descobrindo o budismo

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Descobrindo o Budismo

1 - Descobrindo o Budismo

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Index2 – A morte e renascimento..........................................................123- O professor espiritual...............................................................174 – Apresentação do caminho.......................................................205-Como meditar............................................................................326-Introdução ao tantra...................................................................417- As três Jóias..............................................................................458-Sobre o Karma...........................................................................519-Estabelecendo uma prática diária..............................................5610- Samsara e Nirvana..................................................................5711.Como desenvolver Bodhicitta..................................................6412-Transformar os problemas.......................................................6913-A sabedoria do vazio...............................................................75

Estes textos surgem de uma tradução livre feita a partir do DVD “Descobrindo o

Budismo” e pretendem ser uma ajuda na iniciação aos conceitos do Budismo por parte de todos aqueles que sentem uma necessidade de mudança nas suas

vidas ou simplesmente uma maior compreensão da ideologia Budista da vida.

Podem ser partilhados e distribuídos desde que de forma gratuita.

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1 – A mente e o seu potencial

Apesar dos avanços tecnológicos e científicos não sabemos muito acerca da mente e do seu potencial. À 2.500 anos Siddhartha Gautama viu do seu verdadeiro potencial, percebendo que a mente não é somente o cérebro mas antes um meio para construirmos a nossa experiência do mundo.Porque construímos a nossa percepção da realidade por meio de uma função da nossa mente, não só temos a capacidade de eliminar emoções negativas e que nos trazem sofrimento como a cólera mas também podemos evoluir conscientemente para um estado superior de consciência, o estado de Buda. Todo o ser vivo tem a capacidade de alcançar este estado de sabedoria e compaixão. De facto Buda ensina-nos que assim que começamos a entender a verdadeira natureza da nossa mente nos tornamos mais felizes, mais serenos e capazes de lidar com os nossos problemas, o que por sua vez nos torna mais capazes de ajudar os outros.

Motivação(venerável Connie Miller)

O conceito da motivação no budismo é muito importante. Tome-se como exemplo uma prenda oferecida por alguém cuja motivação é receber algo em troca. Essa acção não poderá ser vista como algo de muito positivo. Por outro lado, se alguém oferecer um presente pelo simples prazer de ver a satisfação na cara de quem recebe então essa acção irá sentir-se como uma acção muito

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positiva de se fazer.Do mesmo modo, na nossa prática espiritual, a motivação, a razão pela qual praticamos uma acção é tão importante como a acção em si mesma.Assim sendo, estes ensinamentos dizem-nos que por trás, ou no início das nossas acções devemos gerar uma motivação positiva que não se foca tanto no nosso próprio bem estar, mas antes potenciar o desejo de trazer bem estar aos outros seres vivos e trazer-lhes felicidade tanto quanto possível.Neste primeiro capítulo “A mente e o seu potencial” iremos explorar a ilimitada capacidade da nossa própria mente para trazer felicidade tanto para nós como para outros seres vivos. Por essa razão, mais uma vez, a nossa motivação enquanto absorvemos este conceito é muito importante. Aproveitemos então este momento para gerar na nossa mente um forte pensamento que nos permita usar estes ensinamentos não só para trazer felicidade para nós mas também para os outros à nossa volta.

Professores (Venerável Robina Courtin – Uma Australiana que tem praticado

nos últimos 26 anos como monja na tradição Budista Tibetana. É

bem conhecida no mundo pela sua dinâmica de ensinamentos e

conhecimento profundos. Tem sido directora editorial de publicações

de sabedoria e da Mandala, uma revista Budista. Hoje em dia

Lidera um projecto de providencia suporte para a prática do

Budismo por parte de prisioneiros retidos em prisões nos Estados

Unidos e Austrália)

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O que é a mente? Do ponto de vista Cristão, por exemplo atribuímos à consciência o nome de alma e esta nada tem de físico, Do ponto de vista materialista chamamos-lhe simplesmente o cérebro, o DNA, os Genes. Temos estes dois pontos de vista. No Budismo não é nenhuma destas interpretações. O Budismo refere que a mente é toda a largura do espectro que encerra as nossas experiências, a nossa consciência, o nosso intelecto, ideias, conceitos, sentimentos, emoções, espírito, o que quisermos chamar-lhe, tudo isto é englobado no conceito da mente.Um outro ponto acerca da nossa mente que difere de outros pontos de vista religiosos é que não somos criados por uma entidade superior, chamemos-lhe Deus ou Buda, seja o que for. Uma outra diferença que mais uma vez difere do ponto de vista psicológico ocidental é que não há nada no nosso carácter, sentimentos ou emoções que tenha sido criado pela nossa mãe ou pai. Não há nada na nossa mente que venha dos progenitores ao contrário por exemplo do corpo que claramente carrega essa herança genética. Portanto em termos budistas a nossa mente não tem nada de fisico, não vem dos nossos progenitores, não vem de Deus ou de Buda ou de outra entidade superior. Cristãos e Muçulmanos todos apontam numa mesma direcção, sendo que esta mostra-nos Deus como o início, a fonte de tudo. Buda diz-nos que não, que tudo começa na nossa consciência tenha ela começado à vinte anos ou à vinte vidas, concluindo que a nossa consciência existe desde sempre pois não existe nada que em um determinado momento não seja nada e no momento a seguir seja alguma coisa.

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Outro ponto de vista crucial é a ideia da natureza de Buda. Todos temos estas duvidas, perguntamos-nos quem sou eu? Qual é o meu propósito? porque estou aqui?Buda responde-nos que o nosso propósito é atingir o estatuto de Buda. Traduzindo do sânscrito Buda significa aquele que está completamente consciente, acordado. É sinonimo de uma consciência completamente desenvolvida e assente naquilo que chamamos qualidades positivas, e despojada das negativas. O que o Buda nos disse é que esse estado representa o que realmente somos, que todos possuímos a natureza de Buda.Uma maneira simples de colocar esta questão é recorrendo a uma bolota como analogia para a dicotomia acto-potencia. Imaginemos uma menina que nos pergunta o o que é o objecto que tem na mão, ao que nós respondemos que é uma bolota. E o que é uma bolota? Para essa resposta apontamos para o carvalho e explicamos que a bolota se vai transformar no carvalho e essa é a real natureza da bolota, ser um carvalho em potencia. Seria então ridícula nessa perspectiva a ideia da bolota não se transformar num carvalho. No fundo é essa a ideia que Buda nos dá, a mente, a nossa consciência que é indestrutível, que não é criada por um ser superior, a sua verdadeira natureza é um Buda em potência. Uma mente completamente desenvolvida. Essa é a atitude que devemos desenvolver acerca de nós mesmos.No entanto a nossa tendência é identificarmos-nos com o nosso estado em potência, somos isto, somos aquilo, gordos, magros, altos, magros, homem, mulher etc... Definimos-nos no fundo pela pequena bolota o que é uma visão extremamente curta da nossa verdadeira natureza, uma natureza em que temos por um lado

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completa empatia com todos os seres vivos, em que não existe separação entre os outros e o eu e por outro lado sabedoria que em Budismo significa Omnisciência. Muita gente poderá achar esta ideia arrogante por considerarem que só Deus é omnisciente mas Buda diz que toda a mente tem o potencial de se tornar omnisciente e assim que retiramos toda a poluição da mente, toda a ilusão e ideias pré-concebidas então nesse momento ela estará em sincronia com a realidade.Temos então empatia como primeira qualidade, omnisciência e uma terceira qualidade que é a omnipotência. Esta traduz-se no poder de fazer o que quer que seja para beneficiar todos os seres vivos que habitam o universo. Esta é a atitude que devemos desenvolver dentro de nós e uma vez atingida é altamente inspiradora.

(Venerável Thubten Dhondrub é um monge Australiano com mais

de 26 anos de experiência na prática de Budismo Tibetano. Ensinou

em centros da Fundação para a preservação da tradição Mahayana

em mais de 14 países. É bem conhecido pelo seu estilo de ensino

acessível, conhecimento extenso, coração sincero e humildade

tangível).

Seja qual for a razão que nos leva a procurar o Dharma (ensinamentos do Buda) cedo se descobre que a fonte para o nosso sofrimento vem da nossa mente, embora existam muitas condições externas para este aparecer, a causa principal esta na

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forma como a nossa mente lida com essas emoções negativas. Conforme vamos digerindo a ideia de que a nossa mente é a fonte do sofrimento, e também a fonte da nossa alegria, enfrentamos a conclusão de que a melhor forma para evitar o sofrimento e a tristeza é mudando a maneira como a nossa mente pensa. Se o fizer-mos um pouco, ire-mos conseguir superar um pouco o nosso sofrimento se por outro lado procedermos a uma mudança radical, eliminando os pensamentos que nos perturbam e trazendo ao de cima as qualidades positivas poderemos ver-nos livres do sofrimento e desenvolver a verdadeira felicidade.A felicidade que procuramos não é uma coisa temporária e superficial, provavelmente não pensamos muito no tipo de felicidade que queremos mas se fizermos essa pergunta a nós próprios, se calhar chegamos à conclusão que a queremos duradoura e plena. O Budismo diz que existe este fenómeno que é a nossa mente, que não é o cérebro nem nada de físico, não tem forma e tem a habilidade de saber, sentir e aprender com as experiências.A palavra saber. Podemos analisar esta palavra e descobrir que pode ter vários significados, existem muitas maneiras de saber, neste momento sabemos ou apreendemos as coisas de um modo muito indirecto e superficial, na maioria dos casos por meio de conceitos, de leituras ou porque ouvimos o que os outros dizem. Deste modo a nossa mente está impedida de saber de uma forma mais plena por meio de pensamentos aleatórios que causam distúrbios e que todos temos. Podemos então imaginar do que seria capaz a capacidade inata da mente de saber sem estes distúrbios pelo meio. Esta seria uma experiência surpreendente.

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Será possível apagar estes pensamentos que causam distúrbio? Esta é uma das grandes questões com as quais se prende o Dharma. Talvez possamos ter pelo menos a ideia que sim pois quando meditamos ou tentamos meditar, pelo método de colocar a nossa mente em um objecto tal como a respiração, embora não sendo capazes de o fazer durante muito tempo totalmente tornando-nos unos com a respiração, ainda assim pondo algum esforço na realização dessa tarefa o que é que acontece? Todos nós experimentamos a sensação de que ao fazermos esse exercício durante algum tempo, a agitação, os pensamentos negativos baixam de intensidade. Isso mostra que essa agitação, esse pensamentos não tem poder do seu próprio lado para controlar a mente.Normalmente a nossa mente comporta-se como um copo de agua agitado pelas nossas mãos, se o pararmos de agitar o que é que naturalmente acontece? A agua passa ao seu estado natural, pois não é natural para a agua estar agitada, alguma coisa exterior é responsável por essa agitação. No seu estado natural de calma a agua possui também a habilidade de reflectir as coisas tal como elas são. Assim, tal como a agua a nossa mente se lhe der-mos a possibilidade através da meditação de se acalmar terá a capacidade de reflectir melhor a realidade à nossa volta pois tal como a agua esse é o seu estado natural.

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Estudantes – O que é que a mente e o seu potencial significa para eles(Venerável Losang Chötsok)

Entender a verdadeira natureza da mente ajudou esta monja gradualmente durante um período de três anos a tornar-se uma pessoa diferente, mais confiante e serena pois ajudou a reconhecer ao longo do tempo que não somos só este invólucro externo limitado, muitas vezes sem esperança e indefesos sobre a influência de todas as coisas negativas que nos atropelam todos os dias e que nos causa sofrimento.Várias vezes abordada por pessoas acerca de ser uma monja Budista e sobre o Budismo em geral, ficou com a ideia de que o budismo para as pessoas se trata de uma religião pessimista, sombria e niilista que fala acerca do sofrimento e morte.De facto o sofrimento e a morte são temas muito presentes no Budismo, mas abordados de uma forma absolutamente pragmática, pois de facto essas condições estão sem sombra de dúvida presentes na nossa realidade presente e futura. No entanto também se fala de um caminho a percorrer para encontrar uma solução que passa por aprender a usar o potencial da nossa mente que é inacreditável, não no sentido de fazer levitar objectos ou dobrar colheres mas sim de nos modificar por dentro de nos transformar enquanto pessoas, tornar-nos pessoas mais despertas e conscientes, no fundo atingir um estado de Buda.Desde pequena sempre quis ajudar as pessoas, sempre reconheceu o sofrimento nas pessoas, nos seus pais e nela própria. À medida que cresceu o seu próprio sofrimento pelas circunstancias

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esmagadoras do mundo tornou-se tão grande que sentia não conseguir ajudar ninguém e muito menos a ela própria, mas graças ao entendimento que foi adquirindo de que possui esta natureza fantástica, foi se libertando dessa amarras psicológicas e tem conseguido ajudar os outros ao mesmo tempo que pensa cada vez menos no seu próprio sofrimento.

