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  • Departamento de Engenharia Civil

    MATERIAIS DE CONSTRUO 2 1 PARTE LIGANTES E CALDAS 2002

    actualizao 2006

    Joana de Sousa Coutinho

  • Departamento de Engenharia Civil

    MATERIAIS DE CONSTRUO 2 1 PARTE LIGANTES E CALDAS 2002

    actualizao 2006

    Joana de Sousa Coutinho

  • Materiais de Construo 2 1 Parte 2006

    Joana de Sousa Coutinho

    ii

    NDICE

    1. INTRODUO 1

    1.1 Consideraes gerais 1 1.2 Beto. Definio 3

    2 LIGANTES 4 2.1 Introduo 4

    Ex: alcatro 4 2.2 Gesso 5

    2.2.1 Introduo 5 2.2.2 Presa e endurecimento 7 2.2.3 Resistncias Mecnicas 9 2.2.4 Outras propriedades 10 2.2.5 Aplicaes 11

    2.3 Cal area e cal hidrulica 15 2.3.1 Introduo 15 2.3.2 Cal area 15 2.3.3 Endurecimento da cal area 17 2.3.4 Aplicaes da cal area 18 2.3.5 Cal hidrulica 18 2.3.6 Presa e endurecimento da cal hidrulica 20 2.3.7 Algumas propriedades e aplicaes de cal hidrulica 20 2.3.8 Fabrico de cal 21 2.3.9 Comercializao de cais 22 2.3.10 Normalizao 22

    3. CIMENTOS 28 3.1 Introduo 28 3.2 Definio 30 3.3 Composio da matria prima 30 3.4 FABRICO 31

    3.4.1 Consideraes Gerais 31 1. Preparao do cru 31

    3.4.2 Preparao do cru 32 3.4.3 Cozedura em forno rotativo 33 3.4.4 Arrefecimento do clnquer. Moagem 37

    3.5 Principais componentes 41 do cr e do clnquer Portland 41

    3.5.1 Consideraes gerais 41 3.5.2 Componentes da matria prima 41 3.5.3 Notao abreviada 42 3.5.4 Mdulos 42 3.5.5 Componentes principais do clnquer 44 3.5.6 Clculo dos componentes principais do cimento Portland 47

    3.6 Hidratao 49 3.6.1 Presa, endurecimento e hidratao 50

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    3.6.2 Hidratao e microestrutura 55 3.6.3 Calor de hidratao dos componentes 58 3.6.4 Resistncia dos componentes hidratados 61 3.6.5 A gua no cimento hidratado 62 3.6.6 Resistncia qumica 64

    3.7 Propriedades fsicas, mecnicas e qumicas dos cimentos 66 3.7.1 Massa volmica dos cimentos 66 3.7.2 Finura 68

    3.7.2.1 Introduo 68 3.7.2.2 Mtodos de determinao da finura de um cimento 69

    3.7.3 Resistncias mecnicas 78 3.7.4 Presa 83 3.7.5 Falsa Presa 85 3.7.6 Expansibilidade 85

    3.7.6.1 Expansibilidade causada por xido de clcio livre 86 3.7.6.2 Expansibilidade causada pelo xido de magnsio 87 3.7.6.3 Expansibilidade causada por sulfatos de clcio 88

    3.7.7 Resduo insolvel 88 3.7.8 Perda ao fogo 89 3.7.9 Cloretos 89

    3.8 MODIFICAES NA COMPOSIO no CLNQUER DO CIMENTO PORTLAND VERSUS USO DE ADIES 92

    3.8.1 Cimento resistente aos sulfatos 96 3.8.2 Cimentos de baixo calor de hidratao 99 3.8.3 Cimento de elevada resistncia inicial 100 3.8.4 Cimento branco 101

    3.9 ADIES ou substitutos parciais do cimento Portland 102 3.9.1 Fleres e filer calcrio (L, LL). Cimentos Portland de calcrio (CEM II-L e LL) 103

    3.9.1.1 Definio e caractersticas 103 3.9.1.2 Regulamentao 104

    3.9.2 Escria de Alto Forno. Cimentos Portland de escria (CEM II-S) e cimentos de alto forno (CEM III) 105

    3.9.2.1 Propriedades hidrulicas latentes 105 3.9.2.2 Escria - Definio e caractersticas 105 3.9.2.3 Regulamentao 108 3.9.2.4 Vantagens do uso de escrias 108

    3.9.3 Pozolanas. Actividade pozolnica. Classificao das pozolanas 110 3.9.4 Pozolanas naturais 111 3.9.5 Pozolanas artificiais 112 3.9.6 Cinza volante 114

    3.9.6.1 Definio e caractersticas 114 3.9.6.2 Regulamentao 117

    3.9.7 Slica de fumo 117 3.9.8.1 Definio, caractersticas e vantagens 117 3.9.7.2 Efeitos da slica de fumo 120 3.9.7.3 Regulamentao 123

    3.9.8 Cinza de casca de arroz 124 3.9.9 Determinao da reactividade de uma adio tipo II 125

    3.9.9.1 ndice de Actividade (adies tipo II) 125

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    3.9.9.2 Pozolanicidade 127 3.10 Especificaes dos cimentos e normalizao em Portugal 128 3.11 Cimentos Especiais 134

    3.11.1 Cimento Supersulfatado (Ciment mettalurgique supersulfat) 134 3.11.2 Cimento aluminoso 135 3.11.3 Cimento Expansivo 137

    4. CALDAS DE INJECO 138 4.1 INTRODUO 138 4.2 FABRICO 141 4.3 PROPRIEDADES DA CALDA E NORMALIZAO 142 4.4 TECNOLOGIA DE INJECO 145 4.5 INJECO PROPRIAMENTE DITA 147 4.6 ANOMALIAS NA INJECO 148 4.7 REINJECO (post-grouting) 148 4.8 NOTAS FINAIS 149

    REFERNCIAS 149

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    v

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    1. INTRODUO

    1.1 CONSIDERAES GERAIS O beto e o ao so os materiais estruturais mais usados, por vezes completando-

    se e noutras vezes competindo um com o outro de tal forma que estruturas de tipo e

    funo semelhantes podero ser construdas quer com um quer com o outro material de

    construo. No entanto, muitas vezes o engenheiro conhece pior o beto de uma

    estrutura do que o ao. De facto o ao produzido sob condies cuidadosamente

    controladas e as suas propriedades so determinadas em Laboratrio sendo referidas nos

    documentos de certificao emanados do produtor. Isto , o projectista apenas ter que

    especificar o ao de acordo com as normas em vigor e o engenheiro da obra ter que

    verificar que as tarefas de ligao dos vrios elementos de ao sejam bem realizadas.

    Numa obra em beto a situao totalmente diferente, pois, embora a qualidade

    do cimento seja garantida pelo produtor de cimento de uma forma semelhante ao que

    acontece com o ao e se utilizem materiais cimentcios adequados, o beto, e no o

    cimento, que constitui o material de construo. Os elementos estruturais numa obra em

    beto em geral so betonados in situ e utilizando-se os materiais adequados, a sua

    qualidade vai depender sobretudo da mo-de-obra que produz, coloca e cura o beto.

    Como a disparidade nos mtodos de produo do ao e do beto to evidente

    torna-se muito importante o controlo de qualidade na obra quando utilizado o material

    beto. Alm disso a mo-de-obra ligada produo do beto no especializada como

    noutros tipos de tarefas, tornando-se essencial a fiscalizao na obra. Estes factos devem

    estar presentes na mente do projectista na medida em que um projecto cuidado e

    detalhado pode ser facilmente viciado se as propriedades do beto efectivamente

    produzido em obra se desviarem muito das propriedades previstas no projecto.

    Do que foi dito no se dever concluir que difcil produzir bom beto, pois o

    beto de m qualidade que se caracteriza, por exemplo, por uma trabalhabilidade

    inadequada e que endurece transformando-se numa massa no homognea e com ninhos

    de pedra, tambm provem da mistura de cimento, agregados e gua. Isto , os

    ingrediente de um bom beto so exactamente os mesmos de um mau beto e a

    diferena entre os dois reside na tcnica e conhecimentos do como fazer (Neville,

    1995).

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    De facto os processos envolvidos na produo de cimento e beto so complexos,

    como se verifica na Figura 1.

    matrias primas

    moagem do cruhomogeneizao

    calcinaoqueima

    arrefecimentoalimentao do forno

    clinquer

    moagem

    gua

    adjuvantes

    adies

    adiesminerais

    adiesquimcas

    agregados

    armazenamentocimento

    beto

    Figura 1 Fluxograma de materiais e processos na produo de cimento e beto (Johansen, 1999).

    As propriedades do beto endurecido so da maior importncia e dependem da

    complexa estrutura interna deste material. Alm disso o comportamento do beto fresco

    e enquanto plstico tem uma influncia crucial na estrutura interna e, consequentemente

    nas propriedades do material endurecido. Acresce ainda que a estrutura interna e,

    portanto, as respectivas propriedades, vo evoluindo ao longo do tempo, interagindo

    com o ambiente em que o beto est inserido (Construction Materials, 1996).

    Assim, saber fazer beto de qualidade implica avaliar o ambiente onde a

    estrutura do beto vai ser inserida, procurando prever as interaces ambiente/beto;

    conhecer o comportamento dos constituintes; controlar as fases de produo, transporte,

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    colocao, compactao - isto , o seu comportamento no estado fresco, assim como

    garantir uma eficiente proteco e cura.

    Um beto de qualidade assim concebido e realizado ter uma estrutura interna que

    evolui ao longo do tempo mas cujas propriedades satisfazem os requisitos pretendidos

    durante o perodo de vida til prevista para essa estrutura.

    Em resumo, poder-se- dizer que o BETO um material compsito cujas

    propriedades dependem:

    - da qualidade dos constituintes

    - da qualidade de mo-de-obra que o produz e coloca

    - das condies ambientais a que estar exposto durante a sua vida til (Skalny,

    1989).

    Repare-se que com a evoluo dos conhecimentos actuais relacionados com o

    beto, torna-se fundamental que os engenheiros, empreiteiros e tcnicos ligados

    construo levem a srio o desafio proposto por Sitter e designado pela Lei dos cinco:

    Uma libra (escudo, dlar, Euro, ...) investido na fase A, corresponde a 5 libras na

    fase B, 25 na fase C e 125 na fase D, em que:

    A - Projecto, construo e cura do beto

    B - Processos de iniciao da corroso em curso mas as fases de propagao e

    portanto de deteriorao ainda no comeados.

    C - Fase de propagao da corroso iniciada

    D - Estado de propagao avanada (Geiker, 1999).

    Isto , fundamental investir sobretudo na fase de concepo, construo

    (produo, transporte, colocao, COMPACTAO) proteco e cura do beto - a fase

    A.

    1.2 BETO. DEFINIO

    O beto um material constitudo pela mistura devidamente proporcionada de

    agregados (em geral brita ou godo e areia) com um ligante hidrulico, gua e

    eventualmente adjuvantes e/ou adies.

