artigo final

19
FACULDADE INTERNACIONAL SIGNORELLI - FISIG Pós Graduação – Curso de Direito Constitucional PEDRO GABRIEL SOARES SOUZA Tráfico de pessoas: perspectiva sociojurídica a partir de um caso emblemático maranhense

Upload: daniellecastrodasilva

Post on 03-Feb-2016

217 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

artigo final

TRANSCRIPT

Page 1: Artigo Final

FACULDADE INTERNACIONAL SIGNORELLI - FISIG

Pós Graduação – Curso de Direito Constitucional

PEDRO GABRIEL SOARES SOUZA

Tráfico de pessoas: perspectiva sociojurídica a partir de um caso emblemático

maranhense

São Luís - MA2015

Page 2: Artigo Final

TRÁFICO DE PESSOAS: PERSPECTIVA SOCIOJURÍDICA A PARTIR DE

UM CASO EMBLEMÁTICO MARANHENSE

Pedro Gabriel Soares Souza

1. INTRODUÇÃO

A questão ligada à privação das liberdades individuais, que tanto se preza no

artigo 5º da Constituição Federal, ainda continua forte nos dias de hoje, na chamada

sociedade de direitos. Essa questão, que é tão antiga, é ao mesmo tempo atual em

decorrência de não ser facilmente reconhecida, devido às suas atuais roupagens.

Pretende-se, através desta pesquisa, fazer uma breve investigação teórica a

respeito do fenômeno do tráfico de pessoas, por meio de uma perspectiva sociojurídica,

tendo-se como base legal precípua o Direito Constitucional, por intermédio dos direitos

e garantias fundamentais previstos na Carta Magna, e explanando a respeito de outras

legislações e pactos basilares para a garantia das liberdades individuais, bem como

analisando quais as condições de ocorrência do tráfico de pessoas tal como se afigura

hodiernamente.

Para tanto, serão utilizados, no que tange à descrição da realidade brasileira,

documentos diversos como relatórios de entidades governamentais e não

governamentais, dados oficiais e revisão de literatura específica sobre a temática do

tráfico humano, no mundo e no Brasil. De modo mais específico, deverá ser feita uma

análise sobre o caso maranhense, um dos campeões da federação em casos de tráfico de

pessoas, evidenciando um estudo de caso ocorrido na região de Açailândia, conhecida

pelo recrutamento de cidadãos que acabam em situação de trabalho em condições

análogas às de escravo.

Tal investigação torna-se relevante ao se perceber que atualmente, no que tange

à questão das liberdades tolhidas, estão configuradas diversas formas de tráfico humano,

que levam a uma escravidão praticamente despercebida. Sendo assim, desvendar a

realidade por trás da temática ligada ao tráfico exige uma análise mais profunda em seus

elementos conceituadores. Para tanto, será feito um estudo de caso exemplar, no

contexto maranhense.

Page 3: Artigo Final

2. REVISÃO DE LITERATURA

Quando se fala em violação de liberdade, sempre vem à tona a questão da

escravidão e, num primeiro momento, não é de se estranhar que os pensamentos se

remetam à condição dos negros trazidos da África como escravos na época da

colonização. Porém, as escravidões, há de se lembrar, são bem mais remotas, desde os

tempos da Antiguidade, em que povos vencidos eram capturados e faziam forçadamente

as vontades dos povos vencedores. Na Modernidade, essa mercantilização intensificou-

se no período das grandes navegações, em que o Brasil participou inicialmente como

importador de seres humanos.

Nos tempos atuais, são considerados elementos que configuram o tráfico

humano, pelo que se descreve no Protocolo de Palermo – documento legal internacional

que trata do tráfico de pessoas, destacando o tráfico de mulheres e crianças, promulgado

no Brasil através do Decreto nº 5.017/2004 – o que se segue:

[...] recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos. (BRASIL, Decreto nº 5.017, de 12 de 2004).

