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Anne Mather PASSAPORTE PARA O AMOR Copyright © 1977 by Anne Mather Originalmente publicado em 1977 pela Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra Título original: Caroline "Cuidado Caroline, você está brincando com fogo. Para um homem rico como Adam Steinbeck, as mulheres não passam de brinquedos. E você está caindo direitinho na armadilha. Além disso, é impossível que um homem charmoso como ele não seja casado e com um bando de filhos" - diziam as amigas de Caroline, preocupadas com seu envolvimento cada vez mais íntimo com o poderoso chefão da empresa onde trabalhava. Porém Adam não era casado, mas viúvo e pai de um rapaz da mesma idade de Caroline e que não hesitou um só momento em mostrar seu interesse por ela. CAPITULO I Adam Steinbeck passou rapidamente pelas portas vidro do edifício da Steinbeck Corporation, na Park Lane, no centro de Londres. Era um homem alto e de ombros largos, vestia um terno escuro e um sobretudo de couro de carneiro, demonstrava muito poder e segurança. Quando entrara, além do bom-dia costumeiro dos porteiros e da recepcionista, instalara-se no ambiente uma

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Anne Mather PASSAPORTE PARA

O AMOR

Copyright © 1977 by Anne MatherOriginalmente publicado em 1977pela Mills & Boon Ltd., Londres, InglaterraTítulo original: Caroline

"Cuidado Caroline, você está brincando com fogo. Para umhomem rico como Adam Steinbeck, as mulheres não

passam de brinquedos. E você está caindo direitinho naarmadilha. Além disso, é impossível que um homem

charmoso como ele não seja casado e com um bando defilhos" - diziam as amigas de Caroline, preocupadas comseu envolvimento cada vez mais íntimo com o poderosochefão da empresa onde trabalhava. Porém Adam não

era casado, mas viúvo e pai de um rapaz da mesmaidade de Caroline e que não hesitou um só momento em

mostrar seu interesse por ela.

CAPITULO I

Adam Steinbeck passou rapidamente pelas portas vidro do edifício da Steinbeck Corporation, na Park Lane, no centro de Londres. Era um homem alto e de ombros largos, vestia um terno escuro e um sobretudo de couro de carneiro, demonstrava muito poder e segurança. Quando entrara, além do bom-dia costumeiro dos porteiros e da recepcionista, instalara-se no ambiente uma

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leve sensação de mal-estar, e Adam respondera à saudação com um sorriso seco. Sabia perfeitamente que, ao desaparecer do saguão, um telefonema apressado avisaria aos membros de sua equipe que ele se encontrava no prédio. Raramente ia ao escritóriopela manhã.

Entrou no elevador e, quando a porta estava quase se fechando, ouviu a voz de alguém muito jovem.

— Oh, por favor, espere um instante!Com um leve franzir de testa, Adam viu uma garota

cruzando apressadamente o saguão em sua direção. Tinha cabelos longos, lisos e loiros, um corpo alto e esguio, e trazia um casaco de lã azul-marinho e uma bolsa na mão.

Seu comportamento deixava bem claro que ela não tinha a menor idéia a respeito da identidade de Adam, e os funcionários olharam, perturbados, para ele, que fez um gesto com os ombros, afastando-se um pouco para que a garota entrasse no elevador.

— Muita obrigada — ela agradeceu, com um sorriso. Adam fechou a porta.

— Você trabalha aqui? — perguntou, desconfiando que ela provavelmente fosse funcionária de sua firma. Já era quase nove emeia da manhã; obviamente, ela estava atrasada.

— Sim — respondeu a jovem, esforçando-se para normalizar a respiração ofegante. — Trabalho na central de datilografia. No setor da srta. Morgan.

— Fica no terceiro andar, não é mesmo?— Exato. Estou terrivelmente atrasada, e ela com toda a

certeza vai chamar minha atenção. Mas nós simplesmente não ouvimos o despertador tocar hoje de manhã, apesar de Mandy jurar que o regulou ontem à noite.

— Mandy?— Amanda Burchester, a garota que divide o apartamento

comigo. Bem, não chega a ser um apartamento de verdade, são apenas dois cômodos. Amanda está aprendendo a ser vitrinista nasLojas Bailey.

— Compreendo. — Adam sentiu-se estranhamente atraído pela garota. Era tão diferente das mulheres que ele conhecia e,

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como não sabia quem ele era, falava livremente, sem qualquer inibição.

— Nunca vi você antes — continuou ela, erguendo o olhar para ele. — Se tivesse visto, tenho certeza de que me lembraria. Todos os homens que conheço são de minha altura. Tenho um metro e setenta e cinco, mas perto de você pareço baixa.

— Se isso for um elogio, obrigado. Acho que este é o seu andar, não? — Nossa! Só faltava mesmo me esquecer de descer aqui.

— Eu não deixaria que isso acontecesse — disse Adam.— Você trabalha aqui também? Então, está atrasado como

eu. Estou aqui há apenas duas semanas, por isso ainda não conheço todos os funcionários — explicou ela, saindo do elevador,

— Sim, também trabalho aqui — respondeu ele, com um leve sorriso. — Espero que você não tenha muitos problemas comsua chefe.

— Eu também espero — ela falou, com um suspiro. — Bem, até logo. Talvez a gente se encontre outra vez qualquer dia desses.

— É possível —Adam disse e fechou a porta do elevador, antes de apertar o botão que o levaria ao último andar do edifício.

Seu escritório estava localizado na cobertura do prédio, juntamente com as salas dos diretores e o imponente salão de reuniões. Adam tinha uma equipe própria de datilógrafas e um assistente pessoal, John Mercer, que ocupava a sala ao lado da sua.

Ao entrar na ante-sala de seu escritório, viu sua secretária particular trabalhando diligentemente, como se não percebesse sua chegada. Laura Freeman tinha trinta anos e trabalhava para ele havia mais de dez. O penteado severo, que geralmente conferia um ar de austeridade à maior parte das mulheres, funcionava de maneira diferente em Laura, sublinhando a beleza clássica de seus traços e dando-lhe uma aparência de objetividade.Adam sabia muito bem os sentimentos que a secretária nutria por ele, mas não se sentia pessoalmente atraído por ela. As relações

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entre ambos permaneciam num plano puramente profissional, o que causava uma certa mágoa a Laura.

Quando fechou a porta, ela ergueu os olhos e, ao vê-lo, levantou-se imediatamente.

— Sr. Steinbeck! — exclamou, como se estivesse surpresa com a presença dele. — Nós não o esperávamos aqui no escritóriohoje pela manhã.

— Ora, vamos, Laura — disse Adam, num tom de leve repreensão, enquanto cruzava o recinto em direção a sua sala. — Duvido que o pessoal do saguão não tenha ligado para cá ainda hápouco. Eu quase pude ouvir os telefones tocando enquanto subia de elevador.

— A correspondência está sobre a mesa — informou ela. — O senhor quer ditar alguma coisa?

— Não se incomode por enquanto, eu a chamarei quando for preciso. Ah, Laura, por favor, telefone para a srta. Morgan. Quero falar com ela imediatamente.

— A srta. Morgan da central de datilografia? — perguntou Laura, espantada.

— Existe alguma outra? — respondeu Adam, entrando em sua sala e fechando a porta atrás de si.

Caroline Sinclair estava tomando o café da manhã em companhia de uma colega, Ruth Weston, também datilógrafa. Eram dez e trinta. Nesse horário, as datilógrafas tinham sempre um intervalo de dez minutos para tomar café.

— Pago dez centavos por seus pensamentos — falou Ruth, forçando Caroline a sair de suas divagações.

— Não é nada importante. Estava apenas querendo entenderpor que a srta. Morgan foi tão compreensiva comigo hoje cedo. Quando cheguei atrasada pela primeira vez, ficou furiosa. Mas hoje simplesmente disse que sabia que os despertadores às vezes não funcionavam e pediu para que eu me apressasse para evitar um acúmulo de trabalho.

Ruth, que já tinha dezenove anos e que era dois anos mais velha do que Caroline, arqueou as sobrancelhas.

— Céus! — exclamou. — Você está aqui há apenas duas semanas, e eu nunca vi a srta. Morgan compreender que alguém

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possa perder a hora. Muito menos ao se tratar de uma funcionária nova. Talvez ela, finalmente, tenha arranjado um namorado.

Caroline riu.— Ruth! Cuidado, ela pode ouvir o que você diz! Ah, isso

me fez lembrar uma coisa: hoje de manhã, eu subi de elevador com um dos homens mais bonitos que já vi em toda minha vida.

— Verdade? — perguntou. — Jovem, velho ou mais ou menos?

— Devia ter uns trinta e poucos anos, calculo — respondeu Garoline.

— Bem mais velho do que você, não é? — indagou Ruth, com uma ponta de reprovação.

— E daí? — replicou Caroline. — Eu prefiro homens maduros. Não gosto de rapazinhos. Eu sempre tenho vontade de bocejar quando estou com eles.

— E como era o tal homem? Alto ou baixo? Com barriga ou sem?

— Alto, de ombros largos e muito atraente — murmurou Caroline, sorrindo. — Seus cabelos eram pretos, bem curtinhos e espessos. Ele é exatamente o que eu chamo de homem bonito.

— Ora, Caroline! Você deve estar brincando! Falar desse jeito de um homem que provavelmente é velho o suficiente para ser seu pai. Eu acho que Mark Davidson deveria fazer mais o seu gênero. Ele está tentando convencer você a sair com ele, não é?

— Mark Davidson não passa de um colegial um pouco maiscrescido, Ruth. E o pior é que ele se julga o grande presente de Deus para todas as mulheres.

Mark trabalhava num outro departamento, no mesmo prédio,e já saíra com quase todas as garotas da central de datilografia, inclusive com Ruth. Caroline, na condição de novata, estava atual-mente merecendo as atenções dele, mas ela não estava interessada.

— Bem, não importa — prosseguiu Ruth. — Afinal de contas, quem é esse homem? Em que andar ele desceu do elevador?

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— Não sei. Quando eu desci, ele continuou subindo — respondeu Caroline. — Você conhece todos os homens que trabalham aqui neste prédio?

— Não, não todos — falou Ruth. — Existem tantos departamentos diferentes. Mas é claro que conheço muitos deles de vista, pelo menos.

O pequeno apartamento que Caroline dividia com Amanda ficava numa velha mansão, adaptada para poder receber muitos inquilinos e localizada num beco, com uma única saída para a King's Road. Anteriormente, a mansão fora a residência de uma senhora nobre e, agora, reformada, abrigava diversas pessoas.

Os pais de Caroline morreram num desastre de automóvel quando ela tinha apenas três anos de idade, e ela fora criada por uma velha tia. Há seis meses, quando Amanda descobriu o apartamento, convidou Caroline para morar com ela. Caroline ficou entusiasmada, pois tia Bárbara, embora fosse uma doce velhinha, não era a companhia ideal para uma garota. A tia, por sua vez, mostrou-se muito compreensiva e permitiu que Caroline experimentasse a liberdade. As duas jovens conheciam-se desde os tempos da escola primária e achavam que iria ser muito divertido dividir um apartamento.

Caroline era menos extrovertida, mas Amanda tinha um fluxo constante de flertes e namorados, alguns dos quais acabavam desviando as atenções para Caroline. Entretanto, o fato de ela ser muito alta, frequentemente provocava uma retração de interesses desses rapazes; além disso, é claro, os rapazes que Amanda julgava atraentes nem sempre o eram para Caroline. Amanda tinha cabelos ruivos e dezoito anos de idade. Seus pais viviam atualmente no norte da Inglaterra, e ela não quis sair de Londres quando eles o fizeram. Por causa dessa mudança dos pais, Amanda fora obrigada a procurar um apartamento para si mesma.

Os rapazes tinham uma importância secundária para Caroline. Ela gostava muito de ler e de visitar galerias de arte. Viaquase todas as exposições e adorava todas as oportunidades de se

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informar melhor a respeito dos artistas. Além disso, ela também gostava muito de música clássica, e Amanda nunca conseguiu compreender como a amiga era capaz de passar uma noite inteira dançando loucamente numa discoteca e na noite seguinte extasiar-se com o Concerto para Piano e Orquestra de Grieg.

Ao acordar, certa manhã, Caroline foi à janela e percebeu que uma espessa neblina impossibilitava quase toda a visibilidade.Bem depressa, fechou novamente as pesadas cortinas e soltou um suspiro profundo. Depois olhou para Amanda, que fazia caretas, perturbada pela luz que Caroline acendera.

— Vamos, levante-se, Mandy — disse Caroline, com a voz ainda embargada pelo sono. — A neblina lá fora parece intransponível, e só Deus sabe quanto tempo levaremos para chegar ao trabalho.

— Oh, Deus! — murmurou Amanda, num tom de grande infelicidade. — Eu não estou bem, Caroline.

— Eu também não estou — respondeu Caroline, olhando rapidamente na direção da amiga, antes de se dirigir ao banheiro, para escovar os dentes.

— Estou falando sério — insistiu Amanda, com voz rouca, voltando a se encostar nos travesseiros. — Acho que peguei uma gripe. Eu sempre fico gripada em novembro.

— Vamos trabalhar, moça — Caroline chamou, enquanto enchia a chaleira de água na torneira que existia no pequeno cantoda sala, que elas tinham transformado em cozinha.

— Acho que não vou conseguir — replicou. Amanda. — Caroline, por favor, prepare-me uma xícara de chá com um poucode xerez?

— Claro que sim — concordou Caroline, apressando-se em atender ao pedido da amiga. — Vou ter de ser rápida, senão chegoatrasada ao serviço mais uma vez.

— Não se preocupe com isso — resmungou Amanda. — Afinal de contas, ninguém pode exigir pontualidade numa manhã como esta. Além disso, é possível que você consiga encontrar o homem de seus sonhos.

— Mandy, você é incorrigível!

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Quando o chá ficou pronto, Caroline gritou para Amanda, que continuava deitada:

— Você quer comer alguma coisa?— Não. Quero apenas uma aspirina — respondeu, mal-

humo-rada. — Acho que, se ficar na cama e dormir durante o dia inteiro, logo estarei boa.

— Mas não exagere — disse Caroline, com severidade. — Vou tentar vir para casa na hora do almoço para preparar alguma coisa para você comer. — Deu-lhe o chá. — Onde você guardou as aspirinas?

Alguns minutos mais tarde, Caroline, antes de sair para o trabalho, certificou-se de que Amanda tinha tudo de que pudesse necessitar. O tempo não fora suficiente para que ela mesma to-masse seu café da manhã, sendo assim, contentou-se com uma xícara de chá, sorvido rapidamente.

Lá fora o frio era intenso. A neblina cobria tudo de melancolia, e saber que os longos meses de inverno mal haviam começado não era muito agradável. Ficou parada no ponto de ônibus, até que, finalmente, um apareceu, e ela o apanhou, ficando espremida entre os demais passageiros. O veículo locomovia-se lentamente em meio ao tráfego congestionado.

Eram nove e quarenta e cinco quando conseguiu chegar ao saguão do Edifício Steinbeck. Tinha certeza de que dessa vez seu atraso não seria perdoado e de que seria despedida. Afinal, era o terceiro atraso em pouco menos de um mês de firma. A situação era séria. Ao atravessar o saguão, sentiu-se pequena e amedron-tada. Não havia nem sinal do simpático desconhecido que ela, mais ou menos inconscientemente, tinha esperado encontrar, e a srta. Morgan estava tão irritada quanto ela imaginara que estaria.

Caroline mal havia entrado pela porta, quando sentiu os olhos de sua chefe fitando-a impassiveímente.

— Você percebeu, Caroline — esbravejou ela —, que, durante um período de apenas três semanas, você conseguiu chegar três vezes atrasada?

— Sim, srta. Morgan — respondeu Caroline, com esforço. — É que a garota que divide o apartamento comigo amanheceu

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com gripe, e eu não pude sair de casa sem antes lhe fazer pelo menos uma xícara de chá.

— Guarde suas desculpas e explicações para o chefe do departamento pessoal — replicou ela friamente. — Desta vez, estou firmemente resolvida a enviar seu caso à administração. Não admito seu comportamento relaxado. Já está fugindo a meu controle!

— Mas, srta. Morgan... — Caroline tentou explicar mais uma vez.

— Não estou interessada no que tem a me dizer — falou a chefe. — E vamos acabar com este desperdício de tempo. Vá paraa máquina de escrever e faça seu trabalho.

Caroline aproximou-se de sua mesa, sentindo que as lágrimas estavam muito próximas. Percebeu que Ruth a olhava com simpatia, mas não teve coragem de retribuir o gesto. Além detudo, a neblina persistia, e Caroline começava a se apavorar com aidéia da correria durante a hora do almoço, indo até seu apartamento para cuidar de Amanda e depois voltando às pressas ao escritório. Tudo isso em apenas uma hora.

Ela foi chamada à sala do sr. Donnelly às onze horas. O sr. Donnelly era o chefe do departamento pessoal, e quando Caroline o vira pela primeira vez, por ocasião de sua entrevista, antes de ser admitida na firma, achou-o simpático e agradável. Nesse dia, entretanto, ele estava longe de ser um homem agradável. Após ouvir as lamentações de Vera Morgan, ele estava irritado, e a insinuação de que ele, provavelmente, estava perdendo o domínio de suas excelentes qualidades profissionais, caso contrário não teria contratado Caroline Sinclair, nada ajudara para melhorar seu estado de espírito.

— Caroline Sinclair, você já percebeu que eu poderia despedi-la imediatamente por causa disso? — indagou ele, nervoso. — Você não deu valor algum à confiança que lhe foi depositada. Principalmente à confiança que demonstrei ter. Sou responsável por sua contratação. E, agindo dessa maneira, você está simplesmente comprometendo minha recomendação!

— Oh, não, sr. Donnelly! — exclamou Caroline. — Em situações normais, sou uma funcionária pontual. O caso é que

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minha colega de apartamento amanheceu com gripe, e eu tive de cuidar dela antes de sair de casa. E com essa neblina...

— Você me colocou numa situação extremamente desagradável — disse ele após algum tempo. Suspirou profundamente. A preocupação dela era mais do que óbvia, e era evidente também que ela não queria perder o emprego. — Muito bem, então — decidiu ele. — Vou lhe dar mais uma chance. Porém, qualquer falha sua em relação ao horário combinado significará seu desligamento imediato da empresa. Está bem claro?

— Sim, senhor — respondeu Caroline, com o coração em ritmo acelerado. Como ela iria se arranjar na hora do almoço? Sentiu-se tentada a perguntar se ele poderia lhe dar quinze minutos de tolerância, mas decidiu não arriscar. O sr. Donnelly tinha sido muito justo, e um pedido desse seria demais, até mesmopara ele. Quanto a pedir a permissão de chegar quinze minutos mais tarde à srta. Morgan... nem pensar.

Quando voltou a sua mesa, passou a fazer o trabalho de maneira automática. Mentalmente, calculava o tempo necessário para fazer tudo o que era preciso. Uma hora não iria ser suficiente. Ela gastaria quase metade desse tempo só para chegar em casa, e isso se tivesse sorte de pegar um ônibus. Quanto à volta...

Na hora do almoço, Ruth foi para o refeitório, enquanto Caroline desceu correndo as escadas, não se preocupando em esperar pelo elevador. Apressada, atravessou o saguão e saiu pelasportas de vidro. A neblina já não estava tão densa quanto pela manhã. Em sua pressa em chegar ao ponto de ônibus, Caroline chocou-se contra um homem que vinha em sentido oposto.

— Oh! Eu sinto muito, muito mesmo — ela começou a dizer, mas parou quando viu quem a estava fitando. — Ah! É você! — Era o homem do elevador.

— Srta. Sinclair? — perguntou ele.— Sim, mas... como sabe meu nome?Ele sacudiu os ombros e ignorou a pergunta dela.— Parece que você está com muita pressa.Caroline lembrou-se de que estava perdendo tempo e sorriu.

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— Pois estou mesmo. É uma história longa demais para lhe contar agora, mas eu quase perdi o emprego hoje de manhã e já estou me arriscando outra vez. Tenho certeza de que vou chegar atrasada à tarde. — Soltou um suspiro profundo.

Adam hesitou durante um instante e depois disse:— Talvez eu possa lhe dar uma carona...— Uma carona? — Caroline estava incrédula. — De carro?— Eu não estou me oferecendo para carregar você em

minhas costas — ele falou secamente.Ela começou a rir.— Mas você não está indo para a mesma direção que eu —

argumentou Caroline.— Isso pode ser mudado sem problema algum. Meu carro

está estacionado logo ali. Se você quiser a carona, é só dizer.— Ótimo! — exclamou ela, aliviada. — Aceito.— Muito bem. — Adam colocou a mão no cotovelo dela e

a guiou rapidamente pela rua movimentada. Caroline estava muitoconsciente da proximidade física dele e também de sua aparência atraente.

O carro era um Rolls-Royce. A direção estava um motorista uniformizado. Quando Adam se aproximou, ele saltou do carro e indagou:

— Tão cedo, senhor?— Pois é, Jules — respondeu o companheiro de Caroline,

com voz pausada. — Mas eu mesmo pretendo dirigir. Suba ao escritório e explique que tenho outro compromisso e que provavelmente vou me atrasar bastante.

— Pois não, senhor — disse o funcionário.Quando o motorista se afastou, Caroline olhou curiosa para

o homem a seu lado. Quem seria ele para poder se dar ao luxo de ter um Rolls-Royce com motorista particular?

Adam sorriu quando percebeu que ela estava pouco à vontade.

— Não fique com esse ar tão preocupado — ele falou. — Eu posso lhe garantir que o carro é meu mesmo.

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— Não estou duvidando disso — replicou ela, suspirando e permitindo que ele a ajudasse a se acomodar no banco. Após fechar a porta, deu a volta e se acomodou ao lado dela.

— E agora — Adam começou a dizer, antes que ela tivesse tempo de formular qualquer pergunta —, para onde quer que eu a leve?

Caroline deu-lhe seu endereço e ficou imaginando se ele estaria ou não esperando um convite para entrar quando chegassem lá. Ela esperava que ele não quisesse entrar. O prédio antigo não era exatamente do tipo que ela teria escolhido por livree espontânea vontade.

O percurso que ele fez, passando por algumas ruas que Caroline não conhecia, levou-os até sua casa num instante. Como eles tinham evitado as avenidas principais, o tráfego não estava congestionado, e, apesar de Caroline estar certa de que nunca encontraria outra vez seu caminho em meio a toda aquela neblina,era óbvio que esse homem conhecia Londres muito bem. Eles nãoconversaram muito durante o percurso, e, quando o carro estacionou, Caroline procurou descer o mais rapidamente possível.

— Um momento — disse ele, — Quanto tempo você vai ficar aí?

— Eu não posso ficar muito tempo —, respondeu Caroline, desconfiada e com os olhos levemente arregalados.

— Então eu espero — ele falou surpreendentemente. Caroline ficou espantada. Murmurando um rápido "obrigada",

saiu do carro, fechou a porta com cuidado e afastou-se correndo em direção à entrada do prédio.

O apartamento ficava no primeiro andar, e logo depois ela estava abrindo a porta e entrando. Consultou o relógio e constatouque ainda lhe sobravam quarenta e cinco minutos.

Amanda continuava deitada, um pouco febril.— É você, Caroline? — perguntou, com voz anasalada.— Por quê? Está esperando alguma outra pessoa? —

replicou Caroline, alegre. — Como está se sentindo? — Entrou noquarto.

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— Não tão bem quanto eu gostaria — respondeu Amanda, forçando um sorriso. — Você chegou cedo. Acha que eu poderia tomar uma sopa? Estou com fome.

— Acho que não há problema algum — disse Caroline, tirando as luvas. — Se está com apetite, é sinal de que está se recuperando. — Dirigiu-se depressa para a cozinha, encheu a chaleira de água e a pôs no fogo, antes de abrir a lata de sopa.

Quando a água da chaleira começou a ferver, trocou a água da bolsa de Amanda e aproveitou para fazer mais um pouco de chá. Depois, colocou a lata de sopa dentro de uma panela com água, para aquecê-la em banho-maria.

— Você teve problemas na firma hoje pela manhã? — perguntou Amanda, com sua voz nasal, quando Caroline colocou uma bandeja com sopa quente, torradas e chá diante dela.

— Bem, eu ainda não fui despedida — falou Caroline, fugindo da pergunta. Não queria que Amanda se preocupasse comela. Quanto a lhe contar que aceitara uma carona de um homem desconhecido.— Bem, isso era totalmente impossível Amanda iriapensar que ela era uma perfeita tonta, afinal de contas, ela nada sabia a respeito dele.

— Preciso ir — disse Caroline rapidamente. — Eu não quero chegar atrasada outra vez.

— Mas, Caroline, você ainda tem meia hora e não comeu absolutamente nada.

— Eu estou sem apetite — mentiu Caroline, sentindo um vazio no estômago. — De qualquer maneira, se eu sentir fome, sempre posso pegar um sanduíche lá no refeitório da firma.

— Como quiser. Muito obrigada por tudo e cuidado no caminho. Vamos torcer para que eu esteja me sentindo melhor à noite. Tenho um compromisso com Ron.

Bon Cartwright era seu atual namorado. Um repórter novatodo Daily Southenner, que se comportava como se fosse, no mínimo, o editor-chefe. Essa era a opinião de Caroline.

— Tire essa idéia da cabeça, você não vai sair — disse Caroline, indignada. — A temperatura lá fora está baixa, além disso, a umidade e a neblina só vão fazer sua gripe piorar.

— Está bem, está bem, foi só uma idéia — falou Amanda.

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— Pois é melhor esquecer essa idéia maluca — afirmou Caroline, com um sorriso. — Eu preciso ir agora. — Foi até a porta.

— Espero estar de volta até as cinco e meia.— Não se perca no caminho.Caroline desceu as escadas correndo e chegou à rua. O frio a

deixou entorpecida e, sentindo-se muito nervosa, aproximou-se docarro. Em sua ausência, Adam manobrara o carro e, quando ela o alcançou, ele abriu a porta por dentro, e Caroline entrou e sentou-se ao lado dele.

— Muito bem — disse Adam, enquanto ela fechava a porta.— Deu tempo para fazer tudo o que você queria?— Deu, sim, senhor — respondeu Caroline

respeitosamente. Ele franziu a testa.— Por que está me chamando de senhor agora? Caroline

encolheu os ombros.— Bem, o senhor deve ser alguém bastante importante para

ter um carro como este — respondeu ela, com bastante cuidado.— Eu não sei quem é, e, se me permite dizer isto, o senhor

também não parece estar muito interessado em me contar. É casado e está com medo de que sua esposa descubra alguma coisa? Oh, espero que isto não tenha soado como uma ofensa!

— Não sou casado — afirmou ele —, e você pode me chamar de Adam. Isto a deixa satisfeita?

— Sim, senhor... quero dizer, sim, Adam — respondeu, sentindo-se uma tola.

Ele ligou o motor, e o carro se afastou do meio-fio. Quando chegaram à avenida, porém, ele virou o carro para o sentido oposto, e Caroline percebeu que eles não estavam indo em direçãoao Edifício Steinbeck.

— Para onde você está me levando? — perguntou, tentandoaparentar calma, apesar de estar tremendo interiormente.

— A uma estalagem que eu conheço perto de Lingston — respondeu ele naturalmente. — Imagino que você ainda não comeu. Durante um bom almoço, você vai poder me contar todos os seus problemas.

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— Mas eu preciso estar no escritório dentro de vinte minutos — argumentou. — Por favor, leve-me de volta.

— Não se preocupe com isso — murmurou ele, achando graça na expressão do rosto dela. — Eu prometo que falo pessoalmente com a srta. Morgan, acalme-se.

O corpo tenso de Caroline, de repente, ficou lânguido. O quelhe restava fazer agora? Fora tola e estava pagando por isso. Adam podia fazer com ela o que quisesse! Levá-la para onde bementendesse! A culpa era apenas dela, por ter confiado nele.

Por causa disso, ficou ainda mais atônita quando, algum tempo mais tarde, o potente veículo passou pelos portões de ferro batido de uma entrada que levava a uma imponente fachada de casa de campo. Sobre a porta principal pendia uma tabuleta com onome da estalagem: "A Chaleira de Cobre".

Percebendo a entrada deles, o maitre se aproximou rapidamente para cumprimentá-los.

— A mesa de sempre, sr. Steinbeck? — perguntou educada-mente, ao mesmo tempo que seus olhos examinavam o casaco de lã azul de Caroline, chegando à conclusão de que o material não era de primeira qualidade,

— Sim, obrigado, André — respondeu Adam, querendo se dirigir à mesa. Mas Caroline ficara como se estivesse petrificada ao ouvir as palavras do maitre.

— Steinbeck — sussurrou ela, a voz tomada de espanto. — Oh, céus!

O restaurante estava cheio, mas uma mesa ao lado da janela esperava por eles. André se incumbiu de instalá-los confortavel-mente e depois apresentou o cardápio com gestos refinados.

Muitos dos presentes cumprimentaram Adam e Caroline, que agora, sabendo quem ele era, sentiu-se constrangida e deslocada. Ela gostaria que ele não fosse alguém tão importante. Se Adam fosse uma pessoa comum, talvez pudesse vir a se interessar por ela. Porém, agora que sabia sua identidade, tinha certeza de que qualquer interesse por parte dele não passaria de mera curiosidade. Ela devia ter adivinhado tudo no dia em que o encontrou no elevador. Pelo corte impecável de suas roupas, ele não poderia ser um funcionário.

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Adam perguntou-lhe se tinha preferência por algum prato especial. Caroline sacudiu a cabeça e ficou aliviada quando ele disse que escolheria por ela. Caroline não tinha a menor idéia do que fazer com aquele extenso cardápio.

Quando terminou de pedir os pratos ao garçom, apareceu um segundo garçom com a lista de vinhos, o que levou a uma segunda discussão a respeito dos méritos de cada safra.

Olhando em torno, Caroline sentiu-se extremamente consciente das limitações do vestido vermelho tipo jardineira, queusava sobre uma blusa branca. Ela estava certa de ser o assunto das conversas de todas aquelas mulheres elegantemente trajadas. Deviam estar tecendo conjeturas a respeito dos possíveis motivos que levaram um homem como Adam Steinbeck a almoçar com ela, quando era óbvio que ele estava muito mais acostumado a conviver com pessoas da alta sociedade.

De repente, seus olhares se encontraram. Adam percebeu que ela o estava observando fixamente. Caroline tentou disfarçar e tomou um gole de martíni. O resultado era previsível, e ela en-gasgou. Sua tosse chamou a atenção de todo mundo.

Adam, entretanto, não se perturbou e disse suavemente:— Acho que você não deveria beber, não é? Caroline

enrubesceu novamente.— Tenho quase dezoito anos — respondeu, embaraçada.— Quase. Não é suficiente — afirmou ele. — Porém, aqui e

agora, apenas nós dois sabemos que estamos infringindo as leis, portanto, não há nenhum mal nisto.

— Por que você não me disse logo que é Adam Steinbeck? — perguntou ela após uma pausa.

Ele fez um movimento com os ombros.— Para mim foi uma experiência nova ser tratado como um

simples funcionário da firma. Achei muito agradável.— Eu nunca sei quando está falando sério ou não — disse

ela, revelando sua juventude e sua vulnerabilidade.— Não sabe? — Sorriu ele. — Talvez até seja bom —

acrescentou enigmaticamente. — Tenho a impressão de que você gostou do almoço — disse ele, mudando de assunto.

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— É muito! — exclamou Caroline. — Foi fabuloso! Nunca comi como hoje, num lugar assim. — Enrubesceu. — Devo parecer bem tola.

— Não. Apenas muito jovem — replicou ele, com voz macia. — Agora, conte-me o que aconteceu hoje pela manhã.

— Ah, o meu atraso... — falou, fazendo uma careta. — Amanda amanheceu gripada, e, antes de sair de casa, tive de tomar uma série de providências para ter certeza de que não iria precisar de alguma coisa. Só fiquei sabendo que ela não estava passando bem quando acordei, por isso cheguei atrasada. A neblina também atrapalhou, e, ao entrar na central de datilografia, a srta. Morgan estava furiosa. Eu não tiro a razão dela, pois já eram quase dez horas. Tentei explicar, mas ela se recusou a ouvir e foi se queixar ao sr. Donnelly. As onze, ele me chamou e, apesarde estar furioso, acho que compreendeu o ocorrido. Sabe, a srta. Morgan é bastante agressiva, e o pobre coitado fica sem saber qual é a melhor atitude a tomar.

— Verdade? — Adam parecia estar intrigado.De repente, Caroline se lembrou com quem estava

conversando. Perturbada, acrescentou rapidamente:— Você não vai criar problema por causa disso, vai? Eu

realmente não gostaria de criar problemas para ninguém.— Não se preocupe. Prometo que vou considerar tudo o

que você me disse confidencialmente. Mesmo assim, acho que a srta. Morgan deveria se controlar um pouco. — Riu, satisfeito. — Então, Donnelly resolveu não despedir você, não é?

— Sim. Com a condição de que eu nunca mais chegue atrasada. Caso isto aconteça, serei demitida imediatamente. — Elaconsultou o relógio. — O que agora já parece uma piada. Você sabe que são quase três horas?

Ele se recostou preguiçosamente, observando a expressão perturbada do rosto dela.

— Eu já lhe disse para não se preocupar com isso. Tenho certeza de que você não vai ser despedida hoje. Eu lhe dou minha palavra.

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— Honestamente, isto mais parece ser um sonho maluco. Ainda não posso acreditar que seja verdade. Sei que estou sentadaaqui, mas tudo me parece fantástico demais.

— Mas você está gostando, não está? — perguntou, interessado.

— Como haveria de não gostar? — replicou, suspirando. — Foi tudo tão maravilhoso!

— Então, estou feliz — disse ele. — Vamos?Alguns minutos depois, estavam dentro do Rolls, a caminho

da cidade. Caroline sentia-se estranhamente deprimida. Tudo fora tão excitante e inesperado e agora se aproximava do fim. Pouco depois, chegaram ao Edifício Steinbeck, e Adam estacionou o carro no mesmo lugar onde estava antes, aparentemente o lugar era reservado para ele.

Assim que o carro parou, Caroline, num impulso, virou-se para ele.

— Eu realmente não sei como lhe agradecer — disse, — Foi um almoço fabuloso, e só espero não ter atrapalhado demais.

Adam sorriu e apoiou os braços sobre o volante.— Você não atrapalhou nem um pouco — respondeu, bem-

hu-morado. — Escute, aceitaria um convite para jantar comigo numa noite dessas?