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    Ligante hidrulico (cimento)

    Grosso (brita ou godo) Agregados Fino (areia)

    gua

    [Adjuvantes]

    BETO

    [Adies]

    2 LIGANTES

    2.1 INTRODUO Um ligante um produto que ganha presa e endurece, podendo aglomerar outros

    materiais, tais como agregado grosso e areia. So portanto substncias com

    propriedades AGLOMERANTES.

    areos Ex: cal area; gesso (no resiste gua)

    LIGANTES

    HIDRFILOS Aplicao sobretudo em argamassas e betes

    hidrulicos Ex: cal hidrulica; cimento (resistente gua)

    HIDRFOBOS aplicao sobretudo em impermeabilizaes e pavimentos

    Ex: alcatro betumes naturais e artificiais asfaltos (destilao de petrleo) resinas(materiais plsticos ou sintticos)

    Um ligante hidrfilo um ligante que tem afinidade com a gua e misturado com

    ela forma uma pasta que endurece, podendo, como qualquer ligante, aglomerar outros

    materiais. constitudo por matria slida finamente pulverizada. Ex: cal area, gesso,

    cal hidrulica, cimento.

    Os ligantes hidrfilos podem-se classificar em areos ou hidrulicos.

    Um ligante hidrfilo areo um ligante que misturado com a gua forma uma

    pasta que endurece ao ar.

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    A pasta endurecida, com ou sem outros materiais incorporados, no resistente

    gua. Ex: cal area, gesso.

    Um ligante hidrfilo hidrulico um ligante que misturado com a gua forma

    uma pasta que endurece ao ar ou dentro da gua e a pasta endurecida, com ou sem

    outros materiais incorporados, resiste gua. Ex: cal hidrulica, cimento.

    Um ligante hidrfobo (repelente de gua) um ligante em que a gua no tem

    qualquer papel na produo e endurecimento do aglomerante e que repele a gua aps

    endurecimento. constitudo por substncias mais ou menos viscosas que endurecem

    por arrefecimento, por evaporao dos seus dissolventes ou por reaco qumica entre

    diferentes componentes.

    Apresentam-se, no sob a forma de p como os ligantes hidrfilos, mas sob a

    forma de lquidos viscosos ou solues resinosas e ao endurecer formam estruturas

    coloidais rgidas. Exs: alcatro, proveniente de carvo, sobretudo de hulha), asfaltos

    (provenientes da destilao de petrleo), matrias plsticas ou sintticas como resinas.

    2.2 GESSO 2.2.1 Introduo

    A famlia dos gessos um conjunto de ligantes simples constitudos

    basicamente por sulfatos mais ou menos hidratados de clcio e sulfatos anidros de

    clcio obtidos por desidratao e cozedura da Pedra de Gesso ou Gesso Bruto.

    O gesso encontra-se abundantemente na natureza, em terrenos sedimentares,

    apresentando-se sob a forma de Anidrite CaSO4 ou Pedra de Gesso (CaSO4 . 2H2O)

    (Sampaio, 1978).

    A Pedra de Gesso ou Gesso Bruto extrado das gesseiras e

    constituda essencialmente por sulfato de clcio dihidratado

    (CaSO4.2H2O) podendo conter impurezas como slica, alumina, xido

    de ferro, carbonatos de clcio e magnsio.

    A Pedra de Gesso se submetida a tratamento trmico em fornos especiais d

    origem a compostos diversos, mais ou menos hidratados e com propriedades diferentes,

    de acordo com a temperatura de cozedura:

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    Entre 130 e 160oC o composto perde 1.5 molculas de gua dando origem ao gesso de Paris, gesso para estuque ou gesso calcinado CaSO4.1/2 H2O.

    Este gesso mais solvel na gua do que o Gesso Bruto. Entre 170 e 280oC obtm-se a anidrite solvel CaSO4 de presa rpida

    (gesso rpido), transformando-se em CaSO4.1/2 H2O em presena de gua.

    Entre 400 e 600oC forma-se uma anidrite insolvel, que portanto no reage com a gua, no ganhando presa.

    Cerca de 1100oC forma-se o gesso para pavimentos que uma anidrite de presa lenta. O gesso para pavimentos necessita de pouca gua de

    amassadura e aps endurecimento apresenta maior resistncia e dureza e

    menor porosidade e sensibilidade gua do que o gesso de Paris. pouco

    usado devido ao facto da sua produo exigir temperaturas elevadas de

    cozedura. Embora a presa demora cerca de 5 horas possvel reduzi-la para

    cerca de 30 minutos utilizando aceleradores, como por exemplo sulfato de

    alumnio (Duriez, 1950; NP 315, 1963; Sampaio, 1978; Bauer, 1992 e

    Moreira, 1999).

    1100 Gesso para Pavimentos

    (presa lenta, + resistente)

    400 a 600 Anidrite Insolvel

    (sem presa)

    170 a 280CaSO4

    Anidrite Solvel (gesso rpido)

    CaSO4.2H2O Pedra de Gesso ou

    Gesso Bruto

    130 a 170 CaSO4.1/2H2O

    Gesso de Paris, para estuque ou

    calcinado

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    1400

    1600

    Figura 2 Produtos obtidos a partir da Pedra de Gesso, de acordo com as temperaturas (C).

    O gesso para construo ou gesso comercial constitudo por uma mistura de

    cerca de 60 a 70% de SO4Ca.1/2 H2O e o restante de anidrite (Bauer, 1992) tambm

    podendo conter impurezas e adjuvantes. Num estudo levado a cabo no LNEC o gesso de

    construo em Portugal demonstraram um teor de SO4Ca.1/2 H2O entre 77 e 97%

    (Oliveira e Rodrigues).

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    2.2.2 Presa e endurecimento Os sulfatos de clcio hemi-hidratado e anidro, em presena de gua reconstituem

    rapidamente o sulfato bi-hidratado original, isto , o gesso bruto como reaco inversa

    ao seu fabrico:

    CaSO4.1/2 H2O + 1.5H2O CaSO4.2H2O Esta reaco fortemente EXOTRMICA e expansiva, formando-se uma fina

    malha de cristais em forma de longas agulhas que se interpenetram dando coeso ao

    conjunto.

    De facto uma das caractersticas mais notveis do gesso que a presa se faz com

    aumento de volume, o que tem vantagens quando se trata de enchimento de moldes,

    porque deixam de haver falhas dentro dos moldes. Alm deste facto h a salientar que o

    acabamento das superfcies de gesso muito perfeito. Por estas razes o gesso foi e

    muitas vezes usado em ornamentaes delicadas de tectos e paredes.

    Depois da presa o gesso continua a endurecer num processo que pode durar

    semanas. A presa e endurecimento dependem dos seguintes factores:

    natureza dos compostos desidratados originados pela temperatura e tempo

    do tratamento trmico sofrido, como visto atrs.

    finura

    presena de impurezas

    presena de adjuvantes (por ex. retardadores de presa)

    quantidade de gua de amassadura

    Relativamente finura, quanto mais modo for o gesso, maior ser a sua

    superfcie especfica e consequentemente a superfcie do material exposto hidratao,

    pelo que a presa ser mais rpida (para a mesma quantidade de gua de amassadura).

    A presa e o endurecimento do gesso tratado termicamente so tambm atrasados

    por impurezas que existam no Gesso Bruto (produto natural).

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    possvel tambm, obter gesso de presa mais lenta por incorporao de

    retardadores de presa tais como cola, serrim fino de madeira, etc., em propores

    muito reduzidas (0.1 a 0,5%).

    A quantidade de gua utilizada na amassadura de gesso, a gua de amassadura,

    influencia muito a presa e o endurecimento, e, consequentemente a resistncia e

    porosidade. De facto a presa tanto mais rpida quanto mais se reduzir a quantidade de

    gua no sentido de a aproximar da estritamente necessria hidratao de dada

    quantidade de gesso (para o composto CaSO4.1/2H2O cerca de 25% em massa). Se se

    utilizar apenas a quantidade mnima, a presa demasiado rpida e portanto no

    manusevel, no trabalhvel, pelo que se utiliza sempre, na prtica, uma quantidade de

    gua maior.

    De facto o CaSO4.1/2H2O um produto muito solvel na gua. Ento quando se

    mistura gesso com gua, o CaSO4.1/2H2O dissolve-se dando origem ao CaSO4.2H2O,

    que no to solvel e que ao fim de algum tempo precipita, por se ter dado a saturao

    da soluo. Aquando da precipitao formam-se cristais que vo constituir um sistema

    rgido.

    Quanto mais gua se emprega na amassadura maior o tempo de presa, pois mais

    tempo leva a soluo a ficar saturada, e portanto a cristalizao faz-se mais tarde.

    Portanto:

    > t. presa e endurecimento

    > A/G < resistncia mecnica

    > porosidade

    A massa de gua de amassadura G massa de gesso Em geral para o gesso de construo a amassadura feito com uma quantidade de

    gua de cerca de 0.6 a 0.75, verificando-se o princpio de presa entre 2 a 6 minutos e o

    fim de presa (gesso j slido, consistente) de 15 a 30 minutos (Duriez, 1952).

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    Como exposto anteriormente, para aumentar o tempo de presa, pode-se utilizar

    uma quantidade maior de gua de amassadura com os inconvenientes de se obter

    resistncia mecnica inferior e maior porosidade. possvel retardar a presa sem

    aumentar a gua, utilizando um retardador de presa (por exemplo gelatina, cola forte,

    cal apagada, gua quente) e portanto aumentar a resistncia e diminuir a porosidade.

    2.2.3 Resistncias Mecnicas A resistncia mecnica do gesso aps presa depende da quantidade de gua

    embebida, isto , presente na rede porosa e que no foi necessria para a formao de

    CaSO4.2H2O. Os cristais formados so solveis na gua pelo que se o gesso aps presa

    mantido num ambiente saturado praticamente no endurece. Se o gesso aps presa

    conservado num ambiente no saturado, vai endurecendo medida que a gua

    embebida se evapora e a resistncia vai aumentando. Por exemplo ao ar livre para uma

    humidade relativa mdia, a resistncia do gesso pode duplicar entre o 1 e o 7 dia aps

    a amassadura.

    Mesmo depois de seco, a resistncia compresso pode reduzir a um quarto ou

    mesmo um sexto se for embebido em gua (Duriez, 1952). Isto , o gesso no resiste

    humidade e acaba mesmo por

    apodrecer nessas condies, s se

    utilizando no exterior, em climas

    secos.

    Na Figura 3 apresentam-se os

    resultados mdios de ensaios

    efectuados aos 28 dias em provetes

    secos e saturados da resistncia

    compresso e traco em funo

    da gua de amassadura.

    Figura 3 Resistncias mdias em provetes secos e saturados de gesso de construo, conservados 28 dias em ar

    seco.

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    As resistncias aproximadas compresso e traco, de gesso de construo

    conservado 28 dias num ambiente com humidade relativa mdia so dadas no quadro

    seguinte (Duriez, 1952).

