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INTRODUÇÃO OS Estados não constituem os únicos actores que detêm o domínio das relações internacionais, encontramos as organizações internacionais, as organizações não governamentais, as religiões, os poderes erráticos, os indivíduos, embora muitos actores não reconhecem estes como actores internacionais , não esquecendo um elemento fundamental na cena internacional que são as multinacionais que é o objecto do nosso estudo. Assim sendo, o fenómeno das Empresas Multinacionais não é novo, teve o seu início no século XIX, com o desenvolvimento e expansão do capitalismo, suscitando actualmente curiosidades e muitas controvércias. Como resultado deste fenómeno, muitas empresas europeias especialmente britânicas, alemãs, frasensas, holandesas e norte- americanas se implantaram em vários territórios para asseguar o controlo e aprovisionamento das matérias-primas para um melhor rendimento. Com a expansão do capitalismo, as multinacionais se encontram em diversos sectores de actividade dentre os quais, na área económica, social, cultural, etc. Este trabalho tem como objectivo geral esclarecer aos leitores, como as empresas multinacionais na qualidade de actores das relações internacionais instaladas em vário Estados têm estado a cooperar para o desenvolvimento económico e social, e como objectivo específico compreender as políticas levadas a cabo pelas mesmas e a participação directa em vários projectos sociais com vista a sua 1

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Page 1: AS EMPRSAS MULTINACIONAIS COMO ACTORES NA RI

INTRODUÇÃO

OS Estados não constituem os únicos actores que detêm o domínio das relações internacionais, encontramos as organizações internacionais, as organizações não governamentais, as religiões, os poderes erráticos, os indivíduos, embora muitos actores não reconhecem estes como actores internacionais , não esquecendo um elemento fundamental na cena internacional que são as multinacionais que é o objecto do nosso estudo.

Assim sendo, o fenómeno das Empresas Multinacionais não é novo, teve o seu início no século XIX, com o desenvolvimento e expansão do capitalismo, suscitando actualmente curiosidades e muitas controvércias. Como resultado deste fenómeno, muitas empresas europeias especialmente britânicas, alemãs, frasensas, holandesas e norte- americanas se implantaram em vários territórios para asseguar o controlo e aprovisionamento das matérias-primas para um melhor rendimento.

Com a expansão do capitalismo, as multinacionais se encontram em diversos sectores de actividade dentre os quais, na área económica, social, cultural, etc.

Este trabalho tem como objectivo geral esclarecer aos leitores, como as empresas multinacionais na qualidade de actores das relações internacionais instaladas em vário Estados têm estado a cooperar para o desenvolvimento económico e social, e como objectivo específico compreender as políticas levadas a cabo pelas mesmas e a participação directa em vários projectos sociais com vista a sua contribuição no desenvolvimento económico e social dos países.

O presente trabalho compreende uma introdução, dois capítulos com os seus respectivos subcapítulos e a conclusão, onde no primeiro capítulo faz-se uma abordagem geral sobre as multinacionais, incluindo o surgimento dos autores que com elas interagem.

O capítulo dois refere-se das multinacionais enquanto actores das relações internacionais, o poder que elas exercem no sistema internacional e a sua personalidade jurídica.

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CAPÍTULO I

CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE AS MULTINACIONAIS

Os estudos clássicos feitos na arena internacional durante um longo período de tempo, estavam unicamente inclinados no relacionamento entre países e por muito tempo, os Estados eram tidos como os principais e únicos actores das relações internacionais, que impulcionavam o sistema internacional.

Apesar dos Estados desenpenharem um papel de relevo nas relações internacionais, mais tarde surgiram actores não- estatais, como as organizações internacionais, organizações regionais, organizações não-governamentais e multinacionais.