É o crime que mais cresce mundialmente. Segundo estimativas da ONU, mais

de 2,5 milhões de pessoas são traficadas por ano em todo o mundo, num comércio

ilícito que movimenta mais de US$ 32 bilhões anualmente, de acordo com dados do

Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), que estima ainda que

79% dos casos de tráficos de pessoas ocorrem para fins de exploração sexual. (UNODC,

Global Report on Trafficking in Persons, 2009).

Segundo a ECPAT (End Child Prostitution, Child Porhography and Trafficking of

Children for Sexual Purpose), entidade não governamental que atua em diversos países do

mundo, considera-se que “A exploração sexual comercial de crianças constitui uma

forma de coerção e violência contra crianças, que pode implicar o trabalho forçado e

formas contemporâneas de escravidão”. (ECPAT, Disponível em: http://www.ecpat.net.

Acesso em: 14.mar.2015. grifo nosso).

Page 4: Artigo Final

Ainda de acordo com a ONU (UNDOC, p.1, 2014), através de seu relatório

global mais recente, o número de vítimas entre crianças, sobretudo meninas abaixo de

18 anos, é um dos que mais tem crescido, sendo a maioria delas sujeitas à exploração

sexual, embora também se observe o crescimento do número de traficadas em condições

de trabalho forçado.

O Brasil é país de destino para pessoas traficadas, oriundas tanto da América

Latina como de outros continentes, como a Nigéria, na África, China e Coréia, na Ásia,

e Bolívia, Peru e Paraguai, na América do Sul. De acordo com relatório da Secretaria

Nacional de Justiça, de 2013, mais de 50.000 crianças e adolescentes desaparecem no

Brasil. Segundo essa análise, o país com maior incidência de brasileiras vítimas de

tráfico de pessoas é o Suriname, seguido da Suíça, da Espanha, e da Holanda. (BRASIL,

Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas, 2013).

Ainda segundo o documento divulgado pela Secretaria Nacional de

Justiça, o tráfico para fins sexuais é predominantemente de mulheres e adolescentes,

entre 15 e 30 anos, oriundas de cidades como Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Recife e

Fortaleza, mas também de outras cidades dos estados de Goiás, São Paulo, Minas Gerais

e Pará. Os principais destinos são a Europa (Espanha, Holanda, Itália e Portugal) e a

América Latina (Paraguai, Suriname, Venezuela e República Dominicana).

A maior parte das vítimas brasileiras é de classes socioeconômicas

desfavorecidas, tem filhos e tem trabalhos relacionados à prestação de serviços

domésticos ou ao comércio (ROCHA, 2012). Muitas tiveram passagem pela

prostituição. Geralmente, o aliciamento das vítimas ocorre por meio de promessas de

emprego na indústria do sexo, no trabalho doméstico, ou para profissões de dançarina

ou modelo. As redes de tráfico, muitas vezes, fazem-se passar por agências de emprego.

Observa-se, portanto, a relevância no tratamento da temática, sobretudo quando

a realidade no Brasil aponta para várias dessas modalidades de tráfico humano,

encobertas graças à invisibilidade gerada pelo desconhecimento das suas formas

hodiernas, realidades sobre as quais se tratará mais especificamente a seguir.

Page 5: Artigo Final

3. PROBLEMA INVESTIGADO

3.1 Metodologia da pesquisa

A metodologia da pesquisa em foco teve como alicerce, sobretudo,

documentos internacionais e nacionais sobre a temática do trabalho escravo e

observações empíricas a respeito do caso maranhense, de maneira específica, sobre o

trabalho em condições análogas à de escravo com intuito laboral, em que as pessoas são

aliciadas com promessas de trabalho rentável. Devido à quase inexistência de dados

específicos sobre o Maranhão, decidiu-se realizar um estudo de caso emblemático, visto

que represente de maneira exemplar como ocorrem no estado situações de tráfico de

pessoas para exploração laboral, em uma região em que os casos são recorrentes.

