arte e midia - machado [fichamento].docx

Upload: guilherme-cuoghi

Post on 14-Jan-2016

23 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Guilherme Vendramini Cuoghi Universidade Federal de Uberlndia Prof. Orientador Joo Henrique Lodi Agreli

MACHADO, Arlindo. Arte e mdia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007.

P07 Definio de arte e mdia: O vocbulo ARTEMIDIA, forma aportuguesada do ingls media arts, tem se generalizado nos ltimos anos para designar formas de expresso artstica que se apropriam de recursos tecnolgicos das mdias e da indstria di entretenimento em geral, ou intervm em seus canais de difuso, para propor alternativas qualitativas. Stricto sensu, o termo compreende, portanto, as experincias de dilogo, colaborao e interveno crtica nos meios de comunicao em massa. Mas, por extenso, abrange tambm quaisquer experincias artsticas que utilizem recursos tecnolgicos recentemente desenvolvidos, sobretudo nos campos da eletrnica, da informtica e da engenharia biolgica.

P08 Incluindo tambm trabalhos realizados com mediao tecnolgica em reas mais consolidadas, como as artes visuais, audiovisuais, literatura, musica e artes performticas, mas tambm em campos ainda no inteiramente mapeados como a criao colaborativa baseada em redes, as intervenes em ambientes virtuais ou semivirtuais, a aplicao de recursos de hardware e software para a gerao de obras interativas, probabilsticas, potenciais, acessveis remotamente..

P08 Questo chave do livro: Dizer arte mdia significa sugerir que os produtos da mdia podem ser encarados como as formas de arte de nosso tempo ou, ao contrrio, que a arte de nosso tempo busca de alguma forma interferir no circuito massivo das mdias? [...] A questo mais complexa saber de que maneira podem se combinar, se contaminar e se distinguir arte e mdia.

Desviando a tecnologia do seu processo industrial

P10 a apropriao que a arte faz do aparato tecnolgico que lhe contemporneo difere significativamente daquela feita por outros setores da sociedade, como a industria de bens e consumo. Em geral, aparelhos, instrumentos e maquinas semiticas no so projetados para a produo de arte [...] Mquinas semiticas so, na maioria dos casos, concebidas dentro de um princpio de produtividade industrial, de automao dos procedimentos para a produo em larga escala, mas nunca para a produo de objetos singulares, singelos e sublimes

A partir da, Machado faz um apanhado histrico dessas situaes, onde meios industriais concebidos e desenvolvidos segundo princpios de produtividade e racionalidade so transformados em meios de produo artstica, caractersticas que no lhes foram conferidas inicialmente, como o caso, por exemplo, da fotografia, cinema, vdeo e computador.

P13 A perspectiva artstica certamente a mais desviante de todas, uma vez que ela se afasta em tal intensidade do projeto tecnolgico originalmente imprimindo s mquinas e programas que equivale a uma completa reinveno dos meios.

P14 Aps citar exemplos de algumas obras de artistas que desafiaram e criticaram essa lgica industrial, tais como Stan Brakhage, Nam June Paik, Frederic Fontenoy, Andrew Davidhazy e William Gibson , produzindo meios de arte, completa: ento no se pode mais, em nenhum desses exemplos, dizer que os artistas esto operando dentro das possibilidades programadas e previsveis dos meios invocados. Eles esto, na verdade, ultrapassando os limites das mquinas semiticas e reinventando radicalmente os seus programa e suas finalidades.O que faz, portanto, um verdadeiro criador, em vez de simplesmente subverter-se s determinaes do aparato tcnico, subverter continuamente a funo da maquina ou do programa que ele utiliza, manej-los no sentido contrrio ao de sua produtividade programada. [...] Longe de se deixar escravizar por uma norma, por um modelo estandardizado de comunicar, as obras realmente fundadoras na verdade reinventam a maneira de se apropriar de uma tecnologia..

P16 A artemdia, como qualquer arte fortemente determinada pela media;co tcnica, coloca o artista diante do desgio permanente de, ao mesmo tempo em que se abre s formas de produzir do presente, contrapor-se tambm ao determinismo tecnolgico, recusar o projeto industrial j embutido nas mquinas e aparelhos, evitando assim que sua obra resulte simplesmente num endosso dos objetos de produtividade da sociedade tecnolgica..

