apostila curso segurança do trabalho

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SEGURANA DO TRABALHOMATERIAL DE REFERNCIAPROFESSOR CRISTIANO LEO

AGOSTO 2008

Introduo O mundo atravessa uma fase de profundas transformaes, com mudanas substanciais no panorama social, poltico e econmico. O advento da globalizao, j h alguns anos, tem sido um dos impulsionadores desse processo. Os pases, atravs de mecanismos de defesa de seus interesses, tm buscado, junto comunidade empresarial interna, o fortalecimento de sua economia, abrangendo, por conseqncia, tais aspectos. A formao dos blocos de interesses, como a Comunidade Econmica Europia, o Mercosul e a Alca, apesar das incertezas quanto a estes dois ltimos, tambm tem alavancado o intercmbio comercial entre os pases, exemplificando estes objetivos. Esse novo cenrio comercial mundial, onde uma das principais

caractersticas e propostas a livre concorrncia, tem conduzido as empresas a voltar sua ateno para novas questes. A partir do incio da dcada de 80, comeou a ficar evidente que as crescentes exigncias do mercado, os aspectos custo e qualidade, aliadas a uma maior conscincia ecolgica, geraram um novo conceito de qualidade, holstica e orientada, tambm, para a qualidade de vida. As organizaes tm atentado de forma mais concreta para os aspectos que envolvem a satisfao dos clientes internos e externos, a qualidade dos produtos materiais ou servios, a proteo do meio ambiente e os aspectos sociais, inclusive os que abrangem a sade e segurana de seus trabalhadores e colaboradores. Cabe ressaltar que tais demandas podem alcanar importncia estratgica na organizao, pois podem gerar barreiras comerciais no-tarifrias junto a determinados mercados. Estas barreiras produzem dificuldades do produto alcanar tais mercados em decorrncia da no observncia, pela empresa fabricante, de requisitos mnimos quanto s reas ambientais e de sade e segurana do trabalho As questes concernentes sade e segurana do trabalho tambm tm sido objeto de discusso, assegurando a no-admissibilidade da existncia de ambientes laborais e processos produtivos que condenem os trabalhadores a

sofrerem danos sua sade, muitas vezes irreversveis, ou acidentes que possam gerar leses que os incapacitem a permanecer no exerccio de suas atividades. Neste ambiente, o mercado passou a exigir que os produtos e servios tragam consigo o comprometimento das empresas responsveis pelos mesmos em atender aos padres das normas internacionais de qualidade, sustentabilidade ambiental e proteo integridade fsica e sade de seus trabalhadores. Assim, o gerenciamento das questes ambientais e de sade e segurana do trabalho, com foco na preveno de acidentes e no tratamento dos problemas potenciais, passou a ser o gerenciamento da prpria viabilidade e sobrevivncia do empreendimento.

A evoluo histrica da Segurana e Sade no Trabalho Na histria so encontrados indicativos muito antigos da preocupao quanto preservao da vida dos trabalhadores. Hipcrates (460-357 AC.) e Plnio, o Velho (23-79 DC), mostram em seus trabalhos a ocorrncia de doenas pulmonares em mineiros. No ano de 1556, Georg Bauer publicou o livro Re De Metallica, onde estuda as doenas e acidentes de trabalho relacionados minerao e fundio de ouro e prata. O autor discute, em especial, a inalao de poeiras, causadora da asma dos mineiros que, pelos sintomas descritos, deve tratar-se de silicose. Em 1567, Aureolus Theophrastur Bembastur von Hohenheim apresentou a primeira

monografia relacionando trabalho com doena. Em 1700, na Itlia, o mdico Bernardino Ramazzini, considerado o Pai da Medicina do Trabalho, publicou o livro De Morbis Artificium Diatriba. A obra descreve com bastante profundidade as doenas relacionadas cerca de cinqenta profisses, tais como: mineiros, qumicos, oleiros, ferreiros, cloaqueiros, salineiros, joalheiros, pedreiros, entre outros. A Revoluo Industrial significou uma mudana vertiginosa na histria da humanidade, quando os meios de produo, at ento dispersos e baseados na

cooperao individual, passaram a concentrar-se em grandes fbricas, ocasionando profundas transformaes sociais e econmicas. A revoluo industrial se deu em diferentes pocas nos diversos pases civilizados. Na Inglaterra, que foi o pas pioneiro, a revoluo industrial surgiu com toda a intensidade no sculo XVIII; na Alemanha e USA, comeou por volta do ano de 1820 e na Rssia, por volta de 1890. Em 1770, o operrio ingls Hargreaves, inventou a primeira mquina de fiar, em que uma pessoa efetuava o trabalho de oito, movendo uma manivela de oito fusos. Em 1785, Edmund Cartwright inventou um tear movimentado por uma lanadeira automtica. Este tear, movido por propulso hidrulica, fazia com que cada operrio realizasse o trabalho de duzentos homens, possibilitando, inclusive, converter fio em pano. As mquinas a vapor foram utilizadas, inicialmente, na indstria inglesa de tecidos de algodo, quando James Watt, em 1769, patenteou a primeira mquina a vapor com boa aplicao prtica. A substituio da propulso hidrulica pela mquina a vapor mudou profundamente o quadro industrial, pois no houve mais a necessidade da instalao das fbricas prximas aos cursos dgua, podendo instalar-se nas grandes cidades, onde a mo de obra estava disponvel em abundncia. Antes do advento das mquinas de tecelagem, os artesos eram os donos de seus prprios negcios, com uma produo apenas o suficiente para atender suas necessidades. Como os arteses no tinham condies de adquirir as novas mquinas, tampouco de competir com elas em condies de igualdade, o meio de produo artesanal foi substitudo pelo meio industrial, ficando os arteses como massa de mo-de-obra disponvel para trabalhar nas fbricas. A necessidade de mo de obra para a indstria, aliada ao fato de haver desemprego no meio rural, estabeleceu um fluxo migratrio do campo para as cidades em proporo at ento nunca vista.

