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BSGI Matérias de 1º Grau Exame de Budismo 2008

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Page 1: APOSTILA BUDISMO NITIREN DAISHONIN_2

BSGI

Matérias de 1º Grau

Exame de Budismo 2008

Page 2: APOSTILA BUDISMO NITIREN DAISHONIN_2

ÍNDICE

A profecia do Buda..........................................................................................................................................03

Sobre atingir o estado de Buda nesta existência..............................................................................................08

O Tambor na Portal do Trovão.........................................................................................................................12

A vida de Nitiren Daishonin.............................................................................................................................16

Três Provas e Comparação Quíntupla..............................................................................................................18

Transformação do destino................................................................................................................................22

Risho Ankoku Ron e Kossen-Rufu..................................................................................................................23

Prática da fé para vencer as dificuldades.........................................................................................................24

História da Soka Gakkai..................................................................................................................................26

História da BSGI: As quatro visitas do presidente Ikeda ao Brasil.................................................................30

Movimento Renascença...................................................................................................................................33

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A Profecia do Buda(As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 1, pág. 131.)

BRASIL SEIKYO, EDIÇÃO Nº 1944, PÁG. C1, 21 DE JUNHO DE 2008.

Vinte e um anos já se passaram desde que eu, Nitiren, compreendi esse princípio [e comecei sua propagação]. Durante esse tempo, enfrentei adversidades dia após dia e mês após mês. Nos últimos dois ou três anos, entre outros obstáculos, quase fui morto. As chances de que sobreviverei mais este ano ou mesmo este mês são uma em dez mil. Se alguém duvidar de minhas palavras, instrua essa pessoa a procurar meus discípulos e eles explicarão detalhadamente. Que sorte tenho em poder expiar, em uma única existência, as ofensas de calúnia à Lei que vim acumulando desde o infinito passado! Como estou feliz em servir ao Buda Sakyamuni, o lorde dos ensinos, com quem jamais me encontrei pessoalmente! Oro, antes de tudo, para que eu possa conduzir e direcionar o governante e aqueles que me perseguiram. Relatarei ao Buda sobre todos os discípulos que me apoiaram e, antes de morrer, transferirei os grandes benefícios acumulados por meio de minha prática aos meus pais, que me trouxeram à vida. Agora, como num sonho, compreendo a essência do capítulo “Surgimento da

Torre de Tesouro”2. Conforme consta no sutra: “Se fossem capazes de agarrar o Monte Sumeru e atirá-lo na direção das incontáveis terras dos budas, isso também não seria difícil... Mas, se após o Buda ter entrado em extinção, na época maléfica, forem capazes de ensinar esse sutra, isso será realmente difícil!”3 O Grande Mestre Dengyo declara: “Sakyamuni ensinou que o superficial é fácil de abraçar, mas o profundo é difícil. Descartar o superficial e buscar o profundo é o caminho de uma pessoa de coragem. O Grande Mestre Tient’ai confiou em Sakyamuni e o seguiu, empenhou-se para manter a escola Lótus,4 propagando seus ensinos em toda a China. Nós do Monte Hiei herdamos a doutrina de Tient’ai e nos esforçamos para manter a escola Lótus e propagar seus ensinos por todo o Japão”.5 Eu, Nitiren, nativo da Província de Awa, certamente herdei os ensinos da Lei desses três mestres e, nesta era dos Últimos Dias, dedico-me a manter a escola Lótus e difundir a Lei. Juntos, deveríamos ser chamados de os quatro mestres das três nações.

Resumo e cenário histórico

Nitiren Daishonin, aos 51 anos, escreveu essa carta durante o exílio na Ilha de Sado, em 1273, e a endereçou a seus discípulos e seguidores leigos em geral.

O título, “A Profecia do Buda”, refere-se a duas profecias. A primeira, do Buda Sakyamuni, que declara que o devoto do Sutra de Lótus fará seu advento no início dos Últimos Dias da Lei e propagará os ensinos do sutra mesmo enfrentando grandes perseguições. A segunda, do próprio Nitiren, ao anunciar que nos Últimos Dias da Lei e para toda a eternidade, seus ensinos serão propagados no mundo inteiro em benefício de toda a humanidade.

Essa carta pode ser dividida em sete partes de acordo com o conteúdo: (1) Nitiren Daishonin declara ser um benefício muito maior nascer nos Últimos Dias da Lei e abraçar o Sutra de Lótus do que ter encontrado pessoalmente o Buda Sakyamuni ou os grandes sábios que fizeram seu

advento nos Primeiros e Médios Dias da Lei; (2) ele cita declarações e profecias de Sakyamuni e de outros mestres budistas em relação aos Últimos Dias da Lei, à grandiosidade do Sutra de Lótus e às perseguições que, com certeza, atingirão o devoto desse sutra; (3) descreve resumidamente o declínio do Budismo de Sakyamuni e proclama que o correto ensino do budismo será propagado em todo o mundo nos Últimos Dias; (4) identifica-se como o devoto do Sutra de Lótus, ou seja, o Buda dos Últimos Dias da Lei; (5) revela que o budismo deixou de existir na Índia e na China e que o ensino correto do budismo nascerá no Leste, na nação japonesa; (6) complementa sua profecia comparando os presságios que ocorreram em sua época com aqueles da época de Sakyamuni e; (7) Nitiren declara que a suprema Lei está agora surgindo e adverte seus seguidores que sua ampla propagação será uma tarefa difícil.

Explanação dos tópicos

Vinte e um anos já se passaram desde que eu, Nitiren, compreendi esse princípio [e comecei sua propagação]. Durante esse tempo, enfrentei adversidades dia após dia e mês após mês. Nos últimos dois ou três anos, entre outros obstáculos, quase fui morto. As chances de que sobreviverei mais este ano ou mesmo este mês são uma em dez mil. Se alguém duvidar de minhas palavras, instrua essa pessoa a procurar meus discípulos e eles explicarão detalhadamente.

A nobre existência de Daishonin enfrentando os obstáculos e maldades em prol do Kossen-rufu

“Esse princípio”, citado no trecho acima, indica o surgimento do Devoto do Sutra de Lótus com o propósito de concretizar o Kossen-rufu nos Últimos Dias da Lei,

conforme profetizado por Sakyamuni no Sutra de Lótus. Daishonin afirma que se passaram 21 anos desde que ele compreendeu esse princípio. Esses 21 anos correspondem ao

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período desde que ele estabeleceu o Verdadeiro Budismo. Portanto, na frase inicial, Daishonin declara que desde 1253, quando recitou pela primeira vez o Nam-myoho-rengue-kyo, se levantou como o Devoto do Sutra de Lótus que se dedica em prol do Kossen-rufu exatamente de acordo com as profecias do Sutra de Lótus. E, desde então, veio lutando persistentemente como Devoto do Sutra de Lótus. Tal como afirma na frase “enfrentei adversidades dia após dia e mês após mês”, Nitiren Daishonin enfrentou dificuldades e perseguições como ondas incessantes. Nesse período de 21 anos recaíram inúmeras perseguições sobre ele, a começar pelas quatro grandes perseguições. Em particular, na perseguição de Tatsunokuti ocorrida dois anos antes deste escrito, Daishonin chegou a ser levado para a decapitação pelas autoridades. Em seguida, após ser exilado na Ilha de Sado, diversos tipos de perigos continuaram a ameaçar a sua vida. Por exemplo, na localidade chamada Tsukahara, em Sado, havia sérios riscos de morte por congelamento e fome. Posteriormente, ao mudar-se para Itinosawa, passou a enfrentar ameaças contra a sua vida pelos seguidores da Nembutsu residentes no local. A

gravidade da situação é descrita por Daishonin na frase: “As chances de que sobreviverei mais este ano ou mesmo este mês são uma em dez mil”.

Apesar de Daishonin ser o Devoto do Sutra de Lótus, as grandes dificuldades e perseguições continuaram a perseguí-lo justamente por ser o empreendimento pelo Kossen-rufu uma batalha contra as maldades. Foi em meio à superação dessas grandes perseguições que Daishonin pôde evidenciar a verdadeira força da natureza humana e do estado de Buda. E, com a manifestação dessa extraordinária força inerente no ser humano, Daishonin pôde estabelecer o budismo para a salvação da época e das pessoas dos Últimos Dias da Lei. Assim, conseguiu estabelecer o budismo a ser propagado para o mundo convicto no princípio de “retorno do budismo para o oeste”, que consta em um trecho desse escrito.

Que sorte tenho em poder expiar, em uma única existência, as ofensas de calúnia à Lei que vim acumulando desde o infinito passado! Como estou feliz em servir ao Buda Sakyamuni, o lorde dos ensinos, com quem jamais me encontrei pessoalmente!

A grande alegria de superar as perseguições

Nesta frase, Nitiren Daishonin expressa seu profundo sentimento de alegria, benevolência e gratidão por ter conseguido estabelecer o budismo para a salvação de toda a humanidade, superando as dificuldades e as perseguições. A sucessão de dificuldades e perseguições não trazia de forma alguma tristeza para a vida de Daishonin. Pelo contrário, ele demonstra com o frescor de sua vida a comprovação da veracidade de seu ensino e, ao mesmo tempo, o vigor dela em superar as dificuldades.

Na vida é absolutamente natural encontrar dificuldades. Não existe uma vida sem dificuldades. O Budismo de Nitiren Daishonin ensina sobre a energia vital para ultrapassar as dificuldades e tornar a vida feliz. E, somente esse budismo nos ensina a verdadeira alegria e felicidade que existem na superação das dificuldades e sofrimentos.

“Que felicidade!”, “quanta alegria!” — são frases que aparecem em abundância nos escritos de Nitiren Daishonin. Não há frases de lamentação como “Que sofrimento!”, “Que desgraça!” ou “Que tristeza!”. Por isso, quando se lê os escritos de Nitiren Daishonin com seriedade, a pessoa deixará de se lamentar e nunca se afastará da prática budista.

As frases a seguir são alguns exemplos em que Nitiren Daishonin expressa sua grande alegria: “Sinto uma imensa alegria mesmo estando exilado.” (END, vol. 5, pág. 254.)

“Quanto maiores sofrimentos lhe sobrevêm, maior alegria a que ele sente, devido à sua forte fé.” (As Escrituras de Nitiren Daishonin, [END], vol. 3, pág. 257.)

“Entre todas as pessoas, que desde o começo de nosso presente kalpa foram perseguidos por seus pais ou

soberanos e exilados em ilhas distantes, nenhuma delas se alegrou como nós.” (Os Escritos de Nitiren Daishonin [Escritos], vol. 5, pág. 48.)

“Por causa de minhas ações, fui condenado ao exílio; porém, na presente existência, esse é um sofrimento insignificante pelo qual não vale a pena lamentar. Nas minhas próximas existências, desfrutarei imensa felicidade, e essa certeza é que me dá grande alegria .” (Escritos, vol. 4, pág. 222.)

“Com este meu corpo, tenho cumprido as profecias do sutra. Quanto mais as autoridades do governo lançam sua fúria contra mim, maior é minha alegria.” (Ibidem, pág. 75.)

“(A estas notícias) eu, Nitiren, afirmei com firme confiança: Tenho estado consciente disto desde o começo.” (END, vol. 1, pág. 153.)

“O senhor deve estar encantado com esta grande boa sorte.” (Ibidem, pág. 163.)

“Eu não tenho a mínima dúvida de como serão os meus últimos momentos. Quando cortarem minha cabeça, sentirei uma alegria ímpar. Ao ter encontrado grandes bandidos, sei que transformarei seu grande veneno em uma jóia rara.” (Gosho Zenshu, [GZ], pág. 962.)

“É realmente uma grande alegria saber que a minha situação corresponde perfeitamente ao seguinte trecho do sutra: ‘Seremos repetidamente banidos’. Que alegria! Que gratificante!.” (Ibidem, pág. 963.)

A frase “ofensas de calúnia à Lei que vim acumulando desde o infinito passado” se refere ao acúmulo das ofensas de caluniar a Lei ao longo do interminável ciclo da vida. As pessoas desconhecem que tipo de ofensa e quanta calúnia à Lei vieram cometendo na vida desde o

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infinito passado. Daishonin afirma na “Carta de Sado”: “É impossível compreender o próprio carma”.

(Escritos, vol. 5, pág. 20).

Porém, o que ele afirma é que todos os carmas negativos do passado poderão ser expiados pela superação das dificuldades e sofrimentos na presente existência.

Durante toda a sua existência desde o estabelecimento do Verdadeiro Budismo, Nitiren Daishonin devotou a sua vida em prol do Kossen-rufu, abraçando-o como seu grande desejo e própria missão, mesmo diante das grandes perseguições. Ele nos ensina que, ao viver esse tipo de existência pode-se expiar as causas negativas oriundas das ofensas de caluniar a Lei acumuladas desde o infinito passado. Entretanto, não se podem extinguir essas causas negativas meramente por se defrontar com os sofrimentos e dificuldades de qualquer natureza. Somente por meio dos sofrimentos e dificuldades vividos por causa do budismo ou do empenho e dedicação em prol da propagação da Lei e da promoção do Kossen-rufu é que se consegue extinguir todas as incontáveis causas negativas. Isso se torna possível porque o Kossen-rufu é o grande desejo do Buda. Além disso, o ato de se empenhar em prol do Kossen-rufu corresponde a viver a própria condição do Buda. Em outras palavras, a vida do estado de Buda possui a força de extinguir as incalculáveis e graves causas negativas acumuladas pela ofensa de calúnia à Lei. O Buda conquistou a verdadeira felicidade e tranqüilidade por meio da percepção e da iluminação à Lei que torna todas as pessoas felizes. Por essa razão, o Buda manifesta o desejo de tornar todas as pessoas, que também possuem a mesma condição de vida que a dele, igualmente felizes. Este é o grande desejo do Buda.

Quando se vive exatamente de acordo com esse desejo do Buda, pode-se viver a mesma condição de vida do

Buda, isto é, pode-se manifestar a vida do estado de Buda. É por isso que conduzir uma existência empenhando-se em prol do Kossen-rufu possui tamanha importância.

A manifestação da vida do estado de Buda pode ser comparada ao sol que se levanta. As causas negativas que existem tais como as inúmeras estrelas no céu desaparecem imediatamente com o raiar da luz do sol deste estado de Buda. Consta o seguinte no Sutra Fugen, que conclui o Sutra de Lótus: “As muitas causas negativas são como geadas e orvalhos. Desaparecem diante do sol da sabedoria”. Daishonin afirma que este “sol da sabedoria” se refere ao Nam-myoho-rengue-kyo. Em uma outra passagem, Daishonin afirma: “Os sofrimentos do inferno desaparecem imediatamente”. Um ponto importante nessa afirmação de Daishonin é que os sofrimentos não desaparecem aos poucos, de forma gradual, mas instantaneamente. A frase a seguir, “servir ao Buda Sakyamuni, o lorde dos ensinos, com quem jamais me encontrei pessoalmente” indica empenhar-se em prol do Kossen-rufu que é o grande desejo do Buda. E, “encontrar-se pessoalmente com o Buda Sakyamuni” é uma expressão que indica manifestar a mesma condição de vida do Buda, conforme anteriormente mencionado. Nos dias atuais, apenas a SGI vive o grande desejo do Kossen-rufu. Portanto, somente os membros da SGI podem saborear a verdadeira alegria idêntica a do Buda.

Oro para que antes de tudo para que eu possa conduzir e direcionar o governante e aqueles que me perseguiram. Relatarei ao Buda sobre todos os discípulos que me apoiaram e, antes de morrer, transferirei os grandes benefícios acumulados por meio de minha prática aos meus pais, que me trouxeram à vida.

A grande benevolência de Nitiren

Nesta frase, Daishonin descreve a sua condição de vida repleta de grande benevolência. Uma pessoa que manifesta a extraordinária energia vital do estado de Buda não busca a felicidade somente para si própria, mas, sim, é capaz de evidenciar a grandiosa condição de vida de benevolência visando salvar todas as pessoas do sofrimento. A afirmação de Daishonin contida na frase “Oro para que antes de tudo para que eu possa conduzir e direcionar o governante e aqueles que me perseguiram” demonstra uma condição de vida extraordinária de querer conduzir e direcionar inicialmente o governante que o perseguiu e ameaçou de morte. Esse é, sem dúvida, o mais alto sentimento de benevolência.

A suprema condição de vida do Buda é aquela que ora pela iluminação das pessoas, seja quem for. O presidente da SGI, Daisaku Ikeda, descreve sobre essa benevolência imparcial do Buda fazendo uma analogia com o Sol, ao dizer: “O Buda Original tem um único pensamento

benevolente: o de conduzir todos os seres vivos, sem exceção, para a iluminação, isto é, o de salvar toda a humanidade. O Sol é imparcial; ilumina igualmente todos os seres sobre a face da Terra. As luzes da benevolência do Buda Original, que é como um sol para a humanidade, banham sem distinção todas as pessoas do mundo”.

O trecho final do capítulo “Juryo” (Revelação da vida eterna do Buda) do Sutra de Lótus descreve o coração do Buda que pensa incessantemente em salvar as pessoas com as frases Mai-ji-sa-ze-nen. I-ga-ryo-shu-jo. Toku-nyu-mu-jo-do. Soku-jo-ju-bu-shin, que significa: “Medito constantemente: como conduzir as pessoas ao caminho supremo e fazer com que adquiram rapidamente o corpo de um Buda?”.

Um ponto importante a ressaltar é que, em relação à maldade, refutá-la com veemência é também um ato de benevolência. Em um trecho da série “Reflexões sobre a Nova Revolução

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Humana”, o presidente Ikeda faz o seguinte comentário ao se referir a frase dos escritos que hora estudamos: “Apesar de ser alvo das mais severas perseguições, Nitiren Daishonin também demonstrou um espírito de tolerância e benevolência tão vasto quanto o oceano, dizendo: ‘Oro para que antes de tudo para que eu possa conduzir e direcionar o governante e aqueles que me perseguiram’. Porém, isso não significa que seja aceitável encobrir a diferença entre o bem e o mal ou tolerar o mal”. (Terceira Civilização, edição no 403, março de 2002, pág. 36.) Na seqüência, temos a frase “Relatarei ao Buda sobre todos os discípulos que me apoiaram”. Aqui, Daishonin afirma que, após a sua morte, quando chegar ao Pico da Águia, de imediato relatará a Sakyamuni sobre os seus discípulos que o apoiaram. É a manifestação do espírito de gratidão. A pessoa que evidencia o estado de Buda e possui uma forte energia vital manifesta um transbordante sentimento de gratidão.

Em seguida, Daishonin afirma: “... antes de morrer, transferirei os grandes benefícios acumulados por meio de minha prática aos meus pais, que me trouxeram à vida”. Nesta frase, ele nos ensina a atitude de retribuir a todas as pessoas a quem temos dívida de gratidão — “transferindo os grandes benefícios antes de morrer”. Os “grandes benefícios” indicam a felicidade de si junto com as outras pessoas. É também a vida do estado de Buda que torna isto

possível. Vamos transferir este supremo benefício para a pessoa a quem temos maior dívida de gratidão.

O Buda jamais é arrogante. O Buda, ou uma pessoa verdadeiramente grandiosa, possui um transbordante sentimento de gratidão, de alegria, de desejo de retribuição e de benevolência.

Daishonin superou as grandes perseguições abraçando o grande desejo de salvar a humanidade. Assim, manifestou a vida do Buda em meio ao aspecto de um simples mortal comum. Em outras palavras, na posição de um ser humano comum, demonstrou concretamente a sua suprema condição de vida. Trata-se, portanto, de uma expressão concreta do estado de Buda. A leitura desta frase do escrito nos faz entender a finalidade de recitarmos Daimoku e de empenharmo-nos em prol do Kossen-rufu.

Agora, como num sonho, compreendo a essência do capítulo “Surgimento da Torre de Tesouro”(2). Conforme consta no sutra: “Se fossem capazes de agarrar o Monte Sumeru e atirá-lo na direção das incontáveis terras dos budas, isso também não seria difícil... Mas, se após o Buda ter entrado em extinção, na época maléfica, forem capazes de ensinar esse sutra, isso será realmente difícil!”(3)

O espírito do capítulo “Surgimento da Torre de Tesouro”

O capítulo “Surgimento da Torre de Tesouro” do Sutra de Lótus inicia-se numa gigantesca torre de tesouro surgindo da terra e se elevando ao ar. Assim tem início a Cerimônia no Ar em que Sakyamuni define a propagação futura dos ensinos, após o seu desaparecimento. Dirigindo-se aos bodhisattvas, Sakyamuni indaga sobre quem irá propagar o Sutra de Lótus após a morte do Buda, fazendo-os manifestar o juramento para a realização desta tarefa. Em outras palavras, a Cerimônia no Ar é uma cerimônia de juramento para estabelecer o grande desejo da realização do Kossen-rufu.

Ao definir a propagação dos ensinos após a morte do Buda, Sakyamuni mostra quão difícil seria esta tarefa, citando os “seis atos difíceis e nove atos fáceis”. Assim, o juramento de propagar o Sutra de Lótus na posteridade deveria ocorrer sob a plena consciência destas dificuldades.

“Seis atos difíceis” são seis ações consideradas de grande dificuldade, enquanto os “nove atos fáceis” são os fáceis de praticar. Entretanto, mesmo os nove atos considerados fáceis são, na verdade, ações praticamente impossíveis de serem realizadas. Por exemplo, entre os “nove atos fáceis” estão ações como a de agarrar e atirar o Monte Sumeru, a gigantesca montanha para um outro mundo ou, a de penetrar no fogo do kalpa da extinção, isto é, na chama que consumirá a tudo no fim deste mundo, carregando palha seca no ombro sem se queimar. Todavia, tais feitos praticamente impossíveis de serem realizados, se comparados com a ação de abraçar e propagar o Sutra de Lótus na época maléfica após a morte de Sakyamuni, seriam ainda tarefas fáceis. Os “seis atos difíceis” indicam seis aspectos difíceis para abraçar e propagar o Sutra de Lótus na posteridade. Na prática, “seis atos difíceis” indicam o quanto difícil é a

realização da revolução humana, a transformação da vida, e o quanto é profunda a ilusão fundamental que impede a manifestação do nosso estado de Buda.