Para tanto, utilizaram-se dados do acompanhamento de um caso específico e

emblemático pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Maranhão – Netp-

MA, em conjunto com o Ministério Público do Trabalho e o Centro de Defesa da Vida e

dos Direitos Humanos Carmen Bascarán, localizado na cidade de Açailândia – MA.

Segundo Yin (2013, p. 32-33), sobre o estudo de caso, permite-se dizer que:

(...) uma investigação científica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos, enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados e como resultado, baseia-se em várias fontes de evidência (...) e beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e análise de dados.

A escolha da região a ser pesquisada deve-se à grande incidência de casos

de aliciamento para fins de trabalho escravo na modalidade laboral (CARNEIRO,

2008). Sendo assim, a pesquisa caracteriza-se como de natureza qualitativa, através de

uma abordagem bibliográfica e empírica, por meio de estudo de caso descritivo,

tratando de um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto de vida real, com

dados obtidos através da observação dos fatos.

Page 6: Artigo Final

3.2 Apresentação e análise de resultados

A promessa principalmente de projeção na carreira e de melhoria da qualidade

de vida, são os pontos que mais despertam interesse nos possíveis aliciados. O público-

alvo a ser aliciado, geralmente pertence ao grupo de pessoas em extrema pobreza que

busca por melhores oportunidades de trabalho, que necessitam sustentar suas famílias,

principalmente pela instabilidade econômica que os assola.

No caso do tráfico para fins de exploração laboral, a abordagem às vítimas

também se dá por meio da oportunidade de melhores condições de salários, e

geralmente ocorre nas cidades do Piauí, Maranhão e no Norte do Brasil. Num contexto

em que o lavrador, ou o pedreiro, ou o adolescente que está terminando seu ensino

médio, vislumbra sair de sua cidade para buscar condições de vida que não encontra por

lá. E na maioria das vezes se baseiam em relatos, de conhecidos que se aventuraram

para o Centro-Oeste e Sudeste do país e tiveram grande êxito. Nesse contexto, o

aliciador é alguém conhecido na cidade, que sempre “ajudou” as pessoas a conseguirem

um emprego fora daquele município, seja na colheita de alguma safra ou na construção

civil, com promessa de salários claramente chamativos e muito exorbitantes para o

contexto daquele povo.

Geralmente o deslocamento desses trabalhadores que sonham em melhorar as

condições econômicas da família, se dá por meio de ônibus que são transfigurados como

“ônibus de turismo”, para evitar blitzen da Polícia Rodoviária Federal. Muitas vezes

pagam de forma antecipada por uma viagem em veículos em péssimas condições de

uso, passagens essas caras, que podem ser pagas também com o primeiro salário que

receberem. Fora esta despesa já agendada, encontraram outras, pelo alojamento e pela

comida, quase sempre uma refeição por dia, apenas. Lá sobrevivem em condições

insalubres e sem mínima condição de higiene, trabalhando por até 12, 14 horas por dia.

No entanto, ao tentarem retornar para seus lugares de origem percebem estarem presos

às dívidas contraídas o que impossibilita cada vez mais seus retornos. Ao final das

colheitas ou construções, geralmente buscam não retornar para as suas cidades de

origem, principalmente por conta da vergonha e pelo sentimento de impotência por não

conseguirem o objetivo almejado.

Page 7: Artigo Final

3.3 Discussão dos resultados

Embora a temática relativa ao tráfico de pessoas seja uma constante no Estado

do Maranhão, ela infelizmente não é compreendida pela população local

necessariamente como um crime ou como algo que afronte o direito às liberdades

individuais. De forma mais marcante, embora mascarada e pouco divulgada, impera o

tráfico de pessoas para fins de exploração laboral. Embora quase sem pesquisas a

respeito dessa modalidade, esse tolhimento à liberdade é visto principalmente no

interior do estado como um fato comum. Grande parte da população parece ser tomada

pela síndrome de Estocolmo, com referência aos aliciadores, que perpetuam a prática.