Este fluxo migratrio no se dava apenas para a indstria, mas tambm para sua estrutura de sustentao. As mquinas a vapor usavam carvo para seu acionamento, o que aumentou tambm o nmero de minas de carvo nos diversos pases. O trabalho em condies degradantes, que era desempenhado pelos mineiros, contribuiu para criar na categoria uma conscincia das condies desumanas a que eles eram submetidos. Era comum a ocorrncia de incndios, exploses, intoxicao por gases, inundaes e desmoronamento, ocasio em que muitos trabalhadores ficavam sepultados nas galerias. Tambm eram comuns as doenas ocupacionais, tais como tuberculose, anemia e asma. A improvisao das fbricas e a mo-de-obra constituda, principalmente, por crianas e mulheres resultaram em problemas ocupacionais extremamente srios. Os acidentes de trabalho eram numerosos provocados por mquinas sem qualquer proteo, movidas por correias expostas, e as mortes, principalmente de crianas, eram muito freqentes. No havia nenhuma regulamentao quanto s condies do trabalho e do ambiente industrial, tampouco em relao durao da jornada de trabalho. A jornada excessiva de trabalho no pode ser atribuda ao nascimento da grande indstria, pois j era verificada na atividade artesanal, esta condio foi, no entanto, potencializada. A partir de 1792, com a inveno do lampio a gs, houve uma tendncia de aumento da jornada de trabalho, haja vista a possibilidade de uso de iluminao artificial, ainda que precria. Na metade do sculo XIX, na Frana, trabalhava-se 12 horas nas provncias e 11 horas em Paris, podendo variar conforme o tipo de atividade. A categoria dos mineiros passava 12 horas dirias no fundo da mina, com 10 horas de trabalho efetivo. Havia jornadas de 15 horas nas fbricas de alfinetes. Nas tecelagens, trabalhava-se 15 horas se o trabalho era em domiclio e 12 horas na prpria fbrica.

O trabalho das crianas nas fbricas durante a revoluo industrial indica uma condio vexatria, abaixo de qualquer padro de dignidade. Na Inglaterra, os menores eram oferecidos s indstrias em troca de alimentao. Eram comuns os intermedirios que buscavam as crianas para trabalhar nas fbricas,

estabelecendo, inclusive, contratos onde o industrial deveria aceitar, no lote de menores, os idiotas, na proporo de uma para cada grupo de vinte. Alm do comrcio de crianas, eram comuns tambm os maus tratos com os menores, que eram aoitados se trabalhavam de forma imprpria e em ritmo lento. Um industrial da poca entendia que no havia nenhum ser humano com mais de quatro anos que no podia ganhar a vida trabalhando. Em funo das ms condies de trabalho, o parlamento ingls criou uma comisso de inqurito que foi responsvel pela criao,em 1802, da primeira lei de proteo aos trabalhadores, a Lei de Sade e Moral dos Aprendizes, que estabelecia o limite de 12 horas de trabalho dirio, proibia o trabalho noturno, obrigava os empregadores a ventilar as fbricas e lavar suas paredes duas vezes por ano. Esta lei, complementada em 1819, no teve a eficincia esperada devido oposio dos empregadores. Outra comisso de inqurito avaliou as condies de trabalho das fbricas e elaborou, em 1831, um relatrio que conclua:Diante desta comisso desfilou longa procisso de trabalhadores homens e mulheres, meninos e meninas. Abobalhados, doentes, deformados, degradados de sua qualidade humana, cada um deles era clara evidncia de uma vida arruinada, um quadro vivo da crueldade do homem para com o homem, uma impiedosa condenao daqueles legisladores que quando em suas mos detinham poder imenso, abandonaram os fracos a capacidade dos fortes.

A partir do relatrio elaborado pela comisso, foi instituda na Inglaterra, em 1833, a Lei das Fbricas (Factory Act), que foi a primeira lei realmente eficiente no campo da segurana e sade no trabalho. A lei, aplicada indstria txtil, proibia o trabalho noturno para os menores de 18 anos, restringindo sua

carga horria para 12 horas dirias e 69 semanais. Para menores entre 9 e 13 anos, a jornada de trabalho diria passou a ser de 9 horas. A idade mnima para o trabalho era de 9 anos, sendo necessrio um mdico atestar que o desenvolvimento fsico da criana correspondia sua idade cronolgica. As fbricas precisavam ter, ainda, escolas freqentadas por todos os trabalhadores menores de 13 anos. A partir da lei das fbricas, outros avanos ficaram evidenciados nas relaes de trabalho na Inglaterra, tais como a lei de 1844, que instituiu a jornada de trabalho de 10 horas dirias para mulheres, leis de 1850 e 1853, estabelecendo jornada de trabalho dos homens em 12 horas dirias e lei de 1842, que proibiu o trabalho de mulheres, menores em subsolo e lei de 1867 que reconheceu e determinou providncias para preveno das doenas provocadas por condies de trabalho, exigiu a instalao de proteo nas mquinas e proibiu a realizao de refeies em locais que tivessem a presena de agentes qumicos agressivos. Com a expanso da indstria no restante da Europa e com a experincia j vivida na Inglaterra, os demais pases foram estabelecendo e aprimorando legislaes prprias de proteo ao trabalhador. Na Frana, em 1813, ficou proibido o trabalho de menores em minas, em 1841, foi proibido o trabalho de menores de 8 anos e fixada jornada diria de 8 horas para menores de 12 anos, e de 12 horas para menores com idade entre 12 e 16 anos. Em 1848, foi estabelecida como jornada mxima de trabalho diria de 12 horas. Na Esccia, os trabalhadores eram comprados e vendidos com os filhos, com os quais eram estabelecidos contratos verbais de longo prazo, inclusive vitalcios, situao degradante que s foi eliminada a partir do surgimento de legislao prpria nos anos de 1774 e 1799. Na Alemanha, no ano de 1839, foi proibido o trabalho de menores de 9 anos e restringida a jornada diria dos menores de 16 anos para 10 horas. Em 1853, estabeleceu-se a idade mnima do menor operrio para 12 anos e limitada a jornada

diria de trabalho dos menores de 14 anos para 6 horas. Em 1869, a legislao disps:Todo o empregador obrigado a fornecer e a manter, sua prpria custa, todos os aparelhos necessrios ao trabalho, tendo em vista a sua natureza, em particular, do ramo da indstria a que sirvam, e o local de trabalho em ordem a fim de proteger os operrios, tanto quanto possvel, contra riscos de vida e de sade.

A Blgica regulamentou a segurana e sade industrial em 1810, a Rssia a partir de 1839, a Dinamarca em 1873, a Sua em 1877 e os EUA a partir de 1877, atravs do Estado de Massachussetts.