Caroline sentiu as faces rubras.— Eu?! — exclamou. — Ora, eu... Você tem certeza de que

realmente é o que quer?Adam continuava sorrindo,— Acha que se eu não quisesse eu a convidaria? Que tal

amanhã? Caroline não disfarçou o contentamento. De repente, aquele

dia sombrio se tornou quase ensolarado.— Eu adoraria.— Ótimo. Estarei esperando diante de seu prédio às sete danoite. Ou será cedo demais?— Para mim parece perfeito — respondeu ela. — Acho

melhorsubir agora.

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— Espere um pouco — ele pediu, saindo do carro. — Também tenho de entrar. E estou bastante atrasado.

— Mas você não vai querer ser visto comigo — ela protestou e ficou surpresa com a mudança que ocorreu no rosto deAdam, até então bem-humorado.

— Você tem alguma objeção? — perguntou.— Lógico que não! — respondeu ela.— Então, nunca mais repita isso — disse ele secamente.

Em seguida, colocou a mão no braço de Caroline e, com firmeza, conduziu-a em direção à entrada do prédio.

Eram três e quinze, e as pernas de Caroline tremiam um pouco. Suas preocupações deveriam estar se refletindo no rosto, pois ele lhe sussurrou:

— Relaxe. Eu já lhe falei que não vai lhe acontecer coisa alguma. Assim que entraram no imponente saguão do Edifício Steinbeck,

imediatamente se tornaram alvo de todos os olhares. A intimidade do relacionamento deles logo se tornou visível para todos, e Caroline, sentindo isso, desvencilhou o braço.

Os funcionários do saguão estavam obviamente surpresos, e,assim que entraram no elevador, Adam lhe perguntou, com voz muito calma:

— Você ficou embaraçada. Por quê?— Estava pensando em você.— Pensando em mim? O quê? Que sou muito mais velho

que você? — Ele parecia estar se divertindo com a situação.— Não — Caroline negou com veemência. — É que o

pessoal da portaria adora uma fofoca, e, antes da hora do lanche, oprédio inteiro vai ficar sabendo que chegamos juntos.

— E daí? — perguntou. Ele estava encostado na parede do elevador. Já estavam parados no terceiro andar, mas Adam parecianão ter a mínima intenção de abrir a porta.

— Bem, você não se importa? — ela indagou, ofegante.— Acha que eu deveria me importar? — replicou ele,

sacudindo os ombros. — O que faço não é da conta de ninguém. Tem certeza de que não é você mesma que não gosta da situação?

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— De maneira alguma! — exclamou Caroline. — Para ser ho- nesta, até gostei muito de me sentir importante uma vez na vida.

— Então continua querendo jantar comigo amanhã à noite? Caroline arregalou os olhos, num gesto indefeso.

— É claro! Já estou contando com isso.— Otimo. — Em seguida, ele abriu a porta do elevador, para

que ela pudesse sair. — Então, nós nos encontraremos conforme foi combinado. — Ele sorriu. — Espero que não tenha problemas com a srta. Morgan.

Foi realmente impressionante, pensou Caroline mais tarde. A srta. Morgan sabia ser extremamente simpática quando isso lhe interes- sava. No momento em que entrou na sala, ficou bem claro que Vera Morgan havia sido avisada de que Caroline chegaria atrasada ao tra- balho. De maneira muito bem-educada, perguntou a Caroline se tinha se divertido bastante e depois acrescentou que as outras garotas po- deriam ajudá-la caso não conseguisse terminar seu trabalho sozinha,

No entanto, Caroline achou que não seria justo transferir uma parte de seu serviço a suas colegas, já bastante ocupadas. Assim, lançou-se com afinco ao trabalho. Às cinco horas da tarde,já con- seguira recuperar quase todo o atraso. Pelo menos o suficiente para informar a srta. Morgan de que seria capaz de continuar . com o ritmo normal na manhã seguinte.

Quando Caroline chegou em casa, encontrou Amanda de pé e vestida, apesar de sua aparência pálida e fraca.

— Você deveria ter ficado na cama — falou Caroline, ao sentar-se para comer a fritada de ovos e linguiça preparada por Amanda.

Na verdade, Caroline não estava com muito apetite depois do suntuoso almoço daquele dia, mas fez questão de demonstrar que a fritada estava deliciosa para não magoar a amiga.

— Impossível, meu bem — respondeu Amanda, que comeu ape-nas uma salsicha e uma fatia de pão. — Como Ron chegará aqui às seis e meia, eu tinha de fazer alguma coisa.

Caroline não escondeu sua desaprovação.

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— Você não vai sair hoje à noite — disse com tanta ênfase que Amanda não conseguiu reprimir o riso.

— Está bem, está bem, mas não exagere em seu papel de su-permãe — respondeu, suspirando. — Eu só queria estar com uma aparência razoavelmente apresentável quando ele chegasse, só isso. Porém estou me sentindo como se estivesse morrendo em pé.

Amanda estava longe de parecer uma garota saudável. Quando Caroline entrou no quarto e estava prestes a pedir para que a amiga voltasse para a cama, ouviram a campainha da porta tocar. Caroline foi atender e deixou Ron entrar. Como sempre, ele parecia estar muito contente, mas parou, assustado, ao ver o aspecto de Amanda.

— Deus do céu! — exclamou, recuando um passo. — Há um fantasma solto nesta casa!

Amanda trocou um olhar com Caroline.—Acho que não é para tanto — Amanda falou, forçando um

sorriso.— Mas, boneca... você está realmente meio fantasmagórica.

O que aconteceu?— Ela está terrivelmente gripada — explicou Caroline. —

E tenho certeaa de que você não quer pegar gripe também, não é?— Essa última frase foi muito incisiva.— Essas coisas acontecem — disse, instalando-se no sofá.

— Desconfio que nossa ida ao cinema foi por água abaixo então.Caroline ficou chocada com a falta de sentimentos dele e

olhou para Amanda, arqueando as sobrancelhas.— Pois é. Vou voltar direto para a cama.— Compreendo. — Ron lançou um olhar inquiridor a

Caroline.— O que você acha de nós dois irmos ao cinema? —

perguntou com toda naturalidade.Amanda ficou boquiaberta.— Não se incomodem comigo! — exclamou, furiosa, e

correu para o quarto, batendo a porta com força.— O que está acontecendo com Amanda? — perguntou

Ron, sem compreender. — E então, Caroline? O que acha da proposta?

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— Você deve estar brincando — disse Caroline, tentando não mostrar a repulsa que sentia.

Ron não se deixou abalar.— Você sabe que eu sempre tive vontade de fazer um

programa com você — ele falou, ao levantar-se. Brincando, tentou segurá-la pelos pulsos, mas com um gesto rápido, Caroline escapou dele.

— Não se atreva a pôr as mãos em mim! — gritou, furiosa. — Acho que está perdendo seu tempo aqui, Ron.

Ele não perdeu o ar pretencioso.— Muito, bem, boneca. Vou embora! Ninguém pode dizer

que Ron Cartwright força sua presença em lugares onde não é desejado. Não preciso disso, benzinho. Basta um estalar de dedos para eu ter uma dúzia de garotas querendo sair comigo.

— Pois, então, vá procurar uma delas — replicou Caroline. — Sujeitos como você me enojam!

A frase deve ter atingido algum ponto fraco dele, pois Ron lhe dirigiu um olhar furioso antes de sair apressadamente.

Caroline trancou a porta e foi para o quarto ver como estava Amanda. Ela voltara para a cama e, surpreendentemente, estava sorrindo.

— Eu ouvi tudo — disse, antes que Caroline pudesse abrir aboca. — Acredito que estaremos livres de Ron por um bom tempo.

— Bem, honestamente — Caroline começou a falar, um pouco arrependida pela cena que acabara de fazer —, eu não consigo entender como você pôde se envolver com um sujeito desses. Além de ser um chato, é terrivelmente convencido.

Amanda fez um gesto com os ombros, indicando estar conformada com sua sina.

— Nós, pessoas humildes, não podemos ficar escolhendo muito — respondeu, respirando profundamente. — Qualquer dia, você também vai ter de reconhecer isso. Garotas como você e eu simplesmente não têm a oportunidade de encontrar a elite da população masculina deste país.

Caroline ficou vermelha. Ela não tinha contado nada a Amanda sobre seu encontro com Adam Steinbeck e sobre o

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almoço daquele dia. Ficou um pouco chocada ao pensar que comparar Ron com Adam seria tão idiota quanto comparar suco de tomate com champanhe.

Amanda, entretanto, percebeu a mudança de cor nas faces desua amiga e indagou:

— Será que você encontrou outra vez o príncipe encantado do elevador?

— Sim, Amanda — respondeu com a maior naturalidade possível. — Eu o encontrei durante a hora do almoço.

— Verdade?! — exclamou a amiga, entusiasmada. — Comofoi? — perguntou, curiosa.

— Bem, eu trombei com ele na frente do prédio, e, quando lhe disse que estava com pressa para chegar em casa, ele me ofereceu uma carona.

— Caroline Sinclair, você não tinha a menor intenção de mecontar tudo isso, tinha?

— É lógico que ia lhe contar tudo — defendeu-se Caroline. — Simplesmente não tive tempo. Bem, de qualquer forma, ele metrouxe para casa. Foi por isso que consegui chegar tão cedo aqui.

— Ah, sei... Não acha que foi um pouco imprudente? Afinal de , contas, você nem conhece esse homem. Descobriu pelo menos como ele se chama?

Caroline hesitou um instante.— Bem, descobri, sim. Ele é... Adam Steinbeck. — Ela

revelou isso muito depressa e ficou observando as expressões que se sucediam rapidamente no rosto de Amanda. Primeiro foram de espanto, surpresa, depois de incredulidade.

— Você está falando sério? — perguntou, levantando a mãoaté o rosto. — Adam Steinbeck?

Caroline suspirou, sentindo também uma ponta de incredulidade. — Ele mesmo. Para mim, também foi uma surpresa.

— Surpresa?! — exclamou Amanda. — Em minha opinião, isso é um milagre. E lógico que o coitado do Ron não teve a menor chance. Você esta interessada em homens mais elegantes.

— Não é nada disso — disse Caroline, levemente irritada. Amanda balançou a cabeça, ainda impressionada.

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— E você estava realmente falando sério no outro dia, quando disse que não sabia quem ele era?

— É claro! Eu só comecei a trabalhar lá há três semanas. Como eu poderia conhecê-lo? Eu não tinha a menor idéia.

— Que coisa fantástica! Ele é um homem atraente?— Ele é fabuloso — Caroline afirmou, abraçando a si

mesma.— Acho melhor contar tudo de uma vez. Ele me levou para

almoçar numa estalagem chamada "A Chaleira de cobre".Amanda ficou ainda mais chocada do que já estava.— Adam é uma pessoa muito simpática — continuou

Caroline.— Fez com que eu me sentisse muito à vontade. Quando

voltei para o escritório, já passava das três e meia da tarde, mas a srta, Morgan estava doce como mel. — Ela sorriu. — Foi realmente muito gostoso.

Amanda encarou-a, com certa frieza,— Em meus sonhos, sair com um milionário sempre é

muito gostoso. — Suspirou. — Que sorte a sua, hein?— O dinheiro dele não me atrai nem um pouco — falou

Caroline, espreguiçando-se lentamente na cama. — Aliás, preferiaque ele fosse um simples funcionário. Pelo menos, existiria a possibilidade de ele se interessar seriamente por mim. Do jeito que estão as coisas...

— Ei, vá com calma, mocinha — aconselhou Amanda, sentando-se em sua cama. — Não há nada demais em ser convidada para um almoço. Mas quanto a se envolver seriamente com um homem dessa idade... Você deve estar brincando!

— Não diga isso.— E por que não? Alguém ia ter de lhe dizer isso. Pense um

pouco, Caroline! Ele provavelmente encontra garotas como você às dúzias. Homens do tipo de Adam Steinbeck podem escolher qualquer mulher. Qualquer uma! Você precisa agir de acordo com sua idade. Além disso, ele provavelmente é casado e tem meia dúzia de filhos em casa.

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— Ele me disse que não é casado — murmurou calmamente. — Como não é difícil descobrir se ele está mentindo, acredito que não esteja. Não haveria motivo para isso.

— Muito bem, então ele não é casado. Mas isso não o tornamais jovem.

Amanda provavelmente estava certa em tudo o que dizia, porém, mesmo assim, Caroline continuava querendo voltar a vê-lo. Ela tinha de vê-lo novamente! Ela nunca ouvira nenhum comentário maldoso a respeito dele no escritório, mas isso não eragarantia alguma. Afinal, o dinheiro pode silenciar muitas pessoas.

— Bem, de qualquer maneira, vou jantar com ele amanhã à noite. Amanda fez um gesto com as mãos, deixando bem claro que

não queria ter responsabilidade alguma nisso tudo.— Eu não posso impedi-la de fazer o que quiser. Mas já

pensou que o Edifício Steinbeck existe há uns quinze anos e que ele deve ter sido chefe da firma durante quase todo esse tempo também?

— Acho que ele deve ter uns trinta anos aproximadamente — disse casualmente.

— Caroline, você está apaixonada, não é? Sinto muito ter delhe dizer isso, mas você não devia julgar as pessoas apenas pela aparência.

— Você realmente tem todo o direito de falar assim. E como se explica a presença daquele sujeito pavoroso aqui, hoje a noite?

— Ao menos ele está na mesma faixa etária e financeira queeu — replicou Amanda.

Caroline levantou-se da cama e foi para a sala, mal-humorada. Amanda podia dizer o que quisesse, no entanto, Caroline iria ao encontro combinado.

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CAPITULO II

Na manhã seguinte, a firma toda estava comentando a grande novidade. Caroline Sinclair, a garota nova da central de datilografia, tinha sido vista entrando no prédio na companhia do próprio Adam Steinbeck. Alguns afirmavam até mesmo que os dois haviam almoçado juntes.

Caroline levantara-se mais cedo, para poder cuidar de Amanda antes de sair de casa, conseguindo chegar na hora certa. Ruth mal podia esperar para conversar com ela sobre o assunto mais comentado na firma.

— É verdade? — quis saber Ruth. — Foi por isso que você chegou tão tarde ontem depois do almoço? Esteve tão ocupada durante o resto do tempo, que não houve uma oportunidade para conversarmos.

— É verdade, sim — respondeu Caroline, com certa relutância. — Mas, por favor, antes mesmo de você começar, não estou interessada em ouvir sermões.

Ruth ficou surpresa com o tom de voa de Caroline.— Oh, eu sei, ele é um homem maravilhoso —

interrompeu-a Ruth bem depressa. — Eu já o vi algumas vezes, mas só de longe. Imagino que haja dúzias de mulheres que o adoram. Honestamente, você não acredita que ele possa estar interessado em você por qualquer outro motivo, além do óbvio, acredita?

— E qual é esse motivo óbvio? — perguntou Caroline, levemente irritada.

— Ora, sexo, é lógico — respondeu Ruth, corando um pouco.

— Sinceramente, eu não entendo por que você e Amanda acham que conhecem Adam Steinbeck melhor do que eu. Amandanão seria capaz de reconhecê-lo na rua, e você mesma acaba de admitir que o viu só de longe. No entanto, vocês duas parecem achar que ele é um maníaco sexual ou coisa parecida.

— Estamos apenas nos preocupando com você — falou, com certa frieza. — Já considerou tudo o que pode acontecer quando vocês se tornarem um pouco mais íntimos? Ele não é mais

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um rapazinho para contentar-se com um beijo de despedida na porta de sua casa. Ele já foi casado e vai querer bem mais do que isso.

— Casado! — exclamou Caroline. — O que aconteceu coma esposa dele?

— Morreu de leucemia há uns oito anos. Uma funcionária mais antiga da firma me contou isso.

— Ah, sei... — Caroline não pôde impedir que uma sensação de alívio a invadisse. Pelo menos ele não tinha mentido para ela. — E ele tem família?

— Um filho só. Parece que estuda na Universidade de Radbury. Nossa, Caroline, o filho dele é mais velho do que você!

— Seja franca, Ruth. Acharia que ele é velho demais para você, caso estivesse em meu lugar?

Ruth ficou em silêncio. No fundo, sabia que Caroline conseguira lhe fazer uma pergunta difícil de responder. Um homem como Steinbeck não podia ser ignorado, nem mesmo sem a sua posição e a sua fortuna. Além disso, devia ser muito excitante receber um convite dele para almoçar.

— Está certo — concordou por fim, — Em seu lugar, eu provavelmente faria a mesma coisa. Aliás, como foi que o conheceu?

— Você se lembra do homem que eu encontrei no elevador? — perguntou Caroline.

— Era Steinbeck?Caroline respondeu afirmativamente com um gesto de

cabeça.— Céus! — Ruth estava estupefata. — Quer dizer que ele a

convidou para sair aquele dia e você não me contou nada?— Não, foi ontem na hora do almoço, quando saí daqui

correndo para ir cuidar de Amanda em casa, dei de encontro com ele na frente do prédio. Ele me ofereceu uma carona, e eu aceitei. Depois, me convidou para almoçar.

Ruth balançou a cabeça significativamente.— Muito bem, muito bem. — Suspirou. — Mas tenha

cuidado, Caroline. Estou realmente falando sério.

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Enquanto trabalhava, Caroline ficou imaginando que roupa iria vestir naquela noite. Possuía um único vestido de noite, que usara pela última vez na festa de formatura de seu curso de secretariado. O corte era um pouco antigo, e, considerando-se queera feito de algodão cor-de-rosa, era óbvio que ela ficava parecendo ainda mais jovem quando o usava.

Decidiu comprar um vestido novo. Durante o horário de almoço, foi até o banco e retirou certa importância de suas economias, que equivaliam a um terço de seu salário mensal. Sabia que estava sendo ridícula em suas extravagâncias, mas queria que Adam se orgulhasse dela.

Depois do trabalho, numa pequena loja nas imediações da firma, encontrou exatamente o que queria. Era um vestido de renda, cor verde-jade. Caroline sentiu-se ousada e ficou muito satisfeita. Agora, estaria no mesmo nível de todas aquelas elegantes mulheres da sociedade.

Amanda ficou horrorizada quando descobriu que Caroline desperdiçara tanto dinheiro. E "desperdício" foi a palavra que ela usou para expressar sua opinião.

— Você deve ter ficado maluca! — exclamou ela, irritada. — Será que ainda não entendeu que, se vai começar a sair regularmente com um homem desse tipo, vai precisar comprar montes de roupas novas?

Caroline a encarou furiosa.— Ora, Amanda, não se meta! O dinheiro é meu!— Você devia cuidar da cabeça — continuou Amanda.— Por favor, me deixe sozinha — resmungou Caroline. —

Se você não se importar, eu mesma escolho o caminho de minha ruína e de minha perdição.

Amanda ficou em silêncio durante um momento e depois disse:

— Sinto muito se parece que estou interferindo em sua vida. A questão é que você não pode se dar ao luxo de gastar tantodinheiro para comprar um único vestido. Está bem, se realmente pretende levar isso adiante... quer que eu lhe empreste minha estola de pele?

Caroline ficou vermelha, parecia estar envergonhada.

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— Por favor, Amanda. Sinto muito, muito mesmo, por ter ficado irritada, mas sou capaz de cuidar de mim mesma.

— Muito bem. Não abro mais a boca. A que horas ele vem buscá-la? — perguntou.

Caroline disse a hora e depois foi tomar banho. Os sinos de uma igreja próxima batiam sete horas da noite quando ela ficou pronta. Estava muito bonita no vestido verde. Amanda percebeu que Caroline estava parecendo muito mais velha, mas evitou o comentário para não provocar nova discussão.

Foi Amanda quem primeiro avistou o Rolls manobrando no beco e parando diante da entrada do prédio. disse Mandy, enquanto Caroline sentia seu

— Deve ser ele coração palpitar.— Vou descer — informou, abrindo a porta.— Divirta-se — disse Amanda, com um sorriso seco. E

depois, num tom mais sério, acrescentou: — E tenha cuidado!Caroline concordou com um gesto de cabeça, fechou a porta

e desceu as escadas, indo ao encontro de Adam.— Olá — murmurou ela.Os olhos dele se estreitaram ironicamente antes de lhe

retribuir o sorriso.— Boa noite — respondeu suavemente, abrindo a porta do

carro para que ela entrasse.Depois de sentar-se ao lado dela, examinou-a atentamente.— Está muito bonita, minha querida — disse ele, com uma

ponta de ironia em sua voz. — E muito sofisticada também, você não acha?

— Eu... acho que não estou compreendendo muito bem o que quer dizer — respondeu Caroline, tentando ver melhor o rostodele na escuridão.

No conforto do carro que deslizava suave e silencioso, Caroline conseguiu relaxar um pouco.

— Reservei uma mesa no Mozambo para as oito horas — ele falou ao dobrar a King's Road, onde o transito era mais intenso.

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O Mozambo era um clube noturno inaugurado havia pouco tempo, e Caroline sabia que não tinha idade suficiente para frequentar esse tipo de lugar.

Percebendo que ela não respondia, Adam lançou-lhe um olhar inquiridor.

— Há alguma coisa errada? — perguntou discretamente. —Você não gostou da idéia? Acho que é o lugar ideal para desfilar um vestido como o seu.

— Não que eu não queira ir, compreenda — disse ela, enca-bulada. — Mas eu só vou completar dezoito anos em março e...

— Ah é, eu tinha me esquecido desse detalhe — ele falou, apesar da impressão de que ele não se esquecera disso. — Nesse caso, iremos a algum outro lugar menos perigoso.

Caroline sentiu-se ridiculamente jovem e desajeitada.— Que pena... — murmurou. — Eu me sinto ridícula.— Por quê? Você não tem culpa de sua idade. Além disso,

clubes noturnos não são necessariamente os lugares que mais gosto de frequentar.

Caroline continuava se sentindo pouco à vontade.— Para onde iremos então?Adam refletiu durante um momento.— Acho que podemos jantar no Caprice, e depois arranjo

ingressos para algum espetáculo. Existe algo em cartaz a que vocêqueira assistir?

— Para mim, tanto faz — respondeu Caroline, mais aliviada. — Tem certeza de que não estou estragando sua noite?

— Você não poderia fazer isso — disse ele, sorrindo suavemente.

O Caprice era um restaurante tão excitante quanto ela imagi-nava que deveria ser. Caroline reconheceu algumas pessoas fa-mosas sentadas em mesas próximas e ficou impressionada com a naturalidade de Adam em relação aos garçons. Apesar do restau-rante estar lotado, ele não teve dificuldades em conseguir uma mesa.

Adam examinava o cardápio com um olhar experiente.— Você já decidiu o que vai querer comer? — perguntou.

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— Não. Deixo isso a seu critério. Você sabe que não estou acostumada a jantar em lugares como este. — Havia um certo ar de insegurança na maneira de ela se expressar, e, durante alguns instantes, ele desfez seu olhar irônico e voltou a dedicar sua aten-ção ao cardápio.

Adam fez o pedido ao garçom e, em seguida, voltou-se paraela.— Estou contente por você ter aceito o convite — disse ele

commuita naturalidade.— Pensou que eu não aceitaria? — Caroline indagou,

surpresa.— Bem, admito que tive minhas dúvidas — respondeu com

seu jeito vagaroso de falar. — Imagino que todas suas amigas devem ter aconselhado a não se envolver com um homem como eu.

— Como sabe que... — ela começou a dizer, mas interrompeu-se, enrubescendo.

— Então acertei — ele murmurou. — E por que não aceitouo conselho delas?— Eu lhes expliquei que sou perfeitamente capaz de tomar

conta de mim mesma — falou, recusando-se a encará-lo diretamente.

— Compreendo... E você realmente acredita nisso? Caroline ficou ainda mais enrubescida.

— É lógico que acredito! — exclamou rapidamente. — Se não acreditasse, não teria vindo.

— Você é corajosa — ele disse secamente, mas, quando ela o encarou, viu que os olhos dele tinham uma expressão irônica.

O olhar de Adam penetrou, de uma maneira quase insolente,pelas aberturas da renda do vestido de Caroline, e ela sentiu ím-petos de se cobrir, de se proteger e desejou não o ter comprado.

A refeição estava esplêndida, porém Caroline comeu muito pouco. Durante os intervalos entre os diversos pratos, Adam conversou naturalmente sobre suas viagens para o exterior, e durante um certo período de tempo, Caroline conseguiu relaxar a tensão e se divertiu ouvindo o que ele contava.

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Mais tarde, ela escolheu um espetáculo que estava com vontade de ver, e a noite se tornou mais agradável. Era uma comédia musical leve, que ajudou muito a acabar com a insegurança de Caroline.

Depois do espetáculo, os dois se dirigiram até o carro e entraram rapidamente, para escapar do frio ar noturno. Adam deu a partida e manobrou agilmente o veículo no tráfego intenso. Caroline estava tão fascinada com as mãos dele, segurando o volante, que nem percebeu que tinham tomado uma direção oposta a seu apartamento. Quando percebeu, o carro já estava passando por algumas ruas desertas de Mayfair. Caroline apertou a bolsa entre suas mãos. Para onde ele a estaria levando? Ela estava tão chocada que ficou muda de espanto quando ele estacionou o carro diante de uma casa, numa pequena rua. Quando Adam abriu a porta, a luz automática do carro iluminou o rosto amedrontado de Caroline, e ele disse:

— Não faça essa cara. Não vou lhe fazer nada. Vamos, desça!

Lançando-lhe mais um olhar desgostoso, Adam abriu a portada casa e acendeu a luz. Depois, retrocedeu um passo para que elapassasse adiante e fechou a porta. Era o saguão mais bem decorado que Caroline já vira em toda sua vida, e, como a curio-sidade foi mais forte que seus temores, ela seguiu Adam, que saía do saguão por uma grande porta em arco. Caroline o acompanhou, e entraram numa outra sala decorada com extremo bom gosto.

Caroline procurou palavras para descrever suas impressões. Quando, finalmente, conseguiu falar, murmurou:

— Isso é fabuloso! Contudo, minha opinião não deve ter interesse algum para você — acrescentou, suspirando.

Adam apenas se dirigiu ao bar.— Quer tomar alguma coisa? — perguntou. Imediatamente,

os temores de Caroline voltaram, e Adam,olhando para ela, devia ter percebido isso, pois disse:— Não se preocupe em recusar. Acho que um pequeno

cálice de conhaque vai ajudá-la a recuperar a segurança.

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Caroline não respondeu, mas aceitou o copo que ele lhe oferecia. No rosto de Adam havia uma expressão de divertimento.

— Você não quer se sentar? — ele indagou, apontando para o sofá.

Caroline concordou rapidamente, contente pela oportunidade de dar um pouco de descanso as suas pernas trêmulas. Para seu espanto, porém, Adam sentou-se a seu lado e recostou-se muito à vontade. Caroline, que o observava, ficou impressionada com a forte atração física que ele exercia sobre ela,fazendo com que se sentisse fraca, indefesa e sem ar.

— E agora — disse ele, saboreando lentamente suas palavras —, vamos deixar bem claro uma coisa entre nós dois, está bem?

Caroline franziu a testa.— Não estou entendendo, pode explicar? — perguntou, um

pouco nervosa.Adam esticou as pernas.— Bem — murmurou —, parece que está muito apreensiva

em relação ao que pode acontecer entre mim e você. Quando nos encontramos pela primeira vez, você estava muito à vontade em relação a mim, e eu gostei disso. Sei que você não sabia quem eu era, mas, mesmo depois de ficar sabendo, continuou se portando com naturalidade... Agora, porém, de repente, após toda essa la-vagem cerebral que suas supostas amigas lhe fizeram, você está apavorada comigo, Por quê? O que pensa que pretendo fazer? Atacá-la, agarrá-la ou o quê?

Caroline enrubesceu. De repente, sentiu-se tola demais. Ele franziu a testa e continuou:

— E hoje à noite, quando você veio se encontrar comigo, sua aparência estava indescritível! Esse vestido seria apropriado para uma mulher de trinta anos. Ele simplesmente não combina com você. Disse todas aquelas coisas a respeito de sofisticação porque estava furioso por você ter achado que precisava se fantasiar dessa maneira para me agradar. Você simplesmente conseguiu se transformar em uma mulher a mais. Eu não reservei mesa alguma no Mozambo. Eu apenas queria saber até onde você iria levar essa falsa sofisticação. Se você tivesse concordado em ir

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a essa casa noturna, eu lhe teria dado umas boas palmadas! Está compreendendo agora? Eu a convidei porque você é... jovem, inocente, não porque quisesse uma boneca na última moda para jantar comigo. Será que você não vê que estou cansado de mulheres que se jogam em meu pescoço? Não pense que isso é mero convencimento de minha parte. Acho que o dinheiro provoca essa reação na maior parte das mulheres.

Subitamente, ele se levantou e foi até o bar, onde tornou a encher seu copo.

Caroline tomou um gole da bebida de seu copo. Ela se sentiacomo se tivesse apenas seis anos de idade e, no máximo, seis palmos de altura.

— E agora? — ela murmurou, com voz rouca e muito próxima às lágrimas. Caroline sentia uma dor muito grande dentrode si, uma dor que ameaçava se tornar mais forte do que ela e que não conseguia compreender direito.

Adam colocou o copo sobre o bar e respondeu, com um sorriso: — Acho que vamos ter de começar tudo outra vez.

Depois, vendo lágrimas nos olhos de Caroline, indagou:— Escute, você não está pensando que eu a trouxe até aqui

só para lhe dar uma bronca e nunca mais vê-la, não é?Caroline respirou fundo e passou o dorso da mão nos olhos.

Uma sensação de alivio tomou conta dela, e, como uma explosão, ela compreendeu de repente por que tinha sentido tanto medo. Não queria que o relacionamento terminasse ali! Estava apaixo-nada por esse homem. Ela o amava tanto que tinha certeza de que nunca mais voltaria a ser a mesma pessoa outra vez.

Caroline olhou para ele, forçando-se a não demonstrar nenhuma emoção, quando Adam se sentou ao lado dela, dizendo:

— Amanhã é sábado. Você gostaria de viajar comigo para ointerior e conhecer minha casa nos arredores de Windsor? Este é apenas um lugar que tenho na cidade e que uso para dormir ou trabalhar quando preciso ficar em Londres.

— Gostaria muito de ir com você — respondeu Caroline, entusiasmada, sorrindo para ele. — Estamos sozinhos aqui, neste momento?

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— Exatamente — ele murmurou, suspirando. — Mas não pense besteiras, pois vou levá-la para sua casa imediatamente.

Ele se ergueu e estendeu a mão para ela poder se levantar também. Quando as mãos se tocaram, Caroline sentiu seu interior se manifestar. Ela não queria ir embora, queria abraçá-lo e, de repente, ficou amedrontada com o tumulto de sentimentos que ele despertara dentro dela.

Não levaram muito tempo para chegar em casa, e, com umacerta relutância, Caroline desceu do carro, onde havia um

climade certa intimidade. Adam a acompanhou até a entrada do

prédio.—Virei buscá-la amanhã, às três horas da tarde—ele

informou,sorrindo — Vista qualquer coisa bem informal.Amanda ainda estava acordada quando Caroline entrou no

quarto, assim ela teve de contar tudo o que tinha acontecido. En-tretanto, Caroline omitiu a visita à casa dele na cidade, mesmo porque já passavam das onze horas. Amanda pareceu acreditar que ambos tinham vindo diretamente para casa depois do teatro.

No sábado, Amanda foi trabalhar, e isso tornou as coisas muito fáceis para Caroline, que resolveu deixar apenas um bilhetepara a amiga, dizendo que teve de sair, era a melhor maneira de escapar de uma nova discussão sobre as vantagens e desvantagensde se envolver com alguém do tipo de Adam.

Faltavam quinze minutos para as três horas quando notou um pequeno carro branco, modelo europeu, entrando na rua, e perguntou-se, sem muito interesse, a quem pertenceria aquele automóvel. Ela não estabeleceu conexão alguma entre o carro e Adam até o momento em que ouviu alguém batendo à porta.

Caroline correu para abri-la, rezando intimamente para que não fosse tia Bárbara, que, às vezes, resolvia visitar a sobrinha nastardes de sábado. Porém, quando abriu a porta e viu Adam parado diante dela, ficou boquiaberta, espantada, e exclamou:

— Adam! Eu estava olhando pela janela, mas não vi seu carro! — Caroline estava realmente surpresa.

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Ele fez um movimento com os ombros e entrou na sala, observando em torno com muito interesse.

— Eu mudei de carro. Você está pronta? — perguntou. — Pelo menos está aparentando sua idade hoje. Podemos ir?

A viagem até a casa de campo dele foi confortável, amena e rápida. Atravessaram a cidade de Windsor em direção a um vilarejo chamado Slayford, em cujos arredores Adam saiu da estrada principal, entrando pelo portão de uma vila moderna. Era uma casa de aspecto sólido, em estilo grego. Diante dela, havia diversas estátuas e um pequeno chafariz em meio a um espelho d'água. O caminho circundava o espelho d'água, e Adam estacionou o carro diante de grandes portas duplas de vidro, revestidas com uma grade de ferro batido na parte interna. Amplos degraus de pouca altura levavam até essa porta, atravessando um terraço com colunas.

— Nossa! — exclamou Caroline, descendo do carro antes que Adam tivesse tempo para ajudá-la.

— Fico contente em ver que você gosta — respondeu ele, enfiando as mãos nos bolsos do sobretudo. — Mandei construir esta casa há cinco anos, segundo um esboço que eu mesmo fiz.

Adam abriu a porta, e entraram pelo belo saguão.Logo depois, uma porta abriu-se na extremidade oposta, e

uma mulher de meia-idade aproximou-se, apressada, acompanhada por um spaniel. O cachorro fez muita festa para Adam, latindo de contentamento, pulando e balançando o pequeno rabo.

— Esta é a sra. Jones e este é Nero — disse Adam, sorrindopara Caroline. — Sra. Jones, esta é a srta. Caroline Sinclair.

— Muito prazer, senhorita — falou, sorrindo, a pequena mulher de aspecto maternal. — Que surpresa! — exclamou ela, olhando para Adam com uma certa indulgência no olhar. — É muito agradável vê-lo outra vez, sr. Steinbeck. Jones está rachando lenha lá nos fundos, mas, se o senhor quiser vê-lo, irei chamá-lo imediatamente.

— Não há necessidade, sra. Jones — respondeu Adam.

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A sra. Jones era baixa e alegre. Caroline gostou dela instinti-vamente. Quanto a Nero, era muito agitado, ficou pulando em volta deles, quando entraram na sala de estar.

