apontamentos de direito internacional público

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APONTAMENTOS DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO O Direito Internacional não é um ramo do direito, mas um ordenamento jurídico, contrapondo-se aos restantes direitos e não se acrescentado a nenhum deles. Formação e evolução O direito internacional está divido em dois períodos: Direito Internacional Clássico: dominado pelas relações entre os Estados e a Santa Sé. Havia quase exclusivamente tratados de comércio e navegação, de aliança e de paz. Nasce nos séc. XV, XVI, XVII, mas é nos séc. XVIII e XIX que se desenvolve. Sucedem-se três fases: 1. Tempos anteriores à paz de Vestefália (1648) - Nesta primeira fase ocorrem vários acontecimentos, como o Renascimento, e os Descobrimentos. Os Descobrimentos são o acontecimento mais marcante pois surge um regime jurídico do mar e da liberdade de navegação. Os tratados de Vestefália trazem o equilíbrio que se gera é produto da força militar, o que vai originar um fluxo comercial e consequente aumento de tratados bilaterais entre os Estados, surgindo assim as normas consuetudinárias em áreas tão vitais como os poderes dos Estados, sobre os limites dos seus territórios, as representações diplomáticas e a própria guerra. O recurso à força era um direito dos Estados. Contudo, este direito não protegia, como é óbvio, os mais fracos. Desde a paz de Westfália até ao século XIX, os Estados tinham plena liberdade de fazer a guerra, de acordo com os fins, dos quais, aliás, eram únicos juízes, que com ela visassem alcançar. Daqui resulta que os princípios jurídicos internacionais não ofereciam aos sujeitos uma protecção consistente. O direito Internacional permitia apenas

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Page 1: Apontamentos de direito internacional público

APONTAMENTOS DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

O Direito Internacional não é um ramo do direito, mas um ordenamento jurídico, contrapondo-se aos

restantes direitos e não se acrescentado a nenhum deles.

Formação e evolução

O direito internacional está divido em dois períodos:

Direito Internacional Clássico: dominado pelas relações entre os Estados e a Santa Sé. Havia quase

exclusivamente tratados de comércio e navegação, de aliança e de paz. Nasce nos séc. XV, XVI,

XVII, mas é nos séc. XVIII e XIX que se desenvolve. Sucedem-se três fases:

1. Tempos anteriores à paz de Vestefália (1648) - Nesta primeira fase ocorrem vários

acontecimentos, como o Renascimento, e os Descobrimentos. Os Descobrimentos são o

acontecimento mais marcante pois surge um regime jurídico do mar e da liberdade de

navegação. Os tratados de Vestefália trazem o equilíbrio que se gera é produto da força

militar, o que vai originar um fluxo comercial e consequente aumento de tratados bilaterais

entre os Estados, surgindo assim as normas consuetudinárias em áreas tão vitais como os

poderes dos Estados, sobre os limites dos seus territórios, as representações diplomáticas e a

própria guerra. O recurso à força era um direito dos Estados. Contudo, este direito não

protegia, como é óbvio, os mais fracos. Desde a paz de Westfália até ao século XIX, os

Estados tinham plena liberdade de fazer a guerra, de acordo com os fins, dos quais, aliás,

eram únicos juízes, que com ela visassem alcançar. Daqui resulta que os princípios jurídicos

internacionais não ofereciam aos sujeitos uma protecção consistente. O direito Internacional

permitia apenas assegurar a coexistência e justa posição entre os Estados. Era um direito

axiologicamente neutro, não havia valores superiores nem a intenção de corrigir

desigualdades. A normatividade internacional era horizontal. Todas as normas tinham o

mesmo valor.

2. Segunda decorre até à Revolução Francesa, nos fins do séc. XVIII - mas é a Revolução

Francesa, que transitará o poder do monarca para o povo, que é o acontecimento mais

determinante, pelo que o Direito Internacional deixa de ser as relações entre os soberanos, e

passa a ser as relações entre os povos, povo de indivíduos iguais, livres e autodeterminados.

3. Terceira termina na Primeira Guerra Mundial

Direito Internacional Contemporâneo: inicia-se em 1919, e nele já concorrem sujeitos para além

dos Estados, adquirindo-se uma subjectividade internacional e multiplicando-se as organizações

internacionais e os tratados multilaterais, sobre variados temas. Com o desmantelamento dos

Impérios Centrais, surgem novos Estados autodeterminados na Europa Central, desenhando-se com

isso movimentos anticolonialistas na Europa. Evolui, em duas fases:

Page 2: Apontamentos de direito internacional público

1. A primeira fase até 1939, a tentativa de institucionalização da Sociedade das Nações. Em

anexo ao Tratado de Versalhes de 1919, criou-se a Sociedade das Nações, a primeira

organização política internacional, dominada pelos Estados europeus, com exclusão dos

Estados Unidos da América, e cujo assunto dominante era a segurança. Registou-se também a

criação do Tribunal Internacional de Justiça, que solucionava litígios internacionais em

harmonia com critérios estritamente jurídicos. Porém acontece nos anos 20 e anos 30, o

declínio da Sociedade das Nações e os seus vários pactos (como o de renúncia geral de

guerra), que se viu incapaz de enfrentar as agressões japonesas na China e italiana na Etiópia,

o rearmamento alemão e a guerra civil espanhola.

2. Segunda fase, foi após 1945, depois da II guerra mundial, com a Carta das Nações Unidas,

até hoje. A Organização das Nações Unidas, foi o organismo já mais completo que as nações

vencedoras da Segunda Guerra Mundial quiseram criar. Os traços mais distintivos são:

A elevação da cooperação económica e social, com promoção dos direitos do homem

e vontade de manutenção da paz e segurança

Empenho político no sentido da independência de territórios tutelados e não

autónomos

Proibição da guerra e atribuição de coercibilidade à Organização, para que a paz fosse

objectivo mais concretizável

Sistema de órgãos – Assembleia-geral, Conselho de Segurança, Conselho Económico

e Social, Conselho de Tutela, Tribunal Internacional de Justiça e Secretário-Geral.

Após 1945, o mundo seria atravessado por um confronto político e ideológico entre o capitalismo ocidental

e o oriente soviético, nascendo assim dois blocos militares e potencialmente hegemónicos. Tal bipolarização

foi mãe do aparecimento das armas de destruição maciça, mas foi esse mesmo perigo que ambos blocos

detinham que os equilibrou e sustentou.

Nesta época houve um aumento de Estados devido à descolonização; Verifica-se um alargamento do elenco

de sujeitos de Direito Internacional, que deixam de ser apenas Estados; Proliferação de Organizações

Internacionais que são verdadeiros centros de imputação de direitos e deveres; Tornou-se frequente o

surgimento de grupos organizados, que luta em nome de um povo contra determinadas estruturas de

opressão; Também o indivíduo integra hoje o leque de sujeitos de direito internacional; A partir desta altura

começam a proteger-se alguns direitos das minorias; mas é com o Pacto internacional sobre os Direitos Civis

e Políticos que as minorias vêm os seus direitos reconhecidos, embora a sua personalidade jurídica ainda

continue titubeante.

As convenções internacionais cessam de ser bilaterais. Existe cada vez mais recurso aos tratados

multilaterais. Muitos destes tratados são abertos, ou seja, autorizam que qualquer estado possa juntar-se a

ele, através de um acto unilateral, sem que tenha estado na sua formação e sem que as outras nações o

possam impedir

Page 3: Apontamentos de direito internacional público

A institucionalização da comunidade internacional vem assumindo manifestações importantes:

Criação de organizações de vários tipos

Imposição das Nações Unidas dos seus princípios aos países não membros

Codificação das normas consuetudinárias, pela Comissão de Direito Internacional

Reconhecimento da imperatividade do ius cogens, pela Convenção de Viena sobre os Tratados

Entendimento geral de que as normas da Carta das Nações Unidas prevalecem sobre quaisquer outras

obrigações internacionais

Pratica de tratados multilaterais e abertos a Estados não participantes na sua formação

Predisposição de espaços geográficos sob uma Autoridade Internacional, como a Antárctica e os

fundos marinhos.

Os princípios de ius cogens, as normas da Carta das Nações Unidas e do Estatuto do Tribunal Internacional

de Justiça, ou as normas constantes das Convenções de Viena, sobre conclusão, interpretação, validade,

aplicação e cessação da vigência de tratados são normas que estruturam as relações internacionais, definindo

a posição jurídica dos sujeitos de tais relações e do quadro em que se desenvolvem; que obviamente, por

serem nucleares são de importância superior às demais.

O fundamento do Direito Internacional

Nos séc. XVII e XVIII, carácter jurídico do Direito Internacional foi negado e até mesmo depois da

Revolução Francesa, era visto como um direito secundário sem muita relevância.

O positivismo, doutrina do séc. XIX, definindo o direito pela coercibilidade, tende a definir o Direito das

Gentes como Direito estatal externo. As teorias voluntaristas, surgidas já no séc. XX conexas com os

regimes totalitários, punham em causa o Direito Internacional. Porém, nesse mesmo século, o que prevalece

são as teorias não voluntaristas, as que explicam a obrigatoriedade jurídica ou a necessidade do

cumprimento das normas de Direito Internacional à margem ou para além da vontade estatal. Entre elas:

Teses normativistas de Kelsen: reconduzem o sistema do Direito Internacional não à vontade, mas a

uma norma – fundamental.

Teses solidaristas de Duguit, Scelle e Politis : baseadas pelo positivismo sociológico e que

fundamentam o Direito Internacional como o Direito Interno, na solidariedade entre indivíduos,

sendo portanto, factores sociológicos que explicam as normas jurídicas

Teses institucionalistas de Santi Romano: consideram o Direito Internacional como o ordenamento

da comunidade internacional tomada esta como instituição

Teses Jusnaturalistas de Afonso Queiró: o direito internacional assenta em valores suprapositivos,

em critérios éticos de obrigatoriedade, em princípios jurídicos transcendentes

O Direito Internacional possui o mesmo fundamento e razão do restante direito, uma vez que também

Page 4: Apontamentos de direito internacional público

contém uma estrutura normativa necessária de uma sociedade ou de certo tipo de convivência entre as

pessoas humanas, individuais ou colectivas. Existindo uma multiplicidade de ordenamentos jurídicos, existe

uma tensão dialéctica entre eles e entre valores universais de justiça e segurança, como uma constante

comunicação. Também porque é o sentido racional e ético, muito mais do que o medo das sanções ou a

reciprocidade de interesses que nos faz obedecer a normas, o destinatário da norma é livre de a cumprir ou

não, mas a norma que se lhe dirige não tem por base essa sua vontade, funda-se sim em princípios objectivos

de ordem que o transcendem ou num sentido de bem comum, coisa que vale tanto para o Direito Interno

como para o Direito Internacional.

Fontes de Direito Internacional

O Direito Internacional, em matéria de tipificação das fontes normativas não oferece nenhuma estrutura

centralizada, faltando deste prisma qualquer poder constitucional paralelo ao que vigora nos Estados. Para

responder a esta questão têm-se então recorrido ao art. 38º do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça:

O Tribunal cuja função é resolver, de acordo com o Direito Internacional, os litígios que lhe sejam

submetidos, aplicará:

As convenções internacionais, gerais ou especiais, que estabeleçam regras expressamente

reconhecidas pelos Estados em litígio

O costume internacional, como prova duma prática geral aceite como de direito

Os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas

Sob reserva das disposições do art. 59º, as decisões judiciais e os ensinamentos dos publicistas mais

altamente qualificados das várias nações, como meios auxiliares para a determinação das regras do

direito

Esta disposição não prejudicará a faculdade de o tribunal, se as partes estiverem de acordo, decidir ex

aequo et bono.

Distinguem-se assim entre fontes primárias ou principais (convenções, o costume e os princípios gerais do

direito) e fontes secundárias ou auxiliares (jurisprudência e doutrina); Se houvesse uma hierarquia porém,

daríamos o primeiro lugar aos princípios gerais do direito, especialmente o ius cogens, seguido do costume e

depois o tratado.

Até à Convenção de Viena de 1969, o Direito Internacional assentava nas normas consuetudinárias. O

costume é a própria prática que se eleva a norma jurídica internacional. Porque o costume não vincula por

ser aceite, mas porque brota espontaneamente da convivência internacional, tendo como tal feição jurídica.

O costume tem um papel bem maior no Direito Internacional do que no Direito Interno. A ausência de uma

autoridade central mundial explica-o.

Portanto reafirma-se que o fundamento dos costumes internacionais jamais pode ser a vontade dos Estados,

devendo ao invés, assentar no respeito por valores supremos decorrentes do Direito Natural.

Page 5: Apontamentos de direito internacional público

O costume internacional decompõe-se num elemento material – no uso – e num elemento psicológico – na

convicção de obrigatoriedade:

Elemento material (o corpus): que se traduz na existência de uma prática reiterada, que

oportunamente é levada a cabo pelos respectivos destinatários. O uso exige tempo e repetição de

comportamentos de diversa natureza: actos diplomáticos, actos de execução de tratados, leis e actos

políticos. Foi durante muito tempo requerido para a formação do costume internacional, nesta sua

vertente material, uma prática generalizada e imemorial, num duplo sentido:

Que a prática fosse executada por um número apreciável de sujeitos internacionais, não podendo

ser relevante um número reduzido

Que a prática fosse levada a cabo há muito tempo, não sendo suficiente a sua formação recente.

Esta já não é a opinião dominante, pois no tocante ao número, o costume pode ser realizado por um

número restrito, no âmbito do costume regional e local; e relativamente à exigência de uma duração

longa dos costumes internacionais, está completamente posto de parte o requisito da imemorabilidade,

por força da velocidade das mudanças que vão ocorrendo na sociedade, pelo que não é de excluir

costumes instantâneos. Daí que o costume neste seu elemento material deva apenas nascer de uma

prática geral e constante, ainda que se reconheça a dificuldade da sua determinação: geral e constante no

sentido de uma prática uniforme, senso insusceptível se se aceitar ziguezagues de comportamento,

mantendo-se estável.

Elemento psicológico (o animus): que consiste na convicção de que aquela prática, não sendo

tradicional ou rotineira, é para ser cumprida, tendo uma natureza de Direito aplicável. A convicção

da obrigatoriedade reporta-se à interpretação funcional e normativa da vontade manifestada por

sujeitos de Direito Internacional ou pelos seus órgãos; e depreende-se antes de mais, da consideração

objectiva dos actos praticados ou deixados de praticar por esses sujeitos (entre os quais o

reconhecimento, o protesto e a notificação). O tribunal internacional de justiça consagrou a

necessidade da opinio iuris vel necessitatis. A apreciação do elemento psicológico expressa a

convicção prática que se executa e que é juridicamente obrigatória. A convicção tem que se instalar

num sentido normativo, associando a convicção a uma norma de natureza impositiva. A acentuada

complexidade de caracterizar estas vertentes, leva-nos a aceitar a existência de uma presunção iuris

tantum – de que a formação do corpus, nada havendo em contrário, permite supor a formação do

correspondente animus.