    Resistncia (MPa) A/G compresso traco

    Gesso de construo fino 75% 4.5 1.5 Gesso de construo grosso 60% 5.5 1.2

    A massa de gua de amassadura G massa de gesso

    Repare-se que a resistncia compresso cerca de trs a quatro vezes superior

    resistncia traco. No beto o factor correspondente cerca de dez.

    Repare-se tambm que no gesso, a resistncia mecnica depende no s da gua

    de amassadura, mas tambm do estado de embebio, isto , da quantidade de gua

    contida na rede porosa, como exposto anteriormente. No beto a resistncia mecnica

    depende sobretudo da gua de amassadura e no diminui com o aumento da gua de

    embebio, pelo contrrio, ir aumentar com a continuao do processo de hidratao

    do cimento.

    2.2.4 Outras propriedades Como apontado anteriormente a principal desvantagem deste material no

    resistir humidade, em virtude ser dissolvido pela gua. apenas utilizado em

    ambientes eventualmente hmidos se protegido com uma pintura impermevel. No

    entanto apresenta uma srie de vantagens e desvantagens que se resumem

    seguidamente:

    Econmico. O gesso um material econmico devendo substituir o cimento

    sempre que possvel. De facto, para fabricar 1 tonelada de cimento Portland so

    necessrios cerca de 300 kg de carvo e para 1 tonelada de gesso so necessrios

    cerca de 80 a 90.

    Bom acabamento.

    Bom isolamento Trmico e Acstico.

    Resistncia ao fogo. De facto a resistncia ao fogo deste material elevado pois

    no incio, o calor dispensado na desidratao do gesso.

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    11

    gua Salgada. O gesso cinco vezes mais solvel em gua do mar (ou gua

    com cloreto de magnsio) do que em gua doce.

    Corroso do ferro e ao. O gesso corri o ferro e o ao pelo que no se podem

    usar ferramentas e utenslios destes materiais, preferindo-se a utilizao de

    ferramentas em lato, pregos ou parafusos com crmio, pregos ou parafusos e

    armaduras galvanizadas com zinco puro (por exemplo o zinco com 1 a 2%

    atacado) e no caso de se aplicar gesso por exemplo em tectos, as armaduras tm

    de estar totalmente protegidas com argamassa (de cimento).

    M aderncia a superfcies lisas, sobretudo a madeira, pelo que se

    desenvolveram no passado, tcnicas apropriadas para obviar este inconveniente:

    o estuque e o estafe.

    2.2.5 Aplicaes O estuque e o estafe so tcnicas de aplicao de gesso que hoje no so utilizadas

    a no ser em obras de reabilitao.

    Estuque consiste no revestimento de paredes, tectos e outras superfcies

    rebocadas de estruturas de edifcios feito com pasta de gesso para estuque (gesso

    calcinado a cerca de 140oC e misturada com cal ou outro retardador) e qual se

    adicionaram outros materiais convenientes como por exemplo, gelatina ou cola forte. O

    estuque colocado entre e sobre fasquias de madeira dispostas de modo a permitir

    melhor aderncia Figura 4.

    Figura 4 Aplicao de estuque (Sampaio, 1975).

    Esta tcnica caiu em desuso em virtude da falta de mo de obra e tambm devido

    s deformaes sofridas pelas peas em madeira preferindo-se hoje o uso de gesso sob a

    forma de placas pr-fabricadas (NP 315 e Sampaio, 1975).

    gessofasquio

    fasquio

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    12

    Estafe Placas pr-fabricadas de 1 a 2 cm de espessura, constitudas por gesso,

    armadas com fibras vegetais (estopa, sisal, linho, etc.), dispersas que conferem maior

    resistncia flexo.

    Estas placas so aparafusadas aos barrotes intervalados de cerca de 1 metro. Os

    parafusos no podem ser de ao, como dito. As juntas das placas e remates so

    colmatadas com linhada de gesso fabricada no local e que consiste numa pasta de

    gesso armada com fios de linho ou sisal.

    PARAFUSOS PLACAS DE GESSO BARROTE

    1 a 2cm

    Figura 5 Placas pr-fabricadas formando o estafe (Sampaio, 1975).

    Hoje em dia, existem vrios tipos e marcas de gesso de construo Figura 6,

    para executar trabalhos moldados em obra, pr-fabricados ou mesmo para base na

    formulao de colas ou massas.

    Figura 6 Gesso para construo vendido a saco.

    Alm do gesso de construo existe uma srie de produtos aplicveis na

    construo obtidos a partir do gesso tais como:

    peas pr-fabricadas para decorao Figura 7.

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    13

    Figura 7 Produtos pr-fabricados de gesso, para decorao.

    Gesso Cartonado placas de gesso prensado entre duas folhas de carto. Exs: Pladur Figura 8 Placoplatre Figura 9

    Figura 8 Gesso cartonado Pladur.

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    14

    Figura 9 Aplicao de gesso cartonado Placoplatre.

    Gesso prensado placas de gesso prensado Ex: Knauff Figuras 10 e 11.

    Existem hoje um sem nmero de outros produtos aplicveis na construo civil e

    que englobam o material gesso, tais como placas mistas, placas reforadas com fibras

    celulsicas, etc..

    Figura 11 - Tecto em gesso. Entrada principal da Embaixada alem em

    Washington (proj. Arq. O.M. Ungers) Pr-fabricao e montagem na Alemanha.

    Figura 10 - Placas perfuradas Knauff entre as vigas de ao visveis. Restaurantes no piso

    superior do Parlamento de Berlim (Reichstag).

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    15

    2.3 CAL AREA E CAL HIDRULICA 2.3.1 Introduo

    Um dos ligantes artificiais mais antigos o ligante que resulta da cozedura dos

    calcrios, constitudos sobretudo por CaCO3, mais abundantes na natureza. Associada a

    estes existe sempre a argila, em maior ou menor quantidade, porque a precipitao do

    carbonato de clcio em guas de grande tranquilidade arrasta consigo a argila que

    porventura esteja em suspenso. Obtm-se ento o calcrio margoso; quando a argila

    em quantidade superior ao carbonato forma-se uma marga calcria. Assim, os

    calcrios podem ser muito puros ou conterem quantidades variveis de argila (Coutinho,

    1988).

    Calcrio CaCO3 ~ 100%

    Calcrio margoso CaCO3 + argila (

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    16

    calcrios com teores de argila e de outras impurezas compreendidos entre 1 e 5%

    (Coutinho, 1988).

    Chamam-se gordas s primeiras devido s suas propriedades plsticas, pois trata-

    se de cais facilmente trabalhveis e bastante macias. As cais magras no so to fceis

    de trabalhar nem to macias. A reaco de presa a mesma para qualquer delas

    (Sampaio, 1975).

    Como o magnsio aparece muitas vezes associado ao clcio, so frequentes na

    natureza calcrios com maior ou menor percentagem de dolomite (MgCO3) (Coutinho,

    1988). Assim a cal area pode ser clcica quando sobretudo constituda por xido de

    clcio (CaO) ou dolomtica constituda sobretudo por xido de clcio e xido de

    magnsio. Segundo a normalizao europeia uma cal area clcica designa-se por uma

    sigla que contm as letras CL e uma cal area dolomtica designa-se por uma sigla que

    contm as letras DL.

    O produto obtido pela cozedura dos calcrios designa-se por cal viva (quicklime)

    que sobretudo xido de clcio e que, por reaco com a gua (extino), fornece a cal

    apagada ou extinta (hidrated lime) que sobretudo hidrxido de clcio - Ca(OH)2.

    Segundo a normalizao europeia uma cal viva designa-se por uma sigla que contm a

    letra Q e uma cal apagada designa-se por uma sigla que contm a letra S.

    A cal viva apresenta-se sob a forma de gros de grandes dimenses com 10, 15 ou

    20 cm so as pedras (ou blocos) de cal viva (Bauer, 1992) ou sob a forma de p. A cal

    viva um produto slido, de cor branca com grande avidez pela gua. Isto , para a

    obteno e posterior aplicao do hidrxido de clcio, Ca(OH)2, necessrio proceder

    hidratao da cal viva. A esta operao chama-se extino da cal:

    CaO + H2O Ca(OH)2 + 15.5 cal. r. exotrmica cal viva cal apagada com expanso ou extinta

    A extino pode fazer-se por dois processos: por imerso ou por asperso.

    A imerso corresponde extino da cal viva com excesso de gua e feita

    mergulhando os blocos de cal viva em gua obtendo-se uma pasta pasta de cal ou

    pasta de cal apagada que endurece lentamente. De facto um produto muito pouco

    poroso e permevel, com difcil e lenta recarbonatao que pode durar mais de 6

    semanas, por vezes. Existem argamassas romanas que ainda se encontram moles no seu

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    17

    interior, devido a camada exterior de carbonato de clcio no deixar penetrar o CO2,

    impedindo assim a recarbonatao em zonas mais profundas (Sampaio, 1978).

    A asperso consiste na extino da cal viva com asperso de gua estritamente

    necessria hidratao. Como se verifica expanso medida que a cal se vai

    hidratando, o produto pulveriza-se (Sampaio, 1978).

    As cais extintas so portanto cais areas, principalmente constitudas por

    hidrxido de clcio e, eventualmente, de magnsio que resultam da extino da cal viva.

    As cais extintas no tm reaco exotrmica quando em contacto com a gua. So

    produtos sob a forma de p seco ou mistura aquosa (NP EN 459-1, 2002) (pasta de cal

    lime putty, ou leitada de cal).

    Portanto, uma cal area um ligante constitudo sobretudo por xidos de clcio,

    CaO ou hidrxidos de clcio, Ca(OH)2 que endurece lentamente ao ar por reaco com

    o dixido de carbono. Em geral no endurece na gua pois no possuem propriedades

    hidrulicas. Pode-se tratar de uma cal viva ou de uma cal apagada (NP EN 459-1, 2002).

    2.3.3 Endurecimento da cal area

    Depois de aplicada, o endurecimento da cal area faz-se em duas fases. Numa

    primeira fase (presa inicial) d-se a evaporao da humidade em excesso, ao fim da qual

    a cal est firme ao tacto mas ainda marcvel com a unha. Na segunda fase, a fase de

    recarbonatao, d-se uma reaco qumica muito lenta, ao ar, (da o nome de area),

    em que o hidrxido se reconverte em carbonato de clcio por recombinao com o

    dixido de carbono (CO2). A velocidade desta fase de recarbonatao depende da

    temperatura, da estrutura porosa e da humidade da pasta podendo demorar anos a

    completar-se:

    Ca(OH)2 + CO2 CaCO3 + H2O + 42,5 cal. r. exotrmica e expansiva

    A pasta de cal ao secar retrai e fissura. Para evitar a retraco de secagem

    emprega-se areia nas argamassas de cal. Os gros de areia dividem o material em

    pequenas fraces localizadas que arejam a argamassa, permitindo a sua carbonatao

    ao mesmo tempo que se d a secagem. A areia utilizada deve ser siliciosa ou calcria,

    bem limpa, isenta de matrias hmicas e de argila.