É por isso que na propagação do Sutra de Lótus é necessário lutar contra as maldades. O movimento do Kossen-rufu é uma batalha contra as maldades. E, ao se lutar contra as maldades pode-se derrotar a maldade existente no interior da nossa própria vida. É exatamente por essa razão que o Buda encoraja a abraçar e propagar o Sutra de Lótus após a sua morte, com o mesmo grande desejo do Buda.

A frase “compreendo a essência do capítulo Surgimento da Torre de Tesouro” significa compreender o coração do Buda em recomendar a propagação do Sutra de Lótus após a sua morte, em meio às dificuldades, expondo os “seis atos difíceis e nove atos fáceis”. Daishonin vinha persistindo nessa luta por 21 anos, seguindo fielmente esta recomendação do Buda. Com essa luta, compreendeu que as verdadeiras alegria e felicidade do ser humano só podem ser conquistadas por meio da ação de superar as grandes perseguições abraçando o Sutra de Lótus. Em outras palavras, significa ter compreendido o coração do Buda por ter exposto os “seis atos difíceis e nove atos fáceis” ao recomendar que se abrace o Sutra de Lótus após a sua morte.

O Grande Mestre Dengyo declara: “Sakyamuni ensinou que o superficial é fácil de abraçar, mas o profundo é difícil. Descartar o superficial e buscar o profundo é o caminho de uma pessoa de coragem. O Grande Mestre Tient’ai confiou em Sakyamuni e seguiu, empenhou-se para manter a escola Lótus(4), propagando seus ensinos em toda a China. Nós do

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Monte Hiei herdamos a doutrina de Tient’ai e nos esforçamos para manter a escola Lótus e propagar seus ensinos por todo o Japão”(5). Eu, Nitiren, nativo da Província de Awa, certamente herdei os ensinos da Lei desses três mestres e, nesta era dos

Últimos Dias, dedico-me a manter a escola Lótus e difundir a Lei. Juntos, deveríamos ser chamados de os quatro mestres das três nações.

Abandonar o superficial e abraçar o profundo

Neste trecho, citando a interpretação do Grande Mestre Dengyo sobre os “seis atos difíceis e nove atos fáceis”, Daishonin elucida “a essência do capítulo Surgimento da Torre de Tesouro”, ou seja, o coração do Buda.

A frase “o profundo é difícil” indica o quanto é profundo e difícil o ato de propagar o Sutra de Lótus e de transformar a vida de todas as pessoas. Portanto, a afirmação de Dengyo indica que o próprio Sakyamuni ensinou este ponto por meio dos “seis atos difíceis e nove atos fáceis”. E, com a frase “Descartar o superficial e buscar o profundo é o caminho de uma pessoa de coragem”, afirma que o coração do Buda consiste em recomendar a prática do profundo Sutra de Lótus e não dos demais sutras superficiais.

A frase “caminho de uma pessoa de coragem” significa o coração do Buda. Um dos títulos honoríficos do Buda é o de “Líder do Povo” que significa a pessoa que expõe livremente as diversas Leis e tem o poder de controlar as más ações dos seres vivos. Portanto, o coração do Buda é desejar que todas as pessoas desafiem a sua própria revolução humana, o ato verdadeiramente mais difícil.

Por outro lado, “o caminho de uma pessoa de coragem” se aplica também a uma pessoa que se levanta bravamente sentindo o coração do Buda, manifestando a verdadeira coragem. Este coração é o próprio espírito da SGI. Discorrendo sobre essa frase, o presidente Ikeda afirma: “O ato de abandonar os ensinos superficiais e buscar o mais profundo requer coragem. Em termos de nossa atuação, esse ato denota a bravura dos que emergiram da Terra e avançam em direção ao Kossen-rufu. Não existe um modo de vida mais profundo do que viver em prol da Lei Mística e de perseverar na prática da fé. Por esta razão, desejo que mantenham uma vida de total dedicação ao Kossen-rufu, sem hesitação ou retrocesso. Não sejam covardes nem fracos a ponto de distorcerem suas próprias convicções por causa do sucesso profissional, fama e posição, tão comuns na sociedade. Uma existência parece ser longa, porém, é curta, passa num piscar de olhos. Exatamente por esse motivo, quero que levem a cabo tudo que vocês forem capazes de realizar, sem deixar arrependimentos, enquanto são jovens e numa época em que podem se empenhar dando o máximo de si”. de-se dizer que simboliza a própria escola de Sakyamuni, pois citando os “seis atos difíceis e nove atos fáceis”, elucidou às pessoas que viriam após a sua morte a praticarem e a propagarem o Sutra de Lótus. Por outro lado, foi o Grande Mestre Tient’ai que, nos Médios Dias da Lei, propagou o Sutra de Lótus e manteve a “escola Lótus” na China, seguindo o coração de Sakyamuni. Da mesma forma, foi o Grande Mestre Dengyo quem

sucedeu Tient’ai e se empenhou para propagar o Sutra de Lótus e manter a “escola Lótus” no Japão. A frase “nós do Monte Hiei” se refere à escola Tient’ai do Japão que herdou o ensino de Dengyo.

A partir das palavras de Dengyo, Daishonin afirma que ele próprio foi quem herdou a escola Lótus nos Últimos Dias da Lei, sucedendo aos “três mestres das três nações” da escola Lótus — Sakyamuni da Índia, Tient’ai da China e Dengyo do Japão. A Província de Awa é uma das localidades do Japão antigo, onde nasceu Daishonin. Desta forma, incluindo a si mesmo, afirma serem “os quatro mestres das três nações”. Daishonin não cita o nome do país onde nasceu, mas, sim, o nome da sua terra natal, Província de Awa. Podemos entender que isso se deve ao fato de a Lei propagada por Daishonin ultrapassar os limites da nação e salvar as pessoas do mundo inteiro.

Analisando sob um outro ponto de vista, a “escola Lótus” é a “escola do Myoho-rengue-kyo”. Significa despertar dentro de si o infinito poder chamado Myoho, isto é, a Lei Mística, e fazer desabrochar o valor chamado Rengue, a flor de lótus. Ao mesmo tempo, significa também criar sucessivamente esse tipo de pessoa para, assim, desabrochar a flor de lótus em si próprio e em todas as pessoas. Em outras palavras, esse é o pensamento de uma “escola do humanismo” e de uma “escola da criação de valores”.

O Myoho-rengue-kyo é uma Lei que visa à felicidade da forma verdadeiramente universal que pode ser aplicada a quaisquer pessoas do mundo. É por isso que o presente escrito contém a declaração da realização do Kossen-rufu mundial. E, Daishonin fez esta declaração ao mundo a partir de Sado, uma ilha afastada do Japão, estando ainda na condição de um exilado. Ele havia atingido um supremo estado de vida que fez emergir dentro de si a Lei universal, revelando-a sob a forma de Gohonzon.

Notas: 1. Este escrito foi revisado e atualizado conforme The Writings of Nichiren Daishonin, vol. 1, págs. 402-403. 2. Essência do capítulo “Surgimento da Torre de Tesouro”: Refere-se aos “seis atos difíceis e nove atos fáceis” estabelecidos por Sakyamuni para demonstrar como será difícil abraçar o Sutra de Lótus na era maléfica após seu falecimento. 3. Passagem do 11o capítulo do Sutra de Lótus, “Surgimento da Torre de Tesouro”. 4. Escola Lótus: Refere-se aos ensinos de Tient’ai, fundamentados no Sutra de Lótus. Essa escola também indica os ensinos de Daishonin. 5. Trecho de Princípios Extraordinários do Sutra de Lótus, de Dengyo. Abreviações: WND - The Writings of Nichiren Daishonin. Escritos - Os Escritos de Nitiren Daishonin. END - As Escrituras de Nitiren Daishonin.

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Sobre atingir o estado de Buda nesta existência(Os Escritos de Nitiren Daishonin, vol. 1, pág. 1.)

BRASIL SEIKYO, EDIÇÃO Nº 1944, PÁG. B5, 21 DE JUNHO DE 2008.

Se o senhor deseja livrar-se dos sofrimentos do nascimento e da morte que tem suportado desde o tempo sem início e atingir infalivelmente a suprema iluminação nesta existência, deve despertar para a verdade mística que sempre existiu inerentemente em todos os seres vivos. Essa verdade é o Myoho-rengue-kyo. Recitar Myoho-rengue-kyo o possibilitará compreender a verdade mística inata em toda vida. (...) Contudo, mesmo que recite e acredite no Myoho-rengue-kyo, se pensa que a Lei existe fora de seu coração, o senhor não está abraçando a Lei Mística, mas um ensino inferior. “Ensino inferior” refere-se a outros ensinamentos além deste sutra (Sutra de Lótus), que são todos meios e provisórios. Nenhum desses meios ou ensinos provisórios nos conduz diretamente à iluminação e, sem um caminho

direto à iluminação, o senhor não pode atingir o estado de Buda, mesmo que pratique existência após existência por incontáveis kalpas(1). Dessa forma, atingir o estado de Buda nesta vida seria impossível. Portanto, quando o senhor ora myoho e recita rengue,(2) deve ter a profunda fé de que o Myoho-rengue-kyo é sua própria vida. (...) A mente que se encontra encoberta pela ilusão da escuridão inata da vida é como um espelho embaçado, mas quando for polida, é certo que se tornará como um espelho límpido, refletindo a natureza essencial dos fenômenos e da realidade. Manifeste uma profunda fé polindo seu espelho dia e noite. Como deve poli-lo? Não há outra forma senão devotar-se à recitação do Nam-myoho-rengue-kyo.

Resumo e cenário histórico

Esta carta foi escrita no sétimo ano de Kentyo, em 1255, por Nitiren Daishonin quando estava com 33 anos de idade e endereçada a Toki Jonin.

Daishonin estabeleceu o seu budismo em 1253. Portanto, essa carta foi redigida dois anos depois, época em que ele iniciou a propagação em Kamakura. Nela, ele ensina o significado do Daimoku de Nam-myoho-rengue-kyo. Por volta dessa época, várias pessoas se converteram ao Budismo Nitiren tais como Shijo Kingo, Irmãos Ikegami, Kudo Yoshitaka e outros. Entre eles, o primeiro a se tornar discípulo de Daishonin foi Toki Jonin, em 1254.

Toki Jonin servia ao lorde Tiba, autoridade da Província de Shimosa. Exercia a posição de secretário e administrador da família Tiba. Por ter uma boa formação intelectual, ele recebeu importantes escritos de Daishonin, tais como “O objeto de devoção para a observação da mente”, “A essência do Sutra de Lótus” e “Os quatro estágios da fé e os cinco estágios da prática.”

Nessa carta que hora estudamos, Daishonin esclarece que o ato de recitar o Nam-myoho-rengue-kyo tem como propósitos: despertar a percepção da verdade mística inerente na vida das pessoas, purificar a mente, evidenciar o estado de Buda e atingir a iluminação na presente existência. Contudo, adverte que esses propósitos não se realizam mesmo recitando Daimoku caso se busque a Lei fora de si mesmo. Afirma também que a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo implantará benefícios e boa sorte na vida das pessoas. E acrescenta que, uma vez que a recitação do Daimoku serve para forjar a vida, todos devem se empenhar com profunda fé, sem negligenciar a recitação.

Após descrever o significado de que o Nam-myoho-rengue-kyo é uma Lei inerente na própria vida, Daishonin anota no final da carta: “Mantenha sua fé e atinja a iluminação nesta vida. Nam-myoho-rengue-kyo, Nam-

myoho-rengue-kyo”, esclarecendo, assim, que o mais importante no seu budismo é a prática da fé que busca a realização da iluminação.

Em síntese, o budismo é uma Lei inerente à vida que leva as pessoas a viverem corretamente. Portanto, o teor principal desta carta se refere ao fato de que as pessoas se tornam capazes de atingir infalivelmente a iluminação desde que recitem o Nam-myoho-rengue-kyo com a convicção de que é uma Lei existente em seu interior.

Se o senhor deseja livrar-se dos sofrimentos do nascimento e da morte que tem suportado desde o tempo sem início e atingir infalivelmente a suprema iluminação nesta existência, deve despertar para a verdade mística que sempre existiu inerentemente em todos os seres vivos. Essa verdade é Myoho-rengue-kyo. Recitar Myoho-rengue-kyo o possibilitará compreender a verdade mística inata em toda vida.

Nesta frase, Daishonin afirma que, para livrar-se dos sofrimentos do nascimento e da morte, é preciso “despertar para a verdade mística”, isto é, recitar o Daimoku de Myoho-rengue-kyo.

“Nascimento e morte sem início” indica o ciclo infindável de nascimento e morte. No termo “sem início” está contido também o significado de “sem fim”. Enquanto não se compreende o nascimento e a morte, o ciclo infindável de existências torna-se uma repetição de sofrimentos insuportáveis. Por isso, o budismo considera “nascimento e morte” como outro nome para sofrimento.

A “suprema iluminação nesta existência” citada na frase refere-se à percepção alcançada pelo Buda que é aquele que superou os sofrimentos do nascimento e da morte. A presente existência em que nascemos como ser humano em meio a um ciclo infindável de vida e morte pode ser

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considerado como oportunidade para interromper a repetição de sofrimentos, manifestando a mesma iluminação alcançada pelo Buda. Para tanto, Daishonin afirma que é necessário perceber a verdade mística inerente em si mesmo.

A “verdade mística que sempre existiu inerentemente em todos os seres vivos” refere-se à lei básica do Universo que sustenta todas as coisas. O Buda atingiu a iluminação percebendo que a essência de sua vida se encontrava nessa lei. A palavra “mística” do termo “verdade mística” é utilizada por se tratar de uma verdade que não é visível, de difícil conscientização e de compreensão. Portanto, essa “verdade mística” indica a própria Lei Mística que é a lógica racional e o princípio fundamental que rege o Universo e sustenta todas as coisas. A palavra “lei” no budismo origina-se da palavra “dharma” da Índia, e possui o significado de “sustentar”. Na sociedade, existem, por exemplo, legislações que “sustentam” a ordem do trânsito, a ordem das transações comerciais etc. E, a lei maior que sustenta todas essas legislações específicas é chamada de Constituição. Portanto, a lei possui a força de sustentar a ordem e o valor numa sociedade. Além dessas leis criadas pelos homens, existem também as leis físicas, biológicas, sociais e as normas idiomáticas, cada qual sustentando a ordem em seu campo

específico.

A lei básica que coordena todas essas leis e sustenta fundamentalmente todas as coisas é chamada de Lei Mística. Como essa lei não é possível ser reconhecia e nem compreendida facilmente, é chamada de “mística” dando a idéia de “misteriosa”. No seu significado está contido também o sentido de “maravilhosa”.

No Daimoku que recitamos, a Lei Mística é a sua essência. Pelo fato de a Lei Mística sustentar o nosso mundo, todas as pessoas também são sustentadas por ela. Na verdade, ela existe originalmente na vida das pessoas. É por essa razão que Nitiren Daishonin se utiliza da expressão “sempre existiu inerentemente em todos os seres vivos”.

Além disso, Daishonin faz uma afirmação extraordinária de que qualquer pessoa, durante o curso de sua vida como ser humano, poderá se libertar do ciclo de sofrimentos de nascimento e da morte ao perceber essa verdade mística em si mesma. Dessa forma, Daishonin afirma que as pessoas são capazes de realizar aquilo que normalmente nas religiões é reservado apenas para pessoas especiais. Declara ainda que é possível realizá-lo durante o curso de sua presente vida. Portanto, a primeira frase desse escrito de Daishonin contém a apresentação de uma extraordinária religião.

Significados de Myoho-rengue-kyo

Outro aspecto extraordinário é a afirmação de que “Essa verdade é Myoho-rengue-kyo” em que Daishonin dá nome a essa lei fundamental. Faz ainda uma afirmação surpreendente na frase “Recitar Myoho-rengue-kyo o possibilitará compreender a verdade mística inata em toda vida.”

Sakyamuni percebeu a Lei Mística por meio de sua sabedoria e ensinou para seus discípulos o exercício budista para se obtê-la.

Em contrapartida, Daishonin afirma que se deve recitar o Nam-myoho-rengue-kyo no sentido de expressar a crença de que essa lei existe dentro de si e, ao mesmo tempo, de comprovar essa fé. Portanto, recita-se o Nam-myoho-rengue-kyo com a postura de fé de que “eu estou vivendo com base nessa lei.”

A frase “Recitar Myoho-rengue-kyo o possibilitará compreender a verdade mística inata em toda vida” indica que o ato de recitar Daimoku equivale à percepção da verdade mística, estabelecendo-se assim a religião de Daishonin. Com a recitação do nome desta lei, chamada Myoho-rengue-kyo, qualquer pessoa poderá perceber a verdade mística dentro de si mesma e conduzir sua vida com base nessa percepção. O Budismo de Nitiren Daishonin é extraordinário por ter descoberto esse caminho. Até então, devido à dificuldade de compreensão da Lei Mística, ela veio sendo exposta por meio de parábolas ou demonstrando o quanto é maravilhosa a figura do Buda que percebeu essa lei, para assim, procurar despertar o espírito de procura por ela. Entretanto, de forma totalmente diferente, Daishonin abriu o caminho para revelar a verdade mística no interior da própria vida por meio da recitação com fé do nome desta lei.

Num trecho de uma explanação do presidente da SGI, Daisaku Ikeda, sobre esse escrito, podemos rever claramente os significados da recitação do Daimoku do Myoho-rengue-kyo, a verdade mística inerente em todos os seres. Ele diz: “Em ‘Sobre atingir o estado de Buda nesta existência’, conforme indicado pela

passagem, ‘a verdade mística que sempre existiu inerentemente em todos os seres vivos é Myoho-rengue-kyo’, Daishonin afirma claramente que essa verdade mística que constitui a Lei fundamental do Universo não é outra senão Myoho-rengue-kyo. O termo ‘Myoho-rengue-kyo’ já existia antes, pois era o título do Sutra de Lótus. Mas Daishonin foi o primeiro a identificar Myoho-rengue-kyo como o nome do princípio do ‘verdadeiro aspecto de todos os fenômenos’ que, conforme ensina o Sutra de Lótus, é a profunda sabedoria de todos os budas”. (Terceira Civilização [TC], edição no 461, janeiro de 2007, pág. 45.)

Em um outro trecho da mesma explanação, o presidente Ikeda afirma: “Em outras palavras, recitar Daimoku também é manifestar nosso estado de Buda inato. É o caminho direto para evidenciar essa condição incomparável de vida. A sabedoria e a benevolência do Buda que emergem com a prática do Daimoku, enriquecem e enchem de felicidade tanto a nossa vida como a de outras pessoas. Conforme mais e mais pessoas recitam Daimoku pela felicidade de si e dos outros, será possível criar uma aliança de indivíduos comprometidos, cuja vida resplandece com a benevolência do estado de Buda, capazes de mudar até mesmo o destino da humanidade”. (Ibidem.)

Contudo, mesmo que recite e acredite no Myoho-rengue-kyo, se pensa que a Lei existe fora de seu coração, o senhor não está abraçando a Lei Mística, mas um ensino inferior. “Ensino inferior” refere-se a outros ensinamentos além deste sutra (Sutra de Lótus), que são todos meios e provisórios. Nenhum desses meios ou ensinos provisórios nos conduz diretamente à iluminação e, sem um caminho direto à iluminação, o senhor não pode atingir o estado de Buda, mesmo que pratique existência após existência por incontáveis kalpas. Dessa forma, atingir o estado de Buda nesta vida seria impossível. Portanto, quando o senhor ora myoho e recita rengue, deve ter a profunda fé de que o Myoho-rengue-kyo é sua própria vida.

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Nesta frase, Daishonin nos ensina que se pensarmos que o Myoho-rengue-kyo existe fora de nós próprios, será impossível atingirmos o estado de Buda nesta existência. Por este motivo, deve-se recitar o Daimoku manifestando uma profunda fé de que o Myoho-rengue-kyo é o nome dado à nossa própria vida e ao mesmo tempo representa cada momento dessa vida. Assim, Daishonin afirma que a recitação do Daimoku com esta consciência possibilita a iluminação na presente existência.

A frase “... se pensa que a Lei existe fora de seu coração” indica o pensamento de que o budismo existe fora da sua vida. Esse modo de pensar é, por exemplo, o de interpretar que sua própria vida, de um mortal comum, é algo insignificante e miserável, enquanto que o dos budas e dos bodhisattvas é extraordinária. À primeira vista, esse tipo de pensamento pode aparentar uma profunda fé. Porém, na verdade, é um pensamento que deprecia a nossa própria vida, considerando-a como algo totalmente diferente da dos budas e bodhisattvas. Portanto, acaba considerando o Myoho-rengue-kyo, o nome da iluminação do Buda ou o próprio o nome da vida do Buda como algo sem nenhuma relação com a nossa vida.

Um exemplo prático deste tipo de pensamento é a da Terra Pura. Na seita Terra Pura se acredita num buda residente em um paraíso a oeste do Universo que recebe as pessoas no instante de sua morte. Assim, não só acredita que o buda não existe dentro da própria vida como também que ele não se encontra no mundo saha, ou seja, nesse mundo real. Portanto, essa é uma crença de que os budas e bodhisattvas não têm nenhuma relação com as pessoas desse mundo real. As religiões têm a tendência de se basear em um ser absoluto distante das pessoas comuns. Assim, acabam se tornando crentes que adoram e buscam a salvação nesse ser absoluto.

