apostila filosofia

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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA A palavra Filosofia é a junção dos termos "filo” e "Sofia” que significam respectivamente "amigo” e "saber", ou seja, amigo do saber. Nasce enquanto Ciência na Grécia no séc. VI a. C, com os pensadores pré-socráticos. O principal entrave para a estruturação da Filosofia enquanto Ciência é a dificuldade em DESMISTICAR o pensamento e assim realizar a compreensão racional da realidade. A primeira tentativa de uma explicação racional de mundo se dá com a passagem do MITO para o LOGOS. MAS, O QUE É FILOSOFIA? É a Ciência que se esforça para compreender e explicar a realidade. Aristóteles a definia da seguinte maneira: "É a Ciência que procura explicar todas as outras, porém não explica a si mesma", diz isto, pois pra ele está contida na Filosofia a essência de todas as outras Ciências, sejam elas, Humanas, Exatas ou Biológicas, todas elas estão pautadas na capacidade de PENSAR, que é unicamente humana. Na ânsia de explicar e compreender a realidade, a Filosofia não só dá sustentação como produz os desdobramentos das Ciências. Daí, a particularização da Ciência, física, interessam os movimentos dos corpos; à biologia, a natureza dos seres vivos; à química, as transformações da substâncias; à astronomia, os corpos celestes; à psicologia, os mecanismos do funcionamento da mente humana; à sociologia, a organização social, etc. Os desdobramentos não se dão apenas na constituição de outras Ciências,, mas também para a própria Filosofia, ao se multiplicar num campo intenso de transformações como: Política, Poder, Estado, Cidadania, Contratualismo, Ética, Moral, Razão, Cristianismo, Teoria do Conhecimento, Estética, Cultura de Massa, Industria Cultural, enfim, tudo aquilo que compõe a realidade, e, portanto, constitui o objeto Filosófico, dando meios para que os pensadores construam a CIÊNCIA DA SABEDORIA. Quando nasceu englobava tanto a indagação filosófica propriamente dita, quanto o que hoje chamamos de conhecimento científico. O Filósofo teorizava sobre todos os assuntos, 1

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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

A palavra Filosofia é a junção dos termos "filo” e "Sofia” que significam respectivamente "amigo” e "saber", ou seja, amigo do saber. Nasce enquanto Ciência na Grécia no séc. VI a. C, com os pensadores pré-socráticos.

O principal entrave para a estruturação da Filosofia enquanto Ciência é a dificuldade em DESMISTICAR o pensamento e assim realizar a compreensão racional da realidade. A primeira tentativa de uma explicação racional de mundo se dá com a passagem do MITO para o LOGOS.

MAS, O QUE É FILOSOFIA?

É a Ciência que se esforça para compreender e explicar a realidade. Aristóteles a definia da seguinte maneira: "É a Ciência que procura explicar todas as outras, porém não explica a si mesma", diz isto, pois pra ele está contida na Filosofia a essência de todas as outras Ciências, sejam elas, Humanas, Exatas ou Biológicas, todas elas estão pautadas na capacidade de PENSAR, que é unicamente humana.

Na ânsia de explicar e compreender a realidade, a Filosofia não só dá sustentação como produz os desdobramentos das Ciências. Daí, a particularização da Ciência, física, interessam os movimentos dos corpos; à biologia, a natureza dos seres vivos; à química, as transformações da substâncias; à astronomia, os corpos celestes; à psicologia, os mecanismos do funcionamento da mente humana; à sociologia, a organização social, etc.

Os desdobramentos não se dão apenas na constituição de outras Ciências,, mas também para a própria Filosofia, ao se multiplicar num campo intenso de transformações como: Política, Poder, Estado, Cidadania, Contratualismo, Ética, Moral, Razão, Cristianismo, Teoria do Conhecimento, Estética, Cultura de Massa, Industria Cultural, enfim, tudo aquilo que compõe a realidade, e, portanto, constitui o objeto Filosófico, dando meios para que os pensadores construam a CIÊNCIA DA SABEDORIA.

Quando nasceu englobava tanto a indagação filosófica propriamente dita, quanto o que hoje chamamos de conhecimento científico. O Filósofo teorizava sobre todos os assuntos, procurando responder não só o porquê das coisas, mas, também, o funcionamento delas.

CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA

AS VIAGENS MARÍTIMAS: as viagens produziram o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, algo que o mito já não podia oferecer.

A INVENÇÃO DO CALENDÁRIO: o que revelou uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível.

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A INVENÇÃO DA MOEDA: que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, feita por cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização.

SURGIMENTO DA VIDA URBANA: o surgimento da classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio, pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente no qual a Filosofia poderia surgir.

O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA ALFABÉTICA: que como o calendário e a moeda, revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, pois não se representa uma imagem da coisa que se pensa e se transcreve, diferente dos hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses.

O DESENVOLVIMENTO DA POLÍTICA: que vai introduzir a idéia de lei, o surgimento de um espaço público, e o estímulo a um pensamento e um discurso que não sejam aqueles formulados por seitas secretas, ou construídos através dos mistérios sagrados. Neste novo espaço de discussão as idéias passam a ser públicas, ensinadas, transmitidas, comunicadas e discutidas.

PERÍODOS DA FILOSOFIA

PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO: (séc. VII-V a c.) Os pensadores se preocupavam com problemas cosmológicos, suas indagações eram como surge o cosmo, qual o seu princípio? Quais as fases e os momentos da sua geração etc. É esta problemática que absorve toda a primeira fase da filosofia grega. Período Naturalista, em que o interesse filosófico é voltado para o mundo da natureza. Afirmavam que as coisas existem em si mesmas, independente da consciência que as pensam. Está ideologia assumi o ponto de vista realista. Esse realismo é, portanto, uma concepção filosófica, situada no plano ontológico, que afirma a existência de uma realidade exterior à mente humana, independentemente do conhecimento que o homem tenha dela. Estudar o mundo exterior nos elementos que o constituem, na sua origem e nas contínuas mudanças a que está sujeito é a grande questão que dá a este período seu caráter de unidade. Surge e floresce fora da Grécia propriamente dita, nas prósperas colônias gregas da Ásia Menor, do Egeu (Jônia) e da Itália meridional, da Sicília. Os filósofos desse período podem ser divididos em quatro escolas: Jônica, Itálica, Eleática e Atomística.

ESCOLA JÔNICA: preocupava-se em achar a substância única, a causa, o princípio do mundo natural, vário, múltiplo e mutável. Floresceu em Mileto e seus expoentes mais conhecidos são: Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto e Anaxímenes de Mileto. Os Jônios posteriores que têm seu grande expoente em Heráclito de Éfeso distinguem-se por imprimirem outra orientação aos estudos cosmológicos, encarando o universo no seu aspecto dinâmico, e procurando resolver o problema do movimento e da transformação dos corpos.

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Tales (624-548 a C.) é considerado o fundador da escola jônica e o mais antigo filósofo grego, para ele, a água era a substância única de todas as coisas. A terra era concebida como um disco boiando sobre a água, no oceano. Foi matemático e astrônomo, e predisse pela 1ª vez entre os gregos, os eclipses do sol e da lua, estudou o movimento dos astros para orientar a navegação, mas nada escreveu. De seu pensamento só restam interpretações formuladas por outros filósofos que lhe atribuíram a idéia básica, a de que tudo se origina da água.

Anaximandro (611-547 a C.) era geógrafo, matemático, astrônomo e político, discípulo e sucessor de Tales, coloca como princípio universal uma substância indefinida a que chamava de ápeiron (ilimitado), imagina a terra como um disco suspenso no ar, o ápeiron está em constante movimento, e disto resulta uma série de pares opostos como água e fogo, frio e calor etc., que constituem o mundo. O ápeiron é algo abstrato, que não se fixa diretamente em nenhum elemento palpável da natureza. Ampliando o conceito de Tales, foi o primeiro a formular a idéia de uma lei universal presidindo o processo cósmico total.

Anaxímenes (588-524 a C.) para ele o mundo é comandado pelo ar, um elemento não tão abstrato como o ápeiron, nem palpável demais como a água. Tudo provém do ar, através de seus movimentos: o ar é respiração e é vida, o fogo é ar rarefeito, a água, a terra, a pedra são formas cada vez mais condensadas do ar.

O questionamento que dominou a filosofia pré-socrática foi: qual seria o primeiro elemento, a partir do qual se comporiam e decomporiam as demais coisas.

Havendo Tales de Mileto proposto que este princípio seria a água - deu abertura a um questionamento de difícil solução, dada a precariedade dos recursos de observação do seu tempo, e que ainda hoje não são suficientes.

As razões que levaram Tales a estabelecer a água como princípio de todas as coisas podem ser examinadas sob vários enfoques, desde o apoio dos mitos, passando pelas preocupações científicas nascentes da época, até as tentativas de provas objetivamente examinadas.

Daqui para a frente, para a investigação da história da filosofia, o que importa nas informações, não são mais o informe sobre a água, mas sim as razões que conduziram este questionamento. Sugestões dos mitos sobre a água, no sentido de elegê-la como elemento primordial que contribuiu certamente na literatura mítica, a qual não deixou de ser citada pelos comentaristas posteriores.

COMO RELACIONAM A QUESTÃO:

Ainda que não por argumentos racionais, a água exerce significativa função nas cosmogonias míticas. Por isso, a hipótese de Tales teve facilidade de aceitação, ainda que ele a tenha levado com base em observações objetivas.

Advertiu Aristóteles, sobre o apoio dos mitos à hipótese de Tales, no qual ele destaca a água como elemento primordial, mencionando as cosmogonias míticas:

"Segundo alguns, também os antigos, aqueles que muito antes de nós viveram e que primeiro discorreram a cerca dos deuses, da mesma maneira consideravam a natureza, pois fizeram do Oceano e de Tétis os autores de toda a geração, e da água a testemunha do juramento dos

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próprios deuses, aquela água que os poetas denominaram Estige. Com efeito, o mais venerando é o mais antigo, e aquilo por que se jura, o mais venerando.” (Pensamento da Escola Jônica)

A água assume uma primordial importância na ciência da antiguidade. Mas é preciso nos advertir que a ciência do tempo de Tales se preocupava, quase que exclusivamente, e por diversas razões, com a água.

Os exemplos sobre o caráter aquoso de tudo poderá ter sido um saber vindo da medicina, que nos prístinos tempos da Grécia principia a dar seus primeiros passos.

A água, de que falou Tales, deve ser entendida como elemento comum do qual tudo provêm.

Não se pode compreender a afirmativa de Tales apenas no moderno sentido de água, como um elemento composto de oxigênio e hidrogênio. Na hipótese de Tales, o que importava em primeiro plano era dizer, que devia haver um elemento de base a partir do qual tudo se faria. Neste sentido geral de sua hipótese, nada mudaria essencialmente se outro, que não a água, fosse este primeiro elemento.

Os seres não seriam cada um novo elemento específico. As transformações não se fariam pelo aparecimento de uns seres e desaparecimento de outros. Tudo é fundamentalmente constante. Nada se faz em termos absolutos, nem desaparece em absoluto. Nada se cria, e nada morre, tudo se transforma, como que em ciclos.

Tales também quer, como depois se darão os detalhes, que um só é o elemento básico de tudo, inclusive do mundo psíquico e divino. Eis o monismo filosófico, que vê a unidade de todo o ente. Errado ou certo, raciocinou Tales com método, com análises e sínteses. Ele já se distancia do pensamento simplista, que é incapaz de raciocinar sistematicamente.

A tendência da filosofia pré-socrática foi o monismo metafísico, desde seu início. E este monismo, sobretudo para os filósofos jônicos, é materialista.

Além do monismo no plano metafísico, ocorre a mesma questão no plano da natureza - a de se saber se o corpo e o espírito são duas substâncias irredutíveis (dualismo), ou se são manifestações de uma só (monismo, ou reducionismo, ou materialismo espiritualista).

Para os filósofos pré-socráticos da Escola Jônica (antiga e nova) corpo e espírito não são irredutíveis.

Tales concebeu toda a matéria como tendo a função da vida. Isto não resulta da convivência dualista, de vida e espírito, com a matéria, e sim na universalidade da presença da vida e do espírito como elemento intrínseco à mesma matéria.

Então o que importa entender, é que a filosofia das escolas jônicas tendia para o monismo, quer no plano metafísico, quer no plano da natureza.

O Estudo do Homem não era o ponto de partida para as análises filosóficas. Porém, os pré-socráticos não esqueceram totalmente o Homem, ainda que enfatizassem a investigação sobre a natureza. Isso não fora mesmo possível, porque também o Homem é parte da mesma.

Citam-se as seguintes palavras de Aristóteles se referindo ao que seria a sua doutrina fundamental:

“ Tales diz que o princípio é a água pelo que ele sustentava que a própria terra está fundada sobre a água. Para afirmar isso ele se apoiava no fato de que via que o alimento de todas as coisas é o úmido e inclusive o que é quente nasce e vive no úmido. Ora aquilo de que

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tudo se engendra é o princípio de tudo. Por isso, Tales aderiu a tais conjecturas, e ainda mais porque as sementes de todas as coisas possuem natureza úmida e a água nas coisas úmidas é o princípio de sua natureza.”

HERÁCLITO DE ÉFESO: nasceu em Éfeso, cidade da Jônia, de família que ainda conservava prerrogativas reais (descendentes do fundador da cidade). Seu caráter altivo, misantrópico e melancólico ficou proverbial em toda a antigüidade. Desprezava a plebe. Recusou-se sempre a intervir na política. Manifestou desprezo pelos antigos poetas, contra os filósofos de seu tempo e até contra a religião. Sem ter sido mestre, Heráclito escreveu um livro Sobre a Natureza, em prosa, no dialeto jônico, mas de forma tão concisa que recebeu o cognome de Skoteinós, o Obscuro. Floresceu em 504-500 a.C. - Heráclito é por muitos considerados o mais eminente pensador pré-socrático, por formular com vigor o problema da unidade permanente do ser diante da pluralidade e mutabilidade das coisas particulares e transitórias. Estabeleceu a existência de uma lei universal e fixa (o Lógos), regedora de todos os acontecimentos particulares e fundamento da harmonia universal, harmonia feita de tensões, "como a do arco e da lira.”

NO MESMO RIO ENTRAMOS E NÃO ENTRAMOS, SOMOS E NÃO SOMOS.”

PERÍODO SOCRÁTICO

Sócrates é conhecido através de Aristófanes, que o denigre sob uma visão caricatural; também temos a visão dada por Xenofonte, que o reduz a uma imagem simplista; e por fim de Platão, que lhe dá uma estatura fundamental na história da filosofia.

No ano de 399 a.C., Sócrates foi acusado de "introduzir novos deuses" (as "vozes interiores divinas" que ele afirmava ouvir na cabeça) e corromper os jovens, além de não acreditar nos deuses venerados. Sócrates, por outro lado, não escondia acreditar que seria melhor para o Estado ser governado por uma só pessoa, que ele qualificava como "aquele que sabe". Alguns consideravam os pontos de vista de Sócrates uma ameaça à estrutura da vida em Atenas, pois o governo da cidade foi uma das primeiras democracias do mundo e preocupado com a influência antidemocrática de Sócrates sobre os jovens aristocratas (entre eles Platão) envolvidos no pensamento socrático, um júri de 501 membros o declarou culpado, por pequena maioria.

Ele poderia ter pedido clemência. Poderia ter salvado a vida concordando em sair de Atenas. Mas, agindo desse modo, Sócrates não teria sido coerente consigo mesmo. Para ele, a consciência - e a verdade - tinham mais valor do que a vida.. Assegurou ao júri que agira apenas pelo melhor dos interesses do Estado, mas foi condenado a tomar cicuta. Embora lhe preparassem a fuga de Atenas, preferiu cumprir a pena. Pouco depois da sentença, bebeu do veneno na presença de amigos e morreu. A democracia fracassava, ao permitir sua condenação e morte - e esse era, certamente, o plano de Sócrates.

A Atenas da época de Sócrates era um importante centro de debates, visitado por todos os grandes pensadores de então. Um desses grupos de filósofos itinerantes era chamado de sofista. Os sofistas ensinavam por dinheiro, ao mesmo tempo que afirmavam que as indagações da filosofia, os enigmas do universo, jamais seriam respondidas pelo mortal - uma perspectiva filosófica conhecida como ceticismo. Com os

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sofistas e Sócrates, o centro da reflexão filosófica grega deslocou-se dos problemas cosmológicos para os problemas humanos, particularmente a ética. E, para Sócrates, a virtude se identificaria com o saber: o homem só agiria mal por ignorância.

Assim como os sofistas, Sócrates tinha mais interesse no homem e em seu lugar na sociedade do que nas forças da Natureza. Ao contrário deles, Sócrates jamais recebeu dinheiro em troca de ensinamentos, e se distinguia dos sofistas em um outro aspecto bastante importante: Sócrates não se considerava um "sofista" - ou seja, uma pessoa erudita ou sábia. Tendo encontrado a sociedade ateniense minada pela demagogia e pelas repercussões negativas da desastrosa Guerra do Peloponeso, o filósofo teria se empenhado, a partir dos 40 anos, na reestruturação moral de seus concidadãos. Passou, então, a viver nas ruas de Atenas ensinando a virtude e a sabedoria. Não aceitava pagamento por isso e tampouco aceitou cargos públicos. Opôs-se aos sofistas, afirmando que o conhecimento é possível e que seu objeto primordial é a própria alma. “Ele achava que o filósofo é aquele que admite não entender inúmera coisas, e que se aflige com isso. Nesse sentido, o filósofo ainda é mais sábio do que aqueles que se orgulham do conhecimento que têm das coisas sobre as quais, na verdade, nada sabem. Sócrates declarou: ‘Só sei que nada sei.’ ”.

Embora colocasse em constante dúvida a extensão de seu conhecimento (um método que Descartes usaria cerca de dois mil anos mais tarde), Sócrates achava possível um homem alcançar verdades absolutas acerca do Universo. Ele sentia a necessidade de estabelecer uma base sólida para nosso conhecimento, um alicerce que, segundo ele, estaria na razão do homem. Com essa inabalável crença na razão humana, Sócrates era decididamente um racionalista.

Ele afirmava que era guiado por uma voz interior divina, e que essa "consciência" lhe dizia que ele estava certo. Ele disse: "Aquele que conhece o bem faz o bem". Com isso, queria dizer que o entendimento justo leva à ação justa. E só o justo pode ser um "homem virtuoso". Quando agimos erradamente é porque nada sabemos.. Sócrates estava interessado em descobrir definições claras e universalmente válidas para o certo e o errado. Ao contrário dos sofistas, ele achava que a capacidade de distinguir o certo do errado está na razão das pessoas e não na sociedade.