Prova disso é a ausência de denúncias, por passarem a ter simpatia ou até mesmo um

sentimento de amizade perante o aliciador, ao acreditarem que, por “bondade”, ele está

tentando “apenas ajudar”.

Fato comum é chegar a uma cidade do interior maranhense e conversar com

alguém sobre a ida de conterrâneos para outros municípios em busca de melhores

oportunidades de vida. Imediatamente falam sobre algum conhecido, vizinho ou até

mesmo um familiar. Um dos pontos focais no estado, e aqui será objeto específico de

estudo por ter sido o primeiro caso de que o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de

Pessoas do Estado do Maranhão tomou conhecimento foi o de 30 (trinta) trabalhadores

aliciados nas cidades de Vitória do Mearim, São Mateus, Bacabal e Olinda Nova do

Maranhão para trabalharem na construção de casas do Programa Minha Casa, Minha

Vida, na cidade de Açailândia, no Sudoeste do Maranhão, como ajudantes de pedreiros.

Tomando por base esse caso, que ocorreu em meados de 2013, puderam-se

perceber as estratégias adotadas no recrutamento e os pontos de vulnerabilidades

atacados. Os aliciadores, em geral, possuem o mesmo perfil. São referência na cidade

como pessoas que encaminham trabalhadores para outros municípios com promessa de

bom emprego e sempre com salários atrativos, melhores do que os pagos em suas

cidades. Quando a procura é muito grande, chegam a fazer reuniões explicando sobre o

trabalho, moradia, os benefícios e forma de custeio da viagem. Desse modo, enviam

semanalmente vários lavradores, trabalhadores da construção civil e até mesmo jovens

que acabaram de sair do ensino médio para fazendas e obras. No caso analisado, o

aliciador ainda se fez valer do Programa do Governo Federal, Minha Casa, Minha Vida,

para dar maior legitimidade às ofertas de emprego.

Page 8: Artigo Final

Com essa legitimidade derivada de ser um trabalho para um programa de

cunho federal, rapidamente foi formado e encaminhado um grupo de trabalhadores que

pagaram de R$ 200,00 a R$ 300,00 pelo deslocamento. Os trabalhadores foram

transportados de Vitória do Mearim para Açailândia juntamente com o aliciador, o

mesmo que procurou uma Agência empregadora em Vitória para agenciar 50 homens.

O agenciador conseguiu 32 trabalhadores. O translado dos trabalhadores foi feito em um

ônibus antigo, com poltronas péssimas e velocidade claramente acima da permitida,

segundo os relatos colhidos pelo Centro de Defesa de Direitos Humanos Carmen

Bascarán ao Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Maranhão, à época do

fato.

Saíram de Vitória do Mearim na tarde de um domingo por volta das 13h30min.

e chegaram a Açailândia às 19h da noite. Durante o percurso da viagem acreditavam

que iriam direito ao lanche, pois o pagamento feito incluía uma refeição e alguns não

chegaram a almoçar antes da viagem, já que saíram cedo de suas residências, para não

perder o ônibus e, principalmente, porque lhes foi informado que receberiam tudo pela

empresa. Porém não tiveram direito ao almoço e a noite, ao chegarem à cidade de

Açailândia, foram distribuídos em dois alojamentos, sem direito a alimentação.

A partir de então começaram a perceber que muitas promessas não condiziam

com a realidade encontrada. Segundo o aliciador, teriam alojamento com cama, e

alimentação por conta da empresa. No entanto, passaram o dia sem tomar banho por

falta de água e a situação não perdurou porque os trabalhadores conseguiram fazer uma

ligação clandestina de água. O alojamento era pequeno e cheio de sujeiras, tomado por

teias de aranhas e os banheiros sem a mínima condição de uso a ponto de os próprios

trabalhadores terem que fazer os ajustes para que pudessem utilizá-los de forma mínima

e, para dormir, não encontraram as camas prometidas, então tiveram que providenciar

redes, quando não, dormiam no chão.