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2 – A morte e renascimento

Durante o decurso das nossas vidas atarefadas raramente estamos conscientes de que a cada momento estamos mais próximos do momento da nossa morte. Na realidade é um assunto que nos trás desconforto e quase nunca estamos predispostos a pensar no assunto e no entanto a morte é uma certeza e a sua hora desconhecida.Buda diz-nos que a maneira mais inteligente de dar significado à nossa vida é recordarmos que vamos morrer em vez de nos escondermos dela.Da mesma forma que quando nos preparamos para uma viagem de férias fazemos os preparativos devidos, ao apontarmos num mapa os pontos por onde vamos passar, uma lista dos bens necessários, etc, devemos fazer o mesmo em respeito á viagem mais importante que alguma vez faremos. Neste contexto somos inspirados pelo Dharma a aproveitar e dar significado à nossa vida preciosa e tão curta.

Motivação(venerável Connie Miller)

Cada um de nós vai morrer, do mais pequeno animal ao maior, do homem mais pobre ao mais rico. Neste aspecto somos todos iguais e mais cedo ou mais tarde todos vamos ter que enfrentar o sofrimento que advém desse facto. Com isto em mente e com a ideia de que não podemos saber qual de facto irá ser a nossa ultima acção nesta vida a prática da motivação aparece como

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especialmente importante. Devemos então gerar na nossa mente uma motivação ou pensamento forte desejando ser capazes de dar aos nossos momentos significado e propósito para eventualmente podermos ajudar a libertar outros seres vivos do seu sofrimento e trazê-los para a felicidade do discernimento.

Professores(Sua santidade o 14º Dalai Lama Tensin Gyatsotem vivido exilado

na Indiacomo chefe de estado e chefe espiritual do povo Tibetano

desde a ocupação da Índia em 1959. Sua Santidade, prémio Nobel

da paz é um dos mais reconhecidos e amados chefes espirituais e

viajou para mais de 46 países como defensor dos direitos humanos e

paz mundial).

Sua santidade o Dalai Lama diz-nos que é necessário para o praticante espiritual reflectir acerca da sua impermanência e inevitabilidade da morte. A reflexão é sobre três factores importantes que são o facto da morte ser em primeiro lugar inevitável, em segundo imprevisível no aspecto que não sabemos quando chegará a nossa hora, e em terceiro lugar somente a prática espiritual poderá ser um beneficio quando essa hora chegar.Dando um exemplo, todos nós achamos que hoje ou durante as próximas horas estaremos vivos mas se quisermos pensar sobre o facto de estarmos de saúde ou de não haver nenhuma condição física alarmante neste momento ou mesmo se houver uma condição externa como um tremor de terra podemos escapar evitando o perigo, podemos concluir justificadamente que temos

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99% de hipótese de termos razão quanto a esse facto. No entanto existe 1% de probabilidade de assim não ser, e quando se der a hora da nossa partida a saúde que temos não conta para grande coisa, nem os amigos nem a família e nem o próprio corpo que nos habituamos a acarinhar terá utilidade alguma nesse caminho que teremos que percorrer sozinhos.Então a pergunta óbvia seguinte poderá ser o que existe depois? Esta questão remete-nos para o renascimento e este do ponto de vista Budista deverá ser entendido como uma continuação da consciência mesmo depois da morte. O entendimento Budista do renascimento depois da morte passa então pela continuidade da consciência e esta é entendida puramente pelo princípio das causas e condições. A questão frequente de para onde se vai quando se morre é influenciada e determinada pelos nossos próprios Karmas não só desta vida mas também de vidas passadas, e todos nós temos muitos Karmas acumulados.

(Venerável Ribur Rinpoche - Nasceu no Tibete em 1923. Com a

idade de cinco anos foi reconhecido como o 13º Dalai Lama na sexta

encarnação de Sera-mae Ribur Rinpoche. Entrou na universidade

monástica Sera em Lhasa e tornou-se um Geshe aos 24 anos.

Meditou e ensinou o Dharma até 1959 altura em que sofreu a

opressão chinesa por 21 anos. Em 1980 foi-lhe permitido efectuar

pequenas actividades religiosas e ajudou a construir um novo Stupa

para Pabongka Rinpoche em Sera. Rinpoche ensina nos Estados

Unidos, Europa e Ásia).

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Geralmente no Ocidente são raras as pessoas que mostram abertura para falar da impermanência e da morte pois ficam se´rias e tristes pelo que o melhor é não falar de semelhante assunto. Tem consciência de que irão morrer no futuro e por isso mesmo não vale a pena pensar nisso agora.Esta abordagem está muito errada pois é precisamente o oposto do que se deve fazer. Não queremos estar tristes ou esmagados pelo medo na hora da morte pelo que a altura para fazer alguma coisa em relação a isso é enquanto estamos vivos. Se fizermos esta preparação por via do estudo do Dharma seremos como um bom filho que a casa retorna. Se pelo contrário não fizermos esta preparação ou se a adiarmos indefinidamente até ao final da vida não seremos capazes de alcançar nada.Se quisermos saber quem fomos antes, temos que olhar para a condição da nossa vida agora, se quisermos saber quem vamos ser no futuro temos que analisar a condição da nossa mente agora. A preciosa condição do renascimento humano é alcançado por via da prática da moralidade/ética.

As vantagens da meditação sobre a morte1- Prática perfeita do Dharma

2- Destruição de ilusões e má percepção

3- Inspiração para uma prática correcta

4- Uma vida feliz e morte sem arrependimento

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(Venerável Karin Valhalm - Nascida na Suécia a venerável Karin

Valhalm encontrou o Dharma no mosteiro de Kopan em 1974 onde

foi ordenada. Por mais de vinte anos tem inspirado milhares de

ocidentais com os seus ensinamentos em Kopan).

Esta consciência de que a nossa vida, a nossa experiência neste mundo pode acabar a qualquer momento faz com que as coisa não pareçam tão importantes, tão permanentes ou arranjadas na mossa mente de modo a parecerem indispensáveis, pois a única coisa que levamos connosco é a nossa consciência, a nossa mente. Será que queremos manter a nossa mente iludida? Levar connosco sentimentos como fúria, inveja, ressentimentos e orgulho? O Apego que temos às coisas dá origem ao medo e não é esta amalgama de sentimentos que queremos junto a nós na altura da nossa hora. Todos ansiamos por uma morte calma e feliz e isso traduz-se num estado de espírito sem apego e com compaixão.Tal como numa viajem onde pulamos de quarto de hotel em quarto de hotel nos encontramos num estado de impermanência, não sentindo apego aos quartos de hotel onde ficamos hospedados pois não os vemos como nossos. Limitamos-nos a chegar e ficar o tempo necessário até à altura de partir, facto com o qual não temos problemas de maior. É esse estado de espírito que precisamos de cultivar no nosso dia-a-dia.

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3- O professor espiritual

Se querermos aprender alguma coisa bem, procuramos naturalmente um professor que tenha dominado esse assunto e assim sendo a mesma premissa deve aplicar-se à nossa vida espiritual. Para encontrar um caminho para fora do sofrimento devemos encontrar um guia que já o tenha conseguido e que nos ajude a encontrar um caminho para nós próprios. Assim, encontrar um professor espiritual é um aspecto fundamental para o caminho budista já que o que podemos aprender a partir dos livros, embora valioso não apresenta uma solução completa mas sim um valioso complemento.

Professores(Sua santidade o 14º Dalai Lama Tensin Gyatsotem vivido exilado

na Índia como chefe de estado e chefe espiritual do povo Tibetano

desde a ocupação da Índia em 1959. Sua Santidade, prémio Nobel

da paz é um dos mais reconhecidos e amados chefes espirituais e

viajou para mais de 46 países como defensor dos direitos humanos e

paz mundial).

No contexto de uma transformação espiritual que se traduza numa mudança de estado do coração e da mente precisamos encontrar apoio num professor experiente.Existem dez aspectos fundamentais que necessitamos encontrar num professor que nos permitam perceber que estamos em frente a alguém capaz de nos guiar e fazer avançar através dos

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ensinamentos.

1. Alguém que tenha uma mente disciplinada, o que se refere à qualidade da disciplina ética

2. Uma mente calma, que se refere à qualidade de alguém que dominou os aspectos da meditação e concentração.

3. Uma mente completamente calma, que se refere à qualidade da sabedoria de alguém que se conhece a si próprio.

4. Necessita de ter um conhecimento que excede os conhecimentos do próprio aluno/os seja qual for o assunto que esteja a ser abordado.

5. O professor deve apresentar vigor e entusiasmo por ensinar o aluno

6. Deve apresentar um vasto conhecimento e recursos dos quais poderá retirar os exemplos, metáforas e citações que julgue necessários para o exercício do ensino.

7. Uma profunda devoção à prática da compreensão do vazio inerente à existência ou estado de pura consciência.

8. O professor deve ser eloquente no modo de apresentar o Dharma com o fim de conseguir manter a motivação dos seus alunos

9. Provavelmente a qualidade mais importante, deve ter uma profunda compaixão pelos estudantes.

10. Deve apresentar a elasticidade necessária para manter o seu entusiasmo na rotina do ensino.

Assim, aqueles que procuram um professor espiritual devem

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familiarizar-se com estas qualidades e procura-las nos professores em quem desejem depositar a sua confiança.

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4 – Apresentação do caminho

O Budismo é um caminho abrangente que nos ensina a transformar a nossa mente de um estado de sofrimento para um estado de satisfação e alegria. O Budismo acomoda todo o tipo de disposição mental mas contém uma precisão desconcertante ao mostrar-nos o que deve ser tomado e o que deve ser evitado em termos da nossa prática estica e moral diária para connosco e para com os outros.À 25.000 anos um principie indiano, Siddhartha Gautama decidiu prescindir do seu reino e partir à procura de uma solução para o sofrimento humano, e devido à sua determinação para encontrar a liberdade suprema acabou por entender a natureza da mente humana.

Motivação(venerável Connie Miller)

O Buda trabalhou arduamente para atingir o resultado da iluminação (profunda alteração interior e realização pessoal) e o ênfase para essa iluminação foi a sua forte motivação para atingir a liberdade e com isso beneficiar todos os seres vivos tanto quanto possível.Já vimos anteriormente a importância da nossa própria motivação para atingir determinados objectivos. Assim, devemos estabelecer na nossa própria mente uma forte motivação para conseguir seguir este caminho com o fim de obter o mesmo tipo de iluminação tão depressa quanto possível com o fim de também nós podermos

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beneficiar todos os seres vivos.

Professores(Venerável George Churinoff é Americano e um monge ordenado na

tradição budista tibetana. Detém uma licenciatura MIT em física e

um Mestrado em estudos budistas pela universidade de Delphi tendo

estudado nas principais instituições tibetanas. È um dotado tradutor

de textos budistas e ensinado em centros FPMT pelo mundo nos

últimos 20 anos).

Os 12 feitos são apresentados como tendo sido as mesmas actividade realizadas por todos os milhares de Budas que apareceram neste mundo. Não quer dizer que tenham tido as mesma vidas, mas o formato geral das suas vidas terá sido semelhante.

Primeiro Feito: Descida de TushitaQuando Buda ensinava no paraíso de Tushita, que é um reino onde os devas (deuses) residem, o som da sua motivação prévia lembrou-o que era necessário tomar o nascimento no nosso mundo e ensinar o Dharma.Esta determinada acção de deixar Tushita para nascer teve uma significação especial. Foi destinada a ensinar-nos que alguém que alcançou a iluminação não é mais um escravo do seu próprio Karma e tem o controle das suas acções.

Segundo Feito: concepção no Ventre

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Buda foi concebido no ventre de sua mãe, Mayadevi (tomando a forma de um Elefante Branco que desce de Tushita e introduz-se no ventre imaculadamente). Pode parecer estranha este tipo de concepção, pois sendo um ser iluminado porque é que ele não desceu simplesmente do céu? Buda teve uma razão especial para nascer pela via normal. Se ele tivesse nascido milagrosamente de um lótus, por exemplo, teria sido muito impressionante e teria atraído muitas pessoas. Contudo, Buda pensava a longo prazo nos seus futuros discípulos que seriam inspirados pelo facto de Buda, que praticou e realizou a iluminação, ter começado como nós. Se ele tivesse nascido de outra forma que não humana eles teriam pensado que nenhum ser humano ordinário poderia conseguir a iluminação porque eles não tinham esses mesmos poderes miraculosos. Portanto Buda foi concebido naturalmente de modo a mostrar que os seres humanos podem realizar a realização mais alta. Ele fez isto para instalar a confiança nos seus futuros discípulos.

Terceiro Feito: Nascimento no jardim de Lumbini, No presente no NepalEmbora Buda vivesse um nascimento humano ordinário, houve ainda algo muito especial no seu nascimento. Buda saiu do corpo de sua mãe pelo seu lado direito.