As normas consuetudinárias encontram-se também subordinadas ao ius cogens e com este não se confundem

mesmo as de costume universal visto que:

1. O ius cogens não pode ser afectado por normas consuetudinárias

2. O costume postula sempre a prática, o ius cogens impõe-se ainda quando não haja qualquer prática,

seja no sentido do seu cumprimento ou noutro

Page 6: Apontamentos de direito internacional público

Os actos das organizações internacionais

Há vários actos de organizações internacionais:

1. Actos de eficácia externa e actos de mera eficácia interna

2. Actos políticos

3. Actos judiciais (decisões de tribunais existentes no seu seio)

4. Actos administrativos (respeitantes à estrutura e ao funcionamento dos seus órgãos e serviços)

5. Actos normativos e actos não normativos

6. Actos imediatamente aplicáveis e actos não imediatamente aplicáveis,

7. Directivas - A directiva vincula o Estado-membro destinatário quanto ao resultado a alcançar.

8. Recomendações (Assembleia Geral das Nações Unidas) – Não são vinculativas

9. Decisões - A decisão é obrigatória em todos os seus elementos para os destinatários que ela designar.

10. Pareceres (Tribunal Internacional de Justiça) – Não são vinculativos

Os actos das organizações internacionais, seja qual for a sua natureza, estão subordinados às regras

constantes dos respectivos tratados constitutivos – e tanto às regras orgânicas e formais como às regras

materiais. Fala-se assim de um princípio de legalidade no interior das organizações internacionais. Falta

porém e ainda, os meios adequados de garantia.

As decisões de tribunais internacionais, arbitrais e judiciais, como também de tribunais internos, pois estes

aplicam directamente o Direito Internacional e as suas decisões podem ter relevância jurídica internacional.

Mesmo havendo uma crescente relevância na elaboração jurisprudencial do Direito, o art. 38º e 59º do

estatuto do Tribunal Internacional, não atribuem às suas decisões, efeitos erga omnes, nem a prática da regra

do precedente.

Os actos jurídicos unilaterais

Reconhecimento: declaração unilateral pela qual se considera certo facto ou situação, conforme com

as regras jurídicas e satisfatórias em relação aos requisitos.

Protesto: declaração contrária, segundo a qual certo facto ou situação não respeita o Direito

Internacional

Notificação: levar ao conhecimento a outro sujeito mediante declaração relativa a certo facto ou

situação

Promessa: declaração unilateral de vontade de certos sujeitos que se compromete a determinado

comportamento.

Renúncia: acto jurídico unilateral de um sujeito que exclui da sua esfera certo direito ou se abstêm

de o exercer.

Tratados internacionais

Page 7: Apontamentos de direito internacional público

Os tratados internacionais são a mais relevante das fontes internacionais. Os tratados não suscitam dúvidas

na sua consideração como fonte uma vez que se verifica um modo de produção e revelação de normas

jurídicas internacionais.

Tratado ou convenção internacional é um acordo de vontades entre sujeitos de Direito Internacional, que

constitui direitos e deveres ou outros efeitos jurídicos. São só fontes de Direito Internacional, tratados

criadores ou modificadores de normas.

Até alguns anos atrás, era particularmente difícil estudar os tratados internacionais, por causa da ausência de

um regime genericamente esclarecedor dos aspectos fundamentais da sua produção. Mas em 1969 celebra-se

com êxito a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, esclarecendo um conjunto de orientações

normativas atinentes à feitura dos tratados internacionais. A Convenção de Viena de 1969 define tratado

como um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido por Direito Internacional, quer

conste de um instrumento único, quer de dois ou vários instrumentos conexos – art. 2º, nº1 a).

A codificação do Direito Internacional

Para que se observe a prática das normas do Direito Internacional consuetudinário, estas têm sido

incorporadas em textos escritos sob a forma de convenção ou declaração, pelo seu órgão, a Comissão de

Direito Internacional. Esta codificação, obedece a uma necessidade de certeza e segurança jurídica, mas

também a uma finalidade de aperfeiçoamento normativo e técnico, como ainda uma finalidade política –

proporcionar aos Estados ainda não soberanos no início, intervirem na formação de normas

consuetudinárias.Tal passagem a escrito não afecta o carácter consuetudinário, pois os Estados aderentes

ficam imediatamente vinculados a estas normas.

Contratos entre Estados e empresas privadas transnacionais e entre Estados empresas públicas, como

contratos de investimento ou prestação de serviços, têm vindo a alcançar uma importância económica e

política. Aproximam-se portanto de tratados, por serem celebrados pelos órgãos de representação

internacional dos Estados, pelos seu regime envolver regras de Direito Internacional e porque o seu litígio é

decidido por uma arbitragem à margem do Direito Interno. Nestes casos recorre-se à assimilação desta

categoria paralela de actos convencionais, uma vez que estas empresas não possuem personalidade jurídica

internacional.

Terminologia

Tratado ou convenção engloba:

Carta, constituição ou estatuto: tratado constitutivo de uma organização internacional ou regulador

de um órgão internacional (Carta das Nações Unidas)

Pacto: tratado de aliança militar ou de grande importância política (Pacto de Varsóvia)

Concordata: tratado entre a Santa Sé e um Estado acerca da situação da Igreja Católica perante este

Acta geral ou Final: tratado conclusivo de uma conferencia ou congresso internacional de Estados

Page 8: Apontamentos de direito internacional público

Convenção técnica: tratado sobre matérias especializadas de conceitos técnicos, complementar

Protocolo adicional: tratado complementar ou modificativo de outro sobre matérias políticas

Modus vivendi: acordo provisório

Compromisso: acordo tendente à solução arbitral de conflitos

Classificações

Tratados normativos ou tratados-lei: estabelece comandos gerais e abstractos ou gerais e concretos

submetendo as partes a comandos constitutivos ou pré-existentes

Tratado solene: distingue-se pela exigência de acto de ratificação. O processo termina aquando da

aprovação, ou nalguns casos aquando da assinatura. Esta exigência é de índole material do tratado

Tratado não solene: a convenção simplificada pode ser em forma simplificada ou ultra-

simplificada. Os acordos ultra-simplificados são vinculativos, aquando da assinatura, por parte do

Ministro dos Negócios Estrangeiros ou outro chefe diplomático, dispensando ratificação ou

aprovação (que acontece nos acordos simplificados – aprovação).

Tratados fechados: rejeitam a adesão de novos sujeitos – concordatas, acordos entre as Nações

Unidas e as organizações especializadas são fechados

Nenhum Estado pode celebrar contratos contrários à sua Constituição, e o mesmo se passa com os actos

unilaterais que se propõem.

Cinco momentos para a conclusão dos tratados:

A Negociação - A negociação é um processo obrigatório, mas a ratificação e a aprovação nem

sempre acontecem. A Convenção de Viena permite que a vinculação de um Estado pode manifestar-

se pela assinatura, ratificação, pela aceitação, pela aprovação ou pela adesão (art. 11º). Este princípio

supletivo estipula a forma do tratado nos art. 12º, 13º, 14º e 15º, pelo que cada Estado pode

prescrever uma das formas de vinculação. Na época do constitucionalismo, a divisão dos poderes é

critério indiscutível, pelo que o processo de vinculação percorre vários órgãos do Estado. A

negociação de qualquer tratado cabe às pessoas investidas com poderes plenipotenciários, como os

representantes do Estado. São considerados representantes de cada Estado: o chefe de Estado, chefe

de governo, Ministro dos Negócios Estrangeiros, Chefe de missão diplomática, ou qualquer outro

que seja acreditado pelo Estado para a adopção do texto do tratado (art. 7º, nº 2). Acto como este,

feito por pessoa ilícita, não produz efeitos jurídicos a não ser quando posteriormente o Estado o

confirma e assume.

A Adopção do texto - a adopção do texto efectua-se através do consentimento de todos os Estados

participantes (art. 9º), realizando-se uma conferência internacional para esse fim, efectuando-se pela

maioria de ⅔ dos Estados votantes, a não ser que estes, por maioria, apliquem regra diversa (art. 9º,

nº2).

Page 9: Apontamentos de direito internacional público

A Autentificação do texto - por processo nele estabelecido ou acordado. Na falta de acordo, então

por assinatura, assinatura ad referendum, ou rubrica do texto do tratado ou acta final (art. 10º). A

assinatura não é requerida para todos os casos, mas há tratados abertos que prevêem assinatura. A

assinatura não obriga o Estado-membro, salvo nas convenções ultra-simplificadas: uma vez aprovado

e ratificado, ou só aprovado. A consequência da assinatura é, fixado o texto, tornar adstrito o Estado,

por boa-fé, a abster-se a actos que privem o tratado do seu fim (art. 18º).

A Aprovação e Ratificação - todos os tratados, excepto os ultra-simplificados, requerem aprovação

pelo órgão interno competente. Porém nem todos requerem ratificação. Até pode um tratado

configurar-se solene para uma parte ou membro e como acordo na forma simplificada para outra

parte. Independentemente de tratado é o Direito Interno que o classifica de tratado solene,

simplificado ou ultra-simplificado, sendo também ele que estipula que órgãos são competentes para

vincular o Estado. São as normas constitucionais que regem estes detalhes. As Constituições

contemporâneas dão ao Poder Executivo a competência da negociação e assinatura. Também a

ratificação é atribuída, desta vez ao Chefe de Estado ou órgão sucedâneo. Assim se passa na maioria

dos Estados, mas na aprovação de tratados solenes, surgem já divergências. Cada país consagra o seu

modo de aprovação de tratados, de acordo com o tipo e o objecto do tratado. Governos centralizados,

têm como negociador e assinante o próprio órgão que aprova, porém em governos com uma

desconcentração do poder, por haver uma separação de poderes há um órgão para cada fase, até para

que haja um critério de fiscalização.

O Registo e publicação - Para uma maior certeza do direito internacional, consagra-se a regra do

registo. A Convenção de Viena vem impor o registo relativamente a todos os tratados, sejam ou não

as partes membros das Nações Unidas (art. 80º). Esta Convenção não determina a consequência

jurídica da falta de registo. Somente o art. 102º nº2 da Carta, aponta que nenhuma parte em qualquer

tratado que não tenha sido registado poderá invocá-lo perante qualquer órgão das Nações Unidas

(tão-pouco do Tribunal Internacional de Justiça).

A violação das regras constitucionais sobre a conclusão de tratados

O art. 46º da Convenção de Viena contempla este problema, a que chama de ratificação incompleta. Lê-se

nestes termos:

“A circunstancia de o consentimento de um Estado a obrigar-se por um tratado ter sido expresso

com violação de um preceito do seu Direito interno relativo *a competência para a conclusão dos

tratados não pode ser alegada por esse Estado como tendo viciado o seu consentimento, a não ser

que essa violação tenha sido manifestada e diga respeito a uma regra do seu Direito interno de

importância fundamental.Uma violação é manifesta, se é objectivamente evidente para qualquer

Estado que proceda, nesse domínio de acordo com a prática habitual de boa-fé.”

Page 10: Apontamentos de direito internacional público

Assim para que se possa invocar este erro os requesitos são:

• Infracção de regra interna fundamental – regra de carácter constitucional

• Violação seja manifestada

Efeitos dos tratados perante terceiros

Um tratado não constitui nem direitos, nem deveres para um Estado que não seja parte, a não ser com o seu

consentimento (art. 34º Convenção de Viena). No caso de deveres, é necessário que o terceiro Estado os

aceite expressamente e por escrito (art. 35º). No caso de direitos, presume-se o consentimento se não houver

objecções (art. 36º). Tratados abertos são por definição aqueles que conferem direitos a terceiros (de aderir

por exemplo). A modificação ou revogação do direito ou dever constituído depende do Estado e das partes,

por meio de tratado acessório. Independentemente das regras sobre a eficácia dos tratados perante terceiros,

pode uma norma constante de um tratado tornar-se obrigatória em relação a terceiros Estados como norma

consuetudinária. A Carta das Nações Unidas impõe-se a todos os Estados, mesmo que não sejam seus

membros.

Entrada em vigor

Qualquer tratado entre em vigor segundo as modalidades e nas datas fixadas pelas suas disposições ou

convencionadas por acordo dos Estados que tenham participado nas negociações (art. 24º). Essa data é

geralmente, a do depositário, mas na falta de disposição sobre este assunto, o tratado entra em vigor logo

que se manifesta consentimento de todos os Estados participantes. Quando o consentimento de um Estado, a

data será quando se manifestar, salvo disposição contrária.

Geralmente, as cláusulas dos tratados não têm retroactividade. A não ser que resulte do próprio tratado,

todas as disposições de um tratado não vinculam a qualquer situação que tenha deixado de existir à data de

entrada em vigor (art. 28º).

Nos Tratados multilaterais gerais quando o número é alargado (portanto muitos Estados), as consequências

que lhe são directamente associadas são (ao contrário dos tratados bilaterais):

Negociação em conferencia internacional: devido à pluralidade de interessados, não é possível que

seja realizada através de encontros bilaterais, mas em conferencia internacional, que representa a

reunião numa assembleia de todos os representantes

Aprovação e a autenticação do texto separadamente: o que bilateralmente não faz sentido separar, o

fim das negociações e a sua autentificação, passa a ser viável no plano multilateral, individualizando-

se dois momentos:

1. Aprovação do texto: feita por votação, requerendo que mais de dois terços dos representantes

dos sujeitos negociadores votem favoravelmente

Page 11: Apontamentos de direito internacional público

2. Autentificação do texto: feita por assinatura ou outro acto equivalente, a realizar no momento

seguinte, por cada um daqueles representantes

Oposição de reservas

Abertura a terceiros Estados: coloca-se a questão da abertura a outros outorgantes, Estados terceiros

relativamente àqueles que adoptaram o texto e que, posteriormente, o ratificaram. São três as

possibilidades de tratados:

1. Tratados fechados: não admitem a inclusão de sujeitos terceiros, manifestando vontade

nesse sentido, sem dependência de outra formalidade

2. Tratados semi-abertos ou semi-fechados: que ponderam a admissão de outros sujeitos,

mas desde que cumprindo alguns requisitos, formais ou substanciais, como a necessidade

de um convite formal ou da sua aceitação

3. Tratados abertos: que permitem a admissão de outro sujeito, bastando para isso que

produzam essa vontade num acto unilateral, sem o preenchimento de qualquer outro

condicionalismo.

Instituição do depositário

As reservas

As partes de um tratado obrigam-se à totalidade das suas cláusulas. A vinculação a apenas algumas, só é

possível se o tratado permitir ou se as outras partes o consentirem (art. 18º - Convenção de Viena). Nos

tratados multilaterais, podem ser admitidas reservas.

Reserva é então a declaração unilateral, feita por um Estado quando assina, ratifica, aceita ou aprova um

tratado ou a ele adere, pela qual visa excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado

na sua aplicação a este Estado (art. 20º, nº1 da Convenção de Viena). Existem as seguintes reservas:

Rectificações do texto

Declarações interpretativas

Disposições transitórias e cláusulas de exclusão

Declarações anexas a um tratado de alcance político

Modificações ou emendas

Contudo existem tratados que proibem reservas ou apenas admitem determinadas reservas, por serem

incompativeis com o fim do (art. 19º a), b) c) da Convenção de Viena); Como também há tratados que não

consentem reservas respeitante ao direito dos homens e ao ius cogens

Também há tratados que só admitem reservas no processo de vinculação, e nunca depois: no momento da

assinatura, da ratificação, da aceitação ou aprovação do tratado ou no momento da adesão.