Uma outra conseqüência deste tipo de pensamento é a de considerar os clérigos como sendo as pessoas mais próximas dos deuses e budas e, portanto, com o poder de servir de intermediárias entre as pessoas comuns e os seres absolutos. Cria-se assim, um conceito de que os clérigos são mais importantes que os leigos em uma clara discriminação das pessoas do povo. Na verdade, essa é a real natureza da seita Nikken e é também uma atitude que equivale a “pensar que a Lei existe fora de seu coração.” Daishonin afirma nesse escrito que, caso se recite o Daimoku com esse tipo de pensamento, é como se não o tivesse recitado, e que essa não é a Lei para a iluminação na presente existência. Assim, essa revelação contida logo nos primeiros escritos de Daishonin já é uma clara refutação à seita Nikken.

A Soka Gakkai, desde a época do presidente Makiguti, entendeu claramente que o budismo se refere a si próprio, à iluminação das pessoas do povo e à paz desse mundo real, tendo como base a prática da fé da recitação do Nam-myoho-rengue-kyo. É por este motivo que o Kossen-rufu veio se desenvolvendo progressivamente.

Daishonin quebrou a tendência ao autoritarismo e a centralização nos clérigos comumente encontrados nas religiões, fundamentando-se no princípio filosófico do Sutra de Lótus de que todas as pessoas podem se tornar Budas. Visando essa verdadeira reforma religiosa, Daishonin estabeleceu a doutrina centralizada no Daimoku de Nam-myoho-rengue-kyo. O presente escrito apresenta essa doutrina central de Daishonin, revelando o significado do Daimoku na prática, enfatizando a idéia de “não pensar que a Lei Mística existe fora do seu coração”. Esse é um ponto extremamente importante para ultrapassar a tendência cármica das religiões, de cultivarem o formalismo e o autoritarismo.

O pensamento de que “a Lei Mística existe fora do seu coração” acaba, no final das contas, desdenhando as pessoas do povo e, menosprezando a luta de salvar cada uma delas. Acaba

expondo apenas os aspectos de formalidades religiosas e das necessidades para a manutenção e o sustento do autoritarismo dos clérigos. Portanto, a frase desse escrito é também uma refutação a esses vícios das religiões.

Sob o ponto de vista da nossa prática budista, essa frase nos proporciona a convicção de que “seremos felizes sem falha” e “atingiremos com certeza a iluminação nesta existência” com a dedicada recitação do Daimoku. Além disso, fora o objetivo por nossa própria felicidade, praticamos, de forma espontânea e altruística, acalentando o desejo de que todos os nossos amigos também sejam felizes.

Embora possa parecer fácil, trata-se de uma tarefa verdadeiramente difícil. A grandiosidade da Soka Gakkai e da SGI encontra-se exatamente em ter persistido nessa realização desde o início até os dias de hoje.

A mente que se encontra encoberta pela ilusão da escuridão inata da vida é como um espelho embaçado, mas quando for polida, é certo que se tornará como um espelho límpido, refletindo a natureza essencial dos fenômenos e da realidade. Manifeste uma profunda fé polindo seu espelho dia e noite. Como deve poli-lo? Não há outra forma senão devotar-se à recitação do Nam-myoho-rengue-kyo.

Nesta frase, citando a analogia do espelho, Daishonin elucida que a recitação do Daimoku é um exercício budista para polir a vida. Em sua explanação a respeito dessa analogia, o presidente Ikeda escreve: “A metáfora do espelho é, de fato, inspiradora. O espelho, que tem a propriedade de refletir objetos, corresponde à nossa vida, dotada da verdade mística. Mas, se o espelho não for limpo e polido, naturalmente ficará embaçado. Na época de Daishonin, os espelhos eram feitos de bronze, um material muito fácil de manchar e perder o brilho. Quando um espelho fica sujo, não pode cumprir sua função original. Por isso, ele precisa ser polido regularmente. Do mesmo modo, se nos descuidarmos ou agirmos com negligência, nossa vida será encoberta pela ignorância. É isso o que Daishonin quis dizer com a analogia do espelho. A ação de polir é indispensável para restaurar a propriedade intrínseca do espelho. Mas não basta poli-lo uma única vez. Devemos fazê-lo regularmente, se quisermos conservar sua propriedade refletora. Como essa metáfora mostra, a recitação do Daimoku é uma prática para extrair o brilho de nossa vida, remover o ‘pó da ignorância’ e intensificar a luz de nossa natureza iluminada do Darma”. (Terceira Civilização, edição no 464 , abril de 2007, pág. 41.)

Nesse exemplo, o espelho em si é o mesmo, antes e depois de ser polido, ele não se transforma em algum outro objeto. Porém, o que muda radicalmente é a sua funcionalidade. De forma análoga, a prática do Gongyo e Daimoku não nos transforma em outra pessoa. Na verdade, o que muda são as funções e as manifestações de nossa vida que se purifica por meio dessa prática budista.

O que torna a vida sem brilho como se estivesse encoberta pelas nuvens é a escuridão ou a ilusão fundamental. Essa escuridão se refere fundamentalmente à ignorância da Lei Mística. É por desconhecer a Lei Mística que a vida se torna desequilibrada, dominada e controlada por uma impulsividade obscura, ocasionando a infelicidade. Portanto, a escuridão fundamental se encontra na raiz das diversas infelicidades e sofrimentos.

Assim, ao compreendermos a Lei Mística, essa escuridão desaparece imediatamente. Se fizermos uma analogia da Lei Mística com o sol, a escuridão inata seria comparável às nuvens escuras que o encobrem. Quando as nuvens escuras se dispersam, os raios do sol surgem imediatamente. Da mesma forma, ao rompermos à ilusão fundamental, a força da Lei Mística começa a

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agir imediatamente sobre a nossa vida, fazendo manifestar diversos benefícios e funções de valor. A manifestação dessas diversas formas de benefícios e valores é exemplificada como rengue — a flor de lótus. Essa vida que corporificou a Lei Mística é o próprio Myoho-rengue-kyo.

Por outro lado, apesar de todos os seres vivos serem a entidade da Lei Mística e sua vida estar dotada originalmente do estado de Buda, se não lutarem para dispersar as nuvens espessas da “escuridão inata”, o estado de Buda não surgirá de fato. Cabe ressaltar que não se trata de uma simples recitação do Daimoku como se fosse um mantra ou uma palavra mágica. Esse Myoho-rengue-kyo expressa a Lei fundamental do Universo. A grandiosidade do Budismo de Daishonin se encontra no fato de ter estabelecido o exercício budista da recitação do nome dessa Lei. Porém, esse exercício só se torna válido quando a pessoa que recita o Daimoku se empenha dedicadamente para dispersar a escuridão inata de sua vida. Como essa escuridão é a ilusão interna da mente, deve-se travar no seu íntimo uma verdadeira batalha que, em outras palavras, é a própria fé.

Com base no Sutra de Lótus que expressa a iluminação do Buda, Daishonin revelou o Myoho-rengue-kyo em sua própria vida, e o reafirmou em meio à sua luta. Portanto, para evidenciar essa vida do Buda chamada Myoho-rengue-kyo, é necessário “recitá-la” da mesma forma como fez Daishonin. Em outras palavras, a base deve ser a “fé” e “o espírito de luta contra a escuridão inata”. O Daimoku propagado por Daishonin é “o Daimoku de luta”.

A escuridão inata se manifesta de diversas formas, tais como dúvida, insegurança e desejos mundanos; a única força capaz de rompê-las é a “fé”. Há uma frase que diz: “denomina-se fé a não existência da dúvida”.

Daishonin afirma: “A excelente espada que combate a escuridão fundamental chama-se fé”. (Gosho Zenshu, pág. 751.) Esta “espada que combate a escuridão fundamental” deve ser “afiadíssima”. A luta contra diversas forças da maldade que tentam obstruir o movimento do Kossen-rufu a começar pela seita Nikken, fundamentalmente, é também o combate contra a escuridão fundamental. A luta contra as diversas dificuldades que surgem em nossa vida, na sua essência, é também o combate contra a escuridão.

Quando se perde a fé na Lei Mística, isto é, a determinação de “atingir sem falta à iluminação”, de “ser feliz, haja que houver”, de “realizar sem falta o Kossen-rufu”, acabará sendo derrotado tanto pelos obstáculos e maldades que surgem no caminho do Kossen-rufu como também pelas dificuldades da vida diária. Esse tipo de “fé” é o que está contido na frase “devotar-se à recitação do Nam-myoho-rengue-kyo”.

Diz-se que existe o “Daimoku da fé” e o “Daimoku da prática”. A “fé” é necessária para criar a ação interna da mente, isto é, a batalha interior. E a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo ao Gohonzon, como a comprovação dessa fé, corresponde à “prática”,

isto é, a prática da recitação do Daimoku.

Além disso, como comprovação da “fé”, surge naturalmente o sentimento de não restringir a maravilhosa vida do Myoho-rengue-kyo somente para si. E, assim se manifesta a “prática altruística” do sincero desejo de “querer ensinar esta Lei para outras pessoas”. Trata-se do Daimoku da prática individual e altruística, de que “eu vou recitar e ensinar às outras pessoas”. Em relação à recitação do Daimoku como exercício para polir a nossa vida, podemos destacar dois pontos de fundamental importância. O primeiro é, conforme orientação do presidente Ikeda, “manifestar uma profunda fé em nossa vida”. Em outras palavras, significa manifestar o “espírito de luta contra a escuridão inata”. O segundo ponto, conforme a frase “Manifeste uma profunda fé polindo seu espelho dia e noite”, o importante é uma séria e dedicada “continuidade”. Estes dois pontos equivalem aos dois aspectos da prática do Daimoku citados por Nitikan Shonin referenciando o termo “yu-myo sho-jin” (corajoso e ininterrupto) constante nos capítulos “Meios” e “Surgimento da Torre de Tesouro” do Sutra de Lótus. O termo “yu-myo” (corajoso) corresponde ao Daimoku bravo e destemido que se baseia no poder da fé e, “shojin” (ininterrupto) à prática do Daimoku dedicada com pureza e de forma ininterrupta.

Na explanação sobre este escrito, o presidente Ikeda afirma: “Com relação à recitação do Daimoku, o primeiro ponto fundamental é ter espírito de desafio e agir com coragem. Isso significa manifestar uma profunda fé em nossa vida, tal como ensinam as palavras de Daishonin, acreditando firmemente que podemos evidenciar a verdade mística que existe em nós e atingir a iluminação nesta existência, sem falta. Significa também enfrentar com coragem os Três Obstáculos e as Quatro Maldades que tentam nos impedir de recitar o Daimoku. Precisamos nos desafiar, ter um espírito destemido, incansável e inabalável para enfrentarmos os obstáculos e superá-los sempre que se levantarem contra nós. É justamente por meio desse desafio que vencemos a ignorância e polimos nossa vida”. (Terceira Civilização, edição no 464, abril de 2007, pág. 41.)

Em relação à importância da continuidade da prática do Daimoku, o presidente Ikeda expõe: “A perseverança também é vital. Para atingir o estado de Buda nesta existência, é preciso persistência. Daishonin diz: ‘Aceitar é fácil; manter é difícil. No entanto, o estado de Buda encontra-se justamente na continuidade da fé’. (As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 1, pág. 279). Em ‘Sobre atingir o estado de Buda nesta existência’ percebemos a grande importância da continuidade, a partir da ênfase que Daishonin atribui a praticar ‘dia e noite’ e ‘diligentemente’. Manter uma prática incessante de recitação de Daimoku é um requisito fundamental para atingir o estado de Buda”. (Terceira Civilização, edição no 464, abril de 2007, pág. 41.)

Termos de denominações: Kalpa: Também denominado aeon. Um período de tempo extremamente longo proveniente da antiga tradição da Índia. “Ora myoho e recita rengue”: Significa recitar o Daimoku da Lei Mística, ou Nam-myoho-rengue-kyo.

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O Tambor no Portal do Trovão(As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 6, pág. 97.)

BRASIL SEIKYO, EDIÇÃO Nº 1945, PÁG. B1, 28 DE JUNHO DE 2008.

Aqueles que fazem oferecimentos ao Sutra de Lótus receberão o mesmo benefício que se o fizessem a todos os budas e bodhisattvas das dez direções, pois todos os budas das dez direções originam-se do único caractere myo. Suponha que um leão tenha cem filhotes. Quando um leão vê seus filhotes sendo atacados por outros animais ou aves de rapina, ele solta o seu rugido, com isso, os cem filhotes se sentirão encorajados, e as cabeças dos outros animais e aves serão partidas em sete pedaços. O Sutra de Lótus é como o rei leão, o líder de todos os outros animais. Uma mulher que abraça o rei leão do Sutra de Lótus jamais teme quaisquer das bestas do inferno ou dos mundos dos espíritos famintos e dos animais. (...) A jornada da Província de Sado até esta província leva mil ri(2) cruzando o mar e as montanhas. Como uma mulher, a senhora manteve firme sua fé no Sutra de Lótus e, por várias vezes durante anos, enviou seu marido

até aqui para me visitar em seu lugar. Com certeza, o Sutra de Lótus, Sakyamuni, Muitos Tesouros e os budas das dez direções sabem de sua dedicação. Por exemplo, embora a Lua esteja numa distância de quarenta mil yojanas da Terra, seu reflexo aparece instantaneamente em um lago aqui, e o som de um tambor no Portal do Trovão(3) pode ser ouvido, na mesma hora, numa distância de mil a dez mil ri. Apesar de a senhora permanecer em Sado, seu coração veio até esta província. O meio para se atingir o estado de Buda é exatamente da mesma forma. Apesar de habitarmos uma terra impura, nosso coração reside na terra pura do Pico da Águia. O simples fato de nos olharmos pessoalmente seria insignificante. O coração é o que importa. Algum dia, vamos nos encontrar no Pico da Águia, onde o Buda Sakyamuni habita.

Resumo e cenário histórico

Nitiren Daishonin escreveu essa carta em Minobu e a enviou à monja leiga Senniti, esposa de Abutsu-bo, que vivia na Ilha de Sado. Após Nitiren Daishonin ter mudado de Kamakura para o Monte Minobu, o marido da monja leiga viajou de Sado a Minobu, pelo menos três vezes, para visitá-lo a pedido de sua esposa.

Nessa carta, Daishonin louva Senniti por sua sinceridade em enviar-lhe oferecimentos de tão longe e explica os benefícios resultantes de sinceros oferecimentos. Em seguida, declara que o Sutra de Lótus é o ensino supremo, revelando que todos os budas atingiram a iluminação por meio desse sutra. E que, pelo Sutra de Lótus ser a fonte de todos os budas, o ato de fazer oferecimentos a esse sutra produz os mesmos benefícios que fazer oferecimentos a todos os budas do Universo. Explica também, que o Sutra de Lótus, a Lei suprema do Nam-

myoho-rengue-kyo, possui o poder de transformar o veneno em remédio; e as ofensas passadas, em fontes de benefício e boa sorte. Em seguida, Daishonin descreve o momento da morte e incentiva Senniti, uma mulher já em idade avançada, a fortalecer ainda mais sua fé no Sutra de Lótus.

Na última parte, Daishonin expressa admiração pela fé e pelo espírito de procura de Senniti, que possibilitaram seu marido a percorrer todo o caminho de Sado a Minobu. Apesar de a monja leiga não poder visitar Daishonin, ele diz: “Seu coração veio até esta província”. E complementa afirmando que “o coração é o que importa”, explicando que os seguidores do Sutra de Lótus, ou Nam-myoho-rengue-kyo, embora habitem o mundo secular, podem desfrutar de imensa felicidade sem terem de ir a outros lugares para encontrá-la.

Explanação dos tópicos

Aqueles que fazem oferecimentos ao Sutra de Lótus receberão o mesmo benefício que se o fizessem a todos os budas e bodhisattvas das dez direções, pois todos os budas das dez direções originam-se do único caractere myo. Suponha que um leão tenha cem filhotes. Quando um leão vê seus filhotes sendo atacados por outros animais ou aves de rapina, ele solta o seu rugido, com isso, os cem filhotes se sentirão encorajados, e as cabeças dos outros animais e aves serão partidas em sete pedaços. O Sutra de Lótus é como o rei leão, o líder de todos os outros animais.

Uma mulher que abraça o rei leão do Sutra de Lótus jamais teme quaisquer das bestas do inferno ou dos mundos dos espíritos famintos e dos animais.

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Os ilimitados benefícios resultantes dos oferecimentos ao Sutra de Lótus

Se compreendermos essas palavras de presidente Ikeda no fundo do coração, podemos afirmar que compreendemos perfeitamente o significado dessa passagem do escrito.

Os benefícios resultantes dos oferecimentos ao Sutra de Lótus são infindáveis e podemos transpor qualquer que seja o obstáculo ou a maldade. Portanto, é de suma importância possuir essa profunda convicção. Se tiver essa convicção, não há absolutamente nada a temer. Então, o que significa “nada a temer”?

Nessa carta, Daishonin esclarece que não precisamos temer o destino e nem mesmo a morte. Aprofundar essa convicção é o foco principal do estudo dessa carta.

Em seguida, qual é o significado de “fazer oferecimentos ao Sutra de Lótus”?

Existem dois tipos de oferecimentos: o oferecimento à Lei e o oferecimento material.

O oferecimento à Lei corresponde à ação de propagar o Sutra de Lótus; à ação de comprovar e colocar em prática o Sutra de Lótus.

O oferecimento material corresponde a realizar doações necessárias para a promoção do Kossen-rufu.

De toda forma, em ambos os tipos, a “sinceridade” tal como a de Senniti-ama é o ponto mais importante. “Manifestar a sinceridade” — eis a essência do ato de se

O Sutra de Lótus é a origem da iluminação de todos os budas das dez direções e três existências. Desde o infinito passado até o infinito futuro, haverão de surgir incontáveis Budas nesse Universo. Esses incontáveis Budas, sem exceção, atingirão a iluminação tendo o Sutra de Lótus como seu mestre. Sendo assim, fazer oferecimentos ao Sutra de Lótus equivale ao ato de fazer oferecimentos a todos os Budas. Portanto, com certeza, esse benefício é ilimitado.

De acordo com a visão sobre o mundo da época, o Japão não passava de uma pequena ilha no extremo leste do mundo. E, em uma remota península no seu lado norte, chamada Sado, morava uma mulher desconhecida, de idade avançada, praticando esse budismo. Essa era a monja leiga Senniti. Porém, quão nobre e grandioso foi o coração de Senniti de querer proteger Daishonin, o devoto do Sutra de Lótus, ou seja, o sentimento de proteger o mestre do Kossen-rufu. Certamente, Daishonin quis louvar ao máximo, do fundo do coração, esse sublime sentimento.

Fazer oferecimentos ao Sutra de Lótus equivale a fazer oferecimentos a todos os budas e bodhisattvas das três existências e dez direções. Conseqüentemente, todos os budas e bodhisattvas das três existências e dez direções irão proteger aquele que faz sinceros oferecimentos. Sendo assim, essa pessoa jamais cairá num impasse. Portanto, não há nada com que nos preocupar. Tanto em vida como na morte, poderemos desfrutar, eternamente, de uma extraordinária e ilimitada condição de vida tão vasta quanto o Universo.

Os benefícios do “caractere Myo” — os três significados do Myo

Nessa carta consta: “todos os budas das dez direções originam-se do único caractere myo”.

Esse “único caractere myo”, corresponde ao caractere myo de Myoho, ou seja, Lei Mística, e é também o caractere myo de Nam-myoho-rengue-kyo.

Nos vinte e oito capítulos do Sutra de Lótus estão reveladas inúmeras leis e princípios. Porém, ao final das contas, todas essas leis e princípios são para expressar, ensinar e transmitir esse myo. Sendo que, aquele que incorporou em si esse myo é chamado de Buda. Portanto, o Sutra de Lótus é o mestre de todos os budas.

O Nam-myoho-rengue-kyo dos Três Grandes Ensinos Fundamentais que Daishonin revelou e propagou para toda a humanidade dos Últimos Dias da Lei é a grande Lei que possibilita a todas as pessoas conquistarem o poder desse “único caractere myo”.

No escrito “O Daimoku do Sutra de Lótus”, Daishonin elucida os “Três significados do myo” que são: “Abrir” (Kai no gui), “Perfeito e repleto” (Soku Enman no gui) e “Reviver” (Sosei no gui).

Os três significados do myo podem ser sintetizados a partir da explanação do presidente Ikeda sobre “O tambor no portal do trovão” (ibidem.):

1- “Myo significa abrir”

“O caractere myo significa abrir” (Os Escritos de Nitiren Daishonin [Escritos], vol. 2, pág. 185). O Sutra de Lótus é a chave que abre o repositório de todos os sutras. Por meio do Sutra de Lótus é possível contemplar o tesouro contido nos demais sutras.

2- “Myo significa perfeito e repleto”

“Myo significa totalmente imbuído que, por sua vez, quer dizer ‘perfeito e repleto’.” (Ibidem, págs. 187-188). Uma única jóia dos desejos, embora em tamanho inferior a uma semente de mostarda, tem a capacidade de fazer chover tesouros tão

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numerosos quanto os concedidos por todas as jóias dos desejos. Fazendo outra analogia, as plantas e flores florescem quanto o sol irradia seu brilho sobre elas. Da mesma forma, em um único caractere do Sutra de Lótus estão contidos incontáveis ensinos e benefícios.

3- “Myo significa reviver”

“Myo significa reviver, ou seja, retornar à vida.” (Ibidem, págs. 197-198). Mesmo aqueles que eram considerados incapazes de atingir o estado de Buda puderam reviver e alcançar a iluminação graças ao Sutra de Lótus. A Lei Mística é o ensino perfeito e repleto que originalmente contém todos os outros sutras e é capaz de despertar e abrir o valor intrínseco de todas as coisas. Sendo assim, mesmo aqueles que se encontram num impasse, é possível fazê-los reviver e atingir a iluminação.