A natureza essencial da arte de Sócrates está no que ele parecia não querer ensinar as pessoas. Pelo contrário, dava a impressão de desejar aprender com aqueles com quem conversava. Em vez de dar aulas como um mestre tradicional, debatia, simplesmente fazendo perguntas - principalmente para começar uma conversa - como se nada soubesse. Ao longo dos debates, em geral levava os oponentes a reconhecer a fraqueza de seus próprios argumentos e, ‘encostados contra a parede’, finalmente compreender o que estava certo e o que estava errado.

Partindo da consciência da própria ignorância ("Só sei que nada sei"), utilizava como método não a exposição, mas a dialética (aqui com o sentido de arte do diálogo e da discussão), que podia assumir duas formas distintas:

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a ironia socrática, com a qual alegava ignorância em assuntos de que os outros se julgavam profundos conhecedores, apenas para demolir suas opiniões, levando o interlocutor à contradição e, desse modo, a purificar o espírito de idéias falsas e preconceitos. Ao se passar por ignorante, Sócrates obrigava as pessoas a usar o senso comum. Ele não hesitava em agir desse modo na praça da cidade;

a maiêutica (arte de partejar os espíritos, numa alusão à profissão materna), pela qual Sócrates auxiliava o interlocutor a encontrar a resposta por meio de um trabalho de reflexão; em outras palavras, Sócrates via como sua tarefa ajudar as pessoas a "dar à luz" a compreensão correta, uma vez que o verdadeiro entendimento deve vir do interior. Ele não pode ser transmitido por outra pessoa. E só o entendimento que vem de dentro pode levar ao verdadeiro conhecimento.

A vida e o pensamento de Sócrates fascinaram os filósofos ocidentais e suscitaram uma admiração quase mística em Rousseau, Kant e Hegel, ao mesmo tempo que uma rejeição exemplar em Nietzsche, que via nele o aniquilador do mito em nome da razão.

 EXERCICIOS

01 – (UEL - 2002) “Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a água. Essa proposta é importantíssima... podendo com boa dose de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar civilização ocidental.”(REALE, Giovanni. História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)

A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os chamados pré-socráticos. De acordo com o texto, assinale a alternativa que expressa o principal problema por eles investigado.a) A ética, enquanto investigação racional do agir humano.b) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.c) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos.d) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo.e) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação.

02 – (UEL – 2002) Ainda sobre o mesmo tema, é correto afirmar que a filosofia:a) Surgiu como um discurso teórico, sem embasamento na realidade sensível, e em oposição aos mitos gregos.b) Retomou os temas da mitologia grega, mas de forma racional, formulando hipóteses lógico-argumentativas.c) Reafirmou a aspiração ateísta dos gregos, vetando qualquer prova da existência de alguma força divina.d) Desprezou os conhecimentos produzidos por outros povos, graças à supremacia cultural dos gregos.

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e) Estabeleceu-se como um discurso acrítico e teve suas teses endossadas pela força da tradição.

03 – (UEL-2002) “Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Os deuses disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo o que havia de ruim no céu etéreo foi expulso, ou para a prisão do Tártaro ou para a Terra, entre os mortais. E os homens, o que acontece com eles? Quem são eles?” (VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. Trad. de Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 56.)

O texto acima é parte de uma narrativa mítica. Considerando que o mito pode ser uma forma de conhecimento, assinale a alternativa correta.a) A verdade do mito obedece a critérios empíricos e científicos de comprovação.b) O conhecimento mítico segue um rigoroso procedimento lógico-analítico para estabelecer suas verdades.c) As explicações míticas constroem-se de maneira argumentativa e autocrítica.d) O mito busca explicações definitivas acerca do homem e do mundo, e sua verdade independe de provas.e) A verdade do mito obedece a regras universais do pensamento racional, tais como a lei de não-contradição.

04-(UEL-2002) “Entre os ‘físicos’ da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre a totalidade do ser. Nada existe que não seja natureza, physis. Os homens, a divindade, o mundo formam um universo unificado, homogêneo, todo ele no mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma só e mesma physis que põem em jogo, por toda parte, as mesmas forças, manifestam a mesma potência de vida. As vias pelas quais essa physis nasceu, diversificou-se e organizou-se são perfeitamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou ‘no começo’ de maneira diferente de como o faz ainda, cada dia, quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou quando, num crivo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se reúnem.” (VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Trad. de Ísis Borges B. da Fonseca. 12.ed. Rio de Janeiro: Difel, 2002. p.110.)

Com base no texto, assinale a alternativa correta.a) Para explicar o que acontece no presente é preciso compreender como a natureza agia “no começo”, ou seja, no momento original.b) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos sobrenaturais.c) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma explicação natural e esta pode ser compreendida racionalmente.d) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação da totalidade dos mesmos está além da capacidade humana.e) A diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma multiplicidade de explicações e nem todas estas explicações podem ser racionalmente compreendidas.

05- (UEL-2003) “Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas acriticamente, por força da tradição

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ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais merece ser destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade.” (OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Présocráticos: a invenção da filosofia. Campinas: Papirus, 2000. p. 24.)

Assinale a alternativa que apresenta a “guinada de atitude” que o texto afirma ter sido promovida pelos primeiros filósofos.a) A aceitação acrítica das explicações tradicionais relativas aos acontecimentos naturais.b) A discussão crítica das idéias e posições, que podem ser modificadas ou reformuladas.c) A busca por uma verdade única e inquestionável, que pudesse substituir a verdade imposta pela religião.d) A confiança na tradição e na “imposição religiosa” como fundamentos para o conhecimento.e) A desconfiança na capacidade da razão em virtude da “proliferação de óticas” conflitantes entre si.

PROBLEMA POLÍTICO: ESTADO, SOCIEDADE E PODER

1º) O QUE É PODER

Discutir política é referir-se ao poder.

Embora haja inúmeras definições e interpretações a respeito do conceito de poder, vamos considerá-lo aqui, genericamente, como sendo a capacidade ou possibilidade de agir, de produzir efeitos desejados sobre indivíduos ou grupos humanos. Portanto o poder supõe dois pólos: o de quem o exerce e o daquele sobre o qual é exercido. Considera-se então que é uma relação, ou um conjunto de relações pelas quais indivíduos ou grupos interferem na atividade de outros indivíduos ou grupos.

Para que alguém o exerça é preciso que tenha força, entendida como instrumento para o exercício do poder, que não é necessariamente física, mas principalmente a condição para interferir no comportamento de outras pessoas. E o tipo de força que nos interessa aqui é a política. Enfim, o Estado que, se configura como a instância por excelência do exercício do poder político, que se transformaram ao longo da história humana adotando os mais diversos princípios de legitimidade.

O ESTADO TEOCRÁTICO: o poder considerado legítimo vem da vontade de Deus.

A FORÇA DA TRADIÇÃO: o poder é transmitido de geração em geração, como nas monarquias hereditárias.

OS GOVERNOS ARISTOCRÁTICOS: apenas os melhores podem ter funções de mando, levando em consideração que conforme o tipo de aristocracia o conceito que classifica os melhores podem mudar, podem ser os mais ricos, ou os mais fortes, ou os de linhagem mais nobre, ou até a elite do poder.

NA DEMOCRACIA: no qual o poder, vem do consenso, da vontade do povo.

2º) O QUE É DEMOCRACIA

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O conceito de democracia surge com a Polis, significa um “Estado que se autogoverna”. Atenas e Esparta foram as principais “cidades-estados” da Grécia antiga.

A chave da democracia ateniense foi à representação direta, cuja assembléia soberana atuava como autoridade máxima, debatendo, propondo emendas, votando todo tipo de proposta, inclusive sobre guerra e paz, impostos, cultos, obras públicas e outras questões de maior ou menor importância. É preciso que se leve em consideração que somente os tidos como cidadãos podiam participar da vida política grega o que era representado por aproximadamente 10% da população ativa da cidade, Assim eram excluídos, da vida pública, os estrangeiros, as mulheres e os escravos. O importante é que nessa sociedade se desenvolve uma nova concepção de poder, opondo a democracia à aristocracia e o ideal do cidadão ao do guerreiro.

Os sofistas (Protágoras, Górgias e outros) viveram no século V a C. e são os filósofos responsáveis pela elaboração teórica que legitima o ideal democrático da nova classe dos comerciantes. Mestres da retórica, ou seja, a arte de bem falar e persuadir, tão necessária para o cidadão nas assembléias e praças públicas.

A ordem democrática grega foi destruída após o longo envolvimento de Atenas e Esparta na Guerra do Peloponeso, que culminou com a derrota de Atenas. Finalmente no século IV a C., a Grécia foi conquistada pelos macedônios. É nesse contexto que vivem Platão e Aristóteles.

PLATÃO (427-347 a . C)

Jovem de família aristocrática presencia essas alterações políticas e critica a democracia que permitiu a condenação à morte de seu mestre Sócrates. Na concepção platônica, as decisões políticas não podem ser da alçada de qualquer um, pois só as pessoas preparadas devem se ocupar delas. Na obra ‘A República’, Platão imagina uma cidade ideal em que os futuros governantes são escolhidos entre os filósofos, representantes do mais alto grau da formação humana. Os demais, incapazes de superar as dificuldades do conhecimento opinativo, se ocupariam com os problemas concretos do dia-a-dia como: agricultura, comércio e defesa da cidade, deixando aos sábios competentes a direção dos destinos comuns. Em ‘A república’, a política é caracterizada como a arte de definir e praticar a administração da justiça, e esta só pode ser definida quando se ultrapassa o âmbito da mera opinião. A arte de governar não pode ser regulada pelas conveniências, posto que esse caminho levará ao exercício do poder baseado na força e tal recurso é ineficaz para realizar o bem da cidade. A justiça não assume uma forma aqui e outra acolá, ela pertence à ordem de um saber universal, à ordem da perenidade do ser, e esse conhecimento é próprio da filosofia. Para Platão a política e o trato das coisas da cidade, não pode ficar na dependência da opinião, e que se isso ocorre, descamba-se fatalmente para a violência e o emprego da força bruta. Os dois são ineficazes para salvaguardar o bem da cidade. A importância do pensamento platônico é que nele se pode ver o nascimento da política enquanto arte e atividade absolutamente indispensáveis à sobrevivência da sociedade e, além disso, a inseparabilidade entre a idéia de governo e a idéia de razão.

Para Platão a verdadeira realidade se encontra no mundo das idéias, lugar da essência imutável de todas as coisas. Todos os seres, inclusive os humanos, são apenas cópias imperfeitas de tais arquétipos (modelo de seres, padrão, exemplar), e se aperfeiçoam à medida que se aproximam do modelo ideal. Para Platão a plenitude

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humana coincide com o aperfeiçoamento da razão. Ele faz distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível ou das idéias.

O mundo sensível é o mundo das coisas concretas, as quais são múltiplas e não permanentes. O mundo das idéias é o mundo das coisas permanentes, e é nesse mundo das idéias que está os seres verdadeiros. O mundo sensível é acessível aos sentidos, mas, sendo o mundo da multiplicidade e do movimento, é ilusório, é sombra, cópia do verdadeiro mundo.

O MUNDO DOS SENTIDOS OU SENSÍVEL É REGIDO PELA OPINIÃO, EMOÇÃOO MUNDO DAS IDÉIAS É REGIDO PELA CIÊNCIA .

Nosso espírito se eleva das coisas múltiplas e sensíveis para as idéias unas e imutáveis por meio de um movimento dialético, que consiste no vencer a crença nos dados do mundo sensível e na utilização sistemática do discurso para chegar à ordem da verdade.

O QUE É POLÍTICA: Em A REPÚBLICA (sua principal obra) a política é caracterizada como a arte de definir e praticar a administração da justiça, e esta só pode ser definida quando se ultrapassa o âmbito da mera opinião política enquanto arte e atividade absolutamente indispensáveis à sobrevivência da sociedade e, além disso, a inseparabilidade entre a idéia de governo e a idéia de razão.

PODER: Na obra “A República”, Platão imagina uma cidade ideal na qual os futuros governantes são escolhidos entre os filósofos, representantes do mais alto grau da formação humana. Os demais, incapazes de superar as dificuldades do conhecimento opinativo, se ocupariam com os problemas concretos do dia-a-dia, como agricultura, comércio e defesa da cidade, deixando aos sábios competentes a direção dos destinos comuns.

DEMOCRACIA: as decisões políticas não podem ser da alçada de qualquer um, pois só as pessoas preparadas devem se ocupar delas.

ARISTÓTELES (384-322 a . C)

Este grande filósofo grego, filho de Nicômaco, médico de Amintas, rei da Macedônia, nasceu em Estagira, colônia grega da Trácia, no litoral setentrional do mar Egeu, em 384 a.C. Aos dezoito anos, em 367, foi para Atenas e ingressou na academia platônica, onde ficou por vinte anos, até à morte do Mestre.

Para Aristóteles, o ser é constituído de matéria e forma, e as transformações são explicadas pelo argumento de que todo ser tende a tornar atual a forma que tem em potência. Por exemplo uma semente de carvalho enterrada tende a se transformar no carvalho que era em potência. O ser humano tem formas em potência a serem atualizadas, ou seja, a sua natureza essencial se realiza aos poucos, em direção ao pleno desenvolvimento. Como Platão, Aristóteles considera que a plenitude humana coincide com o aperfeiçoamento da razão.

Aristóteles critica a teoria das idéias de Platão, principalmente a divisão entre um mundo sensível e um mundo inteligível, ele distingue três tipos de saber:

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A EXPERIÊNCIA OU CONHECIMENTO SENSÍVEL: dado pelo contato direto, é um conhecimento que se forma por familiaridade, é imediato e concreto e só nos permite chegar ao conhecimento individual. Não se transmite, só se pode oferecer as condições para que as pessoas adquiram a mesma experiência, ou tenham as mesmas sensações. Portanto o conhecimento sensível é o conhecimento do particular.

A TÉCNICA OU O SABER FAZER: é o conhecimento dos meios a serem usados para se chegar aos fins desejados. Não é mais o conhecimento do particular, pois já encerra uma idéia das coisas, participando do universal, pode ser ensinada. A técnica dá o quê e o porquê das coisas.

A SABEDORIA (Sofia): é o único tipo de conhecimento a determinar as causas e princípios primeiros; a única a poder dizer o quê as coisas são, por que são e demonstra-las. As noções universais, pertencentes ao âmbito da sabedoria, são as mais difíceis de se adquirir porque estão muito longe da sensação.

O conhecimento, para Aristóteles, é uma somatória de todos esses modos de conhecer, sem haver ruptura ou descontinuidade entre eles. Na verdade, um não invalida o outro, enriquece-o.

POLÍTICA E PODER PARA ARISTÓTELES

Aristóteles, discípulo de Platão, critica os exageros do mestre e desenvolve a clássica divisão das formas de governo – monarquia, aristocracia e politéia – conforme se refiram ao governo de um só, de um pequeno grupo ou de muitos. O importante é promover a justiça e também a “vida boa” na sociedade já existente, para que os cidadãos tenham possibilidade de viver em uma cidade feliz. Para isso, as formas de governo não devem estar corrompidas, o que acontece quando a monarquia degenera em tirania, a aristocracia em oligarquia e a politéia não resiste à demagogia. Aristóteles valoriza a educação da juventude e o fortalecimento das virtudes que formam o cidadão e o bom governante. Também para ele nem todos tem igual capacidade de governar, sendo necessário excluir das artes políticas os artesãos e os comerciantes.

O termo Política se torna de uso generalizado após Aristóteles produzir uma obra intitulada ‘Política’, na qual tipifica os tipos de poder, que são: o poder paterno, o despótico e o político. O poder paterno se exerce no interesse dos filhos, o despótico no interesse do senhor e o político no interesse de quem governa ou de quem é governado. É também nessa obra que ele vai distinguir as três formas de governo: a monarquia (poder de um só), a oligarquia (poder de poucos), e a democracia (poder da maioria). Aristóteles recomenda as formas de governo que misturam os vários tipos existentes. Para ele, o homem é, por natureza, um animal social e político. Também é da natureza humana buscar a felicidade e o sumo bem, portanto, a felicidade e o sumo bem só poderão ser alcançados na vida da polis. A sociedade política ganha a dignidade de uma obra da razão e é uma das mais altas e nobres criações humanas.

Como em Platão, percebe-se em Aristóteles que a concepção política parte de um modelo de governante ideal capaz de ser educado para o exercício correto de suas funções públicas. Nesse sentido, podemos dizer que a política grega é normativa, por estabelecer normas de ação para o governante virtuoso, e prescritiva, por indicar caminhos para distinguir entre o bom governo e a política corrompida. Veremos que essa tendência no Renascimento será revertida com Maquiavel.

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FILOSOFIA CRISTÃ

IDADE MÉDIA

Durante a idade média, a problemática da política incorpora e exprime a luta ou tensão entre fé e razão. O cenário agora é um pouco diferente, quando em 358 a C. as tropas de Felipe da Macedônia venceram os gregos, teve início a derrocada da forma política consagrada na cidade-estado.

No período medieval, na Europa enfeudada surge um novo quadro para a questão política, esse quadro está ligado à emergência e à hegemonia do Cristianismo. Neste contexto o que se coloca agora é saber se a fonte do poder é mundana, profana, ou se é sagrada, espiritual, bíblica. Filosofia e Teologia se misturam.

SANTO AGOSTINHO: (354-430 d.C.) e SANTO TOMÁS DE AQUINO: (1225-1274 d.C.) Os principais expoentes teóricos dessa época, será uma referência marcante. Em suas obras encontra-se todo um repertório conceitual aristotélico. Para eles a fonte primeira da sabedoria é divina, a razão é um dom divino e não contraria o que Deus dá a conhecer pela revelação que está na Bíblia. No campo da política, suas reflexões conferiram importância à noção de bem comum, e por essa porta entra a possibilidade da contestação do poder de um governante e mesmo o direito a sublevação, se esse poder contrariar o bem comum.

A PROBLEMÁTICA ERA: A CONCILIAÇÃO ENTRE FÉ E RAZÃO

Enquanto na Antiguidade grego-romana a política não sofre ingerências religiosas, a Idade Média tem como característica fundamental a influência da Igreja Católica em toda a vida política da sociedade. Como conseqüência, as teorias políticas enfatizam a supremacia do poder espiritual sobre o poder temporal (dos reis) e por isso toda ação política se acha atrelada à ordem moral cristã.

A interferência da Igreja nos assuntos políticos provocou diversos atritos entre os dois poderes, com a formação de facções opostas entre aqueles que defendiam o poder papal e os partidários da autonomia do imperador.

A preocupação comum era preparar o governante virtuoso para o exercício do poder

A RETOMADA DA RAZÃO -- RENASCIMENTO

NICOLAU MAQUIAVEL (1469-1527)

POLÍTICA: A doutrina política de Maquiavel tem explicitamente o objetivo de indicar o caminho por meio do qual as comunidades políticas em geral podem renovar-se conservando-se, ou conservar-se renovando-se. A política nasce das lutas sociais e é

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obra da própria sociedade para dar a si mesma unidade e identidade. Não aceita a idéia da boa comunidade política constituída para o bem comum e a justiça. A finalidade da política é a tomada e manutenção do poder. A política não é a lógica racional da justiça e da ética, mas a lógica da força transformada em lógica do poder e da lei.

