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II Simpósio de Pós-Graduação em Engenharia Urbana - SIMPGEU PATRIMÔNIO HISTÓRICO MATERIAL DE MARINGÁ, PARANÁ: A IMPORTÂNCIA DE SUA PRESERVAÇÃO Leonardo Cassimiro Barbosa 1 Igor Eduardo Grande 2 Bruno Luiz Domingos De Angelis 3 RESUMO A preservação do patrimônio histórico e cultural no meio urbano, incluindo não somente aspectos materiais como a arquitetura, mas também aspectos imateriais como os costumes, gastronomia danças típicas e outros, tornam-se cada vez mais alvo de discussão no cenário mundial. O ambiente construído de uma cidade é o registro mais palpável e incontestável da evolução das civilizações, sendo formado através dele a memória e a cultura de um povo. Sendo assim, o presente trabalho tem por objetivos levantar as edificações de valor histórico, especificamente na cidade de Maringá, Paraná. Analisar o patrimônio urbano da cidade em questão, para verificar quais obras já possuem sua preservação garantida por lei, através de tombamento, como o Grande Hotel Bandeirantes, bem como as edificações de relevância no contexto urbano que ainda não possuem proteção legal, como o Gabinete do Prefeito. Discorrer ainda, acerca de parte do patrimônio que se perdeu, em meio ao crescimento urbano. Ressaltar a importância de se preservar o patrimônio das cidades, em especial nas cidades recentes e identificar ainda as principais dificuldades encontradas na conservação e tombamento destas obras. O estudo possibilitou uma análise geral do estado em que se encontra a preservação histórica no município de Maringá, onde não foi observado a existência de uma política pública, realmente preocupada com esta questão. Demonstrou ainda, a clara importância da arquitetura no espaço urbano das cidades, estando esta, intimamente ligada com a memória e história de um povo. A existência de diversas edificações representativas em seu contexto urbano mostrou que apesar de ser uma cidade recente, de pouco mais de 60 anos, o município possui muito patrimônio a ser preservado. Parte do patrimônio histórico da cidade encontra dificuldade em sua preservação principalmente em função de interesses imobiliários, uma vez que este mercado é bastante influente nas decisões do município. Palavras-chave: Patrimônio Histórico. Preservação. Tombamento. Maringá – PR. 1 Mestrando, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana- PEU, [email protected] 2 Mestrando, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana- PEU, [email protected] 3 Prof. Dr., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Agronomia-DAG, [email protected] 1

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II Simpósio de Pós-Graduação em Engenharia Urbana - SIMPGEU

PATRIMÔNIO HISTÓRICO MATERIAL DE MARINGÁ, PARANÁ: A IMPORTÂNCIA DE SUA PRESERVAÇÃO

Leonardo Cassimiro Barbosa 1

Igor Eduardo Grande 2

Bruno Luiz Domingos De Angelis 3 RESUMO A preservação do patrimônio histórico e cultural no meio urbano, incluindo não somente aspectos materiais como a arquitetura, mas também aspectos imateriais como os costumes, gastronomia danças típicas e outros, tornam-se cada vez mais alvo de discussão no cenário mundial. O ambiente construído de uma cidade é o registro mais palpável e incontestável da evolução das civilizações, sendo formado através dele a memória e a cultura de um povo. Sendo assim, o presente trabalho tem por objetivos levantar as edificações de valor histórico, especificamente na cidade de Maringá, Paraná. Analisar o patrimônio urbano da cidade em questão, para verificar quais obras já possuem sua preservação garantida por lei, através de tombamento, como o Grande Hotel Bandeirantes, bem como as edificações de relevância no contexto urbano que ainda não possuem proteção legal, como o Gabinete do Prefeito. Discorrer ainda, acerca de parte do patrimônio que se perdeu, em meio ao crescimento urbano. Ressaltar a importância de se preservar o patrimônio das cidades, em especial nas cidades recentes e identificar ainda as principais dificuldades encontradas na conservação e tombamento destas obras. O estudo possibilitou uma análise geral do estado em que se encontra a preservação histórica no município de Maringá, onde não foi observado a existência de uma política pública, realmente preocupada com esta questão. Demonstrou ainda, a clara importância da arquitetura no espaço urbano das cidades, estando esta, intimamente ligada com a memória e história de um povo. A existência de diversas edificações representativas em seu contexto urbano mostrou que apesar de ser uma cidade recente, de pouco mais de 60 anos, o município possui muito patrimônio a ser preservado. Parte do patrimônio histórico da cidade encontra dificuldade em sua preservação principalmente em função de interesses imobiliários, uma vez que este mercado é bastante influente nas decisões do município. Palavras-chave: Patrimônio Histórico. Preservação. Tombamento. Maringá – PR.