A segurana e sade do trabalho no BrasilNo Brasil Colonial, os escravos trabalhavam at 18 horas por dia, estando os proprietrios no direito de aplicar castigos para garantir uma melhor produtividade e submisso ao trabalho. Esta situao tornava a mo de obra escrava quase que descartvel, j que, em 1730, a vida til de um escravo jovem era de apenas 12 anos. A partir do sculo XIX, com as limitaes impostas ao trfico de escravos, os proprietrios esboaram alguma preocupao com a sade dos escravos, tentando garantir um tempo maior de espoliao da fora de trabalho de suas propriedades. No perodo da repblica velha, de 1889 at 1930, o Brasil caracterizou-se por uma economia voltada exportao de produtos do campo. O Governo entendia que a regulamentao das relaes de trabalho era prejudicial, tese que foi reafirmada pela Constituio de 1891. Apesar da estrutura oligrquica rural de comando da nao, no Brasil, eram encontradas nas cidades inmeras oficinas, manufaturas de vestirios, mveis, tintas, fundies, etc. A mo de obra era predominantemente estrangeira, resultado da onda migratria da poca. As condies de trabalho eram degradantes, encontrando-se muitas situaes semelhantes s ocorridas na Inglaterra durante a revoluo industrial.

Nos primeiros anos da Repblica, ocorreram alguns movimentos grevistas que, apesar de dispersos, foram se avolumando em termos de freqncia e intensidade. De 1901 a 1914 foram registradas 129 greves, sendo 91 em So Paulo e 38 em outras cidades. No ano de 1917, uma greve de enorme repercusso foi deflagrada em So Paulo, Esta, iniciou-se no Cotonifcio Rodolfo Crepi, no bairro da Mooca, quando os operrios protestaram contra os salrios e pararam o servio. A fbrica fechou por um tempo indeterminado. Os trabalhadores pretendiam 20% de aumento e tentaram acordo com a empresa, no o conseguindo. Diante disso, no dia 29 fizeram comcio no centro da cidade. Aos 2000 grevistas juntaram-se, em solidariedade, 1000 trabalhadores das fbricas Jafet, que tambm passaram a reivindicar 20% de aumento de salrios; em 11 de julho, o nmero de grevistas de vrias empresas era de 15.000; no dia 12, de 20.000; os bondes, a luz, o comrcio e as indstrias de So Paulo ficaram paralisados. O movimento estendeu-se s empresas do interior, e ao todo treze cidades foram atingidas. Os jornalistas resolveram intermediar. No dia 15 de julho um acordo foi aceito para aumento de 20% dos salrios, com a garantia de que nenhum empregado seria despedido em razo da greve, e o governo ps em liberdade os operrios presos, com a condio de que todos voltassem ao servio, reconhecendo o direito de reunio quando exercido dentro da lei e respeitando a ordem pblica, alm de se comprometer a providenciar o cumprimento de disposies legais sobre trabalho de menores nas fbricas, de carestia de vida e de proteo do trabalhador. Os primeiros anos da Repblica foram caracterizados por trs fatores importantes na mudana da viso prevencionista por parte do governo: Os movimentos grevistas incluram na sua pauta de reivindicaes as

questes relativas a melhoria das condies e do meio ambiente de trabalho; O fluxo migratrio proveniente da Europa trouxe toda uma

experincia de luta visando a dignidade no trabalho; Havia um movimento internacional de mudana no plano ideolgico, a

partir da revoluo sovitica.

Esses fatores foram decisivos na formao de um quadro favorvel para o estabelecimento de uma maior interveno por parte do governo e legisladores na relao capital e trabalho. Dessa forma, a Lei 3724 de 15/01/19, se firmou como a primeira lei sobre indenizao por acidentes de trabalho, sendo regulamentada pelo Decreto nmero 13.498, de 12/03/19. Esta lei limitava-se ao setor ferrovirio e reconhecia somente os elementos que caracterizavam diretamente o acidente de trabalho. Em funo do momento histrico, foi criada a previdncia social, atravs da Lei 4682, de 29/01/23 conhecida como Lei Eloy Chaves, que criou a Caixa de Aposentadoria e Penses para uma empresa de estrada de ferro. A partir de 1930, com a ascenso de Getlio Vargas ao poder, houve um acelerado desenvolvimento industrial, substituindo as importaes, facilitado principalmente pela grande depresso de 1929, que colocou em xeque o modelo agrrio vigente. A era Vargas caracterizou-se por profunda reestruturao da ordem jurdica trabalhista, estando muitas das propostas da poca em vigor at os dias atuais. O Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio foi criado por meio do Decreto 19.433, de 26/11/1930. Em 1932, foram criadas as Inspetorias do Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio, transformadas, no ano de 1940, em Delegacias Regionais do Trabalho. O Decreto nmero 24.367, de 10/07/1934, que substituiu a lei 3724 de 1919, instituiu o depsito obrigatrio para garantia da indenizao, simplificou o processo e aumentou o valor da indenizao em caso de morte do acidentado, entendendo a doena profissional tambm como acidente de trabalho indenizvel, em complementao legislao anterior. Com o Decreto foram includos os industririos, trabalhadores agrcolas, comercirios e domsticos, sempre at determinado valor de remunerao. Por

