estudos patrimonio

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N.º 1 – 2001 Publicação semestral NA CAPA Alcalar, monumento n.º 7 PRODUÇÃO EDITORIAL IPPAR – Departamento de Estudos DIRECTOR Luís Ferreira Calado COORDENAÇÃO EDITORIAL IPPAR/DE Manuel Lacerda Miguel Soromenho Ana Luísa Quinta Maria de Magalhães Ramalho COLABORAM NESTE NÚMERO Ana C. Dias (DRE/IPPAR), Carlos Severo, Cláudia Umbelino, Deolinda Folgado (DE/IPPAR), Ditza Reis, Elena Móran, Elvira Rebelo (DRP/IPPAR), Eugénia Cunha, Fernanda Garção (DPG/IPPAR), Fernando Galhano, Fernando Marques (DRC/IPPAR), M. Filomena Barata (DRE/IPPAR), Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva, Irene Frazão (DCR/IPPAR), Isabel Melo (DC/IPPAR), João M. Ribeiro, João Marques (DRE/IPPAR), João Santa Rita, Joaquim Sampaio, Jordi P. Werner, Jorge Croft, M. Antónia Amaral (DRC/IPPAR), Manel M. Alaix, Manuel Lacerda (DE/IPPAR), Marcelo Martín, Margarida Lencastre (DRP/IPPAR), Maria M. Ramalho (DE/IPPAR), Miguel Soromenho (DE/IPPAR), N. Bruno Soares, Nuno Simões, Paula Santos, Paulo Pereira (IPPAR), Paulo S. Pinto, Pedro S. Alves, Rafael Alfenim (DRE/IPPAR), Richard Edwards, Rita Gonçalves (DRL, DOCR/IPPAR), Rosa Vouga, Rui Parreira (FS/IPPAR), Sofia Salema (DE/IPPAR), Susana Correia (DRE/IPPAR), Teresa Marques (GIF/IPPAR), Teresa Tavares, Vasco Freitas, Victor Mestre DESIGN GRÁFICO Artlândia REVISÃO A. Miguel Saraiva PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO Textype TIRAGEM: 3000 exemplares ISSN: 1645-2453 Depósito legal n.º 170 293/01 Estudos/Património Publicação do IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico Palácio Nacional da Ajuda 1349-021 Lisboa Tel.: +351-21 361 4336 Fax: +351-21 362 8472 www.ippar.pt e-mail: [email protected] CADERNO INTERPRETAÇÃO DE MONUMENTOS E S Í TIOS 5 Interpretação de monumentos e sítios Manuel Lacerda 6 “Lugares de passagem” e o resgate do tempo Paulo Pereira 17 Mémoire et nouvel usage: du monument au projet Richard Edwards 25 Sobre el necesario vínculo entre el patrimonio y la sociedad Reflexiones críticas sobre la Interpretación del Patrimonio Marcelo Martín 38 Patrimonio y Territorio: una reflexión sobre los proyectos de puesta en valor del patrimonio – Manel Miró Alaix y Jordi Padró Werner ITINER Á RIOS ARQUEOL ÓGICOS DO ALENTEJO E ALGARVE 43 Estruturas de Acolhimento e Interpretação Programa Itinerários Arqueológicos do Alentejo e Algarve Manuel Lacerda e Maria Filomena Barata 46 O Sítio Arqueológico de Miróbriga – Maria Filomena Barata 49 Centro de Acolhimento e Interpretação de Miróbriga – Paula Santos 53 Circuito Arqueológico da Cola Susana Correia e Rafael Alfenim 55 Centro de Acolhimento e Interpretação do Circuito da Cola Sofia Salema 59 Conjunto Arqueológico do Escoural – João António Marques 61 Centro de Interpretação da Gruta do Escoural – Carlos Severo 65 Centro de Acolhimento da Gruta do Escoural – Nuno Simões 68 O Sítio Arqueológico de São Cucufate – Rafael Alfenim 70 Centro de Acolhimento e Interpretação de São Cucufate Nuno Bruno Soares 73 Povoado Pré-Histórico de Santa Vitória (Campo Maior) Ana Carvalho Dias 76 Estrutura de observação do Povoado Pré-Histórico de Santa Vitória (Campo Maior) – Jorge Croft 79 Villa Romana de Torre de Palma – Ana Carvalho Dias 82 Centro de Acolhimento e Interpretação de Torre de Palma Victor Mestre e Sofia Aleixo 86 Ruínas de Milreu – Rui Parreira 87 Centro de Acolhimento e Interpretação de Milreu Ditza Reis e Pedro Serra Alves 90 Villa Romana de Cerro da Vila 91 Núcleo Museológico da Villa Romana de Cerro da Vila Fernando Galhano 94 Alcalar: estudo, salvaguarda e valorização de uma paisagem cultural do III milénio a.C. – Elena Morán e Rui Parreira 99 Centro de Acolhimento e Interpretação de Alcalar – João Santa-Rita PATRIMÓNIO estudos

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A intervenção em património é hoje um processo complexo que congrega uma soma de conhecimentos técnicos altamenteespecializados, nas mais variadas áreas do saber.A fundamentação científica de trabalhos destanatureza não se limita, porém, à sua informaçãoprévia. De facto, ela continua no decurso dasintervenções e, até que monumentos e sítiosestejam completamente aptos para a divulgação pública, há ainda um longo caminho a percorrer. A publicação periódica que o IPPAR agora inicia pretende dar a conhecer os esforços multidisciplinares no conhecimento do património, bemcomo responder à exigência de proporcionar umainformação actualizada sobre as tarefas queincumbem a este Instituto, consignadas nas suasmúltiplas atribuições funcionais de classificação,salvaguarda, recuperação, valorização, e gestão dosprincipais monumentos e sítios classificados.A atenção, neste primeiro número, concentra-se privilegiadamente na temática da Interpretação demonumentos e sítios, divulgando um conjunto de reflexões que foram apresentadas em Encontropromovido pelo IPPAR, e no Programa Itinerários Arqueológicos do Alentejo e Algarve, mercê dosimportantes trabalhos que têm decorrido nalguns dos mais relevantes sítios arqueológicos daquelas regiões, no sentido de proporcionar as condições de acolhimento e interpretação indispensáveis a um público crescente. É nesta perspectiva queos Itinerários Arqueológicos são apresentadosneste número, fundamentalmente através dadocumentação de projectos e obras das estruturasde acolhimento e interpretação, realçando-se queesta é apenas uma das componentes mais visíveisde todo este Programa.A vocação reflexiva e teorética da publicação revela-se também em artigos ligados à área da salvaguarda, da História e da História da Arte, ouainda em contributos científicos do mais largo espectro sobre intervenções em curso, pressupondoa continuidade de um projecto aberto, capaz de acolher a diversidade de entendimentos sobre o património construído.

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  • N. 1 2001Publicao semestral

    NA CAPA

    Alcalar, monumento n. 7

    PRODUO EDITORIAL

    IPPAR Departamento de Estudos

    DIRECTOR

    Lus Ferreira Calado

    COORDENAO EDITORIAL

    IPPAR/DEManuel LacerdaMiguel SoromenhoAna Lusa QuintaMaria de Magalhes Ramalho

    COLABORAM NESTE NMERO

    Ana C. Dias (DRE/IPPAR), Carlos Severo, CludiaUmbelino, Deolinda Folgado (DE/IPPAR), Ditza Reis,Elena Mran, Elvira Rebelo (DRP/IPPAR), Eugnia Cunha,Fernanda Garo (DPG/IPPAR), Fernando Galhano,Fernando Marques (DRC/IPPAR), M. Filomena Barata(DRE/IPPAR), Fundao Ricardo do Esprito Santo Silva,Irene Frazo (DCR/IPPAR), Isabel Melo (DC/IPPAR), Joo M. Ribeiro, Joo Marques (DRE/IPPAR), Joo Santa Rita, Joaquim Sampaio, Jordi P. Werner,Jorge Croft, M. Antnia Amaral (DRC/IPPAR), Manel M. Alaix, Manuel Lacerda (DE/IPPAR), Marcelo Martn,Margarida Lencastre (DRP/IPPAR), Maria M. Ramalho(DE/IPPAR), Miguel Soromenho (DE/IPPAR), N. BrunoSoares, Nuno Simes, Paula Santos, Paulo Pereira(IPPAR), Paulo S. Pinto, Pedro S. Alves, Rafael Alfenim(DRE/IPPAR), Richard Edwards, Rita Gonalves (DRL, DOCR/IPPAR), Rosa Vouga, Rui Parreira (FS/IPPAR),Sofia Salema (DE/IPPAR), Susana Correia (DRE/IPPAR),Teresa Marques (GIF/IPPAR), Teresa Tavares, Vasco Freitas, Victor Mestre

    DESIGN GRFICO

    Artlndia

    REVISO

    A. Miguel Saraiva

    PR-IMPRESSO E IMPRESSOTextype

    TIRAGEM: 3000 exemplares

    ISSN: 1645-2453

    Depsito legal n. 170 293/01

    Estudos/PatrimnioPublicao do IPPAR Instituto Portugus do Patrimnio ArquitectnicoPalcio Nacional da Ajuda 1349-021 LisboaTel.: +351-21 361 4336Fax: +351-21 362 8472www.ippar.pte-mail: [email protected]

    C A D E R N OI N T E R P R E T A O D E M O N U M E N T O S E S T I O S

    5 Interpretao de monumentos e stios

    Manuel Lacerda

    6 Lugares de passagem e o resgate do tempo

    Paulo Pereira

    17 Mmoire et nouvel usage: du monument au projet

    Richard Edwards

    25 Sobre el necesario vnculo entre el patrimonio y la sociedad

    Reflexiones crticas sobre la Interpretacin del Patrimonio

    Marcelo Martn

    38 Patrimonio y Territorio: una reflexin sobre los proyectos de

    puesta en valor del patrimonio Manel Mir Alaix y Jordi Padr Werner

    I T I N E R R I O S A R Q U E O L G I C O S D O A L E N T E J O

    E A L G A R V E

    43 Estruturas de Acolhimento e Interpretao

    Programa Itinerrios Arqueolgicos do Alentejo e Algarve

    Manuel Lacerda e Maria Filomena Barata

    46 O Stio Arqueolgico de Mirbriga Maria Filomena Barata

    49 Centro de Acolhimento e Interpretao de Mirbriga Paula Santos

    53 Circuito Arqueolgico da Cola

    Susana Correia e Rafael Alfenim

    55 Centro de Acolhimento e Interpretao do Circuito da Cola

    Sofia Salema

    59 Conjunto Arqueolgico do Escoural Joo Antnio Marques

    61 Centro de Interpretao da Gruta do Escoural Carlos Severo

    65 Centro de Acolhimento da Gruta do Escoural Nuno Simes

    68 O Stio Arqueolgico de So Cucufate Rafael Alfenim

    70 Centro de Acolhimento e Interpretao de So Cucufate

    Nuno Bruno Soares

    73 Povoado Pr-Histrico de Santa Vitria (Campo Maior)

    Ana Carvalho Dias

    76 Estrutura de observao do Povoado Pr-Histrico

    de Santa Vitria (Campo Maior) Jorge Croft

    79 Villa Romana de Torre de Palma Ana Carvalho Dias

    82 Centro de Acolhimento e Interpretao de Torre de Palma

    Victor Mestre e Sofia Aleixo

    86 Runas de Milreu Rui Parreira

    87 Centro de Acolhimento e Interpretao de Milreu

    Ditza Reis e Pedro Serra Alves

    90 Villa Romana de Cerro da Vila

    91 Ncleo Museolgico da Villa Romana de Cerro da Vila

    Fernando Galhano

    94 Alcalar: estudo, salvaguarda e valorizao de uma paisagem

    cultural do III milnio a.C. Elena Morn e Rui Parreira

    99 Centro de Acolhimento e Interpretao de Alcalar Joo Santa-Rita

    PATRIMNIOe s t u d o s

  • S A LVA G UA R D A103 Falando com franqueza: a salvaguarda do Patrimnio

    e os seus (enormes) problemas

    Lus Ferreira Calado, Paulo Pereira e Joaquim Passos Leite

    108 A Proteco do Patrimnio Paisagista 1. parte

    Rita Maria Theriaga Gonalves

    116 A pessoa, as comunidades e os patrimnios: reflexes em torno

    da histria de uma necessidade Elvira Rebelo

    M E M R I A123 Segunda pedra de traaria do Convento de So Francisco

    de Santarm Paulo Pereira e Maria de Magalhes Ramalho

    129 A Necrpole de So Pedro de Marialva. Estudo arqueolgico

    Maria Antnia de Castro Athayde Amaral

    139 A Necrpole de So Pedro de Marialva. Dados antropolgicos

    Eugnia Cunha, Cludia Umbelino e Teresa Tavares

    I N T E R V E N E S145 Igreja de So Pedro de Marialva: interveno de conservao

    e restauro 1995-2001, o ressurgir de um novo templo...

