[anne mcallister] adorável compromisso

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Adorável Compromisso (Finn's Twins!) Anne McAllister Julia no. 911 Adorável Compromisso “Finn's Twins!” Anne McAllister Copyright © 1996 by Barbara Schenck Originalmente publicado em 1996 pela Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra Título original: Finn's Twins! Tradução: Fábia Cerqueira EDITORA NOVA CULTURAL uma divisão do Círculo do Livro Ltda. Copyright para a língua portuguesa: 1997 CÍRCULO DO LIVRO LTDA. Fotocomposição: Círculo do Livro Impressão e acabamento: Gráfica Círculo Uma família já constituída! Em se tratando do sexo feminino, Phillip MacCauley é um especialista, exceto quando as mulheres em questão são as sobrinhas de seis anos... e gêmeas idênticas! Phillip não está preparado para ser pai, e muito menos das sobrinhas. Isabel tem tudo para ser uma mãe ideal e a solução perfeita. E amável, educada, mas está comprometida com outro homem. Tudo que Phillip precisa fazer é persuadir Isabel de que será divertido se transformarem em pais postiços... assim como será divertido dividir o apartamento com ele em Nova York, seu estilo de vida glamouroso... e sua cama. Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos. Sua distribuição é livre e sua comercialização estritamente proibida. Cultura: um bem universal. - 1 -

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Page 1: [Anne Mcallister] Adorável Compromisso

Adorável Compromisso (Finn's Twins!) Anne McAllisterJulia no. 911Adorável Compromisso

“Finn's Twins!”

Anne McAllister

Copyright © 1996 by Barbara SchenckOriginalmente publicado em 1996

pela Mills & Boon Ltd., Londres, InglaterraTítulo original: Finn's Twins!

Tradução: Fábia CerqueiraEDITORA NOVA CULTURAL

uma divisão do Círculo do Livro Ltda.Copyright para a língua portuguesa: 1997

CÍRCULO DO LIVRO LTDA.Fotocomposição: Círculo do Livro

Impressão e acabamento: Gráfica Círculo

Uma família já constituída!

Em se tratando do sexo feminino, Phillip MacCauley é um especialista, exceto quando as mulheres em questão são as sobrinhas de seis anos... e gêmeas idênticas! Phillip não está preparado para ser pai, e muito menos das sobrinhas.

Isabel tem tudo para ser uma mãe ideal e a solução perfeita. E amável, educada, mas está comprometida com outro homem. Tudo que Phillip precisa fazer é persuadir Isabel de que será divertido se transformarem em pais postiços... assim como será divertido dividir o apartamento com ele em Nova York, seu estilo de vida glamouroso... e sua cama.

Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos. Sua distribuição é livre e sua comercialização estritamente proibida.

Cultura: um bem universal.

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Adorável Compromisso (Finn's Twins!) Anne McAllisterJulia no. 911

PRÓLOGO

O telefone estava tocando há muito mais tempo do que se imaginava.Phillip o ignorou.Levantou-se lentamente, toda a atenção concentrada nos lábios de Angelina

Fiorelli.Passara o dia inteiro trabalhando naquelas ampliações, analisando-as para

encontrar o ângulo perfeito. Começara a sessão de fotos com Angelina no dia anterior e estava previsto mais um dia de trabalho com ela.

Era um conhecido fotógrafo do ramo de fotografias comerciais e, quando tinha uma idéia, insistia e a perseguia. Logo, não seria a insistente campainha do telefone que o interromperia naquele instante.

Inclinou-se para ver mais de perto e esboçou um leve sorriso quando, na luz avermelhada do ambiente sombrio, captou o perfil suave de Fiorelli. Pronto!

Outro toque.Comprimiu os lábios. Onde estaria Strong?Sua auxiliar não podia deixar nenhum de seus irritadiços clientes esperando. Já

eram mais de cinco horas. Por que ainda não atendera o telefone?Os famosos lábios carnudos de Angelina estavam magníficos. Cuidadosamente,

ele tirou a fotografia da solução e, colocando-a na vasilha com água, submergiu uma outra.

O telefone tocou novamente, um meio toque e então parou. Finalmente Phillip concentrou-se na próxima foto daqueles lábios irresistíveis. Ouviu uma pancada enérgica na porta da sala escura.

— Não me interrompa!— Sua irmã na linha.Ele deveria ter imaginado. Meg costumava procurá-lo em momentos

inoportunos desde quando tivera idade suficiente, para começar a falar.— Diga-lhe que ligarei mais tarde.— Já disse, mas ela insiste que precisa falar com você, agora.— Estou ocupado. Diga que estou ocupado. Depois de um breve silêncio, Strong acrescentou:— Meg está chorando.— Droga! — Ele não precisou se esforçar para imagina como Meg, a irmã

caçula, estaria chorando. Já a conhecia muito bem. A voz suave estaria trêmula, o rosto sardento com manchas vermelhas e os grandes olhos azuis inundados de lágrimas Então soluçaria, tentando explicar que estava com um grande problema e precisava de ajuda.

Já conhecia a rotina muito bem. E Strong, alternando a posição de protetora e educadora rigorosa, dependendo da ocasião, não se sentia bem em ver Meg transformando-se em um ser dependente do irmão.

Ele respirou profundamente e, segurando o telefone com firmeza, perguntou com energia:

— O que aconteceu agora?— Oh, Phill. — Ouviu a voz chorosa, tal como esperava. — É Roger!— Que Roger?— Roger de Fontaine. Você o conhece!Ele não tinha a menor idéia de quem seria.— Algum rapaz que acabou de conhecer? — arriscou.— O homem que eu amo, Phill. — A voz trêmula variava de tom, pela emoção.

— É verdade!

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— Sei.— Eles já haviam tido aquele tipo de conversa antes, várias vezes. Ele apoiou o telefone entre a orelha e o ombro e virou-se para contemplar os lábios de Angelina Fiorelli. Aquele ângulo poderia ser ideal, se...

— Se eu pudesse convencê-lo — Meg disse lentamente.— De quê? — Voltou a atenção à irmã, desviando o olhar da boca de Angelina.

— Convencê-lo de quê?— De que o amo.— É só dizer-lhe. — Parecia muito simples. Jamais se apaixonara por alguém,

então nunca precisara confessar seu amor. Se tivesse apaixonado, o diria, sem titubear. Por que Meg sempre tinha de complicar tudo? Especialmente a vida dele!

— Eu gostaria, mas... E as meninas?— Lógico, as meninas. — Ela se referia às filhas, gêmeas, de cabelos ruivos,

faces sardentas, idênticas, com os infelizes nomes de Tansy e Pansy: frutos de uma fase de fantasia de Meg. As crianças teriam cinco ou seis anos. Phillip não sabia com certeza. Não as conhecia. Nunca vira o pai delas também, outro do amores verdadeiros de Meg, cuja relação durara o suficiente para ele a engravidar. As gêmeas tinham três anos quando alguém preocupou-se em comunicar à Meg que ele morrera surfando. Não conseguia lembrar-se de seu nome e duvidava que Meg o lembrasse também.

Meg morava em São Francisco e Phillip, em Nova York. Ela o convidara inúmeras vezes para visitá-la, mas ele nunca fora.

Ter um continente entre eles sempre parecera muito conveniente para Phill. A irmã era extremamente problemática e de qualquer modo, ele não se sentia à vontade com crianças. Nunca convivera com alguma, argumentava. E nem tivera nenhuma. Meg tivera, então deveria assumi-las, ele lhe dissera,

— Eu sei, eu sei — dizia ela. — Mas, se Roger e eu ficarmos algum tempo a sós, tudo será melhor. Ele está ficando impaciente! Se nos casarmos, elas terão um pai.

— Ótima idéia. — Mas preciso convencê-lo.— Contrate uma babá e saia com ele para jantar.— Precisamos mais do que um jantar, Phil. Precisamos de tempo. Dias,

semanas. — Semanas?— Só duas — ela acrescentou rapidamente. — Só para nós dois. Agora que as

meninas estão em férias, é mais difícil ter um tempo livre.— Mande-as para um acampamento.— Acampamento? — Meg parecia em dúvida. — Fica muito caro, não fica? — Não sei.— Suponho que até poderia pensar nisso. — A voz tornou a ficar chorosa. —

Mas odiaria pedir dinheiro a Roger para mandá-las...Meg fez uma pausa.— E você sabe que não posso pedir isso. — Ela nunca tinha dinheiro. A única

vez que tivera algum fora quando Phill lhe arranjara.Como naquele momento.Meg fungou do outro lado da linha. O irmão rangeu os dentes.— Você precisa se virar, Meg — ele disse. — Cresça e seja responsável.Ela fez um som que parecia um soluço.— Estou tentando, já lhe disse, Roger e eu..— Só precisam de tempo.— Sim. Ele será um pai fabuloso, sei que será. — A voz soava como a de uma

menina mimada. — Ele é forte, capaz e muito inteligente.

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Sorte dele, considerando como a irmã era sonhadora e fútil.— Mandarei mil dólares para você — prometeu. — Com certeza, poderá

encontrar um bom acampamento para elas ficarem por duas semanas.— Oh, sim, naturalmente. — Todas as lágrimas da voz secaram. — Sabia que ia

me ajudar. Você é ótimo, Phill. O melhor irmão do mundo!— Sei. Não precisa me agradar. Agrade a Roger. As meninas precisam de um

pai forte e protetor.Deus sabia que precisavam de alguém responsável e de alguém que, além dele,

resolvesse seus problemas.— Eu sei — Meg concordou com humildade. — Você esta absolutamente certo.— Então vá em frente. — Desligou o telefone. Estava satisfeito por haver

ajudado a resolver o último problema da irmãzinha e voltou a atenção para os lábios deliciosos de Angelina Fiorelli.

CAPÍTULO I

O estúdio de Phillip ficava no quarto andar de um velho prédio com fachada de tijolo aparente, na parte alta de Chelsea. Pelo menos, Izzy deduzira que seria o estúdio e não o apartamento onde ele morava. Na placa, colocada detrás da porta de vidro, lia-se: PHILLIP MACCAULEY, FOTROGRAFO, escrito em pequenas letras brancas, o que indicava que, felizmente, o endereço estava certo.

— É um fotógrafo da vida selvagem — Meg lhe dissera, sorridente, ao acompanhá-la até a porta.

— Hum... — murmurou Izzy, olhando à sua volta, pensando que talvez Meg houvesse se enganado. A cidade se espalhava por todos os lados. Mensageiros apressados, guinchos de freios, ruído surdo do metro. Havia ônibus, bicicletas, automóveis, táxis e centenas, não, milhares de pessoas por todos os lados, espaço para algum búfalo perambular. Por certo não cervos ou antílopes a quilômetros dali, o que era incoerente com a atividade que ele dizia exercer, o que quer que Phillip MacCauley dissera à irmã não era problema dela. Tão logo cumprisse sua obrigação, voltaria para Sam. Izzy empurrou a porta com o ombro, pegou a bagagem e dirigiu-se ao elevador, no fim do corredor.

— Vamos, meninas. Duas garotas idênticas, de cabelos ruivos, a seguiram.— É aqui? — Curiosa, Tansy perguntou enquanto olhava à sua volta com os

olhos semi-abertos. O ambiente exalava cheiro de cigarro e outras coisas que Izzy não queria imaginar.

— Tio Phillip mora aqui? — Tansy insistiu. — Claro que não. Tenho certeza de que mora em um lugar agradável — Izzy

respondeu com maior convicção do que realmente sentia. Empurrou as meninas para dentro do elevador e apertou o botão do quarto andar. A porta rangeu ao ser fechada e o elevador subiu vagarosamente. — Aqui deve ser onde ele tira as fotos. Da vida selvagem. De ratos, talvez.

Com um solavanco, o elevador parou no quarto andar, porta finalmente abriu, dando para um hall onde se via uma porta com uma campainha.

Izzy a tocou. Ouviu uma resposta apressada. Empurrou a porta, que se abriu lentamente.

Fotografa a vida selvagem, tudo bem. Só que não o tipo que imaginara. Passando rapidamente pela porta do estúdio, Izzy viu uma grande foto, em preto-e-

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Adorável Compromisso (Finn's Twins!) Anne McAllisterJulia no. 911branco, de uma esfuziante pantera loira com longos cabelos de Rapunzel e quase nada que lhe cobrisse o corpo escultural.

Izzy arregalou os olhos, incrédula.— Posso ajudá-la?Izzy olhou à sua volta. No final da estreita sala de recepção atrás de uma

escrivaninha, estava sentada o oposto da pantera. A mulher teria cinqüenta anos. Cabelos curtos, grisalha e olhos castanhos que pareciam um pouco dilatados por detrás dos óculos, quando olhou para elas.

— Estou aqui para falar com o sr. MacCauley.A mulher parecia desconfiada e Izzy não estranhou a reação.— Você tem... uma entrevista?— Trouxe as meninas.A mulher engoliu em seco, abaixando o olhar para ver as gêmeas.— Oh, meu Deus, não, querida. Precisam ser mais velhas.— Têm seis anos — Izzy começou a explicar. Então se deu conta de que não era

àquilo que a mulher estava se referindo, o que significava que Phillip MacCauley era tão irresponsável quanto a irmã.

— Não estão aqui para serem fotografadas. São as sobrinhas dele.— Sobrinhas? — Os lábios se contraíram, com ar de desaprovação. — Você é...

Meg?— Sou uma vizinha.— Vizinha de quem?— De Meg. Ela mora ao lado de minha casa, em São Francisco. Não somos

amigas ou coisa parecida, mas as menina e eu somos — acrescentou, lançando um olhar carinhoso para as duas. Elas balançaram a cabeça, concordando.

A mulher parecida entorpecida.Izzy decidiu continuar explicando.— Mas quando disseram a Meg que eu vinha a Nova York para encontrar meu

noivo, ela pediu-me que as trouxesse. — Que as trouxesse?— Para o tio — Izzy afirmou, achando que poderia estar havendo algum mal-

entendido. — Para o sr. MacCauley.— Oh, querida. — A mulher contemplou as meninas e então, o telefone.

Hesitante, estendeu a mão para pegar o telefone, mas pareceu mudar de idéia.— Ele não vai gostar disso nem um pouquinho — murmurou. Novamente

estendeu a mão e pegou o telefone, mas antes que começasse a discar, a porta atrás de sua escrivaninha se abriu e um homem surgiu.

O estômago de Izzy se contraiu. O coração acelerou as batidas. Aquele homem lembrava a ilustração que vira em um livro infantil, cuja história de pirata o avô lera para ela.

O rosto de barba cerrada lembrava um pirata. Os traços bem marcados, o queixo firme. O nariz adunco parecia ter estado, um dia, no caminho do punho ou pé de alguém. Vestia um blusão jeans muito gasto, com as mangas arregaçadas, e calça de cambraia em cuja cintura havia três botões desabotoados. Teria aproximadamente um metro e oitenta de altura, apesar de parecer mais alto. Os cabelos espessos sombreavam a pele morena do rosto. Sua energia, ou irritação, se espalhou pelo ambiente. Meg poderia tê-la prevenido de que o irmão tinha uma aura agressiva. Izzy achou que ela não contara nem a metade.

— Onde estão elas? — ele perguntou, parando perto da recepcionista e virando-se rapidamente. — Estão atrasadas.

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— Eu estava...— Ligue para Tony. Se ele pensa que ficarei aqui toda a tarde, enquanto suas

bonecas perambulam por aí, está muito enganado.A recepcionista começou a menear a cabeça.— Já! — ele exigiu. Então recuou, fechando a porta com um estrondo.— O que... — Pansy começou nervosamente, apertando a de Izzy.— Psiu — Izzy sussurrou.A porta tornou a abrir-se. O homem vociferou:— Diga-lhe que se não estiverem aqui em cinco minutos pode esquecer.

Fotografarei as primeiras meninas que passarem por aquela porta. — Apontou para a entrada.

Tansy e Pansy respiravam com dificuldade. Foi naquele momento que Phillip as percebeu. As gêmeas procuraram esconder-se por detrás de Izzy. O pirata pousou o

tempestuoso olhar azul sobre elas.— E quem são vocês? — Então o olhar se fixou em Izzy.— Meu nome é Isabel Rule — apresentou-se com decisão. — Presumo que seja

o sr. MacCauley? Trouxe suas sobrinhas.Ela esperava que Phillip abrisse os abraços para dar-lhe as boas-vindas. Chegou

até a esperar que ele dissesse:— Oh, tem razão, estava previsto que chegariam hoje, não é mesmo? Eu havia

esquecido.No entanto, com expressão perplexa, ele falou:— Trouxe minhas... sobrinhas. — Lívido, olhou para as garotas. — O que você

disse?O olhar de Phillip se estreitou.— Vocês são... as filhas de Meg? Izzy o fitou com ar surpreso.— Não sabia?— Nunca as havia visto na vida — ele afirmou. — O que estão fazendo aqui?— Eu as trouxe para ficarem com você.A recepcionista deu um suspiro.A tempestade no olhar de Phillip transformou-se em um violento furacão.— Para ficar comigo? Está brincando!— Não, realmente não estou.Por um instante, ele permaneceu calado. Passou ambas a mãos pelos cabelos.— Entendi — disse finalmente. Deu um longo suspiro e então fitou-a com ar

divertido e tolerante, levantando o canto dos lábios. — Então, onde está Meg? Escondida no elevado para me fazer uma surpresa?

— Está em Bora Bora — Izzy respondeu.O ar divertido de Phillip se apagou de repente.— O quê?Izzy recuou um passo, quase perdendo o equilíbrio, pois as gêmeas estavam

agarradas em suas pernas. Naquele instante, teve certeza de que não deveria ter aceito a missão.

— Meg viajou ontem à noite com o noivo. Disse-me que você a encorajara a viajar — murmurou, com ar desanimado.

— Aquela tratante...— Sr. MacCauley! — Izzy o interrompeu, reprovando-o. Concordava com o que

ele dissera sobre sua vizinha biruta, mas jamais diria aquilo na frente das crianças.

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Phillip engoliu o resto da frase, colocando as mãos nos bolsos do blusão e dando a volta pela escrivaninha de Daisy, que o observava atentamente por detrás dos óculos.

Ouviu-se o toque da campainha. Automaticamente a recepcionista respondeu. A porta se abriu e duas jovens muito maquiadas e usando minissaias irromperam na sala.

— Oh, Phillip, querido, desculpe-nos pelo atraso! Não imagina como o trânsito está congestionado na Sétima Avenida — disse a mais alta, com a respiração acelerada.

Ambas passaram por Izzy e pelas gêmeas, ignorando-as como se fossem algum móvel. Estavam apressadas em cumprimentá-lo. Beijaram-no em ambas as faces e desmancharam a já despenteada cabeleira de Phillip com seus longos dedos de unhas pintadas.

— Tony mandou-lhe um abraço e agradece muito pelo favor. Onde quer que fiquemos? — A mais baixa já estava tirando a blusa enquanto passava pela porta que Phillip apontara. A mais alta olhou-o demoradamente e seguiu a amiga.

Com ar sério, Phillip fixou o olhar nas gêmeas.— Sentem-se ali — ele pediu, mostrando com o olhar um banco, logo abaixo da

Rapunzel. Elas se apressaram em obedecer.— Você também — disse a Izzy.— Preciso ir embora — ela objetou. — Só pretendia entregá-las...— Sente-se e espere ou as leve com você.Levantando o queixo, Izzy quis argumentar:— Não vou...— Então espere, droga. — Com o queixo também levantado, Phillip reagiu com

firmeza. Eles se olharam fixamente. O olhar de Izzy demonstrava toda a irritação que estava sentindo. — Senão, juro que vou procurá-la... onde quer que esteja.

"E irei mesmo", Phillip pensou mais tarde, enquanto atrapalhava-se com uma das lâmpadas que estava tentando coloca no revelador.

— Ainda não terminou? — uma das moças reclamou. — Estou cansada!— Você está arrumando essas lâmpadas há horas. Já é tarde. Tony estará à nossa

espera às seis.Não havia passado nem uma hora, mas parecera uma eternidade. Phillip

terminou de colocar a lâmpada e deu um passo atrás— Parem de reclamar, pelo amor de Deus.— Mas está calor.— Tony nunca falou que demoraria tanto... ou seria tão chato — a jovem mais

baixa lamentou. — As luzes ferem meus olhos— Azar seu. — Phillip ajeitou a câmera.As moças de Tony faziam movimentos insinuantes com o corpo e os lábios.

Phillip as observava. Provavelmente teria mais trabalho com elas do que imaginara. Nunca as teria aprovado como modelos, exceto pelo fato de que devia um favor a Tony. Fora ele quem convencera Angelina a gastar toda uma tarde no estúdio, em vez de passear por Nova York. Naturalmente, as fotos que tirara foram convenientes para ambos Angelina estava feliz. Àquela era a razão de estar há tanto tempo com as meninas de Tony.

Mas, mesmo assim, preferia estar com as duas moças do que enfrentar o problema que, estava na recepção, à sua espera.

Como Meg pudera aprontar aquilo para ele? O que pensava que faria com um par de meninas de cinco anos, ou teria seis? enquanto ela desfrutava os prazeres de Bora Bora?