Ao recitarmos o Daimoku do Nam-myoho-rengue-kyo sob os aspectos da prática individual e da prática altruística, podemos manifestar o poder desse “único caractere myo”, de forma concreta em nossa vida. Quão extraordinário é esse budismo!

O nosso exercício budista existe justamente para incorporarmos esse “caractere myo” em nossa vida. As atividades em prol do Kossen-rufu também são empreendidas com essa finalidade. Quando avançamos em prol do Kossen-rufu com a determinação de “não poupar a própria vida (Fushaku shinmyo)”, conseguimos conquistar os benefícios do “caractere myo”, inteiramente em nossa vida.

“Uma mulher que abraça o rei leão do Sutra de Lótus”

Na passagem que se inicia com a analogia “Suponha que um leão tenha cem filhotes”, Daishonin elucida a forma como surgem os ilimitados benefícios dos oferecimentos ao Sutra de Lótus.

Nesse trecho, Daishonin compara o Sutra de Lótus que contem o ilimitado poder do caractere myo ao “rei leão”. Da mesma forma, Daishonin declara que aqueles que abraçam o Sutra de Lótus e fazem oferecimentos são como os “filhos do leão”. Ele compara também a infeliz condição de vida de inferno, fome e animalidade com as bestas do mundo do inferno.

O rugido de um leão, ao ver seus filhotes sendo atacados por outros animais ou aves de rapina, é capaz de encorajar cem filhotes a ponto de fazê-los derrubar e vencer esses animais. Igualmente, aqueles que fazem oferecimentos ao Sutra de Lótus conseguem adquirir a imensurável força do “caractere myo” e ultrapassar os infortúnios da condição de vida de inferno, fome e animalidade.

Daishonin incentiva Senniti-ama encorajando-a com as seguintes palavras: “Uma mulher que abraça o rei leão do Sutra de Lótus jamais teme quaisquer das bestas do inferno ou dos mundos dos espíritos famintos e dos animais”.

Nessa passagem, Daishonin se refere especialmente a “uma mulher”. Na época, devido a uma sociedade de samurais totalmente centralizada nos homens, a mulher vivia em geral numa condição vulnerável e o seu coração era facilmente influenciado pelas diversas circunstâncias de intranqüilidade. De fato, parecia comum às mulheres derramarem lágrimas pelos infortúnios da vida.

Provavelmente, Senniti como uma pessoa central entre os praticantes da Ilha de Sado, ouvia as vozes dessas mulheres que sofriam com problemas de família, de doença, de velhice etc. Podemos crer que Senniti pedia orientações a Daishonin a respeito desses problemas.

Embora não se saiba ao certo se os problemas eram dela ou de outras pessoas, ao perceber uma sensível mudança no coração de Senniti, Daishonin encoraja-a declarando que para a mulher que abraça o Sutra de Lótus, o sutra do rei leão, não há

absolutamente nada a temer.

Em relação a esse incentivo de Daishonin a Senniti-ama, o presidente Ikeda comenta o seguinte ao explanar esse escrito: “Podemos considerar essa passagem como uma menção sobre a extraordinária força da prática da fé das mulheres. Em outras palavras, ao contrário dos homens que tendem a pensar nos seus interesses, a mulher, por ter comparativamente pouco a perder, tem elevada capacidade de perceber a ilimitada força da Lei Mística por meio do ensino e do caráter do mestre. Essa crença gera a condição essencial da prática da fé de ‘não duvidar e nada temer’. A mulher que consegue adquirir essa condição inabalável da fé jamais será derrotada pelas funções malignas. As mulheres possuem a sabedoria para discernir de imediato o certo do errado. Elas possuem a coragem essencial para derrubar os três venenos da avareza, ira e estupidez. Possuem a benevolente determinação de desenvolver todas as coisas do Universo. Um coração determinado, imbuído de sabedoria, coragem e benevolência surge ao ser inspirado pela conduta do mestre que despertou para a suprema Lei. Essa mulher jamais será influenciada pelas funções sutis e malignas da maldade. O Sr. Toda sempre dizia que: ‘Se a realização do Kossen-rufu será uma realidade ou não, dependerá da atuação das mulheres’. Para uma mulher que conheceu a ‘maior das alegrias’, nada poderá obstruir o seu caminho. É exatamente o aspecto dessa mulher revigorada que inspirará o coração de outras mulheres”. (Revista Daibyakurengue, edição de setembro de 2007.)

A jornada da Província de Sado até esta província leva mil ri(2) cruzando o mar e as montanhas. Como uma mulher, a senhora manteve firme sua fé no Sutra de Lótus e, por várias vezes durante anos, enviou seu marido até aqui para me visitar em seu lugar. Com certeza, o Sutra de Lótus, Sakyamuni, Muitos Tesouros e os budas das dez direções sabem de sua dedicação. Por exemplo, embora a Lua esteja numa distância de quarenta mil yojanas da Terra, seu reflexo aparece instantaneamente em um lago aqui, e o som de um tambor no Portal do Trovão(3) pode ser ouvido, na mesma hora, numa distância de mil a dez mil ri. Apesar de a senhora permanecer em Sado, seu coração veio até esta província.

O meio para se atingir o estado de Buda é exatamente

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da mesma forma. Apesar de habitarmos uma terra impura, nosso coração reside na terra pura do Pico da Águia. O simples fato de nos olharmos pessoalmente seria insignificante. O coração é o que importa. Algum dia, vamos nos encontrar no Pico da Águia, onde o Buda Sakyamuni habita.

“Apesar de a senhora permanecer em Sado, seu coração veio até esta província.” Nesse trecho, Daishonin declara que “Embora a senhora não possa dar um passo sequer para fora da longínqua Sado, ultrapassando mar e montanhas, sem dúvida alguma, o seu coração veio ao meu encontro”.

As pessoas que mantêm uma firme prática budista manifestam o estado de Buda em vida, e na morte se integram ao estado de Buda do Universo. Dessa forma, Daishonin incentiva Senniti revelando-lhe o surpreendente e verdadeiro aspecto de mestre e discípulo que compartilham o mesmo estado de Buda.

Para a monja Senniti, o fato dela não poder mais se encontrar com Daishonin pelo resto da vida talvez tenha causado profunda tristeza em seu coração. Ou talvez, o próprio Daishonin tenha percebido esse sentimento nela. Por essa razão, ele a incentiva dizendo que o seu coração estará sempre presente no mesmo estado de Buda dele.

Daishonin afirma que: “Apesar de habitarmos uma terra impura, nosso coração reside na terra pura do Pico da Águia”. Ou seja, o mundo saha em que habitamos, embora seja uma terra impura, o coração que abraça o ensino da Lei Mística habita o Pico da Águia, isto é, a Terra da Luz Eternamente Tranqüila.

Por mais distante que estejam fisicamente, mestre e discípulo que compartilham o mesmo estado de Buda estarão sempre juntos. A determinação da prática budista ultrapassa imediatamente as barreiras da distância física.

“Nosso coração reside na terra pura do Pico da Águia.” Esse trecho indica que o espírito de procura de Senniti por Daishonin é genuíno. Além disso, quer dizer que Senniti está lutando com o mesmo espírito de Daishonin.

Aquele que empreende uma luta de unicidade de mestre e discípulo consegue manifestar a suprema condição de vida do Buda da mesma forma que o seu mestre, sem ser abalado por qualquer que seja a circunstância ou sofrimento.

“O simples fato de nos olharmos pessoalmente seria insignificante.” Conforme essa passagem do escrito, no mundo da prática budista o que importa não é a formalidade de poder se

encontrar ou não com uma pessoa. O importante é “com que sentimento” a pessoa se encontra e efetivamente “o quê está fazendo”.

Em sua explanação desse escrito, o presidente Ikeda escreveu: “O que importa é o coração! — o sentimento de uma pessoa se manifesta sem falta em suas ações. No caso de Senniti-ama, sua sinceridade se manifestou no ato de enviar, todos os anos, seu marido ao encontro de Daishonin. O imutável espírito de Senniti-ama revelou-se nesse ato. ‘Esse seu sentimento é um caminho para a iluminação!’; ‘Compreendo perfeitamente a sua sinceridade!’ — essas expressões estão cristalizadas na afirmação de Daishonin: ‘O que importa é o coração!’”. (Revista Daibyakurengue, edição de setembro de 2007.)

Ao final, Daishonin conclui: “Algum dia, vamos nos encontrar no Pico da Águia, onde o Buda Sakyamuni habita”. Essa é uma declaração de que a intenção de Senniti é verdadeira e de que ela infalivelmente atingirá o estado de Buda e que irá encontrar o mestre na Terra Pura do Pico da Águia. O laço de mestre e discípulo no budismo perdura eternamente pelas três existências da vida.

Na mesma explanação, o presidente Ikeda afirma: “Em certa ocasião, num diálogo com os integrantes da Divisão dos Universitários, respondi da seguinte forma a respeito de ‘unicidade de mestre e discípulo’: ‘Este princípio significa possuir o mestre no âmago da vida e levantar-se só. O presidente Toda está presente em meu ser, está dentro de mim. Essa questão não é algo que possa simplesmente ser dito da boca para fora, é uma questão de espírito. Por ser inerente em nossa vida é que se cria a unicidade.’ Independentemente da hora ou do lugar, onde quer que eu esteja, sempre me dedico dialogando com meu mestre Toda. A “unicidade” está dentro de nós. A unicidade de mestre e discípulo ultrapassa a distância e o tempo. O espírito de mestre e discípulo irá edificar, por toda a eternidade, a história de luta em conjunto”. (Ibidem.)

“O que importa é o coração”. É fortemente recomendável que possamos abraçar essa grandiosa filosofia e, juntos com o Mestre, avançar nos dedicando continuamente em prol do Kossen-rufu.

Termos de denominações: Esse escrito foi revisado e atualizado conforme The Writings of Nichiren Daishonin, vol. 1, pág. 949. Mil ri: Indica simplesmente uma distância muito longa. Portal do Trovão: Portal localizado em Hui-ti, em Shao-hsing, Província de Chekiang, na China. Acredita-se que o som do tambor desse local alcançava até a distante capital de Lo-y.

A vida de Nitiren DaishoninBRASIL SEIKYO, EDIÇÃO Nº 1946, PÁG. C1, 05 DE JULHO DE 2008.

Nitiren Daishonin nasceu em 16 de fevereiro de 1222, em Kominato, na Província de Awa, a leste da Baía de Tóquio, como filho de uma família de pescadores e foi chamado de Zenniti-maro.

Com a idade de 12 anos, foi estudar no Templo Seityoji, da escola Tendai, e decidiu seguir o sacerdócio aos 16 anos tendo Dozembo — o sacerdote-chefe desse templo — como seu mestre. Ao ordenar-se, adotou o nome religioso

de Zeshobo Rentyo.

Após vários anos de estudo nos principais templos de Kamakura, Quioto e Nara, Rentyo concluiu que o verdadeiro ensino do budismo encontrava-se no Sutra de Lótus por revelar a essência da iluminação do Buda Sakyamuni.

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Rentyo retornou então para o Templo Seityoji e recitou o Nam-myoho-rengue-kyo pela primeira vez no dia 28 de abril de 1253 e declarou a fundação do Verdadeiro Budismo. Ele mudou também o seu nome para Nitiren (literalmente, Sol de Lótus).

Nessa ocasião, Nitiren refutou a escola Terra Pura (Nembutsu) afirmando ser a causadora de incessantes sofrimentos. Essa declaração provocou a ira de Tojo Kaguenobu, um fervoroso crente da Terra Pura, que usou seu poder de autoridade regional para bani-lo do Templo Seityoji. Nitiren foi então para Kamakura, sede do governo da época.

Numa pequena cabana localizada em Matsubagayatsu, no subúrbio de Kamakura, Nitiren iniciou as atividades de propagação de seus ensinos. Nessa época, as três calamidades e sete desastres aconteceram uns após outros. Em particular, um grande terremoto abalou Kamakura em agosto de 1257 e destruiu grande parte das edificações. Diante dessas ocorrências, Nitiren visitou o Templo Jissoji para ponderar sobre como erradicar a causa dessas calamidades. Foi durante sua estada nesse templo que Nikko tornou-se seu discípulo. Mais tarde, ele se tornou o legítimo sucessor de Nitiren.

No dia 16 de julho de 1260, Nitiren endereçou um tratado intitulado “Tese sobre o estabelecimento do ensino correto para a paz da nação” (Rissho Ankoku Ron) a Hojo Tokiyori, ex-regente que exercia grande influência sobre o governo.

O tratado afirmava que a causa das três calamidades e dos sete desastres estava na calúnia das pessoas à verdadeira Lei e na aceitação de doutrinas que contradiziam os ensinamentos do Buda Sakyamuni.

Entretanto, Tokiyori rejeitou com cautela a admoestação de Nitiren. Enquanto isso, com o apoio de Hojo Shiguetoki, o pai do então regente Hojo Nagatoki, um grupo de crentes da Terra Pura reuniu-se em Matsubagayatsu, na cabana de Nitiren, para assassiná-lo. Esse acontecimento é conhecido como Perseguição de Matsubagayatsu e ocorreu na noite de 27 de agosto de 1260.

Nitiren escapou por pouco dessa perseguição, mas foi banido para a Península de Izu em 12 de maio de 1261. Esse acontecimento é chamado de Exílio a Izu. A ordem do regente de exilá-lo foi, na realidade, uma decisão ilegal baseada apenas em seus sentimentos pessoais. Nitiren foi libertado desse exílio em fevereiro de 1263 por ordem de Hojo Tokiyori e retornou para Kamakura.

No dia 11 de novembro de 1264, quando Nitiren estava a caminho de uma visita a seu discípulo Kudo Yoshitaka, ele e sua comitiva foram atacados pela tropa de Tojo Kaguenobu na localidade de Komatsubara. Nessa Perseguição de Komatsubara, Nitiren sofreu um ferimento da testa, teve sua mão esquerda quebrada e seus discípulos Kyoninbo e Yoshitaka foram mortos.

No dia 18 de janeiro de 1268, emissários mongóis chegaram a Kamakura e submeteram uma ordem de submissão ao governo japonês. Caso a ordem fosse ignorada,

o Japão seria invadido pelo exército mongol.

Diante da iminente invasão estrangeira que predisse no Rissho Ankoku Ron, Nitiren admoestou novamente os governantes dizendo que deveriam abraçar o Verdadeiro Budismo.

No dia 10 de setembro de 1271, Hei-no-Saemon, chefe da força militar, ordenou que Nitiren prestasse depoimento na corte de investigação. Este o enfrentou destemidamente e advertiu-o contra a conduta errônea do governo. Como resultado, dois dias depois, Nitiren foi arrastado como um criminoso pelas ruas de Kamakura pelos soldados de Hei-no-Saemon, que decidiu arbitrariamente condená-lo à pena de morte. Contudo, no momento da decapitação, “um corpo celeste tão brilhante quanto a Lua surgiu repentinamente no alto de Enoshima e atravessou rapidamente o céu do Sudeste ao Noroeste. Era pouco antes da alvorada e estava muito escuro para ver o rosto de qualquer pessoa. Entretanto, o objeto luminoso clareou toda a área. O carrasco caiu cobrindo sua face com seus olhos ofuscados. Os soldados entraram em pânico e ficaram atemorizados. Alguns fugiram para longe, outros caíram de seus cavalos e vários se encolheram nas selas”. (“Sobre o comportamento do Buda”, As Escrituras de Nitiren Daishonin [END], vol. 1, pág. 163.) Esse acontecimento é conhecido como Perseguição de Tatsunokuti.

Nesse momento, Nitiren abandonou a sua figura efêmera de Bodhisattva Jogyo e revelou sua verdadeira identidade de Buda Original dos Últimos Dias da Lei. Esse fato é chamado de Hosshaku Kempon (rejeitar a forma transitória e revelar a verdadeira identidade).

Após a tentativa malsucedida de execução, Nitiren foi condenado ao exílio na Ilha de Sado. Ele foi abandonado numa pequena choupana em ruína localizada no meio do cemitério de Tsukahara. Nitiren chegou em Sado, uma ilha do Mar do Japão, em 11 de novembro de 1271, onde o inverno era extremamente rigoroso. Além de não possuir roupas para suportar o frio e nem alimentos, Nitiren sofreu constantes ataques dos bonzos inimigos que residiam na região. Apesar de viver numa difícil situação, ele escreveu importantes obras durante a permanência em Sado, entre os quais, os dois mais importantes são “Abertura dos olhos” e “O verdadeiro objeto de devoção”.

O escrito “Abertura dos olhos”, concluído em fevereiro de 1272, é a prova documental de sua revelação como Buda Original. Nitiren expõe ser o possuidor das “Três virtudes de soberano, mestre e pais” e o “Buda Original dos Últimos Dias da Lei”, ou o “objeto de devoção em termos de Pessoa”. Ele escreveu “O verdadeiro objeto de devoção” em abril de 1273, no qual esclarece o objeto de devoção para a salvação de todas as pessoas nos Últimos Dias da Lei. Nitiren inscreveu a sua condição de vida em forma de um mandala, revelando desse modo o “objeto de devoção em termos de Lei”. Por meio desses escritos, ele ensina que as pessoas nos Últimos Dias da Lei devem abraçar o objeto de devoção (Gohonzon) de Unicidade de Pessoa e Lei (Ninpo-Ikka) e recitar o Daimoku com fé a fim de atingir a iluminação nesta vida.

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Perdoado do exílio em fevereiro de 1274, Nitiren retornou para Kamakura e apresentou-se perante Hei-no-Saemon em 8 de abril. Nessa ocasião, o chefe da força militar estava gentil e educado quando perguntou a Nitiren sobre o ataque mongol e quando isso ocorreria. Nitiren respondeu claramente: “Eles certamente chegarão ainda este ano”, conforme consta no escrito “Sobre o comportamento do Buda”. Também admoestou os oficiais contra a aceitação de religiões heréticas e solicitou a eles que buscassem a fé no Verdadeiro Budismo a fim de evitar a invasão. Entretanto, eles polidamente recusaram a advertência. Nitiren decidiu então viver em reclusão na Vila Haguiri, que ficava aos pés do Monte Minobu.

Em outubro de 1274, as forças mongóis atacaram as ilhas Ikki e Tshushima e a região de Kyushu no sul do Japão. Durante essa época, Nitiren se devotou totalmente para preparar os seus discípulos e trabalhou em volumosas teses tais como “Seleção do tempo” e “Retribuição aos débitos de gratidão”. Além disso, transferiu oralmente seus ensinos a seu sucessor Nikko, os quais compõem o “Registro dos ensinos orais” (Ongui Kuden).

Em setembro de 1279, vinte camponeses e seguidores de Nitiren, que viviam em Atsuhara, foram injustamente detidos, levados a Kamakura e aprisionados,

sendo coagidos a abandonar a fé no Budismo Nitiren. Porém, eles persistiram sem ceder às torturas impostas pelos guardas de Hei-no-Saemon. Mais tarde, os três irmãos Jinshiro, Yagoro e Yarokuro foram executados, enquanto os outros dezessete crentes foram banidos de suas terras. Essa foi a Perseguição de Atsuhara. Com esse acontecimento, em que os crentes lavradores mantiveram a fé com risco da própria vida, Nitiren reconheceu que a época para cumprir o propósito de seu advento havia chegado. Então, inscreveu o Dai-Gohonzon do Verdadeiro Budismo em 12 de outubro de 1279.

Mais tarde, Nitiren mudou-se para o Templo Kuon construído em novembro de 1281. Depois de transferir a essência de seus ensinos a Nikko, Nitiren faleceu em 13 de outubro de 1282, na residência de seu discípulo Munenaka Ikegami.

* As três calamidades são: guerra, peste e fome. Os sete desastres são: eclipse solar ou lunar; movimento anormal de corpos celestes ou aparecimento de cometas; destruição geral pelo fogo; irregularidades meteorológicas tais como tempestades e alterações anormais de temperatura; ventanias e furacões; seca prolongada; destruição do país pelas lutas internas ou pela invasão estrangeira. Esses desastres e calamidades variam de acordo com o sutra.

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Três Provas e Comparação QuíntuplaBRASIL SEIKYO, EDIÇÃO Nº 1945, PÁG. B5, 28 DE JUNHO DE 2008.

Os princípios budistas denominados de “Três Provas” e “Comparação Quíntupla” estabelecem parâmetros para julgar a validade de uma religião. Por meio desses parâmetros são comprovadas a integridade, a supremacia e a veracidade do Budismo Nitiren sobre outras doutrinas.

Três Provas: documental, racional e real

A prova documental refere-se aos escritos de uma religião, pelas quais o seu teor pode ser conhecido e avaliado. Serve também como meio para verificar se os ensinos propagados pelos seus seguidores estão de acordo com o teor da doutrina.

No escrito “Diálogo entre um sábio e um homem ignorante”, Nitiren adverte: “O grande Mestre Tient’ai afirma: ‘O que está de acordo com os sutras deve ser escrito e colocado à disposição de todas as pessoas. Porém, não depositem sua fé em palavras ou significados inexistentes nos sutras’. Isso significa que devemos acreditar no que está claramente explicado nos sutras e descartar qualquer declaração que não esteja fundamentada nesses escritos”. (END, vol. 2, pág. 78.)

Conforme essa advertência, ninguém deve abraçar uma religião que não se baseia em documentos escritos de sua doutrina. Caso contrário, o ensino propagado pelos seus seguidores pode ser mera arbitrariedade.

Nas religiões budistas em geral, a prova documental é constituída pelos sutras do Buda Sakyamuni. No caso do budismo praticado pelos membros da SGI, a prova documental é constituída de escritos redigidos pelo próprio Buda Nitiren.

A prova documental não é suficiente para comprovar a supremacia de uma religião pelo fato de não avaliar a veracidade dos ensinamentos contidos em seus escritos.