PODER: Toda cidade está dividida em dois desejos opostos: o dos grandes de oprimir e comandar e o desejo do povo de não ser oprimido nem comandado. A cidade é tecida pelas lutas internas que a obrigam a instituir um pólo superior que possa unifica-la e dar-lhe identidade. Esse pólo é o poder político.

Considerado fundador da ciência empírica da política, ou seja, disciplina que estuda as regras da arte de governar sem outra preocupação além da eficácia dessas regras.

Qualquer regime político – tenha a forma e a origem que tiver – poderá ser legítimo ou ilegítimo. Legitimidade e ilegitimidade dependem do modo como as lutas sociais encontram respostas políticas capazes de garantir o único princípio que rege a política: o poder do príncipe deve ser superior ao dos grandes e estar a serviço do povo.O critério de avaliação, ou o valor que mede a legitimidade e ilegitimidade, é a liberdade.

GOVERNANTE: o verdadeiro príncipe é aquele que sabe tomar e conservar o poder e que, para isso, jamais deve aliar-se aos grandes, pois estes são seus rivais e querem o poder para si, mas deve unir-se ao povo, que espera do governante a imposição de limites ao desejo de opressão e mando dos grandes. A virtude do príncipe são às qualidades do dirigente de tomar e manter o poder, para ele o príncipe não deve ser odiado, mas respeitado e temido. Sua eficiência política aparecerá na qualidade das instituições que souber criar e manter, e na capacidade que tiver para enfrentar as ocasiões adversas, isto é, a fortuna ou sorte;

Foi com Maquiavel que essa doutrina passou, (séc. XVII) a ser convencionalmente resumida na frase: “O FIM JUSTIFICA OS MEIOS”. Porém essa máxima não foi formulada por Maquiavel, pois ele não considera o Estado como fim absoluto e não o julga dotado de existência superior ao indivíduo. Maquiavel tinha grande simpatia pela honestidade e pela lealdade na vida civil e política, porém seu objetivo era formular regras eficazes de governo, tendo como base a experiência política, e essa eficácia era independente do caráter moral ou imoral das regras. Percebeu que a moral e a religião podem ser forças políticas que, como todas as outras, condicionam a atividade política e seu êxito.

THOMAS HOBBES (1588-1679)

JUSNATURALISMO: Teoria do Direito Natural, entre outras é representada por Hobbes. Essa doutrina serviu de fundamento à reivindicação das duas conquistas fundamentais do mundo moderno no campo político: o princípio da tolerância religiosa, e o da limitação dos poderes do Estado. Desses princípios nasceu de fato o Estado Liberal moderno. O jusnaturalismo distingue-se da teoria do direito natural por não considerar que o direito natural represente a participação humana numa ordem universal perfeita, que seria Deus ou viria de Deus, mas que é a regulamentação necessária das relações humanas, a que se chega através da razão, sendo, pois, independente da vontade de

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Deus. Assim, o jusnaturalismo representa, no campo moral e político, reivindicação da autonomia da razão.

CONTRATUALISMO: Doutrina que reconhece como origem ou fundamento do Estado (ou, em geral, da comunidade civil) uma convenção ou estipulação (contrato) entre seus membros. Essa doutrina é bastante antiga, e provavelmente seus primeiros defensores foram os sofistas, eclipsados na idade média pela doutrina da origem divina do Estado e, em geral, pela comunidade civil. O Contratualismo ressurge na idade moderna e, com o jusnaturalismo, transforma-se em poderoso instrumento de luta pela reivindicação dos Direitos humanos.

Hobbes colocou a doutrina do contrato a serviço da defesa do poder absoluto. Para Hobbes a fórmula básica do contrato era: “Transmito meu direito de governar-me a este homem, ou a esta Assembléia, contanto que tu cedas o teu direito da mesma maneira”.(O Leviatã). Assim, pela autoridade conferida pelos indivíduos que compõem o Estado tem tanta força e poder que pode disciplinar à vontade de todos, para a conquista da paz interna e para a ajuda mútua contra os inimigos externos.

O Estado soberano significava a realização máxima de uma sociedade civilizada e racional, pois em estado natural, isto é, sem o jugo político do estado, os homens viveriam em igualdade segundo seus instintos. O egoísmo, a ambição, a crueldade, próprios de cada um, gerariam uma luta sem fim, tornando difícil à vida em sociedade, levando-os à destruição. Somente o Estado, um poder acima das individualidades, garantiria segurança a todos. Quanto mais soberano ele fosse, mais humano e, portanto, racionais seriam os homens vivendo em sociedade. A acumulação de poder e a soberania do estado deveriam ser permanentes para evitar que os instintos naturais manifestos nos homens rompessem o equilíbrio necessário ao desenvolvimento da consciência racional. O poder soberano, superior a todos os homens, não eliminaria a luta competitiva entre indivíduos, mas a colocaria sob controle da lei e da ordem. Ao acordo estabelecido entre os indivíduos visando sua própria preservação da vida, Hobbes chamava de contrato.

As idéias de Hobbes, refletiam as características principais da sua época,. Marcada pela transição do feudalismo para o capitalismo, que vai do séc. XVI ao séc. XVIII, com a emergência de profundas transformações vinculadas à produção e ao trabalho e de novas técnicas políticas, jurídicas e culturais (época renascentista), que fizeram surgir um significativo questionamento sobre os fundamentos das desigualdades entre os Homens. Embora essas desigualdades não fossem produto daquele momento histórico apenas, é nesse período que surgem questionamentos sobre elas e as explicações que visavam justifica-las

Por isso, ao escrever sua principal obra O LEVIATÃ, Hobbes diz: “ O HOMEM É O LOBO DO HOMEM.” O Homem é, portanto, mau por natureza e só o Estado social é que faria o Homem se sobrepor a esta maldade.

JOHN LOCKE (1632-1704)

Pai do Liberalismo, Afinal, que idéias novas são essas? Na linguagem comum costumamos chamar de liberal ao homem generoso, tanto no sentido de não controlar gastos, como no sentido de não-autoritário. Chamamos também de profissões liberais as atividades de médicos, dentistas, advogados, quando trabalham por conta

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própria. Essa expressão deriva da antiga classificação das artes liberais, designando as atividades de homens livres, distintas dos ofícios manuais próprios de escravos.

No entanto, aqui não nos interessam tais significados da palavra liberal, mas sim aqueles que indicam o conjunto de idéias éticas, políticas e econômicas da burguesia que se opunha à visão de mundo da nobreza feudal.

O pensamento burguês busca a separação entre Estado e sociedade enquanto conjunto das atividades particulares dos indivíduos, sobretudo as de natureza econômica. O que se quer é separar definitivamente o público do privado, reduzindo ao mínimo a intervenção do Estado na vida de cada um. Por outro lado, essa separação deveria reduzir também a interferência do privado no público, já que o poder procura outra fonte de legitimidade que não seja a tradição e as linhagens de nobreza.

Podemos nos referir ao liberalismo ético, enquanto garantia dos direitos individuais, tais como liberdade de pensamento, expressão e religião, o que supõe um estado de direito em que sejam evitados o arbítrio, as lutas religiosas, as prisões sem culpa formada, a tortura, as penas cruéis.

O liberalismo político constitui-se sobretudo contra o absolutismo real, buscando nas teorias contratualistas as formas de legitimarão do poder, não mais fundado no direito divino dos reis nem na tradição e herança, mas no consentimento dos cidadãos. A decorrência dessa forma de pensar é o aperfeiçoamento das instituições do voto e da representação, a autonomia dos poderes e a conseqüente limitação do poder central. Veremos que as formas do liberalismo mudam com o tempo, começando de maneira muito elitista (restrita aos homens de posse) e ampliando-se a partir de pressões externas.

Para Locke, no estado natural, o homem seria perfeito, respeitaria os direitos do próximo e obedeceria à voz da razão contida em seu interior. Tudo o que necessita é viver em paz. Cabe ao Estado manter sobre controle as pessoas corrompidas, as quais tornam a época menos feliz. O individualismo é uma das categorias mais caras a Locke, que parte da definição do direito natural, como direito à vida, à liberdade e aos bens necessários para a conservação de ambas. Estes bens são conseguidos pelo trabalho.. Locke faz uma analogia à Deus para legitimar o direito à propriedade privada. Segundo ele, Deus é um obreiro, arquiteto e engenheiro que fez a obra, o mundo, e esta obra como trabalhador divino, a ele pertence. Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, deu-lhe o mundo para que nele reinasse, e ao expulsá-lo do paraíso, não retirou o domínio do mundo, mas lhe disse que o teria com o suor de seu rosto. Por isso, o direito à propriedade privada é um direito divino.

Para Locke, como em Hobbes, o Estado existe à partir do contrato social, mas sua principal finalidade é garantir o direito natural da propriedade privada.

Na teoria liberal, primeiro com Locke, e depois com os realizadores da Independência norte-americana e da Revolução Francesa e mais tarde já no século XX com Max Weber

FUNÇÃO DO ESTADO É TRÍPLICE:

1º) por meio das leis e do uso legal da violência, garante o direito natural da propriedade privada, sem interferir na vida econômica, pois não tendo instituído a propriedade, o Estado não tem poder para nela interferir. Aí está a idéia do liberalismo, isto é, o Estado deve respeitar a liberdade econômica dos proprietários privados, deixando que façam as regras e as normas das atividades econômicas.

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2º) o Estado tem a função de arbitrar, por meio das leis e da força, os conflitos da sociedade civil.

3º) o Estado tem o direito de legislar, permitir e proibir tudo quanto pertença a esfera pública e garantir a liberdade de pensamento.

O liberalismo se consolida na Inglaterra em 1688 com a chamada Revolução Gloriosa, nos Estados Unidos em 1776 com a luta pela independência e na França em 1789 com a Revolução Francesa.

A burguesia, de inicio aliada à realeza no Estado Absolutista, ao se fortalecer economicamente inicia um esforço para conquistar o poder político. As teorias contratualistas que se ocupavam da legitimidade do poder, passam a defender com Locke que essa legitimidade se encontra na origem parlamentar, isso significa que ocupar um cargo político não resulta de privilégio aristocrático, mas do mandado popular alcançado pelo voto. A representação política torna-se legítima porque nasce da vontade do povo., Com o liberalismo estabelece-se a distinção entre sociedade política e sociedade civil, entre o público e o privado.

A diferença em relação ao contratualismo de Hobbes é que, caso o governante não esteja desempenhando as funções para as quais foi eleito, é legitimo destituí-lo do poder.

JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778)

O que afligia esse pensador era a questão da desigualdade social, e ele atribuía essa desigualdade à propriedade privada. Tinha uma profunda insatisfação diante da sociedade em que vivia, cujas instituições considerava absurdas e perniciosas. Tinha um grande entusiasmo diante da idéia de uma ordem social radicalmente diferente, na qual a obediência a lei garantiria, pelo acordo de todos, a liberdade de cada um. Esses dois sentimentos guiam seu pensamento regendo a construção de sua doutrina, dizia que:

“O primeiro que, tendo cercado um terreno, arriscou-se a dizer: “isso é meu”, e encontrou pessoas bastante simples para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, mortes, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas(...), tivesse gritado a seus semelhantes: “Fugi às palavras desse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos pertencem a todos, e que a terra não é de ninguém” (...) Enquanto os homens se contentaram com suas cabanas rústicas(...) enquanto só se dedicaram a trabalhos que podiam ser feitos por uma só pessoa, e a artes que não exigiam o concurso de várias mãos, eles viveram livres, são, bons e felizes (...). Mas, a partir do momento em que um homem do auxílio de outro, a partir do momento em que se aperceberam ser útil a um só possuir provisões para dois, a igualdade desapareceu, a propriedade introduziu-se, o trabalho tornou-se necessário, e as vastas florestas transformaram-se em campos vicejantes que foi preciso regar com o suor dos homens, e nos quais se viu a escravidão e a miséria germinar e crescer com as colheitas. (...) Tal foi, ou deve ter sido, a origem da sociedade e das leis, que criaram novos entraves ao fraco e deram forças ao rico, destruíram de maneira irremediável a liberdade natural, fixaram para sempre a lei da

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propriedade e da desigualdade, fizeram de uma astuta usurpação um direito irrevogável e, para o proveito de alguns ambiciosos, sujeitaram daí em diante todo o gênero humano ao trabalho, à servidão e à miséria.” (ROUSSEAU,p. 84, 1984)

Para Rousseau a política implica antes de tudo a educação do cidadão.. Apenas homens esclarecidos não se deixarão enganar por insidiosas propagandas, terão como única paixão o amor pela pátria, só eles poderão estabelecer uma sociedade justa.

Rousseau atribui a soberania ao “povo incorporado”, isto é, ao povo como corpo coletivo, capaz de decidir o que é melhor para todo o social. Desenvolve a concepção radical da democracia direta – em que o cidadão é ativo, participante, fazendo ele próprio as leis nas assembléias públicas – e antecipa algumas das críticas que no século seguinte os socialistas farão ao liberalismo. Denuncia a propriedade como uma das causas da origem da desigualdade e, ao desenvolver os conceitos de vontade geral e cidadania ativa, rejeição ao elitismo da tradução burguesa do seu tempo.

Para Rousseau com o contrato social, cada individuo aliena incondicionalmente seu poder em favor da coletividade, mas a vontade geral não pode ser alienada nem representada. Isto significa que os deputados e governantes não são representantes do povo, mas apenas seus oficiais, estando subordinados à soberania popular, a única que decide por meio de assembléias, plebiscitos e referendos.

A vontade geral é um conceito fundamental para compreender a democracia rousseauísta. TODO INDIVÍDUO É AO MESMO TEMPO UMA PESSOA PRIVADA E UMA PESSOA PÚBLICA (CIDADÃO), como pessoa privada trata de seus interesses particulares, e como pessoa pública é parte de um corpo coletivo com interesses comuns. Ora, nem sempre o interesse de um coincide com o do outro, porque muitas vezes o que beneficia a pessoa particular pode ser prejudicial ao coletivo.

O próprio Rousseau reconhecia as dificuldades em implantar a democracia direta, sobretudo em nações de território extenso e grande densidade populacional.

PARA ROUSSEAU, APRENDER A SER CIDADÃO CONSISTE JUSTAMENTE EM AGIR DE ACORDO COM A VONTADE GERAL, TÍPICA DO INTERESSE DE TODOS OS COMPONENTES DO CORPO COLETIVO, MESMO QUE À REVELIA DOS INTERESSES DA PESSOA PARTICULAR.

JÜRGEN HABERMAS (1929)

É inicialmente influenciado pela Escola de Frankfurt, a partir do Iluminismo.

Baseia-se em 3 pontos para Construção do Estado:

1. Noção de Espaço Público2. Verdade pautada pela força majoritária

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3. Proporcionar a interação entre sistema político, sistema dos meios de comunicação de massa e cidadania.

Mas o que é CIDADANIA?

É o fato de ter consciência de seus direitos e deveres para com o Estado, que faz do Homem um cidadão participante de todas as ações da sociedade. Isto ocorre de acordo com o sentimento ético e forte. A consciência da cidadania não deixa passar nada e não abre mão desse poder de participação.

Com o desenvolvimento da "Teoria Crítica" ele se desliga da Escola de Frankfurt e desenvolve a idéia de um "Capitalismo Tardio"

Neste Estado será legitimado um sistema de Democracia Formal, no qual busca-se a lealdade da massa, porém sem sua participação. Isso se contrapõe a uma Democracia Substantiva, Transformadora. Habermas, desenvolve suas análises, já no interior de uma Sociedade de Classes e neste caso a ausência de um grupo que possa ser representante da Vontade Geral. Neste caso o que transformaria a Sociedade, ou melhor, o Estado, seriam as formas de integração/interação social.

"O PROCESSO EVOLUTIVO DA SOCIEDADE DEPENDE DO DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES E COMPETÊNCIAS DOS INDIVÍDUOS QUE A ELA

PERTENCEM."

Daí pensar que a EMANCIPAÇÃO DO HOMEM, se daria a partir da comunicação lingüística que proporciona a saída para ALIENAÇÃO, para perda da individualidade do sujeito e para recuperação da autonomia da sociedade. Habermas, abandona assim, o "paradigma da Filosofia da Consciência", que enfatiza o conhecimento dos objetos pelo sujeito e o poder que resulta deste conhecimento, baseado na práxis produtiva e na classe social, substituindo-o pelo "paradigma da comunicação", que enfatiza a capacidade entre os sujeitos de falar e agir, construindo a emancipação na esfera da interação que decorre o reorganizar da sociedade, sendo para o filósofo, a nova face da luta política: a influência indireta exercida pelo mundo cultural. Assim propõe a formação do sujeito e não a consciência de classe.

"NA FORMAÇÃO DE "EUS" COMPONENTES, QUE ATUAM EM ESPAÇOS INSTITUCIONALIZADOS DO DIREITO DEMOCRÁTICO, ONDE A COMUNICAÇÃO

POSSIBILITA A SUA INDIVIDUALIZAÇÃO COMO SUJEITOS MEMBROS DA SOCIEDADE."

Coloca assim novas categorias políticas, (o Estado, a Cultura, o Espaço Público e outras) que são constituídas a partir da interação, pois ela é que forma o indivíduo que pensa, age e se comunica buscando o diálogo e o entendimento, através do melhor argumento. E isto implica processos de comunicação através dos quais se questiona o mundo e o sistema técnico-instrumental, e onde se afirma a individualidade do sujeito e a sua autonomia. O que faz de cada sujeito, ATORES que agem diretamente na realidade.

Neste sentido, Habermas, aponta uma sociedade sem conflitos, ou antagonismos. Tendo como condição para isso, a abolição da autonomia do econômico e do político em relação ao mundo social e sua submissão aos interesses sociais gerais.. Assim, sua teoria reveste-se do potencial emancipador e anti-autoritário da tradição ILUMINISTA. O que demonstra é um quadro de democracia incompleta, na qual a cidadania não se realiza em razão marginalização de grande parte da população. É tarefa

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da educação construir competências e articular os saberes necessários para que os sujeitos possam refletir e atuar diretamente na esfera política, desenvolvendo a capacidade de gerir, orientar, discutir, organizar e negociar, ou seja, o exercício da direção política, para que o cidadão possa participar, de maneira autônoma, em diferentes espaços e fóruns de atuação política é a partir disso que os atores sociais, possibilitam saídas democráticas aos conflitos sociais.

