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Page 1: Anne e o Coronel - samantaf2010.files.wordpress.com€¦ · Web viewAutora: Radhika Coronel Fitzwilliam encontra em Anne uma pessoa muito diferente daquela frágil menina que sempre

Anne e o Coronel - capítulo 1 (Radhika)by tradução: Teca

Anne e o CoronelAutora: Radhika

Coronel Fitzwilliam encontra em Anne uma pessoa muito diferente daquela frágil menina que sempre conhecera e, ao conhecê-la melhor, acaba encontrando a si mesmo.

Capítulo IO coronel Fitzwilliam respirou aliviado assim que deixou o salão, longe da tagarelice de lady Catherine de Bourgh. Parado próximo ao portão, ele perscrutou o gramado e as castanheiras ao longe e considerou o que fazer a seguir. Tinha que resgatar o bom-humor perdido com as reclamações de sua tia em relação à ofensa à memória dos antepassados de Pemberley, durante quase duas horas. Após várias tentativas vãs de sair dali, ele se resignou à provação quando sua mãe, uma mulher sensata, lhe enviou uma nota pedindo-lhe que executasse urgentemente uma tarefa imaginária. Se ele soubesse que lady Catherine estava de visita, teria adiado sua chegada a Matlock. Por sorte, sua tia não ficaria para o Natal e partiria em dois dias.

Caminhando lentamente, ele estremeceu ao se lembrar do longo discurso da tia, indignada com a presença dos Gardiner em Pemberley no Natal. Embora só precisasse suportar a companhia dela no máximo duas vezes por ano, isso era suficiente para desgastar até mesmo um homem amigável e simpático como ele. Agora que Darcy estava casado e não mais era convidado a visitar Rosings, ele se perguntava se a tia continuaria a lhe estender o convite, no mês de março próximo. Ele sempre suspeitara que Darcy a persuadira a incluí-lo no convite. Ele apreciava sua estada em Rosings e havia alguns anos que tentava obter uma licença para se juntar a Darcy em suas visitas anuais. Ele excursionava pela propriedade, jogava bilhar com Darcy, cavalgava, se encontrava com a sociedade local e lia alguns livros. Mas, sem Darcy para dividir a torrente de conselhos da tia e com o atual humor em que ela se encontrava, ele não tinha certeza se a visita seria agradável e decidiu inventar alguma desculpa para não ir.

Ao alcançar o rio, aventou a possibilidade de ir até a vila visitar o pastor e talvez se deliciar com a visão de sua encantadora filha. Porém, abandonou a idéia visto que não se sentia muito generoso em relação às mulheres no momento, por mais bonitas que fossem, e decidiu continuar sua caminhada para aproveitar a paz e serenidade do campo.

Entretanto, imediatamente após ultrapassar uma pequena elevação, deu-se com a visão de uma jovem sentada de costas para ele, levemente inclinada como se lesse um livro com muita atenção. O chapéu dela e alguns outros livros estavam espalhados ao seu lado. Com exceção de alguns cachos rebeldes, que dançavam com a brisa contra o fundo branco formado pelo xale que cobria seus ombros, ela se encontrava completamente imóvel. William nunca vira uma figura tão perfeitamente harmonizada com aquela paisagem. Ao ouvir o som de seus passos ela se voltou em sua direção e William, reconhecendo-a, se deteve e exclamou:

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Anne e o Coronel - capítulo 1 (Radhika)by tradução: Teca

– Anne.

Anne olhou para cima, agarrando seu xale.

– Olá, primo William – ela disse pausadamente.

William estava surpreso. Era a mesma Anne, magra, com as feições insípidas – mas havia algo diferente nela. Por um breve momento, ao elevar o olhar, seus olhos pareceram brilhantes e muito vivos. Ela agora pendia o rosto para frente e permanecia imóvel, segurando seu livro com uma das mãos e apertando ainda mais o xale com a outra. Não se lembrava de alguma vez tê-la visto ao ar livre como agora, mesmo em Rosings. Ela estava sempre sentada ao lado da mãe ou sendo ajudada pela sra. Jenkins, ou viajando em sua carruagem fechada. Descobrir que a jovem que momentaneamente o intrigara era Anne, sozinha, lendo um livro ao ar livre, foi o suficiente para deixá-lo sem saber o que dizer.

Recompondo-se rapidamente, ele falou num tom bem mais calmo.

– Eu não esperava encontrá-la aqui, Anne. O que você está lendo? – perguntou, já antecipando um desinteressante livro sobre conduta feminina.

– Viagens de Magellan – ela respondeu em voz baixa.

Pego de surpresa, ele permaneceu calado por um segundo e então repetiu, quase sem convicção – Magellan?

– Sim. Você conhece Magellan, explorador do século dezesseis que deu a volta ao mundo; estes são os relatos daquela viagem – ela explicou gaguejando um pouco.

Aborrecido com seu próprio embaraço e com a explicação dela, ele resmungou num tom irritado.

– Sim, eu sei quem é Magellan. Mas o que você está fazendo aqui? Embora não esteja ruim, não creio que este tempo lhe faça bem. Onde está a sra. Jenkins?

– Ela foi buscar um agasalho para mim – ela respondeu com muita suavidade e então, como que para confirmar a necessidade do agasalho, espirrou.

– Acho que seria melhor você entrar. Sua mãe vai se zangar se perceber que você está aqui – William aconselhou-a, inclinando-se para ajudá-la a recolher os livros. Notou um maço de papéis, com o que deveria ser a caligrafia de Anne, amarrado com uma fita. Percebendo a agitação de Anne e a ansiedade com a qual tentou alcançar os papéis, ele rapidamente pegou o pacote e, levado pela curiosidade, passou os olhos pela primeira página onde as palavras ‘As Aventuras de Antonia’ dominavam o papel, escritas com uma firme caligrafia feminina. Ele a olhou, surpreso, e o rosto dela, corado de vergonha, confirmou o que ele queria saber.

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Anne e o Coronel - capítulo 1 (Radhika)by tradução: Teca

– Ah, eu não sabia que tínhamos uma escritora na família – ele sorriu, sentindo-se dono de si novamente agora que ela torcia as mãos, agitada, e ignorando seus tímidos protestos, declarou com naturalidade a sua vontade de ler aquela história. Colocando o maço debaixo do braço, ele lhe fez uma galante reverência e, deixando Anne sob os cuidados da sra. Jenkins que havia retornado com o casaco, afastou-se, sentindo-se satisfeito por ter conseguido vingar-se dela. Ele, cel. Fitzwilliam, o homem que nunca tivera qualquer problema para conversar até mesmo com o mais estranho dos estranhos se vira inacreditavelmente buscando por palavras. Tinha toda a intenção de ler aquela aventura de Antonia e descobrir o que sua esquálida prima tinha a dizer.