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Era evidente o que Meg pensara: que o irmão cuidaria da filhas tão bem quanto sempre cuidara de tudo na vida dela. Bastaria empurrá-las porta adentro e o velho Phillip não teria' outra escolha; a socorreria mais uma vez.

Quando finalmente saíram, Phillip etiquetou atentamente os rolos dos filmes que utilizara e entregaria a Daisy, para enviá-los ao laboratório. Em seguida, arrumou o cenário, guardou as almofadas, levantou as lâmpadas, ajeitou tudo. Procurava adiar o inevitável: as gêmeas.

Ao menos a pessoa que as trouxera ainda estava lá. Ele a, escutava conversar.Ela parecia suficientemente amadurecida, mas não muito velha do que as

gêmeas. Talvez fosse pelas roupas que usava. Parecia que as comprara em um brechó. Era um estilo que lembrava os hippies dos anos 70.

Izzy lembrava algum tipo de cantora popular com longos cabelos castanhos, repartidos no alto da cabeça e o rosto jovial. Tinha a pele bonita, rosada, com algumas sardas. No que pensara Meg ao mandar as gêmeas com uma jovem como aquela? O que pensara ao mandar as crianças?

E como Isabel ousara levantar o queixo e interrompê-lo, reprovando-o por sua linguagem diante delas? Talvez Daisy as levasse para casa até que ele pudesse arrumar um meio de arrancar a irmã e o presumível noivo do paraíso polinésio.

É, era aquilo que faria. Daisy era uma mulher de família. Tinha um marido. Ao menos imaginava que tivesse.

Não haveria problema, Phillip decidiu, procurando tranqüilizar-se. Não demoraria mais do que um ou dois dias para trazer Meg de volta à realidade.

Ao voltar para a recepção, constatou que sua auxiliar desaparecera.— Onde está Daisy? — perguntou, olhando para Isabel Rule.Com certeza, a recepcionista estaria em algum lugar fora de seu raio de visão.A aparentemente tranqüila Isabel estava sentada em uma cadeira próxima ao

grande retrato que ele tirara, no ano anterior, de uma supermodelo, Tawnee Davis. Fora uma oportunidade única ter fotografado a rainha do charme. Fora aclamado no meio profissional por haver destacado as curvas adoráveis de Tawnee e os magníficos cabelos loiros.

Isabel Rule era o oposto. Rechonchuda onde Tawnee tinha curvas, coberta onde Tawnee estava despida. Os cabelos castanhos, exageradamente longos, estavam sem corte e os lábios finos demonstravam mais inocência do que sedução.

Mas ela não parecia estar preocupada com aquilo. Seu olhar encontrou o de Phillip.

— Eu a mandei para casa. — Você... a mandou para casa?— Sim, já passa das sete. A pobre mulher disse que estava aqui desde as oito da

manhã. Ela tem uma vida, ao contrário de você. Autorizei sua saída. Não sofreríamos por isso. Eli precisa cozinhar para Tom.

— Quem é Tom?Isabel lançou-lhe um olhar demorado.— O marido dela. Pobre mulher, a seus pés todos os dias! Ela me contou que o

marido é policial.O marido de Daisy chamava-se Tom? Era um policial? Nunca soubera daquilo.

De fato, tudo o que sabia sobre Daisy, nos sete anos que trabalhava para ele, era que nunca ficara doente. Era eficiente e mantinha o estúdio organizado mesmo quando o mundo estava desabando.

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Phillip olhou à sua volta, tentando encontrar um apoio. Um das gêmeas o olhava através das lentes de uma antiga câmera Kodak que ele guardava sobre uma prateleira, perto da porta

— Guarde isso — ele mandou.A menina não parecia tão medrosa quanto a irmã. Obedeceu colocando a câmera

em seu devido lugar, mas não correu para esconder-se atrás de Isabel. Em vez disso, encarou-o solenemente

— Por quê?— Porque não é um brinquedo.— Eu não estava brincando. — O vivos olhos verdes encontraram-se com os

dele.— O que estava fazendo?— Focalizando um animal.— Tansy!— Foi o que você me falou para fazer. Você disse para iso... iso...— Isolar — Isabel completou, desolada. Tansy concordou com um gesto de cabeça.— Certo. Isolando as coisas que assustam, elas não assustarão novamente — a

menina concluiu, dirigindo o olhar na direção de Phillip. — Você tem razão.Ele se sentiu como se a tivesse mordido.— Não vou assustá-la mais — prometeu à criança. Tansy balançou a cabeça com resolução.Phillip dirigiu o olhar para a outra menina, que estava atrás de Isabel.— E você? Está assustada? — Ele viu o olhar severo que Tansy dirigiu à irmã.— Não — respondeu a outra, obviamente Pansy.— Deveria estar.— Sr. MacCauley! Ele dirigiu-lhe um sorriso brando.— Sim?— Pare de ficar assustando as meninas! Deveria estar envergonhado de as

intimidar com sua ferocidade.— Ferocidade?Isabel apertou os lábios. Então virou-se para as crianças e disse firmemente:— Ele está brincando.— Agora, espere um minuto... — Phillip pediu, franzindo a testa.— Tansy — Isabel continuou, ignorando-o. — Foi esperta descobrir que ele não

é tão feroz.— Ah, mas eu sou, e muito!Todas as três o olharam fixamente. As gêmeas, com os queixos trêmulos, e

Isabel, com as sobrancelhas castanhas contraídas em visível desaprovação por sua hostilidade.

Phillip a olhou com ar carrancudo. O calor do embaraço queimava--lhe o pescoço e o sangue fervilhava. Nem mesmo a pele bronzeada foi capaz de impedir que Isabel percebesse seu rubor.

Ele murmurou alguma coisa e se virou. Foi quando se lembrou de que não havia ninguém que pudesse ficar com as meninas.

Exceto, aí seus olhos vagaram pelos lados, srta. Isabel Rule.Seria uma senhorita? Olhou atentamente, tentando descobrir se usava aliança,

mas Izzy estava com as mãos nos bolsos barraca de circo que usava como saia. Seus olhares se encontraram.

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— Bom, eu não posso ficar com elas — Phillip disse abruptamente.— Mas Meg disse...— Não é a primeira vez que Meg erra.Estendendo as mãos, mostrando o estúdio com um gesto largo, continuou:— Você está vendo algumas bonecas? Blocos? Quebra-cabeças ou quaisquer

outros brinquedos? Não, não está. Por quê? Porque aqui não é um recanto infantil. Repito, não é um recanto infantil. Não posso ficar com elas.

— Você é o tio delas — Isabel afirmou calmamente. — Elas não tem mais ninguém.

— Têm você.— Eu?— Por que não? Você as trouxe.— Porque sou uma idiota. Porque Meg me pediu.O que significava que era mais uma vítima de Meg, tal como ele. Em

circunstâncias normais, a declaração de Izzy teria despertado nele uma certa simpatia, mas, naquela situação, ele precisava tirar vantagem de qualquer jeito.

— Poderia ter-se negado — ele observou.— Pensei que estivesse esperando por elas.— Acha que concordaria em ser babá? Com certeza, você achou que autorizei a

vinda delas e que passariam o dia no estúdio, sentadas, vendo-me trabalhar?— Ela me contou que você tirava fotos da vida selvagem... As mãos de Phillip se apertaram em um movimento tenso.— Ela queimará no inferno... As meninas estavam atentas. Isabel lançou-lhe um olhar furioso.— Chega. Agora as aterrorizou. Ela não vai queimar em lugar algum, crianças

— Isabel as tranqüilizou. — Ela é boa e vocês também são. Seu tio está simplesmente preocupado. Obviamente não é tão flexível quanto deveria ser.

Um outro olhar reprovador foi lançado na direção dele.— Isso não quer dizer que não as ame e que não as queira — Naquele momento,

ela o fulminou com um olhar que prometia morte instantânea se ousasse contradizê-la. — Ele só precisa acostumar-se com a mudança de sua vida.

— Nossas vidas.Uma minúscula linha apareceu entre as sobrancelhas castanhas de Isabel.— O que está dizendo?— Quer tudo em ordem? Quer as crianças calmas, instaladas e seguras? Muito

bom. Mas não é só minha vida que esta mudando. Se elas serão minhas por duas semanas, serão suas também, Isabel Rule.

CAPÍTULO II

Izzy acompanhou Phillip. As gêmeas mostraram-se apavoradas ante a possibilidade de ela abandoná-las com o tio. Além disso, sentia-se moralmente obrigada a ter certeza de que Phillip MacCauley não era tão agressivo como demonstrara.

Izzy esforçava-se para acompanhar os passos largos de Phillip por uma das calçadas da Amsterdam Avenue.

Este reclamara e dera ordens durante todo o percurso. Repreendeu as meninas quando demonstraram preguiça e demonstrou estar descontente por ser obrigado a chamar um táxi quando o metro seria mais rápido e barato.

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— Não com a bagagem — Izzy argumentara. Phillip resmungou ao ter de colocar e tirar as malas do elevador quando finalmente decidiu levá-las para casa. Precisaram descer do táxi dois quarteirões antes do prédio de seu apartamento, na West Side, porque ficaram presos no tráfego, sem esperanças de conseguir ir em frente.

Izzy olhou à sua volta, assegurou-se de que as meninas não estavam olhando, e deu-lhe um pontapé na canela.

— Que diabos está fazendo?— Chutando você. — Ela esboçou um sorriso forçado. Phillip sentiu-se culpado. Olhou para trás, para as meninas que estavam

observando um rapaz passando rapidamente de patins, entre as pessoas na calçada.— Elas não estão se importando — ele murmurou. — Não estão? — E o chutou novamente. — Oh, que droga! — Ele inclinou-se para massagear a perna e olhou

furiosamente para Izzy. — Você usa sapatos com bico de aço?— Por acaso, não — murmurou. Ela continuou seguindo a um passo atrás dele

até que, ao virar a esquina, Phillip diminuiu o passo, colocando-se a seu lado.— Sei que está contrariado. Mas não deve demonstrar. Não é culpa das meninas,

mas da mãe, que é uma...Izzy tentou encontrar uma palavra mais adequada e educada.— Fútil? — ele colaborou. — Irresponsável? Ou prefere que sugira algo mais

forte?Izzy tentou disfarçar um sorriso.— Bem, eu não chegaria a tanto, mas...— Mas eu sim — Phillip disse com voz sombria. Izzy reconheceu a voz da experiência.— Meg não pretende ser tão irresponsável. É, realmente, muito querida —

justificou. — Engraçada, dócil, alegre...— Generosa? — Phillip acrescentou com ironia. Izzy não conseguiu conter o riso.— A maneira dela.Phillip dirigiu-se à porta de um prédio, no meio do quarteirão. Colocando a

carga no chão, pegou a chave no bolso. As gêmeas se apressarem em ficar ao lado de Izzy, olhando-o enquanto destrancava a porta e a abria.

— Terceiro andar — ele avisou. — Para a frente, marchem! O apartamento tinha todas as paredes de tijolo aparente. Izzy notou em seguida

que tinha vários cômodos. Havia uma grande varanda com portas-balcão na frente e portas francesas abrindo-se para um pequeno terraço, nos fundos. A cozinha, no fim do corredor, era pequena, mas eficiente, com armários brancos e azulejos verdes. O hall de entrada dava para uma grande sala com piso de tacos de madeira, parcialmente encoberto por um grande tapete preto e branco. Na parede, fotos, mas não como aquelas do estúdio. Eram fotos de lontras em um lago tranqüilo, um cervo comendo sossegadamente em uma clareira e um lobo uivando para a lua. Izzy parou para admirá-las.

— Mexa-se ou se perderá, senhorita! — Phillip murmurou por detrás dela, conduzindo-a na direção de um outro cômodo. Colocou a bagagem no chão e se endireitou, contorcendo-se dramaticamente.

— Não estão tão pesadas — Izzy comentou com azedume. — Eu as carreguei por toda a viagem, sempre que era necessário.

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Continuou a explorar o apartamento. Nunca vira um lugar como aquele. Morara em São Francisco desde que ficara órfã e fora viver com o avô, quando tinha sete anos. Era um lar confuso e desorganizado. De maneira nenhuma igual àquele.

Izzy viu um arranjo de móveis aconchegante, mais íntimo. Havia uma poltrona, uma cadeira estofada, várias estantes. Todos de muito boa qualidade. Da janela, viu que o terraço tinha uma pequena mesa com duas cadeiras e, como vista, o jardim do prédio. Não era muito, mas esteticamente mais agradável do que os telhados empoeirados que ela via pela janela de seu quarto a cada manhã.

— Terminou a exploração? Izzy virou-se.— As modelos que convida para visitá-lo também fazem isso?Os profundos olhos azuis de Phillip deram-lhe uma piscada. Isso é o que dá ficar

bisbilhotando, pensou.— Vocês dormirão no andar de cima — ele avisou enquanto pegava as malas,

mais uma vez. — Venha.Ela permaneceu parada até que Phillip se virou, a meio caminho da escada, para

determinar: — Você também. Não dormirá aqui embaixo. — Não vou dormir em lugar algum — ela retrucou. — Estou saindo...— Se sair, elas irão com você. Eu avisei.— Mas não posso ficar. Tenho minha própria vida.— Eu também. Assunto encerrado.Eles se olharam por um tempo, em silêncio. Então, Phillip perguntou:— Qual vida? O que a trouxe até Nova York?— Vou me casar.— Você? — Olhou-a de cima a baixo com tal incredulidade que Izzy sentiu

vontade de esganá-lo.— Sim, eu. Tem alguma objeção? Phillip sorriu.— Conseguiu agarrar um noivo?Pela maneira de falar, ele achava que nenhum homem, em seu juízo perfeito,

poderia se casar com uma garota como ela. Izzy rangeu os dentes.— Sim. Agarrei um noivo e pretendo vê-lo ainda esta noite, então, queira

desculpar-me...Foi a vez de Phillip MacCauley ranger os dentes.— Não pode — ele insistiu. — Ainda não. Ao menos ajude-me a acomodá-las.

Jante conosco. Leia uma história para elas. Coloque-as na cama.Phillip parecia um pouco desesperado.Izzy não queria encontrar-se com Sam muito tarde, naquela noite. Ele nem a

estava esperando. Não lhe dissera com certeza em que dia chegaria. Pretendia fazer-lhe uma surpresa. No entanto, tinha também uma certa obrigação com as meninas. Mesmo se Phillip fosse o melhor tio do mundo, ela se sentiria um pouco apreensiva em deixá-las com um homem que não conheciam.

— Até que estejam na cama — Izzy concordou.Phillip deu um longo suspiro. Olhava para as duas menininhas que o fitavam,

ainda assustadas.— Venham comigo — ele as convidou e seguiu em direção à escada.Izzy ficou observando. Ao ouvi-lo reclamar de algo com as meninas, apressou-se

em juntar-se a eles.— Seja gentil — ela propôs.

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— Ninguém é gentil comigo. Qual daquelas malas é sua?— A pequena. A grande é das meninas. Levarei a minha para baixo.Ela mal teve tempo de pegar a mala quando Tansy disse:— Que legal! Olhe para isso!Phillip imediatamente estendeu a mão e puxou a menina para fora daquele

quarto, fechando a porta com um estrondo— Por aqui — disse ele, empurrando-a para o outro quarto Izzy esboçou um

sorriso. Seria um rubor que estaria aflorando nas faces bronzeadas de Phillip?— Agora vamos descer — ele estabeleceu, empurrando-as à sua frente.Quando estavam no andar de baixo, pareceu que a energia dele se esgotara.

Calado, olhava para elas.— Jantar? — Izzy sugeriu. — Meninas vocês estão com fome? Tansy e Pansy concordaram, balançando a cabeça. Phillip acatou a sugestão

como alguém lutando para preservar a vida. Dirigiu-se à cozinha, abriu a porta da geladeira, inclinou-se para procurar algo que pudessem comer.

As crianças se adiantaram, ficando ao lado dele. Finalmente Tansy se aventurou:— Não tem muita coisa. Leite, cerveja e... O que é aquilo?— Picles. — Phillip fechou a porta da geladeira. Lançou a Izzy um olhar de

pesar. — Não estava esperando por ninguém.— Que tal sairmos? As duas meninas pularam de alegria.— Oba! — Pansy exclamou. — Moo goo gai pan! — O que é isso? — Phillip se surpreendeu. — É um restaurante chinês que fica na frente da casa delas. Onde Meg

costumava levá-las com freqüência.— Está bem, vamos. Estão prontas, meninas? — disse ele, lançando-lhes um

sorriso tímido e dirigindo-se à porta de saída.O caminho até o restaurante chinês, que ficava a três quarteirões do prédio, foi o

esforço final para as duas menininhas cansadas.A viagem fora muito longa e o encontro traumático com o tio, seguido de longas

caminhadas, fora o suficiente para derrubá-las.Sonolentas, pouco comeram do prato preferido. Quando a cabeça de Tansy

começou a balançar para cima e para baixo e finalmente mergulhou na mesa, Izzy disse: — Acho que já estão satisfeitas.Pansy já estava cochilando na cadeira havia uns dez minutos. Phillip, que

permanecera em silêncio desde que se sentaram, disse:— Essa é boa! Precisarei carregá-las escada acima ou elas acordarão?A maneira como falou deixou claro que gostaria de evitar aquilo.— Acho que precisará carregá-las. Quando pegam no sono, em geral morrem

para o mundo.— Você tem bastante experiência com elas, não? Izzy encolheu os ombros.— Elas ficaram conosco várias vezes. — Levantou-se, levou seu prato para o

balcão e voltou para pegar os das meninas. Phillip ainda estava sentado à mesa, olhando-a. Ela evitou o olhar, fixando o seu sobre a mesa vazia.

Finalmente, ele afastou a cadeira e deu a volta na mesa para pegar Tansy. Parecia embaraçado e, desajeitadamente, inclinou-se para pegá-la. Endireitou-se e seguiu em direção à saída.

Izzy o acompanhou, levando Pansy. No quarto, havia uma grande cama de casal, coberta com uma colcha azul.

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Phillip colocou Tansy na cama. Enquanto Izzy puxava as cobertas para um lado e pegava a mala, ele desceu para pegar Pansy, que ficara na sala.

Izzy estava vestindo a camisola de algodão na sonolenta Tansy quando ele voltou com a irmã, aconchegada nos braços. Deitou-a no outro lado da cama. Silenciosamente, ficou observando Izzy, que começou a tirar a blusa e o short da outra menina, vestindo-a em seguida com a camisola estampada com pequenas flores. Então as cobriu com a colcha azul.

— Deveríamos ter insistido para que escovassem os dentes — Izzy lembrou, quando se inclinou para beijar a testa de cada uma. — Mas imagino que sobreviverão uma noite se não o fizerem. As escovas de dentes estão na mala. Acho que não terá dificuldade em encontrá-las.

Ela lançou um sorriso confiante para Phillip e recuou um passo, esperando que ele desse um beijo nas meninas.

Phillip permaneceu em pé junto à porta, olhando para os dois corpinhos na cama enorme. Sua expressão era enigmática. Finalmente, levantou a cabeça, passou uma mão pelos cabelos, virou-se e saiu do quarto.

Izzy observou-o em silêncio.As garotas não perceberam que ele não as beijara. Provavelmente, Pansy ficaria

aliviada, mas mesmo assim..."Bem, não é problema meu", Izzy disse para si mesma quando apagou a luz. "Fiz

minha parte". E era verdade, mas gostaria de estar se sentindo melhor ao deixar as crianças com o tio. Queria que, ao menos, ele as houvesse beijado.

Phillip, junto à janela, olhava a pálida noite de verão, quando, ela desceu as escadas. Ele enfiara as mãos nos bolsos da frente do blusão surrado e seus ombros estavam levemente abaixados. Uma pequena mecha dos cabelos escuros caía-lhe na testa. Não parecia, naquele momento, um pirata, a menos que fosse um pirata cujo navio houvesse acabado de naufragar.

Izzy gostaria de ter falado alguma palavra carinhosa, mas sentiu-se constrangida.— Eu... realmente preciso ir agora. Ele se virou.— Um rato abandonando o navio que está a pique — lamentou.— Você se sairá bem. — Tentou animá-lo. Phillip balançou a cabeça, concordando.— Sim, claro. Parece que elas acham que vou matá-las.— Vão se acalmar. Não será de repente, mas deveria tentar não ter a mesma

atitude que teve hoje, durante o jantar. — Não disse uma palavra no jantar.— O que foi um progresso — Izzy continuou, decidida a lembrá-lo de seu dever:

— Entendo que foi um choque para você. Não sabia que Meg não o havia prevenido.— Meg é assim. Choque instantâneo.— Com certeza conhece alguém que possa cuidar delas para você?Phillip arqueou as sobrancelhas.— Daisy. Embora não ache que dê certo. Parece que ela também não tem muito

jeito com crianças.— Parece mesmo — Izzy concordou. Phillip afastou o cabelo da testa.— Serão somente duas semanas. Tire férias — Izzy sugeriu. — Só isso? Deixe os compromissos de lado e... Izzy o interrompeu com uma exclamação e apressadamente pegou a bolsa e

começou a procurar algo dentro dela.

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— Quase esqueci. Meg pediu-me para entregar uma carta para você. — Tirou da bolsa o envelope amassado que, em vista da responsabilidade de entregar as crianças, acabara se esquecendo.

Depois de entregá-lo, fechou a bolsa, colocou-a no ombro e caminhou em direção à porta.