A arte como metalinguagem da mdia (questionamentos da sociedade miditica)

P17 O fato mesmo de as suas obras [artemdia] estarem sendo produzidas no interior dos modelos econmicos vigentes, mas na direo contrria deles, faz delas um dos mais poderosos meios crticos de que dispomos hoje para pensar o mofo como as sociedades contemporneas se constituem, se reproduzem e se mantm. Pode-se mesmo dizer que a artemdia representa hoje a metalinguagem da sociedade miditica, na medida em que possibilita praticar, no interior da prpria mdia e de seus derivados institucionais (portanto no mais nos guetos acadmicos ou nos espaos tradicionais de arte) , alternativas crticas aos modelos atuais de normatizao e controle da sociedade.

Machado apresenta alguns exemplos de obras miditica que criticam estes meios de mdia de normatizao e controle social: P18 Wolf Vostell e Nam Jue Paik j desmontavam os sintagmas televisuais em instalaes ao vivo ou atravs do registro em suporte cinematogrfico. Pode se dizer que a perturbao dos signos visuais e sonoros da televiso, o retalhamento e a desmontagem impiedosa de seus programas, de seus fragmentos, ou at mesmo de seus rudos naturais, constituem a matria de boa parte das pesquisas plsticas em vdeo. A deformao progressiva em anamorfoses que David Hall faz em seu vdeo This Is a Television Receiver (1971) do apresentador da BBC Richard Baker, onde o artista desintegra a face e a voz do apresentador, distorcendo-as. P18 O resultado ;e que essa figura respeitvel e emblemtica da mdia se v reduzida aquilo que ela em sua essncia: uma sequncia de padres pulsantes de luz sobre a superfcie da tela.Antoni Muntadas revela o funcionamento mais ntimo e invisvel de nossas sociedades [...] Muntadas faz das estruturas de poder, que subjazem s formas aparentemente inoculas de nossas sociedades, no toma a forma de um discurso racional e distanciado, mas produzida com os mesmos instrumentos e meios com que essas estruturas so construdas. Trata-se, portanto, de um ataque por dentro, de uma contaminao interna, que faz com que essas estruturas deixem momentaneamente de funcionar como habitualmente se espera, para que possamos enxergar por um outro vis, preferencialmente crtico.

P20 Em projetos para a Internet, Muntadas tem uma tendncia em reciclar materiais audiovisuais, por meio da construo de novos enunciados a partir dos materiais que j esto em circulao nos meios de massa. [...] sua contribuio particular est em colocar toda essa potica da reciclagem a servio de uma investigao sistemtica implacvel do modo de como se organizam e se reproduzem as formas de poder no mundo contemporneo

P22 Em lugar de simplesmente cumprir o papel que lhe foi designado como criador de demo tapes atestadores do poder da tecnologia, alimentando assim com enunciados agradveis a mquina produtiva , o artista, na maioria das vezes, tem um projeto crtico relacionado aos meios e circuitos nos quais ele opera. Ele busca interferir na prpria lgica das mquinas e dos processos tecnolgicos, subvertendo as possibilidades prometidas pelos aparatos e colocando a nu os seus pressupostos, funes e finalidades. O que ele quer , num certo sentido, desprogramar a tcnica, distorcer as funes simblicas, obrigando-as a funcionar fora de seus parmetros conhecidos e a explicitar os seus mecanismos de controle e seduo. Nesse sentido, ao operar no interior da instituio da mdia, a arte a tematiza, discute os modos de funcionar, transforma-a em linguagem-objeto de sua mirada metalingustica..

A mdia como reordenamento da arte

Fazer arte nas mdias ou com as mdias

P24 Os defensores da artemdia [...] defendem a ideia de que a demanda comercial e o contexto industrial no necessariamente inviabilizam a criao artstica, a menos que identifiquemos a arte com o artesanato ou com a aura do objeto nico. No entender destes ltimos, a arte de cada poca feita no apenas com os meios, os recursos e as demandas dessa poca, mas tambm no interior dos modelos econmicos e institucionais nela vigentes, mesmo quando essa arte francamente contestatria em relao a eles..

P26 Talvez possamos com proveito aplicar arte produzida na era das mdias o mesmo raciocnio que Walter Benjamin aplicou fotografia e ao cinema: o problema no saber se ainda cabe considerarmos artisticos objetos e eventos tais como um programa de televiso, uma histria em quadrinhos ou um show de banda de rock. O que importa perceber que a existncia mesma desses produtos, a sua proliferao, a sua implantao na vida social colocam em crise os conceitos tradicionais e anteriores sobre o fenmeno artstico, exigindo formulaes mais adequadas nova sensibilidade que agora emerge.

P30 A arte, ao ser excluda dos seus guetos tradicionais, que a legitimavam e a instituam como tal, passa a enfrentar agora o desafio da sua dissoluo e da sua reinveno como evento de massa.

