artigo kant graduação
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS
CURSO DE LOCENCIATURA EM FILOSOFIA
A fundamentação da Moral em Kant
Isabel Oliveira Barcelos
Profª Dr. Robinson dos Santos
Hulha Negra, abril de 2015.
Título1
1 1 Artigo realizado como requisito parcial à obtenção de certificado de conclusão da disciplina de História da Filosofia Moderna, pela Universidade Federal de Pelotas.
Resumo:
O presente trabalho tem por objetivo a análise dos capítulos I e II da Metafísica dos
Costumes de Immanuel Kant traduzida do alemão Paulo Quintela a respeito da ética e normatização
da moral, o princípio da autonomia e dos Imperativos que determinam tais preceitos, este trabalho
teve também como base a obra de Denis Coitinho Silveira “Ensaios sobre Ética”. Tratando-se de
uma obra tão grandiosa como a Metafísica dos Costumes tem-se com este singelo trabalho a
intenção de aclarar ainda mais as idéias já propostas pelos autores citados.
Palavras Chave: conhecimento moral vulgar, razão, conhecimento filosófico, metafísica
Summary:
This paper aims at analysis of Chapters I and II of the Metaphysics of Morals by Immanuel
Kant translated from German Paulo Quintela about the ethics and norms of morality, the principle of
autonomy and the imperatives that determine such precepts, this study also based on the work of
Denis Silveira Coitinho "Essays on ethics" case of so great a work as the Metaphysics of Morals is
up with this simple work intended to clarify further the ideas already proposed by the authors cited.
Keywords: moral knowledge vulgar, reason, knowledge, philosophical, metaphysical
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Introdução:
Na primeira seção o autor se responsabiliza pela transição do conhecimento vulgar para o
conhecimento filosófico, observando alguns pontos que direcionam o pensamento do autor para a
boa vontade (caráter), logo após analisa o que leva a uma boa vontade, o autor então cita a intenção
como determinante do valor da ação. Considera então uma boa vontade em si própria e estabelece
seu modelo de ética.
Coloca que um ser dotado de razão e vontade está submetido a legislações que seres que não
são dotados de tais atributos não saberiam distinguir e seguiriam apenas seus instintos. Segundo o
autor a razão é o que diferencia os homens dos animais, por exemplo, e esta, a razão, deve dirigir a
vontade boa em si mesma, mas para isto a razão é absolutamente necessária. Logo em seguida o
autor estabelece o conceito de dever que contém em si o de boa vontade, ou seja, a ação só é
moralmente boa quando um ser dotado de razão age somente por dever e não por intenções egoístas.
O autor considera ainda em seu texto que uma ação só tem valor moral na máxima que a
determina, ou seja, a ação deve ser definida a priori, independentemente de qualquer experiência,
deve ser uma ação praticada por dever. Logo após o mesmo considera essa máxima como uma
legislação universal a qual deve ser seguida por respeito, sem a influência da vontade e estabelece
esta lei como imperativo.
O imperativo é a normatização da moral Kantiana que torna a vontade objeto do respeito, o
autor finaliza a primeira seção com a necessidade de uma crítica à nossa razão para que se
encontrem os limites e alcances da mesma.
Na segunda seção o autor então, faz a transição da filosofia moral popular para a metafísica
dos costumes. Preocupa-se com a aplicação do imperativo que irá orientar a conduta moral e
entende a dificuldade em encontrar exemplos práticos corretos e chega a conclusão que esta
legislação é apenas uma idéia (metafísica) que não pode ser comprovada, pois não podemos saber a
intenção ou o que motivou a ação, o princípio, legislação universal, independe de qualquer
experiência, forma-se a priori. O autor considera ainda que a vontade segue o que a razão escolhe
como bom, portando a vontade não é outra coisa senão a razão prática. Reconhece ainda que nem
sempre a vontade é determinada pela razão e por isto há a necessidade de uma legislação
(imperativo) que deva regular a vontade. Afirma ainda que uma vontade puramente boa não vê o
cumprimento do imperativo como obrigação, esta é considerada pelo autor uma vontade “santa” e
para ela não há imperativos.