— Este é o único aposento da casa toda onde existe uma lareira de verdade. O resto está equipado com o aquecimento central — informou ele, enquanto se sentava num dos sofás mais próximos ao fogo. — E que, de vez em quando, gosto de ficar olhando as labaredas.

— Eu também gosto muito — concordou Caroline, sentindo-se inundada por uma sensação de bem-estar.

Adam foi sentar-se mais próximo de Caroline, e ela se perguntou se ele teria alguma noção do efeito que causava sobre ela. Ficou um pouco deprimida quando pensou que Adam provavelmente a considerava apenas uma companhia mais ou menos agradável, com a qual estava se divertindo um pouco.

Preguiçosamente, ele esticou as pernas em direção ao fogo.— Isto é que é vida! Longe dos negócios, dos assuntos de

altas finanças, da especulação imobiliária...Caroline sorriu, observando-o atentamente. Era difícil

imaginar que a vida de centenas de funcionários dependia inteiramente desse homem. Quantas pessoas dependeriam das opiniões dele? O Edifício Steinbeck abrigava uma série de companhias, todas pertencentes à Steinbeck Corporation e cada uma delas, de certa forma pelo menos, dependia de Adam Steinbeck. Ele era o diretor-presidente, e o voto decisivo, sempre que necessário, era dele, sendo também responsável por quaisquererros que acontecessem.

Ela desejou ter coragem para se aproximar mais dele e lhe fazer uma massagem nas têmporas. Tia Bárbara gostava muito quando ela fazia isso, dizia que era ótimo para aliviar a tensão.

De repente, bateram na porta, e, logo em seguida, a sra. Jones entrou com uma bandeja, trazendo chá, sanduíches e bolinhos de aveia.

Adam abriu os olhos e, com certa relutância, sentou-se numaposição mais formal.— Muito obrigado, sra. Jones. Seria possível jantarmos por

volta das sete e meia?

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— É claro que sim! Por enquanto, comam estes bolinhos deaveia que eu mesma fiz e se quiserem mais chá é só chamar.

— Que Deus a conserve sempre assim — disse Adam, e a sra. Jones saiu com um sorriso de satisfação.

Ao terminarem o lanche, Caroline colocou a bandeja sobre uma mesa ao lado da porta, indagando:

— Quer que eu leve a bandeja para a cozinha?— Não é preciso — disse. — Venha e sente-se aqui a meu

lado. Quero que me conte tudo a respeito de sua vida.O coração de Caroline batia violentamente ao sentar-se ao

lado de Adam. Ela estava bastante consciente de que a perna dele estava muito próxima da sua. Também percebeu que Adam a ob-servava atentamente.

— Não há muita coisa para contar — murmurou ela, fitandodemoradamente as labaredas na lareira. — Meus pais morreram quando eu era ainda muito pequena. Fui criada por uma tia e, há seis meses, deixei-a para ir morar com minha amiga Amanda,

— É muito excitante tudo isso — ele falou com um sorriso. — E não houve nenhuma paixão até agora?

A intimidade da situação foi mais forte para ela que respondeu apenas com um gesto negativo de cabeça, pois não confiava em palavras. Como poderia conversar com naturalidade a respeito de um assunto que lhe tocava tanto?

Adam moveu-se lentamente, até que sentiu sua perna junto àdela. Depois, com a mão em seu rosto, forçpu-a a olhar para ele. Seus olhos a examinavam atentamente. Caroline tinha certeza de que ele estava ouvindo as batidas de seu coração. Sentiu que ele brincava, distraidamente, com seus cabelos, tocando-lhe levemente a nuca, perturbando-a. Em seguida, devagar, ele se inclinou para a frente e encostou sua boca na dela, explorando os lábios macios, até se entreabrirem involuntariamente...

O beijo prolongou-se, transformando-se em algo muito maissério e sensual. Caroline nunca imaginara que a boca de um homem fosse capaz de despertar tais sensações e sentiu-se um pouco perdida quando ele a soltou, levantando-se com um movimento quase brusco. Caroline permaneceu onde estava, inconscientemente provocante em sua inocência semidesperta.

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Irritado, Adam mexeu numa das toras de madeira com a ponta do sapato e ficou olhando atentamente para as labaredas.

— Por que você não diz alguma coisa? — murmurou ele. —Por exemplo, a respeito do sermão que eu lhe passei ontem à noite?

Caroline suspirou.— Está arrependido por ter me beijado, Adam? —

perguntou com voz suave.Num gesto brusco, ele se voltou para ela.— Sabe muito bem o que estou com vontade de fazer! —

ele exclamou violentamente. — Eu! O conselheiro platônico de ontem à noite! — Franziu a testa, irritado consigo mesmo. — E cheguei a pensar que seria capaz de trazê-la até aqui e levá-la de volta outra vez, sem que ocorresse nenhum acidente. — Passou asmãos pelos cabelos. — Eu estava louco quando pensei numa coisadessas!

— Pare de se torturar com isso, Adam — disse ela calmamente. — A culpa foi apenas minha.

— Caroline, não torne tudo ainda mais difícil! Ela se colocou provocante diante dele.

— Por que mais difícil? — murmurou ela. — Até parece que você quer esquecer o que aconteceu. Mas nenhum de nós seria capaz disso.

Adam encarou-a durante um momento e depois puxou-a para seus braços.

— Caroline, isto é uma loucura! — murmurou, seu corpo todo tremia, e Caroline, ao colocar os braços em torno do pescoçode Adam, destruiu todas as tentativas dele de agir de maneira racional.

Suas bocas voltaram a se encontrar, e agora os beijos demonstravam a paixão de um homem por uma mulher. Caroline não esboçou qualquer tipo de resistência. Era Adam quem a beijava. Ela o amava e queria que ele ficasse sabendo disso.

De repente, ouviram a porta de um carro bater, quebrando o silêncio que os envolvia. Era possível ouvir as vozes que entravam pela porta da frente da casa.

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Com um gemido contrafeito, Adam, relutantemente, soltou Caroline, afastando-a um pouco, e passou as mãos pelos cabelos. Caroline suspirou profundamente e levou as mãos ao rosto.

— Quem será? — sussurrou ela, sentindo que suas faces ardiam depois de todos aqueles beijos. Seus lábios jovens haviam perdido o batom que ela aplicara à tarde, estavam lívidos.

Os olhos de Adam assumiram uma expressão mais suave no momento em que pousaram nela, e depois sacudiu os ombros, num gesto de quem nada podia fazer.

— Acho que é John — respondeu. — Meu filho. E parece que trouxe alguém com ele.

CAPITULO III

Caroline ficou boquiaberta ao ouvir o que Adam acabara de revelar.

— Adam! — exclamou. — Eu... deveria ir embora. Será que existe algum jeito para eu sair daqui sem que eles me vejam? .

Adam franziu a testa e olhou para ela.— Por quê? — perguntou um pouco ríspido.— Bem, eu só pensei... — Caroline não encontrava as

palavras certas. Como explicar que sua presença ali podia lhe causar problemas? Afinal, ela era uma simples datilógrafa.

— Você está envergonhada por estar numa situação, a seu ver, "comprometedora" — disse ele, e havia um tom acusador em sua voz.

Caroline fez uma careta e balançou a cabeça negativamente.— Oh, Adam, você está completamente enganado —

defendeu-se ela, agarrando-se no braço dele. — Estou pensando em você. Por miro, está tudo bem, mas você é o pai dele.

Adam ficou aliviado e, inclinando a cabeça, beijou-a levemente,

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— Nesse caso, talvez seja ate bom que eles tenham vindo — disse com suavidade. — Quase nos esquecemos de que tenho idade suficiente para ser seu pai também.

Caroline encarou-o com um olhar irritado.— Pare de falar assim — pediu, aconchegando-se mais a

ele. — A idade não tem a menor importância entre nós.Adam não teve tempo para responder, pois a porta se abriu,

dando passagem a um jovem alto, moreno e esguio e a uma loira exuberante.

— Aqui estamos nós, papai! — exclamou o jovem, estranhando a presença de Caroline, que continuava segurando o braço de Adam.

John parou onde estava, com uma expressão de surpresa no rosto. Durante a pausa desagradável, Caroline percebeu que os olhos do rapaz a examinavam de maneira insolente.

Gentilmente, Adam deixou Caroline e atravessou a sala paracumprimentar o filho.

— Quanto tempo você vai ficar desta vez? — perguntou elee, em seguida, dirigindo-se à loira, com um sorriso de boas-vindas, falou: — E você é...?

— Tonia Landon — respondeu a garota, sorridente. — Já ouvi muita coisa a seu respeito, sr. Steinbeck. Estou fascinada pela oportunidade de conhecê-lo pessoalmente.

— Nós vamos ficar até amanhã à noite — disse John, olhando para seu pai. — Quer dizer, se não estivermos atrapalhando.

Adam levantou os ombros levemente, ignorando a observação, e, voltando-se para Caroline, puxou-a deliberadamente para a frente.

— Carol, eu quero lhe apresentar meu filho John e uma amiga dele, a srta. Tonia Landon — ele falou, sorrindo. — John, Tonia, esta é a srta. Caroline Sinclair.

John e Tonia perceberam a maneira especial com que Adam fizera as apresentações e trocaram um olhar intrigado.

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Eram quase cinco horas da tarde, e todos se sentiram aliviados quando a sra. Jones entrou, apressada, querendo saber o que estava acontecendo, quem iria pernoitar... Após uma rápida troca de palavras, ela se afastou para mostrar o quarto de hóspedes para Tonia, enquanto John sentava-se no sofá ao lado dopai. Caroline instalou-se no braço de uma das poltronas, um tanto determinada. Fora pouco o tempo que passara junto de Adam, e ela se irritara um pouco com a chegada do casal.

Enquanto Adam e John conversavam, recordou rapidamente os acontecimentos daquela tarde. Ah, se John e a namorada não tivessem chegado num momento tão inoportuno! Quem poderia dizer quando Adam voltaria a se comportar novamente daquela maneira?

Sorrindo para John, a sra. Jones serviu mais chá. Estava bemclaro que ele também desfrutava do afeto daquela figura maternal.Caroline sentiu-se desesperadamente só. Os olhos de John eram frios e agressivos, o que fez com que Caroline se sentisse pior ainda. Imaginou o choque que deveria ter sido para ele descobri-laali na companhia do pai, praticamente sozinhos naquela casa enorme. Imaginou que ele deveria estar curioso e até mesmo um pouco aborrecido com a modificação em seus próprios planos.

Finalmente, John levantou-se e saiu para lavar as mãos, e Caroline pôde ficar a sós outra vez com Adam. Os olhos dele a acariciaram, e ela deixou a poltrona onde estava para sentar-se no sofá ao lado dele.

— Oh, querido — sussurrou, colocando os braços em torno do pescoço de Adam, que adorou a sensação despertada pelo contato de seus lábios com os sedosos cabelos dela. Depois, com um suspiro, ela acrescentou: — Acho que eu deveria ir embora.

Adam franziu a testa.— Por quê?— Você certamente vai querer ficar a sós com seu filho —

respondeu ela, meio sem jeito.— Com aquela garota fazendo o possível para monopolizar

a conversa? — replicou Adam secamente. — Não, muito obrigado, meu bem. Ela que fique com John! Você vai ficar para o

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jantar, conforme já tínhamos combinado, e depois eu a levarei de volta para a cidade, está bem?

Caroline sorriu.— Se você realmente quer que eu fique, eu fico —

concordou.— Mas não estou muito bem vestida para um jantar, não é

mesmo? Só Deus sabe o que a srta. Landon irá usar!Adam também sorriu.— Carol, meu amor, você continuará sendo muito bonita

para mim, e eu sou a única pessoa cuja opinião deve significar alguma coisa para você.

Caroiine riu novamente.— Você sabe que para mim você é mesmo o único —

murmurou.— Oh, Adam, é tão delicioso estar aqui com você! Eu

gostaria que eles não tivessem vindo para cá.Suas bocas se encontraram, e os lábios dela separaram-se

automaticamente. Caroline pôs a mão em torno do pescoço de Adam e ficou acariciando-o na base da nuca.

— Caroline... como eu a desejo — sussurrou, enquanto sua boca a excitava cada vez mais.

De repente, sem qualquer aviso, a porta se abriu, e Tonia entrou. Caroline desvencilhou-se imediatamente dos braços de Adam, apesar de os dedos dele a segurarem pelos pulsos, impedindo que se afastasse demais. Caroline estava certa de que Tonia vira o abraço que trocaram, pois tinha uma expressão de surpresa estampada no rosto. Obviamente, Tonia se espantara, da mesma forma que a própria Caroline, pelo fato de um homem como Adam se interessar por uma garota simples como Caroline.

— O senhor passou o dia todo aqui? — perguntou Tonia, lançando um olhar para Adam que deixava bem clara sua admiração por ele.

Sentado no sofá, Adam parecia um tigre, relaxado, mas ao mesmo tempo pronto para saltar. Tonia sabia perfeitamente o que Caroline via em Adam, de cuja forte personalidade emanava uma intensa masculinidade. Isso, acrescido de sua atraente aparência física, era um desafio para qualquer mulher.

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— Não... viemos para cá esta tarde — respondeu Adam. — Você está na universidade também? — indagou, dirigindo-se a Tonia, ao mesmo tempo em que tragava o cigarro.

— Oh, não! Eu moro em Radbury — explicou Tonia, sorrindo. — Conheço seu filho há alguns meses. Nós nos encontramos numa festa, numa das vezes em que ele conseguiu fugir um pouco dos estudos.

— Acredito que esse tipo de oportunidade seja bastante fre-quente — disse Adam, num tom seco, e Tonia riu.

— Ele me contou que o senhor esteve recentemente fora do país — continuou ela, fazendo o possível para manter a atenção dele.

— Realmente. Estive nos Estados Unidos — concordou Adam. — Por isso, não tenho visto muito John desde as últimas férias

de verão.— Imagino que sim — Tonia falou, com entusiasmo.

Depois, sem muito interesse, voltou-se para Caroline. — E você faz o quê, Caroline?

— Trabalho num escritório — respondeu ela, enrubescendoe fazendo questão de não revelar em que escritório trabalhava. — Sou estenodatilógrafa. E você?

Tonia riu à vontade.— Céus, eu não trabalho! — exclamou com uma ponta de

malícia e maldade. — Debutei no ano passado e, atualmente, estou apenas

me divertindo um pouco.Adam soltou delicadamente os pulsos de Caroline e,

cruzando a sala em direção ao bar, perguntou:— O que posso lhe oferecer para beber, Tonia?Ela também se levantou e foi até onde ele estava, deixando

Caroline ao pé da lareira.— O senhor tem vodca? — perguntou, sorrindo para ele.

Caroline ficou olhando as labaredas. Ela já estava sentindo asagulhadas do ciúme, e o simples fato de pensar que essa

mulher ficaria o domingo inteiro com Adam e John a deixava enfurecida. Notou que Tonia, obviamente, sentia-se atraída por

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Adam e parecia estar perfeitamente disposta a trocar John pelo pai, desde que este mostrasse interesse em assumir a posição de seu filho.

Após entregar um copo com vodca a Tonia, Adam preparou xerez para Caroline, uísque para si mesmo e voltou ao sofá. Nesseinstante, John apareceu, incorporando-se ao grupo, após servir-se de uma bebida também.

Conversaram sobre os estudos de John na universidade e o tempo.

Caroline pouco falou. Estava bem claro que John não estava gostando da presença dela e que Tonia a considerava uma pessoa enfadonha e mal vestida. Caroline tinha certeza de que Adam só não fora vestir algo mais apropriado para o jantar por causa dela. O jantar foi servido numa sala envidraçada, que dava vista para boa parte do jardim e para o chafariz iluminado. A refeição servida foi deliciosa. Caroline estava deslocada, não era aquele o seu inundo, ao contrário de Tonia, que sabia perfeitamente como se comportar num lugar como esse.

Ficou contente quando tudo terminou, e eles voltaram à sala de estar para tomar café, licores e fumar. Caroline e John ocuparam as poltronas, ao passo que Adam e Tonia se instalaram no sofá. Caroline percebera que Tonia manobrara a situação dessamaneira, mas já não estava mais se importando. A única coisa queela queria era estar bem longe dali, era ir para sua casa. Não se importava com sua atitude derrotista. Detestava toda aquela hos-tilidade velada.

Por volta de nove e meia da noite, Adam falou:— Acho que é hora de Caroline e eu irmos para a cidade.

Vocês nos desculpam? Devo estar de volta dentro de algumas horas.

— Como preferir, papai. Cuidado com as estradas, elas estãocobertas de gelo.— Não se preocupe. Até mais tarde, então.— Até mais tarde, papai. Boa noite, srta. Sinclair. — A voz

de John ficou bem mais fria em sua última frase.

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— Boa noite, John. Boa noite, srta. Landon — cumprimentou Caroline da maneira mais suave possível e saiu da sala antes de Adam.

Lá fora o ar estava muito frio. Depois do jantar, uma densa neblina se formara rapidamente. As luzes do chafariz tinham sido apagadas, e nada podia ser visto além dele.

— Droga! — murmurou Adam, tirando a camada de gelo que se formara sobre o pára-brisa. — Que noite!

Ele se sentou no carro ao lado dela e respirou fundo.— Carol, meu bem, você se importaria muito se eu lhe

pedisse para passar a noite aqui? Seria loucura tentar chegar a Londres com um tempo desses. Além disso, amanhã é domingo.

Caroline suspirou, resignada.— É verdade, acredito que seja mais uma loucura viajar

hoje — respondeu ela, preocupada. — Oh, Adam, eu não me importaria nem um pouco se estivéssemos só nos dois aqui, mas agora... — Sua voz sumiu, e ele percebeu quão preocupada ela estava.

Adam colocou o braço em torno dos ombros de Caroline.— Minha querida — murmurou ele suavemente —, ignore

os dois. John está um pouco ressentido, sei disso, mas Tonia não significa nada para nós. John está com uma garota diferente toda vez que eu o vejo. Pensa que eu me preocupo com o que eles possam estar pensando? Céus, Carol, esta casa é minha, e eu quero que você fique. Acredite, você tem tanto direito de ficar aqui quanto qualquer outra pessoa. Mas o que eu posso dizer a eles? Não passam de duas crianças mimadas demais. — Ele sorriue beijou a ponta do nariz dela. — Então você fica?

— Sim — respondeu, percebendo que sua depressão sumiraquase completamente.

— Ótimo. E, como você prefere ficar longe deles, vamos para meu escritório e deixamos a sala de estar para eles, combinado?

— Oh, Adam! — ela exclamou, feliz, e encostou o rosto no peito quente e confortante.

Momentos depois, os dois saíram do carro e caminharam emdireção à entrada que dava para o escritório. Durante o trajeto,

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Caroline se lembrou de avisar Mandy, pois ela poderia ficar preo-cupada. Chegaram à porta que os levaria à sala de trabalho e entraram.

— Tire seu casaco, enquanto vou pôr a sra. Jones a par de nossos planos — disse ele, retirando-se rapidamente.

Caroline tirou o casaco de lã e entrou na sala. Comparado com o luxo opulento existente no resto da casa, o gabinete de trabalho era bastante austero.

Caroline colocou o casaco em uma das poltronas de couro que Adam usava quando trabalhava ali. Era difícil associar o homem que ela conhecia ao homem de negócios, inflexível e bem-sucedido, em que ele se transformava no Edifício Steinbeck. Com um suspiro, inclinou-se para a frente e começou a mexer nospapéis espalhados de maneira confusa diante dela. Percebeu que estava separando os documentos e, pouco tempo depois, organizara pilhas diferentes para avisos bancários, empréstimos, compras de imóveis, opções de compras... Havia também numerosas cartas pedindo coisas, cartas de instituições de caridade e, finalmente, a correspondência particular. Trabalhando automaticamente, ela esqueceu onde estava, fascinada com a ocupação. Sentia-se atraída pela leitura de contratos de compra deimóveis e demolições, bem como pelas diversas atividades desenvolvidas pelas firmas englobadas no edifício onde ela trabalhava. Estava completamente imersa num outro mundo quando Adam retornou.

Ele fechou a porta com um ruído seco, e ela levantou a cabeça.

surpresa. Imediatamente, pensou que estava fazendo algo indevido, ficou vermelha e explicou:

— Estive organizando sua correspondência. Espero não ter feito

algo que não devia. Você se importa?Adam sorriu.— Acho que você pode, sempre que quiser, olhar minha

correspondência — respondeu ele naturalmente, atravessando a sala e debruçando-se sobre a cadeira. Ao perceber as diversas pilhas que ela fizera, observou, aprovando: — Muito profissional

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o que fez. Gostaria de trabalhar como minha secretária pessoal? Asrta. Freemam, do escritório, vem para cá de vez em quando para organizar meus documentos.

— Você não está falando sério! — exclamou Caroline. — Além disso, não acredito que eu fosse capaz de trabalhar enquantovocê

estivesse por perto.— E por que não? — Pelo tom voz. Adam parecia estar se

divertindo enquanto brincava com uma mecha dos cabelos delaem torno dos dedos.— Não me provoque — Caroline aconselhou, afastando a

cabeça.Com um leve sorriso nos lábios, endireitou o corpo.— Como preferir, meu bem. Agora você vai ligar para sua

companheira de apartamento, não é?— Nossa! Eu já havia me esquecido. — Debruçando-se

sobrea mesa, pegou o aparelho cinzento.— Você discutiu minha suposta personalidade com sua

companheira de quarto, não é? — ele perguntou calmamente. — Foi ela quem procurou alertá-la contra minhas intenções?

Caroline sentiu que suas faces estavam ficando coradas. — Sim, fiz isso. Mas no futuro pretendo formar minhas próprias opiniões a respeito das pessoas — disse ela, tentando sorrir para Adam. Os dedos dele acariciavam os ombros de Caroline, e ela sentiu o calor deles através da lã espessa do pulôver.

— Nada de opiniões a respeito de homens — ele murmurou,encostando a boca no pescoço de Caroline. — Sua amiga pode tertoda razão a meu respeito. Ela tem muita experiência? Caroline riu, sentindo cócegas.

— Lembre-me depois de lhe contar uma história sobre um tal Ron Cartwrighi — respondeu. Em seguida, voltou sua atenção à ligação telefônica. — Alô, sr. Benson,

Os Benson viviam no apartamento debaixo do de Caroline e Amanda, e sempre mostraram ser bons vizinhos para ambas. Gos-tava de saber que havia um casal de mais idade vivendo nas imediações, pessoas com quem poderiam contar em caso de ne-

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cessidade. E era o que Caroline fazia agora. O sr. Benson se pron-tificou a dar o recado para Amanda e, após algumas palavras, desligou.

— Aqui estou eu, sentada justamente na cadeira que pertence ao dono da Steinbeck Corporation! —exclamou ela, depois de desligar o telefone também.

— Por quê?— Adam, já pensou como nossas vidas são diferentes? —

perguntou ela, apoiando o queixo sobre uma das mãos. — Já imaginou o que é viver num apartamento minúsculo, tendo apenaso dinheiro necessário para sobreviver?

— Já passei por isso — ele respondeu surpreendentemente. — Ou acha que nasci rico?

Caroline fez uma expressão de espanto.— Não sei muitas coisas a seu respeito. Conte-me mais.— Está realmente interessada em saber, Carol?— Adam, tudo o que está relacionado a você me interessa

— falou com sinceridade.— Bem, comecei a vida com um punhado de libras

esterlinas quando tinha, aproximadamente, vinte anos de idade. Comprei um terreno, que consegui por um preço barato e que vendi com um lucro enorme. Negócios desse tipo eram consideravelmente mais fáceis naqueles tempos. Os preços não eram idênticos aos de hoje. Se você pegar esse pequeno negócio eimaginá-lo como uma pedrinha descendo por uma encosta cheia de neve, formando uma avalanche, compreenderá a Steinbeck Corporation como ela é naturalmente. E claro que tive sócios, e nós compramos firmas menores, que foram reunidas para formar a empresa que existe hoje. E isto é tudo.

— Só isso! — exclamou ela. — É fantástico! Eu já li sobre casos parecidos, mas não tinha a menor idéia de que fora assim que você se tornou quem é.

— Nos últimos anos, também compramos alguns imóveis nos Estados Unidos, e é por isso que passo uma parte de meu tempo lá — Adam prosseguiu. — Obviamente, eu poderia transferir uma boa parte do trabalho para meus sócios, mas eu

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gosto de trabalhar. Além disso, desde que Lídia morreu, não tenhotido muitas outras coisas para fazer.

— Lídia? Era sua esposa?— Exato. Ela faleceu há oito anos. Suponho que você já

esteja sabendo que ela morreu de leucemia.— Sim — assentiu Caroline. Adam suspirou

profundamente.— Sabe, para ser bem honesto, não acredito que Lídia

tivesse muito interesse em continuar vivendo depois que John nasceu, e os negócios prosperaram continuamente. Acho que ela gostava de ter uma vida mais simples. — Sorriu. — Agora já sabetudo a meu respeito — concluiu ele.

— Você a amava muito? — perguntou Caroline, sabendo que essa pergunta era uma tortura para si mesma.

— Amor? — Adam fez um movimento ambíguo com os ombros. — Eu me casei com Lídia quando tinha apenas vinte anos de idade. Nem sequer sabia o que era amor naquele tempo. Ela era cinco anos mais velha do que eu e muito astuta. Lídia, certo dia, me disse que estava grávida. Nós nos casamos logo em seguida. John nasceu doze meses mais tarde.

— Oh! — Carolina abaixou a cabeça. Tinha certeza de que Adam nunca contara isso para qualquer outra pessoa, e ela sentiu ímpetos de correr para ele e lhe mostrar a imensidão de seus sentimentos. Entretanto, ficou sentada onde estava.

— Desde então — ele continuou lentamente —, conheci muitas mulheres. Mas nada teve a ver com amor.

— Compreendo.— As mulheres de meu ambiente parecem ver sempre o mi-

lionário, e não o homem — disse secamente.— Não acho que isso seja completamente verdade —

Caroline falou rapidamente. — Você não está dando o devido valor a seus atrativos físicos nem a sua personalidade. Não é seu dinheiro que me interessa, Adam.

Ele a encarou com uma expressão levemente cética.— Nem um pouco? — perguntou suavemente. — Acho

muitodifícil acreditar nisso.

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— Quando entrei no elevador naquele dia, no dia em que nos vimos pela primeira vez, não tinha a mínima idéia de quem você era. No entanto, você me atraiu da mesma maneira e com a mesma intensidade que me atrai agora.

— Entendo. — O dinheiro não a atrai nem um pouco, então?

— Não seja tolo. E lógico que o dinheiro também me atrai — ela respondeu. — Eu seria uma boba se dissesse que não. Afinal, ninguém gosta de ser pobre a vida toda. O que estou querendo dizer é que o dinheiro, por si só, não me atrai nem um pouquinho. Quando leio nos jornais a respeito de garotas, adolescentes ainda, se casando com homens de setenta ou mais anos de idade, fico... sei lá como. E se você imagina que penso dessa maneira a seu respeito, deve estar completamente louco. — Um arrepio sacudiu todo seu corpo. — Eu nunca permitiria que um homem desses colocasse um dedo em mim. Seria pior do que... — Sua voz falhou.

— Eu acredito que você pensa estar falando sério,— Adam murmurou, num tom de voz meio divertido.

— Mas, realmente, estou falando sério — ela afirmou, irritada.

— Talvez eu esteja enganado — Adam admitiu, examinando-a durante algum tempo. Depois, com um movimento de ombros, disse: — Caroline, terei de viajar na próxima segunda-feira, depois de amanhã. Aconteceu um imprevisto.

— Quanto tempo vai ficar fora? — perguntou, esforçando-se para parecer calma, pois não gostara da informação.

— Bem, não tenho muita certeza, mas acredito que serão uns cinco dias. Na segunda-feira pela manhã, pegarei um avião para Nova York e quero poder ir para Boston na quarta. Minha mãe mora lá.

— Sua mãe! — Caroline ficou surpresa.— Sim. Você também não imaginava que eu tivesse mãe?

— perguntou, sorrindo.— Não é nada disso. Apenas pensei que ela não vivesse

mais.

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— Meu pai morreu quando eu ainda era muito pequeno — explicou ele. — Minha mãe é descendente de irlandeses e, como todos seus parentes estão morando nos Estados Unidos atualmen-te, ela preferiu viver lá, em vez de ficar aqui, onde as oportunidades de me ver não são muito frequentes.

— Compreendo. — Caroline suspirou. Ela ficara sabendo muitas coisas sobre Adam nesse dia, mas havia tantas outras que ela ainda queria saber!

— Então, vai sentir um pouco a minha falta? — ele indagouem tom de brincadeira.

— É lógico! — exclamou, no mesmo tom de brincadeira. — Quem vai me ajudar se eu chegar atrasada no trabalho?

Adam sorriu.— Quer que eu deixe instruções dizendo que tem permissão

para chegar ao trabalho na hora que quiser?Caroline corou.— Oh, não! Eu estava apenas brincando — ela disse. —

Que inveja tenho de você! Adoraria poder dizer "vou para os Estados Unidos", como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Ele a encarou com os olhos semicerrados.— Vamos juntos, então — convidou-a.O espanto era evidente no rosto de Caroline. Depois,

franzindo a testa, ela pediu:— Por favor, não faça brincadeiras desse tipo comigo,

Adam.— E quem disse que estou brincando? — replicou. — Se

quiser viajar comigo, eu arranjo tudo que for necessário.— Se eu quiser?!Caroline adoraria viajar com ele, mas sabia que não seria

possível. A situação não era tão simples assim, apesar de estar intimamente preparada para ser tão ousada. Afinal de contas, era necessário pensar em tia Bárbara, em Amanda...

— Não — respondeu por fim. — Você sabia que eu não iria aceitar, não é?

— Acho que sim — Adam concordou, com um suspiro. Nesse instante, alguém bateu na porta, e a sra. Jones entrou

na sala.

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— Acabei de servir a ceia para John — ela informou. — Quando ele me perguntou se o senhor já havia voltado, eu tive de lhe contar a verdade. E ele me pediu que viesse lhe perguntar por que não vai se reunir a eles na sala de estar.

— Tudo bem, sra. Jones — respondeu Adam, sem se preocupar, — Por favor, diga a John que nós estamos bem aqui e que os veremos durante o café da manhã.

— Sim, senhor,— A senhora preparou o quarto rosa da maneira que lhe

pedi, sra. Jones?— Sim. Está tudo preparado como o senhor pediu.— Ótimo. Gostaria que mostrasse o quarto à srta. Sinclair.

— Virando-se para Caroline continuou: — Acompanhe a sra. Jones, querida. E durma bem — murmurou suavemente.

— Boa noite, Adam — disse Caroline e, obediente, acompanhou a sra. Jones ao quarto que lhe havia sido designado.

O aposento, com banheiro privativo, ficava na parte superiorda casa, e Caroline ficou impressionada com o luxo da decoração.

Após tomar um banho, ela apagou as luzes principais, deixando acesa apenas a de um abajur ao lado da cama. O quarto mergulhou numa penumbra dourada. Olhou seu relógio e viu que já era quase meia-noite, hora de dormir, pensou.

De repente, ouviu uma batida na porta. Ela a abriu, e Adam entrou. Fechou-a e encostou-se nela, sorrindo.

Caroline sentou-se na cama, surpresa pela visita inesperada. Ele ainda estava vestido e andou em direção à cama.

— Não fique assustada — ele sussurrou. — Eu só vim para ver se tudo está em ordem e para lhe desejar uma boa noite.

Caroline suspirou.— Achei que você queria que eu não o atrapalhasse lá

embaixo.— Foi essa a impressão que eu lhe dei? Sinto muito, meu

bem. Eu simplesmente não queria dar motivos para a sra. Jones fazer fofocas. Afinal de contas, você é muito jovem... e muito bonita também... — Ele mordeu o lábio inferior enquanto olhava para ela.

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— Fico contente em saber que você me acha bonita — ela disse suavemente. — Este quarto é maravilhoso.

Ele nada comentou e continuou olhando-a fixamente. Após alguns instantes, Caroline indagou, com voz rouca:

— Suponho que este pijama seja seu, não?— Sim — murmurou ele, enquanto seus olhos continuavam

acariciando o corpo esguio de Caroline.Subitamente, Adam sentou-se ao lado dela, puxando-a

contra si, sua boca procurando sofregamente a de Caroline. Havia uma enorme ternura nesse beijo, uma ternura que a conquistou com-pletamente, e, quando ela o retribuiu, ele se tornou mais agressivo, seus lábios e língua cada vez mais exigentes.

— Adam... — ela murmurou, ofegante.— Por Deus, Carol — disse ele, desvencilhando-se dela e

le- vantando-se novamente —, você não sabe o que faz comigo!— Mas sei o que você faz comigo — respondeu ela,

apoiando-se sobre o cotovelo, com a gola do pijama entreaberta, revelando a curva dos seios firmes.

Adam fitou Caroline e, após um breve momento, falou num tom de voz forçado:

— Durma bem... — Em seguida, ele se retirou, fechando a porta.

Caroline virou-se de bruços na cama e começou a chorar.

CAPITULO IVNa manhã seguinte, Caroline acordou quando a sra. Jones

entrou no quarto, dizendo-lhe:— O desjejum está servido na sala de jantar.— Muito obrigada, sra. Jones — agradeceu Caroline.Mais tarde, já vestida, desceu à sala de jantar, sem qualquer

dificuldade para encontrar o caminho. A casa estava em completo silêncio. Já eram mais de oito e meia da manhã, porém, sendo domingo, era cedo demais, até mesmo para ela.

Quando entrou na grande e bem iluminada sala de jantar, en-controu uma única pessoa, John Steinbeck. Estava sentado à

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mesa, com um prato contendo ovos e bacon a sua frente, lendo jornal.

Levantou os olhos quando ela entrou e a encarou com certa frieza.

— Bom dia — cumprimentou Caroline, sentindo-se nervosae sentando-se do outro lado da mesa.

John resmungou uma resposta e, num gesto rude, voltou a seconcentrar na leitura do jornal, mas lembrando-se de que, naqueleinstante, seu papel deveria ser o de anfitrião, colocou o jornal de lado e lhe ofereceu algumas torradas.

— Não, obrigada — respondeu Caroline, meneando a cabeça. — Seu pai ainda está deitado? — perguntou.

— Então você não sabe? — falou, deixando bem clara a implicação existente em suas palavras.