1 Mestrando, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana-

PEU, [email protected] 2 Mestrando, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana-

PEU, [email protected] 3 Prof. Dr., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Agronomia-DAG,

[email protected]

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1. INTRODUÇÃO

O ambiente construído de uma cidade é o registro mais palpável e incontestável da evolução das civilizações, sendo formado através dele a memória e a cultura de um povo. Sendo assim, a preservação do patrimônio histórico e cultural no meio urbano, incluindo não somente aspectos materiais como a arquitetura, mas também aspectos imateriais como os costumes, danças típicas, etc., tornam-se cada vez mais alvo de discussão no cenário mundial. Em geral, os critérios utilizados para se determinar a necessidade de preservação de uma obra ou bem cultural se baseiam em ao menos um destes três aspectos: valor histórico, valor artístico e valor sentimental (KUHL, 2005). O presente trabalho tem por objetivo levantar as edificações de valor histórico na cidade de Maringá, Paraná, analisando assim o patrimônio urbano da cidade, para verificar quais obras já possuem sua preservação garantida por lei, através de tombamento, bem como as edificações de relevância no contexto urbano, que ainda não possuem proteção legal. O estudo ainda discorrerá acerca de parte do patrimônio que se perdeu, em meio ao crescimento urbano. Busca-se assim, ressaltar a importância de se preservar o patrimônio das cidades, em especial nas cidades recentes, identificando ainda as principais dificuldades encontradas na conservação e tombamento destas obras. Na visão de Arantes Neto (2005, p. 5), presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a relevância na manutenção de bens culturais é incontestável, para ele:

[...] suas contribuições à humanidade são algo que se decanta de sua existência, são realidades cognitivas, estéticas, morais, religiosas, políticas e afetivas. São interpretações e soluções inovadoras e originais a problemas genericamente humanos. E, como tais, merecem apoio político e financeiro, proteção jurídica e salvaguarda pelo Estado.

É principalmente em razão dos patrimônios materiais – em especial a arquitetura, que é o foco deste trabalho-, que podemos identificar aspectos como os costumes, tipologia arquitetônica e construtiva, dentre outros, de um povo em determinada época (PELEGRINI, 2004). Para a autora:

As edificações públicas ou privadas, como produtos de uma dada época, constituem registros visuais dos anseios, necessidades, e contradições sociais. O traçado arquitetônico e as formas de organização do espaço comportam representações do contexto socioeconômico em que emergiram. Para percebê-las, faz- se necessário empreender esforços no sentido de detectar fatores físicos inerentes à produção arquitetônica como: atribuições funcionais, técnicas e materiais utilizados nas obras, dificuldades de implantação dos projetos, entre outros.

Apesar desta necessidade em se preservar o patrimônio histórico, a preservação encontra sérias dificuldades atualmente no Brasil. Segundo Lemos (2006, p. 91) “[...] a base correta de como preservar está na elucidação popular, na educação sistemática, difunda entre toda população, dirigentes e dirigidos [...]”. Soma-se a esta questão a falta de instituições organizadas, a crise econômica, e, sobretudo nos bens arquitetônicos, a falta de interesse social e a especulação imobiliária, sendo estas as principais dificuldades encontradas na preservação histórica das cidades brasileiras (DELMONICO; REGO; PELEGRINI, 2005). Estes problemas são agravados em cidades recentes, onde em função da pouca idade não se tem claro a importância das edificações no contexto urbano e cultural. A cidade de Maringá, com seus 62 anos de história, encontra hoje esta dificuldade em eleger e preservar as edificações significativas em seu espaço urbano. Fundada na época do auge da indústria cafeeira e do movimento moderno no Brasil, que influenciaram o traçado de seu sítio e a implantação das edificações aqui emergentes, sendo hoje conhecida pela presença maciça do verde na área urbana, e por sua qualidade de vida acima da média nacional (DELMONICO; REGO; PELEGRINI, op. cit.). As discussões acerca dos bens culturais da cidade são de suma importância para a manutenção da memória do município, para que todas estas particularidades não se percam em meio ao processo de urbanização e crescimento acelerado o qual a cidade vivencia.