Page 12: Apontamentos de direito internacional público

Simultaneamente também é possivel que a reserva tenha que ser formulada por escrito e comunicada aos

outros Estados.

Para que a reserva de um Estado produza efeito, é necessário pelo menos que um Estado contratante a aceite

(art. 20º) contudo:

a) Quando o nº de contratantes é pequeno, o objecto e fim do tratado necessita de uma aplicação na

íntegra, então o consentimento da reserva depende de todas as partes

b) Quando se constitui uma organização, a reserva exige a aceitação do órgão competente da

organização

A aceitação da reserva pode também ser tácita – quando se não tiver objectado quer nos 12 meses

subsequentes, quer no momento em que se tiver expresso o seu consentimento a vincular-se pelo tratado, se

o fez posteriormente.

As reservas podem ser revogadas, a todo o tempo, sem que seja necessária a aceitação do Estado que as

tenha aceite (art. 22º).

Internamente, a emissão de reservas, a aceitação ou objecção de reservas depende da Constituição de cada

Estado.

O depósito dos tratados

Nos tratados multilaterias há o instituto do depósito previsto nos art. 76º e 77º. O depositário é um Estado,

ou vários Estados negociantes ou outro sujeito que tem uma função imparcial e internacional (art. 76º, nº 2).

A função do depositário é:

Assegurar a guarda do texto original do tratado

Estabelecer cópias autentificadas, e noutras línguas

Receber todas as assinaturas do tratado

Informar os outros da aceitação, ratificação e promover o registo

Informar partes futuras da data de assinaturas e ratificações

A Conclusão dos Tratados em Portugal

Perante o Direito Constitucional português, encontram-se formas de tratados: tratados solenes e tratados em

forma simplificada.

A vinculação do Estado dá-se com a ratificação nos tratados e com a aprovação nos acordos (art. 8º C.R.P.)

Os tratados são sujeitos à aprovação do Parlamento. Já os acordos podem ser aprovados pelo Parlamento ou

pelo Governo (art. 161º, nº1 C.R.P.) salvo aqueles exclusivos da Assembleia da Republica

O Presidente da República intervém nos tratados com a ratificação, e nos acordos através da assinatura dos

decretos de lei ou das resoluções de aprovação (art. 135º 3 134º)m

Todos os tratados são passivos de serem fiscalizados pelo Tribunal Constitucional, a requerimento do

Page 13: Apontamentos de direito internacional público

Presidente da República: antes da ratificação, no caso de tratados, e antes da assinatura, no caso de acordos.

A Constituição não pode expugnar norma considerada inconstitucional constante de tratado ou acordo

internacional. Resta à Assembleia da República ou ao Governo, aprovar a convenção de novo, e introduzir-

lhe reservas. O Presidente da República pode no entanto voltar a requerer. Numa 2ª deliberação, o

Parlamento pode aprovar por maioria de ⅔ dos deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta

de deputados em funções, um tratado de que constem normas inconstitucionais. E o Presidente poderá então

ratificá-lo, embora o acto seja sempre livre.

O direito português exclui acordos ultra-simplificados porque as únicas formas de vinculação em Portugal se

dão por ratificação ou aprovação (art. 8º nº2 C.R.P.) e porque o Presidente não pode ser afastado de assuntos

internacionais sendo ele, o representante do Estado.

Na fase de aprovação: os tratados solenes são sempre competência da Assembleia da República, enquanto

que os acordos podem ser aprovados tanto por aquele órgão como pelo Governo

Quando falamos em Convenção internacional a CRP emprega a designação de Convencção Iternacional,

artigo 8/2, que abrange os tratados solenes e os acordos em forma simplificada.

Ao governo compete negociar as convenções internacionais, sejam tratados, sejam acordos, nos termos do

artigo 197º/b; O governo tem competência para aprovar acordos em forma simplificada. Antes de1997

também podia aprovar tratados.O governo pode também submeter à AR a apreciação de acordos

internacionais. Os acordos são deliberados por Conselho de Ministros. A forma de aprovação é a de decreto

artigo 197/2 e o PR assina o decreto artigo134/b.

A Assembleia da República tem um papel fundamental na medida em que é órgão representativo,

democrático, dos cidadãos portugueses. De acordo com o artigo 161/i apenas a AR pode assinar tratados

solenes. Apesar da CRP não nos oferecer um critério material que nos permita distinguir os tratados solenes

dos acordos em forma simplificada, podemos apelar concluir que há matérias, que pela sua importância, têm

que ser objecto de tratado solene. Este elenco de matérias não é exaustivo. Pode acontecer que na

Convenção Internacional surja o termo “Acordo”, mas pode efectivamente tratar-se de um Tratado solene.

Perante isto tem pois que analisar-se a CI e ver se estamos perante um Tratado ou um acordo em forma

simplificada. Além de aprovar os tratados, a AR aprova também acordos em forma simplificada:artigo 161º;

164ª; 165º.

1º Etapa - A negociação

É o momento em que é discutido e adoptado o futuro texto da Convenção Internacional. As delegações

nacionais fazem propostas, emendas etc. São os plenipotenciários quem negoceiam as Convenções

Internacionais, pois estão munidos de plenos poderes para participar no conjunto de operações técnico-

diplomáticas que essa primeira etapa de conclusão dos tratados envolve. Tradicionalmente tem que haver

uma pré-habilitação expressa constante do órgão competente. Hoje a competência para negociar faz parte do

Page 14: Apontamentos de direito internacional público

PR, PM, MNE, etc. essas entidades não precisam de uma habilitação expressa. Segundo o artigo 197º/1 - b)

CRP, em Portugal é ao governo que compete a função de negociação das Convenções internacionais.

Atribui-se nitidamente ao Governo, os poderes de negociação internacional do Estado: a clara autonomia

deste órgão, face ao Presidente da República. A condução política cabe ao Governo (art. 182º C.R.P.),

porém isso não dispensa a interdependência com a Presidência da República (art. 111º nº1). O Primeiro-

Ministro informa previamente o Chefe de Estado da política externa (art. 201º nº1 c)).

A Assembleia da República não participa na negociação, mas não obsta que não recomende ao Governo

certa negociação. O Governo tem o dever de informar os partidos políticos representados no Parlamento (art.

114º). Essa informação obviamente abrange a negociação de qualquer convenção de repercussões

relevantes.

A Convenção é composta pelos seguintes elementos:

1) Preâmbulo: figuram as partes contratantes por ordem alfabética, o local da conclusão, a data e os motivos

essenciais da conclusão da convenção internacional.Constitui um valioso elemento de interpretação do

tratado.

2) Dispositivo ou corpo da convenção: é composta pelos artigos da convenção, pelas cláusulas finais (por

exemplo: entrada em vigor, duração etc).

3) Anexos: disposições de carácter técnico juridicamente obrigatórias. Autonomizam-se para que a

Convenção internacional não tenha um aspecto pesado.

2ª Etapa: autenticação ou assinatura pelos plenipotenciários

Consiste na assinatura da Convenção. Muitas vezes esta autenticação não se consubstancia numa assinatura

pois o plenipotenciário do Estado pode não estar munido dafaculdade de assinar. Pode perfeitamente colocar

apenas as iniciais do nome ou referendar. De qualquer modo, esta assinatura deve ser posteriormente

confirmada por quem tem esses poderes. A este acto do plenipotenciário ligam-se certos efeitos:

1) Inalterabilidade do texto - depois de autenticada, não se pode alterar mais o texto.

2) Dever de boa fé - dever de abstenção de actos que atentem contra o objecto ou fim da Convenção

Internacional.

3) Direito de praticar actos para defesa da integridade do tratado - À luz do Direito Constitucional português, as

convenções podem revestir a forma de tratado solene ou acordo em forma simplificada.Se se tratar de um

Acordo em forma simplificada, acresce um outro efeito:

4)Vinculação do Estado ao acordo - ou seja, aquela assinatura vale imediatamente como

consentimento à vinculação, ao contrário dos acordos solenes que precisam da ratificação pela

entidade competente para essa manifestação de consentimento à vinculação. Estes três efeitos estão

previstos na Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, de1969, nos artigos 10º, 12º e 18º.

A participação das regiões autónomas

Page 15: Apontamentos de direito internacional público

Estes poderes não tornam as regiões autónomas em verdadeiros sujeitos de Direito Internacional. Participam

na cooperação inter-regional, e com entidades desprovidas de personalidade jurídica internacional e sempre

de acordo com as orientações do governo central sobre a política externa. Sendo o Estado português um

Estado unitário regional, a participação das regiões autónomas nas negociações de tratados e acordos

internacionais só acontece, quando directamente lhes digam respeito. O órgão regional que intervêm nestes

assuntos é o Governo Regional, e até os partidos da oposição representados na Assembleia Legislativa

Regional têm direito de ser ouvidos. A participação dá-se através da representação efectiva na delegação do

Estado português que negoceia o tratado ou acordo.

O referendo nacional e a aprovação de tratados

O regime de referendo é:

Cada referendo cai sobre uma matéria e tem 3 perguntas

A população não aprova o tratado, mas decide se o parlamento o deve aprovar ou não, mediante a

sua opinião referendada.

A decisão do referendo vincula o órgão competente

O Presidente da República não pode recusar a ratificação por discordância com o sentido apresentado

no referendo

Como os tratados são da competência da Assembleia da República só este órgão pode propor referendo

sobre o objecto do tratado. A aprovação pelo Parlamento da proposta sobre a questão objecto de acto em

formação implica a suspensão do processo. As propostas de referendo tomam a forma de resolução,

publicada no Diário da República. O Presidente da República é obrigado a submeter a resolução à

fiscalização preventiva constitucional. Não se realiza referendo em época de eleições gerais

Nenhum acto relativo a referendo, excepto a iniciativa pode ser realizado em estado de sítio ou de

emergência. Propostas de referendo recusadas pelo Presidente da Republica, ou cujas respostas sejam

negativas não podem ser renovados sem mudança de sessão legislativa, nova eleição do Parlamento ou até

demissão do Governo

3º Etapa – Aprovação

Todas as convenções têm que ser aprovadas pelo governo. Após a RevisãoConstitucional de 1997 o governo

passou a aprovar apenas acordos em forma simplificada e a Assembleia da República a aprovar acordos

solenes e alguns acordos em forma simplificada. Relativamente aos acordos em forma simplificada, o

Estado fica logo vinculado. Nos tratados solenes é necessária a ratificação prevista no artigo 135º CRP.

Compete ao Presidente ratificar os tratados depois de aprovados (art. 135º b)). A ratificação consiste na

declaração solene de vinculação do Estado, pondo fim à conclusão do tratado, a ratificação não interfere no

entanto no seu conteúdo: o Presidente da República não pode formular reservas.

A ratificação é livre, excepto quando obrigado pelo referendo. O prazo de ratificação é de 20 dias.

Recusando a ratificação, deve informar o Chefe de Estado, a Assembleia da República. A discordância pode

Page 16: Apontamentos de direito internacional público

ser política ou então constitucional. A ratificação toma a forma de Carta de ratificação, destinada a troca ou

a depósito, consoante o tratado seja multilateral (depósito) ou bilateral (troca), e corresponde no Direito

Interno, o aviso de ratificação.

Se a Ratificação for imperfeita (o que acontece quando não observa regras prescritas na CRP. EX:não ser

aprovada pela A.R., excesso de forma), importa saber quais as consequências no plano internacional e no

plano interno. No plano interno o artigo que regula as consequências é o 277º da CRP. No plano

internacional é a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados no artigo 46º.

Segundo o artigo 46º da Convenção de Viena, os Estados não podem desvincular-se do tratado. É a regra.

Neste domínio pretendem ponderar-se dois valores diferentes: a regularidade do procedimento interno de

conclusão dos tratados e a estabilidade, certeza e segurança nas relações internacionais. A CV achou por

bem tutelar o valor segurança e certeza nas relações internacionais. Porém, excepcionalmente pode haver

desvinculação caso a norma seja manifesta e se disser respeito a uma norma de importância fundamental.

Estes requisitos são de verificação cumulativa. Será uma violação manifesta se as outras partes se aperceberam ou

deveriam ter-se apercebido. O segundo aspecto é mais complexo pois os preceitos constitucionais são todos de

importância fundamental. Porém será norma fundamental ex.: ratificação sem prévia aprovação pela AR e

ratificação de CI sobre matérias do interesse das RA sem a participação destas.

Quanto às consequências internas, o nosso legislador arranjou uma norma de interpretação difícil. Artigo 277º nº2

CRP. Este artigo suscita algumas perplexida desde hermenêutica ao intérprete. Em primeiro lugar fala de

regularmente quando deveria ser irregularmente. Não faz igualmente sentido a menção à

inconstitucionalidade orgânica pois só aAR pode aprovar tratados solenes.Contudo, podemos concluir que a

nossa Constituição admite a vigência de tratados irregularmente ratificados com a condição de

reciprocidade.

4ª Etapa - entrada em vigor

A Convenção internacional entra em vigor na data fixada e nos termos aí previstos. Na falta destas

disposições entra em vigor mediante acordo das partes. Se nada se disser na Convenção e não houver

acordos das partes, esta entra em vigor quando todos manifestarem o seu consentimento. Artigos 24º e 25º

da Convenção de Viena.

5ª Etapa - registo e publicação

Uma convenção é registada junto do Secretariado das nações unidas. Se não for registada não pode ser

invocada junto dos órgãos das nações unidas. Contudo é perfeitamente válida entre as partes. Artigo 102º da

Carta das Nações unidas. Artigo 80º/1 Convenção deViena mas não poderá ser invocado perante os órgãos

daquela organização, em particular, perante o Tribunalinternacional de Justiça.

Todas as convenções internacionais ratificadas ou aprovadas, para originarem intervenientes, têm de ser

publicados (art. 8º C.R.P.) no Diário da República. Esta é necessária mas não é suficiente. Os tratados e

acordos só vigoram na ordem interna desde que vigorem na ordem internacional.

Page 17: Apontamentos de direito internacional público

Os princípios gerais do Direito Internacional

Os princípios não estão acima do Direito, eles fazem parte do complexo ordenamental. Exercem uma função

imediata, ao conformar ou abrindo caminho a soluções jurídicas, como uma função mediata pela

interpretação e construção doutrinal.

O art. 38º do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça contempla os “princípios gerais do Direito”,

oferecendo elucidativamente a sua presença na dinâmica jurídica internacional, pois eles são colocados a par

do costume e do tratado como fontes de Direito. Com essa norma afirma-se a necessidade de o Tribunal

resolver juridicamente qualquer caso, mesmo na falta ou deficiência de preceito que o preveja.