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    18

    2.3.4 Aplicaes da cal area Repare-se que o hidrxido de clcio (Ca(OH)2) solvel na gua (1,3g/l) e ainda

    mais na gua salgada. Portanto, alm de no ganhar presa nem endurecer em gua,

    ainda mais solvel em gua salgada, pelo que no pode ser usado em obras hidrulicas

    nem martimas.

    At h cerca de 200 anos (quando apareceu a cal hidrulica) o ligante usado em

    todas as construes era a cal. Hoje ainda utilizada por exemplo no fabrico de blocos

    slico-calcrios, misturada com gesso, no fabrico de estuques, misturada com pozolanas

    constituindo ligantes hidrulicos, misturada com cimento ou cal hidrulica em

    argamassas para reboco e ainda sob a forma de leitada na caiao de muros. (Note-se

    que ter vantagem na caiao utilizar areia, para que no se verifique microfissurao e

    tambm tornar o produto mais econmico).

    (Sampaio 1975; Coutinho, 1988; Bauer, 1992; Moreira, 1998).

    2.3.5 Cal hidrulica Como indicado anteriormente a pedra calcria (CaCO3) que contenha de 8 a 20%

    de argila, se tratada termicamente a cerca de 1000oC, d origem a cal hidrulica que

    um produto que endurece tanto na gua como no ar.

    A cal hidrulica constituda por silicatos (SiO2 . 2CaO) e aluminatos de clcio

    (Al2O3 . CaO) que hidratando-se endurecem na gua ou ao ar e tambm por xido de

    clcio (CaO) pelo menos 3%, que continua livre e que vai endurecer por carbonatao.

    CaCO3 + argila 1000/1100oC cal hidrulica (8-20%)

    A preparao da cal hidrulica feita em fornos, verificando-se as seguintes

    fases:

    500 a 700oC ______ desidratao da argila

    850oC ______ decomposio do calcrio

    CaCO3 CaO + CO2 1000 1100oC______ Reaco da slica e alumina da argila com o xido de

    clcio, originando silicatos e aluminatos

    SiO2 + CaO silicato de clcio (SiO2 . 2CaO) Al2O3 + CaO aluminato de clcio (Al2O3 . 3CaO)

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    19

    Repare-se que se a temperatura de cozedura for mais alta (at 1500oC) e a

    percentagem de argila (slica e alumina) for maior a reaco mais completa, isto a

    quantidade de silicatos e aluminatos de clcio maior, diminuindo a quantidade de

    xido de clcio livre e no extremo as reaces sero semelhantes s que se passam no

    fabrico do cimento.

    Portanto, a cerca de 1000oC a reaco parcial e os produtos formados so uma

    mistura de silicatos e aluminatos de clcio com xido de clcio livre.

    Depois da sada do forno obtm-se pedaos de vrias dimenses constitudos pela

    mistura de silicatos e aluminatos de clcio e cal livre (mais de 3%, em regra cerca de

    10%) e ainda um p inerte que silicato biclcico formado por pulverizao durante o

    arrefecimento (657oC).

    Este p amassado com gua no aquece nem ganha presa.

    A cal retirada do forno deve ser extinta, no s com o fim de eliminar a cal viva,

    mas muito especialmente para provocar a pulverizao de toda a cal hidrulica. este

    fenmeno que distingue a cal hidrulica do cimento Portland: a finura da cal hidrulica

    parcialmente obtida por extino da cal viva e no por moagem.

    A extino deve ser feita com certa precauo pois s se deve adicionar apenas a

    gua estritamente necessria para hidratar a cal viva; a reaco expansiva desta (dobra

    de volume, sensivelmente) que se aproveita para pulverizar os gros que contm os

    aluminatos e silicatos; a gua em excesso iria hidrat-los.

    A cal viva precisa ser completamente extinta, antes de se utilizar a cal hidrulica

    na construo.

    A extino realizada lentamente a temperaturas entre 130 e 400oC e aps a

    extino obtm-se:

    P silicatos e aluminatos de clcio hidrxido de clcio (Ca(OH)2) cal apagada, extinta Grappiers

    Os grappiers so gros de material sobreaquecido com verdadeiras caractersticas

    de cimento, mais escuros e duros e ricos em silicatos biclcicos.

    Assim, aps a extino necessrio separar os grappiers do p e proceder sua

    moagem.

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    20

    Em geral a separao feita em peneiros circulares rotativos constitudos por

    tambores perfurados concntricos sendo o tambor interior de malha com mais abertura

    para permitir a passagem dos grappiers Figura 12.

    Figura 12 - Peneirao da cal hidrulica para separao dos grappiers (Sampaio, 1975)

    Finalmente, aps a moagem dos grappiers o p resultante adicionado ao p de

    silicatos e aluminatos de clcio e hidrxido de clcio formando cal hidrulica. Pode ser

    conveniente juntar ainda materiais pozolnicos modos.

    (Sampaio, 1975; Coutinho, 1988).

    2.3.6 Presa e endurecimento da cal hidrulica

    O endurecimento da cal hidrulica compreende duas reaces. Na primeira

    reaco d-se a hidratao dos silicatos e aluminatos de clcio, quer na gua quer no ar.

    Na segunda reaco d-se a recarbonatao da cal apagada, s ao ar e em presena do

    dixido de carbono.

    2.3.7 Algumas propriedades e aplicaes de cal hidrulica A massa volmica mdia da cal hidrulica cerca de 2,75 g/cm3, mais baixa do

    que a do cimento e a sua baridade toma valores entre 0,6 e 0,8 g/cm3. A sua cor a cor

    parda do cimento. Como a cal hidrulica muito semelhante ao cimento (cor), pode

    prestar-se a falsificaes, o que muitas vezes tem consequncias desastrosas, porque a

    cal hidrulica tem menor resistncia que o cimento.

    Utiliza-se a cal hidrulica em aplicaes idnticas s do cimento, que no exijam

    resistncias mecnicas elevadas como em argamassas (pobres):

    Argamassa de revestimento

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    21

    Argamassas para reboco de paredes

    Argamassas para alvenaria

    etc.

    Note-se que a existncia de cal nestas argamassas (pobres) pode ser um problema,

    j que existe sempre uma parte de CaO que no desaparece completamente e que ao

    extinguir-se d origem a expanses.

    (Sampaio, 1978; Coutinho, 1988; Moreira, 1998).

    2.3.8 Fabrico de cal

    As cais area e hidrulica podem ser produzidas em vrios tipos diferentes de

    fornos. Do-se exemplos nas Figuras 13 e14.

    Figura 13 Forno vertical, a carvo, para cal.

    A Figura 13 apresenta o esquema de um forno contnuo vertical, que utiliza

    combustvel de chama curta carvo. Consta de duas cmaras sobrepostas, sendo o

    calcrio alimentado por uma abertura junto chamin superior e o combustvel

    introduzido no estrangulamento entre as duas cmaras onde se processa a combusto. O

    arrefecimento do material d-se na cmara inferior, onde o ar necessrio combusto

    aquecido, com melhoria evidente em termos de rendimento trmico. O material

    calcinado extrado pela parte inferior da cmara de arrefecimento (Bauer, 1992).

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    22

    Figura 14 - Forno rotativo de eixo horizontal.

    Os fornos rotativos, constitudos por um cilindro metlico internamente revestido

    de material refractrio, giram lentamente sobre um eixo ligeiramente inclinado,

    recebendo o calcrio pela sua boca superior e tendo o maarico de aquecimento na sua

    boca inferior, por onde tambm retirado o material calcinado Figura 14.

    2.3.9 Comercializao de cais

    Existem cais comercializadas fornecidas em saco, a granel ou ainda, no caso de

    misturas aquosas (cais areas extintas) em recipientes apropriados Figura 15.

    Figura 15 - Alguns exemplos de cais comercializadas. 2.3.10 Normalizao

    A norma europeia referente s cais constituda por 3 partes e foi publicada entre

    ns em 2002:

    NP EN 459-1 (2002). Cal de construo Parte 1: Definies, especificaes e critrios de conformidade.

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    23

    NP EN 459-2 (2002). Cal de construo Parte 2: Mtodos de ensaio.

    NP EN 459-3 (2002). Cal de construo Parte 3: Avaliao da conformidade.

    Da parte 1 transcreve-se o quadro e notas, em itlico, da Figura 16, relativamente

    composio qumica.

    Valores expressos em % de massa

    Tipo CaO +MgO MgO CO2 SO3 Cal livre

    CL 90 90 52) 4 2 - CL 80 80 52) 7 2 - CL 70 70 5 12 2 - DL 85 85 30 7 2 - DL 80 80 5 7 2 - HL 2 - - - 32) 8 HL 3,5 - - - 32) 6 HL 5 - - - 32) 3 NHL 2 - - - 31) 15 NHL 3,5 - - - 31) 9

    NHL 5 - - - 31) 3 1) Teores de SO3 superiores a 3% e at 7% so tolerados, se a expansibilidade for confirmada aos 28 dias com cura em gua seguindo o ensaio preconizado na EN 196-2; 2) Teores de MgO at 7% so tolerados, se a cal satisfizer o ensaio de expansibilidade indicado na EN 459-2.

    Nota: Os valores aplicam-se a todos os tipo de cal. Para cal viva estes valores

    correspondem aos da condio como entregue; para todos os outros tipos de cal (cal

    hidratada, pasta de cal e cais hidrulicas) os valores baseiam-se no produto isento no s da

    gua livre como tambm de gua combinada.

    Figura 16 Classificao das cais de construo de acordo com a normalizao europeia.

    A classificao das cais de construo, preconizada na normalizao europeia,

    baseia-se na composio qumica para as cais areas, clcicas (CL) e dolomticas (DL) e

    na resistncia compresso, para as cais hidrulicas (HL). Para as cais areas a sigla

    constituda por CL ou DL, seguida de um nmero que indica a percentagem mnima de

    xido de clcio e xido de magnsio que a cal contm, de acordo com o quadro da

    figura anterior.

    cal hidratada

    cal hidratada

    cal viva

    cal viva

    cal hidralica HL

    Cai

    s de

    cons

    tru

    o

    cal area

    L

    cal clcica CL

    cal dolomtica

    DL

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    24

    Nas cais hidrulicas a sigla constituda por HL ou NHL, seguida do valor 2, 3,5

    ou 5 conforme a classe de resistncia e de acordo com o Quadro 1.

    Uma cal hidrulica (HL) , segundo a normalizao europeia, um ligante

    constitudo sobretudo por hidrxido de clcio, silicatos e aluminatos de clcio,

    produzido pela mistura de materiais adequados e que tem a propriedade de ganhar presa

    e endurecer em gua. O dixido de carbono atmosfrico tambm contribui para o

    processo de endurecimento. Uma cal hidrulica natural (NHL) uma cal produzida

    pela calcinao de calcrios mais ou menos argilosos ou siliciosos e posterior reduo a

    p por extino com ou sem moagem. Todos os tipos de cal hidrulica natural tem a

    propriedade de ganhar presa e endurecer em gua e o dixido de carbono atmosfrico

    contribui tambm para o processo de endurecimento.