outro lado, foram excludas vrias outras categorias, tendo em vista o valor de seus vencimentos, tais como os autnomos, consultores tcnicos, empregados em pequenos estabelecimentos industriais e comerciais sob o regime familiar. O adicional de insalubridade foi institudo a partir do Decreto-lei nmero 399, de 30/04/1938, estabelecendo seu valor em 10, 20 e 40% do salrio mnimo para graus de insalubridade mnimo, mdio e mximo, respectivamente, conforme quadro de atividades elaborado posteriormente. A Consolidao das Leis do Trabalho CLT foi criada pelo Decreto nmero 5.452, de 01/05/1943, e reuniu a legislao relacionada com a organizao sindical, previdncia social, justia e segurana do trabalho. A CLT , no seu Capitulo V Da Segurana e da Medicina do Trabalho, dispe sobre diversos temas, tais como a Comisso Interna de Preveno de Acidentes CIPA, mquinas e equipamentos, caldeiras, insalubridade, medicina do trabalho, higiene industrial,entre outros. Esta legislao foi alterada em 1977 e serviu como base para as atuais Normas Regulamentadoras. O Decreto 7036, de 10/11/1944 definiu como acidente de trabalho no s o acidente tpico, mas tambm a concausa causa concomitante, entendendo que todo evento que tivesse alguma relao de causa e efeito, ainda que no fosse o nico responsvel pela morte, perda ou reduo da capacidade de trabalho, configuraria acidente de trabalho. Abrangeu, ainda, a preveno de acidentes e a assistncia, indenizao e reabilitao do acidentado. Na dcada de 50, o governo atendeu s presses polticas dos empregados da Petrobrs e concedeu, atravs da Lei 2.573, de 15/08/55, o adicional de periculosidade aos trabalhadores que prestassem servio em contato permanente com inflamveis, correspondente a 30% do valor do salrio. Atravs do Decreto Legislativo nmero 24, de 29/05/1956, o Brasil ratificou a Conveno nmero 81, da Organizao Internacional do Trabalho que estabelece que seus membros devem manter sistema de inspeo do trabalho.

O Decreto-Lei nmero 229, de 28/02/1967, modificou a Captulo V da Consolidao das Leis do Trabalho em vrios itens, destacando-se a exigncia que as empresas mantivessem Servios Especializados em Segurana e em Higiene do Trabalho. A Lei 5.316, de 14/09/1967 determinou que o seguro acidente de trabalho somente poderia ser feito com a Previdncia Social, tornando o seguro obrigatrio um monoplio estatal, fato que permanece inalterado at os dias atuais. A Portaria n. 3237, de 17 de julho de 1972, que fazia parte do "Plano de Valorizao do Trabalhador" do Governo Federal, e posteriormente sua substituta, a Portaria nmero 3460 de 31/12/1975, tornaram obrigatria a existncia de servios de medicina do trabalho e engenharia de segurana do trabalho em todas as empresas com um ou mais trabalhadores. A partir da divulgao das estatsticas oficiais e da comprovao da gravidade da situao, o Governo Federal intercedeu mais decisivamente nas questes de segurana e sade do trabalhador. Atravs da Portaria 3.237, de 17/07/1972, que regulamentou o Artigo 1647 da CLT, tornou obrigatria a existncia do Servio Especializado em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho SESMT - nas empresas. A Lei 6.514, de 22/12/1977, alterou o Captulo V, Ttulo II da Consolidao das Leis do Trabalho CLT, relativo Segurana e Medicina do Trabalho, legislao vlida at os dias atuais. Esta lei foi regulamentada atravs da Portaria 3.214 de 08/06/1978, que significou o grande salto qualitativo nas aes prevencionistas, estimulando uma atuao mais eficaz por parte das empresas, sindicatos, Ministrio do Trabalho, entre outros. Na dcada de 90, vrias Normas Regulamentadoras foram revisadas, atendendo nova filosofia de necessidade de gesto da segurana e sade ocupacional, principalmente com a NR 7 PCMSO Programa de Controle Mdico e Sade Ocupacional, NR 9 PPRA Programa de Preveno de Riscos Ambientais, NR 18 Condies e Meio Ambiente de Trabalho na Indstria da Construo, com o

PCMAT Programa de Condies e Meio Ambiente de Trabalho na Indstria da Construo.

- Conceitos de higiene e segurana do trabalho; Com o objetivo de melhor contextualizar a problemtica, faz-se necessrio apresentar alguns aspectos conceituais sobre sade e segurana do trabalho. Acidente do trabalho conceituado como o que ocorre pelo exerccio do trabalho a servio da empresa, provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause morte, a perda ou a reduo da capacidade para o trabalho permanente ou temporria. Ainda de acordo com INSS, os acidentes do trabalho podem ser classificados como: Acidentes tpicos, decorrentes da caracterstica da atividade profissional desempenhada pelo acidentado, acidentes de trajeto, quando ocorridos no trajeto entre a residncia e o local de trabalho e vice-versa e doenas profissionais, que so as desencadeadas pelo exerccio de trabalho peculiar a determinada atividade. As principais causas de acidentes do trabalho so: Atos inseguros: So todos os procedimentos do trabalhador que contrariem normas de preveno de acidentes. Condies Inseguras: So as circunstncias externas de que dependem as pessoas para realizar seu trabalho que estejam incompatveis ou contrrias com as normas de segurana e preveno de acidentes; so falhas e irregularidades existentes no ambiente de trabalho e que so responsabilidade da empresa. Fator Pessoal de Insegurana: qualquer fator externo que leva o indivduo prtica do ato inseguro: caractersticas fsicas e psicolgicas (depresso, tenso, excitao, neuroses, etc.), sociais (problemas de

relacionamentos, preocupaes de diversas origens); alteram o comportamento do trabalhador permitindo que cometa atos inseguros.

Os riscos ou agentes ambientais constituem um captulo importante de acidentes e doenas do trabalho. Esto includos nas condies inseguras e so definidos na NR n 9 Portaria 3214/78 Ministrio do Trabalho e Emprego. So estudados no ambiente interno do trabalho. So eles: agentes fsicos, qumicos e biolgicos. Os riscos mecnicos (ou riscos de acidentes) e ergonmicos no so descritos na NR 9, mas so agentes que tambm podem causar acidentes e doenas. Os riscos ambientais so capazes de causar danos sade do trabalhador, dependendo da natureza e concentrao do agente; da susceptibilidade do trabalhador exposto e do tempo de exposio. Agentes Fsicos: So as diversas formas de energia geradas por equipamentos e processos que podem causar danos sade dos trabalhadores expostos, tais como: rudo, calor, frio, vibraes, radiaes ionizantes e no ionizantes, presses anormais e umidade. A tabela abaixo relaciona os principais agentes ou riscos fsicos, descrevendo tambm suas fontes e principais danos aos trabalhadores. Agentes ou Riscos FsicosAgente Fsico 1) Rudo Fonte geradora Mquinas, equipamentos e veculos automotores. Danos sade dos trabalhadores - Efeitos diretos: reduo da capacidade auditiva at surdez; - Efeitos indiretos: alteraes no estado emocional / hipertenso. Insolao, cibra de calor, catarata, problemas cardiovasculares. Enregelamento dos membros e ulceraes de frio. Perda da sensibilidade ttil, problemas na circulao perifrica, articulaes, leses na coluna e nos rins.