" AO QUESTIONAR A VALIDADE E A POSSIBILIDADE DE ALTERAR REVOLUCIONARIAMENTE AS CONDIÇÕES SOCIAIS CAPITALISTAS, HABERMAS SINALIZA PARA O PAPEL CENTRAL QUE PASSA A SER DESEMPENHADO PELAS CONDIÇÕES DE COMUNICAÇÃO, SOB AS QUAIS SE PODE ESTABELECER UMA CONFIANÇA LEGITIMADA NAS INSTITUIÇÕES QUE TEM COMO FUNÇÃO ESTABELECER UMA AUTO ORGANIZAÇÃO RACIONAL NUMA SOCIEDADE DE CIDADÃOS LIVRES E IGUAIS. A IDÉIA DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL NO SENTIDO DO SOCIALISMO NÃO É MAIS COMPREENDIDA COMO PROPRIEDADE PRIVADA OU DA EMANCIPAÇÃO DA ALIENAÇÃO DO TRABALHO CAPITALISTA, IRIAS COMO A INTENÇÃO DE OBRIGAR AS NOVAS DIVISÕES DO PODER, LIMITANDO O PODER EXPANSIVO DO MERCADO, DA PRODUÇÃO DE MERCADORIAS E DO PODER ADMINISTRATIVO, PARA, DESTA FORMA, CRIAR ESPAÇOS PARA VIDA COTIDIANA, DETERMINADA POR REGRAS INTEIRAMENTE DIFERENTES. ( HABERMAS, p. 46, 1992)

No Iluminismo (séc. XVIII), conhecido como Século das Luzes, se faz o grande marco para o início do desatrelamento religioso da vida cotidiana, pois ser moral e ser religioso não são mas pólos inseparáveis. Assim, a Moral se faz laica. Habermas, está pautado na teoria da "Razão Comunicativa", que se dá a partir da interação entre os sujeitos (atores).

EXERCÍCIOS

06 –(UEL-2002) “Você está acompanhando, Sofia? E agora vem Platão. Ele se interessava tanto pelo que é eterno e imutável na natureza quanto pelo que é eterno e imutável na moral e na sociedade. Sim... para Platão tratava-se, em ambos os casos, de uma mesma coisa. Ele tentava entender uma ‘realidade’ que fosse eterna e imutável. E, para ser franco, é para isto que os filósofos existem. Eles não estão preocupados em eleger a mulher mais bonita do ano, ou os tomates mais baratos da feira. (E exatamente por isso nem sempre são vistos com bons olhos). Os filósofos não se interessam muito por essas coisas efêmeras e cotidianas. Eles tentam mostrar o que é ‘eternamente verdadeiro’, ‘eternamente belo’ e ’eternamente bom’.”(GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 98.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria das idéias de Platão, assinale a alternativa correta.a) Para Platão, o mundo das idéias é o mundo do “eternamente verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom” e é distinto do mundo sensível no qual vivemos.b) Platão considerava que tudo aquilo que pode ser percebido diretamente pelos sentidos constitui a própria realidade das coisas.

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c) Platão considerava impossível que o homem pudesse ter idéias verdadeiras sobre qualquer coisa, seja sobre a natureza, a moral ou a sociedade, porque tudo é sonho e ilusão.d) Para Platão, as idéias sobre a natureza, a moral e a sociedade podem ser explicadas a partir das diferentes opiniões das pessoas.e) De acordo com Platão, o filósofo deve preocupar-se com as coisas efêmeras e cotidianas do mundo, tidas por ele como as mais importantes.

07 –(UEL-2002) “(...) os traços pelos quais a democracia é considerada forma boa de governo são essencialmente os seguintes: é um governo não a favor dos poucos mas dos muitos; a lei é igual para todos, tanto para os ricos quanto para os pobres e portanto é um governo de leis, escritas ou não escritas, e não de homens; a liberdade é respeitada seja na vida privada seja na vida pública, onde vale não o fato de se pertencer a este ou àquele partido mas o mérito.” (BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. Trad. de Marco Aurélio Nogueira. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p.141.)

Com base no texto, considere as seguintes afirmativas sobre os direitos fundamentais da democracia grega.I. Todos os cidadãos submetem-se a uma elite, formada pelos ricos, que governa privilegiando seus interesses particulares.II. Todos os cidadãos possuem os mesmos direitos e devem ser tratados da mesma maneira, perante as leis e os costumes da pólis.III. Todo cidadão tem a liberdade de expor, na assembléia, seus interesses e suas opiniões, discutindo-os com os outros.IV. Todo cidadão deve pertencer a um partido para que suas opiniões sejam respeitadas.Assinale a alternativa correta.a) Apenas as afirmativas I e II são corretas.b) Apenas as afirmativas I e IV são corretas.c) Apenas as afirmativas II e III são corretas.d) Apenas as afirmativas II e IV são corretas.e) Apenas as afirmativas III e IV são corretas.

08 – (UEL-2002) “Toda cidade [pólis], portanto, existe naturalmente, da mesma forma que as primeiras comunidades; aquela é o estágio final destas, pois a natureza de uma coisa é seu estágio final. (...) Estas considerações deixam claro que a cidade é uma criação natural, e que o homem é por natureza um animal social, e um homem que por natureza, e não por mero acidente, não fizesse parte de cidade alguma, seria desprezível ou estaria acima da humanidade.” (ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Trad. De Mário da Gama Kuri. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1997. p. 15.)

De acordo com o texto de Aristóteles, é correto afirmar que a pólis:a) É instituída por uma convenção entre os homens.b) Existe por natureza e é da natureza humana buscar a vida em sociedade.c) Passa a existir por um ato de vontade dos deuses, alheia à vontade humana.d) É estabelecida pela vontade arbitrária de um déspota.

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e) É fundada na razão, que estabelece as leis que a ordenam.

09 –(UEL-2003) “Sabemos que Hobbes é um contratualista, quer dizer, um daqueles filósofos que, entre o século XVI e o XVIII (basicamente), afirmaram que a origem do Estado e/ou da sociedade está num contrato: os homens viveriam, naturalmente, sem poder e sem organização – que somente surgiriam depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras de comércio social e de subordinação política.” (RIBEIRO, Renato Janine. Hobbes: o medo e a esperança. In: WEFFORT, Francisco. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 2000. p. 53.)

Com base no texto, que se refere ao contratualismo de Hobbes, considere as seguintes afirmativas:I. A soberania decorrente do contrato é absoluta.II. A noção de estado de natureza é imprescindível para essa teoria.III. O contrato ocorre por meio da passagem do estado social para o estado político.IV. O cumprimento do contrato independe da subordinação política dos indivíduos.Quais das afirmativas representam o pensamento de Hobbes?a) Apenas as afirmativas I e II.b) Apenas as afirmativas I e III.c) Apenas as afirmativas II e III.d) Apenas as afirmativas II e IV.e) Apenas as afirmativas III e IV.

10 - (UEL-2003) “A liberdade natural do homem deve estar livre de qualquer poder superior na terra e não depender da vontade ou da autoridade legislativa do homem, desconhecendo outra regra além da lei da natureza. A liberdade do homem na sociedade não deve estar edificada sob qualquer poder legislativo exceto aquele estabelecido por consentimento na comunidade civil (...) ”.(LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o governo civil. Trad. de Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. p. 95).

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema da liberdade em Locke, considere as seguintes afirmativas:I. No estado civil as pessoas são livres porque inexiste qualquer regra que limite sua ação.II. No estado pré-civil a liberdade das pessoas está limitada pela lei da natureza.III. No estado civil a liberdade das pessoas edifica-se nas leis estabelecidas pelo conjunto dos membros dessa sociedade.IV. No estado pré-civil a liberdade das pessoas submete-se às leis estabelecidas pelos cidadãos.

Quais das afirmativas representam o pensamento de Locke sobre liberdade?a) Apenas as afirmativas I e II.b) Apenas as afirmativas I e IV.c) Apenas as afirmativas II e III.d) Apenas as afirmativas II e IV.e) Apenas as afirmativas III e IV.

11 –(UEL-2003) Leia o texto a seguir.

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Estado Violência

Sinto no meu corpoA dor que angustiaA lei ao meu redorA lei que eu não queriaEstado violênciaEstado hipocrisiaA lei que não é minhaA lei que eu não queria (...)(TITÃS. Estado Violência. In: Cabeça dinossauro. [S.L.] WEA, 1986, 1 CD (ca. 35’97”). Faixa 5 (3’07”).)

A letra da música “Estado Violência”, dos Titãs, revela a percepção dos autores sobre a relação entre o indivíduo e o poder do Estado. Sobre a canção, é correto afirmar:a) Mostra um indivíduo satisfeito com a sua situação e que apóia o regime político instituído.b) Representa um regime democrático em que o indivíduo participa livremente da elaboração das leis.c) Descreve uma situação em que inexistem conflitos entre o Estado e o indivíduo.d) Relata os sentimentos de um indivíduo alienado e indiferente à forma como o Estado elabora suas leis.e) Apresenta um indivíduo para quem o Estado, autoritário e violento, é indiferente a sua vontade.

12-(UEL-2003) “Uma vez que constituição significa o mesmo que governo, e o governo é o poder supremo em uma cidade, e o mando pode estar nas mãos de uma única pessoa, ou de poucas pessoas, ou da maioria, nos casos em que esta única pessoa, ou as poucas pessoas, ou a maioria, governam tendo em vista o bem comum, estas constituições devem ser forçosamente as corretas; ao contrário, constituem desvios os casos em que o governo é exercido com vistas ao próprio interesse da única pessoa, ou das poucas pessoas, ou da maioria, pois ou se deve dizer que os cidadãos não participam do governo da cidade, ou é necessário que eles realmente participem.” (ARISTÓTELES. Política. Trad. de Mário da Gama Kury. 3.ed. Brasília: Editora UNB, 1997. p. 91.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre as formas de governo em Aristóteles, analise as afirmativas a seguir.I. A democracia é uma forma de governo reta, ou seja, um governo que prioriza o exercício do poder em benefício do interesse comum.II. A democracia faz parte das formas degeneradas de governo, entre as quais destacam-se a tirania e a oligarquia.III. A democracia é uma forma de governo que desconsidera o bem de todos; antes, porém, visa a favorecer indevidamente os interesses dos mais pobres, reduzindo-se, desse modo, a uma acepção demagógica.

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IV. A democracia é a forma de governo mais conveniente para as cidades gregas, justamente porque realiza o bem do Estado, que é o bem comum.

Estão corretas apenas as afirmativas:a) I e III.b) I e IV.c) II e III.d) I, II e III.e) II, III e IV.

13-(UEL-2002) “O maquiavelismo é uma interpretação de O Príncipe de Maquiavel, em particular a interpretação segundo a qual a ação política, ou seja, a ação voltada para a conquista e conservação do Estado, é uma ação que não possui um fim próprio de utilidade e não deve ser julgada por meio de critérios diferentes dos de conveniência e oportunidade.” (BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no pensamento de Emanuel Kant. Trad. de Alfredo Fait. 3.ed. Brasília: Editora da UNB, 1984. p. 14).

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, para Maquiavel o poder político é:a) Independente da moral e da religião, devendo ser conduzido por critérios restritos ao âmbito político.b) Independente da conveniência e oportunidade, pois estas dizem respeito à esfera privada da vida em sociedade.c) Dependente da religião, devendo ser conduzido por parâmetros ditados pela Igreja.d) Dependente da ética, devendo ser orientado por princípios morais válidos universal e necessariamente.e) Independente das pretensões dos governantes de realizar os interesses do Estado.

14- (UEL-2003)“Não sendo o Estado ou a Cidade mais que uma pessoa moral, cuja vida consiste na união de seus membros, e se o mais importante de seus cuidados é o de sua própria conservação, torna-se-lhe necessária uma força universal e compulsiva para mover e dispor cada parte da maneira mais conveniente a todos. Assim como a natureza dá a cada homem poder absoluto sobre todos os seus membros, o pacto social dá ao corpo político um poder absoluto sobre todos os seus, e é esse mesmo poder que, dirigido pela vontade geral, ganha, como já disse, o nome de soberania.” (ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Trad. de Lourdes Santos Machado. 3.ed. São Paulo: Nova Cultural, 1994. p. 48.)

De acordo com o texto e os conhecimentos sobre os conceitos de Estado e soberania em Rousseau, é correto afirmar:a) A soberania surge como resultado da imposição da vontade de alguns grupos sobre outros, visando conservar o poder do Estado.b) O estabelecimento da soberania está desvinculado do pacto social que funda o Estado.c) O Estado é uma instituição social dependente da vontade impositiva da maioria, o que configura a democracia.d) A conservação do Estado independe de uma força política coletiva que seja capaz de garanti-lo.

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e) A soberania é estabelecida como poder absoluto orientado pela vontade geral e legitimado pelo pacto social para garantir a conservação do Estado.

O PROBLEMA ÉTICO: LIBERDADE, SOCIEDADE E DEVER

Do posto de vista etimológico, ética vem do grego ethos, e moral vem do latim mos, moris, que querem dizer “costumes”. No entanto na filosofia existe uma distinção entre os dois termos:

Moral: é o conjunto de regras de conduta assumidas pelos indivíduos de um grupo social com a finalidade de organizar as relações interpessoais segundo os valores do bem e do mal. Normas ou regras que regem (ou deveriam reger) certos aspectos da conduta humana.

Ética: ou filosofia da moral, é mais abstrata, constituindo a parte da filosofia que se ocupa com a reflexão sobre as noções e princípios que fundamentam a vida moral; disciplina filosófica que trata de estabelecer os fundamentos e a validade das normas morais e dos juízos de valor ou de apreciações sobre as ações humanas qualificadas de boas ou más.

Na perspectiva da ética e da moral, todo e qualquer ser humano julga constantemente suas próprias ações bem como a dos outros, interpreta e avalia situações e acontecimentos, a partir de um quadro referencial de valores que indicam aquilo que deve ser. Os juízos de valor são normativos, estabelecem normas que determinam o dever ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos comportamentos. Enunciam obrigações e avaliam intenções e ações segundo o critério do correto e do incorreto.

A possibilidade de autodeterminação de regras de conduta a serem seguidas, a decisão entre o bem e o mal, caracterizam o sujeito ético como um ser livre, capaz, então, de se responsabilizar por suas condutas. Dessa maneira reconhece-se a autonomia do sujeito moral, enquanto pessoa que decide e assume aquilo que quer e o que faz por si mesma, sem se subordinar nem se submeter a nada e a ninguém.

SOFISTAS: os princípios morais resultam de convenções humanas. (ajuste, combinação)

SÓCRATES: se contrapõe aos sofistas ao buscar os princípios na natureza humana.

PLATÃO (427-347 a . C)

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Segundo a psicologia platônica, a natureza do homem é racional, e, por conseqüência, na razão realiza o homem a sua humanidade: a ação racional realiza o sumo bem, que é, ao mesmo tempo, felicidade e virtude. Entretanto, esta natureza racional do homem encontra no corpo não um instrumento, mas um obstáculo - que Platão explica mediante um dualismo filosófico-religioso de alma e de corpo: o intelecto encontra um obstáculo nos sentidos, a vontade no impulso, e assim por diante. Então a realização da natureza humana não consiste em uma disciplina racional da sensibilidade, mas na sua final supressão, na separação da alma do corpo, na morte. Agir moralmente é agir racionalmente, e agir racionalmente é filosofar, e filosofar é suprimir o sensível, morrer aos sentidos, ao corpo, ao mundo, para o espírito, o inteligível, a idéia. Em todo caso, visto que a alma humana racional se acha, de fato, neste mundo, unida ao corpo e aos sentidos, deve principiar a sua vida moral sujeitando o corpo ao espírito, para impedir que o primeiro seja obstáculo ao segundo, à espera de que a morte solte definitivamente a alma dos laços corpóreos. Noutras palavras, para que se realize a sabedoria , a contemplação, a filosofia, a virtude suma, a única virtude verdadeiramente humana e racional, é necessário que a alma racional domine, antes de tudo, a alma concupiscível (grande desejo de bens ou gozos materiais), derivando daí a virtude da temperança, e domine também a alma irascível (que se irrita com facilidade), na qual a virtude da fortaleza. Tal harmônica distribuição de atividade na alma conforme a razão constituiria, pois, a justiça, virtude fundamental, segundo Platão, juntamente com a sapiência (sabedoria divina), embora a esta naturalmente inferior. Temos, destarte, uma classificação, uma dedução das famosas quatro virtudes naturais, chamadas depois cardeais - prudência, fortaleza, temperança, justiça - sobre a base da metafísica (doutrina da essência das coisas, conhecimento das causas primeiras, (...) teoria das idéias) platônicas da alma

Alcançar o bem se relaciona com a capacidade de compreender o bem. O sábio é o único capaz de ter um nível de compreensão que o leve a “compreender o bem”, só ele atinge o nível mais alto de sabedoria, só a ele cabe a virtude maior da justiça, portanto lhe é reservado a função de governar.

ARISTÓTELES (384-322 a. C)

Conforme sua doutrina metafísica fundamental, todo ser tende necessariamente à realização da sua natureza, à atualização plena da sua forma: e nisto está o seu fim, o seu bem, a sua felicidade, e, por conseqüência, a sua lei. Visto ser a razão a essência característica do homem, realiza ele a sua natureza vivendo racionalmente e sendo disto consciente. E assim consegue ele a felicidade e a virtude, isto é, consegue a felicidade mediante a virtude, que é precisamente uma atividade conforme à razão, isto é, uma atividade que pressupõe o conhecimento racional. Logo, o fim do homem é a felicidade, a que é necessária à virtude, e a esta é necessária a razão. A característica fundamental da moral aristotélica é, portanto, o racionalismo, visto ser a virtude ação consciente segundo a razão, que exige o conhecimento absoluto, metafísico, da natureza e do universo, natureza segundo a qual e na qual o homem deve operar.

As virtudes éticas, morais, não são mera atividade racional, como as virtudes intelectuais, teoréticas; mas implicam, por natureza, um elemento sentimental, afetivo, passional, que deve ser governado pela razão, e não pode, todavia, ser completamente resolvido na razão. A razão aristotélica governa, domina as paixões, não as aniquila e

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destrói, como queria o ascetismo platônico. A virtude ética não é, pois, razão pura, mas uma aplicação da razão; não é unicamente ciência, mas uma ação com ciência.

O Pensamento Aristotélico a respeito da virtude levou-o a uma doutrina prática, popular, embora se apresente especulativamente assaz discutível é aquela pela qual a virtude é precisamente concebida como um justo meio entre dois extremos, isto é, entre duas paixões opostas: porquanto o sentido poderia esmagar a razão ou não lhe dar forças suficientes. Naturalmente, este justo meio, na ação de um homem, não é abstrato, igual para todos e sempre; mas concreto, relativo a cada qual, e variável conforme as circunstâncias, as diversas paixões predominantes dos vários indivíduos.

Pelo que diz respeito à virtude, tem, ao contrário, certamente, maior valor uma outra doutrina aristotélica: precisamente a da virtude concebida como hábito racional. Se a virtude é, fundamentalmente, uma atividade segundo a razão, mais precisamente é ela um hábito segundo a razão, um costume moral, uma disposição constante, reta, da vontade, isto é, a virtude não é inata, como não é inata a ciência; mas adquiri-se mediante a ação, a prática, o exercício e, uma vez adquirida, estabiliza-se, mecaniza-se; torna-se quase uma segunda natureza e, logo, torna-se de fácil execução - como o vício.

