apostila segurança do trabalho

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1 UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ - UNOCHAPECÓ ÁREA DE CIÊNCIAS EXATAS E AMBIENTAIS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Disciplina: SEGURANÇA DO TRABALHO NA CONSTRUÇÃO Professor: MARCELO FABIANO COSTELLA Período: 8° PLANO DE ENSINO EMENTA: Introdução à segurança preventiva. Fatores fundamentais à segurança ambiental e coletiva. Proteção coletiva na construção civil. Higiene e segurança do trabalho no canteiro de obras. Identificação de atos e ambientes inseguros na construção civil. Controle de riscos e atos inseguros na construção civil. Diagnósticos e situações corretivas de acidentes de trabalho na construção civil. Legislação de segurança do trabalho na construção civil. JUSTIFICATIVA: Proporcionar ao aluno conhecimento de modo a impedir a ocorrência de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais nas obras, bem como observar a legislação de segurança do trabalho para não haver ocorrências que acarretem em danos legais. OBJETIVO GERAL: O aluno deverá adquirir conhecimentos relativos ao controle de riscos no canteiro de obra e à legislação de segurança específica da construção – a NR-18. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Analisar profundamente a NR-18. Fazer com que o aluno tenha condições de atuar preventivamente em relação à segurança do trabalho no canteiro de obras. Proporcionar ao aluno conhecimentos relativos à identificação e prevenção dos riscos ambientais da indústria da construção. Apresentar definições relativas à legislação nacional de segurança através das Normas Regulamentadoras. Conhecer as principais causas de acidentes do trabalho na construção civil para poder atuar preventivamente. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: 1 – Introdução 1.1 - Apresentação do plano de ensino 1.2 - Definição de segurança do trabalho 2 – NR-18 2.1 – Histórico 2.2 – PCMAT – Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Construção 2.3 – Áreas de vivência 2.4 – Escavações e fundações 2.5 – Carpintaria e armações de aço 2.6 – Estruturas 2.7 – Escadas, rampas e passarelas 2.8 – Medidas contra quedas de altura 2.9 – Movimentação e transporte de materiais 2.10 – Andaimes 2.11 – Instalações elétricas 2.12 – Máquinas e equipamentos 2.13 – Proteção contra incêndio 2.14 – Sinalização 2.15 – Treinamento 2.16 – Ordem e limpeza 2.17 – Tapumes e galerias 2.18 – Aspectos diversos

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    UNIVERSIDADE COMUNITRIA DA REGIO DE CHAPEC - UNOCHAPEC REA DE CINCIAS EXATAS E AMBIENTAIS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Disciplina: SEGURANA DO TRABALHO NA CONSTRUO Professor: MARCELO FABIANO COSTELLA Perodo: 8

    PLANO DE ENSINO

    EMENTA: Introduo segurana preventiva. Fatores fundamentais segurana ambiental e coletiva. Proteo coletiva na construo civil. Higiene e segurana do trabalho no canteiro de obras. Identificao de atos e ambientes inseguros na construo civil. Controle de riscos e atos inseguros na construo civil. Diagnsticos e situaes corretivas de acidentes de trabalho na construo civil. Legislao de segurana do trabalho na construo civil.

    JUSTIFICATIVA: Proporcionar ao aluno conhecimento de modo a impedir a ocorrncia de acidentes de trabalho e doenas ocupacionais nas obras, bem como observar a legislao de segurana do trabalho para no haver ocorrncias que acarretem em danos legais.

    OBJETIVO GERAL: O aluno dever adquirir conhecimentos relativos ao controle de riscos no canteiro de obra e legislao de segurana especfica da construo a NR-18.

    OBJETIVOS ESPECFICOS: Analisar profundamente a NR-18. Fazer com que o aluno tenha condies de atuar preventivamente em relao segurana do trabalho

    no canteiro de obras. Proporcionar ao aluno conhecimentos relativos identificao e preveno dos riscos ambientais da

    indstria da construo. Apresentar definies relativas legislao nacional de segurana atravs das Normas

    Regulamentadoras. Conhecer as principais causas de acidentes do trabalho na construo civil para poder atuar

    preventivamente. CONTEDO PROGRAMTICO: 1 Introduo

    1.1 - Apresentao do plano de ensino 1.2 - Definio de segurana do trabalho

    2 NR-18 2.1 Histrico 2.2 PCMAT Programa de Condies e Meio Ambiente do Trabalho na Construo 2.3 reas de vivncia 2.4 Escavaes e fundaes 2.5 Carpintaria e armaes de ao 2.6 Estruturas 2.7 Escadas, rampas e passarelas 2.8 Medidas contra quedas de altura 2.9 Movimentao e transporte de materiais 2.10 Andaimes 2.11 Instalaes eltricas 2.12 Mquinas e equipamentos 2.13 Proteo contra incndio 2.14 Sinalizao 2.15 Treinamento 2.16 Ordem e limpeza 2.17 Tapumes e galerias 2.18 Aspectos diversos

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    3 Consideraes sobre acidentes do trabalho 3.1 Definies de acidente do trabalho 3.2 Notificao de acidentes do trabalho e doenas profissionais 3.3 Investigao de acidentes do trabalho 3.4 Teorias causais e enfoques sobre acidentes do trabalho 3.5 Estatsticas de acidentes do trabalho

    4 Preveno de acidentes do trabalho (Normas Regulamentadoras) 4.1 Anlise dos riscos ambientais 4.2 NR-1 (Disposies gerais) 4.3 NR-4 (SESMT Servio Especializado de Segurana e Medicina do Trabalho) 4.4 NR-5 (CIPA Comisso Interna de Preveno de Acidentes) 4.5 NR-6 (EPI Equipamentos de Proteo Individual) 4.6 NR-7 (PCMSO Programa de Controle Mdico e Sade Ocupacional) 4.7 NR-9 (PPRA Programa de Preveno de Riscos Ambientais) 4.8 NR-17 (Ergonomia) 4.9 NR-23 (Proteo contra incndios) 4.10 NR-24 (Condies sanitrias e de conforto nos locais de trabalho) 4.11 NR-26 (Sinalizao de Segurana) ENCAMINHAMENTOS METODOLGICOS:

    Aulas expositivas com auxlio de quadro, retroprojetor e vdeo; Seminrios de discusso sobre apostila com toda a matria.

    CRITRIOS DE AVALIAO

    G1 = (0,30*T1 + 0,40*T2 + 0,30*PA1) T1 = Trabalho escrito de identificao de riscos e checklist da NR18 em obras T2 = Apresentao oral do trabalho e apresentao das obras PA1 = Participao em aula na discusso dos assuntos G2 = Prova no final do semestre sobre TODO O CONTEDO BIBLIOGRAFIA BSICA

    BENITE, A. G. Sistemas de gesto da segurana e sade no trabalho: conceitos e diretrizes para a implementao da norma OHSAS 18001 e guia ILO OSH da OIT. 1. ed. So Paulo: O Nome da Rosa, 2005.

    BRASIL. LEIS E LEGISLAO. Segurana e medicina do trabalho. 27. ed. So Paulo: Atlas, 1994. Manuais de legislao atlas; 16.

    LIMA, F. G. Manual sobre condies de trabalho na construo civil : segurana e sade do trabalhador. So Paulo: FUNDACENTRO, 1990.

    ROUSSELET, E. S.; FALCO, C. Manual tcnico de segurana do trabalho em edificaes prediais. So Paulo: Intercincia, 2001.

    SAMPAIO, J. C. A. Manual de aplicao da NR 18. So Paulo: PINI, 1998. SAMPAIO, J. C. A. PCMAT : programa de condies e meio ambiente do trabalho na

    indstria da construo. So Paulo: Sinduscon, 1998. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA DE CICCO, F. Custos de acidentes. So Paulo: Fundacentro, 1988. DELA COLETA, J. A. Acidentes de trabalho: fator humano, contribuies da psicologia do

    trabalho, atividades de preveno. So Paulo: Atlas, 1991. IIDA, I. Ergonomia: projeto e produo. Sao Paulo : E. Blcher, 1990. HINZE, J. Construction safety. Upper Saddle River, NJ: Prentice-Hall, 1997. MONTEAU, M. et al. rvore de causas: mtodo de investigao de acidentes de trabalho. So

    Paulo: Publisher Brasil, 1995. WISNER, A. Por dentro do trabalho : ergonomia : mtodo & tcnica. So Paulo: FTD, 1987. ZOCCHIO, A. Prtica de preveno de acidentes: ABC da segurana de trabalho. 6.ed. So

    Paulo: Atlas, 1996.

  • 3

    TRABALHO DE IDENTIFICAO DE PERIGOS E PROPOSIO DE MEDIDAS PREVENTIVAS

    OBJETIVO GERAL Proporcionar a experincia de verificao das condies reais de segurana de um canteiro de obras atravs da identificao de riscos fsicos, qumicos, biolgicos, ergonmicos e mecnicos (acidentes). Alm disso, ser possvel identificar itens da NR-18 que no esto sendo aplicados corretamente. DIVISO DOS GRUPOS: grupos de 3 alunos OBJETIVOS ESPECFICOS Identificao de perigos no canteiro de obras Elaborao de quadro: perigos x medidas preventivas Aplicao do check-list da NR-18 e definio das respectivas notas CONTEDO A SER APRESENTADO (Parte 1: escrita) Objetivo final: Elaborao de quadro contendo os perigos identificados e suas respectivas medidas preventivas; Para chegar no quadro final deve-se produzir uma reviso bibliogrfica, visitas obras especficas do assunto sorteado, registros fotogrficos, transcrio de entrevistas, etc. LISTA DE DIVISO DE SETORES DA OBRA (sorteio)

    1. Escavaes e fundaes 2. Estruturas (armao) 3. Estruturas (carpintaria) 4. Acabamentos e vedao interna 5. Acabamentos e vedao externa 6. Montagem e confeco de pr-moldados 7. Montagem e confeco de estruturas metlicas 8. Anlise de riscos ergonmicos 9. Trabalhos em altura NR35 10. Pavimentao e contenes em estradas

    CONTEDO A SER APRESENTADO (Parte 2: apresentao, CD e escrita) Aplicao do check-list da NR-18 em 3 obras: porte pequeno (casa), mdio (edifcio at 4 pav.) e grande (edifico maior que 7 pav.) com respectivo preenchimento do checklist em planilha do Excel especfica que estar disponvel no material de apoio (entrega em CD) Apresentao em powerpoint para a turma com fotos comprovando a presena de todos os alunos do grupo nas visitas s obras e dos pontos positivos e negativos das obras visitadas (entrega em CD) Apresentao do quadro da parte 1 com fotos explicativas (entrega em CD) Elaborao de um comentrio resumo com as principais medidas que devem ser tomadas a curto, mdio e longo prazo nas obras visitadas (entrega escrita) CRITRIOS DE AVALIAO O trabalho ser avaliado atravs da qualidade e preciso da identificao dos perigos e das medidas preventivas e da aplicao do check-list e proposio da interveno. DATA DE ENTREGA LTIMA Parte 1: Sexta-feira, dia 04 de outubro de 2013, s 13h45min. Parte 2: Sexta -feira, dia 22 de novembro de 2013, s 13h45min. Edificaes Prediais

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    SUMRIO

    1 PREVENO DE ACIDENTES ................................................................................................................................. 2 1.1 CLASSIFICAO DOS RISCOS AMBIENTAIS .................................................................................................................. 3