Quarto Feito: Treinamento nas Artes, Ofícios e Ciências.Alguns anos depois quando Buda tinha crescido um pouco, ele teve acesso a estudos vários. Isto pode constituir um pouco de surpresa, porque supostamente Buda já deveria estar esclarecido

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acerca de todos os factos, contudo, houve novamente uma razão específica de fazer isto, que se prende com o contrariar várias concepções erradas. Um equívoco comum seria por exemplo pensar que Buda foi alguém que não fez mais do que meditar sem qualquer tipo de instrução adquirida.

Quinto Feito: Matrimônio a Yashodhara, o nascimento de seu filho Rahula e o gozo de realeza.Buda fez isto para que os seus futuros discípulos não pensassem que Buda ou uma pessoa esclarecida são incapazes de gostar de qualquer prazer ou sentir uma necessidade. Outra razão para Buda ter vivido uma vida sensual foi o facto de poder mostrar que embora Buda tivesse acesso a todos os prazeres, ele não foi satisfeito por esses prazeres porque ele entendeu que havia uma forma mais alta da felicidade a ser procurada.

Sexto Feito: Renúncia de Samsara, Deixando a sua vida como um PríncipeCerto dia Buda deu uma volta por fora dos corredores do palácio real onde viveu com altas paredes e quatro portas que enfrentam cada um dos pontos cardeais. Cada vez que passou por cada porta viu algo que lhe deu uma lição diferente na vida. A primeira vez ele saiu pela porta oriental do palácio e viu o sofrimento de um velho homem, descobrindo pela primeira vez que todas as pessoas experimentam a degeneração do corpo. De seguida ele deixou o palácio pela porta do Sul e viu uma pessoa doente e descobriu o sofrimento que todas as pessoas em algum momento sofrem.

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Na vez seguinte ele saiu pela porta ocidental e viu uma pessoa morta e descobriu a dor da morte que todas as pessoas devem sofrer. ele então entendeu que não importa a riqueza que se tem, não importa quão poderoso se é, não importa quanto prazer e gozo se tem, não há nada que se possa fazer para fugir do sofrimento da idade, doença e morte. Ele percebeu que não havia nenhum modo de evitar esses sofrimentos, que nem um rei não pode comprar a felicidade. Ninguém pode lutar e derrotar essas três espécies do sofrimento. Mas então Buda percebeu que talvez houvesse um caminho: a prática de um caminho espiritual.Buda entendeu isto quando ele deixou o palácio pela porta do norte e viu um monge a mendigar. Naquele momento ele sentiu o grande cansaço com o mundo e renunciou à vida palaciana com 29 anos de idade e deixou a sua vida real mundana à procura da verdade.

Sétimo Feito: Prática de Austeridades e Asceticismo, e logo Renúncia delas.Depois de sair de casa, ele conduziu uma vida de austeridades durante seis anos pelos bancos do rio Nirajana na Índia. Essas austeridades não levaram à sua iluminação, mas os anos passados fazer práticas ascéticas não foram desperdiçados porque ~essas práticas tiveram o objectivo específico de mostrar a futuros discípulos que Buda tinha posto à partida um grande esforço, perseverança e diligência na realização do objectivo da iluminação. Fazendo isto, Buda demonstrou que enquanto alguém é atado a dinheiro, comida, roupa, e todos os prazeres da vida, a dedicação completa à prática espiritual é impossível.

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No fim, Buda abandonou a prática de austeridades, aceitando uma taça de iogurte. Em contraste com as austeridades, Buda comeu esta comida nutritiva recuperando todo o seu esplendor físico e saúde. Ele repôs a sua roupa em e foi à árvore bodhi em Bodh Gaya. Buda abandonou as austeridades para mostrar aos seus futuros seguidores que o objecto principal de prática budista ou prática Dharmica é trabalhar com a mente. Temos de eliminar as negatividades na nossa mente e desenvolver as qualidades positivas de conhecimento e compreensão. Isto é muito mais importante do que existe fora de nós. Deste modo, as austeridades não são um objectivo em si pois sozinhas não nos, trazem a iluminação.

Oitavo Feito: Tomando O seu lugar no Vajrasana em Bodh Gaya, o assento em baixo da Árvore BodhiDepois abandonar a prática ascética, Buda foi à árvore bodhi e jurou de ficar em baixo desta árvore até que ele conseguisse a iluminação final. Fazendo isto, Buda pretendeu mostrar-nos que a prática verdadeira deve estar no meio dos dois extremos, nem práticar de demasiadas austeridades e ser demasiado indulgente. o Buda quis mostrar-nos que temos de evitar a extrema austeridade e demasiada indulgência: a prática verdadeira está ao meio.

Nono Feito: Vitória do líder de Maras, PapiyanQuando Buda se sentava em baixo da árvore bodhi, Papiyan, o líder de Maras, usou três formas relacionadas com emoções negativas relacionadas com ignorância, desejo, e agressão para tentar enganar Buda e leva-lo a desistir da sua perseguição da

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iluminação. Na primeira fraude, representando a ignorância, foi pedido a Buda para abandonar a sua meditação e o regresso imediato à monarquia porque o pai tinha morrido e o mau Devadatta tinha assumido a monarquia. Isto não disturbou a meditação do Buda. Então o Papiyan tentou criar um obstáculo que usando o desejo utilizando para isso as suas belas filhas que tentaram seduzir Buda.Quando isto não disturbou a meditação do Buda, Mara então usou o ódio e dirigiu-se a Buda rodeado de milhões de guerreiros horrivelmente assustadores que lançavam armas no corpo do Buda. Mas Buda não foi distraído ou enganado por esses três venenos. Ele permaneceu imerso em compaixão e bondade e por isso triunfou sobre esta exposição dos três venenos e foi capaz de realizar consequentemente a iluminação.

Décimo Feito: a Obtenção da Iluminação conseguiu meditando em baixo da árvore bodhi.Desde que Buda desenvolveu todas as qualidades da meditação às etapas máximas, ele foi capaz de conseguir a iluminação. Ele fez isto para demonstrar que também podemos conseguir a iluminação. Em verdade, um dos pontos principais da filosofia budista inteira deve mostrar-nos que o estado de Buda não é algo para ser encontrado fora de nós, mas algo que podemos realizar olhando dentro de nós. Do mesmo modo que Buda Shakyamuni conseguiu a iluminação, também podemos realizar a iluminação. E as qualidades que alcançaremos com a iluminação não serão diferentes daqueles Buda alcançou. Também, Buda conseguiu eliminar todas as emoções negativas, os mesmos que logo

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experimentamos.

Décimo primeiro Feito: Ensino o DharmaBuda virou a roda do dharma três vezes, simbolizando três modos diferentes de ensinamento. O primeiro é chamado o Hinayana, que se compõe dos ensinos em Quatro Verdades Nobres, meditação e desenvolvimento de uma compreensão na vacuidade de mesmo. O segundo é os ensinos Mahayana que implicam o estudo da vacuidade de fenómenos e prática do caminho bodhisattva. A terceira volta é o Vajrayana que implica a compreensão que tudo não é completamente vazio, mas há também a natureza de Buda que penetra todos os seres sensíveis.Quando Buda viveu na Índia, a população da Índia acreditava que por via de oferendas e rezas a um Deus, então esse Deus ficaria feliz e concederia a libertação e a felicidade. Eles também acreditavam que caso se procedesse contrariamente se despertaria a ira desse Deus e seriamos castigados.Esta ideia de um deus reactivo não pertence a uma era em particular, mas está integrada na nossa mecânica de desejo e agressão.No budismo, não esperamos que a nossa felicidade ou o nosso sofrimento venha de Buda. Não é “vendida” a ideia de que que se agradarmos Buda, ele nos trará a felicidade e que caso contrário, ele nos lançará no samsara ou algum reino mais baixo.Isto pode parecer ser uma contradição que o budista não acredita em suplicar um Deus. O Budista acredita que há deuses, há deidades que foram criadas pela mente, mas ao contrário de outras religiões não acredita que essas deidades tenham criado o

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universo. Essas deidades não podem afretar o seu Karma individual recompensando ou punindo. Em outras palavras, O Budista acredita em Deus mas não Deus como o criador. Por isso, a possibilidade de felicidade ou libertação que consegue está à altura inteiramente de si. Se praticarmos o caminho que leva à libertação, alcançaremos o estado de Buda. Mas se não o praticamos, então não podemos esperar conseguir a iluminação. A escolha é inteiramente nossa. Está nas nossas mãos se queremos encontrar a felicidade ou o sofrimento.

Décimo segundo Feito: Falecer com 83 anos de idade na cidade de Kushingara.Buda perguntou os seus estudantes se eles tinham alguma pergunta final e logo estando no seu lado, na postura do leão, ele faleceu. As suas palavras últimas foram, "Bhikshus, nunca se esqueça: a Decadência é inerente a todas as coisas compostas ou fenómenos compostos. Por isso, pratica diligentemente.

(Venerável Karin Valhalm - Nascida na Suécia a venerável Karin

Valhalm encontrou o Dharma no mosteiro de Kopan em 1974 onde

foi ordenada. Por mais de vinte anos tem inspirado milhares de

ocidentais com os seus ensinamentos em Kopan).

Lamrim é um termo muito comum no Budismo, sendo que lam

significa caminho e rim gradual. Passo a passo. Este modelo de

prática é muito específico do modo modo Budista tibetano do

28 - Descobrindo o Budismo

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caminho. O Lamrim contém todos os ensinamentos do Buda no

Sutra.Existem dois caminhos, o Sutra e o Tantra. O caminho do Buda em Sutra é dividido na atitude hinayana e mahayana. A principal diferença entre uma e outra encontra-se principalmente na atitude, no propósito e objectivo. Na Atitude hinayana motiva cada um para a sua própria libertação ao passo que na atitude mahayana procura-se a libertação de todos os seres vivos, tendo assim um objectivo mais universal.Para isso o Budista treina-se na renúncia, bodhisattva e no modo correcto de ver as coisas (vista correcta). Claro que para se atingir a iluminação também temos que pratica o tantra. É importante salientar que apesar da diferença nas atitudes estas práticas andam

sempre em conjunto como parte do lamrim.

(Venerável Robina Courtin – Uma Australiana que tem praticado

nos últimos 26 anos como monja na tradição Budista Tibetana. É

bem conhecida no mundo pela sua dinâmica de ensinamentos e

conhecimento profundos. Tem sido directora editorial de publicações

de sabedoria e da Mandala, uma revista Budista. Hoje em dia

Lidera um projecto de providencia suporte para a prática do

Budismo por parte de prisioneiros retidos em prisões nos Estados

Unidos e Austrália)

Os três estados ou “scopes” (alcance do praticante).O Primeiro e Segundo “Scopes” representam os ensinamentos

29 - Descobrindo o Budismo

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Budistas que conhecemos como a parte hinayana do caminho. O terceiro “Scope” representa assim a parte mahayana. Os três scopes juntos representam todas as práticas da parte mahayana porque é sempre necessário realizar as duas primeiras partes no sentido de alcançar a terceira, pois se formos um praticante de mahayana não fazemos só o terceiro”scope” que é a compaixão. A vertente da sabedoria está presente nos dois primeiros “scopes”, a parte hinayana do caminho.A maneira como trabalhamos a parte da sabedoria é a maneira como nos trabalhamos e transformamos num ser diferente e qualificado no trabalho de ajudar os outros.Somos realmente um Buda em potência e se esta é a nossa verdadeira natureza então precisamos de alguém que nos guie e nos mostre como se faz.Devemos considerar o valor desta vida que de que desfrutamos agora e de não a tomar como garantida, a fim de aproveitar o mais possível, de não a desperdiçar.Da i a necessidade de meditar não só na impermanência em si mas da impermanência da nossa pessoa em particular que deverá nos incentivar ainda mais a não desperdiçar a vida de que dispomos agora, de que a morte é definitiva e o nosso tempo incerto. A única coisa que nos pode beneficiar por altura da morte é a natureza virtuosa da nossa consciência.Isto leva-nos à próxima contemplação que passa pela probabilidade lógica de sofrer novamente em vidas futuras dada a continuidade da nossa consciência, dado o facto de estarmos no samsara, sofrendo ilusões, desilusões e portanto sofrimento, factos pelos quais nascemos outra e outra vez.