Phillip abriu o envelope e começou a ler. Disse um palavrão. Um palavrão muito pesado e, em seguida, outro, pior ainda.

Izzy virou a cabeça para olhá-lo. Ele olhava para a carta em suas mãos. Fechando os punhos, amassou-a.

— Ela não pode fazer isso! Eu não deixarei!Izzy piscou e então se deu conta de que Meg poderia haver se utilizado da carta

para informá-lo de que estava planejando casar-se com Roger.— Talvez não seja tão mau assim! O casamento poderá ser uma solução para as

garotas.— Casamento? — Phillip a olhou fixamente. — Elas só tem seis...— Não é isso? Meg não lhe contou que vai se casar com Roger? — Eu quero que ela se case com Roger.— Então o que o está importunando? — Porque vai se casar com Roger, mas viu que se enganou com relação a ele.

Percebeu que não é suficientemente seguro e estável para a paternidade. — Mais uma vez os olhos de Phillip se fixaram nos de Izzy. — Ela está me dando custódia permanente das meninas.

Não era sua culpa, nem sua obrigação. Não era responsável por ninguém ali. Nem por Tansy. Nem por Pansy. Nem pele pirata de cabelos pretos, Izzy pensou, olhando para o vazio.

Sair imediatamente para encontrar-se com Sam, aquela sim era sua obrigação.Queria ficar com o noivo e assumirem juntos um compromisso, finalmente.Mas não poderia deixar de se preocupar com Phillip MacCauley e as sobrinhas.

O que aconteceria quando as meninas acordassem? Teriam pesadelos? Phillip saberia o que fazer caso tivessem?

Quando o táxi passava pelo Central Park, em direção a prédio de apartamentos onde Sam morava, Izzy percebeu que estava mais preocupada ainda.

Quando o carro parou diante do elegante edifício na Quinta Avenida, ocorreu a Izzy uma outra preocupação.

Deveria ter avisado Sam, por telefone ou carta, que estava chegando?Mas Sam sempre aparecera de surpresa a sua porta. Jamais a avisara. Realmente,

cada vez que ele apareceu em sua vida veio sem anunciar. Surgia sempre na soleira da porta, com um ramo de flores na mão e um sorriso maroto no rosto, determinado a envolvê-la em algum tipo de programa louco e romântico. Bem, aquela seria a sua vez.

Mas, ao observar a fachada de mármore do edifício, ocorreu-lhe um outro pensamento. Nunca se preocupara, até aquele momento, em saber como seria a casa de Sam. Quando vira o prédio, com fachada de tijolos aparentes, onde Phillip morava, achou que fosse o tipo de lugar que Sam poderia considerar como um lar e que a agradava.

O prédio que via através do vidro do táxi não tinha fachada de tijolos. Naquela avenida parecia que todos os prédios eram maiores e luxuosos, com adornos de ferro fundido sobre as altas janelas e pesadas portas duplas sob os toldos. E todos pareciam ter porteiros.

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— E este, senhorita — o motorista avisou.Ela se atrapalhou com a bolsa ao tirar o dinheiro para pagar o táxi. Então,

segurando a maleta junto ao peito, inclinou-se e desembarcou. O carro saiu rapidamente, deixando-a sozinha. Em pé na calçada, olhava para a pesada porta de carvalho e vidro sobre a qual estava o grande número dourado, o endereço para onde sempre enviara suas cartas a Sam.

Sempre identificara Sam como um príncipe encantado, mas nunca pensou que morasse em algum lugar parecido com um castelo. Por que ele não lhe contara?

Porque Sam não se importava com aquilo. Era ela quem importava.Hesitante, Izzy aproximou-se da porta e parou a alguns passos dela. Tentou

analisar como seus cabelos estariam naquele momento. Por que não se lembrara de penteá-los quando saíra do apartamento de Phillip? Começou a procurar um pente na bolsa quando foi abalroada por duas mulheres jovens, muito elegantes, que passaram em direção à porta. Seus cabelos estavam penteados. Na verdade, nenhum fio estava fora do lugar. Izzy tocou os seus novamente, sentindo-os embaraçados. Mordeu o lábio. Elas usavam batom, também, Izzy percebeu quando se viraram e sorriram, uma para a outra.

— Era ouro. Sam o viu na Tiffany’s. Ele me contou. — Izzy ouviu uma delas dizer.

— Não! De jeito nenhum! — a outra replicou, dando uma risada musical. Não havia outra palavra para descrevê-la: era musical. E Tiffany's? Sam foi à Tiffany’s?

Então a porta foi aberta, não porque elas estendessem a mão para abri-la, mas porque o porteiro, tal como Izzy receava, puxou-a e a manteve aberta para elas entrarem.

— Boa noite, Miss Talbot, Miss Sutcliffe — ele as cumprimentou, inclinando-se levemente.

Izzy arregalou os olhos.A porta se fechou, porém não antes de o porteiro lançar-lhe um olhar severo. Era

quase como se houvesse dito:— Vá embora. Não fique parada aí.Izzy sentiu um tremor se espalhando pelo corpo.Caminhou até a porta.Ela não se abriu. Foi Izzy quem abriu a porta. Pela metade. O porteiro que a

observava segurou a maçaneta, do outro lado, e a impediu de abri-la totalmente.— Sim?— Vou visitar Sam Fletcher, por favor.— O sr. Fletcher saiu.— Para onde? O porteiro não respondeu. Discrição era provavelmente seu primeiro nome.— Por quanto tempo? — ela perguntou mais uma vez, sem conseguir resposta.

— Sei que ele viaja e não me dei conta de que pudesse estar fora da cidade, agora. Somos... velhos amigos.

Ela não achou, nem por um segundo, que o sr. Camisa Engomada acreditaria que ela e Sam fossem comprometidos.

— Sou de São Francisco e ele costuma me visitar quando passa pela cidade e...Izzy interrompeu a explicação abruptamente, imaginando o que o porteiro

poderia estar pensando a respeito.Antes que ele pudesse tirar qualquer conclusão, uma senhora de idade, bem

vestida — aliás eram todas, pensou Izzy — saiu do elevador. Olhou para Izzy com expressão inquisitiva e desviou o olhar para fixá-lo no porteiro.

— Poderia chamar um táxi para mim, Travers?

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— Sim, senhora. — Segurou a porta para ela passar e saiu em seguida. Parou um táxi e abriu a porta para ela entrar.

— Boa noite, sra. Fletcher — disse ele, quando o carro saiu. Então virou-se e olhou para Izzy.

— Sra. Fletcher?Ele concordou com a cabeça. Havia a leve menção de um sorriso em sua face.— É parente de Sam? — Graças a Deus ela não dissera que eram

comprometidos, mesmo sendo verdade.— É sua mãe. Posso chamar um táxi para a senhorita? Izzy sentiu um nó na garganta. Olhou para os dedos dos pés, expostos pela

abertura da sandália. Repentinamente pareceram muito expostos. Muito inadequados àquele mundo que era o de Sam.

Ocorreu-lhe que pouco sabia sobre ele. Era neto do melhor amigo de seu avô, o homem cuja vida salvara durante a segunda Guerra. Haviam se correspondido por anos. Aquela era razão por que Sam procurara Gordon Rule em sua viagem a São Francisco, havia cinco anos. Sam quisera encontrar homem que salvara a vida do avô.

— De uma certa maneira, seu avô salvou a minha também — dissera a Izzy.Aquele fora o primeiro dos muitos encontros, todos no final das viagens a

negócio, durante os quais eles se apaixonaram. Só que Izzy não sabia nada sobre a vida de Sam em Nova York. Simplesmente esperava que ele tivesse um padrão de vida semelhante ao seu.

Como se enganara!Quem sabe fora até bom não tê-lo encontrado em casa, Izzy pensava naquele

instante. Imaginou que ele ficaria embaraçado se ela aparecesse na soleira de sua porta, não, no seu hall de mármore, sem avisá-lo. Não queria constrangê-lo. Repentinamente, ficou muito aflita.

— Senhorita?Ela olhou para cima, dando-se conta de que o porteiro ainda estava à espera de

sua resposta.— Não, obrigada — disse ela, firmemente. — Vou embora.

Phillip contemplara o armário de bebidas por um longo tempo, antes de concluir que nenhuma delas resolveria seu problema.

Somente uma fada, que tivesse a varinha mágica e transformasse as sobrinhas em ratinhos, resolveria seu problema. Ou alguém que pudesse levá-las de volta a São Francisco ou que lhes arrumasse uma mãe devotada e que as amasse.

Passou as mãos pelo rosto e jogou-se no sofá. Não. A mãe delas as amava. Não tinha dúvida. Simplesmente chegara ao limite e, porque as amava, as entregara aos cuidados dele.

Phillip supunha que havia um fundo de lógica no comportamento da irmã."Sei que você acha que elas precisam de estabilidade", ela escrevera na carta

para ele. "Concordo e você deve saber que não poderei oferecê-la a elas. Tentei. Só Deus sabe quanto. Mas, depois de tanto tempo, parece que não sei administrar minha vida. Penso que poderei com o apoio de Roger, mas não quero dar às crianças esperanças que posso destruir novamente. Essa e a razão por que as estou entregando para você. Conheço seu senso de responsabilidade. Você nunca me desampararia e nem a elas também. Obrigada, grande irmão. Amo a todos vocês. Meg."

Quase um testamento.Como ele enfrentaria aquela situação?

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Sua vida instável sempre fora um obstáculo para pensar na possibilidade de se casar, um din. Nunca quisera filhos precisamente por aquela razão. E Meg decidira que ele deveria assumir uma responsabilidade que não teria escolhido em milhões de anos: filhos.

Mas ela tinha razão em um ponto: sabia que Phillip daria um jeito e tentaria cuidar das filhas. Só lhe faltava saber por onde começar.

A campainha tocou, surpreendendo-o. Olhou para o relógio Passava das onze. Franziu a testa, ficou em pé e pegou o interfone.

— Quem é?— Izzy — ele ouviu. Estava tão confuso que por um momento o nome nada

significou.Assim que reconheceu, apertou o botão para destravar a porta de entrada e

apressou-se em abrir a do apartamento. Então saiu para o hall, para se encontrar com Isabel Rule, que subia lentamente as escadas.

— O que aconteceu? — perguntou, olhando-a atentamente, desconfiado de que ela pudesse ter sido assaltada.

Então a sanidade voltou. Ninguém assaltaria alguém vestido como uma maltrapilha. Izzy olhou-o timidamente.

— Sam não estava em casa.Ele a rejeitou? Aquela e muitas perguntas similares lhe ocorreram. Foram todas

descartadas, enquanto a conduzia para dentro do apartamento. Segurou a mão dela. Se tivesse segurado antes, provavelmente ela teria evitado aquele gesto. Naquele momento, permitiu. Estava a ponto de se debulhar em lágrimas.

Phillip, acostumado aos dramas e emoções das modelos que fotografava diariamente, não estranhava as lágrimas. No entanto, estava um tanto surpreso ao ver Isabel Rule tão próxima delas.

— Conte-me o que aconteceu — ele falou. Conduziu-a ate a cozinha e colocou a chaleira no fogo.

Izzy suspirou e sentou-se em uma das cadeiras, apoiando os cotovelos na mesa.— Ele viajou e não sei por quanto tempo. Deveria tê-lo avisado que estava

chegando.— Não avisou?— Ele nunca me contou... É difícil explicar.— Tente. — Phillip estava intrigado. Além disso, distraíra-se dos próprios

problemas.— Sam Fletcher é neto do melhor amigo de meu avô. Eles lutaram juntos na

Segunda Guerra e meu avô salvou a vida do amigo. Quando criança, eu costumava ouvir histórias a respeito. Meu avô me criou — explicou. — Meus pais morreram quando eu tinha sete anos e fui morar com ele.

Phillip colocou as xícaras na mesa e apoiou-se no canto, olhando-a, aguardando a água ferver.

— Conheci meu noivo quando tinha dezenove anos e ele, vinte e quatro. Seu avô acabara de morrer e Sam era encarregado dos negócios de importação e exportação da família.

— Ah, é da família Fletcher? — Phillip arregalou os olhos. Os Fletcher significavam um dos negócios de importação-ex-portação mais conhecidos no país. Poderiam não ser tão famosos como a Tiffany's ou Neiman-Marcus, mas em seu meio eram lendários. Pessoas ricas, como Tawnee Davis, compravam móveis e bugigangas dos Fletcher.

— Já ouviu falar deles?

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— Sim, muitas vezes.— Devem ganhar muito dinheiro — Izzy comentou.— Você deve ter constatado.— Não sabia — ela falou em voz baixa. — Pensei que Sam não fosse diferente

de mim.— Mas é. — Phillip imaginou, começando a ter noção do que poderia ter

acontecido.— Como sabe? — Izzy o olhou, com os olhos arregalados. A chaleira apitou e

ele colocou água nas xícaras para o chá.— Porque, no ano passado, fotografei a decoração do apartamento deles.— Conhece o apartamento em que moram? É muito luxuoso e requintado. Muito

mesmo. Você conhece Sam?— Não. — Phillip tinha contatos dentre os novos ricos e os famosos. Os Fletcher

já eram ricos desde quando desembarcaram do Mayflower.— Acho que estou fora de minha tribo — disse Izzy, depois do um momento.— Mas se ele pretende casar-se com você...— Foi o que disse. Deu-me um anel.— Ela olhou para o dedo rapidamente.

Tinha uma pedra quase do tamanho de uma ervilha. — Pensei que fosse pedra falsa, mas não deve ser.

Ela soava mais triste ainda.— Provavelmente não. — Phillip achava que estava diante da garota mais

estranha que encontrara na vida. A maioria das mulheres que conhecia chegariam a matar para conseguir um diamante daquele tamanho. Ele colocou uma xícara de chá diante dela, esperando impedir as lágrimas que estavam a ponto de escorrer por aqueles olhos tristes. Izzy segurou a xícara e olhou para chá.

— Obrigada — balbuciou. — A mãe dele olhou para mim como se eu pertencesse a outra casta.

— O quê? Ela soluçou.— De início, não sabia que era a mãe dele. Saiu do elevado enquanto o porteiro

estava impedindo a minha entrada e ela lançou-me um olhar... que parecia que estava me avisando que eu não pertencia àquele meio.

— Talvez esteja imaginando coisas. Izzy meneou a cabeça.— Não acho que ela ficaria feliz com a idéia de que Sam eu estaríamos

comprometidos.— Não é todo rapaz que conta à mãe sobre a mulher com quem vai se casar. De

qualquer maneira — disse ele vivamente — Ele é um homem maduro e não precisa da aprovação materna.

— Só não quero constrangê-lo.— E não vai... — ele começou a dizer. Então fez uma pausa Não tinha muita

certeza se Isabel Rule, naqueles trajes, não| causaria embaraços ao noivo.Os olhos de Phillip se estreitaram e a estudaram cuidadosamente, captando

ponto por ponto da mulher que via.Não era alta e esguia como as modelos que fotografava. Não sabia mover-se

com a graça sinuosa delas. Mas, com certeza, tinha atributos.Os cabelos castanhos poderiam ficar adoráveis se fossem bem cortados e

tratados. A pele sardenta era atraente. De fato, o tom de um tipo de pêssego rosado e se ela usasse as cores certas poderia ficar muito bem. Mudar o estilo das roupas ajudaria muito.

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Os traços eram delicados. Tinha grandes olhos castanhos com reflexos esverdeados e o nariz bem-feito. E a boca... ele olhou mais de perto. Quase lembrava a de Angelina Fiorelli.

Com certeza, Phillip poderia transformar Isabel Rule em uma mulher que deixaria a todos os Fletcher encantados.

Um leve sorriso despontou no rosto de Phillip. — Izzy — disse ele — Posso transformá-la.

CAPÍTULO III

— Você pretende me modificar? — Izzy tentou parecer ofendida ou, pelo menos, indiferente.

Phillip concordou. — Foi você quem acabou de dizer que achava que não fazia parte da turma de

Sam. Só me ofereci para mudar essa idéia.— Por um preço — ela o lembrou.— Você me ajuda e eu a ajudarei. Além disso, para onde ira se não tem onde

ficar?Ela não sabia. Só sabia que a oferta de Phillip iria salvar-lhe a vida. Não

conseguia imaginar-se voltando para casa e contando a Pops, Digger e Hewey, os velhos marinheiros com quem dividia a casa que o avô lhe deixara, que não conseguira passar pela porta de Sam Fletcher. Ficariam furiosos e o expulsariam quando por lá aparecesse. O pior é que se sentiriam no dever protegê-la ainda mais e passariam a controlar cada passo que desse na vida.

Usara todos os argumentos possíveis para convencê-los de que era capaz de atravessar sozinha o país para vê-lo. Se soubessem que não o encontrara seria uma tragédia!

A proposta era interessante. Tudo o que Phillip queria em troca era que ela cuidasse das meninas, o que não seria um sacrifício, pois gostava muito delas.

Então, onde estaria o problema?O problema, Izzy finalmente admitiu, era o próprio Phillip MucCauley. Nunca

encontrara na vida alguém como ele.Sam era formal, inteligente, cordial. Não havia nada de Intenso em Sam. Phillip,

por outro lado, irradiava uma energia apaixonante. No momento em que irrompera na sala, saindo do estúdio, Izzy sentiu o impacto que ele causava.

Era um tipo de energia intensa que a inquietava. Fica surpresa ao se dar conta daquilo, pois sempre estivera no meio de homens. Desde os sete anos, vivera junto deles: o avô e os marinheiros, seus amigos. Mas nenhum deles despertara nela a atenção que Phillip despertara.

Será que deveria permitir que tal homem a moldasse?Teria outra escolha?Poderia dizer não, obrigada pela oferta. Mas, então, onde ficaria? E quem

cuidaria das gêmeas?— Por quanto tempo?— Quanto tempo Sam ficará fora da cidade?— Não sei. — Izzy não conseguia se desligar dos detalhes do encontro com o

porteiro.— Descobrirei amanhã — Phillip prometeu.Agia como se não fosse difícil. Sem dúvida, Izzy aprenderia muito com ele. Se

aceitasse. Fitou o olhar do pirata.

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— Está certo — disse ela. — Combinado.

Izzy acordou surpresa por haver dormido tão bem. Mas os acontecimentos do dia anterior a cansaram muito. Aconchegou a cabeça no travesseiro e adormeceu novamente. O despertar da cidade, com seus ruídos habituais, a acordou novamente um pouco mais tarde.

Permaneceu na cama até quase sete horas e então foi ver as meninas. Estavam ainda dormindo tranquilamente.

Lembrou-se de Phillip, na noite anterior, descendo as escadas, carregando uma cama dobrável.

— A não ser que queira dividir a cama comigo — ele dissera, quando ela protestara, por ele ser obrigado a dormir na sala.

Seu rosto enrubesceu.— Quero dizer que eu posso dormir aqui — disse ela.— Você precisa estar onde possa escutar as meninas. Só Deus sabe o que eu

faria se tivesse de cuidar delas.Phillip a conduzira até o pequeno quarto que parecia um escritório doméstico.— Sinta-se em casa — dissera ele, secamente.Izzy já se sentia, mais ou menos.

Naquela manhã, estava nervosa por que iria telefonar para o escritório de Sam para perguntar quando voltaria. Sempre se sentira muito bem ao lado dele.

Escovou os dentes, tomou um banho rápido, vestiu um short cor de laranja, uma camiseta vermelha e desceu.

Phillip parecia dormir, largado na cama, sob um fino lençol. Izzy olhou para o corpo semicoberto. Rapidamente, desviou o olhar e, na mesma velocidade, seus olhos voltaram a observá-lo.

Certamente seria uma invasão de privacidade. Deveria voltar para cima ou ao menos ficar na cozinha e ignorá-lo. Só que não conseguiu. Ficou ali, parada, admirando-o. Já vira muitos homens seminus antes. Uma menina não cresce em uma casa cheia de marinheiros, mesmo determinadamente discretos, sem algumas vezes surpreender alguém se vestindo. Já vira Sam em roupa de banho, sem camisa. Em nenhuma das vezes interrompera seu caminho para observá-lo.

Phillip MacCauley a deixara imobilizada. Desde o primeiro instante em que o vira captara o vigor contido em seu corpo forte. sempre entendera que um verdadeiro fotógrafo da vida selvagem deveria ter força e resistência para penetrar nas regiões mais primitivas do mundo e tirar fotos. Jamais imaginara que um homem que ganhava a vida tirando fotos de mulheres insinuantes pudesse ter a mesma força.

Os ombros eram largos, os braços musculosos. O estômago era firme e plano e o tórax, levemente coberto por grossos pelos negros. O olhar de Izzy se fixou no umbigo mal coberto pelo lençol. Sua mente via coisas que os olhos não podiam. Deixou cair o par de sandálias que trazia nas mãos.

Phillip sussurrou em seu sono e então se mexeu. O lençol escorregou. Ele piscou e então abriu bem os olhos.

Izzy desviou o olhar e agachou-se para recuperar as sandálias.— Desculpe-me — murmurou. — Não queria acordá-lo. Phillip arqueou as sobrancelhas e afastou os cabelos que lhe caíam na testa. — Que horas são?