Logo após o autor define os imperativos hipotéticos e categóricos e chega a conclusão que o
imperativo categórico, o que tem fim em si próprio é o único imperativo da moralidade.
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Estabelece então a metafísica, ou seja, o que podemos apenas imaginar, a representação da
lei moral a priori e independente de qualquer experiência, e também o princípio da autonomia
através do imperativo categórico e da heteronomia através do imperativo hipotético.
Desenvolvimento:
Primeira Seção: Transição do conhecimento moral da razão vulgar para o conhecimento
filosófico
Na primeira seção, Kant estabelece um bem irrestrito, uma vontade boa como fim e não
como meio para outros fins, este para o autor é a condição de possibilidade de todos os outros bens,
incluindo a felicidade. Todos os talentos do espírito ou qualidades do temperamento podem ser
coisas boas e desejáveis, mas podem também ser utilizados para o mal se não forem utilizados com
boa vontade, caráter. Nem o dinheiro, poder, honra ou a saúde ou todo o contentamento
considerados como felicidade poderão sustentar a real felicidade e poderá transformar-se em
soberba se não existir a boa vontade que sirva de correção para que sua ação esteja de acordo com
as leis universais (GMS, BA 1,2).
...um espectador razoável e imparcial em face da prosperidade ininterrupta duma pessoa a quem não adorna nenhum traço duma pura e boa vontade, nunca poderá sentir satisfação, e assim a boa vontade parece constituir a condição indispensável do próprio facto de sermos dignos da felicidade.
Algumas qualidades são favoráveis a esta boa vontade, como a moderação nas paixões,
autodomínio e calma, reflexão, mas estas devem sempre pressupor-se de uma boa vontade.
Nenhuma ação pode ser considerada boa ou má, mas sim a vontade humana, esta e só esta pode ser
considerada boa ou má, esta forma os princípios que levaram à ação. A intenção do sujeito é
determinante para o valor da ação.
Para Kant, mesmo que por um desfavor especial do destino, faltasse a esta boa vontade o
poder de fazer vencer suas intenções e só restasse ela, não se tratando de um simples desejo, mas do
emprego de todos os meios que as nossas forças disponham, a boa vontade ficaria brilhando por si
mesma como alguma coisa que tem o seu próprio valor (GMS, BA 4). Mas uma questão a ser
avaliada é o que leva a uma boa vontade ou uma vontade boa, quando consideramos um ser dotado
de razão e vontade e constituído de um fim que é a vida, a boa vontade deve ser avaliada por seus
fins e não pelo que a promove, pois se assim fosse seria apenas um meio para alcançar um fim
exterior. A boa vontade deve ter um fim em si própria, por querer, este é o modelo de ética
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Kantiana, independente das conseqüências, um fim em si mesmo, ora se o fim desse “ser” fosse
apenas a sua conservação, o bem estar ou a felicidade, então não seria necessário utilizar a razão e
vontade, apenas o instinto o levaria muito mais rápido à sua finalidade, e não seria um fim em si
próprio, mas meio para atingir os fins desejados, por conseguinte não seria considerada boa vontade
no sentido forte da palavra “moral” (GMS BA 5).Tal premissa poderia levar os sujeitos a se
distanciarem da razão e dar preferência ao instinto, pois quem segue à razão está submetido à
legislações que os seres que não são dotados de razão desconhecem, a razão nos foi dada como
faculdade e esta deve exercer influência sobre a vontade, segundo Kant a razão é o que diferencia o
homem dos outros seres, a razão deve dirigir a vontade boa em si mesma, para o que a razão era
absolutamente necessária.
Para Kant a ética é baseada em um valor universal, defende o valor moral de uma ação em si
mesma, na sua intenção e não nas suas conseqüências. Uma ação pode não ter valor moral, embora
tenha boas conseqüências.
