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LOGÍSTICA REVERSA DE PNEUS INSERVÍVEIS: UM OLHAR EXPLORATÓRIO NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE Cristian Correna Carlo 1 [email protected] RESUMO Este artigo resulta de três outros trabalhos desenvolvidos a partir de pesquisas sobre a logística reversa de pneus inservíveis em Belo Horizonte. Trabalho de claro objetivo exploratório, necessário e justificado em razão da importância do tema e da pouca disponibilidade de informações na literatura. Foram pesquisados os fabricantes de pneus e suas atuações para promover o recolhimento dos pneus na cidade, as características de atuação dos borracheiros e o grau de conscientização e conhecimento do consumidor sobre o processo de retirada das carcaças de pneu do mercado. Os resultados indicam ação tímida dos fabricantes e falta de vigor do poder público na operacionalização das atividades de coleta, o baixo alcance do sistema sobre os borracheiros e a falta de conhecimento do consumidor sobre o fluxo reverso de pneus inservíveis. Palavras Chaves: Logística Reversa, Gestão da Cadeia de Suprimentos, Sustentabilidade, Pneus Inservíveis, Meio-Ambiente. 1 INTRODUÇÃO A expressão “logística reversa” está cada vez mais inserida em nosso cotidiano. Basta que pensemos nos botijões de gás, nas latinhas de alumínio e nos cascos/garrafas da cerveja, que do consumidor devem retornar ao ciclo produtivo ou adequadamente ser retirados de circulação para que não se tornem danosos ao ambiente. Segundo Ballou (2006), a vida de um produto, do ponto de vista da logística, não se encerra com a entrega ao consumidor e sim com a logística reversa, pelo canal reverso de distribuição. A Logística Reversa é a área da logística a abordar os aspectos de retornos de produtos, embalagens ou materiais ao seu centro produtivo ou ao local de reprocessamento. A logística reversa de pneus inservíveis consiste nos atos de recolher os pneus usados do mercado e convertê-los inteiramente em algo novamente útil à sociedade ou, ainda, torná- los inócuos ao ambiente. ___________________________________________________________________________________ 1. Engenheiro Químico, MBA. Especialista em Engenharia da Qualidade e Gestão Educacional. Professor da disciplina de Projeto Aplicado do curso de Logística do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte.

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Page 1: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

LOGÍSTICA REVERSA DE PNEUS INSERVÍVEIS:

UM OLHAR EXPLORATÓRIO NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE

Cristian Correna Carlo1

[email protected]

RESUMO

Este artigo resulta de três outros trabalhos desenvolvidos a partir de pesquisas sobre a logística reversa de pneus

inservíveis em Belo Horizonte. Trabalho de claro objetivo exploratório, necessário e justificado em razão da

importância do tema e da pouca disponibilidade de informações na literatura. Foram pesquisados os fabricantes

de pneus e suas atuações para promover o recolhimento dos pneus na cidade, as características de atuação dos

borracheiros e o grau de conscientização e conhecimento do consumidor sobre o processo de retirada das

carcaças de pneu do mercado. Os resultados indicam ação tímida dos fabricantes e falta de vigor do poder

público na operacionalização das atividades de coleta, o baixo alcance do sistema sobre os borracheiros e a falta

de conhecimento do consumidor sobre o fluxo reverso de pneus inservíveis.

Palavras Chaves: Logística Reversa, Gestão da Cadeia de Suprimentos, Sustentabilidade, Pneus Inservíveis,

Meio-Ambiente.

1 – INTRODUÇÃO

A expressão “logística reversa” está cada vez mais inserida em nosso cotidiano. Basta

que pensemos nos botijões de gás, nas latinhas de alumínio e nos cascos/garrafas da cerveja,

que do consumidor devem retornar ao ciclo produtivo ou adequadamente ser retirados de

circulação para que não se tornem danosos ao ambiente.

Segundo Ballou (2006), a vida de um produto, do ponto de vista da logística, não se

encerra com a entrega ao consumidor e sim com a logística reversa, pelo canal reverso de

distribuição. A Logística Reversa é a área da logística a abordar os aspectos de retornos de

produtos, embalagens ou materiais ao seu centro produtivo ou ao local de reprocessamento.

A logística reversa de pneus inservíveis consiste nos atos de recolher os pneus usados

do mercado e convertê-los inteiramente em algo novamente útil à sociedade ou, ainda, torná-

los inócuos ao ambiente.

___________________________________________________________________________________

1. Engenheiro Químico, MBA. Especialista em Engenharia da Qualidade e Gestão Educacional. Professor da

disciplina de Projeto Aplicado do curso de Logística do Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte.

Page 2: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

A logística reversa de pneus inservíveis é regulamentada por leis federais, envolvendo

ações e interesses privados assim como a participação municipal.

Segundo a regulamentação do setor, fabricantes e importadores de pneus são os

responsáveis por fazer o recolhimento das carcaças de pneus no mercado e dar-lhes destinação

final ecologicamente correta, mas isso com a colaboração do poder público, rede

especializada, borracheiros e até consumidores. A Associação Nacional das Indústrias de

Pneumáticos (ANIP) é a entidade que representa as indústrias fabricantes, atuando como

responsável pelos processos de logística reversa de pneus.

Nas grandes cidades do Brasil, a coleta de pneus usados é sempre um desafio. O

município de Belo Horizonte possui pontos de coleta espalhados pela cidade, mas ainda se

encontram pneus descartados em aterros sanitários, lotes, rios e encostas da cidade.

Neste contexto e após vigência em mais de uma década de regulamentação das

atividades de reciclagem de pneus pela Resolução CONAMA No. 258, de 1999, poderíamos

perguntar como se encontra o processo de logística reversa de pneus inservíveis do município

de Belo Horizonte, neste ano de 2013.

Acredita-se que este trabalho possa colaborar para a melhoria das ações empreendidas

na coleta de pneus neste município, mantendo a missão, por vezes inglória, de insistir na

sustentabilidade ambiental.

2 – OBJETIVOS

Considerar a legislação sobre o tema, buscando identificar a participação prevista para

cada ente da cadeia reversa de pneus inservíveis.