    Quadro 1 Resistncia compresso de cal hidrulica e cal hidrulica natural (NP EN 459-2) Resistncia compresso

    MPa Tipos de cais de construo

    7 dias 28 dias HL e NHL2 - 2 a 7

    HL 3,5 and NHL 3,5 - 3,5 a 10 HL 5 and NHL 5 2 5 a 15

    HL 5 e NHL 5 com baridade inferior a 0,90kg/dm3, permitia uma resistncia at 20 MPa.

    Nota: Sabe-se que argamassas com ligantes clcicos adquirem resistncia que aumenta lentamente com a carbonatao.

    Nas Figuras 17 e 18 apresentam-se fichas tcnicas de cal hidrulica

    comercializada em Portugal.

    Cal Hidrulica Natural NHL 5

    NP EN 459-1 0856

    Constituintes Calcrio margoso cozido com extino e moagem Sulfato de clcio regulador de presa

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    Caractersticas Qumicas Sulfatos (SO3) < 3,0% Cal livre > 3% Fsicas Incio de presa (min) > 60 Expansibilidade (mm) < 20 Resduo a 0,090 mm < 15% Baridade (g/l) > 600 Mecnicas Resistncia compresso - Valores mnimos 7 dias: 2,0 MPa 28 dias: 5,0 MPa

    Propriedades especiais das argamassas fabricadas com cal hidrulica do Cabo Mondego

    Grande plasticidade e elevada trabalhabilidade Forte aderncia Grande poder de reteno de gua, opondo-se retraco inicial Fraca tendncia para a fissurao e fendilhamento Boa impermeabilidade e durabilidade

    Utilizaes recomendadas Argamassas de todos os tipos (enchimento, reboco, assentamento e acabamento). Pr-fabricao (misturada com cimento) Blocos de alvenaria e abobadilha. Artefactos. Pavimentos rodovirios. Na substituio do filer dos betuminosos. No tratamento de solos hmidos e argilosos. Em trabalhos diversificados no meio rural.

    Precaues na aplicao Na dosificao e na relao gua/ligante. No processo de cura da argamassa fresca, assegurar uma proteco cuidadosa contra a dessecao, principalmente em tempo quente. Preparar adequadamente o suporte para receber a argamassa.

    Contra-indicaes

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    Trabalhos sob temperaturas muito baixas. Contacto com ambientes agressivos (guas e terrenos).

    Acondicionamento

    Saco 40 Kg

    Palete de tara perdida

    30 Sacos 1200 Kg

    Palete a devolver 40 Sacos 1600 Kg

    Granel 25 toneladas

    Camio de 25 toneladas com meios de descarga, devidamente selado.

    Figura 17 Ficha tcnica de cal hidrulica HL5 (Cimpor).

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    Figura 18 Ficha tcnica de cal hidrulica HL5, Martingana (Secil).

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    28

    3. CIMENTOS

    3.1 INTRODUO Em geral so consideradas duas abordagens para classificar cimentos, uma em

    relao composio e a outra relativa s propriedades correspondentes ao desempenho

    dos cimentos (Jackson, 1998).

    Na rea de construo e engenharia civil tem sobretudo interesse os cimentos

    hidrulicos calcrios - isto , os cimentos hidrulicos em que os principais constituintes

    so compostos de clcio. De facto estes cimentos so constitudos sobretudo por

    silicatos e aluminatos de clcio e de um modo geral podem-se classificar em:

    - cimentos naturais

    - cimentos Portland

    - cimentos aluminosos (high-alumina) (Neville, 1995).

    Muitos pases da Europa tais como ustria, Dinamarca, Finlndia, Frana,

    Alemanha, Grcia, Islndia, Irlanda, Itlia, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Espanha,

    Sucia, Sua, Reino Unido e Portugal tem desenvolvido normas relativas aos cimentos,

    de que se destacam algumas:

    CIMENTOS CORRENTES:

    EN 197 - 1 (June 2000) Cement - Part 1: Composition, specifications and conformity criteria for common cements. (Harmonizada) Amendment EN 197-1:2000/A1:2004 (Inclui na EN 197-1 os cimentos correntes de baixo calor de hidratao) Amendment EN197-1:2000/prA2:2006 (Inclui na En 197-1 os cimentos correntes resistentes aos sulfatos)

    NP EN 197-1 (2001) Cimentos Part 1: Composio, especificaes e critrios de comformidade. (Harmonizada) Aditamento NP EN 197-1:2000/A1:2005 (Inclui os cimentos correntes de baixo calor de hidratao) EN 197 - 2 (June 2000) Cement - Part 2: Conformity evaluation.

    NP EN 197-2 (2001) Cimentos Part 2: Critrios de conformidade. EN 197 -4 (April 2004) Cement - Part 4: Composition, specifications and conformity criteria for low early strength blastfurnace cements. (Harmonizada)

  • Materiais de Construo 2 1 Parte 2006

    Joana de Sousa Coutinho

    29

    NP EN 197-4 (2005) Cimento. Parte 4: Composio, especificaes e critrios de conformidade para cimentos de alto-forno de baixas resistncias iniciais (Harmonizada) Em Portugal tem interesse referir ainda, uma norma relativa ao cimento branco e

    uma outra sobre as condies de fornecimento e recepo de cimentos:

    NP 4326 (1996) Cimentos brancos. Composio, tipos, caractersticas e

    verificao da conformidade. Note-se que as normas europeias consideram os

    cimentos brancos como correntes e portanto includos na EN 197.

    NP 4435 (2004) Cimentos. Condies de fornecimento e recepo.

    A ASTM - American Society for Testing and Materials tambm tem

    contribudo largamente para a classificao dos cimentos sobretudo atravs das normas:

    C 150 - 95 - Standard Specification for Portland Cement C 595 M - 95 - Standard Specification for Blended Hydraulic Cements.

    CIMENTO DE ALVENARIA:

    EN 413 1 (2004) Masonry cementsPart 1: Specifications. (Harmonizada) NP EN 413-1 (2005) Cimento de alvenaria. Parte 1: Composio,

    especificaes e critrios de conformidade. (Harmonizada) prEN 413-2 (2005). Masonry cements-Part 2: Test methods

    CIMENTO ESPECIAIS:

    EN 14216 (2004).Cement Composition, specifications and conformity criteria for very low heat special cements. (Harmonizada)

    NP EN 14216 (2005) Cimento - Composio, especificaes e critrios de conformidade para cimentos especiais de muito baixo calor de hidratao. (Harmonizada)

    OUTROS LIGANTES:

    6 Note-se que existem normas referentes a outros ligantes hidrulicos como, por

    exemplo, os ligantes hidrulicos para construo rodoviria constitudos por misturas

    produzidas em fbrica e prontas a usar por adio com gua (EN 13282) ou, outro caso,

    como os ligantes hidrulicos para construo (HBC) que contm pelo menos 20% de

    clnquer Portland e tambm cal utilizados, por exemplo, em argamassas para alvenaria

    no estrutural (EN 15368).

  • Materiais de Construo 2 1 Parte 2006

    Joana de Sousa Coutinho

    30

    3.2 DEFINIO Segundo a normalizao europeia (EN 197 - 1):

    CIMENTO um ligante hidrulico, isto , um material inorgnico finamente

    modo que, quando misturado com gua forma uma pasta que ganha presa e endurece

    por reaces e processos de hidratao e que, depois de endurecida, conserva a sua

    capacidade resistente e estabilidade mesmo debaixo de gua.

    Um cimento que esteja de acordo com esta norma europeia designado

    por cimento CEM e se for devidamente misturado com gua e

    agregados, possvel obter-se beto ou argamassa:

    - que conserva trabalhabilidade adequada durante um perodo de

    tempo suficiente

    - que, a determinadas idades atinge nveis de resistncia especificados

    -e que apresenta estabilidade volumtrica a longo prazo.

    O endurecimento de cimentos CEM sobretudo devido hidratao de

    SILICATOS de CLCIO embora outros compostos, tais como os ALUMINATOS,

    possam intervir no endurecimento. Nestes cimentos, a soma da quantidade de XIDO

    de CLCIO reactivo (CaO) e SILICA reactiva (SiO2), em massa, pelo menos 50%

    (NP EN 197-1). Fisicamente so constitudos por pequenos gros de materiais

    diferentes mas a composio estatisticamente homognea. A uniformidade relativa a

    todas as propriedades destes cimentos obtida por processos contnuos de produo em

    massa que incluem moagem e homogeneizao adequadas. A qualidade do produto final

    nas fbricas modernas de cimentos CEM conseguida por pessoal especializado e

    qualificado e laboratrios adequadamente equipados que contribuem para o controlo e

    ajuste contnuo nas linhas de produo. Isto , o processo de fabrico e o controle de

    qualidade asseguram portanto que os cimentos apresentem uma composio dentro dos

    limites fixados pelas normas europeias (Jackson, 1998).

    3.3 COMPOSIO DA MATRIA PRIMA O cimento Portland artificial obtido a partir de uma mistura devidamente

    proporcionada de calcrio ou cr (carbonato de clcio), argila ou xisto argiloso (silicatos

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    Joana de Sousa Coutinho

    31

    de alumnio e ferro) ou a partir de margas ou calcrios margosos (margas - mistura de

    materiais calcrios e argilosos) e, eventualmente, outra ou outras substncias

    apropriadas ricas em slica, alumina ou ferro, reduzida a p muito fino, que se sujeita

    aco de temperaturas da ordem de 1450oC, obtidas geralmente em grandes fornos

    rotativos. A mistura muito bem homogeneizada e bem dispersa, quer a seco

    (fabricao do cimento por via seca) quer por meio de gua (fabricao por via hmida).

    quelas temperaturas as matrias - primas reagem entre si, no que so ajudadas

    pela fase lquida obtida pela fuso de cerca de 20% da matria prima (clinquerizao),

    originando novos compostos. Em virtude destes fenmenos qumicos e fsicos, os

    produtos da reaco, ao arrefecerem, aglomeram-se em pedaos com dimenses

    variveis mas geralmente entre 2 mm e 20 mm, chamados clnquer (Sousa Coutinho,

    1988, Neville, 1995). Os duros ndulos de clnquer so depois arrefecidos e modos

    simultaneamente com uma pequena percentagem de gesso at se obter uma

    granulometria muito fina.

    Assim, a definio de cimento Portland nas vrias normas dos diferentes pases

    considerada, nestes termos, reconhecendo que o gesso adicionado aps a calcinao

    (Neville, 1995). Hoje em dia outros materiais podem ser adicionados em diferentes

    propores quer nos Centros de Produo de Cimento (originando cimentos de vrias

    designaes como o cimento Portland composto, cimento de alto forno, etc.) quer na

    amassadura do prprio beto.

    3.4 FABRICO 3.4.1 Consideraes Gerais

    Como cerca de 70 a 80% da matria - prima calcrio em geral uma fbrica de

    cimento situa-se junto de uma formao calcria.

    As fases de fabrico so as seguintes:

    1. Preparao do cru

    extraco do calcrio (1,5 a 2 m) britagem (cm) pr-homogeneizao - formao de pilha de armazenamento com

    argila e remoo por cortes verticais (75% brita calcria + 25%argila).