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Capítulo 2by tradução: Teca

Anne e o CoronelAutora: Radhika

Capítulo IIApós o inusitado encontro, o cel. Fitzwilliam tinha toda a intenção de se retirar para a biblioteca imediatamente e ler o livro. Mas mal havia caminhado poucos metros na direção da casa quando foi abordado pelo chefe dos jardineiros. Queria que ele recomendasse à lady Fitzwilliam um determinado projeto que tinha para o laranjal. Depois de conversar com o homem por algum tempo, William seguiu para casa e, ao ouvir o som de Mozart ao piano, entrou na sala de música. Sorriu, fazendo um sinal com a mão para que ela continuasse tocando e se sentou próximo ao piano.

Sua mãe era uma dessas raras mulheres que mantinham a prática musical e a leitura mesmo após anos de casamento e as obrigações sociais que isso acarretava. Muitos diziam a William que ele havia herdado dela seu excelente gosto em livros e música, sua apreciação pela boa culinária, seu temperamento agradável e sua bonomia. Ela era uma mulher gentil e sensível a quem seu pai sempre se referia como sendo um grande alento depois de ter convivido com suas duas irmãs. Ele a ouviu tocar com muito prazer, como sempre, e assim que ela terminou a peça, já que não tivera a chance de vê-la a sós desde sua chegada, sentou-se ao seu lado para conversar um pouco.

Falaram sobre ela, os negócios referentes à propriedade, a saúde do pai dele e por último sobre Christopher, seu irmão. Ele sorriu quando a conversa passou a girar em torno dos planos de casamento para seu irmão. O visconde, assim como ele próprio, não tinha a mínima pressa em se casar, causando muito angústia à sua mãe. Outra estação se passara, com muitas jovens bonitas e suas mães casamenteiras, sem muito proveito. William sorriu com malícia,

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Anne e o Coronel - capítulo 1 (Radhika)by tradução: Teca

aliviado por ser o filho mais novo e, portanto, poupado da pressão de gerar um herdeiro. Sua mãe esperava que lady Alice, que ela acreditava ser muito adequada, fisgaria Christopher ou vice versa. William comentou que esperava, se isso acontecesse, que pelo menos seu irmão não saísse declamando poemas de amor como Darcy, pois isso invariavelmente lhe causava náuseas, o que originou a esperada censura afetuosa da parte dela.

Certamente ele apreciava conversar com todas aquelas belas jovens, eram todas tão prendadas, cantavam e bordavam e pintavam e tudo mais. Até se permitia flertar de tempos em tempos com uma ou outra moça que lhe agradasse, deixando claro que nada havia de sério. Pois ele não acreditava nessa idéia sem sentido sobre romance. Não, ele não tinha intenção de se casar, não enquanto isso pudesse significar prejuízo para ele. Não tinha porque sacrificar seu conforto, e se pressionado, se fosse preciso, então escolheria sua esposa após considerar com muito cuidado a sua fortuna.

Com tais pensamentos em mente, ele se esqueceu completamente do livro até ver tia Catherine no jantar. Ela explicou que Anne não se sentia bem e havia se retirado mais cedo. William se perguntou se seria verdade ou apenas um estratagema para evitá-lo. Então, logo após o jantar ele correu para seus aposentos e se instalou para desfrutar das Aventuras de Antonia.

Era um livro ambientado em um reino imaginário e narrava, até o momento, três aventuras da princesa Antonia. As tramas eram bem comuns, sobre uma jóia desaparecida, um assassinato cometido durante o primeiro baile da princesa e uma rebelião em um reino vizinho. Mas a narrativa era muito envolvente, as personagens pareciam ter vida, as situações eram totalmente críveis e William se viu sorrindo e rindo ao longo da leitura. Em um determinado ponto, chegou a rir tanto que precisou secar algumas lágrimas. Ainda sorria ao terminar a última aventura e depois de alguns segundos pôs-se a refletir sobre a autora. Era inacreditável que a autora daquele livro fosse a mesma Anne que passava seus dias sentada, murmurando no máximo uma ou duas palavras, sem ao menos erguer os olhos. Ele nunca tivera uma pista todos estes anos. Esta curiosa descoberta o deixou tão perplexo que mal conseguiu dormir e, quando o fez, teve estranhos sonhos sem sentido.

Na manhã seguinte quando entrou na sala de refeições para o café da manhã, ainda não havia sinal de Anne e, apesar de caminhar até o mesmo local e ficar em casa o resto do dia, não conseguiu encontrá-la. A sra. Jenkins o informou de que ela ainda se sentia indisposta e, no final daquela tarde, ele decidiu escrever-lhe um recado sobre o livro e mandá-lo para ela. Se ela estivesse simulando a indisposição, isto certamente seria suficiente para fazê-la sair de seu quarto. Sem saber ao certo o que escrever, decidiu afirmar que gostara muito do livro, especialmente da interação entre as personagens e da análise do comportamento humano, que a personagem do bispo Cotello, para citar um exemplo, era de fato muito engraçada... Ele parou com a pena no ar. Na verdade... por Deus, aquela era uma caricatura do sr. Collins! Ao perceber isso, fez uma surpreendente descoberta. Anne não se sentia gratificada com os elogios extravagantes do sr. Collins como ele pensara, achava-o ridículo todo o tempo. O tom de seu texto era muito claro – a narradora zombava de sua

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viscosidade e de sua estupidez. Agora ele também podia ver que a rainha era lady Catherine, o tímido rei era o administrador, sr. Perry, e a sra. Jenkins era provavelmente a irmã mais nova da princesa. Permaneceu imóvel por alguns minutos. Era assim que Anne enxergava todas estas pessoas e que surpresa isso era para ele – em comparação ao seu estado físico, a mente dela era ágil e perspicaz e... Ele jogou a pena sobre a mesa e se sentou com as mãos na cabeça. Ele não tinha idéia... não podia apenas lhe escrever uma nota, tinha que falar com ela. Precisava mostrar-lhe o quanto admirava suas histórias e suas opiniões.