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2. EVOLUÇÃO NO CONCEITO DE PRESERVAÇÃO

A preocupação com a preservação de bens culturais tem seu início no século XV, quando as intervenções nas edificações passam a contemplar alguma motivação cultural, ao invés de questões de ordem puramente práticas e utilitárias. Porém apenas no final do século XVIII a preservação se sistematiza, com o surgimento gradativo de critérios e metodologias, até se consolidar como campo disciplinar no século XX, reconhecendo assim seu significado cultural, pautado em valores formais, históricos, simbólicos e memoriais (KUHL, 2005). Devemos entender por preservação, a manutenção de determinado bem visando a desaceleração do processo pelo qual ele se degrada (CASTRIOTA, 2007).

Cesare Brandi, fundador do Instituto Central de Restauração em Roma, em 1939, e importante teórico da restauração, afirma que ela deve ser entendida como “o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, com vistas a sua transmissão ao futuro” (BRANDI, 2004). O restauro constitui apenas um dos tipos de intervenção em edificações, sendo geralmente aplicado quando a obra apresenta algum grau de degradação ou descaracterização, devendo ser executado por especialistas, de forma criteriosa e embasada. O ideal é que se realize a conservação do prédio, com manutenção periódica, evitando-se assim que chegar ao estágio da necessidade de restauração, este bem mais oneroso.

Subseqüente a conscientização da necessidade da preservação do patrimônio e das teorias de restauro, surge o conceito de Tombamento, com vista a garantir a proteção dos edifícios de valor histórico. O Tombamento consiste num ato administrativo realizado pelo Poder Público, com o objetivo preservar, por intermédio da legislação específica, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados. Ele pode ser feito pela União, por intermédio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, pelo Governo Estadual, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado ou pelas administrações municipais, utilizando leis específicas ou a legislação federal (SÃO PAULO, 2003).

No Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, criado no final dos anos 30, é o organismo federal mais atuante na questão da preservação. O artigo 216 da Constituição da República Federativa do Brasil define os conceitos de patrimônio cultural, e estabelece a incumbência ao poder público, com a ajuda da comunidade, garantir a preservação, conservação e gestão do patrimônio artístico do país. Os estados e as municipalidades, através da elaboração de leis específicas, além da atuação de ONGs e organismos envolvidos com a questão, são outros mecanismos auxiliadores na questão da preservação.

3. FUNDAÇÃO DA CIDADE DE MARINGÁ, E O CONTEXTO NACIONAL No cenário nacional, no final da década de 40 o Brasil vivia um momento de grande expansão da lavoura cafeeira, em busca de novas terras para o cultivo, culminando no povoamento e ocupação do norte do estado do Paraná, principalmente por meio de empresas particulares. Maringá foi fundada pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná – CMNP em 1947, tendo sido projetada pelo engenheiro Jorge de Macedo Vieira, que imprimiu uma concepção no desenho da cidade inspirado no conceito de cidade jardim, tendo tido como referência a prática do urbanismo de Raymond Unwin e Barry Parker, o que resultou em um traçado irregular que segue as curvas de níveis naturais do terreno, contemplando ainda a presença maciça do verde como elemento de composição do espaço urbano, tornando a abundância de vegetação uma forte identidade do município (REGO, 2001, p. 1569-1577).

Este momento também foi marcado pelo ao auge da arquitetura modernista no Brasil, que segundo Verri Junior (2001) se consolidou no Brasil na década de 30, com o auge de sua produção

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a partir de 1950, tendo como marco principal a construção da nova capital, a cidade de Brasília. Este novo modo de se pensar a arquitetura, criado na Europa no final do século XX, baseado na construção de volumes puros, despidos de ornamentação, enfatizando uma beleza simples, palpada principalmente em aspectos da funcionalidade, também influenciou parte da produção arquitetônica de Maringá. Esta influência pode ser vista claramente no traçado urbano inspirado no conceito de cidade jardim, e principalmente com a visita de importantes arquitetos modernistas após a década de 50, atraídos pelo grande crescimento da cidade. Dentre eles destacam-se o arquiteto paulista José Antônio Bellucci, contratado pela CMNP para projetar uma série de edifícios na cidade (VERRI Jr., op. cit.). 4. PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE MARINGÁ

O levantamento das edificações de valor histórico da cidade de Maringá – PR foi realizado inicialmente com a visita in loco e análise do acervo do Museu da Bacia do Paraná, localizada no campus da Universidade Estadual de Maringá – UEM, a fim de identificar com base nos registros fotográficos da época, os aspectos referentes à implantação e evolução do município. Em seguida foi realizado um levantamento junto à Prefeitura Municipal de Maringá, bem como em estudos publicados acerca do assunto, com o objetivo de identificar: as obras tombadas no município, as que se encontram em processo de inventário para futuro pedido de tombo, a que os estudiosos e historiadores da região apontam como relevantes no contexto urbano, bem como as obras importantes que se perderam em meio ao processo de crescimento urbano da cidade. Foi realizado ainda uma análise dos estudos publicados de autores renomados no campo da preservação do patrimônio histórico, com o objetivo de embasar toda a pesquisa.