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Tomar refúgio no Buda, que viveu á 2.500 anos e nos apresentou o caminho, o Dharma em si que não é mais do que o remédio para a cura da mente em si, e para nos transformar-mos de modo a evitar o sofrimento no futuro será então um passo óbvio. Isto leva-nos à essência da prática. Aprender o que fazer e o que evitar fazer simplesmente para evitar sofrer e obter o que se pretende que é o bem estar, pois o que está implícito no Karma é que somos literalmente responsáveis pela nossa felicidade e sofrimento. No segundo “scope” olhamos mais profundamente para o nosso interior e observamos como mesmo esta vida está em consonância com a natureza do sofrimento. Precisamos desenvolver o sentido de urgência em despertar a nossa mente. Uma maneira de analisar este “scope” é interpreta-lo no contexto das 4 nobres verdades. Isto vai preparar-nos para praticar o terceiro “scope” que será o que fazemos em relação aos outros, desenvolvendo o nosso amor e compaixão.Amor é o desejo que os outros sejam felizes e a compaixão pode ser entendida na nossa vontade de que os outros não sofram.Neste momento acarinhamos os outros pelos motivos errados, gostamos muito de determinadas pessoas porque queremos que se mantenham nossas amigas para que nos sintamos felizes com isso, o nossos sentimentos pelos outros estão cheios de apegos, tal como a nossa compaixão que é igualmente baseada em apego às nossas próprias necessidades. Desenvolver relação desapegadas é muito difícil na nossa cultura ocidental, porque o nosso ego é a referência. Alcançaremos um estado de Buda quando conseguirmos completar os três “scopes” que não são mais do que a vertente da sabedoria e a vertente da compaixão completas.

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Page 32: Descobrindo o Budismo

5-Como meditar

A meditação é um passo essencial para o desenvolvimento de um percurso para o esclarecimento. Até durante o dia a dia nas nossas vidas podemos notar que uma maior concentração permite uma maior realização das tarefas que temos em mãos.Sem uma mente calma, somos como uma luz de vela ao vento ou como a superfície de um lago fustigada pelo vento. Ficamos vulneráveis a influências negativas e sem muito poder para progredir.Todos os Mestres Budistas confiaram na meditação para alcançarem realizações diversas e se olharmos para os benefícios é fácil entender porquê, sentimos mais felicidade, com maior equilíbrio e mais concentração. Mas a meditação é mais do que uma maneira para sentirmos felicidade e relaxados, é um método provado para encontrarmos a verdadeira natureza da realidade e das nossas mentes.

Motivação(venerável Connie Miller)

Os resultados benéficos de qualquer acção possível que realizemos podem ser enormes ou limitados dependendo da nossa motivação e isto é tanto verdade para a meditação como para qualquer outra actividade. Se por exemplo a nossa motivação está centrada nas nossas próprias preocupações e necessidades de um modo ego-centrista então os resultados serão bastante limitados. Se por outro lado nos focarmos em ser melhores pessoas empenhados em trazer

32 - Descobrindo o Budismo

Page 33: Descobrindo o Budismo

paz e felicidade aos que se encontram à nossa volta então os resultados provenientes deste tipo de meditação serão vastos.

Professores(Sua santidade o 14º Dalai Lama Tensin Gyatsotem vivido exilado

na Índia como chefe de estado e chefe espiritual do povo Tibetano

desde a ocupação da Índia em 1959. Sua Santidade, prémio Nobel

da paz é um dos mais reconhecidos e amados chefes espirituais e

viajou para mais de 46 países como defensor dos direitos humanos e

paz mundial).

O que se entende por meditação? Meditação é uma disciplina em que se cultiva uma familiaridade com determinado objecto escolhido para a meditação. Geralmente o problema que se apresenta normalmente nas nossas vidas diárias passa por deixarmos que a nossa mente nos domine os pensamentos e estes por sua vez ficam sobre a influência de emoções negativas e esta mecânica é a principal influência dos nossos estados de mente perpetuando o ciclo de confusão e sofrimento.O que se pretende com a nossa prática espiritual é reverter este ciclo para que gradualmente nos colocarmos em uma posição que nos permita tomar controlo da actividade da nossa mente e protege-la da influência negativa destes pensamentos e emoções.O modo como fazemos isto é praticando uma disciplina constante de cultivo desta familiaridade com o objecto escolhido com o objectivo de ganhar alguma estabilidade na mente. O Objecto em questão deverá transmitir qualidades positivas sobre o o qual

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dirigimos os nossos pensamentos e o tornamos familiar.Existem duas formas de aproximação à meditação, sendo uma delas um método analítico e o outro um método de colocação. De certo modo estamos todos familiarizados com a prática da meditação analítica e de colocação e assim todos os praticantes espirituais tentam aplicar este mecanismo sobre o qual estamos todos familiarizados numa área totalmente nova que é a espiritual, melhorando as nossas qualidades positivas.

(Venerável Rene Feusi - É um monge ordenado na tradição Budista

tibetana com 20 anos de experiência ensinando e praticando o

Dharma. Natural de Genebra passou vários anos a estudar mo

mosteiro Nalanda no Sul de França assim como em retiros

espirituais através da Europa Índia e Nepal. O venerável Rene é

muito dotado na orientação de meditações manutenção da calma e

vacuidade).

Uma mente que permita controlar os nossos pensamentos e emoções deve ser incrível, mesmo sem falar em realização espiritual, só o facto de ser capaz de dizer “para” ao pensamento quando queremos ou à emoção, ter essa capacidade de ser dono da própria mente. Poder meditar continuamente sobre determinado assunto sem sermos interrompidos constantemente pelas divagações da mente. A mesma coisa é valida se por exemplo quisermos meditar sobre a natureza das coisas, acerca de como elas realmente existem temos de ser capazes de seguir uma

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corrente de pensamento até ao fim e de chegar a uma conclusão e mantermos uma conexão com ela. Temos de ter uma mente concentrada no assunto e seguir a análise sem sermos distraídos, e uma vez chegados a uma conclusão, poder olhar para ela e ver o que implica, para podermos mudar a nossa maneira de ver o mundo.Em vez de andarmos constantemente para cima e para baixo ao sabor das emoções, muito contentes quando as coisas correm bem e deprimidos quando estas correm mal, com a concentração a nossa mente torna-se muito mais nivelada o que se traduz em tranquilidade e paz que é muito agradável. É por isso que o esforço colocado na concentração é tão importante. E podemos fazê-lo na nossa vida de todos os dias sem ter para isso de nos retirarmos para um loca isolado. Basta saber como fazê-lo e como integra-lo na vida diária. Significa sentir menos desejo e sentir alegria com a situação que temos. O primeiro passo passa por desejar fazer essa meditação admitindo as suas vantagens e depois desenvolver a determinação necessária para a praticar até conseguirmos não perder o nosso objecto durante cada vez mais tempo, seguindo-se naturalmente uma etapa em que conseguimos a atenção plena da nossa mente não perdendo o foco nesse objecto e uma vez conseguido esse objectivo, usar a introspecção para avaliar a qualidade da nossa concentração.

Os nove estados da concentraçãoEstas nove etapas são um mapa do processo meditativo. As quatro primeiras etapas, colocação contínua, colocação repetida, e

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colocação próxima tem a ver com o desenvolvimento da estabilidade. As etapas cinco e a seis remetem-nos para o desenvolvimento da clareza mental. E as três últimas etapas, pacificação completa, um ponto e equanimidade (tranquilidade de espírito) tem a ver com o desenvolvimento da força interior.

1-ColocaçãoColocar a nossa mente na respiração é a primeira coisa que fazemos na meditação. Este momento começa quando decidimos libertar a mente da sua constante deambulação por pensamentos e imaginação resultante de sonhar acordado. Pegamos assim na nossa mente ocupada e colocamo-la nos diferentes aspectos e sensações que resultam do acto de respirar.Para que este processo seja bem sucedido temos que começar por reconhecer que estamos a inicial um processo de meditativo. “estou a colocar a minha consciência na respiração”. Neste processo o nosso discurso interno é reduzido e a mente que inicialmente está espalhada em diversas actividades é reunida, focada no objecto da meditação. Para os meditadores iniciados esta primeira etapa é onde se aprende como balançar a concentração na respiração, reconhecer pensamentos intrusivos e manter a postura. Assim no início de cada sessão reconhecemos o inicio da prática o que é uma etapa muito importante uma vez que estabelece a nossa atitude. Cada vez que reconhecemos um pensamento intrusivo e forçamos a mente a voltar ao nosso objecto de foco, estamos a aprender a colocação. Quanto mais conseguirmos reunir a nossa atenção, mais forte a nossa mente se torna, mais forte a nossa experiência se torna e mais fortes são os

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resultados. Sabemos que somos capazes de colocar a nossa mente a propriamente quando podemos manter o nosso foco na respiração por uns vinte e um ciclos sem a nossa mente divagar.

2- Colocação continuaColocar a nossa mente na respiração regularmente é fácil agora. Experimentamos a sensação de estar continuamente em colocação na respiração. Quando somos distraídos, conseguimos utilizar a colocação para trazer de volta a nossa atenção à respiração. Nesta etapa ganhamos confiança nos motivos que nos levaram a meditar, pois sabemos que nos irá trazer uma sensação de paz. Estamos predispostos a deixar os pensamentos e fantasias de lado durante o período da meditação pois reconhecemos os benefícios que dai advém. Quando conseguimos manter o nosso foco de atenção durante um período de 108 ciclos de respiração, podendo momentaneamente não estar completamente focados nem distraídos, então começamos a abordar a terceira etapa que é conhecida como Colocação repetida.

3- Colocação repetidaA palavra Tibetana desta etapa é len, que significa recuperar,

reunir, devolver. Aprendemos como colocar a nossa mente e como continuar colocando a nossa mente, mas ocasionalmente um pensamento intrusivo ainda pode aparecer. nas duas primeiras etapas isto acontece incessantemente, ao passo que na terceira etapa acontece só ocasionalmente. A nossa atenção está a desenvolver-se na estabilidade.Agora somos capazes de concentrar-nos na nossa respiração, em

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estar presente. Quando a mente parte, é usualmente para perseguir pequena fantasias, desde comida a melhores condições atmosféricas a aventuras românticas. Isto é a alegria: estamos mantendo a nossa mente tão focada, estamos tão concentrados na respiração que a mente parte de repente. Durante este progresso, a velocidade e eficiência com a qual recuperamos a nossa mente aumenta. No fim desta etapa alcançamos um dos objectivos da shamatha: a estabilidade. Somos capazes de permanecer na respiração sem ser distraídos uma única vez. A nossa consciência é tão astuta que podemos apanhar os pensamentos antes que que eles ocorram.No Tibete, esta etapa é comparada à imagem de um abutre que voa alto no céu por cima de um animal morto. Este pássaro pode planar um pouco mais à esquerda ou à direita, mas ele nunca perde de vista a comida. Do mesmo modo as nossas mentes podem andar um pouco à deriva, mas nunca sem perder o foco completo da respiração. Isto é a estabilidade. Realizamo-la suavemente e precisamente por meio da repetição, coerência, visão, atitude, intenção, postura própria, e bom ambiente para a prática.

4- Colocação próximaA quarta etapa, conhecida como colocação fechada, é marcada pela condição de não-distracção. Estamos sempre perto da respiração. Estamos mais relaxados. A nossa confiança é aumentada. Agora estamos mais preocupados com a qualidade da nossa meditação, a textura, a experiência. Como podemos tornar as nossas mentes mais forte, mais vibrantes? Esta é a nova prioridade.

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No Tibete somos ensinados que na quarta etapa podemos ser iludidos ao ponto de pensar que realizamos a iluminação ou a alta realização, pois as sensações de mente são muito fortes e estáveis, havendo alegria e tranquilidade presentes. mas se ficarmos demasiado presos à apreciação dessas sensações ficaremos demasiado relaxados e podemos comprometer o alcance das fases seguintes. A nossa mente é estável mas não é clara. O pássaro não pode pousar na carne, limitando-se a voar em volta dela. Precisamos de utilizar a consciência como pedra de afiar e focar ainda mais a nossa atenção.

5 – DomesticaçãoNa quinta etapa somos capazes de apertar mais a nossa meditação trazendo mais claridade. A domesticação é a experiência de lesu rungwa, sendo capaz de fazer a nossa mente trabalhar. Uma metáfora tradicional para o que experimentamos nesta etapa é o prazer de uma abelha que recolhe néctar de uma flor. A meditação sabe bem. É como um alívio depois de um momento de pressão.

6- PacificaçãoA sexta etapa é conhecida como pacificação. Ainda estamos a trabalhar com uma mente que é às vezes mais apertada e outras mais solta, mas há uma claridade tremenda. Embora ainda tenhamos de fazer muitos pequenos ajustes, não estamos frenéticos, como poderíamos ter estado nas primeiras etapas. Começamos a experimentar não só a harmonia natural de mente, mas também a sua força inerente. Começamos a ver as possibilidades do que podemos realizar com a nossa mente.

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7- Pacificação completaA batalha pode estar próxima do fim, mas há ainda alguns pequenos adversários que aparecem sobre a forma de pensamentos subtis, na sua maior parte relacionadas com prazer. Podemos ficar ligeiramente agarrados à sensação boa da meditação alcançado este ponto. Há poucos ruídos de dualidade mas não podemos simplesmente ignora-los. Na pacificação completa, não afastamos os pensamentos como fizemos na etapa quatro. Agora seduzimo-los, como neve que cai no fogo. A nossa claridade da mente está tão forte que quando os pensamentos e as emoções encontram o este calor eles naturalmente se dissolvem.

