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APRESENTAÇÃO A atualidade do tema “empresas multinacionais” dispensa maiores apresentações. Procuramos, ao elaborar o presente trabalho, discorrer de maneira clara e em linguagem simples a dinâmica e importância das multinacionais nos aspectos sociais, políticos e econômicos do Brasil. Procuramos também enfatizar tas pesquisas sobre o comportamento social e trabalhista de empresas multinacionais com atuação no país. Ao divulgar as condições de trabalho nas filiais brasileiras destas empresas, cumpre importante papel na luta pela inclusão social. Em linhas gerais, não se pode dizer que exista uma relação direta entre precarização de direitos e atração das empresas multinacionais. Na maioria dos setores produtivos, as empresas

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Page 1: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

APRESENTAÇÃO

A atualidade do tema “empresas multinacionais” dispensa maiores

apresentações. Procuramos, ao elaborar o presente trabalho, discorrer de maneira

clara e em linguagem simples a dinâmica e importância das multinacionais nos

aspectos sociais, políticos e econômicos do Brasil. Procuramos também enfatizar tas

pesquisas sobre o comportamento social e trabalhista de empresas multinacionais com

atuação no país. Ao divulgar as condições de trabalho nas filiais brasileiras destas

empresas, cumpre importante papel na luta pela inclusão social.

Em linhas gerais, não se pode dizer que exista uma relação direta entre

precarização de direitos e atração das empresas multinacionais. Na maioria dos setores

produtivos, as empresas multinacionais não vêm para o Brasil com o objetivo de burlar

direitos sociais, trabalhistas e ambientais. Mas as exceções ocorrem, são

numericamente importantes e devem ser combatidas de forma vigorosa.

Por outro lado, a mera existência de investimento não assegura o pleno respeito

dos direitos. Um entorno institucional bem delimitado, contando com a presença ativa

de atores sociais, é um dos requisitos para assegurar que as empresas multinacionais

possam “importar” suas práticas sociais e trabalhistas para países como o Brasil.

Page 2: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

Neste sentido, torna-se fundamental para o movimento sindical e para o conjunto

da sociedade civil compreender quem são, onde atuam, de onde vêm as multinacionais

e qual a posição do Brasil enquanto receptor dos seus investimentos. Somente

conhecendo a sua dinâmica de funcionamento, podemos destrinchar melhor as suas

atitudes, as quais variam de forma expressiva dependendo do setor, da origem do

capital e das práticas sindicais utilizadas nos seus respectivos países.

Page 3: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

I. INTRODUÇÃO

Pode-se questionar a razão de uma pesquisa sobre “empresa multinacional” ( ou

internacional, ou transnacional, ou qualquer outra terminologia); ou mesmo a razão de

tantas preocupações em torno do assunto nos últimos anos, a ponto de justificar

estudos até no âmbito das Nações Unidas. Afinal, empresas que atuam em mais de um

país não constituem um fenômeno novo; existem pelo menos desde meados do século

XIX e provavelmente as antigas companhias de comércio do século XVI já poderiam ser

considerada “multinacionais”

Intrinsecamente, uma empresa multinacional não difere de uma nacional, pelo

menos em economias de mercado. Ambas se equivalem em relação a fatores de

produção, produzem bens de consumos serviços, buscam a maximização de seus

lucros; enfim, em princípio deveriam comportar-se como se esperaria que qualquer

empresa se comportasse. Mas também o comércio internacional não difere do comércio

interno, ou inter-regional; no entanto o estudo teórico do comércio internacional é o

mais antigo ramo da teoria econômica aplicada, e os primeiros “balanços de

pagamentos” remontam à Inglaterra de 1356.

Desde logo, a empresa multinacional pode ser vista como uma evolução ou uma

“variante”, do comércio internacional. Através dela transferem-se fatores de produção,

Page 4: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

além de produtos finais e matérias-primas. Com ela a teoria do comércio internacional

tende a incluir, no que concerne ao “lado real” das transações alguns aspectos da teoria

econômica regional. No que diz respeito aos aspectos monetários, cambiais, e fiscais,

contudo permanece a mesma realidade da economia internacional. E, assim, como esta

o fato de ainda encontrar fronteiras econômicas (e políticas ) nacionais gera um

conjunto de aspecto específicos, no que tange à alocação de recursos, localização da

produção e comercialização, divisão de mercados, transferências financeiras ( de ativos

e rendas), relações cambiais e fiscais, assim como implicações profundas sobre o

esquema “tradicionais” de política econômica.

É por esse motivo que o debate tem sido tão intenso nos próprios países de

origem das empresas multinacionais (EMN). Além disso, a realidade das empresas

multinacionais também tem forçado economistas e cientistas sociais em geral a um

maior esforço interdisciplinar, visto que na origem primeira de muitos dos temas ligados

às EMN estão os conflitos de poder de decisão, cuja natureza é essencialmente

política. A empresa multinacional, na medida que se internacionaliza, procura cada vez

mais superpor seus próprios objetivos aos dos países que atuam, enfraquecendo a

soberania econômica das nações. Se decidem investir em outros países, encontram a

oposição de interesses locais que lhes atribuem “custos sociais” ao reduzir ao reduzir

oportunidades de empregos, ao onerar o balance de pagamentos com a saída de

recursos financeiros, ao reduzir exportações, entre outros. Se remetem lucros e rendas,

encontram também oposição a esse “custo” em divisas, que onera o balanço de

pagamentos e retira da economia recursos escassos que poderiam ser reinvestidos,

etc.

O fato é que o debate em torno do tema é uma realidade e na pode ser ignorado

pelos economistas, assim como tem sido cada vez menos ignorado por políticos,

sociólogos, juristas e outro estudiosos. Como um País em desenvolvimento que optou

pelo sistema capitalista e cada vez mais engajado na economia internacional, o Brasil

não pode fechar-se à discussão e ao estudo, como conseqüência da imprescindível

convivência marcante e crescente com essas empresas.