— Se soubesse não perguntaria — disse da maneira mais fria possível. — Agora, talvez você possa responder a minha pergunta.

John ficou embaraçado com sua própria falta de educação.— Ele está com Jones, olhando a propriedade. Eles saíram

há mais de uma hora. Eu devia ter imaginado que ele dificilmente teria se levantado às sete da manhã se... — Não terminou a frase, mas Caroline compreendeu muito bem o que ele queria dizer.

— Você é muito jovem ainda — ela falou com naturalidade, e tomou um gole de café.

John ficou irritado,— Eu não me surpreenderia se ficasse sabendo que sou

mais velho do que você — respondeu, deixaildo sua irritação transparecer na voz.

Caroline se recusou a enveredar pelo caminho que ele propunha. Em vez de cair na armadilha, desconversou:

— A neblina parece ter se dispersado hoje, não é mesmo? John ergueu um pouco os ombros, mostrando que isso não lhe interessava Empurrou o prato, deixando claro que terminara a refeição.

— Quer mais um pouco de café?—indagou Caroline, levantando-se e dirigindo-se ao aparador com sua própria xícara na mão.

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Ele estava quase recusando, mas acabou dizendo, meio desajeitado:

— Sim, por favor.Caroline serviu o café e após lhe entregar a xícara voltou a

se sentar no mesmo lugar. John tamhém parecia estar mais à von-tade, e Caroline imaginou que, se as circunstâncias fossem outras,ela provavelmente teria gostado dele. Era jovem, atraente, inteligente. Tinha certeza de que ele também poderia ter gostado dela. Apesar de seus olhos expressarem antagonismo, revelavam também que John a achava atraente. E ela se divertia com sua demonstração clara de ciúme.

— Há quanto tempo você conhece meu pai?— Há poucos dias — respondeu Caroline, prestando

atenção na maneira como ele reagiria ao fato.— Só isso! — exclamou. Em seguida, indiferente,

prosseguiu: — Mas parece que vocês conseguiram se tornar bastante íntimos durante esse tempo.

Caroline enrubesceu novamente, mas esforçou-se para responder com a maior calma do mundo:

— Isso acontece às vezes.— Acredito — disse John, com ironia. — E suponho que o

dinheiro dele não a incomode, não é?— Realmente, o dinheiro dele não me incomoda! —

exclamou Caroline. — Para ser sincera, porém, me parece que todos nessa família dão importância demais ao dinheiro. Você pode acreditar ou não no que vou lhe dizer, mas não foi o dinheirode seu pai que fez com que eu me sentisse atraída por ele. Adam éum homem fascinante, ou será que você nunca percebeu isso? Suanamorada já notou!

John ficou furioso e Caroline, satisfeita. Ele se considerava tão inteligente e, agora, ela conseguira abalar seus alicerces!

Caroline levantou-se da mesa e foi até uma ampla janela de onde se podia ver a entrada da casa. Isso deu a John o tempo necessário para se controlar. Não lhe era muito agradável ser ridicularizado por uma garota da qual estava começando a gostar, independentemente dos laços que a uniam a seu pai. Estava acos-

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tumado a ser assediado por todas as mulheres que encontrava, e o fato de Caroline preferir seu pai lhe causava espanto.

Caroline desviou os olhos para o teto ao ouvir a conversa in-consequente de Tonia, que entrara na sala, interrompendo o assunto entre eles. Era perfeitamente compreensível que Adam se aborrecesse com as mulheres de seu meio social se todas falassemassim. São enfeites muito decorativos, pensou Caroline, suspirando.

Momentos mais tarde, Adam tomou seu café da manhã na companhia de Caroline, e, em seguida, ambos partiram para Londres.

Quando ele estacionou o carro ao lado do prédio onde ela morava, Caroline abaixou a cabeça, sentindo-se bastante deprimida. A semana que tinha pela frente lhe parecia ser excessivamente longa e monótona.

— Bem — disse Adam, colocando o braço sobre o espaldar do banco —, chegou a hora de nos separarmos, mas por pouco tempo.

Caroline concordou com um gesto de cabeça, sentindo uma vontade enorme de chorar. Ela nunca se sentira tão triste antes.

— Oh, Adam — sussurrou, erguendo os olhos à procura dosdele —, você não está apenas brincando comigo, está?

A expressão de Adam mudou.— Existe alguma necessidade de perguntar isso? —

murmurou, um pouco irritado. — Por Deus, Carol, acha que quero deixá-la aqui? Se eu pudesse fazer as coisas a minha maneira, eu a levaria comigo. Mas isso não é possível, não é?

— É verdade... — falou tristemente. — Isso não é possível. Quando você pretende voltar?

— Acredito que estarei de volta na sexta-feira — respondeuele, mordendo os lábios. — Prometo telefonar para você lá no escritório, está bem? — E sorriu. — Assim que o avião chegar lá.

— De lá do aeroporto! — exclamou ela, sorrindo também.— Se quiser — disse suavemente —, eu também poderia

telefonar de Nova York, mas você não tem telefone no apartamento.

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— Não se preocupe com isso. — Basta que me telefone assim que estiver de volta, querido.

— Repita essa última palavra — Adam pediu. — Gosto de ouvi-la dizendo isso.

Em seguida, ele beijou suavemente a testa de Caroline.— Agora vá, meu bem. Não diga mais nada, senão eu não a

deixarei sair daqui.Caroline desceu do automóvel em silêncio. Sentia-se

levemente embriagada. Esse diálogo fora muito mais intoxicante do que qualquer bebida alcoólica.

Adam deu a partida no carro e se afastou sem olhar para trás.

Caroline entrou lentamente no prédio. Era quase meio-dia. Quando abriu a porta do apartamento,

encontrou Amanda preparando o almoço. Esta se virou assim que ouviu o ruído da porta. Havia uma expressão de alívio em seu rosto.

— Graças a Deus! — exclamou Amanda. — Pensei que nãovoltaria mais!

— Ora, Mandy — respondeu Caroline. — Eu só fiquei em Slay-ford por causa da neblina. Estava uma noite pavorosa.

— Eu sei, eu sei. Mas, logicamente, me lembrei de quem a acompanhava e fiquei imaginando se ele não iria se aproveitar da oportunidade caída dos céus.

— Não estávamos sozinhos — explicou Caroline, um poucoirritada. — O filho dele e a namorada chegaram lá ontem no final da tarde, para passar o fim de semana. Isso para não mencionar a governanta e o marido. Honestamente, Amanda, não há neces-sidade de falar desse jeito. Estou perfeitamente bem e continuo intacta, física e mentalmente. Não aconteceu nada.

Amanda levantou os ombros com um ar magoado. Caroline franziu a testa. Não tinha a intenção de ser rude com a amiga, masnaquele momento não estava interessada em fofocas. Quanto a seu relacionamento com Adam, sentia-se totalmente dependente e sabia que Amanda ficaria chocada se soubesse disso algum dia. Caroline nunca sentira nada parecido durante toda sua vida e, provavelmente, nunca iria sentir o mesmo ao lado de qualquer

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outro homem. Até então, os rapazes dificilmente conseguiam per-turbar suas emoções. Mas Adam atingiu as profundezas de sua alma, fazendo-a sentir-se abalada pela confusão íntima que cau-sara. Será que ele poderia algum dia vir a sentir a mesma coisa emrelação a ela? Caroline duvidava disso. Ele já conhecera muitas mulheres e não iria se envolver seriamente com uma adolescente.

A semana seguinte pareceu ser a mais longa de toda a vida de Caroline. Ela ia automaticamente ao trabalho, vivendo unica-mente em função do próximo fim de semana e da volta de Adam. Ruth, que lhe fez uma série de perguntas a respeito de Adam, recebeu apenas respostas monossilábicas e nào demorou muito tempo para desistir. Caroline tinha certeza de que Ruth achava que ela estava deprimida e tentou se mostrar alegre como sempre, mas não foi muito bem-sucedida.

Na tarde de quinta-feira, em meados de dezembro, Mark Davidson entrou na central de datilografía com uma pilha de cartas para uma outra garota. Após entregá-las e se certificar de que a srta. Morgan não estava por perto, aproximou-se da mesa deCaroline, com um jeito de quem não quer nada. Encostou-se na mesa dela e disse:

— Olá, beleza!Caroline sorriu com a falta de imaginação daquelas palavras.— O que você quer? — perguntou. — A srta. Morgan pode

voltar a qualquer instante, e você sabe que ela não gosta quando fica por aqui mais do que o tempo necessário para seu trabalho.

— Oh, mas isso que estou fazendo é necessário — respondeu Mark, muito à vontade. — Além disso, a megera está numa reunião com o sr. Willis, portanto, vai demorar um pouco. Agora... o que me diz dessa história maluca que ouvi? Dizem que você e o chefão foram almoçar juntos...

Caroline não deu muita importância. A história estava aos poucos circulando pelo prédio todo.

— Isso foi na semana passada — falou friamente. — Como notícia não deve ser a última.

— Talvez não — disse Mark, arqueando as sobrancelhas. — Mas, mesmo assim, continua sendo um assunto bastante interessante, não acha? Nossa, você joga alto, menina! Agora,

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posso compreender por que nem mesmo eu entro em suas cogitações.

— Não seja ridículo, Mark! — exclamou Caroline, sentindo-se irritada com as palavras dele.

Uma coisa era as pessoas comentarem fatos acontecidos, outra era especular sobre coisas que poderiam vir a acontecer. Ela não gostava de ver o nome de Adam sendo usado dessa maneira. Isso nunca acontecera antes, e a maneira pela qual Mark se expressava fez com que ela compreendesse como as outras pessoas consideravam divertida uma oportunidade como essa, para fofocar sobre um homem influente.

— Não acho isso ridículo — replicou Mark, com um sorriso divertido e matreiro iluminando seu rosto. — Afinal de contas, meu bem, você não é da mesma classe social que ele, certo? Quero dizer que qualquer que seja o relacionamento entre vocês dois, todos sempre irão pensar apenas na pior alternativa, não acha?

Nem mesmo você pode imaginar que isso vá resultar em alguma coisa muito séria.

— Foi apenas um almoço — disse Caroline, aliviada porque ninguém sabia a respeito do fim de semana.

— Por enquanto foi apenas isso — concordou Mark. — Mas você sabe o que acontece quando se joga uma pedra numa lagoa de águas paradas. Os círculos vão se tornando cada vez maiores. — Ele percebeu que Caroline estava ficando visivelmente preocupada. Aproveitando a oportunidade, continuou: — Obviamente, você poderia colocar um ponto final em todos esses boatos.

— Como? — perguntou, interessada, sem desconfiar das intenções dele.

— Saindo com outra pessoa. Afinal, uma garota que já está saindo normalmente com um rapaz não se preocupa com um ho-mem velho o suficiente para ser seu pai.

De repente, compreendeu aonde ele queria chegar.— Suponho que esteja insinuando para eu sair com você —ela falou, suspirando.

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— Olhe, acho uma ótima idéia. — Mark sorriu abertamente.

— O que você acha?Caroline hesitou em responder, odiando-o por sua pretensão

e sua falta de imaginação. Mas Mark Davidson gostava de falar muito, e ela podia imaginar muito bem tudo o que diria, caso se recusasse. Sentindo-se entre a cruz e a espada, capitulou.

— Muito bem, então — disse, forçando a voz a assumir um tom de leveza e despreocupação. — Qual é o dia que você sugere?

— Que tal hoje à noite? — respondeu Mark rapidamente. Ele se sentia feliz. Nunca pensara que sua investida fosse encontrar tão pouca resistência.

Caroline concordou. Afinal, no dia seguinte à noite, ela provavelmente estaria se encontrando com Adam.

Depois que Mark foi embora, ela não se sentiu tão despreocupada assim. Era uma boa idéia sair com aquele sujeito convencido pava calar a boca dos fofoqueiros, mas e se Adam soubesse que ela saíra com um rapaz? Caroline suspirou. Que motivos tinha para acreditar que Adam pudesse se importar com isso? Sua posição era muito insegura nesse momento.

As cinco horas da tarde, ela já se arrependera da decisão to-mada, porém, encontrou-se com Mark no saguão, conforme havia sido combinado, e não houve jeito de se livrar do compromisso. Foram ao cinema assistir a um filme bíblico. Apesar de ele ter tentado apenas segurar sua mão no cinema, Caroline estava com medo de ir para casa com ele, pois poderia se mostrar bem mais ousado. Não que ela não soubesse como impedi-lo, ela simples-mente não queria ofendê-lo. Mark poderia se vingar, espalhando fofocas desagradáveis sobre ela e Adam.

Antes de levá-la para casa, ainda foram jantar num pequeno restaurante chinês. Caroline não estava muito disposta a conver-sar, e Mark não parava de falar. Entretanto, parecia satisfeito com as respostas curtas que ela lhe dava, e Caroline torceu para que eleimaginasse que estava gostando do programa.

Ao saírem do restaurante, Mark fez menção de chamar um táxi, mas Caroline protestou.

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— Não é preciso fazer isso! — exclamou ela. — Posso muito bem ir de ônibus para casa. Não me importo de ir sozinha, pois vai ficar muito tarde para você se me acompanhar.

— Não faz mal — respondeu Mark, com determinação. E assim que um táxi passou, parou-o, ajudando-a a entrar.

Ela se sentou o mais distante possível de Mark. Após uma tentativa frustrada de colocar o braço em torno dos ombros de Caroline, não a incomodou durante todo o percurso. O taxi esta-cionou na Gloucester Court, Mark pagou a corrida e desceu. Ca-roline suspirou profundamente. Ele, obviamente, estava com in-tenção de prolongar ao máximo a despedida.

Quando o táxi se afastou, ela começou a andar em direção à escada do prédio.

— Bem — disse com firmeza —, muito obrigada por esta noite agradável. Boa noite.

— Espere um momento! — exclamou Mark. — Isso significa que você já vai entrar?

— Exatamente — Caroline falou, voltando-se para ele. — Por acaso imaginava alguma outra coisa?

— Bem, pensei que poderíamos começar com um beijo — disse Mark, puxando-a com força para perto.

Caroline virou o rosto para um lado, depois para o outro, evitando o contato os lábios dele e tentando se soltar.

— Solte-me! — ela gritou, furiosa. — Quem você pensa quesou?

— Calma — ele pediu, pois também já estava ficando irritado. Mark não estava acostumado a encontrar uma resistência tão grande assim.

— Não! — Caroline finalmente conseguiu se livrar dele. —Você deve estar louco — disse ela, muito nervosa. — Os homens não devem forçar as mulheres a fazer o que não querem! Você simplesmente não cresceu ainda, não é, Mark?

— Sim... realmente acredito que dê preferência a homens mais velhos — respondeu ironicamente. — Para mim, não faz a mínima diferença. Eu não tocaria outra vez em você por nada deste mundo.

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— E eu prometo que você não terá essa oportunidade — elafalou, ainda furiosa.

— Por quê? Ainda pretende conquistar o chefão? Que esperança! Quando ele ficar sabendo que saiu comigo, perderá uma boa parte de seu interesse.

Caroline cerrou os punhos e entrou correndo no prédio onde morava.

O dia seguinte foi repleto de expectativas para ela, pois esperava um telefonema de Adam. Todas as vezes que o aparelho tocava no escritório, tinha ímpetos de sair correndo para atendê-lo, mas quando outra pessoa o atendia, e não era Adam, não se arrependia de ter ficado sentada.

Durante o almoço, não comeu quase nada, e Ruth percebeu que ela estava diferente.

— Como foi seu encontro de ontem com Mark? — perguntou Ruth.

— Nem fale nisso — pediu Caroline, arrepiando-se. — Ele é um sujeito nojento. De qualquer forma, não conseguiu muita coisa comigo.

— Mark deve estar perdendo a forma — respondeu Ruth com uma careta. — Eu já o conheço há muito tempo. Costumava sair com ele de vez em quando, na época em que comecei a trabalhar aqui.

— Chegou a sair com ele? Parece que Mark já saiu com todas as garotas daqui.

— Pelo menos, tem fama de fazer isso.—Você não havia me contado nada — disse Caroline,

arqueando as sobrancelhas.— Pensei que soubesse. Ora, Caroline, você deve ter

ouvido as histórias que correm por aí a respeito de Mark. Alguns dizem até que uma garota saiu da firma porque ficou esperando um filho dele, e Mark a abandonou. De qualquer maneira, ela perdeu a criança e quase morreu também. É claro que faz muito tempo que tudo isso aconteceu.

Caroline sentiu-se enojada. E pensar que ela havia saído com esse homem para não chamar a atenção de todos para Adam!

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— Vou voltar ao escritório — Caroline informou, levantando-se.

Adam não telefonou durante toda a tarde e Caroline estava num imenso baixo-astral ao final do expediente. Ao sair do Edifício Steinbeck, notou que se formara uma neblina espessa e torceu para que Amanda não estivesse em casa quando ela chegasse. Ela contara a Amanda que Adam voltaria de viagem na sexta-feira e tinha certeza de que não iria conseguir evitar perguntas.

Pelo menos nesse ponto o destino parecia estar de seu lado. Amanda deixara um bilhete dizendo que fora convidada para umafesta e que havia aceito, imaginando que Caroline certamente teria um compromisso com Adam Steinbeck.

John Mercer apagou o cigarro no cinzeiro da sala de espera de passageiros da primeira classe e, penalizado, olhou para Adam.

— Bem — disse ele, fazendo uma careta —, parece que esse último comunicado coloca um ponto final no problema, não é?

— Pois é — Adam concordou de maneira abrupta, respondendo ao que lhe dissera seu assistente pessoal. Antes de jogar fora o charuto, tragou mais uma vez e depois acrescentou: — Já parou para pensar que estamos aqui, sem fazer nada, desde as seis horas da manhã? Agora já são duas horas da tarde, e estamos aqui há oito horas, John.

— Sim, eu sei.— Eu queria estar de volta a Londres ainda hoje, você sabe

disso. Mas mesmo que houvesse um vôo agora, só conseguiria chegar lá amanhã.

— Sim, porém o serviço de meteorologia acredita que haverá teto para decolagem dentro de, pelo menos, seis horas.

— Eu sei, eu sei. E, por isso, a companhia de aviação já fez reservas de hotel para nós.

— E verdade, senhor.John Mereer estava pouco à vontade. Quem seria capaz de

saber o que Adam estava pensando? Aliás, por que ele estaria tão

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interessado em voltar para a Inglaterra? Isso nunca acontecera an-tes, e John já viajara pelo mundo todo com seu patrão.

— Estou complicando as coisas — disse Adam. — Vamos ver se encontramos um local, onde possamos beber alguma coisa capaz de mudar nosso estado de espírito. O que acha?

— E uma ótima idéia — John respondeu, sorrindo. Em seguida, deixaram o salão de espera.

Conseguiram decolar de Nova York na noite daquele mesmodia e chegaram a Londres às nove e meia da manhã de sábado. Adam decidiu ir imediatamente para o escritório, para resolver qualquer problema de correspondência, antes de o prédio fechar as portas para o fim de semana. Sabia que Caroline trabalhava em sábados alternados e, como ela não trabalhara na semana passada,seguramente estaria lá naquela manhã. Entretanto, num rápido telefonema, feito antes de sair do aeroporto, ficou sabendo que Caroline não fora trabalhar. Praguejando em pensamento, Adam procurou concentrar-se em suas obrigações profissionais.

Laura Freeman encontrava-se em sua sala quando Adam entrou rapidamente, acompanhado de John Mercer. Ela parecia estar muito contente e tinha toda a razão para isso. Sempre sentirauma forte atração por Adam Steinbeck, mas sem grandes resultados, e quando descobriu que ele fora almoçar com uma datilógrafa ficara furiosa. Porém, na manhã anterior, encontrara Mark Da-vidson no refeitório, e a conversa que teve com ele contribuiu muito para melhorar seu humor. Se Caroline estava saindo com alguém do tipo de Mark, então o que existia entre ela e Adam não podia ter muita importância. Se Adam ficasse sabendo disso acidentalmente, e era exatamente o que ela tencionava fazer, ele talvez ficasse interessado em procurar uma outra mulher!

— Bom dia, srta. Freeman — Adam cumprimentou, passando pela sala dela e tirando o sobretudo sem se deter.

John Mercer fez uma careta para ela, que retrihuiu com um sorriso.

— Traga seu bloco — Adam pediu a Laura, entrando na saladele e dirigindo-se à mesa.

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Havia uma pilha de correspondências que foi examinada e algumas cartas transferidas para John, que logo deixou o escritório.

John se retirou no momento em que Laura entrou e sentou-se diante de Adam. Pouco tempo depois, Adam estava ditando rapidamente, e Laura tinha de prestar muita atenção para poder acompanhar o ritmo de trabalho rápido.

Numa pausa entre duas cartas, Laura perguntou:— Foi a neblina que causou o atraso, sr. Steinbeck?— Sim — respondeu Adam. — Podemos continuar agora?

Após mais meia hora de ditado, ele encerrou a sessão.— Acredito que seja o suficiente — disse, relaxando um

pouco. — Poderia me providenciar café, srta. Freeman? Estou precisando de um.

— Claro que sim, — Laura retirou-se e apareceu momentosdepois, com uma bandeja na mão.Adam aceitou a xícara que ela lhe ofereceu e depois

indagou:— A propósito, a srta. Sinclair não veio trabalhar esta

manhã. Saberia me dizer por quê? Parece-me que ela deveria estarde plantão hoje.

— Sim, deveria mesmo — concordou Laura, mal conseguindo acreditar em sua sorte. Não havia dúvida, os céus estavam lhe enviando esta oportunidade única! — Talvez ela esteja doente. No entanto, sei que ela estava bem na noite de quinta-feira, porque saiu com Mark Davidson, Conversei com ele ontem no refeitório, e Mark comentou sobre o filme a que haviamido assistir. — Pronto, ela conseguira passar a informação adiante!

Mas se esperava alguma reação de Adam ficou desapontada.Ele disse simplesmente:

— Talvez esteja gripada. Está fazendo muito frio. Assim que terminou seu café, Adam levantou-se.

— Bem, srta. Freeman, o restante do trabalho está a seu cargo. A única coisa que quero agora é uma cama. Não durmo direito desde quinta-feira e estou muito cansado.

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— Ora, vamos sair — pediu Amanda. — Hoje é sábado, e você está tão desanimada. Olhe, por que não se arruma um pouco e vem conosco? Bobby não vai se importar, tenho certeza. Ele é maravilhoso, e, além disso, vamos a uma festa. Haverá muitos rapazes desacompanhados por lá.

Bobby era o novo namorado de Amanda, e nesse dia iam a uma daquelas festas intermináveis, das quais Amanda parecia gostar tanto. Caroline tinha certeza de que iria morrer de tédio e foi exatamente isso que ela disse à amiga.

— Você está ficando mórbida — falou Amanda, irritada.— Não é nada disso — respondeu Caroline, suspirando. —

Estou cansada. Tomarei um bom banho e depois vou para a cama.— Como quiser — disse Amanda, contrariada. — Divirta-se

— acrescentou antes de sair e bater a porta.Assim que ficou sozinha, Caroline praguejou, furiosa. Por

quê? Oh, por que Adam não entrava em contato com ela? Por que ele não dava um jeito de informá-la do que estava acontecendo?

Impaciente, começou a andar pela sala. Ela se sentia deprimida. Se pelo menos ele aparecesse!

Mais tarde, depois do banho, Caroline foi preparar um café eouviu alguém batendo na porta do apartamento. Tremendo um pouco e com o coração batendo descompassadamente, Caroline cruzou a sala.

— Quem é? — perguntou sem abrir a porta.— Steinbeck — respondeu a voz profunda.— Adam! — exclamou ela.Rapidamente abriu a porta e afastou-se um passo, para que

ele pudesse entrar. Durante um momento, ela ficou apenas olhando para ele, sentindo o imenso prazer de vê-lo.

Depois fechou a porta e encostou-se nela. Caroline não sabiase tinha ou não esperado que ele a abraçasse, mas, de qualquer maneira, não estava preparada para sua expressão solene e para o ar de ironia presente em seus olhos.

— Olá, Caroline — disse ele, fazendo um gesto de cabeça. De repente, ela se conscientizou de sua aparência pouco adequadapara receber visitas e falou:

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— Vou vestir alguma coisa mais aproprjada.Mas, antes que pudesse dar um passo, os dedos dele se

fecharam em torno de seu pulso.— Não se incomode — disse Adam. — Não pretendo ficar

por muito tempo. Sente-se.Caroline obedeceu e, novamente, pensou em quanto ele a

atraía.— Você chegou muito tarde ontem à noite? — perguntou,

olhando para ele.— Ontem à noite? — Adam ergueu as sobrancelhas. —

Não, a neblina atrasou o vôo, e nós só conseguimos aterrissar em Londres hoje pela manhã.

— Ah, compreendo. — Caroline quase sorriu. Isso pelo menos explicava em parte o atraso da visita dele. Seu coração sentiu-se um pouquinho melhor, mas a expressão de Adam continuava não sendo muito encorajadora.

— Você não foi trabalhar esta manhã — ele falou calmamente.

— Não. Sinto muito. Não consegui dormir muito bem na noite passada e estava me sentindo mal quando acordei hoje cedo.

Adam fez um gesto de compreensão com a cabeça.— Vim aqui para me despedir de você — informou, com

muita calma Caroline empalideceu.— O quê?! — exclamou ela, com espanto e tremendo.— Você sabia que tudo teria de terminar algum dia.Caroline simplesmente não acreditava no que estava aconte-

cendo. Esse não era o mesmo Adam que fora viajar uma semana antes. O mesmo homem com quem ela passara o último fim de semana. De repente, ela percebeu que sentira medo durante a semana toda de que algo assim pudesse acontecer, por isso, apesarde saber que ele voltaria no próximo fim de semana, não conseguiu controlar seu comportamento.

Ele pôs a mão no bolso e tirou um pequeno pacote, que entregou a Caroline.

— Eu lhe comprei um presente em Nova York — murmurou. Os dedos dela tremiam ao abrir o pacote. Numa caixa forrada

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de veludo branco, havia um bracelete de platina, enfeitado com esmeraldas, rubis e diamantes. Era a jóia mais cara e mais linda que ela já tivera a oportunidade de ver, mas seu coração e seu

estômago se rebelaram. Será que ele pensava que havia algum motivo para pagá-la? Fechou a caixa e devolveu-a para Adam.

— Sinto muito, mas não posso aceitar este presente — disseela, com frieza na voz. — Se sua intenção foi a de me dar uma lembrança de... bem... de nosso relacionamento... isto não é ne-cessário. Prefiro comprar pessoalmente minhas jóias, obrigada.

Era muito difícil soar digna e mostrar classe quando, por dentro, estava arrasada. A voz de Caroline soou bastante insegura,apesar de todos os esforços em contrário.

— Você ainda vai mudar de opinião — Adam falou secamente, pouco convencido da sinceridade dela.

— Como tem a coragem de insinuar uma coisa dessas!—exclamou, furiosa. — Você imagina que só porque não vivo com muito luxo, estou disposta a agarrar qualquer coisa que apareça pela minha frente? Deve ter uma opinião muito ruim a meu respeito...

— Não — respondeu ele. — Pelo menos, não de você em particular. Acredito que as mulheres, de uma maneira geral, são muito parecidas.

— Bem, não sou parecida com as mulheres desse tipo — esbravejou ela. — Pode pegar seu bracelete e dá-lo a alguém que realmente fique contente com ele. Alguma mulher que fique feliz em lhe dar qualquer coisa que pedir pelo simples fato de ser o grande Adam Steinbeek!

— Você ainda é muito jovem. — Foi tudo o que ele disse.Caroline sentiu-se indefesa. Esse tipo de discussão

simplesmente não levaria a lugar algum. Não queria que a considerasse apenas uma garota voluntariosa. Queria que a desejasse! Que a amasse! Por quê, de repente, ele estava tão frio edistante?

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— Tomou essa decisão porque sou jovem demais? — perguntou ela, suspirando. — Acho que tenho direito de saber o porquê disso tudo.

— É mais ou menos isso — concordou ele, num tom de vozextremamente frio.

Caroline deu meia-volta e passou as mãos em seu próprio pescoço, massageando a nuca.

— Você mudou. Realmente conseguiu me enganar.— Eu poderia dizer a mesma coisa em relação a você —

argumentou ele, dirigindo-se para a porta.— Está esquecendo seu bracelete — ela o avisou.— O bracelete é seu — ele a corrigiu, fechando a porta do

apartamento.

CAPÍTULO V

No dia seguinte, domingo, Caroline acordou muito tarde, sentindo-se bastante deprimida. Nunca em toda sua vida se sentiratão infeliz. Tudo lhe parecia desin-teressante e sem atrativos. Ficou na cama, tentando dormir outra vez, até a hora do almoço. Amanda levantou-se antes. Caroline temia enfrentar a amiga e a avalanche de perguntas que fatalmente faria. Era uma atitude covarde, mas Adam fora a coisa mais importante de toda sua vida,e agora tudo chegara ao fim. Ainda tinha dificuldade em acreditar no que acontecera na noite . passada e alimentava esperanças de que tudo não passara de um pesadelo.

Amanda pôs um ponto final nessas esperanças quando, ao entrar no quarto, mais ou menos ao meio-dia, trouxe consigo a caixinha do bracelete.

— Isto aqui é seu? — perguntou ela com um sorriso, ao perceber que Caroline estava de olhos abertos.

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— Nao — respondeu Caroline, trémula, com lágrimas aflorando em seus olhos. — Isso pertence a Steinbeck. Ele se esqueceu de levá-lo ontem à noite. Vou ter de lhe devolver pessoalmente.

Amanda franziu a testa.— Meu bem, sei que sou uma pessoa muito curiosa, mas

posso saber por que está chorando? Ele veio, não? Ele não... bem...? — Suas palavras e o significado delas eram bastante claros.

— Ele não me seduziu — explicou Caroline, com voz neutra —, se é isso que está querendo saber. Muito pelo contrário,nosso pequeno caso, se é que dá para usar essa palavra, terminou. Mas não me pergunte por quê. Eu mesma ainda não consegui compreender direito o que aconteceu.

Amanda instalou-se na beirada da cama da amiga.— Talvez ele tenha ouvido alguma fofoca a respeito de você

e desse tal Mark Davidson, com quem saiu outro dia. Sabe que notícias desse tipo costumam correr muito depressa.

Caroline sentou-se abruptamente na cama. Até então, essa possibilidade não lhe tinha ocorrido. Ela contara a Amanda que Mark tinha uma péssima reputação, e sua amiga lhe aconselhara anão sair mais com esse homem.

— Oh, Amanda, você acha que isso seria possível? Ele deveter ido ao escritório ontem, pois me perguntou por que não fui trabalhar. Mas quem iria lhe contar uma coisa dessas no momento

de sua chegada?— É perfeitamente possível que haja outras pessoas

também interessadas nele, rneu bem, E seu encontro com Mark sópodia resultar em complicações. Honestamente, não consigo compreender por que concordou em sair com ele. Não havia motivo algum para agir dessa maneira,

Caroline suspirou.— Já lhe disse, Amanda. Estava pensando apenas em

Adam.— Até para mim, isso parece ser muito pouco provável —

Amanda falou, pensativa. — Ou será que eu devia dizer muito improvável?

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Caroline estava desesperada.— Amanda, o que posso fazer?— Eu, em seu lugar, aceitaria isso como sendo o fim de

tudo — disse solenemente. — Veja, Caroline, é a melhor alternativa para essa situação.

— Não é! — exclamou Caroline, magoada, — Amanda, você se esquece de uma coisa, eu o amo.

— Está falando sério?— Nunca falei tão sério em toda minha vida — replicou

Caroline, escondendo o rosto com as mãos.— Meu Deus! Bem, eu lhe desejo muita sorte. Vai precisar

dela.— Mandy, de qualquer maneira, por que ele não me disse

nada a respeito de meu encontro com Mark?— Veja, meu bem. Você não deve se esquecer de que Adam

Steinbeck tem quase quarenta anos e você, apenas dezessete.— Quase dezoito — corrigiu-a Caroline.— Está bem. Dezoito, então, se acha que isso faz muita

diferença. Mas, veja, Steinbeck vai viajar. E depois, você sai com um rapaz que tem uma idade mais próxima da sua. O que você pensaria no lugar dele? Eu pensaria que está querendo Steinbeck por causa do dinheiro e Mark para alguma outra coisa.

— Amanda! Céus, Adam é muito mais atraente do que Mark!

— Você não está sendo muito objetiva.— Oh, Amanda, o que devo fazer?— Em seu lugar, eu deixaria a situação se acalmar um pouco

— respondeu, — Dizem que a ausência revela a essência dos sentimentos.

— Talvez você tenha razão. Mas, de qualquer forma, vou mandar este bracelete de volta amanhã. Não importa o que acontecer, eu não o quero.

Na segunda-feira de manhã, Caroline colocou a caixinha com o bracelete na bolsa a tiracolo e foi para o trabalho. Ela esperava que Adam fosse trabalhar naquele dia, permitindo assim que ela lhe enviasse o bracelete por um mensageiro. Caroline não queria devolvê-lo pessoalmente, porém, durante o percurso de

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ônibus em direção ao Edifício Steinbeck, compreendeu que era praticamente impossível enviar um objeto de tanto valor pelas mãos de um offi-ce-boy. E se extraviasse? E se alguém roubasse o bracelete? Não! Iria pessoalmente levar o bracelete até a sala dele.Entregando à secretária, poderia ter certeza de que chegaria as suas mãos.

Quando pediu permissão à srta. Morgan para subir até o es-critório da diretoria, sua chefe a encarou com olhar de espanto. Entretanto, não teve coragem de recusar a saída da moça, pois nãosabia exatamente qual era o relacionamento entre Caroline e Adam Steinbeck.

— O sr. Steinbeck não virá trabalhar hoje no período da manhã — informou a srta. Morgan, tensa,

— Isso não é problema — Caroline respondeu calmamente. — A secretária dele poderá resolver o problema.

— Muito bem. Como seu intervalo de café começa dentro de quinze minutos, você pode subir agora. — Ela se sentia frustrada e isso transpareceu em seu tom de voz.

— Muito obrigada — Caroline agradeceu com um sorriso e afastou-se para pegar sua bolsa.

O elevador levou-a até o décimo andar. Em cada porta do corredor havia uma pequena placa, cora o nome do ocupante da sala em letras douradas. Assim, não teve dificuldades em encontrar a sala de Adam Steinbeck.

Bateu à porta e entrou na sala ocupada por Laura Freeman, mas, para sua surpresa, não havia ninguém. Porém, como notou indícios de trabalho de Laura, concluiu que a secretária não iria demorar muito para voltar.