    Fernando Marques e Maria Antnia Athayde Amaral

    151 Interveno na pintura a fresco da Igreja de So Pedro de Marialva

    Irene Frazo

    153 Restauro do retbulo da capela-mor, do tecto e dos retbulos

    da nave da Igreja de So Pedro de Marialva Rosa Vouga

    156 Conservao e restauro das pinturas do tecto

    da capela-mor da Igreja de So Pedro de Marialva (sculo XVIII)

    Fundao Ricardo do Esprito Santo Silva

    159 O Mosteiro de So Salvador de Grij Margarida Lencastre

    161 O Mosteiro e a Igreja de So Salvador de Grij

    Interveno de consolidao estrutural Joaquim C. Sampaio

    166 Rebocos base de cal em edifcios antigos. Uma experincia

    no Mosteiro de So Salvador de Grij

    Vasco P. Freitas e Paulo da Silva Pinto

    173 Projecto para uma Casa de Ch no Castelo de Montemor-o-Velho

    Joo Mendes Ribeiro

    A C T UA L181 Sistema de Informao do IPPAR. Acesso ao Patrimnio Cultural

    Digitalizado Teresa Marques

    183 Aco-Piloto de Cooperao Portugal-Espanha-Marrocos

    Miguel Soromenho

    185 Projecto de levantamento da Arquitectura Industrial Contempornea

    em Portugal (1920-1965) Manuel Lacerda e Deolinda Folgado

    186 Inventrio do Patrimnio Industrial da Covilh Deolinda Folgado

    187 A actividade editorial do IPPAR Manuel Lacerda

    189 Implementao da rede de lojas do IPPAR Isabel Melo

    190 Candidaturas do IPPAR a Fundos Comunitrios

    Fernanda Garo

  • Ainterveno em patrimnio hoje umprocesso complexo que congrega uma soma de conhecimentos tcnicos altamente

    especializados, nas mais variadas reas do saber.

    A fundamentao cientfica de trabalhos desta

    natureza no se limita, porm, sua informao

    prvia. De facto, ela continua no decurso das

    intervenes e, at que monumentos e stios

    estejam completamente aptos para a divulgao

    pblica, h ainda um longo caminho a percorrer.

    A publicao peridica que o IPPAR agora inicia

    pretende dar a conhecer os esforos multidis-

    ciplinares no conhecimento do patrimnio, bem

    como responder exigncia de proporcionar uma

    informao actualizada sobre as tarefas que

    incumbem a este Instituto, consignadas nas suas

    mltiplas atribuies funcionais de classificao,

    salvaguarda, recuperao, valorizao, e gesto dos

    principais monumentos e stios classificados.

    A ateno, neste primeiro nmero, concentra-se

    privilegiadamente na temtica da Interpretao de

    monumentos e stios, divulgando um conjunto de

    reflexes que foram apresentadas em Encontro

    promovido pelo IPPAR, e no Programa Itinerrios

    Arqueolgicos do Alentejo e Algarve, merc dos

    importantes trabalhos que tm decorrido nalguns

    dos mais relevantes stios arqueolgicos daquelas

    regies, no sentido de proporcionar as condies

    de acolhimento e interpretao indispensveis a

    um pblico crescente. nesta perspectiva que

    os Itinerrios Arqueolgicos so apresentados

    neste nmero, fundamentalmente atravs da

    documentao de projectos e obras das estruturas

    de acolhimento e interpretao, realando-se que

    esta apenas uma das componentes mais visveis

    de todo este Programa.

    A vocao reflexiva e teortica da publicao

    revela-se tambm em artigos ligados rea da

    salvaguarda, da Histria e da Histria da Arte, ou

    ainda em contributos cientficos do mais largo

    espectro sobre intervenes em curso, pressupondo

    a continuidade de um projecto aberto, capaz de

    acolher a diversidade de entendimentos sobre o

    patrimnio construdo.

    3

    e d i t o r i a l

    Lus Fer re i ra Ca ladoPresidente do IPPAR

    Claustro Principal do Conventode Cristo, TomarArquivo IPPAR

  • Centro de Acolhimento de MirbrigaIPPAR/H. Ruas

  • Acrescente importncia dos bens culturais no mundocontemporneo conduz a novas exigncias nasformas de gesto do patrimnio, de forma a respon-

    der eficazmente s mltiplas solicitaes que a socie-

    dade impe.

    O desenvolvimento do Turismo Cultural, a maior cons-

    ciencializao do Patrimnio enquanto recurso para o

    desenvolvimento, a exigncia de rigor no conhecimento

    do passado, implicam tambm novas formas de ges-

    to desses valores, onde a articulao e contratuali-

    zao entre diferentes actores assume cada vez maior

    importncia.

    Cruzando trs tarefas fundamentais e indissociveis,

    Conhecer/Investigar, Proteger/Conservar, e Valorizar/

    /Divulgar, o IPPAR, no mbito das suas atribuies,

    desenvolve formas de mediao entre o patrimnio e

    o seu pblico, atravs da criao de estruturas de

    Acolhimento e Interpretao, qualificao de percur-

    sos de visita, instalao de sinaltica interpretativa, e

    divulgao em diferentes suportes.

    Com o intuito de promover a reflexo e o debate,

    em particular acerca de uma das componentes deste

    complexo processo a Interpretao (e toda a

    problemtica que lhe est associada) o IPPAR promo-

    veu em vora, em Julho de 2000, um Encontro sobre

    Interpretao de Monumentos e Stios, largamente

    participado, do qual se publicam aqui algumas das

    comunicaes.

    Torna-se especialmente oportuno associar a apresen-

    tao destas reflexes com a apresentao de projec-

    tos para os Centros de Acolhimento e Interpretao

    previstos no Programa Itinerrios Arqueolgicos do

    Alentejo e Algarve, cuja abertura e entrada em fun-

    cionamento possibilita desde j uma avaliao dos con-

    ceitos que estiveram na base e no desenvolvimento

    das estruturas de Acolhimento.

    5

    I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S C A D E R N O

    Interpretao de monumentos e stios Manuel Lacerda

    Arquitecto Director do Departamento de Estudos do IPPAR

    1. Monumento n. 7 de AlcalarIPPAR/H. Ruas

    2. Villa Romana de PisesIPPAR/H. Ruas

  • 1. Os lugares de passagem

    Considero que o patrimnio cultural, e em especial o

    patrimnio imvel, seja ele constitudo por monumentos

    clssicos (como por exemplo, os palcios ou os

    grandes conjuntos monsticos), seja ele constitudo

    por monumentos e stios arqueolgicos (como por

    exemplo, as runas, paisagens monumentalizadas ou

    arqueopaisagens), possuem uma capacidade de evo-

    cao que motivam uma espcie de experincia de

    passagem, uma experincia no apenas esttica mas

    existencial1.

    Sei que estas palavras podem soar um tanto ou quanto

    filosficas em excesso, seno mesmo poticas, talvez

    mesmo denunciadoras de um romantismo eventual-

    mente descabido. Mas creio que, se analisadas as

    circunstncias fenomenolgicas em que tais passa-

    gens se do que so passagens no tempo e pas-

    sagens no espao poderemos todos perceber que

    o que est aqui em causa uma sada da ordem

    reconhecvel das coisas ou seja, da ordem quotidiana,

    comum e banal das coisas que nos rodeiam e que

    constituem o nosso quadro de vida , e uma entrada

    numa espcie de falha ou cesura temporal e espacial,

    por vezes inesperada e inslita, muitas vezes estranha

    dentro da categoria daquilo que em alemo se diria o

    uneimlich e em ingls o uncanny2.

    Quero dizer com isto que a nossa experincia perante

    um monumento arquitectnico ou um stio arqueol-

    gico nos obriga a um exerccio racional, de abstrac-

    o, de tentativa de entendimento e de procura de

    uma espcie de objectividade perdida mas que seria

    possvel reconstituir. Simultaneamente, obriga-nos

    a um exerccio de afectividade, de entrega do

    sujeito pela estesia (pela sensao), isto , de pura

    subjectividade.

    Entre estes dois plos situa-se a coisa. A coisa,

    neste caso, o objecto patrimonial e aquilo que o

    rodeia. E quanto mais esta coisa se afasta de um

    padro reconhecvel, ou seja, quanto menos clssico

    o monumento, maior a dimenso da nossa expe-

    rincia de passagem, maior a estranheza, maior o

    abismo que nos separa dessa coisa, maior tambm

    o eventual sentimento de incmodo que se experi-

    menta, maior a aura do monumento ou do stio

    arqueolgico. Maiores e muitas mais sero, tambm,

    as nossas interrogaes sobre o objecto3.

    Da a necessidade de o interpretarmos e de aceder-

    mos, porventura, s diversas possibilidades e discursos

    interpretativos que o mesmo motiva. Assinale-se que

    no nos encontramos perante um discurso em que o

    edifcio ou o imvel se encontra plenamente resga-

    tado e reutilizado, nem perante um discurso museo-

    6

    Lugares de passagem e o resgatedo tempo

    C A D E R N O I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S

    Paulo PereiraHistoriador de Arte

    Vice-Presidente do [email protected]

    1. Edgar-Pierre Jacobs, Les Aventures de Blake & Mortimer, SOS Mtores Editions Blake et Mortimer

  • grfico em que os objectos se encontram agrupados,

    sistematizados, passando a fazer parte de uma nova

    ordem, de uma espcie de taxinomia das coisas do

    mundo e que muitas vezes no deixam de induzir a

    sua dose de confuso, tal a acumulao de tempos

    diferentes e de objectos dspares que se encontram no

    espao-museu.

    Encontramo-nos, isso sim, perante monumentos, objec-

    tos, coisas, a meio caminho entre o nosso real e

    uma nova realidade, sabendo ns que essa nova

    realidade ter que ser construda note-se que eu

    no escrevi reconstruda , apoiada em sistemas expli-

    cativos que nos subtraiam do desconhecimento, que

    nos subtraiam do medo em conhecer mais e em saber

    melhor os porqus que uma larga e quase inson-

    dvel distncia instaurada pelo tempo instaurada

    entre cada um de ns e aquela coisa que ali esperou

    por ns ; algo, enfim, que consiga extrair-nos de uma

    mera e desorientada interrogao desapossada, e que

    por persistir, nos desapossa do objecto e nos aliena.

    Um monumento ou um stio de carcter patrimonial

    coloca-nos portanto, fora deste mundo e situa-nos

    noutro mundo. Ns passamos para esse outro

    mundo atravs dessa aparente falha do espao e do

    tempo que o monumento instaura. Esta condio de

    exterioridade do monumento ou do stio resulta do

    facto do monumento ou do stio da coisa em si

    se situar completamente fora da ordem contempor-

    nea, isto , fora da nossa ordem econmica (no sen-

    tido de oikos ou oikomene): no serve para nada, a

    no ser para ser fruda, caso a saibamos fruir. O que

    , em suma, a interpretao de um monumento de

    um stio? Nada mais nada menos do que o primeiro

    passo para reintegrar, sem perda de aura, sem

    alienao do objecto, o monumento ou o stio nessa

    ordem contempornea: conservando o monumento,

    valorizando o monumento, explicando e interpretando

    o monumento, para lhe conferir apenas esta pequena

    dose de utilidade e de interaco. Uma pequena dose

    de utilidade, que se esgueira em filigrana perante a

    inutilidade absoluta de qualquer runa, de qualquer

    stio que j foi.

