as agências de propaganda, o golpe e a ditadura militar
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DossiêNovasFacesdoPoder–http://revistaecopos.eco.ufrj.br/–ISSN2175-8689–v.22,n.2,2019.DOI:10.29146/eco-pos.v22i2.26228
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Asagênciasdepropaganda,ogolpeeaditadura
militarbrasileiraAdvertisingagencies,thecoupandBrazil’smilitarydictatorship
DavidAntonioCastroNettoÉdoutoremHistóriapeloProgramadePós-GraduaçãoemHistóriadaUniversidadeFederaldoParaná.PesquisahistóriadoBrasilRepública,comênfasenoperíododaditaduramilitarenassuasrelaçõescomocampodacomunicaçãoedapropaganda.
Submetidoem14deJunhode2019Aceitoem10deAgostode2019
RESUMOOobjetivodestetextoédiscutirqualopapeldasagênciasdepropagandaduranteumafase da ditadura militar brasileira, 1964-1968. Primeiro, qual seu papel no períodoanterior ao golpe (1963 - 1964); segundo, como foi sua atuação na produção dediscursosque,dealgumamaneira,dessemsustentaçãoàatuaçãodogoverno.Apartirdaanálise de algumas campanhas e da posição das instituições de classe, procuramosdemonstrar que os profissionais da propaganda, as agências e as campanhas já semostravamalinhadosàditaduramilitar,antesmesmodacriaçãodaagênciaoficialem1968.Palavras–chave:Propaganda;DitaduraMilitar;AgênciasdePropaganda.ABSTRACTThepurposeofthispaperistodiscusstheroleofadvertisingagenciesduringaphaseoftheBrazilianmilitarydictatorship,1964-1968.First,whatroledidtheyplayinthepre-coupperiod(1963-1964)and,second,howtheyproduceddiscoursesthatsupportedthegovernment'sactions.Fromtheanalysisofsomecampaignsandthepositionoftheclassinstitutions, we tried to demonstrate that the propaganda professionals, the agenciesandthecampaignswerealreadyalignedwiththemilitarydictatorship,evenbeforethecreationoftheofficialagencyin1968.Keywords:Advertising;MilitaryDictatorship;AdvertisingAgencies.
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RESUMENEl objetivo de este texto es discutir cuál es el papel de las agencias de propagandasduranteunafasedeladictaduramilitarbrasileña,1964-1968.Primero,cuálessupapelen el período anterior al golpe (1963-1964); segundo, cómo fue su actuación en laproducción de discursos que, de alguna manera, dieran soporte a la actuación delgobierno.Apartirdelanálisisdealgunascampañasydelaposicióndelasinstitucionesdeclase,procuramosdemostrarquelosprofesionalesdelapropaganda, lasagenciasylas campañas ya se mostraban alineados a la dictadura militar, antes incluso de lacreacióndelaagenciaoficialen1968.Palabras-clave:Propaganda,DictaduraMilitar,AgenciasdePublicidad
Introdução
Passados mais de 50 anos do golpe militar de 1964, um conjunto robusto de
pesquisas conseguiu avaliar de quemaneira o contexto social brasileiro degenerou a
ponto de a saída golpista ter sido viabilizada, não apenas pelas Forças Armadas,mas
tambémporumconjuntoamploeheterogêneodeforçaspolíticas.
Ocampodacomunicaçãotambémfaziapartedestecomplexojogodeforçasque,à
suamaneira,agiuereagiuaoconturbadoperíodoquevaidarenúnciadeJânioQuadros
aogolpemilitariniciadoem31demarçoefinalizadoem01deabrilde1964.
São muitos e sólidos os estudos que procuram dimensionar o papel de alguns
meiosdecomunicação,especialmenteaatuaçãoda imprensaescritanaconstruçãoda
imagem“esquerdista”, “ditatorial”, “golpista”ou“antidemocrática”.AutorescomoSilva
(2014)atéavançamnaexpressão “golpe-midiático-civil-militar”,para reforçaropapel
importantedosmeiosde comunicaçãona campanhadevastadora contra JoãoGoulart,
sobretudoapartirdojornal“TribunadaImprensa”.Outroscampostambémsão/foram
dignos de pesquisas e análises profundas, como o cinema (ASSIS, 2001) e mesmo a
atuação da própria Associação Brasileira de Imprensa (ROLLEMBERG E QUADRAT,
2010).
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Por outro lado, também é notório o papel da comunicação na defesa de João
Goulart, a partir da “Campanha da Legalidade”, organizada por Leonel Brizola, que
contou com apoio e a construção de uma cadeia de rádios para tentar enfrentar as
informações produzidas pelo campo alinhado à fração golpista da direita e extrema
direitabrasileiras.
Comoépossívelapreender,existeumadiscussão,tantonocampodacomunicação,
quantoforadele,arespeitodaquiloquepodemoschamarde“disputacomunicacional”
paragarantirumaaçãolegitimadadoespectrovencedor.Adecisãoautoritáriajáhavia
sidoclamadapelosjornaisdegrandecirculação,comooGloboeJornaldoBrasil,oqueé
mais um elemento que demonstra a importância que a comunicação tinha naquele
cenário.
Contudo,existeumcampoaindapoucoexplorado,aomenosnoquedizrespeitoà
formacomocontribuiuparaaconstruçãodelegitimidadeantesedepoisdogolpemilitar
de 1964: o campo das agências de propaganda, seus profissionais e instituições de
classe. Este será o objetivo deste texto: examinar de que maneira as agências de
propaganda e suas instituições contribuíram na campanha de desestabilização do
governo JoãoGoulart e durante operíodode1964–1968, antesda criaçãoda agência
oficial–aAssessoriaEspecialdeRelaçõesPúblicas(AERP)–,produzindodiscursosque
sealinhavamàspropostasdaditadura.
Paracumprir taisobjetivos,utilizaremos,basicamente,umconjuntodemateriais
recolhidosnoperiódicoPropaganda, não apenaspor ser omais antigo,mas, também,
por sua recepção no meio publicitário e circulação. Ali encontramos não apenas as
campanhas institucionais das agências, como também a posição das instituições que
representavampartesignificativadomercadopublicitáriobrasileiro.
Aditaduramilitareapropagandabrasileira:doapoioaogolpeà legitimaçãoda
ditadura
A relação entre as agências e a ditadura militar brasileira começou a ser
construída a partir da aproximação entre os golpistas e uma de suas principais
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instituições de classe, a Associação Brasileira de Agências de Publicidade1 (Abap). No
imediatopós-golpe,umgrupodemilitareschefiadospeloGal.MoacyrGaiaeocoronel
ArakendeOliveirasolicitouàAbapacriaçãodeumacampanhapublicitáriacujasmetas
eram“desarmarosespíritos”e“serenarosânimos”naquelemomentodeincerteza.