Esboçar a organização ou estrutura da cadeia reversa de pneus inservíveis do

município de Belo Horizonte.

Estimar o volume mensal de pneus inservíveis recolhidos no município de Belo

Horizonte.

Avaliar o conhecimento da legislação do setor pelos borracheiros da região norte do

município de Belo Horizonte.

Page 3: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

Identificar formas usuais de descarte de carcaças de pneus pelos borracheiros da região

norte do município de Belo Horizonte.

Verificar se há oferta de serviço terceirizado para o descarte pneus inservíveis na

região norte do município de Belo Horizonte.

Avaliar o conhecimento da legislação do setor, assim como dos pontos de coleta, as

Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPVs), pelos consumidores da

região norte do município de Belo Horizonte.

Identificar, na visão do consumidor da região norte do município de Belo Horizonte,

quais seriam as ações mais importantes a incentivar o descarte correto de pneus.

Avaliar o valor em dinheiro atribuível ou aceitável para o descarte sustentável de cada

pneu pelos consumidores da região norte do município de Belo Horizonte.

3 – CLIENTELA

Acredita-se que este trabalho possa contribuir para acadêmicos e profissionais do ramo

no entendimento das ações promovidas pelos fabricantes na efetiva retirada das carcaças de

pneu do mercado, assim como para a atuação de outros entes, o poder público entre eles, na

operacionalização da logística reversa de pneus inservíveis no município de Belo Horizonte.

Também poderá auxiliar o cidadão a compreender a importância de sua participação

em todo o processo reverso analisado e como a sua atuação poderá favorecer essas atividades

em favor da sustentabilidade ambiental em relação ao consumo de pneumáticos no Brasil.

Por fim, a sociedade poderia beneficiar-se com a discussão dos temas relativos às

ações de reciclagem, tais como as vantagens e desvantagens das decisões tomadas, as

dificuldades enfrentadas para conscientizar a sociedade a respeito e lograr incluir a discussão

de projetos de sustentabilidade ambiental na rotina do povo brasileiro.

Page 4: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

4 – METODOLOGIA

Este artigo foi desenvolvido a partir de contribuições de diversos alunos do curso de

Logística do Centro Universitário UNA, de Belo Horizonte. Aqui se integraram dados e

análises decorrentes de três trabalhos inter-relacionados (Grupo A2, Grupo B

3 e Grupo C

4),

compondo uma só pesquisa, efetuada com nítido objetivo exploratório. Originalmente, “A” de

ANIP, “B” de Borracheiros e “C” de Consumidores.

A pesquisa bibliográfica prévia buscou referências que possibilitassem aprofundar as

discussões. Porém, como antevisto, falta bibliografia em quantidade adequada sobre o tema,

sobretudo a específica sobre descarte de pneus.

Os procedimentos de campo consistiram de entrevistas, com preenchimento de

questionários, e visitas técnicas. No Ecoponto (BR-040), ou Unidade de Recebimento de

Pneus (URP), o grupo A obteve informações mediante entrevista com o Superintendente de

Resíduos Sólidos. As informações e os dados assim coletados dizem respeito ao envolvimento

dos vários atores da cadeia reversa de pneus do município, à destinação das carcaças de

pneus, ao volume e à capacidade da coleta e destinação dos pneus inservíveis do município de

Belo Horizonte.

O Grupo B delimitou a região norte da Cidade como campo de atuação e preencheu

questionários com 15 borracheiros locais. A abordagem nem sempre foi fácil, em vista do

temor por parte desses prestadores de serviços de que a pesquisa de fato encobrisse ação

fiscalizatória de órgãos públicos.

O Grupo C também se restringiu à região norte da cidade, onde, em três pontos

diferentes, entrevistou 44 (quarenta e quatro) consumidores\transeuntes, abordados em vias

importantes da região norte do município, preenchendo igual número de questionários.

Foi empregada abordagem qualitativa e quantitativa, em que se trabalhou desde a

opinião do consumidor sobre qual seria o descarte correto de pneus até a quantificação dos

dados, ou informações, pré-selecionados e constantes dos questionários.

___________________________________________________________________________________

2. Grupo A: Adriano Rodrigo, Bruno de Oliveira Eugênico, Mario César Martins e Náthaly Araújo;

3. Grupo B: Anderson Junio M. Silva, Bryan Jônatas F. Araújo, Thiago H. Ferreira e Vinícius Souza Campos;

4. Grupo C: Fladimir Cordeiro Duarte, Hiago Wanderley de Souza e Simone Nunes da Costa.

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5 – DISCUSSÃO

Muito se fala da “Logística Reversa” como sendo conceito atual, muito importante e

politicamente correto. Por vez, alguns poderiam pensar que tudo aquilo que é reverso é

complexo, inacessível ou, até, tem cunho filosófico. Todavia, o maior obstáculo ao

entendimento do que realmente é a Logística Reversa, é o que confere dificuldade ao tema.

5.1 – A Gestão da Cadeia de Suprimentos e o fluxo reverso pós-consumo

Os conceitos de Cadeia de Suprimentos (CS) e Gestão da Cadeia de Suprimentos

(GCS), do inglês Supply Chain Management (SCM), tornam-se importantes no entendimento

da Logística Reversa.

Uma Cadeia de Suprimentos consiste em todas as partes envolvidas, direta ou

indiretamente, na realização do pedido de um cliente. Ela inclui não apenas o

fabricante e os fornecedores, mas também transportadoras, armazéns, varejistas e até

mesmo os próprios clientes. (CHOPRA, 2001, p.03).

O Supply Chain Management compreende o planejamento e gerenciamento de todas

as atividades envolvidas com a aquisição, conversão e o gerenciamento logístico.

Inclui principalmente a coordenação e a colaboração com os parceiros dos canais,

que podem ser fornecedores, intermediários, provedores de serviços terceirizados e

clientes. Em essência, o Supply Chain Management integra o gerenciamento do

suprimento e da demanda, internamente e ao longo da cadeia de suprimentos.

(Council of Supply Chain Management Profissionals, apud LEITE, 2009, p.16).