2) Temperaturas Extremas Calor

Exposio ao sol ou locais prximos a fornos, caldeiras, solda / maarico, etc. Frigorficos e locais abertos, em regies frias abaixo de 10 C. Diversos tipos de veculos, mquinas e equipamentos, operados em vrias atividades profissionais.

3) Temperaturas Extremas Frio 4) Vibrao

5) Umidade

Em locais alagados ou encharcados.

Problemas na pele, ocorrncia de fungos, dentre outros.

6) Radiaes Ionizantes

Naturais (elementos radioativos encontrados na natureza, como o urnio) e artificiais (raios X, gama e beta). Naturais (produzidas pelo sol) e artificiais (produzidas por fornos, solda eltrica, oxiacetilnica, etc.).Atividades exercidas fora do ambiente com presso normal. Ex.: trabalhos em exploraes submarinas e obras de fundaes.

Cncer, anemias, cataratas, etc.

7) Radiaes no Ionizantes

Cncer de pele, vasodilatao, catarata, etc.

8) Presses Anormais

Problemas cardiovasculares e psquicos.

Agentes Qumicos: So aqueles que podem reagir com os tecidos humanos ou afetar o organismo, causando alteraes em sua estrutura e / ou funcionamento. Podem ser slidos, lquidos ou gasosos. - Slidos: So as poeiras e fumos metlicos, podendo ser de origem mineral (p. ex. jateamento de areia), vegetal (p. ex., de algodo) ou animal; os fumos metlicos so decorrentes de operaes com peas de ao (p. ex. solda, corte). - Lquidos: So os cidos e solventes que, em forma de pequenas partculas em suspenso no ar, podem causar danos ao sistema respiratrio. - Gasosos ou vapores: Exemplos: vapores de cidos, xido de nitrognio, monxido de carbono, vapores metlicos de mercrio, arsnio, mangans, etc. Os agentes qumicos podem causar diversos tipos de problemas pulmonares (alteraes na capacidade respiratria da pessoa), anemias, danos medula e ao crebro, diversos tipos de intoxicaes, leucemia, dentre outros. H trs vias bsicas de penetrao no organismo, dentre elas a via

respiratria a que oferece maior perigo, pois a maioria dos agentes qumicos seencontra sob a forma de gases, vapores e poeiras. A via cutnea ocorre em decorrncia, por exemplo, da manipulao de produtos qumicos, que penetram atravs dos poros e interstcios da pele. A via digestiva ocorre por meio de ingesto involuntria.

Agentes Biolgicos: so os vrus, bactrias, parasitas, fungos, protozorios, dentre outros; so microorganismos que invadem o organismo humano e causam diversas doenas, como a tuberculose, o ttano, a malria, a febre amarela, a febre tifide, a leptospirose e micoses. Os profissionais mais expostos a esses agentes so os profissionais da rea de sade (mdicos, bioqumicos, enfermeiros, etc.), funcionrios de hospitais e de laboratrios, lixeiros, aougueiros, trabalhadores rurais, trabalhadores de curtumes e de estaes de esgoto, dentre outros. Agentes Ergonmicos: So riscos decorrentes da falta de adaptao do trabalho ao homem. Trabalho, neste caso, envolve todo tipo de interao entre o homem e a atividade de produo. Desta forma a Ergonomia o conjunto de parmetros que devam se estudados e implantados de forma a permitir a adaptao das condies de trabalho s caractersticas

psicofisiolgicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um mximo de conforto, segurana e desempenho eficiente. Como exemplos de riscos ergonmicos podem ser destacados: Trabalho fsico pesado, posturas incorretas, ritmos excessivos, monotonia, trabalho noturno e em turnos, jornada prolongada, conflitos profissionais. Decorrentes destes riscos, vrias conseqncias podem ser relacionadas, tais como: cansao, lombalgia, DORT Doenas steo-Musculares Relacionadas ao Trabalho, LER Leses por Esforos Repetitivos, fraqueza, dores musculares, hipertenso arterial, diabetes, lcera, alteraes do sono, taquicardia.

Agentes Mecnicos (ou riscos de acidentes): So as condies inseguras (processo de trabalho e ambiente fsico), que podem existir nos locais de trabalho, capazes de provocar leses aos trabalhadores e danos materiais em instalaes. Fatores que facilitam os acidentes: mquinas sem proteo, equipamentos defeituosos, arranjo fsico inadequado, instalaes eltricas irregulares,

sobrecarga de equipamentos de transporte de materiais, estocagem imprpria de matria-prima ou produtos acabados; esses fatores podem desencadear acidentes como choque eltrico, incndios, esmagamento, amputao, corte, perfurao, quedas, dentre outros. As principais formas de proteo para os trabalhadores so os denominados Equipamentos de Proteo Individual EPI e os Equipamentos de Proteo Coletiva. A NR 6 Portaria 3214/78 MTE conceitua os EPI como todo dispositivo de uso individual, de fabricao nacional ou estrangeira, destinado a proteger a sade e a integridade fsica do trabalhador. O uso de EPI baseia-se em trs fatores bsicos: necessidade (quando no h condies de se eliminarem os riscos existentes no ambiente de trabalho), seleo (critrios de escolha e especificao) e utilizao (treinamento quanto ao uso adequado). Destacam-se como obrigaes do empregador quanto aos EPI: adquirir o tipo de EPI adequado para a atividade do empregado e aprovado pelo MTE (com CA Certificado de Aprovao), tornar obrigatrio o seu uso, treinar o trabalhador sobre seu uso adequado. Quanto ao empregado, algumas de suas obrigaes so: usar o EPI apenas para a finalidade a que se destina, responsabilizar-se por sua guarda e conservao. Os Equipamentos de Proteo Coletiva EPC so dispositivos utilizados no ambiente laboral com o objetivo de proteger um grupo de trabalhadores dos riscos inerentes aos processos. Podem ser destacados, como exemplos: isolamento de fonte de rudo ou de calor, sistema de ventilao / exausto, no caso de riscos provenientes de gases, vapores e aerodispersides, proteo nas mquinas, enclausuramento de processos (radiaes, utilizao de produtos qumicos) e proteo em escadas, passarelas e rampas. Outro aspecto importante o que se refere s estatsticas de acidentes do trabalho, onde so calculados valores que descrevem a freqncia e a gravidade dos acidentes. A taxa de freqncia (TF) que dada pela expresso: TF = NA x 106 HHT