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    32

    moagem e homogeneizao via seca via hmida

    correco com aditivos (calcrio, slica, ferro ou alumina)

    2. Cozedura

    armazenamento nos silos alimentadores do forno pr-aquecimento entrada no forno rotativo

    3. Arrefecimento, adio de gesso e moagem

    4. Ensilagem e Ensacagem

    Descreve-se em seguida cada uma destas fases.

    3.4.2 Preparao do cru A pedreira explorada em grandes massas: blocos com dimenso mxima de 1,5 a

    2 m so extrados e transportados para um britador que os reduz a pequenos blocos com

    alguns centmetros.

    O material britado transportado para uma pilha de armazenamento ao mesmo

    tempo que recebe j a adio da argila (sensivelmente 25% de argila e 75% de brita

    calcria). Enquanto a mistura depositada em camadas horizontais, a sua remoo para

    os silos alimentadores dos moinhos de bolas feita por meio de cortes verticais na pilha

    de armazenamento. Estes procedimentos consistem na Pr-homogeneizao.

    H dois processos de fabrico do cimento: um em que a matria prima moda e

    homogeneizada dentro de gua (via hmida) e outro em que a moedura e

    homogeneizao se realizam a seco (via seca).

    A primeira a mais antiga e a mais eficaz para obter homogeneizao de materiais

    slidos. Hoje est caindo em desuso pois requer maior consumo de energia, por ser

    necessrio eliminar a gua do cru, por aquecimento. Devido actual crise de energia

    est sendo substituda por via seca que se tornou possvel graas s tcnicas de

    fluidificao gasosa.

    As reaces qumicas promovidas pela aco da temperatura entre os

    componentes da matria - prima so essencialmente reaces no estado slido.

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    33

    Para activar as reaces entre fases slidas, devido lenta difuso dos tomos e

    molculas nos slidos, necessrio elevar a temperatura e a rea das superfcies dos

    reagentes. A velocidade da reaco entre fases slidas portanto funo do grau de

    finura, da natureza qumica dos materiais e da durao do aquecimento.

    As reaces em fase lquida so muito mais rpidas e os produtos da reaco s

    dependem da temperatura e da composio qumica das fases lquidas.

    Daqui resulta a importncia da preparao das matrias - primas para o cimento:

    finura da moagem, homogeneidade e proporo da fase lquida temperatura de

    cozedura (cerca de 20%).

    A matria - prima depois de moda levada a silos ou tanques de homogeneizao

    (respectivamente na via seca e na hmida) onde sujeita a anlise qumica - hoje

    automtica e instantnea, por meio dos raios X, com ligao a um computador que

    calcula as correces a fazer e comanda os silos de aditivos, correctores, em calcrio,

    slica, ferro ou alumina (ver 3.5).

    Aps esta correco, o cru entra para os silos alimentadores do forno ( adaptado de

    Coutinho, 1988).

    3.4.3 Cozedura em forno rotativo Antigamente - e ainda hoje (no estrangeiro) nas fbricas de pequena produo

    (At 500 t/dia) - o forno vertical (shaft kilns) mas aps a inveno do forno rotativo

    este tem sido usado cada vez mais, com uma produo at 8000 t/dia e um produto final

    mais homogneo (Coutinho, 1988; Jackson, 1998).

    O forno rotativo, constitudo por um cilindro de chapa de ao com dimetro que

    pode atingir 7,6 m e comprimento at 232 m (Alhandra) revestido inteiramente com

    material refractrio. O cilindro assenta sobre roletes que o fazem girar e tem uma

    inclinao de 2 a 6%. O movimento de rotao (1 3.5 rotaes/min.) e a inclinao

    provocam o avano dos materiais no interior do forno. No extremo inferior introduz-se

    o combustvel e o respectivo ar comburente, depois de ter sido aquecido no arrefecedor

    do clnquer.

    Para obter a temperatura de clinquerizao, temperatura de fuso das fases

    aluminatos e ferratos, necessrio recorrer combusto de carvo ou de fuel - oil. Na

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    34

    dcada de 50 o carvo foi sendo gradualmente substitudo pelo fuel, de tal modo que,

    por volta de 1970, os fornos eram aquecidos somente a fuel. A partir de 1973, com o

    incio da crise do petrleo comeou-se a voltar de novo ao carvo, ou pelo menos a

    empregar sistemas mistos de queima de carvo com fuel e a partir dos anos oitenta usa-

    se sobretudo carvo e coque de petrleo e tambm gs natural (Coutinho, 1988,

    Jackson, 1998).

    O carvo seco reduzido a p e injectado na parte inferior do forno com uma

    parte do ar (ar primrio); o restante ar comburente (ar secundrio) introduzido no

    forno depois de ter sido aquecido no arrefecedor do clnquer (Coutinho, 1988).

    possvel utilizar resduos como combustvel, de forma limpa e eficaz em termos

    ambientais, como demonstrado em experincias efectuadas em vrios pontos do mundo

    com diferentes produtos, tais como pneus usados, lixos domsticos e sedimentos de

    efluentes de esgoto (BCA, 1992).

    Quando se queima carvo h que ter em conta a composio qumica das suas

    cinzas, que vo modificar a do cru; a composio deste portanto calculada para

    receber a slica, alumina, ferro, etc., que as cinzas eventualmente possuem. O fuel - oil

    contm geralmente enxofre, assim como diversos carves com altos teores de enxofre e

    este elemento, vai introduzir sulfuretos e especialmente sulfatos, no cimento.

    (Coutinho, 1988; BCA, 1992). Em termos ambientais os carves com altos teores de

    enxofre no provocam emisses poluentes pois o enxofre fica retido no clnquer (BCA,

    1992; Neville, 1995).

    Para se alcanar a temperatura de clinquerizao (1400 - 1450oC) necessrio

    obter uma chama com temperatura da ordem de 1700oC.

    Em termos de consumo de carvo utilizam-se cerca de 220 kg para produo de 1

    tonelada de cimento e quando se utilizava fuel-oil, que caiu em desuso nos anos oitenta,

    eram necessrios cerca de 125 litros (Neville, 1995).

    A alimentao do forno pode ser realizada de quatro formas: pela entrada directa

    da farinha (via seca), da pasta de cru (via hmida 35 a 50% de gua), da farinha

    humedecida com gua, at 13%, aglomerado em grnulos (via semi-seca) e em pasta

    dissecada por meio de uma compresso e filtragem (via semi-hmida que reduz a

    humidade a menos de 20%).

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    35

    O forno rotativo adaptado a estes estados da matria prima, e a sua construo

    visa sempre o aproveitamento do calor transportado nos fumos provenientes da

    cozedura ou clinquerizao, para secar a aquecer a matria - prima a caminho da

    cozedura.

    Assim, a clinquerizao em via hmida emprega fornos rotativos longos, (230 m)

    equipados com por exemplo, grinaldas de cadeias internas, (correntes que absorvem o

    calor dos gases em movimento, e o transmitem por conduo para a pasta) com o fim de

    reaproveitar energia e demorar o mais possvel a progresso da pasta, obrigando-a

    primeiro a secar; a cozedura em via semi-hmida utiliza fornos mais curtos e precedidos

    de pr-aquecedores verticais, horizontais (tambores rotativos), etc., onde o teor de gua

    da pasta desce para 10 a 15% (Coutinho, 1988, Jackson, 1998).

    Na via semi-seca empregam-se secadores de grelha mvel, onde os grnulos de

    cru (de farinha humedecida com gua), aglomerados, se depositam e atravs dos quais

    circulam os gases quentes de combusto.

    Finalmente, na via seca empregam-se hoje nas fbricas de maior produo, pr-

    aquecedores de ciclones que foi talvez o maior desenvolvimento, em termos de reduo

    de consumo de energia na produo do cimento, dos quais o mais importante o Dopol

    - Figura 19 (Coutinho, 1988; Jackson, 1998).

    Os gases provenientes do forno so aspirados, entrando pela parte inferior,

    enquanto o cru entra pela parte superior, descendo atravs dos ciclones, onde os gases

    provocam a sua agitao e disperso, at entrar no forno.

    A permuta de calor neste sistema ento obtida por fluidificao do cru no seio

    dos gases quentes, de modo que cada partcula fica em contacto com os gases,

    adquirindo a sua temperatura em uma fraco de segundo. Os gases saem a cerca de 50

    a 70oC (temperatura a que vai entrar a matria prima) e o cru sai do recuperador

    entrando no forno a cerca de 800 a 900oC. Com estes pr-aquecedores consegue-se

    recuperar cerca de 82% do calor dos gases de combusto que saem do forno. O

    inconveniente deste sistema , como veremos mais frente, o enriquecimento do

    clnquer em lcalis e sulfatos (Coutinho, 1988).

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    36

    Figura 19 - Esquema de um pr-aquecedor Dopol. Os gases quentes provenientes do forno, A, so

    aspirados saindo por C, para captao e aproveitamento do p. A alimentao do cru feita em B; este desce at aos dois primeiros ciclones paralelos, 4, depois aos outros dois, 3, entrando em seguida na

    cmara de recolha, 2 donde passa para os dois primeiros ciclones paralelos, 1 (Coutinho,1988).

    Na Figura 20 v-se a fotografia de parte do forno e parte da Torre de Ciclones

    numa fbrica de produo de cimentos em Portugal.

    Figura 20 Parte do forno e parte de Torre de Ciclones (Cimpor).

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    37

    3.4.4 Arrefecimento do clnquer. Moagem

    sada do forno o clnquer deve ser arrefecido rapidamente, pois o silicato

    triclcico instvel a temperaturas inferiores a 1250oC; h portanto que conservar a sua

    estrutura, arrefecendo-o rapidamente desde temperaturas superiores quela at

    ambiente.

    O silicato biclcico apresenta as formas e ; a forma estvel desde a temperatura de formao (1200oC) at 675oC. Abaixo desta temperatura o silicato

    biclcico transforma-se em , forma em que praticamente inerte. Por isso tambm necessrio evitar a formao do silicato biclcico , arrefecendo rapidamente o silicato desde 1200oC at temperatura ambiente.

    H tambm toda a vantagem em evitar que a fase lquida cristalize pois a

    reactividade do aluminato de clcio diminui e o xido de magnsio poder cristalizar

    em grandes cristais (periclase), o que provoca a instabilidade e a expansibilidade do

    volume da pasta de cimento endurecido (ver 3.7.6.2).

    Para efectuar o arrefecimento, h diferentes dispositivos dos quais o mais corrente

    o planetrio constitudo por vrios tubos arrefecedores que envolvem o forno. O

    clnquer arrefecido pelo ar (comburente) que em contracorrente o atravessa, chegando

    quente zona de combusto.

    Aps a sada do arrefecedor, a cerca de 125-180oC o clnquer armazenado,

    terminando o seu arrefecimento com aspecto negro e duro Figura 21, entrando depois

    nos moinhos de bolas, onde modo, juntamente com adjuvantes, para facilitar a

    moagem, com aditivos gesso (3 a 5%) para lhe regular o tempo de presa, e outros,

    para lhe modificar as propriedades como a pozolana, a escria de alto-forno, etc.