O entendimento e a aplicação de projetos de Gestão da Cadeia de Suprimentos têm

sido uma preocupação nas empresas, e o seu conceito vem se difundindo no mercado como

algo árduo de implantar mas que, quando concretizado, se torna fator de nítida eficácia na

gestão dos bens (matéria-prima, insumos, embalagens, produtos semiacabados, acabados) que

fluem pelas operações das empresas até o consumidor final.

O contexto de uma cadeia de suprimentos integrada implica uma gestão de

relacionamento multiempresas, inserida numa estrutura caracterizada por

limitações de capacidade, informações, competências essenciais, capital e restrição

de recursos humanos. Neste contexto, a estrutura e a estratégia da cadeia de

suprimentos resultam de esforços para conectar operacionalmente uma empresa

aos clientes, assim como às redes de apoio à distribuição e aos fornecedores, a fim

de ganhar vantagem competitiva. As operações de negócios estão, portanto,

integradas desde a aquisição de materiais iniciais até a entrega de produtos e

serviços aos clientes finais. (BOWERSOX, CLOSS e COOPER, 2002, p.23).

Page 6: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

Para Bowersox, Closs e Cooper (2002), o objetivo da Cadeia de Suprimentos (CS) é

gerir as inter-relações entre empresas sujeitas a limitações e escassez, devendo as atividades

operacionais destas estar orientadas para as necessidades dos clientes, de forma a atingir uma

vantagem competitiva para a Empresa. Os autores apresentam a CS por um fluxo linear que

inter-relaciona as empresas em uma unidade competitiva coordenada. A figura 01 é uma

adaptação de um modelo da Michigan State University, elaborado pelos autores citados.

Figura 1 - Cadeia de Suprimentos.

Fonte: Bowersox, Closs e Cooper (2002, p.23).

Ballou (2006) correlaciona as atividades de GCS com objetivos estratégicos, onde a

gerência deve atingir metas que conduzam a organização a objetivos corporativos amplos.

Também é preciso se preocupar em repassar valor (benefícios) aos entes da cadeia, devendo

previamente ser definido nível de serviço adequado ao mercado e às expectativas de custo da

empresa.

Segundo Fleury (2000), alguns profissionais percebem a GCS como uma extensão do

conceito de Logística Integrada (integração dos processos internos) para além das fronteiras

de empresa, em busca da integração com clientes e fornecedores. Esta visão, segundo o autor,

pode ser esvaziada quando observamos o conjunto de processos envolvidos e como eles

ultrapassam em muito os limites das empresas.

Page 7: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

Ainda sobre a questão conceitual lançada por Fleury, a visão apresentada por

Bowersox, Closs e Cooper (2002) pode tornar-se importante para esta discussão. Os autores

apresentam uma Gestão da Cadeia de Suprimentos com necessidades de “relacionamento

multiempresas”, mais apropriada à visão de mercado dos dias de hoje e, ao mesmo tempo,

pouco compatível com uma possível extensão do conceito de Logística Integrada.

No dia a dia da GCS, para que um produto chegue ao mercado (fluxo direto de bens)

com sustentabilidade operacional, são empregados armazéns para guardar os bens, fábricas

para os transformar e centros de distribuição para os armazenar e entregar. Ainda são

necessários veículos para transportar, equipamentos que os movimente, ferramentas para os

acabar, tecnologia para controlá-los, além de mão-de-obra especializada para gerir todos estes

ativos.

Existe, porém, um determinado fluxo de bens na Cadeia de Suprimentos caracterizado

por ter o sentido reverso, isto é, flui do cliente para a empresa. Este é o fluxo reverso de

produtos, estudado sob a designação de Logística Reversa.

Dornier et al. (2000) percebem a logística moderna sendo considerada não só com o

fluxo direto de bens, do produtor ao consumidor, mas necessariamente também com o retorno

para as fábricas/empresas de produtos com defeitos, de embalagens e produtos devolvidos.

No caso da logística reversa, o fluxo considerado parte dos vários clientes até as

empresas que recepcionam os produtos de pós-venda e pós-consumo, sendo um

processo convergente. (GUARNIERI, 2011, p.32).

Segundo Leite (2009), o fluxo reverso de pós-consumo, ocasionado pelo imperativo da

disposição adequada de materiais ao fim de sua utilização original, compõe-se de 3 (três)

subsistemas: reuso, remanufatura e reciclagem. O fluxo reverso de pós-venda acontece

quando há um retorno de parte de produtos não comercializados por variados motivos, como

problemas de qualidade ou desencontros comerciais. Vale observar que o canal reverso de

pós-venda normalmente é o mesmo canal direto de distribuição (entrega).

O recolhimento de pneus inservíveis é um fluxo reverso de pós-consumo, no qual se

verifica a presença dos três subsistemas apresentados: o reuso (informalmente), remanufatura

(empresas especializadas) e reciclagem (programas de recolhimento ligados a destinação

correta).

Page 8: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

5.2 – A cadeia reversa de pneus inservíveis

Desde a abertura do mercado no início dos anos 90, o País vem experimentando

mudanças significativas no mercado automobilístico. Primeiro com a enorme variedade de

modelos apresentados ao País, depois com o expressivo aumento na venda interna e na

participação percentual no PIB, coincidentemente, ou não, a partir de 2002 (Figura 2).

Figura 2: Venda de Carros no Brasil.

Fonte: Anfavea, anuário 2013.

Com o setor automotivo aquecido, inflam, por conseguinte, o consumo de pneus novos

e o número dos que a se desfazer posteriormente.

2012: 67,9 milhões

2011: 72,9 milhões

2010: 73,0 milhões

2009: 60,2 milhões

2008: 64,3 milhões

2007: 63,1 milhões

Tabela 01 - Vendas de Pneumáticos para Veículos Automotores: produção + importação por associados da ANIP.

Fonte: Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos , ANIP.

A participação das montadoras nas vendas de pneus é muito significativa. Os

principais canais de vendas de pneus para veículos automotores, segundo a ANIP, são as

Page 9: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

montadoras (fábricas), os exportadores e a substituição dos usados, ou seja, a troca de pneus

desgastados nos veículos em uso.

Figura 03 – Principais canais de venda de pneus de 2012.

Fonte: ANIP.