8- Um PontoNa oitava etapa, os restos do nosso discurso interno evaporaram-se. Estamos completamente acordados, claros, e conhecedores do nosso estado, porque não estamos mais distraídos. A nossa meditação tem os atributos da perfeição, que é o que alcançamos na nona etapa. A única diferença é que no início da meditação ainda temos de fazer um leve esforço para apontar a nossa mente na direcção da respiração.

9- Equanimidade(Ânimo inalterável, sempre igual, tanto na adversidade como na

prosperidade).

Ocupamos-nos da respiração de modo fácil e espontâneo. A nossa mente está forte, estável, clara, e jovial. Não há nenhum traço de pensamentos. Estamos na união com o momento presente. A

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nossa mente é ao mesmo tempo pacífica e poderosa, como uma montanha. Há um sentido da equanimidade.

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6-Introdução ao tantra

Como referido anteriormente os ensinamentos do Buda são vastos e tem tem um grande alcance nas suas implicações. Entre os mais profundos estão os ensinamentos relativos ao tantra baseado no amor, compaixão e uma correcta percepção da realidade. Se estamos cansados da realidade tal como a conhecemos e corajosamente determinados a nos livrarmos do Samsara para o bem de todos os seres, então a prática do tantra pode ser a solução

Motivação(venerável Connie Miller)

O tantra está entre os ensinamentos mais esotéricos do Buda. Como já referido anteriormente, uma motivação altruísta é especialmente importante no caso destes ensinamentos. De facto tal como na história que já todos ouvimos em criança em que só o herói com o coração mais puro pode salvar a princesa também só o praticante com a motivação mais altruísta poderá ser bem sucedido na prática do tantra.Buda disse que a natureza fundamental dos nossos corações e mente é a pureza e que só temos que a procurar através dos véus da ignorancia.

Professores(lama Thubten Yeshe nasceu no Tibete e foi educado na

universidade monástica em Lhasa. Em 1959 escapou à opressão

chinesa e terá fundado o mosteiro Kopan no Nepal com o seu

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Page 43: Descobrindo o Budismo

discípulo chefe Lama Zopa Rinpoche onde ensinaram Budismo aos

ocidentais. Fundara também a associação para a preservação da

tradição mahayana e viajaram pelo mundo dando a conhecer o

Dharma. Ajudou milhares de alunos praticantes e faleceu em 1984).

Todos podemos corrigir as nossas atitudes e as nossas acções. Não pensem que a minha atitude e e acção actuais são o meu karma anterior. Não posso fazer nada que seja má interpretação do Karma. Não pensem que são desprovidos de poder pois o poder existe em nós. Nós seres humanos temos o poder de mudar o nosso estilo de vida, a nossa atitude e os nossos hábitos. Essa capacidade podem chama-la capacidade do Buda, capacidade de Deus, ou o que quer que quiserem chama-la. É por isso que o Budismo é simples, um tipo de ensino universal que é perceptível por todas as pessoas religiosas e não religiosas. Essa beleza do ser humano ter um instrumento para transformar qualquer energia numa coisa diferente por isso que o Budismo Tibetano utiliza tanto método acerca de como transformar os nossos apegos e desejos no caminho para a libertação. Um ponto de vista Budista diz-nos que não existe um problema humano que não possa ser travado pelo próprio ser humano. Devemos entender e encorajar o facto de que somos capazes de travar os nossos problemas e lidar com os nossos problemas, sendo essa atitude essencial para o nosso crescimento e maturidade. Na maioria das vezes falta-nos o entendimento necessário acerca da nossa capacidade, e colocamos-nos para baixo nessa percepção.

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(Venerável Thubten Dhondrub é um monge Australiano com mais

de 26 anos de experiência na prática de Budismo Tibetano. Ensinou

em centros da Fundação para a preservação da tradição Mahayana

em mais de 14 países. É bem conhecido pelo seu estilo de ensino

acessível, conhecimento extenso, coração sincero e humildade

tangível).

Na tradição Budista Tibetana dá-se bastante ênfase à prática do tantra como um modo rápido de alcançar a iluminação. Todo o Budismo Tibetano é influenciado pela visão tântrica sendo que nesta o professor qualificado personifica a tripla gema (Buda, Dharma e Sangha). Deste ponto de vista é crucial encontrar o professor certo para a alcançar o objectivo da libertação. Precisamos alguém que saiba não só as palavras do Dharma mas também a sua própria essência. Para um Guru ensinar o caminho para a iluminação por via do tantra necessita de uma série de qualidades extra.

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7- As três Jóias

Quando mos encontramos desconfortáveis ou alguma coisa desagradável acontece, procuramos normalmente refúgio em alguma coisa. Normalmente isso acontece com a comida, álcool, drogas sexo, poder, dinheiro ou outra coisa do género mas normalmente nenhuma destas coisas nos dá a satisfação que procuramos durante muito tempo. Quando compreendemos finalmente que não conseguimos encontrar essa satisfação no samsara o desejo de encontrar um refugio verdadeiro torna-se forte.No Budismo tomamos refúgio nas três jóias, compostas pelo Buda, Dharma e Sangha. O Buda é como um médico que compreende as nossas doenças, os seus ensinamentos, o Dharma funciona como os medicamentos que ele receita e a Sangha funciona como a comunidade espiritual que nos ajuda a tomar esses medicamentos.

Professores(Venerável Thubten Dhondrub é um monge Australiano com mais

de 26 anos de experiência na prática de Budismo Tibetano. Ensinou

em centros da Fundação para a preservação da tradição Mahayana

em mais de 14 países. É bem conhecido pelo seu estilo de ensino

acessível, conhecimento extenso, coração sincero e humildade

tangível).

Podemos achar que tomar refúgio não passa de uma prática ligada exclusivamente ao Budismo mas na prática temo-lo feito a vida

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toda. Na realidade tendemos a procurar refúgio, consolo em alguma coisa quando notamos que estamos a sofrer. Quando somos muito novos o primeiro refúgio que conhecemos é a nossa Mãe ou o nosso Pai e eles constituem um refúgio maravilhoso enquanto somos crianças pois parecem ter uma solução para todos os nossos problemas ou pelo menos para a maioria deles.Ao envelhecermos, os nossos pais parecem deixar de conseguir resolver todas as nossas aflições e tendemos a procurar outros refúgios como o dinheiro no qual muitas pessoas depositam toda a confiança para resolver os seus problemas e alcançarmos felicidade, sobretudo na nossa sociedade este parece ser o principal refúgio. Costumava ser a religião, qualquer tipo de religião e agora é o dinheiro. A comida e o sexo são outro tipo muito popular de refúgio nos quais costumamos depositar a ideia de que nos vão trazer felicidade e proteger. Mais tarde apercebemos-nos por via da experiência que todas estas coisas em que confiamos não são a solução completa para os nossos receios, são impermanentes enquanto refúgio. Mesmo todas estas formas de refúgio mundanas combinadas não funcionam, não param o nosso sofrimento e sobretudo as causas do mesmo.Assim, ao reconhecermos que sofremos e quais as causas do nosso sofrimento admitimos que todo o sofrimento existe por causa da nossa ignorância, que se manifesta na percepção errada que temos de nós mesmos e do modo como os fenómenos à nossa volta acontecem. Este veneno na nossa mente, é como a pior das doenças que dá origem a todas as outras doenças do foro emocional. A única razão pela qual experimentamos a doença e a morte tal como a conhecemos deve-se ao Karma que construímos

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Page 47: Descobrindo o Budismo

através das nossas acções passadas e presentes. O Karma por sua vez aparece devido às ilusões que construímos para nós e esta tem a sua génese na ignorância. Por isso temos que encontrar o médico perfeito. Alguém que tenha se curado a si mesmo e entenda a natureza da nossa doença e esse médico é o Buda.O seu remédio perfeito são os seus ensinamentos, o Dharma.A Sangha, os seguidores do Buda e do Dharma, são como as enfermeiras que nos orientam no modo e frequência da administração desses medicamentos. Como pessoas normais deste mundo, ganhamos o hábito de procurarmos a nossa felicidade fora de nós próprios em elementos externos que desejamos desmesuradamente e o mesmo acontece quando necessitamos de encontrar culpados ou culpa para as nossas desilusões, e angustias ao apontar o dedo sempre a uma causa externa.Quando tomamos refúgio passamos a direccionar mais as coisas para o nosso interior, reconhecendo que a fonte para o nosso sofrimento se encontra dentro de nós e que o mesmo sucede com a causa da nossa felicidade. Assim que interiorizamos este conceito num determinado nível então tomamos refúgio, tornamos-nos num ser mais interior, reconhecendo que tudo, bom ou mau está dentro de nós e que é preciso realizar um trabalho de dentro para fora cultivando a nossa mente. Ao nos tornarmos em seres mais interiores, tornamos-nos praticantes da lei da causa/efeito, e percebemos que essa é a chave para tudo.

(Sua santidade o 14º Dalai Lama Tensin Gyatso tem vivido exilado

47 - Descobrindo o Budismo

Page 48: Descobrindo o Budismo

na Índia como chefe de estado e chefe espiritual do povo Tibetano

desde a ocupação da Índia em 1959. Sua Santidade, prémio Nobel

da paz é um dos mais reconhecidos e amados chefes espirituais e

viajou para mais de 46 países como defensor dos direitos humanos e

paz mundial).

Habitualmente dizemos que se há uma ameaça eminente devemos procurar refúgio em algum sitio. De modo semelhante em termos de prática espiritual procura-se refúgio nas três jóias da possibilidade de um renascimento desfavorável. Quando falamos de refugio no contexto budista devemos entender que existem vários níveis de refúgio e diferentes tipos de refúgio. Por exemplo a mais alta forma de refúgio será o do praticante de Mahayana onde o refúgio que se procura é o da ameaça de ser apanhado no ciclo da existência no samsara por um lado e do nirvana isolado por outro. Procura-se um estado de iluminação para o bem de todos os seres sensíveis. Procura-se refúgio do sofrimento e emoções negativas, para tudo isto procura-se refúgio no Buda Dharma e Sangha que personifica a transcendência do ciclo de existência. Existe um outro nível de refúgio onde um praticante iniciado procura refúgio somente da ameaça de renascer num plano mais baixo da existência.Quando pensamos num plano de existência inferior não devemos pensar num lugar distante e no futuro, pois o que nos separa do momento presente e de tal possibilidade de renascer num plano inferior de existência passa simplesmente pela continuação do acto de inspirar e expirar sendo que assim que cessar a próxima vida estará logo ali.

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(Venerável Karin Valhalm - Nascida na Suécia a venerável Karin

Valhalm encontrou o Dharma no mosteiro de Kopan em 1974 onde

foi ordenada. Por mais de vinte anos tem inspirado milhares de

ocidentais com os seus ensinamentos em Kopan).

O desejo de praticar o Dharma leva à prática de procurar refúgio. O primeiro conselho do Buda quando procuramos refúgio é observarmos com a totalidade da mente o nosso Karma, levar-mos em consideração as nossas acções presentes e futuras para que não construirmos acções negativas de modo a nascer num dos patamares mais baixos da existência. A nossa mente é a causa do sofrimento ou felicidade, e assim muito mais importante proteger a nossa mente, ou o nosso estado de mente (espírito) do que as nossas posses ou o nosso corpo. O propósito da prática do Dharma tem a ver com a extensão da compaixão pelos outros, gerando um estado de refugio na nossa mente acordando-a com o objectivo de ajudar os outros, e para esse objectivo confio no Buda no Dharma e Sangha para me ajudar a desenvolver essas qualidades em mim mesmo. Podemos obter diferentes significados para o refúgio, um interior e outro exterior. Quando dizemos vamos para refugio podemos também dizer que o tomamos na nossa sabedoria interior mas sendo esta limitada e com necessidade de desenvolvimento temos que confiar em outros com maior sabedoria que nós próprios. Por isso procuramos confiamos no Buda o que significa a procura de um refúgio externo (a quem o

49 - Descobrindo o Budismo

Page 50: Descobrindo o Budismo

procura) para desenvolver o seu próprio refúgio interior.Procuramos refúgio no Dharma, que é a sabedoria em si mesmo vinda da mente do Buda, os seus ensinamentos, o entendimento da verdade relativa absoluta, a relação causa efeito que é o Karma, com o objectivo de ganharmos sabedoria nós próprios.Depois temos a Sangha porque aqui encontramos a ajuda para nos mantermos e compreendermos o caminho. Este estado mente focado no refúgio e compaixão bloqueia a lei do renascimento sendo assim o melhor estado de mente para nós pessoas vulgares possuirmos na altura da nossa morte. Estar num estado de mente de refúgio.