De acordo com Cadena (2001), o resultado dessa aproximação foi a criação do
Serviço deDifusãoDemocrática (SDD), cujas incumbências se aproximavamàs de um
órgão de relações públicas, a partir da produção de boletins diários. Ainda que o
trabalho do SDD tenha sido efêmero, representou a primeira aproximação entre
ditaduraeagênciasdepropaganda.
OutrainstituiçãodeclasseasemanifestarfoiaAssociaçãoPaulistadePropaganda
(APP).AAPPpatrocinou,juntoàagênciaJ.W.Thompson,umanúnciointitulado“ÀBeira
doAbismo”.Oanúncioressaltavao “alívio”daAPPapósaderrubadadogoverno João
Goulart e projetava novas possibilidades para o Brasil. A revista Propaganda abriu
espaçoparaacirculaçãodoanúncionaediçãonúmero98,maiode1964:
1 Em reunião realizada em23de fevereiro de 1949 entre os proprietários das 11maiores agências doBrasil,discutiu-seaideiadacriaçãodoórgão.AABAPnasciaem1ºdeagostode1949,comsedenoRiodeJaneiro,etevecomoprimeiropresidenteAldoXavierdaSilva.Osobjetivosdainstituiçãoeramdefenderonegóciodapropagandaeregulamentarosetor.AABAPestevepresenteemtodasasgrandesdecisõesdahistória da propaganda brasileira, como regulamentação das comissões, a organização dos primeiroscongressosdepropagandaeacriaçãodoConar.
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Figura1-AnúncioAPP:
Fonte1:RevistaPropaganda,maio,1964,s/p.
Emborasoasseenigmático,oanúncioiaaoencontrodasoutrasmanifestaçõesem
favordaaçãodosgolpistas.Odestaquevaiparaaúltimaestrofequeapostavanofuturo
glorioso, tendo em vista a ultrapassagem do “momento chave”, representado pelo
governoGoulart.Essaperspectivaotimistaaindaencontravaespaçoparasemanifestar
àmedidaqueasociedadesesentiaatorprincipaldosnovosrumosqueoBrasiltrilharia.
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O editorial da revista ressalta o caráter “necessário” da intervenção militar na
políticabrasileira.Numamisturadelamentopelaausênciadeliderançasmaisatuantes
no setor da propaganda, preocupação com o “projeto estatizante” de João Goulart e
comemoraçãopelasaídaencontrada:
Antes da Revolução recente, havia preocupação nosmeios publicitários. Nãosemmotivos,receava-sepelaestatização(?)daatividade.Comtodoocoroláriofácil de prever. A coleção de nossos números editados desde abril de 1963,testemunha a nossa própria preocupação. Principalmente pela tranquilidadecom que as associações de classe, líderes da profissão, deixam correr osacontecimentos.Sóquandoprincipiouafaltaroaréqueumaououtrajanelafoiaberta, para o esclarecimento e a definição da independência, da ética, dasintoniadapublicidadecomomomentoeosproblemasdopaís2.
O corolário de tais aproximações deu-se com a criação do ConselhoNacional de
Propaganda(CNP),em02dejunhode1964,emassembleiarealizadanasededaAPP.De
acordocomCadena(2001,p.157),“arevoluçãoamadureceaideiadacriaçãodentroda
classedeumórgãoqueelaborecampanhas institucionaisparaesclareceraverdadeira
funçãodapropaganda”.
O CNP foi formado por anunciantes, agências de propaganda e veículos de
divulgação, e seus objetivos iam além da defesa da propaganda. Entre o rol de suas
prerrogativasestava“arealização,semfinslucrativos,decampanhasdecarátercívico,
socialefilantrópico”3.
No editorial de maio de 1964, a revista salientava o papel que o CNP deveria
exercer, sobretudo devido à sua “preocupação de esclarecer autoridades e público”4
sobreosimportantesbenefíciosquetrariaparaadefesadosetorcontraastentativasde
controledoseventuaisgovernos.OCNPpatrocinoudiversascampanhas“apolíticas”ede
cunho cívico. É provável que seuprincipal trabalho tenha sido a “CampanhaNacional
pelaLivreIniciativa”,veiculadaduranteosanos1979–1989.
As campanhas do CNP podem demonstrarmuito pouco de apolítico emuito de
ideológico.DestacamosumanúncioveiculadonarevistaVeja,em16/04/1969:
2RevistaPropaganda,nº98,maio1964,p.11.3RevistaPropaganda,nº99,junho1964,s/p.4RevistaPropaganda,nº98,junho1964,p.11.
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Figura2:AnúncioConselhoNacionaldePropaganda:
Fonte2:RevistaVeja,abril,1969,p.10.
O CNP começava a veicular a ideia que marcaria os “anos de chumbo”. Nessa
construção,ogovernoGoularte,emúltimaanálise,osgovernoscivisforamentendidos
como caóticos e incapazes de conduzir o Brasil no cumprimento do seu “destino
glorioso”.Por suavez,osgovernosmilitares, ao implantarema “ordem”,pautadapela
“hierarquia”,teriamcomoresultadoosucessoeconômico.
Nesta linha de raciocínio, o progresso seria um produto da autoridade imposta
peladitaduramilitar.Apartirdetalperspectiva,osgovernoscivisseriammarcadospela
má gestão administrativa, os partidarismos políticos, além dasmazelas da corrupção.
Por sua vez, o governo acreditava operar fora de tais marcos, promovendo o que
acreditavamserumagestãoracional.
Esse raciocínio sugere uma leitura simplista dos conceitos de autoridade e
autoritarismo. Como sugere Hannah Arendt (2016), o exercício da autoridade é
confundidocomamanifestaçãodealgumtipodepodereaexigênciadousodealguma
formadeviolência,físicaousimbólica.