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— Sete. Ele suspirou.— As meninas sempre acordam cedo assim?— Não acordaram ainda. Eu.... não consegui continua dormindo.Phillip levantou uma sobrancelha.— O que tem em mente? — A voz baixa e sedutora fez com que Izzy voltasse

para a escada instintivamente.— Desjejum? — disse ela, depois de recuperar o autocontrole Ele passou uma

mão pelo rosto.— Desjejum? — Repetiu em voz baixa, quase inaudível. — Ótimo. Enquanto

você o prepara, eu voltarei a dormir.Phillip virou-se e começou a ressonar.Izzy ficou parada, confusa, imaginando o que ele faria depois. A resposta veio

imediatamente: nada. Realmente voltara a dormir profundamente.Ela achou mais prudente ir diretamente para a cozinha se concentrar no

desjejum. Se tivesse farinha, faria panqueca para as meninas. E tinha.Estava quase acabando quando ouviu passos de criança na escada.— Você está aqui! — Com um amplo sorriso, os olhos da menina se

arregalaram.Izzy colocou o dedo nos lábios, para que ela fizesse silêncio, A criança olhou na

direção de Phillip. Então caminhando, pé ante pé, entrou na cozinha, logicamente tentando não acordar o monstro adormecido.

— Está com fome? — Izzy perguntou. Era Tansy, ela reconheceu quando a menina se aproximou.

Tansy balançou a cabeça.— Por que ficou? Pensamos que houvesse ido embora.— Eu... mudei de planos.— Que bom! É melhor que se case com ele... — Tansy sorrindo, lançou um

olhar para o tio. — Do que com Sam.Izzy quebrou um ovo.— Não é isso o que quero dizer. Quis dizer que Sam não está em casa. Ficarei

aqui e ajudarei seu tio a cuidar de vocês por enquanto. Até que ele encontre alguém.— Não quero outra pessoa.Izzy conhecia um argumento indiscutível, quando precisava— Vá se vestir — ela falou com um tom de voz que não admitia réplica. — E

acorde Pansy.— Ela já acordou e não quer descer enquanto ele estiver aqui.— Então vai ficar com fome — Izzy estabeleceu. — Esta casa é dele.Acabara o primeiro lote de panquecas e as estava colocando em um prato para

Tansy quando Phillip acordou, deliciado com o cheiro de comida que vinha da cozinha. Sentou-se, deixando cair o lençol e Izzy constatou que ele estava usando unicamente uma sumária sunga.

Phillip friccionou a nuca com uma mão e, com a outra, arranhou o peito. — Você realmente sabe como atormentar um homem, não sabe? — ele

murmurou, ficando em pé e passando pela escada.Tansy o observava.— Mamãe nunca contou que ele era um resmungão.— Ele está se adaptando — disse Izzy. — Tenho certeza de que ficará ótimo

quando aceitar a idéia de que vocês ficarão aqui.

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— Duvido — Tansy disse com franqueza, puxando para mais perto o prato de panquecas que Izzy lhe dera.

— Você precisa se acostumar, querida. Tansy olhou-a com os olhos verdes arregalados.— Por quê?— Porque sua mãe gostaria muito.— Duvido disso também — Tansy retrucou.Naquele momento, Izzy ouviu uma pancada, uma repreensão de Phillip, um grito

de Pansy, algumas palavras que soaram pacíficas, ditas por Phillip, e então um lamento e a batida de uma porta.

— Oh! — Izzy exclamou quando ele descia as escadas, vestido com um jeans limpo e uma camisa azul-clara, desabotoada. — O que aconteceu?

— Gostaria de saber. Tive de tirar algumas roupas de meu armário e estava tentando não fazer barulho. No escuro, achei que ela estivesse dormindo. Não estava. Vinha voltando do banheiro e tropecei nela. Não a machuquei, mas ela gritou e fugiu como um coelho assustado. Bateu a porta e machucou meus dedos.

Phillip fez uma careta ao mostrar as pontas avermelhadas dos dedos e sentou-se para calçar as meias.

Izzy não fez comentário e continuou seu trabalho.— Formidável. — Phillip tirou o prato do novo lote de panquecas das mãos de

Izzy e as regou com mel. Então puxou uma cadeira e sentou-se à mesa. Comeu silenciosamente que toda a pilha de panquecas se acabou. — Muito bom! Limpando a boca com o guardanapo, olhou para a sobrinha.

— Não mastigue com a boca aberta. Tansy fechou a boca.Phillip inclinou a cabeça para um lado e sorriu para ela. Em seguida, levantou-se

e foi em direção à porta, passando um pente pelos cabelos enquanto caminhava.— Telefonarei mais tarde.— Mas...— Não se preocupe. Não esqueci. Pedirei a Sierra para telefonar para você, à

tarde, para vocês combinarem a hora em que ela poderá cortar seus cabelos.— Mas... — Izzy acariciou os cabelos. Phillip esboçou um sorriso malicioso.— Temos de começar por algum lugar — dizendo isso, saiu batendo a porta

atrás de si.— Cortar os cabelos?Izzy passou os dedos pelos cabelos castanhos, pegou uma mecha e a acariciou.

Não conseguia lembrar-se de alguém mais, além do avô, que os houvesse cortado. A cada primeiro sábado do mês ele proporcionava um corte a cada um da casa, precisasse ou não. Sua tesoura zumbia nas jubas de Pops, Digger, Hewey e de, qualquer outro marinheiro que morasse ocasionalmente na casa.

— É uma vergonha cortar tal tesouro — o avô sempre dizia, limitando-se a não cortar mais do que dois centímetros.

E, naquele momento, a idéia de Phillip a fizera imaginar que Sierra a tosaria como a um cordeiro.

Não havia outra alternativa. Sua aparência atual não era adequada para Sam. Por outro lado, será que não estaria exagerando? Talvez a casa dele não fosse tão intimidante à luz do dia.

Depois do desjejum, ela e as crianças foram ao parque.

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Caminharam lentamente à sombra das árvores e quando Izzy se deu conta estavam do outro lado do parque, perto dó prédio de Sam. A fachada de mármore cinza-clara parecia mais imponente à luz do dia. E mais sólida do que na noite anterior.

Sabia que não poderia se apresentar com os dedos dos pés à mostra, sem esmalte, e os cabelos despenteados e embaraçados, caindo-lhe pelas costas. Sam talvez a quisesse do jeito que era, mas Izzy queria melhorar o visual para se sentir mais segura em agradá-lo. Era um homem maravilhoso!

Logo após o almoço, o telefone tocou e uma alegre voz feminina disse:— Olá! Aqui é Sierra. Phillip pediu-me para lhe telefonar.Após uma conversa breve, Izzy concordou em encontrar-se com ela, no estúdio

de Phillip, para cortar os cabelos.

Depois de um dia muito atribulado no estúdio, onde modelos, maquiadora, a cabeleireira Sierra e a recepcionista Daisy circulavam atarantadas a cada ordem, Phillip, finalmente, refugiou-se no quarto escuro para fazer as revelações.

Não precisava. Poderia ter deixado para Tabby e Alex fazerem aquilo na manhã seguinte. Não havia pressa nem necessidade, a não ser para ele mesmo.

No quarto escuro poderia pensar sobre o filme, os negativos, sobre todas as coisas que poderia controlar. Exceto a própria vida: as sobrinhas e Isabel Role, que encontraria quando tivesse coragem de voltar para casa. Ali era seu reinado, onde se sentia seguro. Ouviu um súbito tumulto na recepção, seguido de um vozerio infantil.

Phillip gemeu. Seu reinado fora invadido. Quando entrou na recepção, depois de revelar as fotos, viu uma das gêmeas

segurando um pano de chão enquanto Daisy manejava uma vassoura. A outra estava em pé em uma cadeira no canto da sala. Ao vê-lo, ela olhou à sua volta como se procurasse algum lugar para se esconder.

— Um pequeno acidente — Daisy avisou alegremente, lançando-lhe um rápido olhar. — Muito bem, Tansy. Agora jogue no cesto de lixo que está ali.

Tansy, cuidadosamente, despejou no lixo o conteúdo envolto no pano. Então olhou para o tio e levantou o queixo. — Era um vaso muito feio.

Phillip engoliu em seco e se deu conta do que se tratava. — Você quebrou meu Baccarat...— Foi um acidente — Daisy insistiu vivamente. — Ela estava me mostrando

como se faz borboleta. — Borboleta? — Um estilo de natação — Daisy esclareceu. — Não tem piscina, aqui.— Esse foi um dos problemas.Phillip fitou as meninas com ar severo.— O que estão fazendo aqui? Onde está Isabel?— Está lá — Tansy respondeu, apontando para o vestiário Pansy concordou, aparentemente incapaz de dizer uma palavra.— Alguém com mãos de fada está cortando os cabelos dela — Tansy

acrescentou solenemente.Mãos de fada? Ele sabia que algumas vezes Sierra era dada a vôos no mundo da

fantasia, mas mãos de fada?, pensou. Phillip olhou para Daisy, para confirmar.Ela concordou, com um aceno de cabeça e entregou-lhe uma folha de papel.— Aqui está a relação de agências que recrutam babás.

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— Babás? — Tansy repetiu. Olhou para Phillip com ar preocupado. — Como Mary Poppins?

— Ou talvez como aquele cachorro, no Peter Pan — a irmã sugeriu com a voz suficientemente alta para os ouvidos do tio. — Nana.

Os olhos de Tansy se arregalaram.— É mesmo. — Com o olhar cintilante, olhou para Phillip. — Vamos ter um

cachorro?— Não, não vamos ter um cachorro.As meninas olhavam para ele com ar de vítimas. Phillip passou os dedos pelos cabelos, desesperado.— Não se pode ter um cachorro na cidade. Não é bom para ele.Ninguém pronunciou uma sílaba. Mantiveram os olhos fixos nele.Phillip olhou para Daisy, esperando ajuda.— Você não tem cachorro, tem? Ela esboçou um sorriso de desculpa.— Tenho dois, um macho e uma fêmea.— Eles têm filhotes? — Tansy perguntou com vivacidade.— Não — respondeu Daisy. Graças a Deus, Phillip pensou.— Esqueçam os cachorros — disse ele com firmeza, quando a porta do vestiário

se abriu e Isabel entrou na sala.Atônito, ele a fitou. Sob aqueles cabelos, outrora despenteados, cheios de pontas,

ele viu um rosto maravilhoso, bem traçado, destacando o nariz bem-feito e os lábios que, definitivamente, eram iguais aos de Angelina Fiorelli. O rosto emoldurado pelo penteado dava-lhe um visual de suavidade e leveza. Ao menor movimento da cabeça, eles balançavam graciosamente.

— Que tal? — Sierra perguntou, apontando a obra com a mão de fada.Izzy trazia no rosto um sorriso tentador e um tanto nervoso. Phillip passou a língua pelos lábios secos.— Nada mal — comentou. Nada mal mesmo, pensou, balançando a cabeça.Izzy pareceu mais nervosa.— De verdade?— Está linda! — Tansy declarou e Pansy concordou, com os olhos muito

abertos, passando a mão pelos próprios cabelos, pegando uma mecha e a enrolando.Sierra sorriu.— Quer que corte os delas também? — perguntou a Phillip. Antes que ele

abrisse a boca para responder, Tansy adiantou-se, radiante:— Sim! — E apressou-se em direção ao vestiário. Phillip olhou para Sierra, com ar de aprovação.— Pode cortar. Talvez seja melhor cortar de uma e não da outra. Assim poderia

distingui-las.Izzy franziu a testa.— Você precisa ser capaz de reconhecê-las sem diferenças nos cabelos para

ajudá-lo.— Preciso de tempo para isso — Phillip declarou.— Terá todo o tempo que precisar.Era justamente o que ele temia. Seu olhar carrancudo fez Pansy esconder-se

atrás da cadeira de Daisy.— Izzy — chamou Tansy, do vestiário. — Venha ver! Izzy foi e Pansy seguiu

rapidamente atrás dela.

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Phillip permaneceu em pé, sem se mover, as mãos nos bolsos do jeans, olhando para o vazio. Então voltou para o estúdio e pegou uma câmera. Voltou e, por detrás de um grande vidro, passou a fotografá-las. Izzy, Sierra e as meninas nem o notaram, ocupadas em discutir como o cabelo de Tansy seria cortado.

Quando Sierra cortou um tufo de cabelo acobreado e anelado, a expressão de Tansy foi do nervosismo ao entusiasmo.

Phillip, por detrás do vidro, captou cada gesto: a intensa concentração de Sierra, o interesse de Pansy, o prazer de Izzy.

Fotografou Izzy passando os dedos pelos cabelos curtos de Tansy, acariciando-o e sorrindo. Fotografou Tansy fazendo uma grande bola com o próprio cabelo que caíra no colo. Fotografou. Pansy rapidamente subindo na cadeira logo que Tansy saiu. Fotografou Izzy, Tansy e Pansy, todas as três, elogiando Sierra quando terminou seu trabalho.

Não precisou revelar o filme para saber se ficara bom. Tinha uma história, havia registrado um pedaço da vida. A vida das sobrinhas. Elas começavam a parecer menos estranhas e mais parte dele. O queixo de Phillip se enrijeceu.

Naquele momento, Izzy olhou para ele e sorriu. Era um sorriso suave e gentil, quase confortante, como se houvesse percebido o que ele estava sentindo.

Será que sabia?E como um simples corte de cabelo a transformara tanto?Izzy adorou o corte. Por toda aquela tarde e nos dias seguintes continuou

passando os dedos pelos cabelos, levantando-os e mexendo a cabeça para fazê-los balançar, consciente sempre de como a cabeça estava leve, como se alguém houvesse removido uma âncora ali escondida.

Não conseguia evitar de tocá-los ou observá-los em cada espelho ou vitrine de loja por onde passasse. E, a cada vez que via seu reflexo, mexia a cabeça para ver o balanço dos cabelos.

"As pessoas pensarão que tenho um tique nervoso", ela pensou.No final daquela tarde, caminhando pelo parque, ao passarem diante da vitrine

de uma loja, Izzy preocupou-se em olhar seu reflexo e levantar os cabelos. Enrubesceu e lançou para Tansy um olhar de culpa.

— Seu cabelo está lindo — Pansy a elogiou. Izzy retribuiu com um sorriso.— Obrigada, o seu também.— Gostei de Sierra — disse Tansy. — Você acha que eu poderei ter cabelos

sedosos como os dela?— Não querida, não poderá — disse uma voz por detrás. Izzy virou-se e viu

Phillip, caminhando na direção delas, com o estojo das câmeras pendurado no ombro.O olhar que lançou a Tansy fê-la recuar, preocupada. Mas ele estendeu a mão e a

passou pelos cabelos dela.— Gosto deles desse jeito. Ela deu sorriso vivaz.— De onde saiu? — Izzy perguntou.— Do metro.— Terminou cedo, hoje.— Alguns dias termino mais cedo do que nos outros. — A voz soou defensiva, o

que a surpreendeu.— Íamos tomar sorvete e depois caminhar à beira do lago. Quer vir conosco? —

Diga sim, Izzy implorou silenciosamente. Não por que queria que ele fosse, mas seria uma boa oportunidade para Phillip começar a se relacionar melhor com as gêmeas.

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Ele hesitou.— Está bem. Acho que posso. Um sorvete iria bem a essa altura. — Mudando o

estojo de ombro, começou a caminhar na frente delas.As meninas olharam para Izzy, que lhes lançou um sorriso radiante,

deliberadamente ignorando o silêncio de protesto delas. Sabia que ele não as deixava à vontade, mas nada iria mudar se não o conhecessem melhor.

Izzy deduziu que ele saíra mais cedo do trabalho para passar algum tempo com elas. Se perguntasse, será que ele admitiria?

Quando entraram no parque, Tansy disparou à frente. Pansy a seguiu, parecendo querer se libertar de Phillip. Izzy continuou caminhando lentamente, ao lado dele. Ambos permaneceram calados.

Finalmente, Izzy se aventurou:— Foi muito bom ter voltado cedo para casa.— O trabalho estava pronto.— Poderia ter ficado revelando algum filme ou fazendo qualquer outra coisa.— Você preferiria assim? — Havia um tom de desafio em sua voz.— Não, lógico que não.Phillip colocou as mãos nos bolsos e arrastou os pés. Izzy entendeu que o

ofendera. Olhando-o de soslaio, notou que observava as crianças. Olhava-as como se fossem espécies raras; Izzy estava começando a supor que fossem.

— Não costuma fotografar crianças? — ela perguntou.— Não.— Você não gosta? Ele piscou.— Nunca pensei a respeito. Não é para isso que me pagam. — Ele apanhou um

ramo seco no chão e olhou-o com flagrante desinteresse.Izzy gostava de observá-lo. Era muito mais interessante do que os homens com

quem morara. Não estava acostumada a ver graça no caminhar de um homem jovem. Bem, havia Sam, mas o via tão raramente e nunca prestara atenção na maneira como andava. Sempre se preocupara em ouvi-lo.

— O que está olhando? — Phillip perguntou.Izzy desviou o olhar.— Nada — disse ela rapidamente. — Só... pensei ter visto um pássaro ali. —

Duvidou que ele houvesse acreditado, mas ao menos não lhe faria outra pergunta.As crianças haviam alcançado o vendedor de sorvete e Phillip comprou sorvete

para todos. Tomou o seu rapidamente, não o saboreando, ou o derramando, como as crianças. Tão logo terminou, abriu o estojo e pegou uma câmera pequena. Focalizou Izzy, que lhe mostrou a língua.

Phillip tirou a foto, esboçando um sorriso por detrás da câmera.— Estou registrando seu cabelo para a posteridade.A mão de Izzy rapidamente ajeitou os cabelos, que já estavam ajeitados.— Está ótimo. — Phillip afirmou enquanto tirava outra foto, e outra. Então

focalizou as meninas, que não estavam tão atentas como Izzy. Tansy estava com o queixo lambuzado e Pansy sujara a roupa. Ao menos não lhe mostraram a língua.

Finalmente, juntaram-se a Izzy e seguiram na direção do lago. Izzy percebeu que Phillip as seguia, mantendo uma certa distância, observando-as e, ocasionalmente, tirando uma ou outra foto.

Izzy alugou um barco. Ela e as meninas embarcaram. Olhando para Phillip, acenou para ele.

— Venha, tem lugar para você.

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Ele balançou a cabeça.— Podem ir. Eu fico.Izzy começou a insistir, mas as meninas a apressaram.— Vamos Izzy. Vamos logo.Ela obedeceu e afundou os remos na água tranqüila do lago, enquanto Tansy

soltava a corda do deque. Izzy aprendera a remar desde pequena. O avô considerava um aprendizado necessário para qualquer um. Ler, escrever, aritmética, montaria e remo eram igualmente importantes para Gordon Rule. Izzy estava contente por haver aprendido. Ao menos não se sentia como uma incompetente enquanto Phillip caminhava pela margem do lago, tirando fotos delas.

Ela deu um remo para cada menina. Eram pequenas e os remos muito grandes e pesados para manusear. Tansy, no seu entusiasmo, quase bateu com um deles na cabeça de Izzy e Pansy quase perdeu o seu na água. Mas se esforçaram e riram muito. Izzy divertiu-se também e a cada vez que lançava um olhar para Phillip desejava que ele estivesse junto para desfrutar da companhia daquelas garotas adoráveis.

Quando o tempo do aluguel acabou, ele as estava esperando no deque.— Você me viu remando? — Tansy perguntou com os olhos brilhando.— Remou muito bem. Tansy concordou.— Foi minha primeira vez — confessou com orgulho. — Prefiro nadar, mas foi

engraçado. O que faremos agora?— Acho que é hora de voltarmos para casa e começarmos a preparar o jantar —

Izzy respondeu.— Onde aprendeu a remar? — Phillip perguntou, colocando-se a seu lado.Izzy não lhe contara muito a respeito do avô ou de seu passado. Naquele

momento, viu-se falando sobre sua vida com o querido e excêntrico homem que a criara.

— Teve um filho que foi criado pela esposa pois ele trabalhava na marinha mercante e estava sempre ausente de casa. Nada sabia sobre educação de crianças, especialmente de meninas pequenas, mas assumiu a responsabilidade de criar a neta e se preparou para isso.

O olhar de Izzy estava distante ao lembrar-se das muitas coisas que fizeram juntos.

—Aprendi muitas coisas que as meninas nunca aprenderam. — Olhou para Phillip e sorriu. — Aprendemos juntos.

— Aonde você quer chegar? — ele perguntou com desconfiança.— Vamos dizer que meu avô fez um trabalho muito bom e que eu desfrutei cada

minuto dele. Penso que você poderá desfrutar também.

CAPÍTULO IV

Phillip desconfiava que o avô de Izzy, mesmo tendo passado muitos anos no mar, tivera mais experiência no convívio familiar do que ele.

Tudo o que tinha eram algumas lembranças, tão superficiais, que algumas vezes imaginava se simplesmente não as houvera inventado. Aos nove anos fora arrancado da casa onde nascera e que adorava. Levaram-no para outra, e outra, algumas vezes melhor, outras pior, mas sempre a casa de alguém. Nunca a sua.

Não conseguia lembrar-se da sensação de haver pertencido a algum lugar. Nunca se sentira à vontade para abrir o coração. Droga, algumas vezes achava que não tinha

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Adorável Compromisso (Finn's Twins!) Anne McAllisterJulia no. 911coração, o que não o entristecia completamente. Corações se partem. O seu fora partido há tanto tempo que, o que quer que lhe acontecesse, limitava-se a bater.