Page 5: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

1.1. CONCEITO DE EMPRESA MULTINACIONAL

De fato, Para conceituar as empresas multinacionais poderíamos adotar uma

definição histórica e formal do tipo adotado pelas Nações Unidas. Segundo esse

conceito, multinacionais seriam “todas as empresas que controlam ativos — fábricas,

minas, escritórios de venda etc... em dois ou mais países”. Esta definição tem a

vantagem de ser neutra e geral. Em compensação, nos dá uma compreensão

insatisfatória do problema, na medida em que tira o caráter historicamente situado das

empresas multinacionais no processo de desenvolvimento do capitalismo monopolista

de Estado.

O autor J.H Dunning do livro “the Multinacional enterprise “ define empresa

multinacional como sendo uma matriz controlada por uma grande grupo de outras

empresas diferentes nacionalidades, com acesso a uma fonte comum de recurso

humanos, técnicos e financeiros e que agem segundo uma estratégia coordenada

Há, contudo, os que preferem conceituações mais restrita, como Behrman: uma

só pequena empresa estritamente controlada, com filiais situadas em mercado

separados por fronteiras nacionais e sob jurisdição de diversos governos. Sua

característica principal é a unidade na diversidade.

Page 6: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

Outros ainda, mais sofisticados, preferem distinguir entre empresas

internacionais, multinacionais e transnacionais. A empresa internacional seria

basicamente uma entidade nacional que possui algumas atividades em outros países

sem que as mesmas tenham alguma influência significativa na vida da empresa.

Estariam nessa situação as antigas empresas comerciais de serviços públicos,

ferroviários, e grande parte das empresas que hoje operam internacionalmente. Já a

empresa multinacional dispersa interesses, por várias nacionalidades, na produção, na

comercialização e até mesmo na estrutura de propriedade, embora ainda se possa

reconhecer um “centro de decisões” em determinado país de origem. No último estágio

e anacionalidade temos as transnacionais ou supranacionais, ainda raras ( talvez três

ou quatro apenas ), apesar de ampla evolução recente.

De um modo geral, o termo se aplica a empresas cujas operações internacionais

são relativamente extensas e abrangem a movimentação internacional de bens e

recursos financeiros, tecnologia management. Assim é que se propõem definições mais

pragmáticas, tais como a de Behrman transcrita do The New York Times “ ... Um

conceito geralmente aceito de empresa multinacional inclui aquelas que operam em

pelo menos seis países, enquanto suas subsidiárias contribuem como pelo menos 20%

de seus ativos totais, vendas ou pessoal empregado. O tamanho, obviamente, é um

critério fundamental... Nenhuma empresa com vendas anuais inferiores US$ 100

milhões é seriamente considerada como multinacional, especialmente em termos de

influência política ... Outras características básica são crescimento e lucro acima da

média ... “

A verdade é que nenhuma dessas definições, ou qualquer outra das 16 referidas

por Behrman, pode ser considerada definitiva ou inteiramente satisfatória. Essa

dificuldade, porém não afeta o estudo que ora se apresenta, uma vez que qualquer

seleção de grandes empresas que operam no Brasil dificilmente inclui alguma

estrangeira que não seja considerada, por qualquer conceituação, subsidiária de

empresa multinacional. E as listagens da revista Fortune, das maiores empresas

americana e não americanas, fornecem as informações de que se necessita, tendo em

Page 7: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

vista que nosso trabalho não procura fazer um “estado global” sobre multinacionais,

mas tão-somente sobre o papel que desempenham na indústria brasileira.

Page 8: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

II. AS MULTINACIONAIS NO BRASIL: DAS FERROVIAS AO PLANO REAL

A empresa multinacional, como é caracterizada atualmente, é um fenômeno do

pós guerra, causa e efeito da vertiginosa expansão industrial dos anos 50 e 60 no

Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão. Essa peculiaridade distingue-a das antigas

empresas internacionais, que se concentram n os setores primário-exportador

( mineração, plantantion, comércio exterior ) de serviços urbanos ( transportes

urbanos, fornecimento de água, luz, gás, esgotos e etc, ) e de transportes ferroviários.

Assim, podemos concluir que As multinacionais não são um fenômeno recente

no Brasil. Lembremos que a geração de energia elétrica no estado de São Paulo, e

meados do século XX, estava sob a alçada de duas empresas, a Light canadense e a

Amforp estadunidense. O capital inglês se faria importante na economia brasileira por

meio do investimento em ferrovias, especialmente a partir de 1870, e antes ainda se

encarregaria da mineração no estado de Minas Gerais, como no caso da mina de Morro

Velho, que chegou a dispor de mais de 1.500 trabalhadores escravos (Douglas Cole

Libby, 1984).

No final do Império e início da República, o investimento externo não era como

hoje. A empresa fazia o aporte de capital e era remunerada por meio de juros

garantidos pelo governo, que coletava a receita via cobrança de fretes ou tarifas. Algo

Page 9: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

parecido com o que pretende o projeto das PPPs (parcerias público-privado), aprovado

em 2004.

Nos anos vinte, chegariam algumas empresas novas na cidade de São Paulo –

como Ford, GM, Philips e Rhodia, dentre outras (Wilson Cano, 1977) – funcionando

como postos avançados de montagem de produtos que eram distribuídos no mercado

nacional. Tinham a “cara” de investimentos externos, mas atuavam mais como

importadoras com marca própria.

Até o início da década de cinqüenta, descontando-se as empresas de comércio

exterior e do setor financeiro, a grande maioria das empresas estrangeiras atuando no

Brasil estavam vinculadas à infra-estrutura energética, de comunicações e transportes.

Em 1955, 95% do estoque de capital estrangeiro, registrado na Sumoc

(Superintendência da Moeda e do Crédito), pertencia a empresas do setor energético.