A taxa de gravidade (TG), que dada pela expresso:TG = (NP + ND) x 106 HHT Onde: NA: Nmero de acidentes ocorridos (SPT/ CPT) em um determinado perodo de tempo Obs.: Os acidentes SPT (sem perda de tempo) ocorrem quando o trabalhador pode retornar s suas atividades no dia seguinte ao do acidente, enquanto que, no caso dos acidentes CPT (com perda de tempo), isso no possvel. NP: Nmero de dias perdidos pelo trabalhador acidentado (entre o dia seguinte ao do acidente e o dia da alta mdica), em um determinado perodo de tempo. No so computados os acidentes SPT. ND: Nmero de dias debitados, correspondendo aos casos de acidentes com morte ou com incapacidade permanente, total ou parcial. fixada conforme tabela constante da NB (Norma Brasileira) n 18. HHT: Nmero de horas homem trabalhadas (de exposio ao risco), no perodo de tempo considerado no NA e no NP. TF: Representa a quantidade de acidentes que podero ocorrer na Organizao em um prazo de 1.000.000 de horas-homem de exposio ao risco. TG: Representa a quantidade de dias perdidos e debitados na Organizao em um prazo de 1.000.000 de horas-homem de exposio ao risco. Outras obrigatoriedades previstas pela legislao relativas s questes de SST: SESMT Servio Especializado em Segurana e Medicina do Trabalho: Trata-se de equipe composta por Engenheiros e Tcnicos de Segurana do Trabalho, Mdicos do Trabalho, Enfermeiros e Auxiliares de Enfermagem do

Trabalho. A NR Norma Regulamentadora n 4 define, conforme as caractersticas da Empresa, quanto ao seu porte e grau de risco, os profissionais e a quantidade que devero ser contratados, com vnculo empregatcio. As atribuies do SESMT tm abrangncia conforme a especializao e habilitao profissional do componente.

CIPA Comisso Interna de Preveno de Acidentes do Trabalho: Trata-se de equipe composta por empregados da empresa, sem a

obrigatoriedade de terem alguma formao na rea de SST. A NR n 5 determina que a CIPA deve ser composta por representantes da empresa (por nomeao) e dos empregados (por eleio), que tero mandato de um ano, em quantidade conforme o porte da empresa e da classificao da mesma. Dentre as atribuies, pode-se destacar a busca de medidas de preveno de acidentes e doenas decorrentes do trabalho.

Segurana do trabalho no Brasil, aspectos organizacionais O arcabouo legal no campo da segurana e sade no trabalho, j citado anteriormente constitui uma tentativa do governo de inserir segurana do trabalho no cotidiano da sociedade, entendendo a estratgia legalista como suficiente para resolver os graves problemas sociais e econmicos, oriundos dos ambientes laborais inadequados e das relaes entre capital e trabalho. Cabe uma critica ao paradigma legalista da segurana atravs de seu prprio conceito vigente poca: Segurana o conjunto de Normas, Tcnicas e Procedimentos que objetivam a preveno de perdas, sejam incidentes nos recursos humanos, materiais, financeiros ou sobre o meio ambiente. Uma primeira exigncia legal digna de considerao a obrigatoriedade por parte das empresas de manter, em funo de seu ramo de atividade e nmero de

empregados, Servio de Engenharia de Segurana e Medicina do Trabalho SESMT, que ser visto com mais profundidade no captulo 3 desta dissertao. Os SESMTs tm sofrido as mais diversas criticas no s em relao qualidade de seus servios, mas tambm pela sua credibilidade, como argumenta Mais que propriamente avaliar a qualidade tcnica, a eficcia, a eficincia e a produtividade destes Servios, o que est em jogo, na verdade, a prpria credibilidade, quer por sua vinculao patronal, como questionam alguns, quer por prticas que se afastam da tica que deve nortear os profissionais que dirigem e/ou trabalham nesses Servios. Os SESMTs esto na pauta de discusso da sociedade, tendo em vista a inteno do Ministrio do Trabalho de alterar a redao da Norma

Regulamentadora n 4, apresentando os seguintes principais pontos polmicos: Mudana de nome de SESMT para SEST (Servio Especializado em Segurana e Sade no Trabalho);

Toda empresa dever implantar o Sistema Integrado de Preveno de Riscos do Trabalho - SPTR, no qual estar includo o servio de segurana e sade;

Alterao nos critrios para constituir SEST. Na prtica, haveria a reduo no dimensionamento dos servios prprios de segurana e sade;

As empresas com mais de 20 empregados devero constituir SEST externo, ou seja, terceirizao do servio;

As empresas obrigadas a constituir SEST prprio ou externo, desde que instaladas num mesmo estabelecimento ou pertencerem a um mesmo setor produtivo, podero constituir SESTs coletivos.

O debate em torno da alterao dos servios de segurana e sade est envolvendo os mais diversos representantes da sociedade organizada, desde

entidades sindicais de trabalhadores e empregadores, associaes de classe, entidades do governo, revistas especializadas, entre outros. Um tema central que deveria ser debatido o atual modelo de segurana e sade vigente no Pas, pois a legislao talvez seja apenas um dos pontos a ser discutido no atual modelo, e de nada adiantar sua atualizao se no houver uma estrutura que o torne eficaz. Outra legislao polmica trata do pagamento dos adicionais de

insalubridade, previsto na Norma Regulamentadora n 15. Esta soluo simplista baseia-se no pagamento de uma compensao pecuniria ao trabalhador, que desenvolve atividades em locais que possam afetar sua sade. Pode-se tentar explicar a motivao para criao dos primeiros adicionais de insalubridade: Raciocinavam os adeptos dessa medida que esse pagamento teria duas utilidades: de um lado, aumentaria o salrio dos trabalhadores, permitindo-lhes uma alimentao melhor, da qual resultariam melhores condies de defesa do organismo contra os agravos do trabalho; por outro lado, constituiria em nus ao empregador que, para evita-lo, procuraria melhorar as condies dos ambientes de trabalho. Vrias so as crticas ao adicional de insalubridade, muitos entendem haver um acordo tcito na sociedade em decorrncia do adicional de insalubridade: os trabalhadores submetem-se a condies insalubres para, alm de receber a recompensa pecuniria devida, poder fazer jus aposentadoria especial. Os empregadores pagam o adicional por ser mais barato que tomar as medidas de controle necessrias. O governo admite tudo isso devido a sua incapacidade de intervir na relao capital/trabalho, garantindo melhores ambientes laborais. A partir de 1995 o Ministrio do Trabalho deu nova redao s Normas Regulamentadoras n 07, 09 e 18, inserindo em seus textos a exigncia de elaborao por parte das empresas de trs programas, respectivamente: Programa de Controle Mdico e Sade Ocupacional - PCMSO, Programa de Preveno de