Como já foi mencionado, Aristóteles distingue duas categorias fundamentais de virtudes: as éticas, que constituem propriamente o objeto da moral, e as dianoéticas, que a transcendem. É uma distinção e uma hierarquia, que tem uma importância essencial em relação a toda a filosofia e especialmente à moral. As virtudes intelectuais, teoréticas, contemplativas, são superiores às virtudes éticas, práticas, ativas. Noutras palavras, Aristóteles sustenta o primado do conhecimento, do intelecto, da filosofia, sobre a ação, a vontade, a política.

Para ele, o homem busca a felicidade que consiste não nos prazeres nem na riqueza, mas na vida teórica e contemplativa, cuja plena realização coincide com o desenvolvimento da racionalidade. Para os pensadores gregos a ética se acha intrinsecamente ligada à política.

BARUCH SPINOSA (1632-1677)

Filósofo Holandês proveniente de uma família tradicional judia de origem portuguesa, que imigrou devido a perseguição que estavam sofrendo da Inquisição promovida pela Igreja Católica, e que encontravam nos países protestantes um refúgio. Cresce em um ambiente religioso, estudando boa parte de sua vida nas sinagogas, porém em 1656 é excomungado pelos judeus por causa de sua interpretação da bíblia. A bíblia deveria ser analisada historicamente e não dogmaticamente como faz a igreja, para ele a bíblia está escrita em um sentido figurado. Efetua assim, uma crítica aos dogmas rígidos e rituais sem sentido nem poder, bem como ao luxo e a ostentação da Igreja. O ponto principal do pensamento de Spinosa é a comunhão entre Deus e a natureza. Faz sua critica a religião porque ela está alimentada pelo medo e a superstição. Portanto, deve-se fazer uma interpretação racional da Bíblia. Delimita assim, a diferença entre filosofia e religião e que a primeira busca a verdade e a segunda precisa da obediência para ser realizada, construindo o que ele chamaria de espiritualidade racionalista. Desse modo, Spinosa, numa época ainda pura nos conceitos, fala de Deus, da alma e da mente.

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Somos seres naturalmente passionais, porque sofremos a ação de causas exteriores a nós, e ser passional é ser passivo, deixando-se dominar e conduzir por forças exteriores ao nosso corpo e nossa alma. As paixões não são boas nem más, são naturais, e três são as paixões originais: alegria, tristeza e desejo, as demais derivam destas. Da ALEGRIA nasce o amor, a devoção, a esperança,a segurança, o contentamento, a misericórdia e a glória; da TRISTEZA surgem o ódio, a inveja, o orgulho, o arrependimento, a modéstia, o medo, o desespero, o pudor; do DESEJO provém a gratidão, a cólera, a crueldade, a ambição, o temor, a ousadia, a luxúria, a avareza. O VÍCIO é submeter-se às paixões, deixando-se governar pelas causas externas. A VIRTUDE é deixar de ser submisso às causas externas, é passar da passividade a atividade, é passar da paixão a ação. As paixões e desejos tristes nos enfraquecem e nos tornam cada vez mais passivos. As paixões e desejos alegres nos fortalecem e nos preparam para passar da passividade a atividade. A VIRTUDE NÃO É UM BEM, É A FORÇA PARA SER E AGIR AUTONOMAMENTE. A ética Spinosiana evita oferecer um quadro de valores ou de vícios e virtudes, mas busca na idéia moderna de indivíduo livre o núcleo da ação moral. Em sua obra, Ética Spinosa jamais fala em pecado e em dever, fala em fraqueza e em força para ser, pensar e agir.

JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778)

É na vontade geral, ou seja na vontade que se refere à conservação comum e ao bem-estar geral que encontramos a ética de Rousseau. É no vínculo social, onde os interesses gerais suprimem os interesses individuais, na unanimidade, ou seja, na vontade de todos que suprime-se as contradições e as disputas. O homem deve ter no coração o vínculo social, para que possa opinar como cidadão, decorrendo daí a vontade geral.

A vontade geral, um dos conceitos chave do Contrato Social de Rousseau, se impõe naturalmente, pois há uma “consciência moral”, instintiva, que remete à “consciência da liberdade’. Kant viu em Rousseau o "único ético absoluto do século" . Assim, a ética de Rousseau não é uma ética do sentimento, mas é a forma mais categórica da pura ética da lei, pois há "vontade de legalidade como tal" uma "direção e determinação básica da vontade" para o "reconhecimento de uma lei moral à qual a vontade se submete espontaneamente". A liberdade é ligação de todos com a lei, que tem validade geral, havendo um acordo interior que leva nossa vontade a acolhê-la. A vontade geral, um dos conceitos-chave do Contrato, se impõe naturalmente, pois há uma consciência moral, instintiva, que remete à consciência da liberdade e à idéia de direito que está inseparavelmente ligada a essa consciência.

Ser um cidadão ético consiste principalmente em cumprir diante do Estado primeiro com deveres e conseqüentemente adquirir os direitos, que virão de acordo com a institucionalização das leis e das regras previstas no contrato.

IMMANUEL KANT (1724-1804)

Filósofo alemão considerado a expressão máxima do pensamento iluminista. O iluminismo é uma concepção filosófica de acordo com a qual o conhecimento se dá em função das luzes da razão e que só o conhecimento racional crítico e a sua cientificidade emancipa o homem da superstição e do dogma, promovendo seu progresso em todos os

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campos. Por extensão, é todo movimento político, literário ou cultural que se apóia nessa visão.

Kant desenvolve sua teoria moral nas obras Critica da Razão Pura, Critica da Razão Prática e Fundamentação da metafísica dos costumes. Kant rejeita as concepções morais que predominam até então, quer seja da filosofia grega, quer seja da cristã, e que norteiam a ação moral a partir de condicionantes como a felicidade ou o interesse. Para ele o agir moral se fundamenta exclusivamente na razão. A lei moral que a razão descobre é universal, e é necessária, pois é ela que preserva a dignidade dos homens. A autonomia da razão para legislar supõe a liberdade e o dever. Pois todo imperativo se impõe como dever, mas deve ser assumida livremente pelo sujeito que se autodetermina. Por exemplo: para Kant a norma moral de “não roubar” deve ser seguida por um ato racional, ou seja, pela compreensão de que ao aceitar o roubo e conseqüentemente o enriquecimento ilícito, eleva-se à máxima pessoal ao nível universal, de onde virá uma contradição: se todos podem roubar, não há como manter a posse do que foi furtado.

As coisas não são nem boas nem más, são indiferentes ao bem e ao mal. Os qualificativos morais não correspondem, igualmente, àquilo que o homem faz efetivamente, mas sim, estritamente, àquilo que ele quer fazer. De onde ele conclui que a única coisa que verdadeiramente pode ser boa ou má é a vontade humana.

A condição preliminar para que seja possível apenas a razão determinar a ação é a liberdade, o que leva a conceber a liberdade como postulado necessário da vida moral, ou seja, o seu a priori. A vida moral somente é possível, para Kant, na medida em que a razão estabeleça, por si só, aquilo que se deva obedecer no terreno da conduta.

As idéias éticas de Kant são um resultado lógico de sua crença na liberdade fundamental do indivíduo como afirmada na sua "Crítica da Razão Prática" (1788). Esta liberdade ele não olhava como a ausência de leis da anarquia, mas sim como autogoverno, a condição de obedecer conscientemente às leis do universo como reveladas pela razão. A vontade é autônoma quando dá a si mesma a própria lei.

JÜRGEN HABERMAS (1929)

Habermas desenvolveu a teoria da ação comunicativa, que fornece os elementos para a compreensão da ética discursiva.

A ética discursiva é uma teoria da moral que recorre à racionalidade para sua fundamentação, porém não uma razão reflexiva como em Kant, mas uma razão comunicativa, ou seja, enquanto em Kant fundamentada no sujeito, em Habermas supõe-se o diálogo, seria uma razão comunicativa, pois o sujeito está interagindo no grupo, mediado pelo discurso e pela linguagem.

A razão comunicativa é processual, construída a partir da relação entre os sujeitos, enquanto seres capazes de se posicionarem criticamente diante de normas. Nesse caso, a validade das normas não deriva de cada um, mas do consenso encontrado a partir do grupo, do conjunto de indivíduos. A interação entre os sujeitos precisaria ser feita sem as pressões típicas do sistema econômico (que se baseia na força do dinheiro), ou do sistema político (que se funda no exercício do poder), essa ação supõe um entendimento entre os indivíduos que procuram, pelo uso de argumentos racionais, convencer o outro (ou se deixar convencer) a respeito da validade da norma: instaura-se

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assim o mundo da sociabilidade, da espontaneidade, da solidariedade e da cooperação. A validade das normas depende do consenso buscado pelo grupo.

EXERCÍCIOS

15 –(UEL-2002) Leia o texto que se refere à idéia de cidade justa de Platão.“Como a temperança, também a justiça é uma virtude comum a toda a cidade. Quando cada uma das classes exerce a sua função própria, ‘aquela para a qual a sua natureza é a mais adequada’, a cidade é justa. Esta distribuição de tarefas e competências resulta do fato de que cada um de nós não nasceu igual ao outro e, assim, cada um contribui com a sua parte para a satisfação das necessidades da vida individual e coletiva. (...) Justiça é, portanto, no indivíduo, a harmonia das partes da alma sob o domínio superior da razão; no estado, é a harmonia e a concórdia das classes da cidade.” (PIRES, Celestino.Convivência política e noção tradicional de justiça. In: BRITO, Adriano N. de; HECK, José N. (Orgs.). Ética e política. Goiânia: Editora da UFG, 1997. p. 23.)

Sobre a cidade justa na concepção de Platão, é correto afirmar:a) Nela todos satisfazem suas necessidades mínimas, e inexistem funções como as de governantes, legisladores e juízes.b) É governada pelos filósofos, protegida pelos guerreiros e mantida pelos produtores econômicos, todos cumprindo sua função própria.c) Seus habitantes desejam a posse ilimitada de riquezas, como terras e metais preciosos.d) Ela tem como principal objetivo fazer a guerra com seus vizinhos para ampliar suas posses através da conquista.e) Ela ambiciona o luxo desmedido e está cheia de objetos supérfluos, tais como perfumes, incensos, iguarias, guloseimas, ouro, marfim, etc.

16- (UEL-2002)“Quando a vontade é autônoma, ela pode ser vista como outorgando a si mesma a lei, pois, querendo o imperativo categórico, ela é puramente racional e não dependente de qualquer desejo ou inclinação exterior à razão. (...) Na medida em que sou autônomo, legislo para mim mesmo exatamente a mesma lei que todo outro ser racional autônomo legisla para si.” (WALKER, Ralph. Kant: Kant e a lei moral. Trad. de Oswaldo Giacóia Júnior. São Paulo: Unesp, 1999. p. 41.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre autonomia em Kant, considere as seguintes afirmativas:

I. A vontade autônoma, ao seguir sua própria lei, segue a razão pura prática.II. Segundo o princípio da autonomia, as máximas escolhidas devem ser apenas aquelas que se podem querer como lei universal.III. Seguir os seus próprios desejos e paixões é agir de modo autônomo.IV. A autonomia compreende toda escolha racional, inclusive a escolha dos meios para atingir o objeto do desejo.

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Estão corretas apenas as afirmativas:a) I e II.b) I e IV.c) III e IV.d) I, II e III.e) II, III e IV.

17- (UEL-2003) “Ser caritativo quando se pode sê-lo é um dever, e há além disso muitas almas de disposição tão compassivas que, mesmo sem nenhum outro motivo de vaidade ou interesse, acham íntimo prazer em espalhar alegria à sua volta, e se podem alegrar com o contentamento dos outros, enquanto este é obra sua. Eu afirmo porém que neste caso uma tal ação, por conforme ao dever, por amável que ela seja, não tem contudo nenhum verdadeiro valor moral, mas vai emparelhar com outras inclinações, por exemplo o amor das honras que, quando por feliz acaso, topa aquilo que efetivamente é de interesse geral e conforme ao dever, é conseqüentemente honroso e merece louvor e estímulo, mas não estima; pois à sua máxima falta o conteúdo moral que manda que tais ações se pratiquem não por inclinação, mas por dever.” (KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 113.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o dever em Kant, é correto afirmar:a) Ser compassivo é o que determina que uma ação tenha valor moral.b) Numa ação por dever, as inclinações estão subordinadas ao princípio moral.c) A ação por dever é determinada pela simpatia para com os seres humanos.d) O valor moral de uma ação é determinado pela promoção da felicidade humana.e) É no propósito visado que uma ação praticada por dever tem o seu valor moral.

18-(UEL-2002) “- O que significa exatamente essa expressão antiquada: ‘virtude’? – perguntou Sebastião. - No sentido filosófico, compreende-se por virtude aquela atitude de, na ação, deixar-se guiar pelo bem próprio ou pelo bem alheio – esclareceu o senhor Barros. - O bem alheio? – perguntou Sebastião. - Sim – disse o senhor Barros. – É verdade que a coragem e a moderação são virtudes, em primeiro lugar, para consigo mesmo, mas também há outras virtudes, como a benevolência, a justiça e a seriedade ou confiabilidade, ou seja, a qualidade de ser confiável, que são disposições orientadas para o bem dos outros.” (TUGENDHAT, Ernst; VICUÑA, Ana Maria; LÓPES, Celso. O livro de Manuel e Camila: diálogos sobre moral. Trad. de Suzana Albornoz. Goiânia: Ed. da UFG, 2002. p. 142.)

Com base no texto, é correto afirmar:a) As ações virtuosas são reguladas por leis positivas, determinadas pelo direito, independentemente de um princípio de bem moral.b) A virtude limita-se às ações que envolvem outras pessoas; em relação a si próprio a ação é independente de um princípio de bem.c) A ação virtuosa é orientada por princípios externos que determinam a qualidade da ação.d) Ser virtuoso significa guiar suas ações por um bem, que pode ser tanto em relação a si próprio quanto em relação aos outros.e) As virtudes são disposições desvinculadas de qualquer orientação, seja para o bem, seja para o mal.

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19 – (UEL-2003) “A idéia ilusória da vontade livre deriva de percepções inadequadas e confusas; a liberdade, entendida corretamente, no entanto, não é o estar livre da necessidade, mas sim a consciência da necessidade.” (SCRUTON, Roger. Spinosa. Trad. de Angélica Elisabeth Könke. São Paulo: Unesp, 2000. p. 41.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre liberdade em Spinosa, considere as afirmativas a seguir.I. A liberdade identifica-se com escolha voluntária.II. A liberdade significa a capacidade de agir espontaneamente, segundo a causalidade interna do sujeito.III. A liberdade e a necessidade são compatíveis.IV. A liberdade baseia-se na contingência, pois se tudo no universo fosse necessário não haveria espaço para ações livres.

Estão corretas apenas as afirmativas:a) I e II.b) I e IV.c) II e III.d) I, III e IV.e) II, III e IV.

20 –(UEL-2002) “A virtude é pois uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste numa mediania...” (ARISTÓTELES. Ética à Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. 4 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 33.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a virtude em Aristóteles, assinale a alternativa correta.a) A virtude é o governo das paixões para cumprir uma tarefa ou uma função.b) A virtude realiza-se no mundo das idéias.c) A virtude é a obediência aos preceitos divinos.d) A virtude é a justa medida de equilíbrio entre o excesso e a falta.e) A virtude tem como fundamento a utilidade da ação.

21 – (UEL-2003) “O imperativo categórico é portanto só um único, que é este: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” (KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1995. p. 59.) (grifo nosso)

Segundo essa formulação do imperativo categórico por Kant, uma ação é considerada ética quando:a) Privilegia os interesses particulares em detrimento de leis que valham universal e necessariamente.b) Ajusta os interesses egoístas de uns ao egoísmo dos outros, satisfazendo as exigências individuais de prazer e felicidade.

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c) É determinada pela lei da natureza, que tem como fundamento o princípio de autoconservação.d) Está subordinada à vontade de Deus, que preestabelece o caminho seguro para a ação humana.e) A máxima que rege a ação pode ser universalizada, ou seja, quando a ação pode ser praticada por todos, sem prejuízo da humanidade.

PROBLEMAS EPISTEMOLÓGICOS NA FILOSOFIA EPISTEMOLOGIA: TEORIA DO CONHECIMENTO

É preciso fazer uma distinção entre CRENÇA e CONHECIMENTO

CRENÇA: reconhecer como verdadeira uma proposição ou noção qualquer ainda que não verificável.

CONHECIMENTO: procedimento de verificação ou a participação possível em tal procedimento.

Essa verificação pressupõe um método, ou seja:

MÉTODO: é o percurso que se segue na investigação da verdade, a fim de se alcançar um fim determinado, estrutura racional que permite a formulação e verificação das hipóteses.

HIPÓTESES: suposição

As interpretações de conhecimento que foram dadas ao longo da história da filosofia podem resumir-se em duas alternativas fundamentais:

1ª) relação de identidade e semelhança e a operação cognitiva (aquisição de um conhecimento) é um procedimento de identificação com o objetivo, identidade ou semelhança dos elementos do conhecimento com os elementos do objeto.

2ª) a relação cognitiva (aquisição de um conhecimento) é uma apresentação do objeto e a operação cognitiva é um procedimento de transcendência, ou seja, que vai para além do objeto.

PLATÃO (427-347 a. C)

Para Platão a compreensão do real faz distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível ou das idéias. Para dizer o que uma coisa é, precisa-se afirmar dois princípios fundamentais: o da identidade e o da permanência, ou seja, uma coisa é aquilo que é e não outra (identidade) e deve sempre ser do mesmo modo (permanência),o

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encontro com o semelhante, a homogeneidade (todas as partes da mesma natureza), são os conceitos que Platão utiliza para explicar os processos de aquisição de conhecimento (cognitivos). Conhecer significa tornar o ser pensante igual ao pensado. Uma vez que os sentidos nos revelam as coisas como múltiplas e mutáveis, ao passo que a inteligência nos revela sua unidade e permanência. Platão procurou uma solução que conciliasse o testemunho dos sentidos e as exigências do conhecimento intelectual. Concluiu pela existência de um mundo de essências imutáveis e perfeitas nas idéias. Estas constituiriam a realidade inteligível -- objeto de conhecimento científico ou epistemológico --, cujas leis o mundo sensível -- objeto de opinião -- reproduziria de forma imperfeita. MÉTODO: Platão, parte do conhecimento empírico, sensível, da opinião do vulgo e dos sofistas, para chegar ao conhecimento intelectual, conceptual, universal e imutável. O conhecimento sensível deve ser superado por um outro,o conhecimento conceptual, pautado na humanidade. Como efetivamente, apresentam-se elementos que não se podem explicar mediante a sensação, o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, não pode explicar o conhecimento intelectual, que tem por sua característica a universalidade, a imutabilidade, o absoluto (do conceito); e ainda menos pode o conhecimento sensível explicar o dever ser, os valores de beleza, verdade e bondade, que estão efetivamente presentes no espírito humano, e se distinguem diametralmente de seus opostos, fealdade, erro e mal-posição e distinção que o sentido não pode operar por si mesmo.