    2 HISTRICO DA LEGISLAO ............................................................................................................................... 4

    3 DEFINIES DE ACIDENTE DO TRABALHO ..................................................................................................... 8

    4 NOTIFICAO DE ACIDENTES DO TRABALHO E DOENAS PROFISSIONAIS..................................... 12 4.1 COMUNICAO DE ACIDENTE DO TRABALHO (CAT) NO BRASIL ........................................................................... 12 4.2 NOTIFICAO DE ACIDENTES DO TRABALHO EM OUTROS PASES ............................................................................ 19

    5 NR18 CONDIES E MEIO AMBIENTE DE TRABALHO NA INDSTRIA DA CONSTRUO .......... 20 5.1 REAS DE VIVNCIA ......................................................................................................................................... 20

    5.1.1. Instalaes Sanitrias .................................................................................................................................... 20 5.1.2. Vestirios ....................................................................................................................................................... 21 5.1.3. Local para refeies ...................................................................................................................................... 21 5.1.4. Cozinha .......................................................................................................................................................... 21 5.1.5. rea de lazer .................................................................................................................................................. 22 5.1.6. Alojamento .................................................................................................................................................... 22 5.1.7. Lavanderia .................................................................................................................................................... 23

    5.2 ESCAVAES ..................................................................................................................................................... 23 5.3 FUNDAES ........................................................................................................................................................ 24 5.4 TAPUMES E GALERIAS ...................................................................................................................................... 24 5.5 ARMAES DE AO ........................................................................................................................................... 25 5.6 CARPINTARIA ..................................................................................................................................................... 28 5.7 ACESSOS TEMPORRIOS DE MADEIRA ........................................................................................................ 31 5.8 MEDIDAS DE PROTEO CONTRA QUEDAS DE ALTURA ........................................................................ 34 5.9 ELEVADORES DE OBRAS .................................................................................................................................. 38 5.10 ANDAIMES ......................................................................................................................................................... 44 5.11 INSTALAES ELTRICAS ............................................................................................................................ 52 5.12 MQUINAS E EQUIPAMENTOS ..................................................................................................................... 54 5.13 ARMAZENAMENTO DE MATERIAIS ............................................................................................................ 55 5.14 TREINAMENTO ................................................................................................................................................. 56 5.15 CPN E CPR ........................................................................................................................................................... 57 5.16 PROGRAMA SOBRE CONDIES E MEIO AMBIENTE DE TRABALHO NA INDSTRIA DA

    CONTRUO ........................................................................................................................................................................ 58 5.17 RECOMENDAES TCNICAS DE PROCEDIMENTOS - RTP ..................................................................................... 62

    6 DEMAIS NORMAS REGULAMENTADORAS ..................................................................................................... 63 6.1 NR-1 DISPOSIES GERAIS ................................................................................................................................ 63 6.2 NR-4 SERVIO ESPECIALIZADO EM ENGENHARIA DE SEGURANA E EM MEDICINA DO TRABALHO (SESMT)

    ................................................................................................................................................................................................. 64 6.3 NR-5 COMISSO INTERNA DE PREVENO DE ACIDENTES (CIPA) ................................................................. 66 6.4 NR-6 EQUIPAMENTO DE PROTEO INDIVIDUAL (EPI) .................................................................... 70 6.5 NR-7 PROGRAMA DE CONTROLE MDICO DE SADE OCUPACIONAL (PCMSO) ....................... 71 6.6 NR-9 PROGRAMA DE PREVENO DE RISCOS AMBIENTAIS (PPRA) ............................................. 74 6.7 NR-15 ATIVIDADES E OPERAES INSALUBRES ................................................................................. 76 6.8 NR-17 ERGONOMIA .............................................................................................................................................. 77 6.9 NR-24 CONDIES SANITRIAS E DE CONFORTO NOS LOCAIS DE TRABALHO ..................................................... 78

    7 LISTA DE VERIFICAO PARA DIAGNSTICO DA ADEQUAO DE CANTEIROS DE OBRA NR-18 (ATUALIZADA EM 2013) ................................................................................................................................................... 80

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    1 PREVENO DE ACIDENTES

    Em termos de preveno de acidentes do trabalho, a Lei 8.213 (BRASIL, 1997) estabelece que a empresa responsvel pela adoo e uso das medidas coletivas e individuais de proteo, pela prestao de informaes pormenorizadas sobre os riscos da operao a executar e do produto a manipular e pela segurana da sade do trabalhador. O no cumprimento das normas regulamentadoras constitui uma contraveno penal, punvel com multa. Apesar disso, muitas empresas no cumprem estas determinaes alegando o alto custo de implantao destas medidas preventivas.

    A respeito dos investimentos em preveno, Basil Butler, diretor da British Petroleum afirma (HSE, 1993): Preveno no somente melhor, mas tambm mais barata do que a cura no h conflito necessrio entre consideraes humanitrias e comerciais, pois lucros e segurana no esto competindo. Ao contrrio, segurana no trabalho um bom negcio.

    Ao atuar-se corretivamente em relao a uma tarefa que oferece risco ao trabalhador, deve-se promover a correo na seguinte ordem (FUNDACENTRO, 1980): fonte, trajetria e indivduo. Por exemplo, se existe uma mquina que produz um alto rudo, nocivo ao trabalhador, a soluo deveria seguir esta ordem:

    a) Fonte: substituio da mquina ou do processo de trabalho por outro com menor nvel de rudo;

    b) Trajetria: enclausuramento da mquina para diminuir a emisso de rudo; c) Indivduo: utilizao de protetor auricular para minimizar o rudo.

    Toda e qualquer atividade de preveno de acidentes dever ser planejada atravs de um programa de segurana e medicina do trabalho. Para que esse programa seja eficiente, algumas diretrizes devem ser observadas (FUNDACENTRO, 1980):

    definio da programao de todos as tarefas e servios, a fim de reduzir ao mnimo os danos humanos, materiais e econmicos;

    estabelecimento de um sistema eficaz para localizar e eliminar os riscos ocupacionais;

    disponibilidade e vigilncia para que se utilizem os equipamentos de proteo individuais e coletivos e que toda mquina, equipamento ou ferramenta tenha sua proteo adequada;

    implantao de um sistema efetivo de inspeo e manuteno de mquinas, equipamentos e ferramentas de trabalho;

    investigao dos acidentes, determinando as causas e tomando as medidas necessrias, para evitar sua ocorrncia e repetio;

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    estabelecimento de um programa para manter o interesse e colaborao de todos os nveis da empresa.

    1.1 CLASSIFICAO DOS RISCOS AMBIENTAIS

    Grupo 1: Verde

    Grupo 2: Vermelho

    Grupo 3: Marrom

    Grupo 4: Amarelo

    Grupo 5: Azul

    Riscos Fsicos Riscos Qumicos Riscos Biolgicos

    Riscos Ergonmicos

    Riscos de Acidentes

    Rudos Vibraes Radiaes ionizantes

    Radiaes no ionizantes

    Frio Calor

    Presses anormais Umidade

    Poeiras Vapores Gases Fumos Nvoas

    Substncias, compostos ou

    produtos qumicos em

    geral

    Vrus Bactrias

    Protozorios Fungos

    Parasitas Bacilos

    Esforo fsico intenso

    Levantamento e transporte

    manual de peso Exigncia de

    postura inadequada

    Imposio de ritmos excessivos

    Trabalho em turno e noturno

    Jornadas de trabalho

    prolongadas Monotonia e repetitividade

    Outras situaes causadoras de

    stress fsico e ou psquico

    Arranjo fsico inadequado Mquinas e

    equipamentos sem proteo Ferramentas

    inadequadas ou defeituosas Iluminao inadequada

    Probabilidade de incndio ou

    exploso Animais

    peonhentos Outras situaes

    que podero contribuir para a

    ocorrncia de acidentes

    Figura 1 Classificao dos principais riscos ocupacionais em grupos, de acordo com a sua natureza e a padronizao das cores correspondentes (SEGURANA..., 1997)

    Glossrio Riscos Qumicos: Poeiras: partculas slidas geradas por ruptura de partculas maiores (minerais: slica, asbesto, carvo; vegetais: bagao de

    cana; alcalinas: calcreo) Vapores: disperso de molculas no ar que podem ou no condensar

    Gases: estado natural de algumas substncias (GLP, hidrogncio, cido ntrico, butano, etc.) Fumos: partculas slidas geradas por condensao de vapores metlicos (fumos de xido de zinco nas operaes de soldagem

    com ferro) Nvoas: partculas lquidas resultantes de condensao de vapores (nvoa da pintura a revlver, monxido de carbono do

    escapamento dos carros)

  • 4

    2 HISTRICO DA LEGISLAO

    A Lei de 1934 traz uma grande modernizao acerca da questo acidentria e uma ampliao de benefcios, em conseqncia da prpria evoluo da sociedade urbana e industrial brasileira, passando a incluir qualquer doena produzida pelo exerccio do trabalho. Contudo, o grande marco foi a primeira legislao brasileira especfica de preveno de acidentes, higiene e segurana do trabalho, que surgiu em 1944, com a elaborao da Consolidao das Leis do Trabalho (CLT). Aprovada pelo Decreto no 5.452, de 01 de novembro de 1943, foi ampliada pelo Decreto-lei no 7.036, de 10 de novembro de 1944.

    A partir desta lei, os acidentes do trabalho no se restringem a acidentes tpicos e doenas relacionadas ao trabalho, mas a todo evento que tenha relao de causa e efeito ainda que no nico responsvel - incluindo assim como acidente do trabalho todos os ocorridos no local e no perodo de trabalho, os ocorridos fora do local e no perodo de trabalho, os ocorridos fora do local de trabalho se o empregado estiver a servio do empregador, mesmo que voluntariamente.

    A indenizao passa equivaler a quatro anos de salrio da vtima, no caso de incapacidade permanente ou morte, pagos de uma s vez pelo segurador ou na fala deste pelo empregador, no excluindo o direito aos benefcios da Previdncia Social. criada a CIPA - Comisso Interna de Preveno de Acidentes, com a participao dos empregados e o monoplio estatal de seguro social, a partir de 1953. Em 15.03.65, baixado o Decreto-lei no 55.841 que regulamenta a Inspeo do Trabalho. Em 1977 e 1978 concretiza-se a primeira legislao especfica em Segurana e Medicina do Trabalho. A Lei no 6.514, de 22.12.1977, e as vinte e oito Normas Regulamentares editadas na Portaria 08.06.1978 alteram o Captulo V, do Ttulo II, da Consolidao das Leis do Trabalho.

    Em seguida sero apresentadas as mais relevantes em termos de preveno de acidentes e as relacionadas com a atividade de construo civil (Segurana..., 1997):

    A NR-4 determina a criao do SESMT (Servio Especializado em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho) nas empresas com a finalidade de promover a sade e proteger a integridade dos trabalhadores no local de trabalho. Para isto, o SESMT dever realizar a integrao das exigncias das outras NRs num programa nico. O dimensionamento do SESMT est vinculado ao tipo de atividade e ao nmero de funcionrios da empresa, conforme os Quadros I e II da NR-4. A construo de edifcios e obras de engenharia civil considerada uma atividade com grau de risco 3. Com o advento da terceirizao dos servios em diversas reas, surgiram vrias empresas empreiteiras de mo-de-obra, as quais so consideradas como grau de risco 1. Estas empreiteiras so normalmente contratadas para servios de limpeza, alimentao, entre outros, as quais so tarefas com grau de risco baixo. Contudo, os trabalhadores das empreiteiras de mo-de-obra da construo civil, apesar de serem classificados com

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    grau de risco 1, estaro sujeitos ao grau de risco 4, tornando defasados os critrios que orientam a classificao dos graus de riscos das empresas.