De repente, teve a sensação de estar sendo observada por al-guém e virou-se rapidamente, Logo em seguida, enrubesceu. O próprio Adam estava encostado no batente da porta pela qual ela acabara de entrar, observando-a atentamente. Era óbvio que ele acabara de chegar ao prédio, pois ainda estava vestindo o sobre-tudo. Seu forte magnetismo atingiu-a, fazendo-a arrepiar-se. Nun-ca pensara que um homem pudesse provocar tal efeito sobre ela. Adam a observava com uma enorme intensidade, e Caroline sen-

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tiu-se pouco à vontade, começando a brincar nervosamente com a caixinha do bracelete.

Após algum tempo que lhe pareceu uma eternidade, ele entrou na sala.

— Você queria falar comigo? — perguntou ele, com voz neutra.

— Sim e não — respondeu, meio incomodada. — Vim apenas devolver o bracelete. Minha intenção era deixá-lo com suasecretária, mas como não estava, fiquei esperando por ela.

Adam a encarou, pensativo.— Não podemos conversar aqui — disse de maneira

abrupta. — A srta. Preeman deve voltar a qualquer instante. Venhaa minha sala.

Passando por ela, abriu a porta de seu escritório e permitiu que Caroline o precedesse para entrar na outra sala.

Caroline permaneceu parada de pé no centro do escritório, sem saber ao certo o que fazer em seguida. Sentiu-se novamente como uma colegial, tendo de enfrentar o diretor da escola.

Caroline olhou para baixo e ficou examinando a ponta dos sapatos. Depois, tomando uma resolução, retesou os músculos dosombros e voltou a encará-lo de frente,

— Então, veio para devolver o bracelete? — ele indagou.— Sim. E só isso. — Ela colocou o bracelete sobre um

canto da mesa de trabalho.Adam encarou-a de um modo que parecia ter ensaiado antes.— No sábado à noite, fui um pouco grosseiro com você.

Peço desculpas.— Está tudo bem. — A voz de Caroline demonstrava uma

certa frieza.— Não estou acostumado a fazer coisas desse tipo —

continuou ele. — Suponho que meu estilo não tenha tido muito êxito.

— Acho que você fez exatamente o que estava com vontade de fazer — replicou Caroline, esforçando-se para manter a voz distante. — Deixou sua posição muito clara.

Adam apertou levemente os olhos e depois levantou os ombros.

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— Compreendo. Bem, tenho certeza de que não terá dificuldades em encontrar outra pessoa que lhe faça companhia. Pelo que sei, está interessada em um jovem que trabalha aqui.

Caroline enrijeceu. Então, ele estava a par do que havia acontecido na noite de quinta-feira!

— Está referindo-se a Mark Davidson? — perguntou ela, irritada.

Adam sentou-se na cadeira, atrás da mesa de trabalho. Mos-trava-se muito sofisticado e seguro de si. Caroline sentiu vontade de romper a barreira que ele colocara, entre os dois.

— Se não me engano, é esse o nome do rapaz — concordouAdam, com muita naturalidade, enquanto acendia um charuto.

— Foi exatamente o que pensei — falou Caroline. — Quemlhe contou a respeito dele?

Adam arqueou as sobrancelhas.— Considerando-se que é a verdade, não acho que tenha

importância quem me contou — respondeu. — Ele a levou ao cinema na semana passada, enquanto eu estava nos Estados Unidos.

— Exatamente. Eu tinha a intenção de contar tudo isso a você, mas não tive oportunidade de fazê-lo.

— Ah, você tinha a intenção? — Adam não parecia estar acreditando no que Caroline dizia.

— É verdade. — Ela suspirou. — Mas não adianta! Você não acreditará em mim.

— Digamos que já sei tudo o que vai me dizer.Caroline abaixou a cabeça. Ele era tão teimoso! Ela não

sabia como fazer para que Adam visse o que realmente acontecera. E claro que o erro parecia estar apenas sendo dela, mas algumas coisas acontecem dessa maneira.

— Ouça, Caroline — disse repentinamente. — Tenho algo para lhe falar. Sente-se.

— Não se preocupe comigo — respondeu ela, irritada, e virou o rosto para o outro lado.

— Eu disse para você se sentar—ordenou ele, com voz autoritária. Caroline levantou os ombros e obedeceu, instalando-se na cadeira diante da dele.

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— Você pode estar pensando que foi apenas o ciúme que provocou este afastamento entre nós, e quero deixar bem claro que não é isso. Certo, quando soube que você e Mark tinham saído juntos, fiquei furioso e muito enciumado. No momento em que virei as costas, você aproveitou para sair com um outro homem. Quando saiu com Mark, deixou bem claro que necessita de uma vida mais movimentada, que precisa se divertir mais, não apenas quando eu posso estar a seu lado.

— Você está enganado. Adam, não foi nada disso! Deixe-me explicar o que aconteceu!

— O que você pode explicar? Que foi um deslize único, quenão se repetirá mais? Que de agora em diante vai ser uma menina bem-comportada? Vamos reconhecer a verdade, Carol, sou velho demais para você. Ainda não está interessada em se acomodar numa situação, e acho que era isso o que eu imaginava para nós dois.

Caroline não conseguiu segurar as lágrimas. Ouvir que ele a desejava até esse ponto e ficar sabendo que tudo tinha chegado aofim lhe partia o coração.

— Acha que a idade é importante quando se ama alguém? — ela perguntou entre soluços.

— Você não me ama... não ama ninguém. Carol, sou apenasuma grande aventura para você. Não está interessada em um relacionamento sério, mas eu estou.

— Você me disse antes de ir viajar que... bem... sabe o que disse.

— E eu estava falando sério. Por Deus, Caroline, eu não mudei. Simplesmente voltei a pensar de uma maneira normal. Provavelmente este relacionamento foi a melhor coisa que poderia acontecer para você, pelo menos.

Caroline enxugou os olhos. Ela não estava se sentindo bem.— Não deve ter se importado muito com o jeito que tudo

terminou — protestou ela, falando mais para si mesma.— Pare de falar assim — pediu, irritado. — Escute, dentro

de três semanas, partirei para o Caribe de iate. Quando eu voltar, você, com certeza, já terá conseguido me esquecer. Estou certo deque esta é a melhor forma de tudo terminar.

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— Oh, Adam! — Caroline sussurrou. — Não termine tudo assim, por favor!

Adam mordeu os lábios. A beleza indefesa dela, a enorme infelicidade em seus olhos estavam provocando estranhas mudanças dentro dele, e sua força de vontade, sua autopiedade estavam sendo minadas pela necessidade física que sentia de apertá-la contra si.

— Acha que eu quis que tudo acontecesse deste jeito? — perguntou de modo quase grosseiro, enquanto circundava a mesa, aproximando-se dela.

Deliberadamente, Caroline se ergueu, de tal modo que seu corpo se encostou ao dele. Seus instintos pareciam lhe dizer que a proximidade física seria capaz de vencer a irredutibilidade de Adam.

Murmurando palavras ininteligíveis, ele a puxou para si, to-mando os lábios dela avidamente, enquanto os braços de Caroline envolviam seu pescoço. Durante os minutos seguintes, as palavrasforam desnecessárias, e Caroline, sem fôlego, abraçava-se a Adam, para conseguir suster-se de pé. De repente, ouviram alguém batendo na porta. Durante mais algum tempo, seus lábios ficaram juntos, e depois, com relutância, Adam a afastou de si, ao mesmo tempo que passava a mão pelos cabelos em desalinho. Caroline também ajeitou os cabelos e perguntou:

— Acha melhor que eu vá embora?Adam fez um gesto negativo com a cabeça e dirigiu-se à

porta, abrindo-a.— Entre — ordenou.Laura entrou, e, quando percebeu a presença de Caroline,

seus olhos se arregalaram, surpresos. O espanto logo se transformou em inveja quando percebeu os lábios lívidos e as faces coradas de Caroline. Era óbvio o que acabara de acontecer, e ela ficou furiosa pelo fato de seu plano não ter dado os resultados previstos.

Adam, agora, estava sentado na borda da mesa de trabalho. Caroline ficou imaginando o que a secretária dele, de aspecto frí-gido, pensaria se soubesse quão apaixonado e excitado ele estivera alguns segundos antes. Laura era exatamente como ela a

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imaginara, e, mais ainda, Caroline sentia a hostilidade que Laura tinha em relação a ela. Uma intuição inesperada disse-lhe que foraessa mulher quem dissera a Adam que ela saíra com Mark Davidson.

— Pensei que o senhor estivesse pronto para ditar as cartas, sr. Steinbeck — disse Laura, com um sorriso forçado. — Sinto muito, mas eu não sabia que o senhor estava ocupado — acres-centou, lançando um olhar frio para Caroline.

— Poderia esperar mais alguns minutos, srta. Freeman? Eu achamarei quando estiver pronto.

Laura tentou esconder a decepção.— Pois não, senhor — falou, saindo da sala e fechando a

porta.— Será que a deixamos chocada? — Caroline perguntou,

meio divertida.— É muito provável que sim — respondeu ele.— Acho que tenho de voltar para minha seção. A srta.

Morgan deve estar imaginando que fui embora para casa.— Eu também acho melhor você voltar — disse Adam. —

E isso é tudo? — indagou Caroline num sussurro.— Carol, o que quer que eu diga? Que te amo? Deus sabe

que isso é verdade. Que preciso de você? Isso também é verdade. Mas não estou disposto a arruinar sua vida nem tampouco estou disposto a permitir que você arruine a minha. Carol, se fizesse qualquer coisa semelhante a essa e nós já estivéssemos casados, acho que a mataria! Você compreende agora?

— Mas Adam...— Tenho muito trabalho a fazer — ele murmurou e virou-

lhe as costas.Com um soluço, Caroline correu em direçào à porta, abriu-a

violentamente, atravessou correndo a sala de Laura e foi para o corredor. Lá chegando, não conseguiu mais reprimir as lágrimas eencostou-se na parede, soluçando desesperadamente.

Caroline foi passar os feriados de Natal com sua tia Bárbara em Hampstead. Quando saiu de lá para ir morar com Amanda, tia

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Bárbara encontrou uma senhora de idade, disposta a vir lhe fazer companhia em troca de um pequeno salário. Seu nome era sra. Beale. Sua vida era semelhante a de tia Bárbara, com a diferença de não ter nenhum parente vivo. Elas dividiam as tarefas domésticas entre si, e tudo funcionava muito bem.

O Natal foi festejado de maneira calma e tranquila.Após os feriados, quando voltou ao apartamento, tentou

expulsar de sua mente todos os pensamentos ligados a Adam. Transformou-se numa moça exageradamente alegre, saindo com Amanda e seu círculo de amizades em todas as oportunidades possíveis, até que Amanda ficou seriamente preocupada. Amanda percebia que Caroline não estava dando tempo a si mesma para refletir sobre suas preocupações e, por este motivo, preferiu ficar calada, sem dizer nada.

Certa noite, quando saiu do Edifício Steinbeck, o gelo que recobria a calçada estava tão escorregadio que, sem que pudesse evitar, Caroline de repente escorregou e caiu sentada. Olhou a suavolta, limpou os cotovelos que haviam ficado cobertos de flocos de neve e sentiu-se ridícula. Um jovem rapaz, prestes a entrar no edifício, sorriu e ajudou-a a se levantar. Com aspecto sorridente, virou-se para agradecer ao cavalheiro e, ao encarar o rapaz, ficou realmente espantada.

— John! — exclamou Caroline, entusiasmada. — Sinto muito, mas não o reconheci antes.

— Então foi recíproco. Eu também não a reconheci — respondeu, com um sorriso nos lábios. Depois, preocupado, acrescentou: — Você está bem? Tem certeza de que não se machucou?

— Infelizmente, acho que estou inteira — disse ela, com uma ponta de malícia.

— Acho que mereço essa resposta, afinal, não me portei muito bem durante aquele fim de semana em Slayford — falou com naturalidade. — Aquele fim de semana em Slayford. Parece nome de filme policial, não é mesmo?

Ambos riram, e Caroline sentiu-se mais à vontade. John era muito parecido com Adam, e o simples fato de estar ao lado dele parecia aproximá-la mais de Adam de alguma forma. Ficaram em

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silêncio durante instantes, encarando-se mutuamente, e Caroline imaginou que John deveria estar pensando no que teria acontecidoentre ela e o pai dele.

— Você tem de ir até muito longe? — John perguntou final-mente, sem que a voz revelasse qualquer traço da ironia que ca-racterizara o primeiro encontro deles.

— Até Gloucester Court, em Chelsea — respondeu Caroline, retirando os últimos flocos de neve de seu casaco.

— Aceitaria um convite para tomar uma xícara de café? — indagou, sorridente, olhando para ela.

Caroline ficou boquiaberta.— Com esse convite eu não contava. Afinal de contas, não

fui a vilã nesse seu filme policial?John sorriu ainda mais e insistiu:— Você aceita ou não?— Bem... aceito, sim — concordou ela, e começaram a

andar em direção à cafeteria mais próxima.Ao chegarem, Caroline instalou-se numa das mesas

coloridas enquanto John foi até o balcão. Quando voltou, trouxe consigo duas xícaras de café fumegante, além de uma bandeja com dois hambúrgueres e duas bombas de creme.

— Pensei que você talvez gostaria de fazer um pequeno lanche — disse ele, sentando-se diante dela.

— Foi uma ótima idéia — Caroline falou, sorrindo e aceitando um dos hambúrgueres. — Você está de férias?

— Estou. Até o começo de fevereiro. Ainda bem, pois estudei muito para meus exames e acho ótimo poder relaxar um pouco.

— Não quis viajar com seu pai? — perguntou, mordendo o sanduíche e esforçando-se para não revelar o interesse que sentia.

— Acabo de voltar de lá. Passei um mês no iate, mas acabeiretornando antes do tempo, a fim de me aclimatar outra vez, antesde voltar à universidade.

— Ah, sei... — Caroline, de repente, perdeu todo o apetite. A maneira casual como ele mencionara sua estada no Caribe fez com que ela relembrasse muitas coisas desagradáveis.

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— Foi maravilhoso poder escapar disso tudo e passar algumas semanas num lugar ensolarado.

— Você foi sozinho? — perguntou ela, de repente, lembrando-se de Tonia e da maneira como ela havia encarado Adam naquele fim de semana.

— Sim.Caroline suspirou de alívio.— Você tem muita sorte — ela disse, não pensando no sol

ou no iate, mas apenas em Adam,— Está tudo terminado entre você e papai?— Da parte dele, está tudo terminado — respondeu, com

voz rouca.— E da sua?— Prefiro não falar do assunto.— Então retiro minha pergunta. Escute, gostaria de assistir a

algum filme?— Eatá falando sério? — ela questionou, surpresa.— Nunca falei mais sério em toda minha vida — falou,

sorrindo. — Eu me interessei por você desde que nos vimos pela primeira vez. Você sabia disto, não sabia?

— Mas... e Tonia? — perguntou, arqueando as sobrancelhas.— Essa história acabou há séculos. Você ainda não me

conhece muito bem, se conhecesse não faria perguntas desse tipo.— Nesse caso, aceito o convite.Discutiram os méritos de diversos filmes em cartaz e

acabaram optando por uma comédia francesa. Saíram do cinema às gargalhadas, e Caroline percebeu que estava se divertindo como havia muito tempo não o fazia. Foram jantar num restaurante francês, já que combinava melhor com o filme que haviam acabado de ver.

— Foi fabuloso! — exclamou ela. — Eu me diverti muito John. Muito obrigada.

— O prazer foi todo meu — respondeu naturalmente. — Quando nos veremos outra vez?

— Tem certeza de que gostaria de sair novamente comigo? — perguntou com muita calma.

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— Tenho certeza absoluta — ele disse, inclinando-se na direção de Caroline do outro lado da mesa. — Eu sempre soube que meu pai tinha muito bom gosto.

Caroline enrubesceu e se afastou um pouco. John ficou irritado consigo mesmo por sua estupidez e pediu desculpas.

— Eu sinto muito. Sei que não devia ter dito isso. Caroline levantou os ombros.

— Não faz mal — respondeu calmamente. — Vamos embora? Pegaram um táxi para ir até Gloucester Court, e, durante o trajeto, John continuou sentindo-se mal pela gafe cometida. Tentando reparar o erro, convidou-a para jantar no dia seguinte.

Certa de estar cometendo uma série de tolices ao mesmo tempo, Caroline concordou meio relutante, e John ficou satisfeito.

Na noite seguinte, às sete horas, John foi buscar Caroline. Amanda, que viu o carro chegando e que sabia apenas que John era um rapaz que Caroline encontrara por acaso no dia anterior, soltou um assobio de admiração, enquanto se afastava da janela.

— Como consegue fazer isso, Caroline? — perguntou ela, com um sorriso de admiração nos lábios. — Você parece ter um talento todo especial para conquistar sempre os homens mais atraentes e com os maiores saldos bancários da cidade. Será que poderia me apresentar para algum deles qualquer dia?

— Existe muita gente que anda de carro luxuoso por aí — respondeu Caroline da maneira mais natural possível. Não queria que Amanda desconfiasse de nada.

— Está sentindo-se bem, Caroline? — Amanda indagou, preocupada. — Olhe, se estiver doente, pode ir para a cama, que eu desço e faço o possível para substituí-la da melhor maneira possível.

— Não se preocupe, estou muito bem — disse, exagerando no entusiasmo que sentia.

Ansiosa, Caroline desceu, encontrando-se com John, e foram jantar num restaurante escolhido pelo rapaz.

Aparentemente, o garçom já conhecia John, pois os levou até a mesa que fora preparada para receber duas pessoas. John pediu a refeição e, enquanto esperavam servirem os pratos, perguntou:

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— Como ficou conhecendo meu pai?— Trabalho no Edifício Steinbeck — ela respondeu

calmamente. — Sou estenodatilógrafa.— Ah, compreendo — John falou, aparentemente satisfeito

com a explicação. — Sinto muito se estou constantemente voltando a esse assunto, mas como não tenho mãe e sou filho único, acho que sou bastante possessivo em relação a meu pai.

Caroline assentiu com um movimento de cabeça, olhando para ele com muita simpatia. Ela compreendia perfeitamente o que John estava sentindo. Era capaz até de compreender o ressentimento que ele demonstrara em Slayford, quando se conheceram. Ficou pensando se, agora, naquele exato momento em que estavam ali conversando, ele tinha uma idéia concreta da situação que existira entre ela e Adam. Talvez se ele pensasse que haviam sido apenas bons amigos, tudo ficaria mais fácil.

— Conte-me alguma coisa do Caribe. Você se divertiu muito lá? — perguntou Caroline, mudando de assunto.

— Ah, sim, foi maravilhoso. — Meu pai possui uma casa praticamente na praia. É uma praia particular, e a areia é quase totalmente branca. A água é tépida e muito azul.

— Parece ser um lugar muito bonito. E você está bastante queimado.

— Passávamos a maior parte do tempo de short e camiseta. Caroline podia imaginar muito bem como deveria ser lá. Como

teria sido maravilhoso passar as férias ao lado de Adam! Poder vê-lo todos os dias durante todo o tempo. Era um sonho, com pouquíssimas chances de vir a se tornar realidade algum dia.

Às onze e meia da noite, depois de jantarem e dançarem numa discoteca, ele a levou para casa. Quando estacionou o carro diante do prédio, virou-se para ela com um sorriso.

— E então, você se divertiu esta noite? Em caso de a resposta ser positiva, está disposta a repetir a experiência?

— É lógico que eu me diverti e gostaria muito de vê-lo outravez.

— Ótimo. O que acha da sugestão de vermos algum espetáculo, desde que eu consiga arranjar os ingressos?

— Que tipo de espetáculo?

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— O que você preferir. Aliás, gosta de coisas mais sérias oumais leves? Ainda não sei muita coisa a seu respeito.

— Bem, gosto de concertos — confessou Caroline —, mas também gosto de música popular. Depende de meu estado de espírito.

— Muito bem, não há problema algum de minha parte. Vamos então ao Salão do Festival amanhã?

— Oh, sim, vamos. Eles apresentarão amanhã o Concerto para Piano, de Grieg, e eu adoro esse concerto.

— Então está marcado.Nos dias que se seguiram, John saiu com Caroline quase

todas as noites, dando-lhe pouco tempo para colocar os pensamentos em ordem. Iam a concertos e a novos espetáculos musicais, geralmente terminando a noite com um jantar em algumrestaurante. Foram também a uma festa organizada pelos colegas de John, na universidade, e Caroline se divertiu bastante. John nãotentou, em ocasião alguma, ser mais do que apenas um amigo para ela, e ela se sentia grata por causa disso.

John raramente mencionava o nome de Adam, mas quando isso acontecia, Caroline se deu conta de que ficava sempre muito interessada. John obviamente sentia bastante orgulho do pai e contou mais detalhes a Caroline sobre sua mãe.

— Ela era muito diferente de meu pai — disse ele, com a lembrança daqueles tempos passados. — Ela ficava contente em poder viver dentro da mesma rotina, anos após anos. Não acreditoque se importasse muito com o fato de papai ser ou não um homem bem-sucedido. Tenho certeza de que não o encorajou em coisa alguma. Sabe, os dois eram bem diferentes. Não consigo imaginar o que os atraiu mutuamente.

Caroline lembrava-se dos detalhes que Adam lhe contara.— De certa forma, acho que ela não chegou a fazer muita

falta quando morreu — John continuou. — Sei que isso pode parecer uma coisa horrível, mas acho que ela nunca teria conseguido ser feliz da maneira como as coisas se desenvolveram.

— Suponho que existam mulheres desse tipo — Caroline falou, muito calma. — Houve muitas mulheres na vida do seu pai depois da morte dela?

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— Caroline, meu pai é um milionário. Para algumas mulheres, o dinheiro é capaz de modificar os rostos mais horríveisque se possa imaginar. E, como meu pai é um homem ainda bastante atraente, considerando-se sua idade, houve inúmeras mulheres na vida dele.

—Isso é compreensível. O dinheiro significa tudo para muitas pessoas.

— Pois é. — John parecia pensativo. — Entretanto, se você me perguntasse se ele teve envolvimentos sérios, eu lhe responderia com toda a honestidade que não. Realmente não acredito que haja atual-mente alguma mulher capaz de fazê-lo abrir mão de sua liberdade.

John voltou à universidade na primeira semana de fevereiro e escrevia uma carta para Caroline a cada dois dias, apesar de ela só lhe responder uma vez por semana. Nada dissera ao pai a respeito dos encontros regulares com Caroline, porque ela lhe pedira isso. Adam retornara pouco tempo depois de John deixar Londres.

A situação estava considerávelmente mais calma agora na central de datilografia. Ruth imaginava que o encontro de Caroline com Adam Steinbeck resultara em nada, e Caroline tomou cuidado para que sua colega não viesse a mudar de opinião. Quanto menos pessoas estivessem a par do desastroso relacionamento, melhor. Ninguém, nem mesmo Amanda, sabia que ela estava saindo regularmente com o filho de Adam, e Caroline imaginava estar agindo certo não chamando a atenção deninguém para sua vida particular.

No princípio de março, John foi passar um fim de semana prolongado em Slayford e saiu com Caroline para jantar em sua primeira noite.

— Seu pai não ficou intrigado pelo fato de você não jantar em casa hoje? — perguntou Caroline, enquanto comiam.

— Não — respondeu John. sorrindo. — Ele está oferecendoum jantar em Slayford para os diretores da firma e respectivas esposas. Eles sempre se reúnem uma vez por ano, logo após a publicação do

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balanço anual. É uma espécie de comemoração pelos lucros obtidos no ano anterior. Eu não gostaria de estar presente, e, obviamente, ele sabe disso. Isto explica por que consegui uma noite livre?

— Mas você não está nem um pouco interessado nesses assuntos? — perguntou Caroline. — Afinal de contas, você vai acabar herdando a firma algum dia.

— Eu! — A expressão de John era de quem nunca havia pensado nessa possibilidade. — Você consegue me imaginar trabalhando no mundo das altas finanças? Oh, não. Não faz meu gênero, nem um pouco. Pretendo seguir uma carreira que não terá nada a ver com a Steinbeck Corporation.

— Certo — disse ela finalmente. — E como está Ad... seu pai?

— Muito bem, eu acho. Ele me parece um pouco cansado, mas, fora isso, acho que está bem.

No sábado foi o aniversário de Caroline, e ambos passaram o dia todo em Brighton. John descobrira a data de seu aniversário havia algum tempo e, quando foi buscá-la, na manhã do sábado, entregou-lhe um pequeno pacote de presente.

Antes mesmo de dar a partido no motor, ele insistiu em que Caroline o abrisse, e, rindo, ela obedeceu. O riso morreu em sua garganta quando, ao desfazer o pacote, viu o bracelete de platina com esmeraldas, rubis e diamantes, que pareciam piscar ironicamente para ela.

Seu primeiro impulso foi devolver o presente, horrorizada, mas quando pegou a jóia com os dedos trémulos, percebeu que seria um gesto ridículo. Ele não compreenderia o significado de sua atitude. Apenas iria magoar os sentimentos de John. Caroline não queria fazer isso. Era uma ironia do destino, pensou ela, profundamente abalada. Adam devia ter dado o bracelete ao filho,para que ele o desse a alguma namorada. Por coincidência, essa namorada era justamente ela.

Repentinamente, percebeu que John estava olhando-a, consternado.

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— Fiz alguma coisa errada? — ele perguntou, intrigado. — Não gostou do presente? Pensei que iria ficar contente com ele.

— Oh, John, o bracelete é lindo. Mas não posso aceitar um presente tão caro assim de você. É impossível.

— O problema é só esse? Não seja tola. Ficarei muito ofendido se recusar o presente. Por favor, Caroline. Quero que você fique com ele, que o use sempre.

— Está bem, então — ela concordou por fim. — Muito obrigada, John. Honestamente, nunca possuí uma jóia tão bonita quanta esta.

— Ótimo — disse ele. — E agora, vou lhe proporcionar um dia realmente maravilhoso. Um dia do qual nunca mais se esquecerá,

E cumpriu o que prometeu. Não fosse sua enorme semelhança com Adam, tanto na aparência quanto nas atitudes, Caroline teria considerado aquele dia como sendo o aniversário mais agradável de toda sua vida.

Voltaram a Londres à noite, terminando o programa em umaboate para comemorar o fato de ela já ter idade suficiente para tomar bebidas alcoólicas em público, pelo menos foram essas as palavras de John.

No dia seguinte, domingo, John somente pôde encontrar com ela à noite, e foram dançar. Ele passou o dia todo com o pai em Slayford e teve algumas dificuldades em lhe explicar por que não levara sua atual garota para que Adam a conhecesse.

John contou a situação a Caroline, que se sentiu pouco à vontade.

— Suponho que vá lhe revelar tudo — disse ela, suspirando. — Não quero ser motivo de ressentimentos entre vocês dois.

— Pode deixar, vou falar com ele qualquer dia — John res-pondeu, procurando deixá-la à vontade. — Não se preocupe. Ele não será contra.

Caroline ficou pensando nisso. Será que Adam não seria mesmo contra? E se não fosse, essa atitude provaria alguma coisa?

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As músicas agitadas afastaram momentaneamente aqueles pensamentos e, num intervalo, Caroline afastou-se de John, num dos cantos do salão.

— Você dança muito bem — ela falou, quase sem fôlego —, mas estou exausta.

— Você também não dança nada mal — ele disse, enquanto Caroline tentava manter certa distância entre eles.

De repente, John abaixou a cabeça, e Caroline sentiu sua boca junto ao pescoço dela, seu corpo tremendo contra o dela.

— Oh, John! — Ela se desvencilhou do contato, respirando mais depressa.

— O que foi? Agora estou na lista negra? — ele murmurou.— Não, é lógico que não — respondeu ela, sem saber ao

certo como se portar naquela situação.De alguma forma, ela nunca pensara naquela possibilidade,

apesar de saber que John a olhava ultimamente com olhos que nãorevelavam apenas uma grande e sincera amizade. Apesar de tudo, esperava sempre que ele não aguçasse seus sentimentos. Eles se divertiam muito quando estavam juntos, e sempre encontravam motivos para boas risadas, mas Caroline não queria que o relacionamento fosse

além disso. Ela sabia que nunca mais seria capaz de amar alguém como amara Adam. Não importava o que pudesse acontecer, John nunca poderia ser para ela qualquer coisa além de um bom amigo.

— Tenho certeza de que suspeitava dos sentimentos que tenho por você, não é? — perguntou ele, observando atentamente o rosto dela na semi-escuridão do lugar onde estavam.

— Não, sinto muito, mas eu não tinha a mínima idéia — respondeu, inquieta. — Oh, John, o que posso dizer...

— Por favor, não diga nada. Esqueça o que aconteceu. Eu é que tinha esperanças de que meus sentimentos fossem retribuídos por você.

— Então, isso significa que não nos veremos mais?— Não. Pelo menos, eu espero que não signifique isso —

protestou, segurando-a pelos ombros. — Caroline, estou

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apaixonado por você. Nunca me senti assim antes, em toda minha vida. Preciso continuar a vê-la.

Caroline hesitou um pouco e depois se aproximou mais dele.— Beije-me, John. Não quer fazer isto?Ele não esperou que o convite fosse repetido. Sua boca era

quente, suave e muito agradável, mas durante o beijo, Caroline imaginou estar nos braços de Adam, e sua reação foi tal que John ficou ainda mais entusiasmado. O contato tomou-se violento e apaixonado, tanto que Caroline deu um passo para trás, soltando uma exclamação contrariada e esfregando os lábios com o dorso da mão. Era pavoroso usar John daquela maneira.

Mais tarde, no carro, quando já estava de volta em casa, Ca-roline, meio indecisa, indagou:

— Tem certeza de que quer continuar se encontrando comigo?

— É lógico que tenho certeza — ele respondeu rapidamente. — Quem sabe, algum dia, você acordará de manhã edescobrirá que também está apaixonada por mim.

Quando John voltou para a universidade, Caroline sentiu-se mais solitária que nunca. Ela não tinha certeza se isso tinha ou não a ver com o novo relacionamento existente entre eles, mas, dequalquer forma, ela sentia falta da companhia de John.

Por outro lado, começou a demonstrar um interesse muito maior pelo trabalho, e a srta. Morgan chegou à conclusão de que ela era a funcionária mais eficiente da central de datilografia. Na Steinbeck Corporation, bons funcionários sempre eram reconhecidos como tal, e, quando uma das secretárias pediu demissão, o cargo foi oferecido a Caroline. Ela, por sua vez, aceitou a promoção com alegria, apesar de saber que suas colegas consideravam a promoção como sendo favoritismo. O velho boatoa respeito dela e Adam tornou a correr de boca em boca pela empresa.

Seu novo cargo era como secretária do sr. Lawson, o encarregado da tesouraria. Sua equipe calculava os impostos, as contribuições, os salários e os pagamentos aos funcionários da

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firma. Caroline, além de descobrir que seu trabalho era muito variado e interessante, ficou também muito satisfeita por não ter uma supervisora direta.

Certa tarde, no principio do mês de abril, o chefe de Caroline não voltou do almoço. Sua esposa telefonou avisando que ele estava com forte dor de cabeça e que não voltaria ao escritório naquela tarde. Caroline fez-lhe votos de rápida melhora e, em seguida, resolveu aproveitar o tempo para colocar uma sériede coisas em dia. Havia muitos papéis para serem devidamente arquivados. Ela possuía uma sala de trabalho só dela, e estava muito ocupada quando o telefone tocou a seu lado.

— Escritório do sr. Lawson. Quem está falando é a srta. Sinclair. Após um breve momento de silêncio, uma voz máscula e rouca

perguntou calmamente:— Caroline, é você?Ela sentiu as pernas amolecerem e sentou-se rapidamente

numa das extremidades de sua mesa de trabalho.— Adam — ela murmurou. Recuperou-se logo, porém, e

perguntou, num tom extremamente profissional: — Em que possolhe ser útil?

— Eu queria conversar com o sr. Lawson — ele respondeu, ainda com voz calma e segura. — Não sabia que estava trabalhando com ele agora.

— Sou secretária do sr. Lawson, mas ele não virá à tarde —ela informou.

— Não faz mal, falo com ele outro dia qualquer. Fez-se silêncio, e de repente ele perguntou:

— E você, como está?— Estou bem, obrigada — respondeu, forçando-se a

assumir um tom de voz distante e desinteressado. — Divertiu-se bastante durante as férias?

— Férias? Ah... você se refere à viagem em janeiro. Sim, foi muito agradável. John foi passar algumas semanas comigo, durante suas férias de fim de ano. Agora, diga-me — ele pediu, e de repente havia muita intensidade em sua voz —, quem é o jovem rapaz com o qual você está saindo atualmente?

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Caroline ficou atônita. Como ele sabia que ela estava saindo regularmente com alguém? Será que estava mandando alguém se-gui-la ou coisa assim? De repente, sentiu uma irritação muito grande. Como Adam tinha coragem de lhe fazer uma pergunta daquelas? Afinal, que interesse poderia ter, além de uma mera curiosidade?

— Acho que isso não lhe diz respeito — ela falou, furiosa. — Onde obteve essa informação?

— Não fique irritada — disse naturalmente. — Não contratei ninguém para segui-la. Simplesmente eu a vi jantando com um rapaz algumas semanas atrás. Seria Mark?

— Não, não é ele. Você não reconheceu quem estava comigo?

— Sua irritação parecia ter diminuído um pouco.— Não, não reconheci.— Bem, o rapaz que estava comigo chama-se John

Steinbeck — respondeu friamente, querendo magoá-lo da mesma forma como ele havia feito. Além do mais, John sempre quisera contar tudo a seu pai

Ela ouviu Adam respirar fundo, em seguida ele perguntou:— Você está brincando, Caroline?— Por que motivo eu iria brincar com uma coisa dessas? —

ela ar-gumentou, chegando quase a sentir ódio de si mesma por ser tão rude.

De repente, o telefone ficou mudo, e Caroline percebeu que ele desligara o aparelho. Com um suspiro, colocou o fone no gancho e começou a tremer sem conseguir se controlar. O que era isso? Vingança? E o que aconteceria agora?

Não teve de esperar muito tempo para saber. Alguns minutosdepois, a porta de sua sala se abriu, e Adam entrou apressada-mente, fechando a porta atrás de si, com um gesto imperioso.