    (Coutinho, 1988; Neville, 1998).

    Modernamente, e ainda como resultado da crise energtica e por razes

    ambientais, os aditivos podem ser inertes, em proporo tal que no comprometam as

    propriedades do cimento (em geral at 10 ou 15%).

    A moagem efectua-se em moinho de bolas idntico aos da preparao do cru,

    numa operao que consome cerca de 40% da energia total do fabrico do cimento. A

    caracterstica que se obtm, a finura, to importante como a composio qumica.

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    38

    Figura 21 Clnquer sada do arrefecedor.

    Os elementos finos produzidos por moagem tendem a diminuir muito rapidamente

    o rendimento desta operao. O aparecimento de elementos finos, embora desejado,

    aumenta a compacidade da mistura do clnquer com as bolas, diminuindo a eficcia

    destas. por isso necessrio elimin-los o mais rapidamente possvel, medida que se

    vo formando. Para a soluo deste caso h dois tipos de moedura: em circuito aberto e

    em circuito fechado (Coutinho, 1988).

    Na moagem em circuito aberto o clnquer, juntamente com o gesso, introduzido

    no moinho que tem trs compartimentos com bolas de ao de dimetro sucessivamente

    menor, desde 60 a 80 mm no primeiro compartimento (em 1/6 do comprimento do

    moinho) passando por um compartimento intermdio com bolas de 30 a 50 mm at

    dimetros de 15 a 25 mm no ltimo (com metade do comprimento); actualmente, no

    ltimo compartimento usam-se corpos moentes cilndricos (cylpebs) em vez de bolas,

    com 4 a 8 mm de dimetro (Coutinho, 1988).

    Na moagem em circuito fechado, os finos vo sendo extrados do moinho

    medida que se vo produzindo. Uma corrente de ar atravessa o moinho, da entrada para

    a sada, arrastando as partculas mais finas, para um separador, onde so classificadas:

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    39

    as finas vo para os silos de armazenamento, e as mais grossas voltam ao moinho

    (Coutinho, 1988).

    Para ajudar a moagem usam-se adjuvantes que se adicionam ao clnquer durante

    esta operao promovendo a disperso das partculas de cimento: 0,01 a 0,1% da massa

    do clnquer em aminas ou sais de aminas, poliois, linhossulfitos ou cidos orgnicos

    fracos que no so decompostos s temperaturas de moagem. Estes adjuvantes

    diminuem o consumo de energia de 10% a 15% e no tm qualquer aco sobre a

    qualidade do cimento. Evitam o revestimento das bolas, das paredes do moinho e a

    formao de agregados de partculas grossas com finas, aumentando o rendimento do

    separador de fluxo de ar (Coutinho, 1988).

    Dos moinhos de bolas, o cimento passa para grandes silos, onde homogeneizado

    e da distribudo, a granel ou em sacos (Coutinho, 1988).

    A Figura 22 - representa o diagrama de produo (via seca) numa central

    moderna.

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    40

    Figura 22 Produo de cimento (via seca) (Cimpor)

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    41

    3.5 PRINCIPAIS COMPONENTES DO CR E DO CLNQUER PORTLAND 3.5.1 Consideraes gerais

    Os componentes da matria prima sujeitos aco da temperatura vo sofrendo

    uma srie de reaces qumicas e vo-se transformando em compostos diversos como

    esquematizado no diagrama da Figura 23 (Jackson, 1998).

    Figura 23 Esquema das transformaes sofridas pelo cru at se transformar em clnquer (Jackson,

    1998). 3.5.2 Componentes da matria prima

    Neste diagrama tem-se esquerda a composio da matria prima obtida pela

    mistura devidamente doseada de calcrio e argila que compreende:

    Calcite CaCO3 Slica SiO2 Minerais de argila SiO2 Al2O3 H2O xidos de ferro Fe2O3

    A composio da matria prima deve ser tal que depois de perder a gua e o

    dixido de carbono devido elevada temperatura atingida no forno, tenha uma

    composio qumica dentro dos limites seguintes:

    CaO - 60 a 67%

    CaCO3 CALCRIO

    slica SiO2 Al2O3 H2O xidos de ferro Fe2O3

    ARGILA

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    42

    SiO2 - 17 a 25% Al2O3 - 3 a 8% Fe2O3 - 0.5 a 6%

    Alm destes componentes principais, a matria-prima contm ainda metais

    alcalinos, magnsio, magnsio, titnio, fsforo e, eventualmente, sulfatos:

    MgO - 0.5 a 4% K2O e Na2O - 0.3 a 1.2% SO3 - 2 3.5%

    (Coutinho, 1988 ; Neville, 1995 ; Jackson, 1998).

    3.5.3 Notao abreviada

    Note-se que costume na Qumica do cimento, considerar a notao abreviada

    seguinte:

    CaO - C SiO2 - S Al2O3 - A Fe2O3 - F

    No que respeita ao cimento hidratado so usados tambm os seguintes smbolos:

    H2O - H SO3 - S

    3.5.4 Mdulos Com o fim de obter produtos com a necessria regularidade de composio e

    portanto de propriedades, preciso que entre estes simples xidos elementares existam

    certas relaes antes da cozedura, denominadas mdulos (Nota 1), dos quais o

    hidrulico foi pela primeira vez definido por Vicat:

    Mdulo hidrulico (VICAT)

    3,2a7,1deOFeOAlSiO

    CaO

    32322 ++

    Depois deste, outros se tm calculado, e hoje costume considerar mais os

    seguintes:

    Mdulo silcico

    3a2deOFeOAl

    SiO

    3232

    2

    +

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    43

    Quanto mais baixo for este mdulo mais baixo ser a temperatura de

    clinquerizao, pois Al2 O3 e Fe2 O3 so fundentes.

    Mdulo alumino-frrico ou de fundentes

    5,2a5,1deOFeOAl

    32

    32

    Grau de saturao em clcio

    98,0a90,0deOFe65,0OAl18,1SiO8,2

    CaO

    32322 ++

    Este ltimo mdulo representa a relao entre o xido de clcio total e o que

    susceptvel de se combinar com slica, alumina e ferro para dar os componentes

    indicados mais adiante.

    alumina e aos xidos de ferro chamam-se fundentes, pois os compostos em

    que intervm fundem temperatura mais elevada (denominada temperatura de

    clinquerizao) ajudando assim melhor combinao de todos os intervenientes nas

    reaces em que se formam os componentes do cimento.

    O Mdulo de fundentes particularmente importante na obteno de cimentos

    com resistncia qumica melhorada e calor de hidratao baixo. Para este efeito

    necessrio que no se forme aluminato triclcico (Al2O3. 3CaO) o que acontece quando

    o nmero de molculas de sesquixido de ferro igual ou maior do que o nmero de

    molculas de xido de alumnio (Coutinho, 1988).

    64,0OFeOAl

    32

    32

    Se os mdulos no respeitarem os limites apresentados, necessrio fazer

    correces matria prima depois de moda e antes de entrar para os silos alimentadores

    do forno. Como foi dito anteriormente, (3.4.2) a matria prima depois de moda,

    sujeita a anlise qumica automtica por raios X. Esta informao automaticamente

    processada pelo sistema informtico instalado e as correces a fazer, isto , as

    quantidades necessrias de calcrio, slica, ferro e/ou alumina so adicionadas

    automaticamente a partir dos silos respectivos.

    Nota 1: Nas frmulas dos mdulos, os smbolos referem-se s percentagens dos xidos na

    totalidade do cimento e no aos seus pesos moleculares.

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    44

    3.5.5 Componentes principais do clnquer As reaces qumicas que ocorrem pela aco da temperatura, a partir da matria

    prima constituda principalmente por cal, slica, alumina e xidos de ferro levam

    formao dos componentes principais do clnquer Portland, os quais cristalizam em

    elementos mais ou menos individualizados, enumerados a seguir, com indicao da

    percentagem em que normalmente ocorrem nos cimentos Portland:

    Silicato triclcico 3CaO.SiO2 (de 20 a 65%) C3S (alite) Silicato biclcico 2CaO.SiO2 (de 10 a 55%) C2S (belite) Aluminato triclcico 3CaO.Al2O3 (de 0 a 15%) C3A(aparece c/ mat. vtrea) Aluminoferrato tetraclcico 4CaO.Al2O3.Fe2O3 (de 5 a 15%) C4AF (celite)

    Esquematicamente podem-se resumir assim as transformaes sofridas pelas

    matrias primas pela aco da temperatura at obteno do clnquer:

    At 100oC evapora-se a gua livre, secando a mistura de calcrio e argila.

    At 450oC sai a gua adsorvida nos componentes da matria prima.

    At 700oC d-se a activao dos silicatos por desidratao e alteraes na rede

    cristalina.

    De 700 a 900oC d-se a decomposio dos carbonatos de clcio (e de magnsio)

    com a formao de xido de clcio (e de magnsio).

    Comea a combinao da alumina, xidos de ferro e slica activada com o xido

    de clcio. Inicia-se a formao de belite (silicato biclcicoslica+cal) e a formao de

    aluminato de clcio 12CaO.7Al2O3 (C12A7alumina+cal) e aluminoferrato biclcico

    (C2AF).

    De 900 a 1200oC prossegue em pleno a formao de belite (silicato biclcico),

    comea-se a formar o aluminato triclcico (C3A) e o aluminoferrato tetraclcico (C4AF).

    De facto, a cerca de 1200oC a maior parte do aluminato triclcico e aluminoferrato

    tetraclcico est constitudo e o teor de silicato biclcico (belite) atinge o mximo.

    A 1260oC principia o aparecimento da fase lquida, constituda pela combinao

    de parte de xido de clcio com os xidos de alumnio e de ferro, a qual promove a

    constituio do silicato triclcico (alite), a partir do silicato biclcico (belite) j formado.

    Mas parte do silicato biclcico subsiste pois este no se pode transformar em triclcico

    sem que haja ainda algum xido de clcio livre. Ver-se- que este xido de clcio (livre)

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    45

    pode ser nocivo porque a sua hidratao se d com expanso, a qual se pode tornar

    perigosa quando o seu teor exceda 2% e se encontre cristalizado (Coutinho, 1988).

    Durante o arrefecimento a fase fundida no deve cristalizar. Se o arrefecimento

    for lento o C3A cristaliza e o xido de magnsio poder formar grandes cristais. No

    diagrama da Figura 23 no est representado o que se passa com os sulfatos alcalinos,

    que se individualizam durante o processo de arrefecimento (Jackson, 1998; Coutinho,

    1988).

    Na realidade os componentes do clnquer do cimento no so to simples como

    indicado anteriormente pois no aparecem puros: a sua rede cristalina contm outros

    metais, como os alcalinos, o ferro, o magnsio, etc. De facto, na sua estrutura, h

    tomos de clcio que so substitudos por magnsio e pelos metais alcalinos, tomos de

    silcio e de alumnio que so substitudos por tomos de ferro, etc. Existem no clnquer

    xidos livres e outros componentes em soluo slida com estes e tudo isto cria

    influncias recprocas muito importantes na composio e estrutura de tais componentes

    (Coutinho, 1988).