O ius cogens

O direito imperativo, cogente, vinculativo. Corresponde ao ius strictum do Direito Romano, que se

contrapunha ao ius dispositivum isto é, o Direito que nascia da vontade das partes. O que se pretende é que

são princípios que estão para alem da vontade ou de acordo de vontades dos sujeitos de Direito Internacional

É só na época actual (desde 1945) que princípios com essa característica e esse valor são proclamados em

textos solenes, internacionais e nacionais, são tomados como critérios de decisão para efeito de solução de

conflitos e se lhes procura conferir consistência. E esse desenvolvimento tem como pano de fundo alguns

factores como a consciência do primado dos direitos fundamentais, após as atrosidades provocadas pelos

regimes totalitários da Segunda Guerra Mundial; as novas exigências de paz e de segurança colectiva e a

crise de soberania; a ideia de autodeterminação dos povos e o aparecimento de novos Estados empenhados

em refazer a ordem internacional. Os grandes passos para o reconhecimento do ius cogens foram:

1. A Carta das Nações Unidas: ao estabelecer que a Organização “fará que os Estados que não

são membros ajam de acordo com os princípios da Carta em tudo quanto for necessário à

manutenção da paz e segurança internacional” art. 2º, nº 6, e ao estatuir que “em caso de conflito

entre as obrigações dos membros das Nações Unidas em virtude da Carta e as obrigações

decorrentes de qualquer outra convenção internacional prevalecerão as primeiras” (art. 103º

nº1)

2. O acórdão do Tribunal de Nuremberga

3. Convenção de Genebra: prescrevendo que a sua eventual denuncia não teria eficácia sobre as

obrigações a que as partes num conflito estariam adstritas em virtude dos princípios do Direito

das Gentes, tal como resultariam de “usos entre nações civilizadas, leis de humanidade, e

exigência da consciência pública”

4. Tratados dos direitos do Homem: declarando alguns dos direitos fundamentais inderrogáveis

5. Pareceres e acórdãos do Tribunal Internacional de Justiça: casos de reserva à convenção

sobre Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio

6. Convenções de Viena sobre o Direito dos Tratados

Page 18: Apontamentos de direito internacional público

7. Resolução nº 2625 da Assembleia das Nações Unidas, proclamando a proibição do recurso à

força nas resoluções internacionais, da solução pacífica de conflitos, da não-ingerência nos

assuntos internos, da cooperação, da igualdade dos Estados

Os preceitos básicos do jus congens na Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados são os

arts. 53º, 64º e 71º:

É nulo todo o tratado que, no momento da sua conclusão é incompatível com uma norma

imperativa de Direito Internacional (art. 53º 1ª parte)

Uma norma imperativa do Direito Internacional é a que seja aceite e reconhecida pela

comunidade internacional no seu conjunto como norma à qual nenhuma derrogação é

permitida e que só pode ser modificada por uma nova norma de Direito Internacional geral

com a mesma natureza (art. 53º 2ª parte)

Se sobreviver uma norma imperativa do Direito Internacional geral, todo o tratado existente

que for incompatível com esta norma, tornar-se-á nulo (art. 64º)

O ius cogens faz parte do Direito Internacional Geral. Pressupõe a aceitação e reconhecimento.

Tem de ser aceite e reconhecido pela comunidade internacional no seu conjunto, o que significa que

tem de ser universal, não podendo haver ius cogens regional. Possui força jurídica superior a

qualquer outro princípio ou preceito de Direito Internacional. Opera erga omnes

A sua violação envolve invalidade de norma contrária e não simplesmente responsabilidade

internacional.

O ius cogens não se assimila ao Direito natural internacional. O Direito natural Internacional é mais

amplo visto que os arts. 53º e 64º das Convenções de Viena sobre o Direito dos Tratados requerem a

aceitação e o reconhecimento pela Comunidade Internacional; e pode haver portanto Direito

Internacional positivado

A integração de lacunas

A determinação de lacunas envolve, uma prévia interpretação: só existe lacuna quando se conclua

que certa matéria está sujeita a regulamentação jurídica internacional. Uma vez apurada a lacuna, o

seu preenchimento far-se-á através dos meios usuais: a analogia e os princípios gerais do Direito. De

maneira sistemática e na fala de indicações particulares, não se vê razão para o afastamento dos

esquemas que são válidos no âmbito da Teoria Geral do Direito, no qual se pontificam:

A analogia legis, em que se apela à aplicação de normas que regulam casos dotados de

analogia com o caso que carece de tratamento

A analogia iuris, hipótese em que directamente se recorre a princípios gerais, de acordo com

as diversas possibilidades que se organizam.

Page 19: Apontamentos de direito internacional público

Princípios acerca da aplicação dos tratados

A Convenção de Viena formula alguns grandes princípios acerca da aplicação dos tratados:

O princípio da boa fé (art. 26º)

O princípio da não-invocabilidade de disposições de Direito interno para justificar a não-

execução (art. 27º) - A razão é que se assim não fosse, dada a heterogeneidade dos sistemas

constitucionais estaduais, nunca se alcançaria qualquer uniformidade na contratação

internacional. Se esta orientação não existisse, também nunca existiria uma vinculação

comum e por isso há mecanismos para libertar os \ Estados de certos constrangimentos

internos, assim como há mecanismos para que os Estados reflictam bem aquando da

vinculação a determinado tratado internacional. Mas esta aplicação da irrelevância do Direito

Interno não é absoluta, sendo limitada: “a circunstancia de o consentimento em ficar

vinculado por um tratado ter sido manifesto com violação de uma disposição do seu Direito

Interno relativa à competência para concluir tratados não pode ser invocada para esse Estado

como tendo viciado o seu consentimento, salvo se essa violação tiver sido manifesta e disser

respeito a uma norma de importância fundamental do seu Direito Interno”. Sendo assim

apenas duas situações são relevantes: Violação manifesta - do preceito do Direito Interno

relativo à competência para a conclusão de tratados internacionais

Violação de importância fundamental - de regra do Direito Interno atinente à competência

para a conclusão de tratados internacionais

Princípio da não retroactividade, salvo disposição em contrário (art. 28º)

O princípio da aplicação das normas internacionais à totalidade do território dos Estados seus

destinatários (art. 29º)

O princípio da prevalência da norma nova sobre a anterior a respeito da mesma matéria (arts.

59º e 30º)

Inicio da vigência temporal dos tratados: ocorre, na falta de momento especial, depois do último sujeito

que assinou o texto ao mesmo manifestar a vontade de lhe ficar obrigado. Estabelece-se a regra de que os

tratados não são retroactivos, mas esta orientação geral que aceita derrogações, pode haver efeitos

retroactivos se essa for a vontade das partes, expressa ou tacitamente produzida.

Sistemas de relevância do Direito internacional na ordem interna

O Direito estadual aceita o Direito Internacional de diversas formas, para que ele vigore na ordem interna

dos Estados. Os sistemas possíveis são três:

1. O Estado recusa em absoluto a vigência do Direito Internacional na ordem interna. Por isso, para

que o conteúdo de uma norma internacional vigore na ordem interna tem de ser reproduzido por

uma fonte interna. Consequentemente a norma internacional nunca vigorará como tal na ordem

Page 20: Apontamentos de direito internacional público

interna mas apenas como norma interna. É o chamado sistema de transformação, que às vezes se

exprime pela simples ordem de execução – sistema de Estados que adoptam uma solução dualista

2. O Estado reconhece a plena vigência de todo o Direito Internacional na ordem interna, mediante

uma cláusula geral de recepção automática plena. A regra internacional vigora na ordem interna

mantendo a sua qualidade de norma de Direito Internacional – sistema corolário da solução

monista com o primado do Direito Internacional

3. Sistema misto: O Estado não reconhece a vigência automática de todo o Direito Internacional,

mas reconhece-o só sobre certas matérias. As normas internacionais respeitantes a essas matérias

vigoram portanto, na ordem interna independentemente de transformação, ao contrário, todas as

outras vigoram apenas mediante transformação. Este sistema é conhecido por sistema da cláusula

geral semiplena.

Teses dualistas

Para os dualistas há duas ordens jurídicas diferentes uma da outra. As duas ordens consubstanciam dois

sistemas distintos e para que uma norma internacional fosse recebida teria de ser transformada em Direito

Interno. Os postulados em que se alicerça esta teoria são o positivismo e o estadualismo. O que está em

causa é o consentimento do Estado. Triepel, diz-nos que o direito interno traduz as relações internas, as

relações entre ocidadão e o Estado. O Direito internacional regula as relações externas, relações de Estado

para Estado. O direito interno tem como origem a vontade de um Estado, o direito internacional traduz a

existência de vários Estados. Esta variante coloca no direito interno a prevalência da vontade do Estado em

caso deconflito de normas de D.I. e de D. interno. Esta tese não é mais de que um direito estadual externo. O

Estado é a fonte de todo o direito e a vigência e aplicação de normas de direito internacional dependem da

vontade do Estado.

Teses monistas

Para os monistas existe uma essencial unidade do mundo jurídico. Existe um sistematotal de direito. É uma

ideia que trata de unificar o direito internacional e o direito interno numúnico sistema jurídico. Autores

como Grócio, Suarez e Victoria pretenderam fazer assentar o Direitointernacional num direito natural.A

unidade do direito radica no valor da dignidade da pessoa humana. Tanto o Direito Interno como o D.I.

radicam neste valor. Esta variante afirma a superioridade do direito internacional, assente em conteúdos de

ordem politico-moral. É ao Direito Internacional que cabe validar as ordens jurídicas nacionais. A soberania

reside no Direito internacional, todo ele voltado para a dignidade da pessoa humana. Numa versão mais

radical defende-se a homogeneidade da Ordem Jurídica. Assenta no suposto que as normas internacionais se

situam num plano superior às normas internas.

Page 21: Apontamentos de direito internacional público

Podemos afirmar que o nosso ordenamento jurídico-constitucional tende claramente a assumir uma posição

monista. A nossa constituição é amiga do direito internacional público na medida em que está em sintonia

com a DUDH e CNU. A comprovar esta afirmação estão os artigos 7º, 8º e 16º da CRP

Existem dois sistemas ou modelos típicos de conferir relevância às normas internacionais na ordem interna

de um Estado:

a) Sistemas de transformação -Aqui, a Ordem Jurídica já não aceita a vigência de forma automática.

O Estado opõe-se à vigência do Direito Internacional e vai impor condições em concreto: exige-se

que o legislador ordinário reproduza a norma através de um acto normativo da sua competência.

Como se vê, a norma internacional perde essa qualidade pois foi transformada em direito interno.

Relativamente à problemática da interpretação e das lacunas, os critérios adoptados podem já ser os

do direito internacional. As normas internacionais só vigoram na ordem interna quando convertidas

em normas de direito interno. O Direito Internacional, ao chegar ao Direito Estatal, muda de

natureza, operando-se uma transmutação radical assente nas doutrinas dualistas. Distingue-se os

sistemas de transformação implícita, quando as normas internacionais têm de ser objecto de acto

interno para vigorar internamente, mas basta que seja um acto inserido em procedimento de natureza

idêntica à do acto legislativo; e os sistemas de transformação explícita, quando as normas

internacionais têm de ser conteúdo de lei ou de outro acto normativo interno, têm de por ele ser

repetidas ou reproduzidas.

b) Sistemas de recepção – assenta na ideia de que o Direito Internacional pode fazer parte do Direito

Interno, conservando a sua natureza original, não sendo necessário fazer qualquer operação no seu

título de validade, com tudo quanto isso implica do ponto de vista da sua hermenêutica e da aferição

do seu âmbito de aplicação. Esta concepção assenta no monismo estrutural e distingue-se em:

Técnica de recepção automática - Segundo esta técnica, a Ordem Jurídica interna aceita sem

quaisquer restrições a vigência das normas internacionais no plano interno. A norma

internacional passa a produzir efeitos mantendo a qualidade de norma internacional. Dentro deste

sistema, porém, a Constituição do Estado em questão, não deixa de impor algumas condições,

mas são meras condições de eficácia: por exemplo, publicação. Esta técnica revela uma

concepção monista do direito, mais precisamente do monismo com primado do direito

internacional.

Recepção condicionada ou semi-plena (sistema misto): acontece quando a incorporação do

Direito Internacional no Direito Interno carece de um acto de interposição, que não transforma a

sua natureza, mas que condiciona a respectiva vigência. É um sistema que conjuga os dois

últimos sistemas. Assenta numa distinção das normas internacionais de acordo com o seu

conteúdo. Assim, as normas internacionais respeitantes acertas matérias, vigoram

Page 22: Apontamentos de direito internacional público

automaticamente no plano interno, as demais, necessitam de um acto de transformação. Esta

técnica tem subjacente uma conjugação entre as concepções monistas e dualistas.

Para as normas constantes de convenções internacionais, a CRP enveredou igualmente pelo sistema de

recepção automática, mas condicionada. A CRP exige que as convenções internacionais sejam ratificadas e

bem assim aprovadas em Diário da República. No artigo 8º/2 temos uma condição mas não é uma condição

de validade. É uma mera condição de eficácia - a publicação. Esta publicidade tem apenas como objectivo

garantir o princípio da segurança jurídica e da protecção da confiança dos cidadãos.

Vigora no plano interno enquanto vincular o Estado Português´. Significa isto que uma convenção

internacional só começa a produzir efeitos na ordem interna quando começar também a produzir efeitos na

ordem internacional. O mesmo se diz para a situação inversa, se na Ordem Externa a CI deixar de produzir

efeitos, cessam também efeitos na ordem interna.

Distinto do conceito de recepção é o conceito de efeito directo, a possibilidade de invocação de norma

internacional perante os tribunais de direito interno, seja contra o Estado e as entidades públicas (efeito

directo vertical), seja frente a particulares (efeito directo horizontal). Este efeito refere-se a normas

internacionais atributivas de direitos ou de reconhecimento de interesses legítimos ou de imposição de

adscrições. Claro que havendo recepção automática, há sempre efeito directo.

O Direito Constitucional Britânico

Faz a distinção entre o Direito Internacional Costumeiro e o Direito Internacional Convencional:

No Direito Internacional Costumeiro, adopta-se o modelo de recepção automática, uma vez que

se aplica o brocado “International Law is part of the Law of the Land”

No Direito Internacional Convencional, segue-se o modelo da transformação, dada a necessária

participação do Parlamento que produz um acto legislativo, em nome do sacrossanto princípio da

soberania parlamentar

Hierarquicamente, o Direito Internacional, no Direito Britânico, ocupa uma posição idêntica à Lei.

Falamos numa conjugação da recepção automática plena (do Direito Internacional geral) e da

transformação (do Direito Internacional Convencional).

O Direito Constitucional Italiano

Este Direito contém disposições acentuadamente dualistas em relação à incorporação do Direito

Internacional, na esteira das correntes dualistas que durante muito tempo frutificaram na correspondente

dogmática publicística:

No Direito Internacional Geral reconhece-se uma recepção automática plena por parte do Direito

Interno

Page 23: Apontamentos de direito internacional público

No Direito Internacional Convencional são várias as disposições que esclarecem a intervenção

dos diversos órgãos competentes, quer do Presidente quer da Câmara

No tocante à hierarquia, não havendo disposição especial, tem o problema sido enquadrado numa óptica

da legalidade. Mesmo dualista, a Constituição Italiana aceita a recepção automática plena.

