratada como uma variável endógena

(dada), resultado da conjuntura interna e externa. A taxa de juros tem sido

muito utilizada como âncora da política monetária. É sabido também que, a

taxas mais baixas, é mais fácil para o governo renegociar as condições de

rolagem da dívida, enquanto, a taxas mais altas, é mais difícil esse processo. É

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

62%

54%

53%

60%

56%

58%

55%

50%

44%

45%

42%

42%

41%

38%

46%

47%

40%

44%

42%

45%

50%

56%

55%

58%

58%

59%

Percentual do serviço da dívida

Serviço da Dívida Demais Despesas

Page 29: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

29

oportuno observar como a redução da parcela da despesa a serviço da dívida

reflete a tendência de queda da taxa de juros básica (SELIC) a partir de 2004.

Retomando o foco inicial dessa pesquisa, pode-se perguntar o que

representou para o governo federal, em termos de composição de gastos, essa

redução do percentual da despesa a serviço da dívida. Veremos no próximo

capítulo desse trabalho como o governo se valeu dessa redução. E obviamente

que essa criou uma margem para expansão de outros gastos, como custeio e

investimento. A essa altura, pode-se perguntar: terá o governo optado por uma

composição entre custeio e investimento de forma otimizada? .

Page 30: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

30

4. A composição de gastos entre custeio e investimento

Já comentamos aqui sobre os efeitos econômicos da composição do

dispêndio entre custeio e investimento. É sabido também que a atual gestão da

dívida pública do governo federal tem conseguido, ao longo dos últimos anos,

reduzir a parcela da despesa a serviço da dívida, o que tem gerado uma

margem de oportunidade de expansão para novas despesas. Agora,

analisaremos como o governo federal se valeu dessa oportunidade. Como a

APF alocou seus gastos segundo a classificação por GND, e, por conseguinte,

o efeito econômico da nova composição nas taxas de crescimento.

4.1 - A composição por GND

Em primeiro lugar, faz aqui necessário recapitular aqui a classificação da

despesa pública por Grupo Natureza de Despesa – metodologia oficial

instituída pelo Manual Técnico de Orçamento 2013 da Secretaria do Tesouro

Nacional. São seis GND: a) Pessoal e Encargos Sociais; b) Juros e Encargos

da Dívida; c) Outras Despesas Correntes; d) Investimentos; e) Inversões

financeiras; f) Amortização da Dívida. E, para o propósito dessa pesquisa,

adotaremos a seguinte simplificação; será considerado custeio somente as

despesas do GND 3; e investimento, as do GND 4. Essa classificação nos vai

ser útil porque ela agrega as despesas com as mesmas características quanto

ao objetivo de gasto. E sabe-se também que, segundo essa classificação, os

tipos de despesas produzem efeitos econômicos distintos quanto à taxa de

crescimento.

Para começar, analisaremos o gráfico 8 que trás a evolução do estoque

da despesa pública entre 2000 e 2012.

Antes disso, é relevante observar quanto ao conceito contábil aqui

considerado como despesa pública. Nesse momento, é relevante aqui destacar

a dificuldade que é encontrar os dados referentes à execução orçamentária da

administração pública federal. Não há um site, ou fonte qualquer que consolide

os dados da execução orçamentária ano a ano. A solução aqui encontrada foi

Page 31: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

31

pesquisar, em cada exercício, a parte, o Boletim Geral da União para então

tabular os dados em um só gráfico – um esforço que poderia ser evitado se

houvesse uma fonte simples e única para a apresentação dos dados da

execução orçamentária de cada ano.

Gráfico 8 – Evolução da despesa executada total (R$ milhões).

Fonte dos Dados: Execução da despesa (Boletim Geral da União 2000-2012).

Gráfico elaborado pelo autor.

Em termos nominais, tem-se entre o período de 2000 a 2012 um

incremento anual médio na ordem de R$ 101.951 milhões; equivalente a um

crescimento anual médio de taxa de 10%. A despesa executada total registrou

no ano de 2000 o valor de R$ 603.434 milhões, chegando à R$ 1.839.797

milhões em 2012. Têm-se aqui as variáveis (estoque e fluxo) das despesas

executadas total da APF ao longo dos anos.

Vale ressaltar que, em termos nominais, assim como a dívida líquida

pública, o estoque foi triplicado, no entanto, tem-se um crescimento real de

apenas de 39%, no mesmo período, se considerado a correção monetária

(IPCA). Essa taxa de crescimento real ao longo dos 12 anos, se dividida pelo

número de anos, dá uma média de 3,25% ao ano. Podendo dessa forma se

afirmar que, em termos reais, a despesas executada total da APF cresceu em

torno de 3% ao ano.

É relevante notar a abrupta semelhança entre os fluxos de variações

entre a Dívida Líquida Pública (consolidado), e a Despesa Executada Total no

616.

380

603.

434

674.

925

876.

458

908.

149

1.10

6.79

1

1.18

3.71

2

1.22

3.79

8

1.25

8.84

2

1.41

6.37

1

1.50

4.95

1

1.67

6.83

0

1.83

9.79

7

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Evolução da despesa executada total(em R$ milhões)

Despesa Executada Total(em R$ milhões)

Page 32: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

32

período analisado. A correlação entre as duas variáveis foi calculada (0,96 -

fortíssima), e revela aqui uma estrita relação entre as duas variáveis, o que

reforça a metodologia aqui escolhida – a de iniciar o estudo da variação da

despesa pública pela análise da parcela reservada ao serviço da dívida pública.