O coração de Phillip não aprendera a amar, mas o de Izzy, sim. Não precisou de muito tempo para descobrir.

Ele a observava quando estava com as crianças, sorrindo, conversando, brincando, lendo um livro para elas, mostrando como cortar cenouras, ensinando-as a remar. Ele observava quando Izzy afastava um cacho de seus rostinhos, quando dava um aperto extra em suas mãos, quando abaixava a cabeça e rezava com elas, quando se inclinava para dar-lhes o beijo de boa-noite.

Algumas vezes sentia a garganta queimar quando a observava. Então refugiava-se por detrás das lentes da câmera para registrar todos os beijos, sorrisos e os carinhos que ele não ousaria tentar fazer.

Tansy falava com ele, mas somente quando se esquecia de quem se tratava. Quando se lembrava, ela se retraía. Phillip se recordava de que tinha o mesmo comportamento quando criança, preocupado com o que aconteceria se começasse a amar e confiar em alguém. E se o abandonassem? E se cometesse o erro de confiar?

Tinha vontade de preveni-las para não confiarem em Izzy. Ela as deixaria, depois de tudo. Estava só esperando o retorno do amado Sam, previsto para a semana seguinte.

Izzy telefonara para o escritório do noivo e deixara uma mensagem, avisando que estava na cidade e informando o endereço de Phillip. Então, tratava-se simplesmente de uma questão de tempo. E aquilo estava aborrecendo Phillip.

Mas quando ele abordou o assunto, em uma noite depois que Izzy pusera as crianças na cama e descera, ela pareceu completamente surpresa.

— Está dizendo que as estou enganando?— Você vai embora — ele afirmou. — Droga, já teria ido se seu namorado

estivesse lá para recebê-la.— Eu teria vindo visitá-las e as convidaria para irem me visitar também. Não

sairia de suas vidas.— Ah, é? — ele desconfiou.— É — Izzy afirmou em tom categórico. Então sorriu suavemente para ele. Um

sorriso angelical. — Eu nunca abandonaria um amigo, Phillip.Phillip precisava assegurar-se de que ela ficaria por perto das meninas enquanto

precisassem dela. Durante a semana seguinte, Isabel seguiu à risca a lista que Daisy entregara. Dedicadamente entrevistou meia dúzia de potenciais babás. Phillip procurou encontrar sempre algo de errado nelas.

E o engraçado é que Phillip, apesar dos palpites, não influenciou nas decisões. Tansy, Pansy e, uma vez ou outra, Isabel se encarregaram das decisões e todas as candidatas foram descartadas.

Uma era muito resmungona, a outra, fanática por limpeza. Aquela não tinha senso de humor e a outra não parecia asseada. Tinha uma que era muito lenta e a última tinha algumas tatuagens e brinco no nariz.

Era a noite de quinta-feira. Eles, não, Izzy havia colocado as meninas na cama e naquele momento estavam sentados na sala. Phillip em um canto do sofá preto de couro, Isabel e todas as anotações das entrevistas no outro canto. Estava sentada sobre as pernas, parecendo um pássaro no ninho: encantadora e suave. O novo corte de cabelo realçava sua vivacidade, o rosto expressivo, tornando-a muito atraente. Phillip, calado, a observava. Desejava ardentemente tocá-la, acariciá-la. Sabia que deveria escutar o que ela tinha a dizer sobre as candidatas, mas não estava muito interessado. Preferiria jogar

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Adorável Compromisso (Finn's Twins!) Anne McAllisterJulia no. 911aquelas anotações no chão e aproveitar o tempo de uma maneira mais interessante. Mas descartou imediatamente aquele pensamento.

Izzy estava comprometida com Sam Fletcher.Ignorando completamente o rumo dos pensamentos de Phillip, ela ria.— Aquela garota era estranhíssima. Estou acostumada com tipos extravagantes.

São Francisco tem a sua cota. Mas aquela... — Izzy deu um sorriso maroto. — Teria ensinado boas maneiras às meninas.

— Não sei aonde chegaremos com tantas candidatas — Isabel continuou.— Por que tanta pressa?— Estou aqui há uma semana!— Sam ainda não voltou e não terminamos de produzir seu visual.Izzy afagou os cabelos.— Eu... Eu estou bem — ela afirmou. — Sinto-me corajosa.— Bom, mas se pensa que Amélia Fletcher vai aprovar esse short medonho que

está usando...Izzy se retraiu no canto dó sofá.— E confortável. Talvez tenha razão. Devo comprar alguma roupas melhores.— Roupas diferentes. Tenho uma amiga que poderá ajudá-la.— Mas...— E parte do trato. Amanhã cedo você vai à manicure, lembra-se?Phillip estendeu o braço e pegou uma das mãos de Izzy. As unhas estavam muito

distantes daquelas, bem cuidadas, das mulheres que via todos os dias.— Unhas de jardineiro — disse ela e puxou a mão, escondendo-a sob a blusa. —

Terapia ocupacional.— Acha que Sam vai permitir? — Ele sentiu-se culpado por atiçar a insegurança

dela. — Não se preocupe com isso — acrescentou, tentando acalmá-la. — Já combinei com Carlota e, amanhã, logo cedo, ela virá de Bayside.

Izzy apertou os lábios.— Oh, está bem.Phillip lançou-lhe um olhar de aprovação. Izzy percebeu e cruzou os braços

sobre a cabeça. Ela podia não ter a graça de suas modelos, mas tinha movimentos leves e sempre naturais. Acostumado a mulheres que faziam tudo calculadamente, era um prazer ver os movimentos espontâneos de Izzy.

Phillip não observava só os movimentos dela. Olhava a maneira como agia. Gostava de vê-la na companhia das meninas.

Quando era garoto, costumava imaginar como seria uma mãe. Não se lembrava muito bem da sua e o que se lembrava não lhe agradava. Mas os sentimentos que Izzy e as meninas lhe despertaram relembravam aquelas fantasias.

— Bem, está ficando tarde e terei um dia agitado amanhã. Uma manicure!Mostrando os dedos para ele, continuou:— Acho melhor ir dormir.Irei com você. As palavras se formaram na mente de Phillip antes mesmo que se

desse conta. Sorte não as haver pronunciado.— Boa noite! — Izzy lançou-lhe um sorriso e apressou-se em direção à escada.Phillip passou a mão pelos cabelos e murmurou:— Deus! Devo estar enlouquecendo! :

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— Droga, Tracy. Pare de se arranhar! — Phillip afastou-se da câmera e olhou furiosamente para a supermodelo Tracy Holborn. — Eles não estão lhe pagando mil dólares por hora para ficar arranhando a barriga.

— Eles não estão me pagando mil dólares por hora, mas por período — Tracy retrucou. — Nada posso fazer se aqui tem mosquitos.

— Não há mosquitos em Nova York — Phillip argumentou com firmeza, voltando para trás da câmera. Estava fotografando para um catálogo especial de roupas profissionais femininas. A marca era Selva Urbana, mas sem tomadas locais. Assim mesmo, era seu dever fazer parecer selvagem: perigoso, quente e muito, muito verde. Era dever de Tracy parecer uma dinamite dentro das roupas. Ela estava se contorcendo novamente.

— Ok. Pode parar e se coçar. — Phillip esperou até que estivesse pronta e suspirou profundamente. — Agora mostre mais o ombro. Levante um pouco o queixo. Ótimo. Perfeito!

— O cabelo está despenteado — a cabeleireira protestou, passando diante da câmera para arrumá-lo.

— Deixe! — Phillip protestou. — Supõe-se que esteja despenteado. E uma selva. O cabelo está bom. Tracy está ótima.

Ele clicava, mudava de posição, clicava novamente e mais outras vezes. A cabeleireira deu um murmúrio de descontentamento. Phillip continuou fotografando.

— Eu não quero! — Ele ouviu um protesto de criança em algum lugar às suas costas. Não deu atenção e continuou clicando.

— Está bom. Mais lábio. Deixe-me ver a ponta de sua língua. Isso! — Ele corria a língua sobre os próprios lábios.

— Por que não podemos ir com você? — uma voz infantil perguntava. — Você sabe que ele não nos quer. Ele grita conosco.

— Ele não grita com vocês — retrucou uma suave voz feminina. — Bem, nem sempre.

— Ele nos odeia. Por favor, Izzy. Izzy?A voz infantil repentinamente teve um significado. "O que estaria ela fazendo

ali?"Phillip virou a cabeça, incrédulo. Ali estava ela com Pansy e Tansy, uma de cada

lado.— Daisy está doente — Izzy avisou. — Então eu as trouxe para que fiquem com

você.— O quê? — Phillip pensou que não houvesse entendido bem.— Como determinou, preciso ir à manicure hoje. Trouxe crianças para ficar com

Daisy, mas acabei de saber que está doente. Então, se quiser que eu vá a essa manicure, você vai cuidar das meninas.

— Estou no meio de uma sessão.— Eu percebi. Ótimo. Então não irei. Por mim, tudo bem. Telefone para sua

amiga e avise.E Carlota ficaria furiosa. Vinha de Bayside especialmente a seu pedido para

fazer as unhas de Izzy. Ela reclamara, se desculpara e finalmente concordara quando Phillip a lembrara dos favores que devia a ele. Ela não gostaria de vir novamente, ou melhor, não viria novamente! E, temperamental como era, não ficaria contente em ter de suportar as duas meninas enquanto fazia as mãos de Izzy.

Phillip se deu conta de que caíra em uma armadilha. Uma olhada para as sobrinhas e notou que elas se sentiam da mesma maneira. Uma delas recuou um passo.

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Page 32: [Anne Mcallister] Adorável Compromisso

Adorável Compromisso (Finn's Twins!) Anne McAllisterJulia no. 911A outra, Tansy, sem dúvida, mostrou-lhe a língua. Ele se viu mostrando a sua, em retribuição.

— Está bem. Pode deixá-las — ele concordou.Izzy tentou soltar as mãos que as meninas seguravam.— Quero ir com você — Pansy lamuriou, agarrando-se firmemente em uma das

pernas de Izzy.— Ele não quer ficar conosco.— O que está acontecendo? — questionou a representante da firma do catálogo,

agitada, apontando um lápis para o rosto de Phillip. — Não estamos fotografando menininhas, estamos?

As gêmeas arregalaram os olhos, assustadas.— Ainda não — Phillip respondeu com energia. Izzy lançou-lhe um frio olhar de desaprovação.— Oh, elas não são adoráveis? — A cabeleireira procurou resfriar os ânimos. —

Olhem para o cabelo delas. Vocês já viram cor igual? E os cachos? Eu faria coisas maravilhosas com aqueles cachos.

— Foi Sierra quem cortou — disse Tansy.— Posso fazer um trabalho melhor que Sierra — a cabeleireira retrucou.— Grande! — Phillip criaria uma rivalidade profissional se não encontrasse uma

babá. — E fará. E cuidará delas ao mesmo tempo.A mulher parecia surpresa.— Cuidar delas? Mas quem são?— Minhas sobrinhas. — Ele olhou para Izzy e apontou com a cabeça na direção

da cabeleireira. — Entregue-as a ela.Izzy olhou desconfiada para a mulher de cabelos crespos, vestida em um calça

justíssima, rosa-choque, e com um avental verde limão. Mas Mede aceitou o desafio e estendeu as mãos na direção delas. As meninas, olhando atentamente para Phillip, largaram Izzy e seguraram as mãos de Mede.

— Você tem mãos de fada? — Phillip ouviu Tansy perguntar.— Sierra tem mãos de fada — Pansy informou.Phillip viu uma aréola na cabeça de Mede. Izzy, parecendo uma mãe

abandonando as crias em um jardim-de-infância dirigido por Herodes, lançou para Phillip um último olhar expressivo, virou-se e saiu rapidamente.

A representante protestou:— Não podemos trabalhar dessa maneira. Essas crianças não podem ficar aqui.Phillip olhou-a com um brilho de desafio no olhar.— Não?A representante deu um passo atrás.—A distração... seguramente você não conseguirá se concentrar. — Quem pensa que é? — Ele a enfrentou com o rosto vermelho de raiva.Ela sentiu-se ofendida.— Sente-se e pare de ficar circulando — Phillip determinou. — Quanto antes

sair do caminho, mais rápido terminaremos.— Mas...— Você está me chateando novamente — disse ele, com voz suave. — Elas não

estão me chateando.Phillip olhou para as gêmeas, que, naquele instante, seguravam as mãos de Mede

e a olhavam com evidente fascínio.— Vocês estão? — ele perguntou, apontando para elas. As duas cabeças

balançaram em solene negativa.

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— Viu? — disse ele à representante. — Se seguisse o exemplo delas...Ela entendeu.Ninguém mais atrapalhou o serviço. As duas meninas, silenciosas, olhavam cada

movimento que o tio fazia, compenetradas.Phillip se endireitou e flexionou os ombros. Subitamente, se deu conta de que

estava trabalhando há duas horas. Ai gêmeas estavam no mesmo lugar. Ele as olhou com ar de aprovação, dispensou a equipe e começou a etiquetar os filmes

Estava quase terminando, quando sentiu alguém em pé, ao seu lado.Solenes olhos verdes, com as sobrancelhas levantadas, o olhavam fixamente.

Uma pequena mão se estendeu em sua direção.— Você perdeu isso. — Era a capa da lente.Ele a pegou rapidamente, esperando que a garota se afastasse, mas ela não se

moveu. Sem dúvida, era Tansy. Ele olhou para a capa.— Obrigado.Ela meneou a cabeça, com ar sério.— De nada. — Porém permaneceu em pé, observando tudo o que ele fazia.Quando Phillip travou o fecho do estojo das câmeras, olhou pura ela.— Não está mais assustada?— Nunca estive — disse ela, com determinação.Era verdade. Ela nunca parecera ter medo dele. Tansy o lembrava a si mesmo

quando criança: obstinado, determinado, com mais coragem que cérebro. Lançou-lhe um sorriso amável.

— Pansy está — Tansy confidenciou, depois de um instante.— Ela não gosta quando você grita. É muito sensível. Mamãe diz que é uma artista.

Phillip inclinou a cabeça para um lado.— Artista?— Ela cria coisas. Desenha bem e pinta melhor que eu.— Você não gosta de pintar?— Não sou muito boa nisso — Tansy concordou.— Em que é boa?— Em natação. E alpinismo. Tio Hewey diz que posso jogar beisebol.Tio Hewey? Seria o homem da vida de Meg antes de Roger? Ou um dos

marinheiros de Izzy? Não conseguia lembrar-se e não achava que Tansy fosse a melhor pessoa para esclarecer.

Nunca tivera uma conversa como aquela com uma criança. Aliás, não se lembrava de haver conversado com uma. Não desde quando ele era criança e fizera o possível para sair da infância o mais depressa possível.

Sentiu uma pontada de remorso pelo comportamento rude que tivera com as duas sobrinhas. Deus sabia que não eram culpadas por terem uma mãe como Meg e por tê-lo como o único parente vivo semi-responsável.

— Estou com fome — disse ela, endireitando-se. — Você está?— Um pouco.— Gosta de pizza?— Gosto.— Acho que Pansy também gostaria de comer. Posso perguntar a ela? —

Dirigiram-se até onde estava Pansy. Tansy colocou-se entre Phillip e a irmã, como se quisesse protegê-la.

— Eu não vou gritar — Phillip prometeu.Tansy virou-se para a irmã, que não saíra de onde a haviam colocado.— Ele não vai gritar — disse ela, como se Pansy não o houvesse escutado.

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Pansy concordou, balançando a cabeça levemente.— Tudo certo — Tansy falou para Phillip. Ele se endireitou.— Então vamos. — Colocou o estojo com as câmeras no ombro. — Talvez

depois possamos nadar.Tansy era a única dentre os três que ousava correr algum risco. Quando

entregara a capa da lente, arriscara. Phillip constatou que a menina de seis anos tinha mais coragem para enfrentar a realidade do que ele. Aquilo levou-o a considerar que deveria deixar de pensar tanto em si mesmo e passar a se dedicar aos outros.

Depois de comerem pizza juntos, ele propôs:— Que tal irmos à praia?— Praia? — As meninas, desconfiadas, olharam uma para outra.— Vocês trouxeram roupa de banho?— Não — Tansy murmurou. Pansy parecia preocupada. Uma rápida ida até o apartamento e uma busca pela

mala provou que não haviam trazido.— Acho que não poderemos ir — disse Tansy, amuada, ao sentir que a

oportunidade estaria se evaporando.— Acredito que vendam roupas de banho em algum lugar nesta cidade.— Verdade? — Os olhos de Tansy cintilaram. Phillip estendeu a mão.— Vamos.Tansy a pegou. Pansy não. Mas, ao menos, os seguiu.Uma loja de esportes, a alguns quarteirões do prédio, tinha exatamente o que

procuravam. Tansy ficou feliz com o primeiro maio que experimentou e Pansy, após experimentar alguns modelos, logo se decidiu.

Como haviam encontrado o que desejavam, estavam prontos para prosseguir.— É muito longe? — Tansy perguntou, caminhando ao lado de Phillip. —

Teremos de andar muito?— Vamos pegar o trem — ele avisou, explicando que era mais fácil e rápido do

que ir de carro. Tansy estava alegre. Pansy parecia mais apreensiva. — Precisamos ainda fazer mais uma parada — Phillip avisou, e as levou a uma

pequena loja de artes onde comprou um bloco do papel uma caixa de giz de cera, que deu de presente a Pansy.

Ela os pegou, em silêncio, com olhar indagador.Phillip sentiu-se em dúvida se dera para a pessoa certa.— Pansy disse que você é uma boa artista.— Ela é — disse Tansy com firmeza, estendendo o presente à irmã, que o

recebeu com um sorriso fascinante.— Obrigada — Pansy disse suavemente, apertando o bloco e a caixa contra o

peito. Olhou para ele, pela primeira vez sem aquele brilho de desconfiança no olhar.Antes do final da tarde, Phillip entendeu como Tansy sabia das coisas.Enquanto ela brincava, pulando e dando cambalhotas na água, Pansy manteve os

pés no seco por toda a tarde. Desenhava tudo que via. A seu modo, participava da excitação de Tansy. Uma fazia e a outra observava.

Phillip fez as duas coisas. Nadou com Tansy. Tirou fotos das duas e, pela primeira vez desde quando chegaram ao estúdio, ele achou que poderiam realmente fazer parte de sua vida.

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No caminho de volta, as duas estavam com sono. Tansy, exausta, pegou no sono tão logo saíram da estação. Pansy demorou um pouco mais, começando a pintar as pessoas. Minutos depois encostou-se no braço de Phillip e o bloco caiu no chão.

Phillip o pegou e ajeitou-se de maneira que pudesse envolver cada uma com um braço. Estavam molhadas e cheias de areia. os cabelos estavam grudados na cabeça. Phillip sorriu. Izzy ficaria orgulhosa dele.

— Andamos de trem — Tansy contou, correndo pela porta adentro.— Fomos à praia — Pansy acrescentou com o olhar tão brilhante como Izzy

nunca vira desde quando haviam chegado, uma semana antes.— Nadei! — disse Tansy.— E eu fiz um desenho.Izzy olhou para Phillip, que estava chegando atrás das duas garotas,

demonstrando estar tão feliz quanto um pirata que conquistou um navio. — Ele nadou também.Izzy surpreendeu-se com a alegria das meninas e olhou para Phillip mais uma

vez. Realmente estava satisfeita com o que ele fizera.— Veja — disse ele alegremente, tirando do bolso uma folha do bloco.Era reconhecidamente um desenho de Pansy MacCauley, onde se via uma praia

repleta de pessoas e guarda-sóis multicoloridos. Os detalhes eram fantásticos: um menininho com uma pá brincando na areia, crianças construindo um castelo à beira-mar, um pequeno cachorro preto parecendo brincar em volta de um casal de namorados, caminhando de braços dados.

— Que lindo, Pansy! — exclamou Izzy. — Está tão real que parece que já estive lá.

Tansy aproximou-se silenciosamente e mostrou outro desenho,— Aquela sou eu — disse ela, apontando para uma cabeça dentro d'água.— Você nadou até o fundo? — Os olhos de Izzy se arregalaram.— Não fui sozinha. — Tansy a tranqüilizou. Apontando para outra cabeça na

água, ela disse: — Esse é o tio Phillip.Tio Phillip. Izzy ainda não havia escutado as meninas o chamarem daquela

maneira. Referiam-se ao tio como "ele".— Ela disse que gostava de nadar — Phillip explicou. Seus olhos azuis se

encontraram com os dela por um instante. Então desviou o olhar como se a aparente afeição demonstrada por Tansy o houvesse embaraçado.

— Andando — ele falou energicamente para as meninas. — Vocês precisam tomar banho, as duas. Estão com cheiro de cachorro molhado.

A boca de Pansy formou um surpreso "O". Tansy simplesmente pegou a mão da irmã e a puxou em direção à escada. Izzy esperou que saíssem e virou-se para contemplar Phillip,

— O que está olhando? — ele resmungou, seguindo em direção à cozinha.Izzy continuou observando-o e se deu conta de que aquele jeito resmungão de

Phillip não era nada mais do que fachada.Ele voltou, segurando duas garrafas de cerveja pelo gargalo, Estendeu uma para

ela.Izzy balançou a cabeça.— Não, obrigada. — Esboçou um largo sorriso. —Você é um homem gentil.— Por oferecer uma cerveja a alguém?