Tornou-se muito importante para os setores automobilístico e de pneus o ano de 1999,

quando promulgada a Resolução CONAMA no. 258, que responsabiliza os fabricantes

nacionais e os importadores de pneus pelo recolhimento e pela sua destinação ecologicamente

correta das suas carcaças.

[...] ficam obrigadas a coletar e dar destinação final, ambientalmente

adequada, aos pneus inservíveis existentes no território nacional, na

proporção definida nesta Resolução relativamente às quantidades

fabricadas e/ou importadas. (Resolução CONAMA No. 258).

Conforme Leite (2009), a partir de 2000, após a tecnologia de filtragem de gases ter

evoluído consideravelmente, também se tornou viável queimar pneus. Ainda segundo o autor,

entre 2000 e 2008, 84% dos 1.840 milhões de pneus recolhidos tiverem esta destinação.

A queima de pneus deu vazão a uma enorme quantidade de carcaças que, até o início

do presente século, mesmo quando adequadamente coletadas do mercado de consumo,

continuavam a exigir uma destinação final com sustentabilidade ambiental e também

econômica.

Além disso, a queima correta de pneus inservíveis agora se torna interessante para as

indústrias, uma vez que tal material gera mais calor que a queima do próprio carvão.

Os resíduos de borracha podem ser utilizados para geração de energia através

da queima, a qual se constitui numa alternativa para a reciclagem dos

resíduos de borracha, já que podem ser processadas grandes quantidades. Os

pneus contêm cerca de 90 % de material orgânico e têm capacidade calorífica

aproximada de 32,6 MJ/kg, enquanto o carvão tem 18,6 a 27,9 MJ/kg.

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Contudo o incinerador requer maior sofisticação do que os convencionais

para impedir a emissão de particulados e gases, além de que o aço e o negro

de fumo causam dificuldades operacionais. Um dos itens que dificulta a

viabilidade deste processo são os custos com coleta, de modo que ele se

restringe a locais onde há alta concentração de resíduos. (PIEROZAN, 2007,

p.16).

Em 2007 foi criada a Reciclanip, empresa ligada à ANIP, cuja finalidade é recolher e

dar disposição correta final às carcaças de pneus em todo o Brasil.

A Resolução CONAMA No. 416, de 2009, estendeu aos distribuidores, revendedores,

poder público e consumidores, a obrigação de implementar atividades que, em conjunto com

as dos fabricantes e importadoras de pneus, contribuirão para a coleta e a destinação final

correta de pneus inservíveis. Em breve comentário, Leite (2009) sugere que as leis foram se

adequando ”para confortar as necessidades do setor”.

A estrutura básica da cadeia reversa de pneus inservíveis segundo Leite (2009) é

apresentada a seguir.

Figura 04 – Fluxograma dos pneus usados.

Fonte: adaptado de LEITE (2009).

Os Pontos de Venda são os agentes especializados do canal de distribuição que

vendem e trocam pneus Entenda-se por Coleta Informal a em geral realizada por

consumidores quando, tendo efetuado em seus veículos a troca de pneus novos por usados,

temporariamente retêm as carcaças.

e que, dispondo de serviços agregados nesses locais de comércio, acabam por estocar

carcaças em seus estabelecimentos. Os supermercados também são pontos de vendas de

pneus, porém não realizam a montagem, e assim não constituem fontes de demanda para a

cadeia reversa. Excetuam-se alguns supermercados ainda a manter pontos de coleta de pneus;

Ponto de Venda

(varejo)

Empresas

Utilizadoras

Coleta Informal

Outras Empresas

(destinação final)

Ponto de

Consolidação

Recicladoras

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é claro, neste caso o estabelecimento passa a participante da cadeia reversa de pneus

inservíveis. Há anos era nesses locais de comércio mais comum encontrá-los, hoje são raros.

Os borracheiros estabelecidos são participantes fortes da cadeia reversa uma vez que,

legalmente ou não, não só vendem pneus usados, mas principalmente montam novos e semi-

usados nos aros das rodas, acumulando em sua posse carcaças recebidas nas trocas.

Empresas Utilizadoras são empresas de ônibus, transportadoras ou qualquer empresa

que mantenha frota de veículos. Assim as empresas utilizadoras, os pontos de venda,

borracheiros e a coleta informal são as origens previsíveis ou mais conhecidas de demanda na

cadeia reversa de pneus. Todos estes estabelecimentos são responsáveis por encaminhar o

produto usado a um ponto de recolhimento (Ecoponto) para que seja devidamente

encaminhado à sua destinação final.

A Reciclanip (ANIP) participa da reciclagem com o transporte dos pneus inservíveis

até os Ecopontos. Os Ecopontos são mantidos pelas Prefeituras Municipais através de

convênio com a Reciclanip, e são, na prática, os pontos principais de consolidação do fluxo de

demanda do mercado. No entanto, persiste como problema particular do setor organizá-los de

modo a promover satisfatoriamente o fluxo até o Ecoponto.

Guarniere (2011) expõe a dependência que as atividades de recolhimento

frequentemente têm de ações realizadas pelo poder público municipal. Às prefeituras incumbe

obter a minuta do acordo do convênio de cooperação com a Reciclanip e com esta

formalizarem o acordo.

A autora acredita que o programa vem sendo bem sucedido. Em 2009 a Reciclanip

encerrara o ano com 420 pontos de coleta; segundo dados da ANIP, em fevereiro de 2012, o

país contava com 726 pontos e, em maio de 2013, subira para 808 pontos de coleta nos

Estados Brasileiros e no Distrito federal.

Segundo a ABES, no 1º trimestre de 2013 foram recolhidas 90 mil toneladas de pneus

inúteis pela Reciclanip, crescimento de 1,5% sobre o mesmo período de 2012.

Para intensificar o processo de reciclagem, a entidade prevê investir

até o final do ano cerca de US$ 43 milhões. Segundo Alberto Mayer,

presidente da ANIP, Associação Nacional da Indústria de

Pneumáticos, esses recursos são utilizados para os gastos logísticos,

que representam mais de 60% das despesas, e também para os

investimentos na destinação final. A maior parte dos pneus coletados é

usada como combustível alternativo na indústria de cimento. Para que

Page 12: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

seja ambientalmente correta, a queima deste material nas cimenteiras é

feita com o uso de filtros especiais. (Diário Estado de Minas, apud.