No entanto, nas relações internacionais distinguem-se dois grandes tipos de actores: os Estados e os actores não estaduais. Os Estados tradicionalmente são vistos como os principais actores do sistemas internacional, mas apesar disso os actores não estaduais têm vindo a ganhar maior preponderância na cena internacional, conforme a actuação dos mesmos neste senário.

Neste sentido o nosso estudo irá insidir apenas nas multinacionais.

1.1- Breve historial sobre as multinacionais

No século XIX, a colocação de títulos constituia a maior parte de capitais internacionais a longo praso e representava ainda 60% em 1870, financiando empréstimo aos governos e a obras de infra-estrutura. A sua parte declina em favor do Investimento Directo Estrangeiro(IDE), sobre tudo de 1870 à 1914, ao mesmo tempo que emergem, a partir do Reino Unido então dominante, outros países investidores importantes (Alemanha, E.U.A, França). Colt instala uma fábrica em Londres em 1852, Bayer fixa-se em 1895 nos E.U.A, Singer em Glagow em 1867 e inúmeras firmas europeias e americanas iniciam o seu primeiro Investimento Directo Estrangeiro no período de 1875-1895, entre as quais a AEG, Bayer, Ciba, Ericsson, General Electic Hoechest, Koday, Nestlé, Saint-Gobain, Siemens, Solvay, Standard Oil, Texaco, Westinghouse.

O IDE torna-se um fenómeno do século, com um Stok mundial de 14,3 mil milhões de dólares em 1914. A relação entre o valor do Stok do IDE dos Estados Unidos e o Produto Nacional Bruto americano é de 5,1% em 1897, de 7,3% em 1914 e 1929 sobe para 10,8% em 1935, devido a queda do PNB durante a crise caí para 4,0% em 1945 e volta a subir para 7,2% em 1965 e para 8,5% em 1974. O peso relativo do IDE era comparável em 1995e em 1914. Nesta época, o IDE estava concentrado em 55% no sector primário, em 20% nas infra-estruturas, em 15% na indústria e em 10% nos serviços.

De 1957 à 1973, os Estados Unidos tornam-se o país investidor dominante, o peso relativo do IDE inglês e francês diminui. Os países desenvolvidos substituem os

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Países em Via de Desenvolvimento como principais países de acolhimento do IDE e a indústria suplanta o sector primário como primeiro sector a atraí-lo. A entrada em crise nos ano 70 já não trava a expansão do IDE no mundo nem a sua concentração nos PVDs. A dinâmica do IDE aumenta Em 1982 e 1990, a fase de crescimento mais rápido da sua história.

Verifica-se então uma situação paradoxal, onde o IDE acelera em período de crise. A sua primeira aceleração (1870-1898) é comtenporânea da primeira grande crise capitalista.

1.2- origem das multinacionais

As razões da criação das multinacionais deveu-se a questões de ordem política, económica e fiscal, pelo facto de que muitos produtos não suportarem longos percursos de transporte, envolvendo custos de transporte e elevadas despesas aduaneiras. Por outro lado, as facilidades concebidas pelos governos locais aos investimentos de empresas estrangeiras que contribuíram em grande medida para a instalação de unidades produtivas pertencentes às mesmas empresas-mãe nos vários países, foram também considerados factores de criação das multinacionais.

A génese das multinacionais, deu-se no século XIX com a expansão do capitalismo pelo mundo, em que muitas empresas europeias sobretudo fracensas, britânicas, holandesas, alemãs e norte americanas, se fixaram em vários territórios por forma a assegurarem o controlo das matérias-primas a dominar as rotas marítimas indispensáveis, para garantir o mercado e o escoamento dos excedentes de produção.

Nesta prespectiva, como consequência da colonização os liberais defendiam que a apropriação do espaço pelas grandes potências constituía um obstáculo ao crescimento e progresso económico, ao passo que os capitalistas no intuito de protegerem-se da concorrência estrangeira, precionavam fortemente os seus governos para que estes se apoderassem deste ou daquele território e lhes garantisse uma situação de monopólio. Os capitalistas venceram esta tese e contribuíram para o surgimento das multinacionais.