Esperou ansiosamente para ver se ela apareceria para o jantar. Mas quando ela o fez, ele não soube por onde começar. Estavam todos sentados, seus pais pronunciando algumas poucas palavras, tia Catherine tagarelando como de hábito, Anne com a cabeça abaixada e a sra. Jenkins lhe servindo. William queria desesperadamente encontrar seu olhar, sorrir para ela, indicando que estava tudo bem. Ele titubeava, limpava a garganta e tossia e, já sem idéias de como chamar-lhe a atenção, apenas a encarava de tempos em tempos. Era óbvio que lady Catherine não tinha a mínima idéia do talento criativo de Anne e não seria ele quem a denunciaria e lhe causaria problemas. Quando o assunto se voltou inevitavelmente à lady Alice e todos começaram a expor suas idéias sobre o que se esperava de uma noiva do visconde, William aproveitou a oportunidade para perguntar num tom bem casual:

– Qual é a sua opinião, Anne?

Anne, sobressaltada, ergueu os olhos, finalmente encontrando os dele. Antes que ela pudesse reagir, lady Catherine a interrompeu, dizendo;

– Oh, Anne concorda inteiramente comigo, pois como eu Anne também tem uma grande capacidade para analisar o caráter das pessoas. Não é mesmo? Outro dia mesmo...

Anne pendeu novamente a cabeça e o momento se perdeu. William esperou pacientemente e tentou outra vez ao perguntar-lhe sobre uma nova dança introduzida no ano anterior chamada valsa. Lady Catherine logo irrompeu:

– É chocante, tão constrangedor que uma forma tão indecente de dança tenha sido introduzida na sociedade inglesa. Eu lhes digo que isso nunca nos acrescentará nada. Moças decentes nunca se renderão a essa danças tão espalhafatosas.

Anne nem se deu ao trabalho de erguer a cabeça desta vez. William rangeu os dentes. A pobre Anne mal tinha chance. Em sua frustração e suas vãs tentativas, William não notou os olhares de repreensão que seu pai lhe dirigia e os de surpresa estampados no rosto de sua mãe. Assim, quando as mulheres deixaram a sala, ele se viu totalmente surpreendido quando seu pai lhe disse de maneira incisiva:

– Que diabos você acha que está fazendo?

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Anne e o Coronel - capítulo 1 (Radhika)by tradução: Teca

– Sobre o quê?

– Sobre o quê? Sobre torturar Anne! Você sempre foi extrovertido, mas nunca pude supor que se divertisse em atormentar alguém dessa maneira. O que está acontecendo com você?

– Mas pai, eu só estava tentando saber qual era a opinião dela, acho que ela é... quer dizer, ela deve querer... – ele gaguejou, percebendo como ela deveria ter se sentido. Naturalmente ela havia entendido, ou será que não?

Seu pai o olhou preocupado e disse:

– William, não sei o que o motivou a fazer isso, mas compreenda que Anne é uma moça muito, muito retraída, dolorosamente, extremamente tímida. Ela é muito sensível e ao colocá-la como centro das atenções você só está lhe causando problemas – concluiu, esfregando levemente o nariz.

William observou esse gesto e exclamou:

– Meu Deus, o senhor é o ministro Florentino!

– Como?

– Bem, é que eu li um livro que Anne... – começou hesitante e se surpreendeu quando o pai se voltou para ele e indagou:

– Anne lhe mostrou o livro?

– Na verdade, fui eu quem o pegou – resmungou embaraçado antes de perguntar – Você sabe sobre o livro?

Seu pai suspirou e, olhando pela janela, começou a falar lentamente.

— Anne sempre foi tímida, desde que era pequena. Todos que a viam comentavam como não puxara em nada à sua bela mãe, como não possuía sua presença autoritária. Ainda por cima, sempre caía doente com qualquer provocação e, em vez de incentivá-la pouco a pouco a manifestar seus próprios pensamentos, Catherine simplesmente deixou-a a cargo da governanta que apenas se agitava ao redor de Anne e a aconselhava a permanecer dentro de casa, sem sair para qualquer atividade ao ar livre. A pobre criança foi ficando cada vez mais morosa, desanimada e sem graça. Sempre que a encontrávamos, sua mãe e eu tentávamos ajudá-la, mas não podíamos competir com os constantes maus conselhos da mãe dela. Georgiana tem o mesmo problema de timidez, mas você e Darcy cuidam dela, Mas para Anne, as ações e opiniões da mãe foram sempre muito prejudiciais. As pessoas sempre a consideraram apenas como a filha de Catherine. Pelo menos Anne adquiriu o hábito de ler os livros com que a presenteávamos, embora não seguisse nossos outros conselhos. Ela devorava os livros com tamanha ânsia que eu precisava procurar, a cada poucos meses, novos livros interessantes sobre todo tipo de assunto. Ela começou a escrever alguns anos atrás, criava

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todas essas histórias para mim. Eram tão divertidas que continuei a encorajá-la.

– Então o senhor é o ministro Florentino, o homem bom e sábio que sempre apóia a princesa – ele comentou.

Lord Fitzwilliam sorriu.

– Creio que ela se empolgou um pouco na adulação – e com um tapinha no ombro do filho, acrescentou com um tom sério – William, se você realmente quiser ajudá-la, pense na maneira adequada de fazê-lo – e com isso, ele o guiou à sala de estar.

William ficou desapontado ao perceber que Anne não estava lá. Naquela noite, ele releu o livro para descobrir se ela o havia mencionado em algum ponto da trama. Talvez um ousado general que roubava o coração da princesa? Com o desapontamento por não encontrar nada do gênero, foi dormir com o único consolo de que tampouco Darcy era mencionado.

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Capítulo IIILevando em conta a conversa que tivera com seu pai e o fato de que Anne partiria para Rosings naquela tarde, quando William desceu para o café da manhã, ele estava decidido a falar com ela de uma forma ou de outra. Armado com o The Times, ele sentou-se para o café mais prolongado de toda a sua vida até que Anne desceu. Ela hesitou por um breve momento e então prosseguiu bravamente. Pela primeira vez a sra. Jenkins não parecia estar por perto, sem dúvida estava cuidando da bagagem de acordo com as instruções cruelmente detalhadas que lady Catherine costumava dar. William se animou. As coisas finalmente pareciam dar certo.