Mas o capital externo acumulado não chegava neste período a 2% do PIB (Clóvis de

Faro e Salomão Quadros da Silva, 2002).

O primeiro boom de investimentos diretos externos deu-se com o governo JK. No

período 1956-1960, os fluxos anuais de multiplicaram-se por 35 vezes em relação ao

qüinqüênio anterior (Clóvis de Faro e Salomão de Quadros, 2002), tendo o país

internalizado empresas do setor automotivo, químico, máquinas e material elétrico, os

quais simbolizavam o padrão industrial desenvolvido pelas economias desenvolvidas

desde o final do século XIX.

O governo JK, especialmente por meio do Conselho de Desenvolvimento,

conseguiu articular estas empresas aos interesses do capital privado nacional,

permitindo a elevação de empregos industriais no país. Também é verdade que estas

empresas já estavam iniciando um processo de internacionalização em direção a

alguns países em desenvolvimento. Isto se explica pela saturação dos mercados nos

seus respectivos países e pela própria dinâmica de concorrência.

Portanto, a partir dos anos sessenta e até meados dos anos noventa, os

investimentos das multinacionais concentraram-se no setor industrial, tendo contado

com uma legislação nacional bastante “liberal”, além de expressivas vantagens fiscais e

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cambais. Havia apenas algumas restrições, como nos setores de mineração e em

vários segmentos de serviços (Pedro da Motta Veiga, 2004).

O segundo boom de investimentos externos aconteceu durante o chamado

“milagre econômico”, entre 1968 e 1973, quando os fluxos de capitais anuais

duplicaram em relação à média verificada durante o Plano de Metas. Estas empresas

cresceram ocupando capacidade ociosa, atraindo novos investimentos, captando

empréstimos internacionais e se aproveitando de um mercado interno volumoso,

especialmente em virtude da elevada concentração de renda de um país com

dimensões continentais. Sua expansão mostrou-se tão categórica que o Brasil chegou

a participar com 6,4% dos investimentos globais das empresas multinacionais no ano

de 1978 (SOBEET), percentual que não seria alcançado sequer durante o auge das

privatizações, já nos estertores do século XX. Nesta época, 80% do estoque de IED

encontrava-se na indústria, ao passo que Estados Unidos e Alemanha, com liderança

folgada do primeiro, respondiam juntos por 50% do investido no país (Luiz Aranha

Corrêa do lago, 1990).

Durante os anos oitenta, a crise da dívida externa, junto com a revolução

tecnológica dos países desenvolvidos, distanciou os capitais produtivos da América

Latina. Ainda assim, não se percebeu uma desmobilização dos ativos produtivos, tendo

prevalecido antes uma “estratégia de espera”, enquanto se ampliava a defasagem

competitiva entre as matrizes e as suas filiais brasileiras.

No período posterior ao Plano Real, o Brasil vivenciaria o terceiro boom de

investimentos das multinacionais da sua história. Três processos explicam esta nova

realidade: abertura econômica, estabilização com expectativas de crescimento

econômico e privatizações. Por outro lado, tal como nos períodos anteriores, o governo

exerceria um papel ativo na atração de capitais externos. Desta vez, ao aprovar

emendas constitucionais, que quebrariam o monopólio público em setores como

telecomunicações, petróleo e gás, e removeriam a diferenciação entre “empresa

brasileira de capital nacional” e de “capital internacional”.

Mas a dinâmica de expansão das multinacionais assumiria também novas

feições. Boa parte dos investimentos externos se concentraria no setor de serviços, por

Page 11: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

meio da transferência de ativos das antigas empresas estatais para os seus novos

proprietários. Destacariam-se as empresas espanholas, portuguesas e francesas.

Santander, Portugal Telecom e Electricité de France despontaram como novos nomes a

pautar os rumos da vida econômica nacional.

O raio de ação das empresas multinacionais tornou-se mais amplo e

diversificado. Novas empresas multinacionais passaram a pautar o comércio varejista, o

setor financeiro, de telefonia e energético, além de adquirirem presença em ramos

como videolocadoras, salões de beleza e serviços de alimentação.

Mesmo se nos circunscrevermos à indústria, obtém-se que – para um conjunto

de 18 cadeias industrias brasileiras – a participação das multinacionais sobre o

faturamento total saltou de 36% para 52% entre 1996 e 2000 (NEIT/UNICAMP).

Contudo, a combinação entre valorização cambial com redução das tarifas

alfandegárias e mercado interno instável fez com que as multinacionais aumentassem a

sua participação nas importações e reduzissem a sua presença exportadora ao menos

até a desvalorização.

Se nos períodos anteriores, o desempenho das multinacionais havia se mostrado

contraditório – colaborando para o crescimento econômico e geração de empregos,

mas ampliando a nossa dependência tecnológica e se ancorando num padrão

concentrador de renda; no período recente, as empresas multinacionais, se

contribuíram para elevar os níveis de produtividade, atualizando os países nos novos

padrões tecnológicos, tiveram impacto reduzido em termos de emprego. Num contexto

de juros altos com âncora cambial, muitas optaram por uma política conservadora,

optando por subcontratar serviços e importar bens do exterior, funcionando como

simples correia de transmissão do novo padrão de consumo e tecnológico.

Depois de 1999, esta situação se alterou de maneira relevante. Ainda que os

investimentos tenham se retraído no período pós-2000, as multinacionais se afirmaram

como exportadoras importantes em setores como automotivo, de telefones celulares,

linha branca, máquinas agrícolas e tantos outros.

No ano de 2003, o Brasil apresentaria o seu primeiro vultoso superávit comercial,

tendo contribuído as empresas multinacionais com 45% deste resultado (Cepal, 2005).