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— Não é isso o que quero dizer e você sabe. Quero dizer que é gentil com as garotas.

Ele deu um longo suspiro e tomou um grande gole de cerveja, limpando em seguida a boca com as costas da mão.

— Era o mínimo que podia fazer.— O mínimo seria trazê-las de volta para casa e ignorá-las pelo resto do dia. Ou

entregá-las aos cuidados de uma babá temporária — Izzy argumentou.— Tive a sensação de que elas já ficaram o suficiente com babás. Não sou um

bicho-papão como Pansy acha.— Tenho certeza de que não acha mais — disse Izzy gentilmente. — Aonde as

levou? Nunca associei praias à cidade de Nova York.— Já ouviu falar de Cony Island? — Phillip lançou-lhe um sorriso brincalhão.

— Estava lotada, metade da cidade estava lá. Mas... parece que elas gostaram.Animadamente, Phillip continuou:— E foi melhor do que trazê-las para cá. Que diabo faria com elas aqui dentro?

Não sei o que fazer com crianças.— Parece que sabe. Phillip balançou a cabeça.— Não. — Terminou a cerveja e abriu a outra. — Tem certeza de que não quer?— Não, obrigada.— Não bebe? Por que não? Imagino que Sam não aprove. — Havia um tom

beligerante na voz, o que deixou Izzy surpresa.Ela levantou a cabeça desafiadoramente.— Por acaso está tentando me provocar?— Talvez. — Phillip passou uma mão pelos cabelos, sem desviar o olhar dos

olhos dela. Naquele momento, alguma coisa fez o coração de Izzy disparar. Ela procurou ignorar a reação.

— Está tentando aumentar sua fama de bicho-papão, sr. MacCauley?Ele balançou a cabeça.— Sinceramente, srta. Rule, não sei que o que estou fazendo.

CAPÍTULO V

Naquela noite, Izzy teve um sonho estranha.Estava em uma praia, competindo com Sam. que a desafiara a alcançá-lo. Corria

muito e ele sempre escapava ou se esgueirava. Finalmente o pegou, ou melhor, o agarrou, derrubando-o na areia. Ficaram com os corpos muito juntos, da cabeça aos pés.

— Peguei! — Izzy gritou.E ele se virou, mantendo-a presa nos braços. Mas não era Sara,Era Phillip.Izzy acordou sobressaltada e trêmula. Sentou-se, respirando lenta e

profundamente, tentando acalmar as batidas do coração.Sam! Onde está você, Sam?, pensou assustada.Abraçou os joelhos, apertando-os contra o peito, desejando ver por um instante o

sorriso do noivo ou sentir o toque da suas mãos; alguma coisa que eliminasse a lembrança de Phillip, tão nítida na memória. Ainda não estava pronta para entrar no mundo de Sam, mas era a única alternativa saudável.

Por que sonhara com Phillip?Ouviu o ruído de uma porta se abrindo e olhou nervosamente, para constatar que

era a de seu quarto.

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Uma pequena figura, em uma camisola clara, apareceu.— Você está bem? Teve um pesadelo?Izzy respirou profundamente e balançou a cabeça.— Não, Pansy. Estou bem. De verdade.— Ouvi você dizer alguma coisa.— Talvez tenha falado sonhando. Estou bem. Mas gostei que tenha vindo

perguntar.— E que você sempre aparece quando tenho pesadelos — Pansy explicou.

Tivera dois, nas primeiras noites em Nova York. Sonhos horríveis, contara, onde bichos gritavam com ela. Izzy não se preocupou em imaginar com quem pareceriam. Ela pegara a menina no colo e a acalmara até pegar no sono novamente.

Naquele momento, Pansy seguiu até a cama e permaneceu olhando, com ar preocupado, para Izzy.

— Estava pensando — ela começou.— Em quê?A menina criou coragem.— O que acontecerá se eu tiver um pesadelo quando você não estiver aqui?Estarei aqui, Izzy gostaria de dizer, mas não podia. Quando Sam voltasse, ela

iria embora.E quanto mais cedo acontecesse, melhor, pensava naquele momento.— Seu tio estará aqui.Pansy não respondeu, o que fora um progresso. Antes de levá-las à praia, Izzy

tinha certeza de que Pansy diria que não o queria.— Mamãe não voltará, não é verdade?Droga!, Izzy pensou. Por que Meg não lhes contou? E por que não Phillip?Mas o bom senso não lhe permitia culpar Phillip. Ele fora, assim como as

gêmeas, vítima das decisões inconseqüentes de Meg.— Não querida. Não voltará.— Por quê? Ela não nos quer mais?— Acho que gostaria de ficar com vocês — Izzy falou com honestidade. — Mas

sabe que não poderá oferecer-lhes uma boa formação e acredita que seu tio poderá.Pansy inclinou-se sobre a cama e Izzy a abraçou.— Seria melhor se você ficasse aqui — disse Pansy, pegando Izzy desprevenida.

— Pode ficar?— Você sabe a resposta. Não esqueça de Sam. — E sentiu que estava dizendo

aquilo mais para si própria do que para a menininha.— Eu sei. Gosto de Sam também. Talvez vocês dois possam nos adotar.— Adoraria que fossem minhas filhas, mas não acho que seja isso que sua mãe

pretende.— Ela não se importaria.— Mas seu tio, sim.Pansy levantou a cabeça, olhando fixamente para Izzy.— Verdade?— Sim — Izzy falou suavemente, mas com firmeza. — Dê-lhe a oportunidade

de provar a vocês.Passou um minuto, dois. Finalmente, Pansy balançou quase imperceptivelmente

a cabeça, concordando.

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— Sam voltará depois de amanhã — Izzy avisou Phillip, na noite seguinte, quando ele voltou para casa, depois do trabalho.

Ainda impressionada com o sonho, telefonara para o escritório do noivo para saber as boas novas.

— Depois de amanhã? — Phillip arqueou as grossas sobrancelhas e dirigiu-se à cozinha.

Izzy o seguiu.— Não se preocupe. Não o deixarei totalmente desamparado. Eu as levarei por

um tempo.Izzy concluíra, naquela tarde, que Sam não se importaria e que seria a solução

perfeita.Phillip, que começara a abrir a porta da geladeira, virou-se e a olhou com ar

surpreso.— Levá-las com você? O que significa isso?— Por alguns dias. Sam não vai se importar e...— Achei que estivesse apavorada em pôr os pés no apartamento dos Fletcher.

Pensei que estivesse tremendo de medo da mãe dele. E agora vai carregar duas crianças com você?

Izzy colocou as mãos no bolso do largo short.— Encontrarei coragem.Havia algo que a assustava mais ainda. Naquele momento, lembrava-se dos

músculos firmes do corpo de Phillip sob o dela, no sonho.Ele deu um longo suspiro.— Pode levá-las escondidas no fundo do bolso desse short. — Pegou uma

garrafa de cerveja, abriu-a e, após tomar um gole, balançou a cabeça.Izzy enrubesceu.— Já falei. Providenciarei outras roupas.Phillip enxugou a boca com as costas da mão.— Certo, você irá amanhã. Pode levar as meninas ao estúdio, logo bem cedo, e

Anita a levará às compras.— Eu não...— Temos um trato, srta. Rule. Amanhã, às nove e meia em ponto.Ninguém iria dizer que Phillip MacCauley não cumprira sua parte no acordo.

Então, se Isabel Rule quisesse partir, ótimo, poderia. Mas iria em condições de bater à porta dos Fletcher.

Ele telefonou para Anita, a modelista, e pediu-lhe que a levasse às compras. Confiava que a amiga não traria Izzy para casa com minissaias e blusas transparentes.

— Anita saberá escolher o que você precisa — Phillip disse a Izzy.— Posso pagar tudo — ela adiantou. O olhar que lançou para Phillip informou-o

que seria inútil oferecer-se para arcar com aquelas despesas.— Como quiser. — Phillip entendeu a mensagem.

— Pode contar comigo — disse Anita, com um largo sorriso.— Vamos, temos muito trabalho a fazer.— Por que não podemos ir junto? — as meninas queriam saber.— Porque vocês precisam me ajudar aqui — Daisy avisou.— E a mim também — Phillip completou. — Venham. Phillip estava certo de uma coisa: Anita era muito experiente e não gastariam

muito.

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Izzy a acompanhou, de loja em loja, pela Sétima Avenida.— Um vestido preto básico — Anita decretou, estudando o corpo de Izzy e a

baixa estatura. — De malha. Talvez seja um pouco ousado porque realçará suas curvas.Izzy nunca prestara muita atenção nas próprias curvas. Anita sugeriu as cores de

todas as roupas que compraram, sempre procurando combiná-las com o tom de pele de Izzy.

— Está muito bom — Anita aprovou, quando Izzy experimentou um jeans e um blazer que lhe alongavam a silhueta.

— Não está ótimo?Izzy teve de admitir que estava. Já usara jeans, mas nunca tivera um blazer.— Não posso gastar uma fortuna.— Comprará o básico — Anita estabeleceu. — Quanto ao restante, daremos um

jeito.Da Sétima Avenida foram para outro lugar que Anita conhecia e que tinha

preços ótimos. Compraram outro jeans, um par de sapatos Gucci e um par de botas.— Botas?— Combina muito bem com jeans. Apresse-se. Precisamos ir ao Soho, a uma

joalheria que conheço. Você precisa de brincos. De prata. Combinarão muito bem com seu tom de cabelo.

Quando terminaram as compras, traziam tantas sacolas e caixas que Izzy se sentia como a personagem de uma novela que mudava o guarda-roupa a cada estação.

Anita ajudou-a a carregar os volumes ao voltarem para o estúdio. A porta do elevador, desculpou-se porque teria um compromisso em seguida.

Izzy mal conseguiu apertar o botão do elevador. Sentia os pés queimando. A cabeça parecia que ia explodir. Estava cansada e precisava de uma pausa para voltar a respirar normalmente.

De fato, estava nervosa. Anita dissera-lhe meia dúzia de vezes, nas últimas quatro horas, que ela era agradável, bonita, atraente. E, no entusiasmo do momento, Izzy acreditara que fosse.

Naquele instante, já não acreditava mais.E Phillip MacCauley também não.Izzy podia ter sonhado com ele, mas achava que Phillip não se preocupava nem

um pouco com ela. Estava simplesmente honrando o trato que fizeram. O que Izzy aparentava não fazia a mínima diferença para ele.

Então, por que gastara toda a tarde procurando roupas que achava que ele aprovaria?

Ouvira Anita, considerara seus conselhos e as sugestões. Mas, todas as vezes em que ia fazer uma escolha, sempre lembrava-se dele e julgava qual ele mais gostaria.

Para que se preocupar com o gosto de Phillip MacCauley? O que interessava era o de Sam para que se sentisse confortável quando se aventurasse no mundo dele.

As meninas estavam perto de Daisy, sentadas, desenhando. Olharam para cima, com curiosidade.

— Não está usando nada novo — Tansy acusou, meio decepcionada.— Não — Izzy confirmou, colocando as compras no chão. — Só estou

carregando. Venham me ajudar-me a levar tudo para dentro.— Não precisa — disse uma voz masculina, vinda da porta e do estúdio. —

Vamos levar tudo para casa.

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Phillip nem olhou para o volume das compras. Rapidamente, mandou as crianças guardarem o que haviam tirado do lugar e saíram em seguida.

— Pelo número de sacolas, vejo que o programa deu certo — comentou Phillip, ajudando Izzy e as meninas a entrarem no táxi. — Sabia que poderia contar com Anita.

— Ela é muito agradável. Sabe onde comprar qualquer coisa em Nova York.— Faz das compras uma arte. Você parece que está morta.— Muito obrigada — ela lançou-lhe um olhar fulminante.— Só estou surpreso — admitiu. — Pensei que gostaria do programa como a

maioria das mulheres.— Está insinuando que não sou normal? Um largo sorriso se abriu no rosto de Phillip.— Bem, talvez só um pouco. Izzy concordou.— Tem razão. Foi... interessante, mas me cansou muito.— Espero que não esteja cansada demais para desfilar para nós essa noite.Izzy não respondeu. Phillip a olhou, com ar esperançoso.— Por favor! — Tansy implorou.— Ficará igual a uma das bonecas que desenhei. Izzy sentiu o rosto queimando.— Não posso. Preciso fazer o jantar.— Eu farei — disse Phillip.— Ele fará — Tansy estabeleceu. Pansy concordou.— Nós o ajudaremos. — Todos os três sorriram para ela. Quando entraram no apartamento, Phillip sugeriu que Izzy fosse diretamente

para o banho, para refrescar-se e sentir-se mais disposta.— O jantar estará pronto quando você terminar. — Virando-se para as gêmeas,

acrescentou: — Teremos um desfile de modas depois.Izzy hesitou, ainda incerta.— Anda, Izzy! — as meninas insistiram, puxando-a para a escada. Sem outra

alternativa, acompanhou-as.Mais tarde, ao vê-la descendo a escada, usando um vestido preto de malha, tão

simples e atordoante, realçando-lhe curvas, Phillip prendeu a respiração.Ela parou e falou em um tom quase desafiador:— Já viram? — E começou a voltar.— Venha cá.Olhou para Phillip, com os olhos bem abertos e atentos.— Por quê?— Porque não vi direito.— Não há muito para ver. É só um vestido. — Virou-se e subiu um degrau.— Izzy! Venha cá.Ela se virou novamente, fitando-o. Então, devagar e relutantemente completou o

restante do caminho, parando diante dele. Phillip colocou uma mão no bolso.— Vire-se.Ela deu uma rápida pirueta e saiu em direção à escada de novo. Phillip a alcançou e a pegou pela mão, trazendo-a de volta., Os dedos dela

estavam quentes e ele os prendeu por mais tempo do que o necessário.Observou-a detidamente e percebeu que Izzy enrubescera.— Está se sentindo embaraçada?

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— Estou.Ele sorriu e levou a mão dela para junto de seus lábio Pretendia que o gesto

fosse uma brincadeira. Mas, independentemente do que pretendia, roçou os lábios na pele suave da mão de Izzy.

Phillip sentiu o corpo reagir imediatamente. O coração palpitava, o sangue latejava nas veias e uma inédita sensação prazer o invadiu. O mesmo efeito pareceu acontecer em Izzy. Ela reagiu puxando a mão e a esfregando no tecido do vestido.

Ele não podia deixar de continuar o que pretendia ser um brincadeira.— Sam não a beija desse jeito?Ainda tentando afastar-se, ela balançou a cabeça, sem responder.— Como ele a beija?Izzy passou a língua pelos lábios e desviou o olhar. — Não é de sua conta.— Mais ou menos assim? — Prendeu-a em seus braços, pousou os lábios nos

dela e começou a beijá-la com toda sua considerável experiência e desejo. Phillip estava só há muito tempo. Ultimamente não tivera tempo nem vontade de relacionar-se. Dedicara-se unicamente, olhar através das lentes de sua câmera. Apreciar os lábios de Angelina Fiorelli fora o mais próximo que chegara do prazer. Toda a energia fora absorvida pelo trabalho.

O que já não lhe era mais suficiente. Aquele desejo começara com o fascínio que lhe despertaram os lábios de Angelina. Talvez houvesse começado antes. Ou quem sabe não houvesse despertado até que Isabel Rule, com sua pele de pêssego e seus shorts e camisetas largas, surgisse em sua vida.

E por que não Izzy? Estava ali todos os dias, circulando pelo apartamento, cuidando das meninas, contando-lhes historias, preparando as refeições, passando os dedos pelos cabelos cortados. Proporcionara-lhe um passatempo.

Verdade, ele estava se distraindo. A semana inteira, desde que ela chegara, fora divertida.

Aquele beijo o inflamara como se a lava de um vulcão estivesse circulando em suas veias. O corpo macio de Izzy moldava-se ao dele. Os lábios dela se abriram, dando-lhe acesso à suavidade de sua boca. Phillip a abraçou mais firmemente. A língua circulava entre os lábios dela. E quando ela respondeu vivamente, Phillip sentiu todo o corpo estremecer.

— Olha!— Estão se beijando!As vozes infantis trouxeram ambos a realidade. Izzy desvencilhou-se dos braços

dele. Phillip respirou profundamente várias vezes.As gêmeas os olhavam, boquiabertas, com evidente espanto. Então, uma delas

disse:— Pensei que ela fosse se casar com Sam.

CAPÍTULO VI

Fora o vestido que provocara em Phillip o desejo de beijá-la. Lógico que fora o vestido. Izzy sabia muito bem que não exercia nenhuma atração sobre ele.

Sufocou uma risada quase histérica ao lhe ocorrer que talvez Anita usasse as reações de Phillip como prova de sua habilidade profissional. Se a reação dele fora espontânea, definitivamente Anita entendia do negócio.

Izzy desejou despertar a mesma reação em Sam.No dia seguinte veria Sam.

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Em apenas vinte e quatro horas a vida voltaria ao normal e todas as peças estariam em seus devidos lugares. Se Phillip não quisesse realmente que ela levasse as crianças por um tempo, poderia ir regularmente cuidar delas até que fosse contratada a babá definitiva. Assim não correria mais o risco tê-lo por perto, observando-a com aqueles profundos olhos azuis. Se fizesse tudo direitinho, nem mesmo precisaria vê-lo.

Izzy sentou-se na beirada da cama, no escuro, com as mas espalmadas sobre as faces, sentindo-as afogueadas. Estiveram queimando nas duas últimas horas, desde quando fora alvo do olhar de Phillip, quando descera a escada, usando aquele vestido preto.

Não sabia o que ele contara às crianças sobre o beijo. Izzy não tivera condições de dar explicação alguma.

Diante das expressões chocadas das meninas, ela dissera:— Vou casar-me com Sam. Seu tio e eu... — Mas a voz fora tão fraca que nem

mesmo pareceu que era ela quem estava falando.As meninas simplesmente continuaram olhando, encantadas. Finalmente, Pansy

passou a língua pelos lábios como se estivesse tentando imaginar como um vestido poderia ter inspirado um beijo como aquele.

Izzy passava a própria língua pelos lábios naquele momento. Tremiam ainda com a lembrança dos lábios dele.

Não poderia condenar a reação de Phillip ao vê-la com o vestido, porque ela própria tivera um comportamento incompreensível.

Procurou convencer-se de que fizera aquilo porque estava com saudade de Sam. Não o via desde o enterro do avô, havia três meses, quando ele ficou na cidade por apenas uma noite. Naquelas circunstâncias, dificilmente teriam disposição para manifestações de paixão.

Sam a confortara, fazendo o possível para encorajá-la a olhar para o futuro. Ele a beijara naquela noite e novamente antes de embarcar no avião, no dia seguinte.

Mas nunca, em um milhão de anos, ele a beijaria do mesmo jeito que Phillip.Lógico que não!, lembrou-se. Porque Sam era gentil, discreto, inteligente. Nos

cinco anos em que o conhecia, ele nunca a beijara daquela maneira, nem mesmo quando ficaram noivos. Certamente, não faria aquilo na noite do enterro do avô e nem no dia seguinte.

Nunca poderia esperar que o fizesse.Mas no dia seguinte... No dia seguinte Sam o faria.Izzy fechou os olhos, tentando apagar a lembrança dos lábios de Phillip e torceu

para que o dia seguinte chegasse rápido.— Então, o que achou do vestido? — Anita perguntou na manhã seguinte,

enquanto arrumava a saia de uma das modelos, lançando um rápido olhar para Phillip. — Que bela namorada.

Phillip escondeu-se atrás da câmera. Não havia razão para esconder-se senão para evitar o olhar de Anita.

Ela sorriu.— É uma doçura a sua Izzy. Ela...— Não é a minha Izzy! — Phillip retrucou. Levantando as sobrancelhas, Anita lançou-lhe um olhar perspicaz.— Izzy precisa de ajuda e a estou ajudando. Fizemos um acordo — Phillip

explicou.— É uma moça muito bonita. Mas é mais do que bonita. E pura — Anita

insistiu.Phillip deu um suspiro impaciente.

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— O que sabe sobre pureza?— Você ficaria surpreso — ela respondeu sorridente. — Nem sempre vivi nesse

meio. Entendo o suficiente. Além disso, Izzy tem frescor, brilho e humor. Compreendo por que se sente atraído por ela.

— Não estou atraído e ela está comprometida — Phillip informou, desanimado.— Mas não está casada, certo? Phillip arqueou as sobrancelhas.— E quase a mesma coisa. E com Sam Fletcher, se que saber. — Anita e

qualquer um em Nova York que desempenhasse alguma atividade profissional, conhecia Sam Fletcher.

— Verdade? Sam Fletcher? — Anita pensou um pouco esboçou um sorriso simpático. —Acho que você tem uma tarefa difícil pela frente.

Phillip não pretendia tirar Izzy de Sam Fletcher. Não imaginava absorvendo as responsabilidades de tal atitude.