– Anne, quero cumprimentá-la por um livro tão bem escrito. Estou impressionado com as suas opiniões e suas palavras – ele começou assim que ela se sentou. – E ontem à noite eu realmente queria conversar com você, saber sua opinião. Eu não sabia que você era tão... quer dizer, eu não sabia que você tinha... hã.. que você escrevia – sua habitual eloqüência lhe falhava toda vez que falava com Anne estes últimos dias. A implicação de que antes ele havia pensado que ela era uma imbecil não era exatamente um elogio. Ele respirou fundo e disse com muita sinceridade – Estou estragando tudo. Na verdade eu quero elogiá-la. Foi o livro mais agradável que li nos últimos tempos – Ele fez uma pausa, desejando desesperadamente que ela ao menos olhasse para ele. – Anne, espero sinceramente que não apareça um ogro chamado Fitzwilliam em sua próxima história.

Seus ombros tensos relaxaram quando Anne ergueu os olhos e ele foi premiado com um lento sorriso após um momento de hesitação. O sol brilhando através das nuvens, pensou Fitzwilliam.

– Obrigada, William – ela disse timidamente.Texto original (original text: Anne and the Colonel): http://www.pemberley.com/derby/radhika.aatc.html

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Depois disso William recuperou sua fluência natural, com Anne escutando a maior parte do tempo. Ele não cometeu o mesmo erro de forçá-la. Quando terminaram o café, relutante em sair, ele perguntou – Anne, você gostaria de caminhar comigo até o rio. Está um dia incomumente bonito – Quando ela concordou, ele fez sua melhor imitação do sr. Collins – Estou enormemente agradecido que minha cara prima me honre ao concordar em passear comigo – ganhando com isso um riso abafado e adorável de Anne.

Caminharam descontraídos enquanto William contava a ela sobre sua estada em Londres, suas recentes experiências com os soldados, os novos livros que havia lido. Como ele esperava, ela logo relaxou o suficiente para olhá-lo nos olhos de tempos em tempos, sorrir com um certo charme com os comentários espirituosos dele e até expor um pouco de seus próprios pensamentos durante as pausas encorajadoras de William. Ele perdeu totalmente a noção do tempo e foi Anne quem lhe relembrou que ela deveria retornar e se preparar para partir para Hunsford.

Naquela mesma tarde lady Catherine e Anne partiram. A carruagem as esperava em todo o seu esplendor. William deu a mão a Anne para ajudá-la a subir e ao notar que ela estremecera levemente, abaixou-se para ajeitar o tapete de modo que agasalhasse os pés dela, perguntando-lhe se ela estava bem. Então, irritado consigo mesmo por rodeá-la de cuidados como uma galinha com sua cria da mesma forma que a sra. Jenkins fazia, ele se afastou e gesticulou um adeus. Pela primeira vez em toda a sua vida ele observava a partida da carruagem de sua tia. Não se sentia feliz. Na verdade sentia-se deprimido. Ele não estava apaixonado por Anne ou qualquer coisa desse gênero, disse a si mesmo, somente a admirava e sentia pena dela e... de forma alguma Anne era adequada para ele.

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Após um Natal sem grandes acontecimentos, ele voltou para suas obrigações em Londres. Os dois meses seguintes foram ocupados com o treinamento de seus homens e debelações de alguns tumultos na cidade. Ele recebeu algumas cartas, de Darcy lhe contando sobre sua felicidade conjugal, de lady Fitzwilliam mencionando tudo sobre lady Alice e de seu irmão sem mencionar absolutamente nada sobre lady Alice. Mais a mais importante para ele foi a de lady Catherine convidando-o para ir a Rosings.

Surpreendendo a si mesmo, pensara muito em Anne. Qualquer livro, música ou incidente interessante era motivo para querer comentar com Anne. Qualquer coisa remotamente relacionada com o livro dela o fazia se lembrar da obra e das observações divertidas de Anne. Nas tardes tranqüilas ele se pegava recordando seu sorriso tímido e seus olhos cor de âmbar. Até quando via outras moças, pensava em que roupas da última moda cairiam bem em Anne. Portanto, após muita reflexão, ele decidiu que iria a Rosings afinal e avisou a tia sobre sua visita.

Março chegou e ele partiu, refletindo sobre seu curso de ação. Quando

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finalmente chegou a Rosings, porém, foi recebido com notícias alarmantes – Lady Catherine estava seriamente indisposta com uma febre altíssima. A criadagem estava acostumada com as suas instruções detalhadas para qualquer coisa e se encontrava em total estado de confusão. Além disso, com o Lady Day se aproximando, o sr. Perry não tinha idéia de como lidaria com os negócios da propriedade. (Nota: Lady Day é o dia 25 de março que marca o equinócio de inverno e celebra o dia da Anunciação da Virgem Maria – Essa era tradicionalmente uma das datas em que se assinavam contratos de arrendamento, aluguel e negócios afins.) Embora Anne estivesse tentando resolver tudo da melhor maneira possível, sua timidez não a ajudava em nada.

Assim que ele foi anunciado, Anne apareceu, cansada e aparentando não ter dormido, e quase correu para ele, segurando as mãos que ele lhe estendia.

– William, você veio – Ela deixou as mãos caírem e sua face ficou ligeiramente corada.

William olhou aquela frágil figura, seu rosto pálido, os enormes olhos o encarando. Não havia o que questionar. Ele precisava enfrentar os dragões e resgatá-la.

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Capítulo IVWilliam olhou de relance para Anne que mantinha a testa franzida, mordendo o lábio inferior de uma forma meiga, profundamente concentrada. Ele a amava. Ah, queria protegê-la e admirar sua forma de pensar, mas acima de tudo desejava tomá-la nos braços e beijá-la lentamente. Estava claro que a amava. Eles estavam sentados na sala onde ficavam pelas manhãs e Anne analisava os documentos de aluguel. William esperava pelo sr. Hastings para acompanhá-lo à vila. As duas últimas semanas haviam sido cheias e cansativas. Com lady Catherine ainda seriamente doente e Anne dividida entre ficar ao lado dela e resolver os problemas das propriedades, William resolvera tomar para si a responsabilidade dos negócios para facilitar as coisas para Anne o máximo possível. Pela primeira vez William se sentia agradecido pelo costume de seu pai de falar incessantemente sobre os negócios durante o jantar, e pela insistência dele em fazer com que toda a família se interasse de tais assuntos. Portanto, apesar de sua falta de experiência concreta, ele era capaz de aconselhar Anne em suas decisões. A inteligência dela não o surpreendia mais, mas ele ficou surpreso com a sua compaixão e generosidade. Já que estavam em março e a época era adequada para se fazer mudanças, ela diminuiu o valor exorbitante dos aluguéis, dispensou empréstimos, e deu ordens para que as casas dos pensionistas fossem reparadas.