    O fato de existir forte predominncia de micro e pequenas empresas na construo civil constitui um obstculo adicional para o controle mais efetivo dos acidentes do trabalho, j que estas empresas esto desobrigadas a contratarem profissionais de segurana, de acordo com a constituio do SESMT nas empresas de grau de risco 4, visto que existe a exigncia de tcnico de segurana a partir de 50 trabalhadores e de engenheiro de segurana em tempo parcial a partir de 101 trabalhadores.

    A NR-5 determina a criao da CIPA (Comisso Interna de Preveno de Acidentes), cujo objetivo principal a reunio dos representantes dos empregados e empregador para a discusso dos acidentes e das condies do meio ambiente de trabalho. Esta reunio dever ocorrer, pelo menos, uma vez por ms, durante o expediente normal de trabalho ou quando ocorrer um acidente que resulte em morte, perda de membro ou funo orgnica, ou que tenha causado um grande prejuzo. A CIPA ser constituda de acordo com o grau de risco e nmero de empregados da empresa. A constituio da CIPA para empresas de grau de risco 4 apresentada na Tabela 2.5. A NR-18 estabelece algumas excees para a CIPA de empresas de construo. Por exemplo, a empresa que possuir na mesma cidade um ou mais canteiros de obra com menos de 70 empregados, deve organizar CIPA centralizada.

    A NR-6 estabelece a obrigatoriedade do fornecimento gratuito dos EPIs (Equipamento de Proteo Individual) aos empregados, quando os mesmos forem necessrios de acordo com o mapa de riscos estabelecido no PPRA (Programa de Preveno dos Riscos Ambientais) ou no PCMAT (Programa de Condies e Meio Ambiente do Trabalho na Indstria da Construo).

    A NR-7 determina a criao do PCMSO (Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional) para todas as empresas com o objetivo de promover e preservar a sade dos trabalhadores. O coordenador do PCMSO dever ser um mdico do trabalho do SESMT. Caso a empresa esteja desobrigada de manter mdico do trabalho, dever o empregador indicar um mdico do trabalho, empregado ou no da empresa, para coordenar o PCMSO. Esta nova redao da NR-7 (aprovada em dezembro de 1994), determina que o PCMSO dever ter carter de preveno, rastreamento e diagnstico precoce dos agravos sade relacionados ao trabalho, e no somente o fornecimento dos atestados e exames mdicos (admissional, peridico, de retorno ao trabalho, de mudana de funo e demissional).

    A NR-9 determina a criao do PPRA (Programa de Preveno de Riscos Ambientais), para todas as empresas. Esse programa consiste na antecipao, reconhecimento, avaliao e conseqente controle

    da ocorrncia de riscos ambientais aos quais os trabalhadores esto expostos. O PPRA dever conter: planejamento anual com estabelecimento de metas, prioridades e cronograma; estratgia e mtodo de ao; forma de registro, manuteno e divulgao dos dados; e periodicidade e forma de avaliao.

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    Uma das formas de registro mais utilizadas o mapa de riscos. Esse consiste num crculo no qual constam as diversas cores referentes aos vrios tipos de risco (Tabela 2.6). O tamanho do crculo ser proporcional ao risco, o qual dever ser convencionado durante o desenvolvimento do PPRA.

    A NR-15 e a NR-16 estabelecem as condies necessrias para o pagamento dos adicionais de, respectivamente, insalubridade (entre 20% e 40% do salrio) e periculosidade (30% do salrio). Isto favorece a venda da sade pessoal e de anos de vida em troca de uma remunerao maior, alm de desobrigar as empresas a eliminarem ou reduzirem os riscos da atividade, pois basta pagar o adicional para se enquadrar nos padres da legislao, de modo que o risco monetarizado (Pinto, 1995; Lucca e Fvero, 1994).

    No ano de 1994, aps praticamente 16 anos sem modificao, o Ministrio do Trabalho entendeu a Norma Regulamentadora n. 18 deveria ser atualizada. Para tanto, constituiu comisso formada por profissionais da FUNDACENTRO, Delegacias Regionais do Trabalho e Secretaria de Segurana e Sado no Trabalho SSST/MTb, para elaborassem uma proposta de alterao.

    Em setembro de 1994, a SSMT/MTb encaminhou a primeira verso do trabalho para cerca de 110 entidades, empresas e profissionais, dando prazo de trinta dias para emisso de sugestes e contribuies.

    No dia 17/11/94, a SSMT/MTB publicou no Dirio Oficial da Unio a Portaria n 17 com a

    minuta do projeto de reformulao da NR 18, dando prazo at 20/12/94. No dia 22/12/94, a SSST/MTb publicou nova portaria prorrogando o prazo por mais 90 dias para o envia de sugestes.

    Recebidas as sugestes, a comisso consolidou um texto que serviria de base para a prxima etapa do processo.

    O processo decisrio estava, at aquele momento, restrito comisso responsvel pela elaborao da proposta, ou seja, somente sob responsabilidade do governo. Havia um desejo de que a elaborao de normas no fosse privilgio apenas do governo, mas que houvesse uma participao ativa dos trabalhadores e dos empresrios. Para tanto, o Ministrio do Trabalho constitui uma comisso tripartite formada pelos seguintes participantes:

    Bancada do Governo:

    Secretaria de Segurana e Sade no Trabalho;

    Delegacia Regional do Trabalho;

    FUNDACENTRO.

    Bancada dos Empregadores:

    Confederao Nacional da Indstria;

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    Cmara Brasileira da Indstria da Construo;

    Confederao da Indstria da Construo e Mobilirio;

    Bancado dos Trabalhadores

    Confederao Nacional dos Trabalhadores na Indstria;

    Central nica dos Trabalhadores;

    Fora Sindical

    No perodo de 15 a 19/05/1995 a comisso tripartite reuniu-se em Braslia e avaliou todos os mais de 600 itens e subitens da Norma. Neste processo final, uma caracterstica interessante foi que todos os itens foram aprovados por consenso, sem necessitar em momento algum de proceder votao.

    Finalmente, a nova redao da NR 18 foi publicada no Dirio Oficial da Unio no dia 07/07/95.

    A NR-18 (Condies e Meio Ambiente do Trabalho na Indstria da Construo) uma norma especialmente voltada para o setor de construo e estabelece diretrizes que objetivam a implementao de medidas de controle e sistemas preventivos de segurana na indstria da construo. Esta nova redao da NR-18, aprovada em julho de 1995, foi idealizada por uma comisso tripartite (representantes dos empregados, empregadores e do Governo), a qual ainda discute a NR-18 atravs dos comits permanentes nacional e estaduais. A NR-18 abrange os mais diversos aspectos de um canteiro de obras, como as reas de vivncia, a movimentao e transporte de pessoas e materiais, as escavaes, fundaes e desmonte de rochas e a proteo contra quedas de altura. Dentre as exigncias da norma, pode-se destacar o PCMAT (Programa de Condies e Meio Ambiente do Trabalho na Indstria da Construo), para empresas com mais de 20 trabalhadores, o qual dever incluir, segundo o item 18.3.4 da norma:

    memorial sobre condies e meio ambiente de trabalho nas atividades e operaes, com a devida anlise dos riscos adequada s fases da obra, e suas respectivas medidas preventivas;

    o projeto das protees coletivas em conformidade com as etapas de execuo da obra;

    a especificao tcnica das protees coletivas e individuais a serem utilizadas;

    cronograma de implantao;

    layout do canteiro de obra;

    programa de treinamento com a temtica de preveno de acidentes e doenas do trabalho.

    Portanto, em termos de preveno de acidentes, as normas regulamentadoras estabelecem uma srie de exigncias que, se fossem realmente cumpridas, poderiam diminuir o nmero e a gravidade dos acidentes do trabalho e doenas profissionais no Brasil.

  • 8

    3 DEFINIES DE ACIDENTE DO TRABALHO

    As definies de acidente do trabalho tm sido fortemente influenciadas pelos objetivos de quem as formula, os quais nem sempre esto atentos ao fenmeno acidente e suas implicaes globais em termos sociais, econmicos, psicolgicos e de preveno (Carmo et al., 1995).

    Numa conceituao ampla, acidente toda ocorrncia no desejada que modifica ou pe fim ao andamento normal de qualquer tipo de atividade. Assim, acidente o pneu de um carro que fura, um tropeo na rua, uma interrupo de energia eltrica quando se est trabalhando no computador ou assistindo televiso (Zocchio, 1996).

    importante salientar a diferena entre acidentes e incidentes (ou quase-acidentes). Os incidentes so ocorrncias com caractersticas e potencial para causar algum dano, mas que no chegam a caus-lo. Por exemplo, se uma empilhadeira, ao virar uma esquina no corredor, atropelasse uma pessoa que estava passando, caracterizar-se-ia um acidente. Entretanto, se a mesma empilhadeira tivesse freado a tempo de evitar o atropelamento e os garfos chegassem a poucos centmetros da pessoa, seria um incidente (ou quase-acidente).

    Na NBR 14280 (Cadastro de Acidentes de trabalho: procedimento e classificao), o acidente do trabalho caracterizado como uma ocorrncia imprevista e indesejvel, instantnea ou no, relacionada com o exerccio do trabalho, que provoca leso pessoal ou de que decorre risco prximo ou remoto dessa leso (ABNT, 2002).

    Em relao ao conceito legal, deve-se salientar que a regulamentao das questes voltadas a acidentes do trabalho e situaes correlatas iniciou a partir do Decreto 3.724 de 1919, que primeiro disciplinou a matria, e das seis Leis que surgiram, respectivamente, em 1934, 1944, 1967 (Leis 5.316 e 6.367), 1976 e a ltima em 1991 (Lei 8.213) que segue em vigor. A partir da Lei 8.213 Plano de Benefcios da Previdncia Social (Brasil, 1997), foram estabelecidos o Decreto 611 - Regulamento dos Benefcios (ANFIP, 1992) e o Decreto 2.172 (Brasil, 1997), que atualmente regulamentam a concesso de benefcios acidentrios no Brasil. Nos trabalhos de Carmo et al. (1995), Lucca e Fvero (1994) e Baez Garcia (1991), h um estudo sobre a evoluo da legislao acidentria no Brasil.

    O conceito legal utilizado pela Previdncia Social para acidentes do trabalho e doenas profissionais est no Decreto 611 (ANFIP, 1992), nos artigos 139, 140 e 141, sendo que os dois ltimos esclarecem casos mais especficos decorrentes da definio global do artigo 139.

    O artigo 139 define acidente do trabalho como sendo aquele que ocorre pelo exerccio do trabalho a servio da empresa, ou ainda pelo exerccio do trabalho dos segurados especiais1, provocando leso

    1 inclui o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatrio rural, o garimpeiro, o pescador artesanal, entre outros.

  • 9

    corporal ou perturbao funcional que cause a morte, a perda ou reduo da capacidade para o trabalho, permanente ou temporria.