    Le Chtelier foi dos primeiros a reconhecer que a anlise qumica do clnquer

    pouco diria sobre a natureza dos componentes formados durante a fuso e a sua

    cristalizao subsequente. Em 1882, observando ao microscpio, por transparncia,

    seces delgadas do clnquer, descreveu os principais cristais que o compem, bem

    como a massa vtrea istropa que os rodeava e cerca de quinze anos depois o sueco

    Trnebohm sem conhecer o trabalho de Le Chtelier, descrevia os mesmos minerais,

    tendo designado os principais por alite, belite e celite.

    A alite essencialmente constituda pelo silicato triclcico com diferentes

    tomos estranhos, como o Mg, Al, Fe. Os cristais de alite so poligonais, de estrutura

    rombodrica, rectangulares ou hexagonais, com dimenses de 10 a 50 m. A belite constituda essencialmente por silicato biclcico , com tomos

    estranhos, como o potssio, o fsforo, o brio, etc. Os cristais apresentam maclas lisas

    ou estriadas; a sua dimenso da ordem de 30 m. Os gros no tm forma cristalina definida, so arredondados, amarelados, mais ou menos escuros.

    A celite, que ocorre entre os cristais de alite e belite, reconhece-se pela sua cor

    amarelo-alaranjada, constituda por solues slidas entre um ferrato biclcico e um

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    aluminato biclcico e na qual o aluminoferrato tetraclcico (C4AF) um ponto de

    especial importncia. A esta soluo slida chama-se fase ferrtica (Coutinho, 1988). O

    contedo mdio de celite nos cimentos Portland cerca de 8% e a celite (contm

    ferro) que responsvel pela sua cor cinzenta pelo que o cimento branco no contm

    celite (Soroka, 1993).

    Existe tambm, entre outros, um material sem cor, como o vidro e que tambm

    aparece como material de enchimento entre os gros de alite e de belite, constitudo por

    aluminatos aluminato triclcico(C3A) e por uma massa vtrea (Coutinho, 1988). Figura 24 (Glasser, 1998) Estrutura de um clnquer Portland relativamente comum observado ao microscpio ptico:

    alite (silicato triclcio) cristais amarelados, de forma aproximadamente hexagonal.

    belite (essencialmente silicato biclcico) cristais mais escuros, arredondados.

    A fase intersticial (celite, massa vtrea etc.) a temperaturas elevadas era material fundido encontrando-se agora cristalizado numa mistura de solues slidas entre ferrato de clcio e aluminato de clcio, que inclui o aluminoferrato tetraclcico (C4AF). (As manchas irregulares so resina de preparao para observao)(Coutinho, 1988; Glasser 1998).

    Figura 25 Estrutura de um clnquer Portland idntico ao anterior:

    alite cristais escuros azulados (com incluses de belite)

    belite cristais arredondados, muitos em forma de maclas (Glasser, 1998).

    Figura 26 Aspecto esquemtico dos principais componentes do clnquer de cimento Portland: cristais poligonais de alite com pequenas incluses de belite, cristais arredondados de belite com estriao caracterstica, e fase intersticial de aluminato, ferrite e massa vtrea (Coutinho, 1988).

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    47

    As propriedades do cimento so dominadas pela natureza da estrutura do

    clnquer, a qual se pode dizer que varia de cimento para cimento devido s diferenas

    nas matrias-primas e no modo de fabrico.

    Com efeito, importante voltar a assinalar que a formao do clnquer resulta de

    reaces no estado semi-slido: apenas cerca de 20% da matria-prima funde, e os

    outros 80% reagem no estado slido. Por isso, enquanto os materiais obtidos

    inteiramente por fuso, como o ferro fundido, o ao, etc., no so influenciados pelo seu

    antigo estado, o mesmo no acontece com o clnquer, pois, porque no passou

    totalmente pelo estado fludo, a cristalizao e sobretudo os defeitos da cristalizao so

    influenciados pela constituio cristalogrfica do calcrio e da argila primitivos.

    Portanto os clnqueres, mesmo com composies qumicas idnticas, podem ter

    caractersticas diferentes, segundo a natureza do material na pedreira de origem.

    Acresce ainda que factores como a histria trmica do clnquer (tanto dentro do

    forno como durante o arrefecimento), as dimenses e forma das partculas que

    compem o cru, as variaes acidentais da composio qumica do cru tanto devidas a

    erros acidentais da dosagem como da natureza e concentrao de impurezas tais como

    magnsio, compostos de flor, fosfatos, xidos de chumbo e zinco, lcalis e sulfuretos

    contribuem para alterar a estrutura do clnquer. Daqui resulta a enorme variabilidade

    nas propriedades do cimento que no pode ser explicada apenas pela anlise qumica

    (Coutinho, 1988).

    3.5.6 Clculo dos componentes principais do cimento Portland Viu-se portanto que a matria prima submetida a temperaturas de

    clinquerizao, transformada em quatros tipos diferentes de compostos clcicos (C3S,

    C2S, C3A e C4AF) que se encontram, quelas temperaturas num estado de equilbrio

    qumico. Ora, o arrefecimento vai afectar o grau de cristalizao daqueles compostos e a

    quantidade de matria amorfa resultante e portanto o produto arrefecido ter uma

    composio qumica diferente. De qualquer modo para simplificar, internacionalmente

    aceite considerar que o clnquer arrefecido corresponde composio de um estado de

    equilbrio total entre os componentes cristalizados como se se mantivessem quelas

    temperaturas elevadas. Alis esta converso que permite determinar a designada por

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    48

    composio potencial ou composio de Bogue de um cimento a partir das

    quantidades de xidos determinados por anlise qumica (Neville, 1995).

    O mtodo proposto por Bogue, hoje universalmente aceite como primeira

    aproximao atravs da norma americana ASTM C 150, pois presta muito bons servios

    para rpidas apreciaes da qualidade do cimento, consiste, em resumo, no seguinte:

    Parte-se da anlise qumica do cimento, em xidos elementares, tal como

    fornecida directamente pelos mtodos analticos usuais. Note-se todavia que na anlise

    deve figurar a determinao do xido de clcio livre, o qual se deve subtrair do xido de

    clcio total determinado, de modo a obter a parte deste xido que est combinada.

    percentagem de slica deve tambm subtrair-se o chamado resduo insolvel, quase

    exclusivamente constitudo por slica no estado livre, no combinada.

    A anlise qumica fornece as percentagens dos seguintes xidos elementares:

    CaO combinado,

    SiO2 combinado,

    Al2O3,

    Fe2O3,

    MgO,

    CaO livre,

    SO3, e ainda, eventualmente, TiO2, Na2O e K2O (Coutinho, 1988).

    A anlise qumica dos cimento ter de ser conduzida de acordo com a norma

    NP EN 196-2 (2006): Mtodos de ensaios de cimentos. Parte 2: Anlise

    qumica dos cimentos. (Esta norma substitui a EN 196-2:1994 e incorpora a EN 196-

    21:1989).

    Com as percentagens dos xidos elementares e utilizando as frmulas seguintes

    calcula-se ento a composio potencial ou de Bogue:

    C3S = 4.07 (CaO) 7.60(SiO2) 6.72(Al2O3) 1.43(Fe2O3) 2.85(SO3)

    C2S = 2.87(SiO2) 0.75(3CaO . SiO2)

    C3A = 2.65(Al2O3) 1.69(Fe2O3)

    C4AF = 3.04(Fe2O3)

    No Quadro 2 apresentam-se a composio em xidos de um cimento Portland

    habitual (anos sessenta), e a respectiva composio potencial ou de Bogue (Neville,

    1995).

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    49

    Quadro 2 Composio em xidos, resultante de anlise qumica e respectiva composio de Bogue (Neville, 1995)

    Composio em xidos % Composio potencial (Bogue) %

    CaO (combinado) SiO2 (combinado) Al2O3 Fe2O3 MgO SO3 K2O Na2O Outros Perda ao fogo Resduo insolvel

    63 20 6 3

    1.5 2 1 1 2

    0.5

    C3A C3S C2S C4AF Compostos secundrios

    10.8 54.1 16.6 9.1 _

    Chama-se composio assim calculada potencial, porque neste clculo se

    supe que no s todo o clnquer est cristalizado como j referido, no ficando nele

    nenhum material vtreo aps o arrefecimento, mas tambm que os compostos formados

    so puros, sem incluso de tomos estranhos. Nenhuma destas hipteses correcta, pois

    a experincia mostra que h sempre ma certa quantidade de massa vtrea no clnquer,

    que os componentes principais no so puros e que o composto ternrio frrico tem uma

    composio geralmente distinta da do aluminoferrato tetraclcico (Coutinho, 1988).

    Hoje existem vrios mtodos para determinar a composio de cimento Portland

    tais como mtodos de difraco de raio X, microscopia ptica, microscopia electrnica

    de varrimento, dissoluo selectiva, anlise termo-gravimtrica, o mtodo de Bogue

    aperfeioado (ver Leas Chemistry of Cement and Concrete, pg 197).

    De qualquer forma importante ter sempre presente que as propriedades de um

    cimento dependem no s da composio da matria prima, como tambm das

    condies de cozedura e de arrefecimento.

    3.6 HIDRATAO O clnquer depois de arrefecido ento modo com uma pequena percentagem

    de gesso e este produto que se designa por cimento e que em contacto com a gua d

    origem a um novo sistema de compostos hidratados estveis que cristalizam com hbito

    acicular, emaranhando-se e colando-se uns aos outros, conferindo ao conjunto uma

    resistncia elevada.

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    50

    3.6.1 Presa, endurecimento e hidratao Durante um perodo inicial designado por perodo dormente ou de induo,

    aps a amassadura de gua e cimento, a fluidez ou consistncia da pasta mantm-se

    relativamente constante e embora se verifique uma perda gradual de fluidez, possvel

    recuper-la se se reamassar a pasta.

    Em geral 2 a 4 horas depois da amassadura, a temperaturas normais, a mistura

    comea a ganhar rigidez muito mais rapidamente e considera-se que se atingiu o incio

    de presa. No entanto a resistncia ainda muito baixa e o endurecimento s comea

    aps o fim de presa que ocorre uma horas depois. O endurecimento ,depois, muito

    rpido nos primeiros um ou dois dias a seguir e, posteriormente, a resistncia continua

    a aumentar mas a uma taxa cada vez menor, durante semanas, meses e anos.

    A pasta de cimento desenvolve calor, em particular durante a presa e incio de

    endurecimento. As reaces de hidratao so exotrmicas e se se medir o calor de

    hidratao ao longo destas fases, a temperatura constante, obtm-se curvas do tipo da

    Figura 27 (Domone, 1994)

    Figura 27 Curva tpica relativa ao desenvolvimento de calor de hidratao de cimento Portland, durante a hidratao e a temperatura constante (Domone, 1994).

    Pensa-se que o mximo (A) resulta da hi