A prova racional consiste em verificar a compatibilidade dos ensinos de uma religião com a razão e o raciocínio lógico. Conforme a afirmação de Nitiren de que “Budismo é razão” (Gosho Zenshu, pág. 1.169), os ensinos budistas consideram a razão como ponto fundamental de sua doutrina. Em outras palavras, ninguém deve acreditar em

religião que prega ensinos incompatíveis com a razão. A prova racional é um meio parcial para comprovar a veracidade de uma religião por depender de comparações com a razão humana.

A prova real analisa a supremacia de uma religião por meio da avaliação dos resultados provenientes da prática de sua doutrina. Uma religião exerce grande influência na vida real de uma pessoa como também em todo o âmbito social. E essa influência pode gerar resultados positivos ou negativos pelos quais uma religião demonstra a qualidade de seus ensinos. Entre as três provas, a prova real é considerada como a mais importante.

Nitiren afirma: “Para julgar o mérito das doutrinas budistas, eu, Nitiren, acredito que os melhores padrões são o da razão e o da prova documental. Mas a prova real é ainda mais valiosa que ambos”. (END, vol. 6, pág. 168.) A “razão” citada nesta frase refere-se à prova racional. O fato de Nitiren considerar a prova real como a essencial baseia-se no propósito principal do budismo de promover o bem-estar das pessoas no mundo real.

Embora a prova real seja a principal, uma religião que não atende aos requisitos de qualquer uma das três, deixa de ser uma religião confiável.

Exemplificando com um medicamento, a bula é a prova documental, a razão de sua eficácia é a prova racional e o resultado obtido é a prova real. Quando atende estes três requisitos, o medicamento é considerado eficaz. Caso contrário, pode ser um veneno para o corpo.

O Budismo Nitiren, tanto em termos de doutrina como de sua aplicação na vida real, é a única religião que se baseia em princípios objetivos e universais, cuja supremacia é comprovada plenamente por meio da avaliação pelas três provas.

Comparação Quíntupla

Na primeira metade de “Abertura dos olhos”, Nitiren delineia o ensino que, posteriormente, ficaria conhecido como “comparação quíntupla”.

As três virtudes de soberano, mestre e pais formam o tema de “Abertura dos olhos”. Nitiren menciona diversas pessoas respeitadas como soberanos, mestres e pais em muitas filosofias e religiões de sua época, especificamente: 1) no confucionismo e nas outras filosofias e tradições religiosas da China, que se agrupam sob o nome de

“confucionismo ou escrituras externas”; 2) nos ensinos da Índia, anteriores ao budismo, incluindo o bramanismo, que juntos são denominados “caminho externo”; e 3) nos ensinos do budismo, referidos como “caminho interno”.

Ele também examina o que é ensinado às pessoas e qual a atitude que elas têm em relação à vida mediante a veneração das três virtudes citadas em cada tipo de ensino. Ele faz isso porque o critério que permite estabelecer se alguém pode incorporar as qualidades notáveis de soberano,

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mestre e pais é ver em que medida o ensino que ele representa permite às pessoas viverem de maneira correta e segura. Dessa forma, em “Abertura dos olhos”, quando ele debate o tema de soberano, mestre e pais, examina incisivamente cada tipo de ensino e o modo de vida que cada uma dessas diferentes religiões e filosofias propõem. O foco de sua análise é a lei causal da vida.

O propósito da comparação quíntupla é esclarecer qual religião ou filosofia pode fazer, de maneira real e efetiva, com que as pessoas superem seus sofrimentos e atinjam um estado de felicidade indestrutível. Essa comparação implica em avaliar os diferentes ensinos com base na forma que explicam a causa e o efeito na vida. Especificamente, esta se refere à causalidade que determina a felicidade ou a infelicidade. Em última instância, é a causalidade de atingir o estado de Buda.

Em outras palavras, a Comparação Quíntupla examina a superioridade e a profundidade relativas de cada ensino pesando em que medida busca e reconhece

fundamentalmente a lei causal da origem da felicidade ou da infelicidade.

Por exemplo, quando um médico tenta curar uma enfermidade, se o tratamento não se basear numa minuciosa compreensão da causa do mal, só agravará o estado do paciente. Do mesmo modo, se não conhecemos as causas fundamentais do sofrimento e da dor, toda medida que for empregada para resolver o sofrimento humano acabará agravando a situação. A essência de uma filosofia ou religião é esclarecer a causa e o efeito.

Se examinarmos as tradições religiosas e filosóficas, veremos que há diferenças na forma como explicam a causalidade da vida. Em “Abertura dos olhos”, ele avalia a profundidade relativa das principais correntes religiosas mediante a comparação quíntupla para esclarecer a causalidade para se atingir o estado de Buda como o ensino essencial para todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei alcançarem a iluminação.

1. Comparação entre budismo e não-budismo

A primeira comparação é entre o budismo, o “caminho interno”, e os ensinos não-budistas da Índia e da China, o “caminho externo”.

O budismo ensina que a causa principal que determina a felicidade ou infelicidade reside em nosso interior e que somos protagonistas com o poder para decidir nosso próprio destino. Por isso, o budismo é chamado de “caminho interno”.

Em contrapartida, se observarmos as religiões e filosofias não-budistas, veremos que algumas não reconhecem o princípio de causalidade no que concerne à boa sorte ou ao infortúnio individual. Embora algumas exponham doutrinas de acidentalismo ou indeterminismo segundo as quais tudo é produto do acaso ou da coincidência, outras expõem doutrinas de determinismo ou de fatalismo segundo as quais tudo está predeterminado ou predestinado. Há também aquelas que se posicionam no meio dessas duas perspectivas. Isto se refere aos ensinos dos três ascetas, considerados como fundadores das filosofias não-budistas da Índia. Há também doutrinas semelhantes que podem ser encontradas em muitas filosofias e correntes de pensamento existentes na atualidade.

Entre os sistemas de pensamento analisados por Nitiren, estão também aqueles que reconhecem o princípio de causalidade dentro dos limites da existência presente, mas não antes do nascimento ou após a morte, pois afirmam que o que ocorre depois não pode ser conhecido. Nessa categoria se enquadram o confucionismo e o taoísmo, e se inclui também o racionalismo ocidental que se fundamenta no desenvolvimento da ciência moderna.

Esses tipos de filosofias não podem explicar de maneira satisfatória as questões como: “Por que os seres humanos nascem em diferentes circunstâncias?” e “Por que,

em certos casos, os efeitos do bem e do mal não aparecem nesta existência?”. Dessa forma, não podem responder questões existenciais como: “Por que eu nasci?” ou “Qual o propósito de minha existência?”

O bramanismo e outros ensinos da Índia antiga expõem a causalidade da vida que permeia as três existências do passado, presente futuro, mas é uma causalidade influenciada pelo determinismo ou fatalismo e sujeita a forças externas como a natureza ou alguma divindade que controla o destino humano. Conseqüentemente, esses ensinos limitam seriamente a vontade e a autonomia humana.

Em síntese, os ensinos antigos da Índia e da China, com exceção do budismo, falham em explicar a causalidade ou o fazem de maneira parcial e tendenciosa. Esta é a conclusão de Nitiren. Assim, em “Abertura dos olhos”, ele diz a respeito dos fundadores dessas religiões e filosofias: “Nada mais são que bebês que não compreendem os princípios de causa e efeito”. (END, vol. 4, págs. 15-16.)

Porém, o budismo, o “caminho interno”, ensina que o indivíduo é responsável por tudo o que ocorre com ele, ou seja, cada um colhe o que semeia.

Podemos aceitar tranqüilamente o rigoroso princípio de causa e efeito agindo em nossa vida pela seguinte razão: por compreendermos a verdade de que possuímos inerentemente o ilimitado poder transformador conhecido como “natureza de Buda”. Para continuarmos nos empenhando pela nossa felicidade, precisamos saber que a possibilidade para atingi-la reside em nós.

O budismo possibilita-nos despertar para a nossa responsabilidade e autonomia pessoal, ou seja, reconhecer que temos o poder de escrever nosso próprio destino por meio da nossa vontade e das nossas ações no presente.

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2. Comparação entre Budismo Mahayana e Budismo Hinayana.

Em “Abertura dos olhos”, Nitiren menciona pouco sobre esta comparação em particular. Contudo, pelo fato de ele censurar os discípulos dos dois veículos, que eram praticantes dos ensinos do Hinayana, nas suas comparações entre o Mahayana verdadeiro e o provisório e entre os ensinos teórico e verdadeiro do Sutra de Lótus, podemos considerar que nelas está inclusa a comparação entre Budismo Mahayana e Hinayana.

O budismo é chamado de “caminho interno”. No entanto, ele abarca uma ampla variedade de ensinos. Entre eles, os do Hinayana buscam libertar as pessoas dos desejos mundanos, que são a causa do sofrimento, e atingir o nirvana — estado de suprema paz e tranqüilidade — mediante práticas como a observância de preceitos e a meditação. Porém, a felicidade a que aspiram os ensinos do Hinayana é passiva, porque só buscam eliminar a causa da infelicidade das pessoas. Não permitem ao ser humano abrir o caminho ativamente para sua própria felicidade e, muito menos, a dos demais.

Como o Hinayana defende que os desejos mundanos dos nove estados inerentes em nossa vida são a causa da infelicidade, a única forma de eliminá-los completamente é extinguindo a vida. Por isso, é dito que, para o Hinayana, o enfoque da iluminação está em reduzir o corpo a cinzas e aniquilar a consciência. Nesse ponto encontra-se a limitação do Budismo Hinayana.

Em contraste, os ensinos Mahayana, em vez de procurar eliminar os desejos mundanos, afirmam que é possível controlá-los adequadamente e construir uma vida pura, forte e automotivada, abrindo e manifestando a sabedoria da iluminação que se encontra dormente na mesma vida cheia de desejos. Este é o princípio chamado de “desejos mundanos são iluminação”. Muito mais do que simplesmente possibilitar às pessoas eliminar as causas da infelicidade, buscam ativamente capacitá-las a transformar essas causas de infortúnios em causas para a felicidade, e conduzir seus semelhantes à iluminação.

3. Comparação entre Budismo Mahayana verdadeiro e provisório

Os ensinos do Mahayana, que buscam possibilitar às pessoas manifestar as causas para a felicidade, dividem-se em duas categorias: o Mahayana verdadeiro e o Mahayana provisório.

O Sutra de Lótus, que constitui o Mahayana verdadeiro, esclarece que a vida de todas as pessoas está originalmente dotada do estado de Buda, a causa fundamental da felicidade. Revela também uma outra verdade: todas as pessoas podem manifestar e revelar a natureza de Buda em sua vida.

Os ensinos do Mahayana anteriores ao Sutra de Lótus, que constituem o Mahayana provisório, defendem que as pessoas dos dois veículos, desprezadas porque só buscavam a própria iluminação como também as pessoas más e as mulheres, que se acreditava serem incapazes de se tornarem felizes, não

estão dotadas intrinsecamente da natureza de Buda. Dessa forma, esses ensinos impõem limitações às causas da felicidade. Não pertencem ao Mahayana verdadeiro. São ensinos expostos como meios para adequação às crenças populares da época. Nada mais são que ensinos provisórios.

Por outro lado, o Sutra de Lótus, o ensino verdadeiro, elucida a iluminação real do Buda com base no fato de que todas as pessoas — incluindo as dos dois veículos, as pessoas más e as mulheres — podem igualmente atingir a iluminação. Elucida também que esta questão está fundamentada na doutrina dos três mil mundos num único momento da vida.

A verdadeira intenção do Buda é que todas as pessoas tornem-se felizes. E é no Sutra de Lótus que a iluminação do Buda é diretamente revelada ao expor os princípios que a torna possível.

4. Comparação entre ensinos teórico e verdadeiro do Sutra de Lótus

Embora todas as pessoas possuam em sua vida o estado de Buda — causa fundamental da felicidade —, a questão é como manifestá-lo na vida real.

Se analisarmos do ponto de vista da eternidade da vida e do princípio de causa e efeito que abrange o passado, o presente e o futuro, o estado de vida que experimentamos no presente é produto de nossas ações (carma) acumuladas desde incontáveis existências passadas. Os sutras anteriores, incluindo o ensino teórico (primeira metade) do Sutra de Lótus, ensina que, para transformar esse carma, necessitamos constantemente realizar boas ações por um período extremamente longo, e acumular benefícios dessas ações em nossa vida. Por esse ponto de vista, atingir a iluminação requer incontáveis kalpas de prática budista.

Esses sutras ensinam ainda que o Buda Sakyamuni atingiu a iluminação pela primeira vez na Índia como resultado de suas práticas realizadas durante um período de tempo incalculável. Essa forma de ver a iluminação persiste no erro de

rejeitar e procurar eliminar os desejos mundanos nos nove estados. Esse enfoque sugere que somente extinguindo nossa vida dos nove estados (causa) é que podemos fazer surgir a vida do estado de Buda (efeito).

Em contraste, o ensino essencial (segunda metade) do Sutra de Lótus esclarece que Sakyamuni realmente atingiu o estado de Buda no remoto passado, há kalpas tão numerosos quanto as partículas de pó de um grande sistema de mundos e, pelo fato de sua vida como um bodhisattva ter perdurado desde então, ele continuou a aparecer sob várias formas para ensinar os seres vivos. Isso revela a verdadeira imagem do Buda. Em outras palavras, os nove estados e o estado de Buda também se encontram inerentes na vida de Sakyamuni.

Ao explicar isso, o ensino essencial revela que podemos manifestar o estado de Buda em nossa vida dos nove estados, tal como somos, e que é possível abrir o caminho da iluminação exatamente como somos.

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5. Comparação entre Budismo da Semeadura e Budismo da Colheita

O ensino essencial do Sutra de Lótus abre o caminho para atingirmos o estado de Buda exatamente como somos. Porém, quando vistos no contexto de seu significado literal e superficial, observamos que Sakyamuni só conseguiu adquirir a vida eterna como resultado de ter praticado o caminho de bodhisattva antes de sua iluminação no remoto passado. Para chegar a essa vida eterna, ele precisou atingir o primeiro estágio de segurança, o da não-regressão. Dessa forma, por ter atingido esse estágio, foi capaz de romper com sua fé resoluta a escuridão fundamental, de adquirir sabedoria e perceber que os nove estados e o estado de Buda se encontram sempre presentes na própria vida sob forma inata.

Contudo, a prática necessária para atingir o primeiro estágio de segurança é extremamente difícil, da mesma forma como é difícil atingir a sabedoria que permite perceber o estado de Buda na própria vida. Ambos os feitos excedem a capacidade das pessoas comuns. Dessa maneira, do ponto de vista de seu significado literal, o ensino essencial não abre diretamente o caminho para as pessoas comuns atingirem o estado de Buda em sua presente forma e atingir a iluminação nesta existência.

Mas o ensino implícito nas profundezas do Sutra de Lótus — ou seja, o Budismo Nitiren — revela diretamente o Nam-myoho-rengue-kyo, que é a força motriz que sustentou a prática de bodhisattva de Sakyamuni para atingir o primeiro estágio de segurança no remoto passado, e é, ao mesmo tempo, a Lei

fundamental que ele percebeu naquele momento. Ao buscar e praticar esta Lei com fé, uma pessoa comum pode obter imediatamente o fruto do estado de Buda.

Nitiren nos deixou Gohonzon, no qual representou fielmente o estado de Buda que percebeu em sua própria vida mediante o Nam-myoho-rengue-kyo, sem deixar de ser uma pessoa comum. Com este Gohonzon como espelho, e com Nitiren como exemplo, podemos fazer surgir instantaneamente esse estado iluminado de nosso interior, com a profunda fé e a convicção de que nós também possuímos o estado de Buda.

Nesse contexto, o Budismo Nitiren é o único ensino que expõe a transformação do destino. Ensina também que a causa principal do mau destino se encontra nos atos de descrença e de oposição à Lei Mística. Como ela é uma lei que está inerente na vida, esses atos são cometidos contra a Lei ou verdade da própria vida. Eis a razão de ser a principal causa negativa.

A fórmula de mudar o destino proveniente dessa causa na presente existência encontra-se no ato de acreditar na Lei Mística, isto é, na verdade inerente na vida. E a prática dessa fórmula é a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo.

Por meio dessa prática, individual e altruísta, a energia vital e o potencial do estado de Buda são fortalecidos para possibilitar a transformação do destino em direção à felicidade.

Amenizar o efeito cármico

O princípio budista que elucida a transformação do destino é chamado de “amenizar o efeito cármico” (Tenju Kyoju, em japonês).

Nitiren afirma no escrito “Amenizar o efeito cármico”: “O Sutra do Nirvana expõe o princípio de amenizar o efeito cármico. Se uma pessoa deixa de expiar seu pesado carma passado na presente existência, ela experimentará os sofrimentos do inferno no futuro; mas se ela enfrenta grandes obstáculos nesta vida [por causa do Sutra de Lótus], os sofrimentos do inferno irão se desvanecer instantaneamente”. (Os Escritos de Nitiren Daishonin [Escritos], vol. 3, pág. 127.)

De acordo com esse princípio, uma pessoa pode receber os efeitos do mau carma acumulado desde o passado de forma mais leve por meio da fé e da prática do Budismo Nitiren.

Mesmo que uma pessoa pratique corretamente e se empenhe em prol da propagação da Lei Mística, os efeitos do mau carma surgem na forma de obstáculos e maldades, adversidades e perseguições. Contudo, são efeitos que se manifestam de forma amenizada em conseqüência dos poderes benéficos da prática da Lei Mística. Embora sejam à primeira vista efeitos negativos, são resultados concretos da transformação do mau destino.

Na “Carta de Sado”, Nitiren afirma: “O ferro, quando aquecido e forjado, torna-se uma excelente espada. As pessoas de valor e os sábios são testados com ofensas. Meu presente exílio não é resultado de nenhum crime secular, mas serve somente para que eu possa expiar, na presente existência, as graves ofensas que criei no passado e me libertar dos três maus caminhos na próxima”. (Escritos, vol. 5, pág. 21.)

Aspiração do destino pretendido

Outro princípio budista que elucida também a transformação do destino é chamado de “aspiração ao destino pretendido” (Ganken ogo, em japonês).

De acordo com o Sutra de Lótus, uma pessoa que deveria renascer numa circunstância de felicidade como resultado da boa sorte e dos benefícios provenientes da prática budista, nasce no meio de pessoas infelizes mediante seu próprio desejo justamente para propagar a Lei Mística.

Consta na Nova Revolução Humana: “Se uma pessoa que vive como uma rainha, sem dificuldades ou problemas, disser que se tornou feliz graças à prática do budismo, ninguém ficará surpreso com isso. Contudo, quando uma pessoa doente, pobre e menosprezada por todos consegue transformar sua vida por meio da

prática do budismo, tornando-se feliz e líder na sociedade, estará comprovando brilhantemente a grandiosidade do ensino. (...) Em conclusão, quanto maior for o infortúnio na vida, mais brilhante será a comprovação dos benefícios da prática budista. Pode-se dizer que carma é outro nome que se dá a missão”. (NRH, vol. 1, págs. 197-198.)

O fato de uma pessoa viver numa situação adversa apesar de praticar firmemente o Budismo Nitiren não significa que essa circunstância de vida é simplesmente efeito do mau carma. Na verdade, ela renunciou à vida de felicidade e optou por viver em meio às adversidades com o propósito de salvar as pessoas como Bodhisattva da Terra. Por isso, aspirou por um destino pretendido para comprovar e propagar o poder da Lei Mística.

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A transformação do destinoBRASIL SEIKYO, EDIÇÃO Nº 1947, PÁG. A8, 12 DE JULHO DE 2008.

O BS publica nesta edição, a última matéria de estudo para os candidatos ao Exame de Budismo 2008 para o Primeiro Grau. Ao lado, a ficha de inscrição para o Exame que será realizado no dia 21 de setembro, e o regulamento que também foi publicado na edição no 1.943. As demais matérias, em encarte especial nas quatro edições anteriores do BS.

Existem adversidades que têm origem em causas cometidas pelo próprio indivíduo na presente existência; e aquelas em que as causas foram praticadas em existências passadas. Essas causas do passado formam o carma, cujos efeitos traçam o destino na presente existência, isto é, a felicidade ou a infelicidade de uma pessoa. Contudo, o carma pode ser tanto positivo como negativo. Na maioria das vezes, esse termo é empregado no sentido de causas negativas.

O budismo ensina a Lei de Causa e Efeito que abrange as três existências da vida: o passado, o presente e o futuro. As causas do passado se manifestam como efeitos no presente, e as causas do presente surgirão como efeitos no futuro. Embora essa lógica seja adotada pelo budismo em geral, é simplesmente uma explicação da teoria de causa e efeito. Em outras palavras, se o presente é definido pelas causas do passado, o destino se torna algo imutável e pré-determinado e a única maneira de transformá-lo seria praticando o bem por sucessivas existências até se criar um carma positivo. Esse tipo de pensamento torna as pessoas impotentes e passivas diante da realidade da vida e as privam de viver com esperança.

O presidente da SGI, Daisaku Ikeda, comenta: “O budismo expõe que uma pessoa terá de trilhar um curso de infelicidades como resultado dos atos negativos do passado. Entretanto, este é apenas um

aspecto dos ensinos budistas. Se a vida se restringisse apenas a isso, as pessoas teriam de viver numa constante insegurança justamente por não conseguirem saber as causas negativas de existências passadas, tendo de carregar, inclusive, um grande complexo de culpa. Além disso, o destino seria algo previamente delineado e provocaria nas pessoas o desinteresse pela própria vida, tornando-as adeptas de um modo de vida passivo no qual a única preocupação seria a de não cometer nenhum mal. O Budismo de Nitiren Daishonin transcende o limite da concepção superficial da Lei de Causa e Efeito, de castigo e recompensa, e revela a natureza real da causalidade e a forma como recuperar o estado de pureza da vida existente desde o infinito passado. Isso significa que uma pessoa deve viver em prol do Kossen-rufu consciente da missão como Bodhisattva da Terra”. (Nova Revolução Humana, vol. 1, pág. 197.)