Tecnologia e arte: como politizar o debate

P 31 Em um pas como o Brasil, deslocado geograficamente em relao aos pases produtores de tecnologia e em que o acesso aos bens tecnolgicos ainda seletivo e discriminatrio, uma discusso sria sobre o tema das novas tecnologias deve necessariamente refletir esse deslocamento e essa diferena, para que possa servir, ao mesmo tempo, de caixa de ressonncia a experincias e pensamentos independentes, problematizadores e divergentes.

P34 A centralidade das novas tecnologias, sejam elas eletrnicas, digitais ou biogenticas, tambm pouco problematizada nos eventos dedicados a elas, sobretudo [...] na arte contempornea. Predomina ainda, no universo das artes eletrnicas ou das poticas tecnolgicas, um discurso legitimador, um tanto ingnuo, alheio aos riscos que a adoo de uma estratgia de acelerao tecnolgica comporta..

P35 Produo da conscincia planetria/coletiva. Alguns artistas do ciberespao tm sugerido, por exemplo, que os computadores conectados em rede, ao colocar tambm em conexo os seus usurios e permitir que cada um deles se distribua dentro dessa rede, esto afetando profundamente as relaes de intersubjetividade e de sociabilidade dos homens, assim como a prpria natureza do eu e de sua relao com o outro. O navegante da rede, integrado ao corpo das interfaces, no mais um mero espectador passivo, incapaz de interferir no fluxo das energias e ideias; pelo contrrio, ele se multiplica pelos ns da rede e se distribui por toda parte, interagindo com outros participantes e constituindo assim uma espcie de conscincia coletiva.

P37 a importao em larga escala de ideias e de modelos de ao de outras realidades socioeconmicas tem impedido o desenvolvimento entre ns de uma conscincia alternativa relacionada s novas tecnologias. Com isso, seguimos a reboque e sem massa crtica de um movimento hegemnico, arquitetado em escala planetria..

P38 Para alm das tendncias mais confortveis da tecnofilia e da tecnofobia, o que importa politizar o debate sobre as tecnologias, sobre as relaes entre cincia e o capital, sobre o significado de se criarem obras artsticas com pesada meditao tecnolgica..

A contribuio de Flusser.

P40 Flusser s reconhece uma poca comparvel a nossa: a Antiguidade, quando o homem passou do estgio pr-histrico e mtico para uma fase histrica, lgica e baseada na escrita alfanumrica. No atual estgio, chamado por Flusser de ps-histrico, a escritura construda com ou por mquinas e consiste essencialmente numa articulao de imagens no limite, imagens digitalizadas, multiplicveis ao infinito, manipulveis vontade e passiveis de distribuio instantnea a todo o planeta. Caracteres se tornam bytes, sequencias de pixels, os fins e os meios so substitudos pelo acaso, as leis pelas probabilidades e a razo pela programao.

P43 Fotografia: mquinas contemporneas de produo simblica audiovisual. com a fotografia que se inicia, portanto, um novo paradigma na cultura do homem, baseado na automao da produo, distribuio e consumo da informao (de qualquer informao, no s visual), com consequncias gigantescas para os processos de percepo individual e para os sistemas de organizao social. [...] A fotografia nela abordada [na obra de Flusser] com base sobretudo em conceitos de informtica e comparece a apenas como um modelo bsico para a anlise do modo de funcionamento de todo e qualquer aparato tecnolgico ou miditico..

P43- Caixa-preta de Gregory Bateson: uma parte complexa de um circuito eletrnico que omitida intencionalmente no desenho de um circuito maior e substituda pelo desenho de uma caixa vazia, sobre a qual apenas se escreve o nome do circuito omitido. Crtica na filosofia e em seus fenmenos: Assim, por exemplo, damos a uma certa classe de fenmenos o nome de instinto e acreditamos que isso resolve o problema. Mas o que chamamos de instinto pode ser apenas uma caixa-preta que est ali para mascara o que justamente no conseguimos compreender.