ABES, s/d).

5.3 – O recolhimento de pneus inservíveis no município de Belo Horizonte

Em nível municipal, o grande desafio é a operacionalização do recolhimento de pneus

inservíveis no mercado local. A prefeitura de Belo Horizonte tem compartilhado políticas em

seus programas de governo, ou seja, visões de futuro sobre o desenvolvimento urbano

sustentável, o que demonstra a importância do tema. O recolhimento de pneus inservíveis está

incluído nas diligências que se empreenderão.

Belo Horizonte precisa consolidar até 2030 um modelo de desenvolvimento

urbano ambientalmente sustentável, caracterizado pela qualidade dos seus

recursos hídricos, preservação das áreas verdes, redução das emissões de

gases e eficiência energética. Com grande parte do lixo sendo reciclada e

com usinas de tratamento de resíduos modernas e acessíveis. Queremos

construir uma cidade em que pessoas de todas as classes sociais participem

do grande esforço coletivo de garantir sustentabilidade ao ambiente urbano,

resultado de um ousado projeto que envolve mudanças de comportamento da

população e soluções. (PROGRAMA DE GOVERNO BH SEGUE EM

FRENTE – 3013 A 2016, p.151).

Frente a tamanha expectativa, são necessárias estratégias arrojadas e boa execução.

Deve-se ressaltar um complicador: projetos com ganhos relevantes do ponto de vista social

passam por mudanças de atitudes históricas, onde a conscientização dos consumidores e dos

entes dos canais de distribuição é a peça-chave para auferir os maiores benefícios.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Belo

Horizonte, de maio de 2011, tem entre seus objetivos explicitados “[...] definir ações necessárias

para promover a logística reversa prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos.”, assim como

“Promover e intensificar os processos de logística reversa, sobretudo, com relação aos resíduos

especiais como pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, pneus e resíduos eletrônicos.” (p. 1176);

e reconhece que “[...] possa se dizer que o investimento na implantação perene de programas de

coleta seletiva e logística reversa para outras áreas dos resíduos sólidos urbanos em geral seja o

caminho natural para a criação de ações especificas para este segmento.”. (p. 1149).

O programa de governo de Marcio Lacerda, atual prefeito de Belo Horizonte, cita a

reforma e ampliação das Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPVs).

Estão em andamento serviços de reforma e adequação de nidades de

Recebimento de pequenos olumes RP s e a construção de uma nova

unidade, de acordo com o novo modelo pro etado para funcionamento destes

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equipamentos urbanos, com foco na triagem de resíduos. PROGRAMA DE

GOVERNO BH SEGUE EM FRENTE – 3013 A 2016, p.159).

As URPVs são pontos importantíssimos na estrutura municipal de recolhimento de

pequenos volumes de resíduos sólidos, nos quais o pneu inservível se inclui.

Unidade de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV), Prefeitura de Belo Horizonte.

Atualmente, a prefeitura de Belo Horizonte mantém 32 Unidades de Recebimento de

Pequenos Volumes espalhadas pela cidade.

As Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPVs) são

equipamentos públicos destinados a receber materiais como entulho, resíduos

de poda, pneus, colchões, eletrodomésticos e móveis velhos, até o limite

diário de 1m³ por obra. A população pode entregar o material gratuitamente

nesses locais ou contratar um carroceiro para buscá-lo. As URPVs não

recebem lixo doméstico, lixo de sacolão, resíduos industriais ou de serviços

de saúde, nem animais mortos. (PREFEITURA DE BELO HORIZONTE,

2007a).

As URPVs têm estrutura simples e funcional, sem tecnologia complexa, com cerca de

4 (quatro) caçambas para o recolhimento do resíduos sólidos de pequenos volumes advindos

de descartes dos cidadãos da cidade.

Figura 05 – URPV Jd. Guanabara. Figura 06 – URPV Jd. Guanabara, após reforma, 2013.

Fonte: Gestão Compartilhada – PBH (2013). Fonte: Gestão Compartilhada – PBH (2013).

Em 2010, o diário Estado de Minas, em matéria publicada sob o título de “BH

Engasgada com Entulho”, relatava que as URPVs davam sinais de sobrecarga. Para o jornal,

as URPVs recolhiam 100 toneladas/dia e estavam saturadas, o que abria brechas para a

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ilegalidade na disposição dos descartáveis. Nesse ano, a cidade tinha cerca de 600 bota-foras

em lotes vagos, ruas de vilas e bairros afastados, assim como nas margens do Anel

Rodoviário e das rodovias que desembocam na capital.

Na URPV Dona Clara, na Região da Pampulha, com a sobrecarga no ano

passado foi proibida a entrada de carros particulares com carrocerias na

unidade. "Muitos reclamaram, mas não houve jeito. Reduzimos em 50% a

quantidade acolhida", diz o gerente regional de Varrição e Serviço

Complementar (Gevarc/Pampulha), Janir Alves Nunes. Quem ganhou com

isso foram os carroceiros. (Diário Estado de Minas, apud. ABES, s/d)

Em 2011, persistiam os problemas com os bota-foras, estimados em 650 pontos de

descarte ilegal em Belo Horizonte. Em matéria intitulada “O Ovo Indez”, Maurício Lara

sugere que “[...] local de bota-fora deveria ser revitalizado, para provocar constrangimento

nos “usuários”. Neste caso, provavelmente, canteiros e flores podem funcionar melhor do que

a polícia.”.

Em BH, existem 32 Unidades de Recolhimento de Pequenos Volumes

(URPVs) espalhadas pela cidade. Nelas, é possível esvaziar a carroça

contratada ou o porta-malas do próprio carro. Mas os cidadãos parecem

desconhecer a possibilidade ou querem mais. Tudo indica que esperam o

recolhimento dos resíduos na porta de sua casa. Aliás, na porta do vizinho,

porque ninguém suja a própria calçada. (LARA, 2011).

O programa de governo da gestão Marcio Lacerda (2013 a 2016) visa à consolidação

do modelo das URPV como melhor alternativa aos bota-foras clandestinos.