Esta vontade boa não será o único bem e nem o bem total, mas terá de ser o bem supremo e a
condição de tudo o mais, mesmo de toda a aspiração de felicidade, mas para que esta boa vontade
altamente considerada em si mesma e sem nenhuma segunda intenção ou outros fins o autor
considera o conceito do Dever que contém em si o de boa vontade (GMS, BA 8), o cumprimento do
dever é o único motivo em que a ação se baseia e a intenção tem valor moral ou é boa quando o ser
dotado de razão age somente por dever. O exemplo do roubo é ilustrativo, não roubar por que este
ato é errado e não por que posso ser castigado, mas isto não é o bastante para saber se esta ação foi
tomada por princípios de honradez, se não roubasse apenas por que poderia ser castigado seria uma
intenção egoísta, por tanto é fácil entender se a ação é praticada por dever ou por uma intenção
egoísta, mas é difícil saber com qual intenção o ser estava ao agir, por exemplo, se ele estivesse só e
ninguém o estivesse visto e não corresse o risco de ser descoberto, e mesmo assim não roubasse, aí
sim seria uma ação com conteúdo moral, por dever em si mesmo e não apenas por uma inclinação
egoísta (GMS, BA 9,10).
Na segunda proposição o autor coloca que uma ação tem seu valor moral não no objetivo ou
propósito que quer atingir, pois este deve ser apenas a conseqüência, que será verificado a
posteriori, é material, uma ação tem valor moral na máxima que a determina, ou seja, só o princípio
do querer baseado nas máximas que o determina deve definir a ação e não suas conseqüências
exteriores e este princípio deve ser definido a priori, é formal e independente de qualquer
experiência, pois é uma ação praticada por dever e dela foi tirado todo o princípio material. (GMS,
BA 14).
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Na terceira proposição o autor considera a união das demais, ou seja que o dever é a
necessidade de uma ação por respeito à Lei. O que faz a vontade agir na ação moral é o dever por
respeito à lei por si mesma sem a influência da vontade ou inclinação, o respeito à lei universal é o
efeito desta lei sobre o sujeito, por tanto o que determina a vontade para o autor é o respeito à Lei
por si mesma no ser racional independente do resultado da ação, este efeito, consciência que
subordina minha vontade ou a vontade do ser racional, que a determina pode ser considerado o bem
excelente a que chamamos de moral que encontra-se na pessoa que age segundo esta lei. Esta lei
cuja representação, mesmo sem tomar em consideração o efeito que dela se espera tem que
determinar a vontade para que esta seja boa absolutamente e moral é como um mandamento
(imperativo), uma lei universal das acções que possa servir de único princípio da vontade, devo
proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei
universal. (GMS, BA 17). O imperativo então é a normatização da moral Kantiana tornando a
vontade objeto do respeito, o bem moral é a lei universal das ações que é o único à vontade. O
exemplo utilizado pelo autor é o da promessa feita com a intenção de não cumpri-la, por um
problema pessoal, é possível romper promessas por questões particulares? Se todos podem prometer
e não cumprir a promessa por estarem passando por alguma dificuldade pessoal, logo se percebe a
necessidade da mentira. Mas se a mentira fosse universalizada as promessas perderiam seu valor,
por tanto a mentira não pode ser pensada em casos particulares (exceções) para resolver problemas
casuais pois não pode ser universalizada, pois se assim fosse destruir-se-ia a si mesma. (GMS, BA
18).
Para se pensar em uma legislação universal deve-se perguntar se a máxima da ação pode se
converter em lei universal. Somente a máxima que puder se converter em lei universal pode ser
considerada um princípio e assim uma possível legislação universal. (GMS, BA 20). A lei universal
inspira o respeito e impõe o dever através da razão, e o respeito aparece como condição para a
vontade boa em si mesma.