Assim uma empresa francesa ou britânica quando instalada numa colónia(dependência colonial), não surgia como uma empresa estrangeira, mas sim como uma entidade nacional exercendo a sua actividade livremente num espaço jurídico único e integrado.

Deste modo a soberania exercida pela metrópole sobre o seu império, teve como consequência não só de proteger as empresas metropolitanas instaladas no ultramar contra a concorrência estrangeira, como também para servir de cobertura à mobilidade de capitais e nos fluxos de trocas que se haviam desenvolvido no quadro de um único Estado.

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Consequentemente, surgiram críticas quanto a actuação destas empresas, pelo facto destas tenderem aproveitar as economias de escala, cresciam mais rapidamente e melhor que os Estados e num futuro breve, dominariam a economia mundial com eficácia.

Pois, para colmatar esta situação foi necessário haver o processo da descolonização, que ocorreu posteriormente, e permitiu a ruptura dos laços de dependência formal, passando assim as firmas coloniais a ser consideradas estrangeiras.

Logo após a Segunda Guerra Mundial, teve início a reconstrução da Europa, permitindo o desenvolvimento das multinacionais de origem americana, que passaram a ter incidência na sua actividade principalmente na exploração do petróleo e nos sectores da industria transformadora.

Portanto a criação das multinacionais conheceram três momentos importantes:

1º As multinacionais eram essencialmente europeias e as suas actividades incidiam na exploração de matérias- primas e produtos farmacéuticos, sendo as mais importantes a Nestlé, Bayer e a Air Liquide;

2º Com o fim da Segunda Guerra Mundial, deu-se o início da reconstrução da Europa, a maioria das multinacionais tinham origem e sede-mãe nos Estados Unidos da América e a incidência das suas actividades era fundamentalmente a exploração do petróleo e a sectores da indústria transformadora (automóvel, química, farmacêutica, aeronáutica) com destaque nas grandes multinacionais petrolíferas e de construção automóvel, tais como Esso, Guil Oil, Texaco, Mobil, Shell, Ford, British Petroleum (B.P);

3º Por último diversificou-se a criação e expansão das multinacionais tanto no que conserne à implantação geográfica das sedes-mães, como no que respeita à incidência das suas actividades com realse para o sector dos serviços.

Mas tarde, a partir dos anos 70, diversificaram-se as multinacionais tanto na sua situação geográfica como nas suas actividadas, com destaque no sector dos serviços. Desenvolveram-se os bancos americanos, europeus e japoneses, foram instaladas filiais de seguradoras americanas, europeias e japonesas em vários países do mundo, construtoras de automóveis, multinacionais eletrónicas e grandes superfícies dependentes da mesma empresa-mãe, disputando mercados mais competitivos onde oferecem-se custos de produção mais baixos.

1.3- Definição de multinacionais.

A bibliografia existente sobre a matéria em causa confronta-se com uma pluralidade de definições de “multinacionais.” Neste contexto retemos as seguintes:

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As Empresas Multinacionais, também conhecidas como transnacionais, são empresas que possuem matriz num país e possuem actuação em diversos países. Geralmente são grandes empresas que instalam filiais em outros países em busca de mercado consumidor, energia, matéria-prima e mão-de-obra baratas e que pelo seu poder financeiro, são capazes de influenciar nas relações internacionais.

O Instituto de Direito Internacional, definiu Empresa Multinacional como sendo “uma organização constituida por um centro decisório localizado em um país e por centros de actividades , doutados ou não de personalidade própria, situados em um ou vários países”.1

Segundo Max Gounelle, as multinacionais são empresas cuja a sede social se encontra num determinado país e que exercem actividades num ou em diversos países por intermédio de sucursais ou filiais, cuja a estratégia em gestão são concebidas a nível de um único centro de decisão2 . Outros analistas aprofundam o estudo desta entidade.