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ParaArendt,aautoridadeprescindedequalquerformadeviolência,umavezque
opera nos marcos da persuasão argumentativa, o que pressupõe uma igualdade de
posições de fala. O autoritarismo, por sua vez, opera nos marcos da hierarquia e da
repressão, e a obediência, portanto, é obtida tanto pela opressão quanto pela
desigualdadedolugardefala:
Contra a ordem igualitária da persuasão ergue-se a ordem autoritária, que ésemprehierárquica. Seaautoridadedeve serdefinidadealguma forma,devesê-lo, então, tanto em contraposição à coerção pela forma como à persuasãoatravés de argumentos. (A relação autoritária entre o que manda e o queobedecenãoseassentanemnarazãocomumnemnopoderdoquemanda;oqueelespossuememcomuméaprópriahierarquia,cujodireitoelegitimidadeambos reconhecem e na qual ambos têm seu lugar estável predeterminado).(ARENDT,2016,p.133)
Acampanhadialogavacomonacionalismotípicodaditaduramilitaraoressaltara
potencialidadedoterritórionacional,aomesmotempoemqueconvocavaapopulaçãoa
“marcharconosco”.Essenacionalismopodeseranalisadonumaescalaascendente,cujo
augeserianosanos1970,tantonaformado“nacionalismoingênuo”do“Paísquevaipra
frente!”,quantonoformatoautoritáriodo“Brasil:ame-ooudeixe-o!”,patrocinadopela
OperaçãoBandeirantes(OBAN)5.
As agências e as instituições de classe procuraram, cada vez mais, participar
ativamentedo“novogoverno”.EmmeioaosdebatesdapreparaçãoparaoIICongresso
BrasileirodePropaganda(23–28defevereirode1969),algunslíderesdapropaganda
brasileira semanifestaram, tanto no sentido de defender a propaganda das possíveis
interferências do Estado (censura) quanto das possibilidades de sua utilização como
partefundamentalparaosucessodopaís.
EmentrevistapublicadapelarevistaPropaganda,RenatoCasteloBranco(diretor
da J. W. Thompson e um dos fundadores do CNP) reivindica para a propaganda a
capacidadede“ilustrar”asmassas:
5Criadaem1969, tinha sedeno2ºBatalhãodeReconhecimentoMecanizadodaPolíciadoExército,nacapital paulista. Sua ação era articulada com aDops, Exército,Marinha e Aeronáutica. Seu objetivo eraintegrar a repressão contra os partidos de extrema esquerda, ainda realizada demaneira fragmentadapelasdiversasagências.AOBANconseguiufinanciamentodediversosempresáriospaulistaspormeiodaatuaçãodaFIESP.Emmarçode1970,nogovernoMédici,suaatuaçãofoiampliadapormeiodacriaçãodosistemaDOI-CODI.
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Um dosmaiores problemas da sociedademoderna”, prosseguiu Castelo, “é acomunicação. Do produtor com o consumidor, do empregador com oempregado,doprofessorcomoaluno,dospaiscomosfilhos,doGovêrnocomopovo.Comunicarbeméumdosgrandessegrêdosdoêxitoemnossasociedade.E a propaganda é, por excelência, a técnica de comunicar. Na atual fase daevolução social do Brasil, poucas atividades poderiam dar uma contribuiçãomaisdecisiva.Háumanecessidadeurgentede informaraopovo,emtodosossetores:econômico,socialepolítico.Eoscaminhosdopovovãodepender,emgrandeextensão,dacapacidadedosdirigentesdeinformá-lo,educá-lo,atravésdacomunicação6.
Em seguida registra a importante participação da propaganda brasileira na
aceleraçãoenoaumentododesenvolvimentoeconômico.ParaRenatoCasteloBranco,a
propagandamereciaumlugardedestaquenahistórianacional:
Ainda está por ser devidamente estudado o papel que os homens depropaganda desempenharam no estímulo e aceleramento dêste processoevolutivo.Masumdia,nahistóriadodesenvolvimentoindustrialecomercialdoBrasil, haverá um importante capítulo dedicado à contribuição dospublicitários, neste quarto de século, para o desenvolvimento das indústrias,para o lançamento e aprimoramento de produtos, para a difusão de novoshábitos,paraaeducaçãodoconsumidoreaexpansãodomercadobrasileiro7.
OsobjetivosapontadosporRenatoCasteloBrancoestavamemacordocomvárias
dasobservaçõesdoManualBásicodaEscolaSuperiordeGuerra.Permaneciaaideiade
queestesujeitoamorfo,chamadode“povo”,deveriaserguiadoetuteladoe,seassimo
fosse,RenatoCasteloBrancoabririaasportasparaacontribuiçãodapropagandaemtal
empreitada.
Outrodestaquerelevanteeraanecessidadedeapropagandadeixarsuamarcana
execuçãodoprojeto“Brasilpotência”.Oapelo finaldodiretordoCNPeraparaqueos
publicitáriosparticipassem,defato,dapolíticanacional:
Proponhoqueoshomensdepropagandasejammobilizadosparaoestudodosproblemas de comunicação internos e externos do país: para os esforçosnacionais de promoção, nas áreas de turismo, exportação e propaganda noexterior. Para funções de assessoria e funções executivas adequadas nosMinistérioseGovernosdosEstadosedaUnião8.
Emjaneirode1968,MauroSalles(Salles-Interamericana),enquantopresidenteda
AssociaçãoBrasileiradePropaganda(ABP),jáapresentavaasqualidadesdapropaganda
brasileiraeaintensaparticipaçãodestanavidanacional:6RevistaPropaganda,nᵒ145,junho1968,p.24.7Idem.8Idem.
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ApropagandanoBrasiléumaatividadeeconômicaqueaplica500milhõesdecruzeirosnovosporanoparaajudaraindústriaeocomércioavenderosseusprodutos. Somos os profissionais da prosperidade, os aceleradores dodesenvolvimento, osmultiplicadoresde riqueza, os educadoresdobem-estar,osapologistasdacompetiçãosadia,ossentinelasavançadosda livreemprêsa.Osnossosestudos,asnossaspesquisas,osnossosplanejamentossãocadavezmaisnecessáriosemummercadoqueaospoucossedespededeumainflaçãomutiladora. Os nossos investimentos na imprensa, no rádio, na televisão seconstituememfavorimprescindívelàsobrevivênciadaliberdadedeexpressão,semaqualnãosobreviveumregimedemocrático9.
A projeção de resultados econômicos positivos para o início da década de 1970
manteveelevadoootimismodasagências.Váriasdelasencamparamascampanhasdo
CNP que procuravam engrandecer as riquezas nacionais, o trabalho e a coragem dos
empresários. Colocavam-se, assim, em defesa dos benefícios da “revolução de 1964”.
Doisanúnciosretratamcomclarezaoespíritodaqueletempo.Oprimeiro,intitulado“O
Brasil está à beira do abismo”, foi publicado em 1969 pela Salles-Interamericana, e
ocupouapáginainteirano“JornaldoBrasil”.
9 Mauro Salles. Discurso pronunciado em nome da Associação Brasileira de Propaganda na “Festa daPropaganda”, realizada no Rio de Janeiro em homenagem ao Dia Pan-americano de Propaganda. In:RevistaPropaganda,nᵒ140,janeirode1968,p.58.