Na primeira seção o autor teve como objetivo, demonstrar através da análise da experiência
o princípio moral que deve ser regido pela razão humana vulgar, esta se encontra na prática, onde
deve se guiar por princípios baseados na legislação universal, este imperativo deve servir como
norte para qualquer ação pratica vulgar sem ceder à inclinações e evitar de cair em equívocos
recorrendo à filosofia para diferenciar o bem do mal e o que é dever e o que é contrário ao dever,
enfim uma prática ou vontade boa em si mesma, por dever e não por inclinações, o autor vê a
necessidade ainda de fazermos uma crítica à nossa razão para que encontremos os limites e alcances
da mesma. (GMS, BA 24).
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Segunda Seção: transição da filosofia moral popular para a metafísica dos costumesi
O autor busca resolver a questão da aplicação do imperativo categórico, antes de comprovar
se este existe mesmo, começa determinando quais deveres derivam do imperativo da moralidade os
quais devem estabelecer as regras que irão orientar a conduta moral.
Se até agora tiramos o conceito de dever do uso comum de nossa razão prática, nem por isso
devemos concluir que o tratamos como sendo um conceito empírico. Ao invés, se voltarmos a
atenção para a experiência do comportamento positivo e negativo dos homens, deparamos com
contínuas e, segundo se nos afigura, justas queixas, sobre nossa impossibilidade de aduzir exemplos
certos, que nos permitam julgar se houve a intenção de agir por puro dever. Embora as coisas em
muitos casos possam acontecer em conformidade com o dever não quer dizer que sejam feitas por
dever e que tenham, por tanto valor moral. (GMS, BA 25).
Eis por que houve, em todos os tempos, filósofos que negaram a realidade desta intenção às
ações humanas, e que as atribuíram a um egoísmo mais ou menos refinado, sem por em dúvida a
precisão do conceito de moralidade. Pelo contrário, lamentavam grandemente a fraqueza e impureza
da natureza humana, a qual, se por um lado é suficientemente nobre para tomar como regra de
conduta uma idéia tão digna de respeito, por outro lado é fraca demais para lhe obedecer e que se
utilizaria de leis apenas para favorecer os interesses das inclinações escolhendo uma entre as demais
que lhe pareça a melhor para solucionar cada caso. Para o autor o dever está na idéia de uma razão
que determina a vontade à priori, por isso é impossível saber se a ação foi praticada puramente por
motivos morais, apenas por dever, não sabemos qual a real causa que determinou a vontade. (GMS,
BA 27). O princípio da moralidade deve ser independente da experiência, pois funda-se de forma a
priori, a partir do que a razão por si mesma, independente de todos os fenômenos, ordena o que deve
acontecer, um exemplo do autor é a pura lealdade na amizade, não se pode exigir menos de todo o
homem por não ter existido até o presente momento nenhum amigo leal, pois este dever já existia
antes de toda a experiência , reside em uma idéia que determina a razão a priori. (GMS, BA 28).
Esta análise do conhecimento popular é louvável embora se deva separar do filosófico é
necessário separar o racional do empírico, uma metafísica dos costumes precisa ser bem alicerçada
para que se possa descer até os conceitos populares, contanto que se suba até os princípios da razão
i KANT, Emmanel, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, tradução do alemão por Paulo Quintela, Título Original, Grundlegung zur Metaphysik der Sitten, Edições 70,Ltda,1948.
SILVEIRA, Denis Coitinho, Ensaios sobre Ética. Editora e Gráfica Universitária PREC-UFPEL, 2008.
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pura e se tenha fundamentada a doutrina dos costumes na metafísica para depois a tornar acessível
pela popularidade. (GMS, BA 31).
Ora, tal metafísica dos costumes completamente isolada, diferente de antropologia, por
exemplo, não é apenas o indispensável fundamento de toda teoria dos deveres claramente definida,
mas é igualmente uma vontade da mais alta importância para o cumprimento efetivo de suas
determinações. Com efeito, a representação do dever, e em geral da lei moral, quando é pura, ou
seja, não mesclada de acréscimos estranhos de impulsos sensíveis, exerce sobre o coração humano,
por via só da razão (a qual então, pela primeira vez, se dá conta de que pode ser prática por si
mesma) uma influência muito mais eficaz do que a de todos os outros impulsos que se podem
invocar no domínio da experiência, de sorte que a razão, consciente de sua dignidade, despreza
esses impulsos e pouco a pouco se torna capaz de dominá-los. (GMS, BA 31).