P44 Caixa-preta de Flusser: No caso especfico de Flusser, o conceito de caixa-preta deriva mais propriamente da ciberntica. Nesse campo particular, d se o nome de caixa-preta a um dispositivo fechado e lacrado, cujo interior inacessvel e s pode ser intudo atravs de experincias baseadas na introduo de sinais de onda (input) e na observao da resposta (output) do dispositivo. Em geral, caixa-preta traduz um problema de engenharia: como deduzir acerca do que h dentro de uma caixa, sem necessariamente abri-la, mas apenas aplicando voltagens, choques ou outras interferncias em sua paredes externas?Flusser usa o exemplo da fotografia e do fotgrafo, que utiliza-se do aparato sem saber de seu funcionamento: A rigor, pode-se fotografar sem conhecer as leis de distribuio da luz no espao, nem as propriedades fotoqumicas da pelcula, nem ainda as regras da perspectiva monocular que permitem traduzir o mundo tridimensional em imagem bidimensional.Assim, o fotgrafo no faz nada alm de recombinar as possibilidades e capacidades que a mquina fotogrfica traz. Ele no cria, pois depende dessas combinaes limitadas do aparato. E isso se aplica a todo caso de mquina de produo semitica, como o computador.

P46 Pensamos que podemos escolher e, como decorrncia disso, nos imaginamos criativos e livres, mas nossa liberdade e nossa capacidade de inveno esto restritas a um software, a um conjunto de possibilidades dadas a priori e que no podemos dominar inteiramente. Esse justamente o ponto em que a Filisofia de Flusser quer intervir: ela quer produzir uma reflexo densa sobre as possibilidades de criao e liberdade numa sociedade cada vez mais programada e centralizada pela tecnologia..

P47 Tanto a imagem produzida por uma mquina fotogrfica como as de um computador, so operaes matemtica e algoritmos baseados em alguma lei da fsica/ Eis por que as imagens tcnicas [...] no podem corresponder a qualquer duplicao inocente do mundo, porque entre elas e o mundo se interpem os conceitos da formalizao cientfica.O aparelho fotogrfico , portanto, uma mquina programada para imprimir nas superfcies simblicas modelos previamente inscritos. [...] O fotgrafo escolhe, dentre as categorias disponveis, as que lhe aparecem mais convenientes, mas essa escolha limitada pelo nmero de categorias programadas na construo do aparelho..

P48 Para produzir novas categorias, no previstas na concepo do aparelho, seria necessrio intervir no plano da prpria engenharia do dispositivo, seria preciso reescrever o seu programa, o que quer dizer: penetrar no interior da caixa-preta e desvend-la..

Artemdia: a experincia brasileira (incio: 1950)

Abrahm Palatinick (arte cintica), Jorge Antunes (msica eletroacstica) e Waldemar Cordeiro (introduo do computador na arte).

P50 Principais caractersticas da artemdia brasileira: 1) sintonia e sincronia com o que estava endo produzido fora do Brasil, o que dava aos brasileiros uma condio de atualidade, quando no at mesmo de precocidade em alguns casos especficos; 2) ao mesmo tempo e paradoxalmente, uma certa diferena de abordagem, motivada principalmente pelo veio crtico de boa parte dos trabalhos, fruto do enfrentamento de uma trgica realidade social e de uma vida poltica massacrada por uma ditadura militar, o que tornava as obras brasileiras um tanto distintivas com relao ao que se fazia no exterior.

P54 O grosso da nova produo aprece hoje marcado por uma impressionante padronizao, por uma uniformidade generalizada, como se o que estivesse em jogo fosse uma espcie de esttica do merchandising, em que cada trabalho deve fazer nada mais que uma demonstrao das qualidades do hardware ou das potencialidades do software.a discusso esttica foi quase inteiramente substituda pelo discurso tcnico, e que questes relativas a algoritmos, hardware e software tomaram grandemente o lugar das ideias criativas, da subverso das normas e da reinveno da vida..

P57 Questo: Trata-se agora de indagar onde a insero de novas tecnologias nas artes est introduzindo uma diferena qualitativa ou produzindo acontecimentos verdadeiramente novos em termos de expresso, contedos e formas de experincia..

Convergncia e divergncia das artes e dos meios

Nesta ultima parte do livro, Machado busca, inicialmente, uma definio dos meios de comunicao e mdia [fotografia, cinema e msica] atravs de seus ncleos rgidos suas definies. Partindo posteriormente para anlises de casos onde acontecem trocas de informao entre esses meios, de modo que se misturem. Por fim, fala sobre uma hibridizao desses meios e seus ncleos rgidos, na convergncia deles.

P78 A hibridizao e a convergncia dos meios so processos de interseco, de transaes e de dilogo, implicam movimentos de trnsito e provisoriedade, implicam tambm as tenses dos elementos hbridos convergidos, partes que se desgarram e no chegam a fundir-se completamente. Uma teoria to ingnua da hibridizao, diz Canclini, inseparvel de uma conscincia crtica de seus limites, do que no se deixa, ou no quer ou no pode ser hibridizado..