Page 12: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

Ainda assim, o país continuaria dependente das importações destas mesmas empresas

multinacionais nos segmentos mais intensivos em tecnologia, como no caso dos

componentes eletrônicos, da indústria farmacêutica, das máquinas e equipamentos de

vanguarda tecnológica e de boa parte da indústria química.

Pode-se dizer também que ao longo dos anos noventa se desestruturou o

padrão de relacionamento entre as empresas nacionais, privadas e estatais, e as

empresas multinacionais, intitulado de “tripé da industrialização” brasileira, o qual fôra

construído nos anos cinqüenta, aprofundado nos anos setenta e mantido a duras penas

nos anos oitenta.

As multinacionais avançaram nos setores de infra-estrutura e em boa parte do

setor serviços, enquanto a participação do Estado ficou mais circunscrita a empresas

de petróleo, geração de energia e saneamento básico, além da presença importante no

setor financeiro, tendo se alterado a sua função de produtor para a de regulador das

condições de mercado, com resultados geralmente negativos em termos de condições

de trabalho e geração de empregos.

Verificou-se simultaneamente um processo de concentração de vários mercados,

com a liderança das multinacionais, mantendo-se as empresas nacionais como líderes

de alguns poucos setores ou de alguns nichos de mercado. Enfim, o grau de

dependência, seja do Estado, seja das empresas nacionais, em relação ao poder das

multinacionais, elevou-se de forma considerável.

Page 13: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

III. O BRASIL COMO INVESTIDOR

Petrobrás Vale do Rio Doce – estas são as três empresas brasileiras que

aparecem na lista das 50 maiores empresas multinacionais dos países em

desenvolvimento, segundo o total de ativos externos, elaborada pela Unctad.

Estas empresas não representam exemplos isolados. Verifica-se, de fato, uma

tendência recente de aprofundamento da internacionalização da economia brasileira

que – se é verdade que apresenta destaque nos setores mais intensivos em recursos

naturais – também tem atingido empresas de setores industriais, inclusive em alguns

ramos dinâmicos, como no exemplo paradigmático da Embraer.

No outro extremo, está a Gerdau - que depois de realizar aquisições de

empresas norte-americanas - passou a apostar num ganho de competitividade via

precarização dos direitos trabalhistas norte-americanos.

Page 14: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

Principais empresas multinacionais brasileiras por faturamento

Fonte: Valor 1000, 2010Em boa parte dos setores, o processo de expansão das empresas multinacionais

brasileiras figurou como alternativa em relação à estagnação do mercado interno. Em

algumas empresas - Odebrecht e Marcopolo - o setor externo já responde por 80% do

faturamento das empresas.

Por outro lado, esta opção por uma inserção pautada na aquisição de ativos

externos geralmente está associada a uma política, por parte das empresas, de maior

conhecimento do mercado externo, trazendo agregação de valor, melhores empregos,

além de acesso a financiamento externo.

Desta forma, não só a emigração de trabalhadores caracterizou o Brasil dos

anos noventa. O capital de algumas empresas, com competitividade elevada, ou por

vantagens asseguradas pela abundância de matéria-prima, ou por terem desenvolvido

tecnologias avançadas em nichos específicos de mercado, também vem se expandindo

pelo mundo afora.

Até o presente momento, os planos de investimentos externos de empresas

brasileiras estão concentrados no Nafta (30,4%), Europa (21,6%) e Mercosul/Chile

Empresa FaturamentoUS$ bilhões

Petrobrás 192,74

Vale do Rio Doce 26,43

BRF Brasil Foods 15,90

Pão de Açúcar 14,23

Telemar 14,03

Ipiranga 13,94

Braskem 13,90

Correios 10,97

TAM 9,69

Page 15: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

(15,5%) (Unctad, 2005)4. Ou seja, em grande medida, o destino dos investimentos

externos das empresas brasileiras tende a acompanhar o mesmo perfil de distribuição

dos fluxos de comércio.

IV - A PRESENÇA DAS MULTINACIONAIS NO BRASIL HOJE

Das 500 maiores empresas globais, 420 possuem operações no Brasil, o que

revela a dimensão do mercado brasileiro, tanto real quanto potencial. Mas nem todas as

empresas multinacionais são grandes conglomerados com atuação global. No Brasil,

são ao todo cerca de 10 mil empresas multinacionais – que possuem ao menos 50% do

capital votante total de origem externa.

Em 2005, as empresas multinacionais geravam 2,1 milhões de empregos diretos

no país, o equivalente a pouco mais de 2% dos empregos existentes no país neste ano

e a um universo comparável ao total de desempregados existentes na Grande São

Paulo em agosto de 2010, segundo a metodologia Fundação Seade/Dieese.

No conjunto que engloba as 100 maiores empresas nacionais de capital privado,

as 100 maiores empresas da capital estatal e as 100 maiores empresas multinacionais,

estas últimas têm participação de 38% no faturamento em 2004.

Page 16: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

Ressalte-se ainda que das 10 maiores empresas com atuação no Brasil, sete

são estrangeiras. Quando analisamos as 500 maiores empresas com atividades no

país, percebe-se que 221 delas são multinacionais (Valor 1000, 2010).

Esta distribuição varia sobremaneira de setor para setor. Nos setores automotivo,

alimentos, eletroeletrônico, informática e telecomunicações, ao menos sete dentre as

10 maiores empresas são multinacionais. Esta participação oscila entre 50% a 60% em

setores como comércio varejista, mecânica e siderurgia. Em setores como papel e

celulose, têxtil e vestuário, calçados, química e construção civil, as multinacionais estão

presentes, mas perfazem no máximo três ou quatro empresas dentre as 10 maiores. Já

quando nos remetemos ao transporte, no universo das dez maiores apenas uma,

empresa é multinacional (Valor 1000, 2010).

Entre 1995 e 2000, o estoque de capital externo no país ampliou-se em 150%.