Segundo Platão, o conhecimento humano integral fica nitidamente dividido em dois graus: o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, e o conhecimento intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, mas que dele não se pode derivar. A diferença essencial entre um e outro em geral, está no fato do primeiro embora seja verdadeiro, não saiba que o é, podendo cair indiferentemente no diverso, no erro sem o saber; ao passo que o segundo, além de ser verdadeiro, sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído pela diversidade errônea. Poder-se-ia também dizer que o primeiro sabe que as coisas estão assim, sem saber porque o estão, ao passo que o segundo sabe que as coisas devem estar necessariamente assim como estão, precisamente porque é ciência, isto é, conhecimento das coisas pelas causas.

Platão, não admite que da sensação - particular, mutável, relativa - se possa de algum modo tirar o conceito universal, imutável, absoluto.

Deste mundo material e contigente, portanto, não há ciência, devido à sua natureza inferior, mas apenas é possível, no máximo, um conhecimento sensível verdadeiro - opinião verdadeira - que é precisamente o conhecimento adequado à sua natureza inferior. Pode haver conhecimento apenas do mundo imaterial e racional das idéias pela sua natureza superior. Este mundo ideal, racional - no dizer de Platão - transcende inteiramente o mundo empírico, material, em que vivemos.

As idéias não são, no sentido platônico, representações intelectuais, formas abstratas do pensamento, são realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de que as coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes. Assim a idéia de homem é o homem abstrato perfeito e universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.

Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos inteligíveis. Tal a célebre teoria das idéias, alma de toda filosofia platônica, centro em torno do qual gravita todo o seu sistema.

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ARISTÓTELES (384-322 a . C)

Distingue três tipos de saber:

A EXPERIENCIA OU CONHECIMENTO SENSÍVEL: dado pelo contato direto, é um conhecimento que se forma por familiaridade, é imediato e concreto e só nos permite chegar ao conhecimento individual.

A TÉCNICA OU O SABER FAZER: é o conhecimento dos meios a serem usados para se chegar aos fins desejados. Não é mais o conhecimento do particular, pois já encerra uma idéia das coisas, participando do universal, e pode ser ensinada.

A SABEDORIA (Sofia): é o único tipo de conhecimento a determinar as causas e princípios primeiros; a única a poder dizer o quê as coisas são, por que são e demonstra-las. As noções universais, pertencentes ao âmbito da sabedoria, são as mais difíceis de se adquirir porque estão muito longe da sensação. É a filosofia primeira, livre de toda determinação particular, buscando as causas e os princípios universais.

O conhecimento, para Aristóteles, é um somatório de todos esse modos de conhecer.

MÉTODO: Partindo como Platão do mesmo problema acerca do valor objetivo dos conceitos, mas abandonando a solução do mestre, Aristóteles constrói um sistema inteiramente original. Os caracteres desta grande síntese são:

1. OBSERVAÇÃO FIEL DA NATUREZA: Platão, idealista, rejeitara a experiência como fonte de conhecimento certo. Aristóteles, mais perspicaz toma sempre o fato como ponto de partida de suas teorias, buscando na realidade um apoio sólido às suas mais elevadas especulações metafísicas.

2. RIGOR NO MÉTODO: Depois de estudadas as leis do pensamento, o processo dedutivo e indutivo aplica-os, com rara habilidade, em todas as suas obras, substituindo à linguagem imaginosa e figurada de Platão, em estilo lapidar e conciso e criando uma terminologia filosófica de precisão admirável. Pode considerar-se como o autor da metodologia e tecnologia científicas. Geralmente, no estudo de uma questão, Aristóteles procede por partes: a) começa a definir-lhe o objeto; b) passa a enumerar-lhes as soluções históricas; c) propõe depois as dúvidas; d) indica, em seguida, a própria solução; e) refuta, por último, as sentenças contrárias.

3. UNIDADE DO CONJUNTO: Sua vasta obra filosófica constitui um sistema, uma síntese. Todas as partes se compõem, se correspondem, se confirmam.

CONTRIBUIÇÃO DOS GREGOS

Os filósofos gregos deixaram um importante legado para a teoria do conhecimento, que exerceu grande influência na construção posterior do pensamento ocidental:

estabeleceram a diferença entre conhecimento sensível e conhecimento intelectual;

estabeleceram a diferença entre aparência e essência;

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estabeleceram a diferença entre opinião e saber; deram as regras da lógica, ou seja, de como passar de um juízo para

outro de forma coerente e correta para se chegar à verdade;

FRANCIS BACON (1561-1626) Barão de Verulam, filósofo, advogado e político inglês. O iniciador do

empirismo é Francis Bacon. Enalteceu ele a experiência e o método dedutivo de tal modo, que o transcendente e a razão acabam por desaparecer na sombra. Falta-lhe, no entanto, a consciência crítica do empirismo, que foram aos poucos conquistando os seus sucessores e discípulos até Hume. Achava que os estudos não podiam ser um fim ou a sabedoria por si sós, e que o conhecimento não aplicado em ação era uma pálida vaidade acadêmica. "Dedicar-se em demasia aos estudos é indolência; usá-los em demasia como ornamento é afetação; fazer julgamentos seguindo inteiramente suas regras é o capricho. (...) Os homens astutos condenam os estudos, os homens simples os admiram, e os homens sábios se utilizam deles, obtida graças à observação."

Inicia-se, portanto, com a classificação geral das disciplinas humanas, baseada no respectivo predomínio das três faculdades que presidem à organização do saber: memória, fantasia, razão. Essa classificação é baseada não no objeto do conhecimento, e sim no sujeito que conhece. 1) História tanto civil quanto natural, que registra os dados de fato 2) Poesia, elaboração imaginativa desses dados; 3) Ciência ou filosofia, isto é, conhecimento racional de Deus, do homem e da natureza.

Para determinar de um modo certo as causas e as leis dos fenômenos - isto é, as formas das naturezas - Bacon recolhe, antes de tudo, o maior número possível de exemplos, em que um determinado fenômeno aparece. Enfim registra o aumentar ou o diminuir do fenômeno em questão, quer no mesmo objeto, quer em objetos diferentes. Têm-se, desta maneira, três espécies de registros ou tabelas: 1) tabelas de presença; 2) tabelas de ausência; 3) tabelas de gradações. É evidente que nos casos onde uma determinada natureza ou fenômeno aparecem, aí se encontrará também a sua causa e lei; nos casos em que o fenômeno não se manifesta, aí faltará também a sua causa e lei; e nos casos onde o fenômeno aumenta ou diminui, aí aumentará ou diminuirá também a sua causa e lei. A causa (forma) dos fenômenos (natureza) será procurada, portanto, com base nos fenômenos presentes na primeira tabela; não sendo fácil, a princípio, ter-se tabelas completas e isolar as naturezas simples, e desta maneira pôr em evidência a causa, é mister estabelecê-la por hipótese, que será, em seguida, averiguada pelas experimentações.

O mundo material é constituído de corpúsculos, qualitativamente idênticos, diversos apenas por grandeza, forma e posição. Estes corpúsculos são animados por uma força, em virtude da qual se agrupam em determinados complexos, que constituem as formas baconianas.

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GALILEU GALILEI ( 1564-1642)

Físico, astrônomo e filósofo italiano, foi responsável pela superação do aristotelismo e pelo advento da moderna concepção de ciência. Sua vida foi marcada pela perseguição política e religiosa por defender a substituição do modelo geocêntrico pelo modelo heliocêntrico. Condenado pela Inquisição, foi obrigado a renunciar publicamente de suas idéias, sendo confinado em prisão domiciliar a partir de 1633. Possuía uma oficina com termômetro, luneta e relógio de água, que embora primitivos, eram suficientes para mostrar o valor dado a observação, pela qual se torna possível abandonar as ciências especulativas e caminhar em direção à construção de um ciência ativa.

É com Galileu que o aperfeiçoamento do método cientifico, fundado na observação, experimentação e matematização dos resultados, que a Ciência começou a se constituir como forma especifica de abordagem do real e a se desprender da filosofia. A partir de então, o conhecimento foi fragmentado entre as várias ciências, pois cada uma se ocupava somente de uma pequena parte do real: à física interessavam os movimentos dos corpos; à biologia, a natureza dos seres vivos etc. Responsável pela concepção moderna de ciência, sua contribuição teórica resultou na reformulação da astronomia e da física, tornando-as completamente diferente da tradição grega. Contrapõe-se aos gregos, e em particular a Aristóteles e sua teoria geocêntrica. Com o auxílio da luneta, descobre que os astros não são constituídos de matéria incorruptível – o sol tem manchas e a Lua é montanhosa - . Na física a grande novidade é o uso de experimentação e matematização, enquanto a física antiga procura o “porquê” do fenômeno e o explica pelas qualidades inerentes aos corpos, Galileu se interessa pelo “como”, o que supõe a descrição quantitativa do fenômeno.

No lugar em que Aristóteles via qualidade (corpos pesados ou leves), Galileu descobre relações e funções.

“A principal contribuição de Galileu ao desenvolvimento da ciência moderna está precisamente na combinação do uso da linguagem matemática na construção de

teorias, o que lhes dá maior rigor e precisão, com o recurso aos experimentos que permitem comprovar empiricamente as hipóteses científicas.”(JAPIASSU, p. 80,

1998)

“O LABOR DA MENTE X TRABALHO DAS MÃOS”

RENÉ DESCARTES (1596-1650)

Francês, de família nobre, busca por verdades indiscutíveis, só encontrada na matemática, pois ela sim demonstra o que afirma, "As matemáticas agradavam-me sobretudo por causa da certeza e da evidência de seus raciocínios".

Em Discurso sobre o Método, ele quer fazer ver que o seu método, inspirado nas matemáticas, é capaz de provar rigorosamente a existência de Deus e o primado da alma sobre o corpo. Desse modo, ele quer preparar os espíritos para, um dia, aceitarem todas as conseqüências do método inclusive o movimento da Terra em torno do Sol.

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SOBRE A FILOSOFIA

  “ Nada direi a respeito da filosofia, exceto que, vendo que foi cultivada pelos mais elevados espíritos que viveram desde muitos séculos e que, apesar disso, nela ainda não se encontra uma única coisa a respeito da qual não haja discussão, e consequentemente que não seja duvidosa, eu não alimentava esperança alguma de acertar mais que os outros; e que, ao considerar quantas opiniões distintas, defendidas por homens eruditos, podem existir acerca de um mesmo assunto, sem que possa haver mais de uma que seja verdadeira, achava quase como falso tudo quanto era apenas provável”(DESCARTES, p.45, 1978)

Pois acreditava poder encontrar muito mais verdade nos raciocínios que cada um forma no que se refere aos negócios que lhe interessam, e cujo desfecho, se julgou mal, deve penalizá-lo logo em seguida, do que naqueles que um homem de letras forma em seu gabinete a respeito de especulações que não produzem efeito algum e que não lhe acarretam outra conseqüência salvo, talvez, a de lhe proporcionarem tanto mais vaidade quanto mais afastadas do senso comum, por causa do outro tanto de espírito e artimanha que necessitou empregar no esforço de torná-las prováveis. E eu sempre tive um enorme desejo de aprender a diferenciar o verdadeiro do falso, para ver claramente minhas ações e caminhar com segurança nesta vida.

MÉTODO:

Descartes quer estabelecer um método universal, inspirado no rigor matemático e em suas "longas cadeias de razão", porém em Discurso sobre o Método, fiel ao seu espírito pacífico declara que “(...) meu propósito não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir sua razão, mas somente mostrar de que modo me esforcei por conduzir a minha. Os que se aventuram a fornecer normas devem considerar-se mais hábeis do que aqueles a quem as dão; e, se falham na menor coisa, são por isso censuráveis. Mas, não propondo este escrito senão como uma história, ou, se o preferirdes, como uma fábula, na qual, entre alguns exemplos que se podem imitar, encontrar-se-ão talvez também muitos outros que se terá razão de não seguir, espero que ele será útil a alguns, sem ser danoso a ninguém, e que todos me serão gratos por minha franqueza. Portanto, meu propósito não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir sua razão, mas somente mostrar de que modo me esforcei por conduzir a minha”

REGRAS METODOLÓGICAS

A primeira regra é a evidência: não admitir "nenhuma coisa como verdadeira se não a reconheço evidentemente como tal". Em outras palavras, só ter por verdadeiro o que for claro e distinto, isto é, o que "eu não tenho a menor oportunidade de duvidar".

A segunda regra é a análise: "dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis".

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A terceira é a regra da síntese: "concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer para, aos poucos, ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos".

A última a dos "desmembramentos tão complexos (...) a ponto de estar certo de nada ter omitido".

Se esse método tornou-se muito célebre, foi porque os séculos posteriores viram nele uma manifestação do livre exame e do racionalismo.

O método é racionalista porque a evidência de que Descartes parte não é, de modo algum, a evidência sensível e empírica. Os sentidos nos enganam, suas indicações são confusas e obscuras, só as idéias da razão são claras e distintas. O ato da razão que percebe diretamente os primeiros princípios é a intuição. A dedução limita-se a veicular, ao longo das belas cadeias da razão, a evidência intuitiva das "naturezas simples".

“PENSO LOGO EXISTO.”

DAVID HUME (1711-1776) Filósofo Escocês. Hume era um cético, ou seja, acredita que o sujeito é

incapaz de apreender o objeto de conhecimento, existe no máximo a probabilidade. Na impossibilidade de ter a certeza de que os juízos estão de acordo com a realidade, pode-se afirmar a probabilidade de que estejam. O ceticismo inspira a atitude crítica e questionadora da filosofia contemporânea, colocando questões sobre a relatividade do conhecimento e os limites da razão.

Para Hume as relações são exteriores aos seus termos e não são observáveis, portanto não estão no objeto. Elas são modos que a natureza humana tem de passar de um termo a outro, de uma idéia particular a outra. E esses modos são fruto do hábito ou da crença. O que nos faz ultrapassar o dado e afirmar mais do que pode ser alcançado pela experiência é o hábito criado através da observação de casos semelhantes, a partir do que imaginamos que este caso se comporte da mesma forma que os outros.

Assim, a única base para as idéias ditas gerais é a crença.Aos olhos de Hume, a noção de causalidade é muito enigmática porque, em

nome desse princípio de causalidade, a todo momento afirmamos mais do que vemos, não cessamos de ultrapassar a experiência imediata. Por exemplo, em nome do princípio de causalidade (as mesmas causas produzem os mesmos efeitos ou o aquecimento da água é causa da ebulição), afirmo que a água que acabo de pôr no fogo vai ferver; prevejo a ebulição dessa água, portanto, tiro "de um objeto uma conclusão que o ultrapassa". Todo raciocínio experimental, pelo qual do presente se conclui o futuro (a água vai ferver, a barra de metal vai se dilatar, amanhã fará dia etc.), repousa nesse princípio de causalidade

Por conseguinte, a conclusão se impõe. Não existe nenhuma impressão autêntica da causalidade. O que acontece é que eu acredito na causalidade e Hume explica essa crença, partindo do hábito e da associação das idéias. Por que será que espero ver a água ferver quando a aqueço? É porque, responde Hume, aquecimento e ebulição sempre estiveram associados em minha experiência e essa associação determinou um hábito em mim. Coloco a água no fogo e afirmo, em virtude de poderoso

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hábito: vai ferver. Se estabeleço "uma conclusão que projeta no futuro os casos passados de que tive experiência", é porque a imaginação, irresistivelmente arrastada pelo peso do costume, resvala de um evento dado àquele que comumente o acompanha. Aparento antecipar a experiência quando, na verdade, cedo a uma tendência criada pelo hábito. Por conseguinte, a necessidade causal não existe realmente nas coisas.

"A NECESSIDADE É ALGO QUE EXISTE NO ESPÍRITO, NÃO NOS OBJETOS."

O empirismo de Hume surge então como um ceticismo. De fato, não existe, na idéia de causalidade, senão o peso do meu hábito e da minha expectativa. Espero invencivelmente a ebulição da água que coloquei no fogo.

“Todos os raciocínios que se referem aos fatos parecem fundar-se na relação de causa e efeito dados de nossa memória e de nossos sentidos.(...) Ousarei afirmar, como proposição geral, que não admite exceção, que o conhecimento desta relação não se obtém, em nenhum caso, por raciocínios a priori, porém nasce inteiramente da experiência (...). Apresente-se um objeto a um homem dotado, por natureza, de razão e habilidades tão fortes quanto possível; se o objeto lhe é completamente novo, não será capaz, pelo exame mais minucioso de suas qualidades sensíveis, de descobrir nenhuma de suas causas ou de seus efeitos. (...) A proposição que estabelece que as causas e os efeitos não são descobertos pela razão, mas pela experiência(...).É preciso que um homem seja muito sagaz para poder descobrir através do raciocínio (...)o gelo é efeito do frio, sem estar previamente familiarizado com o funcionamento destes estados dos corpos.”

IMMANUEL KANT (1724-1804)

Filósofo Alemão. Influenciado pela leitura de Hume, Kant tenta encontrar uma solução que supere a dicotomia representada pelo ceticismo empírico e pelo racionalismo.

Tendo como pressuposto o ideal Iluminista da razão autônoma capaz de construir conhecimento, Kant vê a necessidade de proceder à análise crítica da própria razão como meio de estabelecer seus limites e suas possibilidades. O primeiro passo foi fazer uma critica da razão pura. Em suas palavras, a critica é um “convite feito à razão para empreender de novo a mais difícil das tarefas, o conhecimento de si mesma, e para instituir um tribunal que a garanta nas suas pretensões legítimas e que possa, em contrapartida, condenar todas as usurpações sem fundamento”.

Para essa tarefa, Kant propõe o “método transcendental”, método analítico com o qual empreenderá a decomposição e exame das condições de conhecimento e dos fundamentos da ciência e da experiência em geral.

Feita a reflexão crítica, chega à conclusão de que há duas fontes de conhecimento: a SENSIBILIDADE, que nos dá os objetos, e o ENTENDIMENTO, que pensa esses objetos. Só pela conjugação das duas fontes é possível ter a experiência do real.

É a partir desses dados que Kant faz a revolução na teoria do conhecimento: em vez de admitir que nosso conhecimento se regula pelo objeto, inverte a hipótese: são os objetos que devem regular-se pelo nosso modo de conhecer. O sujeito cognoscente tem formas (ou modos próprios) de perceber e receber os objetos.

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As formas ou conceitos a priori (anteriores a experiência) são as condições universais e necessárias para o aparecimento de qualquer coisa à percepção humana e para que esse aparecimento se torne progressivamente mais inteligível ao entendimento. Não somos folhas em branco, sobre as quais os objetos deixam suas impressões, mas, como sujeitos do conhecimento, ajudamos a construí-lo, colaboramos com nosso modo de perceber e entender o mundo.