Visando garantir a preservação de seu patrimônio, verificou-se que o município de Maringá – PR, conta com uma Lei Municipal, n.° 2.297/87, que regulamenta as políticas do patrimônio cultural na cidade. O levantamento mostrou que atualmente apenas 4 bens culturais se encontram protegidos pelo tombamento por força da Lei Municipal, sendo eles:

• A Capela Santa Cruz, construída entre 1945-1946, e tombada em 1988 em função de seu

valor religioso e social, além de sua estrutura arquitetônica típica da época. A capela foi edificada na região denominada de Maringá Velho. Naquele tempo fixavam-se nesse bairro os primeiros habitantes da cidade. O terreno foi doado pela Companhia de Terras Norte do Paraná e construída a partir da participação da comunidade, que se mobilizou, realizando quermesses, festas e doações. Sua preservação foi efetivada através de uma intervenção de restauro, realizada a partir de laudo elaborado em 1987. A igreja foi reinaugurada em 1991, após a conclusão das obras (SILVEIRA, 2003). A Figura 1 mostra a Capela Santa Cruz.

• A Capela São Bonifácio foi construída entre 1939-1940 na zona rural, na estrada Vale Azul,

sendo tombada em 1994. A capela constitui a primeira edificação da religião católica em Maringá. Nessa época Maringá ainda se encontrava vinculada ao município de Mandaguari. A capela fazia parte de um complexo rural, denominado Fazenda São Bonifácio. Servia a comunidade local, que se dirigia à fazenda para os cultos e atividades litúrgicas. É nesse local que os habitantes do núcleo inicial da cidade realizaram as primeiras missas, batizados e casamentos dos moradores (SILVEIRA, op. cit.). A Figura 2 mostra a capela São Bonifácio.

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Figura 1 – Capela Santa Cruz

Fonte: Autor - 2009

Figura 2 – Capela São Bonifácio

Fonte: Silveira – 2003

• O edifício principal, situado na esquina da Avenida Duque de Caxias com a Rua Joubert de Carvalho, da sede da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), foi tombado em 2004 por ter sido o principal centro econômico nos primeiros anos de Maringá, além de ser responsável pelo desenvolvimento de grande parte do noroeste do Estado a partir da implantação da linha férrea, do parcelamento do solo e do planejamento, localização e configuração de algumas cidades. Esse local era onde se regulamentava as transações de terras e imóveis na região e definia-se a configuração de lotes e quadras da cidade (SILVEIRA, op. cit.). A Figura 3 mostra o edifício tombado.

Figura 3 – Companhia Melhoramentos Norte do Paraná

Fonte: Autor – 2009

• A “Festa Junina do Seu Zico Borghi” faz parte do patrimônio imaterial de Maringá, tendo seu tombo decretado em 2008 por manter sua tradição desde 1982. Apesar do patrimônio imaterial não ser alvo do presente trabalho, vale ressaltar a importância deste tipo de bem cultural, no contexto urbano da cidade.

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A cidade ainda possui um patrimônio tombado por Lei Estadual, sendo ele o Grande Hotel Bandeirantes construído entre 1951 e 1955, na Praça Deputado Renato Celidônio n.°190, com a função de recepcionar os possíveis investidores na cidade, além de atender a sociedade maringaense em festas e banquetes. Além desta importância histórica, a arquitetura do hotel é bastante representativa, baseada na arquitetura moderna racionalista presente em São Paulo nos anos 50, contemplando uma boa integração do edifício com o paisagismo, as plantas assumindo preocupações funcionais e de conforto ambiental, projetado pelo arquiteto paulista José Augusto Bellucci (DELMONICO; REGO; PELEGRINI, op. cit.). O edifício, que é de propriedade particular, foi tombado em 2005, com número de inscrição de tombo 156 II. A figura 4 mostra o edifício.