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Figura3:-AnúncioMauroSalles-Interamericana:
Fonte3:JornaldoBrasil,12/01/1969.
Inspirado em anúncio parecido ao da APP, a agência procurou desconstruir o
“mito”dequeopaísestavaenfrentandodificuldades.Osubtítulodoanúncio, “paraos
pessimistas, saudosistas,oscomodistaseosderrotistas”, indicavao “públicoalvo”.No
decorrer do anúncio eram desconstruídas as “versões” do esgotamento econômico e
apresentadosaquelesque“falamalinguagemsimpleseobjetivadeumBrasilGrande”.
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Aanálisedoanúnciodemonstraqueaagênciafaziaopapeldeumórgãoestatalde
propaganda (ainda que a AERP já estivesse em funcionamento), e trazia informações
como o crescimento do PIB, receita da União, exportações, aumento de depósitos
bancários, resultados agrícolas, misturadas com os resultados dos índices de
escolaridade,pavimentaçãoderodoviaseconstruçãodeferrovias.
Oúltimoparágrafoéumaassertivacontraaquelesqueserecusavama trabalhar
pelo Brasil: “É o Brasil caminhando para frente. Bem depressa. Em ritmo de Brasil
Grande. Contra a opinião dos pessimistas, dos saudosistas, dos comodistas, e dos
derrotistas”.
O anúncio teve grande impacto. A revista Propaganda dedicou um número
especial, lançadoemjaneirode1970,paraveicularosanúnciospremiadosem1969.A
campanhada agência recebeu o prêmio deMelhorAnúncio doAno.De acordo coma
revista,
Êsteanúncio,publicadonosprimeirosdiasdejaneirode1969,foiumagrandemanifestaçãodeotimismoeconfiançanopaíseteveoméritodelançaroslogan“Ritmo de Brasil Grande” que depois foi adotado pelo próprio governo paracaracterizar os seus objetivos.Mais de uma centena de anúncios de tôdas asagências utilizaram posteriormente a expressão lançada na peça publicitáriaquemereceuindicaçãounânimecomooAnúnciodoAno196910.
A história da agência Mauro Salles Publicidade, posteriormente Salles–
Interamericana,épermeadadeligaçõespolíticas.MauroSalleséfilhodeApolônioJorge
deFariaSalles,ministrodaAgriculturaentre1942–1945,senadorporPernambucoem
1947,enovamenteministrodaAgriculturaem1954,nosegundogovernoVargas.Mauro
Sallesera formadoemdireitopelaPontíficeUniversidadeCatólicadoRiode Janeiroe
especialistaemjornalismo.
Sua atuação no jornalismo começou na redação das revistasO mundo eMundo
Ilustrado.Em1950,foitrabalharcomosubchefedereportagemdojornalOGlobo,onde
mantinha uma coluna sobre automóveis e aviões. Depois, ingressou na Alcântara
Machado e passou a cuidar da conta da Volkswagen. Em 1961, assumiu a cadeira de
10RevistaPropaganda,s/nº,janeiro1970,s/p.
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secretáriodoConselhodeMinistros,duranteoperíodoemqueTancredoNevesocupou
ocargodePrimeiroMinistro.
A partir daí, sua carreira na propaganda teve uma escalada impressionante. Em
1964,jáerachefedaredaçãod’OGlobo;noanoseguinte,assumiuocargodediretorda
recém-inauguradaTVGlobo.Em1965, organizou a campanhade lançamentodoAero
WillysLuxo,pormeiodorecém-criadoGrupoTécnicodePropaganda.Paraaexecução
dacampanha,MauroSallesintroduziuomerchandisingnoBrasil.
O sucesso da campanha sacramentou a sociedade entre Mauro Salles e a
montadora, que entrou com 20% do capital para a criação da nova agência, aMauro
Salles Publicidade. Aliado à conta damontadora, recebeu clientes como a Associação
BrasileiradeCimentoPortland,aCastroldoBrasileaCompanhiaGuanabaradeCrédito.
Em1967,aMauroSallesPublicidade fundiu-secomaArmandoD’Almeida, surgindoa
MauroSalles-InteramericanadePublicidadeS/A.
Em 1967, passou a dirigir a revista Propaganda e foi eleito o presidente da
Federação Brasileira de Publicidade e da Associação Brasileira de Propaganda, onde
ficou até 1969. Foi o principal articulador do II Congresso Brasileiro de Propaganda,
realizadoem1969.Em1970foieleitooHomemdePropaganda,eem1972recebeuo
prêmioPublicitáriodoAno.Em1977,emmeioatentativasdesecensurarapropaganda,
foi um dos principais responsáveis pela elaboração do Código Brasileiro de Auto-
regulamentaçãoPublicitária(CONAR),sendooseuprimeirorelator.Nadécadade1980,
MauroSallesfoiumdoslíderesdacampanhadeTancredoNeves,sendooorganizador
doComitêNacionalPublicitárioPró-TancredoNeves.
MauroSalles,portanto,foiumatorhistóricoquesemprepermaneceupróximoàs
instâncias de decisão política, fosse no governo Goulart (quando foi ministro da
Indústria e Comércio), durante os anosdaditaduramilitar (veiculandomensagensde
otimismo como essa) ou já no desmonte da ditadura (com a intensa participação na
campanhaeleitoraldeTancredoNeves).
Oanúncioquedestacamosapresentaumaspectoimportantedarelaçãoagências-
ditadura.Existe,evidentemente,umaexplicaçãoeconômica–aproximidademantémo
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acessoàscontaspúblicas–,porémtambémumaexplicaçãoideológica–oalinhamento
políticoentreasagênciaseaditadura.Em1975,arevistaVejaveiculouumareportagem
sobre o que os empresários esperavam do governo Ernesto Geisel. Caio Alcantâra
Machado, sócio de Mauro Salles na agência, respondeu: “segurança, somente
segurança”11.
Osvínculos ideológicosentreasagências,ogolpeeaditaduramilitarpodemser
observadosemtodooperíodo,emboraemalgunscasossejammaisclaros,comooda
Norton Propaganda S/A. É possível rastrear o papel da agência desde o contexto
imediatamenteanterioraogolpemilitarde1964.
O fundador da empresa, GeraldoAlonso, eramembro ativo da seção paulista do
Ipes (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais). Em conjunto com outras agências,
organizava, juntoaosanunciantes,odesviodasverbasdepropagandaparaoinstituto.