Um terço deste aumento pode ser explicado pelo processo de privatizações, uma outra

parcela pela aquisição de empresas de capital privado nacional e uma última parcela

pelos novos investimentos de empresas interessadas em ganhar posições num

mercado que, como então se imaginava, deveria se mostrar bastante dinâmico no

médio prazo.

Se olharmos a distribuição do estoque de investimento externo direto (IED) por

setor de atividade e por origem do capital, podemos ter uma noção das mudanças pela

qual passou a economia brasileira no período recente. Comparando-se o estoque de

1995 com o de 2000, verifica-se uma redução da participação da indústria de 67% para

34%. Ela está inversamente relacionada com a expansão do setor de serviços, que, em

2000, já representava 64% do total do estoque de IED. Findo o processo de

privatizações, os investimentos industriais voltariam a elevar a sua participação para

40% no total dos fluxos de IED no período de 2001 a 2004, ainda que fosse mantida a

dianteira do setor de serviços.

Paralelamente, o setor de agricultura, pecuária e mineração passaria a

representar 14,71% dos fluxos totais de IED em 2009 – uma participação 6,4 vezes

superior à verificada no estoque de 2000. Isso se deve, em grande medida, ao avanço

Page 17: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

do setor de agribusiness e à demanda mundial, especialmente chinesa, por minerais,

alimentos e matérias-primas.

Ainda que a tendência de participação elevada do setor serviços nos IED deva

se manter nos próximos anos, o volume de capital externo investido tanto na indústria

como no setor de serviços passa a depender cada vez mais do ritmo de crescimento

econômico e não tanto da transferência de ativos das empresas nacionais.

Fonte: Banco Central/Cepal

Page 18: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

5.A CRISE ECONÔMICA DE 2008-2009

A crise econômica mundial de 2008-2009, iniciada a partir do sistema financeiro

norte-americano, provocou perdas financeiras maciças para aquele país e lançou sua

economia na pior recessão desde 1929. Essa crise foi criada e desenvolvida nos

Estados Unidos, a partir do ano 2000, como resultado da corrida especulatória no

mercado de ações, e, posteriormente, no mercado de títulos subprime.

Os efeitos do colapso foram sentidos globalmente. O encolhimento súbito da

economia americana comprimiu a oferta de crédito no mercado internacional, provocou

uma contração do PIB mundial estimada em até 3% para 2009 e deflagrou a adoção de

medidas regulatórias e anticíclicas por quase todos os governos do mundo. A crise

também expôs os efeitos nocivos das bolhas especulativas provocadas pelos fundos de

cobertura de alto risco, que atuavam livremente no sistema financeiro, à margem de

qualquer regulação.

A extensão dos efeitos da crise demandou uma pronta resposta política dos

países desenvolvidos, o que incluiu a realização de cúpulas emergenciais para que os

Estados coordenassem suas ações. Em novembro de 2008, o grupo G-20, que

compreende as 19 maiores economias do mundo e a União Européia, reuniu-se em

Washington para debater acerca da situação econômica. Essa reunião foi sucedida de

Page 19: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

outro encontro em Londres, em abril de 2009, no qual restou consolidada a

necessidade de maior coordenação em regulação econômica internacional.

A iniciativa do G-20, cristalizada na declaração final da reunião do grupo

inaugurou mudanças no regime vigente no sistema financeiro internacional. A criação

da Diretoria de Estabilização Financeira (Financia Stability Board) impôs regulação para

os fundos de alto risco e implantou um sistema de coordenação e controle de

informações entre os membros do grupo. O novo objetivo do regime é, claramente,

evitar a formação de novas crises.

“O Brasil foi um dos últimos países a entrar na crise e um dos primeiros a sair

dela”. Essa frase repetida várias vezes pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva foi

confirmada pelas multinacionais em solo brasileiro, algumas, como a Fiat (e

praticamente todas as montadoras), em plena crise tiveram crescimento. Entre janeiro e

setembro de 2008, as montadoras enviaram do Brasil para suas matrizes no exterior

4,8 bilhões de dólares, a título de lucros e dividendos, contra US$ 1,7 bilhão no mesmo

período do ano passado, configurando um aumento formidável, de 284%.

Page 20: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

6.CONJUNTURA ATUAL

Com o sucesso do plano Real, o Brasil se tornou um país que passa muita

confiança para as multinacionais, ocupando a terceira posição no ranking de preferencia

da UNCTAD (perdendo apenas para a China e a Índia) e já possuindo por volta de R$

1,52 trilhões de capital consolidado estrangeiro de acordo com o último senso do Banco

Central em 2005.

As provas de que o Brasil se tornou o paraíso para as multinacionais, não são

poucas. Algumas delas estão listadas abaixo, junto com justificativas para essa

mudança.

Nos últimos 12 meses, a agenda do presidente da americana Whirlpool na

América Latina, José Drummond Jr., esteve lotada. Para um executivo de seu porte, que

tem sob seu comando uma empresa com faturamento de US$ 4,7 bilhões e 14 mil

funcionários na região, isso faz parte da rotina. No entanto, a movimentação no

escritório central da Whirlpool, em são Paulo foi devido às visitas dos grandes chefões

da empresa.

Por lá passaram Jeff Fetting, Diretor Executivo (CEO) mundial da companhia, e

Mike Todman, vice-presidente internacional, o que tornou a já complicada agenda de

Drummond Jr. ainda mais apertada. A visita desses grandes executivos tem um motivo.

Page 21: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

A subsidiária brasileira da Whirlpool, dona das marcas de eletrodomésticos Brastemp e

Consul, e da fabricante de compressores Embraco, transformou-se na segunda maior

operação da empresa no mundo. Está atrás apenas dos Estados Unidos. "Tivemos um

ano melhor que o outro desde 2008", afirmou Drummond Jr. à DINHEIRO. "A trajetória

de crescimento no Brasil ainda não terminou."