Conforme foi proferido em quase todo o capítulo que antecede, há portanto um

fato que será o ponto de partida deste capítulo – a margem de redução do

percentual da dívida.

Analisaremos agora a composição da despesa propriamente dita. O

gráfico 9 abaixo trás a composição percentual da execução da despesa total

entre 2000 a 2012, por GND.

Gráfico 9 – Composição de gasto por grupo de natureza da despesa.

Fonte dos Dados: Execução da despesa (Boletim Geral da União dos anos 2000-2012).

Gráfico elaborado pelo autor.

Eis que se pode notar, numa simples leitura visual, a principal mudança

quanto a quanto à composição de gastos por GND – uma substituição de

encargos da dívida por gasto com o custeio. No ano de 2000, os encargos

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

9% 11% 11% 9% 10% 8% 10% 10% 11% 12% 12% 12% 11%

6%9% 8%

8% 8% 8%13% 11% 9% 9% 8% 8% 7%

25%

29% 31%27%

30% 30%

31% 34% 38% 37% 40% 41% 41%2%

2% 2%

1%1% 2%

2%3% 3% 3% 4% 3% 4%

2%

3% 3%

3%2% 2%

2%3%

3% 2%2% 2% 3%

56%46% 45%

53%48% 50%

42% 39% 36% 37% 34% 34% 34%

Composição de gasto por grupo de natureza da despesa

Pessoal e Encargos Sociais Juros e Encargos da Dívida Outras Despesas Correntes

Investimentos Inversões financeiras Amortização da Dívida

Page 33: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

33

respondiam por mais da metade da despesa total (56%), chegando a apenas

34% em 2012.

Em outra leitura, nota-se que, com exceção do GND 6 ( Amortização da

Dívida), todos os demais GND tiveram aumento de suas participações

percentuais. O que explica essa expansão certamente foi a queda da parcela

reservada a dívida. Em seguida, faremos a leitura específica e pormenorizada

de cada um dos Grupos de Natureza da Despesa separadamente.

Comecemos pelo GND 1 (Pessoal e Encargos Sociais). Nota-se que as

despesas com esse grupo se mantiveram praticamente estáveis, absolvendo

pouca margem deixada pelos encargos da dívida. No ano de 2000, esta

parcela respondia por 9%, enquanto, o ano de 2012 foi registrado 11% (uma

expansão de 2% do total das despesas). Nesse grupo são registradas as

despesas com pessoal ativo, inativa e pensionista vinculados à Administração

Pública Federal.

O GND 2 (Juros e Encargos da Dívida), apesar de parece estável, se

levar em consideração os registro do ano de 2000 e 2012, 6% e 7%,

respectivamente, registrou uma trajetória mais instável ao longo do período. A

despesa com Juros e Encargos da Dívida chegou a registrar até 13% da

despesa total. Nesse Grupo, são registradas as despesas com pagamento de

juros da dívida (interna e externa), bem como da dívida pública mobiliária.

O Grupo 3 (Outras Despesas Correntes) registrou a maior elevação

percentual dentre todos os Grupos de Natureza da Despesa. Iremos discorrer

sobre essa abrupta elevação mais adiante. Lembrando que esse GND

responde por maior parte das despesas com custeio da APF (objeto central

dessa pesquisa). Aqui, é registrada grande parte das despesas provenientes

das Políticas Públicas oferecidas pelo governo federal. Iremos explorar esse

grupo mais adiante.

O Grupo 4 (Investimento) também é objeto central da pesquisa, portanto,

iremos analisar mais a fundo adiante.

Page 34: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

34

O Grupo 5 (Inversões Financeiras) dobrou seu percentual, de 2% para

4% da despesa total; um aumento relativamente alto. Todavia, não será esse o

foco desse estudo, logo, não devemos reservar maior atenção do que a

simples leitura conjuntural do mesmo. É importante lembrar que a Inversão

Financeira não exerce um papel mais específico do que o gasto público em

geral, apesar da sua classificação, quanto a sua categoria econômica, ser ela

uma Despesa de Capital, pois essa modalidade de despesa não implica em

variação no estoque de capital, nem acréscimo de patrimônio da APF.

Por último, o Grupo 6 (Amortização da Dívida), já bastante explorado

nessa pesquisa, foi o único Grupo que registrou redução percentual. Redução

esta que gerou margem de expansão para uma nova composição de gastos.

4.2 – Análise dos gastos com custeio

Dando inicio a próxima etapa, analisaremos agora como o governo

federal aproveitou a economicidade gerada a partir da nova gestão da dívida

pública. Antes de qualquer coisa, é oportuno aqui registrar os méritos da

política fiscal, pelos esforços empenhados a partir da instituição da Lei de

Responsabilidade Fiscal que, através do estabelecimento de metas de

resultados primários, foi capaz inverter a tendência de elevação para redução

gradual da necessidade de financiamento do setor público. Vimos aqui como

essa inversão permitiu o governo expandir gastos tanto em custeio como em

investimento.