    Como resgatar o tempo? Como vencer a distncia?

    Insisto que a nica forma de o fazer atravs da inter-

    pretao, atravs da constituio de lugares de pas-

    sagem. Esses lugares de passagem constituiro como

    que pequenas mquinas do tempo, capacitadas para

    nos darem conta de que possvel entender e ler o

    passado, perceber um objecto, com a certeza porm

    que desse objecto que nos oferecido ao entendimento,

    desse objecto apenas iremos perceber um segmento,

    uma fraco dele, uma infinitsima fraco alis.

    Esses lugares de passagem constituem, por fim, essas

    pequenas e singelas mquinas do tempo, muito

    imperfeitas como evidente, mas que nos permitem

    olhar o passado, e passar dele para o presente, sem

    o desproporcionado esforo das coisas secretas e

    obtusas: abrindo uma pequena porta ou lanando

    uma tnue pista, por pequena que seja, mas que por

    isso mesmo seja suficiente para o encaminhamento

    do sujeito para o conhecimento. Com a subtileza

    possvel.

    2. Os monumentos clssicos

    Com os monumentos ditos clssicos os problemas

    que se colocam sua interpretao tm essencialmente

    a ver com os diversos estados em que se encontram.

    Para o caso portugus podemos desde logo tipificar

    trs circunstncias patrimoniais, relativas a grandes

    monumentos ditos clssicos, que so absolutamente

    distintas e que se situam, at, em plos opostos no

    que respeita interpretao que motivam:

    Os Palcios Nacionais, por essncia lugares de pres-

    tgio, mais ou menos equipados e mobilados, em que

    a fruio do espao arquitectnico, por este se encon-

    trar completo e homogeneizado, se faz de forma

    7

    I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S C A D E R N O

    2. Edgar-Pierre Jacobs, Les Aventures de Blake & Mortimer, Le Mystre de la Grande Pyramide, vol. 1 Editions Blake et Mortimer

  • relativamente simples, porque se impe por si mesma

    (so quase que museus informais; e eis os exemplos

    dos Palcios de Sintra, da Pena, da Ajuda, de Queluz,

    de Guimares, etc.).

    Os grandes conjuntos monsticos, desafectos das

    suas funes por fora da extino das ordens reli-

    giosas em Portugal e em grande parte desapossados

    dos seus bens que se extraviaram, salvando-se apenas

    os respectivos templos, que mantiveram afectao paro-

    quial ao culto (os casos de Tibes, Rendufe, Pombeiro,

    Tarouca, e muitos outros, a maior parte dos quais em

    vias de recuperao e resgate por parte do IPPAR).

    Distinguem-se de entre estes os conjuntos que mere-

    ceram h mais tempo o seu reconhecimento em ter-

    mos de estatuto de excepcionalidade e que, por isso

    mesmo, sem se encontrarem melhor explicados ou

    passveis de interpretao, nos surgem como as gran-

    des e maiores evidncias do patrimnio arquitectnico

    no seu estado mais puro (e eis os casos dos mega-

    monumentos, ou supermosteiros, da Batalha, de Tomar,

    de Alcobaa ou dos Jernimos). Trata-se, s por si, dos

    monumentos mais visitados de Portugal, o que diz bem

    da sua fortuna pblica, que foi naturalmente prece-

    dida de uma grande fortuna crtica e cientfica que

    remonta, como bem o sabemos, a meados do sculo XIX

    e ao romantismo. So, em si mesmo, os smbolos da

    ideologia do patrimnio em Portugal.

    Os castelos e fortalezas, essas velhas mquinas de

    poder, hoje obsoletas, sem qualquer funo, esque-

    letos abandonados ou runas puras, algumas delas

    apropriadas e habitadas no seu interior, outras

    completamente isoladas e espera de um visitante

    curioso que procure desentranhar a sua histria. Nestes

    casos haver que entender que muitos castelos se

    encontram isolados dos centros histricos, sem qual-

    quer conexo com essas partes habitadas da cidade

    que, esperemos, no se encontrem desertificadas

    por qualquer programa de reabilitao demasiado

    profiltico.

    No caso dos palcios, os prprios percursos encerram

    em si uma componente explicativa. O esforo do tra-

    balho em termos interpretativos tem sido endereado

    no sentido de melhorar a sinaltica desses espaos e

    de, em casos seleccionados, iniciar a construo de

    pequenos plos explicativos por vezes, mesmo, como

    uma componente museolgica light, de modo a

    enquadrar o visitante na histria arquitectnica do

    imvel, e na sucesso de patrimnio mvel que cons-

    titui o seu acervo. Os casos mais crticos so os que

    se detectam nos palcios, que so objecto de uma

    eroso turstica mais evidente (como so os casos da

    Pena e de Sintra). A resolveu-se instalarem-se espaos

    de reteno de pblicos como sejam as cafetarias,

    restaurantes ou lojas, que contm a virtude no s de

    aumentar a receita prpria da entidade gestora, mas

    tambm a virtude de encaminharem pblico e de o

    reorientar em termos de fluxos de visita, o que se torna

    extremamente importante na melhoria da oferta.

    No caso dos conjuntos monsticos desafectos partiu-

    -se, a mais das vezes, de uma situao praticamente

    inerte, ou seja, de uma situao de devassa quase total,

    em que imperava a repartio de propriedade e de

    ocupaes indevidas. O IPPAR, nestes casos, procedeu

    ao resgate de partes do monumento e dos edifcios

    ocupados e usados (ou abandonados) por diferentes

    proprietrios de modo a conceder homogeneidade

    ao conjunto. Sempre que possvel avanou para a

    aquisio de parcelas de partes rsticas de modo a

    resgatar, igualmente, a zona de interaco econmica

    e social, produtiva e de modelagem paisagstica que

    constitui a antiga cerca monstica e conventual. Ainda,

    por se tratar de monumentos literalmente escanca-

    rados que a pouco e pouco foram ganhando a sua

    dignidade perdida (o caso de Tibes paradigmtico

    do trabalho neste domnio), vo adquirindo, gradual-

    mente, componentes explicativas, como seja pequenos

    plos ou mesmo reas museolgicas abertas (consti-

    tudas por percursos, reconstruindo nexos entretanto

    perdidos desde que devidamente equipados).

    Os supermonumentos tm merecido outro tipo de

    preocupaes: trata-se, tambm aqui, de reforar a

    sinaltica e de fornecer informao ao pblico. Muito

    se encontra por fazer, e nestes monumentos coloca-se

    desde j o mesmo problema que se identifica para

    os palcios, ou seja, a necessidade da criao de espa-

    os pblicos, de fruio e consumo bilheteiras,

    cloakrooms, lojas, cafetarias que retenham e

    8

    C A D E R N O I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S

  • reencaminhem os fluxos de visita. As carncias expli-

    cativas ainda subsistem, especialmente em monumentos

    como Tomar e Alcobaa, mas encontram-se j em fase

    de projecto muitas das componentes acima enuncia-

    das, ou at parte delas j executadas.

    Os castelos e fortalezas representam modalidades dife-

    rentes entre si, consoante o monumento se encontra,

    como se referiu atrs, mais ou menos integrado na

    cidade ou no centro histrico. O importante, evidente-

    mente, manter o imvel com capacidade de merecer

    a ateno do pblico, naturalmente a espaos, refor-

    ando a sua capacidade evocativa e introduzindo-lhe,

    controladamente (o que nem sempre foi feito, desig-

    nadamente no ciclo de trabalho que vai de 1990 a

    1995 e com resultados nem sempre bem-vindos), novas

    valncias de utilizao (espaos explicativos, cafeta-

    rias), tudo, como natural, com uma preocupao

    suplementar mas decisiva: a da viabilidade de gesto

    destes equipamentos novos, que tm que ver assegu-

    radas a sua dignidade e capacidade de funcionamento.

    Diria, sem medo de errar, que estes monumentos

    impem estratgias perfeitamente consolidadas, conhe-

    cidas e experimentadas, com uma maior ou menor

    margem de variao e de inovao.

    Os problemas maiores colocam-se, quase sempre, numa

    diversa tipologia de patrimnio imvel, por se tratar

    de bens eventualmente mais frgeis, mais difceis de

    reconhecer, por conterem residualmente apenas

    uma condio arquitectnica mais ou menos diluda:

    trata-se dos monumentos e stios arqueolgicos.

    A maneira de resolver as questes de entendimento e

    de interpretao decorrem, naturalmente, do salva-

    mento, da conservao, do restauro e da valorizao

    desses monumentos e stios. E para tal necessrio

    conhecer as diversas frentes de trabalho que se nos

    apresentam, caracterizando-as mediante aquele

    que o entendimento e a experincia do IPPAR neste

    domnio4.

    3. Os monumentos e stios arqueolgicos

    De facto, a valorizao dos stios arqueolgicos

    compe-se de duas vertentes principais, que decorrem

    da aplicao de programas a mdio e longo prazo

    destinados a conferir dignidade de fruio a imveis

    arqueolgicos afectos ao IPPAR, ou resgatados pelo IPPAR

    devido sua importncia em termos patrimoniais,

    a saber5:

    Programa Itinerrios Arqueolgicos do Alentejo

    e Algarve, co-financiado pelo ex-Fundo de Turismo e

    pelo IPPAR mediante protocolo de colaborao;

    Programas de valorizao dos imveis arqueo-

    lgicos afectos ou adquiridos pelo IPPAR (em regra,

    exteriores s regies abrangidas pelo programa refe-

    rido no ponto anterior);

    Outros programas pontuais, em regime de parce-

    ria com autarquias e entidades diversas.

    3.1. A condio patrimonial.

    A titularidade dos bens

    Naturalmente que estes programas levam em linha de

    conta um dos aspectos fundamentais para a valoriza-

    o do patrimnio arqueolgico nacional: a respectiva

    titularidade.

    Muitos dos imveis intervencionados so propriedade

    do Estado ou das autarquias, garantindo, mediante

    esta sua condio patrimonial, o envolvimento de pode-

    res pblicos na sua conservao, restauro e valoriza-

    o em nome do interesse pblico.

    Outros imveis, porm, no so propriedade do Estado

    e, por isso, encontram-se em condies bastante mais

    precrias de conservao, pese embora o facto de mui-

    tos deles se encontrarem classificados e dotados de

    zonas de proteco (ou seja, dotados de uma servido

    administrativa que os protege e reserva).

    Assinalo, todavia, que os problemas da real eficcia

    das servides administrativas muito maior nos im-

    veis arqueolgicos tendo em conta as caractersticas

    prprias desta tipologia patrimonial, que frgil

    (ou potencialmente mais frgil que as demais) e, muitas

    vezes, no revelada, o que pode conduzir sua

    destruio por desconhecimento, negligncia ou

    m-f.

    Podemos assim discriminar os seguintes tipos de

    imveis arqueolgicos consoante a sua titularidade:

    Stios arqueolgicos propriedade do Estado

    e afectos ao IPPAR

    Trata-se da parte mais significativa de monumentos e

    stios arqueolgicos identificados e adquiridos pelo

    Estado (ou que se situam em terrenos na sua posse).

    9

    I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S C A D E R N O

  • Tm vindo, gradualmente, a ser afectos ao IPPAR de

    modo a assegurar a sua integridade, inviolabilidade,

    reserva, conservao, restauro e, eventualmente, a sua

    valorizao.