    O artigo 140 determina que as doenas profissionais ou doenas do trabalho listadas no Anexo II do Decreto 611 tambm so consideradas acidentes do trabalho, exceto a doena degenerativa, a inerente ao grupo etrio, a que no produz incapacidade laborativa e a doena endmica. Alm disso, pode-se considerar doena profissional, uma doena no listada no Anexo II, mas que tenha resultado de condies especiais em que o trabalho executado e com ele se relacione diretamente.

    O artigo 141, apresentado abaixo, apresenta uma srie de detalhes relativos aos acidentes do trabalho, no intuito de minimizar dvidas relativas concesso de benefcios, pois a definio utilizada no artigo 139 genrica:

    Art. 141 Equiparam-se tambm ao acidente do trabalho, para efeito deste Captulo:

    I o acidente ligado ao trabalho que, embora no tenha sido a causa nica, haja contribudo diretamente para a morte do segurado, para a perda ou reduo de sua capacidade para o trabalho, ou produzido leso que exija ateno mdica para a sua recuperao.

    II o acidente sofrido pelo segurado no local e no horrio de trabalho, em conseqncia de:

    a) ato de agresso, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho;

    b) ofensa fsica intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada com o trabalho;

    c) ato de imprudncia, de negligncia ou de impercia de terceiro, ou de companheiro de trabalho;

    d) ato de pessoa privada do uso da razo; e) desabamento, inundao, incndio e outros casos fortuitos decorrentes de

    fora maior. III a doena proveniente de contaminao acidental do empregado no

    exerccio de sua atividade; IV o acidente sofrido, ainda que fora do local e horrio de trabalho; a) na execuo de ordem ou na realizao de servios sob a autoridade da

    empresa; b) na prestao espontnea de qualquer servio empresa para lhe evitar

    prejuzo ou proporcionar proveito; c) em viagem a servio da empresa, inclusive para estudo, quando

    financiada por esta, dentro de seus planos para melhor capacitao de mo-de-obra, independentemente do meio de locomoo utilizado, inclusive veculo de propriedade do segurado;

    d) no percurso da residncia para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoo, inclusive veculo do segurado.

  • 10

    1 - Nos perodo destinados a refeio ou descanso, ou por ocasio da satisfao de outras necessidades fisiolgicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado considerado no exerccio do trabalho.

    2 - No considerada agravao ou complicao do acidente do trabalho a leso que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha s conseqncias do anterior.

    3 - Considerar-se- como dia do acidente, no caso de doena profissional ou do trabalho, a data do incio da incapacidade laborativa para o exerccio da atividade habitual, ou o dia da segregao compulsria, ou o dia em que for realizado o diagnstico, valendo para esse efeito o que ocorrer primeiro.

    4 - Ser considerado agravamento de acidente do trabalho aquele sofrido pelo acidentado quando estiver sob a responsabilidade da Previdncia Social.

    Lucca e Fvero (1994) salientam que o conceito legal baseia-se exclusivamente no prejuzo fsico sofrido no trabalho, de modo a oferecer a compensao e indenizao ao acidentado, e no de promover a preveno dos acidentes.

    Um conceito prevencionista (Zocchio, 1996) define o acidente do trabalho como sendo uma ocorrncia no programada, inesperada ou no, que interrompe ou interfere no processo normal de uma atividade, ocasionando perda de tempo til, leses nos trabalhadores e ou danos materiais. Esse conceito prevencionista ser adotado nesta dissertao pelo fato de admitir a presena dos riscos ocupacionais, considerar os acidentes sem afastamento e excluir os acidentes provocados intencionalmente.

    No processo de registro dos acidentes do trabalho, de acordo com INSS (1998), o acidente do trabalho definido tecnicamente nos seguintes termos:

    acidente tpico decorrente da caracterstica da atividade profissional desempenhada pelo acidentado;

    acidente de trajeto ocorrido no trajeto entre a residncia e o local do trabalho do segurado;

    acidente devido doena do trabalho ocasionado por qualquer tipo de doena profissional peculiar a determinado ramo de atividade constante de tabela da Previdncia Social (Anexo II do Decreto 611/92).

    Alm dos termos tcnicos apresentados anteriormente a partir da definio legal de acidente do trabalho, Bensoussan (1988) determinou uma classificao dos acidentes do trabalho quanto ao afastamento (Figura 2.1) , na qual a incapacidade permanente total refere-se, por exemplo, cegueira provocada por acidente do trabalho, enquanto a incapacidade permanente parcial refere-se, por exemplo, perda de uma das mos. A incapacidade temporria total refere-se, por exemplo, a um traumatismo craniano, enquanto a incapacidade temporria parcial refere-se, por exemplo, fratura de um dos membros superiores.

  • 11

    Figura 2 Classificao dos acidentes do trabalho quanto ao afastamento (Bensoussan, 1988)

    Acidente do Trabalho

    Sem

    Com

    Morte

    Incapacidade

    Permanente

    Temporria

    Total

    Parcial

    Total

    Parcial

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    4 NOTIFICAO DE ACIDENTES DO TRABALHO E DOENAS PROFISSIONAIS

    4.1 COMUNICAO DE ACIDENTE DO TRABALHO (CAT) NO BRASIL

    No Brasil, a CAT o instrumento formal de registro dos acidentes do trabalho e seus equivalentes, de acordo com o artigo 142 do Decreto 611 (ANFIP, 1992):

    Art. 142. A empresa dever comunicar o acidente do trabalho Previdncia Social at o 1 (primeiro) dia til seguinte ao da ocorrncia e, em caso de morte, de imediato, autoridade competente, sob pena de multa varivel entre o limite mnimo e o limite mximo do salrio-de-contribuio, sucessivamente aumentada nas reincidncias, aplicada e cobrada pela Previdncia Social.

    Esse artigo ainda determina que o prprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o mdico que o assistiu ou qualquer autoridade pblica podem formalizar a comunicao do acidente quando a empresa no o fizer. Tambm estabelece que a CAT devem ser preenchida em 6 vias e enviada, respectivamente, para: o INSS2, o SUS3, o sindicato dos trabalhadores, a empresa, o segurado ou dependente e a DRT (Delegacia Regional do Trabalho). Entretanto, at 1996, os dados estavam disponveis apenas no INSS, porque nem todas as CATs so enviadas para os demais locais. Isto ocorre porque o interesse primordial do acidentado e da empresa de receber o benefcio, o que exige o envio da CAT para o INSS. O envio para as demais instituies tem uma conotao informativa e preventiva.

    A CAT preenchida pelas empresas no intuito de que os acidentados recebam os benefcios concedidos pela Previdncia Social, os quais so apresentados na Tabela 2.1. Se o acidentado morrer, os seus dependentes tero direito a uma penso por morte. No caso de incapacidade temporria total ou parcial, o acidentado receber o auxlio-doena acidentrio at receber alta. Se houver incapacidade permanente total, o acidentado ser aposentado por invalidez, mas se for parcial e ele voltar a trabalhar em outra funo, receber o auxlio-acidente.

    Apesar da Previdncia Social ser responsvel pelo pagamento dos benefcios relativos aos acidentes do trabalho, isto no exime a empresa de sua responsabilidade civil e penal em relao ao trabalhador acidentado, que ser abordada no item 2.5.2.

    PREVIDNCIA SOCIAL INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL

    1- Emitente 1- Empregador 2- Sindicato 3- Mdico 4- Segurado ou dependente 5- Autoridade pblica

    COMUNICAO DE ACIDENTE DO 2- Tipo de CAT

    2 O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) responsvel pela arrecadao e concesso dos benefcios da

    Previdncia Social e foi criado a partir da unio do INPS (Instituto Nacional da Previdncia Social) e do IAPAS (Instituto de Arrecadao da Previdncia e Assistncia Social).

  • 13

    TRABALHO - CAT

    1- Inicial 2- Reabertura 3- Comunicao de bito : I - EMITENTE

    Empregador

    3- Razo Social /Nome

    4- Tipo 1- CGC/CNPJ 2- CEI 3- CPF 4-NIT

    5- CNAE

    6- Endereo - Rua/Av.

    Complemento (continuao)

    Bairro

    CEP

    7- Municpio

    8-UF

    9- Telefone

    Acidentado

    10- Nome

    11- Nome da me

    12- Data de nasc.

    13- Sexo 1- Masc. 3- Fem.

    14- Estado civil 1- Solteiro 2- Casado 3- Vivo 4- Sep. judic. 5- Outro 6 - Ignorado

    15- CTPS- N /Srie/ Data de emisso

    16- UF

    17- Remunerao Mensal

    18- Carteira de Identidade

    Data de emisso

    rgo Expedidor

    19- UF

    20- PIS/PASEP/NIT

    21- Endereo - Rua/Av/

    Bairro

    CEP

    22- Municpio

    23- UF

    24- Telefone

    25- Nome da ocupao

    26- CBO

    consulte CBO 27- Filiao Previdncia Social 1- Empregado 2- Tra. avulso 7- Seg. especial 8- Mdico residente

    28- Aposentado? 1- sim 2- no 29-reas 1- Urbana 2- Rural

    Acidente ou Doena

    30- Data do acidente

    31- Hora do acidente

    32-Aps quantas horas de trabalho?

    33- tipo 1-Tpico 2- Doena 3- Trajeto

    34- Houve afastamento? 1-sim 2-no

    35- ltimo dia trabalhado

    36- Local do acidente

    37 - Especificao do local do acidente

    38- CGC/CNPJ

    39- UF

    40-Municipio do local do acidente

    41-Parte(s) do corpo atingida(s)

    42- Agente causador

    43- Descrio da situao geradora do acidente ou doena

    44- Houve registro policial ? 1- sim 2- no

    45- Houve morte ? 1- sim 2- no

    Testemunhas

  • 14

    46- Nome

    47- Endereo - Rua/Av/n/comp.

    Bairro

    CEP

    48- Municpio

    49- UF

    Telefone

    50- Nome

    51- Endereo - Rua/Av/n/comp.

    Bairro

    CEP

    52- Municpio

    53- UF

    Telefone

    Local e data

    _______________________________________ Assinatura e carimbo do emitente II - ATESTADO MDICO

    Deve ser preenchido por profissional mdico. Atendimento

    54- Unidade de atendimento mdico

    55-Data

    56- Hora

    57- Houve internao 1-sim 2- no

    58- Durao provvel do tratamento

    dias 59- Dever o acidentado afastar-se do trabalho durante o tratamento? 1-sim 2-no

    Leso

    60- Descrio e natureza da leso

    Diagnstico

    61- Diagnstico provvel

    62- CID-10

    63- Observaes

    Local e data _______________________________________ Assinatura e carimbo do mdico com CRM

    III - INSS 64- Recebida em

    65- Cdigo da Unidade

    66-Nmero do CAT

    Notas: 1- A inexatido das declaraes desta comunicao implicar nas sanes previstas nos artigos. 171 e 299 do Cdigo Penal. 67- Matricula do servidor

    Matricula

    _______________________________________ Assinatura do servidor

    2- A comunicao de acidente do trabalho dever ser feita at o 1 dia til aps o acidente, sob pena de multa, na forma prevista no art. 22 da Lei n 8.213/91.