Evoquemos aqui o objeto central dessa pesquisa que é o efeito da

concorrência entre despesa de custeio e investimento da APF, na taxa de

crescimento. A medida que analisarmos a composição dos Grupos de Natureza

da Despesa 3 e 4 (Outras Despesas Corrente e Investimento), podemos

responder a questão central da pesquisa, identificando qual foi a tendência da

taxa de crescimento ao longo do período escolhido pela pesquisa. Agora,

analisaremos o Grupo 3 (Outras Despesas Correntes) com mais afinco.

Antes de tudo, vamos destacar o fato de que foi este o grupo que

consumiu a maior parte da margem gerada pela política fiscal. Como se pode

Page 35: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

35

ver no gráfico 9, a parcela da dívida reservada para às despesa do Grupo 3

(Outras Despesas Corrente) quase que dobrou entre 2000 e 2012. No ano de

2000, essa parcela respondia por 25%; de lá pra cá, nota-se que esta série

vem progredindo insistentemente. No ano de 2012, esta parcela da despesa já

respondia por 41%.

Admitindo a hipótese de que esta série pode está próxima ao

estacionamento, ainda assim, é alarmante a tendência apontada pela série

histórica dessa elevação sucessiva. O risco aqui se trata do fato de que, se os

gastos com custeio (consumo do governo) continuar a crescer a esse ritmo,

terá o governo capacidade de realizar os investimentos suficientes para manter

a taxa média de crescimento dos últimos anos de 3%.

Para responder esse tipo de pergunta, essa pesquisa trouxe a linha de

tendência das despesas do GND 3 (custeio) segundo o modelo de regressão

linear simples. A projeção importa por que, se persistir essa expansão, teremos

que admitir, no futuro, a hipótese de que houve a substituição de investimento.

Gráfico 10 – Linha de tendência do percentual do GND 3.

Fonte dos Dados: Execução da despesa (Boletim Geral da União dos anos 2000-2012).

Gráfico elaborado pelo autor.

O gráfico acima projeta segundo o MRLS (Modelo de Regressão Linear

Simples) o percentual das despesas do Grupo 3 (Outras Despesas Correntes)

-

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60 Linha de tendência do percentual do GND 3

Regressão Linear Simples % Outras Despesas Correntes

Page 36: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

36

para até o ano de 2020, e revela aquilo que pode ser a maior contribuição

desse estudo – um reflexão quanto ao risco da expansão excessiva do custeio

da maquina pública ao preço dos investimentos necessários para manutenção

de um ciclo sustentável de crescimento da economia do país. Segundo o

modelo, no ano de 2020, a parcela do GND 3 pode passar da metade da

despesa total da administração, o que seria bastante preocupante.

No GND 3, são registradas as despesas orçamentárias com aquisição

de material de consumo, pagamento de diárias, contribuições, subvenções,

auxílio-alimentação, auxílio-transporte, além de outras despesas da categoria

econômica "Despesas Correntes" não classificáveis nos demais grupos de

natureza de despesa. Importante saber que nele são registradas as despesas

de Políticas Públicas de alta importância e essencialidade, como o “Bolsa

Família” e gastos com educação, por exemplo. (MENDES; 2011) destaca:

Mostrou-se que, embora possua valor bastante elevado (R$ 594

bilhões), as outras despesas correntes são bastante rígidas, tanto

em função da legislação, que estabelece um alto valor de gastos

obrigatórios, quanto pela essencialidade e importância política

de despesas incluídas nesse grupo, como o Programa Bolsa

Família e os gastos com educação. (MENDES; 2011)

Segundo (MENDES; 2011), o detalhamento das Outras Despesas

Correntes revela que este grupo se constitui em boa parte por “despesas

rígidas por obrigações legais”, o que certamente dificulta a discricionariedade

do governo quanto ao poder de decidir elevar ou reduzir essas despesas.

(MENDES; 2011) ainda decompôs em quatro itens o que ele chamou de

despesas rígidas por obrigações legais. O primeiro item refere-se à distribuição

obrigatória de receitas, que são os Fundos de Participação dos Estados e dos

Municípios, além do Fundo Constitucional do DF, etc.. O segundo item refere-

se à função Saúde. (MENDES; 2011) destaca: “De acordo com a Emenda

Constitucional nº 29, de 2000, o Governo Federal é obrigado a gastar com

saúde o valor efetivamente gasto no exercício anterior acrescido da variação

nominal do PIB.”. O terceiro grupo refere-se a outras despesas correntes

associadas aos gastos com pessoal. São todas essas despesas decorrem de

Page 37: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

37

obrigações legais da União na condição de empregadora de terceiros; aqui

também se registram as despesas de Programas Sociais como o “Bolsa

Família”. O quarto item seriam as despesas fruto das sentenças judiciais que

também consiste numa despesa rígida, a menos que o governo federal

desobedeça ao Judiciário, o que também não é recomendável.