Riscos Ambientais - PPRA e Programa de Condies e Meio Ambiente de Trabalho na Indstria da Construo - PCMAT. Os programas objetivaram estabelecer um compromisso das empresas com os trabalhadores, obrigando que estas planejassem a segurana e sade com a devida documentao de todos os procedimentos planejados e executados. Esta documentao passaria a ser um registro histrico das atividades prevencionistas da empresa, ficando disposio da fiscalizao, dos representantes sindicais, entre outros. No que pese que o objetivo da legislao a melhoria das condies de trabalho, novamente ela foi inserida sem ter uma base de sustentao que garantisse sua aplicao consistente e de forma eficiente. A principal deficincia o fato dos empregadores e empregador entenderem o PPRA como uma obrigao e no como um benefcio. Os autores entendem que o sucesso do PPRA depende, fundamentalmente, do

comprometimento dos gestores da empresa com a segurana e sade no trabalho: Na medida em que os gestores das empresas incorporarem a cultura da segurana do trabalho passaro a exigir a realizao de um PPRA real e no um programa fracionado, que envolva somente itens de higiene do trabalho. Exigindo a construo do programa de forma integrada, envolvendo as ferramentas que propiciem um fator a mais ao processo (qualidade), alm dos aspectos de segurana propostos.

Sistema de gesto em segurana e sade do trabalho Na dcada de 70, com a criao da Fundacentro, rgo ligado ao MTE Ministrio do Trabalho e Emprego, as primeiras pesquisas sobre sade e segurana ocupacional foram desenvolvidas. Com a publicao da Lei Federal n 6514/77, que alterou o Cap. V do Tt. II da CLT Consolidao das Leis Trabalhistas e da Portaria 3214/78, que aprovou as Normas Regulamentadoras (NR), relativas SST Sade e Segurana do Trabalho, houve um grande salto rumo a melhores condies de trabalho. Contudo, a realidade era demonstrada por uma tmida

atitude prevencionista, iniciada pelos primeiros profissionais de sade e segurana ocupacional e um comportamento punitivo e policialesco por parte dos rgos fiscalizadores governamentais. Sensvel evoluo ocorreu nas dcadas de 80 e 90, com as alteraes das normas referentes s prticas de SST, principalmente com o PPRA Programa de Preveno de Riscos Ambientais (NR n 9) e o PCMSO Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional (NR n 7). O PPRA visa a preservao da sade e da integridade fsica dos trabalhadores atravs da antecipao, reconhecimento, avaliao e conseqente controle da ocorrncia de riscos reais ou potenciais do ambiente de trabalho. O PCMSO, que deve estar em sintonia com o PPRA, tem como objetivo a promoo e preservao da sade do conjunto dos trabalhadores. Outra evoluo ocorreu com a criao da CIPA Comisso Interna de Preveno de Acidentes (NR n 5), cuja finalidade , atravs da ao dos prprios trabalhadores, promover a melhoria das condies dos ambientes de trabalho.

Normas e especificaes existentes a nvel internacionalNo final da dcada de 90 havia uma carncia e demanda muito forte por parte das empresas ao redor do mundo por uma norma internacional para o sistema de gesto de sade e segurana que pudesse servir como base para a avaliao e certificao de seus prprios sistemas de gesto nessa rea. Por iniciativa de diversos organismos certificadores e de entidades nacionais de normalizao foi publicado, pela BSI British Standards Institution, em 1999, a especificao OHSAS 18001, cuja sigla significa Occupational Health and Safety Assessment Series. Um dos documentos que serviu de base para a elaborao da OHSAS 18001 foi a BS 8800:1996 Guide to Occupational Health and Safety Management Systems, que no uma especificao, mas um guia de diretrizes. Conforme De Cicco, 2002c, importante frisar que esse novo documento no uma norma nacional nem uma norma internacional, visto que no seguiu a "liturgia" de normalizao vigente. Por isso, a certificao em conformidade com a OHSAS

18001 somente poder ser concedida pelos Organismos Certificadores (OCs) de forma "no-acreditada", ou seja, sem credenciamento para esse tema por entidade oficial que, no caso brasileiro, o Inmetro. A tabela abaixo apresenta, a nvel internacional, um breve histrico dos modelos para o gerenciamento da SGSST. Breve Histrico dos Modelos para o Gerenciamento da SGSSTData Maio / 1996 Fato ocorrido publicada a BS 8800, que um guia de orientao para a implantao de um SGSST, pelo BSI British Standard Institution, organismo de certificao ingls. ISO no aprova a criao de um grupo de trabalho para uma norma de gerenciamento de SGSST. BSI Standards constitui um comit, composto pelos maiores organismos de certificao e por alguns organismos nacionais de normatizao, para esboar uma norma unificada para SGSST. ISO ratifica sua deciso de setembro / 96 Publicado draft OHSAS 18001 Publicada a OHSAS 18001. Publicado draft OHSAS 18002

Setembro / 1996

Novembro / 1998

Incio de 1999 Fevereiro / 1999 Abril / 1999

A Especificao OHSAS 18001 foi desenvolvida para ser compatvel com as normas para Sistema de Gesto de Qualidade ISO 9001 e Sistema de Gesto Ambiental ISO 14001 para facilitar a integrao dos sistemas, no caso da organizao assim o desejar. Assim, seus elementos so dispostos conforme a figura 1 De acordo com a norma OHSAS 18001, Sistema de Gesto de Sade e Segurana do Trabalho SGSST, aquela parte do sistema de gesto global que facilita o gerenciamento dos riscos de SST associados aos negcios da organizao. Isto inclui a estrutura organizacional, as atividades de planejamento, as responsabilidades, prticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a poltica de SST da organizao.