Dreifuss (2008, p.221-222), ao analisar a organização da contribuição para o Ipes,
afirma:
Umaformamuitoimportantedecamuflarasdoaçõeseraatravésdeempresasde relações públicas e de propaganda que controlavam os chamados“orçamentos invisíveis” de grandes corporações, orçamentos estes querepresentavam vultosas somas de dinheiro. O que as companhias poderiamfazer seria canalizar suas participações através de fundos assinalados comoorçamentos para propaganda comercial e relações públicas por meio dasagências que apoiavam o IPES. Outra alternativa seria as grandes empresaspagaremantecipadamenteosseuscontratosdedozemesescomasagênciasderelações públicas, que daí canalizariam os fundos, bem como contribuiriamfinanceiramente com suas próprias fontes. Tal operação não seria muitocomplexa, já que muitos dos associados do IPES eram proprietários oudiretoresdeagênciasdepublicidadeemanipulavamascontasdecorporaçõesmultinacionais e associadas, cujos donos dirigentes também eram associadosdoIPES.
Dreifuss(2008)destacaaindadiversosdiretoresdeagênciasqueparticipavamde
reuniões e ofereciam seus serviços. Segundo o autor, foi José Luiz Moreira de Sousa
(DenissonPropaganda12)que “ofereceuseuspréstimosparaoperarcomoumconduto
11Asreaçõesdosempresários.RevistaVeja,nº359,p.81.Apud:Rezende,2001,p.176.12ADenisonfoifundadanoRiodeJaneiro,em1957,porJ.U.ArceeSeppBaendereck.SurgiucomoumahouseagencyeatendiaapenasacontadaDucal,umacadeiadelojasderoupasmasculinas.Aexpansãodaredefacilitouaampliaçãodaagência,quepassouacontarcomnovosclientes,comoaSwifeagravadoraRCAVictor.Em1958,abriufilialemSãoPaulo,e,em1962,emBeloHorizonte.Em1970,jáhaviaabertofiliaisemPortoAlegre,Salvador,RecifeeFortaleza.ApósaformaçãodoConsórcioBrasileirodasAgênciasdePropaganda,passouafazerpartedogrupobatizado“AsCincoIrmãs”.
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paraa ‘limpezadodinheiro’”, e “nãosentiriaomenorconstrangimentoemreceberas
somasatravésdesuaagênciadePropagandaedepoisdevolvê-lasaoIpes”(DREIFUSS,
2008, p. 222). Além da Denisson Propaganda, tiveram essemesmo tipo de atuação a
GallasPropaganda,NortonPropagandaeMultiPropaganda13.
Aoutrapontadessarelação,ouseja,osanunciantes,eraorganizadatendoemvista
amanutençãode suas contasnaquelasagênciasque tinhamalgum tipodeatuaçãono
Ipes. Ainda de acordo com Dreifuss (2008), este foi o caso da Willys Overland, cujo
diretor, Euclides Aranha, era líder do Ipes. A conta da Willys era operada por duas
agências“ipesianas”:aMultiPropaganda,depropriedadedeDavidMonteiro,eaNorton
Propaganda.OutrocasoquevaleodestaqueeraodaNestlé.Seudiretor,GualterMano,
também associado do Ipes,mantinha a conta da empresa junto àNorton Propaganda
S/AeàMcCann-EricksonPropaganda.
Outro apoio ao Ipes veio das instituições de classe da propaganda. David
Monteiro14 e Geraldo Alonso alternavam-se na presidência da Associação Paulista de
Propaganda(APP)edaFederaçãoBrasileiradePropaganda(Febrasp),criadaem1961.
Utilizando-sedos cargos, aproximavam-sedas agências, procurandoapoio.Valendo-se
dessarelaçãoconseguiram,porexemplo,oapoiodeEmilFarhat15,daMcCann-Erickson
Publicidade.
Todoesseesforçodecoleta,desvioeaplicaçãodosrecursostevecomoresultado,
porumlado,ofinanciamentodasatividadesdoIpese,poroutro,omassacremidiático
queJoãoGoulartsofreraduranteoseucurtomandatopresidencial.AatuaçãodoIPESe
13Aagênciafoifundadaem1958pelaMcCannErickson.Suaexistênciafoimuitocurta;em1966assumiuonomedeQuadrantPublicidade,comoobjetivodemelhorarsuaidentificaçãointernacional,eem1972aagênciaencerrousuasatividades.14Suatrajetórianapropagandacomeçouem1935,quandoaagêncianorte-americanaMcCannEricksonseinstalounoBrasil.AoladodeRenatoCasteloBranco,foiumdosprimeirosredatoresdaagência.Em1951,a McCann converteu-se em sociedade anônima, e Monteiro assumiu vice-presidência ao lado de EmilFarhat.AtuounacriaçãodaAssociaçãoPaulistadePropaganda,sendopresidentedainstituiçãoemdoismomentos,1939-1940e1959-1961.Em1958deixouaMcCannparaatuarnaMultiPropaganda.TambémtevedestaquenacriaçãodoConselhoNacionaldePropaganda, sendoeleitopresidentedoconselhoem1966.15Teveextensaatuaçãonahistóriadapropagandabrasileira.Em1941, ingressounaMcCannErickson,permanecendonaagênciapor31anos.Entreseusdestaques,estáacriaçãodosslogansdoRepórterEsso:“O primeiro a dar as últimas” e “Testemunha ocular da história”. Em 1969, tornou-se presidente daagência,eassumiuaSecom(SecretariadeComunicaçãodaPresidênciadaRepública)entre1978e1980.
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deseu“irmão”,oIbad,foialvodeCPI,esuaatuaçãonadesestabilizaçãodogovernocivil
estáamplamentedocumentada16.
Os vínculos ideológicos entre Ipes, agências e anunciantes edificaram uma
associação que foi além dos preparativos para o golpe militar. Essa teia de relações
exercia verdadeiro controle sobre os veículos, à medida que controlava parte das
receitasempropaganda.
ComosustentaChomsky(2003),aformamaiseficienteemais“limpa”decensuraé
ocontroleeconômico.Destaforma,diversosveículosconsideradospróximosaogoverno
João Goulart e críticos à ditadura tinham campanhas publicitárias retiradas, o que
afetava em cheio a saúde financeira. Esse tipo de controle econômico era (e continua
sendo)muitomaisefetivo–ediscreto–doqueaintervençãodiretadoEstado.
Vejamos o caso do Tribuna da Imprensa: em 31 de março de 1969, o jornal
publicoureportagemintitulada“Boicote”.Deacordocomotexto,existianoBrasiluma
“...batalha da opinião pública, travada pelos conglomerados econômicos norte-
americanos,nosentidodenosconvencerdequea‘soluçãoestánosEstadosUnidos’”17.