No dia 13 de outubro de 2013, o Jornal Folha de São Paulo trouxe uma

reportagem a cerca da elevação dos gastos com proteção social. Segundo

(PATU; KANNO; 2013), “O Brasil conta com o maior aparato de proteção social

do mundo emergente e tem conseguido reduzir seus índices de pobreza e

desigualdade, mas isso não significa que todo gasto público em previdência,

assistência e amparo ao trabalhador seja virtuoso por definição”. O cunho

desse periódico reporta a elevação de gastos com proteção social nos últimos

anos. Este autor destaca três estatísticas relevantes para ajudar a construir

uma percepção do ritmo dessa elevação. A primeira, os pagamentos do INSS

com pensionistas, e aqui se chama a atenção para o ritmo de crescimento dos

gastos, em média, 12,5% ao ano. Se considerarmos a média do crescimento

do PIB do mesmo período que foi de 3%, certamente, o orçamento federal terá

problemas para conciliar a oferta de tais políticas públicas com manutenção da

política de investimento do governo federal.

Tabela 4 – Pagamento do INSS a pensionistas (em R$ bilhões).

ANO 2008 2009 2010 2011 2012 R$ Bilhões 42,6 48,8 55,5 60,3 68,3

Fonte dos Dados: Tabela elaborada pelo autor da reportagem

Um dado relevante dessa estatística foi destacado pelo autor. É o fato

de que “somadas as despesas da previdência dos servidores públicos, o gasto

com pensão no Brasil chega a 3% do PIB, o triplo da média internacional.”

(PATU; KANNO; 2013).

Outro segmento de gastos sociais que registrou um crescimento

bastante elevado, a um ritmo maior que o do PIB; foi o gasto com seguro-

desemprego que, contrariando a lógica linear, cresceu enquanto a taxa de

desemprego caiu.

Page 38: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

38

Tabela 5 – Gasto com seguro desemprego (em R$ bilhões).

ANO 2008 2009 2010 2011 2012 R$ Bilhões 14,7 19,6 20,4 23,8 27,6

Fonte dos Dados: Tabela elaborada pelo autor da reportagem

Entre 2008 a 2012, a taxa de desemprego caiu de 6,8% para 4,6% nas

principais regiões metropolitanas (PATU; KANNO; 2013). Nesse período, esse

segmento de gasto cresceu em média 17,5% ao ano contra uma média de

crescimento do PIB de 3,2%. Nesse ritmo, seguramente o sistema de

seguridade social enfrentará problemas no balanceamento das contas futuras.

Em geral, tem sido uma característica marcante das finanças públicas

brasileiras nesse início de século a grande atuação governamental na

economia, sobretudo nas atividades sociais básicas, como pagamento da

previdência e encargos sociais em geral. Esta elevação explica em boa parte o

crescimento das despesas de custeio da APF.

Portanto, considerando essa projeção de crescimento das Outras

Despesas Correntes; somada ao grau de rigidez dos itens que compõem este

grupo de natureza da despesa, alertado aqui por (MENDES; 2011), pelo

menos, a curto prazo, entendemos que será um grande desafio para a APF

equacionar todas as demandas decorrente das Funções do Governo para os

próximos anos, Todavia, se faz necessário um planejamento estratégico com

olhos para o médio e longo prazo, capaz de responder a todas essas questões.

Alertamos aqui aos riscos do “jogo democrático” no qual os responsáveis pelas

políticas econômicas respondem de acordo com as “vantagens eleitorais”, e

somente por elas. (Nascimento; 2007) faz referencia a teoria do ciclo político de

negócio de (DORNBUSCH; 1991) que prediz que “a trajetória macroeconômica

espelha o cronograma do ciclo eleitoral”.

4.3 – Análise dos gastos com investimento

Com o devido registro da ascensão das despesas corrente, passamos

agora para o próximo passo desse estudo, que se refere ao fluxo do GND 4,

que são as despesa de investimento. Antes de tudo, importa aqui destacar que,

Page 39: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

39

em função da inexistência, na metodologia de registro oficial do governo, de

qualquer distinção entre os tipos de investimento, será aqui considerado o

mesmo efeito econômico para qualquer despesa realizada nesse Grupo de

Natureza da Despesa. No entanto, reconhecemos que nem toda despesa

realizada nesse grupo, possui o mesmo efeito econômico quanto a propriedade

da expansão da capacidade produtiva. O investimento tradicional, aquele que

não se confundi com os gatos públicos em geral, pela propriedade de expandir

a capacidade produtiva; este tipo de despesa não somente é um componente

da demanda agregada, mas também um incremento do estoque de capital – é

o conceito de “riqueza nova”, segundo (KALECKI; 1983). Sabemos que o efeito

econômico de uma despesa para ampliação de um aeroporto internacional

contribui muito mais para a expansão da capacidade produtiva da economia do

que a aquisição de uma impressora nova para um escritório de um órgão.

Diante dessa limitação, Porem, o grupo de natureza de despesa (investimento)

não faz essa distinção. Portanto, o autor dessa pesquisa não fará distinção os

elementos de despesa do GND 4.

Gráfico 11 – Despesa Executada GND 4 (Investimento).

Fonte dos Dados: Execução da despesa (Boletim Geral da União dos anos 2000-2012).

Gráfico elaborado pelo autor.

O investimento médio dos últimos três exercícios do período escolhido

para esta pesquisa (2010-2012), em valores nominais, foi de R$ 56.154

milhões. Esse valor corresponde, em média, a 3,4% das despesas totais dos

últimos três anos do intervalo da pesquisa. Nota-se que o ano de 2003 foi o

exercício que registrou o menor valor gasto com este GND; apenas R$ 6,4

10.0

99

14.5

81

10.1

26

6.45

2

10.8

51

17.3

23

19.6

07 34.0

27

36.2

11

45.8

49

53.3

64

48.4

34 66.6

63

0

20.000

40.000

60.000

80.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Despesa Executada como GND 4 - Investimento (em milhões)

Investimentos

Page 40: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

40

bilhões; equivalente a apenas 0,7% do total das despesas da APF. No ano de

2012, foi gasto nesse GND o valor de R$ 66.663 milhões, equivalente a 3,62%.