Nesse contexto, o Budismo Nitiren é o único ensino que expõe a transformação do destino. Ensina também que a causa principal do mau destino se encontra nos atos de descrença e de oposição à Lei Mística. Como ela é uma lei que está inerente na vida das pessoas, esses atos são cometidos contra a Lei ou verdade da própria vida. Eis a razão de ser a principal causa negativa.

A fórmula de mudar o destino proveniente dessa causa na presente existência encontra-se no ato de acreditar na Lei Mística, isto é, na verdade inerente na vida. E a prática dessa fórmula é a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo.

Por meio dessa prática, individual e altruísta, a energia vital e o potencial do estado de Buda são fortalecidos para possibilitar a transformação do destino em direção à felicidade.

Amenizar o efeito cármico

O princípio budista que elucida a transformação do destino é chamado de “amenizar o efeito cármico” (Tenju Kyoju, em japonês).

Nitiren afirma no escrito “Amenizar o efeito cármico”: “O Sutra do Nirvana expõe o princípio de amenizar o efeito cármico. Se uma pessoa deixa de expiar seu pesado carma passado na presente existência, ela experimentará os sofrimentos do inferno no futuro; mas se ela enfrenta grandes obstáculos nesta vida [por causa do Sutra de Lótus], os sofrimentos do inferno irão se desvanecer instantaneamente”. (Os Escritos de Nitiren Daishonin [Escritos], vol. 3, pág. 127.)

De acordo com esse princípio, uma pessoa pode receber os efeitos do mau carma acumulado desde o passado de forma mais leve por meio da fé e da prática do Budismo Nitiren.

Mesmo que uma pessoa pratique corretamente e se empenhe em prol da propagação da Lei Mística, os efeitos do mau carma surgem na forma de obstáculos e maldades, adversidades e perseguições. Contudo, são efeitos que se manifestam de forma amenizada em conseqüência dos poderes benéficos da prática da Lei Mística. Embora sejam à primeira vista efeitos negativos, são resultados concretos da transformação do mau destino.

Na “Carta de Sado”, Nitiren afirma: “O ferro, quando aquecido e forjado, torna-se uma excelente espada. As pessoas de valor e os sábios são testados com ofensas. Meu presente exílio não é resultado de nenhum crime secular, mas serve somente para que eu possa expiar, na presente existência, as graves ofensas que criei no passado e me libertar dos três maus caminhos na próxima”. (Escritos, vol. 5, pág. 21.)

Aspiração do destino pretendido

Outro princípio budista que elucida também a transformação do destino é chamado de “aspiração ao destino pretendido” (Ganken-ogo, em japonês).

De acordo com o Sutra de Lótus, uma pessoa que deveria renascer numa circunstância de felicidade como resultado da boa sorte e dos benefícios provenientes da prática budista, nasce no meio de pessoas infelizes mediante seu próprio desejo justamente para propagar a Lei Mística.

Consta na Nova Revolução Humana: “Se uma pessoa que vive como uma rainha, sem dificuldades ou problemas, disser que se tornou feliz graças à prática do budismo, ninguém ficará surpreso com isso. Contudo, quando uma pessoa doente, pobre e menosprezada por

todos consegue transformar sua vida por meio da prática do budismo, tornando-se feliz e líder na sociedade, estará comprovando brilhantemente a grandiosidade do ensino. (...) Em conclusão, quanto maior for o infortúnio na vida, mais brilhante será a comprovação dos benefícios da prática budista. Pode-se dizer que carma é outro nome que se dá a missão”. (NRH, vol. 1, págs. 197-198.)

O fato de uma pessoa viver numa situação adversa apesar de praticar firmemente o Budismo Nitiren não significa que essa circunstância de vida é simplesmente efeito do mau carma. Na verdade, ela renunciou à vida de felicidade e optou por viver em meio às adversidades com o propósito de salvar as pessoas como Bodhisattva da Terra. Por isso, aspirou por um destino pretendido para comprovar e propagar o poder da Lei Mística.

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“Estabelecimento do ensino correto para a paz da nação”

e “Propagação mundial do budismo”BRASIL SEIKYO, EDIÇÃO Nº 1945, PÁG. B7, 28 DE JUNHO DE 2008.

O objetivo da prática do budismo é a realização da iluminação e da felicidade individual e coletiva. O Buda Nitiren expôs o “estabelecimento do ensino correto para a paz da nação” (Rissho Ankoku) e a “propagação mundial do budismo” (Kossen-rufu) como princípios que direcionam a prática budista para a realização desse objetivo.

Estabelecimento do ensino correto para a paz da nação

O Budismo Nitiren é o ensino que capacita o ser humano a transformar a condição interior de sua vida para alcançar a felicidade absoluta na presente existência. Ao mesmo tempo, busca o estabelecimento da paz social por meio da reforma da vida de cada cidadão. Nitiren expôs o princípio da realização da paz na “Tese sobre o estabelecimento do ensino correto para a paz da nação” (Rissho Ankoku Ron).

O “estabelecimento do ensino correto” (rissho) refere-se ao ato de as pessoas abraçarem o budismo como religião que as direciona pelo correto caminho de vida. Indica também o ato de estabelecer a filosofia do respeito à dignidade da vida exposta no budismo como princípio fundamental que orienta corretamente o rumo da sociedade. A “paz da nação” (ankoku) refere-se ao ato de realizar a paz, a prosperidade e o bem-estar na vida de todos os cidadãos.

A “Tese sobre o estabelecimento do ensino correto para a paz da nação” foi escrita visando à realização da paz da nação japonesa daquela época. Contudo, o espírito que

norteia todo o seu contexto busca a promoção do bem-estar da população. Portanto, os princípios revelados nessa tese são válidos para a realização da paz do mundo e da felicidade das pessoas, tanto nos dias atuais como por todo o futuro.

Por outro lado, o ato de Nitiren submeter à tese para admoestar as autoridades a fim de buscar soluções para os sofrimentos da população indica que os praticantes do budismo não devem orar apenas pela iluminação individual, mas atuar também pelo bem-estar da sociedade com base nos princípios budistas. Portanto, fechar os olhos para os problemas sociais e se isolar no mundo da crença não é atitude correta dos praticantes do Budismo Nitiren.

No dias atuais, a Soka Gakkai Internacional vem contribuindo para a solução de questões globais promovendo o movimento de paz, cultura, educação, meio ambiente e direitos humanos como atuação inspirada no espírito e princípios revelados na “Tese sobre o estabelecimento do ensino correto para a paz da nação”.

Propagação mundial do budismo

O objetivo da propagação do budismo é o de capacitar as pessoas a revelarem o potencial de buda em sua vida.

No Sutra de Lótus consta: “No quinto período de quinhentos anos após minha morte, realize o Kossen-rufu mundial e jamais permita que seu fluxo cesse.” Esta frase prediz que, no “quinto período de quinhentos anos” após a morte do Buda Sakyamuni, isto é, na era dos Últimos Dias da Lei, a Lei Mística será propagada pelo mundo inteiro.

O Sutra de Lótus descreve também que a missão de realizar a propagação mundial do budismo foi delegada para os Bodhisattvas da Terra. Esses são discípulos de Sakyamuni desde o remoto passado e eles surgem em suas respectivas terras para cumprir essa missão.

De acordo com o Sutra de Lótus, o Buda Nitiren surgiu na era dos Últimos Dias da Lei para promover a propagação do Nam-myoho-rengue-kyo, pela qual arriscou sua própria vida em diversas perseguições.

Com relação à propagação do budismo, Nitiren afirma: “O grande propósito não é senão a propagação do

Sutra de Lótus”. (Gosho Zenshu, pág. 736) e “Se a benevolência de Nitiren for verdadeiramente grande e abrangente, o Nam-myoho-rengue-kyo propagar-se-á por dez mil anos ou mais, por toda a eternidade, pois este possui o poder benéfico de abrir os olhos cegos de todos os seres vivos da nação japonesa e de bloquear a estrada que conduz ao inferno dos incessantes sofrimentos”. (Os Escritos de Nitiren Daishonin, vol. 4, pág. 91.)

De acordo com essas frases, o espírito de Nitiren é o de promover a propagação mundial do budismo. A Soka Gakkai Internacional herdou esse espírito e vem propagando a Lei Mística pelo mundo inteiro.

Nitiren afirma: “Se tiver a mesma mente que Nitiren, com certeza, o senhor deve ser um Bodhisattva da Terra”. (END, vol. 5, pág. 252.) Conforme essa frase, a Soka Gakkai Internacional é uma instituição de Bodhisattvas da Terra que assumiram a missão de promover a propagação mundial do budismo. Em outras palavras, por herdar corretamente o espírito de Nitiren, a SGI pôde propagar a Lei Mística em escala mundial.

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Prática da fé para vencer as dificuldadesBRASIL SEIKYO, EDIÇÃO Nº 1945, PÁG. B8, 28 DE JUNHO DE 2008.

No decorrer da prática da fé visando à realização da felicidade absoluta como também no curso da atuação em prol do Kossen-rufu surgem diversos obstáculos, maldades e até perseguições. Precisamos compreender corretamente a razão disso para que a nossa fé no budismo não seja derrotada pelas dificuldades.

O ato de praticarmos o budismo para a nossa felicidade é, em outras palavras, uma luta que promovemos para a transformação radical da nossa própria vida. E essa transformação provoca simultaneamente as reações

contrárias tanto no nosso interior como nas circunstâncias da vida diária. No budismo, essas reações contrárias são chamadas de Três Obstáculos e Quatro Maldades e servem para comprovar a veracidade da prática da fé.

Além disso, o budismo expõe também que, na atuação em prol do Kossen-rufu nos Últimos Dias da Lei, surgem adversidades e perseguições provocadas por Três Poderosos Inimigos, cujo surgimento comprova a atuação como digno devoto do verdadeiro ensino.

Três Obstáculos e Quatro Maldades

Na “Carta aos Irmãos”, Nitiren cita uma passagem do quinto volume de Grande Concentração e Discernimento, uma das três principais obras do Grande Mestre Tient’ai, que afirma: “Se professar o verdadeiro ensino, os três obstáculos e quatro maldades surgirão em sucessão. Contudo, nunca fique influenciado ou amedrontado. Se cair sob suas influências, será levado para o caminho do mal, e se ficar amedrontado, será impedido de praticar o verdadeiro ensino”. (As Escrituras de Nitiren Daishonin [END], vol. 1, pág. 239.) Nitiren completa essa frase dizendo que esse princípio é aplicável a ele próprio e a todos os seus discípulos, e recomenda que seja transmitido para as futuras gerações como uma importante lição.

Conforme a explicação de Nitiren exposta nesse mesmo escrito, os três obstáculos são geralmente ações externas que ocorrem em oposição à prática da fé para impedir a crença no budismo. São eles:

1- Obstáculos dos desejos mundanos: São provenientes dos Três Venenos —avareza, ira e estupidez.

2- Obstáculos do carma: São provenientes do mau carma criado por cometer um dos cinco pecados capitais ou dez maus atos. Nesta categoria inclui-se a oposição de cônjuges e filhos.

3- Obstáculos da retribuição: São provenientes das ações dos Três Maus Caminhos (estados de Inferno, Fome e Animalidade). Fazem parte desta categoria os obstáculos causados pelas pessoas que exercem algum poder, tais como autoridades, governantes e pais.

As quatro maldades se manifestam geralmente no interior da própria pessoa e impedem a crença no budismo. São elas:

1- Maldade dos cinco componentes: Impedimentos à prática da fé causados pela desarmonia nas funções físicas

e mentais das pessoas.

2- Maldades dos desejos mundanos: Impedimentos à prática da fé causados pelos três venenos de avareza, ira e estupidez.

3- Maldade da morte: Impedimentos à prática da fé causados pela morte ou pela dúvida em função da morte prematura de um praticante.

4- Maldade do rei das maldades do sexto céu: Impedimentos à prática da fé causados pelas ações do rei das maldades do sexto céu. É a mais terrível maldade por ser difícil de ser identificada por se manifestar por meio de opressão praticada por pessoas que ocupam posições de influência e poder.

O que devemos considerar nessa questão é o fato de que os Três Venenos, cônjuges, filhos, pais, cinco componentes e morte não são obstáculos e maldades por si mesmos. Esses fatores agem como ações a impedir a prática da fé em conseqüência da fraca energia vital do próprio praticante. Por esta razão, é importante fortalecer a vida para não sermos arrastados pelos obstáculos e maldades.

Em “Resposta a Hyoe-no-Sakan”, Nitiren afirma: “Existe, definitivamente, algo extraordinário no avanço e no recuo da maré, no levantar e no descer da Lua e nas mudanças das estações. Algo incomum acontece também quando uma pessoa comum atinge o estado de Buda. Indubitavelmente, com o aparecimento dos três obstáculos e quatro maldades, o sábio alegrar-se-á e o tolo se acovardará”. (END, vol. 1, págs. 250-251.)

Portanto, devemos considerar com convicção, que o momento em que surgem os Três Obstáculos e Quatro Maldades é a hora de avançar ainda mais firmemente em direção à iluminação. O importante é superar essas manifestações com alegria e fé de um sábio.

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Três Poderosos Inimigos

No décimo terceiro capítulo do Sutra de Lótus, “Devoção Encorajadora”, consta que os praticantes que propagarem o verdadeiro ensino budista (Sutra de Lótus) na era dos Últimos Dias da Lei enfrentarão diversos insultos provocados por três tipos de perseguidores chamados de Três Poderosos Inimigos.

O ponto em comum nos três inimigos é a “arrogância” que se refere à presunção de que atingiram a iluminação e agem com prepotência se considerando superior às outras pessoas.

De acordo com a classificação definida pelo Grande Mestre Miao-lo (711-782) da Escola Tendai da China, os Três Poderosos Inimigos são:

1- Leigos arrogantes: Refere-se às pessoas que desconhecem o budismo e perseguem os praticantes do Sutra de Lótus, menosprezando-os, insultando-os e atacando-os com espadas e bastões.

2- Bonzos arrogantes: Refere-se aos seguidores da ordem budista que perseguem os praticantes do Sutra de Lótus. Por manterem uma fé distorcida, não conseguem discernir o verdadeiro ensino do budismo. Conseqüentemente, apegados a conceitos próprios, presumem que são superiores aos outros e atacam os seguidores do Sutra de Lótus.

3- Sacerdotes arrogantes: Refere-se a falsos sábios que gozam do respeito público e são adorados como sumo sacerdotes budistas. Vivem geralmente em locais retirados como nas montanhas. São ávidos por fama e dinheiro e não têm escrúpulos em obtê-los perseguindo os devotos do Sutra de Lótus. Por gozarem de certa influência no mundo religioso, acusam-os de serem heréticos e induzem as autoridades a perseguí-los e a bani-los de suas terras.

Miao-lo afirma que as perseguições provocadas pelos primeiros inimigos podem ser suportadas e vencidas. Entretanto, as do terceiro são extremamente maldosas por serem sorrateiras e difíceis de serem identificadas.

Conforme o Sutra de Lótus, os Três Poderosos Inimigos surgem infalivelmente quando se propaga o verdadeiro budismo. Nitiren enfrentou as perseguições desses inimigos e assim pôde comprovar que é o devoto do Sutra de Lótus da era dos Últimos Dias da Lei.

No escrito “Abertura dos Olhos”, Nitiren escreveu: “Em tal época, se os três poderosos inimigos preditos no Sutra de Lótus não aparecessem, quem acreditaria nas palavras do Buda? Se não fosse por Nitiren, quem cumpriria as profecias em relação ao devoto do Sutra de Lótus?” (Os Escritos de Nitiren Daishonin, vol. 4, pág. 74.)

Da mesma forma, o surgimento dos Três Poderosos Inimigos nos tempos atuais comprova a legitimidade da propagação do verdadeiro budismo.

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História da Soka GakkaiBRASIL SEIKYO, EDIÇÃO Nº 1946, PÁG. C2, 05 DE JULHO DE 2008.

A Soka Gakkai surgiu com a missão de propagar mundial mente o Budismo Nitiren. Por meio de suas ações, esse ensino tornou-se conhecido em mais de 190 países. Ela é uma organização que herdou a ordem e o desejo de Nitiren de concretizar a paz e o bem-estar da humanidade.

A essência do Sutra de Lótus e do Budismo Nitiren encontra-se na crença de que todas as pessoas, indistintamente, possuem e podem manifestar o estado de Buda. É a filosofia que prega o humanismo e o respeito absoluto à dignidade da vida.

A Soka Gakkai promove diversas atividades com o propósito de contribuir para o desenvolvimento da cultura humana e da paz mundial com base no ideal humanístico exposto por Nitiren.

A época do primeiro presidente Tsunessaburo Makiguti

Tsunessaburo Makiguti nasceu em 6 de junho de 1871, na província de Niigata. Na adolescência, mudou sozinho para Hokkaido, no norte do Japão, para trabalhar e sustentar seus estudos. Aos 18 anos, matriculou-se na Escola Normal de Hokkaido (atual Faculdade de Pedagogia de Hokkaido). Após a formatura, atuou como professor de ensino fundamental.

Por ter vocação pelo estudo de Geografia, Makiguti escreveu sua primeira obra sob o título Geografia da Vida Humana. Ele mudou-se para Tóquio em 1901 com o objetivo de publicá-la, o que aconteceu dois anos depois. Ele permaneceu em Tóquio e exerceu a função de diretor em diversas escolas de ensino fundamental.

Seu discípulo, Jossei Toda, nasceu em 11 de fevereiro de 1900, na província de Ishikawa. Por volta de 1902, sua família migrou para Vila Atsuta, em Hokkaido. Toda trilhou pelo caminho da educação e tornou-se também professor de ensino fundamental.

Em 1920, Toda deixou a Vila Atsuta e foi para Tóquio. Ao ser contratado como professor substituto na Escola de Ensino Fundamental Nishimati, conheceu Tsunessaburo Makiguti, diretor dessa escola. Pouco tempo depois, percebendo a grandiosidade de Makiguti, Toda tornou-se seu discípulo.

Em meio à atuação na área educacional, Makiguti procurava uma religião que pudesse servir de base para a sua vida. Em 1928, converteu-se ao Budismo Nitiren, sendo seguido logo depois por Toda.

Fundação da Soka Kyoiku Gakkai

Makiguti vinha acumulando vasta experiência ao longo de muitos anos de atuação na área da Educação. Como resultado, em 18 de novembro de 1930, Makiguti publicou a obra Teoria do Sistema Educacional de Criação de Valores, na qual consta o nome Soka Kyoiku Gakkai (Sociedade Educacional de Criação de Valores) ao lado dos nomes de Makiguti como autor e de Toda como editor. Por esse motivo, a data de publicação dessa obra, 18 de novembro de 1930, é considerada como data de fundação da Soka Gakkai (sucessora da Soka Kyoiku Gakkai).

A Soka Kyoiku Gakkai foi estruturada gradativamente e começou a atuar efetivamente em 1937 como uma organização composta de educadores que simpatizavam com o sistema educacional Soka (criação de valores). Mais tarde, passou a incorporar pessoas de outras áreas e se tornou uma organização de leigos praticantes do Budismo Nitiren.

Nessa época, a Nitiren Shoshu, com sede no Templo Principal Taissekiji, era uma pequena entidade religiosa formada por clérigos, cujos adeptos formavam uma espécie de paróquia em torno de templos locais e recebiam orientações de seus priores. No entanto, desde a sua fundação, a Soka Kyoiku Gakkai se estabeleceu como instituição independente da Nitiren Shoshu. Em torno do presidente Makiguti e do diretor-geral Toda, a organização permaneceu como entidade leiga autônoma e seus integrantes receberam orientações sobre a prática do budismo por intermédio de sua liderança, sem se subordinarem ao clero da Nitiren Shoshu.

A prática religiosa desenvolvida na Soka Kyoiku Gakkai objetivava a comprovação da felicidade na vida diária de seus membros, incentivando-os a se fortalecerem na fé e na prática como também a atuarem pela paz e prosperidade social, sem se prenderem a rituais religiosos nos templos ou nas ocasiões de casamentos e funerais. Portanto, promoveu a mais correta forma de prática religiosa baseada no espírito original do Budismo Nitiren.

A Soka Kyoiku Gakkai foi se desenvolvendo por meio da promoção de reuniões de palestras e de campanhas de conversão por todo o Japão, chegando a alcançar cerca de três mil associados.

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Enfrentando o regime militar japonês

O governo japonês, que se inclinava para o militarismo com forte tendência para a expansão da guerra, adotou o xintoísmo como religião oficial e como suporte espiritual da nação. Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, o governo impôs a unificação de religiões e a adoração do talismã xintoísta.

Em junho de 1943, o clero da Nitiren Shoshu, temendo a repressão do governo militar, instruiu a Gakkai a aceitar o talismã xintoísta. Essa atitude do clero era uma heresia que contrariava os ensinos de Nitiren. A Gakkai rejeitou a idéia de aceitar o talismã xintoísta, mantendo-se fiel aos ensinamentos budistas. Como resultado, no dia 6 de julho do mesmo ano, Makiguti, Toda e mais 21 líderes da Gakkai foram detidos. Diante do rigor dos interrogatórios, somente Makiguti e Toda mantiveram-se firmes em suas convicções, enquanto os demais se apostataram da fé.

A percepção alcançada na prisão

Na prisão, Jossei Toda empenhou-se na recitação do Daimoku e na leitura do Sutra de Lótus e chegou à percepção de que “Buda é a própria vida”. Percebeu também que era um Bodhisattva da Terra que participara da Cerimônia no Ar descrito no Sutra de Lótus. Essa percepção ocorreu em novembro de 1944.