Lei Fundamental de Bohn – Direito Constitucional Alemão

O Direito Alemão em relação à inserção do Direito Internacional, separa o Direito Internacional

Costumeiro do Direito Internacional Convencional:

Para o primeiro, que “as normas gerais do Direito Internacional Público fazem parte integrante do

Direito Federal”, que prevalece sobre as leis. Para o segundo, que se adopta um procedimento interno

equivalente ao procedimento legislativo, tendo valor de lei federal.

O Direito Internacional na ordem interna da Constituição de 1976

A Constituição vigente confere vigência ao Direito Internacional na ordem interna portuguesa. Depois de

no artigo 7º definir os princípios que devem presidir às relações internacionais de Portugal, reza a

Constituição no seu artigo 8º:

“As normas e os princípios de Direito Internacional geral ou comum fazem parte integrante do Direito

Português

As normas constantes de convenções internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas vigoram na

ordem interna após a sua publicação oficial e enquanto vincularem internacionalmente o Estado

Português

As normas emanadas dos órgãos competentes das organizações internacionais de que Portugal seja

parte vigoram directamente na ordem interna, desde que tal se encontre estabelecido nos respectivos

tratados constitutivos”.

Assim, no seu nº1 esse artigo 8º recebe “as normas e os princípios de Direito Internacional geral ou

comum” através de uma clausula geral de recepção plena. Cabe aí tudo o que se engloba no conceito de

“Direito Constitucional Internacional”, de aceitação generalizada da Comunidade Internacional,

abrangendo os princípios gerais do Direito e do Direito Internacional, os tratados internacionais

universais e para-universais, como a Carta das Nações Unidas, normas que para alguns fazem parte do

chamado ius cogens internacional, logo direito imperativo para os Estados.

O artigo 8º nº2, por sua vez, confere vigência ao Direito Internacional convencional que não ficou

abrangido pelo nº1 desse artigo. Também aqui a Constituição se serve de uma cláusula geral de recepção

plena, ainda que não seja absoluta, mas sim condicionada, por exemplo à “publicação oficial” das

convenções. Na previsão cabem tanto os tratados solenes como os acordos em forma simplificada. Isto

Page 24: Apontamentos de direito internacional público

quer dizer que a eficácia de convenção que não a sua validade, está dependente da verificação de duas

condições: a sua publicação no jornal oficial e a regularidade do processo da sua conclusão por Portugal

(“regularmente ratificadas ou aprovadas”). Estes requisitos são:

Em primeiro lugar impõe-se que sejam regularmente ratificados ou aprovados, sendo aqui o

padrão aferidor dessa regularidade simultaneamente internacional, maxime pela Convenção de

Viena sobre o Direito dos Tratados, e interno, à luz das disposições constitucionais aplicáveis

Em segundo lugar, é necessário que se dê a sua antecipada publicação no jornal oficial de

Portugal

Em terceiro lugar, exige-se que as normas constantes dessas convenções já vinculem

internacional o Estado Português, sendo certo que os momentos de vigência internacional e

interna não têm de coincidir sempre

O artigo 8º nº 3 CRP

Este artigo foi acrescentado na revisão constitucional de 1982 para adaptar a CRP à futura adesão de

Portugal às comunidades Europeias e a um Direito com características supranacionais. Pela leitura do nº 3

do artigo 8º da CRP, facilmente se conclui que não é exigida nenhuma formalidade para que os actos de

Direito Comunitário vigorem na Ordem jurídica interna. Esses actos gozam ainda de aplicabilidade directa.

Porem, este número impõe duas condições:

a) Que as normas emanem ou provenham de órgãos competentes dessas organizações; contudo, esta

condição não encontra paralelo no Direito Comunitário originário, nem na jurisprudência comunitária, nem

na prática internacional na matéria.

b) Que se encontre estabelecido nos respectivos tratados constitutivos o mencionado regime de

aplicabilidade directa; Mas, o único acto que o Tratado de Roma previu aplicabilidade directa é o

Regulamento. Por isso, na revisão constitucional de 1989 suprimiu-se o advérbio expressamente o que terá

significado uma implícita aquiescência ao efeito directo de outros actos de Direito comunitário derivado

para além dos regulamentos. Afigura-se que os interesses gerais da União Europeia nos levem a ter que fazer

uma interpretação extensiva da expressão normas de sorte a permitir englobar também os actos.

Normas de Direito Internacional geral e normas constitucionais

Relativamente às relações com a CRP, o Direito Internacional prevalece sobre as normas constitucionais

precisamente porque o artigo 16/2 da CRP existe um indício desta superioridade do Direito internacional.

AD.U.D.H. é um preceito de Direito internacional Geral ou comum e a CRP manda interpretar as normas

constitucionais de acordo com a D.U.D.H.D. do ponto de vista prático não tem importância discutir este

problema pois não se concebe que um estado promulgue legislação contrária aos Princípios de Direito

Internacional.

Page 25: Apontamentos de direito internacional público

A Constituição declara formalmente vários princípios de Direito Internacional geral ou comum, a respeito

dos direitos dos homens, dos direitos dos povos à autodeterminação, à solução pacífica de conflitos, etc. (art.

7º). Diz ainda que os preceitos constitucionais e legais relativos aos direitos fundamentais têm que ser

interpretados e integrados em harmonia com a Declaração dos Direitos do Homem (art. 16º). Ainda admite a

punição, nos limites da lei interna, da acção ilícita criminosa segundo os princípio do Direito Internacional

(art. 29º). Mas serão estes princípios supra constitucionais, constitucionais ou infra constitucionais? São três

as razões que os levam a colocar o Direito Internacional geral acima do Direito Constitucional:

A sua própria natureza e a sua composição, como vimos ele é composto por regras

consuetudinárias ou pactícias que se impõem a todos os Estados, ora dizer-se que o Direito

Internacional Geral cede perante as Constituições dos Estados é negar que ele obrigue todos os

Estados, é ignorar que ele é geral ou comum

Reside no facto de o Direito Internacional geral ser, essencialmente, Direito Internacional

imperativo, ou seja, ius cogens. Ora não se vê como é que uma norma internacional pode ser

imperativa para um Estado se não prevalecer sobre todas as suas fontes de Direito Interno,

inclusive sobre a Constituição

Só se consegue que as normas e princípios do Direito Internacional comum façam parte

integrante do Direito Português, se for dado ao Direito Internacional geral um grau supra

constitucional

Direito Comunitário Originário - é aquele que consta dos tratados que instituíram as três comunidades

Europeias, bem como os tratados modificativos.

Direito Comunitário Derivado

Direito que é emanado pelas instituições comunitárias. Relativamente à legislação comunitária, aquela tem

valor supra-legal pois emana de uma organização Internacional Supra-nacional. Segundo o princípio do

primado do Direito Comunitário, o Direito Comunitário prevalece sobre o Direito interno, artigo 8º/3. Este

princípio resulta de uma exigência do próprio Direito Comunitário. Uma norma estadual que contrarie uma

norma comunitária tem como consequência a sua ineficácia e inaplicabilidade.

Contudo considerando-se obrigatórios os princípios gerais de Direito Comunitário, quer os direitos

fundamentais consagrados na Convenção Europeia dos Direitos do Homem, quer os que resultam das

tradições constitucionais comuns aos estados membros, reduzem de forma significativa o campo de conflito

entre as normas constitucionais e o Direito Comunitário.

Sujeitos de Direito Internacional

No Direito Internacional a actividade jurídica decorre entre um número relativamente pequeno de sujeitos,

em que cujo papel do Estado, como sujeito, é sobrevalorado. O indivíduo e algumas pessoas colectivas

também podem ser sujeitos de direito internacional, mas a experiência mostra que a comunidade

Page 26: Apontamentos de direito internacional público

internacional continua a não englobar senão os Estados e outros entes. Não se segue o exemplo de

determinados direitos estatais, que consideram a própria comunidade política como pessoa jurídica. Pois não

é reconhecida personalidade jurídica internacional à comunidade internacional, esta não é sujeito deste

direito, quanto muito podem aparecer como seus sucedâneos a Organização das Nações Unidas.

Aos cidadãos de qualquer Estado são conferidos, através de normas internacionais, direitos que, acrescendo

ou não nas contempladas por normas constitucionais, eles poderão invocar perante as autoridades internas.

Porém, isso não equivale a transformá-los em sujeitos de Direito Internacional. É preciso ainda que essas

pessoas possam agir na vida jurídica internacional. Tem de haver então a possibilidade de acesso a

instâncias internacionais para a realização desses direitos atribuídos pelo Direito das Gentes. Tem de haver

meios internacionais de defesa ao dispor das pessoas e não só a invocabilidade de normas internacionais.

Coisa simétrica se passa com a responsabilidade internacional criminal. Só uma quando se infringe uma

norma internacional se pode ser considerado responsável criminalmente ao nível internacional.

Tende-se a agrupar tendo em conta estes critérios, os sujeitos em 4 categorias:

1. Estado e entidades afins: manifestam-se com a prossecução de objectivos próprios, em confronto

com os objectivos de outras sociedades

2. Organizações internacionais

3. Instituições não estatais: instituições que agem de acordo com os seus fins com uma

relativamente pequena interdependência com os Estados

4. Indivíduo: pessoa singular que se projecta para além do Direito Interno, e ainda pessoas

colectivas privadas.

Os Estados

Classicamente, revelam a existência de soberania três direitos: ius tractuum, ius legationis e ius belli, ou

respectivamente o direito de celebrar tratados, o direito de receber e enviar representantes diplomáticos e

o direito de fazer guerra.

Actualmente com a proibição de fazer guerra, excepto por legítima defesa, acrescenta-se um novo direito

ao retirar outro: o direito da impugnação ou reclamação internacional, destinado à defesa dos direitos dos

Estados perante órgãos políticos e jurisdicionais de entidades internacionais, e autonomiza-se o direito

de participação em organizações internacionais de carisma político essencialmente.

Temos os seguintes tipos de Estado, se bem que se caminha para uma igualdade jurídica entre os

Estados:

1. Estados protegidos: Estados com a titularidade de direitos internacionais, mas só os podendo exercer

através de outros Estados ditos protectores, a cuja supremacia territorial se encontram sujeitos

2. Estados vassalos: Estados que estão adstritos a certas obrigações relativamente a outros, não podendo

nomeadamente exercer alguns deles sem a sua autorização

Page 27: Apontamentos de direito internacional público

3. Estados exíguos: Estados que, pela extiguidade do seu povo ou do seu território, não possuem a

plenitude da capacidade internacional e se encontram em situação especial perante os Estados limítrofes

4. Estados conferados: Estados, que por serem membros de uma confederação, ficam com a sua soberania

limitada em certas matérias.

5. Estados ocupados e Estados divididos: Estados em situação excepcional decorrente da guerra ou de

outras vicissitudes e sujeitos a ocupação ou a formas específicas de limitação político-militar

As entidades pró-estatais

As entidades pró-estatais abrangem os rebeldes beligerantes e os movimentos nacionais e de libertação

nacional. São entidades transitórias, ao contrário do que acontece com os Estados, mas entidades que

pretendem assumir, na sua totalidade, atribuições afins dos Estados.

Os rebeldes beligerantes, são uma situação emergente onde se verifica uma guerra civil e em que os rebeldes

ocupam um território, onde exercem a sua autoridade idêntica ao poder estatal e conseguem manter esta

situação por um tempo prolongado.

Distinguem-se dos beligerantes, os insurrectos, que nunca chegam ao reconhecimento de uma personalidade

internacional. Ao passo que os beligerantes pretendem substituir o regime por outro, os movimentos de

libertação nacional agem em nome de uma nação ou de um povo que se pretende unir como um novo

Estado.

As organizações internacionais

Organizações internacionais são instituições criadas por Estados e também por alguns sujeitos (Santa Sé),

destinadas a atingir por seus meios, fins a que se propõem. Eles estão para os Estados como as pessoas

colectivas estão para as pessoas singulares, ou seja, são do tipo associativo e adquirem menor grau de

autonomia relativamente aos sujeitos que as constituem. Nestas organizações domina o espírito de

solidariedade que conduz a fins tendencialmente de carácter geral, a fins inerentes à comunidade

internacional

As principais classificações de organizações internacionais são, quanto aos fins:

Plurais (Organização das Nações Unidas)

Especiais

Jurídico-politicas (Conselho da Europa)

Económicas (Fundo Monetário Internacional)

Sociais (Organização Mundial de Saúde)

Culturais, cientificas e técnicas (Organização das Nações Unidas para a Educação)

Militares (NATO)

As Comunidades Europeias e a União Europeia

As Comunidades europeias são indiscutivelmente, sujeitos de Direito Internacional.

Page 28: Apontamentos de direito internacional público

Em 1992, o Tratado de Maastricht criou a União Europeia que “se funda nas Comunidades Europeias,

completadas pelas políticas e formas de cooperação instituídas pelo presente tratado” (o Tratado de

Amesterdão de 1998). A União “dispõe de um quadro institucional único” competindo ao Conselho

Europeu, que reúne os Chefes de Estado ou de Governo dos países membros, bem como o Presidente da

Comissão. Exercem as atribuições e competências previstas no Tratado da União, o Parlamento Europeu, o

Conselho, a Comissão, o Tribunal de Justiça e o Tribunal de Contas.

Mesmo com tudo isto, a União Europeia não é um sujeito de direito internacional, pois é uma arquitectura

institucional e não uma única entidade. É um sistema de relações que não é uma organização internacional,

mas também não é um Estado federal, talvez se aproxime de uma confederação.

As instituições não estatais

Têm uma formação independente de tratado; Têm uma natureza não político-temporal dos seus fins; Têm

independência em relação aos Estados; Têm uma base não territorial e um carácter comunitário e

institucional. Como instituições não estatais que são sujeitos de direito internacional temos:

1. A Santa Sé - A Santa Sé a expressão jurídica internacional da Igreja Católica. Foi membro fundador

da comunidade internacional, e sua personalidade jurídica é reconhecida. A capacidade traduz-se no

ius legationis e no ius tractuum, bem como na participação em certas organizações internacionais.

Para garantia da sua independência tem um território com jurisdição própria, que é o Estado do

Vaticano.

2. A Ordem de Malta - A Ordem de Malta é desde a bula papal de 1446 soberana e desenvolve fins de

assistência espiritual e social. Só cerca de 20 Estados reconhecem tal organismo como sujeito de

Direito Internacional.