    Stios arqueolgicos propriedade do Estado,

    afectos a outras entidades

    So escassos os exemplos, uma vez que na maior parte

    dos casos se trata de stios ou lugares com potencial

    arqueolgico que se encontram em zonas protegidas

    ou em terrenos afectos a entidades do Estado com

    tradies no domnio da ocupao e regramento do

    territrio, geralmente na dependncia do Ministrio

    da Agricultura (DGF, designadamente) ou do Ministrio

    do Ambiente (ICN, nomeadamente). Incluem-se neste

    lote os terrenos com potencial arqueolgico que

    integram instalaes do Estado. Exceptuam-se os casos

    de instalaes pblicas e equipamentos a executar

    em partes contguas de imveis classificados ou em

    vastas reas de proteco, mormente as que compreen-

    dem sectores salvaguardados de cidades (o que recai

    nessa peculiar categoria que a da arqueologia

    urbana).

    Stios arqueolgicos propriedade das autarquias

    So inmeros os casos que se inscrevem nesta cate-

    goria, de resto, muito generalizada.

    S t io s a rqueo lg i cos (ou monumentos )

    propriedade do Estado, nsitos em domnio

    pblico, dotados de um regime mais flutuante

    em termos de responsabilidade

    O seu estatuto em muito semelhante (ou de carc-

    ter misto) se comparado com os casos atrs descritos,

    embora a tutela jurisdicional se cinja ao facto de se

    encontrarem ou no classificados. Se no o estiverem,

    a tutela indirecta desses mesmo stios compete ao

    Instituto Portugus de Arqueologia, que pode propor

    a sua classificao.

    Stios arqueolgicos propriedade de associaes

    So raros os casos que se encontram nestas circuns-

    tncias e, em rigor, no fosse pela componente asso-

    ciativa, em pouco ou em nada se distinguiriam dos

    casos descritos no ponto seguinte.

    Stios arqueolgicos nsitos em propriedade

    privada

    A maioria dos stios arqueolgicos ou de parte de stios

    arqueolgicos.

    3.2. A poltica de aquisies

    como poltica de resgate

    Daqui fcil de concluir que a poltica de valorizao

    dos stios arqueolgicos deve ser flexvel atendendo a

    todas estas categorias. Porm, quando o que se encon-

    tra em causa so avultados investimentos ou quando

    necessrio optimizar, inclusivamente, o quadro de

    financiamento, garantindo simultaneamente uma actua-

    o mais substantiva e clere em termos de interven-

    o patrimonial, necessrio assegurar que os stios

    arqueolgicos, se possvel na sua totalidade, estejam

    na posse de entidades pblicas, ou seja, do Estado ou

    das autarquias. A experincia neste domnio dita as

    suas razes, uma vez que no caso dos monumentos e

    stios arqueolgicos, poucas vezes o interesse privado

    ou individual coincide com o interesse pblico.

    por isso que nos stios arqueolgicos afectos ao IPPAR

    que possuam ainda significativas parcelas do seu

    territrio arqueolgico (ou do seu potencial), bem como

    envolventes prximas ou distantes em posse de

    particulares, se tem levado a cabo uma poltica de

    aquisies (e/ou de expropriaes). Somente deste

    modo se poder garantir que a interveno a efectuar

    seja, efectivamente, global, completa e destinada a

    um futuro de fruio pblica logo que a oportunidade

    de gesto se nos apresente. Nos casos em que

    possvel interessar a autarquia ou que a mesma j dili-

    genciou no sentido de adquirir essa parcela patrimo-

    nial, o IPPAR estabelece protocolos de colaborao

    de modo a estabelecer parmetros de interveno

    e a fomentar o financiamento das operaes (o que

    o leva a ter em conta, tambm, a oportunidade de

    gesto).

    Diga-se, em abono da verdade, que no existe, pra-

    ticamente, um nico exemplo em que o imvel

    intervencionado (mesmo sendo, partida, afecto ao

    IPPAR) no tenha sido objecto de um processamento

    especial desta natureza, pelo que vale a pena relem-

    brar, entre outros, Mirbriga, Escoural, Santa Vitria

    de Campo Maior, Santa Vitria do Ameixial, Pises,

    So Cucufate, Castro da Cola, Milreu, Alcalar, Castelo

    Velho de Freixo de Numo, Centum Cellas, Freixo/

    /Tongbriga, So Gio da Nazar, prevendo-se aces

    deste tipo para imveis como, por exemplo, a Torre

    de Almofala.

    10

    C A D E R N O I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S

  • Mas os regimes de tomada de posse ou de aquisio

    e afectao variam, evidentemente, conforme as

    circunstncias patrimoniais j descritas e consoante as

    disponibilidades e o posicionamento dos proprietrios

    ou afectatrios originais. Assim temos:

    a) Aquisies por compra directa (Mirbriga, Milreu,

    Alcalar, Ameixial, Campo Maior, Freixo);

    b) Aquisies por expropriao (Alcalar, So Gio

    da Nazar);

    c) Aquisies por doao do proprietrio (Castelo

    Velho, doao da CELBI);

    d) Posse transitria atravs de contratos de como-

    dato (So Cucufate, Pises);

    e) Aluguer.

    Naturalmente que para levar a bom termo todos estes

    processos necessria uma mquina administrativa

    bem oleada e um relacionamento aberto e lmpido

    com outras entidades, entre as quais sobressaem as

    autarquias locais.

    3.3. A arqueologia monumental

    e os stios arqueolgicos

    Em bom rigor, para o IPPAR, qualquer monumento ,

    obviamente, um stio arqueolgico e vice-versa6. Porm,

    por razes de nomenclatura, comum inscrever as

    intervenes arqueolgicas em monumentos de grande

    porte no quadro daquilo a que se usa chamar arqueo-

    logia monumental (os casos, por exemplo, das inter-

    venes nos grandes conjuntos monsticos ou nas ss).

    Ora, a essncia do stio arqueolgico tem a ver com

    estruturas e contextos, tal qual qualquer outra obra

    do homem que objecto de interveno e valorizao

    patrimonial. Ou seja, a componente arquitectnica

    dos stios (a componente puramente arquitectnica),

    prevalece sobre o mtodo de revelao do monumento

    (a arqueologia)7 o que aqui, mais do que em qualquer

    outro caso, se torna mais agudo, porque a arquitec-

    tura se encontra ela prpria subsumida na condio

    de arch do bem a intervencionar. Importa a estru-

    tura; importa o contexto, o que igualmente vlido

    mesmo nos stios compostos maioritariamente por

    paisagens construdas.

    Na poltica de valorizao de monumentos do IPPAR no

    existe, alis, um nico caso que no seja precedido de

    prospeces arqueolgicas, de trabalhos de campo em

    extenso e durao, e de trabalhos arqueolgicos de

    laboratrio e de estudo. Neste interim, e de acordo

    alis com as convenes internacionais e com a dou-

    trina mais recente, indistinto o stio arqueolgico do

    monumento. Um e outro so a mesma coisa8.

    No entanto, vale dizer que a actividade do IPPAR no

    mbito da arqueologia nada tem de excepcional. Trata-

    -se apenas de dar objectividade s orientaes que

    devem presidir s intervenes em monumentos e que

    deveriam constituir uma posio normativa generalizada

    (e no apenas imposta pelo domnio da salvaguarda,

    como acontece em muitos casos). No IPPAR existe,

    portanto, uma coerncia entre as aces do mbito

    da salvaguarda (que condicionam, tantas vezes, a apro-

    vao de projectos realizao prvia de trabalhos

    arqueolgicos em zonas classificadas) e as obras de

    conservao, restauro, reabilitao e valorizao que

    o prprio IPPAR leva a cabo.

    A maior parte das vezes, tambm, os monumentos do

    IPPAR sob interveno constituem-se em grandes esta-

    leiros de arqueologia, sendo, de entre os maiores, Santa

    Clara-a-Velha, hoje o maior stio arqueolgico medie-

    val europeu. Registe-se que, a maior parte das vezes,

    as intervenes arqueolgicas constituem um dado

    essencial para o prosseguimento e elaborao dos

    projectos de restauro e conservao de monumentos,

    podendo determinar, inclusivamente, o partido pro-

    jectual adoptado (o caso, por exemplo, da FRESS, que

    viu o seu projecto totalmente remodelado em funo

    do potencial arqueolgico descoberto).

    Hoje em dia, alis, prevalece entre os arquelogos da

    arqueologia dita monumental uma estratgia de tra-

    balho, de leitura e de registo que amplifica o conceito

    11

    I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S C A D E R N O

    3. Edgar-Pierre Jacobs, Les Aventures de Blake & Mortimer, Le Pige Diabolique Editions Blake et Mortimer

  • de arqueologia de modo a estend-lo arquitectura

    propriamente dita ou, melhor dizendo, arqui-

    tectnica. o caso da aplicao dos mtodos de

    arqueologia da arquitectura que constitui, hoje ainda,

    uma espcie de especialidade confinada aos monu-

    mentos medievais, mas que tende a ampliar-se para

    contextos mais antigos, como o perodo romano e

    mesmo anteriores a este, abrangendo j a pr-histria

    recente monumentalizada (Idade do Ferro, Idade do

    Bronze, Calcoltico, Megalitismo).

    Mas evidente que a valorizao dos stios arqueol-

    gicos se prende, essencialmente, com aquilo a que

    poderemos chamar stios arqueolgicos clssicos e

    que, mal ou bem, se definem pela sua expresso arqui-

    tectnica de runa. Uma runa posta a descoberto,

    revelada, atravs do mtodo arqueolgico. No pro-

    priamente residual como a runa correntemente

    associada ao ideal romntico, tardo-romntico ou

    revivalista da runa artstica e aurtica mas antes

    a runa escondida, desvendada pela escavao.

    Naturalmente que se alinham no contexto portugus

    vrias tipologias de runas ou de stios arqueolgicos

    mais ou menos reconhecveis arquitectonicamente.

    Por exemplo:

    a) a runa do perodo romano, de uma uilla, de um

    vicus ou de uma cidade (Torre de Palma ou Mirbriga,

    por exemplo);

    b) a runa de um Castro da Idade do Ferro (como por

    exemplo a Citnia de Santa Luzia);

    c) as runas de arquitecturas castrejas da pr-his-

    tria recente ou de paisagens ritualizadas e monu-

    mentalizadas do calcoltico ou do neoltico (como

    sejam o caso do Castro calcoltico de Campo Maior,

    do Zambujal ou de Vila Nova de So Pedro);

    d) as runas (porque de runas se trata) de monu-

    mentos funerrios da Idade do Bronze (como Atalaia,

    em Ourique), calcolticos (como os da necrpole de

    Alcalar) ou do neoltico tardio as antas ou dlmens,

    reconhecveis nesse amplo e polimrfico contexto cul-

    tural a que consensualmente se chama megalitismo.

    So obviamente estas por serem as mais vulgares e

    melhor reconhecidas patrimonialmente , as tipologias

    que tm sido objecto de maior ateno por parte do IPPAR.

    A escolha ou seleco dos stios no se faz, porm,

    mediante uma grelha objectiva de anlise peridica ou

    cultural diga-se em abono da verdade. Faz-se antes

    por critrios de natureza patrimonial que levam em

    linha de conta aspectos de preservao outrance

    (nalguns casos) ou de gesto global. Assim, so objecto

    preferencial de interveno os stios arqueolgicos que

    apresentem:

    Necessidades imperiosas de interveno de emer-

    gncia de modo a assegurar o seu salvamento

    (e que podem evoluir depois para um projecto de

    valorizao).

    Possibilidades de valorizao oferecidas pela

    caracterstica do bem em causa (monumentalidade,

    apresentao e evidenciao na paisagem, memria

    muito activa entre as populaes).

    Condies de valorizao por motivos de ordem

    poltica, uma vez que o IPPAR deve acompanhar o

    interesse de todos os outros agentes que se lhe

    apresentem, e que tornam os stios aptos a serem

    objecto de programas de trabalho desenvolvidos e

    consistentes (propostas, que nascem, a mais das vezes,

    das autarquias).