— Bem — murmurou ela, tremendo. — Que surpresa!— Você realmente pensou que poderia me contar uma coisa

dessas, sem que eu tivesse alguma reação? — perguntou ele, irritado. — Meu Deus, Carol, o que está querendo? Que eu fique completamente louco?

Caroline enrubesceu e voltou a se sentar atrás de sua mesa

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de trabalho.— É lógico que não é nada disso — respondeu

rapidamente.— Acontece que encontrei John, por mero acaso, em

janeiro, quando você estava viajando, e desde então estamos nos vendo sempre que ele vem a Londres.

— Então, é isso — disse Adam, mostrando-se nervoso. — Graças a Deus, não fui suficientemente tolo para acreditar em todas suas juras de sinceridade. Quatro meses se passaram, e aqui estamos nós, nesta situação. Parece que conseguiu se esquecer de tudo, não é mesmo?

— Como você tem coragem de cobrar isso de mim! — exclamou Caroline, irritada também. — E claro que não me esqueci de nada. Meus sentimentos por você não vão mudar nunca. Mas como não demonstra a mínima intenção de fazer algo em relação a eles, acredito que tenho todo o direito de agir como uma garota normal.

— Meu próprio filho — murmurou ele, amargo. — John, entre todas as pessoas. Por quê? Para se vingar de mim?

— Não é nada disso. Não lhe ocorreu que eu possa gostar dacompanhia de John simplesmente porque ele é seu filho?

Adam virou-se e foi até a janela.— Está bem — disse finalmente, — Sei que não tenho

direito algum de interferir na vida de vocês dois. Peço desculpas.Caroline cerrou os punhos. Seu coração a impelia a ir até

ele, para consolá-lo, para assegurar-lhe que não precisava se preocupar, pois John nunca conseguiria ocupar o lugar que pertencia apenas a ele. Mas o orgulho não permitia que ela o fizesse.

— Está com uma aparência cansada — ela disse por fim. — Não está se sentindo bem?

— Estou muito bem, obrigado — respondeu friamente e encarou-a de novo. O olhar era intenso. Havia uma certa rigidez em torno de seus lábios, — Deve ser a idade. Completei trinta e nove anos no mês passado.

— Eu completei dezoito — informou ela.— Sinto muito por ter-me esquecido de seu aniversário,

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— Seu filho lembrou — Caroline falou. E em seguida acrescentou: — Ele me deu um bracelete de platina.

Adam arqueou as sobrancelhas.— É mesmo? Então, você acabou ficando com ele? Ela

enrubesceu.— Não da maneira como gostaria — respondeu friamente.

— E também não foi por livre opção, acredite. Acho que John nãoteria compreendido a situação toda, não é?

Adam empalideceu visivelmente e depois caminhou lentamente em direção à porta.

— Acho que não temos mais nada para conversar — murmurou, cansado. — Adeus, Caroline.

— Adeus... sr. Steinbeck.Caroline recusou-se a levantar os olhos quando ele saiu, fe-

chando a porta atrás de si. E no momento em que ouviu a porta se fechando, ela escondeu o rosto entre as mãos.

CAPÍTULO VI

Caroline escreveu para John contando que Adam já sabia de tudo a respeito da amizade deles e ficou aliviada quando recebeu a resposta dele dizendo que seu pai já lhe havia telefonado para conversarem a respeito. Caroline ficou contente por Adam não ter vetado a ligação entre eles, como poderia facilmente ter feito. Será que isso significava que ele não se importava mais com ela? Afinal de contas, ele era responsável pelos rendimentos de John, pagava todas as despesas de sua educação e poderia ter exigido que o filho se comportasse de outro modo.

Mais tarde, numa carta, John lhe contou que Adam não o pressionava mais para que fosse com ele para os Estados Unidos em maio. Queria saber se Caroline poderia tirar uma semana de férias durante os feriados da Páscoa, para irem juntos a Paris.

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Caroline ficou excitada com a perspectiva da viagem e, como podia pedir férias a qualquer momento, decidiu acompanhá-lo. Respondeu dizendo-lhe que aceitava com prazer o convite.

Amanda não ficou assim tão entusiasmada com a idéia e aconselhou Caroline a pensar muito bem antes de concordar em fazer uma viagem tão perigosa.

Uma semana antes do início das férias de John, Caroline re-cebeu um telefonema que iria modificar toda sua vida. O telefo-nema era da sra. Beale, dizendo-lhe que sua tia Bárbara sofrera um sério ataque cardíaco pela manhã e falecera.

Caroline ficou profundamente chocada. Tia Bárbara era seu único parente vivo, e a morte dela cortava todos seus laços com o passado da família Sinclair. Era apavorante saber que estava sozinha no mundo. Agora, havia apenas uma enorme sensação de vazio. Durante o enterro, ao ver o caixão pela última vez, Caroline sentiu as lágrimas lhe escorrerem pela face.

Dr. Manson, o advogado de sua tia, que cuidara de todos os negócios dela durante muitos anos. demonstrou muita simpatia em relação a Caroline e, depois que os poucos amigos da falecida se despediram e se retiraram da velha casa, pediu que Caroline e asra. Beale o acompanhassem até a biblioteca.

Depois de terem se sentado em torno da velha mesa que ocupava o espaço central da biblioteca, d dr. Manson retirou um envelope de sua pasta de documentos e disse:

— Aqui está o testamento e os últimos desejos de sua tia, srta. Sinclair.

Caroline ficou surpresa. Pelo que sabia, sua tia possuía apenas aquela casa, e ela nunca pensara em herdar a propriedade algum dia.

O dr. Manson começou a ler os ditames do documento. A primeira parte do testamento tratava de algumas doações a instituições de caridade. Em seguida, havia indicação para que a sra. Beale recebesse uma boa importância.

Finalmente, o dr. Manson voltou-se para Caroline.— As demais propriedades, srta. Sinclair, inclusive esta

casa, que poderá ser vendida, se assim quiser, lhe pertencem.

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Após a dedução dos impostos e outras despesas menores, calculo que o capital deverá alcançar uma excelente fortuna.

Caroline ficou boquiaberta e se recostou no espaldar da cadeira, incapaz de dizer uma palavra sequer.

— Uma fortuna! — exclamou ela, depois de algum tempo. — Mas, dr. Manson, minha tia nunca teve muito dinheiro.

— Durante os últimos anos, sua tia jogava regularmente na bolsa de valores — ele respondeu calmamente. — Ela teve a ajuda de um ótimo corretor e sempre agiu com extrema cautela.

Tremula, Caroline acendeu um cigarro. Ela ainda não conseguia acreditar naquilo tudo. Estava rica! Podia ser totalmente independente!

— Sua tia faleceu com quase oitenta anos — continuou ele. — Ela queria que você recebesse o dinheiro dela, para poder fazertodas as coisas que ela mesma nunca teve a oportunidade de fazer.Ela me disse, repetidas vezes, que você se parecia com ela, quando jovem. Aceite o dinheiro e aproveite tudo o que ele puder lhe oferecer de bom. Tenho certeza de que sua tia desejava exatamente isto. Entretanto, caso me permita fazer uma sugestão, não espalhe demais a notícia de que você agora é uma jovem mulher rica.

— Muito obrigada. Eu gostaria que o senhor pudesse continuar como meu advogado. Dessa maneira, o senhor poderia me ajudar a resolver quaisquer problemas que porventura surjam.

— Pois não, srta. Sinclair. Estarei sempre disposto a lhe dar quaisquer conselhos que julgar necessários.

Depois que o advogado saiu e que a srta. Beale recolheu-se a seu quarto para empacotar seus pertences, Caroline ficou sentada durante muito tempo, era inacreditável! De repente, ela passara a ser uma mulher rica e totalmente independente.

Livre... A palavra lhe pareceu ser muito irônica. Mesmo agora, com toda a tristeza devido a morte de tia Bárbara, com o choque por descobrir que estava numa posição invejável, o amor que sentia por Adam Steinbeck continuava impedindo suas ações e suas atitudes. Ela nunca se sentiria liberta do amor que sentia por Adam.

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Com uma enorme força de vontade, obrigou-se a retomar à realidade. Sentia-se muito só, e sabia que deveria ter alguém a seulado, capaz de cuidar dela, de amá-la, e lembrou-se de John. Numa decisão súbita, levantou-se e foi ate o saguão, onde estava o telefone. Em seguida, discou o número do apartamento dele.

— Caroline! — exclamou ele, revelando na voz o prazer que sentia. — Estou muito contente por você ter ligado. Recebi seu recado hoje pela manhã. Meus pêsames.

— Obrigada, John. Oh, é tão bom ouvir sua voz. Eu estava aqui, sentindo-me tão só e tão triste que de repente pensei em você e resolvi lhe telefonar.

— Sei como você se sente. Tudo já terminou, meu bem?— Sim. O enterro foi hoje. Mas em meio a tanta tristeza, me

aconteceu uma coisa maravilhosa. Eu herdei esta casa, que é enor-me, e, além disso, herdei também uma fortuna.

— O quê? — John ficou tão surpreso quanto ela ficara havia pouco tempo.

— Pois é. Eu fiquei pasma. Tia Bárbara fez questão de guardar muito bem seu segredo e não usou nem um pouco de seu dinheiro para facilitar sua própria vida.

— É inacreditável! — John deu um longo assobio de admiração. — Então agora você é uma rica herdeira. Pelo menos, ninguém vai poder dizer que está atrás de meu dinheiro. — Ele riu. — Agora, falando sério, Carol, como está se sentindo? Você me parece estar bastante confusa e nervosa. Não vai voltar a trabalhar agora que a situação mudou, vai?

— Ao menos, não vou trabalhar amanhã. — Tenho de conversar com meu advogado logo cedo.

— E a nossa viagem a Paris? Continua marcada ou vamos adiá-la?

— Não sei, John. Quando voltará para casa?— Acho que amanhã. Aqui já está quase tudo resolvido. Por

quê?— Preciso de você, John. Depois decidiremos quanto a

Paris.— Combinado, meu bem. Você sabe que faço qualquer

coisa que quiser quando fala comigo desse jeito.

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Depois de desligar o telefone, Caroline subiu as escadas para o quarto e olhou ao redor tristemente. Sentia que uma fase desua vida chegara ao fim e que outra estava começando. Sentou-se na cama e ficou pensando se agira da maneira mais certa, contando a John que sentia necessidade da presença dele.

Amanda ficou surpresa e contente com a herança inesperadade Caroline. Durante as poucas ocasiões em que tivera contato com a simpática senhora, nunca imaginara que fosse possuidora de tamanha fortuna.

— Temos sido ótimas amigas, Amanda, e eu gostaria que você também tivesse algum dinheiro no banco, para momentos denecessidade. Também gostaria que procurássemos outro apartamento para morarmos juntas. Não quero perder o contato com você, e isto aconteceria fatalmente se eu me mudasse daqui. Não sei ainda o que vou fazer da vida. É claro que vou pedir demissão da firma e viajar em férias para algum lugar, mas e depois? Talvez procure outro emprego como secretária. Não consigo me imaginar sem fazer nada durante o tempo todo.

— Caroline, você pode fazer uma viagem de volta ao mundo... ou qualquer coisa deste tipo. Com toda certeza, gostaria de visitar outros países, de ficar conhecendo outros tipos de pessoas, não é?

— Não sei — Caroline falou. Intuitivamente, Amanda perguntou:

— Caroline, você não continua pensando naquele homem, continua?

— Preciso trocar de roupa, John está em Londres e ficou deme apanhar aqui em casa às seis horas.

Amanda franziu a testa. Sabia que Caroline estava bastante nervosa. Com firmeza, resolveu não deixar que a outra fugisse do assunto e disse:

— Caroline, você não respondeu a minha pergunta.— Realmente não respondi — Caroline concordou, pondo

um ponto final na conversa e retirando-se.Enquanto Caroline foi tomar banho, Amanda ficou andando,

inquieta, de um lado para o outro da sala. Finalmente, dirigiu-se ao quarto de Caroline.

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— Diga-me, quem é esse tal de John, com quem está saindo? — perguntou Amanda à queima-roupa. — O que ele faz?

— Eu já lhe disse, ele faz faculdade de filosofia — respondeu Caroline, enquanto se vestia.

— Mas de onde ele vem? Qual é o sobrenome dele? O que os pais dele fazem? — insistiu Amanda.

— Quantas perguntas! — exclamou Caroline, como se nadadaquilo fosse importante, mas um rubor lhe cobriu as faces, re-velando que ela estava prestes a explodir. —A mãe dele já morreu.

— Será que, por acaso, o sobrenome dele não é Steinbeck? — Amanda indagou repentinamente.

Caroline virou-se bruscamente para a amiga, a escova de cabelos suspensa no ar, com uma expressão no rosto suficiente para que Amanda não necessitasse de qualquer outra resposta.

— Exatamente — falou, soltando um suspiro profundo. — Estou contente por você finalmente saber da verdade. Quis lhe contar tudo inúmeras vezes.

— O que está pretendendo alcançar com isso, Caroline? E alguma forma indireta de acertar contas com o pai dele? Ou será que está, realmente, interessada nele?

— Na verdade, eu gosto de John, não estou com intenção de me vingar de Adam, e não sei, ao certo, explicar por que estou saindo constantemente com ele.

— Caroline, não está simplesmente usando esse rapaz?— Não. — Ela não sabia mais o que responder, e seus olhos

se encheram de lágrimas. — Eu gosto de John, Amanda. Ele é muito simpático, atencioso e... Oh, Deus! Preciso ter alguém pertode mim!

— E esse tal de John — continuou Amanda implacavelmente — também apenas gosta de você?

— Não. Ele diz estar apaixonado por mim.— Foi o que pensei — disse Amanda, num tom de voz

neutro.— Caroline, será que você não compreende que está apenas

machucando ainda mais a si mesma ao continuar com esta história? Procure um novo namorado. Um que não tenha nada a

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ver com a família Steinbeck. Agora que tem muito dinheiro, terá oportunidades de conhecer todos os tipos de pessoas.

— Não. — Caroline mostrou-se inflexível. — Enquanto John estiver satisfeito com nossa ligação, sentirei o mesmo,

— E qual vai ser o resultado disso tudo? Ele já lhe fez uma proposta de casamento?

— Ainda não.— Mas acabará fazendo, não resta a menor dúvida. E o que

pretende responder quando ele lhe propor isso? Que aceita?— Talvez aceite. Afinal de contas, Amanda, não tenho a

menor intenção de permanecer solteira pelo resto de minha vida.— Caroline Sinclair! Você tem apenas dezoito anos de

idade. Esse seu comentário é completamente ridículo, e você sabemuito bem. Não jogue a vida fora. Você tem tudo a sua disposiçãoagora. Todos seus sonhos poderão se tornar realidade, possui os meios para isto.

— Todos os sonhos, menos um — disse Carolíne, magoandoa si mesma. — Amanda, eu amo Adam. Nunca serei capaz de amar outra pessoa, e isto está me deixando louca. Nada tem sentido sem ele. Eu preciso dele, Amanda. Mas ele simplesmente prefere me ignorar. Por outro lado, tenho John. E, pelo menos, uma parte do John é parecida com Adam. Podemos conversar sobre o pai dele, e eu me sinto bem em sua companhia. O que há de errado no que estou fazendo?

— Está torturando a si mesma — explicou Amanda. — Caroline, nós duas temos sido como verdadeiras irmãs. Por favor, desista desse rapaz. Dê a si mesma uma oportunidade de esquecertoda essa situação. Vá viajar.

— Não. — Caroline fez um gesto negativo com a cabeça. — Acho que sou covarde demais para fazer uma coisa dessas.

De repente, ouviram o som de uma buzina. Caroline apressou-se a verificar quem era.

— É John — informou. — Tenho de ir, Mandy.— Está bem. Nós nos veremos mais tarde.Caroline desceu as escadas, apressada, fazendo o possível

para expulsar da mente sua conversa com Amanda. Não tinha

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mais nada a dizer para a amiga. Já dissera o necessário. Sentia necessidade da presença de John e era bom saber que ele a amava.

Ela chegou à porta do prédio exatamente no momento em que John entrava, de maneira que quase se chocaram,

— Carol — ele sussurrou, examinando as faces enrubescidas dela. — Minha querida... — disse, abraçando-a, enquanto seus lábios procuravam os dela.

Ela retribuiu o abraço durante um instante e depois se afastou, ofegante.

— Olá, John — murmurou ela, — É tão bom ver você outra vez.

— Parece até que você realmente sentiu minha falta — ele disse, sorrindo. — Eu te amo.

Foram jantar num restaurante sossegado, onde podiam con-versar tranquilamente. Depois da refeição, ainda ficaram sentadosdurante horas, bebendo e discutindo o futuro de Caroline.

Em princípio, John se mostrou muito animado, mas depois, durante algum tempo, fez-se silêncio entre os dois. Cada um se ocupando dos próprios pensamentos. E rompendo o silêncio, Johnfinalmente falou:

— Não adianta, Caroline. Não posso retardar mais minha pergunta. Quer se casar comigo? Vou terminar meu curso na universidade no próximo ano — continuou ele. Porém, não obtendo uma resposta imediata, acrescentou: — Pretendia esperar até lá, mas agora que sua situação se modificou completamente, morro de medo da possibilidade de você ficar solta por aí e acabarencontrando alguma outra pessoa. Sei que a gente não se conhece o bastante ainda, sei também que você acha que não me ama, mas eu te amo e preciso de você. Esta situação acabou precipitando muito as coisas. Tenho certeza de que poderíamos ser muito felizes juntos.

Caroline ficou olhando-o durante um longo tempo. Como poderia concordar com esse casamento? Ela só lhe daria dissabores.

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— Você é maravilhoso, John — começou a dizer lentamente.

— Eu realmente gosto muito de você, mas existe uma coisa que deveria saber a respeito de seu pai e eu.

— Acho que já sei o que vai me dizer — ele falou suavemente.

— Esteve apaixonada por ele, não é isso?— Sim.— Eu imaginava isso. Você sempre gostava muito quando a

conversa girava em tomo dele. Seria cego se não percebesse suas reações.

— Não sabia que era tão fácil adivinhar meus pensamentos.— Não deve ser muito fácil para as demais pessoas —

respondeu ele —, mas estou apaixonado por você, Caroline, e acho que já a conheço muito bem.

— Não sei se me conhece mesmo tão bem assim — disse Caroline, franzindo a testa. — Se você me conhecesse bem, certamente compreenderia que eu nada posso lhe dar, além de infelicidade.

— Bobagem. — John estava irritado agora. — Se estou disposto a correr esse risco, por que você também não pode corrê-lo?

— Você não compreende! — exclamou, magoada. — Sabe por que seu pai e eu nos separamos?

— Suponho que papai não queria que o relacionamento de vocês se aprofundasse demais — John respondeu calmamente. — Desculpe-me se pareço rude.

— Não, talvez tenha razão — admitiu Caroline, refletindo sobre o que ele acabara de dizer. — Ele me disse que sou jovem demais para ele e que ele é velho demais para mim.

— E esse foi o único motivo?— Não. Ele acredita que saí com um outro rapaz quando ele

foi para os Estados Unidos.— E era verdade?— Não da maneira como ele entendeu. É uma história

muito longa. E não estou disposta a contá-la para você.— Então, ele ficou com ciúme?

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— Imagino que sim. Oh, John, por que estou lhe contando essas coisas?

— Em primeiro lugar, porque eu perguntei, e também porque você vai se sentir melhor depois de ter desabafado. Meu pai, como já deve ter percebido, é um homem muito teimoso. Além disso, é também um grande tolo.

— Imagino que queira fazer um elogio a mim — disse ela, tentando retirar uma parte da tensão que pesava sobre a conversa.

— Você continua apaixonada por ele?— Acho que sim... ora, para que mentir? Sei que continuo

apaixonada por Adam. Agora deve estar vendo que sou um risco muito grande para você correr.

— Está enganada. Eu a aceitaria sob quaisquer condições. — Mesmo sabendo de tudo isso? — indagou, admirada.

— Mesmo assim. Sei que está passando por uma fase difícil, mas estou convencido de que serei capaz de fazê-la superá-la. Basta que me dê uma oportunidade para isso.

— Preciso de tempo para pensar — murmurou suavemente. — Você está indo depressa demais.

— Pessoalmente, acho que precisa de alguém que a sacuda um pouco — falou, com firmeza. — Não acredito que seus sentimentos por meu pai sejam tão profundos quanto pensa. Precisa de um homem de sua idade... como eu. Pelo menos, concorde em ser minha noiva — pressionou. — Vamos dar esse primeiro passo.

— Está bem — concordou com voz suave. — Com uma única condição — continuou ela.

— E qual é essa condição? — Ele parecia perturbado.— Que qualquer um de nós tenha liberdade para terminar o

noivado, caso ache necessário.— Concordo — disse ele, aliviado, pois pensava que a

condição fosse bem mais grave. — Não vai se arrepender, eu lhe garanto. Tudo será maravilhoso. Nossa semana em Paris será apenas o início de tudo.

— Está bem. — Caroline se deixou levar por ele nas ondas de seu entusiasmo. Era bom saber que alguém tomava as decisõesem seu lugar. Talvez agora, finalmente, pudesse relaxar.

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Como John fazia muita questão, Caroline concordou com uma festa de noivado, mas quando descobriu que pretendia realizá-la em Slayford, no Sábado de Aleluia, arrependeu-se da idéia. John, entretanto, parecia muito contente com a vida e com omundo e, quando Caroline expressou suas dúvidas em relação à situação toda, ele apenas riu e disse que seria a coisa mais natural do mundo Adam organizar uma grande festa para comemorar o noivado do filho, e que todo mundo apenas ficaria desconfiado e imaginando coisas caso o noivado fosse tratado como um assunto secreto.

Caroline estava com medo da festa e temendo também o inevitável encontro com Adam. Gostaria de poder ter tido mais tempo para se acostumar à idéia desse casamento, antes de expor a situação inteira diante dele. Será que Adam não iria pensar que tudo fora idéia dela?

John não se esquecera de tirar a medida do anel de Caroline,dizendo-lhe que poderia escolher pessoalmente o anel de noivado na noite da festa. Depois da cerimônia, no domingo de manhã, eles iriam partir para Paris. Caroline levaria toda sua bagagem consigo e passaria a noite lá mesmo, em Slayford.

Amanda estava muito preocupada com o desenrolar dos acontecimentos, mas recusava-se a dizer qualquer coisa à amiga. Era óbvio que Caroline tinha a intenção de cometer pessoalmente todos os seus erros, e Amanda estava firmemente convencida de que, de todos os erros, esse era, de longe, o maior.

A excitação e a alegria de Amanda em relação ao inesperadopresente que recebera de Caroline foram diminuídas apenas pelos acontecimentos que se sucediam em torno dela, mas fazia o possível para aparentar grande contentamento, ajudando Caroline a escolher roupas novas, mais condizentes com seu novo status financeiro. Obviamente, Amanda iria participar da festa de noivado e também comprar um vestido novo especialmente para essa ocasião. Caroline refletiu e chegou à conclusão de que Amanda se parecia muito mais com o tipo de mulher ideal para John do que ela mesma.

John combinara de buscar as duas amigas com o carro de seu pai às sete horas da noite e, quando Caroline despertou

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naquela manhã de sábado, teve certeza de que não conseguiria sobreviver a tudo o que ainda esperava por ela. Entretanto, quando chegou a noite, conseguiu manter-se tranquila e distante, como se tudo aquilo estivesse acontecendo a uma outra pessoa e não a ela, Caroline Sinclair.

— Confesso que estou morrendo de vontade de conhecer todas essas pessoas ricas e grã-finas — Amanda falou, enquanto esperavam o carro que viria buscá-las. — Estou muito contente por você ter me convidado, Caroline,

— E eu preciso urgentemente de apoio moral.— Não se preocupe — disse Amanda —, está bem mais

calma agora. Além disso, precisa pensar em John. Afinal de contas, ele vai ser seu marido dentro em breve. Ele a ama muito, ea vida que vai levar como esposa dele não lhe deixará muito tempo para especulações inúteis. Quanto ao outro homem... as coisas não ficarão sempre tão definidas como hoje.

— Não me venha com essas frases feitas, Amanda. Olhe, acho que o carro chegou.

John foi pontual como sempre. Caroline apresentou-os, e após o aperto de mão, os olhos de John procuravam apenas Caroline, e Amanda, que se sentira instantaneamente atraída por ele, sentiu uma ponta de inveja.

John acomodou Caroline no banco dianteiro, a seu lado, e depois ajudou Amanda a entrar na parte de trás do carro. Após colocar a bagagem de Caroline no porta-malas, partiram.

Ao contrário das expectativas de Caroline, a viagem até Slayford foi bastante rápida e agradável. Para ela, era maravilho saber que John a amava, e, repentinamente, a noite deixou de lhe parecer ameaçadora. Com John a seu lado, dando-lhe todo o apoio, ela certamente conseguiria manter a calma. Afinal de contas, o que poderia lhe acontecer? Ela iria ver Adam. E daí? Elenão passava de um homem, nada mais do que isso. E, aparentemente, não tinha objeção alguma em relação ao noivado, pois, se tivesse, certamente teria evitado que John continuasse se encontrando com ela.

A vila, em Slayford, estava bem iluminada quando o carro passou pelos portões, em direção à entrada, onde já não era mais

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possível encontrar um lugar para estacionar. O jantar seria servidopontualmente às oito horas da noite, e eles mal conseguiram chegar a tempo. Tão logo entraram, John dirigiu-se à sala de estar para procurar o pai, enquanto Caroline e Amanda foram retocar a maquilagem. Caroline percebeu que seu nervosismo estava voltando e procurou ficar o maior tempo possível diante do espelho, retardando a entrada inevitável das duas na recepção. Amanda já estava ficando impaciente, pois estava ansiosa por conhecer a casa.

Quando voltaram ao saguão, John estava esperando por elas,acompanhado por Adam. Caroline empalideceu quando se deparou com ele e ficou contente quando John agarrou sua mão, forcando-a a ficar mais perto dele.

— Olá, Caroline — cumprimentou Adam, num tom grave. — Acredito que esse seja um momento propício para congratulações. Espero que sejam muito felizes.

— Muito obrigada. — Caroline quase gaguejou ao dizer essas duas palavras, sentindo-se tomada por um súbito mal-estar.

Tudo estava assumindo as proporções de um enorme pesadelo. Ela teve uma vontade repentina de gritar que não estavadisposta a se casar com ninguém e sair correndo dali. No entanto, conseguiu dominar-se e aparentar a maior calma do mundo, enquanto John apresentava Amanda ao pai

Ela viu como os olhos de Amanda se dilataram quando apertou a mão daquele homem enorme e, amargamente, pensou que Adam conseguia atrair as mulheres da mesma maneira como uma chama atrai os insetos noturnos.

No decorrer da festa, Caroline foi apresentada a um grande numero de convidados. Alguns eram parentes, outros apenas ami-gos íntimos. Ela sabia que nunca seria capaz de se lembrar de todos aqueles nomes, mas todos lhe pareceram ser muito simpá-ticos e dispostos a aceitá-la em seu meio.

O jantar foi servido no grande salão de banquete, e depois John levou Caroline para a biblioteca, para que ela pudesse receber o anel que simbolizava o noivado.

Durante essa rápida ausência do jovem casal, o grande salão havia sido transformado numa pista de danças. Música moderna e

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romântica era tocada. Alguns casais já dançavam. Caroline viu Amanda dançando com um senhor idoso, com um vasto bigode, que John lhe apresentara como sendo sir Ralph Maschman, um político local.

Assim que John e Caroline entraram no salão, foram imedia-tamente cercados por pessoas que os cumprimentaram desejando-lhes felicidades. John recebeu muitos tapinhas nas costas, e Caroline ouviu todas as piadinhas de praxe a respeito da armadilha que preparara para conquistar aquele homem excepcional. Os empregados trouxeram champanhe, e todos brindaram à saúde do jovem casal, inclusive Adam, cujos olhos sefixaram rapidamente nos de Caroline, por sobre a cabeça dos convidados. No mesmo instante, ela sentiu seu corpo tremer.

Adam conseguiu atravessar o grupo que circundava os noivos e disse:

— Acredito que tenho direito à primeira dança, Caroline. — Ninguém, a não ser John, compreendeu o significado de suas pa-lavras, porém, diante de tantas pessoas, não teve outra alternativa,além de entregar Caroline ao pai, com um sorriso.

E assim, Caroline viu-se novamente nos braços de Adam, sentindo uma estranha sensação. Era como se, finalmente, estivesse voltando para casa, depois de uma longa ausência. Era esse o

lugar que o destino lhe reservara. Por que Adam insistia em não

querer ver as coisas?Durante algum tempo, dançaram em silêncio, o que

contribuiu para que Caroline se acalmasse. Era extremamente difícil tentar aparentar tranquilidade, com o corpo tremendo ao simples toque daquele homem que a tinha em seus braços. Após alguns instantes, desistiu de suas tentativas de racionalização e passou a desfrutar daquela agradável sensação.

— Contaram-me que você agora é uma jovem muita rica.— Comparando com minha situação financeira de alguns

meses atrás, sim — ela concordou calmamente. — Mas ainda não consegui me acostumar completamente à idéia.

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— E é por causa disso que resolveu ficar noiva de John? — perguntou ele, com um tom impetuoso na voz.

— Prefiro não discutir o assunto com você — respondeu, intimamente abalada.

— Eu já imaginava essa reação — disse, irritado. — Caroline, por que está fazendo isso comigo?

— Adam, nada temos a dizer um para o outro — murmurou,forçando-se a manter uma aparência calma.

— Não? — perguntou friamente. — Não gostaria de saber qual é minha opinião a respeito disso tudo? Não gostaria de saber se ainda te amo ou não?

— Por favor, não continue — sussurrou, transtornada. — Tudo acabou entre nós. Adam.

Ele a puxou para mais perto de si.— Acabou mesmo? — indagou de maneira quase grosseira,

sentindo o corpo trêmulo dela colado ao seu.— Soube que vai para os Estados Unidos dentro de alguns

dias — ela disse, ignorando a pergunta.— É verdade — respondeu, franzindo a testa. — Minha

mãe ficará muito interessada em saber de todos os detalhes sobre o noivado de John, Ela teria gostado muito de vir para esta festa, mas um ataque de reumatismo impediu que viajasse. E você e John continuam com o propósito de ir a Paris?

— Nossos planos não sofreram nenhuma alteração, Aliás, não sou mais funcionária da Steinbeck Corporation, Pedi demissão esta semana e hoje pela manhã recebi uma carta muito simpática do sr. Lawson.

Continuaram dançando em silêncio, até que Caroline tropeçou, pois seus pensamentos estavam muito longe dali.

— Sinto muito — ela falou.O rosto de Adam ficou sombrio e ameaçador.— Sente mesmo? Por tudo o que fez?— Não estou compreendendo bem o que quer dizer. —

Havia um tom de súplica em sua voz. — Você não me quis quando teve a oportunidade. Por que insiste em me atormentar agora?

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— Eu a queria — respondeu, com voz fria como gelo. — Simplesmente não quis destruir sua vida. Mas foi inútil. Você mesma está se encarregando de destruí-la.

— Por que me diz isso? John e eu vamos viver muito bem juntos.

— Durante um certo tempo, talvez sim. Mas está se iludindo em relação a ele, meu filho não é o tipo de homem capaz de ser fiel a uma mulher. Como pai, sei disso.

— Adam! — Sua voz ficou subitamente irritada. — Como tem a coragem de me dizer uma coisa dessas?

— É a pura verdade — ele afirmou calmamente. — Sei queJohn a está levando a concertos sinfônicos e a espetáculos de ópera. Sei que está fazendo o papel de um perfeito cavalheiro. Porém, isso não vai durar para sempre. Pelo menos, essa é a minha opinião, e não quero que fique magoada.

— Imagine só! Justamente você dizendo uma coisa dessas! Você, a pessoa que mais conseguiu me magoar em toda minha vida!

A música terminou, e Caroline afastou-se rapidamente de Adam. Ligeiramente tonta, conseguiu voltar para o lado de John, consciente de que necessitava de seu apoio. Por um momento, chegou a pensar que iria desmaiar, mas a sensação de tontura passou, e ela, segurando-se firmemente no braço do noivo, pediu:

— Por favor, John, não me obrigue a dançar outra vez com seu pai. Por favor!

— Acalme-se, está tudo bem — ele a tranquilizou, tentandoimaginar o que Adam teria dito para causar tanto nervosismo.

Mais tarde, Caroline viu Amanda dançando com Adam. A amiga estava obviamente se divertindo bastante e aproveitando a festa. Naquele exato momento, ela ria de alguma coisa que Adam lhe dissera, e Caroline percebeu que não aguentaria continuar observando a cena. Sentiu-se aliviada quando os convidados finalmente se retiraram e pôde refugiar-se no quarto que lhe haviasido preparado.

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CAPÍTULO VII

Adam se ofereceu para levar Amanda para casa. Ela ficou contente e lisonjeada com a gentileza. Durante o percurso, ele perguntou:

— Acha que Caroline está se sentindo feliz?Com um certo desapontamento, Amanda percebeu que

Adam se oferecera para levá-la para casa simplesmente para ter uma oportunidade de conversar a respeito de Caroline. Não era uma situação muito agradável para ela, mas aceitou sem rancor. Afinal, também estava se preocupando muito com a amiga. De certa forma, era até mesmo um certo alívio discutir o assunto comuma outra pessoa

— Dificilmente consideraria Caroline uma pessoa feliz — respondeu, medindo as palavras. — Mas acredito que, apesar de tudo, talvez seja essa a melhor solução. Esse novo interesse em sua vida poderá proporcionar-lhe muitas coisas boas,

— E em relação ao dinheiro? — Adam indagou mais uma vez. — Ela não ficou excitada diante das inúmeras possibilidades que agora se abriram diante dela?

— Não acredito que ela dê muita importância ao dinheiro. Caroline é uma pessoa muito emotiva. Sempre deu muita importância a seus sentimentos. Além do mais, parece estar muitomagoada.

Para Adam, tudo que ouvira nessa noite parecia indicar que Caroline tentava fugir de uma grande infelicidade e para tanto estava prestes a mergulhar num emaranhado de falsidade. Será que John estava a par da verdadeira situação entre eles? Seria possível que ele, Adam, estivesse enganado em sua opinião sobre Caroline? A única pessoa capaz de esclarecer suas dúvidas era a própria Caroline, e sua atitude era por demais defensiva em relação a ele. Parecia-lhe difícil a possibilidade de ela responder satisfatoriamente a suas indagações.

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— Você diria que Caroline é muito madura para sua idade? — Adam questionou com voz muito suave.