Quanto à alimentação, pela manhã serviam apenas uma garrafa de café para

todos os trabalhadores, o almoço chegava sempre ao meio dia em forma de marmita,

com arroz, carne e feijão, após isso, apenas às 21h chegava o jantar, também em forma

de marmita.

Os trabalhadores recrutados para atuarem como ajudantes de pedreiros

souberam depois de alguns dias de trabalho e sem receberem suas remunerações, que

Page 9: Artigo Final

passariam por testes para pedreiros e apenas os que fossem aprovados seriam

contratados, os demais seriam dispensados para retornarem aos seus lares, levando na

bagagem a ínfima quantia de R$ 50, 00 (Cinquenta reais) como ajuda de custo para

retornarem às suas casas.

Diante dessa situação, alguns trabalhadores conseguiram buscar apoio no

Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia, Carmen Bascáran. O

Centro entrou em contato com o Netp-MA, que por sua vez acionou o Ministério

Público do Trabalho, o qual encaminhou tal denúncia para a Procuradoria do Trabalho

de Imperatriz.

A Procuradoria, então, notificou a empresa para que organizasse um

alojamento com condições salubres para os que trabalhavam na construção, bem como

regularizar sua situação trabalhista, assinando suas carteiras. Os que não chegaram a

trabalhar deveriam receber uma indenização para que pudessem retornar ao seu

município de origem.

Percebe-se que os trabalhadores foram aliciados conforme define o Código

Penal em seu artigo 207, § 1º, recrutados fora da localidade de execução do trabalho,

dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do

trabalhador, ou, ainda, não asseguradas as condições do seu retorno ao local de origem.

Aliciados para serem submetidos a condições degradantes, restringidos a receber o

mínimo do valor de direito, conforme o artigo 149 do Código Penal Brasileiro. No

entanto a legislação brasileira não possui ainda dispositivos claros que tratem acerca do

tráfico de pessoas para fins de exploração laboral, o que acaba por dificultar a aplicação

de medidas punitivas aos aliciadores e beneficiários dessa modalidade de tráfico.

Page 10: Artigo Final

4. CONCLUSÃO

Analisar o Tráfico de Pessoas em nosso contexto atual, regido por leis que

asseguram e garantem a liberdade do indivíduo e os reflexos desse direito, conforme o

que se dispõe ao longo do art. 5º da Magna Carta, é perceber que a carência da

efetivação dos demais princípios constitucionais permite que esta prática se perpetue de

maneira a ter se tornado até algo cultural em algumas cidades. E que, com o passar dos

anos, continua a se perpetrar de forma velada.

O tráfico de pessoas traduz-se na exploração da pessoa humana, na degradação

da sua dignidade, desrespeitando os direitos humanos, limitando a um direito mínimo a

liberdade de ir e vir.

As legislações vigentes sobre a temática traduzem-se na ineficácia ou na má

elaboração, visto que não abrangem todas as modalidades desse crime, permitindo

assim que se dê ampla vazão para a continuidade dessa prática, que se beneficia da

desigualdade socioeconômica, da falta de informação, da boa-fé, boa vontade e da

esperança de melhoria da qualidade de vida de muitos cidadãos que estão andando lado

a lado com as faltas de oportunidades de emprego e de realização pessoal.

No curso dessa análise constatou-se ainda que tamanhas violações devem-se

também a falta de interesse público, principalmente em investimentos em políticas

públicas voltadas à informação, que a princípio deveriam ser conscientizadoras e, num

segundo momento, atuantes, por meio de programas e projetos que valorizassem a

pessoa enquanto ser social que busca uma melhoria na qualidade de vida, na sua luta

diária pela sobrevivência.