O exemplo da Whirlpool é ilustrativo de uma nova fase no relacionamento das

multinacionais com o País. Antes, os executivos brasileiros precisavam gastar muitas

milhas aéreas em visitas às suas matrizes para tentar convencer os CEOs de que era

preciso investir aqui.

"Acabávamos sendo preteridos, porque a economia brasileira não inspirava

confiança." Todo-poderoso chefão da GE durante duas décadas, o legendário Jack

Welch deixou bem claro esse tipo de postura, mais de uma vez. Perguntado por que a

GE não investia mais no Brasil e na América Latina, Welch respondeu com franqueza

brutal: "Como é que posso investir num lugar onde você dorme sob uma lei e acorda

com outra?" Prova de que havia colocado a subsidiária na geladeira, sem trocadilho, é

que de 1981, quando assumiu o comando da GE, a 2001, ano de sua saída, Welch

visitou o Brasil apenas uma vez. Seu sucessor, Jeffrey Immelt, veio pelo menos uma vez

por ano, entre 2006 e 2010. Neste ano, virá duas vezes. 

"Hoje, não só a matriz tem aprovado praticamente tudo o que pedimos como a

própria matriz é que tem vindo até nós, ver o que precisamos", diz uma fonte qualificada

da GE brasileira. Embora o faturamento de US$ 2,6 bilhões ainda não coloque a

subsidiária no pódio da companhia americana, ela está no topo entre as de maior

potencial de crescimento. "Estamos com um pacote de US$ 550 milhões para

investimentos em energia e na área do pré-sal", diz o executivo.

Em outras palavras: o jogo virou (veja no gráfico).  Hoje, são os presidentes

mundiais que vestem a camisa do Brasil. Transformado em um dos eldorados das

multinacionais, o País tornou-se gente grande e disputa centavo a centavo com os seus

parceiros do Brics, como a China e a Índia, as montanhas de dólares que elas têm para

investir. Graças a uma classe média emergente, à melhoria de indicadores sociais e ao

crescimento de renda, o Brasil, e consequentemente as filiais locais, subiu de patamar.

Page 22: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

"O mercado brasileiro de eletrodomésticos deve ser o terceiro no ranking mundial em

breve, à frente do Japão e atrás apenas dos Estados Unidos e da China", diz

Drummond Jr.

(*) = Estimativa

Fonte: SOBEET/Banco Central do Brasil

Analisando a parte final do gráfico, percebemos que a um crescimento

considerável no IED de 2006 a 2008, em 2009 houve uma queda graças a crise

mundial, porém, quando comparamos a outros países percebemos está queda não foi

tão acentuada. Em 2010, os IED voltam a crescer e chegam a um nível próximo ao de

2007. E como, o acumulado dos últimos 12 meses, chegou ao recorde de US$ 60,4

bilhões, é plausível que a estimativa para esse ano esteja em US$ 65 bilhões.

Assim como a Whirlpool, a lista de empresas que têm o Brasil entre seus

principais mercados não para de crescer. A Telefônica já tem mais clientes no País do

que na sua sede na Espanha. A filial da Nestlé se tornou a segunda maior operação do

grupo suíço no ano passado. A Volkswagen vendeu mais carros no Brasil do que na

Alemanha em 2010. Só não superou a China. A Nivea vai ultrapassar as subsidiárias da

França e Itália este ano, ficando atrás apenas da matriz alemã. A americana Monsanto

Page 23: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

encontrou um terreno fértil no País para vender suas sementes transgênicas.

O Brasil é o terceiro mercado que mais compra softwares da alemã SAP. No caso

da anglo-holandesa Unilever, o País se transformou em vice-líder global, à frente da

matriz, perdendo apenas para os EUA. "Diziam que o Brasil era o país do futuro", afirma

o holandês Kees Kruythoff, presidente da subsidiária brasileira da Unilever. “Para nós, o

futuro já chegou”. É a mesma percepção do sócio da consultoria americana Booz &

Company, Ivan de Souza. "O Brasil se transformou no país das oportunidades.”

Toda essa movimentação das empresas multinacionais gera um ciclo

duplamente virtuoso. Por um lado, o investimento direto estrangeiro no Brasil deve

atingir o volume recorde de US$ 65 bilhões em 2011, segundo estimativas da Sociedade

Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet).

Essa cifra coloca o País abaixo somente dos Estados Unidos e da China, como polo de

atração de recursos. 

Por outro, a remessa de lucros e dividendos ao Exterior também cresceu. Em

2010, foram enviados para fora US$ 30 bilhões, patamar inferior apenas a 2008, período

mais agudo da crise financeira mundial. Por esse motivo, o Brasil se tornou também um

provedor de recursos financeiros para os países de origem das empresas

multinacionais, a maioria americanas e europeias, que ainda enfrentam uma lenta

recuperação em seus mercados de origem. "As matrizes cobraram crescimento e

rentabilidade do Brasil", afirma Giovanni Fiorentino, sócio da consultoria americana Bain

& Company.

As companhias que souberam enxergar as oportunidades do mercado brasileiro

conseguiram entregar às suas matrizes bons resultados. "A China tem mais de um

bilhão de habitantes", afirma Ivan Zurita, presidente da Nestlé. "O Brasil conta com 200

milhões de consumidores”. Em 2001, a filial era a sétima em faturamento no ranking

global da corporação. No ano passado, fechou em segundo lugar, com um faturamento

de R$ 17,3 bilhões. 

Assim como a de seu colega Drummond Jr., da Whirlpool, a agenda de Zurita

nunca esteve tão atribulada. "Temos muito para mostrar, para ensinar e as demais

unidades da companhia querem aprender", diz Zurita. Entre as lições está a maneira de

Page 24: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

fazer marketing para uma classe de consumidores emergentes. Cinco anos antes de a

baixa renda se tornar a coqueluche da economia nacional, os diretores da Nestlé já

estudavam os hábitos de consumo dos que ganham menos de cinco salários mínimos

por mês. E estudar, neste caso, não significou passar horas dentro do escritório lendo

pesquisas e analisando relatórios.  Zurita despachou um pelotão de executivos para

acampar, literalmente, na casa dos consumidores de baixa renda e entender suas

necessidades.