— Não acredito que possa responder a essa pergunta. Por que o senhor não a faz diretamente a ela, sr. Steinbeck?

— Acha que suas respostas seriam sinceras?— Então, deixe-a em paz! Caroline precisa de uma chance

para descobrir sozinha o que é importante para ela.— Talvez você tenha razão — disse ele, imerso em seus

pensamentos. Quando Adam voltou a Slayford, sua cabeça fervia. Persistia

ainda a dolorosa situação com Mark, que nunca chegara a ser satisfatoriamente explicada.

Nesse meio tempo, Amanda, enquanto se despia e se preparava para dormir, ponderava as palavras de Adam. Suas atitudes deixavam bem claro que continuava apaixonado por Caroline, mesmo sem intenção de fazer qualquer coisa em relaçãoa isso. Como podia permitir que seu próprio filho se casasse com ela, sentindo o que sentia? Ele devia ser um homem muito altruísta ou completamente desinteressado.

Com a oportunidade de conhecer Adam, Amanda podia compreender perfeitamente os sentimentos de Caroline em relação a ele. Era muito atraente fisicamente, além disso, fazia com que as pessoas a seu lado se sentissem protegidas e amadas. "Deve ser maravilhoso ser amada por esse homem", pensou.

Quanto a John, Amanda não tinha muita certeza Era um rapaz bastante agradável e certamente se aproximava mais da idéia que ela mesma tinha do príncipe encantado. Ele não fazia questão de uma conversa inteligente e deixara bem claro, pela maneira como a tratara, que gostava de mulheres atraentes, mesmo tendo um compromisso sério.

Caroline percebeu quando o carro de Adam voltou pelo barulho dos pneus. Sabia que ele fora levar Amanda para casa e não pôde evitar uma certa sensação de inveja em relação à amiga.

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O que teriam conversado? Será que Adam achara Amanda bonita e atraente? Ela tinha certeza de que Amanda gostara dele. Final-mente conseguiu adormecer, mas por pouco tempo. Logo acordoucom a sra. Jones abrindo as cortinas de sua janela e desejando-lhe um bom dia.

Colocou uma bandeja sobre as pernas de Caroline, enquantoesta se esforçava para se ajeitar melhor na cama, e disse:

— John achou que a senhorita iria preferir tomar o café da manhã aqui mesmo, em vez de descer até a sala de jantar.

— Fico-lhe agradecida — Caroline falou, forçando um sorriso. — Realmente prefiro ficar aqui. Ainda estou muito cansada.

Depois que a sra, Jones deixou o quarto, Caroline encheu uma xícara de café e voltou a admitir que ela era realmente uma figura simpática. Era, portanto, compreensível que Adam e John gostassem tanto dela, considerando-a parte da família.

Adam não apareceu quando Caroline e John partiram. John o vira antes de ele sair para andar a cavalo, mas Caroline não falara com ele desde a noite anterior, desde a conversa fatídica durante a dança.

John a encarou pensativamente quando tomaram a estrada principal para Paris e depois, inclinando-se em direção a ela, bei-jou-lhe a face.

— Eu te amo — ele murmurou.— Verdade, John? Oh, estou tão feliz, tão contente por

sairmos um pouco da Inglaterra... Você vai ver, isto fará um bem enorme para nós!

— É lógico que fará — John concordou, muito confiante.E Caroline se perguntou se ele estava realmente tão certo

disso quanto queria demonstrar.

Em Paris, o hotel ultrapassou todas as expectativas de Caroline. John reservara uma suíte, mas, como havia dois quartos de dormir, cada qual com seu próprio banheiro, Caroline não pensou muito no possível significado disso. Ela estava empolgadademais com a riqueza da decoração para ponderar sobre as

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intenções de John. Além do mais, também estava ansiosa demais por explorar a cidade.

Porém, nesse sentido, não encontrou muita cooperação por parte de John. Ele já conhecia Paris muito bem e em seus planos não estavam incluídos demorados passeios pelos lugares e monumentos históricos da cidade.

No começo da semana, Caroline mostrou-se disposta a tratá-lo muito bem, permitindo sempre que ele tomasse as iniciativas, mas cortando drasticamente quaisquer idéias que ele pudesse ter no sentido de tornar o relacionamento mais íntimo. Não foi muito difícil manter a relação apenas numa base amigável, platônica. Apenas em alguns momentos, quando algo o aborrecia, é que Caroline entrevia um lado completamente diferente na personalidade de seu companheiro, uma certa petulância que a perturbou bastante.

Foram visitar Fontainebleau, o palácio renascentista com seus imensos jardins. Caroline ficou encantada, mas John passou a tarde toda tecendo comentários irônicos, conseguindo assim destruir completamente o entusiasmo dela. No dia seguinte, fizeram novamente um passeio fora de Paris. Dessa vez, foram para um local escolhido por John.

Estacionaram o carro num bosque, ao lado de um regato, onde centenas de flores silvestres atapetavam o chão de amarelo, azul e violeta. Desceram do carro e foram até a margem do riacho.

— É um lugar muito bonito — disse ela, enquanto John retirava uma esteira do carro e a estendia na relva para que eles sesentassem.

— Você também acha? — John parecia estar satisfeito consigo mesmo. — Venha aqui, Caroline.

— Por quê, John? Não estou cansada. Prefiro passear um pouco pelo bosque.

— Está com medo de mim, Caroline?— E lógico que não.Não era a primeira vez que John tentava interrogá-la dessa

maneira. Percebeu que ele estava tentando despertar nela uma reação de indignação ou de entusiasmo, mas não estava conseguindo.

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— Caroline, nossa situação precisa evoluir... Você sabe disso, não é?

— Evoluir? — Caroline revelava-se bastante confusa.— Não brinque comigo. Caroline! — exclamou, num tom

de voz menos amistoso.— Não estou brincando! É você quem está indo depressa

demais. Nossa viagem era para ser um passeio de férias. No entanto, você a está transformando numa espécie de competição! E parece estar muito certo de que vai acabar ganhando.

— Isto é sério, Caroline. Sou um ser humano, e você é uma grande tentação! — Levantou-se, envolvendo-a nos braços e bei-jando-a apaixonadamente.

— Não compreendi o que você quis dizer — ela disse, tentando se desvencilhar.

— Oh, não, você compreendeu muito bem. Caroline, eu já lhe disse que estou apaixonado por você. O que mais quer que eu diga?

— John...Ele já a soltara e retomara sua posição anterior deitado sobre

a esteira.— Venha cá e sente-se — pediu ele. — Caroline, do que

tem tanto medo? Somos noivos. Não sou um desconhecido que a trouxe até aqui com a intenção de seduzi-la.

Caroline hesitou durante um instante e depois foi até ele, sentando-se a seu lado. Uma estranha sensação de mal-estar a in-vadiu. Afinal de contas, eram noivos, e John sempre se mostrara respeitoso e gentil para com ela.

— Assim é bem melhor — disse, sorrindo e puxando-a para perto dele. — E agora beije-me, Carol — ordenou, com a boca bem próxima dos lábios dela.

Caroline ia falar alguma coisa, quando ele tomou a iniciativae pressionou fortemente seus lábios contra os dela. Estava nervosademais para participar ativamente, do beijo, mas John parecia nãoperceber isso, e ela sentiu que as mãos dele a acariciavam com uma urgência cada vez maior.

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— Não faça isso! — Caroline levantou-se e saiu correndo em direção ao carro. Com a respiração ofegante, abriu a porta e jogou-se no assento.

Ela teve a impressão de que se passaram horas até que ele resolveu ir lhe fazer companhia, apesar de terem sido apenas al-guns momentos. Caroline não tinha coragem de encará-lo de frente. O que iria acontecer agora? John se debruçou sobre o volante durante um instante e depois olhou para ela.

— Bem, acho que devo lhe pedir desculpas — ele falou.— O que você quer que eu diga? Imagino que no fundo a

culpa seja toda minha, mas não espere muito de mim nem que as coisas aconteçam cedo demais.

— Está bem. Sei que estou forçando a situação para você. Sinto muito, nunca tive muita paciência com as mulheres.

— Você quer dizer que... nunca teve de esperar pelas coisas,é isso?

— Sim, pode-se encarar a situação dessa maneira. — John deu a partida no motor, e o assunto foi temporariamente encerrado.

Durante o resto da permanência deles em Paris, John se mostrou tão circunspecto quanto Caroline desejava, mas não havia a menor dúvida de que o relacionamento entre eles fora abalado pelo que acontecera. As declarações de amor de John pareciam basear-se apenas na crença egoísta de que Caroline seriaincapaz de pensar em Adam quando estivesse em seus braços. Mas nada disso correspondia à verdade, e agora ele também sabia.

Voltaram a Londres e na primeira noite jantaram em companhia de Amanda, que logo contou todas as novidades sobre o novo apartamento com dois dormitórios, uma sala de estar, cozinha e banheiro privativo. Amanda caprichara muito na preparação do jantar para celebrar a volta do casal, e todos comeram com apetite, conversando sobre Paris e os lugares onde Caroline e John tinham estado. Amanda estava muito interessada em tudo, mas, ao mesmo tempo, percebeu nitidamente a tensão que havia entre eles. Ambos procuravam se dirigir sempre a Amanda e pouco falavam entre si, a ponto de ela acabar se sentindo mal. Entretanto, não havia nada que Amanda pudesse

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fazer para melhorar a situação, a não ser ir para a cama logo após o jantar, alegando estar com uma pavorosa dor de cabeça.

John ajudou Caroline a lavar os pratos, e depois voltaram para a sala, como não tinham muito o que conversar, logo o rapaz se despediu.

Após a saída de John, Amanda voltou para a sala de estar, envolta por seu roupão.

— E então? — perguntou da maneira mais direta possível. — O que está errado desta vez?

— Se eu contar, vai dizer que me avisou disso tudo antes.— Compreendo. — Amanda arqueou as sobrancelhas. — O

que aconteceu para você mudar de opinião?— Todo mundo acredita que ele está apaixonado por mim,

mas parece que ele está interessado apenas numa coisa.— Agora você está sendo injusta e tola — reprovou

Amanda. — Gostaria de saber sua opinião se estivesse apaixonada por ele.

— Isso é o pior — concordou Caroline. — Acho que tudo teria sido bem diferente se eu estivesse apaixonada por ele. Mas como não estou, fiquei fria como um cubo de gelo e agora sei que ele me considera uma idiota.

— John que pense o que quiser. Caroline, meu bem, nunca faça nada que possa se arrepender mais tarde. Quando se entregar a um homem, você deve fazê-lo por livre e espontânea vontade, e não apenas porque gostaria de deixá-lo contente.

Caroline estava sentindo-se profundamente desanimada. A viagem, com a qual ela tanto sonhara, transformara-se num pesadelo, e agora ela nem sequer tinha muita vontade de rever John.

Nos dias seguintes, ocupou todo seu tempo com o novo apartamento. Ele era exatamente como Amanda descrevera, e Caroline gastou horas planejando os detalhes da decoração. Era uma ótima maneira de preencher o tempo, e ela tinha o dinheiro necessário para comprar o que quisesse.

Encontrava-se diariamente com John e passava muitas horasa seu lado. Ele se manteve sempre numa distância fora do comum,mas como ela mesma também estava distante, não se importou

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muito com isso. Sempre que Amanda tinha tempo disponível, ele a convidava para ficar com eles, e Amanda percebeu que John se dirigia muito mais a ela nas conversas, pelo menos com mais frequência do que em relação a Caroline. Amanda não sabia o quefazer, que atitude tomar. Sentia-se como que roubando o lugar da amiga, e, no entanto, ambos pareciam concordar com a situação.

Quando John voltou para a universidade, Caroline sentiu-se inconscientemente aliviada. Pelo menos tinha a oportunidade de colocar em ordem os pensamentos, sem a necessidade de inter-rompê-los para se encontrar com o noivo. De que maneira poderiaanalisar as coisas objetivamente com ele a seu lado? Uma sepa-ração era a melhor coisa para ambos.

Dois dias após a partida de John, mudaram-se para o novo apartamento. A casa herdada havia sido vendida por um preço elevadíssimo a um grupo de imobiliárias, e foi apenas depois de fechado o negócio que Caroline descobriu que fora adquirida pelaSteinbeck Corporation.

Ela continuou escrevendo para John como sempre, mas as cartas dele já não eram mais tão frequentes como no início. Tinha certeza de que ele estava se arrependendo tanto quanto ela do noivado. Às vezes, Caroline pensava que seria preferível haver colocado um ponto final em tudo antes de ele voltar da universidade.

Após passar alguns dias no novo apartamento, sentindo que nada tinha a fazer, Caroline repentinamente decidiu fazer uma viagem à Grécia. Conhecer esse país sempre fora um sonho de infância e agora que dispunha de meios e liberdade para isso não havia nada que a impedisse.

Com a ajuda de Amanda, fez todos os preparativos, reservando a passagem com alguns dias de antecedência. Na véspera da viagem, escreveu para John, explicando-lhe os motivos do passeio e dando-lhe total liberdade, se é que ele a desejasse. Foi uma carta difícil de ser escrita, e cada tentativa parecia pior do que a anterior. Ela acabara de amassar a quarta versão, quando o telefone começou a tocar.

Ainda não conseguira se acostumar com esse novo conforto e levou um susto com o ruído da campainha. Levantou-se da pol-

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trona, cruzou a sala e pegou o fone, dizendo apressadamente o número do aparelho.

— Quem está falando? É a srta. Sinclair?Durante um momento, ela foi incapaz de reconhecer a voz,

mas depois indagou:— É a sra. Jones?— Sim, sou eu. Oh, que bom que a senhorita está em casa.

Eu tentei falar com John, mas não consegui e depois lembrei que o sr. Steinbeck tinha anotado seu número na agenda dele.

— Mas o que foi? Aconteceu alguma coisa?— Eu recebi um telefonema da sra. Steinbeck, lá de Boston.Ela tentou falar com John primeiro, mas, como não

conseguiu,resolveu ligar para mim.— O que significa tudo isso? — perguntou Caroline,

assustada.— É por causa do sr. Steinbeck, srta. Sinclair. Ele sofreu

um desastre de automóvel e está hospitalizado, perto da casa da mãe.

Caroline sentiu os joelhos tremerem e deixou-se cair numa cadeira estofada ao lado do telefone.

— Ele... está muito ferido, sra. Jones?— A sra. Steinbeck disse que teve alguns cortes no rosto e

que machucou muito o braço esquerdo. Ainda não sabem se há ferimentos internos.

— Oh, meu Deus, sra. Jones! — Caroline sentiu-se mal.— Acalme-se, srta. Sinclair. Não se preocupe demais. Essas

coisas sempre parecem ser muito mais graves do que realmente são.

— A senhora nem imagina o abalo que essa notícia me causa.

— Posso imaginar, sim — replicou a velha senhora. — Sempre achei que a senhorita combinaria melhor com o sr. Steinbeck. John ainda não sabe o que quer da vida.

— Já que a senhora está a par de tudo, poderia me dar o endereço da sra. Steinbeck? — perguntou Caroline, tomando uma

decisão repentina.

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— O que a senhorita pretende fazer? — indagou, depois deCaroline ter anotado o endereço.— Vou deixar um recado para John, dizendo-lhe o que

aconteceu e depois providenciar minha passagem para Boston.— Estou tão contente, srta. Sinclair! E tenho certeza de que

o sr. Steinbeck também vai gostar muito de vê-la.— A senhora acha mesmo?— Lógico! Percebi que ele mudou muito durante os últimos

meses. E, sabe, eu o conheço bem demais, não me engano commuita facilidade.De repente, Caroline percebeu que estava falando sobre

Adam com a governanta e que isso poderia não ser de seu agrado.Despediu-se após agradecer a informação e desligou o telefone. Durante um momento, ficou sentada ali, olhando para o aparelho a

sua frente.Em seguida, começou a organizar os pensamentos. Não

havia nada que pudesse fazer agora. Era preciso esperar ate a manhã seguinte. Sabia que para entrar nos Estados Unidos era preciso um visto de entrada e que só poderia consegui-lo na embaixada norte-americana. Mas, por enquanto, poderia telefonarao aeroporto para saber os horários de vôos.

Quando Amanda chegou em casa, encontrou Caroline andando de um lado para o outro, inquieta.

— O que aconteceu? — perguntou Amanda. — Você está com medo da viagem de amanhã?

Caroline se esquecera completamente da viagem para a Grécia e por causa disso ficou olhando para a amiga durante um momento, sem compreender o que ela queria dizer.

— Céus! — exclamou finalmente. — Eu me esqueci disso! Vou ter de cancelar minha reserva!

— Cancelar? — Agora era a vez de Amanda não compreender o que estava sendo dito. — Por quê?

Caroline explicou tudo e Amanda.— E você acha que é a melhor coisa a ser feita agora?

Quero dizer, não acha que seria melhor esperar um pouco e perguntar a opinião de John a respeito de tudo isso?

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— Não existe mais nada entre mim e John — respondeu Ca-roline. — Eu... estava tentando escrever para ele sobre isso. Mas agora terá de ficar para mais tarde.

— Está bem, parece-me que de nada adiantaria se eu dissesse alguma coisa. Você já decidiu o que vai fazer, não é?

— Sim, já decidi. Ainda bem que tia Bárbara me deixou todo esse dinheiro. Pela primeira vez, acho que ele vai servir para algo realmente importante!

Teresa Steinbeck entrou no quarto que seu filho estava ocu-pando no Hospital Roseberry e sorriu para Adam, que devolveu o sorriso com muito afeto.

— E então, meu bem? — perguntou ela, fechando a porta e dirigindo-se para a cama onde ele estava. — Como está se sentindo agora?

— Bem melhor — respondeu, tentando sorrir. Qualquer movimento facial lhe causava dores, devido aos pontos que recebera do lado esquerdo. Seu rosto estava parcialmente coberto com ataduras, e seu braço esquerdo também havia sido enfaixado.Entretanto, apesar da palidez, seu aspecto era bastante bom.

— Ótimo! — Teresa ficou satisfeita.Quando ela recebera a notícia do acidente ficara muito preo-

cupada, mas, agora que os especialistas tinham confirmado a ine-xistência de quaisquer ferimentos internos, sentia-se aliviada. O acidente fora muito sério. Três adolescentes perderam o controle de um carro, atravessaram a pista e colidiram frontalmente com o carro de Adam. Ele tivera sorte de escapar com vida e sem ferimentos mais sérios. Havia a possibilidade de ficar com uma grande cicatriz no rosto, mas isso não era tão grave, já que poderia se resolver com uma cirurgia plástica.

— Tem notícias de John, mamãe? — perguntou Adam. — Espero que não tenha ligado para ele. Não era necessário.

— Não diga bobagens. Em minha opinião, todo filho tem o direito de saber quando o pai é hospitalizado.

— Depende do pai — replicou secamente. — John e eu nãotemos tido muito que dizer um ao outro nos últimos tempos.

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— Pare de se preocupar tanto com o garoto. Deixe que ele se preocupe um pouco para variar. Isso só lhe fará bem. Ele está ficando egoísta demais, isto sim. Só pensa em si mesmo. Nem ao menos foi capaz de trazer essa garota para que eu a conhecesse antes de ficar noivo.

— Mamãe, é a vida dele. Deixe de dar palpites quando não lhe pedem.

— Mas você não sabia que é exatamente isso o que sou? —disse ela, sorrindo. — Uma velha palpiteira.

— Não acredito nisso e você também não — respondeu ele. — Vamos deixar isso de lado. Sabe quando pretendem me deixar sair daqui?

— Conversei com o doutor e ele disse que, assim que os pontos forem retirados, poderá ir para casa. Tive a impressão de que temem que você venha a ter qualquer reação posterior em virtude do choque.

— Quase uma semana inteira aqui dentro — resmungou ele, suspirando. — Entrar num lugar destes é fácil, sair é que é complicado. Por isso os hospitais sempre rendem fortunas.

— Bem, vai ficar aqui até receber alta, quer queira quer não.Ora, Adam, não faça essa cara de tristeza, afinal, não existe nada urgente esperando por você. Na Inglaterra, não contam com sua volta antes do fim da próxima semana.

— Sim... você tem toda a razão. — Adam desistiu de tentar argumentar com ela. Não adiantava mesmo. Até que os pontos fossem retirados, a melhor solução seria ficar onde estava.

Quando Teresa chegou em casa, dirigindo seu carro, Liza, a empregada, estava a sua espera no saguão.

— Há uma moça aguardando a senhora — informou, preocupada. — Disse que seu nome é srta. Caroline Sinclair e queveio da Inglaterra.

Teresa arqueou as sobrancelhas, lembrando-se de que já ouvira esse nome antes.

— Sinclair... Sinclair... Caroline Sinclair — murmurou, pensativa. — Acho que foi este o nome que Adam mencionou. A noiva de John... Caroline Sinclair... é isto mesmo. John está aí também, Liza?

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— Não, senhora. Apenas a moça.— Ah, sei. E onde ela se encontra?— Na sala de estar. Eu lhe ofereci chá, mas ela recusou.

Teresa franziu outra vez a testa e cruzou o saguão de entradaem direção à sala de estar. Era uma situação estranha,

inesperada, a não ser, é claro, que John estivesse doente e mandara a garota em seu lugar. No momento em que Teresa entrou na sala, Caroline voltou-se, e Teresa pensou nunca ter vistouma moça tão linda em toda sua vida. Sua expressão era de extrema tristeza, e Teresa notou que a preocupação aumentava ainda mais a beleza daquele rosto.

— Srta. Sinclair— disse, cruzando a sala, com a mão estendida.

— Sim, sou eu. — Trocaram um aperto de mãos. — A senhora deve ser a mãe de Adam. A semelhança é muito grande.

Teresa Steinbeck indicou uma poltrona à visitante, onde Ca-roline se acomodou.

— Muito bem, no que posso ser-lhe útil? — perguntou Teresa, instalando-se numa outra poltrona em frente à de Caroline. — Por favor, desculpe-me se eu estiver enganada. Você é a noiva de John, não é?

— No momento, sou sim — Caroline respondeu calmamente. — Mas antes que a senhora me faça quaisquer perguntas, como está Adam?

— Meu filho está internado no Hospital Roseberry — informou Teresa, completamente intrigada com a situação e com as palavras da moça. — Ele sofreu alguns ferimentos no rosto, e seu braço esquerdo ficou seriamente machucado. Fora isso, está muito bem. Ao contrário do que se suspeitou a princípio, não houve qualquer tipo de ferimento interno.

— Graças a Deus! — murmurou Caroline, sentindo que uma onda de alívio inundava seu coração. — Imagino que a senhora esteja intrigada com a ausência de John.

— Srta. Sinclair... ou posso chamá-la de Caroline? — Caroline concordou com um gesto de cabeça, e ela continuou: — Estou numa evidente desvantagem em relação a você. Não compreendo o significado disso tudo. Suponho que John tenha

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ficado muito preocupado com a saúde do pai, mas como ele obviamente não está a seu lado neste momento, não compreendo por que você veio para cá sozinha. Ele está doente?

— Não, não está. Aliás, imagino que, quando soube da notícia, deve também ter decidido vir para cá. A sra. Jones não conseguiu entrar em contato com ele ontem à noite, quando a senhora telefonou, por isso se comunicou comigo. Larguei tudo o que pretendia fazer, peguei o primeiro avião e vim para cá imediatamente. Queria muito ver Adam.

— Bem, tenho certeza de que tudo isso é plausível. Suponho que, depois dessa longa viagem, você esteja cansada e com fome.

— Cansada, sim, com fome, não. Mesmo assim, muito obrigada.

— Seja bem-vinda e considere-se hóspede da casa durante alguns dias se quiser. Pelo menos, até que Adam receba alta do hospital. Se John vier para cá, ele também ficará hospedado aqui.

— Sra. Steinbeck, acho que lhe devo algumas explicações — falou, não sabendo como se expressar e certa de que a mãe de Adam deveria estar achando tudo muito estranho.

— Mais tarde — disse Teresa, levantando-se da poltrona. — Você teve seus motivos para vir até aqui, e, apesar de estar certa de que estão relacionados a meu filho, acho que seria bem melhor você descansar um pouco antes de tentar me explicar a situação. Estou chegando agora do hospital, portanto, ainda dispomos de algumas horas antes podermos ir até lá outra vez.

Caroline sentiu os olhos se encherem de lágrimas. A tensão das últimas horas fora excessiva para seus nervos, e agora a gen-tileza da mãe de Adam deixou-a ainda mais vulnerável, e de tal forma que, apesar de sua timidez, começou a soluçar convulsiva-mente, dando vazão às lágrimas.

Teresa afastou-se um pouco, procurando deixá-la mais à vontade. O choro certamente aliviaria a tensão, deixando-a mais calma. Alguns minutos mais tarde, Caroline conseguiu dominar asemoções e disse:

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— Por favor, desculpe-me. Normalmente, não costumo me comportar de maneira tão dramática. Isto aconteceu simplesmenteporque estou muito nervosa.

— Não se preocupe, meu bem — Teresa tranquilizou-a comum sorriso. — Eu também me debulhei em lágrimas no momento em que descobri que os ferimentos de Adam não eram muito graves. Nós, mulheres, somos criaturas estranhas nessas horas. Mas, a propósito, há quanto tempo conhece meu filho, Caroline?

—Há seis meses aproximadamente — respondeu, meio envergonhada.

— E, pelo que Adam me contou, você e John estão juntos desde janeiro.

— Exato.— Portanto, você conheceu Adam antes de começar a sair

com John — concluiu Teresa.— Sim.— Isso explica muitas coisas.Teresa estava se lembrando de uma visita que Adam lhe

fizera em novembro do ano anterior. Naquela ocasião, ele havia mencionado acidentalmente uma garota que levara para conhecer a casa em Slayford. Entretanto, não aprofundou o assunto, e Teresa teve a impressão de que ele não tivera sequer a intenção dese referir à garota.

Teresa deu-se conta então de que essa atitude era típica de Adam, ou seja, não lhe contar nada. Nunca fora muito de alardear seus sentimentos em relação a qualquer mulher, e seu casamento parecia tê-lo imunizado contra qualquer tipo de afeto mais sério.

A ara. Steinbeck sorriu e levantou-se. Foi em direção à portae a abriu.

— Liza! — chamou. — Mostre o quarto de hóspedes à srta.Sinclair — pediu. — Onde esta a bagagem dela?— No saguão, senhora. Pode deixar que a levarei a seu

quarto. Por aqui, por favor, srta. Sinclair.Caroline anuiu com um gesto de cabeça e levantou-se da

poltrona. Quando passou pela sra. Steinbeck, lançou-lhe um olhar cheio de gratidão.

— Nem sei como agradecer — disse.

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— Você é bem-vinda aqui, meu bem. Além do mais, gostei muito de você e tenho certeza de que ainda iremos ser grandes amigas. — Lançou um olhar para o relógio de pulso. — São quatro e meia agora. Você pode descansar durante algumas horas, depois faremos uma refeição leve antes de irmos para o hospital.

Caroline adormeceu quase que imediatamente e só acordou quando Liza foi chamá-la às seis e meia.

CAPÍTULO VIIIQuando Teresa chegou à sala de estar, percebeu que

Caroline estava lá fora, no terraço, e chamou-a para dentro.— Aceita um pouco de cherry! — perguntou Teresa. —

Conseguiu dormir?— Aceito, sim, e dormi muito bem — respondeu Caroline

às duas perguntas. Em seguida, pegou o copo que Teresa lhe oferecia. — Agora estou me sentindo bem melhor.

— Ótimo. O jantar deverá estar pronto dentro de quinze mi-nutos. Vamos nos sentar para conversarmos um pouco?

— A senhora gostaria que eu lhe explicasse a situação?— Minha querida, confesso que estou morrendo de

curiosidade.— Mesmo assim, acho que a senhora tem todo o direito de

ouvir uma explicação — replicou Caroline com firmeza.— Então, conte — disse Teresa com um sorriso.— Bem — começou Caroline, brincando com o copo entre

os dedos —, encontrei Adam, pela primeira vez, em novembro, por mero acaso, no elevador do Edifício Steinbeck. Na época, eu não tinha a menor idéia de quem ele era. Eu era uma simples dati-lógrafa e estava trabalhando havia apenas algumas semanas na empresa. Quando descobri quem ele era, isto pareceu não fazer diferença alguma. Para mim, ele representava tudo aquilo com o que eu sempre sonhara em um homem. — Ela enrubesceu, e Teresa tomou um gole de seu cherry, permitindo assim que Caroline se recuperasse outra vez. — Depois de alguns dias de

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nosso primeiro encontro, fomos para Slayford. Inesperadamente, John chegou lá para passar o fim de semana com uma namorada dele. Como a senhora pode imaginar, ele não ficou muito contenteem me ver ali e creio que pensou que Adam e eu fossemos amantes. Dias mais tarde, uma série de boatos a respeito de Adame eu começaram a circular dentro da empresa. A senhora sabe como esses boatos podem prejudicar as pessoas, e eu não queria que nosso amor se transformasse em assunto para fofocas. Além disso, Adam era o diretor-presidente da Steinbeck Corporation, e nunca havia ocorrido até então, com ele, qualquer coisa semelhante a isso. Talvez eu tenha sido ingênua, não sei, mas quando um rapaz do escritório me convidou para sair com ele, pensei que, aceitando, estaria colocando um ponto final em todos os rumores e boatos. Quando Adam voltou e foi a meu apartamento, já sabendo que eu havia saído com um rapaz, terminou nosso namoro de uma vez por todas. Foi pavoroso... — Ela interrompeu suas palavras. Sentia a voz insegura.

Após um momento, conseguiu recuperar o controle novamente e prosseguiu:

— Suponho que a situação deva ter sido muito desagradávelpara ele. Outra vez por mero acaso, me encontrei novamente com John. Ele me pareceu bem mais simpático dessa vez, e creio que deve ter pensado a mesma coisa a meu respeito. No começo, con-cordei em sair com ele só porque era filho do homem que eu amava, assim podia manter um certo contato com Adam, sem que ele soubesse disso, é claro. Na ocasião da morte de minha tia, John mostrou muita simpatia e compreensão, e acabou me pedindo em casamento. Ele implorou que me casasse com ele, ou,pelo menos, que ficássemos noivos. Acabei concordando. Provavelmente, estava muito confusa. Porém, o amor que sinto por Adam parece ter tão poucas perspectivas... Fui covarde demais para concordar em aguentar tudo sozinha. Além disso, sabia que se recusasse o pedido de John estaria rompendo todos os contatos com Adam, e isso realmente eu não queria. Será que a senhora é capaz de me entender? Teresa estava com um olhar pensativo. A história que Caroline acabara de lhe contar explicavatudo, e ela estava convencida de que a moça dissera apenas a

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verdade. Tudo era simples demais para ser mentira. Se ela tivesse inventado essa história, certamente teria imaginado alguma maneira mais complicada para explicar a ligação com o outro rapaz. Teresa imaginava muito bem a mágoa que seu filho devia ter sentido com a suposta traição de Caroline. E, além de tudo, essa garota realmente era muito jovem ainda.

— Quantos anos você tem, Caroline? — perguntou repentinamente.

— Dezoito.— O que acontecerá se meu filho continuar se recusando a

acreditar em você?— Honestamente, não acredito que seria capaz de continuar

vivendo sem ele. Não durante a vida toda. Fico horrorizada só de pensar numa possibilidade dessas.

— Eu lhe agradeço por ter-me contado tudo, meu bem. Caroline suspirou, ao mesmo tempo em que colocava o cálice

vazio sobre a bandeja.— E... o que a senhora pensa de toda essa história? —

indagou, juntando toda sua coragem.Teresa a encarou com muita simpatia. Estava convencida de

que essa moça, embora muito jovem, poderia vir a ser ótima com-panheira para Adam. E ela queria que seu filho fosse feliz, que tivesse uma vida normal ao lado de uma esposa, de uma família.

— Acho que meu filho é um homem extremamente teimoso e que você precisará se esforçar muito para que ele aceite tudo o que tem para lhe dizer. Acredito também que ele tema que sua paixão por ele seja passageira.

— A senhora também acha isso?— Não. Você realmente ama meu filho.— Então... isso significa que a senhora não me desaprova?— Não. Aliás, gostaria muito que Adam se casasse

novamente, e que desta vez fosse um casamento feliz. Sua vida aolado de Lídia nunca foi muito boa. Ela era uma pessoa mesquinha,incapaz de ver a vida pelos parâmetros que Adam estava tentando estabelecer na época. E agora temo que ele se julgue completamente auto-suficiente. E você, minha querida, está

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abalando a confiança que ele tem em si mesmo. Gostaria que fosse bem-sueedida. Torço por você.

— Muito obrigada. — Caroline sorriu, trémula.Durante a refeição, Caroline contou mais detalhes sobre sua

história. Teresa sabia que John era uma pessoa bastante instável e a notícia do noivado a deixara surpresa e até mesmo um pouco chocada, principalmente sabendo que ele dava tanto valor à liberdade.

Quando terminaram o jantar, seguiram para o hospital. Caro-line estava morrendo de medo do encontro que deveria ocorrer dentro de mais alguns minutos.

O estilo de construção do hospital era bem moderno. Lá dentro, um elevador transportou Caroline e Teresa até o andar onde estavam localizados os quartos particulares, em que Adam tinha sido internado. Caroline sentiu-se grata pela confiança que Teresa lhe transmitia, pressionando seu cotovelo com os dedos.

Finalmente chegaram à porta do quarto ocupado por Adam, e Teresa parou.

— Agora, entre—felou.com muita firmeza— Vou verificar algumas coisas com a enfermeira de plantão. Prometo não demorar muito.

Caroline cerrou os olhos durante um rápido momento, pedindo ajuda a Deus.

— Oh, sra. Steinbeck, estou tão apavorada!— Vamos, coragem. — Teresa abriu a porta e deixou-a

escancarada. — Boa sorte!Reunindo todas suas forças, Caroline entrou no quarto e

fechou a porta atrás de si Para sua surpresa, a cama estava vazia e Adam estava lendo, sentado numa poltrona ao lado da janela aberta. Ele não levantou os olhos imediatamente, e ela sentiu o coração batendo mais rápido, ao vê-lo diante de si, tão familiar, tão querido. Logo depois, ele levantou os olhos e a viu. Caroline sentiu o sangue subir-lhe as faces.

— Olá, Adam — murmurou. — É maravilhoso poder vê-lo. Como está se sentindo?

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— Tão bem quanto seria de se esperar nestas circunstâncias,como diriam os médicos — respondeu ele, recuperando a compostura. — Por que está aqui? John veio com você?