Contudo, o mais importante e o que mais o surpreendia era a sensação de realização que sentia. Nunca antes se sentira tão vivo. Estava tomando decisões – ou pelo menos contribuindo para que fossem tomadas – que afetavam diretamente a felicidade de várias pessoas. Enquanto Anne passava todo o tempo disponível ao lado de sua mãe, cujas condições não evoluíam

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positivamente, William se encarregava de conversar com o sr. Perry e os outros, fazendo vistorias e encontrando maneiras de ajudar. Nas duas últimas não tivera tempo de ler um livro, ouvir música ou apenas degustar uma taça de vinho descontraidamente. Quando ia para a cama senti-se exausto. Mas tinha uma tal sensação de realização e inspiração que se enchia de esperança e gratidão por ter a chance de fazer algo que o satisfizesse e em que acreditasse, e por Anne confiar nele o suficiente para lhe delegar tais decisões.

Ela levantou a cabeça e declarou:– Acho que terminamos.

– Como você vai explicar tudo isto à sua mãe? – ele indagou, desejando remover com um carinho a pequena mancha de tinta em seu dedo.

– Pensei em colocar a culpa na minha inexperiência ou talvez dizer que você me tapeou – respondeu com uma risadinha. Notou que agora ela conversava livremente com ele, sem qualquer reserva, embora ainda gaguejasse e falasse muito pouco quando na presença de outras pessoas. Ela ficou pensativa e após um momento disse – Eu fiz algo que pode ser bem mais complicado de explicar à minha mãe.

– E o que foi, Anne?

– Escrevi uma carta para Darcy em nome dela.

– Você fez o quê? – ele perguntou confuso.

– Ontem eu estava sentada ao lado dela, observando-a, depois que o dr. Palmer saiu. Ele não está muito otimista quanto ao seu estado e eu tive esta sensação muito ruim ao pensar na possibilidade de alguma coisa acontecer a ela – lágrimas reluziram em seus olhos – Eu gostaria de poder mudar o modo como ela será lembrada pelos outros, fiquei pensando em todas as coisas que eu poderia fazer em seu nome agora e uma das coisas que me ocorreram foi o relacionamento dela com Darcy. E foi assim que eu escrevi uma carta conciliatória para ele.

William ficou sem palavras, cheio de admiração e orgulho pela generosidade dela.– É claro que eu disse que ela os perdoava, para deixar a carta mais verossímil – disse com um sorriso amarelo.

– William sorriu e fez a pergunta que o vinha incomodando – Então você não estava... isso quer dizer que você aprovou o casamento dele?

– Não posso fingir que não compreendo o que você quer dizer – ela respondeu com um leve sorriso – Não, eu nunca tive nenhum sentimento especial por Darcy. Eu não estava sofrendo secretamente por ele ou algo parecido.

– Não? – ele insistiu. Embora aliviado, os ciúmes que tinha em seu coração exigiam mais que isso – Ele é um homem rico, bonito e conveniente, disputado

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pela maioria das mulheres.

– Não sei porquê – ela disse, pensativa – A fortuna dele não tem importância para mim. Ao contrário de você, ele sempre foi muito severo, distante e ausente. Eu nem ao menos o compreendia o suficiente para gostar dele. E quanto a ser bonito, já reparou como a beleza de uma pessoa cresce ou diminui de acordo com a forma que a enxergamos? E acima de tudo, acho que o sr. e a sra. Darcy formam um lindo casal – completou com seriedade.

Como o sr. Hasting já entrava apressado, William, pronto para partir, dirigiu-se à porta, comentando jocosamente:

– Concluo pela sua definição, já que você sugeriu que eu tenho um temperamento agradável, que eu deva ser o homem mais bonito que você conhece. – Voltando-se para acenar-lhe em despedida, ele se espantou ao vê-la muito corada enquanto desviava o olhar do dele.

Embora as circunstâncias o impedissem de dizer qualquer coisa mais, ficou com um sorriso parvo no rosto o resto do dia e precisou controlar-se para não sair comemorando. Assim que voltou, convidou-a a dar uma volta. Era chegada a hora. A conversa daquela tarde e o rubor em seu rosto o fizeram decidir. Ele a levaria até um pequeno bosque que era seu favorito, seguraria suas mãos e a pediria em casamento, para que o transformasse no homem mais feliz do mundo.

Iniciaram a caminhada com Anne ao seu lado tocando-lhe no braço muito levemente.

– Quer ir até a reitoria?

– Não – ele recusou. O sr. Collins já percebera o crescente envolvimento de William e já o transformara no alvo de suas adulações excessivas e isso já o estava irritando.

– A sra. Collins concordou em ir comigo ao orfanato amanhã. Ela é uma mulher muito agradável – disse Anne.

Impaciente, ele concordou logo – Sim, muito agradável. Mas não sei no que estava pensando quando se casou com aquele... homem.

– William, você deve entender a situação dela. O casamento provavelmente seria a única solução para uma mulher da idade dela e com sua pouca fortuna. Achei que você concordasse com isso – continuou Anne.

Com uma sensação desconfortável no estômago, temendo a direção que aquela conversa estava tomando, ele perguntou pausadamente – Por que você diz isso, Anne?

Sem perceber a importância das próprias palavras, Anne explicou – Ora, William, já o ouvi dizer em mais de uma ocasião que, como filho caçula, você

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mesmo deveria considerar a idéia de se casar com uma mulher rica e que não pode e nem quer se casar sem dar a devida atenção ao assunto.

Simulando uma repentina dor de cabeça, ele propôs que retornassem e, abstraindo-se de tudo ao seu redor, caminhou em profundo silêncio e foi direto para seu quarto. Nem mesmo desceu para o jantar.

@@@@@

Capítulo VIdiota! Idiota! Idiota! Como pudera ser tão egoísta em sua visão, tão inconseqüente e imaturo em suas palavras. Interrompeu o andar impaciente por um momento e deu um soco com força na palma da mão. William estava chocado e magoado e sua angústia o oprimia. Encolheu-se ao lembrar-se da voz de Anne repetindo sua próprias e inoportunas palavras.

Olhou pela janela e viu as estrelas começando a cintilar. Passara as últimas horas andando de um lado para o outro e praguejando sem uma solução em mente. Ele nunca buscara uma herdeira, nunca tivera intenções mercenárias. O que ele pensara ser, na época, uma mentalidade aberta e clara era, na verdade, uma atitude inconseqüente. Sua única justificativa era a de que nunca estivera apaixonado antes. Como seus sentimentos eram intensos! Não, ele não dava importância à fortuna dela e teria se casado com ela, mesmo em condições financeiras desfavoráveis. O que antes era tão importante para ele, agora era tão insignificante. Mas isso tudo soaria como uma trama para Anne. Se ao menos houvesse algum tipo de impedimento legal quanto à herança de Anne que fizesse com que Rosings fosse transferida a algum primo tolo e esquecido de sir Lewis. Em outros tempos ele teria rido de pensamentos tão desesperados.