    Janelas de oportunidade que decorrem da

    existncia de condies momentneas (quase sem-

    pre irrepetveis) para se produzir um programa de valo-

    rizao como sejam, possibilidades de financiamento,

    conjunturas de condio de titularidade favorveis,

    imperiosidade por motivos de interesse pblico dada

    a relevncia do bem, colocao do bem venda, etc.).

    Em suma, no h que procurar uma espcie de objec-

    tividade tcnica o que constituir sempre um argu-

    mento arriscado, porque quase irracional para fun-

    damentar esta ou aquela interveno de valorizao

    em arqueologia, mas antes sim uma subjectividade

    produtiva e dinmica que pode at resultar da

    convergncia dos factores discriminados mais acima:

    a escolha sempre poltico-cultural.

    A nica objectividade possvel e que temos

    perseguido decorre, essa sim, da necessidade em

    equilibrar em termos regionais o investimento.

    Na valorizao dos stios arqueolgicos a distribui-

    o dos stios intervencionados pelo IPPAR faz eco, tanto

    quanto possvel, de uma conjuntura de alargamento

    territorial das intervenes e da sua desconcentrao.

    12

    C A D E R N O I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S

  • 3.4. Filosofias de interveno

    As filosofias de interveno so sempre melhor

    explicitadas atravs de exemplos concretos. Mas, em

    termos gerais, as intervenes de valorizao dos stios

    arqueolgicos por parte do IPPAR obedecem aos seguin-

    tes princpios, quase sempre por esta ordem de prio-

    ridades, embora nem sempre necessariamente:

    a) Preservao, conservao e restauro;

    b) Pesquisa arqueolgica, efectuada em regime de

    continuidade, sem esgotamento do potencial se for

    caso disso, mantendo-se reservadas reas sem pros-

    peco por escavao);

    c) Oferta fruio pblica, asseguradas que foram

    as etapas anteriores;

    d) Constituio de bases para acolhimento do

    pblico;

    e) Insero dos stios arqueolgicos na ordem econ-

    mica contempornea como recurso cultural (turismo).

    Para se conseguirem estes desiderata, o IPPAR procede

    a aces como as que se descreveram, uma grande

    parte das quais preparada antes de qualquer traba-

    lho de valorizao propriamente dito (por exemplo, a

    aquisio precede a valorizao, o mesmo acontecendo

    com o fomento da investigao, a consolidao das

    condies de titularidade, a eventual contratualizao

    que tais condies podem acarretar). Desenvolve depois

    programas individuais e autnomos em que cada caso

    um caso.

    Todavia, percebe-se uma linha geral, j firmada, no

    que respeita valorizao dos stios, consoante a sua

    graduao em termos monumentais e em importn-

    cia cientfica cultural, comunicacional e informativa

    (e formativa):

    Proteco das estruturas;

    Salvaguarda do esplio;

    Tratamento do esplio;

    Estudo do esplio;

    Restauro das estruturas;

    Recomposio cientfica, por anastilose ou outros

    mtodos, das estruturas para assegurar a sua leitura

    e entendimento;

    Arranjo paisagstico das estruturas visitveis;

    Vedao, em termos qualificados das estruturas;

    Construo de:

    casas ou facilidades de guardaria permanente;

    observatrios simples;

    observatrios de paisagem;

    centros explicativos e de acolhimento;

    centros interpretativos;

    museus de stio.

    Esta graduao reflecte a faceta multimodal das

    intervenes.

    A guardaria parece ser, para uma grande parte dos

    exemplos, uma condio sine qua non para a preser-

    vao do stio. De facto, somente atravs de uma

    presena que tutele em permanncia estruturas e

    contextos por essncia vulnerveis que a disponibli-

    zao pblica desses bens pode ser assegurada. Falta,

    porm, dar um salto qualitativo nesta rea, e que se

    prende, quase que exclusivamente, com a formao

    profissional da guardaria a que preferimos chamar

    recepcionistas , o que no tem sido facilitado pelas

    conjunturas de emprego, pese embora a explorao

    exaustiva, por parte do IPPAR , de programas sediados

    no Instituto de Emprego e Formao Profissional ou

    no Fundo Social Europeu.

    A existncia de observatrios permite estabelecer com

    o stio arqueolgico uma relao contextual, quer de

    13

    I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S C A D E R N O

    4. Ted Benoit/Van Hamme(daprs Edgar-Pierre Jacobs)Les Aventures de Blake & Mortimer, LAffaire FrancisBlake Editions Blake et Mortimer

  • dentro para fora (ou seja, para observao e escrut-

    nio da paisagem circundante, em si mesma contextual

    apesar de alterada como se pensa fazer em Vila Nova

    de So Pedro), quer de fora para dentro (para leitura

    e interpretao do stio arqueolgico-ele-mesmo o

    caso da torre helicoidal de Campo Maior, por exem-

    plo). Trata-se de uma opo de maior leveza arqui-

    tectnica mas que no deixa de ter os seus desafios,

    precisamente por isso , mas que conceptualmente

    mais pesada nos termos em que um observatrio de

    paisagem obriga necessariamente ao cruzamento de

    diversas disciplinas aparentemente extrapatrimoniais,

    que conduzem explicao global do stio, tais como

    a antropologia, a biologia, a ecologia ambiental, etc.

    A instalao de centros explicativos e de acolhi-

    mento impe-se sempre que existam preexistncias

    que possam acolher um conjunto de material infor-

    mativo, que capacite o visitante a perceber o lugar e

    as sucessivas fases de transformao por que passou

    (como o caso de Panias), encaminhando-o. Note-se

    que a maior parte das vezes os centros explicativos e

    de acolhimento so constitudos por adaptaes de

    pequenas casas de arquitectura vernacular j existente

    que assim se preservam ou de casas ou endereos

    que constituam parte integrante de um tecido urbano

    consolidado, ajudando, inclusivamente, sua salva-

    guarda e sua fruio, uma vez que atrai e fixa

    pblicos, no apenas em funo do monumento ou

    stio nuclear, mas tambm em funo do territrio

    habitado circundante, animando-o.

    A construo de centros interpretativos acumula as

    caractersticas dos centros explicativos com a possibi-

    lidade, amplificada, de melhor interagirem com os

    visitantes: explica, procede a (ou oferece) uma inter-

    pretao, mas tambm regula e disciplina os fluxos de

    visita, associando-se-lhe uma componente cientfica

    uma vez que estes centros se encontram dotados de

    gabinetes de trabalho, de centro de documentao e

    de reservas. Trata-se quase sempre de obra nova de

    raiz (o caso de Mirbriga, Milreu, Alcalar, So Cucufate)

    ou de adaptaes de edifcios antigos (o caso de

    So Cucufate-villa ou do Escoural-gruta e do Freixo).

    A escala das intervenes substancialmente maior,

    e a sua responsabilidade tambm, uma vez que implica

    uma estrutura de gesto mais forte, com uma capa-

    cidade continuada de trabalho, gerando, por isso, a

    instituio de servios dependentes (eis os casos de

    Tarouca, Mirbriga, Freixo do Marco [Tongobriga] e,

    presumivelmente, outros lugares).

    Os museus de stio, de que se possui apenas, por

    enquanto, o exemplo de Conmbriga (gerido pelo IPM)

    constitui obviamente uma mais-valia, mais-valia esta

    que tem vindo a ser recentemente ultrapassada pela

    maior flexibilidade dos modelos anteriormente descri-

    tos mas que se impe em circunstncias de grande

    monumentalidade, como ser o caso de Santa Clara-

    -a-Velha.

    Concluso

    Esta passagem em revista da poltica patrimonial rela-

    tiva aos monumentos e stios arqueolgicos do IPPAR

    na sua componente interpretativa no se cingiu, natu-

    ralmente, arqueologia ou aos seus avatares.

    Efectivamente, porque a circunstncia do patrimnio

    imvel transversal e no exclusora, especialmente

    quando se afirma com cada vez maior nfase a

    interdisciplinaridade das aces naquele domnio.

    Claro est que so as intervenes em stios (prefe-

    riria chamar-lhes lugares) arqueolgicos que se

    14

    C A D E R N O I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S

    5. Franois Schuitten/BenoitPeeters Editions Casterman

  • 1 As experincia de passagem atravs de lugares qualificados ou considerados mgicos constitui um leitmotif da literatura antiga e contem-

    pornea, podendo alinhar-se, para os tempos mais recentes e num elenco forosamente restrito, autores como Jlio Verne, Jorge Luis Borges,

    Bloy Casares ou Italo Calvino, mas tambm, no domnio do ensasmo, Walter Benjamin (esta lista , em rigor, inesgotvel e estende-se, claro

    est, ao cinema, assumindo papel de relevo filmes como A Zona, de Andrei Tarkovsky; em rigor bem possvel estabelecer uma espcie de topo-

    grafia sobre os lugares de passagem no imaginrio ocidental, no fosse a tarefa considerada eventualmente pueril). Naturalmente, merece

    uma chamada de ateno toda a literatura de banda desenhada, ficcionada e com referentes literrios e visuais muito recortados, como seja a

    obra do tandem Luc Schuiten/Benoit Peeters com o ciclo As Cidades Obscuras (vide tambm www. urbicande @ be). A se teorizam os luga-

    res de passagem; e a se colocam ao servio da fico e da esttica (vide ainda Schuiten/Peeters, Le Guide des Cits, Paris, 1999).2 Neste domnio, veja-se a obra de Anthony Vidler, The Architectural Uncanny, MIT, 1996, que descreve com a clareza possvel esta categoria esttica,

    que se encontra aquem da ordem do sublime, mas que dele se aproxima para logo se afastar atendendo estranheza dos fenmenos ou das coisas

    observadas. O que estar em causa no a beleza mas antes a percepo de uma fundura psquica latente em determinados objectos que fogem

    a uma definio mais estvel do ponto de vista axiolgico, para se revelarem na sua fundura psicolgica (seno mesmo psicanaltica).3 Sobre a aura dos monumentos vide a obra clssica de Franoise Choay, Lallgorie du patrimoine, Paris, 2. ed., 1997; tambm Paulo Pereira,

    (Re)trabalhar o passado, in Arquitectura. Portugal, Frankfurt (catlogo da exposio); Cidade como Patrimnio, in A Cidade Portuguesa

    (dir. Walter Rossa), Crculo de Leitores (em preparao).4 Vide a este respeito, e sobretudo em termos da definio das polticas de interveno do IPPAR, a obra Intervenes no Patrimnio. Balano e

    Perspectivas, 2000-2006, Lisboa, IPPAR, 2000.5 Uma verso mais sinttica deste texto aparece in op. cit.6 Adoptamos os conceitos correntes. Citando o n. 1 do art. 37. da Lei 13/85 obtm-se, no mbito do Regime especfico do patrimnio arqueo-

    lgico (Captulo IV): Para os efeitos do presente diploma, entendem-se por trabalhos arqueolgicos todas as investigaes que tenham por

    finalidade a descoberta de bens de carcter arqueolgico, no caso das investigaes implicarem uma escavao do solo ou uma explorao

    sistemtica da sua superfcie, bem como no caso de se realizarem no leito ou no subsolo de guas interiores ou territoriais. Naturalmente que

    esta definio dos trabalhos arqueolgicos e, concomitantemente, a noo de bens arqueolgicos em termos gerais, enquanto bens imveis

    ou mveis no contende, pelo contrrio complementa, o Regime especfico dos bens imveis (Captulo II, no mbito do Subttulo I, Dos

    bens materiais) contemplado no mesmo diploma. Esta filosofia foi igualmente adoptada na Proposta da Nova Lei de Bases do Patrimnio Cultural.7 A Conveno de Londres, revista em La Valetta, subordinada ao tema A Proteco do Patrimnio Arqueolgico, Conselho da Europa, 16 de

    Janeiro de 1992, ao discriminar o que patrimnio arqueolgico, parte de um pressuposto (na nossa opinio) inverso ao da actual proposta de

    Decreto-Lei, visando integrar e incluir (e no desintegrar e excluir) os bens arqueolgicos face a outras tipologias de bens culturais. Leia-se o

    n. 2 do art. 1: A cette fin, sont considers comme lements du patrimoine archologique tous les vestiges, et bien autres traces dexistence

    de lhumanit dans le pass, dont la fois: / i. la sauvegarde et ltude permettent de retracer le dveloppement de lhistoire de lhumanit et

    la rlation avec lenvironnement naturel; / ii. Les principaux moyens dinformation sont constitus par des fouilles ou des dcouvertes ainsi que

    par dautres mthodes de recherche concernant lhumanit et son environnement; / iii. Limplantation se situe dans tout espace relevant de la

    jurisdiction des Parties. Leia-se, ainda, o n. 3 do mesmo artigo, que precisa o alcance do que acima se expende: Sont inclus dans le patri-

    moine archologique les structures, constructions, ensembles architecturaux, sites amnags, tmoins mobiliers, monuments dautre nature, ainsi

    que leur contexte, quils soient situs dans le sol ou sous les eaux. O carcter deste artigo , repetimo-lo, inclusivo e no exclusivo, uma vez

    que o que importa salvaguardar a informao arqueolgica, assim como os bens arqueolgicos, independentemente da sua natureza fsica.