Esta margem de despesa com investimento remete a velha discussão sobre o

papel do estado na economia. Acredita-se que o Investimento é o componente

que caracteriza melhor o modelo de Estado quanto ao seu papel na economia.

É sabido que, a partir dos anos 1980, o estado brasileiro passou por grandes

transformações nesse sentido. Não podemos deixar de citar aqui o processo de

privatização de algumas empresas públicas, mas acima tudo, a experiência da

transição de modelo de desenvolvimento pela qual passou o Estado brasileiro

nos últimos trinta anos. (REIS; 2008) explica os efeitos do investimento público

no desenvolvimento econômico, com destaque a transição de modelo da

experiência brasileira. Em uma das conclusões desse trabalho, a autora

conclui:

Nos anos 1980 no Brasil, a grande ruptura no padrão do

crescimento deu-se em paralelo com a transformação do papel do

Estado. O regime macroeconômico fundamentado no receituário

neoliberal progressivamente eliminou os mecanismos de

intervenção na economia e diminuiu o investimento público.

(REIS; 2008)

A autora descreve o processo de transição de modelo de

desenvolvimento com destaque a transformação do papel do Estado brasileiro.

O processo de privatização explica em parte o declínio da participação do

investimento das empresas estatais. A eficiência das ações públicas, sobretudo

como intervenção direta no domínio da produção, passou a enfrentar um

questionamento sem precedentes. E sob o pressuposto da complementaridade

entre investimento público e privado, a autora conclui:

De 1990 a 2006, com as privatizações houve grande declínio da

participação do investimento das empresas estatais em relação ao

PIB. E os investimentos da administração pública também

decresceram. A deterioração dos investimentos públicos,

notadamente em infraestrutura, redundou em menor

competitividade e dinamismo do setor produtivo nacional. Diante

Page 41: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

41

da reduzida capacidade de investir, a discussão sobre a qualidade

do investimento público e a tomada de decisão de alocação

passaram a ser ainda mais cruciais, porém estes aspectos ainda não

recebem a devida prioridade. Como conseqüência desses eventos e

do regime macroeconômico, houve declínio dos investimentos

privados, reespecialização produtiva em setores menos intensivos

em capital, o que implicou uma maior vulnerabilidade da

economia, com deterioração crescente do balanço de pagamentos,

do setor público e da indústria, a qual ficou atrasada

tecnologicamente. (REIS; 2008)

Nesse estudo, há de se reconhecer a relevância do investimento público

enquanto elemento indutor para o desenvolvimento econômico, bem como a

importância da experiência desenvolvimentista, sob a perspectiva keynesiana e

estruturalista, pela qual passou o Estado brasileiro na década de 1970, todavia,

não se pode aqui deixar de observar a sustentabilidade de tal modelo. Foram

muitos os resultados positivos dessa experiência, como exemplo, um patamar

de investimento público chegando a 10% do PIB, no entanto, sabe-se que, nos

anos subseqüentes, assistiu-se ao agravamento da hiperinflação bem como o

escalonamento da dívida pública - um quadro de desequilíbrio crônico das

finanças públicas. Portanto, a APF há de levar em consideração, antes de tudo,

a eficiência da composição dos gastos públicos, bem como a sustentabilidade

do modelo de gestão. O conceito de sustentabilidade do modelo de gestão da

APF remete a idéia de Equilíbrio Geral, e não somente parcial, bem como a

intertemporalidade das contas nacionais.

O gráfico 12 abaixo trás a participação percentual do GDN Investimento

na composição dos gastos da APF. A leitura gráfica releva uma participação

muito tímida dos investimentos. No ano de 2000, por exemplo, esse GND

correspondia a 1,64% do total das despesas, no entanto, foi em 2003 que se

registrou o pior resultado em termos de créditos orçamentários reservados para

investimos que chegou a quase zerar naquela ocasião, correspondendo a

somente 0,74% do total da despesa realizada.

Gráfico 12 – Despesa Executada GND 4 (%).

Page 42: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

42

Fonte dos Dados: Execução da despesa (Boletim Geral da União dos anos 2000-2012).

Gráfico elaborado pelo autor.

Aquele momento foi marcado pela transição entre governos e foi visto

com muita desconfiança por parte do mercado financeiro internacional; a

dependência brasileira por capitais estrangeiros para fechar as contas era

grande e, portanto, foi obrigado a elevar as taxas de juros a patamares

elevados, o que elevou as despesas da administração com gastos a serviço da

dívida pública. Tal conjuntura acabou por comprometer ainda mais a

capacidade de investimento do governo. Os anos seguintes demonstram uma

tendência de retomada dos investimentos públicos, ainda que em níveis

insuficientes, diga-se de passagem. A composição de gastos do ano de 2012

registrou uma margem de 3,62% para o GND 4. A média de todo período foi de

2,28%.