Em 2006, a empresa criou um projeto-piloto com 800 revendedoras andando pela

periferia de São Paulo com carrinhos estilizados com o logo da companhia e produtos

fracionados. Deu tão certo que hoje o sistema está implantado em 19 Estados, reúne

mais de 8,2 mil revendedoras, e representou um acréscimo de R$ 1,3 bilhão no

faturamento da empresa em 2009, último dado disponível. "Na Suíça, nos chamam de a

subsidiária do marketing", diz Zurita. 

Se para algumas companhias o marketing é fundamental, para outras o

investimento em tecnologia é o segredo do sucesso. Desde 1998, a espanhola

Telefônica já investiu R$ 57,4 bilhões na ampliação de sua rede e da oferta de serviços.

Com a compra do controle da operadora de telefonia celular Vivo, por E 7,5 bilhões em

2010, a Telefônica se transformou no maior grupo do País. 

Mais: sua carteira de clientes chegou a 76 milhões, número superior aos 46

milhões de habitantes da Espanha. Mesmo assim, a receita da matriz espanhola ainda é

maior do que a que vem do Brasil. "Temos potencial de passar a Espanha", diz Antônio

Carlos Valente, presidente do grupo Telefônica no País. É bem provável que isso ocorra

em um espaço relativamente breve de tempo. No ano passado, o faturamento do Brasil

cresceu 33% (o dado inclui o desempenho da Vivo).  Na Espanha, caiu 5,5%. É por

esse motivo que a companhia promete aplicar R$ 24,3 bilhões até 2014 nas operações

locais, um aumento de 52% sobre o total investido nos quatro anos anteriores. "Cerca

de 70% dos investimentos serão destinados a novos negócios neste ano", afirma

Valente. Outro sinal de que o Brasil chegou a um novo patamar para os espanhóis foi o

anúncio de criação de um centro de inovação, o primeiro da companhia fora da

Page 25: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

Espanha.

Ter um centro de inovação é um privilégio das subsidiárias que ganham

relevância. Esse é o caso da americana Monsanto. Em 2008, o Brasil assumiu a

condição de segundo mercado da companhia. Globalmente, a empresa faturou US$

10,5 bilhões no ano passado. No período, a contribuição do País foi de R$ 2 bilhões.

Esse desempenho fez a filial conquistar algumas "regalias" da matriz. Uma delas foi a

instalação de um laboratório de pesquisa em Campinas (SP), que concentra o estudo

mundial na área de cana-de-açúcar. Experimentos feitos por aqui já colaboram com a

empresa em nível global.

É o caso da segunda geração da soja RR, considerada um marco na história da

Monsanto. Essa semente foi concebida de olho no mercado brasileiro, algo inédito na

história da empresa, que sempre teve como prioridade os agricultores americanos.

Tratar com tanto interesse o Brasil tem um motivo. "A meta da companhia é crescer,

globalmente, entre 13% e 17% por ano na próxima década", afirma André Dias,

presidente da Monsanto do Brasil. "Por ser uma região emergente, o País deverá

avançar acima desse patamar." Se isso de fato acontecer, o País poderá assumir o

posto de número 1 da companhia em um futuro próximo. "Estamos recuperando o

atraso de quase 30 anos em relação aos Estados Unidos, que lançaram mão da

biotecnologia há muito tempo para ampliar a produtividade de sua agricultura", diz Dias. 

Quem não precisa recuperar o tempo perdido é a alemã Nivea. Até o final do ano,

ela deve se transformar na segunda maior operação do grupo Beiersdorf, dona da

marca, que faturou E 6,2 bilhões globalmente em 2010. Seus produtos são

comercializados há um século no Brasil. Mas não há sinais de acomodação e

envelhecimento, tanto que a estimativa é lançar 35 novos produtos em 2011.

A filial da SAP, outra empresa alemã que está há menos tempo no Brasil do que

a Nivea, já alcançou uma posição de destaque. Inaugurada em meados da década de

1990, ela já é o terceiro maior mercado da companhia, atrás da Alemanha e dos

Estados Unidos. Em pouco mais de 15 anos, a maior desenvolvedora de softwares

corporativos do mundo aproveitou-se de uma peculiaridade do mercado brasileiro para

Page 26: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

crescer: a enorme base de computadores de grande porte instalados nas empresas. 

Essas máquinas, consideradas antiquadas, precisavam ser substituídas por

outras mais modernas, que rodavam o software da SAP. "Há ainda muitos sistemas

antigos, que precisam ser atualizados, no Brasil e na América Latina", diz Sanjay

Poonen, presidente global de estratégias de mercado da SAP.

Patinho feio até pouco tempo atrás, o Brasil precisa agarrar as oportunidades

trazidas pela mudança do jogo. A entrada de dinheiro novo para bancar os planos de

implantação de novas empresas ou de expansão das que já estão estabelecidas deve

ser saudada como uma vitória na final da Copa do Mundo. Os recursos que estão

entrando vão se transformar em mais empregos e renda para os trabalhadores,

garantindo sua ascensão social. Ao mesmo tempo, eles também ganham como

consumidores. "Haverá melhoria da qualidade dos produtos oferecidos internamente",

diz Ricardo Torres, professor de finanças da Brazilian Business School.  "Isso vai

obrigar as empresas brasileiras a evoluir para competir no mesmo nível”.

Ao virem para cá, as multinacionais trazem consigo novos métodos de gestão e

inovação tecnológica, que inevitavelmente se espraiam pela cadeia produtiva. "Esse

movimento coloca o Brasil na fronteira tecnológica dos mais variados campos", afirma

Fábio Silveira, economista e sócio-diretor da RC Consultores. A bola agora está na

marca do pênalti. É só chutar e sair para a comemoração com a torcida.