    Ou seja, o patrimnio arqueolgico integra categorias mais vastas de bens culturais imveis e mveis, mas no exclui uns em termos de gesto,

    em benefcio dos outros, no os entende desintegradamente do contexto em que vm luz. Isto no impede que desde 1992 at hoje,

    passados mais de sete anos, outros critrios de avaliao patrimonial no tenham feito o seu prprio caminho, obrigando a uma reflexo crtica

    sobre os dispositivos instalados pela Conveno de Londres/La Valetta, mormente o que diz respeito s paisagens culturais e extenso ambien-

    tal, ou distino artificial entre patrimnio corrente e patrimnio arqueolgico, como se este fosse, apenas, aquele que se encontra cota 0;

    hoje em dia, os mtodos de arqueologia da arquitectura fundem o contexto enterrado com o contexto revelado, puramente arquitectnico,

    15

    I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S C A D E R N O

    recortam com maior nitidez neste contexto, contexto

    em que fazemos a interpretao depender do res-

    gate das coisas e do resgate do tempo.

    Concebemos cada monumento e cada stio como um

    lugar de passagem entre dimenses. E acreditamos

    na capacidade regeneradora do patrimnio, pelo que

    as intervenes no se esgotam em aces pontuais ou

    na resoluo estreita de um problema. Pelo contr-

    rio, a interveno no patrimnio implica sempre uma

    projeco do futuro, uma perspectiva de gesto global

    (antes, durante, e depois dos trabalhos de recuperao).

    Motiva, ainda, uma interpretao permanente, que

    dinmica em si mesma, e que nos coloca a todos em

    contacto com aquilo a que costumamos chamar a

    quarta dimenso do patrimnio. essa, obviamente,

    a passagem mais importante: a passagem de um

    mundo tridimensional e reconhecvel, relativamente

    codificado e fsico, para esse outro mundo, feito de

    memria, e conhecimento, muitas vezes imaterial e incor-

    preo, o da cultura, simbolizado pela aura do lugar.

  • o que vlido no apenas para a arqueologia do perodo moderno e medieval, mas tambm para a arqueologia da pr-histria recente. Ignorar

    este facto insistir num entendimento, a nosso ver, redutor da arqueologia. Refira-se ainda que a noo de patrimnio arqueolgico no

    recobre a noo de bens imveis: sendo realidades distintas, encontram-se porm intimamente interligadas.8 Discordamos claramente da afirmao de carcter corporativo mesmo que involuntria que se detecta por detrs desse novo (e, a nosso

    ver, inslito) conceito, segundo o qual tudo arqueologia o que no limite verdade, como tudo o que existe feito pelo homem ,

    tambm, antropologia. O que h que distinguir a natureza fsica do bem e no o seu mtodo de percepo cientfica, sempre dependente

    de contributos interdisciplinares. E se assim para o entendimento puramente cientfico do bem arqueolgico, ainda o mais quando o que

    est em causa condio patrimonial (e cultural) do bem no propriamente reduzida sua dimenso de objecto puro de aplicao de uma

    putativa cientificidade tendente para a exactido , o que tambm pode muito legitimamente ser posto em causa, sobretudo para a arqueolo-

    gia, que colocamos decididamente no mbito das cincias humanas e sociais e for a da esfera das cincias aplicadas ou da natureza, con-

    tendo dados presumivelmente mensurveis. As tendncias ps-estruturalistas no mbito da arqueologia e a prpria arqueologia ps-processual

    e os seus praticantes e crticos (Shanks, Tilley, Sherratt, Thomas) para no falar da escolas, ainda frgeis certo, como as da, algo radical,

    arqueologia terica reconduzem a disciplina a horizontes bastante mais profcuos do que aqueles que decorrem de pretensas objectividades,

    objectividades que no so seno formas inteligentemente disfaradas de neopositivismo. Acresce, ainda, a deformao que decorre de vises

    estritas como as da existncia, nunca confessada, de especialidades dentro da prpria disciplina, que distingue arquelogos pr-historiadores

    e os arquelogos historiadores, o que alimenta a falha ou o fosso entre tipologias patrimoniais com processamento arqueolgico.

    16

    C A D E R N O I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S

  • Lorsquun monument connat un projet de r-usage,

    il peut devenir un acteur contemporain de la mmoire

    en devenir, le monument prenant alors tout son sens

    partir du moment o lusage le rend quotidien et

    accessible.

    Trois rflexions guident mon travail sur le terrain: celle

    dAndr CHASTEL invite relier luvre au lieu,

    larchitecture au site, le site lespace du vivant; celle

    de Pierre NORA enracine la mmoire dans le concret,

    dans lespace, le geste, limage et lobjet; celle de Paul

    VIRILIO commande de penser le pass partir du

    futur.

    Trois questions se posent alors:

    1. La question du REMPLOI dun difice devenu

    Monument Historique, en se gardant de deux

    extrmes (mortels sils sont exclusifs): la stricte

    conservation (embaumement, sans valeur dusage),

    la vulgarisation (forme de cannibalisme virtuel et

    collectif). Cette question est la premire parce

    quelle subordonne la protection et la sauvegarde du

    monument.

    2. La question dun NOUVEL USAGE pour redonner du

    sens l o la fonction dorigine ne peut plus tre

    reproduite.

    3. La question de lEXPRIENCE ESTHTIQUE, savoir

    organiser les conditions du parcours initiatique.

    Informer, tmoigner et former pour donner voir

    17

    I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S C A D E R N O

    Mmoire et nouvel usage: du monument au projet Richard Edwards

    Autor, realizador e editor de projectos culturais no domnio do patrimnio e do ordenamento do territrio

    Avertissement:

    Conseiller culturel, concepteur, matre duvre, spcialis dans lusage contemporain du patrimoine bti

    et non bti, en milieu rural et urbain, jinterviens, en France et en Europe, auprs des matres douvrage,

    pour dabord poser la question du projet: quel avenir choisir, comment et pourquoi. Ni architecte,

    ni urbaniste, historien ou ingnieur, jexerce en structure prive, au service des lus, tat et collectivits

    territoriales, un mtier nouveau, la jonction de plusieurs mutations, qui enrichit les missions des

    conservateurs, des architectes, des historiens Jy suis venu en ayant eu, pendant sept ans (1983-1990),

    la direction de la Fondation Claude-Nicolas Ledoux dans lancienne Saline Royale dArc-et-Senans1, o jai

    men une rflexion particulire sur le nouvel usage des monuments, influenc autant par le trait de

    C.-N. Ledoux: LArchitecture considre sous le rapport de lArt, des Murs et de la Lgislation, paru en

    1804, que par cette immense architecture. Ma dmarche de passeur et de praticien se nourrit de

    rencontres, de recherches et dtudes2; elle privilgie le regard et lcoute, en choisissant de tenter

    dinventer la suite.

    1. Vue arienne de la SalineRoyale dArc-et-Senans Georges Fessy

  • et vivre: la valeur pratique dusage correspond

    la valeur esthtique de nouveaut3.

    Aller du Monument au Projet: dabord traiter le

    monument, le monument historique, avec la mmoire;

    ensuite concevoir le projet, en inventant la suite.

    I. La Mmoire: le monument

    et le monument historique

    Il y a deux choses dans un monument,

    son usage et sa beaut.

    Son usage appartient au propritaire,

    sa beaut appartient tout le monde.

    Victor Hugo

    Avant le monument historique existe le monument4:

    un difice en rapport avec la mmoire et le temps

    vcu; selon Riegl par monument, au sens le plus

    ancien et vritablement originel du terme, on entend

    une uvre cre de la main de lhomme et difie

    dans le but prcis de conserver toujours prsent et

    vivant dans la conscience des gnrations futures, le

    souvenir de telle action ou telle destine (ou des

    combinaisons de lune et de lautre).

    Cette rfrence au souvenir, la mmoire, est devenue

    aujourdhui moins vidente alors mme que sa

    ncessit est plus grande car on tend lui prfrer la

    valeur esthtique (la valeur dart), valeur relative,

    moderne, qui peut lui faire perdre la valeur de

    remmoration du monument au profit dune valeur

    actuelle dconnecte du concept de monument.

    Comment sengager dans un monument atypique

    comme lancienne Saline Royale, btiment industriel

    du XVIIIme sicle, install dans une campagne, saline

    sans sa mine de sel, architecture unique: on navait

    pas dexemple opposer, point de comparaison

    donner nous dit Ledoux (1736-1806) dans son

    trait5. Cette usine semblait ne plus pouvoir tre

    autre chose quun monument intentionnel pour sa

    valeur de commmoration, selon lanalyse quen fait

    Riegl dans le culte moderne des monuments, ou

    mme, poursuit lauteur, un monument ancien

    cration de lhomme ayant subi l preuve du

    temps . Ou ne garderait-on quune rfrence

    sublime (ce sublime qui conduit lmotion, selon

    les termes dEmmanuel Kant dans Observations sur

    le sentiment du beau et du sublime paru en 1764:

    Le sublime meut, le beau charme, lme se sent

    mue la reprsentation du sublime dans la nature,

    alors que le jugement esthtique sur le beau lui

    donne le calme de la contemplation), rfrence

    rserve quelques privilgis, tant les vicissitudes

    lavaient marque: usine dchue, ainsi que son

    architecte, architecture abandonne, foudroye,

    dynamite, jusqu faire tenir ce propos Julien

    Green dans son carnet de voyages en 1922: Une

    des merveilles de la France va bientt devenir un

    nom dans un livre darchitecture et peut-tre un

    lieu-dit sur une carte.

    Et le Convento de Nossa Senhora da Saudao,

    couvent de la Salutation (dbut XVIme sicle), log dans

    le chteau de Montemor-o-Novo (XIIme sicle)6 allait-il

    rester une curiosit dominant la ville et attirant le

    touriste, dans une rgion en pleine expression, alors

    que lquipe de crateurs mise en place offre de faire

    vivre, laune de lEurope, ce monument endormi?

    Et le Domaine de Randan7, ancienne proprit

    (XIXme sicle) dAdlade, sur de Louis-Philippe

    (Roi des Franais de 1830 1848), uvre majeure de

    Pierre-Franois Lonard Fontaine (1762-1853)8, allait-il

    rester comme une ruine, un domaine labandon,

    alors quil offre dtre lincroyable sige de lexpression

    de la naissance de la modernit en Europe?

    Ces difices taient-ils, sont-ils rests Monuments,

    Monuments Historiques?

    La lecture de louvrage dAlos Riegl (1806-1905) est

    dun apport capital dans cette relation qui nous occupe

    entre mmoire et projet et que Franoise Choay a

    remise jour: on ne peut se pencher sur le miroir du

    patrimoine ni interprter les images quil nous renvoie

    prsent sans chercher, au pralable, comprendre

    comment la grande surface lisse de ce miroir a t

    peu peu constitue par laddition et la fusion de

    fragments dabord appels antiquits, puis monuments

    historiques9.