— Não... pelo menos... ainda não. — Ela não sabia o que dizer. — Eu também recebi o recado de sua mãe. É claro que o transmiti a John e... vim imediatamente para cá.

— Por quê? — A voz de Adam era fria e distante.— Por quê?! — Caroline meneou a cabeça, boquiaberta. —

Por que você acha? — Ela percebeu que sua voz não podia ser com-pletamente controlada. — Porque fiquei muito preocupada com você. Porque eu não tinha a menor idéia se os ferimentos eram graves ou não!

— Que lindo! Caroline, você realmente consegue ser uma surpresa constante para mim. Minha mãe já sabe que está aqui?

— É claro que sim. Fui imediatamente para a casa dela hojeà tarde, assim que cheguei.

— Compreendo. — Ostensivamente, Adam começou a olharpela janela, e Caroline sentiu uma onda de rebelião tomando contadela. Ele não podia ficar indiferente a tudo. Simplesmente não podia!

— Está se sentindo bem, Adam? — perguntou, preocupada,aproximando-se dele.

Ele ficou tenso, olhando para ela, todo seu corpo pulsava de desejo, e tão fortemente que chegava a ser quase irresistível.

— Não — resmungou, com as defesas totalmente abaladas pela doença e pela proximidade física de Caroline. — Não estou me sentindo bem.

Caroline hesitou apenas durante um segundo e depois o abraçou, pressionando o próprio corpo contra o dele.

— Adam — murmurou ela —, por favor...Ele se sentia incapaz de resistir à tentação e procurou os

lábios de Caroline. Faíscas de paixão selaram a aproximação. Ambos sentiam a ausência um do outro.

Quando ele a afastou de si, Caroline não ficou surpresa ao perceber que havia fúria em seus olhos. O que a magoou muito mais foi a expressão de ironia.

— Oh, sim, isto tudo é bastante divertido, não acha?

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— Adam, não diga isso!— O que gostaria que eu lhe dissesse? Alguma coisa bem-

edu-cada, charmosa? Espera que eu caia de joelhos a seus pés? Foi por isso que resolveu ficar noiva de meu filho? Para poder criar situações deste tipo?

— Adam... eu te amo...— Por favor, não minta! — exclamou, exasperado.— Mas é a verdade! — Ela o olhava fixamente. Seus olhos

imploravam que acreditasse nela.Incapaz de aguentar a situação durante mais tempo, Adam

virou-se para o outro lado e sentou-se na poltrona.Caroline, profundamente abalada pelas palavras dele, sem

ter a mínima idéia de seu tormento interior, não sabia o que fazer. Ficou parada onde estava, tentando se acalmar. Foi quase com uma sensação de alívio que percebeu a porta se abrir para Teresa entrar.

Os olhos atentos e observadores examinaram rapidamente Adam e depois Caroline. Em seguida, voltaram a se fixar em Adam. Durante um instante, pareceu ficar preocupada.

Com um sorriso exuberante, ignorou a óbvia tensão existente

entre os dois e falou:— Olá, meu querido. Ficou muito surpreso com a visita deCaroline?— Sim. Fiquei muito surpreso — respondeu secamente.— Vocês dois decerto têm muito o que falar — disse

Caroline calmamente, apesar de a voz estar ainda um pouco trêmula. — Espero pela senhora lá fora, sra. Steinbeck. — Caroline caminhou

em direção à porta.— Está bem, minha querida. Não devo demorar muito

tempo. Teresa esperou um momento, em seguida, ficou olhando pensativamente para Adam.

— E então, Adam? — perguntou.— E então o quê? — replicou, mal-humorado.

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— Acho que é mais do que óbvio — disse Teresa calmamente. —Adam. quero que me responda uma coisa com toda a sinceridade. Está apaixonado por essa moça?

— Isso não é de sua conta, mamãe —- disse friamente.— É sim! — exclamou Teresa, — Você é meu filho, e eu

quero que seja feliz.— Acha que eu seria feliz com ela? — perguntou

ironicamente.— Sim! — respondeu Teresa, um tanto irritada. — Por

Deus, será que não enxerga que ela está apaixonada por você? O que você lhe disse? Estava pálida como um fantasma, quando entrei aqui.

Adam não respondeu imediatamente. Não tinha a menor vontade de discutir assuntos íntimos com a mãe. Qualquer coisa que decidisse deveria partir exclusivamente dele. Ninguém, a não ser ele mesmo, poderia tomar qualquer decisão em seu próprio nome.

— Acredito que já sou suficientemente grande, mamãe, para resolver meus assuntos particulares.

— Mas, Adam...— Já recebeu alguma notícia de John? — Adam

interrompeu-a.— Não. Ainda não recebi notícia alguma. Entretanto,

acredito que provavelmente ele entrará em contato comigo hoje à noite ou no máximo amanhã. Não estou preocupada com isso. Acho que John virá assim que puder.

Depois dessas poucas frases, a conversa entre eles praticamente cessou. Adam estava preocupado, absorto demais em seus pensamentos, e Teresa, por sua vez, estava enfurecida demais para poder demonstrar calma. Ela sentia muita pena de Caroline e resolveu abreviar a visita para poder consolar a moça de alguma forma.

— Não acha que deveria estar deitado, meu filho? — perguntou por fim, levantando-se.

— Tudo no devido tempo. Pretendo me deitar depois que você for embora.

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— Então boa noite, meu querido. E cuide-se! — exclamou Teresa, inclinando-se para beijar-lhe a testa.

Caroline estava a espera da mãe de Adam na sala de espera. Estava muito pálida e parecia muito distante, o que fez com que ficassem em silêncio durante a maior parte do caminho para casa. Teresa estava muito preocupada, tanto com Adam quanto com Caroline.

Quando chegaram a casa, um jovem rapaz desceu correndo os degraus da entrada principal e foi ao encontro delas.

— Oh! É John! — exclamou Teresa.— Olá, amor de minha vida — disse ele, beijando Teresa no

rosto. — Acabei de chegar e, como Liza contou-me que você tinha ido ao hospital, resolvi ir até lá também, para me encontrar com você. É claro que agora não é mais preciso. Como está papai? Acha que devo visitá-lo ainda hoje à noite?

— Em seu lugar, eu não iria lá agora — Teresa respondeu. — Ele está inquieto. Perdeu muito sangue, mas deverá estar bom novamente dentro de alguns dias. Teve alguns ferimentos no rostoe no braço esquerdo, mas nenhum chega a ser muito sério.

— Graças a Deus! — exclamou John, fazendo questão de continuar ignorando a presença de Caroline. — Nesse caso, acho melhor dispensar o táxi que eu havia chamado.

Ele se afastou para fazer isso enquanto Teresa e Caroline en-travam em casa. Os nervos de Caroline estavam à flor da pele. Considerando-se a maneira como John acabara de se comportar, era óbvio que os dois ainda teriam uma discussão muito séria. Após a cena que tivera com Adam, sua única vontade era a de ficar sozinha, e o simples fato de saber que não havia maneira de escapar da conversa com John aumentava seu mal-estar.

John entrou no momento em que sua avó estava saindo do outro lado, e, vendo que estava a sós com Caroline, finalmente se dirigiu a ela.

— Bem, pode me explicar o significado disso tudo? — indagou friamente.

— Sinto muito, mas quero romper nosso noivado, John — disse, com calma. — Por favor, não comece a fazer uma cena.

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Não serei capaz de aguentar isso hoje à noite. Por favor, aceite o anel de volta.

— E qual é a conclusão que devo tirar dessa sua breve expli-cação? Estou certo ao pensar que meu pai voltou a participar do campeonato?

— Não seja tão sarcástico — murmurou.— Então, quer dizer que acertei na mosca? — perguntou

ele. — Por Deus, Caroline, acho que está exagerando em suas pretensões! O que você pensa que meus amigos vão dizer quando ficarem sabendo de tudo? Está me transformando na maior piada do ano!

— Em que pretensão estou exagerando? — protestou ela. — Você sabia desde o princípio que eu não estava certa se queria ou não me casar com você.

— Está enganada se pensa que vou concordar com o rompimento de nosso noivado — respondeu.

— E o que fará para me impedir? — indagou ela. E sem esperar que ele respondesse, continuou: — Onde estava na noite passada, quando sua avó ficou desesperada tentando entrar em contato com você? Estava fazendo um curativo em seu orgulho masculino, ao lado de alguma garote? Afinal de contas, como você mesmo disse, não está acostumado a ser recusado em suas investidas. Acho melhor considerarmos este assunto encerrado — disse abruptamente, entregando-lhe o anel, quando percebeu que Teresa voltava.

— A limonada é uma das bebidas mais refrescantes que existem. Além disso, ela serve também para acalmar os nervos — Teresa falou, depositando uma bandeja com refresco sobre uma mesa. — Aceita um copo, Caroline?

— Sim, obrigada — respondeu e foi sentar-se perto da porta. John também aceitou um copo e se jogou, mal-humorado, numa

das poltronas. Ele estava realmente enfurecido. Tudo o que Caroline lhe dissera era verdade. Tudo parecia indicar que nada mais poderia dar certo entre ambos, e ele continuava profunda-mente ofendido pelo fato de ela abertamente dar preferência a seu pai.

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Caroline sentia-se totalmente vazia por dentro. Estava contente por ter resolvido os problemas pendentes entre ela e John, mas agora nada mais havia para ser feito. Não havia sequer um motivo para permanecer mais tempo naquela casa. Adam a magoara profundamente, e já não era mais noiva de John.

Após terminar de tomar a limonada, Caroline pediu permissão para se retirar. Teresa mostrou-se muito compreensiva e concordou, dizendo que uma noite bem dormida provavelmente a deixaria em boa forma. Quando Caroline chegou a seu quarto, pensou em tomar um avião de volta para Londres no dia seguinte. Ficar mais tempo ali só serviria para tornar as despedidas ainda mais dolorosas para ela, que já estava gostando sinceramente da mãe de Adam. Ela não queria, em hipótese alguma, acabar se envolvendo por laços mais profundos com a velha senhora.

Caroline sentiu vontade de andar, de sair um pouco de casa. A praia era próxima, e, caso chovesse, poderia voltar correndo.

Pegando uma jaqueta, saiu do quarto e desceu as escadas, procurando fazer o mínimo barulho possível. Pôde ouvir as vozes de John e da avó conversando na sala e imaginou se não haveria uma maneira de sair sem que eles a vissem.

Saiu no momento em que Liza apareceu, vinda da cozinha, ecaminhou em direção à praia, não encontrando ninguém durante opercurso.

Cruzou a estrada que passava pela borda superior das falésias e chegou às encostas cobertas de relva que levavam até a praia. Dois promontórios, um de cada lado, limitavam o local, cuja areia parecia ser muito branca e limpa. Caroline sentiu-se reanimada com o cheiro da maresia e começou a descer lentamente pela encosta não muito íngreme. Parecia não haver outro caminho.

Segurando-se cuidadosamente em tufos de grama e enfiandoos calcanhares no solo arenoso para poder se equilibrar melhor, conseguiu descer com bastante facilidade.

A seis metros, aproximadamente, da praia, notou que a encosta coberta de grama acabava ali e que o resto era um barranco de pedra. Horrorizada, Caroline permaneceu exatamente onde estava. Lá de cima, era impossível ver o barranco e desespe-

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rou-se. Envolvida pelos pensamentos, Caroline pisou em falso e acabou caindo na areia. Quando se recobrou do susto, entrou em pânico, pois não sabia como poderia galgar a encosta e chegar à estrada novamente.

Suspirou, sem saber o que fazer. Talvez fosse melhor ficar ali mesmo, até que alguém a encontrasse. Logo em seguida, veio-lhe um outro pensamento, muito mais apavorante: ninguém sabia que ela resolvera passear. Ninguém daria por sua falta antes do café da manhã. De repente, começou a se sentir apavorada. Havia pouquíssimas probabilidades de que alguém passasse por ali durante a noite. Além disso, a tempestade que estava prestes a caircertamente impediria o acesso de outras pessoas ate a praia. Se pelo menos ela tivesse avisado a alguém que pretendia sair para um passeio, em vez de se comportar como uma garotinha idiota!

De repente, sentiu o primeiro pingo da chuva e, simultaneamente, ouviu o forte estrondo de um trovão. A tempestade estava começando a desabar. Desesperada, olhou em torno, na esperança de encontrar um lugar onde pudesse se abrigar, mas não conseguiu avistar nada. Sentindo-se tremendamente perdida, encostou-se na parede de pedra, numa tentativa frustrada de permanecer seca. O clarão de um relâmpagoiluminou a praia, seguindo-se logo depois uma trovoada ameaçadora. Era difícil impedir que as lágrimas aflorassem em seus olhos, porém ela se recusava a permitir que isso acontecesse. Somente ela era culpada pela estúpida situação em que se encontrava e só a ela cabia procurar a melhor solução,

Caroline percebeu que a areia debaixo de seus pés era úmida, firme e não completamente branca. Isso só podia significaruma coisa: quando a maré subia, o mar inundava a praia toda. O medo causou-lhe náuseas. Ah, se não tivesse resolvido sair de casa! Quanto tempo será que ainda lhe restava antes da chegada da maré alta?

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CAPÍTULOIX

Na sala, Teresa Steinbeck consultou o relógio de pulso. Eram quase dez horas da noite, e ela bocejou, sonolenta.

— Meu querido — disse ela, olhando para John —, estou exausta. Foi um dia repleto de acontecimentos.

— E como! — exclamou, mal-humorado. — Acho que vou dormir também.

— Caroline deve ter resolvido dormir — falou Teresa casualmente. — Coitada, acho que será melhor não ir perturbá-la agora. Ela também teve um dia muito difícil.

John não respondeu. Tanto ele quanto sua avó haviam tomado todos os cuidados possíveis para contornar o assunto durante mais de uma hora, e ele não tinha a menor intenção de discuti-lo agora. Estava pensando em ir dormir e deixar as explicações para a manhã seguinte.

Teresa levantou-se, percebera o prolongado silêncio de John em relação à noiva e preferiu não fazer comentário algum a esse respeito. Se ele e Caroline tinham resolvido romper o noivado, elacertamente seria informada disso no devido tempo.

Então, de repente, o telefone começou a tocar insistentemente no saguão.

Teresa assustou-se.— Céus! — exclamou ela. — Quem será a esta hora da

noite?— É o sr. Adam, senhora — disse Liza, segurando o

telefone na mão. — Ele deseja falar com a srta. Caroline.— Agora? — indagou, pegando o fone. — Adam, está

querendo brincar ou o quê?— Não, mamãe, não estou brincando — Adam respondeu

com voz calma. — Quero apenas conversar com Caroline.— Está bem, meu querido, já que você insiste... — Teresa

levantou os ombros, olhando para John com um ar de indecisão, enquanto Liza parecia preocupada.

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— A srta. Sinclair já voltou para casa? — perguntou Liza, com a familiaridade de uma empregada antiga.

— O que você quer dizer com isso, Liza? A srta. Sinclair já foi dormir há mais de uma hora — Teresa falou, surpresa.

— Não, senhora — discordou Liza, com a voz calma e apazi-guante. — Eu mesma a vi sair, não faz nem uma hora. Estou certa de que ainda não voltou.

— E ela levou alguma bagagem, Liza? — perguntou John.— Não vi nenhuma bagagem — disse Liza, procurando se

lembrar melhor. — Mas não tenho certeza.— Suba correndo e verifique — pediu Teresa, cada vez

mais agitada. — Vamos, corra, John!— O que está acontecendo aí? — quis saber Adam. —

Caroline não está?— Bem, não tenho certeza — respondeu Teresa, sem saber

ao certo como continuar a frase.— O que significa tudo isso? — esbravejou ele, do outro

lado da linha.— Bem... parece que ela resolveu sair há mais ou menos

uma hora — explicou Teresa. — Quero dizer, não a vimos quandosaiu. John chegou, e nós estávamos conversando na sala. SomenteLiza percebeu, por acaso, que ela estava saindo daqui.

— E Caroline não disse para onde ia, mamãe? — perguntou Adam.

— Não. Liza não chegou nem sequer a falar com ela. John acaba de subir para ver se as roupas dela ainda estão no quarto

— informou Teresa.— As roupas estão todas aí — John falou, descendo as

escadas.— Onde será que ela se meteu?— Quero falar com John — Adam pediu.— Olá, papai, como vai?— Vamos deixar isso de lado — resmungou Adam. — O

que está acontecendo?— Bem, acho que não faz diferença alguma se você ficar

sabendo de tudo agora. Ela rompeu nosso noivado. Tivemos uma discussão bastante feia, e o resultado foi esse.

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— Então é por causa disso que foi ver se as roupas dela ainda estão aí? Estava com medo que ela tivesse ido embora sem avisar ninguém?

— Sim, eu pensei nisso... Ora, papai, ela pode ter saído paradar um passeio.— Nessa tempestade? — Adam disse, cético. — Se alguma

coisa tiver acontecido a ela... — Sua voz desapareceu nesse momento, e a ligação caiu.

John recolocou o fone no gancho e encarou a avó, pedindo ajuda. Ela acompanhara o desenrolar da conversa entre pai e filho e estava encostada agora na porta da sala.

— Bem, então não havia mais nada que a prendesse a esta casa?

— Está se esquecendo de meu pai — murmurou John.— Se você pensa que ela e Adam se reconciliaram, está

redondamente enganado — Teresa falou.— Mas, então... por que... — ele começou a dizer, sem

compreender direito a situação.— Por que ela resolveu romper o noivado com você? Em

minha opinião, deve ter chegado a conclusão de que não podia se casar com você, estando apaixonada por seu pai. Uma situação dessas nunca pode dar certo.

— Acho que de certa maneira me sinto responsável, quer dizer, se é que ela saiu daqui por algum motivo relacionado com algo que aconteceu entre nós dois.

— Nem pense numa coisa dessas, John! — exclamou Teresa, sentindo um arrepio. — Céus, é possível que ela esteja procurando se esconder da chuva em algum lugar por aí. Mas onde?

— Onde? É a grande pergunta da noite. Bem, acho melhor eu sair por aí e ver se consigo encontrá-la em algum lugar. E possível que tenha resolvido voltar ao hospital.

— E pouco provável. Acha que seu pai teria telefonado se ela estivesse lá?

Nesse ínterim, John fora buscar um agasalho. Enquanto o abotoava, tentava não imaginar o que aconteceria se encontrasse Ca-roline ferida ou... pior ainda. Ele que, entre todas as pessoas,

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deveria ter mostrado maior consideração por seu estado altamenteemotivo fizera exatamente o oposto, brigara com ela.

— Eu deveria ter avisado a senhora quando vi a moça saindo — Liza disse, muito preocupada.

— Não se preocupe com isso — tranquilizou-a Teresa. — Você não podia saber de todas as circunstancias. Vai ver que não há problema algum, Liza. Tenho certeza de que vamos encontrá-ladentro de pouco tempo.

— O que acha de olhar na praia, John? — perguntou Teresa de repente. — Seria a coisa mais natural do mundo se ela se sentisse atraída pelo mar. A vista daqui de cima é muito convidativa.

— Não há cabimento. Além disso, como ela faria para descer a encosta e o barranco de pedra?

— O cartaz não é visível de todos os pontos da estrada — argumentou Teresa, irritada. — Eu sempre disse que esse lugar é muito perigoso. Quanto a descer até a praia, isto não é muito difícil, ela pode ter escorregado e caído, como já aconteceu com muitas outras pessoas antes dela.

— Sua versão para o caso é um bocado melodramática, não,vovó? — indagou ele.

— Oh, meu Deus! — exclamou Teresa, impaciente. — Não fique aí discutindo. Vá procurá-la.

— Não acha que seria bom chamar a polícia? — perguntou,pensativo, pronto para sair.

— Não, não acho a melhor solução — respondeu Teresa, exasperada. — O que diremos à policia? Que uma moça, nossa hóspede, saiu para um passeio e ainda não voltou? Não me parecemotivo para chamar a polícia, não acha? Ou talvez você prefira dizer à polícia que estamos com medo de que ela tenha se suicidado?

— Está bem, está bem. Foi apenas uma pergunta — murmurou ele, abrindo a porta.

Nesse momento, ouviu-se o som de pneus freando diante dacasa, e Teresa levou a mão à boca.— É a polícia! — exclamou ela, mal percebendo o que

estava acontecendo diante de sua casa.

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Ouviu-se o som de passos subindo apressadamente pelos de-graus da escada e, logo em seguida, Adam entrou, vestindo um sobretudo escuro, os cabelos molhados pela água da chuva. Com uma exclamação de alívio, Teresa correu em sua direção e o abraçou.

— Oh, Adam! Estou feliz por você ter vindo. Estamos tão preocupados! Como conseguiu que o deixassem sair do hospital?

— Eles não me deixaram sair. Tive de assinar um termo de responsabilidade — respondeu secamente, olhando para o filho. — Parece-me que vocês ainda não conseguiram encontrá-la, certo?

— Eu ia sair agora para procurá-la — John interveio.— E por onde você pensou em começar a procurá-la? —

perguntou Adam objetivamente, levantando a gola de seu sobretudo, enquanto sua mãe se afastava dele. — Há um táxi esperando aí fora. Talvez fosse bom aproveitarmos esse carro. Está chovendo muito.

— Bem, vovó sugeriu que começássemos pela praia — disse John. — Acha que vale a pena ir até lá?

— Por que a praia? — quis saber, olhando para a mãe.— Caroline estava num estado de depressão muito grande

— explicou ela. — Quando saímos do hospital, hoje à tarde, ela parecia estar muito transtornada e...

— Continue — Adam ordenou.Teresa levantou os ombros, num gesto significativo.— Tenho certeza de que você sabe muito bem do que estou

com medo, não sabe?— Você quer dizer suicídio? Não acredito nessa hipótese.

Outras pessoas poderiam ter pensado nisso, mas não Caroline.— Talvez eu esteja ficando hipersensível — disse ela.— Talvez esteja mesmo — afirmou Adam, mas em seu

rosto havia agora uma expressão preocupada, tensa. Tomando uma decisão rapidamente, continuou; — Muito bem, vamos procurar primeiro na praia. Que horas são agora? A maré alta recobre sempre toda a praia. Se ela estiver lá quando a maré subir,pouco importam as intenções dela ao sair daqui. Acho bom levarmos uma corda.

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— Vovó, a senhora tem uma corda em casa? — perguntou John.

— Devo ter uma no quintal.— Vá buscá-la depressa, mamãe, não temos muito tempo a

perder! — Adam disse, cada vez mais impaciente.

Caroline já perdera a coragem havia algum tempo e ela só não estava histórica graças a sua força de vontade. A maré subia rapidamente e não levaria muito tempo para cobrir também o pe-queno trecho de areia onde ela se encontrava. Pequenos riachos e lagoas estavam se formando a seu redor, e ela pressionava o corpocontra a pedra, como se tivesse esperanças de que ela cedesse, salvando-lhe a vida. Gritara sem parar durante muito tempo, e agora já estava praticamente sem voz. Sabia que não adiantaria ficar gritando, pois ninguém passaria pela estrada lá em cima, massentia uma grande necessidade de ter certeza de não estar perdendo qualquer oportunidade de se salvar, por menor que fosse. Começou a perguntar a si mesma se a água chegaria a uma altura suficiente para afogá-la. A força da água batendo nos ro-chedos poderia ser tão grande que ela acabaria sendo derrubada, eo resultado seria exatamente o mesmo. Ela sabia nadar, mas não contra uma maré que provavelmente a lançaria contra as rochas, além disso, os promontórios de ambos os lados eram compridos demais, impossibilitando qualquer tentativa de contorná-los a nado. E mesmo se não houvesse fortes correntes marítimas ali, o que existiria além dos promontórios? Talvez uma outra sequência de pedras, impedindo assim sua volta ao local onde estava,

A tempestade passara, mas uma chuva fina continuava caindo sem parar. Fazia frio, mas o frio interior era maior ainda. Caroline ouviu um carro se aproximando e pensou que estava imaginando coisas. Os faróis iluminaram a encosta, e o carro estacionou. Ela não acreditava no que via e, logo em seguida, entrou em pânico, pois sentiu as primeiras ondas chegarem a seus tornozelos.

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Como num sonho, ouviu homens descendo do carro, conversando. Reuniu toda a energia da qual ainda dispunha e começou a gritar, no mais elevado volume possível:

— Socorro, por favor, socorro! — As lágrimas escorriam pelo rosto. Eles a ouviram, e, olhando para cima, ela pôde reconhecer as

silhuetas de dois homens delineadas contra os faróis do carro.

— Caroline! — gritou alguém. Era a voz de Adam. Ela seguramente estava sonhando. Naquele instante, ele deveria estar dormindo no hospital.

— Adam — ela chamou, a voz perdendo cada vez mais a intensidade. — Estou aqui em baixo!

Houve um momento de silêncio, e depois ele respondeu:— Está tudo bem, minha querida. Aguente mais um pouco.

Minutos mais tarde, os minutos mais longos da vida de Caroline,um laço feito com uma corda chegou onde ela estava.

Caroline o agarrou com os dedos gelados e trêmulos.— Agora, coloque-o em sua cintura — Adam ordenou. — É

um nó corrediço e vai apertar assim que começarmos a puxá-la para cima. Tente se segurar na corda, para que seu peso não faça com que o nó fique ainda mais apertado, entendeu? Assim que você estiver na parte coberta de grama, poderá andar normalmente, usando a corda apenas como apoio.

— Está certo, Adam — disse ela, com voz rouca, e fez tudo exatamente como ele tinha mandado.

A corda era forte e resistente, e um minuto foi suficiente para que ela pudesse subir. Mal podia acreditar quando percebeu que estava outra vez no topo da falésia.

A aparência de Caroline era lamentável, estava molhada e suja, com os cabelos escorridos, colados ao rosto, os olhos exagerada-mente abertos e ainda amedrontados.

John soltou o nó que ainda prendia a corda em sua cintura e a encarou, envergonhado, mas Caroline só tinha olhos para Adam.

— Caroline — Adam murmurou. — Você é uma garota maluca. — E a puxou para seus braços, sem se importar com o fato de ela estar toda molhada, pressionando-a contra o peito largo

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e esquentando-a um pouco com o próprio corpo. Seu braço ferido foi esquecido e tanto o motorista do táxi quanto John se afastarampor discrição.

Caroline estava abraçada ao homem que amava. Valera a pena sentir todo aquele medo durante a última hora, só pela sensação de estar nos braços de Adam, sabendo que ele se importava com ela.

— Você veio — ela sussurrou, ofegante. — Você veio.— E lógico que vim. Por Deus, Carol, prometa-me que

nunca mais vai fazer uma coisa como esta. Quase enlouqueci de tanta preocupação,

Caroline não respondeu, simplesmente apertou ainda mais o corpo de encontro ao dele. Em seguida, Adam afastou-a de si a contragosto e a levou até o carro.

— Está completamente encharcada — falou ternamente. Logo depois, chegavam à casa dos Steinbeck, Adam, ignorando

a dor violenta em seu braço esquerdo, insistiu em carregá-la até seu quarto. Caroline protestou, dizendo que podia andar, mas ele simplesmente não deu ouvidos a suas palavras.

No saguão de entrada, estava Teresa, pálida, mas aliviada. Ordenou a Liza que os acompanhasse para preparar um bom banho quente à srta. Caroline, Adam deixou-a em seu dormitório e ordenou;

— Muito bem, agora tire a roupa.Imaginando que ele pretendia supervisionar seu banho,

Caroline começou a desabotoar a jaqueta. Nesse momento, Adam disser

— Volto mais tarde. — Os olhos escuros não permitiam queela adivinhasse seus pensamentos. Ao sair, fechou a porta, dei-xando-a só.

Caroline sentiu um prazer enorme, enquanto seu corpo rela-xava. Após aquela extenuante aventura, o banho agiu como um bálsamo sobre seu corpo dolorido. Em seguida, Liza a ajudou a ir para a cama.

Pouco tempo depois de Liza sair, Caroline ouviu uma leve batida na porta, e seu coração começou a pulsar mais rapidamente.

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— Entre — disse ela, com a voz tensa de expectativa, ficando um pouco desapontada quando Teresa apareceu. Esta se aproximou da cama, olhando ternamente para Caroline. Era maravilhoso poder ver aquela moça ali, finalmente sã e salva.

— Minha querida, que susto você nos pregou! — exclamou, sentando-se na borda da cama. — O que a levou a fazer uma coisa dessas?

— Sinto muitíssimo se lhes causei preocupações — desculpou-se.

— Mas, realmente, não era essa minha intenção.— Você não viu o cartaz avisando que a praia é muito

perigosa?— perguntou Teresa.— Que cartaz? Não vi nada. Já era noite, e não devo ter

reparado nele— Graças a Deus, agora está salva! Sempre fui a favor de

que colocassem uma cerca do outro lado da estrada, mas geralmente o cartaz é suficiente para impedir que pessoas estranhas desçam até a praia.

— Sou realmente uma tola! — Caroline disse, suspirando. — Isto tudo não deveria ter acontecido.

— Também não foi tão trágico assim — protestou Teresa com um sorriso. — Acidentes são comuns. Mas estou extremamente feliz em saber que não lhe aconteceu nada mais grave.

— A senhora é muito bondosa. Nunca poderei lhe agradecer o que fez por mim.

— Bobagem! — exclamou Teresa. — Além disso, todas as coisas sempre têm alguma finalidade! Talvez haja um lado bom nisso tudo. Talvez tenha feito alguém perceber certas coisas.

— Há algo que não entendi. Como Adam estava entre as pessoas que foram me procurar? — perguntou repentinamente.

— Ele assinou um termo de responsabilidade no hospital —respondeu Teresa, meneando a cabeça. — Estava muito preocu-pado. Nunca o vi tão perturbado assim.

Quando Teresa foi embora, Caroline se reclinou nos travesseiros, revivendo outra vez os momentos em que Adam a

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encontrou. Depois, resolveu ser racional e baniu as lembranças desua memória.

Subitamente, Caroline levantou os olhos e viu Adam, encostado no batente da porta, observando-a calmamente. Ela enrubesceu. A proximidade física desse homem sempre a deixava perturbada. Quando ele se aproximou mais, pôde perceber que havia calor e afeto em seus olhos. A excitação de Caroline aumentou.

— Sinto muito por ter causado tantas confusões — ela mur-murou suavemente. — Agi como uma tola.

Ele se limitou a sorrir e não a contradisse.— Será que não haverá problemas por você ter saído do

hospital? — perguntou, preocupada. — Afinal, nem chegou a retirar os pontos, não é?

— Pode ficar tranquila, não haverá problemas. Vou dormir aqui esta noite e amanhã voltarei para lá.

— Tem certeza de que não haverá problemas? — perguntou, sentindo-se culpada por qualquer transtorno que acontecesse ao homem que amava.

— Duvido que haja quaisquer problemas — ele respondeu, sem dar muita importância à possibilidade. — Afinal de contas, não sei se você sabe, mas faço parte da diretoria daquele hospital.

— Oh! — Caroline sentiu-se tola outra vez. Ela deveria ter imaginado que pessoas do tipo de Adam Steinbeck não tinham necessidade de se comportar segundo os padrões normais.

— E como está se sentindo agora? Espero que não tenha se resfriado. Teve sorte de nós a encontrarmos logo. Quinze minutos mais tarde, a maré estaria cheia.

— Eu sei — respondeu ela, com um arrepio. — Estava apavorada.

— E com toda a razão — ele disse objetivamente. — Essa praia é extremamente perigosa. É por isso que ninguém a usa. Minha mãe disse que você não viu o cartaz de aviso.

— Pois é, não o vi. Oh, Adam, como você descobriu que eu havia desaparecido?

— Por sorte, telefonei para você, mais ou menos, as dez horas da noite, e foi assim que perceberam que você não estava

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onde deveria estar. Liza viu quando saiu de casa, mas obviamente não achou nada de extraordinário nisto.

— Então ela me viu. — Caroline suspirou. — Eu não estava querendo tomar nenhuma atitude drástica, como sua mãe pensou. Queria simplesmente ficar sozinha para pensar. John e eu... bem, tivemos uma briga muito séria, sabe?

— Sim. Ele já me contou. Foi por causa dessa briga que minha mãe ficou tão preocupada com você.

— Ela é uma mulher muito simpática e compreensiva — disse Ca-roline, com um leve sorriso nos lábios. — Acho que ela gosta de mim.

— Eu também acho — concordou Adam, com a maior naturalidade do mundo. — Aliás, é muito bom ela gostar de você, já que vai ser sua sogra.

— O que você disse? — Caroline não conseguiu acreditar no que acabara de ouvir.

— Estou querendo saber se está disposta a se casar comigo — disse Adam, muito tranquilo. — Preciso muito de você a meu lado.

Caroline arregalou os olhos, incapaz de responder.— Foi por isso que telefonei do hospital — continuou,

afagando-lhe ternamente as mãos. — Queria dizer-lhe logo que cheguei a essa conclusão.

— Oh, Adam! — ela exclamou. — Mal posso acreditar que isso seja verdade!

Então, ele se inclinou e puxou-a para seus braços.— Nesse caso, vou ter de provar minha sinceridade — ele

murmurou com voz rouca, sua boca encontrando a dela para um longo e ardente beijo.

Caroline colocou os braços em torno do pescoço dele, e Adam percebeu que a camisola mal lhe cobria o corpo e que seria muito fácil perder o controle.

— Quando quer se casar comigo? — perguntou ele. — Vai ter de ser logo. Assim que eu conseguir providenciar os documentos necessários.

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— Oh, sim, o mais depressa possível! — ela exclamou, com o rosto vermelho de emoção. — Oh, meu querido, você acredita que eu te amo?

— É lógico que acredito. Estou muito feliz por você não ter desistido completamente de mim. Estou feliz por ter vindo ate aqui.

— Adam... e sobre a história com Mark Davidson?— Esta noite, cheguei a conclusão de que preciso de você.

Não importam quais sejam as consequências — ele falou com toda a sinceridade, beijando suavemente a mão de Caroline. — No entanto, agora há pouco, enquanto você estava tomando banho, minha mãe me contou o que realmente aconteceu.

— Se você tivesse me deixado explicar o que acontecera desde o início...

— Eu sei. Mas o ciúme é uma coisa terrível.— E verdade! E você foi tão teimoso!— Por causa dessa minha teimosia perdemos muito tempo,

mas agora prometo que isso não se repetirá.— Estou tão contente, Adam! Sou a mulher mais feliz do

mundo — sussurrou.— Também estou muito feliz, querida. Beijaram-se mais uma vez.

F I M