50 - Descobrindo o Budismo

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8-Sobre o Karma

Todos queremos ser felizes. Quando acreditamos que o nosso destino está nas mãos de Deus ou que as coisas acontecem de forma aleatória sentimos que não temos controle sobre as nossas vidas. No Budismo o reconhecimento da lei de causa e efeito também conhecido como Karma é a chave fundamental para entendermos como construímos o nosso mundo com acções do corpo, discurso e mente. Quando entendemos o Karma entendemos também que somos responsáveis por tudo o que acontece na nossa vida. É reconfortante saber que o nosso futuro está literalmente nas nossas mãos.

Professores(Venerável Robina Courtin – Uma Australiana que tem praticado

nos últimos 26 anos como monja na tradição Budista Tibetana. É

bem conhecida no mundo pela sua dinâmica de ensinamentos e

conhecimento profundos. Tem sido directora editorial de publicações

de sabedoria e da Mandala, uma revista Budista. Hoje em dia

Lidera um projecto de providencia suporte para a prática do

Budismo por parte de prisioneiros retidos em prisões nos Estados

Unidos e Austrália).

De onde vimos? O cristianismo entre outras religiões afirmam que vimos de Deus, a ciência diz que vimos dos nossos pais e o Budismo afirma que vimos de momentos anteriores da nossa própria consciência e sobre este conceito recai toda a ideia do

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Karma da causa e efeito. Se queremos descobrir a resposta acerca de quem somos, porque é que somos, quem me fez, de onde venho, porque é que a terra é como é, de onde vem todo o nosso sofrimento. A resposta que o Budismo nos dá é o Karma. Se fizermos a pergunta – Quem me fez como sou? O Buda responde muito directamente que fomos nós próprios que nos fizemos. Esta consciência que temos, não é física, não vem de deus nem de Buda, não vem dos nossos pais (apesar do corpo ter vindo, não há dúvidas acerca disso, herdamos as nossas características físicas dos nossos pais e a mecânica da genética encarrega-se de nos atribuir detalhes que são só nossos). Mas quem somos, as características da nossa personalidade, o nosso amor, ódio, maneira de pensar, ciúmes etc não vieram dos nossos pais. Em termos Budistas tudo aquilo que dizemos, fazemos ou pensamos é causa para o Karma e efeito do Karma. São o processo de constituição do Karma em si. Tudo o que semeamos colhemos mais tarde.

Os 4 princípios do Karma

1- É definido por nós2- Aumenta3- Temos que praticar a acção para experimentar o resultado4- Não desaparece. Para modifica-lo temos que o purificar

(Venerável Ribur Rinpoche nasceu no Tibete em 1923. Com a idade

de cinco anos foi reconhecido como o 13º Dalai Lama na sexta

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encarnação de Sera-mae Ribur Rinpoche. Entrou na universidade

monástica Sera em Lhasa e tornou-se um Geshe aos 24 anos.

Meditou e ensinou o Dharma até 1959 altura em que sofreu a

opressão chinesa por 21 anos. Em 1980 foi-lhe permitido efectuar

pequenas actividades religiosas e ajudou a construir um novo Stupa

para Pabongka Rinpoche em Sera. Rinpoche ensina nos Estados

Unidos, Europa e Ásia).

Pelas suas características o Karma diz-nos que para cada acção que é criada, esta contém em si um efeito. Este efeito é acumulativo na medida em que em termos de resultados será sempre maior que a acção em si. Uma acção que não é feita, não pode ser experimentada sendo que para existir um resultado tem que existir a acção.É por isto que não se deve deixar passar um dia sem o exercício da purificação das acções negativas, dos Karmas negativos que se tenham acumulado durante um determinado período de tempo. Estas são as razões pelo que se aconselha que à noite se faça uma revisão do que foi feito durante o dia, reconhecendo as acções negativas assim como as positivas, gerando uma forte determinação para que sejamos capazes de não repetir essas acções negativas e assim não contribuir par ao processo de acumulação de Karma negativo.De modo sintetizado o que deverá ser feito tanto tempo quanto possível é a prática da atenção das “três portas”, corpo, discurso e mente. Quando estamos sozinhos devemos praticar a atenção plena ao que se passa na nossa mente em cada momento para poder perceber se esta está a divagar para pensamentos negativos e

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poder trazê-la para o momento presente e interromper o processo de exploração de pensamentos negativos. Quando estamos com outras pessoas devemos aplicar o processo de atenção plena ao nosso discurso.

Os 4 poderes opostos

1- Refúgio2- remorso3- aplicação de antídotos4- Determinação para não repetir

(Venerável Thubten Dhondrub é um monge Australiano com mais

de 26 anos de experiência na prática de Budismo Tibetano. Ensinou

em centros da Fundação para a preservação da tradição Mahayana

em mais de 14 países. É bem conhecido pelo seu estilo de ensino

acessível, conhecimento extenso, coração sincero e humildade

tangível).

Se investigarmos, qual é o ensinamento essencial do Buda? Alguns dirão que é o ensinamento sobre a compaixão, outros estarão convictos que se trata o ensinamento sobre a verdadeira natureza do fenómeno do ser, sobre a sabedoria. A opinião do venerável Thubten Dhondrub é a de que o ensinamento mais importante é o da lei da causa e efeito. Acerca do Karma. É este na sua opinião o ensinamento mais importante do Buda porque contém todos os

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outros ensinamentos. Entender a lei da causa e efeito e embebe-la nas nossas vidas é a melhor maneira de desenvolver a atitude certa perante os outros e a vida, o amor, compaixão e simpatia. Praticar a lei da causalidade entendendo o modo como funciona e dirigindo os nossos esforços para as acções e pensamento positivos é desenvolver em paralelo uma atitude inteligente. Desenvolvemos igualmente a renúncia ao ter em conta a lei da causa e efeito nas nossas acções diárias momento a momento. Praticar a lei da causa e efeito é a chave para desenvolver as qualidades para o caminho da libertação e consciência total. Esse é o refúgio fundamental compreender a lei da causa e efeito, desenvolver fé na sua verdade, usar a a atenção plena nessa causalidade durante o decurso do nosso dia a dia de modo a absorve-la. Estar consciente de de que ao fazer seja que for, essa coisa ou é virtuosa ou não, vai produzir sofrimento agora e no futuro ou esta acção do corpo, discurso e mente vai produzir felicidade agora e no futuro ou não. Necessitamos desse tipo de atenção plena misturada com entendimento e fé na lei da causalidade. E quanto mais forte for este laço, mais forte será a motivação interior para não encetar acções negativas do corpo (acções) Discurso (palavras) ou mente (intenções).

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9-Estabelecendo uma prática diária

Roma não se fez em um dia. Podemos dizer a mesma coisa do esclarecimento espiritual. Este não acontece em um dia mas sim como resultado de um esforço diário. Tal como em outra actividade qualquer, desportiva ou de outro âmbito, a mestria é o resultado de uma prática constante e como seria de esperar o mesmo acontece com o desenvolvimento das qualidades mais importantes da nossa mente.

Professores(Venerável Sangye Khandro é Americana e é uma freira ordenada

na tradição Budista Tibetana. É uma conhecida professora na

Fundação para a preservação da tradição Mahayana à mais de vinte

anos e autora do livro best seller “How to meditate as well as

awakening the kind heart).

Uma coisa que é muito importante na prática diária é a purificação, pois muito embora tenhamos boas intenções para com as nossas acções no início do dia, é bem provável que a maioria de nós como seres humanos falíveis que somos acabemos por cometer erros, como irritar-mo nos, ou acabar por cometer alguma acção negativa, ou falar de uma forma menos positiva. Existe algo no entanto que podemos realizar quando nestes casos e acabamos por acumular Karma que é a purificação.A prática geral da purificação envolve quatro pontos, chamados os quatro poderes;

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O primeiro é o poder do arrependimento que ao contrário da culpa não é um sentimento tão emocional que nos leva a sentir mal por uma qualquer acção negativa no sentido de acharmos que somos horríveis, etc. O arrependimento Tem mais a ver com o entendimento de como o Karma funciona. Realizamos acções e estas deixam uma impressão na nossa mente até algum ponto no futuro, altura em que determinada conjuntura abre a porta para que determinadas causas e condições nos levem a viver alguma experiência relacionada com essa impressão. O segundo poder é o refúgio, sendo este uma atitude, um estado de mente que existe por entendimento e aceitação dos ensinamentos do Buda. Envolve assim uma renovação do nosso empenho em seguir os seus ensinamentos, dos nossos sentimentos de compaixão e em beneficiar os outros. O Terceiro dos poderes é o remédio que envolve a realização de acções positivas para contrabalançar todas aquelas que inadvertidamente acabamos por realizar ao longo da nossa vivência(auxilio directo ao próximo por via de acções de caridade ou através de mantras e sutras). O terceiro poder é aquele que vem da nossa resolução ou determinação em não voltar a realizar as mesmas acções negativas no futuro.

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10- Samsara e Nirvana

Pensamos normalmente que as coisas existem da maneira como aparentam ser, que as coisas impermanentes são na realidade permanentes e que conseguimos encontrar a felicidade controlando o mundo externo de modo a satisfazer os nossos desejos.Samsara é o estado de mente agitado e permanentemente insatisfeito e confuso em que a maioria de nós experimenta na maioria do tempo que culmina no ciclo descontrolado de nascimento, morte e renascimento. Tal como a Luz está para o escuro, também o nirvana se encontra do lado oposto ao samsara e é a definição de um estado de mente em completa paz. Não se trata de um céu ou paraíso externos mas sim de um estado de mente liberto de qualquer limitação e influência por parte de emoções destrutivas.

(Venerável Karin Valhalm - Nascida na Suécia a venerável Karin

Valhalm encontrou o Dharma no mosteiro de Kopan em 1974 onde

foi ordenada. Por mais de vinte anos tem inspirado milhares de

ocidentais com os seus ensinamentos em Kopan).

samsara envolve os chamados três níveis de sofrimento. O primeiro é o sofrimento ou a dor o que incluí todas as dores comuns, dores físicas provenientes de doença, dores emocionais vindas de uma separação, insatisfação, depressão ansiedade, medos, são habitualmente o tipo de sofrimento de que estamos conscientes no nosso dia a dia e que tentamos sobrepor. Mas o

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samsara contém muito mais do que isto. No segundo nível do samsara encontramos o Sofrimento proveniente da mudança. Este é muito mais subtil e difícil de compreender. Tem mais a ver com o modo como os prazeres temporários que procuramos estarem mais ligados à natureza do sofrimento devido à sua natureza volátil e impermanente.Todo o sofrimento penetrante é enquadrado no terceiro nível dos três tipos de sofrimento e diz-nos que tudo o que está ligado à natureza do nosso corpo e mente é um produto do sofrimento na medida em que age na base dos dois primeiros.

(A professora Janice Willis é uma académica e professora do

Budismo Tibetano-Hindu na universidade wesleyan em Connecticut

Encontrou o Dharma em 1967 e tem praticado e ensinado por mais à

35 anos. Tem publicações nas áreas da psicologia Budista, mulheres

no Budismo, e o Budismo e a raça. O seu ultimo projecto é um livro

de memórias chamado “Dreaming me: An African American

woman`s spiritual journey).

Para os Budistas o samsara representa um modo de olhar par ao mundo que esta associado com apegos, auto idolatração e o desejo que as coisas sejam da maneira que nós queremos que elas sejam. Esta noção de que o mundo deve ser como nós desejamos e a vontade que temos que ele se mantenha assim está na génese das nossas desilusões uma vez que a verdadeira natureza do mundo se prende com a impermanência.

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O Buda ensinou as quatro grandes verdades. Existe sofrimento, existe uma causa para o sofrimento, o sofrimento pode acabar e por fim existe um caminho que leva a essa cessação. Da sua própria experiência o Buda concluiu após ter meditado por seis anos, e depois de ensinar por 45 anos na Índia que tinha descoberto esta verdade; O sofrimento existe e o fim do sofrimento é possível. Se queremos absorver a doutrina Budista como um todo, tudo o que temos de observar são estas 4 nobres verdades.A primeira verdade é a de que existe sofrimento. O que constitui o sofrimento na verdade é quase tudo o que se possa imaginar, o nascimento é sofrimento, a morte é sofrimento, envelhecer é sofrimento, a velhice é sofrimento, dor, lamento e desgosto são alguns exemplos.A segunda verdade diz-nos que existe uma causa para o sofrimento e que essa causa se enquadra nos nossos desejos exacerbados sendo estes a causa mais palpável para este. Desejamos uma infindável lista de quereres e de seguida queremos que estas coisas sejam permanentes no sentido da felicidade que nos proporcionaram na altura em que os desejamos, também pela negativa no sentido que queremos distancia por exemplo das coisas que não gostamos e toda esta esfera de desejos é uma condição para o eterno movimento do samsara. Qual é a origem deste mecanismo de desejos eternos e eterna insatisfação? A causa é a nossa ignorância acerca da verdadeira natureza do modo como existimos e todas as outras coisas existem. Temos a tendência para nos querermos agarrar a coisas que pela sua natureza são impermanentes e isso leva directamente ao sentimento de frustração.