    Pour Riegl, le monument est une cration dlibre

    (gewollte) dont la destination a t assume a priori et

    demble, alors que le monument historique nest pas

    immdiatement voulu (ungewollte) et cr comme tel:

    il est constitu a posteriori par les regards convergents

    18

    C A D E R N O I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S

  • de lhistorien et de lamateur qui le slectionnent

    dans la masse des difices existants. Franoise Choay

    renforce ce propos quand elle crit: un difice ne

    devient historique qu la condition dtre peru

    comme appartenant la fois deux mondes, lun

    prsent et immdiatement donn, lautre pass et

    inappropriable ( noter quau Moyen-ge, les

    crations de lAntiquit ne jouent pas le rle de

    monument historique: lhomme du Moyen-ge en

    prend possession sans en prendre ncessairement

    connaissance, car, comme Philippe Aris la montr,

    leur pass nest jamais considr comme mort).

    Les gens daujourdhui ont-ils prendre connaissance

    du pass du monument historique dans lequel ils sont

    de passage? Doit-on leur faire adopter un statut

    dhabitant, mme provisoire pour les impliquer, sils

    doivent ltre? Et comment, dans le mme temps rester

    en distance par rapport celui-ci?

    Passer du monument son nouvel usage, cest passer

    du monument au projet, cest permettre, par un

    nouvel usage dans un monument devenu historique,

    dinscrire la mmoire dans laction contemporaine.

    II. Du monument au projet

    Le monde de lart nest pas celui de limmortalit,

    cest celui de la mtamorphose.

    Andr Malraux

    Sengager dans une tel le dmarche, passer du

    monument au projet, cest chercher conjuguer

    linappropriable et le disponible: lINAPPROPRIABLE le

    pass reprsent par ldifice qui est l aujourdhui, ou

    ce quil en reste et le DISPONIBLE le nouvel usage qui

    peut en tre fait, l o la reprise de lusage dorigine

    nest pas possible ou envisageable.

    Quatre exigences structurent un projet conu et mis en

    uvre dans un monument:

    1. Le projet se conoit partir du monument, du

    monument historique.

    2. Le pass du monument fait partie du projet: il doit

    tre signifi et reprsent.

    3. Lamnagement (les investissements) qui sert le

    projet nocculte pas ldifice, il sen nourrit.

    4. Toute intervention dans le monument doit garder un

    caractre de rversibilit.

    Pierre Nora crit: la mmoire saccroche des lieux

    comme lhistoire des vnements10. Le projet se

    conoit partir du monument, contrairement un

    porteur de projet qui le fonde sur sa propre dmarche;

    son projet pourra se dplacer, tre dplac selon les

    rencontres, les opportunits (celles des institutions, des

    publics, des volonts, etc). Ici nous interrogeons

    dabord ldifice: quel est-il? que raconte-t-il? Son

    histoire fixera une part majeure, pralable, des

    conditions du projet, histoire signifiante qui devra tre

    signifie. Concrtement, cette ncessit entrane une

    rflexion sur les limites de lintervention, pose la

    question du choix dimiter, dinventer, de reproduire,

    de reprsenter

    Beaucoup de monuments restent figs car ils sont

    considrs comme objets de culte valeur de relique:

    la valeur dorigine. Cela peut se concevoir peut-tre

    pour un monument rig spcifiquement pour se

    souvenir (Arc de Triomphe), mais pas pour un difice

    pour lequel le pass acquiert une valeur de

    contemporanit au regard de la vie et de la cration

    moderne nous dit encore Riegl. Cest rellement aprs

    la seconde guerre mondiale, quen Europe se pose ce

    quon appellera la rhabilitation des monuments

    historiques; La Charte dAthnes, en 1931, fait tat de

    propositions, mais cest la convention culturelle

    europenne du Conseil de lEurope, en 1954, qui fait

    entrer cette question dans la responsabilit des tats

    membres: restaurer, pour quoi faire, au-del des

    mesures ncessaires la sauvegarde et la protection,

    au-del de la conservation.

    Lengagement culturel viendra plus tard, la fin des

    annes 60, en mme temps que va se poser la

    question de la dmocratisation11 de la culture. Il faut

    souligner que, ni le Trait de Rome, en 1957, ni le

    Trait de Maastricht, en 1992, ne dveloppent

    dambitions sur ce terrain l.

    Cet engagement pour la remise en vie des

    monuments se fera dabord sous la forme de muses:

    il faut montrer, exposer ce qui a t et justifier les

    travaux de conservation et de restauration entrepris par

    ceux quon appelle justement les conservateurs et les

    architectes des monuments historiques. Pour les

    collectivits publiques, plus que pour lEtat, louverture

    aux publics est une manire de prouver le bien fond

    19

    I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S C A D E R N O

  • de lengagement maintenir et sauvegarder ce

    patrimoine bti; nous sommes loin de la dmarche de

    projet mais cest pourtant comme cela quon en parle.

    Le dbat de la fin du XIXme sicle et du dbut du XXme si-

    cle, tellement bien repr grce aux oppositions qui

    saffirment avec John Ruskin (1819-1900) dune part,

    pour lcole anglaise, et Eugne-Emmanuel Viollet-le-

    Duc (1814-1879) dautre part, pour lcole franaise,

    dbat pour savoir sil faut restaurer ou (et) conserver

    (dbat arbitr par litalien Camillo Boito (1814-1914)

    dans un dialogue clbre12) va progressivement se

    dplacer vers celui de sauvegarder ou (et) animer.

    Ce dbat est dautant moins clos aujourdhui que lon

    assiste un dplacement des fonctions des profes-

    sionnels concerns: tel conservateur ne souhaite-t-il

    pas sengager dans une dmarche de projet con-

    temporain, tel architecte en chef des monuments

    historiques ne cherchera-t-il pas engager des travaux

    destins servir une action contemporaine? Les

    propritaires ne cherchent-ils pas, en leur qualit de

    propritaires de monuments vouloir des projets

    directement utilisables in situ, au profit de projets plus

    exactement touristiques?

    Mais i l reste que ces ruti l isations ne sont pas

    considres, dans bien des cas, comme suffisantes.

    Comment donner une nouvelle valeur dusage qui

    puisse tre perue comme cohrente avec la valeur

    historique? Comment faire du monument historique

    non plus une finalit, mais lobjectif ou le moyen dun

    projet directement agissant aujourdhui?

    Pour lancienne Saline dArc-et-Senans, chacun stait

    employ vouloir remplir des btiments vides, selon

    des opportunits immdiates: haras, silos grains,

    foyer rural, caserne, entrept, rsidences secondaires.

    Ni chteau fort, ni abbaye, ni rsidence de prince, donc

    au fond, sans mmoire obligatoire, lancienne usine

    navait dautre dignit que son architecture dite monu-

    mentale. Rien ne permettait de parler de projet.

    Pour lancien domaine de Randan, rien de plus simple

    que de se dire que 100 hectares de proprit

    pourraient faire un lieu touristique facile, avec de la

    fort parcourir (et aprs tout quimporte quelle ait

    fait lobjet dune savante composition) et un village

    du cheval (sic) install l puisque des chevaux, il y en a

    dans la rgion: le marketing au dtriment dune offre

    nourrie de mmoire: faire de largent le plus rapi-

    dement possible!

    La fin des annes 60 et les annes 70 ont vu spanouir

    ce qui tait considr comme un excellent moyen

    danimation des monuments: les sons et lumires, avec

    ou sans reconstitution historique, de prfrence en

    priode touristique, mettant nu des lieux et des

    btiments dont on sait que, lorsquon les a construits,

    tout ntait pas fait pour tre montr; lon tend

    ramener le monument historique au monument, cest

    dire un objet commmoratif.

    Depuis, ce triste privilge perdure, samplifie: les

    monuments ne sont plus quun prtexte denjeux

    financiers, colors culturels: coller la demande

    prdomine, nous retrouvons les lois du march: cest

    ainsi que lon peut parler de tourisme culturel,

    manag ou conu par les ingnieurs culturels que

    lon laisse occuper le terrain, tant est forte labsence de

    rflexion des politiques et des responsables dans ce

    domaine, tant est flagrant le manque de professionnels

    de la culture pour concevoir et conduire des projets

    chappant ces bourrasques. La mondialisation, la

    perte de repres, les inquitudes, ne sont sans doute

    pas trangers cet activisme culturo-patrimonial.

    Il nous semble donc que la mise en uvre dun projet

    contemporain doit tre engage dans et partir du

    monument considr: nous appelons cela le choix du

    Bernard lermite13. A cela sajoute la dure, comme

    existe la dure de lhistoire du monument, comme doit

    exister la dure du projet culturel.

    Partir du monument, cest sinterroger sur le pourquoi

    de la cration de ldifice, sur le comment de sa

    construction. Quels effets y a-t-il eu du temps de son

    fonctionnement, effets directs, indirects, induits,

    pervers? pourquoi, quand la ou les fonctions

    premires ont-elles disparues? comment cela sest-il

    modifi, sous quelles influences? Il ne sagit cependant

    pas de rechercher les causes originelles qui pourraient

    reproduire aujourdhui les mmes effets, mais de

    reprer les conditions dune remise en vie qui pro-

    duiraient des effets semblables.

    Se dispenser de ces pralables, de cet tat des lieux,

    cest aller au devant de difficults de cohrences entre

    le monument et le projet, lorsque se poseront les

    questions doccupation des lieux, damnagements,

    20

    C A D E R N O I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S

  • dorganisation des espaces et de transformation

    du bti.

    tre en mesure de sortir de la stricte contrainte

    conservatrice dun monument devient, particuli-

    rement aujourdhui, un atout du devenir du

    monument, par le projet. En effet, la manie con-

    servatrice cette mortelle vitrinification du muse []

    ne se dveloppe quau moment o une civilisation

    devient consciente de son impuissance inventer le

    prsent prcise Pierre Ryckmans (dans Su Rensham, 1970).

    Nous assistons, aujourdhui, la gnralisation de ce

    phnomne de vitrinification14 dans les centres villes

    en Europe quelle soit occidentale, centrale ou orien-

    tale: le centre-ville se vide au profit de faades, de

    btiments et de monuments restaurs: le cur de ville

    disparat et se dplace dans les centres commerciaux

    en bordure des villes15.

    Cet tat des lieux, cet tat des incertitudes nous

    permet denvisager avec ouverture cet usage

    contemporain, ce nouvel usage dont parle Franoise

    Choay, usage que le premier inspecteur franais des

    monuments historiques rejette violemment: lusage

    est un genre de vandalisme lent, insensible, inaperu,

    qui ruine et dtriore autant quune brutale

    dvastation16. Le nouvel usage, plutt que de craindre

    lusure, revient sinterroger sur quelle production de

    sens engager, dans une poque o il est plus question

    de chercher survivre individuellement, en restant

    politiquement correct, face au virtuel, nouvelle

    panace, nouvelle ralit, grande illusion lec-

    trooptique et acoustique annonce Paul Virilio17, dans

    un contexte o lon cherche obstinment et sans cesse

    se rfrer La mmoire (mme Disney): on ne

    parle tant de mmoire que parce quil ny en a plus

    nous dit Pierre Nora. Ce nest pas tant quil ny en ait

    plus, mais plutt que la mmoire est artificiellement

    dconnecte de notre prsent et quon la regrette

    plutt quon ne la vit, quon la met porte de main

    pour se souvenir, do cette inflation de muses o

    lon va regarder des objets la recherche de sa propre

    histoire, de sa propre image. Le succs des co-

    muses, des muses darts et traditions populaires, des

    centres dinterprtation du patrimoine est, ce titre,

    significatif. Andr Chastel et Jean-Pierre Babelon

    lexpliquent ainsi: lobjet visuel dsaffect prend une

    valeur de signe attachant [], la

    ferme, latel ier, la boutique

    dautrefois, deviennent mainte-

    nant ce quavaient t, pour les

    gnrations antrieures, lglise,

    le site, le chteau18.