Para Patrizio Merciai, referiu-se da empresa transnacional dizendo que é toda e qualquer entidade que tem por vocação produzir ou comercializar bens ou serviços e que procede esse objectivo através da instalação de diversos estabelecimentos no território de vários estados, por entre os quais reparte os recursos disponíveis de forma que possam executar as actividades concentradas a escala global da mesma 3.

Pedro Fernandes afirmou que, apesar disso , é pratica corrente recorrer a utilização conjunta de vários critérios para identificar, em concreto, uma empresa transnacional. Eis alguns dos critérios mais utilizados:

- Critério do Volume de Negócios, tem de ter um volume de negócios na ordem de milhões de dólares;

- Critério da Organização, trata-se de uma sociedade dirigida por uma equipa decidida a expandir a empresa além fronteiras;

- Critério da Actividade, a empresa deve assegurar uma parte significativa da sua actividade fora do território onde tem a sua sede social;

- Critério da Produção, a produção da empresa deve caracterizar-se pela diversificação.

Juridicamente, as multinacionais revestem a forma de sociedades por acções. A sociedade de origem (Sociedade mãe) controla, pelo facto da sua participação no seu capital, uma serie de filiais; mas cada sociedade (mãe ou filial) depende unicamente do estado do qual ela tem a nacionalidade. Por isso, o estado tem somente poder sobre uma parte da actividade da empresa.

I. 4- Elementos Fundamentais das Multinacionais

1 DALLIER, Patrick, PELLET, Alain, QUOC DINH, Nguyen, 2000, p. 627.2 Max GOUNELLE. Ob.cit.Pag.121-125.3 Em: Michel BELANGER, Instituto Económico Internacional. Lisboa, Instituto Piaget, 1997, Pág.249

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Sobre este assunto, afirma-se que as multinacionais:

1º Geralmente possuem a sede social num determinado país, exercem através de sucursais ou filiais actividades em diversos países, e possuem estratégia e a gestão elaborada por um único centro de decisão. Este centro coordena o conjunto da multinacional para aumentar ao máximo o lucro do grupo.

2º Efectuam funções de produção em diversos países e são vectores muito importante de investimentos internacionais. As vezes possuem poderes económicos e financeiros superior ao poder (económico e financeiro) dos estados onde instalam os seus investimentos e desenvolvem as suas actividades. Muitas das grandes empresas multinacionais suplantam os produtos internos brutos (PIB) de vários estados. Não unicamente dos estados do mundo subdesenvolvidos. De facto, por exemplo, em 1999, a General Motors (EUA), a totalidade de volume de negócios das suas filiais, ultrapassou o PIB de estados da União Europeia como a Dinamarca; a Ford Motor (EUA) estava em frente (em volume de negocio) o PIB da Noruega e da África do Sul; e a Toyota Motor (Japão), ultrapassou o PIB de Israel e ombreou o PIB de Portugal.

3ª O Estado de origem (normalmente o Estado nacional da sociedade mãe) retira da exportação dos seus capitais e dos seus técnicos, uma influência económica e politica bastante importante e um risco económico (desemprego, inflação, etc) e jurídico (dificuldade de assegurar a protecção das filiais que adquirem a nacionalidade do Estado de implantação) não menos prezável.

Estes assuntos necessitam dos seguintes esclarecimentos:

1º O Estado de origem é frequentemente, considerado cúmplice da multinacional, porque retira enumeras vantagens das suas actividades económicas. Estas actividades, frequentemente, possibilitam a estes Estados controlarem ( mais ou menos eficazmente) matérias-primas muito importante existente no estrangeiro. As multinacionais podem ser meio valiosíssimos para os Estados de origem conservarem seguros aprovisionamentos económicos indispensáveis (minerais estrangeiros, petróleo, etc).