Combater as deposições clandestinas através da ampliação do número de

URPVs (Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes), com prioridade

para as áreas com maior índice de deposição, visando também o melhor

aproveitamento e reciclagem dos resíduos (PROGRAMA DE GOVERNO

BH SEGUE EM FRENTE – 3013 A 2016, p.159).

As URPVs têm suma importância no recolhimento de resíduos sólidos, inclusive

pneus, na cidade de Belo Horizonte, e a desejada eficácia do sistema de 32 URPVs pode

propiciar, na visão do poder municipal, a redução de uso dos bota-foras clandestinos.

Transporte em Carroças.

Os carroceiros resistem na selva de pedra, em parte porque amiúde há resíduos sólidos

a serem transportados até às URPVs e aos bota-foras clandestinos. Ele é o primeiro agente de

Page 15: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

transporte da cadeia de resíduos sólidos, fazendo as vezes do cidadão ao coletar o(s)

resíduo(s) na residência e levá-lo à URPV ou a outro local.

A Secretaria de Limpeza Urbana (SLU) considera o carroceiro como um parceiro no

atendimento à população, inclusive qualificando-o mediante instrução em práticas ambientais

corretas e cadastrando-o na prefeitura. O cidadão pode ligar para a URPV mais próxima de

sua casa e pedir o telefone de um carroceiro que trabalhe mais próximo de si ou em sua

região.

Unidade de Recolhimento de Pneus (URP), Prefeitura de Belo Horizonte

Desde 2007 a Unidade de Recolhimento de Pneus (URP) funciona às margens da BR-

040, aberta de segunda a sexta, das 8h às 17h, e aos sábados, das 8h às 13h, a fim de receber

pneus inúteis ali entregues por cidadãos e empresas. O URP recebe grandes e também

pequenas quantidades de pneus entregues de uma só vez por um cidadão ou empresa.

Com uma área coberta de 200m² e capacidade para armazenar até quatro mil

pneus usados, a Prefeitura recebe mensalmente cerca de 15.000 pneus. A cada

duas mil unidades coletadas, o material é recolhido pela Associação Nacional

da Indústria de Pneumáticos (Anip), transportado às empresas de trituração e,

depois, encaminhado para destinação final. (PREFEITURA DE BELO

HORIZONTE, 2007b).

Figura 07 – URP na BR-040 Figura 08 – URP na BR-040

Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte (2007b). Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte (2007b).

Page 16: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

A Reciclanip (ANIP) através de transportadora credenciada retira os pneus do

município de Belo Horizonte assim que preenchido o lote de 2.500 unidades, ou 12.500 kg, de

pneus recolhidos.

A Rede Varejista e o Borracheiro

Ao longo da cadeia de suprimentos, a matéria-prima vira pneu e o produto acabado

fica disponível no pátio da fábrica para ser transportado. Existem várias formas de fazer o

produto chegar até o consumidor, os canais de distribuição.

Pneus não são vendidos diretamente da fábrica ao consumidor. Passam por

distribuidores e varejistas. Estes últimos podem ser separados em varejo especializado (lojas

exclusivas de venda de pneus, ou de rodas e pneus e acessórios, de vendas e/ou de serviços de

montagem nos aros, alinhamento e balanceamento) ou não-especializados (como os

supermercados).

Os prestadores de serviço especializados, assim como os borracheiros, acumulam

carcaças de pneu pela própria natureza do serviço prestado ao mercado. Faz parte da

expectativa básica do cliente que o local fique com o pneu usado; assim, transfere à loja e/ou

o borracheiro a responsabilidade pelo descarte.

Para realizar o descarte, a rede varejista e os borracheiros em Belo Horizonte devem

levar as carcaças de pneu diretamente à URP (Ecoponto), na BR-040, próximo ao CEASA.

6 – RESULTADOS

Os dados ou resultados estão apresentados segundo os grupos de coleta A2, B

3, e C

4.

ANIP – Grupo A.

Foi preenchido questionário com o responsável pelo Ecoponto (URP) e, por ser

interpretativo, vem exposto na íntegra nesta seção de resultados.

___________________________________________________________________________________

2. Grupo A: Adriano Rodrigo, Bruno de Oliveira Eugênico, Mario César Martins e Náthaly Araújo;

3. Grupo B: Anderson Junio M. Silva, Bryan Jônatas F. Araújo, Thiago H. Ferreira e Vinícius Souza Campos;

4. Grupo C: Fladimir Cordeiro Duarte, Hiago Wanderley de Souza e Simone Nunes da Costa.

Page 17: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

Quem é responsável pelo recolhimento de pneus? R: Foi feito um convênio SLU / Reciclanip para destinação

dos pneus. No Ecoponto os pneus são recolhidos pela Reciclanip e destinados para unidades recicladoras e co-

processamento.

Qual a frequência do recolhimento? R: A cada 2.500 pneus é feito uma retirada pela Reciclanip.

Qual é o local de recolhimento? R: Ecoponto da BR 040. - Há remuneração? R: Não.

Quem mantém ponto de coleta, quantos são, existem intermediários? R: Em BH tem um Ecoponto de

recebimento e 31 URPV onde recebem até 02 pneus por dia de cada usuário.

Qual é a capacidade do ponto de coleta? R: Armazenagem de 4.500 pneus.

Quem faz a transferência? R: Uma transportadora credenciada pela Reciclanip.

Qual o volume mensal? (ou frequência) R: O Ecoponto foi criado em Fev/2007, até DEZ/2012 foram recebidos

907.403 pneus inservíveis.

Qual a destinação / uso dos pneus a serem reciclados? R: Vão para o co-processamento em cimenteiras e

unidades de trituração licenciadas.

Qual a média diária de pneus inservíveis recebidos pelo Ecoponto? R: Média de 600 pneus por dia.

Há recolhimento em borracharias e em lojas do segmento? R: Recolhimento somente nas RP ’ s. As

borracharias e lojas do segmento entregam direto no Ecoponto.

O Ecoponto recebe pneus de quais regiões? R: Recebemos pneus somente de Belo Horizonte.

Fonte: elaborado pelos autores2.

Segundo dados da ANIP, as vendas de pneus no Brasil em 2012 totalizaram

67.900.000 unidades, à época em que a população do país, de acordo com estimativa do

IBGE, era de 193.946.886; daí que se vendeu 0,3501 pneu por habitante nesse ano.