No caso analisado no município de Açailândia, no sudoeste do estado do

Maranhão, curiosamente não teve um desfecho trágico. No entanto, não é sempre que se

consegue devolver a cidadania às vítimas dessa violação, havendo mesmo situações que

enveredam pela perda do patrimônio maior do ser humano: a vida. Pugnar pelo

conhecimento desta realidade é uma forma de intervenção legítima que pode

proporcionar um pouco de desvelamento a respeito do tráfico de pessoas, visto que,

acabada a escravidão colonial, ainda não se reconhece amplamente a verdadeira face da

escravidão hodierna.

Page 11: Artigo Final

RESUMO: O presente artigo aborda o fenômeno do trabalho escravo contemporâneo

no contexto brasileiro, através de uma perspectiva sociojurídica, tendo como base legal

os direitos e garantias fundamentais. Busca compreender o fenômeno do trabalho

escravo contemporâneo em suas ocorrências, de que maneira acontece, como as pessoas

são aliciadas e quais as determinações legais a respeito. De um modo mais específico

trata da realidade do trabalho análogo ao escravo por exploração laboral no Maranhão,

na cidade de Açailândia, através de um estudo de caso exemplar acompanhado pelo

Núcleo de Enfrentamento ao Trabalho Escravo do Maranhão, pelo Ministério Público

do Trabalho e pelo Centro de Defesa de Direitos Humanos Carmen Bascarán.

Palavras-chave: Trabalho escravo. Direitos Fundamentais. Realidade maranhense.

RESUMEN: En este artículo se analiza el fenómeno del trabajo esclavo contemporáneo

en el contexto brasileño mediante una perspectiva sóciojurídica , con la base jurídica de

los derechos y garantías fundamentales . Busca entender el fenómeno del trabajo

esclavo contemporáneo en sus ocurrencias, cómo sucede, cómo se recluta a la gente y

cuáles son los requisitos legales en este sentido. Analiza más específicamente la

realidad del trabajo esclavo con fines de explotación laboral en Maranhão, en la ciudad

de Açailândia mediante un estudio de caso ejemplar acompañado por el Núcleo de

Combate al Trabajo Esclavo de Maranhão, el Ministerio Público del Trabajo y el

Centro Defensa de los Derechos Humanos Carmen Bascarán .

Palabras-llave : Trabajo esclavo. Derechos Fundamentales. Realidad de Maranhão .

Page 12: Artigo Final

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Organização de Alexandre de Moraes. São Paulo: Atlas, 2014.

________, Decreto nº 5.017, de 12 de 2004. Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5017.htm. Acesso em: 10.mar.2015.

________, Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas. Consolidação dos dados de

2005 a 2011. Brasília, 2013

CARNEIRO, Marcelo Sampaio. Crítica social e responsabilização empresarial: análise

das estratégias para a legitimação da produção siderúrgica na Amazônia Oriental. Cad.

CRH,  Salvador, v.21,  n.53,  p.321-333,  ago. 2008. Disponível em

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

49792008000200009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em:  08  abr.  2015. 

ECPAT, Disponível em: http://www.ecpat.net. Acesso em: 14.mar.2015.

ROCHA, Cristiana Costa da. Os retornados: reflexões sobre condições sociais e

sobrevivência de trabalhadores rurais migrantes escravizados no tempo presente. Rev.

Bras. Hist.,  São Paulo ,  v. 32, n. 64, p. 149-165, dez.  2012 .   Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-

01882012000200009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em:  10. abr.  2015. 

UNODC, Global Report on Trafficking in Persons. United Nations Office on Drugs

and Crime, 2009.

Page 13: Artigo Final

_______, Global Report on Trafficking in Persons. United Nations Office on Drugs

and Crime, 2014.

YIN, Robert K. Estudo de caso – planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001.