Chegando ao apartamento, logo ouviu as vozes das menina conversando. Izzy falava ao telefone. Estava sentada na cozinha com os pés sobre uma cadeira. Ainda vestia a camiseta larga, mas o short era novo. Sua cor, amarelo-claro, combinava com a pele morena das pernas. Acenou para Phillip.

— Sam! — E o rosto delicado abriu-se em um largo sorriso, Phillip percebeu que ficou chateado, em vez de se sentir feliz por ela.

— Entendo muito bem. Nessa noite, não. Está bem, Sam, De verdade. O atraso do vôo não é problema. Durma bem amanhã nos veremos.

O queixo de Phillip se enrijeceu. Tirou os sapatos e desabotoou a camisa. Estava muito quente ali, mesmo com as janelas abertas. Perguntou-se por que ela nunca ligava o aparelho de ar condicionado. Acabou tirando a camisa.

Izzy evitou o olhar dele.— Oh, acho que está bem. Nos veremos de manhã, então. Ela fez o som de um beijo e então, como se de repente houvesse se lembrado do

beijo da noite anterior, parou abruptamente e olhou para Phillip, com ar assustado.Seus olhares se encontraram. De imediato, ela desviou o seu.— Eu te amo, Sam — disse ao desligar e se virou para falar com Phillip. — Sam

voltou há pouco de Paris. Está exausto e então...— Pobre rapaz — Phillip comentou sem simpatia.— Então — Izzy continuou firmemente. — Só virá amanhã, nas me pegará às

nove. Espero que não seja muito cedo.— E o que devo fazer com as meninas? — ele perguntou.— Nada — Izzy respondeu tranquilamente. — Nós as levaremos.— O quê? Levá-las com vocês?Ela concordou, balançando a cabeça.— Bem, sei que não trabalhará amanhã, mas não sei se tem outros planos. Além

disso, comprometi-me a cuidar delas até que fosse contratada uma babá. Contatou mais algumas para eu entrevistá-las?

— Não.Ela franziu a testa.— Você procurou?— Lógico. Como fará com elas? Imaginei que estivesse ansiosa em ir para a

cama com o sr. Milionário.— Imaginação fértil — Izzy comentou rapidamente. — Precisa tirar a roupa

assim que chega em casa?

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Os olhos cintilantes vagaram do rosto de Phillip ao peito nu. A boca de Phillip abriu-se em um sorriso.

— Por quê? Está preocupada que eu caia sobre você novamente? Izzy cruzou os braços.— Sobre ontem à noite... aquele beijo não foi...— Para você não significou nada. Bem, para mim também não.— Foi uma aberração — Izzy falou depois de um momento, passando a língua

pelos lábios. — Certo?— Certo.— Bom. — Levantando-se, ela manteve os braços cruzados e ficou balançando

para a frente e para trás, sobre os calcanhares. Então deu uma risadinha.Phillip fitou-a com ar sério.— O que é engraçado?— Estava só pensando que talvez tenha sido... o certificado de aprovação de

Phillip MacCauley.— Talvez sim — ele comentou asperamente. Olhou em volta e ouviu as vozes

das meninas, que estavam no andar de cima. — O que estão fazendo lá em cima? Não se preocupe, vou ver.

Que droga, Phillip disse para si mesmo, as coisas tomaram um rumo tão estranho que, para evitar Izzy, viu-se procurando a companhia de duas menininhas.

Izzy contava os minutos até a hora da chegada de Sam procurou ficar fora do caminho de Phillip pelo resto daquela noite. Leu histórias para as gêmeas, jogou com elas até irem para a cama e foi para seu quarto, para ler.

Ou tentar. Apesar de manter os olhos fixos no livro, a atenção parecia estar nos ruídos que Phillip fazia no andar de baixo. Não sabia o que ele estaria fazendo, mas parecia envolver muita caminhada, um barulho aqui e ali e as janelas sendo abertas e fechadas. Sossegou um pouco depois das dez, quando Izzy acabara de apagar a luz do quarto.

Um encontro tardio?, ela pensou.Com qual das belezas que o rodeavam todos os dias? Pelo que percebera, Phillip

não tivera nenhum encontro desde quando ela e as meninas haviam chegado. Não conseguia acreditar que fosse tão solitário.

Era só lembrar a maneira como a beijara...Não queria lembrar-se da maneira como fora beijada.Queria Sam. Dentro de algumas horas o veria novamente, o tocaria de novo. Iria

beijá-lo mais uma vez. Fechou os olhos. Tinha medo de dormir.O que aconteceria se sonhasse com Phillip?

Não se lembrou do que sonhara, o que considerou um bom sinal. Quando o despertador tocou, às seis, ela se levantou para tomar um banho. Procurou ajeitar os cabelos como Sierra ensinara. Gostaria que Sam os aprovasse. O cabelo fora a melhor transformação que Phillip proporcionara.

A maquiagem era outra história. Pintou-se da maneira Tordo, o maquiador amigo de Phillip, lhe ensinara. Ao terminar, olhou-se detidamente no espelho, tentando encontrar a antiga Isabel Rule.

Dentre as opções de roupa para vestir, sentiu-se tentada pelo vestido preto, básico, que inspirara o beijo de Phillip. Será que exerceria o mesmo efeito em Sam?

Daria tudo certo, pensou. Mas não parecia ideal praticar seu charme em um sábado, às nove da manhã, na companhia das crianças.

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Então optou por um jeans, uma camisa de seda vermelha e os brincos de prata que Anita ajudara a escolher.

Já estava pronta e ainda tinha uma hora disponível, antes da chegada de Sam.Podia ouvir Phillip perambulando no andar de baixo, conversando com as

crianças enquanto tomavam o desjejum. Nos dias anteriores, Izzy sempre estivera com elas, mas naquele dia ficara parada no meio do caminho, sentindo-se uma completa idiota.

O que o avô sempre lhe dissera? "Enfrente seus medos, Izzy, minha garota. Aumentam se fugir deles."

Então prendeu a respiração e começou a descer a escada. Sentiu os joelhos trêmulos ao lembrar-se da noite anterior, quando descera usando o vestido preto.

Mas quando chegara perto o suficiente para ser vista da cozinha, Tansy abriu os braços exageradamente e derrubou o copo com leite.

— Oh, não! — desconcertada, a menina murmurou.— Droga! — Phillip olhou para ela.— Pode deixar — Izzy apressou-se, ignorando a maneira como ele a olhava

enquanto pegava o papel-toalha e se inclinava para limpar o leite.— Isso acontece. Estará limpo em um instante.Izzy manteve toda a atenção concentrada em reparar o estrago. Fez o possível

para ignorar a presença masculina que se empenhava em ficar em seu raio de visão.Subitamente um pano apareceu diante dela. Ela o pegou agradecida e olhou para

Phillip, que estava em pé diante dela.— Obrigada.— De nada. — O tom de voz era seco. Ele recolheu o papel ensopado e o jogou

no lixo.Izzy estava limpando o chão, quando ouviu o som da campainha. Phillip apertou

o botão do interfone.— Quem é? Silêncio e então:— Sam Fletcher.Izzy ficou em pé. Phillip lançou-lhe um olhar enigmático e então apertou o botão

para abrir a porta. Izzy passou a mão no jeans, na altura do joelho, ajeitou os cabelos com os dedos e mordeu os lábios nervosamente.

— Você está muito bem — Phillip resmungou.Ela ouviu os passos que se aproximavam da porta e então; uma batida. As

meninas correram para abrir.E lá estava ele, alto, esguio e tão querido; familiar e maravilhoso como sempre.

Izzy sorriu para ele.Sam ficou parado na porta. — Eu... Izzy? — O queixo parecia que corria o risco de cair no chão. — É

você?...— Não me diga que não me reconheceu.Ele fechou a boca e concordou. Então passou a mão pelos cabelos castanho-

claros e meneou a cabeça lentamente, parecendo encantado.— Pegou-me desprevenido — ele admitiu, um leve sorriso abrindo-se no rosto

de traços bem-feitos. — O que posso dizer?Abrindo os braços, deu um passo à frente.Izzy correu para ele, abraçando-o firmemente. Demonstrava estar desfrutando o

conforto daquele abraço, da suave pressão do algodão da camisa dele contra o queixo e o roçar do queixo recém-barbeado em sua têmpora. Mas não era o suficiente.

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Ela pousou a boca na dele, procurando a mesma sensação que encontrara na noite anterior no beijo faminto de Phillip.

Izzy viu que os olhos de Sam se arregalaram. Ele compartilhou o beijo por um instante e então pressionou os dedos nos braços dela, afastando-a para que pudesse admirá-la.

Deu um profundo suspiro e então riu.— Não na frente das crianças — determinou. Izzy enrubesceu.— Sinto muito. — Izzy se manifestou, não ousando olhar para Phillip. — Faz

tanto tempo...— Muito tempo — Sam concordou, puxando-a de lado para colocar o braço nos

ombros dela. — Você na verdade está... maravilhosa!— Bem, não queria que se envergonhasse de mim, então algumas amigas de

Phillip me deram algumas sugestões. — Não estava disposta a contar todos os detalhes do trato.

— Phillip? — Sam perguntou, dirigindo o olhar para o homem que estava sorrindo para ele, apoiado no batente da porta da cozinha.

— Talvez... você devesse nos apresentar.— Naturalmente. — Izzy sentiu as faces queimando. — Sam, esse é o tio das

meninas, Phillip MacCauley. Phillip, esse é Sam.Cumprimentaram-se. Sam foi muito efusivo, porém Phillip não demonstrou

reciprocidade e cruzou os braços. Sam permaneceu sorrindo.— Izzy contou que é fotógrafo...Phillip concordou. A expressão em seu rosto não encorajava a outras perguntas.— Para revistas? — Sam persistiu. Outro aceno de cabeça.— Fascinante. Imagino que viaje muito. — Permaneceu olhando para Phillip,

aguardando uma resposta.— Não mais do que você.Izzy percebeu que Phillip não estava em seu melhor humor. Lançou um sorriso

radiante para Sam e pegou-lhe a mão.— As meninas e eu estamos prontas — disse ela. — Podemos ir?Ao passar pela porta, Tansy olhou para trás.— Você não vem, tio Phillip?— Não.— Não, ele não virá — Izzy falou ao mesmo tempo. Seus olhares se

encontraram por uma fração de segundo, então Izzy desviou o seu e conduziu as crianças para fora.

Sam começou a acompanhá-las e então parou.— Prazer em conhecê-lo.Sam as levou ao zoológico do Bronx, não precisamente o tipo de lugar onde um

encontro romântico deveria acontecer, mas com um dupla de meninas de seis anos por perto, romance não estava exatamente no cardápio.

Os quatro se maravilharam vendo cada espécie de animal. Comeram cachorro-quente e tomaram sorvete, conversaram e riram. Sam carregou nos ombros cada uma das meninas, quando começaram a ficar cansadas. Contou a Izzy tudo sobre suas viagens, as feiras de rua em Bangcoc, o mercado de seda em Singapura, o comércio de pérolas em Hong Kong, da mesma maneira natural como sempre conversava com Izzy quando a visitava em São Francisco.

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E enquanto via e ouvia, ela pensava, quero que ele me beije novamente. Tentou rememorar o beijo que trocaram quando se encontraram naquela manhã. Tentou lembrar o afago dos lábios dele, o roçar de sua boca na dela, o sabor.

Só que, na verdade, se lembrava da sensação do beijo de Phillip.Mas Sam estava contando a Pansy sobre caligrafia em papel de arroz e quando

olhou para Izzy, sorriu e apertou-lhe a mão, mas sem nenhuma manifestação que indicasse que iria beijá-la.

Izzy sabia que não poderia esperar por aquilo. Sam era um tipo discreto, não aquele que demonstrava afeto em público. Estavam de mãos dadas e aquilo era suficiente.

Haveria tempo mais tarde. Em particular. Sem as meninas. Estariam jantando juntos, só os dois.

E então...Izzy se deliciou com o pensamento do que viria. Sentada em um banco, ouvindo

Sam falar, virou o rosto para o sol e sentiu relaxar a tensão das duas últimas semanas.Sam voltara. Daquele momento em diante tudo estaria em ordem.

Então ela saiu para jantar com o Fletcher? O rapaz não era qualquer um. Era um dos mais bem-sucedidos e respeitados homens da cidade de Nova York. E um cavalheiro, além de tudo.

Então por que estava andando pela sala como um homem que deixou a única filha ir embora com o bandido da cidade? Phillip se perguntou e não gostou de nenhuma das respostas.

Quanto tempo é necessário para jantar fora? Ele e as meninas haviam jantado em menos de uma hora e naquele tempo estava incluída a caminhada até a mercearia em Columbus, pegar as embalagens de salada, embrulhar os cachorros-quentes, voltar e comer.

Naturalmente, não haviam ido a um restaurante cinco estrelas. Mas quem disse que Sam Fletcher levara Izzy para jantar? Quem sabe o que estariam fazendo?

Mas ó que quer que fosse, não haviam incluído nem ele nem as gêmeas no programa. Trouxeram-nas às seis, cansadas e felizes e o avisaram que iriam jantar.

— Você não está pensando em deixá-las sozinhas, está? — Izzy perguntara.Phillip grunhiu uma resposta, mal-humorado. — Você não tem um encontro, tem? Se tiver, podemos ficar aqui. — Izzy

preocupou-se e olhou para Sam, para confirmar.Mas Phillip resmungou:— Não, droga. Não tenho um encontro. Pode ir. — Ele ficou na cozinha todo o

tempo em que ela ficou se arrumando. Fez o impossível para ignorar a conversa polida de Sam Fletcher.

Nem os viu sair porque tinha outras coisas importantes a fazer. Há meses não descongelava o freezer. Estava furiosamente cortando uma placa de gelo quando eles saíram.

Mas aquilo fora um pouco antes das sete. Horas atrás. Já eram quase onze e ainda não haviam voltado.

— Tio Phillip?Ele pulou da cama onde finalmente se esticara depois de parar de caminhar de

um lado para o outro. Uma das gêmeas estava parada no topo da escada, olhando preocupadamente para ele. Phillip arqueou as sobrancelhas.

— O que aconteceu?

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— Onde está Izzy?Ele deu um longo suspiro.— Foi jantar fora, lembra-se?— E ainda não voltou?— Não é tão tarde — Phillip falou rapidamente, exatamente o oposto do que

estivera pensando. Mas as meninas já haviam tido muitos problemas na vida graças à mãe delas e não precisariam de mais, criados por uma jovem irresponsável.

— Mas faz muito tempo.— Escute, Tan, você é Tansy, não é? — ele indagou. Ela balançou a cabeça.— Sou Pansy.Aquilo o surpreendeu. Sabia que fizera um pequeno progresso, tentando

familiarizar-se com elas. Pansy começara a sorrir para o tio desde aquele dia na praia. Conversava com ele quando a irmã conversava. Mas, até aquele momento, nunca tivera a iniciativa de dirigir-se a ele, sozinha.

Phillip afastou dos olhos uma mecha de cabelo, levantou-se e subiu a escada.— Bem, escute Pansy. Sua amiga Izzy é uma menina crescida. Pode cuidar de si

mesma. Além disso, nós não estabelecemos um toque de recolher.— O que é toque de recolher?— Um limite. A hora em que ela deveria voltar.Pansy colocou o dedo na boca, analisando a informação. Então o tirou e disse,

compenetrada:— Seria melhor se tivéssemos estabelecido.Talvez, realmente. Phillip pensou com severidade, mas disse:— Não é de nossa conta o que ela faz.— E sim — Pansy insistiu. — Izzy é nossa amiga. Phillip concordou.— Bem, nossa amiga voltará quando quiser. E agora, volte para a cama.Pansy olhou para ele e correu na direção do quarto como um coelho assustado.

Phillip ficou olhando-a e então a seguiu até a soleira da porta para ver se estava tudo em ordem. Viu um perfil de duas pequenas formas em sua cama de casal. O olhar assustado de Pansy, deitada com o cobertor quase lhe cobrindo o rosto, acompanhou Phillip quando ele entrou no quarto.

Ele deu um suspiro e se inclinou, sentando-se cuidadosamente na beirada da cama. Ela falou quase chorando:

— Quero que Izzy volte.— Ela voltará.— Tem certeza?— Tenho. — Seria uma maldição se resolvesse passar a noite com Fletcher.— E a mamãe?Oh, Deus. Também nessa noite, não. Mas supunha que elas houvessem

conversado alguma vez a respeito. Izzy lhe dissera que as meninas haviam percebido que Meg as abandonara, mas nunca haviam comentado com ele. Deduziu que lhes faltara coragem.

— Não — disse ele calmamente. — Mas arranjou tudo direitinho para que vocês ficassem comigo.

— Você não nos queria.— Eu não as conhecia e achava que não queria crianças. — Olhou-a fixamente.

— Um homem não pode mudar de idéia?— Você mudou?

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— Mudei.Sabia que era verdade. Poderia não ser o melhor pai substituto do mundo. Tinha

muito o que aprender. Mas Izzy o chamara à realidade. Proporcionara a oportunidade de ele ficar com elas, de acostumar-se e sentir-se bem em companhia delas. Nunca tivera muita fé em sua habilidade em lidar com crianças. Tinha medo de abandoná-las tal como seus pais fizeram com ele. Mas aprendeu que, ficando junto, sendo carinhoso e simplesmente tentando, já era um caminho.

Ele queria tentar.Pansy concordou solenemente.— Muito bom.Os cantos da boca de Phillip se levantaram em um sorriso confiante.— Nós vamos conseguir, nós três.— Vamos.Ele estendeu a mão e, depois de um instante, Pansy a pegou. O peso da

responsabilidade caiu sobre ele e não era tão pesado como receava.— Talvez — ele completou. — Algum dia sua mãe voltará. Pansy meneou a cabeça.— É melhor ficar com você. E Izzy. Phillip balançou a cabeça.— O quê?— Prefiro Izzy. Ela não parece com a mamãe. — Pansy explicou: — Que estava

sempre ocupada. Phillip podia imaginar e concordou.— A maior parte do tempo ficávamos com Izzy, com o avô, Digger, Hewey e

Pops. — Pansy continuou: — Eu gostava mais, mas então o avô morreu. Eu e Tansy choramos.

— Eu acredito.— Não choramos quando mamãe foi embora.— Sua mãe não morreu — disse Phillip.— Mas foi embora. Não quero que Izzy vá também. Phillip deu um longo suspiro.— Izzy voltará — prometeu. — Nesta noite.Voltaria nem que precisasse ir buscá-la, arrancando-a da cama de Sam Fletcher e

a trazendo para casa.Mas no futuro! Que história era aquela de quero ficar aqui com você e Izzy? As

meninas sabiam que ela pretendia se casar com Sam.Só que justamente na noite anterior haviam visto que ele a beijara.Sentiu um aperto no peito. Os dedos de Pansy apertaram os seus.— Será muito bom — disse ela sonolenta. — Nós, você e Izzy. — Os olhos se

fecharam e ela se virou para o lado. Em poucos minutos, estava respirando profunda e calmamente. Mas os dedos se mantiveram segurando os de Phillip.

Nós, você e Izzy.Phillip procurou evitar pensar naquilo.

CAPÍTULO VII

Izzy ficara alegre em poder sair sozinha com Sam, finalmente.Foram a um pequeno restaurante chinês, não muito distante do apartamento de

Phillip. A música ambiente era muito suave e havia castiçais nas mesas, cobertas com toalhas adamascadas em cores claras.

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Sam sorria para ela.Era tudo o que o coração romântico de Izzy desejara, exceto o fato de Sam ter-se

limitado a falar sobre a viagem no trem noturno que fizera entre Chiang Mai e Bangcoc."Beije-me", Izzy pensou, olhando os lábios dele e tomando pequenos goles da

sopa de raiz de lótus que o garçom pusera à sua frente.Sam sorriu e acariciou-lhe a mão que repousava sobre a mesa. Ah, ela pensou,

finalmente falaremos sobre nós; mas ele começou a falar da noite que passara no famoso velho hotel colonial em Singapura. "Elegante", dissera ele, entusiasmado. "Memorável".

"Beije-me", Izzy implorava silenciosamente enquanto ele pegava uma porção da salada.

Sam comentou sobre seu cabelo.— Gostava dele comprido.— Não gostou assim? — Izzy levou a mão aos cabelos.— Gosto. Gosto de qualquer maneira. Sam levantou os olhos.— Não está com fome? Você gosta dessa comida, não gosta?— Sim — disse Izzy, pegando um pedaço com o garfo.— Achei que sim. Lembrei-me da noite em que fomos àquele pequeno

restaurante na Mission District. — Ele sorriu com a lembrança.Fora na última vez em que estivera, em São Francisco antes da morte do avô

dela. Naquela ocasião, ficaram juntos toda a tarde e parte da noite. Foi quando ele a pediu em casamento e lhe deu o anel. Naquela noite, Izzy voltara para casa radiante, sonhando com um futuro com Sam.

— Beije-me — disse ela.Sam olhou para ela com o garfo a meio caminho da boca.— O quê?Izzy sentiu o rosto corar. Não se dera conta de que falara alto.— Nada — murmurou, abaixando rapidamente a cabeça. — Eu só imaginava se

você... sentiu saudades de mim?Sam segurou a mão de Izzy. Os dedos acariciaram as unhas recentemente feitas,

ovaladas e pintadas. Acariciaram o anel que lhe dera. Os olhares se cruzaram.— Lógico que senti. De fato... — Lançou-lhe um sorriso irresistível. — Pensei

que talvez pudéssemos ir à minha casa para que eu possa mostrar o quanto senti sua falta.