Para o autor tudo na natureza age segundo leis e só um ser racional é capaz de agir sob esta
representação, ou seja, só o ser racional tem uma vontade, mas como para derivar as ações da lei é
necessária a razão a vontade não é outra coisa além da razão prática. Se a razão determina
inevitavelmente a vontade, a vontade é a faculdade de escolher o que a razão determina
independente de inclinações, a vontade escolhe o que razão reconhece como bom. (GMS, BA 37).
O autor afirma ainda que nem sempre a vontade é determinada pela razão e a vontade está
sujeita a condições subjetivas, em outras palavras, se a vontade não é em si plenamente conforme a
razão, então as ações, que são consideradas como objetivamente necessárias, são subjetivamente
contingentes, por tanto a determinação objetiva deve ser obrigatória, ou seja, um mandamento da
razão.
A representação de um princípio objetivo, na medida em que coage a vontade, mandamento
(da razão), e a fórmula do mandamento chama-se imperativo. Todos os imperativos são expressos
pelo verbo (dever e indicam, por esse modo, a relação entre uma lei objetiva da razão e uma vontade
que, por sua constituição subjetiva, não é necessariamente determinada por essa lei (uma coação)-
Declaram eles, que seria bom fazer tal coisa ou abster-se dela, mas declaram-no a uma vontade que
nem sempre faz uma coisa, porque lhe é apresentada como boa para ser feita.
Portanto, praticamente é bom o que determina a vontade por meio de representações da
razão, isto é, não em virtude de causas subjetivas, mas objetivamente, quer dizer por meio de
princípios que são válidos para todo ser racional enquanto tal. O bem prático é, pois, distinto do
agradável, isto é, do que exerce influência sobre a vontade unicamente por meio da sensação, por
causas puramente subjetivas, válidas apenas para a sensibilidade deste e daquele, e não como
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princípio da razão, válido para todos. Uma vontade perfeitamente boa não vê no cumprimento da lei
uma obrigação, esta vontade é considerada santa e para ela não há imperativos. (GMS, BA 38,39).
Os imperativos são hipotéticos ou categóricos, todos eles ordenam de alguma forma, os
imperativos hipotéticos determinam que para uma pessoa atingir um fim deve agir de tal maneira, o
fim desejado é o que determina quais ações serão feitas independente de sua moralidade, para o
imperativo hipotético a ação é sempre boa se a sua finalidade for alcançada, em outras palavras é
meio para um fim exterior a ele. O imperativo categórico se impõe, ao contrário do imperativo
hipotético, considerando as máximas de cada ação independente do fim, considera a ação por si
própria baseada em leis universais. Se a ação é boa apenas como meio para qualquer outro fim o
imperativo é hipotético, se a ação é boa em si, independente da sua finalidade ou inclinação, esta é
conforme à razão, então o imperativo é categórico. (GMS, BA 40,41).
O imperativo categórico me diz se a ação é boa em si e não analisa seus resultados e nem
poderia, por ter fim em si mesma a ação deve ser a priori, independente do resultado, esta sim está
de acordo com princípio moral, já o imperativo hipotético escolhe a ação a partir do objetivo da
mesma, de um fim exterior, estes são considerados como princípios da vontade, enquanto o
categórico não dá à vontade a oportunidade de escolha, por tanto este é o único imperativo da
moralidade. (GMS, BA 43).