Um fato curioso a ser destacado é a correlação forte entre as despesas

com investimento da APF com a taxa de juros. Com a crise de 2009, os

mercados emergentes passaram a ser uma atraente opção para investidores

internacionais. O Brasil certamente foi um dos países beneficiados em termos

de fluxo de capital. A tendência de corrida para mercados emergentes permitiu

inclusive uma queda da taxa de juros nesses mercados. No Brasil, se

94%

95%

96%

97%

98%

99%

100%

101%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

1,64

%

2,42

% 1,50

%

0,74

%

1,19

%

1,57

%

1,66

%

2,78

%

2,88

%

3,24

%

3,55

%

2,89

%

3,62

%

Percentual da Participação do GND 4 (%)

Demais GND GND - Investimento

Page 43: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

43

experimento algo impensável até então – uma taxa de juros de um dígito (8%

ao ano). Isso aconteceu no ano de 2008, quanto um ano antes, a mesma taxa

registrava 13,44% ao ano. Com uma correlação inversa negativa, aqui

calculada em (-0,93), o investimento subia à medida que se confirma a

tendência de queda das taxa de juros. Outra explicação cabível é o fato de que

a queda da taxa de juros reduzia as despesas a serviço da dívida pública, o

que criava margem de expansão para os demais GND.

Como já vimos em capítulos anteriores, essa redução do serviço da

dívida tem fortíssima correlação com a expansão das despesas de custeio da

APF. Vimos também que esta expansão está fortemente ligada à expansão da

oferta de políticas públicas, principalmente, aquelas voltadas às políticas de

assistência social. Essa expansão caracteriza o que foi o modelo de gestão da

Administração Pública Federal dos últimos 12 anos.

Uma das questões que se pode levantar quanto a essa situação é a de

que, com a elevação das despesas de custeio, aqui, entende-se por Outras

Despesas Corrente (GND 3), terá tido o investimento público crescido o

suficiente ao longo desses 12 anos? Teria o modelo de gestão, baseado na

inclusão social, garantido uma composição de gastos de forma equilibrada,

capaz de garantir a realização de despesa em investimento, mínima e

suficiente, para induzir o investimento privado, para que, juntos, assegurassem

a infraestrutura básica necessária para garantir a manutenção do ciclo de

crescimento da economia brasileira? Resumindo, teria o investimento público

exercido seu papel ao longo desses 12 anos?

A resposta dessa pergunta certamente reserva muita discussão. No

entanto, algumas estatísticas, de fonte considerável, podem nos ajudar a

responder tais questionamentos. Mesmo com toda dificuldade de se encontrar

dados e estatísticas disponíveis a cerca de investimento, seja público, privado,

ou agregado, esta pesquisa destaca abaixo algumas fontes encontradas

através de anexos e gráficos.

A primeira a ser analisada aqui será a do autor (ALMEIDA JR; 2013) que

trás a evolução da taxa de investimento trimestral em percentual do PIB entre o

Page 44: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

44

primeiro semestre de 1994 ao primeiro trimestre de 2013. Através do Anexo A,

este estudo importa um gráfico do autor que destaca como fonte o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Uma leitura gráfica do anexo citado revela a priori dois ciclos. O primeiro

constituído por uma série predominantemente decrescente, entre o período de

1994 a 2003, e, um segundo ciclo constituído por uma série com predomínio

crescente, entre o período de 2003 a 2012. Importante observar que a

retomada da escalada não foi suficiente para repor as taxas de investimento

iniciais do período, acima de 20%, em 1994.

Em relação ao mesmo período, (ALMEIDA JR; 2013) trás ainda a

comparação entre as taxas de investimento agregado entre países da America

Latina e Caribe no Anexo B. Segundo autor, a fonte dos dados é do Fundo

Monetário Internacional. (Anexo B – Taxa de Investimento no Brasil versus

média da América Latina e Caribe – 1994-2012 – % do PIB). Na leitura gráfica,

pode-se notar que em qualquer momento do período a taxa de investimento

agregado do Brasil não supera a média da America Latina e Caribe. Ainda no

Anexo B, com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), (ALMEIDA JR;

2013) acrescenta o ranking das taxas de investimento agregado dos países da

America Latina e Caribe, dados do ano 2012. Com uma média de 22,41%, a

América Latina e Caribe investe mais do que o Brasil. Mesmo os países mais

semelhantes em termo de grau de desenvolvimento, como o México, Argentina,

Venezuela, Chile, Uruguai, ainda assim, investem mais que o Brasil. Então, a

partir de agora, sabe-se que a taxa de investimento agregado do Brasil está

aquém da sua capacidade. E Para o objetivo deste estudo, importa fazer a

relação do investimento público como componente indutor do investimento

privado, de forma que juntos poderiam elevar a atual taxa de investimento

agregado.

Se considerar a relevância do gasto da APF e seu efeito multiplicador

keynesiano como componentes da demanda agregada; se considerar a baixa

taxa de investimento agregado nacional, e se considerar a complementaridade

entre investimento público e privado, tem-se como conclusão que o modelo de

gestão da APF exerce papel fundamental, enquanto agente econômico que

Page 45: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

45

determina boa parte dos gastos da economia, para o sucesso da política

econômica.