Adenúnciadojornalestavavinculadaàformacomoocapitalestrangeirointerferia
na sociedade brasileira. Além das agências estrangeiras J. W. Thompson, McCann-
EricksoneaLintasPublicidadeInternacional(atéentãoaslíderesdorankingnacional),
outras agências nacionais cooperavam com aquilo que o jornal considerava
“proselitismo”e“vendasub-reptíciaeconstantedeumcerto‘wayoflife’”.
Sãoapresentadas,ainda,denúnciasarespeitodocontroleexercidosobreosmeios
decomunicação,viaverbaspublicitárias:
Quem não conhece o caso repetidamente por nós mencionado da série dereportagens de Justino Martins, em “Manchete”, sôbre a União Soviética?Bastou a ABA (Associação Brasileira de Anunciantes), que é virtualmentecontrolada pelos conglomerados norte-americanos, telefonar à direção da
16ACPIIpes/Ibadprocurouanalisarofinanciamentodecampanhaseleitoraisdedeputadosesenadorescomdinheirodasdoações.Em1963aCPIapurouque3%dasagênciascontrolavam45%domercado.Pormeio dessas agências, altas quantias em dinheiro eram transferidas para os fundos do Ipes. Além doestudodeDreifuss(2008),verAssis(2001)17Oboicote.TribunadaImprensa,31demarçode1969.
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revista, dizendo: “se continuar a série, seremos obrigados a recomendar aosnossosassociadosparaboicotar(verbozinhoindecente!)suarevista”18.
Aindadeacordocomoperiódico,essetipodepolíticaalcançouascontaspúblicas:
O anúncio de página inteira que a MPM Propaganda distribui à imprensa,promovendoasrealizaçõesdogovernadorNegrãoLima,excluiacintosamenteotradicional“CorreiodaManhã”,que,emtiragem,éoterceiromaiorvespertinodaGuanabara e em matéria de folha de serviços prestados a êste Páis não temcompetidor entre os matutinos cariocas. É o boicote com que se leva aquelaemprêsaapedirconcordata,forçandosuadireção,portodososmeiosemodos,aabrir mão de posições políticas que resultam de convicções herdadas de seusfundadores e que, longe de serem tão brutalmente esmagadas, deveriam serapreciadasecompreendidas...
O controle econômico demonstra uma rede de relações que envolvia diversos
grupospolíticosque,porsuavez,formavamogrupoheterogêneoquedavasustentação
política à ditaduramilitar. Reconhecer taismovimentos, como sugerem Rollemberg e
Quadrat(2010),édesvendarquetipodevínculossociaisforam/sãoestabelecidosentre
osregimespolíticoseassociedades.Taisredes,emborasofressemalteraçõestendoem
vistaavariedadedesuaconstituição,apontamparaumconjuntomaiordeapoioquetais
regimesobtiveramparaalémdousodaviolênciafísica.
O fator a ser compreendido é que as campanhas levantadas demonstram uma
tentativa deliberada de algum tipo de manipulação emotiva. Como sugerem Ansart
(1977)eMagalhães(1997),osregimespolíticosnecessitamcriarimagensqueincitemo
conjuntodaquelessentimentostidoscomoessenciaisparamanteramobilizaçãosocial
ativaaseu favor.Nocasoemtela,ascampanhasprocuraminsuflarelementoscomoo
“patriotismo”eo“nacionalismo”,sempreentendidoscomomanifestaçõesapolíticasna
defesadosinteressesnacionaisenãodaquelesqueocupamseuscargos.
Ansart (1977), ao analisar as diferentes formas de trabalho ideológico (onde
opera-se a violência simbólica e não a física), as classificou em três tipos: ortodoxia
apoiada (quando as mensagens são produzidas e apoiadas, na maioria das vezes, de
maneira instantânea); ortodoxia consentida (forma organizada e sistematizada de
produção de informações e controle sobre a opinião pública); e ortodoxia terrorista
18Idem.
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(quando o discurso é substituído pelos mitos). Estes três elementos dialogam,
produzindodiversosdiscursosdelegitimação.
Nocasoaseguir,essatipologiafoiassumidanãopeloEstadoAutoritário,maspor
seus apoiadores da sociedade civil. Superado o golpe, a Norton Propaganda S/A
procurou demonstrar a continuidade do seu apoio19 a partir da criação de uma
campanhaemfavordonovo“presidente”,CostaeSilva.Veiculadaem1967,oobjetivo
eradefenderogovernonummomentodeinstabilidadepolíticaeeconômicaemantero
“estado de otimismo”. A campanha ficaria registrada pela utilização da bandeira do
Brasilepeloslogan:“Quemplantaconfiançacolheprogresso!”:
Figura4:Campanha“Quemsemeiaconfiançacolheprogresso”:
Fonte4:RevistaPropaganda,1981,p.36.
19Nãonospareceerrôneoafirmarapermanênciaoucontinuidadedosuporte ideológicoàditaduraporparte da agência. A campanha apresentada foi veiculada em 1967, portanto, quase um ano antes dacriação da AERP e quase dois anos antes do surgimento do Consórcio Brasileiro das Agências dePropaganda,responsávelpela“divisão”dascontaspúblicas.
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Na sequência, o anúncio ia além e adotava o padrão de um órgão oficial de
propaganda.Oque chamaatenção é, exatamente, o tompersonalista que a campanha
apresentou. Em nossas pesquisas, foi a única encontrada nesse formato. A Norton
utilizouumalinguagemquenãofariavergonhaaoDIPdeGetúlioVargas.
Figura5:Campanha“Quemsemeiaconfiançacolheprogresso”:
Fonte5:CorreioBraziliense,22demarçode196720.
AcampanhadaNortonchamaaatençãonãoapenaspela formapersonalistaque
utiliza, pelos apelos à capacidade do presidente de superar a “impopularidade”, mas,
também,porromperabarreiraentreapropagandaeapublicidadepraticadaporuma
20 Transcrição: Houve a coragem de enfrentar a impopularidade para corrigir os erros passados. Einstaurou-senoPaísumclimadeprobidade.Realizou-segigantescoesforçodetransformaçãodeatitudesementalidades.E tomou-seconsciênciadosreaisproblemasbrasileiros.Aconteceuumabatalhapenosaparadesaceleraroritmodainflação.Muitofoifeito,emboratantoporfazer.Logramos,contudo,escaparaoretrocessoeconômico.Lançamosasbasesparaumdesenvolvimentoestável.Mas,odesenvolvimentodeumpaís é antesde tudoumestadode espírito. Por isso –quandoemmeadosdo anopassadomaiscresciaaondadepessimismoedafrustraçãofomosaprimeiraemprêsanestePaísalançarumacalorosacampanhadeotimismo:“NósconfiamosnoBrasil”DesdeentãoaconfiançanosdestinosdoPaístemsidoa tônicade todasasnossaspeçasdecomunicação.Confiamos.Confiamosnogovernoque,emmomentotãoimportantedavidanacional,assumeopoderdamaiornaçãodêstehemisfério.Confiamosemqueseuobjetivoprimordialsejaodesenvolvimentoeconômico,embenefíciodetodososcidadãos.Confiamosnoseu espírito abertoparaodiálogo franco e construtivo com tôdas as classes. Confiamos emquenão sepercamossacrifícios feitospelopovoepelosempresáriosnesseárduoperíododetransição.Confiamosnassementesqueforamplantadas.Confiamos–nóseosnossosClientes–nesteextraordinárioBrasil.Econfiamostodosemseupatriotismo,PresidenteArthurdaCostaeSilva!