Nessa mesma ocasião, no dia 18 de novembro de 1944, o presidente Makiguti veio a falecer na prisão, em Tóquio, apresentando um quadro de senilidade e desnutrição. Assim, na mesma data de fundação da Soka Gakkai, Makiguti faleceu como um mártir aos 73 anos de idade. Foi uma nobre existência de ação concreta de “não poupar a própria vida” conforme consta no Gosho. Ele reviveu, de forma pioneira para a época, o espírito de Nitiren Daishonin de propagar a Lei Mística e de salvar o povo dos sofrimentos.

O seu discípulo, Jossei Toda, por meio da percepção alcançada na prisão, criou uma inabalável convicção no Budismo de Nitiren Daishonin e a plena consciência da própria missão como um líder do Kossen-rufu. A percepção de Toda na prisão se tornou o ponto primordial do progresso da Soka Gakkai de pós-guerra.

Após o término da guerra, durante uma cerimônia em memória a Makiguti, Toda disse: “Com sua vasta e ilimitada benevolência, o senhor deixou-me acompanhá-lo até mesmo na prisão. Graças a isso, pude ler com minha própria vida a passagem do Sutra de Lótus — ‘[eles] habitaram aqui e lá em várias terras do Buda, renascendo constantemente em companhia de seus mestres’. Como resultado desse benefício, entendi o verdadeiro significado do ensino dos Bodhisattvas da Terra e pude, embora apenas superficialmente, compreender o significado do Sutra de Lótus com a minha própria vida. Como é grande essa felicidade!”

A frase “[eles] habitaram aqui e lá em várias terras do Buda, renascendo constantemente em companhia de seus mestres” é uma passagem do 7o capítulo do Sutra de Lótus, “Parábola da Cidade Imaginária”, que descreve os laços de mestre e discípulo nascendo sempre juntos em quaisquer terras do Buda para se empenharem pela salvação das pessoas. Enquanto as demais pessoas se afastavam da fé, o presidente Toda relata o seu sincero sentimento de retribuição às dívidas de gratidão em relação ao seu mestre Makiguti, demonstrando o profundo laço de mestre e discípulo.

A época do segundo presidente Jossei Toda

Libertado em 3 de julho de 1945, Toda iniciou imediatamente a reconstrução da Soka Gakkai. Alterou o nome Soka Kyoiku Gakkai (Sociedade Educacional de Criação de Valores) para Soka Gakkai (Sociedade de Criação de Valores) com o propósito de atuar em prol da paz mundial e da felicidade da humanidade, transcendendo o objetivo inicial de promover a reforma educacional. Retomou também a realização de reuniões de palestra e de campanhas de propagação em várias localidades do interior do Japão.

Daisaku Ikeda nasceu no bairro de Ota, em Tóquio, no dia 2 de Janeiro de 1928. Quando estava com 13 anos de idade, eclodiu a Segunda Guerra Mundial e seus quatro irmãos maiores foram convocados para a frente de batalha. O jovem Ikeda passou a trabalhar numa indústria de armamentos para ajudar no sustento de sua família. Porém, vivia imerso no questionamento sobre a vida e a morte por estar acometido de tuberculose. Ele vivenciou os horrores da guerra sob constantes ataques aéreos e sofreu com a tristeza de sua mãe diante da morte do filho no campo de batalha. Após o término da guerra, estudou inúmeras obras literárias e filosóficas em busca de uma visão correta sobre a vida.

O encontro com Jossei Toda

Nessas circunstâncias, o jovem Ikeda participou de uma reunião de palestra da Soka Gakkai no dia 14 de agosto de 1947, encontrando-se pela primeira vez com Toda que se tornaria seu mestre.

Naquele dia, o presidente Toda explanou a “Tese sobre o estabelecimento do ensino correto para a paz da nação”. Ao

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término da explanação, o jovem Ikeda fez uma série de perguntas tais como: Qual é o modo correto de vida? O que é ser um verdadeiro patriota? Qual o significado de Nam-myoho-rengue-kyo? O que entende por imperador? Diante das respostas claras e coerentes de Toda, o jovem Ikeda sentiu que poderia confiar em suas palavras. Dez dias depois, em 24 de agosto de 1947, Ikeda converteu-se ao Budismo Nitiren.

A partir de então, o jovem Ikeda, que na época freqüentava o curso noturno do Instituto Educacional Taisei (predecessora da Faculdade Fuji de Tóquio), estudou o budismo participando das explanações de Toda sobre o Sutra de Lótus. Em janeiro de 1949, passou a trabalhar na editora de Toda.

Devido à caótica situação econômica de pós-guerra, as empresas de Toda faliram e ele renunciou ao cargo de diretor geral da Soka Gakkai. Enquanto a maioria dos funcionários o abandonava, somente Ikeda permaneceu ao lado de seu mestre. Deixou inclusive de freqüentar o curso noturno para apoiá-lo integralmente. Por isso, Toda passou a ministrar aulas particulares sobre as mais variadas matérias com qualidade superior a de qualquer curso superior, o qual ficou conhecido como “Universidade Toda”.

A posse do segundo presidente

Em 3 de maio de 1951, Jossei Toda tomou posse como segundo presidente e lançou o objetivo de concretizar 750 mil conversões. Era um número quase impossível de ser alcançado considerando que havia apenas três mil membros. Toda planejou diversas estratégias visando a ampliação do movimento pelo Kossen-rufu. Assim, um pouco antes de sua posse presidencial, no dia 20 de abril, foi publicada a primeira edição do jornal Seikyo Shimbun, ocasião em que ele começou a escrever a série do romance Revolução Humana. O significado de “revolução humana” consiste na transformação da condição de vida de cada pessoa com base na prática da fé. Toda reavivou o Budismo de Nitiren Daishonin na época contemporânea por meio da filosofia de vida inserida na “revolução humana”. Além disso, logo após a sua posse, fundou as Divisões Feminina, Masculina de Jovens e Feminina de Jovens.

Em janeiro de 1952, indicado por Toda, Daisaku Ikeda assumiu a função de secretário do Distrito Kamata onde, em fevereiro, alcançou o inédito resultado de 201 conversões, rompendo todos os limites da campanha de propagação da época. Tal feito acelerou o ritmo da propagação em toda a Soka Gakkai.

Paralelamente à expansão, Toda publicou a Coletânea Completa dos Escritos de Nitiren Daishonin (Nitiren Daishonin Gosho Zenshu) em abril de 1952, em comemoração dos 700 anos de fundação do Budismo Nitiren.

A manifestação da natureza maligna do poder

Em 1956, o jovem Ikeda desenvolveu uma ampla campanha de propagação na região de Kansai, alcançando no mês de maio o inédito resultado de 11.111 conversões no Distrito Osaka. Em julho daquele ano, como responsável da campanha eleitoral em Osaka, alcançou uma vitória prevista como impossível. A partir dessa vitória, a Soka Gakkai passou a ser o foco das atenções como uma organização influente na sociedade. Ao mesmo tempo, passou a receber diversas pressões injustas por parte do poder constituído. Daisaku Ikeda enfrentou de forma corajosa tais pressões com o propósito de proteger os membros da Soka Gakkai.

Em 3 de julho de 1957, Ikeda foi detido injustamente sob falsa acusação de fraude eleitoral. Durante as duas semanas de interrogatório, foi ameaçado de que prenderiam o presidente Toda caso não assumisse a culpa. A fim de preservar a saúde de seu mestre, que se encontrava debilitado, Ikeda viu-se obrigado a assumir a responsabilidade e foi libertado no dia 17 de julho. O processo judicial desse Incidente de Osaka se arrastou até 25 de janeiro de 1962, quando a justiça japonesa o declarou inocente.

Confiando a herança do Kossen-rufu

Em 8 de setembro de 1957, Toda proferiu a “Declaração pela Abolição das Armas Nucleares” que se tornou diretriz do movimento da Soka Gakkai em prol da paz. Na declaração, ele condena o uso de armas nucleares considerando-as como “grande mal” a despojar o direito à vida. Em dezembro daquele ano, ele concluiu o empreendimento maior de sua vida concretizando 750 mil conversões.

No dia 16 de março de 1958, foi realizada a cerimônia de transmissão do bastão do Kossen-rufu a seis mil membros da Divisão dos Jovens. Esse dia ficou conhecido como Dia do Kossen-rufu. Duas semanas depois, no dia 2 de abril, Jossei Toda encerrou sua nobre existência aos 58 anos de idade, após concluir todos os seus empreendimentos.

A época do terceiro presidente e presidente da SGI, Daisaku Ikeda

Após o falecimento de Jossei Toda, Ikeda tornou-se o principal líder da Soka Gakkai e assumiu a terceira presidência da organização em 3 de maio de 1960 com apenas 32 anos de idade.

Cinco meses depois, em 2 de outubro, Ikeda marcou o seu primeiro passo para a propagação mundial do Budismo Nitiren partindo para a sua primeira viagem rumo à América do Norte e América do Sul. Em janeiro do ano seguinte, viajou para a Ásia e

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Índia; e, em outubro, visitou a Europa. Assim se iniciou a promoção do Kossen-rufu mundial e o retorno do budismo para o oeste conforme predito por Nitiren.

Para realizar os ideais traçados por Toda, Ikeda expandiu o movimento em prol da paz, cultura e educação e fundou o Instituto de Filosofia Oriental, a Associação de Concertos Min-On, o Museu de Arte Fuji de Tóquio, e o Sistema de Ensino Soka, que abrange o jardim de infância até o curso superior.

Em 8 de setembro de 1968, Ikeda apresentou uma proposta para reatar as relações diplomáticas sino-japonesas e, em 1972, dialogou com o renomado historiador Arnold Toynbee. Numa época em que havia espessas barreiras criadas pela Guerra Fria, Ikeda abriu caminhos de paz e amizade visitando e dialogando com os líderes da China, da antiga União Soviética e dos Estados Unidos.

Em 26 de janeiro de 1975, ele fundou a Soka Gakkai Internacional (SGI) na Ilha de Guam, sendo seu nome indicado para presidente.

Em abril de 1979, ele se torna presidente honorário da Soka Gakkai.

Homenagens e reconhecimentos

A partir de 1983, Daisaku Ikeda veio apresentando anualmente uma Proposta de Paz no dia 26 de janeiro, Dia da SGI. O encontro com personalidades e intelectuais soma até hoje mais de 1.600 encontros. As obras literárias na forma de diálogo com intelectuais do mundo alcançam 50 títulos. Em particular, o diálogo com o Dr. Arnold Toynbee já foi publicado em 27 idiomas, recebeu a aprovação de um grande número de personalidades e de líderes mundiais. Além disso, o presidente Ikeda realizou até hoje mais de 30 palestras e conferências em renomadas universidades e entidades científicas.

Em 1995, foi aprovada a “Carta da SGI” que estabelece os princípios filosóficos e humanísticos da SGI. Em 1996, foi fundado o Centro Internacional Toda de Pesquisas da Paz que tem como fundamento os ensinamentos do presidente Toda. E, em 2001, foi inaugurada a Universidade Soka da América, em Aliso Viejo. Assim, atualmente, o movimento em prol da paz, cultura e educação com base no budismo se expandiu em escala mundial.

Atualmente, os nomes dos presidentes Makiguti, Toda e Ikeda vêm sendo reconhecidos em todo o mundo, na forma de denominação de praças e logradouros bem como de homenagens e condecorações diversas. Até o dia 3 de maio de 2008, o presidente Ikeda havia recebido 27 condecorações estatais, 234 títulos acadêmicos e 565 títulos de cidadania

honorária.

Paralelamente a esse desenvolvimento, ocorreu um incidente em 1991 em que o clero da Nitiren Shoshu excomungou mais de 10 milhões de adeptos que faziam parte da Soka Gakkai. Esse ato arbitrário foi considerado como heresia por opor-se ao espírito do Buda Nitiren. Apesar de outras diversas tentativas de destruir a organização, a Soka Gakkai conseguiu superar essa problemática e promoveu uma ampla campanha de propagação no mundo inteiro.

Atualmente (2008), os membros da SGI atuam em 192 países e territórios e vêm comprovando a veracidade do Budismo Nitiren em sua vida, desenvolvendo ao mesmo tempo a formação de jovens como herdeiros do Kossen-rufu e como discípulos do presidente Ikeda.

Por outro lado, como base no humanismo budista, os membros da SGI procuram contribuir para a prosperidade social em seus respectivos países, promovendo diversos eventos nas áreas de cultura, educação, música, dança, exposição, os quais têm sido alvos de reconhecimento público.

Dessa forma, por meio da atuação dos membros da SGI, o Budismo Nitiren vem se tornando uma luz de esperança para toda a humanidade.

Fonte: Revista Daibyakurengue, outubro de 2007

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História da BSGI: As quatro visitas do presidente Ikeda ao BrasilBRASIL SEIKYO, EDIÇÃO Nº 1946, PÁG. C5, 05 DE JULHO DE 2008.

Primeira visita

Daisaku Ikeda desembarcou no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, por volta da 1 hora da madrugada do dia 19 de outubro de 1960. Esta data foi denominada mais tarde de Dia da BSGI.

Ele havia tomado posse como terceiro presidente da Soka Gakkai cinco meses antes, em 3 de maio, e empreendeu sua primeira viagem para fora do Japão partindo de Tóquio em 2 de outubro, data esta conhecida atualmente como Dia da Paz Mundial.

Nessa viagem, que durou 23 dias, o presidente Ikeda visitou as cidades americanas de Honolulu, São Francisco, Seattle, Chicago, Nova York, Washington e Los Angeles, além de São Paulo (Brasil) e Toronto (Canadá).

A exaustiva viagem e o intenso esforço para desbravar os primeiros passos do Kossen-rufu mundial debilitaram o seu corpo que sofria de problemas de saúde que o acometiam desde a juventude. Em Nova York, os líderes o aconselharam a interromper a viagem ao Brasil para não piorar sua condição de saúde.

Diante dessa preocupação, o presidente Ikeda disse: “Contudo, eu irei. Existem companheiros que estão me aguardando. Jamais cancelaria a viagem sabendo que eles estão me esperando. O senhor sabe perfeitamente que o maior objetivo desta viagem é a visita ao Brasil. Chegamos até aqui exatamente para isso. Não podemos desistir na metade do caminho. Houve alguma vez em que o presidente Toda recuou em meio a uma luta?! Eu sou discípulo do presidente Toda! Eu vou. Vou sem falta, custe o que custar! Se tiver de tombar, então tombarei em combate! Que desventura pode haver nisso?!” (Nova Revolução Humana, vol. 1, pág. 178.)

Com essa determinação e mesmo ciente do risco que poderia enfrentar, o presidente Ikeda desembarcou em São Paulo.

No dia 20, diante de cerca de 150 pessoas reunidas no salão do restaurante Chá Flora, no bairro da Liberdade,

em São Paulo, o presidente Ikeda anunciou a fundação do primeiro distrito fora do Japão, o Distrito Brasil, composto das comunidades São Paulo, Arujá e Campinas.

Nessa ocasião, ele disse: “O Brasil tornou-se pioneiro do Kossen-rufu mundial. Aqui existe um potencial ilimitado para o futuro. Como desbravadores da paz e da felicidade, solicito aos senhores que abram em meu lugar o caminho do Kossen-rufu do Brasil. Por favor, conto com os senhores”. (Ibidem, pág. 199.)

No jantar realizado nessa noite com os recém-nomeados dirigentes do Distrito Brasil, o presidente Ikeda recomendou: “A partir de agora, o Kossen-rufu do Brasil vai alcançar um grande avanço. É importante que os senhores, como dirigentes, em vez de pensarem em se tornar flores e frutos, tenham a decisão de se tornarem o próprio solo do Brasil para o bem dos companheiros que os sucederão. Ao mesmo tempo, transmitam a todos o quanto é maravilhoso viver junto com a Soka Gakkai e em prol do Kossen-rufu. (...) Outro ponto importante é a decisão dos senhores de jamais se afastarem da Soka Gakkai, aconteça o que acontecer. Uma vez que se encontram na posição de orientar os membros, se abandonarem a prática da fé, traindo os companheiros, esse ato se constituirá numa falta muito grave. Além disso, chegará a época em que a Gakkai terá de enfrentar várias formas de opressão. Haverá também com toda a certeza movimentos que tentarão conturbar a união harmoniosa da Soka Gakkai. Mas é justamente polindo-nos por meio dessas provações que nos tornamos verdadeiros budistas e alcançamos um glorioso curso de vida”. (Ibidem, págs. 203-204.)

No dia seguinte, 21 de outubro, o presidente Ikeda seguiu viagem para Los Angeles, EUA, e retornou depois para Tóquio no dia 25. Durante as poucas horas que passou em São Paulo, o presidente Ikeda plantou a semente do espírito da unicidade de mestre e discípulo no coração de algumas dezenas de membros daquela época e os incentivou a iniciar o movimento de propagação do Budismo Nitiren em terras brasileiras.

Segunda visita

Em pouco mais de cinco anos, desde a sua fundação, a BSGI alcançou grande resultado na propagação do budismo promovida por aqueles 150 membros que se reuniram no restaurante Chá Flora.

No início de 1965, o número de membros girava em torno de 2.500 famílias. Essa quantidade cresceu para 5.600 em agosto, e, no fim do ano, chegou a 6.800 famílias. Nos dois primeiros meses de 1966 foram realizadas mais 1.200 conversões, totalizando oito mil famílias.

Em sua segunda visita ao Brasil, o presidente Ikeda

desembarcou no Rio de Janeiro em 10 de março de 1966, acompanhado de sua esposa Kaneko. No Rio havia nessa época 166 famílias fazendo parte de três comunidades e dez blocos.

O Brasil estava sob regime militar desde 1964 e os cinco dias da segunda visita do presidente Ikeda transcorreram sob constante vigilância policial em conseqüência de informações distorcidas sobre a Soka Gakkai.

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O Departamento de Ordem Política e Social — poderosa polícia política da época, rotulou a Soka Gakkai como uma organização política com fachada de instituição religiosa. Com base na suspeita de que o objetivo da visita do presidente Ikeda era o de fundar um partido político no Brasil, seus passos foram vigiados pelos agentes policiais.

Na manhã do dia seguinte da chegada no Rio, o presidente Ikeda foi procurado por um jornalista que publicara um artigo difamatório sobre a Soka Gakkai. Na entrevista, ele esclareceu: “A religião existe para proporcionar felicidade às pessoas, para construir um mundo de paz e também para criar uma sociedade cada vez melhor. Esses propósitos fazem parte da missão original que deve ser cumprida pelas religiões. Sendo assim, uma religião que fecha seus olhos e permanece indiferente diante dos sofrimentos das pessoas e dos problemas sociais deve ser qualificada como uma religião morta. No caso do budismo, cuja essência está embasada no Sutra de Lótus, expõe o caminho da benevolência e ensina que todas as pessoas são dotadas da natureza de Buda, revelando a suprema igualdade e o respeito absoluto à dignidade da vida. A Soka Gakkai, por sua vez, tem como objetivo contribuir para a paz e a felicidade das pessoas aplicando os princípios filosóficos do budismo nos diversos campos da atividade humana tais como a arte, a cultura e a educação. Com base nesse pensamento, elegemos nossos membros para atuarem também no campo da política”. (Ibidem, vol. 11, pág. 16.)

O jornalista perguntou-lhe se a Soka Gakkai pretendia criar um partido político no Brasil. A resposta foi clara: “No caso de assuntos relacionados com a crença no budismo, eu posso prestar meus conselhos e fazer minhas

recomendações. Porém, a questão de como tratar e agir no campo da política deve ser analisada e definida pelos membros de cada país. É um assunto que não devo interferir nem ditar alguma instrução. Antes de tudo, sou japonês e penso que não devo intrometer-me nesse assunto. Pessoalmente, penso que não há nenhuma necessidade de criar um partido político seja no Brasil ou em qualquer outro país”. (Ibidem, vol. 11, pág. 17.)

Depois de algum tempo, esse jornalista publicou uma matéria esclarecendo que não havia nenhum fundamento no alarde criado em torno da Soka Gakkai, tachando-a de organização fascista. A entrevista prestada pelo presidente Ikeda foi reportada corretamente e os objetivos da Soka Gakkai foram descritos sem distorção.

Além da entrevista e de encontrar com os membros pioneiros, o presidente Ikeda subiu ao Morro do Corcovado de onde conheceu a Baía da Guanabara, o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor.

O ponto alto da segunda visita ao Brasil foi a realização de dois eventos: o Festival Cultural da América do Sul, realizado no dia 13 de março no Teatro Municipal de São Paulo com a presença de 1.700 figurantes de várias localidades do Brasil e o encontro com cinco mil membros no Ginásio de Esportes do Pacaembu, também em São Paulo. Esses eventos foram realizados sob a vigilância de centenas de policiais.

Todo o empenho dos membros dessa época resultou na inauguração da sede própria da BSGI em São Paulo, hoje é a Sede Social da Divisão Feminina. A organização, que era um distrito, passou a ser composta de três distritos gerais (atual regional ou área) e sete distritos.

Visita cancelada

Em 1974, o presidente Ikeda planejou uma viagem aos Estados Unidos e ao Brasil. A BSGI programou então a realização de um festival cultural em São Paulo para recebê-lo. Todos os membros o aguardaram com expectativa, queriam mostrar suas vitórias e transformar o constrangimento da última visita que ocorrera sob rigorosa vigilância policial.

O festival seria nos dias 16 e 17 de março, no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo. Porém, a emissão do visto de entrada no Brasil foi negado: o governo brasileiro estava temeroso por causa de uma denúncia anônima de que havia um indivíduo perigoso na comitiva.

Dias antes do festival, o presidente Ikeda disse ao telefone: “Embora não possa viajar desta vez, irei sem falta para incentivar os companheiros do Brasil”. (Ibidem, vol. 11, pág. 58). A tristeza e indignação de todos se tornaria a força propulsora para mudar a história.