Como este nosso estudo abrange apenas o município de Belo Horizonte, com a

população estimada em 2.395.785 habitantes em 2012 (IBGE), a média de 0,3501 pneu

vendido por habitante no país representaria para BH por ano a venda/consumo de 838.764,33

pneus/ano ou 69.897,03 por mês.

Na Unidade de Recolhimento e Pneus (URP), localizada na BR-040, para onde são

encaminhados os pneus inservíveis de Belo Horizonte, são recebidos em média 600 pneus

inservíveis por dia, o que em 22 dias úteis no mês equivale a 13.200 pneus mensais; ou,

incluindo-se os sábados, portanto 25 dias úteis, chega-se a 15.000 unidades por mês. Este

último número iguala o número de pneus recolhidos como informado no site da prefeitura de

Page 18: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

Belo Horizonte. Assim, se a venda estimada é de 69.897,03/mês pneus, 15.000 pneus

representam 18,9% do volume.

A prefeitura é responsável por recolher os pneus nas 2 RP ’s da cidade e entregá-

los na URP, ficando a Reciclanip responsável pelo restante da destinação correta para as

carcaças.

O Ecoponto possui capacidade física de reter 4.500 pneus, porém está previsto a

Reciclanip recolhê-los a cada 2500 pneus acumulados e levá-los às unidades recicladoras e/ou

de coprocessamento. Como o Ecoponto recebe em média 600 pneus por dia, segue-se que por

cálculo a cada 4,16 dias há um recolhimento. Dentro da suposição de 69.897 pneus vendidos

por mês no município de Belo Horizonte, poder-se-ia registrar recebimento pelo Ecoponto de

2.796 pneus/dia.

Borracheiros - Grupo B.

Os dados e informações apresentados nesta seção foram coletados por pesquisa de

campo com a aplicação de questionário em 15 borracheiros da região norte de Belo

Horizonte.

Figura 09: Descarte de pneus. Figura 10: Recolhimento de carcaças

Fonte: Elaborado pelos autores 3. Fonte: Elaborado pelos autores

3.

Observa-se que 73,34% dos borracheiros fazem eles mesmos o descarte enquanto

26,7% utilizam serviço terceirizado. Ainda, 26,7% dos borracheiros têm serviço regular de

recolhimento de carcaças, enquanto 73,3% dos borracheiros não dispõem desse serviço

regular.

Page 19: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

Figura 11: Conhecimento das leis pertinentes. Figura 12: Opinião dos borracheiros.

Fonte: Elaborado pelo autores3. Fonte: Elaborado pelo autores

3.

Pode-se observar que 100% dos borracheiros pesquisados sequer sabiam que

existem leis sobre descarte de pneus inserviveis; 40% deles entendiam que o fabricante é o

responsavel pela reciclagem dos pneus inserviveis, enquanto 60% expuseram a opinião de que

a prefeitura é a responsável pela destinação adequada final.

Figura 13: Ponto de descarte. Figura 14: Responsáveis pelo recolhimento até o URP.

Fonte: Elaborado pelo autores3. Fonte: Elaborado pelo autores

3.

Nota-se que 73,3% dos borracheiros sabiam onde é o ponto de descarte (URP) enquanto

26,7% não tinham conhecimento da sua localização. Já 26,7% tinham a opinião de que

terceiros são responsáveis por recolher e levar os pneus ao ponto de descarte, enquanto 33,3%

entendiam que a prefeitura é a responsável e 40%, que eles próprios eram os responsáveis.

Consumidores – Grupo C.

Foram realizadas pesquisas de campo por meio de questionários junto a consumidores

da região norte de Belo Horizonte. Os gráficos 15 e 16 referem-se às respostas a perguntas

parecidas entre si, porém, a primeira é aberta, podendo o entrevistado responder livremente,

com ou sem alguma sugestão; a segunda consiste em uma consulta com sugestões

apresentadas na forma de múltipla-escolhas.

Page 20: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

Figura 15: Incentivo ao descarte (pergunta aberta)

Fonte: elaborado pelos autores4.

Figura 16: Incentivo ao descarte (pergunta fechada)

Fonte: elaborado pelos autores4.

Quando perguntado sobre como melhor incentivar o descarte apropriado, tanto na

pergunta aberta (Figura 15) quanto na pergunta com resposta estimulada (Figura 16), a

opinião mais comum foi a de promover campanhas educativas.

Figura 17 – Conhecimento dos pontos de coleta.

Fonte: elaborado pelos autores4.

A figura 17 mostra que 37 dos 44 entrevistados, ou 84%, desconhecem a existência e a

localização os pontos de descartes (URPVs).

67

2

4

1

4

7

6

4 4

1

2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Campanha deconscientização

Divulgar Pontos deRecolhimentos

Pagar porrecolhimento pneus

Obrigar responsavellegal

Recolher emcaminhão de lixo

Dar descontos nacompra de pneus

novos

Quais ações você considera importante para incentivar o descarte de pneus usados?

7

37

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1

Conhecimento sobre pontos de recolhimento

Sim

Não

5

2

9

4

1 1

4

2

12

12

1

0

2

4

6

8

10

12

14

Aumentar pontos derecolhimento

Cobra do Governoaplicação da lei

Campanhas,Divulgação e

Conscientização

Descontos na comprade pneus

Recolher na Hora daTroca (Borra., Varejo

Varejo Pneus)

Nulos

O que você sugere como forma de incentivar o descarte?

Page 21: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

Figura 18 – Disposição para custear a reciclagem.

Fonte: elaborado pelos autores4.

Na figura 18, verifica-se que os clientes/consumidores do sexo masculino aceitariam

pagar em média R$ 9,38 (nove reais e trinta e oito centavos) e já as mulheres aceitariam pagar

em média R$ 7,39 (sete reais e trinta e nove centavos) no custeio da reciclagem de cada pneu

utilizado.