Suas reflexões foram interrompidas por uma batida à porta. Seria Anne procurando por ele? Ficou entre aliviado e desapontado ao verificar que era Dawson.

– Com sua licença, senhor, Sua Senhoria está delirando. Está chamando o seu nome. A srta. Anne acabou de deixá-la para ir jantar e então vim direto falar com o senhor.

William o tranqüilizou e foi imediatamente ver a tia.

Lady Catherine estava em sua cama, o quarto estava escuro, apenas tenuamente iluminado.Um prato lascado com uma mancha de sangue seco a seu lado. O semblante pálido perdera o ar de severidade.

– William – falou com muita dificuldade.

– Estou aqui, tia – ele respondeu, segurando a sua mão.

– William, quero lhe dizer, quero que tome conta de Anne. Me prometa que o fará. Ela é a minha única herdeira. Se eu não tivesse adoecido, teria arranjado

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para que se casasse com alguém melhor, Christopher – William se esforçava para ouvir suas palavras quase inaudíveis – Oh, se ao menos Darcy... mas agora – ela fez uma pausa para engolir – Não acho que sobreviverei. Ela tem a saúde muito fraca para se manter sozinha. A sua fortuna é insignificante, mas vocês dois descendem da mesma linha de nobreza. Prometa-me que você tomará conta dela – Ela inspirou com muita dificuldade tentando encher os pulmões de ar e seus olhos ficaram vidrados.

William não sabia o que dizer. Sentia um misto de raiva e medo de lhe perguntar o que ela queria dizer com isso. Qualquer que fosse sua intenção, seria pelo motivo errado. Tentou acalmá-la o quanto pode e assim que ela voltou a dormir, ele deixou o quarto, exaurido.

Cansado e zangado consigo mesmo, girou na cama a noite toda sem poder dormir.

Soube logo pela manhã que lady Catherine havia morrido.

_____________________________

Quando Anne entrou no escritório, ele estava tomado de emoção. Haviam se passado dois dias. Dois dias em que se torturara observando o pesar de Anne sem poder fazer nada. E agora ele iria deixá-la. Sua mãe o informara de sua chegada a Kent para ficar com Anne por algum tempo. Ele decidira voltar para Londres.

Os últimos dias haviam sido o período mais valioso de toda a sua vida, durante o qual pudera dar alguma coisa a outros, sem pensar em si mesmo. Sentia que sua vida tinha um propósito. Anne lhe dera essa chance. Ele não a insultaria fazendo-lhe uma proposta de casamento obscurecida pela dúvida.

– Então você vai partir – ela perguntou em voz baixa, a cabeça abaixada.

– Vou, minha licença era de apenas três semanas – ele murmurou de maneira pouco convincente.

– Quando verei você outra vez? – ela perguntou após uma pausa.

– Não sei – ele engoliu e, sem conseguir proferir uma só palavra de todas as que se acumulavam em sua mente, em seu coração, e disse com a voz rouca – Adeus, Anne.

_____________________________

Nos primeiros dias em Londres quase chegou a se afundar em auto-piedade por tê-la perdido. Mas manter-se em estado melancólico não fazia parte de sua natureza e logo começou a pensar em qual seria seu próximo passo. Seu temperamento não lhe permitia dar tudo por perdido.

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Quanto mais pensava na situação, mais preocupado ficava com duas coisas. A primeira era como explicar seus motivos a Anne. E ainda mais importante era decidir o que fazer sobre a própria vida. Não somente para provar a Anne que ele era mais que um simples caçador de dotes, mas também para a própria satisfação. Anne, gentil, inteligente, com sua fortuna e ascendência era realmente um bom partido para ele. Mas e quanto a ele? Apesar da raiva que sentia em relação à lady Catherine, o que mais ele podia oferecer à Anne além das inconsistentes razões que a tia lhe dera para se casar com ela? Tais pensamentos o atormentavam. Seu pai lhe dera uma boa educação, lhe comprara uma patente, assegurara-lhe o sustento e ele não fizera mais que sair falando sobre sua dependência advinda de seus hábitos e de sua necessidade de dinheiro. Ele parecia horrivelmente superficial.

Sem lhe dar mais tempo, eventos de muito maior magnitude afetaram sua vida e seus pensamentos quando seu regimento foi convocado a ir para Vitória. Partiu para empreender uma das mais exaustivas e difíceis marchas em uma das batalhas mais decisivas da campanha da península. A intensa necessidade de estar com ela novamente se juntou ao seu instinto de sobrevivência e ele enfrentou algumas das piores batalhas, sempre se lembrando de sua voz suave e de seu sorriso tímido. Ele não possuía um retrato dela ou um cacho de seus cabelos, mas tudo o que precisava era de um momento para que se sentisse próximo a ela em pensamento. Os dias se passaram e, testemunhando saques e pilhagens, viu sua desilusão com respeito à guerra aumentar. Sua convicção de que não tinha vocação para uma carreira militar continuou a tomar vulto. Lembrou-se de como fora feliz durante sua breve estada em Rosings e ansiou por desafios mais simples, mas de resultados mais satisfatórios como os que lá tivera. Assim, embora sendo condecorado e mencionado pelo próprio Wellington como um dos oficiais mais promissores após sobreviver à batalha de San Marcial, ao retornar ferido a Londres durante o mês de outubro, decidiu se reformar. Sabia que não poderia continuar levando sua vida à deriva.

Apenas seis meses haviam se passado, mas muitas coisas haviam mudado. Era o fim da estação e somente seu pai se encontrava na casa de Londres. Como seus ferimentos não eram graves, sua recuperação foi rápida e ele passou todo o tempo de repouso refletindo sobre seu futuro. Considerou brevemente uma carreira em diplomacia ou advocacia, mas acabou decidindo-se contrário a tal perspectiva. Ele sabia o que queria fazer.

Na noite em que chegou a uma decisão, informou ao seu pai. Queria se candidatar à Câmara dos Comuns. Após um longo tempo fitando William, que embora endurecido pelas batalhas, miraculosamente não se mostrava amargurado, Lord Fitzwilliam deu sua benção ao filho.