Figura 01 Elementos bsicos do sistema OHSAS 18001

Conceito de Sistema de Gesto Integrada (SGI) Com a crescente presso para que as organizaes racionalizem seus processos de gesto, vrias delas vem na integrao dos Sistemas de Gesto uma excelente oportunidade para reduzir custos relacionados, por exemplo: a manuteno de diferentes estruturas de controle de documentos, auditorias, registros. Tais custos e aes, em sua maioria, se sobrepem e, portanto, acarretam gastos desnecessrios. O Sistema de Gesto Integrada pode ser definido como a combinao de processos, procedimentos e prticas utilizados em uma organizao para implementar suas polticas de gesto e que pode ser mais eficiente na consecuo dos objetivos oriundos delas do que quando h diversos sistemas individuais se sobrepondo. A integrao dos sistemas de gesto pode abranger diversos temas, tais como: qualidade, meio ambiente, segurana e sade ocupacional, recursos humanos,

controle

financeiro,

responsabilidade

social,

dentre

outros,

conforme

esquematizado na figura abaixo. No h uma certificao especfica para SGI. So trs certificaes diferentes (Qualidade, Meio Ambiente e Sade e Segurana do Trabalho). Porm, estes sistemas de gesto implementados segundo normas distintas podem ser integrados

Tipos de implantao de SGI Conforme as caractersticas da empresa que est implementado o SGI, diferentes caminhos podem ser percorridos durante as etapas de implementao. Diversos fatores influenciam na deciso de como a mesma ser conduzida, como a existncia ou no de sistemas de gesto j implantados, sejam quais forem, a cultura de gesto em vigor na empresa, o planejamento da direo, considerando objetivos, prazos e motivaes. Os recursos financeiros e humanos tambm tm grande influncia neste processo. Existem duas formas de integrao verificadas em empresas europias: i. Implementao seqencial de sistemas individuais qualidade, meio ambiente e sade e segurana so combinados, formando o SGI; ii. Implementao do SGI, sendo que apenas um sistema engloba todas as trs reas. Para essa forma de implementao, a metodologia escolhida est baseada nas teorias da anlise de risco, cujo significado pode ser usado como

um fator integrador risco para o meio ambiente, para a sade e dos empregados e populao ao redor e risco de perdas econmicas decorrentes a problemas no produto Existem diversas formas de implantao de SGI. Tais formatos dependem de caractersticas prprias da Organizao que ir implant-los. Desta forma, antes da implementao, deve-se definir a forma de desenvolvimento do SGI mais adequada e eficiente, que atenda s necessidades da Organizao. Ressalta-se que o atendimento a tais necessidades no implica necessariamente em um processo formal de certificao, podendo estar restrito apenas a melhorias nos processos e produtos da Organizao. Sistemas Paralelos: Os sistemas so separados e, para suas diferentes especificidades (sade e segurana do trabalho e meio ambiente), apenas os formatos quanto numerao, terminologia e organizao so semelhantes. Nessa proposta, a organizao ter dois ou trs: - Representantes da administrao; - Programas de treinamento; - Conjuntos de documentos; - Programas de controle de documentos e dados; - Instrues de trabalho; - Sistemas de gesto de registros; - Sistemas de calibrao; - Programas de auditoria interna; - Controles de procedimentos para no-conformidades; - Programas de aes corretivas e preventivas; - Reunies para anlise crtica pela administrao.

Sistemas Fundidos: Neste caso, h o compartilhamento de algumas partes dos sistemas de gesto relacionadas com procedimentos e processos, porm continuam sendo sistemas separados em vrias outras reas. O grau de integrao, em geral, depender da prpria organizao. Alguns processos podem ser comuns aos sistemas, como: - Sistema de registros de programas de treinamento; - Programa de controle de documentos e dados; - Sistemas de calibrao; - Sistema de gesto de registros. Dentre outros itens, a organizao continuar tendo dois: - Representantes da administrao; - Programas de treinamento; - Conjuntos de documentos; - Programas de auditoria interna; - Controles de procedimentos para no-conformidades; - Programas de aes corretivas e preventivas; - Reunies para anlise crtica pela administrao. Nesse nvel de integrao, a organizao j se encontra caminhando em direo a uma proposta mais eficiente e menos redundante. Porm, continua gastando muita energia com a manuteno dos dois sistemas, tendo que determinar onde um termina e onde o outro comea. Enquanto, por um lado, temos a proposta de integrao parcial dos sistemas fundidos, por outro, temos a proposta de integrao total a proposta do SGI.

Sistemas Totalmente Integrados: A proposta do SGI envolve um sistema de gesto homogneo, adequado tanto aos requisitos da ISO 14001 e aos da BS 8800 / OHSAS 18001. Todos os elementos dos sistemas de gesto so comuns, ou seja, h apenas um: - Conjunto de documentos; - Poltica abrangendo os diferentes requisitos; - Representante da administrao; - Sistema de gesto de registros e de treinamentos; - Sistema de controle de documentos e dados; - Conjunto de instrues de trabalho; - Sistema de calibrao de equipamentos; - Programa de auditoria interna (incluindo uma nica equipe de auditores qualificados); - Plano de reao s no-conformidades especficas; - Programa de aes corretivas e preventivas; - Sistema de gesto de registros; - Reunio para anlise crtica pela administrao. Os elementos relativos aos requisitos de cada uma das normas que no forem comuns tornam-se procedimentos independentes. O principal argumento que tem compelido as empresas a integrar os processos de qualidade, meio ambiente e de segurana e sade no trabalho o efeito positivo que um SGI pode ter sobre os funcionrios. A sinergia gerada pelo SGI tem levado as organizaes a atingir melhores nveis de desempenho, a um custo global muito menor. Visto que ainda no h uma norma ou guia especfico para implementao de SGI, a mesma deve estar baseada no atendimento aos requisitos especficos das

normas ISO 14001 e pelos guias (ou diretrizes) BS 8800 e OHSAS 18001. Alm disso, importante salientar que no existe organismo credenciador que tenha estabelecido procedimentos permitindo a emisso de certificados baseados em SGI. Os requisitos devem, portanto, contemplar os seguintes elementos: Anlise crtica inicial; Poltica integrada de meio ambiente e segurana e sade no trabalho; Planejamento, implementao e operao; Verificao e aes corretivas; Anlise crtica pela administrao.