    A COMUNICAO DO ACIDENTE OBRIGATRIA, MESMO NO CASO EM QUE NO HAJA AFASTAMENTO DO TRABALHO

  • 15

    Alm das prestaes-benefcio (em dinheiro) mostradas na Tabela 2.1, existem as prestaes-servio, que no campo acidentrio, correspondem habilitao e reabilitao profissional. Esta tem como objetivo proporcionar ao beneficirio incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, a adaptao ou readaptao profissional e social. Compreende, dentre outras tarefas, o fornecimento de aparelhos de prtese (Gonales, 1997), os quais, a partir de pesquisa realizada no INSS, vm sendo cada vez menos fornecidos devido a constantes cortes oramentrios no programa de habilitao e reabilitao profissional.

    Tabela 1 - Benefcios do Seguro de Acidentes do Trabalho (ANFIP, 1992; Brasil, 1997; Rigotto e Rocha, 1993)

    Benefcio Espcie Situao em que se aplica Valor Observaes Auxlio-doena acidentrio

    B91 A partir do 16 dia de afastamento do trabalho para tratamento de A.T. ou D.P.

    91% do S.B. Incapacidade temporria

    Aposentadoria por invalidez

    B92 Trabalhadores incapazes total e permanentemente para o trabalho

    100% do S.B. (25% a mais em casos especiais)

    Incapacidade total, carncia de 12 meses

    Penso por morte

    B93 Dependentes do trabalhador falecido por A.T. ou D.P.

    100% do S.B. Sem carncia

    Auxlio-acidente B94 Trabalhadores que tiveram reduo da capacidade funcional por A.T. ou D.P.

    50% do S.B. At a aposentadoria

    S.B.: salrio de benefcio, correspondente mdia dos 36 ltimos salrios de contribuio ao Seguro Social A.T.: acidente do trabalho D.P.: doena profissional

    Entretanto, no so todas as pessoas que tm acesso aos benefcios do Seguro do Acidentes do Trabalho, mas somente as determinadas no Artigo 138 do Decreto 611 (ANFIP, 1992): o empregado (exceto o domstico), o trabalhador avulso, o presidirio que exerce atividade remunerada, o segurado especial e o mdico-residente (de acordo com a Lei 8.138 de 1990). Tal abrangncia exclui os titulares de firma individual, os diretores e membros de conselho de sociedades annimas, os scios de indstrias, o trabalhador autnomo e o empregado domstico.

    Para obter o benefcio, deve-se observar o seguinte fluxo. Aps preencher a parte frontal da CAT com as respectivas testemunhas (Figura 2.2), o trabalhador deve dirigir-se a um servio de sade (ambulatrio da empresa, hospital, etc.), onde um mdico preencher o laudo de exame mdico (Figura 2.3), localizado no verso da CAT. Se o afastamento prescrito pelo mdico for inferior a 15 dias, a alta do acidentado ficar a cargo da empresa e do sistema de sade por ela designado no PCMSO (Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional), que ser abordado no item 2.6.2. Se o acidente promover um

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    afastamento superior a 15 dias, o acidentado dever dirigir-se ao INSS para promover a caracterizao do acidente do trabalho.

    At incio de 2008, valia o Artigo 143 do Decreto n. 611 (ANFIP, 1992):

    Art. 143. O acidente do trabalho dever ser caracterizado: I administrativamente, atravs do setor de benefcios do INSS, que

    estabelecer o nexo entre o trabalho exercido e o acidente; II tecnicamente, atravs da Percia Mdica do INSS, que estabelecer o

    nexo de causa e efeito entre: a) o acidente e a leso; b) a doena e o trabalho; c) a causa mortis e o acidente.

    Atualmente, vlido o NTE Nexo Tcnico Epidemiolgico:

    Art. 2o A Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, passa a vigorar acrescida dos seguintes artigos: Art. 21-A. Presume-se caracterizada incapacidade acidentria quando

    estabelecido o nexo tcnico epidemiolgico entre o trabalho e o agravo, decorrente da relao entre a atividade da empresa e a entidade mrbida motivadora da incapacidade, em conformidade com o que dispuser o regulamento. (NR)

    Em relao ao NTE, Gabas esclareceu que a Medida Provisria d suporte legal para sua implementao, mas a regulamentao depende de um decreto que definir como e a partir de quando se dar o processo. "O sistema informatizado de benefcios por incapacidade j sofreu as alteraes necessrias, que esto ainda inabilitadas por falta de amparo legal. Com a edio desta Medida Provisria, ns j podemos publicar o decreto e estabelecer tanto o Nexo Tcnico Epidemiolgico quanto o Fator Acidentrio Previdencirio (FAP)", explicou.

    Hoje, se um trabalhador est incapacitado para o trabalho por uma doena, para receber o devido benefcio acidentrio, ele deve comprovar que aquela doena tem relao com o trabalho, isto , o nus da prova por conta do trabalhador. O que mudar com a implementao do NTE que, se uma doena estatisticamente mais freqente em uma determinada categoria profissional, ela passa a ser considerada "peculiar" quele grupo de trabalhadores. Presume-se, portanto, que o quadro clnico teve causa ou agravamento pelo trabalho. Caber assim empresa, o nus da prova de que aquele caso especfico no tem origem ocupacional. O sistema informatizado far o cruzamento entre o diagnstico e o ramo de atividade ao qual pertence o trabalhador, estabelecendo a associao doena-trabalho, o que contribuir muito para a diminuio da subnotificao de agravos ocupacionais. Nesses casos, sero garantidos o depsito do fundo de garantia durante o afastamento do trabalho e a estabilidade de um ano aps o retorno ao trabalho, como garante a lei.

  • 17

    O NTE foi criado com base em estudos dos dados do Guia de Informaes do Trabalho e Previdncia Social, do Cdigo Nacional de Atividade Empresarial e da Classificao Internacional de Doenas, que identificaram que os trabalhadores de determinadas categorias adoecem de forma semelhante, presumivelmente porque so submetidos aos mesmos fatores de risco no trabalho.

    Ainda segundo Gabas, dever ocorrer uma intensificao das aes regressivas, j previstas em lei e cobradas pelos movimentos sociais. Se a empresa causou, de forma dolosa ou culposa, um acidente ou doena relacionada ao trabalho, tendo morte ou no, mas trazendo prejuzo a Previdncia, possvel entrar com ao judicial e receber o dinheiro de volta.

    Em relao ao FAP (Fator Acidentrio Previdencirio), a lei n. 10.666/2003 define:

    Art. 10. A alquota de contribuio de um, dois ou trs por cento, destinada ao financiamento do benefcio de aposentadoria especial ou daqueles concedidos em razo do grau de incidncia de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, poder ser reduzida, em at cinqenta por cento, ou aumentada, em at cem por cento, conforme dispuser o regulamento, em razo do desempenho da empresa em relao respectiva atividade econmica, apurado em conformidade com os resultados obtidos a partir dos ndices de freqncia, gravidade e custo, calculados segundo metodologia aprovada pelo Conselho Nacional de Previdncia Social.

    Outro aspecto dessa questo o critrio de recolhimento pelo MPS do Seguro Acidente de Trabalho (SAT). Atualmente, as alquotas do Seguro Acidente de Trabalho (SAT) variam de 1% a 3% sobre a folha de pagamento, baseadas em risco potencial, ou seja, pagam mais as empresas cujas atividades so consideradas de maior risco e pagam menos as empresas consideradas menos danosas, independentemente de seu investimento na proteo dos trabalhadores e do nmero de doentes produzidos. Com o decreto que dever regulamentar a MP 316, o clculo de contribuio ao SAT passar a ser feito com base nos acidentes e doenas realmente ocorridos e sua gravidade, com a utilizao do Fator Acidentrio Previdencirio (FAP). De acordo com Gabas, a medida passa a ser mais justa. "Empresas que investiram em ambientes seguros vo ter sua alquota diminuda. Empresas que no investiram e continuam tendo trabalhadores doentes ou at mesmo mortes tero sua alquota multiplicada".

    Aps a percia mdica, comunicada a partir do CREM (Comunicao do Resultado do Exame Mdico), o trabalhador recebe alta imediata ou programada, seno passa a receber um dos benefcios concedidos pelo INSS (Tabela 2.1). Durante a manuteno do benefcio, a no ser em caso de aposentadoria por invalidez e penso por morte, ser marcada uma nova percia mdica, com periodicidade definida por norma tcnica do INSS, no intuito de proceder a alta do acidentado.

  • 18

    Baseado nas consideraes anteriores, a CAT apresenta uma srie de limitaes que no permitem a completa compreenso da relao causal dos acidentes e doenas do trabalho, pois de consenso entre as pessoas especializadas em Segurana do Trabalho que a mesma:

    no abrange todos os trabalhadores, somente aqueles regidos pela CLT (Consolidao das Leis de Trabalho). Isto significa que esto excludos os trabalhadores sem carteira assinada. No Brasil, h cerca de 24 milhes de segurados na Previdncia Social (INSS, 1998), enquanto que a populao economicamente ativa brasileira atinge os 68 milhes de pessoas (FIBGE, 1997b);

    no preenchida por todos os empregadores, de acordo com o pressuposto de que no h interesse em relatar os casos leves (durao do tratamento inferior a 15 dias), nos quais a responsabilidade pelo tratamento mdico do acidentado permanece com o empregador;

    muitas vezes est preenchida incorretamente, seja pela falta de preenchimento de alguns campos ou pelo preenchimento ilegvel, principalmente do laudo de exame mdico;

    no apresenta um contedo adequado em termos de sua utilizao para a preveno de acidentes, j que foi projetada para a Previdncia Social controlar o pagamento dos benefcios aos acidentados.

    Apesar destas limitaes, o fato da CAT ser um documento oficial padronizado, cuja abrangncia nacional talvez s encontre paralelo com o atestado de bito (Carmo, 1996), faz com que ela se constitua numa importante fonte de informaes sobre os acidentes do trabalho e doenas profissionais.

    Entretanto, o atual sistema institucional implantado no pas em relao aos acidentes do trabalho caracteriza-se pelo baixo nvel de relacionamento, reduzida racionalidade e fracos resultados (Pinto, 1995). Isto ocorre principalmente porque o sistema de coleta de dados arcaico, constituindo-se em um problema estrutural. Quem precisa dos dados o Ministrio do Trabalho, mas quem faz a arrecadao e o processamento das informaes a Previdncia Social, a qual no possui procedimentos confiveis para transmitir as informaes ao Ministrio do Trabalho (Nmero, 1998).

    Um dado que ilustra este problema que, enquanto o Brasil demora pelo menos 6 meses para fechar os nmeros de um ano, a Argentina apresenta estatsticas mensais de doenas, acidentes e mortes, divididos por setores de atividades. Nos pases desenvolvidos, estas informaes tambm esto disponveis em prazos muito curtos por uma nica explicao: para se fazer preveno, um dos elementos vitais a existncia de boa informao. Sem estatsticas confiveis, no existe boa informao (Nmero, 1998).

    Assim, importante salientar novamente que, se os nmeros baseados na emisso de CATs so prejudicados pela estrutura de controle existente no pas, necessrio lembrar que este o melhor referencial para avaliar o desempenho do setor a nvel nacional (Melhoram, 1997). Esse fato

  • 19

    corroborado por Carmo (1996), que, ao desenvolver o SISCAT (Sistema de Informao para Acidentes e Doenas do Trabalho) aps extensa anlise da CAT, concluiu que o atual modelo da CAT constitui um razovel instrumento de coleta de dados que possibilita a organizao de informaes bsicas sobre os acidentes.