7.PERSPECTIVAS PARA O FUTURO

7.1.COTAÇÃO DO DÓLAR

Page 27: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

O Brasil se encontra em uma situação muito peculiar com relação ao capital

estrangeiro, enquanto o dólar no mundo sobe, no nosso país, enfrentamos um longo

período de desvalorização dessa moeda. No que diz respeito à economia, isto é um

grave problema (já que nosso país tem boa parte da sua economia baseada na

exportação de commodities), que o Governo e o Banco Central tentam solucionar. A

primeira tentativa foi a cobrança de 6% de IOF sobre as contratações de empréstimos

externos de curto prazo (até 720 dias), de abril para cá, que fez praticamente

desaparecer o endividamento de curto prazo, o que melhorou, na margem, o perfil da

dívida externa. Porém, não foi suficiente para convencer os bancos a não buscar

recursos em moeda estrangeira para alimentar o crédito doméstico.

Graças a essa medida, houve uma pequena desvalorização atual do real, pois,

se neste ano o saldo acumulado de entradas foi de US$ 37,1 bilhões, ante US$ 5

bilhões no mesmo período do ano passado, favorecendo a valorização da moeda

nacional, no mês de abril o saldo positivo caiu para US$ 1,541 bilhão, ante uma média

mensal de US$ 11,8 bilhões no primeiro trimestre.

A cotação do dólar não é um problema direto para as multinacionais, o problema

é o que o governo vai precisar fazer para controlar a queda da moeda mais importante

do mundo. E o quanto essa situação pode influenciar na balança comercial brasileira, e,

logicamente na economia.

Page 28: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

7.2.GOVERNANÇA

Um bom exemplo de como os investidores tem receio de investir capital em

empresas cuja ligação com o governo seja muito estreita é o da Vale, que anunciou um

lucro bem considerável R$ 11,291 bilhões no primeiro trimestre do ano, valor recorde,

com uma alta de 325,6% em relação ao mesmo período do ano passado, informou a

empresa em comunicado emitido ao mercado no dia 05 de maio deste ano. Verdade

que os preços do minério de ferro estiveram no pico em janeiro e fevereiro. Mas é

verdade, também, que a Vale é uma companhia bem administrada, capaz de aproveitar

as oportunidades do mercado.

Entretanto, suas ações em bolsa se têm valorizado menos do que as das

concorrentes multinacionais. A causa? Governança. Ou seja, séria desconfiança em

relação aos futuros resultados da empresa, dada a ostensiva interferência do governo

Dilma no comando da companhia (escolha direta do novo presidente da empresa Murilo

Ferreira). Se um presidente foi escolhido por mera pressão governamental (não

menosprezando o escolhido, que por sinal parece ser bem competente), o que impede

que medidas diminuidoras do lucro da empresa sejam tomadas para que os interesses

do governo continuem sendo assegurados.

Page 29: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

Esse é um problema que afeta o crescimento (agregação de valor) das

multinacionais brasileiras. Porém, não afeta as empresas globais na sua totalidade e

assim esse ponto não influencia os investimentos no brasil.

7.3.CONCLUSÃO PARA AS PERSPECTIVAS DAS MULTINACIONAIS NO BRASIL

Com esses dados, se o governo não errar ao fazer o controle da cotação do

dólar, o Brasil deve continuar a receber investimentos sólidos das multinacionais, que,

ao perceberem o crescimento da classe C e D, investem cada dia mais para atender

essa demanda. Dessa forma, o futuro das multinacionais no Brasil é mais do que

promissor, é brilhante.

8.CONCLUSÃO

Page 30: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

É importante salientar o quanto as empresas multinacionais são importantes no

que diz respeito à apropriação tecnológica no Brasil, sem elas provavelmente o

brasileiro precisaria comprar vários produtos, via importadoras, o que deixaria o

processo muito caro, e inviável para muitos.

Porém, nem tudo são flores, como foi apresentado, o modelo implantado nos

países em desenvolvimento (amplamente utilizado no governo de Juscelino Kubistchek)

deixou que as grandes multinacionais explorassem o país sem que houvesse um ganho

tecnológico para as empresas nacionais, o Brasil conseguiu a inovação, mas com ela

veio a dependência eterna das empresas globais. Hoje, dentre os países em

desenvolvimento, a política que mais obteve sucesso nessa relação, provavelmente, é

a da China (tantas são as dúvidas com relação a esse país que não podemos afirmar

com veemência).

Porém, esse panorama poderia ser um pouco diferente. Se no governo Collor o

Estado tivesse focado em fortalecer o mercado interno sem abrir a economia para a

entrada indiscriminada de capital estrangeiro. Provavelmente, hoje, teríamos várias

empresas, de capital nacional, competitivas com relação às grandes multinacionais.

Para piorar a situação, o governo de FHC querendo implantar uma política Neoliberal

iniciou um processo de sucateamento das empresas nacionais, pra que posteriormente

pudesse ter um pretexto para vendê-las ao capital privado. É, mais o passado não pode

mais ser alterado, e, dessa forma, podemos apenas analisá-lo e perceber em que

momentos cometemos erros grosseiros, como esses, para que nunca mais eles se

repitam.

Page 31: A influencia das multinacionais na industrialização do Brasil

Assim, a multinacional sempre vai ter o seu caráter paradoxal, ela atualiza a

tecnologia do país criando em suas subsidiárias “bolhas” tecnológicas, sendo papel das

matrizes o investimento maciço em pesquisa e desenvolvimento (utilizando-se de

convênios com universidades de seu país de origem). Porém, como elas movimentam

juntas boa parte do capital financeiro mundial teremos que nos conformar e conviver

com elas, e, para isso, precisamos entendê-las.

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