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agência comercial. Outros apelos são feitos em nome da “capacidade de diálogo” de
Costa e Silva e de seu “patriotismo”. Gostaríamos de ressaltar o apelo “ao estado de
espírito”:
Mas,odesenvolvimentodeumpaíséantesdetudoumestadodeespírito.Porisso–quandoemmeadosdoanopassadocresciaaondadepessimismoedafrustraçãofomosaprimeiraemprêsanestePaísalaçarumacalorosacampanhadeotimismo:“NósconfiamosnoBrasil!”DesdeentãoaconfiançanosdestinosdaPátriatemsidoatônicadetodasasnossaspeçasdecomunicação.Confiamos–nósenossosClientes–nesteextraordinárioBrasil.
A campanha obteve tanto sucesso que o então presidente Costa e Silva recebeu
GeraldoAlonsoparauma solenidadeemBrasíliapara receber emmãosospôsteres e
anúncios vinculados. A revistaO Cruzeiro de janeiro 1972 fezmatéria especial sobre
GeraldoAlonso.Aotratardacampanha,arevistaafirmaqueaagência“partiuemajuda
doGovêrno,levandoootimismoàsmassaspopulares”.
Aatitudede“socorro”daNortontinharelaçãocomosproblemasenfrentadospor
CostaeSilvaduranteseumandato.Emseudiscursodeposse,acenoucomapromessade
reestabelecimento dos processos eleitorais, do retorno à normalidade democrática e
comdisposiçãoparareceberedialogarcomaoposição.
Essa tentativa, conceituada de “política de alívio” por Alves (2005), tinha como
pedra angular uma interpretação mais flexível da legislação repressiva, contida na
Constituição de 1967. Após algumas reuniões, o governo pareceu oferecer algumas
concessõesàoposiçãoemtrocadealgumtipodeapoioelegitimidade.
Entretanto, naquele contexto, o governo detinha instrumentos que tornavam o
diálogo com a oposição desnecessário. Além da garantia da maioria nas casas
legislativas, contava ainda com o instrumento do decurso de prazo. Outro problema
irremediáveleraaatuaçãodoaparatorepressivoedaPolíciaMilitar,ouseja,enquantoo
governopregavadiálogo,arepressãoaumentavasuasações.Emsuma:
A contradição entre linguagem do consenso e do diálogo e o aumento darepressão nas ruas anulou a legitimidade que se esperava obter com apromessadeliberalização.Comoa“políticadealívio”dependiadeumgraudeconsenso impossível em condições repressivas, o Estado evoluiu para umasituaçãodecriseinternaeexterna.Tambémnapolíticaeconômicaverificou-seligeiramudança de rumos. A equipe econômica do governo Costa e Silva erachefiada pelo Ministro da Fazenda Delfim Netto e pelo Ministro do
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Planejamento Hélio Beltrão. (...) A nova política econômica visava sobretudoalterar opadrãode consumodas classesmédias superioresparapromoverocrescimento do setor de bens duráveis. E enquanto se atrelavam os níveissalariais à taxa oficial de inflação, para diminuir os custos de produção,incentivos fiscais eram concedidos às camadasmais altas da população paraincentivaroinvestimento(ALVES,2005,p.138).
Em termoseconômicos, apolítica salarial foiumdesastre.O saláriomínimoreal
comprava apenas 42%do que poderia comprar em1959. A tendência foi uma queda
constanteatéatingirovalormaisbaixoem1976,quandoseupotencialdecompraera
deapenas31%,comparadoaosaláriode1959.Secompararmososdadosreferentesà
inflação, podemos compreender que a queda no valor do salário era uma política de
controleexercidapelopróprioEstado,umavezqueainflaçãobaixoude87.8%em1964
para20.3%em1969.
O resultado foi o aumento da miséria entre os mais pobres. Aproveitando esse
cenário, a Norton veiculou, em 1969, mais um anúncio, ainda dentro da campanha
“Quem semeia confiança colhe progresso”, agora voltado para a ajuda às crianças
carentes:
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Figura6:Campanha"Quemsemeiaconfiançacolheprogresso":
Fonte6:RevistaPropaganda,novembro,1981,p.36.
Entre os objetivos da campanha estava aquele atrelado ao “papel social” da
propaganda.Comoafirmaotextodoanúncio:
ANortonachaque,basicamente,umaagênciaprecisaserútilàcomunidadeemque ela vive. Fizemos, alguns anos atrás, uma campanha de arrecadação defundosparaomenorabandonado.Fizemosoutraparaascriançasdefeituosas.OutraquequeatéhojeestáajudandoaeliminaratuberculosedoBrasil.
ANortonprocurava,assim, firmarseu“compromissohistórico”comobem-estar
do Brasil e dos brasileiros. Aproveitava o ensejo, ademais, para recuperar a ótima
resposta dada pelo então presidente Costa e Silva a respeito do lançamento da
campanhaem1967:
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Em 1967, no segundo gôverno da Revolução, havia no país um clima deapreensão. Foi quando resolvemos lançar a campanha do otimismo, com abandeiranacionalilustrandooslogan:Quemsemeiaconfiançacolheprogresso.
Milhõesdebrasileirosaceitaramodesafio.
“ExcelentetrabalhodaNorton!Suacampanhainjetouotimismoemtodosnós,brasileiros, com uma precisão quase médica”. Essas foram as palavras doPresidenteArturdaCostaeSilva,elogiandoanossainiciativa.
Emoutroanúncio,entãodepáginadupla,aagênciaafirmavanãomediresforços
para ajudar a solucionar os problemasbrasileiros, uma vez que “nessa hora aNorton
desvia tôda sua equipe, todo seu talento e tôda sua estrutura, para preparar uma
campanha com a mesma seriedade com que ela faz as campanhas de todos os seus
clientes”21.