O autor diferencia necessidade condicionada à inclinações e mandamentos que são leis e que
devem ser obedecidas independente de qualquer inclinação. De fato, só a lei implica em si o
conceito de necessidade incondicionada, verdadeiramente objetiva e, conseqüentemente válida para
todos, e as ordenações são leis a que é necessário obedecer, isto é, devem ser seguidas, mesmo
quando contrariam a inclinação. Os conselhos implicam, sem dúvida, uma necessidade, mas uma
necessidade só válida sob uma condição subjetiva contingente, consoante este ou aquele homem
considera esta ou aquela coisa como parte de sua felicidade; ao invés, o imperativo categórico não é
limitado por nenhuma condição, e como é absolutamente, embora praticamente, necessário, pode
propriamente ser denominado prescrição. O problema de determinar, de maneira certa e geral, quais
as ações capazes de favorecer a felicidade de um ser racional, é problema, de fato, insolúvel, e, por
conseguinte, relativamente a ele, não há imperativo capaz de ordenar, no sentido rigoroso da
palavra, que se faça aquilo que dá a felicidade, porque a felicidade é um ideal, não da razão, mas da
imaginação, fundado unicamente sobre princípios empíricos, dos quais em vão se espera que
possam determinar uma ação, um modo de agir, por meio do qual se alcance a totalidade de uma
série de conseqüências verdadeiramente infinita. A possibilidade do imperativo da moralidade é,
sem dúvida, a única questão que precisa ser solucionada, porque tal imperativo não é absolutamente
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hipotético, e, por isso, sua necessidade, objetivamente representada, não pode apoiar-se em
nenhuma suposição, como sucede nos imperativos hipotéticos. (GMS, BA 48,49).
Depois de uma formulação geral do imperativo categórico o autor deu como exemplo entre
outros o de um homem que por uma série de males que o levaram ao desespero, não suporta mais
viver, muito embora mantenha o suficiente domínio de si para se perguntar se o atentar contra a
própria vida não constitui uma violação do dever para consigo mesmo. Procura então averiguar se a
máxima de sua ação pode converter-se em lei universal da natureza. Sua máxima seria esta: "por
amor de mim mesmo, estabeleço o princípio de poder abreviar minha existência, se vir que,
prolongando-a, tenho mais males que temer do que satisfações que esperar dela". A questão agora
está apenas em saber se tal princípio do amor de si pode ser erigido em lei universal da natureza.
Mas imediatamente se vê que uma natureza, cuja lei fosse destruir a vida, em virtude justamente
daquele sentimento que tem por função peculiar estimular a conservação da vida, estaria em
contradição consigo mesma e não poderia subsistir como natureza, por conseguinte, esta máxima
não pode, por forma alguma, ocupar o posto de lei universal da natureza, e por tal motivo é
inteiramente contrária ao princípio supremo de todo dever. (GMS, BA 54).
Temos que querer que uma máxima de nossa ação se transforme em lei universal este é o
cânone de apreciação moral de nossa ação em geral. Ações de tal natureza, que a máxima das
mesmas nem sequer pode ser concebida sem contradição como lei universal da natureza; estamos,
portanto muito longe de querer desejar que ela deva tornar-se tal. (GMS, BA 57). Ora,
reconhecemos o valor do imperativo categórico, mas permitimo-nos exceções que parecem
insignificantes, e que (não obstante todo o respeito que temos pelo mesmo) nos permitimos algumas
exceções, ao que parece, sem importância, e que nos são impostas por uma espécie de coação.
Pensa-se deste modo ter conseguido, ao menos, provar que, se o dever é um conceito que tem um
significado e que contem uma legislação real para nossas ações, esta legislação deve ser expressa
apenas em imperativos categóricos, e de maneira nenhuma em imperativos hipotéticos; ao mesmo
tempo, e isto já é importante, expõe-se claramente e numa fórmula que o determina em todas as suas
aplicações, o conteúdo do imperativo categórico, que deve encerrar o princípio de todos os deveres
(se é que há deveres em geral). Mas não conseguimos ainda demonstrar a priori que um tal
imperativo existe realmente, que existe uma lei prática que comanda absolutamente por si mesma,
sem qualquer móbil que a solicite, e que a obediência a esta lei é o dever. (GMS, BA 61,62).