3. A Cruz Vermelha Internacional - A Cruz Vermelha Internacional tem-se desenvolvido no meio

das sociedades nacionais como decisiva no Direito Humanitário. A sua relevância internacional e por

não ter sido criada por tratado confere-lhe uma capacidade limitada enquanto sujeito. O Comité

Internacional da Cruz Vermelha tem celebrado tratados com Estados

O indivíduo

O Direito Internacional nunca deixou de se ocupar dos indivíduos, das pessoas singulares, pelo menos

quando inseridas em certas situações. São pois, as seguintes condições em que se justifica falar em

subjectividade internacional do indivíduo:

Quando o indivíduo é membro de minuria nacional, ética, linguística, religiosa, ou de povo não

autónomo a que seja conferido direito de petição perante qualquer organização internacional

Quando cidadão de Estado que possa dirigir-se a órgão internacional invocando violação ou lesão de

um seu direito por esse mesmo Estado

Page 29: Apontamentos de direito internacional público

Quando cidadão de qualquer dos Estados das Comunidades e da União Europeia enquanto titular do

direito de petição perante órgãos comunitários e de direito de queixa perante o Provedor de Justiça

Europeu relativamente a acções ou omissões daqueles órgãos

Quando titular de órgão de organização internacional (em nome próprio – como é o Secretário-Geral

das Nações Unidas)

Quando funcionário internacional

Quando arguido de crimes sujeitos à jurisdição de tribunais internacionais

Reconhece-se que há normas de direito internacional que vinculam todos os membros da comunidade

internacional. Os dois maiores domínios onde o indivíduo é hoje destinatário do direito internacional são os

crimes internacionais e os direitos humanos.

O indivíduo como sujeito de Direito Comunitário

Inicialmente essa personalidade jurídica do indivíduo resumia-se ao regime das quatroliberdades -

liberdades de circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais, para defesa daconcorrência no Espaço

comunitário, este último entendido como um direito ou liberdade.A personalidade jurídica comunitária

assenta na característica de o direito comunitário derivado ser dotado de aplicabilidade directa, não

precisando de transposição ou mediação pelo sórgãos estaduais para valer na Ordem jurídica interna. Alem

disso, ele não se dirige aos Estados mas directamente aos indivíduos. Há ainda outros actos que têm efeito

directo. Certas directivas e outras decisões não têm aplicabilidade directa, porque os destinatários são os

Estados e não os indivíduos, mas têm efeito directo porque os cidadãos podem invocar esses actos junto do

Tribunal de justiça das Comunidades europeias.Uma outra manifestação consiste em que os cidadãos podem

recorrer directamente ao Tribunal de Primeira Instancia e ao Tribunal de justiça, requerendo a avaliação de

actos que tenham lesado os seus direitos. Esta manifestação assemelha-se ao contencioso administrativo. O

Tratado da união Europeia traduz uma etapa decisiva no processo de aprofundamentoda personalidade

jurídica do indivíduo nas Comunidades Europeias.

1. O Tratado de Maastricht considerou obrigatório, para a União Europeia, como princípios gerais de

direito comunitário, quer os direitos fundamentais consignados na Convenção Europeia dos Direitos

do Homem, quer aqueles que resultam das tradições constitucionais dos Estados membros.

2. O Tratado de Maastricht instituiu a chamada cidadania europeia ao lado das cidadaniasnacionais,

materializada na atribuição aos cidadãos da Europa Unida de um amplo catálogo de direitos civil e

políticos:- Capacidade eleitoral activa e passiva;- O direito à protecção diplomática por qualquer

Estado membro no território de Estados Terceiros;- Direito de Petição ao Parlamento Europeu;-

Direito de Queixa ao Provedor de Justiça.

Começa, pois, a dar-se atenção aos direitos fundamentais. Inicialmente os objectivos da união eram apenas

de natureza económica, não se encontrando qualquer menção expressa aosdireitos humanos fundamentais e

à necessidade de garantir a sua salvaguarda.Porém, os recorrentes invocavam frequentemente direitos

fundamentais de que beneficiavam nas suas constituições nacionais. Mas, o Tribunal de Justiça não se

Page 30: Apontamentos de direito internacional público

achavacompetente para apreciar a compatibilidade do Direito Comunitário com o Direito Constitucional dos

Estados membros. Então, fruto da contestação de alguns Tribunais Constitucionais, em particular dos

Tribunais Constitucionais da Alemanha e da Itália, começoua entender-se que os direitos fundamentais

entram no património jurídico da união Europeia.Com o Tratado da União Europeia a questão conheceu

desenvolvimentos significativos.Foi estipulado que a União respeitará, como princípios gerais de direito

comunitário, tanto os princípios fundamentais consagrados na Convenção Europeia do Direitos do homem

de 1950,como os que resultam das tradições constitucionais comuns aos Estados Membros.O Tribunal de

justiça veio assim em 1996 por em relevo que tal observância pelosdireitos fundamentais constitui um

requisito indispensável para a validade dos actoscomunitários, devendo por conseguinte, guiar a actividade

dos órgãos da união Europeia.Tudo isto veio a culminar na Carta dos Direitos Fundamentais da União

Europeia em2000, em Nice

O reconhecimento do Estado

O Estado existe desde que efectivamente se achassem reunidas as suas condições de existência. Já em

relação ao reconhecimento como beligerantes, de movimento nacionais e outras entidades, terá natureza

constitutiva. Na actual fase do Direito Internacional apenas é relevante o reconhecimento que outros Estados

façam; não o que possam ou pretendam fazer outros sujeitos (excepto a Santa Sé)

Não há nunca um dever de reconhecimento, de nenhum Estado pode ser obrigado a reconhecer outro

O direito de reconhecer é limitado e condicionado, por pressupor um mínimo de condições objectivas, não

pode traduzir-se em intervenção nos assuntos internos do outro Estado; e, sobretudo exige um

comportamento de boa fé.

O acto de reconhecimento tem valor declarativo, ele pressupõe a efectividade do poder que se pretende de

um novo Estado numa parte significativa do território que reivindica como seu. E se tal não acontecer, o

reconhecimento prematuro é ilícito.

Se o próprio Estado que faz o reconhecimento tiver contribuído ou estiver contribuindo pela força ou outro

método ilícito para criar a situação, haverá grave violação do direito internacional, pelo que os outros

Estados têm a obrigação de não reconhecer. O reconhecimento tanto pode ser expresso como tácito. Pode

haver reconhecimento colectivo

O reconhecimento do Governo

O problema põe-se quando se dá uma revolução, uma mudança forma de constituição, com ruptura ou

solução de continuidade. Claro que um Estado estrangeiro não tem que se pronunciar sobre tal mudança,

mas é preciso saber, por respeito à segurança das relações internacionais, quais as condições que o novo

poder oferece ao cumprimento dos compromissos internacionais do Estado.

O único critério de reconhecimento do Governo é o da efectividade, não o de qualquer juízo de valor.

Reconhecer um governo não é reputá-lo ou não, é somente verificar se ele está dotado das qualidades e

Page 31: Apontamentos de direito internacional público

meios para agir como tal. Logicamente este reconhecimento tem natureza declarativa, e em princípio todos

os actos praticados antes e depois desta formalidade são juridicamente eficazes.

A Sociedade das Nações

A Sociedade da Liga das Nações foi pelo Tratado de Versalhes e extinta com o eclodir da Segunda Guerra

Mundial. Tinha sede em Genebra e devia manter a paz. Foi o início da institunalizaçao das relações

internacionais, mas apresentou-se logo sem estrutura jurídica nem capacidade política suficiente para

responder às intenções do Presidente Wilson e dos outros inspiradores. Havia dois órgãos: a Assembleia e o

Conselho, assistidos por um Secretariado Permanente. A Assembleia composta por representantes de todos

os membros e todos com um voto exerciam competência genérica no âmbito das atribuições sociais. O

Conselho, reduzido a alguns membros permanentes e a quatro membros não permanentes, tinha a seu cargo

a segurança colectiva. Na verdade não passou de um malogro por ter-se tratado de pouco mais do que uma

espécie de concerto diplomático de Estados soberanos e falta de poderes vinculatórios e coercivos do

Conselho, simples órgão de medição a exclusão originária dos vencidos de 1918, a ausência dos Estados

Unidos e o excessivo peso do bloco anglo-francês.

A Organização das Nações Unidas

Também esta organização surgiu no seio da guerra. Os seus princípios foram pensados aquando da Carta do

Atlântico proclamados na Declaração das Nações Unidas (1942). Na sua preparação tiveram um papel

elevado a Grã-Bretanha, os Estados Unidos e a URSS. Além de dotada de uma estrutura mais vasta e

aperfeiçoada do que a anterior, esta foi investida de poderes jurídicos que lhe permitem atingir todos os

problemas mundiais. A Carta foi concebida como o repositório dos grandes princípios das relações entre os

Estados e tendo primazia sobre quaisquer outras obrigações internacionais.

Só os Estados podem ser membros das Nações Unidas, sendo a admissão da competencia da Assembleia

Geral, precedendo recomendação do Conselho de Segurança, sendo também esse o processo para a

suspensão e expulsão. A Carta prevê também a privação do direito de voto a Estados que não cumpram as

suas obrigações de contribuir para as despesas da organização. São os Estados, enquanto tais, através dos

seus representantes diplomáticos que integram os órgãos políticos deliberativos. E são os Estados que

participam nos acordos relativos a forças armadas internacionais, nos acordos que criem instituições

especializadas ou que fixem a constituição ou o termo do regime de tutela.

São os órgãos das Nações Unidas:

A Assembleia-geral

O Conselho de Segurança

O Conselho Económico e Social

O Conselho de tutela

O Tribunal Internacional de Justiça

O Secretário-Geral.

Page 32: Apontamentos de direito internacional público

A Assembleia-geral das Nações Unidas

É da competência exclusiva da Assembleia:

Aprovação do orçamento da organização

Apreciação dos relatórios do Conselho de Segurança

Eleição dos membros não permanente do Conselho de Segurança

Eleição dos membros do Conselho Económico e Social

Aprovação de acordos com as organizações especializadas

Autorização de pedidos de parecer ao Tribunal Internacional de Justiça

Definição do regime dos funcionários da Organização

Aprovação de emendas à Carta

São competências específicas a exercer com o Conselho de Segurança:

Decisão sobre a admissão, expulsão, suspensão de Estados da Organização

Designação do Secretário-geral

Decisão sobre as condições de acesso de Estados não membros a partes no Estatuto do tribunal

Internacional de Justiça

Eleição de juízes para este tribunal

Na Assembleia, cada Estado tem direito a um voto, as deliberações mais importantes são tomadas por ⅔ dos

membros presentes e votantes. Sobre as outras questões são tomadas por maioria dos presentes e votantes.

O Conselho de Segurança

Cabe-lhe a responsabilidade principal na manutenção da paz e da segurança internacionais. E os membros

das Nações Unidas ficam adstritos a aceitar e a aplicar as decisões do Conselho. Compõe-se com 15

membros, sendo 5 permanentes: EUA, Reino Unido, França, Japão, Rússia e China. Os 10 não permanentes

são escolhidos bianualmente, sobretudo por um critério geográfico. O Conselho tem funcionamento

permanente.

O Conselho Económico e Social

É composto por cinquenta e quatro Estados-membros, eleitos pela Assembleia-Geral, por um período de três

anos, com renovação anual de um terço. Cada membro tem um voto e as deliberações do Conselho são

tomadas pela maioria dos membros presentes e votantes. As tarefas cometidas ao Conselho são:

Realizar ou promover estudos e relatórios sobre questões internacionais nos domínios económicos,

sociais e culturais

Formular recomendações sobre estas questões à Assembleia-Geral, aos Estados-membros da

Organização e às instituições especializadas interessadas

Formular recomendações com vista a assegurar o respeito efectivo dos direitos e das liberdades

fundamentais

Page 33: Apontamentos de direito internacional público

Preparar projectos de convenções, a submeter à Assembleia-Geral

Convocar conferências internacionais

Celebrar acordos com as organizações especializadas

Coordenar a actividade das organizações especializadas

Receber relatórios regulares de organizações especializadas

Receber relatórios dos Estados-membros acerca das medidas por eles adoptadas em execução de

recomendações suas e da Assembleia-Geral

Comunicar à Assembleia-Geral a sua apreciação desses relatórios

Fornecer informações ao Conselho de Segurança e prestar-lhe a assistência que ele solicite

Prestar, com autorização da Assembleia-Geral, aos Estados-membros e às organizações

especializadas os serviços que eles lhes solicitem

Conselho de tutela

Ele foi criado para superintender na administração dos territórios sob tutela. Estes territórios eram territórios

em trânsito para a autodeterminação mas que ainda não tinham condições para ser dotado de auto-governo e,

portanto, careciam de uma administração supervisionada internacionalmente.Já não tem muita importância

este órgão. Já esgotou a sua razão de ser. Desde 1994, ano em que se deu a independência do último

território sob tutela, que este órgão deixou de ter importância.

Tribunal Internacional de Justiça

É fruto da progressiva judicialização das relações internacionais, bem como da resolução dos conflitos que

delas possam emergir. É contemporâneo da Carta das Nações Unidas, assumindo a natureza de tratado

anexo.

Ao Conselho de Segurança, defere-se o relevantíssimo papel de dar execução coerciva às sentenças deste

Tribunal, no caso de estas não virem a ser voluntariamente cumpridas: “Se uma das partes em determinado

caso deixar de cumprir as obrigações que lhe incumbem em virtude de sentença proferida pelo Tribunal, a

outra terá direito de recorrer ao Conselho de Segurança, que poderá, se o julgar necessário, fazer

recomendações ou decidir sobre medidas a serem tomadas para o cumprimento da sentença”.

O Tribunal não é uma jurisdição exclusivista porque a Carta admite a sujeição de litígios a outros tribunais:

preserva-se assim o princípio da solução jurisprudencial dos litígios, mas sem que isso signifique a

exclusividade do Tribunal.

O Estatuto requer aceitação respectiva como obrigatória para se dispor aos Estados como seus sujeitos

processuais. Para além da vinculação ao Estado, uma condição suplementar exige que tome o nome de

“cláusula facultativa de jurisdição obrigatória”, nos seguintes termos:

“Os Estados Partes do presente Estatuto poderão, em qualquer momento, declarar que reconhecem como

obrigatório ipso facto e sem acordo especial, em relação a qualquer outro Estado que aceite a mesma

obrigação, a jurisdição do Tribunal, em todas as controvérsias jurídicas que tenham por objecto:

Page 34: Apontamentos de direito internacional público

a) A interpretação de um tratado

b) Qualquer questão de Direito Internacional

c) A existência de qualquer facto que, se verificado, constituiria violação de um compromisso

internacional

d) A natureza e a extensão da reparação devida pela ruptura de um compromisso internacional”

O Tribunal Internacional de Justiça é composto por 15 juízes, e tem a sua sede na cidade de Haiae os juízes

são eleitos pela Assembleia-Geral e pelo Conselho de Segurança da ONU.

Não se vislumbra uma específica fase de execução da sentença, o que constitui um aspecto frágil da

estrutura processual do Tribunal: quem o poderá fazer é o Conselho de Segurança da ONU, numa solução

política que se enxerta num esquema que começa por ser judicial, hoje manifestamente obsoleta e que carece

de urgente revisão. Igualmente não se prevê qualquer esquema de recurso ordinário, pois que “a sentença é

definitiva e inapelável”. Se houver dúvidas interpretativas, só há lugar à interpretação autêntica, a cargo do

próprio Tribunal, a solicitação das partes.