    4.2 NOTIFICAO DE ACIDENTES DO TRABALHO EM OUTROS PASES

    Na Tabela 2.2, observa-se as exigncias legais em termos de prazo para a notificao de um acidente do trabalho, as quais abrangem desde acidentes que resultam em ausncia superior a 3 dias at todos os acidentes que resultam em leses, como no Brasil.

    Todos os acidentes que resultam em

    leses

    Acidentes que resultam em ausncia superior a 1

    dia

    Acidentes que resultam em ausncia superior a 3

    dias Blgica Dinamarca Alemanha Brasil Estados Unidos Hong Kong Espanha Pases Baixos Itlia Grcia Portugal Reino Unido

    Figura 2 - Exigncia legal para notificao de acidentes do trabalho em diversos pases (Fundao Europia, 1989; Tang et al., 1997; Hinze, 1997)

    De acordo com a Fundao Europia (1989), na Espanha e na Grcia, apesar de ser obrigatria a notificao de todos os acidentes que resultam em leses, os acidentes com leses, mas sem afastamento, raramente so notificados, semelhante ao que acontece no Brasil. Em relao ao prazo de notificao, nos Estados Unidos e na Europa, os acidentes fatais devem ser notificados o mais rapidamente possvel (dentro de 48 horas), enquanto os acidentes menos graves possuem prazos maiores que diferem para cada pas. J no Brasil, existe a exigncia de que todos os acidentes sejam notificados no dia posterior ao acidente, o que na prtica, no vem ocorrendo.

    A maioria dos pases da Unio Europia notifica os acidentes somente para um organismo de seguros privado ou estatal. Nos Estados Unidos, Blgica e Dinamarca, alm disso, existe a obrigao da notificao a um servio de inspeo de trabalho, indicando o interesse na determinao das causas dos acidentes e sua possvel preveno. J no Brasil, esta exigncia tambm existe, pois alm do INSS, a CAT deve ser enviada para a DRT, que corresponde a um servio de inspeo de trabalho. Entretanto, esta exigncia no vem sendo cumprida, pois, em nvel nacional, a maioria das empresas no tm enviado a via correspondente da CAT para a DRT.

    Nos diversos pases pesquisados, bem como no Brasil, impossvel quantificar o nmero de casos de doenas profissionais, porque existe nesta rea uma substancial subnotificao, ainda mais porque a notificao das mesmas depende quase que exclusivamente dos mdicos.

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    5 NR18 CONDIES E MEIO AMBIENTE DE TRABALHO NA INDSTRIA DA CONSTRUO

    5.1 REAS DE VIVNCIA

    As reas de vivncia devero dispor de:

    instalaes sanitrias;

    vestirio;

    local de refeies;

    cozinha, quando houver preparo de refeies;

    rea de lazer;

    alojamento; lavanderia;

    ambulatrio, quando se tratar de frentes de trabalho com mais de 50 empregados.

    Obs: os ltimos trs itens sero obrigatrios nos casos onde haver trabalhadores alojados. As reas de vivncia devero ser mantidas em perfeito estado de conservao e limpeza. Seu dimensionamento dever atender o nmero mximo de trabalhadores em todas as fases da obra. Devero ter ainda iluminao e ventilao adequada, instalaes eltricas adequadamente protegidas, altura compatvel e estarem situadas em local de acesso fcil e seguro.

    5.1.1. Instalaes Sanitrias

    Instalaes sanitrias constituem o local destinado ao asseio corporal e/ou atendimento das necessidades fisiolgicas de excreo. Elas devero ser construdas de modo a manter o resguardo conveniente, ter paredes e pisos lavveis e resistentes, ter recipientes para coleta de papeis usados, tanto junto a pia quanto ao vaso sanitrio.

    Seu dimensionamento obedecer aos seguintes critrios:

    lavatrio, vaso sanitrio e mictrio: 1conjunto para cada 20 trabalhadores ou frao; chuveiros: 1 unidade para cada grupo de 10 trabalhadores ou frao.

    Os lavatrios podero ser individuais ou coletivos. Quando coletivos, o espaamento entre torneiras dever ser de, no mnimo, 60 cm.

    O vaso sanitrio, que pode ser do tipo bacia turca ou sifonado, dever ser instalado numa rea mnima de 1 m2, ter dispositivo para coleta de papeis usados, sendo obrigatrio o fornecimento de papel higinico.

    Os mictrios tambm podero ser individuais ou coletivos, tipo calha. Se coletivos, cada segmento de 60 cm corresponder a um mictrio individual. A altura da borda dever ser de 50 cm em relao ao piso.

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    A rea mnima para instalao de cada chuveiro ser de 0,80 m2, que ter altura de 2,10m do piso. Os chuveiros devero dispor de gua quente e estarem aterrados eletricamente. Deve ser prevista ainda a instalao de saboneteira e cabideiro.

    5.1.2. Vestirios

    Os vestirios devero ter paredes e pisos resistentes e lavveis, cobertura, iluminao e instalaes eltricas corretamente dimensionadas, instaladas e mantidas e perfeito estado de conservao.

    Devero ser disponibilizados armrios individuais, dotados de fechadura ou dispositivo com cadeado, assim como dever haver bancos em nmero suficiente para todos o usurios, com largura mnima de 30 cm.

    5.1.3. Local para refeies

    Este local dever ter paredes que garantam o isolamento durante as refeies, assim como no estar localizado no poro da edificao, ter lavatrio instalado em suas proximidades ou no seu interior, mesas com tampos lisos e lavveis, ter depsito com tampo para detritos e no ter comunicao direta com as instalaes sanitrias.

    Deve-se dispensar especial ateno no dimensionamento do local das refeies, de modo a atender a todos os funcionrios adequadamente, inclusive podendo-se dividir o horrio das refeies em dois turnos, nos casos em que a obra envolver muitos empregados. Independente do nmero de trabalhadores e da existncia ou no de cozinha, em todo canteiro de obras dever haver local exclusivo para o aquecimento das refeies, dotado de equipamento adequado e seguro para o aquecimento.

    5.1.4. Cozinha

    A cozinha dever ser construda com paredes e pisos que sejam fceis de limpar, ter pia, recipiente com tampa para coleta de lixo, possuir equipamento de refrigerao dos alimentos, ficar prximo ao local

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    das refeies e ter o botijo de gs em local apropriado, estando em rea permanentemente ventilada e coberta.

    5.1.5. rea de lazer Os canteiros de obras devero dispor de locais para recreao dos trabalhadores, que poder ser

    desde a instalao de uma televiso at a disponibilizao de mesa de jogos, sinuca, pebolim, campo de futebol, etc., dependendo, e claro, do nmero de trabalhadores, tamanho da obra e tempo de durao da obra.

    5.1.6. Alojamento O alojamento dever ter paredes, piso, cobertura, ventilao e iluminao adequados, corretamente

    dimensionados, conservados e higienizados. proibido sua instalao nos pores da edificaes, em locais midos ou sujeitos a ratos e insetos.

    A Norma NR18 d alguns parmetros de dimensionamento:

    rea mnima de 3m2 para cada mdulo cama/armrio/circulao;

    no caso do uso de beliches, altura livre entre camas ou entre a ltima cama e o teto dever ser, no mnimo, 1,20m;

    dimenso mnima da cama: 80 cm de largura e 1,90m de comprimento, com distancia mxima do ripamento do estrado de 5 cm;

    As camas devero dispor de lenis, fronhas e travesseiros limpos e, quando necessrio, cobertor. O colcho dever ser de, no mnimo, densidade 26 e ter pelo menos 5 cm de espessura.

    Os armrios devero obedecer as dimenses da figura abaixo:

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    No permitido cozinhar e aquecer qualquer tipo de refeies dentro dos alojamentos. Dever ser ainda fornecido gua potvel, filtrada e fresca por meio de bebedouro de jato inclinado ou similar, na proporo de 1 para cada grupo de 25 trabalhadores ou frao. 5.1.7. Lavanderia

    A lavanderia dever possuir tanques individuais ou coletivos, em nmero suficiente, local para secar e passar a roupa.

    A empresa poder terceirizar este trabalho, desde que no seja cobrado dos trabalhadores.

    5.2 ESCAVAES

    Observar o RTP n. 03 (Recomendao tcnica de procedimentos) - Escavaes, fundaes e desmonte de rochas.

    A rea de trabalho a ser escavada dever ser previamente limpa, escoradas as rvores, rochas, equipamentos e materiais ou qualquer outro objeto que comprometa a segurana do trabalho. Nas escavaes urbanas, especial ateno deve ser dispensada quanto a verificao de redes eltricas, abastecimento de gua, gs, galerias pluviais, etc.

    Os taludes instveis devem ter estabilidade garantida atravs de estruturas que suportem as cargas previstas. Estas escavaes devem dispor de escadas ou rampas que possibilitem com rapidez e segurana a sada dos trabalhadores.

    A distncia mnima para depsito de qualquer material, seja proveniente de escavao ou que venha a ser utilizado posteriormente, dever estar a uma distncia de pelo menos a metade da profundidade escavada. Cuidados especiais devem ser dispensados na movimentao de veculos de carga e mquinas pesadas prximas ao local onde est sendo realizada a operao de escavao.

    Por tratar-se de uma das atividades de maior risco e de grande quantidade de acidentes, as escavaes devero constituir-se motivo de constante cuidado por parte de todos. O engenheiro responsvel dever inspecionar regularmente os escoramentos e demais componentes, visando garantir a

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    estabilidade do conjunto. importante considerar a possibilidade de eroso e enfraquecimento dos escoramentos em conseqncia de chuvas e enxurradas.

    Escavaes em vias pblicas devero ter sinalizao de advertncia, inclusive noturna, e barreira de isolamento em todo seu permetro.

    5.3 FUNDAES

    A equipe de cravao de estacas deve ser composta por trabalhadores treinados e experientes, evitando-se o acesso de pessoas no-autorizadas s reas de cravao de estacas.

    Os bate-estacas devem ser mantidos distncia das redes de energia eltrica. Quando for impossvel manter a distncia ideal, recomenda-se contatar a concessionria de energia eltrica local para isolar a fiao.

    Devem estar firmemente suportados por plataformas resistentes e perfeitamente niveladas. Ateno especial deve ser dada ao contraventamento do conjunto, de forma a garantir a estabilidade necessria execuo segura dos trabalhos.

    Os cabos de sustentao do pilo devem ter comprimento para que haja, em qualquer posio de trabalho, um mnimo de 6 (seis) voltas sobre o tambor. Os trabalhadores devero estar equipados com cinto de segurana tipo para-quedista, nos trabalhos executados nas escadas da torre do bate-estacas e com protetores auriculares, por conta do rudo excessivo.

    5.4 TAPUMES E GALERIAS

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    obrigatria a colocao de tapumes ou barreiras sempre que se executarem atividades da indstria da construo, de forma a impedir o acesso de pessoas estranhas aos servios. Podem ser usados diversos materiais para a construo do tapume, tais como madeira, compensado, blocos de concreto, tela de alambrado, telhas de fibrocimento, etc. Qualquer desses materiais pode ser utilizado, desde que respeite o objetivo do tapume, que impedir o acesso de pessoas estranhas ao canteiro de obras, bem como evitar que os transeuntes entrem em contato com algum agente agressor presente no canteiro, como

    por exemplo excesso de poeira de cimento, areia, madeira, etc.