    Ce retour aux sources, aux

    origines, aux valeurs fondatrices,

    sa propre identit passe, coupe du prsent, est

    dangereux: les thses dveloppes par lextrme-

    droite, les nationalistes, sur maintenant tous les

    continents montrent combien cela conduit aux

    ruptures, la fracture.

    Mais la rupture a dj eu lieu, nous sommes entrs

    dans le temps instantan, le live prcise Paul Virilio,

    ce temps qui fait perdre la mesure de la distance et qui

    provoque la perte de la mmoire (ce qui peut donner

    toute facilit pour rcrire lhistoire), et dautre part

    nous sommes aussi entrs dans une dmarche

    substitutive, une mtamorphose, un changement de

    forme. Cette mtamorphose se manifeste dans la prise

    en compte du monument: si la protection nest plus

    une exigence, son usage doit tre utile et le monument

    devient un prtexte.

    Ldifice parfaitement circonscrit se substitue au profit

    du seul espace culturel reu ou prsent comme

    nouvel espace vital: rel ier l uvre au l ieu,

    larchitecture au site, le site lespace du vivant

    nous dit pourtant Andr Chastel (Le Monde, 1974).

    Substitution du vrai pour le faux et le faux vrai. Il ne

    sagit pas ici de mettre en cause la dmarche de

    Viollet-le-Duc, qui avec son travail de restauration du

    chteau de Pierrefonds, en Picardie (nord de Paris)

    par exemple, nous conduit plutt, force de vrit

    cratrice vers un vrai faux magistral: restaurer un

    difice, ce nest pas lentretenir, le rparer ou le refaire,

    cest le rtablir dans un tat complet qui peut navoir

    jamais exist un moment donn19. Alors de quel

    faux sagit-il? Les Amricains sont de ceux qui le

    matrisent avec talent, par ncessit sans doute, et

    souvent jusqu lincohrence: construire un faux vrai

    en Europe, en exportant des tats-Unis un produit

    import et nourri de la culture europenne, un comble

    que ce Disneyland Paris. Utopie dgnre selon

    les termes du sociologue Louis Marin, quintessence de

    21

    I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S C A D E R N O

    2. Vue arrire du chteau de Randan Atlante/R. Edwards

  • lidologie de la consommation. Il est admis que tout

    est faux mais doit tre pris pour vrai (loffre) afin de se

    connecter lenvie de consommer du consommateur

    (la demande) qui, elle, est vraie. Ainsi la boucle est

    boucle: loffre est conforme la demande et la

    rejoint; tel est le but.

    Ainsi en est-il de Lascaux II par exemple, ou de la

    Vnus de Milo au Palace of living arts de Buena park

    prs de Los Angeles, dont la philosophie est: nous

    vous donnons la reproduction pour que vous nayez

    plus besoin de loriginal; Vnus de Milo porte la

    vie comme elle ltait du temps o elle posa pour le

    sculpteur inconnu, en Grce, peu prs deux cents

    ans avant J.C. dit la lgende inscrite dans le cartel20;

    et que dire du pavillon de Mies van der Rohe (1886-

    1969) Barcelone, construit en 1929 pour lexposi-

    tion universelle, dtruit ensuite, puis reconstruit

    lidentique avec de nouveaux matriaux, au mme

    endroit, plus dun demi-sicle aprs?

    Si nous insistons sur ce dernier point liant le vrai et le

    faux, cest quil nous semble que la mise en uvre

    dun projet engageant le nouvel usage dans un

    monument historique est un enjeu posant la question

    du continuum entre le pass et le prsent. Engager le

    monument historique vers un nouvel usage, cest faire

    de la mmoire un moteur de la production de sens

    et permettre au monument dtre un acteur con-

    temporain de la mmoire en devenir. Pierre Nora,

    nouveau: la mmoire est la vie, [], elle est en

    volution permanente, [], susceptible de longues

    latences et de soudaines ralisations, [], la mmoire

    est un phnomne toujours actuel, un lien vcu au

    prsent ternel []. La mmoire senracine dans le

    concret, dans lespace, le geste, limage et lobjet.

    Dans Eupalinos, Paul Valry (1871-1945) fait dire

    Socrate: un temple, joint ses abords, ou bien

    lintrieur de ce temple, forme pour nous une sorte de

    grandeur complte dans laquelle nous vivons Nous

    sommes, nous nous mouvons alors dans luvre de

    lhomme21.

    Le monument pour le monument noffre pas ici

    dintrt: son architecture va compter autant dans sa

    reprsentation que dans son bti lui-mme, la

    reprsentation offerte, celle que chacun se fait, sont

    porteuses de sens dans le projet en train de se faire,

    de cette mmoire prospective. Cela peut devenir trs

    sensible lorsquil faut intervenir dans une ville nouvelle,

    de surcrot celle qui accueille Disneyland: quel est

    le patrimoine porteur dune mmoire capable de

    continuer devenir? Paul Delouvrier, grand am-

    nageur, disait quune ville nexiste que lorsque son

    cimetire entre en activit. Comment concevoir un

    projet culturel, sans dabord avoir t? Disney a

    rsolu le problme de la mmoire: il la fabrique

    videmment partir de ce qui lintresse. Lorsquon

    leur pose la question de labsence au gnrique du film

    Le Bossu de Notre-Dame du nom de Victor Hugo,

    la rponse vient sans dlai: combien cela rapporterait-il

    de plus?

    Quelque soit le projet engag et install dans un

    monument historique, son pass sera signifi et

    reprsent, pas de faon accessoire mais dans le projet

    lui-mme. Sinscrire dans la dure, suppose pour le

    projet et le projet culturel den porter, den transporter

    la mmoire en permanence. Les raisons de la

    transformation dun difice seront dautant mieux

    comprises que lon pourra faire le lien entre difice et

    projet. Il est donc utile de comprendre comment se

    lient ou se rompent la valeur dusage originelle et la

    nouvelle valeur dusage que lon a choisi de donner au

    monument. Le risque est grand de faire du monument

    un accessoire, utile et prestigieux sans doute, mais un

    accessoire secondaire eu gard un objectif qui en est

    dconnect. Il devient alors tentant et facile docculter

    tout ou partie du lieu sil gne le projet que lon

    veut mettre en place (Mac Donalds, Paradores,

    Pousadas...). Comment traiter la signaltique, les

    parkings, les circulations, les amnagements extrieurs

    en lien avec la cit, lenvironnement, les activits

    agricoles, commerciales ou industrielles

    Il nous semble que la force dun projet contemporain

    dans un monument historique est celle capable de

    gnrer un nouvel difice conserv, reconnu et

    rappropriable dans ses nouvelles fonctions par celles

    et ceux qui le ctoient, loccupent, lutilisent ou le

    visitent.

    De monument, ldifice a pu devenir monument

    historique parce quil a t choisi, regard: la mise

    en avant, dlibre, de sa valeur dorigine fait sa

    22

    C A D E R N O I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S

    3. Intrieur du clotre du couvent de Montemor-o-Novo

  • reconnaissance. Le projet culturel que lon y implante,

    que lon y greffe dlibrment, apporte une nouvelle

    valeur dusage qui supple celle de lorigine,

    manquante, en intgrant, sans locculter, le pass,

    signifi.

    Ne pourrait-on supposer que la russite de la mise en

    vie dun monument historique est celle qui permet

    dacqurir, par le projet, une valeur contemporaine qui

    deviendra indissociable de son support?

    Et le monument, comme tel, rintgrant la mmoire,

    cdera alors la place une nouvelle entit perue

    consciemment ou inconsciemment par celles et ceux

    qui en ont la responsabilit ou lusage, comme

    constitutive de la mmoire venir.

    Sous forme de conclusion

    Cette analyse, ce manifeste, conduit un mode

    demploi qui, aprs discussions avec les matres

    douvrage, sert russir la remise en vie du patrimoine,

    au service des habitants, dans un esprit servant le

    dveloppement et lamnagement du territoire.

    Si cet article na pas ici pour objet dexposer la

    mthodologie de la dmarche retenue, on peut

    cependant en prsenter ce qui la structure:

    Etat des lieux

    1. identifier et analyser les constituants et les diffrents

    enjeux du projet partir, dune part, des tudes

    existantes ou mener et dautre part, des entretiens

    conduits auprs des partenaires, des experts et des

    acteurs concerns

    2. rvler la spcificit des diffrents monuments, sites,

    de loffre culturelle, des initiatives locales, des donnes

    et caractristiques historiques, socio-conomiques,

    touristiques

    3. associer les acteurs et partenaires engags

    sur dautres projets et ralisations, en dautres lieux,

    dont limpact sur le projet venir est prendre en

    compte

    4. analyser (situation et possibilit) les donnes

    financires existantes

    Conception et mise en oeuvre du projet

    1. conception du projet, rencontres, dbats

    2. mise en relation des porteurs du projet avec les

    acteurs socio-conomiques, socio-culturels locaux;

    constitution de comits techniques, vrification de la

    faisabilit technique et financire du projet, actions de

    sensibilisation

    3. tablissement des moyens de mise en uvre du

    projet: prfiguration, programmation, expri-

    mentation

    4. assistance auprs du matre douvrage dans la

    ralisation du projet, constitution dun comit de

    pilotage, concertation et validation des propositions

    et des actions mises en uvre, communication

    Suivi et valuation

    Depuis dix ans que nous parcourons les villes et

    les rgions22, cette remise en vie du patrimoine

    que nous pratiquons, la demande de ltat ou des

    collectivits territoriales, aura permis que le monument,

    par un nouvel usage, rintgre la communaut des

    vivants et participe fortement de lidentit dun

    quartier, dun village, dune ville, dune rgion, en

    mme temps que de son dveloppement, et de

    lamnagement du territoire.

    23

    I N T E R P R E TA O D E M O N U M E N T O S E S T I O S C A D E R N O

    1 La Saline Royale, construite de 1773 1778, se situe Arc-et-Senans dans le Doubs, en Franche-Comt, entre Dole, Besanon et Salins-les-Bains;

    Monument historique, elle est inscrite sur la liste du Patrimoine mondial de lUNESCO depuis 1983.2 Mon travail dditeur, au sein des ditions de lImprimeur (maison que jai cre en 1994, spcialise en architecture, patrimoine, arts urbains,

    jardins et paysages, design et arts graphiques), ainsi que celui de formateur nourrissent galement la dmarche prsente.3 Alos RIEGL, in Le culte moderne des monuments (Der modern Denkmallkultus, texte de 1903), introduction de Franoise CHOAY, Seuil, 1984. 4 Le monument sera entendu ici selon le sens qui lui est donn dans la charte internationale sur la conservation des monuments historiques, dite

    Charte de Venise, Icomos, Venise 1966 et celui de la charte relative la sauvegarde des jardins historiques, dite Charte de Florence, Icomos,

    Florence, 1982.5 Claude-Nicolas LEDOUX, in LArchitecture considre sous le rapport de lArt, des Murs et de la Lgislation, Paris, 1804.6 Le couvent et son chteau sont installs au dessus de la ville sus-nomme, entre Lisboa et vora, dans lAlentejo au Portugal; on parle ici de ce

    monument parce que ltat et la municipalit ont propos Rui HORTA, chorgraphe, assist dEva NUNES, de sinstaller l: ce qui ne devait tre quun

    lieu parmi dautres pour un projet dartistes est devenu, en lhabitant, un projet artistique nourri de lesprit du lieu. 7 Lancien Domaine royal de Randan, construit et amnag partir de 1831 sur le site dune ancienne proprit dorigine mdivale ( ltat de

    traces), est situ entre Vichy et Clermont-Ferrand, en Auvergne.8 Pierre-Franois Lonard Fontaine est, entre autres, larchitecte de la rue de Rivoli, du Caroussel, Paris.

  • 9 Franoise CHOAY, in Lallgori