Apenas os Estados podem ser partes nas relações contenciosas. Porém, podem ser discutidas questões que

também tenham a ver com o indivíduo e com os seus direitos. Diversas vezes os Estados exercem protecção

diplomática dos os seus cidadãos. 34º ETIJ. Refira-se que o TIJ não funciona como os tribunais internos dos

Estados. À partida os Estados não estão directamente submetidos à jurisdição deste tribunal. Pelo contrário,

eles têm que dar o seu consentimento - princípio da consensualidade. Diga-se desde já que os Estados

podem submeter os seus conflitos à jurisdiçãodo TIJ já depois da ocorrência desses conflitos ou ainda antes.

O consentimento é dado atravéz de um acordo dois Estados, que estejam em conflito, aceitam interpor uma

acção em tribunal para que este se pronuncie através de uma sentença ou acórdão. Também existe o

consentimento tácito em que o comportamento ou atitude do Estado demandado leva o TIJ a supor que esse

Estado aceitou tacitamente essa competência. Ex.: comparência do Estado demandado no tribunal para

discutir a acção. UmEstado que aceite tacitamente a jurisdição do TIJ não pode depois vir a contesta-la. Tal

violariao princípio da boa fé.

Também há a possibilidade da celebração de uma convenção internacional bilateral ou multilateral. Essa

convenção versa sobre o problema geral da solução pacífica dos conflitos internacionais, em que as partes

acordam em submeter ao TIJ, quaisquer conflitos hipotéticosque no futuro possam surgir entre eles.2 -

Cláusula compromissória de sujeição. Ou seja dois ou mais Estados Estados concluem uma CI sobre um

qualquer tema e nessa CI inserem uma cláusula (cláusula compromissória de sujeição), nos termos da qual

será o TIJ a julgar os casos que possam resultar da interpretação ou da aplicação dessa convenção.

Há também a Cláusula Facultativa de jurisdição obrigatória em que os Estados partes no Estatuto não ficam,

ipso facto, vinculados. Ela prevê que qualquer Estado parte declare, unilateralmente, que aceita no futuro a

jurisdição do TIJ. O Estado terá que fazer uma declaração e envia-la ao secretário das NU. Cada Estado

pode faze-la individualmente, não há, portanto, acordo com outros Estados. Por isso, vai ser em concreto,

por forçado encontro de dois consentimentos unilaterais, que o TIJ vai exercer a sua jurisdição. A subscrição

da cláusula é facultativa, mas uma vez subscrita a jurisdição do TIJ é obrigatória. O problema é que apenas

Page 35: Apontamentos de direito internacional público

cerca de 50 Estados até ao momento subscreveram aquela cláusula e, ainda para mais, metade deles com

reservas.

Reservas de aceitação temporal acontece quando um Estado subscreve aquela clausula mas só por um

determinado período de tempo.

Reservas de carácter substantivo exclui litígios que tenham a ver com determinado conteúdo.

Secretariado

É um órgão de carácter técnico e administrativo, pesado e burocrático, constituído pelosecretário-geral e

pelo pessoal exigido pela organização.O secretário-geral é eleito pela AG sob recomendação do Conselho de

Segurança, e é o principal funcionário da ONU. Não se deve ter a ideia de que é um órgão meramente

administrativo. Devido à paralisiado Conselho de Segurança, o Secretário das Nações Unidas avultou

algumas competências do Conselho de Segurança e vê-se diversas vezes o secretário-geral a imiscuir-se em

assuntos de política e diplomacia. Artigo 99º. Detém assim hoje competências que vão para além das

previstas na Carta.

Conflitos Internacionais

A Carta das Nações Unidas fala em situação e em conflito, parecendo apontar para diferentes competências

e formas de processo (arts. 11º nº3, 34º e 35º). De notar que a Assembleia-Geral e o Conselho de Segurança

tanto conhecem de situações como conflitos e que o Tribunal Internacional de Justiça, no âmbito da sua

competência contenciosa, e pela natureza das coisas, só conhece dos conflitos.

Em razão de gravidade, há conflitos que ameaçam a paz e outros não (art. 33º e ss.). Apenas os primeiros

cabem na competência do Conselho de Segurança, conquanto mais uma vez aqui as fronteiras não possam

ser traçadas em abstracto. Os conflitos que ameaçam a paz dividem-se num momento inicial, em que se

procura uma solução, e o momento de conflito armado ou a sua iminência.

No séc. XIX e XX, com o aparecimento de meios de destruição terríveis, os Estados procuraram restringir o

ius ad bellum como, sobretudo o ius in bello, o modo de fazer guerra, daí se manifestaram as seguintes

tendências, no Direito Internacional Contemporâneo:

Desenvolvimento da arbitragem

Regime de neutralidade e de neutralização

Princípio da protecção de vítimas, através da Cruz Vermelha

Estabelecimento de regras restritivas sobre a condução de guerra

Limitação dos armamentos e as restrições do emprego de certos tipos de armas

Estabelecimento de certas regras em caso de ocupação militar

As Nações Unidas, através do Conselho de Segurança, se arrogam, não do monopólio da força, mas da sua

avaliação (art. 24º e 38º ss. da Carta). A Carta apenas consente o uso da força pelos Estados em duas

circunstâncias:

Page 36: Apontamentos de direito internacional público

1. Em caso de legítima defesa, individual ou colectiva (art. 51º) - A legítima defesa decorre do

Direito Internacional geral ou comum e constitui mesmo um Direito Natural como se lê na Carta.

Este direito não é exclusivo dos membros das Nações Unidas, mas todos o podem invocar, até

sujeitos não estatais com base territorial. Pelo princípio da proporcionalidade, a defesa há-de ser

adequada à forma e ao conteúdo da agressão, à sua intensidade e gravidade. Em face das

competências específicas do Conselho de Segurança, o agredido tem o ónus de lhe comunicar a

situação e a sua reacção e deve cessar esta, logo que o Conselho adopte as providências necessárias

(art. 51º 2ª parte). Donde o seu carácter subsidiário e temporário

2. Em caso de assistência às próprias Nações (art. 2º nº 5), como participação em acções por elas

levadas a cabo ao abrigo do Capítulo VII ou noutras (operações de paz e de ingerência humanitária)

Uma Resolução da Assembleia-Geral estabeleceu uma lista de actos qualificados como agressão, entre os

quais:

A invasão ou ataque por forças armadas

Ocupação e a anexação territorial em consequência do uso da força

Bloqueio dos portos ou das costas de outro Estado

Ataque contra as forças armadas ou contra os navios e os aviões comerciais de outro Estado

Havendo contingentes militares no território de outro Estado, o prolongamento da sua presença

contra a vontade deste Estado

Concessão de facilidades a um Estado para cometer agressão contra um terceiro Estado

Envio de bandos armados contra o território de outro Estado

A solução de conflitos internacionais, em geral, pode percorrer dois caminhos distintos:

Via pacífica, sem o recurso à coerção - pode ser lido na Carta das Nações Unidas: “as partes numa

controvérsia que possa a vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais,

procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação,

arbitragem, via judicial, recurso a organizações ou acordos regionais, ou qualquer outro meio

pacífico à sua escolha”. Pela via jurisdicional poderá ser:

1. Via arbitral - resolução do litígio a partir da formação de um tribunal arbitral, que tem

como particularidade, não estando integrado no poder judicial público, a indicação

voluntária dos árbitros, bem como o seu limitado número, para além de poder incluir a

respectiva regulamentação, substantiva e adjectiva. Estes tribunais podem ser tribunais

arbitrais ad hoc: são apenas constituídos para a resolução de um específico litígio,

extinguindo-se encontrada a solução ou tribunais arbitrais permanentes: são permanentes,

estando já parcialmente pré-definidos.

2. Via judicial - representa a resolução de litígio a partir da intervenção de tribunais

judiciais, estruturas permanentes e integradas no poder judicial internacional.

Page 37: Apontamentos de direito internacional público

Diferentemente dos tribunais arbitrais, nestes as partes em conflito não interferem na

escolha dos juízes, que formam um corpo próprio e estável. O tribunal judicial

permanente julga segundo critérios de legalidade estrita em processo ritualizado. Um

tribunal constituído antes do litígio e com decisões de força jurídica pré-determinada

pressupõe uma institucionalização mais ou menos avançada do Direito das Gentes. É o

caso do Tribunal Internacional de Justiça, que, embora não possua o monopólio da justiça

internacional é, o tribunal vocacionado para dirimir os diferendos jurídicos entre os

Estados que possam afectar a paz e a segurança internacionais

Via bélica, com recurso à força - O uso da força no Direito Internacional esteia-se no papel do

Conselho de Segurança, que não o partilha com outro órgão. Compete-lhe ser o guardião da paz e

da segurança internacionais. O Conselho de Segurança intervém nos conflitos internacionais por

sua iniciativa (art. 34º e 36º), por iniciativa da Assembleia-Geral (art. 11º nº3) e por iniciativa do

Secretário-Geral (art. 99º). E intervém por iniciativa de qualquer dos Estados envolvidos, seja

membro ou não das Nações Unidas (art. 35º nº1 e 2); o Estado não membro tem de aceitar neste

caso, as obrigações decorrentes da Carta (art. 35º nº2).

Compete ao Conselho de Segurança verificar a existência da situação e, de seguida, tomar as

medidas apropriadas para as vencer. A situação pode se ou não uma ameaça à paz, uma ruptura

da paz ou uma agressão. À sua diversidade de gravidades correspondem medidas ajustadas,

segundo princípio da proporcionalidade: medidas provisórias, recomendações e depois decisões

obrigatórias. As decisões podem desembocar em sanções ou meios coercivos contra os Estados

infractores ou agressores. As sanções podem ser:

1. Coactivas não militares: coactivas por serem obrigações e não recomendações, não

envolvem o uso da força são exemplos: Interrupção completa ou parcial de relações

económicas; Interrupção completa ou parcial de meios de comunicação; Rompimento das

relações diplomáticas; Retorsão; Represália; Embargos ou sequestros (proibição

comercial); Boicotes ou proibições (não participação do infractor em actividades

internacionais)

2. Coactivas militares: “…poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas navais ou

terrestres, a acção que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a

segurança internacionais”. Pode ser tipificada em duas reacções: O uso da força militar

pode ser feito directamente pelos Estados sendo autorizados a tanto, ou por forças da

ONU

As operações de paz das Nações Unidas

As operações de paz não se confundem obviamente, com os processo de solução de conflitos, porque em si

mesmas não visam resolver conflitos, ou sequer estão previstas na Carta. E tão-pouco se confundem com as

acções em caso de ameaça da paz, ruptura da paz ou agressão porque não são repressivas, nem assumem

Page 38: Apontamentos de direito internacional público

carácter sancionário. Não abrangidas pela Carta, podem fundamentar-se todavia, no fim geral das Nações

Unidas de “manter a paz e a segurança internacional”, com a possibilidade de tomadas as medidas colectivas

eficazes que sejam necessárias (art. 1º).

Desenrolam-se sob a sua bandeira implicam o consentimento do Estado em cujo território se realizem

(embora situações tais, em que o poder não está instituído, apenas existe uma decisão externa) e pressupõem

sempre o respeito pela sua independência e pela sua integridade territorial.Têm natureza não coerciva, só se

admitindo o recurso à força em caso de legítima defesa. Postulam imparcialidade entre as partes envolvidas

no conflito – Estados ou facções no interior do Estado. Têm duração limitada, e cessam ou por se ter

alcançado o seu objectivo, ou por ele se ter tornado impossível ou a pedido do Estado em cujo território se

efectuam.

O órgão competente para decidir a realização de operações é o Conselho de Segurança, como órgão a que

cabe a “responsabilidade principal da manutenção da paz”, mas a direcção das operações compete ao

Secretário-Geral, o qual determina a composição das forças, celebra os necessários acordos com os Estados

que fornecem destacamentos e com os Estados em cujos territórios eles são colocados e comanda

superiormente as acções. O financiamento recai sobre a Organização através das contribuições (obrigatórias)

dos Estados-membros.

A nossa CRP refere sobre este aspecto no art. 275º que “incumbe às Forças Armadas, nos termos da lei

satisfazer os compromissos internacionais do Estado Português no âmbito militar e participar em missões

humanitárias e de paz assumidas pelas organizações internacionais de que Portugal faça”. A decisão há-de

pertencer ao Governo, em concertação com o Presidente (art. 120º, 182º e 201º nº1 alínea c da C.R.P.) e com

o acompanhamento pela Assembleia da República (art. 161º alínea j).

Estas operações de manutenção da paz podem ser de duas categorias:

1. Forças restritas: compostas por um reduzido número de observadores, que apenas pretendem

garantir o respeito pelo acordo de paz assinado, e mantendo a paz (peace keeping)

Forças amplas: fortemente militarizadas, que implicam deslocação de força militares, com uso de

armamento equiparável ao de um verdadeiro exercito regular, impondo a paz (peace enforcement)

Protecção Internacional dos Direitos do Homem

Protecção diplomática – proporciona a cada Estado, através dos seus representantes diplomáticos e

consulares, defender pessoas e bens dos seus cidadãos em relação aos Estados estrangeiros nos quais

os mesmos se encontrem. Esta protecção implica relações jurídicas internacionais entre os Estados.

A protecção internacional dos direitos do homem mesmo quando consista na atribuição directa de

direitos internacionais aos indivíduos, pretende assegurar os seus direitos e assegurá-los perante o

Estado de que são membros.

Protecção humanitária – associada à acção da Cruz Vermelha, surgiu para proteger militares

afastados de combate e populações civis. Tem como fontes primordiais as 4 Convenções de Genebra

de 1949. Os seus princípios aplicam-se não só a conflitos armados, como também catástrofes

Page 39: Apontamentos de direito internacional público

naturais e tecnologia. Esta protecção ultrapassa a defesa contra os poderes políticos, pois até porque

o seu móbil vem a ser a solidariedade humana, e refere-se a situações de extrema necessidade, como

a sobrevivência humana.

Protecção dos Refugiados – aproxima-se da protecção humanitária porque os refugiados são

vítimas de conflitos armados ou de situações de violência. Contudo, não se identifica com a

Protecção humanitária porque revela 1 relação forte com os Estados e com a Comunidade dos

Estados. A Declaração sobre o Asilo territorial foi o pacto relativo ao estatuto dos refugiados e as

Nações Unidas, têm por isso um seu Comissário para os refugiados.

A Carta das Nações Unidas contém normas substantivas sobre direitos do Homem mas é no entanto a

Declaração Universal dos Direitos do Homem que enuncia grandes princípios de respeito pela pessoa e pela

sua dignidade e que apresenta direitos, liberdades e garantias e outros económicos, sociais e culturais. Em si

o valor da Declaração Universal não sofre dúvidas. Não é um tratado, porque foi aprovada sob a forma de

resolução da Assembleia-geral das Nações Unidas, não vinculativa pelos Estados.

Foi a partir da Declaração Universal que os princípios relativos aos direitos do homem se difundiram e

começaram a sedimentar-se na vida jurídica internacional a ponto de alguns se elevarem a princípios de ius

cogens.