– Parto para Matlock em dois dias. Posso ver que você já se recuperou o suficiente para enfrentar uma viagem, portanto gostaria que me acompanhasse para podermos discutir esse assunto com mais detalhes – ele disse.

William pensou no que gostaria de fazer a seguir. Queria apenas ir a Rosings. Não tivera nenhuma notícia dela.

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– Anne está em Matlock – seu pai disse, cortando-lhe os pensamentos. Os dois se entreolharam sem trocar palavra. Ele a veria finalmente.

Ele estava certo com relação ao dragão, só não sabia quem resgataria e quem seria resgatado.

@@@@@

Capítulo VI– E a filha do pastor se casou na semana passada – sua mãe prosseguiu. William apertou suas mãos afetuosamente. Finalmente estava em Matlock. Chegara na carruagem fechada, com Lord Fitzwilliam discorrendo sobre os últimos discursos na Câmara dos Pares durante toda a viagem. Apesar de sua sede por assuntos políticos recentemente descoberta, sua concentração foi gradativamente se esvaindo e, quando já estavam próximos a Matlock, William perdeu a noção do que o seu pai lhe dizia.

Ele estava mudado, sabia que era um homem mais consciente e em constante processo de aperfeiçoamento, mas nos assuntos externos, sua situação pouco mudara. Em Rosings, atirara-se ao impulso de propor casamento sem a mínima hesitação, mas agora, embora estivesse ansioso para que Anne soubesse de seus sentimentos, temia ir adiante.

Assim que chegaram, sua mãe correu em sua direção, apesar de sua idade e de estar se recuperando de uma gripe. Ela o beijou e o recepcionou com um mar de lágrimas.

– Oh William, estou tão feliz que você esteja em casa outra vez – Ele foi informado que os outros haviam saído para uma caminhada e passou os minutos seguintes sendo atualizado quanto aos assuntos de família. Havia ótimas notícias de Pemberley, um novo membro. E então as novas sobre os vários casamentos e novas crianças na cidade. A seguir, ela passou a falar de Christopher – Você o conhece – ele disse com um suspiro – Antes de sua tia morrer, ela me mandou uma carta sugerindo uma união entre Anne e Christopher.

William sentiu uma pontada no estômago. Deus, isso não, por favor!

– Ela é uma criança tão doce. É como uma filha para mim. Mas Kit não é favorável à idéia – Porém, seu alívio não durou muito – E aqui estou eu, envelhecendo sem o prazer de ganhar um neto. Bem, pelo menos para Anne, Kit trouxe seu amigo visconde Chillhurst, aquele que freqüentou Eton com ele, e Anne parece ter se simpatizado muito.

Ele perdeu totalmente o apetite e ficou ali, sentado, deixando os minutos correrem, ficando cada vez mais impaciente e confuso. Nos dias que passaram lutando, às vezes lhe vinha à cabeça a idéia de que Anne deveria ter compreendido que ele a amava, apesar de ele nunca ter se declarado, mas outras vezes não se sentia tão seguro disso. E agora todos os seus temores o

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atingiam com intensidade.

Quando finalmente a viu, imóvel, emoldurada pelo batente da porta, quase não a reconheceu. Sua doce amada estava bem à sua frente, num leve vestido azul, torcendo o chapéu entre os dedos. Ele absorvia sua imagem com sede. Sua aparência havia melhorado, sua pele tinha um colorido saudável, seu cabelo brilhava num penteado moderno que lhe caía muito bem. Ela amara quando era pálida e magra, e agora... William engoliu antes de dizer – Anne? – ele não ouvia uma única palavra do que a mãe dizia. Ela estava ali, ela estava ali, seu coração cantava.

– William – ela disse após um instante de silêncio, os olhos fixos nele com uma estranha expressão cujo significado ele não conseguia decifrar. Ela se aproximou dele lentamente e limpou a garganta antes de falar – Como vai? Eu estava muito.... hã... preocupada, quer dizer... eu estou feliz que você tenha voltado em segurança. Permita-me cumprimentá-lo – ela gaguejou, sem desviar seus olhos dos dele.

– Hm, sim, eu... vejo que você está muito bem. Como estão as coisas em Rosings? – ele disse de maneira formal.

– Melhorando – ela abriu um leve sorriso – Fiquei sabendo que se feriu? – Ela se aproximou para sentar-se ao seu lado. Ele assentiu, sentou-se e apontou para o próprio braço – Já estou melhor.

Ela estendeu a mão numa tentativa de tocar seu braço, com um movimento vagaroso como se quisesse fazer seu ferimento desaparecer. Então, subitamente, recolheu a mão. Ela não falou muito depois disso e a chegada do irmão dele acompanhado do amigo a deixou ainda mais calada.

_____________________________

Na manhã seguinte ele desceu cedo para o café e foi saudado por Kit e pela mãe. Ficara insone mais uma noite, pensando no que fazer. Seu irmão não parecera dar nenhuma atenção especial a Anne, embora ambos se mostrassem muito à vontade entre si. Por um momento ficou preocupado quando Kit disse:

– Ah, Charles, você deveria ter lido o livro dela. Ela já tem um em vias de ser publicado. Este outro tem um cavaleiro vestido numa armadura brilhante muito parecido comigo – e Anne ficou intensamente ruborizada. William, que sofria com cada movimento dela, ficou paralisado. Mas sua mãe dissera que Kit não estava interessado! E quanto a Anne? Para completar o tormento, o visconde estava totalmente encantado. Anne trajava uma roupa que lhe caía muito bem, tinha uma voz suave, era inteligente, não era surpreendente que Chillhurst se sentisse atraído. Além do mais, o fato de Anne evitar seu olhar deixava William extremamente frustrado. A única coisa que iluminou sua manhã foi o momento em que Anne o fitou logo que seu pai mencionou seus planos para o futuro. Os olhos dela cintilaram ao encontrar os dele fazendo com que a confiança fugaz

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de William se fortalecesse. Ela aprovava. William estava radiante.

– Mãe, por favor, não comece logo cedo pela manhã – Christopher dizia, absorto em seu jornal.

– E por que não? Você já está com trinta e dois anos, sem a menor pressa em se casar. Que tal a simpática lady Alice que você conheceu meses atrás?

– Entediante.

– Está bem, então o que acha da srta. Bingley?

– Muito afetada.

– Srta. Chivers?

– Cita Byron a cada minuto.

– Que tal Anne? – ela perguntou exasperada.