Formas a priori: SENSIBILIDADE e ENTENDIMENTO PURO

Não se pode duvidar de que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, com efeito, como haveria de exercitar-se a faculdade de se conhecer, se não fosse pelos objetos que, excitando os nossos sentidos, de uma parte, produzem por si mesmos representações, e de outra parte, impulsionam a nossa inteligência a compará-los entre si, a reuni-los ou separá-los. Deste modo à elaboração da matéria informe das impressões sensíveis para o reconhecimento das coisas, denomina-se experiência. Pois nada precede a experiência, todos começam por ela.

Mas se é verdade que os conhecimentos derivam da experiência, alguns no entanto, não têm essa origem exclusiva, pois poderemos admitir que o nosso conhecimento empírico seja um composto daquilo que recebemos das impressões e daquilo que a nossa faculdade cognoscitiva lhe adiciona (estimulada somente pelas impressões dos sentidos); aditamento que propriamente não distinguimos senão mediante uma longa prática que nos habilite a separar esses dois elementos.

Surge desse modo uma questão que não se pode resolver à primeira vista: será possível um conhecimento independente da experiência e das impressões dos sentidos?

Tais conhecimentos são denominados “a priori”, e distintos dos empíricos, cuja origem e a posteriori”, isto é, da experiência.

Consideraremos, portanto, conhecimento “a priori”, todo aquele que seja adquirido independentemente de qualquer experiência. A ele se opõem os opostos aos empíricos, isto é, àqueles que só o são “a posteriori”, quer dizer, por meio da experiência. (...) Os conhecimentos “a priori” ainda podem dividir-se em puros e impuros. Denomina-se conhecimento “a priori” puro ao que carece completamente de qualquer empirismo. (...) é um princípio “a priori”, (...) impuro, porque o conceito de mudança só pode formar-se extraído da experiência.”

KARL POPPER (1902-1994)

Filósofo austríaco. Para ele o que distingue uma ciência das pseudociências é a condição de refutabilidade, ou seja, o que define a racionalidade científica de um teoria é a possibilidade de ela ser refutada com base na experiência: uma teoria científica é verdadeira quando resiste a refutação e a falsificabilidade, podendo então, ser confirmada, corroborada.

Vários foram os epistemólogos e investigadores da história das ciências que contribuíram para uma superação da concepção positivista da ciência e de forma particular para o surgimento do que se veio a designar por "nova filosofia da ciência". Entre outros está Karl Popper. Este defendeu que não existe processo algum de indução

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pelo qual possam ser confirmadas as teorias científicas.    Popper criticou aquilo a que chamou o mito do "observatismo", vigente no modelo de investigação positivista, segundo o qual a observação pode ser fonte segura do conhecimento. Segundo Popper, por detrás da idéia de indução, encontra-se a convicção errada de que o investigador pode observar e experimentar a realidade sem pressupostos e sem preconceitos. Não se pode admitir que o espírito do investigador se comporte como uma tábua rasa, já que tal seria ignorar o fato de que sempre se observa e se experimenta em função de problemas, teorias e modelos que condicionam a investigação. Quer na vida quotidiana quer na ciência, a observação não é o primeiro passo; há sempre algo que orienta o conhecimento – antecipações e expectativas na vida quotidiana; teorias no plano da ciência. É falso que o cientista parte de observações, tentando generalizá-las. O método científico processa-se de outro modo, numa tentativa de provar a falsidade (e não a verdade) das hipóteses de que parte, verificando até que ponto elas resistem a hipóteses contrárias.  A essência da postura de Popper sobre enunciados observáveis é que a sua aceitação se mede pela sua capacidade para sobreviver a provas. As que não superam as provas são rejeitadas, as que as superam são conservadas de modo provisório

EXERCÍCIOS

23 – (UEL- 2002)“Mas logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade eu penso, logo existo era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que poderia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava.” (DESCARTES, René. Discurso do método. Trad. de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 92. Coleção Os Pensadores.)

De acordo com o texto e com os conhecimentos sobre o tema, assinale a alternativa correta.a) Para Descartes, não podemos conhecer nada com certeza, pois tudo quanto pensamos está sujeito à falsidade.b) O “eu penso, logo existo” expressa uma verdade instável e incerta, o que fez Descartes ser vencido pelos céticos.c) A expressão “eu penso, logo existo” representa a verdade firme e certa com a qual Descartes fundamenta o conhecimento e a ciência.d) As “extravagantes suposições dos céticos” impediram Descartes de encontrar uma verdade que servisse como princípio para a filosofia.e) Descartes, ao acreditar que tudo era falso, colocava em dúvida sua própria existência.

24 – (UEL-2002) “Embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência.” (HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. Trad. de Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 36. Coleção Os Pensadores.)

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De acordo com o texto, é correto afirmar que, para Hume:a) Os sentidos e a experiência estão confinados dentro de limites muito reduzidos.b)Todo conhecimento depende dos materiais fornecidos pelos sentidos e pela experiência.c) O espírito pode conhecer as coisas sem a colaboração dos sentidos e da experiência.d)A possibilidade de conhecimento é determinada pela liberdade ilimitada do pensamento.e) Para formar as idéias, o pensamento descarta os materiais fornecidos pelos sentidos.

25 – (UEL-2003) “Para concluir, acho que só há um caminho para a ciência – ou para a filosofia: encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonarmo-nos por ele; casarmo-nos com ele, até que a morte nos separe – a não ser que encontremos outro problema ainda mais fascinante, ou a não ser que obtenhamos uma solução. Mas ainda que encontremos uma solução, poderemos descobrir, para nossa satisfação, a existência de toda uma família de encantadores, se bem que talvez difíceis, problemas, filhos, para cujo bem-estar poderemos trabalhar, com uma finalidade em vista, até ao fim dos nossos dias.” (POPPER, Karl. O Realismo e o objetivo da ciência. Trad. de Nuno Ferreira da Fonseca. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1997. p. 42.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre epistemologia, assinale a alternativa correta.a) Para a ciência e a filosofia, a solução dos problemas que elas mesmas propõem é um objetivo inatingível.b) Os problemas, filosóficos ou científicos, são prejudiciais à investigação.c) Para a investigação científica, ou filosófica, é irrelevante a existência de problemas.d) A ciência e a filosofia investigam problemas que constituem para elas o elemento motivador de suas próprias atividades.e) A ciência e a filosofia investigam problemas que não têm relação com a realidade.

26-(UEL- 2003) “Que ninguém espere um grande progresso nas ciências, especialmente no seu lado prático, até que a filosofia natural seja levada às ciências particulares e as ciências particulares sejam incorporadas à filosofia natural. [...] De fato, desde que as ciências particulares se constituíram e se dispersaram, não mais se alimentaram da filosofia natural, que lhes poderia ter transmitido as fontes e o verdadeiro conhecimento dos movimentos, dos raios, dos sons, da estrutura e do esquematismo dos corpos, das afecções e das percepções intelectuais, o que lhes teria infundido novas forças para novos progressos.”(BACON, Francis. Novum Organum. Trad. de José Aluysio Reis de Andrade. 4.ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 48.)

Com base no texto, é correto afirmar que Francis Bacon:a) Afirma que a única finalidade da filosofia natural é contribuir para o desenvolvimento das ciências particulares.b) Defende que o que há de mais importante nas ciências particulares é o seu lado prático.

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c) Propõe que o progresso da filosofia natural depende de que ela incorpore as ciências particulares.d) Constata a impossibilidade de progresso no lado prático das ciências particulares.e) Vincula a possibilidade do progresso nas ciências particulares à dependência destas à filosofia natural.

27- (UEL-2003)“(...) a maneira pela qual Galileu concebe um método científico correto implica uma predominância da razão sobre a simples experiência, a substituição de uma realidade empiricamente conhecida por modelos ideais (matemáticos), a primazia da teoria sobre os fatos. Só assim é que (...) um verdadeiro método experimental pôde ser elaborado. Um método no qual a teoria matemática determina a própria estrutura da pesquisa experimental, ou, para retomar os próprios termos de Galileu, um método que utiliza a linguagem matemática (geométrica) para formular suas indagações à natureza e para interpretar as respostas que ela dá.” (KOIRÉ, Alexandre. Estudos de história do pensamento científico. Trad. de Márcia Ramalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 1991. p. 74.)

Com base no texto, é correto afirmar que o método científico de Galileu:a) É experimental e necessita de uma instância teórica que antecede a experiência.b) É um método segundo o qual a experiência interpreta a natureza.c) É independente da experiência, pois a razão está afastada da mesma.d) É um método no qual há o predomínio da experiência sobre a razão.e) É um método segundo o qual a matemática determina a estrutura da natureza.

28- (UEL-2002) “Tomemos (...) este pedaço de cera que acaba de ser tirado da colméia: ele não perdeu ainda a doçura do mel que continha, retém ainda algo do odor das flores de que foi recolhido; sua cor, sua figura, sua grandeza, são patentes; é duro, é frio, tocamo-lo e, se nele batermos, produzirá algum som. Enfim, todas as coisas que podem distintamente fazer conhecer um corpo encontram-se neste. Mas eis que, enquanto falo, é aproximado do fogo: o que nele restava de sabor exala-se, o odor se esvai, sua cor se modifica, sua figura se altera, sua grandeza aumenta, ele torna-se líquido, esquenta-se, mal o podemos tocar e, embora nele batamos, nenhum som produzirá. A mesma cera permanece após essa modificação? Cumpre confessar que permanece: e ninguém o pode negar. O que é, pois, que se conhecia deste pedaço de cera com tanta distinção? Certamente não pode ser nada de tudo o que notei nela por intermédio dos sentidos, visto que todas as coisas que se apresentavam ao paladar, ao olfato, ou à visão, ou ao tato, ou à audição, encontravam-se mudadas e, no entanto, a mesma cera permanece.” (DESCARTES, René. Meditações. Trad. De Jacó Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 272.)

Com base no texto, é correto afirmar que para Descartes:a) Os sentidos nos garantem o conhecimento dos objetos, mesmo considerando as alterações em sua aparência.b) A causa da alteração dos corpos se encontra nos sentidos, o que impossibilita o conhecimento dos mesmos.c) A variação no modo como os corpos se apresentam aos sentidos revela que o conhecimento destes excede o conhecimento sensitivo.d) A constante variação no modo como os corpos se apresentam aos sentidos comprova a inexistência dos mesmos.

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e) A existência e o conseqüente conhecimento dos corpos têm como causa os sentidos.

29- (UEL-2002) “Para Hume, portanto, a causalidade resulta apenas de uma regularidade ou repetição em nossa experiência de uma conjunção constante entre fenômenos que, por força do hábito acabamos por projetar na realidade, tratando-a como se fosse algo existente. É nesse sentido que pode ser dito que a causalidade é uma forma nossa de perceber o real, uma idéia derivada da reflexão sobre as operações de nossa própria mente, e não uma conexão necessária entre causa e efeito, uma característica do mundo natural.” (MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p. 183.)

De acordo com o texto e os conhecimentos sobre causalidade em Hume, é correto afirmar:a) A experiência prova que a causalidade é uma característica do mundo natural.b) O conhecimento das relações de causa e efeito decorre da experiência e do hábito.c) A simples observação de um fenômeno possibilita a inferência de suas causas e efeitos.d) É impossível obter conhecimento sobre a relação de causa e efeito entre os fenômenos.e) O conhecimento sobre as relações de causa e efeito independe da experiência.

30-(UEL-2003) “O positivista desaprova a idéia de que possam existir problemas significativos fora do campo da ciência empírica ‘positiva’ – problemas a serem enfrentados por meio de uma teoria filosófica genuína. O positivista não aprova a idéia de que deva existir uma (...) epistemologia (...).” (POPPER, Karl R. A lógica da pesquisa científica. Trad. de Leônidas Hegenberg. São Paulo: Cultrix, 1974. p. 53.)

Com base no texto, é correto afirmar que Karl Popper:a) Defende a idéia de que a filosofia é uma ciência.b) Atribui aos positivistas a tese de que a filosofia é uma ciência.c) Afirma que as teorias filosóficas devem resolver os problemas científicos.d) Descreve a rejeição do positivista à epistemologia. e) Desaprova a idéia de que deva existir uma epistemologia.

31- (UEL-2002) “Só há ciência onde a discussão é possível, e só pode haver discussão entre mim e outra pessoa na medida em que eu estou em condições de esclarecer, com suficiente exatidão, o significado das expressões que uso e meu interlocutor possa, também, explicar-me o significado das palavras por ele empregadas.” (STEGMÜLLER, Wolfang. A filosofia contemporânea. Trad. de Nelson Gomes. São Paulo: EPU/ EDUSP, 1977. p. 283.)

De acordo com o texto, assinale a alternativa que apresenta uma das características fundamentais do discurso científico.a) Na ciência devem ser usadas expressões subjetivas.b) As expressões usadas na ciência devem ser intersubjetivamente inteligíveis.c) A compreensão intersubjetiva das expressões é irrelevante para as discussões científicas.

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d) A objetividade das expressões é uma característica sem importância para a ciência.e) Na ciência as explicações lingüísticas são desnecessárias.

PROBLEMA DA RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E TÉCNICA: A RACIONALIDADE INSTRUMENTAL

MAX HORKEIMER (1895-1073)THEODOR ADORNO (1903-1969)JÜRGEN HABERMAS (1929)

São filósofos alemães, que compõem a Escola de Frankfurt, que nasce para o estudo do Marxismo e acaba se encaminhando para o estudo da sociedade, ou melhor, da Sociabilidade.

O avanço da tecnocracia estabelece a influência da técnica na organização social, ou seja, nasce uma nova vertente, na qual a civilização tecnicista e cientificista se desenvolve. A última palavra é sempre dada pelo especialista, pelo “técnico competente”.

Vimos que superando a concepção medieval centrada na tradição e na visão religiosa do mundo, a modernidade se torna laica, buscando na razão a possibilidade da autonomia humana. O desenvolvimento técnico e científico é a expressão da racionalismo dos tempos modernos, que culmina no iluminismo do séc. XVIII.

No que se refere à racionalidade da Sociedade Moderna e Contemporânea, convém indagar a respeito de que razão estamos falando:

“A QUE SERVE PARA O DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA É A RAZÃO INSTRUMENTAL.”

Para Horkeimer e Adorno, a razão é incapaz de determinar os objetivos supremos da vida. Ficando reduzida a um mero instrumento, porque se ocupa apenas com os meios e não com os fins. Esta seria a razão pragmática, aplicada em buscar resultado úteis e imediatos. Em contraposição está a razão vital, que permitiria a compreensão crítica do cotidiano.

Neste sentido, é possível entender a estranha situação embora nunca tenhamos adquirido tanto saber, nem tanto poder, também é verdade que o acréscimo de saber e poder não tem sido acompanhado de sabedoria. Sabemos o que fazer e como fazer, mas perdemos de vista para o que fazer.

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O trabalho da Filosofia consiste em recuperar a razão sábia, a razão vital, como instrumento de resgate do sentido humano do mundo.

O mito do especialista, fruto do cientificismo, tem como conseqüência a tecnocracia, segundo a qual apenas e capaz de decisão o técnico competente; de onde se conclui que saber é poder.

A confiança total na ciência valoriza apenas a racionalidade científica, como se ela fosse a única forma de resposta às perguntas da cotidianiedade.

Horkeimer, Adorno e Habermas, criticam a predominância da razão instrumental e controladora, responsável por reduzir a atuação humana ao campo da eficácia, além de fazer esquecer que a relação do ser humano com a natureza não deve ser dominação, mas de harmonia.

Daí, dizer que a Ciência é um tipo de saber capaz de superar a subjetividade do próprio cientista e os preconceitos do senso comum. O rigor do método permite atingir um alto grau de objetividade, e seus processos e produtos podem ser verificados pela comunidade científica.

O exercício da razão plena, ou seja, aquela que reúne exigências da verdade proposicional, justeza normativa (razão prática ou moral), veracidade subjetiva e coerência é o papel do Novo Iluminismo, que deve mostrar aos defensores do irracionalismo que a crítica não racional leva ao conformismo, uma vez que, sem o trabalho conceitual, não há como sair da facticidade, ou seja, do vivido.

Assim, a nova razão crítica necessita:

Fazer a crítica dos limites internos e externos da razão, consciente de sua vulnerabilidade ao irracional.

Estabelecer os princípios éticos que fundamentam sua função normativa.

Vincular essa construção a raízes sociais contemporâneas, submetendo-a a prova de realidade.

Esse solo social aparece no processo comunidade, dentro do qual os sujeitos propõem a critica às motivações subjacentes e desenvolvem as capacidades humanas de saber , o buscar da verdade, da justiça e da autonomia.

O papel da filosofia consiste, portanto, em analisar as condições em que se realizam as pesquisas científicas, investigar os fins e as prioridades da Ciência, bem como avaliar as conseqüências das técnicas utilizadas.

EXERCÍCIOS

32-(UEL-2002) “A doença da razão está no fato de que ela nasceu da necessidade humana de dominar a natureza. Essa vontade de dominar a natureza, de compreender suas ‘leis’ para submetê-la, exigiu a instauração de uma organização burocrática e impessoal, que, em nome do triunfo da razão sobre a natureza, chegou a reduzir o homem a simples instrumento. Naturalmente, as possibilidades atuais eram inimagináveis nos tempos passados: hoje o progresso tecnológico põe à disposição de todos objetos e bens que antes só existiam nos sonhos dos utopistas. [...] O progresso dos recursos

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técnicos, que poderia servir para ‘iluminar’ a mente do homem, se acompanha pelo processo da desumanização, de tal modo que o progresso ameaça destruir precisamente o objetivo que deveria realizar: a idéia do homem.” (REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. Trad. de Álvaro Cunha. São Paulo: Paulinas, 1991. v. 3. p. 846.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre razão instrumental em Adorno e Horkheimer, considere as afirmativas a seguir.I. A forma como o domínio da natureza foi alcançado preservou a “idéia do homem”, objetivo central do progresso técnico.II. O objetivo do homem, desde o início de sua história, era o de dominar a natureza e fazer uso de seus recursos para viver melhor.III. A dimensão crítica da razão, imune ao progresso tecnológico e ao avanço da ciência, impediu a dominação do homem.IV. A humanidade, nos dias atuais, atingiu um grau significativo de controle sobre o meio em que vive e, para isso, conta com o auxílio de instrumentos administrativos e tecnológicos.

Estão corretas apenas as afirmativas:a) I e III.b) I e IV.c) II e IV.d) I, II e III.

e) II, III e IV.

O BELO E A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA

O belo e a beleza têm sido objeto de estudo ao longo de toda a história da filosofia. A estética enquanto disciplina filosófica surgiu na antiga Grécia, como uma reflexão sobre as manifestações do belo natural e o belo artístico. O aparecimento desta reflexão sistemática é inseparável da vida cultural das cidades gregas, onde era atribuída uma enorme  importância aos espaços públicos, ao livre debate de idéias  e aos poetas, arquitetos, dramaturgos e escultores eram  conferido um grande reconhecimento social. 