Os órgãos previstos na Carta das Nações Unidas com competência no domínio dos direitos do homem são:

O Conselho de Direitos do Homem como órgão técnico do Conselho Económico e Social e a que

têm acesso a organizações não governamentais

A Assembleia Geral como órgão para promover os Estados e fazer recomendações e o Alto

Comissário para os refugiados como 1 órgão subsidiário

O Tribunal Internacional de Justiça como órgão jurisdicional que pode ser chamado a decidir

questões entre os Estados atinentes a direitos do homem ou a emitir parecer

A Convenção Europeia dos Direitos do Homem 1950

A Convenção Europeia dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, assinada em Roma em

1950, foi o primeiro texto de protecção a nível regional e o primeiro que introduziu o acesso directo do

indivíduo a uma instancia internacional para a defesa dos seus direitos contra o próprio Estado. Surgida num

contexto histórica de pós-guerra.

Enuncia um catálogo de direitos fundamentais, reconhecidos directamente ao indivíduo, e sem distinção

alguma, agrupados em seis categorias:1 Integridade física; 2 - Liberdade e tutela jurisdicional; 3 Intimidade

pessoal e familiar; Liberdade intelectual;5 Actividade política; 6 Direito de propriedade e educação;

Prevêem-se vários mecanismos para assegurar o controlo da observância destes direitos por parte dos

Estados Membros.1 Informações fornecidas pelos Estados mediante solicitação do Secretário Geral do

Conselhoda Europa. 2 Queixas interestaduais: qualquer Estado-Membro do Conselho da Europa pode

denunciar outro Estado por alegadas violações de determinados direitos enunciados na Conexão. 3 Queixas

Page 40: Apontamentos de direito internacional público

ou demandas individuais: permite-se que os particulares possam recorrer directamente ao Tribunal Europeu

dos Direitos do homem. É aliás um mecanismo inédito porque trata-se de verdadeiras sentenças. Porém, os

particulares só podem recorrer depois deesgotados os recursos internos e depois dispõem, após esses

esgotamento interno, de um prazode seis meses para recorrer.

O tratado de 1950 viria a ser complementado por 11 protocolos adicionais, sendo o mais importante o 11º,

assinado em 1994 e entrado em vigor em 1998, o qual simplificou e reforçou o sistema de garantias dos

direitos e tornou obrigatória a jurisdição do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem para receber queixas

dos Estados e “petições” individuais.

O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem pode receber petições de qualquer pessoa singular, organização

não governamental ou grupo de particulares que se considere vítima de violação por qualquer Estado

vinculado pela Convenção, de qualquer direito reconhecido tanto na Convenção como nos seus Protocolos.

O Tribunal funciona por comités de 3 juízes, em secções de 7 e em tribunal pleno de 17.

O Tribunal não anula ou revoga as decisões dos tribunais internos dos Estados, apenas decide se houve ou

não violação de direitos garantidos pela Convenção, e em caso positivo poderá – se o Direito Interno só de

forma imperfeita permitir remediar as suas consequências – conceder à vítima uma reparação razoável. As

decisões definitivas são vinculativas e, para efeito da sua execução, transmitidas ao Comité de Ministros.

Conexa com as matérias da Convenção de 1950 e também obra do Conselho da Europa, é a Convenção

Europeia para a Prevenção da Tortura e das Penas ou Tratos Desumanos ou Degradantes, de 1987, a qual

institui um comité destinado a apreciar o modo como são tratadas as pessoas privadas da liberdade.

A Carta Social Europeia

Paralela à Convenção, encontra-se a Carta Social Europeia, aprovada em 1961 e alterada por Protocolo em

1991. Portugal ratificou-a somente em 1991. Da Carta constam principalmente direitos dos trabalhadores a

que corresponde uma relativa diversidade de obrigações de Estados.

A Convenção sobre os Direitos do Homem e a Biomedicina

Esta Convenção assenta em três grandes princípios:

1) O primado do ser humano sobre os interesses da sociedade e da ciência

2) O princípio do consentimento

3) O respeito pela vida privada

Tem normas de grande interesse, como as sobre o genoma, a investigação científica, a colheita de órgãos e

tecidos em dadores vivos para fins de transplante e a utilização de partes do corpo humano. O Tribunal

Europeu dos Direitos do Homem recebe competência para emitir parecer sobre a sua interpretação e prevê-

se o envio de relatórios dos Estados-partes ao Secretário-Geral do Conselho da Europa.

A Carta de Direito Fundamentais da União Europeia

Page 41: Apontamentos de direito internacional público

A Carta é um longo texto de 54 artigos dividido em 7 capítulos: I – Dignidade; II – Liberdade; III –

Igualdade; IV – Solidariedade; V – Cidadania; VI – Justiça; VII – Disposições gerais. Em confronto com a

Convenção Europeia, ela alarga substancialmente o acervo de direitos e oferece uma melhor sistematização,

embora seja menos pormenorizada ao descrever os respectivos conteúdos. Mas tem o cuidado de precisar

que, havendo correspondência entre os direitos nela declarados e os previstos na Convenção, o sentido e o

âmbito deles são iguais aos conferidos pela convenção, a não ser que a Carta garanta uma protecção mais

extensa.

Carta Social Europeia ± 1961;

Enuncia os direitos económicos, sociais e culturais e entrou em vigor em 1965.1 ± Direito ao trabalho;2 ±

Direito Sindical;3 ± Negociação colectiva;4 ± Segurança social;5 ± Assistência social e médica;6 ± Direitos

de família;7 ± Trabalhadores migrantes;Também aqui há um mecanismo de vinculação inédito dos Estados.

Cada Estado podecomprometer-se a adoptar cinco dos sete direitos previstos na Carta.O sistema de controlo

resume-se ao exame dos relatórios apresentados pelos Estados partes, não estando previstas as queixas

interestaduais ou individuais, como vimos suceder noâmbito da CEDH.

Responsabilidade Internacional

No Direito Internacional contemporâneo a responsabilidades internacional deixa de ser assunto privado dos

particulares, convertendo-se em assunto público. Contudo, para os assuntos de menor gravidade, continua a

ser um assunto privado. Neste contexto se insere a distinção entre crimes e delitos internacionais.A

finalidade deixa de ser meramente reparatória e passa a comportar uma dimensão sancionatória. As sanções

são impostas pelas organizações internacionais. No modelo moderno de Direito Internacional a

responsabilidade internacional por factos ilícitos individualizou-se. O indivíduo tornou-se sujeito de direito

internacional. A responsabilidade objectiva, pelo risco ou sem culpa, constitui outro tipo deresponsabilidade.

O fundamental é a conduta em si mesma e o resultado dela adveniente. A culpa e o dolo dos titulares dos

órgãos e dos agentes poderão, contudo, em certas circunstancias, apenas interessar para graduar a

responsabilidade.

Simples particulares podem também praticar actos que acarretem responsabilidade do Estado a que

pertencem em face do Estado estrangeiro (ou de outro sujeito de Direito Internacional). É o que acontece em

motins ou outra perturbação pública que afecte a representação ou cidadãos estrangeiros, mormente quando

as forças da ordem não tenham sido eficazes. Responsabilidade indirecta pode igualmente sobrevir perante

certos danos ambientais graves.

Ocorrendo rebelião ou insurreição, o Estado responde tanto pelos danos provocados pelas autoridades

constituídas e pelos seus agentes quanto pelos danos provocados pelos rebeldes ou insurrectos. Derrotados

ou vitoriosos estes, o Estado – enquanto instituição que perdura para além dos detentores concretos do poder

e que mantém sempre a sua identidade jurídica internacional – nunca deixa de estar adstrito à obrigação de

Page 42: Apontamentos de direito internacional público

reparar tais danos. Só não será assim quando se tratar de danos causados por rebeldes estrangeiros cujo

Estado lhes haja reconhecido o estatuto de beligerantes.

A conduta é do Estado, a imputação de qualquer acção ou omissão faz-se a partir de pessoas físicas que, no

momento da sua prática, possuam efectivo poder de decisão no Estado e que, portanto, devem ser

consideradas titulares dos seus órgãos – sejam eles quais forem – de vinculação internacional. A eventual

incompetência ou usurpação de funções, de ordinário, só será tida em conta para efeitos do Direito Interno.

O lesado pode ser um particular, não gozando de subjectividade internacional, haverá que obter a mediação

do Estado por via de protecção diplomática. Coisa diversa se verifica nas hipóteses de protecção

internacional dos direitos do homem, em que o Estado fica obrigado a indemnizar um seu cidadão, vítima de

uma acção ou omissão sua lesiva de direitos dele.

A legítima defesa, o consentimento da vítima, a força maior e o estado de necessidade são causas de

exclusão de ilicitude. Mas não isentam (salvo legítima defesa) do dever de indemnizar.

A responsabilidade internacional penal do indivíduo

Eis os traços básicos da competência do Tribunal Penal Internacional tal como resultam do estatuto:

Crimes sujeitos a jurisdição do Tribunal são o genocídio, os crimes contra a humanidade e de guerra

Um Estado que seja parte no estatuto aceita a jurisdição do Tribunal relativamente àqueles crimes

quando as correspondentes condutas tenham sido cometidas no seu território ou quando sejam seus

cidadãos os acusados da sua prática

Não obstante, o Tribunal não admite um caso quando ele seja objecto de inquérito ou de processo no

Estado que tenha jurisdição sobre o mesmo, salvo se este não estiver disposto a levar até ao fim a

investigação ou o processo ou não mostrar capacidade para o fazer

O Conselho de Segurança pode impedir o início ou a continuação de uma investigação ou de um

processo por períodos não superiores a 12 meses com base em resolução aprovada – quer dizer, por

razoes de paz e de segurança internacional

Por outro lado estabelece-se, pela função do Tribunal:

Não-imunidade dos titulares de cargos políticos, dos chefes militares e dos superiores hierárquicos

Não-isençao de responsabilidade criminal dos subordinados, quando as ordens cumpridas sejam

ilegais e quando se trate de genocídio e de crimes contra a humanidade

Imprescritibilidade dos crimes

Obrigações de cooperação dos Estados, designadamente para a entrega de pessoas ao Tribunal

Proibição de reservas ao estatuto

Como pena máxima, a pena de prisão por 30 anos ou, se a extrema gravidade do crime e as condições

pessoais do agente o justificarem, a de prisão perpétua com um necessário reexame, ao fim de 25 anos de

execução pelo Tribunal

Page 43: Apontamentos de direito internacional público

Há certos comportamentos dos indivíduos que afectam interesses gerais da comunidade internacional e por

isso houve a necessidade de qualificar essas condutas dos indivíduos como crimes internacionais. Mas, o

indivíduo pode actuar sob duas roupagens distintas, às quais vão equivaler infracções diferentes: A titulo

privado, por sua conta e risco; delicta iuris gentium

Temos como exemplo a pirataria, tráfico de escravos, estupefacientes. Aqui o individuo actua em privado e

não podemos dizer que ele é sujeito de direito internacional porque as normas internacionais

autorizam/impõem, aos Estados a punir as infracções. Essas normas não se dirigem directamente aos

indivíduos. Neste tipo de crimes dificilmente se poderá sustentar a tese da personalidade jurídica

internacional do indivíduo, pois as normas de Direito Internacional, embora prevendo a respectiva punição,

dirigem-se em primeira linha aos Estados e só mediatamente aos indivíduos.Estas autorizam/obrigam os

Estados a julgar os indivíduos.

Temos como exemplos crimes contra a paz, crimes de guerra, crimes contra ahumanidade, genocídio. Neste

tipo de crimes, o indivíduo já é sujeito de direito internacional geral ou comum, pois o TPI está habilitado a

julgar estes crimes, pelo que as normas se dirigemdirectamente ao indivíduo.

Estado - Noção

Um Estado pode definir-se como uma entidade composta por três elementos.

1. População

2. Território

3. Governo

O Estado goza de soberania que é a competência das competências. A competência decada Estado é limitada

pela soberania dos outros Estados que são juridicamente iguais. A independência reconduz-se à capacidade

do Estado assegurar o seu próprio bem estar e desenvolvimento, sem interferências exteriores,

nomeadamente da parte de outros estados. Isto significa a ausência de subordinação orgânica e jurídica do

Estado face a outros sujeitos de DireitoInternacional; O direito dos Estados de exercerem jurisdição sobre os

respectivos território e população; a autonomia constitucional e política do Estado. Mas também significa a

exigência de respeito pelo direito internacional; o dever de não ingerência nos assuntos internos de outros

Estados; o principio de proibição de recurso à força nas relações internacionais; a obrigação de solução

pacífica dos assuntos internacionais e o dever internacional de cooperação.

Quanto à competências que decorrem da soberania dos Estados perante o Direito Internacional temosJus

Tractum: direito de concluir tratados ou convenções internacionais;

Jus Legationis: o estabelecimento de relações diplomáticas ao nível dos embaixadores;

Direito de Legação activo: envio de missões diplomáticas.

Direito de legação passivo: recepção de missões diplomáticas.

Direito de Reclamação internacional: recurso dos Estados de se socorrerem de meios político diplomáticos ou

jurisdicionais junto de determinadasinstâncias internacionais para fazer valer direitos no plano internacional.

Page 44: Apontamentos de direito internacional público

Jus ad Bellum: direito de fazer a guerra. Actualmente, fruto da consagração do princípio da proibição do

recurso à força nas relações internacionais, 2º CNU, 51º CNU, sobejam apenas as duas primeiras.

.

Métodos Jurisdicionais1- Solução ditada por um tribunal permanente1- O tribunal internacional de justiça

Interposição da acção e fases do processo contencioso - 40º, 42º, 43º, 46º, 54º, 55º,56º, 57º, 59º, 60º, 61ºETIJ

Nos termos do artigo 40 do ETIJ, as acções são interpostas mediante notificação doacordo especial, ou

através de uma petição escrita dirigida ao escrivão, nos demais casos.Deverão ser indicados, nesse momento

inicial, o objecto da controvérsia e as partes que pleiteiam.O processo tem duas fases: uma escrita e outra

oral. Pela redacção do artigo 43º, no processo escrito constam comunicação ao tribunal e às partes de

memórias, contra memórias e eventualmente réplicas. No processo oral o tribunal ouve testemunhas, peritos,

agentes, consultores e advogados. As audiências são públicas. As partes podem contudo pedir que o

processo decorra à porta fechada bem como o próprio tribunal assim o pode decidir também ± artigo 46º.

Nos termos do artigo 54º, o tribunal retira-se para deliberar. As decisões são tomadas por maioria dos juízes

presentes, tendo o juiz presidente voto de qualidade em caso de empate.55º.Por fim, há um dever de

fundamentação da decisão. Os juízes minoritários podem publicitar a sua discordância ± artigo 56º ETIJ,

através da opinião individual e da opiniãodissidente. A decisão tem uma eficácia que se circunscreve às

partes litigantes e ao caso subJúdice 59º, regra que pretende excluir os precedentes jurisdicionais.Quanto à

possibilidade de haver recurso diga-se que este não é possível pois o TIJ é umTribunal de última instância

60º. Excepcionalmente, a pedido de qualquer das partes, admite-se que o Tribunal interprete o

acórdão.Porém há uma possibilidade contemplada no artigo 61º. Essa possibilidade existeapenas quando se

verifica a descoberta de um facto novo que pode revelar -se decisivo paraalterar o sentido da decisão. Esse

desconhecimento não pode ser devido a negligência das partes. Depois de conhecido desse facto novo, o

prazo de recurso é de seis meses.