2º Geralmente a actividade das multinacionais implica saída de capitais e de pessoas, e o estado de origem pode querer evitar essas saídas. Além disso, os produtos fabricado por uma multinacional no estrangeiro podem ser reimportado no país de origem, e por isso podem prejudicar a balança de pagamentos externos, os empregos industriais, etc. Por isso o Estado de origem pode sentir a obrigação de combater a expansão das multinacionais.

3º O Estado de implantação ( de acolhimento geralmente o Estado nacional das filiais) beneficiam de ajuda de capitais e de técnicos e da procura de mão-de-obra; mas pode enfrentar inconvenientes económicos (concessão de privilégios excessivos, desenvolvimento de sectores de actividade imediatamente lucrativos prejudiciais à expansão de sectores de actividade imediata lucrativos prejudiciais à expansão de

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sectores mais úteis para o país, fuga fiscal, etc.) e políticos (pressões exercidas pela empresa sobre o poder local, etc).

Sobre esta questão afirma-se que:

1º Os efeitos positivos dos investimentos estrangeiros, possíveis vectores de emprego e de recursos fiscais, impeliram muitos estados a solicitarem a intervenção de multinacionais e bastantes governantes até apresentarem códigos para os investimentos incitadores (isenção de impostos, etc). recordar a atitude de António Oliveira Salazar em relação aos investimentos internacionais nas ex-colónias portuguesas a partir de 1961( após o surgimento da luta armada em Angola), estes investimentos favorecidos ajudaram o salazarismo a lutar contra a rebelião armada existente no império e a conservar as colónias.

2º Mas, as renuncias as receitas públicas (acompanhada as vezes da exploração exagerada dos recursos naturais) diminuíram bastante as vantagens inerentes aos investimentos das multinacionais.

3º Frequentemente as multinacionais fazem perigar a soberania nacional, sobretudo a soberania politica dos estados de acolhimento. Estas soberanias é mais atacável pelas multinacionais quando os dirigentes dos países de acolhimento são facilmente corruptíveis e quando as represálias económicas fazem perigar a estabilidade de dirigentes pouco alicerçados (pouco legitimado) .

Por isso o poder (sobretudo o económico) das multinacionais pode dominar (mais ou menos camufladamente) o poder público ( o poder politico do estado de acolhimento).

4º A curto prazo, afirma Inês G. Sequeira, parecem ser menos os benefícios da entrada de um grupo estrangeiro numa economia nacional através de aquisição, fase a alternativa de criação de subsidiários locais. A criação de novas unidades empresariais conduz sempre a um aumento dos “stock” de capital disponível, o que nem sempre sucede no caso da compra de empresas locais por grupos estrangeiros.

Também é menos provável que uma aquisição ou uma fusão se traduzam na entrada de novas e melhores tecnologias no país receptor do investimentos, pelo menos na altura do negocio. E existem maiores probabilidades de “emagrecimento” ou encerramento da produção local ou da actividades funcionais (como a área de investigação e desenvolvimento). Além disso, por norma, a aquisição de uma companhia local por accionistas estrangeiros não gera mais trabalho e pode conduzir a despedimentos. Em contrapartida, o investimento estrangeiro na criação de novas empresas tem como consequência o aumento de postos de trabalho. O aumento de fusões e aquisições conduz tendencialmente, a concentração do mercado e a prática anticompetitivas.

Mas, nem sempre a entrada de investimentos estrangeiros sob a forma de novas empresas é mais vantajosa do que a aquisição de unidades já existentes, especialmente

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em circunstancias excepcionais, como crises económicas ou grandes privatizações, a necessidade de reestruturar um determinado sector passa obrigatoriamente, pela venda de activos nacionais a grupos do exterior.

Além disso, após alguns anos o impacto do Investimento Directo Estrangeiro são difíceis de distinguir no que diz respeito a estas duas alternativas, com excepção dos resultados no âmbito da concentração de mercados. Por exemplo uma aquisição fusão transfronteiriça pode ser seguida de transferências de novas ou melhores tecnologias, nomeadamente quando a multinacional em questão tem como objectivo aumentar a eficiência da empresa onde investiu capital.