    Os tapumes devem ser construdos e fixados de forma resistente, e ter altura mnima de 2,20m (dois metros e vinte centmetros) em relao ao nvel do terreno.

    Em toda edificao com mais de 2 (dois) pavimentos a partir do nvel do meio-fio, executada no alinhamento do logradouro, obrigatria a construo de galerias sobre o passeio, com altura interna livre de no mnimo 3,00m (trs metros). Em caso de necessidade de realizao de servios sobre o passeio, a galeria deve ser executada na via pblica, devendo neste caso ser sinalizada em toda sua extenso, por meio de sinais de alerta aos motoristas nos 2 (dois) extremos e iluminao durante a noite, respeitando-se legislao do Cdigo de Obras Municipal e de trnsito em vigor.

    As bordas da cobertura da galeria devem possuir tapumes fechados com altura mnima de 1,00m (um metro), com inclinao de aproximadamente 45 (quarenta e cinco graus). As galerias devem ser mantidas sem sobrecargas que prejudiquem a estabilidade de suas estruturas.

    5.5 ARMAES DE AO Os trabalhos envolvendo armao de ao envolvem diversos riscos, os quais ocorrem desde o

    descarregamento dos vergalhes at a montagem das armaes.

    Se o descarregamento dos vergalhes de cima dos caminhes for feito por equipamentos de elevao de cargas, a primeira providncia isolar e sinalizar a rea de descarga.

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    A maneira correta de erguer este tipo de carga fazendo um estropo duplo ou eslinga, em forma de tringulo com cabo de ao, evitando o uso de corda de fibra. Deve-se ter especial cuidado em inspecionar periodicamente os cabos de ao, verificando se apresentam disfiamento ou sinais de quebra de fios. Se for constatado este tipo de defeito, o cabo deve ter condenado seu uso e ser imediatamente substitudo por outro em condies seguras de trabalho.

    Se o descarregamento for manual, o caminho deve estar o mais prximo possvel do local de estocagem. Quando no for possvel e o descarregamento for na calada, deve-se estacionar o caminho prximo do porto de descarga da obra, interromper, isolar e sinalizar a passagem de pedestres, usar a calada somente como estocagem provisria e vistoriar o trajeto a ser percorrido.

    Os feixes devem ser transportados por, no mnimo, 2 trabalhadores de altura equivalente. Recomenda-se que as extremidades dos vergalhes devem ainda estarem devidamente protegidas.

    O local de armazenagem deve ficar distante de instalaes eltricas em geral, de locais de circulao, entrada e sada da obra, equipamentos e estacionamento de veculos. Deve ainda estar prximo do local das bancadas de armao.

    Os feixes devem estar armazenados sobre pontaletes ou vigas e estes sobre brita, separados por bitola. O local de armazenagem, alm de estar sinalizado, deve ser isolado e posicionado onde no haja circulao de trabalhadores. Devem ser colocadas escoras de travamento entre os feixes para evitar o rolamento dos mesmos.

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    O setor de armao deve ser coberto para evitar que os trabalhadores e o maquinrio fiquem expostos a intempries, tais como chuva, sol, frio excessivo, etc. Seu piso deve ser nivelado, resistente e antiderrapante. As lmpadas de iluminao da rea de trabalho da armao de ao devem estar protegidas contra impactos provenientes da projeo de partculas ou de vergalhes

    A dobragem e o corte de vergalhes de ao em obra devem ser feitos sobre bancadas ou plataformas apropriadas e estveis, apoiadas sobre superfcies resistentes, niveladas e no escorregadias, afastadas da rea de circulao de trabalhadores. Sua altura dever ser condizente com o armador, evitando posturas incorretas.

    O corte da barras pode ser feito de vrias maneiras, tais como corte manual, serra policorte, guilhotina manual, solda eltrica e oxi-corte. No corte manual deve-se usar lminas de boa qualidade, prend-las firmemente, usar culos de segurana, trabalhando com bastante cuidado e ateno.

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    No corte com policorte, deve-se inspecionar periodicamente os discos abrasivos, inutilizando-os quando encontrar alguma irregularidade. O disco deve estar protegido por coifa metlica. obrigatrio o aterramento eltrico da serra e a proteo das correias e polias de transmisso.

    No corte com guilhotina manual o trabalhador no deve se sujeitar a esforos que possam prejudic-lo, nem usar prolongadores de cabo.

    Quando usar guilhotinas eltricas, as mesmas devem estar devidamente aterradas, terem guardas de proteo que evitem projeo de fragmentos e contato do trabalhador com partes mveis.

    O dobramento dos vergalhes pode ser feito de forma manual ou mecnica. Quando manual, o operador no deve usar prolongadores de cabo e a rea em torno do local deve estar livre e desempedida.

    Na montagem das armaes os trabalhadores devem estar equipados com avental e luvas de raspas de couro, evitando-se cortes e arranhes.

    5.6 CARPINTARIA

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    As operaes em mquinas e equipamentos necessrios realizao da atividade de carpintaria somente podem ser realizadas por trabalhador qualificado. O local de trabalho deve atender s mesmas exigncia do setor de armao de ao, tais como ter as lmpadas de iluminao protegidas contra impactos provenientes da projeo de partculas, ter piso resistente, nivelado e antiderrapante, com cobertura capaz de proteger os trabalhadores contra quedas de materiais e intempries.

    A serra circular deve atender s disposies a seguir:

    a) ser dotada de mesa estvel, com fechamento de suas faces inferiores, anterior e posterior, construda em madeira resistente e de primeira qualidade, material metlico ou similar de resistncia equivalente, sem irregularidades, com dimensionamento suficiente para a execuo das tarefas;

    b) ter a carcaa do motor aterrada eletricamente;

    c) o disco deve ser mantido afiado e travado, devendo ser substitudo quando apresentar trincas, dentes quebrados ou empenamentos;

    d) as transmisses de fora mecnica devem estar protegidas obrigatoriamente por anteparos fixos e resistentes, no podendo ser removidos, em hiptese alguma, durante a execuo dos trabalhos;

    e) ser provida de coifa protetora do disco e cutelo divisor, com identificao do fabricante e ainda coletor de serragem.

    Nas operaes de corte de madeira, devem ser utilizados dispositivo empurrador e guia de alinhamento.

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    5.7 ACESSOS TEMPORRIOS DE MADEIRA

    A madeira usada na construo de escadas, rampas e passarelas dever ser de boa qualidade, sem apresentar ns ou rachaduras, estar seca, sendo proibido o uso de pintura que encubra as imperfeies. comum encontr-las fabricadas com sobras de madeira da obra, o que completamente condenvel, pois enfraquecero as estruturas possibilitando a ocorrncia de acidentes

    Escadas, rampas e passarelas podem ser classificadas conforme o grau de inclinao a ser vencido. Recomenda-se que os degraus da escada respeitem uma relao entre altura e comprimento, de forma a

    atingir a variao angular de 27 a 35, estabelecida pela figura anterior.

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    Devero ser instalados patamares intermedirios a cada 2,90m de altura, com largura e comprimento, no mnimo, iguais a largura da escada. Devero ser dotadas ainda de sistema de guarda-corpo e rodap.

    Dos acessos temporrios de madeira, as escadas de mo acarretam o maior nmero de acidentes, no s pela freqncia de seu emprego como tambm porque a maioria das escadas so construdas de forma inadequada. Estas escadas devem ter seu uso restrito para acessos provisrios e servios de pequeno porte. Quando for necessrio seu uso prolongado, recomenda-se a utilizao de escadas de uso coletivo.

    As escadas de mo podero ter at 7 m de extenso e o espaamento entre degraus dever ser uniforme, variando entre 25 e 39 cm. Respeitando-se estes parmetros, as escadas devem ser dimensionadas conforme seu comprimento total. Como exemplo, a prxima figura indica as dimenses necessrias para uma escada de 5 metros de comprimento total.

    Os pontos mais importantes para obter-se uma utilizao segura da escada de mo esto relacionados ao comprimento da escada, ao ngulo que ela forma com o piso e aos sistemas de fixao no piso inferior e no superior.

    A distncia entre o ponto mais elevado do montante e o piso superior deve ser de aproximadamente 1,00 metro, o que dar melhores condies de apoio ao operrio que deseja alcanar o piso superior e que, estando no piso superior, necessite utilizar a escada para descer.

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    Para maior estabilidade da escada, recomenda-se que o ngulo em relao ao piso seja de 75. Para evitar que a escada se desloque de sua posio, ela deve ser fixada nas sua extremidades,

    inferior e superior. Dependendo das condies, vrias so as possibilidade desta fixao. As escadas de abrir devem ser rgidas, estveis e providas de dispositivos que as mantenham com

    abertura constante, devendo ter comprimento mximo de 6 metros, quando fechadas A escada extensvel deve ser dotada de dispositivo limitador de curso, colocado no quarto vo a

    contar da catraca. Caso no haja o limitador de curso, quando estendida, deve permitir uma sobreposio de no mnimo 1,00m (um metro).

    A escada fixa, tipo marinheiro, com 6,00 (seis metros) ou mais de altura, deve ser provida de gaiola protetora a partir de 2,00m (dois metros) acima da base at 1,00m (um metro) acima da ltima superfcie de trabalho. Para cada lance de 9,00m (nove metros), deve existir um patamar intermedirio de descanso, protegido por guarda-corpo e rodap.

    Apesar da NR 18 admitir rampas com ngulo de at 30, o ngulo de inclinao ideal para tal

    acesso temporrio de 15, para que os operrios no dispendam muito esforo fsico, principalmente

    quando esto transportando cargas. Nas rampas provisrias, com inclinao superior a 18 (dezoito graus), devem ser fixadas peas

    transversais, espaadas em 0,40m (quarenta centmetros), no mximo, para apoio dos ps. As rampas devem ser dotadas de sistema de guarda-corpo e rodap, com travesso superior com

    1,20 m, travesso intermedirio com 0,70 m e rodap de 0,20 m. As rampas devem ter sua largura em funo do fluxo de trabalhadores, obedecendo a mesma

    tabela da largura das escadas de uso coletivo.

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    As passarelas so plataformas horizontais que se usam como meio de transposio de vos entre dois planos situados no mesmo nvel. Sua largura tambm vai depender do fluxo de trabalhadores e obedecer as dimenses recomendadas pela tabela de dimensionamento das escada de uso coletivo.

    No devem existir ressaltos entre o piso da passarela e o piso do terreno. Os apoios das extremidades das passarelas devem ser dimensionados em funo do comprimento total das mesmas e das cargas a que estaro submetidas.

    5.8 MEDIDAS DE PROTEO CONTRA QUEDAS DE ALTURA obrigatria a instalao de proteo coletiva onde houver risco de queda de trabalhadores ou de projeo de materiais, ferramentas, entulhos, etc. Na periferia da edificao, a instalao de proteo contra queda de trabalhadores e projeo de materiais a partir do incio dos servios necessrios concretagem da primeira laje.