Figura 4 – Grande Hotel Bandeirantes

Fonte: Autor – 2009

Nestes pouco mais de 60 anos de história, a cidade que conta com um número pequeno de obras tombadas, sofreu inclusive algumas importantes perdas de edifícios emblemáticos, ocasionados pelo processo de crescimento e modernização constante que a cidade vive atualmente. Dentre estas perdas consideráveis, vale ressaltar a Estação Ferroviária construída em 1954 e reconstruída em 1970 - conhecida por ser um dos principais meios de transporte utilizado na época pelos investidores da região – foi demolida na década de 90, a Máquina de Café Santo Antônio localizada na Avenida Mauá, construída nos anos 40, e demolida em 2004, - que teve seu tombamento considerado inviável apesar do seu valor representativo da indústria cafeeira para a cidade, em função do estado de deterioração do madeiramento, exigindo assim altos custos na sua recuperação - (FRIEDRICH, 2009), entre outros casos. As figuras 5 e 6 mostram a demolição da Máquina de Café e a Estação Ferroviária, respectivamente.

Figura 5 – Demolição da Maquina de Café

Fonte: Rigon – 2006

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Figura 6 – Estação Ferroviária

Fonte: Acervo da ABPF – 1980

Atualmente o antigo terminal rodoviário Américo Dias Ferraz é o alvo das principais discussões cerca da preservação. Edificado em 1962, é hoje propriedade do poder público e de particulares, encontrando-se em mal estado de conservação, tendo inclusive perdido parte de sua cobertura em 2007. Alegando que o prédio não teria condições estruturais, o poder público iniciou uma campanha a favor da demolição, fato este que veio em desacordo com os anseios de alguns proprietários particulares, que entraram com ação civil requerendo a reintegração de posse e indenização por perdas e danos (Ação Civil n°180/2007, 2ª Vara – Arquivos da 13ª Promotoria de Justiça – Comarca de Maringá). Houve ainda pedido de tombamento do edifício por parte do Instituto Cultural Memória do Paraná, protocolado junto ao Conselho de Patrimônio Histórico Estadual e à Comissão Municipal. O parecer do Conselho Estadual determinou que o tombamento fosse discutido pela Comissão Municipal (Secretaria da Cultura do Estado do Paraná, Ofício n° 007/2007, CEPHA – Arquivos da 13ª Promotoria da Justiça da Comarca de Maringá). O processo encontra-se em trâmite atualmente (FRIEDRICH e ZANIRATO, 2008). A figura 7 mostra a Rodoviária Américo Dias Ferraz.

Figura 7 – Rodoviária Américo Dias Ferraz

Fonte: Rigon – 2008

De acordo com projeto de pesquisa liderado pela professora Doutora Aline M. da Silveira do Departamento de Arquitetura e Urbanismo – DAU, da UEM em 2003, 15 obras significativas no cenário municipal, encontram-se em processo de inventário para o pedido de tombamento. Destaca-se a Igreja Catedral Metropolitana Basílica Menor Nossa Senhora da Glória, projetada pelo arquiteto José Augusto Bellucci, construída em 1958, caracterizada por sua planta circular de 16,40 metros de raio, e seu formato em cone, tendo uma altura máxima de 124 metros, que confere grande monumentalidade ao edifício, sendo hoje um dos símbolos da cidade (VERRI Jr., op. cit.). O Aeroporto Gastão Vidigal – sendo um dos ícones da arquitetura moderna na cidade -, o Gabinete do Prefeito – outro ícone da arquitetura modernista, projetado pelo arquiteto José Antônio Bellucci, construído entre 1967 e 1972 -, e o Museu da Bacia do Paraná – construção em madeira da década de 40, transferido para o campus da UEM em 1984 -, entre outras, também se encontram neste

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processo. A figura 8 mostra da esquerda para a direita o Gabinete do Prefeito, o Aeroporto Gastão Vidigal e o Museu da Bacia do Paraná.

Figura 8 – Da esq. para dir.: Gabinete do Prefeito, Aeroporto Gastão Vidigal e Museu da

Bacia do Paraná Fonte: Autor - 2009

5. CONCLUSÃO A pesquisa realizada possibilitou uma análise geral do estado em que se encontra a

preservação histórica no município de Maringá. Apesar de número pequeno de obras tombadas na cidade – 4 por lei municipal, e 1 por lei estadual -, a simples presença de uma legislação municipal com vista a preservar o patrimônio é um aspecto positivo encontrado. Contudo, a legislação por si só, não garante de forma categórica a preservação dos bens culturais do município. É necessária a conscientização da população e de dirigentes envolvidos, para que fatores como a crise econômica, o desinteresse social e a especulação imobiliária, não venham a acabar com parte significativa da memória da cidade.