Por norma, concluiu Inês Sequeira, a aquisição de uma companhia local por accionistas estrangeiros não gera mais trabalho e pode conduzir a despedimentos. Em contrapartida, o investimento estrangeiro na compra de novas empresas tem como consequência o aumento de postos de trabalho. Mas, as diferenças mais evidentes notam-se ao nível da competitividade sectorial: o aumento de fusões e aquisições conduz tendencialmente, a concentração do mercado e a práticas anticompetitivas.

5º Os Estados de acolhimento possuem meios bastantes eficazes para diminuir a influencia negativa das multinacionais (controlar os investimentos, proibir a repartição dos benefícios, a obrigação de reinvestir no local, nacionalizar, etc). estas medidas ( o grau de probabilidade de existirem) constituem perigo que as multinacionais analisam e medem antes de impedir a sua concretização, e quando surgem, as multinacionais procuram limitar a suas consequências.

Estes problemas preocupam os Estados, as Organizações Intergovernamentais, os Sindicatos etc. Mas, a elaboração e o estabelecimento de verdadeiras politicas de contratos exigem a concertação internacional. Esta concertação muitas vezes é dificultada sobretudo pelos sindicatos. Parece que as multinacionais serão controladas eficazmente pela intervenção politica, concretizada na organização e nas estruturas do poder internacional.

6º Alguns documentos procuram enquadrar as actividades das multinacionais, esses documentos (do conselho de ministros, da OCDE, 21 de Junho de 1976 do Conselho de Administração da OIT de 16 de Novembro de 1979, e da Comissão Especial da ONU, Maio de 1984, afirmaram que as multinacionais devem respeitar as normas internacionais( garantir os salários, a liberdade sindical, as negociações colectivas, etc), respeitar a soberania do estado acolhedor (respeitar a soberania sobre os recursos naturais, respeitar a obrigação de não se intrometer nos assuntos políticos internos e respeitar os objectivos da politica geral estabelecida pelos governos), proteger o meio ambiente; ajudar a inovação; e assegurar as transferências de tecnologia.

Não devemos esquecer que as multinacionais são forças poderosas para transformar as estruturas (económicas, politicas e sociais) e tendem a concretizar a unidade do comércio internacional. A internacionalização das actividades das

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multinacionais é imposta pela vontade de utilizar todos os recursos disponíveis através de uma acção integrada.

Geralmente, a estratégia das multinacionais é elaborada por um cérebro central que controla todos os factores intervenientes e dispõem de mobilidade suficiente para conseguir o maior lucro possível nas diferentes conjunturas e nas diferenças estruturais impostos pela divisão politica do espaço geográfico.

1.5- Caracteristicas das multinacionais

Para muitos autores as multinacionais não se limitam apenas na exploração de matérias-primas ou na exploração de linhas tecnológicas, mas também actuam como principais vectores que visam defender interesses políticos, económicos e culturais. Estas, interrelacionando-se com o Estado, dividem-se em:

a) Empresas etnocêntricas, onde as suas actividades e decisões estratégicas estão subordinadas aos interesses dos Estados de origem;

b) Empresas policêntricas, estão orientadas para os Estados de acolhimento;

c) Empresas geocêntricas, estas são totalmente desnacionalizadas. 4

Quanto a estrutura financeira, as multinacionais podem ser:

a) Empresas com filiais no estrangeiro, controlada pela sede-mãe e detêm a maioria do seu capital;

b) Empresas com filiais autonómas, incitadas a recorrer ao financiamento local;

c) Empresas totalmente internacionalizadas, cuja as acções e obrigações da empresa-mãe são comercializadas nos mercados dos principais estrangeiros.5