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Assim a ignorância é a causa básica do sofrimento. A parte optimista do Budismo depois de nos mostrar vários métodos para eliminar a causa do sofrimento, diz-nos na terceira nobre verdade que o sofrimento pode ter um fim. Nos textos Budistas das escolas antigas esta cessação do sofrimento tem o nome de Nirvana e nos textos das escolas mais modernas é conhecido por iluminação (no sentido de perfeita compreensão) sendo este o estado adquirido pelo próprio Buda. A aquisição do estado de iluminação não nos transporta para um sitio diferente, ou nos coloca em um corpo diferente, e nem sequer em um mundo que não aquele que sempre conhecemos, na realidade o que acontece é uma mudança radical da nossa visão das coisas, sendo que largamos as amarras do nosso eu enquanto portadores de uma existência fixa e permanente. Mudar essa ideia preconcebida que carregamos connosco desde o dia em que tomamos consciência de nós implica uma vista nova do mundo e essa nova visão é o nirvana. Não se trata de algo fora de nós, temos o potencial dentro de nós para ver-mos as coisas dessa forma. Se a ignorância é a causa par ao sofrimento então a sabedoria uma visão interna esclarecida das coisas é o que fará com que o sofrimento termine. A quarta nobre verdade diz-nos que existe um caminho para fora do sofrimento e esse caminho fornece-nos os meios para nos aperceber-mos da extinção dessa condição do sofrimento. Temos assim à nossa disposição a habilidade de não só localizar a causa como também a possibilidade de a eliminar. Tendo a habilidade para uma coisa tão extraordinária cuja possibilidade está dentro de nós e não confinada nas mãos de uma entidade qualquer, temos também a responsabilidade de aprendermos e nos mantermos num caminho

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capaz de nos transportar até esse objectivo. Buda disse que ele poderia apenas indicar-nos o caminho mas que temos de ser nós a percorre-lo. No budismo salvamos-nos a nós próprios.

(Sua santidade o 14º Dalai Lama Tensin Gyatsotem vivido exilado

na Índia como chefe de estado e chefe espiritual do povo Tibetano

desde a ocupação da Índia em 1959. Sua Santidade, prémio Nobel

da paz é um dos mais reconhecidos e amados chefes espirituais e

viajou para mais de 46 países como defensor dos direitos humanos e

paz mundial).

Quando pensamos na libertação não se deve ter a noção que esta existe num plano separado ou domínio separado. Em vez disso a libertação deve ser vista como uma qualidade ou estado da mente. Falamos da presença do nirvana natural, dessa qualidade de pureza existente em todos nós. Na base dessa pureza onde todas as aflições e obscuridades são eliminadas encontra-se o Nirvana e essa é a verdadeira libertação (moksha). Numa análise final chega-se à conclusão de que é a nossa ignorância e as nossas noções preconcebidas e concepções erradas acerca da natureza da realidade que está a raiz da nossa existência no samsara.Se esta é a razão que estabelece a condição para a nossa existência no samsara então isso significa que cultivando a visão interior correcta da verdadeira realidade das coisas que começamos o processo de desfazer as concepções erradas que temos das coisas e iniciar o caminho para uma compreensão libertadora. Assim o

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conceito de samsara ou nirvana é distinguido na base de estarmos ou não num estado de ignorância ou conhecimento.O antídoto supremo para eliminar a ignorância que é a raiz para a existência tal como a vivemos é a sabedoria que se apoia na vacuidade (emptyness) sendo esta a verdadeira natureza da nossa mente. Podemos então dizer que somos apanhados na nossa existência no samsara pelos desejos relacionados com a nossa ignorância na verdadeira realidade, a vacuidade pelo que do ponto de vista do Buda isto é explicado da seguinte forma; Em todos os fenómenos físicos existe uma continuidade ao nível das partículas sempre presente ao nível mais subtil da nossa percepção de

continuidade (tudo aquilo que atravessa de uma condição para

outra de forma gradual sem mudanças bruscas). Quando este fluxo

interage com o Karma dos seres, sendo o Karma uma condição, dão-se estas permutações da realidade física que tem eventualmente um efeito real sobre o o modo como nós experimentamos a dor e o prazer, felicidade ou sofrimento.

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11.Como desenvolver Bodhicitta

Sua santidade o Dalai Lama disse que a verdadeira compaixão aparece quando sentimos uma responsabilidade/vontade em ajudar outras pessoas quando nos apercebemos que sofrem por esta ou aquela razão. Quanto mais nos importamos com a felicidade de terceiros maior será a nossa sensação de bem estar.No Budismo esta atitude de querer beneficiar os outros tanto quanto possível é chamada de Bodhicitta, sendo o coração da prática Budista. Todos sabemos que a atitude “olho por olho” só torna o mundo mais cego. Buda ensinou métodos para ajudar a transformar todos os corações, por mais magoados que estejam em corações que acrescentem a prioridade de beneficiar os outros.A motivação de obter o estado superior de entendimento (enlighment) para beneficio de todos os seres desejando que alcancem igualmente esse estado, é na realidade a mente de Bodhicitta. Esta mente não é mais do que uma atitude que é desenvolvida progressivamente. E o primeiro passo nesse processo passa pelo desenvolvimento da motivação adequada

Professores(Sua santidade o 14º Dalai Lama Tensin Gyatsotem vivido exilado

na Índia como chefe de estado e chefe espiritual do povo Tibetano

desde a ocupação da Índia em 1959. Sua Santidade, prémio Nobel

da paz é um dos mais reconhecidos e amados chefes espirituais e

viajou para mais de 46 países como defensor dos direitos humanos e

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paz mundial).

Uma vez entendida a natureza do sofrimento em relação à existência deve este entendimento então ser estendido a todos os seres e reflectir sobre o seu estado de sofrimento, cultivando de seguida o mesmo desejo de felicidade para eles que temos em relação a nós próprios, desta forma cultiva-se um estado de grande compaixão.Assim com base na compaixão que é o desejo que todos se libertem do sofrimento, e com o amor e compaixão que é o desejo de que todos desfrutem da felicidade cultiva-se um sentido de responsabilidade que vai além do desejo e uma motivação que leve cada um de nós a agir realmente no sentido de ajudar os outros em relação ao seu sofrimento. E este tipo de sentido extraordinário de responsabilidade levará eventualmente à realização de Bodhicitta que é a intenção altruísta de alcançar o estado de Budahood para beneficio de todos e o eixo principal do caminho Mahayana. É assim este factor Bodhicitta que determina quem está dentro ou fora da dobra do praticante Bodhisattva. Se nos faltar esta intenção altruísta chamada Bodhicitta as outras práticas que possamos ter, sejam elas a o entendimento directo da vacuidade, ou até mesmo o nirvana, nenhuma delas se tornam condutas de um Bodhisattva. Quando se alcança a qualidade de Bodhicitta a mais simples actividade de virtude como por exemplo alimentar formigas que pode ser visto como insignificante à primeira vista se transforma em condição para o alcance do entendimento total. (enlightment). De certa forma pode ser visto como um elixir que transforma metais simples em ouro.

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(Ribur Rinpoche nasceu no Tibete em 1923. Com a idade de cinco

anos foi reconhecido como o 13º Dalai Lama na sexta encarnação de

Sera-mae Ribur Rinpoche. Entrou na universidade monástica Sera

em Lhasa e tornou-se um Geshe aos 24 anos. Meditou e ensinou o

Dharma até 1959 altura em que sofreu a opressão chinesa por 21

anos. Em 1980 foi-lhe permitido efectuar pequenas actividades

religiosas e ajudou a construir um novo Stupa para Pabongka

Rinpoche em Sera. Rinpoche ensina nos Estados Unidos, Europa e

Ásia).

Esta doença crónica que envolve a constante adoração de nós próprios, a doença crónica do egoísmo é de facto a causa das circunstancias indesejadas e é a ela que se deve imputar a causa do sofrimento. Que cada um de nós seja capaz de eliminar este sentimento de apego. Esta é uma prática de meditação poderosa e o resultado de treinar a mente neste tipo de motivação altruísta é o facto de se desenvolver um tipo de coragem incomum, pelo que será mais difícil sermos abalados pelas amarguras da vida vindas das ilusões que constantemente nos povoam a mente. Uma vez treinada a mente neste tipo de atitude, quando formos capazes de dar de nós para os outros a qualidade da nossa felicidade aumentará substancialmente, sendo de facto a melhor felicidade que podemos encontrar.Se alguma coisa nos acontece de negativo depois de treinar a nossa mente e motivação neste tipo de meditação de dar e receber

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conhecida como “Tonglen” tomando para nós o sofrimento de todos os seres sensíveis e dando de nós o que temos de bom, não iremos ser tão afectados por essa negatividade.Como técnica para este tipo de meditação podemos começar por tentar imaginar todos os seres à nossa volta. Começamos então de modo gradual, primeiro pensando nas nossas próprias desilusões, os sofrimentos de hoje, de amanhã, nos desgostos, desilusões aceitando-os até estarmos confortáveis com eles. De seguida lentamente movemos este tipo de atenção para os nossos Pais, familiares, todos os amigos e conforme formos ficando confortáveis com cada um destes grupos vamos avançando até englobar todos os seres humanos e animais. Esta prática do ponto de vista Budista Tibetano primeiro tira-se para depois dar. Tirar o que? Todos os sofrimentos, provenientes do calor, do frio, da zanga do desgosto, da sede da fome e por ai fora, pensamos neles como uma nuvem de fumo negro a sair do seres sensíveis para depois os absorvermos no coração que representa o centro da compaixão destruindo ou dissolvendo esse fumo no nada. Chegado a este ponto, depois de termos tirado da forma descrita é o momento de dar com base na grande compaixão desejando que todos os seres sejam livres do sofrimento. Damos com amor. E qual é o significado do amor? Desejar que todos os seres sejam felizes de acordo com os seus desejos. Usando a nossa respiração embebida desta motivação visualizamos-a como uma fonte de luz branca a explodir em todas as direcções à nossa volta.

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Estudantes(Richard Gere)

Não há duvidas de que Bodhicitta é o pilar fundador de todas as práticas. Sem este tipo de motivação não há muito que faça sentido. Não há muito poder transformador na meditação sem o desenvolvimento da compaixão, pois sem ele cria-se um sentimento de afastamento frio em relação aos outros que não terá sido o que o Buda teve em mente quando partilhou os seus ensinamentos. Em ultima análise o seu trabalho terá realizado través de várias práticas terá tido como objectivo deitar abaixo todas as barreiras, e não há barreira mais palpável do que a da compaixão e um coração aberto a todos os seres... insectos e inimigos incluídos.Para começar uma aproximação a um novo tipo de relação com eles, existe uma prática muito simples que eu (Richard) comecei a usar à muitos anos atrás que consiste em desejar uma vida feliz a cada criatura com quem eu travei conhecimento a primeira vez que os vi, quer fosse uma pessoa quer fosse um insecto.

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Claro que às vezes é extremamente difícil, quando nos deparamos com uma situação muito física e desconfortável, e é neste tipo de situação que o processo da meditação ajuda muito ao permitir que se trave à partida o florescimento das emoções negativas. E esse travão acontece porque a meditação torna a nossa mente ciente do que nela se passa, permitindo reconhecer atempadamente a mecânica e interacção que existe sempre entre as emoções (sensações que emergem no corpo) e os pensamentos que delas derivam ou que as criam. É sempre uma relação de causalidade.Assim devido a este processo, antes de sermos arrebatados pelas emoções podemos identifica-las como aquilo que são, (ignorância) transforma-las e deixa-las partir.

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12-Transformar os problemas

Professores(Venerável Thubten Chodron é americana e uma monja ordenada

na tradição Budista Tibetana. Tem ensinado Budismo por todo o

mundo à mais de 20 anos. É uma professora muito popular e autora

de vários livros acerca do Budismo. É especialmente dotada na

transmissão da aplicação prática dos ensinamentos do Buda nas

nossas vidas diárias).