7 – CONCLUSÃO

Avaliou-se, neste trabalho, parte da atuação da ANIP (Associação Nacional das

Indústrias de Pneumáticos) no município de Belo Horizonte objetivando recolher os pneus

inservíveis disponibilizados em toda esta área. Isto se fez mediante confronto e análise das

informações coletadas sobre a atuação dos principais agentes envolvidos – individuais e

particulares, como borracheiros, ou públicos e coletivos, como as URPVS - com as

obrigações definidas em leis que regem as atividades de destinação de pneus inservíveis no

Brasil,

A participação da ANIP (Reciclanip) consiste na retirada dos pneus do município para

levá-los aos locais de reciclagem. Para isso, utiliza caminhões-baú de 12,5 ton. (doze

toneladas e meia), a transportar 2.500 pneus (peso médio de 5 kg) por vez. Já a prefeitura de

Belo horizonte se encarrega de recolher as carcaças de pneu em 32 URPVs, além de resgatá-

los pela limpeza urbana dos locais onde inapropriadamente foram deixados e levá-los ao URP

(Ecoponto).

R$ 9,38

R$ 6,41 R$ 7,39

R$ 8,98

R$ -

R$ 2,00

R$ 4,00

R$ 6,00

R$ 8,00

R$ 10,00

Media de Preço (***) Desvio Padrão

Disposição em pagar para garantir a reciclagem

Page 22: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

O esboço seguinte mostra a estrutura da logística reversa montada no município de

Belo Horizonte para o recolhimento apropriado dos pneus inservíveis nele disponibilizados.

Figura 19 – Organização para o recolhimento de pneus inservíveis em Belo Horizonte.

Fonte: elaborado pelo autor 1.

Pode-se afirmar que a legislação a regulamentar o descarte de pneus inservíveis é

desconhecida pelos borracheiros da região norte de Belo Horizonte, onde 100% dos

borracheiros pesquisados assim declararam.

Os dados apurados sugerem que os borracheiros, em sua maioria, conhecem ou sabem

da exigência e/ou da localização do ponto de descarte (73,3% dos entrevistados); mas que a

principal forma de descarte que adotaram é de sua própria iniciativa (onze dos quinze

entrevistados, e também 73,3%).

Grande parte dos borracheiros da zona norte de Belo Horizonte não possui ou usa

serviço regular de coleta de pneus inservíveis, visto que apenas 26,7% dos pesquisados

indicaram utilizá-lo. Estes terceirizados podem ser carroceiros que os levam ao Ecoponto

(URP) ou os “desovam” em algum ponto irregular da cidade (terrenos, lixão, cursos d´água

etc.) Todavia, de acordo com informações repassadas informalmente, os terceirizados podem

afinal não ser apenas carroceiros, e sim transportadores independentes, que utilizam pequenos

caminhões ou utilitários leves, a recolher os pneus e, em seguida, levá-los à URP. Nada a

Page 23: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

adiantar a respeito das motivações desses terceirizados para assim agir uma vez que isto não

constituiu objeto desta pesquisa.

É oportuno evidenciar a peculiaridade das ações de descarte pelos borracheiros, uma

vez que, em grande parte, trabalham por iniciativa própria, de forma informal e, porém, se

tornaram partícipes maiores da cadeia reversa de pneus inservíveis em Belo Horizonte,

segundo nossos dados.

Pelos dados coletados na região norte de Belo Horizonte (figuras 15 e 16), os donos de

veículos com pneus a descartar entendem que a divulgação e a conscientização por meio de

campanhas, aliadas ao aumento de pontos de recolhimento, seriam fatores preponderantes

para melhorar o descarte apropriado de pneus inservíveis (68,2% nas respostas “abertas” e

56,9% nas respostas “fechadas”, apenas consumidores da região norte do município).

Os dados apresentados na figura 17 sugerem que consumidores de pneus da região

norte de Belo Horizonte desconhecem a estrutura vigente da cadeia logística reversa dos

pneus inservíveis. Assim, 84% dos entrevistados informaram que não sabem onde ficam os

pontos de descarte, as URPVs, atualmente 32 no município.

Quanto ao valor que voluntariamente cada consumidor da região norte do município

pagaria pelo descarte correto de cada pneu inservível seu, verificou-se que pouco mais de

30% dos consumidores consultados pagariam por isso e, em média, R$ 8,86 reais (oito reais e

oitenta e seis centavos) por unidade. Os homens alegaram estar dispostos a pagar valor maior

que as mulheres, 9,38 reais por eles contra 7,39 reais por elas.

Por fim, em visão restrita ao município de Belo Horizonte, acredita-se que, de uma

forma geral, são desempenhadas ações determinadas, precisas, e há estrutura sendo mantida a

fim de se recolherem as carcaças de pneus e dar-lhes fim adequado. Porém, percebe-se

timidez e pouco arrojo nas ações ou políticas públicas municipais a respeito, com destaque

para os problemas de capacidade atual saturada e de cobertura ou abrangência insuficientes

exercidas pelas URPVs. O que incentiva sejam usados os bota-foras clandestinos, prática de

que decorrem danos óbvios ao ambiente.

A adequação da cobertura e capacidade das URPVs é essencial, não só a fim de ajudar

a evitar os bota-foras clandestinos, mas também a permitir ativação e participação decidida do

mercado, dos consumidores de pneus e dos distribuidores, em futuras campanhas pela

reciclagem. A demanda pelo descarte pelos consumidores poderia aumentar

Page 24: Artigo Pneus Inserviveis - PUB - Final

significativamente visto que estes simplesmente desconhecem a existência e/ou a localização

dos pontos de coleta de pneus mantidos pela Prefeitura.

Percebe-se a ANIP em condição confortável frente às demandas das Resoluções

CONAMA de nos. 258/99 e 416/09, uma vez que passou da situação de responsável e

promotora da logística reversa para apenas uma participante da cadeia reversa. Ressalte-se

que a ANIP tem pouco ou nenhum envolvimento no processo de coleta junto aos

consumidores e ao setor de distribuição de pneus em Belo Horizonte. Neste município, não

participa do recolhimento (muitos para um) e sim apenas efetua a transferência (um para um)

em cargas fechadas, de um único ponto em toda a cidade para o local de reciclagem. Assim,

grande parte dos custos da logística reversa de pneus inservíveis recai sobre os cofres da

prefeitura do município de Belo Horizonte.

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