– Mãe! – Kit exclamou indignado – Eu a carreguei no colo, ela é como uma irmã, não é William? – William estufou a boca, sem responder – Além do quê, estou escolhendo em ordem alfabética.

– Que coisa horrível para se dizer, me envergonho de você, Christopher Fitzwilliam – exclamou a mãe.

O sorriso divertido de William desapareceu ao ouvir as palavras presunçosas de Kit:

– Não se preocupe com Anne, mãe. Tenho motivos para acreditar que Charles vai lhe propor casamento hoje. Ele está vestindo seu melhor casaco azul neste exato momento.

Embora ele tivesse passado todo seu tempo livre sonhando com Anne em seus braços, não havia pensado em nenhum plano concreto para se aproximar dela. Estivera muito ocupado. Agora as coisas estavam rapidamente se transformando num pesadelo e saindo do controle. Abaixou a cabeça, tristonho, sem notar o olhar analítico de Kit. Seu pai lhe havia sugerido que o acompanhasse numa visita ao Ministro das Finanças, que estava a caminho de Londres e pernoitaria na vila a menos de dez milhas dali, para pedir conselhos sobre o eleitorado. Dessa forma, sem poder evitar a situação, ficou ausente toda a tarde. Quando retornou, sentia-se inseguro quanto ao que lhe esperava.

@@@@@

ConclusãoChegando em casa após uma cansativa viagem, William encontrou Kit no escritório, lendo um livro. Ele se sentou, aborrecido, e respondeu

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mecanicamente às perguntas do irmão sobre a reunião enquanto um turbilhão de pensamentos tomavam a sua mente. Kit o provocou, fechando o livro:

– O que há com você, meu caro irmão? Eu o tenho observado, você não tem se alimentado direito, fica com o olhar perdido, pensativo... se eu não o conhecesse bem diria que anda com a cabeça na lua por causa alguma garota!

William resmungou. Kit arqueou as sobrancelhas ao ver que não teria uma resposta do irmão.

– Então é isso, não é? Et tu! Não posso acreditar. Ela destruiu seu coração? – continuou alfinetando.

– Kit, não me provoque. Já tenho razões suficientes para querer matá-lo – William respondeu irado.

– É a Anne, não é? – Kit abriu um enorme sorriso – Tenho estado de olho em você.

Já sem forças depois de um dia exaustivo, deprimido sem saber o que seria de Anne e irritado com as perguntas, William explodiu.

– Sim, é a Anne. Estou completamente apaixonado por ela. Não posso viver sem ela. Está satisfeito?

Após um momento de absoluto silêncio, William sentiu-se em pânico ao ouvir um soluço abafado e, ao se virar, viu Anne fugindo com a mão tapando a própria boca.

– Você vai ficar aí parado? – balbuciou Christopher, encorajando um paralisado William a correr atrás dela.

– Anne, pare, por favor! – ele implorou, arfante, magoado por ver os olhos dela cheios de dor e lágrimas.

– Como pôde, William?

– Anne, me perdoe – ele pediu com a voz embargada – É o Kit?

– O que tem o Kit? – ela perguntou confusa, sem ouvir nenhuma resposta – Como pode brincar com uma coisa tão séria, William?

– Brincar? Do que você estar falando? – ele exclamou – Isto não é uma brincadeira, eu a amo com todo o meu coração – Assim que essas palavras foram ditas, outras as seguiram como uma torrente – Anne, eu a amo. Passei os últimos meses com isto preso em meu peito e, não poder estar perto de você, falar com você, tocá-la foi pior do que todas as balas que enfrentei. Tudo que tenho feito é para que eu possa ser digno de você e para conquistar o seu amor – seus olhos se agrandaram lentamente – para mostrar que tenho pensado apenas em você, não em sua fortuna ou sua ascendência, apenas

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você, minha adorável Anne – ele continuou com uma voz profunda e séria – Tenho andado sem rumo toda a minha vida, sem ambição, me satisfazendo com coisas sem importância, até que realmente vi quem você era. Se não fosse por você, minha doce Anne, minha vida seria vazia, sem inspiração e – com a voz sufocada, disse – sem amor.

Ela o olhava embasbacada.

– Tenho estado louco nos últimos dois dias, tão perto e ao mesmo tempo tão longe de você, pensando que Chillhurst iria – interrompeu-se e perguntou num sussurro – Anne?

Devagar, ela sorriu pela pergunta insinuada – Ele me propôs casamento.

– E?

– E eu recusei.

– Você recusou? Um visconde? – Parecia ser mais uma afirmação cheia de espanto do que uma pergunta.

– Ele não é você – ela respondeu com simplicidade.

Ela o amava, somente ele, sem títulos ou fortuna – Anne – murmurou – se ao menos eu tivesse como provar o quanto...

– Você já provou.

– Já?

– Sim. Sabe, mamãe falou comigo naquela noite após conversar com você. Ela me contou que havia lhe pedido que se casasse comigo. Quando você partiu no outro dia, pensei que fosse porque você não suportava a idéia de me ter como sua esposa. Mas agora – disse, olhando-o com admiração e orgulho – eu compreendi.

– O que foi que eu fiz? – ele perguntou cheio de remorso. Ela devia ter passado por momentos horríveis imaginando que ele a rejeitara. – Eu deveria ter lhe proposto...

– Não, William. Eu o amo desde o dia em que você audaciosamente tentou me incluir em uma conversa, desde que o dia em que chegou com passos firmes a Rosings, aparentando ser meu cavaleiro em sua brilhante armadura. Mas você fez a coisa certa. Não só me deu asas como também me deixou voar. Você me libertou para fazer minhas próprias escolhas. Ninguém fizera isso por mim antes. Você me respeitou. Não pensei que isso fosse possível, mas eu o amo ainda mais por isso – ela concluiu com suavidade.

Fitzwilliam, o homem capaz de se expressar com facilidade em qualquer situação, viu-se incapaz de pensar numa só palavra a ser dita, percorreu a

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distância que os separava com um longo passo e a puxou para si – Minha preciosa Anne – sussurrou contemplando seus doces olhos cheios de amor e inclinou-se para encontrar seus lábios num glorioso beijo.

Christopher sorriu e silenciosamente fechou a porta atrás de si.

EpílogoChristopher acabou achando alguém antes de terminar o alfabeto. Anne continuou a escrever e publicou quatro livros. William nunca perdeu uma eleição e trabalhou arduamente em favor de seus eleitores, mantendo seu bom humor mesmo assim. Apesar de seus temores, Anne se tornou saudável e lhe deu dois filhos, Andrew e Christopher.

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