Portanto, segundo (ALMEIDA JR; 2013), em sua pesquisa, através dos dados

do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil encontra-se em 22º lugar num

ranking de trinta países da America Latina e Caribe. (Anexo C – Ranking de

taxa de investimento agregado em %PIB – America Latina e Caribe - ano

2012).

A teoria econômica reza que, em média, os países ditos desenvolvidos

possuem taxa de investimento menor do que de países em desenvolvimento.

Pelo fato de já possuírem uma quantidade de estoque de capital instalada,

desenvolvida; por já disporem de um parque industrial instalado e

desenvolvido, ao contrário dos países não desenvolvidos ou ainda em

desenvolvimento.

Dada essa lógica macroeconômica, pode-se dizer que o Brasil deveria

dispor de taxas de investimento maior que países desenvolvidos, uma vez que

os últimos já dispõem de bastante estoque de capital, no entanto, em relação à

taxa de investimento de países de outras regiões do mundo, a taxa de

investimento brasileira ainda deixa a desejar.

Dentre os gastos em investimento, destacam-se os gastos em

infraestrutura mais especificamente, aqueles direcionados ao aumento da

capacidade produtiva. (FRISHTAK; 2008), no artigo científico, trás uma

relevante pesquisa com dados de investimento em infraestrutura dos países

em desenvolvimento. Anexo D – Tabela de Investimento em Infraestrutura

(países em desenvolvimento).

Segundo (FRISHTAK; 2008), o Brasil possui a menor taxa de

investimento em infraestrutura dentre os países selecionados.

A subcomissão permanente para tratar dos temas estruturais e de longo

prazo da economia brasileira – CAEECON, em Sessão Legislativa Ordinária da

54ª Legislatura do Senado Federal, o convidado professor de economia da

UNB, Roberto Ellery, destacou dados do FMI que mostram que em 2010 a taxa

Page 46: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

46

de investimento no Brasil foi de 20,2% do PIB enquanto, no mesmo ano, a taxa

de investimento da China foi de 47,7% do PIB; e na Índia foi de 35,4% do PIB.

A taxa de investimento no Brasil também ficou abaixo da de outros países da

América Latina. Neste mesmo ano de 2010 a Argentina investiu 24,4% de seu

produto e o Chile investiu 23,5%, na Colômbia e no Peru as taxas de

investimento foram de 22,2% e 25,4% respectivamente enquanto o México

investiu 23,8%.

A série de dados de pesquisa sobre taxa de investimento aqui trazida

nos permite concluir que, considerando uma média, tanto dos países em

desenvolvimento, quanto os países da América Latina e Caribe, o Brasil tem

uma baixa taxa de investimento, seja em infraestrutura, seja em termos

agregados.

A baixa taxa de investimento, em especial em infraestrutura, ajuda a

explicar o ritmo baixo de crescimento da economia brasileira, com média de 3%

ao ano, mas, sobretudo o fenômeno da alta instabilidade da taxa de

crescimento entre o período estudado.

Gráfico 13 – Taxa de crescimento do PIB (%) (2000-2012).

Fonte dos Dados: Site do IPEA; IPEADATA.

Gráfico elaborado pelo autor.

Assim sendo, importa notar que a trajetória da taxa de crescimento entre

o período estudo sofreu uma instabilidade muito grande. O coeficiente de

variação, aqui calculado, da taxa de crescimento da economia brasileira do

período entre 2000 a 2012 é de 70%. É um coeficiente muito elevado que se

4,31%

1,31%

2,65%

1,15%

5,71%

3,15%3,96%

6,10%5,17%

-0,33%

7,54%

2,73%

0,90%

3,34%

-2,00%

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Taxa de Crescimento do PIB (%) (2000-2012)

Taxa de Crescimento do PIB (%)

Page 47: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

47

traduz numa flutuação muito grande. Se um produto flutua muito, isso se traduz

em risco para a classe de investidores. Sabe-se que o investimento privado

responde por maior parte do investimento realizado, no entanto, o investimento

público assume aqueles cujo risco são maiores. Por tanto, essa situação de

grandes flutuações do produto só reforçam a importância do investimento

público na economia.

A primeira vista, não pode se quer notar uma tendência. Essa

instabilidade reflete a sensibilidade da economia a fatores exógenos como

variação da taxa de juros doméstica e internacional, liquidez internacional,

variação de câmbio, etc. Mas, sobretudo tem refletido a insuficiência da política

de investimento do governo federal. O Gráfico 14 abaixo retrata a tendência do

crescimento da economia brasileira ao longo dos anos do período aqui

estudado.

Gráfico 14 – Linha de tendência da taxa de crescimento do PIB (%).

Fonte dos Dados: as taxas de crescimento foram retiradas do site do IPEA (IPEADATA), o Autor utilizou o Modelo de Regressão Simples para chegar a linha de tendência. Gráfico elaborado pelo autor.