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    A proteo contra quedas, quando constituda de anteparos rgidos, em sistema de guarda-corpo e rodap, deve se constituir de uma proteo slida, de material rgido e resistente convenientemente fixada e instalada nos pontos de plataformas, reas de trabalho, de circulao onde haja risco de queda de pessoas e materiais, sendo composta pelos seguintes elementos:

    a) Travesso Superior (barrote, parapeito) - compe-se de barra, sem asperezas, destinada a proporcionar proteo como anteparo rgido. Ser instalado a uma altura de 1,20 m (um metro e vinte centmetros) do eixo da pea ao piso de trabalho. Deve ter resistncia mnima, a esforos concentrados, de 150kgf/m (cento e cinqenta quilogramas-fora por metro linear), no meio da estrutura; b) Travesso Intermedirio - compe-se de elemento situado entre o rodap e o travesso superior, a uma altura de 0,70m (setenta centmetros) do eixo da pea ao piso de trabalho, de mesmas caractersticas e resistncia do travesso superior; c) Rodap - compe-se de elemento apoiado sobre o piso de trabalho que objetiva impedir a queda de objetos. Ser formado pr pea plana e resistente com altura mnima de 0,20m (vinte centmetros) de mesmas caractersticas e resistncia dos travesses. d) Montante - compe-se de elemento vertical que permite ancorar os travesses e o rodap estrutura das superfcies de trabalho ou de circulao. e) Tela elemento de preenchimento dos vos entre as travessas; A proteo de periferia de lajes pode ser feita de diversas maneiras, como pode ser visto nas prximas figuras:

    As aberturas no piso devem ter fechamento provisrio resistente, que pode ser tanto horizontal, ao nvel do piso, quanto vertical, atravs de sistemas de guarda corpo e rodap. Quando utilizadas para o transporte vertical de materiais e equipamentos, devem ser protegidas por guarda-corpo fixo, no ponto de entrada e sada de material, e por sistema de fechamento do tipo cancela ou similar. As prximas figuras ilustram estas possibilidades.

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    Os vos de acesso s caixas dos elevadores devem ter fechamento provisrio de, no mnimo, 1,20m (um metro e vinte centmetros) de altura, constitudo de material resistente e seguramente fixado estrutura, at a colocao definitiva das portas.

    Os poos de elevadores devem ainda ser assoalhados da seguinte forma:

    de 3(trs) em 3(trs) lajes, a partir da sua base, com intervalo mximo de 10 (dez) metros. quando da colocao de formas e da desforma de laje imediatamente superior.

    A tampa componente do assoalho pode ser de madeira, compensado ou metal, devendo ser reforada de acordo com as dimenses do vo, de forma a suportar, com segurana, os esforos verticais j definidos neste item.

    As escadas da edificao devero corrimo provisrio, que pode ser de madeira, metal ou outros materiais. Dependendo do planejamento da obra, possvel antecipar-se a colocao do corrimo definitivo.

    Em todo permetro da construo de edifcios com mais de 4 (quatro) pavimentos ou altura equivalente, obrigatria a instalao de uma plataforma principal de proteo na altura da primeira laje

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    que esteja, no mnimo, um p-direito acima do nvel do terreno. Esta plataforma deve ter, no mnimo, 2,50m (dois metros e cinqenta centmetros) de projeo horizontal da face externa da construo e 1 (um) complemento de 0,80m (oitenta centmetros) de extenso, com inclinao de 45 (quarenta e cinco graus), a partir de sua extremidade. Ela ser instalada logo aps a concretagem da laje a que se refere e retirada, somente, quando o revestimento externo do prdio acima dessa plataforma estiver concludo.

    Acima e a partir da plataforma principal de proteo, devem ser instaladas, tambm, plataformas secundrias de proteo, em balano, de 3 (trs) em 3 (trs) lajes. Estas plataformas devem ter, no mnimo, 1,40m (um metro e quarenta centmetros) de balano e um complemento de 0,80m (oitenta centmetros) de extenso, com inclinao de 45 (quarenta e cinco graus), a partir de sua extremidade. Cada plataforma deve ser instalada logo aps a concretagem da laje a que se refere e retirada, somente, quando a vedao da periferia, at a plataforma imediatamente superior, estiver concluda.

    Na construo de edifcios com pavimentos no subsolo, devem ser instaladas, ainda, plataformas tercirias de proteo, de 2 (duas) em 2 (duas) lajes, contadas em direo ao subsolo e a partir da laje referente instalao da plataforma principal de proteo. Estas plataformas devem ter, no mnimo, 2,20m (dois metros e vinte centmetros) de projeo horizontal da face externa da construo e um complemento de 0,80m (oitenta centmetros) de extenso, com inclinao de 45 (quarenta e cinco graus), a partir de sua extremidade, devendo ser instalada logo aps a concretagem da laje a que se refere e retirada, somente, quando a vedao da periferia, at a plataforma imediatamente superior, estiver concluda.

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    O permetro da construo de edifcios, deve ser fechado com tela a partir da plataforma principal de proteo, que ser uma barreira protetora contra projeo de materiais e ferramentas. A tela deve ser instalada entre as extremidades de 2 (duas) plataformas de proteo consecutivas, s podendo ser retirada quando a vedao da periferia, at a plataforma imediatamente superior, estiver concluda.

    Em construes em que os pavimentos mais altos forem recuados, deve ser considerada a primeira laje do corpo recuado para a instalao de plataforma principal de proteo e aplicar as demais regras anteriores.

    5.9 ELEVADORES DE OBRAS

    Os equipamentos de transporte vertical de materiais e de pessoas devem ser dimensionados por profissional legalmente habilitado. A montagem e desmontagem devem ser realizadas por trabalhador qualificado. A manuteno deve ser executada por trabalhador qualificado, sob superviso de profissional legalmente habilitado. A operao deve ser realizada por trabalhador qualificado, o qual ter sua funo anotada em Carteira de Trabalho.

    Deve ser realizado teste dos freios de emergncia dos elevadores na entrega para incio de operao e, no mximo, a cada noventa dias, devendo o laudo referente a estes testes ser devidamente assinado pelo responsvel tcnico pela manuteno do equipamento e os parmetros utilizados devem ser anexados ao Livro de Inspeo do Equipamento existente na obra (exigncias recentes).

    Devem ser mantidos atualizados os laudos de ensaios no destrutivos dos eixos de sada do redutor e do carretel, nos elevadores de trao a cabo, sendo a periodicidade definida por profissional legalmente habilitado, obedecidos os prazos mximos previstos pelo fabricante no manual de manuteno do equipamento.

    Ao determinar-se a localizao da torre do elevador, deve tomar as seguintes precaues:

    afastar o mximo possvel de redes eltricas energizadas, ou isol-las conforme normas especficas da concessionria local;

    afastar o mnimo possvel da fachada da edificao, considerando as peculiaridades do projeto, como varandas, sacadas e outras.

    A base para instalao da torre, do suporte da roldana livre (louca) e do guincho deve ser uma pea nica, de concreto ou metlica nivelada e rgida. O meio do carretel deve estar alinhado com a roldana livre (louca) no centro do eixo. Esta deve estar alinhada com o guia dos painis, que proporcionar maior vida til s bronzinas e um funcionamento seguro e suave do elevador.

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    A distncia entre a roldana livre e o tambor do guincho do elevador deve estar compreendida entre 2,50m (dois metros e cinqenta centmetros) e 3,00m (trs metros), de eixo a eixo. O cabo de ao situado entre o tambor de rolamento e a roldana livre deve ser isolado por barreira segura, de forma que se evitem a circulao e o contato acidental de trabalhadores com o mesmo.

    2,5 a 3 m

    Os elementos estruturais (laterais e contraventos) componentes da torre devem estar em perfeito estado, sem deformaes que possam comprometer sua estabilidade. Os parafusos de presso dos painis devem ser apertados e os contraventos contrapinados.

    Os principais tipos de guincho so os seguintes:

    por transmisso de engrenagens por corrente

    automtico com comando eletro-mecnico

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    O guincho do elevador deve ser dotado de chave de partida e bloqueio que impea o seu acionamento por pessoa no autorizada.

    Em qualquer posio da cabina do elevador, o cabo de trao deve dispor, no mnimo, de 6 (seis) voltas enroladas no tambor.

    O posto de trabalho do operador do guincho deve ser isolado, sinalizado, dispondo de extintor de incndio de p qumico, e o acesso de pessoas no autorizadas deve ser proibido.

    As torres devem ter os montantes anteriores estroncados e amarrados em todos os pavimentos. As torres devem ter os montantes posteriores estaiados a cada 6,00m (seis metros) por meio de

    cabo de ao; quando a estrutura for tubular ou rgida, a fixao por meio de cabo de ao dispensvel. A distncia entre a viga superior da cabina e o topo da torre, aps a ltima parada, deve ser de

    4,00m (quatro metros). O trecho da torre acima da ltima laje deve ser mantido estaiado pelos montantes posteriores, para

    evitar o tombamento da torre no sentido contrrio edificao.

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    Em todos os acessos de entrada torre do elevador deve ser instalada uma barreira que tenha, no mnimo 1,80m ( um metro e oitenta centmetros) de altura, impedindo que pessoas exponham alguma parte de seu corpo no interior da mesma.

    As torres do elevador de material e do elevador de passageiros devem ser equipadas com dispositivo de segurana que impea a abertura da barreira (cancela), quando o elevador no estiver no nvel do pavimento.

    As torres de elevadores de materiais devem ter suas faces revestidas com tela de arame galvanizado ou material de resistncia e durabilidade equivalentes. Nos elevadores de materiais, onde a cabina for fechada por painis fixos de, no mnimo 2 (dois) metros de altura, e dotada de um nico acesso, o entelamento da torre dispensvel.

    As rampas de acesso torre de elevador devem:

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    ser providas de sistema de guarda-corpo e rodap;

    ter pisos de material resistente, sem apresentar aberturas;

    ser fixadas estrutura do prdio e da torre;

    no ter inclinao descendente no sentido da torre. proibido o transporte de pessoas nos elevadores de materiais. Deve ser fixada uma placa no

    interior do elevador de material, contendo a indicao de carga mxima e a proibio de transporte de pessoas. O posto de trabalho do guincheiro deve ser isolado, dispor de proteo segura contra queda de materiais, e os assentos utilizados devem atender ao disposto na NR-17- Ergonomia.

    Os elevadores de materiais devem dispor de: a) sistema de frenagem automtica; b) sistema de segurana eletromecnica no limite superior, instalado a 2,00m (dois metros) abaixo da viga superior da torre; c) sistema de trava de segurana para mant-lo parado em altura, alm do freio do motor; d) Interruptor de corrente para que s se movimente com portas ou painis fechados.

    Quando houver irregularidades nos elevadores de materiais quanto ao funcionamento e manuteno do mesmo, estas sero anotadas pelo operador em livro prprio e comunicadas, por escrito, ao responsvel da obra.

    O elevador deve contar com dispositivo de trao na subida e descida, de modo a impedir a descida da cabina em queda livre (banguela).

    Os elevadores de materiais devem ser providos, nas laterais, de painis fixos de conteno com altura em torno de 1,00 m (um metro) e, nas demais faces, de portas ou painis removveis.

    Os elevadores de materiais devem ser dotados de cobertura fixa, basculvel ou removvel. Nos edifcios em construo com 08 (oito) ou mais pavimentos, ou altura equivalente obrigatria

    a instalao de, pelo menos, um elevador de passageiros, devendo o seu percurso alcanar toda a extenso vertical da obra.

    Fica proibido o transporte simultneo de carga e passageiros no elevador de