Frequentemente quando temos problemas assumimos ou temos a forte sensação de que os nossos problemas são mais “problemáticos” que os problemas dos outros. E por isso achamos que devemos ser o alvo, o centro da simpatia e compaixão de quem está à nossa volta, e a forma de transformar os nossos problemas passa por fazer com que os outros parem de nos causar sofrimento cessando o que quer que esteja a dirigir os problemas na nossa direcção. Mas isto não é bem transformar os nossos problemas, mas sim atirar os problemas na direcção de outras pessoas, dando a entender que em determinada altura elas, as pessoas, estão a ser a fonte dos nossos problemas. Temos esta visão de que somos estas pessoas maravilhosas, que não queremos mal a ninguém e que no entanto existem outras pessoas todas elas muito más, cruéis que nos causam problemas. Temos que sair desta visão, desta ideia de atribuição de culpa porque somos uma cultura que tem o hábito de apontar o dedo, se há um problema a resolução do mesmo passa por encontrar um culpado para sofrer, pensando que quando

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alguém sofre vamos nos sentir melhor em relação ao problema.Como é que se transformam os problemas então? Depende de como se olha para a situação, de como se define o problema. Pode haver um evento problemático a decorrer com alguém e podemos chamar-lhe um problema ou podemos chamar-lhe uma oportunidade. E este tipo de atitude define se estamos a olhar para a vida de uma forma mundana, ou de uma forma espiritual. Porque quando o fazemos de uma forma materialista ou mundana, etiquetamos uma situação de problema quando as nossas necessidades e quereres não são satisfeitos. Assim temos uma ideia da situação que queremos e o que procuramos extrair dela é prazer e felicidade e levar a melhor sobre o momento e ter razão. Estes são os nossos objectivos.O nosso objectivo numa situação determinada é a nossa felicidade pessoal e de preferência a nossa felicidade agora em vez de mais tarde, e quando esse objectivo é frustrado identificamos essa situação como sendo um problema.Se virmos estas questões sob o ponto de vista do praticante espiritual, o objectivo não é a satisfação pessoal. Dá para imaginar uma realidade em que o nosso objectivo não passe pela satisfação do nosso prazer pessoal? Se estivermos a tentar praticar um caminho espiritual o objectivo nas situações emergentes deixa de ser a felicidade imediata mas sim a oportunidade de aprender acerca de nós próprios, acerca dos outros, de purificar a nossa mente e contribuir para o bem estar geral através desta aprendizagem.Quando conseguimos modificar o paradigma, quando o objectivo passa a ser diferente, então passa também a a ser mais difícil achar

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que temos problemas. Assim em tudo o que experimentamos e fazemos há sempre alguma coisa a aprender. Quando o nosso foco passa a centrar-se no nosso treino e na nossa prática deixamos de desejar que as outras pessoas mudem, ou de transformar as outras pessoas de modo a que deixem de nos causar problemas, até porque acabamos por compreender até certo ponto que não é possível.Assim a transformação das situações começa no nosso coração e por analisarmos a nossa reacção ás situações em que nos encontramos. Passa por conseguirmos olhar honestamente para as nossas reacções, não as pintarmos por cima ou sermos simpáticos de uma maneira forçada. Temos que ser capazes de parar e pensar porque estamos a reagir de determinada maneira ao tratamento que alguém nos está a dar, o que é que eu achamos precisar desta ou daquela pessoa que não me estão a dar.De onde vem a satisfação? Quando estamos contentes não nos zangamos ou ficamos ciumentos ou amuamos ou guardamos ressentimentos. Quando temos um sentimento de satisfação dentro da nossa mente agimos com simpatia naturalmente e as emoções negativas assim como as acções que elas originam são como que pacificadas automaticamente pois não existe um sentimento de infelicidade dentro que os motivem.O tipo de contentamento que estamos a tentar desenvolver não passa pela satisfação de termos levado a melhor, ou as necessidades imediatas satisfeitas de acordo com os nossos desejos, ou pelo mundo gostar de nós, mas sim pelo tipo de contentamento que existe pelo facto de nos sentirmos bem connosco próprios. Aparece por meio da nossa prática espiritual e

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pelo uso da nossa própria mente.Quando o Buda nos fala de contentamento não devemos confundir este com apatia, são duas coisas distintas. Com a apatia simplesmente não queremos saber, até porque podemos ser apáticos e estar descontentes. Muito frequentemente a posição

niilista (A desvalorização e a morte do sentido, a ausência de

finalidade e de resposta ao “porquê”. Os valores tradicionais

depreciam-se e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se) que

as pessoas abraçam na nossa sociedade, é motivada pelo descontentamento impulsionado pela apatia. Ao passo que contentamento é um jogo completamente diferente. Contentamento é um sentimento de bem estar dentro de nós que nos pode dar algum tipo de confiança que alegadamente nos traz algum tipo de compaixão pelos outros em vez de os criticar e transformar em pedaços. Com base nessa compaixão agimos contra a injustiça ou preconceito ou intercedemos quando existe uma situação que prejudica, sendo que a maneira como o fazemos não é com recurso às emoções negativas. A compaixão pode apresentar-se então como um motivador forte e bem mais sábio que a raiva.Passa a existir um sentido de satisfação pessoal que não depende da maneira de como o mundo nos trata e que nos chega por meio da nossa prática espiritual.Em determinada situação haverá sempre conflito eminente com alguém que nos trata de maneira injusta ou discriminatória. Devemos então agir de forma pró activa para mudar a situação tal como está, não porque odiamos as pessoas com quem estamos em situação de conflito mas porque lhes queremos bem. Ou seja,

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queremos bem à pessoa que nos está a oprimir, ou à pessoa cujas ideias achamos ser corruptas ou à pessoa que está a maltrata o ambiente... Esta é uma abordagem muito diferente à nossa maneira habitual de reagir, mas a nossa maneira habitual de agir não tem dado grandes frutos pelo que vale a pena tentar uma alternativa. Ao vermos outra pessoa como o inimigo e não estarmos preocupados com o seu bem estar, naturalmente estamos a incutir mais mal na situação. Com isto cria-se Karma negativo porque agimos com motivação negativa por via da raiva cuja intenção é magoar, destrói-se a felicidade da outra pessoa e porque essa pessoa se sente miserável vai reagir negativamente contra nós

tornando o conflito cada vez maior. Assim este inimigo não deve

ser visto como algo maléfico a abater que está entre nós e o nosso objectivo, mas sim como uma outra pessoa que também quer ser feliz.Para interiorizar este conceito não podemos usar só uma abordagem intelectual, temos que nos sentar de facto e meditar sobre o assunto. Precisamos examinar a nossa própria mente, ser capazes identificar nela quando estamos contentes e descontentes.

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13-A sabedoria do vazio

na grande maioria das vezes a vida aparece-nos como sendo algo permanente e sólido. Acreditamos nesta visão fixa dos nossos corpos e ideias e projecções das nossas vidas e do mundo à nossa volta. Segundo o Budismo este hábito de confundir tudo o que experimentamos é a raiz de todos os nossos problemas em particular quando vemos o “eu” como sendo uma coisa imutável solida e real. Por causa dessa perspectiva pomos demasiada energia na defesa da felicidade desse “eu” permanente à custa seja do que for e de quem for. O Buda tomou consciência de que esta visão é a maior ignorância de que sofremos, e com os seus ensinamentos arrebatadores sobre o vazio das coisas, passou a ideia de que o mundo não é feito de cimento como pensamos. Incentivou-nos de facto a analisar com muito cuidado aquilo a que chamamos realidade a fim de verificar se de facto existe tal como o percepcionamos.A verdade é que nada existe tal como aparece.

Professores(Venerável Karin Valhalm - Nascida na Suécia a venerável Karin

Valhalm encontrou o Dharma no mosteiro de Kopan em 1974 onde

foi ordenada. Por mais de vinte anos tem inspirado milhares de

ocidentais com os seus ensinamentos em Kopan).

Vencer os nossos apegos é conseguir analisar a natureza do “eu”. Quando analisamos a natureza do “eu” ou da pessoa a quem

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estamos apegados desde que nascemos, não conseguimos apontar claramente a verdadeira pessoa ou o que a define acabando com uma sensação de vazio proveniente de não conseguir identificar o objecto “eu” do nosso apego. Quando nos analisamos, se estivermos sob a influência de uma disposição por exemplo egoísta, onde é que encontramos esse “eu” egoísta? Onde é que esse “eu” egoísta existe e como? Conseguimos identificar essa disposição como estando no nosso corpo? Na nossa mente? Não pode estar na nossa mente uma vez que essa qualidade de disposição não está lá sempre. Se estivesse seriamos intrinsecamente egoístas mas uma qualidade de humor não está lá sempre, aparece e desaparece. Então, quem está a ser egoísta agora? Quando procuramos dentro de nós na realidade não podemos apontar objectivamente o “eu”. Na realidade não existe ninguém em “casa” para ser egoísta, não da maneira como estamos habituados a percepcionar o “eu”. Assim o Vazio encontrado é a desculpa ou a técnica ideal para eliminar estados de mente negativos, pois são baseados numa visão falsa.

(Venerável Robina Courtin – Uma Australiana que tem praticado

nos últimos 26 anos como monja na tradição Budista Tibetana. É

bem conhecida no mundo pela sua dinâmica de ensinamentos e

conhecimento profundos. Tem sido directora editorial de publicações

de sabedoria e da Mandala, uma revista Budista. Hoje em dia

Lidera um projecto de providencia suporte para a prática do

Budismo por parte de prisioneiros retidos em prisões nos Estados

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Unidos e Austrália)

Existe a visão convencional acerca da maneira de como as coisas existem que se refere à “mesidade” da mesa, ao “tapetismo” do tapete, à “copezidade” do copo com os seus modos convencionais de existência que nos remetem para a forma como os percepcionamos e que nesse contexto existem.Depois existe o modo final da existência das coisas, que é a perspectiva de que não há uma identidade inerente que existe por si só. Um par de óculos por exemplo não tem o poder de existir por si só, existe enquanto conceito criado para poder ser apontado como um para de óculos por todos nós. Se não existisse miopia ou qualquer tipo de doença limitadora da nossa visão nunca se teriam inventado os óculos e como tal estes não existiam. Tal como a sua “oculosidade” não existe enquanto fenómeno independente. É na ausência deste tipo de identidade inerente independente que encontramos a vacuidade, o vazio.Claro que apesar disto, convencionalmente não temos qualquer tipo de problema em apontar um par de óculos que repousem na palma da nossa mão. E seriamos alvo de alguma troça se não os conseguíssemos identificar como tal.

(A professora Janice Willis é uma académica e professora do

Budismo Tibetano-Hindu na universidade wesleyan em Connecticut

Encontrou o Dharma em 1967 e tem praticado e ensinado por mais à

35 anos. Tem publicações nas áreas da psicologia Budista, mulheres

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no Budismo, e o Budismo e a raça. O seu ultimo projecto é um livro

de memórias chamado “Dreaming me: An African American

woman`s spiritual journey).

O Sofrimento acaba através da compreensão (insight), e é na compreensão que está contido o modo como o “eu” de facto existe. É por meio da compreensão que realizamos que este “eu” é impermanente, que existe dependente de condições externas que ditam o modo como o “eu” convencional existe. Zangado, triste, contente, egoísta, satisfeito, seja como for...Tendo compreendido que somos o resultado do que experimentamos momento a momento e que essa dependência dita a impermanência do “eu”, tendo entendido a relação de causalidade que nos engana constantemente em relação aquilo que pensamos ser, podemos acabar com a ignorância que é a causa principal do samsara.Assim sendo podemos dizer que ganhar sabedoria é equivalente a obter compreensão (enlightment) e é esta compreensão em particular que nos mostra a verdadeira natureza de como as coisas existem. Em suma, nós e tudo o que existe somos vazios de uma existência independente e como as coisas não existem independentes estando interligadas de forma clara ou subtil.A sabedoria que advém deste discernimento acerca do vazio do “eu” e das coisas permite-nos experimentar uma ligação a ao que é externo e desta compreensão floresce a compaixão.

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Estudantes(Richard Gere)

A exploração do conceito de vazio do ponto de vista lógico é muito importante. É impossível a nossa existência como elementos em ilhas separadas e que possamos existir somente do nosso lado. Somos como que sucessivos recomeços dependentes, tudo acerca de nós é dependente do momento anterior, assim como de causas e condições. A mesma coisa acontece com tudo o que nos é externo não existindo somente do seu lado, nada detém uma longevidade infinita, estamos todos em fase de processo, somos um processo constante de mudança devido a uma causa qualquer em direcção ao efeito seguinte que por sua vez estará dependente da causa anterior para ser o que quer que seja nessa altura.As coisas são vazias de uma existência inerente e essa compreensão leva-nos eventualmente a compreender a interacção entre todas as coisas. Nada disto sugere uma natureza sólida e a aparência de solidez que temos das coisas é ignorância.O antídoto para essa ignorância passa pelo menos por acreditar na lógica do vazio, que as coisas são o exacto momento presente e nada mais, não são portadoras de um “eu”, e quando retiramos o “eu” e o “meu” da equação, criamos a condição para uma transformação surpreendente, começamos a entender a conectividade entre as coisas.É muito difícil desligarmos a noção convencional que temos da realidade, a identificação que temos com as emoções e com as ideias pré concebidas criam o estado de solidez que temos das coisas, mas eu como actor tenho de o fazer ainda que a fingir o

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tempo todo, mover-me para dentro e para fora de situações conceptuais e emocionais e tentar manter-me agarrado a essas realidades temporárias mas no final, é tudo uma narrativa, uma história e as histórias chegam e partem. O espaço de onde elas surgem e partem esse é sólido e esse é o espaço da claridade e da sabedoria que temos à nossa disposição, não tem centro nem fronteiras é o presente de onde viemos e para onde vamos e no final é tudo o que temos.

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