Uma leitura primária da linha de tendência da série histórica da taxa de

crescimento do PIB entre o período aponta um estacionamento do ritmo de

crescimento do PIB em aproximadamente 3% ao ano. Considerarmos a taxa de

crescimento vegetativo brasileiro do último censo (2010), segundo o IBGE, de

1,05%, e, se mantiver o ritmo de crescimento do PIB segundo a linha de

tendência aqui calculada, a média de 3% ao ano, há de se esperar uma

melhora significativa na renda per capta a média e longo prazo. Agora, se

4,31%

1,31%

2,65%

1,15%

5,71%

3,15%3,96%

6,10%5,17%

-0,33%

7,54%

2,73%

0,90%

-2,00%

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

0 2 4 6 8 10 12 14

Linha de tendência da taxa de crescimento do PIB

Taxa de Crescimento do PIB (%) Linear (Taxa de Crescimento do PIB (%))

Page 48: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

48

analisarmos em termos comparativos ao resto do mundo, por exemplo, em

relação aos demais países emergentes, ou mesmo os países da America

Latina, a tendência é a de que, com esse ritmo de crescimento do PIB

brasileiro, o Brasil deve obter uma evolução gradual da sua renda per capta,

sobretudo nas camadas sociais de renda mais baixas, todavia deverá perder

posições em relação ao resto do mundo.

Portanto, uma das conclusões centrais desse capítulo é o baixo

investimento agregado na qual registra a economia brasileira, sobretudo, a não

iniciativa por parte do poder público de elevar a taxa de investimento pública

enquanto componente indutor do investimento privado. Tal decisão implicou em

uma trajetória de instabilidade do crescimento do produto, sobretudo, a ritmo

baixo se comparado a países com mesmo grau de desenvolvimento.

Page 49: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

49

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A composição de gasto do governo entre custeio e investimento,

sobretudo da APF, tem impacto significativo na determinação do investimento

público, que por sua vez, compõe o investimento agregado da economia, e, por

fim, tem impacto significativo na taxa de crescimento da economia, sendo

necessário um planejamento capaz de conciliar a oferta de serviço e

investimento público com os objetivos da política econômica.

Fazendo uma avaliação da composição de gastos da APF, tem-se a

parcela a serviço da dívida pública, por sua grandeza, como a variável

explicativa da composição de gastos do governo federal, apesar da sua

persistente redução nos últimos anos. A composição dos gastos da APF

registrou nos últimos 12 anos uma redução da participação percentual do

serviço da dívida, que possibilitou a expansão dos demais componentes como

as despesas correntes e investimento.

A análise dessa expansão sugere uma sobrevalorização das despesas

correntes sobre investimento, que se traduz através do aumento da oferta de

serviços públicos, sobretudo os gastos com assistência social básica como os

gastos com a previdência e programas como o “Bolsa Família”. A preocupação

com a sociedade, sobretudo com as camadas mais carentes, é legítima, no

entanto, essa expansão continua a crescer de forma persistente.

Por outro lado, quanto à expansão da parcela do gasto com

investimento, este se releva insuficiente - mesmo se comparado a países

semelhantes. É um fato, estamos diante de um passivo de investimento que

vem se acumulando a mais de uma década. Ao comparar a taxa de

investimento agregado brasileira à de outros países que compõe o bloco dos

países em desenvolvimento, deixamos a desejar. Até mesmo se comparado à

países da America Latina e Caribe.

O efeito da baixa taxa de investimento agregado, sobretudo do

investimento público, se refletiu no crescimento do produto nos últimos anos.

Page 50: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

50

Com uma média abaixo da média dos BRIC e da América Latina, o

crescimento da economia brasileira também se mostra muito instável, o que

nos faz concluir um mercado interno ainda fraco, insuficiente para neutralizar

os efeitos das flutuações conjunturais internacionais.

Outra característica percebida na análise da trajetória de crescimento do

produto da economia brasileira foi instabilidade na qual se traduz nas

flutuações das taxas de crescimento ao longo do período estudado. Essas

flutuações revela um mercado interno insuficiente para neutralizar as flutuações

da conjuntura internacional.

O objetivo do estudo, que é a análise dos efeitos da variação da

composição de gastos entre custeio e investimento, revela o presente momento

como chave para conciliar os objetivos da política econômica com os objetivos

da política social. O planejamento continua a ser o melhor caminho para essa

conciliação.

A mera expansão das despesas correntes não pode ser confundida

como a melhor diretriz para atender ao papel da assistência social. É

necessária uma seleção entre os programas sociais que atendam

minimamente um requisito de eficiência. O papel da gestão também será de

suma importância quando se trata da condução das políticas publicas.

Quanto à decisão por gastos com investimento da APF, espera-se além

de um incremento quantitativo, em termos percentuais, quanto à composição

de gastos do governo federal, para os próximos anos, como também um ganho

qualitativo dos projetos, bem como a melhoria da gestão dos projetos.

A contribuição maior desse estudo reside na atenção do governo federal,

enquanto agente administrador, em observar a intertemporalidade das relações

no processo de tomada de decisão entre o nível de consumo desejado no

presente e no futuro; observar a importância da dicotomia custeio-investimento

para manter um ritmo de crescimento como moeda amiga diante do desafio de

reduzir a desigualdade social a um padrão que respeita a cidadania e a

dignidade humana.

Page 51: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ORÇAMENTO PÚBLICO – ABOP

51

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

Anexo A – Taxa de investimento trimestral – % do PIB – 1o TRIM 1994 – 1o TRIM 2013

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Anexo B – Taxa de Investimento no Brasil versus média da América Latina e Caribe – 1994-2012 – % do PIB

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Anexo C – Ranking de taxa de investimento agregado em %PIB – America Latina e Caribe (ano 2012).

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Anexo D – Tabela de Investimento em Infraestrutura (países em desenvolvimento)