Quanto as modalidades de implementação no exterior:

a) Sucursais- que prestam um certo número de serviços, mas que não têm autonomia de procedimentos e de gestão face a sede;

b) Filiais- que juridicamente se registam como firmas nacionais. Este modo de implementação confere as multinacionais a possibilidade de melhor se adaptarem aos mercados nacionais;

c) Absorção de empresas já existentes ou da aquisição do controlo- tornou-se comum as multinacionais adquirirem partes do capital ou empresas na totalidade através de grandes operações públicas nas bolsas financeiras;

4 FERNANDES, António José. Relações Internacionais: Do Mundo da Europa. Iajai: Universidade do Vale, 1998. Pag 25-665 Indem. Pag 68

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d) Jont-venture- são associações de capital em cada uma das empresas participantes não pode deter mais de 50% do capital total da empresa em questão;

e) Franchising- consubstancia-se na autorga do monopólio de fabricação de um produto, isto é, a cedência por parte de uma multinacional do monopólio da produção ou da comercialização de um produto a uma empresa estrangeira.6

CAPÍTULO II

AS MULTINACIONAIS ENQUANTO ACTORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Antes de tudo deve-se analisar em que medidas as multinacionais podem se transformar em actores priviligiados das relações internacionais tendo em conta que estas podem competir ou mesmo suplantar os Estados.

Portanto, alguns autores sustentam que as multinacionais em virtude da sua dimensão e e da sua capacidade financeira, são superiores a muitos Estados. Outros consideram que o poder político continua decisivo e que as multinacionais na sua maioria não passam de agentes ao serviço das políticas governamentais.7 A primeira abordagem reflete um novo centro de poder, mais perigoso porque pressupõe que o Estado está livre de qualquer controlo ao passo que a segunda reflete uma versão modernizada do imperialismo.

Para analisar as multinacionais como actores das relações internacionais, temos de avaliar a relação que elas têm com o Estado e distinguir entre as as empresas nacionais com actividades no estrangeiro e multinacionais independentes dos Estados.

2.1- O poder das multinacionais no sistema internacional.

O poder das multinacionais provém do seu peso económico, devido ao volume de negócios, o número de empregados e das relações com os Estados.

Quanto as empresas nacionais com actividades no estrangeiro, o fenómeno multinacional geralmente aplica-se à empresas nacionais que espandem as suas actividades fora das suas fronteiras de origem. Todavia faz sentido afirmar que estas empresas são instrumentos de dominação de um Estado sobre o outro, tendo em conta o papel que elas representam para os Estados.

Neste sentido, as relações entre as multinacionais e os países de origem podem ser de “cumplicidade” ou de “hostilidade”. É uma relação de cumplicidade quando entre

6 SILVA, Sérgio Vieira da- Introdução as Relações Internacionais. Universidade Lusiada de Angola. Luanda. 2002 p. 297 SILVA, SAÉRGIO Vieira da- Introdução as Relações Internacionais. Universidade Lusíada de Angola. Luanda. 2002. P. 31

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um Estado ou governo e uma multinacional, o Estado poder defender os privilégios que adquiriu no exterior. Neste tipo de relação os governos assistem aos investimento no estrangeiro das multinacionais da sua nacionalidade na expectativa de que essas operações revertam a favor do interesse nacional8

Contráriamente as relações de hostilidade surge porque não é garantida a neutralidade dos governos face a saida de capitais para investimento exterior .Assim, a exportação de capitais e a falta de investimento pode traduzir-se numa quebra de capacidade nacional de produção e na redução de empregos.