É evidente que a agência não entendia a resolução desses tipos de problemas
sociaisenquantopartedaurgênciadacriaçãodepolíticaspúblicasoumesmoenquanto
produtosdomodeloeconômicocolocadoempráticaapós1964;aoqueparece,erapura
e simplesmente a prática do exercício da filantropia, questão de caridade e de
solidariedade.
O governo Costa e Silva teve de lidar também com a ofensiva da oposição. Essa
onda começou a formar-se em 1967, para erguer-se em 1968, tendo, entre outros
eventos,aPasseatadosCemMil,ocorridaapósamortedoestudanteEdsonLuís,eas
primeirasgrevesemContagemeOsasco,alémdaFrenteAmpla,queorganizava,soba
mesmabandeira,JoãoGoulart,JuscelinoKubitscheckeCarlosLacerda.
Paralelo a esse movimento, existia o discurso do “Brasil Potência”, parte do
nacionalismo exacerbado das Forças Armadas, insuflado em meio aos planos de
investimentoeminfraestrutura(comoItaipueaTransamazônica).Contudo,asagências
depropagandaseanteciparamaosucessoeconômicodosanos1970–1974aopropagar
esse “projeto” ainda em 1967, como o caso daNorton, e em 1969, no caso da Salles-
Interamericana,alémdaatuaçãodopróprioConselhoNacionaldePropaganda.
Parecereducionismoafirmarqueessa“primeirafase”tenhasidomarcadaapenas
pelos interesseseconômicos.Adistribuiçãodascontasgovernamentaisparaatendera21RevistaPropaganda,novembro,1981,p.36.
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demanda da AERP só traria impacto para as agências a partir de 197522, quando o
rankingnacional das agências sofre umamudança significativa.Outro elementodessa
equaçãoéapontadopelosprópriospublicitários.RenatoCasteloBranco,aindaem1968,
jácobravadosetorumaaproximaçãomaiorcomaUnião,Estadosemunicípios:
Proponho que nossas associações de classe tomem posição diante dosproblemasnacionaiseespecialmentedaquelesparaosquaispodemosdarumacontribuição válida. Proponho que abandonemos a posiçãomarginal em quenos temos colocado para assumirmos um lugar definitivo e influente nasdecisõesdavidanacional.ProponhoqueestejamospresentesnosCongressosEstaduais e Federal, nas Secretarias de Estado, nosMinistérios, levando, semintermediários, mas nós próprios, nossa contribuição para a solução dosproblemasnacionais23.
MauroSalles,entãopresidentedaABP,destacouaimportânciadacooperaçãocom
o “novo governo”, à medida que as agências deveriam responder positivamente ao
“chamado”:
AAssociaçãoBrasileiradePropaganda,aAssociaçãoBrasileiradeAgênciasdePropaganda têm sido procurados por pessoas e entidades do governo que semostram interessadas em cooperar com os publicitários em sua missão dereativaravidaeconômica.Masprecisaremoscooperarcomêles,ajudando-nosanósmesmos24.
Acooperaçãocomogoverno,aindaquetenhasidoiniciativadealgumasagências,
ganhourelevância, tendoemvistaaposição tantodaSalles-Interamericanaquantoda
Norton Propaganda S/A no mercado publicitário brasileiro. As campanhas foram
veiculadas, ao que tudo indica, numa espécie de “esforço coletivo” das agências e, de
fato, não representavam a totalidade do mercado publicitário brasileiro, ainda que,
como destacamos, outras agências de importância nacional tenham participado do
contextoanterioraogolpe, comoaDenisonPropagandaeasduasmaioresagências,a
McCannEriksoneaJ.W.Thompson.
22Outrodadoaserapontadoéquesomenteasagênciascommaisde50%decapitalnacionalpoderiamparticipar das licitações das contas públicas, o que significou, a partir de 1974, a transformação domercadodeagências,comofortalecimentodasagênciasnacionais.Posteriormente,visandomonopolizaro acesso a estes recursos, foi criado o Consórcio Brasileiro de Agências de Propaganda, formado pelascinco maiores agências nacionais, as “Cinco Irmãs”: MPM, Alcântara Machado, Norton, Salles-InteramericanaeaDenisonPropaganda.23RevistaPropaganda,nº145,junho1968,p.24.24MauroSalles.DiscursopronunciadoemnomedaAssociaçãoBrasileiradePropaganda,emhomenagemaodiaPan-americanodePropaganda.RevistaPropaganda,nº140,janeirode1968,p.24.
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Aquestãoé:porque taiscampanhas foramrealizadasde formaesparsa,ouseja,
semumplanonacionaldecomunicação?ApesquisadeFico(1996)revelouaexecução
deapenasumapartedoprojetooriginaldecriaçãodoSistemaNacionaldeInformações
(SNI),ouseja,esteapenasrecolhiainformações,aoinvésdeproduzi-las.
Essa característica estaria atrelada à personalidade de Humberto de Alencar
CasteloBranco,avessoaqualquer tipodepropagandapolítica.AreticênciadeCastelo
criou um vácuo na comunicação entre a ditadura e a sociedade civil até o staff
presidencialentenderaimportânciadacriaçãodeumórgãoresponsávelpela“imagem
do governo”, culminando na criação da Assessoria Especial de Relações Públicas, em
janeirode1968.
Ainda que a criação da agência tenha sido anterior a algumas campanhas
veiculadas, é importante frisar também que seu trabalho inicial teve caráter mais
informativo e um formato típico dos órgãos oficiais de propaganda. A criação e
implantação de um projeto de comunicação também foi objeto de disputa entre as
facçõesdaditaduramilitar.Portanto,seuperíododemaiorsucessoocorreuparaleloaos
anosdo“milagreeconômicobrasileiro”.AatuaçãodaAERPnessasegundafaseteveum
impactoeconômicosubstantivonasagênciasdecapitalnacional,comoocasodagaúcha
MPMPropaganda, que assumiu o topodo rankingnacional de agências por um longo
período(1974a1991).
O surto econômico dos anos 1970 parecia ser a “recompensa” para os anos “de
trabalho”. Nesse novo contexto, as agências passaram a conviver com um novo
anunciante,aditaduramilitar.Contudo,asdiretrizesda“agênciaoficial”,aomenospor
parte de algumas agências, já estavam em prática, ou pelomenos já davam sinais de
existência.Issosignificadizerquealgumasforamampliadas–comoousoconstanteda
ideiado“Paísquevaiprafrente”eoutrasformasdenacionalismo–,enquantooutras–
comoautilizaçãodemensagensqueveiculassemo“amor”ouqueexaltassema“família”
–forampaulatinamenteincorporadasnodiscursodasagências.
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