Foram observados esforços de estudiosos e historiadores da região em estudar, analisar e classificar o patrimônio histórico tanto material quanto o imaterial da cidade, afim de contribuir para a preservação dos bens culturais. Porém não foi observada a existência de uma política pública, realmente preocupada com esta questão, o que dificulta o processo de conscientização da população, e a realização do tombamento das edificações.

O estudo demonstrou ainda, a clara importância da arquitetura no espaço urbano das cidades, estando esta, intimamente ligada com a memória e história de um povo. A existência de diversas edificações representativas em seu contexto urbano mostrou que apesar de ser uma cidade recente, de pouco mais de 60 anos, o município possui muito patrimônio a ser preservado. Diversas obras abordadas são importantes ícones da arquitetura moderna locais, ou possuíram um caráter de extrema significância no processo de crescimento urbano do município, tornando-se assim, importantes marcos históricos na cidade.

Parte do patrimônio histórico da cidade encontra dificuldade em sua preservação principalmente em função de interesses imobiliários, uma vez que este mercado é bastante influente nas decisões do município. Conclui-se assim, que a cidade necessita de campanhas de conscientização, ressaltando a importância de tais edificações no espaço urbano de Maringá, pois somente através deste esclarecimento por parte da população em geral, de proprietários e investidores, é que os bens culturais da cidade terão sua manutenção garantida.

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REFERÊNCIAS ARANTES NETO, Antônio Augusto. Patrimônio e Produção Cultural. In: Palestra de abertura do Colóquio Franco-brasileiro sobre a Diversidade Cultural, realizado pelo IPHAN em cooperação com a Biblioteca Nacional da França, 13 e 14 out. 2005, Paris. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=382>. Acesso em: 25 mai. 2009. BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia: Ateliê, 2004. P. 30. CASTRIOTA, L. B. Intervenções sobre o patrimônio urbano: modelos e perspectivas. Fórum Patrimônio, v. 1, p. 16-36, 2007. DELMONICO, Renato; REGO, R. L.; PELEGRINI, Sandra C. A. Hotel Bandeirantes: memória, história e arquitetura em Maringá. In: II Seminário Internacional de História, 2005, Maringá. Anais do II SIH. Maringá: DHI/UEM, 2005. FRIDRICH, Veroni. Imagens e leituras do patrimônio cultural de Maringá – PR. Revista eletrônica Factorama, 2009. Disponível em: <http://factorama2.blogspot.com/2009/03/imagens-e-leituras-do-patrimonio.html>. Acesso em: 20 mai. 2009. FRIEDRICH, V.; ZANIRATO, S. H. Representações do Patrimônio Cultural em Maringá. In: XVII Semana de Geografia, 2008, Maringá – PR. Anais do 1° Simpósio sobre pequenas cidades e desenvolvimento local. Maringá: UEM, 2008. p. 01-07. SÃO PAULO. Prefeitura municipal de São Paulo. Tombamento e Participação Popular. Departamento do Patrimônio Histórico do município de São Paulo. São Paulo, 2001, 2ª ed. KUHL, Beatriz Mugayar. História e Ética na Conservação e na Restauração de Monumentos Históricos. Revista CPC, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 16–40, 2005. LEMOS, Antonio Carlos. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 2004, 5ª ed. Coleção Primeiros Passos. PELEGRINE, S. C. A.. Cultura e Patrimônio Histórico. Estratégias de preservação e reabilitação da paisagem urbana. In: Latinoamérica. Revista de Estudios Latinoamericanos. México. UNAN-MX, n. 38, 2004, p. 189-206. Disponível em: <http://www.cialc.unam.mx/revista_estudios.html>. Acesso em: 07 mai. 2009. REGO, Renato Leão. O desenho urbano de Maringá e a idéia de cidade-jardim. Acta Scientiarum, Maringá, v. 23, n. 6, p. 1569 – 1577, 2001. SILVEIRA, A. M.. Inventário do patrimônio arquitetônico de valor artístico, histórico e cultural de Maringá. Maringá, UEM/DAU, 2003. VERRI Jr., A.. A obra de José Augusto Bellucci em Maringá. 2001. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). FAUUSP, São Paulo, 2001.