Para limitar a acção dessestabilizadora das multinacionais é necessário harmonizar as legislações fiscais e os níveis de desenvolvimento por forma a igualar as condições e diminuir os privilégios e condições especiais materializados em paraísos fiscais (como por exemplo as Banhamas e Gilbratrar), são sociedades fitícias, que estabelecem ao benefício de fortes reduções fiscais, na existência de países onde os custos salariais e sociais são irrisórios.9

É de salientar que as multinacionais são agentes importantes do investimento nacional. São os principais agentes das relações económicos internacionais por possuirem poder económico e financeiro superior ao de muitos países, isto é, os seus orçamentos são superiores ao Produto Nacional Bruto (PNB) de muitos países. Neste contexto, as multinacionais são empresas ou grupos de empresas, que exercem as suas actividades em vário países e têm actividades estáveis e sob o seu controle em pelo menos dois países estrangeiros e têm um poder financeiro capaz de inffluenciar as relações internacionais.

2.2 – Personalidade Jurídica das Multinacionais

A personalidade jurídica é a base de toda a sociedade. O ordenamento internacional reconhece apenas os Estados, sujeitos primários, e as Organizações Internacionais, sujeitos derivados como seus sujeitos de direito. Para melhor satisfazer as suas necessidades, a emergência de novos participantes nessa sociedade demanda uma actualização de suas regras e instituições. Com a globalização prolifera-se as Empresas Multinacionais que por vezes o seu poder económico é maior que a economia de dezenas de países. Esse poder económico acaba se sobrepondo à soberania dos Estados, especialmente os menores e vulneráveis. Dai a necessidade urgente de se estabelecer o alcance dos direitos e deveres dessas empresas no direito internacional moderno.

8 Idem. Pág. 329 MERLE, Marle- Socologia de las Relaciones Internacionales. Universidade Alianza. Madrid. 200.página 429

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Neste estudo, deixa-se os indivíduos e as Organizaçõe-não governamentais e toma-se como alvo de análise as Empresas Multinacionais10

por serem elas capazes até mesmo de sobrepujar o poder decisório de diversos Estados, considerados soberanos.

A questão da personalidade jurídica das multinacionais face ao direito internacional continua em aberto, bem como a possibilidade destas se encontrarem vinculadas directamente por normas internacionais e para além das expressões Personalidade Jurídica Internacional e Empresas Multinacionais, também são consideradas Soberanas e Globalizadas

No entanto há um crescente reconhecimento de responsabilidades empresariais, sobretudo em situações em que as empresas podem de facto comprometer o respeito pelos direitos humanos.

10 Segundo Stazjn. Empresa, é instituição econômica que visa a organização e desenvolvimento deatividades de produção e distribuição de bens e serviços nos mercados, criação de riquezas ou utilidades(STAZJN, Raquel, 2004, p.177). O termo Multinacional se refere a uma situação na qual uma pessoa quetem laços de ligação com vários Estados – quer um laço territorial, quer um laço pessoal, ou mesmo aligação devido à escolha voluntária da lei aplicável a uma atividade (DALLIER, Patrick, PELLET, Alain,QUOC DINH, Nguyen, 2000). Utiliza-se como termo sinônimo para Empresa Multinacional, aCorporação Transnacional. Ver JESSUP, Philip C., 1956, p. 12 e et seq, acerca dos termos Transnacionale Internacional.

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CONCLUSÃO

Os compromissos das actividades das multinacionais não se confinam apenas na exploração de matérias-primas, na busca de tecnologias, mas sim estendende-se no domínio económico, e no controle da evolução do meio social, cultural, manter os mais altos padrões éticos, obedecer todas as leis, a regulamentação aplicável, respeitar a cultura local e nacional e realizar operações seguras e responsáveis em termos de protecção do meio ambiente.

Constata-se que os programas sociais das multinacionais têm tido algum sucesso mas é preciso fazer-se mais na área social, chegando até mesmo nas áreas mais remotas e mais necessitadas do país. Por outro lado acredita-se que a contribuição mais importante das multinacionais é o apoio ao crescimento económico que é feito através de investimentos, criação de empregos, do apoio as leis, da assistência a educação e na transferência de conhecimentos e competências.

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BIBLIOGRAFIA

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