Para chegarmos a tal resultado, é preciso ter sempre presente esta advertência: não se pense,
de maneira nenhuma, em querer derivar da constituição peculiar da natureza humana a realidade
deste princípio. Com efeito, sendo o dever uma necessidade prática incondicionada da ação, deve
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ser válido para todos os seres racionais (os únicos, aos quais se pode aplicar absolutamente um
imperativo), e só por isso ele é também uma lei para todas as vontades humanas. (GMS, BA 63,64).
Supondo, porém, que existe alguma coisa, cuja existência cm si mesma possua valor absoluto,
alguma coisa que, como fim em si mesmo, possa ser um princípio de leis determinadas, então nisso e
só nisso se poderá encontrar o princípio de um imperativo categórico possível, isto é, de uma lei
prática. Segundo o autor o fundamento deste princípio é a natureza racional existe como fim em si.
(GMS, BA 66).
Segundo o exemplo já citado, pode-se perceber que no caso do homem que queria se
suicidar, segundo o conceito do dever necessário para consigo mesmo perguntará a si mesmo se a
sua idéia pode estar de acordo com a idéia da humanidade como fim em si próprio, se este se destrói
a si mesmo para escapar de uma situação de sofrimento, ele está servindo de meio para solucionar
seu problema, que é seu fim, o fim de uma situação insuportável, se ele se está utilizando como
meio este está se tratando como se fosse um objeto, neste caso estaria ele utilizando-se do
imperativo hipotético, pois o imperativo moral sugere que o indivíduo deve agir de tal maneira que
trate a humanidade, tanto na sua pessoa como nas demais como fim em si próprio e nunca como
meio. (GMS, BA 66, 67,68).
Este princípio de humanidade não pode ser derivado da experiência, por causa da sua
universalidade, se aplica a todos os seres racionais, é o princípio de toda a objetividade que reside
na regra e a torna capaz de ser uma lei e reside no fim, a partir do acordo entre o fim subjetivo e o
fim objetivo deriva o princípio da autonomia, da idéia da vontade de todo o ser racional concebida
como vontade legisladora universal, a vontade não está apenas submetida à lei, mas submetida de tal
maneira que tem de ser considerada como legisladora ela mesma, pode se ver como autora de suas
ações. (GMS, BA 70,71).
O princípio da autonomia da vontade é, por conseguinte, a liberdade de escolher somente
através do imperativo categórico, através da legislação universal. Este princípio supremo da
moralidade, a autonomia da vontade, é independente de todas as inclinações e a fonte da sua auto
legislação é o imperativo categórico. (GMS, BA 87,88).
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Considerações Finais:
O autor então estabelece na obra uma normatização para a moral através do imperativo
categórico, ou seja, as ações com fim em si próprias e por um ser racional dotadas de boa vontade
(caráter) começa pela prática e parte depois para a teoria e a metafísica.
Considera as ações com valor moral a priori e as pessoas como fim em si próprias,
normatizando uma ética que considera o ser humano como autônomo, ou seja, autor de seus atos,
dez de que seja dotado de razão e liberdade para decidir através do imperativo, legislação a qual
deve seguir para que seus atos sejam considerados morais e éticos. Estabelece um bem irrestrito, a
vontade boa, a intenção como determinante do valor das ações, uma boa vontade em si própria
baseada na máxima que o determina através do Imperativo categórico.
Para o autor no reino dos fins, tudo tem um preço ou uma dignidade. Se algo tem um preço,
pode ser trocado por outro, a moralidade e a humanidade enquanto capaz de moralidade são as
únicas coisas que têm dignidade. A destreza e a diligência no trabalho, por exemplo tem um valor
venal, a argúcia de espírito, a imaginação viva e as fantasias têm um preço de sentimento, pelo
contrário, a lealdade nas promessas, o bem querer fundado em princípios (e não no instinto) tem um
valor intrínseco, o que tem dignidade é único, e não pode ser trocado, está além do preço. A
moralidade tem um fim em si mesmo e não tem preço.
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Referências:
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