PLATÃO foi o primeiro a formular explicitamente a pergunta: O que é o Belo? O belo é identificado com o bem, com a verdade e a perfeição. A beleza existe em si, separada do mundo sensível.Uma coisa é mais ou menos bela conforme a sua participação na idéia suprema de beleza. Neste sentido criticou a arte que se limitava a "copiar" a natureza, o mundo sensível, afastando assim o homem da beleza que reside no mundo das idéias.

ARISTÓTELES concebe a arte como uma criação especificamente humana. O belo não pode ser desligado do homem, está em nós. Separa, todavia a beleza da arte. Muitas vezes a fealdade, o estranho ou o surpreendente converte-se no principal objetivo da criação artística. Aristóteles distingue dois tipos de artes:

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a) as que possuem uma utilidade prática, isto é, completam o que falta na natureza.b) As que imitam a natureza, mas também podem abordar o que é impossível, irracional, inverossímil.

O que confere a beleza uma obra é a sua proporção, simetria, ordem, isto é, uma justa medida.

Durante a Idade Média, o Cristianismo difundiu uma nova concepção da beleza, tendo como fundamento a identificação de Deus com a beleza, o bem e a verdade. 

 SANTO AGOSTINHO concebeu a beleza como todo harmonioso, isto é,

com unidade, número, igualdade, proporção e ordem. A beleza do mundo não é mais do que o reflexo da suprema beleza de Deus, onde tudo emana. A partir da beleza das coisas podemos chegar à beleza suprema (a Deus). 

 SÃO TOMÁS DE AQUINO identificou a beleza com o Bem. As coisas belas

possuem três características ou condições fundamentais: a) Integridade ou perfeição ( o inacabado ou fragmentário é feio); b) a proporção ou harmonia (a congruência das partes); c) a claridade ou luminosidade. Como em Santo Agostinho, a beleza perfeita identifica-se com Deus.

Já no Renascimento (séculos XV só em Itália, e XVI em toda a Europa), os artistas adquirem a dimensão de verdadeiros criadores. Os gênios têm o poder de criar obras únicas, irrepetíveis. Começa a desenvolver-se uma concepção elitista da obra da obra de arte: a verdadeira arte é aquela que foi criada unicamente para o nosso deleite estético, e não possui qualquer utilidade. Entre as novas idéias estéticas que então se desenvolvem são de destacar as seguintes:

a) Difusão de concepções relativistas sobre a beleza. O belo deixa de ser visto como algo em si, para ser encarado como algo que varia de país para país, ou conforme o estatuto social dos indivíduos. Surge o conceito de "gosto".

b)Difusão de uma concepção misteriosa da beleza, ligada à simbologia das formas geométricas e aos números, inspirada no pitagorismo e neoplatonismo.

c) Difusão de uma interpretação normativa da estética aristotélica. Estabelecem-se regras e padrões fixos para a produção e a apreciação da arte.

E por fim, no século XX foi a todos os níveis um século de rupturas. No domínio das práticas artísticas, ocorrem importantes mudanças no entendimento da própria arte, em resultado de uma multiplicidade de fatores, nomeadamente:

a) A integração no domínio da arte de novas manifestações criativas. Umas já existiam, mas estavam desvalorizadas, outras são relativamente recentes. Esta integração permitiu esbater as fronteiras entre a arte erudita e a arte para grandes massas. Entre as primeiras destacam-se as artes decorativas, a art naif, a arte dos povos primitivos atuais, o artesanato urbano e rural. Entre as segundas destacam-se as fotografias, o cinema, o design, a moda, a rádio, os  programas televisivos, etc.  Todas estas artes são hoje colocadas em pé de igualdade com as artes consagradas, como a pintura, escultura etc., denominadas também por "Belas Artes". 

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b)O movimento artístico que desde finais do século XIX tem aparecido, em todo o mundo, tem revelado uma mesma atitude desconstrutiva em relação a todas as categorias estéticas. Todos os conceitos são contestados, e todas as fronteiras entre as artes são postas em causa. A arte foi des-sacralizada, perdeu a sua carga mítica e iniciativa de que se revestiu em épocas anteriores, tornando-se freqüentemente um mero produto de consumo. Quase tudo pode ser  considerado como arte, basta para tanto que seja "consagrado" por um artista. 

c) No domínio teórico aparecem inúmeras as teorias que defendem novos critérios para apreciação da arte. No panorama das teorias estéticas predominam as concepções relativistas. Podemos destacar  três correntes fundamentais:

- As estéticas normativas concebem a beleza fundamentada em princípios inalteráveis. Entre elas sobressaí a estética fenomenológica de Edmund Husserl.

- As estéticas marxistas e neomarxistas marcadas por uma orientação nitidamente sociológica. O realismo continuou a ser a expressão que melhor se adequa às idéias defendidas por esta corrente. A  arte nos países socialistas, por exemplo, cumpria através de imagens realistas uma importante função: antecipar a "realidade" da sociedade socialista, transformando-a numa utopia concreta. 

- A estética informativa que deriva das teorias matemáticas da informação. Esta estética procura constituir um sistema de avaliação dos conteúdos inovadores presentes numa obra de arte.

 

NA ESCOLA DE FRANKFURT

MAX HORKEIMER (1895-1973)THEODOR ADORNO (1903-1969)JÜRGEN HABERMAS (1929)

"Assim como o Mito e a Ciência são modos de organização da experiência humana -- o primeiro baseado na emoção e o segundo na razão --, também a arte vai aparecer no mundo humano como formar a experiência vivida em objeto de conhecimento, desta vez através do sentimento."

O verdadeiro artista intui a forma organizadora dos objetos ou eventos sobre os quais focaliza a sua atenção. Ele vê, ou ouve, o que está por trás da aparência exterior do mundo. Esses símbolos, portanto, não são entidades abstratas, não são entes da razão. Ao contrário são obras de arte, objetos sensíveis, concretos, individuais, que representam analogicamente, ou seja, por semelhança de forma, a experiência vital intuída pelo artista.

Numa obra de arte o importante não é o tema em si, mas o tratamento que se dá ao tema, que o transforma em símbolo de valores de uma determinada época.É a imaginação que servirá como mediadora entre o vivido e o pensado, entre a presença bruta do objeto e a representação, entre a acolhida dada pelo corpo (os órgãos dos sentidos) e a ordenação do espírito (pensamento). Na experiência estética, a imaginação

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se manifesta, ainda, o acordo entre natureza e o sujeito, numa espécie de comunhão cuja via de acesso é o sentimento, pois é ele que acolhe o objeto, reunindo as potencialidades do ‘eu’ numa imagem singular.

Daí separar o que é emoção e o que é sentimento:

1. Emoção -- agitação afetiva, rompante psicológico.2. Sentimento -- é uma reação cognitiva, de reconhecimento

de estruturas do mundo.

O sentimento esclarece o que motiva a emoção, na medida em que são essas tensões percebidas que causam a agitação psicológica. O projeto do artista condiciona o meio e o material, que, por sua vez, condicionam as técnicas e o estilo. Em virtude dessa ligação indissolúvel entre significante e significado na obra de arte é que podemos dizer que "o objeto estético é, em primeiro lugar, a apoteose do sensível, e todo seu sentido é dado no sensível."

A arte não pode jamais ser a conceitualização abstrata do mundo. Ela é a percepção da realidade na medida em que cria formas sensíveis que interpretam o mundo, proporcionando o conhecimento por familiaridade com experiência afetiva. Esse modo de apreensão do real alcança seus aspectos mais profundos, que pela sua própria imediaticidade não podem ser apresentados de outra forma. "Entender a idéia de uma obra de arte é mais como ter uma nova experiência do que como admitir uma nova proposição”.

A arte é um dos modos simbólicos de que o ser humano se utiliza para atribuir significados ao mundo, mostrando por meio de um objeto as possibilidades do real. A arte fala à nossa imaginação e por isso, sua compreensão exige sensibilidade treinada, disponibilidade e conhecimento de história geral e história da arte. Analisar uma obra de arte é sempre um exercício de conhecimento e sensibilidade que alarga a nossa compreensão do real.

O conceito de belo é eminentemente histórico. Cada época, cada cultura, tem seu padrão de beleza próprio.

Esse princípio no Naturalismo, a função da arte era criar imagens de coisas reais, imagens que tivessem aparência de realidade. Na realidade essas pinturas só possam ser consideradas realistas em relação à estilização da pintura egípcia, que a precedeu.

Embora MIMESIS, seja normalmente traduzida por IMITAÇÃO, para os gregos elas significam muito mais que isso, era REPRESENTAÇÃO. Assim, a arte seria o que engloba todas as habilidades, desde a agricultura chamada de BELAS ARTES, até a poiésis.

Ainda no Naturalismo, aparece a colocação de que a arte vem do prazer intelectual de reconhecer a coisa representada. Reconhecer o belo e o feio, vem da habilidade em demonstrá-la.

Já no Naturalismo renascentista, que ocorre do séc. XIV ao XV na Europa, passa dignificar o trabalho do artista ao elevá-lo à condição de trabalho intelectual.

Daí determinar 6 princípios fundamentais que dominaram o ponto de vista renascentista no terreno da estética.

I. A arte é um ramo do conhecimento e, portanto, criação da inteligência.

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II. A arte imita a natureza com a ajuda das ciências.III. As artes plásticas e a Literatura tem propósito de melhoria

social e moral, aspirando ao ideal.IV. A beleza é uma propriedade objetiva das coisas e consiste em :

ordem, harmonia, proporção, adequação.V. A harmonia expressa-se matematicamente.VI. As artes alcançaram a perfeição na antiguidade Clássica, que

deve ser estudada.No Iluminismo surge a crítica que vai distinguir a percepção estética e as

formas de pensamento conceitual Belo é o que agrada independentemente de um conceito. A seguir, dividiu a beleza em duas espécies:

A beleza livre -- que não depende de nenhum conceito de perfeição ou uso.

A beleza dependente -- que depende dos conceitos.

A experiência do Belo se dá no sensível, independe de qualquer interesse de outro tipo. O gosto é a faculdade de julgar um objeto ou um modo de representação por uma satisfação ou insatisfação inteiramente independentes do interesse.

A beleza reside, primordialmente, na atitude desinteressada do sujeito, em relação a qualquer experiência. O que garante a universalidade dos juízos estéticos é o fato de que todos os homens têm a mesma faculdade de julgar, assim como a razão também é idêntica para todos. Na estética Romântica (XVIII e XIX), estão as expressões -- Gênio, Imaginação Criadora, Originalidade, Expressão, comunicação, Simbolismo, emoção e sentimento.

Gênio -- com dom intelectual inato. Imaginação -- que nos permite compreender os

sentimentos dos outros e comunicar-lhe os nossos. Pelo seu poder de recombinar impressões sensíveis e

dados da experiência, é fonte de Invenção e de Originalidade. O conceito romântico de imaginação criadora, não era

como vemos, um conceito psicológico e jamais foi claramente definido. Simbolismo -- obra de arte como símbolo, encarnação

material de um significado espiritual.

Enfim, o romantismo concebe a arte como expressão das emoções pessoais de um artista, cuja personalidade genial se torna o centro do interesse. Na ruptura do naturalismo a arte toma uma nova perspectiva. A nova atitude estética advém do Estado de Espírito Cauteloso, empírico e analítico que não quer generalizar, mas que se mantém atento às características individuais de cada forma de arte. Assim a obra de arte adquire um estatuto próprio de obra, isto é, ela não tem por função representar nenhum aspecto da realidade exterior, pois ela é a própria realidade. Realidade de obra de arte.

No pós-modernismo, a estética caracteriza-se pela desconstrução da forma, podendo formar um ecletismo, que permitem juntar-se as coisas mais variadas e até mesmo antagônicas na mesma obra. Não há um estilo único, tudo vale dentro do ‘pós-tudo’.

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O PROBLEMA DA RELAÇÃO DA ARTE COM A SOCIEDADE: A INDÚSTRIA CULTURAL E CULTURA DE MASSA

CULTURA: Palavra que surge na antiguidade, com origem no latim “ COLERE”, que significa cuidar da terra e dos animais.

Até o Iluminismo foi essa a idéia que imperou, e foi quando o termo passou a definir um traço fundamental do Homem, conjunto de saberes acumulados e transmissíveis que o distinguiriam dos animais.

Portanto, todos possuem cultura, em maior ou menor grau de desenvolvimento, quando pensada em relação ao conceito de civilização: quanto mais cultura um povo possui mais civilizado seria.

Daí, o surgimento da Antropologia, que vem para compreender os diversos povos e sua cultura, pautada nas seguintes características:

Ser traço distintivo do Homem; Ter como característica as capacidades e os hábitos adquiridos e

reproduzidos pelo Homem; A diversidade, pois não há uma só cultura.

O termo cultura refere-se aos diferentes modos desenvolvidos pelos homens para expressar-se, organizar a vida social, usar recursos naturais e reconhecer a realidade, assim construindo cada um a seu modo a História. A diversidade cultural dá-se a partir das capacidades e hábitos adquiridos e reproduzidos pelo homem, por isso a cultura assume caráter dinâmico, reprodutor de traços tradicionais, mas sempre aliados a elementos novos.

Podemos afirmar que a cultura é produto das relações entre as pessoas e entre os grupos sociais, em que cada um tende a defender a sua especificidade e julgar que seu modo de entender o mundo é melhor do que todos os outros. Essa idéia assume o que costumamos chamar de etnocentrismo (acreditar na superioridade de uma raça sobre a outra.)

INDÚSTRIA CULTURAL E IDEOLOGIA

O processo de Globalização Contemporâneo implica a formação de uma sociedade global, que se depara com uma nova realidade. As mudanças ocorridas na estrutura do emprego, o aprofundamento das desigualdades sociais e a necessidade de os sujeitos se deslocarem para outro país a fim de encontrar trabalho são alguns dos problemas dessa nova sociedade.

O mundo econômico deixou de ser algo personalizado e se transformou num mundo da interação. Para que os princípios do Capitalismo possam se estabelecer mundialmente, a grande empresa se empenha na globalização dos padrões culturais, e isso é possível por meio da expansão da chamada ‘Indústria Cultural’.

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As informações e o lazer se tornam muito parecidos em qualquer parte do mundo. O rádio e a televisão levam o mesmo tipo de informações, aguçando a sede de propriedade e desenvolvimento nos países menos desenvolvidos. O Homem percebe que não vive isolado, que é, também de um cidadão globalizado quando toma conhecimento de grandes inovações tecnológicas, como os supercomputadores e os novos materiais, informa-se sobre os problemas ambientais do mundo, como a destruição da camada de ozônio, conhecem um pouco mais sobre as grandes Guerras e os ataques terroristas, além da miséria e da fome, que afeta os povos de todos os continentes.

Desta maneira, o homem descobre que pertence a um único conjunto humano, com o qual compartilha os mesmos tipos de problemas e as mesmas ambições.

A fundamentação deste pensamento está em Adorno e Horkheimer, na obra “Dialética do Esclarecimento” (1947)

E então a massificação dos Homens, formulada e implantada através da globalização cultural, na qual se esvai a identidade do Homem e ele passa a ser apenas um momento de uma sociedade que atende a um interesse; O LUCRO.

Desta forma, também se colocam os meios de Comunicação de massa, que atendem aos anseios de uma Classe. Por Massa entende-se um número considerável de pessoas que mantém entre si uma certa coesão de caráter social, cultural, econômico. (turba, multidão)

EXERCÍCIOS

33- (UEL-2002)“O aumento da produtividade econômica, que por um lado produz as condições mais justas para um mundo mais justo, confere por outro lado ao aparelho técnico e aos grupos sociais que o controlam uma superioridade imensa sobre o resto da população. O indivíduo se vê completamente anulado em face dos poderes econômicos. Ao mesmo tempo, estes elevam o poder da sociedade sobre a natureza a um nível jamais imaginado. Desaparecendo diante do aparelho a que serve, o indivíduo se vê, ao mesmo tempo, melhor do que nunca provido por ele. Numa situação injusta, a impotência e a dirigibilidade da massa aumentam com a quantidade de bens a ela destinados.” (ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Trad. De Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. p. 14.)

De acordo com o texto de Adorno e Horkheimer, é correto afirmar:a) A alta capacidade produtiva da sociedade garante liberdade e justiça para seus membros, independentemente da forma como ela se estrutura, controlando ou não seus participantes.b) O “desaparecimento” do indivíduo diante do aparato econômico da sociedade se deve à incapacidade dos próprios cidadãos em se integrarem adequadamente ao mercado de trabalho.c) A ciência e a técnica, independente de quem tem seu controle, são as responsáveis pela circunstância de muitos estarem impossibilitados de atingir o status de sujeito numa sociedade altamente produtiva.d) O fato de a sociedade produzir muitos bens, valendo-se da ciência e da técnica, poderia representar um grau maior de justiça para todos; no entanto, ela anula o indivíduo em função do modo como está organizada e de como é exercido o poder.e) O alto grau de autonomia das massas na sociedade capitalista contemporânea é resultado do avançado domínio tecnológico alcançado pelo homem.

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34 –(UEL-2003) “Tudo indica que o termo ‘indústria cultural’ foi empregado pela primeira vez no livro Dialética do esclarecimento, que Horkheimer [1895-1973] e eu [Adorno, 1903-1969] publicamos em 1947, em Amsterdã. (...) Em todos os seus ramos fazem-se, mais ou menos segundo um plano, produtos adaptados ao consumo das massas e que em grande medida determinam esse consumo.” (ADORNO, Theodor W. A indústria cultural. In: COHN, Gabriel (Org.). Theodor W. Adorno. São Paulo: Ática, 1986. p. 92.)

Com base no texto acima e na concepção de indústria cultural expressa por Adorno e Horkheimer, é correto afirmar:a) Os produtos da indústria cultural caracterizam-se por ser a expressão espontânea das massas.b) Os produtos da indústria cultural afastam o indivíduo da rotina do trabalho alienante realizado em seu cotidiano.c) A quantidade, a diversidade e a facilidade de acesso aos produtos da indústria cultural contribuem para a formação de indivíduos críticos, capazes de julgar com autonomia.d) A indústria cultural visa à promoção das mais diferentes manifestações culturais, preservando as características originais de cada uma delas.e) A indústria cultural banaliza a arte ao transformar as obras artísticas em produtos voltados para o consumo das massas.

GABARITO DE RESPOSTAS

Questões Respostas Questões Respostas01 D 18 D02 B 19 C03 D 20 D04 C 21 A05 B 22 E06 A 23 C07 C 24 B08 B 25 D09 A 26 E10 D 27 A11 A 28 C12 E 29 B13 A 30 D14 E 31 B15 B 32 C16 A 33 D17 B 34 E

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BIBLIOGRAFIA

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