No dia 16, pouco antes do início do festival, os figurantes foram avisados do adiamento da visita. O que se seguiu foi um silêncio acompanhado de soluços. Mesmo assim, o festival foi realizado de forma magnífica. No grande

final, em uníssono, todos entoaram a canção “Juntos com Sensei” num brado para comprovar a justiça e trazê-lo ao Brasil.

Figurantes e espectadores cantaram olhando fixamente para a cadeira vazia no centro da primeira fila do mezanino. Era o lugar que seria ocupado pelo presidente Ikeda. Havia ali apenas um ramalhete de flores que lhe seria entregue como boas-vindas. Embora não estivesse presente, todos viam vividamente no coração seu rosto sorridente acenando em direção a eles.

Durante o período que se sucedeu, os membros brasileiros redobraram seus esforços nas atividades para que a BSGI fosse reconhecida como uma organização digna de respeito.

Os jovens não permitiriam que aquela situação se repetisse e decidiram divulgar amplamente os ideais Soka à sociedade. A partir daí, muitos festivais e atividades culturais dos mais variados tipos foram promovidos e a BSGI participou de diversos eventos sociais. Dessa forma, a organização cresceu e o rigoroso inverno estava chegando ao fim.

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Terceira visita

Foram dezoito anos de espera, mas, em 19 de fevereiro de 1984, o presidente Ikeda desembarcou pela terceira vez em São Paulo.

Durante os onze dias de permanência no Brasil, ele viajou para Brasília onde manteve audiências com o presidente da República, com os ministros da Casa Civil, da Educação e Cultura e das Relações Exteriores como também visitou e doou livros para a Universidade de Brasília. Nos intervalos desses compromissos, encontrou-se com os membros e os incentivou calorosamente.

No dia 25 de fevereiro, o presidente Ikeda surpreendeu com sua repentina presença os milhares de figurantes e membros que se encontravam no Ginásio de Esportes do Ibirapuera, em São Paulo.

Quando ele adentrou no ginásio e começou a dar a volta na pista olhando para os membros que lotavam as arquibancadas, uma forte ovação e um turbilhão de palmas estremeceram o local. Todos aguardavam por esse grande momento.

Depois de percorrer o ginásio com os braços erguidos, ele pegou o microfone e externou seu profundo sentimento aos membros do Brasil: “Sinto-me muito feliz por estar aqui junto com todos os senhores. Foram dezoito anos de longa espera, mas finalmente pude reencontrar-me

com os senhores, que são sublimes mensageiros do Buda. Este grandioso festival cultural ficará sem dúvida alguma gravado eternamente na história do Kossen-rufu do Brasil com todo seu brilhantismo. Até chegar este momento, quanto avanço e devoção não houve da parte dos senhores e quantos belos laços de solidariedade não se formaram entre todos! Neste momento, meu sentimento é o de abraçar cada um dos senhores, apertar a mão de cada um e louvar com lágrimas nos olhos e profunda gratidão o nobre empenho de todos. A Lei Mística é a fonte inesgotável da criatividade cultural que construirá o novo século. Declaro com toda a determinação que este é o caminho absoluto para edificar um mundo de verdadeira paz e felicidade”. (Ibidem, pág. 73.)

Os figurantes e os espectadores, formando um único coro, cantaram com altivo orgulho a canção “Saudação a Sensei”. Essa canção encorajou os companheiros do Brasil nos momentos mais difíceis, incentivando-os a desafiar seus próprios limites. Foi a canção que criou a forte solidariedade e o companheirismo entre os valorosos membros de todos os recantos da terra brasileira.

Desde então, a BSGI avançou na vanguarda do movimento pelo Kossen-rufu em direção ao século 21, surpreendendo o mundo com seu resplandecente desenvolvimento tal como o sol que se ergue imponente e destemido lançando raios dourados pelo céu.

Quarta visita

O presidente da SGI, Daisaku Ikeda, desembarcou no dia 9 de fevereiro de 1993 no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro onde fora recebido por inúmeras personalidades, entre elas o presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Austregésilo de Athayde.

Nessa capital, além de manter inesquecíveis encontros com os membros, o presidente Ikeda foi acolhido como sócio correspondente da ABL e homenageado com o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Na seqüência, viajou para Buenos Aires (Argentina), Assunção (Paraguai) e Santiago (Chile), retornou para São Paulo e permaneceu no Centro Cultural Campestre da BSGI.

O governo paulista homenageou-o com a Medalha dos Bandeirantes, com o título de “Educador Emérito da

Escola Pública do Estado de São Paulo” e de “Professor Visitante Honorário” da Universidade de São Paulo.

No Paraná, o presidente Ikeda foi homenageado com a Ordem do Pinheiro pelo governo do Estado, com o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Paraná e recebeu o título de cidadão honorário de Londrina.

No Centro Cultural Campestre, participou da Convenção Sul-Americana da SGI, da 16o Convenção da SGI e de vários outros eventos.

Durante os memoráveis dias que esteve em terras brasileiras, o presidente Ikeda vivenciou o grande avanço da BSGI desde sua primeira visita em 1960. A BSGI avança agora rumo ao seu cinqüentenário em 2010 e orgulha-se em manter a relação de mestre e discípulo como fonte primordial de seu crescimento desde a sua fundação.

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A problemática do clero e as heresias da seita NikkenBRASIL SEIKYO, EDIÇÃO Nº 1946, PÁG. C7, 05 DE JULHO DE 2008.

O que é o clero da Nitiren Shoshu?

A Soka Gakkai foi fundada em 18 de novembro de 1930 por Tsunessaburo Makiguti e Jossei Toda. Por ser inicialmente uma instituição de pesquisa do Sistema Educacional de Criação de Valores desenvolvido por Makiguti, foi composta de educadores e professores e por esse motivo foi chamada de Soka Kyoiku Gakkai (Sociedade Educacional de Criação de Valores).

Por outro lado, pelo fato de Makiguti e Toda praticarem o Budismo de Nitiren Daishonin desde 1928, a Soka Kyoiku Gakkai foi se transformando gradativamente numa organização de praticantes leigos do budismo.

Nessa época, entre as instituições religiosas que professavam o Budismo Nitiren, a Nitiren Shoshu era a única que seguia a doutrina herdada por Nikko Shonin, considerado o legítimo sucessor de Nitiren Daishonin. A Nitiren Shoshu, com sede no Templo Principal Taissekiji, era ainda uma pequena entidade religiosa composta de clérigos, cujos adeptos formavam uma espécie de paróquia em torno de templos locais e recebiam as orientações de seus priores. Contudo, a Soka Kyoiku Gakkai se posicionou como instituição independente da Nitiren Shoshu, mantendo porém vínculos correlatos. A Soka Gakkai permaneceu como entidade leiga autônoma e seus membros receberam orientações sobre a prática do budismo de seus líderes sem ficarem subordinados à classe dos clérigos.

A Soka Gakkai assumiu essa posição porque Makiguti via com olhos críticos a situação do clero da Nitiren Shoshu que havia se afastado do espírito de Nitiren Daishonin, tornando-se uma mera entidade religiosa, tal como outras seitas budistas que se ocupavam apenas de formalidades religiosas como funerais e cerimônias em memória aos falecidos. Por essa decadência que aconteceu ao longo de muitos anos, as seitas budistas em geral foram chamadas pela população de “religião de funeral” pelo fato de os bonzos cobrarem donativos exorbitantes.

Além disso, os clérigos da Nitiren Shoshu não tinham consciência de que o Budismo de Nitiren Daishonin expunha os princípios fundamentais que poderiam mudar o destino das pessoas e da sociedade, nem se esforçavam em propagá-lo visando o Kossen-rufu. Devido a essa decadência, agravada com a disputa interna de poder entre os clérigos, a doutrina de Nitiren Daishonin, herdada por Nikko Shonin, estava sendo desviada dos seus reais propósitos. Diante desse cenário, a Soka Kyoiku Gakkai pôde recuperar a legitimidade do Budismo Nitiren como religião viva que conduz as pessoas para a felicidade e realiza a paz social.

A diferença de convicção religiosa entre a Soka Gakkai e o clero tornou-se evidente em 1943 quando o

governo militar japonês impôs o xintoísmo (religião nativa do Japão) à população como religião oficial, obrigando a adoração do talismã xintoísta. O clero da Nitiren Shoshu, temendo ser alvo de represálias do governo, convocou Makiguti e Toda, que na época eram respectivamente presidente e diretor-geral da Soka Gakkai, para convencê-los a aceitarem o talismã xintoísta. Entretanto, os dois mantiveram o espírito de Nitiren Daishonin de jamais ser condescendentes com a heresia e rejeitaram energicamente essa imposição. Eles lutaram também contra a posição do governo de manter o controle de pensamento e convicção religiosa em defesa da liberdade de crença.

Em meio a essa circunstância, o clero orientou os adeptos a seguirem o xintoísmo, proibiu a publicação dos escritos de Nitiren Daishonin, chegando inclusive a cometer o terrível ato de eliminar frases dos escritos que pudessem ofender o governo xintoísta. Além disso, apoiou ativamente os atos de guerra instigando os adeptos a orarem pela vitória nas frentes de batalha. Esses fatos colocaram em evidência a inexistência do espírito de Nitiren Daishonin no clero da Nitiren Shoshu.

No dia 6 de julho de 1943, Makiguti, Toda e mais 21 líderes da Soka Gakkai foram detidos. Somente Makiguti e Toda se mantiveram firmes em suas convicções, enquanto os demais se apostataram da fé. Makiguti morreu na prisão em 18 de novembro de 1944 e Toda foi libertado em 3 de julho de 1945.

Com sua libertação pouco antes do término da guerra, Toda se levantou sozinho para a reconstrução da organização. Empenhou-se também em proteger o clero com a esperança de estabelecer a harmonia entre clérigos e leigos. Em 1952, quando a Soka Gakkai já estava melhor estruturada, Toda organizou a realização de peregrinação ao Templo Principal para que os membros pudessem apoiar a caótica situação financeira do clero da Nitiren Shoshu e elaborou também o projeto de construção de templos locais.

Com a posse de Daisaku Ikeda como terceiro presidente da Soka Gakkai em 3 de maio de 1960, a proteção ao clero se tornou ainda mais acentuada. Com o apoio de todos os membros da Soka Gakkai, ele promoveu a construção do Daikyakuden e do Shohondo (ambos destruídos mais tarde pelo sumo-prelado Nikken) nas áreas do Templo Principal Taissekiji, além de construir mais de 350 templos locais.

Essa história repleta de desafios e triunfos foi construída sob a liderança de seus três primeiros presidentes, considerados como eternos mestres do Kossen-rufu: Tsunessaburo Makiguti, Jossei Toda e Daisaku Ikeda.

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A problemática do clero

Desde a sua fundação, a Soka Gakkai veio apoiando e protegendo o clero da Nitiren Shoshu. Entretanto, devido à natureza autoritária dos clérigos, ocorreram atritos entre o clero e a Soka Gakkai. Tais situações foram ultrapassadas a partir do propósito da organização de manter a harmonia entre clérigos e adeptos.

No final da década de 70, um grupo de clérigos chegou a promover ataques desarrazoados à Soka Gakkai tentando persuadir os seus membros a se afastarem da organização e se tornarem adeptos diretos dos templos (Danto). Nessa ocasião, da mesma forma como os atritos anteriores, a situação foi resolvida mediante a sincera e honesta conduta da Soka Gakkai.

Entretanto, em dezembro de 1990, o clero da Nitiren Shoshu, sob a liderança do sumo-prelado Nikken, investiu repentinamente contra a Soka Gakkai, atacando-a com injustas e infundadas críticas e difamações. O clero colocava em ação um plano arquitetado por Nikken numa tramóia de destruir a Soka Gakkai usurpando seus membros. Essa estratégia ficou conhecida como “Plano C” (a letra “c” é a inicial da palavra cut (cortar em inglês), indicando o ato de “cortar a Soka Gakkai”).

Assim, sem qualquer justificativa, o clero destituiu o presidente Ikeda e líderes da Soka Gakkai da função de coordenadores da Hokkeko (Associação de Leigos da Nitiren

Shoshu). A direção do clero recusou todos os pedidos dos líderes da organização de manter contato direto para dialogar sobre a problemática numa tentativa de encontrar soluções. Além disso, o clero proibiu a concessão do Gohonzon para os membros da Soka Gakkai, chegando ao extremo de excomungá-los em novembro de 1991.

Em 1993, a Soka Gakkai adotou o Gohonzon transcrito por Nitikan Shonin promovendo a sua concessão para os membros do mundo inteiro. Ela se tornou realmente uma instituição independente do clero em todos os aspectos e assinalou um grande avanço como organização promotora do Kossen-rufu, diretamente ligada a Nitiren Daishonin.

A heresia do clero e a retidão da Soka Gakkai se tornaram evidentes passados poucos anos do início da problemática. Enquanto a Soka Gakkai se expandiu de 115 países em 1990 para 192 em 2008, o clero seguiu por uma trilha de vertiginosa decadência.

Em dezembro de 2005, alegando problemas de saúde, Nikken se afastou da mais alta posição do clero, transferindo o posto de sumo-prelado para Nitinyo. Entretanto, a correnteza do clero foi definitivamente manchada pelas ações maléficas de Nikken, transformando-se em uma seita herética totalmente contrária ao Budismo de Nitiren Daishonin. Por essa razão, ela foi denominada de seita Nikken.

As heresias da seita Nikken

1. Ameaça de destruição do Kossen-rufu

Em novembro de 1991, o clero enviou uma ordem de excomunhão à Soka Gakkai. Em tal notificação não foi mencionada nenhuma evidência do ponto de vista da doutrina e muito menos citações do Gosho de Nitiren Daishonin. As únicas alegações eram de caráter autoritário e ressentimentos da falta de submissão da Soka Gakkai à autoridade do clero.

Conforme os ditos dourados de Nitiren Daishonin, a realização do Kossen-rufu é o verdadeiro testamento do Buda Original. A Soka Gakkai vem se empenhando desde a sua fundação na promoção concreta do Chakubuku e da propagação do Budismo de Nitiren Daishonin, hoje, em âmbito internacional, por intermédio da SGI. Portanto, as ações do clero visando à destruição da Soka Gakkai representam uma gravíssima heresia da destruição do próprio Kossen-rufu. Em outras palavras, são calúnias da maior gravidade, pois se opõem ao nobre espírito do Buda Original Nitiren Daishonin em prol da felicidade de toda a humanidade.

2. Absolutismo do sumo-prelado

O único ponto em que a seita Nikken se sustenta numa tentativa de frear sua vertiginosa decadência na malograda perseguição a SGI e aos seus membros do mundo

inteiro é a adoração incondicional ao sumo-prelado. Esse absolutismo do sumo-prelado é claramente uma heresia aos ensinamentos de Daishonin. Essa idéia absurda, de que o sumo-prelado é absoluto, não consta em nenhum escrito de Daishonin nem nas diretrizes deixadas pelo seu sucessor Nikko Shonin. Pelo contrário, Nikko Shonin refuta esse princípio de absolutismo do sumo-prelado nos seus “Vinte e Seis Artigos de Advertência”, afirmando: “Mesmo que o sumo-prelado em exercício dite normas que se oponham ao budismo, ninguém deve adotá-las em absoluto”.

3. Distorção do conceito de herança do sangue vital

A seita Nikken alterou arbitrariamente a concepção sobre a herança do sangue vital (transmissão da doutrina budista), transformando-a numa crença mistificada de que o simples ato de sucessão do posto de sumo-prelado faz do novo ocupante um indivíduo dotado plenamente da iluminação do Buda e dos “ensinos secretamente transmitidos” no ato da sucessão. Tal idéia é totalmente distorcida e nada tem a ver com o conceito de herança do sangue vital exposto por Nitiren Daishonin e Nikko Shonin.

No escrito “A herança da suprema Lei da vida” consta: “Nitiren tem se dedicado a despertar todas as pessoas do Japão para a fé no Sutra de Lótus de modo que elas também compartilhem essa herança e alcancem o estado de

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Buda”. (Os Escritos de Nitiren Daishonin [Escritos], vol. 3, pág. 177.) Portanto, o sangue vital dos ensinos de Nitiren Daishonin pode ser herdado pelas pessoas que têm fé no budismo e não é monopólio de um determinado indivíduo. No mesmo escrito consta: “Sem a herança da fé, mesmo o ato de abraçar o Sutra de Lótus será inútil”. (Ibidem, pág. 179.) Essa frase expõe claramente que a transmissão da herança do sangue vital ocorre somente quando é mantida a genuína fé nos ensinamentos de Daishonin, e não da forma mistificada que estabelece como condição a detenção do poder exercido pelo sumo-prelado. Portanto, o fato de se opor aos ensinos de Daishonin, como no caso da seita Nikken, leva a uma prática sem o sangue vital da fé, razão pela qual não surgem os benefícios mesmo abraçando o Gohonzon.

4. Abuso em cerimônias religiosas

Uma das grandes calúnias cometidas pela seita Nikken, distorcendo o Budismo de Nitiren Daishonin, se refere ao mau uso das cerimônias religiosas, tais como o funeral, utilizadas como instrumentos de arrecadação de dinheiro. Ela alega, por exemplo, que a presença de sacerdotes em funeral é obrigatória para que o falecido atinja a iluminação, pois somente eles estão capacitados a conceder essa condição. Alega ainda que a cerimônia de falecimento conduzida sem a presença de um sacerdote conduz o falecido ao inferno. Trata-se de um abuso da posição de religioso e uma forma de tirar proveito da tristeza das famílias enlutadas.

Nos escritos de Nitiren Daishonin, consta: “O Nam-myoho-rengue-kyo recitado pelo seu saudoso pai durante a sua vida o tornou uma pessoa a alcançar o estado de Buda na presente forma”. (The Writings of Nichiren Daishonin [WND], vol. 1, pág. 1.064). Assim, Daishonin enfatiza que a iluminação de cada pessoa depende unicamente da prática da fé e das ações dela própria em vida. Não é algo definido pelo indivíduo que celebra o funeral.

Portanto, o fato de se afirmar que a presença de sacerdotes em funeral é obrigatória para que o falecido alcance a iluminação, ignorando os ensinamentos de Nitiren Daishonin, constitui uma grande heresia que distorce o budismo.

Durante toda sua vida, Nitiren Daishonin não

conduziu nenhum funeral de seus seguidores, não deu nomes póstumos (kaimyo), nem escreveu ripas em memória aos falecidos (toba). Todos esses ritos foram criados posteriormente pelos clérigos como fonte de renda.

5. Discriminação entre clérigos e leigos

A seita Nikken criou também o princípio de “mestre e discípulo entre clérigos e leigos”, colocando os sacerdotes numa posição superior como mestre e os leigos, na condição inferior, de discípulos, determinando que os leigos devem obediência cega aos clérigos. É uma discriminação estranha entre praticantes do budismo. Além disso, o princípio de mestre e discípulo exposto no budismo não é uma relação que se estabelece por uma simples diferença de posição. Nitiren Daishonin e Nikko Shonin jamais mencionaram conceitos rígidos do tipo “sacerdote é o mestre e o leigo é o discípulo”. Pelo contrário, nos escritos de Nitiren Daishonin, consta: “O Buda considera, seguramente, qualquer um neste mundo que abraça o Sutra de Lótus, seja homem ou mulher, monge ou freira, como o senhor de todos os seres vivos” (As Escrituras de Nitiren Daishonin [END], vol. 5, pág. 189). Assim, Daishonin afirma categoricamente a igualdade entre clérigos e leigos. Portanto, a introdução da discriminação entre os praticantes é um ato que contraria o espírito do Budismo de Nitiren Daishonin.

6. Degeneração religiosa

Nitiren Daishonin definiu o caminho dos sacerdotes com as seguintes palavras: “O verdadeiro sacerdote é aquele que mantém pura honestidade, rara cobiça e sábio sustento”. (Gosho Zenshu [GZ], pág. 1.056). Entretanto, o comportamento de Nikken e dos maus bonzos de sua seita tem sido totalmente contrário a esses ensinamentos de Daishonin. A vida de luxúria levada por Nikken em suas freqüentes visitas a hotéis de alto luxo em águas termais é notória. Comportamentos semelhantes eram apresentados por grande número de bonzos da seita Nikken, tornando-a um grupo de “aproveitadores” do budismo que nada tem a ver com o real espírito ensinado por Nitiren Daishonin.

Daishonin repreende energicamente esse tipo de maus sacerdotes com frases como “animais vestidos de mantos clericais” (END, vol. 1, pág. 385) e “espíritos famintos devoradores da Lei” (END, vol. 3, pág. 107).

Conclusão

Em relação aos “inimigos do Sutra de Lótus” e aos “inimigos do Buda”, Nitiren Daishonin nos ensina em diversas passagens sobre a atitude de denunciá-los veementemente, como por exemplo na seguinte frase: “Por maiores que sejam as boas causas que as pessoas realizem, ou por mais que leiam e copiem o Sutra de Lótus inteiro mil ou dez mil vezes, ou atinjam o Caminho da compreensão dos três mil mundos num único momento da vida, se falham em denunciar os inimigos do Sutra de Lótus, será impossível atingirem o Caminho”. (Escritos, vol. 1, pág. 198). Assim, Daishonin chega a afirmar que sem a atitude de combater os inimigos do Sutra de Lótus, não há como atingir a iluminação.

O combate às ações que tentam destruir o budismo é, sem dúvida, a maior das responsabilidades de um verdadeiro praticante budista. Ignorar essas maldades, sem combatê-las, se torna, ao final, uma atitude caluniosa de conivência com a destruição do budismo. Além disso, uma luta contra as maldades é em si uma prática para se elevar a condição de vida rumo à própria felicidade absoluta.

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Enfim, é desejável que possamos nos empenhar cada vez mais em prol da propagação mundial do budismo, combatendo fortemente as maldades da seita Nikken.

Fonte: Revista Daibyakurengue, outubro de 2007

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