Izzy sentiu uma contração no estômago, um arrepio. Então sorriu, relaxando a apreensão. Sua casa. Ele a levaria à sua casa. Finalmente iria beijá-la e, possivelmente, faria mais do que aquilo.

— Sim — ela aquiesceu. — Que boa idéia!Desta vez Izzy não se sentiu intimidada pela fachada de mármore do elegante

prédio onde ele morava. Com o novo visual e a companhia de Sam, sentiu-se confiante ao passar pelo porteiro sorridente.

O apartamento ficava no oitavo andar. Tudo parecia haver saído de uma revista de decoração. Viam-se tapetes persas sobre o assoalho de carvalho polido, elegantes poltronas revestidas com coloridos tecidos geométricos e um grande sofá branco. Cristais e prataria adornavam os móveis e um grande armário com portas de vidro. Do outro lado da sala, havia uma grande janela de vidro que se abria para uma espetacular vista do Central Park.

Izzy lembrou-se do avô vitoriano e da maneira gentil como recebera Sam em todas as vezes em que ele fora a São Francisco.

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Ela caminhou em direção à grande janela e ficou observando a paisagem.— É linda, mas não tanto quanto você — Sam a elogiou.— É a roupa nova — Izzy sugeriu, modestamente. — O corte de cabelo. Viu

minhas unhas?— Vi — ele concordou, aproximando-se e a envolvendo nos braços.Izzy ansiara tanto por aquele momento. Tentou relaxar quando os corpos se

tocaram. Sam a beijou no pescoço, na orelha, na curva do queixo. Ela estremeceu.— Está com frio? — Sam a abraçou mais forte. — Posso esquentá-la.E beijou-a da maneira como queria ser beijada: com desejo, com alegria, com

determinação.Só que aquela sensação fê-la lembrar-se de Phillip.Izzy compartilhou o beijo com todo o fervor que poderia demonstrar.Sam suspirou e pressionou os lábios contra os dela, acariciando-lhe as costas e

abraçando-a apertado.— Vou mostrar-lhe o quarto — ele sussurrou.As palavras agiram como um balde de água fria. Izzy desvencilhou-se de seus

braços e virou-se para a parede de vidro.— Não... nesta noite.Sam piscou e a olhou com ar confuso.— Izzy?Ela sentiu um leve arrepio e cruzou os braços.— Nós podemos... se quiser, mas prefiro ficar olhando a paisagem, Sam. —

Lançou um olhar desesperado para o noivo. — Sinto muito. Eu...Ele acariciou-lhe os cabelos e sorriu com ternura.— Você não está pronta. Está certo. Não devia ter sido tão precipitado. Devia ter

percebido.— Mas você... — Ela parou, embaraçada, ao perceber como ele se excitara.— Suportei por todo esse tempo. Iremos para a cama em outra ocasião. Venha e

sente-se. Vou servir-lhe algo para beber.Izzy poderia ter dito não. Poderia ir embora enquanto tinha um restinho de juízo.

Mas sair significaria voltar para casa, voltar para Phillip.Sufocou o sentimento de culpa e deixou que Sam pusesse um disco de música

suave no aparelho de som e lhe servisse licor de laranja em um copo de cristal. Permitiu também que a conduzisse ao sofá branco e se sentasse a seu lado.

— Eu amo você, Izzy. — E a beijou novamente.Ao se dar conta de que faltavam alguns minutos para uma hora da manhã e

pensando que Phillip estaria dormindo, ela pediu a Sam para levá-la de volta.Tirou os sapatos e abriu a porta, agradecida por ela não ter rangido daquela vez.

Phillip deixara uma luz acesa na cozinha. Ao entrar, Izzy olhou na direção da cama dele, do outro lado da sala, na esperança de vê-lo adormecido.

— Estava na hora — Phillip resmungou. Estava afundado preguiçosamente nas almofadas do sofá.

Izzy balançou a cabeça. Os dedos pressionaram os sapatos e ela se encostou na porta.

— Não precisava me esperar.— Não devia? — A voz era áspera, quase zangada. — Quem mais iria segurar a

mão de Pansy enquanto choramingava e preocupava-se por você não haver chegado?Izzy se acalmou.— Oh, querido. Sinto muito. Não pensei...

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— Não. Não pensou. — Phillip levantou-se e procurou aproximar-se dela. Estava sem camisa e descalço, usando unicamente o jeans.

Ela procurou desviar-se.— Vou ver se estão bem — avisou, tentando esgueirar-se. Mas Phillip agarrou-lhe o braço.— Agora estão bem. Pansy choramingou há uma hora. Ele não a soltava.— Eu... sinto muito se ela o aborreceu — Izzy lamentou.— Não sei por que sente, afinal elas não são um problema seu.— Como pode dizer isso?— Se fossem, você teria voltado há horas. São quase duas da manhã! — Ficou

olhando-a com expressão de desagrado.Izzy olhou para o relógio de pulso.— É uma e quinze. E se ela estava preocupada, por que você não me chamou?

Deixei o número de Sam ao lado de seu aparelho de telefone.— Aposto que o jovem amante ficaria encantado se eu a chamasse. Sabe, sempre

quis tirar as pessoas da cama. Especialmente quando tenho certeza de que não estão dormindo.

Izzy enrubesceu, mas iria deixá-lo pensar o que quisesse.— Poderia ter me chamado — repetiu.— Dei um jeito.— Sinceramente, não estou surpresa — ela declarou. — Sempre achei que você

conseguiria.— Que sorte a minha, você me dar esse crédito — ele observou com sarcasmo.Phillip, na verdade, não queria começar uma discussão e era claro para Izzy que

qualquer argumentação em nada ajudaria naquele momento. Afastou-se e já havia subido quase a escada inteira quando a voz de Phillip a fez parar.

— Como foi o encontro?— Fomos a um pequeno e adorável restaurante. Comi aquele prato com carne de

porco. Sam, o de galinha. E então fomos a seu apartamento, ouvimos música e...— Não precisa contar tudo nos mínimos detalhes.— Eu não ia contar.Izzy continuou a subir os degraus.— Estou feliz por você ter tido uma noite agradável — Phillip disse azedamente.

— Amanhã estará disponível para olhar as meninas ou estará se mudando?Izzy preferiria dizer que estaria se mudando.— Ainda não. Além disso, prometi que cuidaria das gêmeas até que você

arrumasse a babá.Ele torceu a boca.— E você, naturalmente, sempre cumpre suas promessas. Izzy concordou com um aceno de cabeça.— Tento.Phillip resmungou, ainda insatisfeito. Finalmente, meneou a cabeça e foi até a

cozinha para apagar a luz.— Boa noite!Ela gostaria de ter dormido imediatamente. Queria sonhar com Sam.Ficou acordada e pensou em Phillip MacCauley.Não era correto. Sam era o homem que amava e com quem quisera casar-se

desde o primeiro fim de semana em que encontrara. Era gentil, amoroso, engraçado. E, naquela noite ele fora exatamente o mesmo.

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Mas ela mudara.Não conseguia tirar Phillip da cabeça.Não dera nenhum crédito à Phillip quando o vira pela primeira vez,

considerando-o nem um pouco melhor do que a irmã. Só que ele a fizera mudar o conceito. Era um homem decidido e com um profundo senso de responsabilidade. Não quisera as meninas, porém quando não havia outra alternativa, ele se analisou profundamente e percebeu que poderia assumi-las e até mesmo amá-las.

Izzy percebera na maneira como ele as olhava, como conversava com elas.E, além do mais, beijava bem.— Oh, droga! Oh, droga!

As crianças queriam ir à praia novamente.— É domingo — Phillip argüiu. — Toda cidade de Nova York está na praia aos

domingos.— Mas está calor — Tansy lamentou.— Muito calor! — Pansy falou com a voz suave, porém firme. Izzy tentava não

tomar partido. Estava cortando o queijo para o desjejum, mantendo-se fora do caminho de Phillip, desejando que ele tivesse uma boa alternativa a oferecer.

O telefone tocou. Phillip estendeu o aparelho para Izzy.—Adivinhe quem é?Ela pegou o telefone.— Oi, Sam.— Dormiu bem? — ele perguntou.— Oh, sim — respondeu, o que era uma mentira. — Divinamente. Quero

agradecer pela noite passada.Phillip colocou a xícara de café sobre a mesa com tamanha força que o líquido

espirrou na toalha. — Izzy, deliberadamente, olhou para o outro lado, deixando para Phillip a tarefa

de enxugar o que derramara.— Foi um prazer — disse Sam. — O que gostaria de fazer hoje?— Bem, na realidade, hoje prometi fazer um programa com as meninas.— De novo? — Sam não pareceu zangado, mas confuso.— Disse a Phillip que o ajudaria a cuidar delas — explicou. — Ele ainda não

encontrou uma babá.— Minha mãe poderá encontrar uma — Sam propôs. — Ela conhece todo

mundo. Ficará em East Hampton por uma semana, mas quando voltar...Fez uma pausa e continuou:— Que tal se levássemos as meninas para passarem o domingo lá? Poderíamos

até ficar e voltar amanhã. A casa é grande e fica na frente da praia. Elas adorariam.— Ficar? Uma casa na praia? — Izzy lançou um rápido olhar na direção das

meninas. Estavam comendo cereal, mas os olhos rapidamente a fitaram. Ao ouvirem a palavra praia os dois pares de olhos se arregalaram esperançosos.

— Sua mãe não vai se aborrecer?— Vai ficar muito feliz. O que acha? — Vou perguntar às meninas. — Virou-se e relatou a sugestão de Sam. Ambas

sorriram.Então, Tansy olhou para o tio, que estava torcendo um pano na pia, de costas

para elas.— Só se o tio Phillip puder ir também — ela impôs.

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Izzy viu que os ombros dele se retesaram. Os dela já estavam tensos. Ele não se virou e nem se manifestou. Izzy correu a língua pelos lábios.

— Meninas, eu não sei...— Ele nada muito bem e você sempre está dizendo que nó precisamos passar

mais tempo com ele.Izzy ainda estava hesitante. Tinha esperança que Phíllip dissesse que não

poderia, mas ele não disse uma palavra.— Sam... — finalmente ela falou. — Está bem se... Phillip puder ir também? As

crianças gostariam que ele fosse.Acabou de falar rapidamente, na hipótese de Sam pensar que a idéia tivesse sido

dela.Houve um segundo de indecisão da parte de Sam e então concordou.— A casa é grande, por que não? Izzy olhou para as costas de Phillip.— Sam disse que você será bem-vindo.Phillip virou-se vagarosamente. Fitou-a por um instante e então, as garotas. Elas

pousaram nele os olhinhos ansiosos. Finalmente concordou.— Está bem.Era uma casa muito grande, moderna, luxuosa, tão intimidante quanto o

apartamento na Quinta Avenida. Assim também era a mãe de Sam.Naturalmente, Izzy vira a sra. Fletcher na noite em que fora pela primeira vez ao

apartamento de Sam. Mas então só haviam trocado um rápido olhar.Izzy se viu diante de Amélia Fletcher e, naquele instante, ficou ainda mais

agradecida pela iniciativa de Phillip. Seus instintos estavam certos; a antiga Isabel Fletcher nunca teria passado pelo olhar perspicaz da mãe de Sam.

A análise atenta não demorara tanto quanto Izzy pensara. Um sorriso iluminou o rosto da sra. Fletcher, que deu um beijo na face de Izzy e um abraço de boas-vindas.

— Finalmente, minha querida. Sam contou-me coisas maravilhosas a seu respeito.

"Eu gostaria que ele houvesse me contado alguma coisa a seu respeito", Izzy pensou, desesperada.

— E você trouxe seus amigos. Que bom!Izzy os apresentou, esperando que Phillip não fosse descortês, mas não

precisaria haver-se preocupado. Phillip foi muito cavalheiro.— De fato — ele disse cordialmente, dirigindo-se à sra. Fletcher. — Lembro-me

de que nos encontramos na festa de Maggie Donnelson, no ano passado.— É mesmo! Você estava com uma mulher alta, deslumbrante — Amélia

recordou, esboçando um sorriso simpático.— Tawnee Davis — ele concordou.A Rapunzel da foto do estúdio, Izzy deduziu. Aquela com muitas curvas e pouca

roupa. Amélia, com certeza, não vira a foto.— Que bom que está cuidando de Isabel. Phillip lançou um sorriso maroto para Izzy.— É preciso mantê-la inteira para Sam — ele comentou. Amélia sorriu e colocou a mão em seu braço, conduzindo-o através da sala, em

direção à vastidão de portas de vidro que davam para a praia.— Ela é afortunada por contar com tão bons amigos. E você é o tio dessas duas

garotas adoráveis? — Amélia sorriu para. ambas. — Venham, meninas. Aposto que gostariam de nadar.

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Tansy e Pansy a acompanharam. Phillip também. Dificilmente poderia fazer outra coisa, com Amélia o segurando pelo braço.

Izzy ficou sozinha com Sam. No minuto em que a mãe, Phillip e as crianças saíram, ele aproximou-se dela e a puxou para junto de si.

— Senti saudades de você — disse ele, os lábios junto ao dela, sentindo-os, mordiscando-os.

Izzy estremeceu e procurou relaxar, para poder retribuir carícia.— Foi maravilhoso ter convidado as meninas, Sam. E a Phillip também,

naturalmente — Izzy declarou.— Fiquei confuso com a idéia, mas então pensei, por que não? Ele as distrairá

melhor de que minha mãe. — Ele a beijou novamente e com mais vigor.— Sua mãe disse para levar as meninas para cima para vestirem a roupa de

banho. — A voz austera de Phillip interrompeu o beijo.Izzy deu um pulo para trás e virou-se para vê-lo em pé, a poucos passos de

distância. Uma das meninas estava a seu lado. Olhavam boquiabertos para ela e o noivo.Sam pigarreou.— Naturalmente. Eu lhe mostrarei. — Apertou a mão de Izzy. — Mostrarei

também seu quarto, querida.Era perto do dele; o das meninas era o seguinte e o de Phillip, o último.— Eu não ficarei — disse Phillip. — Pegarei o trem da noite. Ao notar que ambos olhavam para ele, surpresos, acrescentou brandamente:— Preciso começar a fotografar logo cedo. Estamos com muito trabalho.Sam pareceu embaraçado.— Estive trabalhando noite e dia durante as duas últimas semanas — informou,

desnecessariamente.Izzy lançou um olhar pelo quarto onde as crianças estavam trocando de roupa e

acrescentou:— Amanhã, Phillip, acho que deveria pedir a Daisy para contatar as agências e

verificar se tem outras candidatas a babá.Sam estalou os dedos.— Não esqueça de pedir à mamãe também.Izzy não imaginava que Amélia Fletcher teria disposição para procurar uma

babá. Mas Sam conhecia a capacidade da mãe, melhor do que ninguém.— Elisa, a filha de Doro Milbank, acabou de encontrar uma fabulosa, vinda do

campo — disse Amélia quando Sam levou o problema para ela. Estavam sentados nas cadeiras da varanda, olhando a praia. Izzy vestia um maio azul-escuro, especialmente escolhido por Anita.

Parecia estar exercendo um efeito magnífico tanto em Sam como em Phillip, demonstrado pelos olhares arrebatados que lhe lançavam.

Izzy tentava com dificuldade concentrar-se no que Amélia dizia.— Telefonarei para Doro — a mãe de Sam dizia ao sair à procura da agenda de

telefones.— Acho que vou nadar com as meninas — Izzy anunciou e saiu correndo em

direção à praia, sem olhar para trás. Estava um dia magnífico. As ondas eram grandes e além delas viam-se os avisos de perigo. Mas aquilo não a deteve.

Um bom mergulho era o que estava precisando. Uma braçada na água gelada seria ideal para refrescar os pensamentos. Ao menos achava que conseguiria, ao passar correndo pelas meninas. Mergulhou na primeira onda que apareceu, apreciando o choque da água fria; então levantou-se e afastou os cabelos que lhe caíam no rosto.

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Pôs-se a nadar, mergulhando sob cada onda, uma atrás da outra, até que finalmente viu que estava além da arrebentação. Virou-se o olhou para trás.

Ficou surpresa e um pouco assustada ao constatar como estava longe. Não conseguia, de jeito nenhum, ver as meninas na areia. Estavam escondidas pela arrebentação. No horizonte, na direção da praia, viu a casa, Sam e a mãe, ambos em pé, olhando para o mar.

Para ela?A elevação de uma onda os escondeu momentaneamente da vista e então viu

aproximar-se uma cabeça de cabelos pretos.Era Phillip, cujo olhar rapidamente fixou-se nela.— Nadando até as Bermudas?— Claro que não.— Quase enlouqueceu a mim e ao jovem amante.— O nome dele é Sam — Izzy tentou afastar-se, nadando, mas ele conseguiu,

dando longas braçadas, manter-se junto dela. — Por que está sendo tão rancoroso com ele? Você não era assim antes.

— Não estou sendo rancoroso. — O olhar azul chispou. Phillip lançou-lhe um olhar severo.

— Ele estava preocupado com você. Pensou que pudesse ter-se afogado.— E o mandou atrás de mim? Phillip encolheu os ombros.— Ele recebeu uma chamada telefônica. Vamos. Não tem sentido ficar aqui à

espera de um ataque de tubarões.Os olhos de Izzy se arregalaram.— Tubarões? Como poderia saber? Nunca estive por aqui antes. Phillip começou a nadar em direção à praia, sem esperá-la. Izzy gritou, na

direção dele.— Eu deveria ter imaginado que conhece tudo por aqui, você e todas as outras

amiguinhas.Phillip a olhou por cima do ombro.— Ciumenta — disse ele, rindo.— Não sou, mas insisto que você é rancoroso.Ele limitou-se a rir novamente e continuar nadando.— Você sabe correr ondas? Ela concordou.— Acho que aquela é nossa — ele sugeriu com animação.Izzy, olhando para trás, entendeu o que quisera dizer. Começou a dar braçadas

mais rápidas quando a onda começou a quebrar. Então sentiu o volume poderoso de água envolvendo-a, levantando-a, jogando-a para os lados, arremessando-a para a frente. O corpo de Phillip, também levado pela onda, esbarrava no dela e se afastava. Izzy sentiu uma cotovelada no estômago. Respirou com dificuldade, bebeu muita água, debateu-se e tentou subir à superfície.

Como deu pé para Phillip antes dela, ele a segurou e permitiu-lhe respirar o ar fresco. Izzy tossiu, assustada. Phillip a enlaçou, segurando-a firmemente.

— Você está bem?Ela tentou concordar com um aceno de cabeça, mas continuou tossindo. A

próxima onda a arremessou contra o peito de Phillip.— Estou — finalmente respondeu.

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— Não quis machucá-la — Phillip confessou, apertando-a contra o peito. Izzy sentiu as batidas fortes e aceleradas do coração de Phillip.

Ela levantou a cabeça e se olharam demoradamente. Uma veia latejava na garganta dele.

Phillip levantou a cabeça e olhou em direção à praia.— Lá vem o seu senhor.Ela virou-se para ver Sam, correndo na direção deles. Phillip recuou.— Fique com ele — Falou rapidamente, atirando-se na água e afastando-se a

nado.

CAPÍTULO VIII

Phillip estava feliz por as crianças terem aproveitado o dia, porque ele, com certeza, não aproveitara. Estava sendo difícil aguardar até a hora do trem, apesar de que não se sentia melhor em deixá-las ali naquela noite. Quem sabe o que Sam e Izzy fariam quando Amélia e as meninas fossem para a cama? Quem sabe?

Ele sabia, droga. Sabia exatamente o que faria se estivesse comprometido com Izzy.

— Tem certeza de que quer ficar? — perguntara a Izzy quando todos o levaram à estação, às seis.

— Lógico. Desde que as meninas queiram.Olhando para elas, viu que concordaram alegremente. Phillip resmungou.— Queríamos que você também ficasse, tio Phillip — Tansy falou.— Cuidarei delas direitinho — Sam prometeu a Phillip, com um tom carinhoso

na voz. Apoiou o braço sobre os ombros de Izzy e possessivamente a puxou para perto de si.

Não era bem aquilo que Phillip queria ouvir.

De volta ao apartamento, Phillip procurou aproveitar ao máximo a ausência delas. Estava feliz por desfrutar um pouco da paz e silêncio que não tivera desde o dia em que Izzy e as meninas invadiram sua vida.

Mas o apartamento parecia muito grande e silencioso. Chegou em casa pouco depois da meia-noite e, assim que entrou, dirigiu-se à geladeira para pegar uma latinha de cerveja. Ao cruzar a sala, os passos ecoavam no assoalho de madeira.

Tomou a cerveja em dois goles e abriu outra. Seria melhor dormir, disse para si mesmo. Estava muito cansado.

Mas, depois do banho, entrou em seu quarto. Seu, nada. Passara a ser das meninas. As roupas e os brinquedos delas estavam ali, indicando a posse.

Phillip supôs que deveria vender a cama de casal e comprar duas de solteiro. Passaria para o pequeno quarto que Izzy estava ocupando, quando ela fosse morar com Sam.

Preocupou-se com a babá que precisava encontrar, urgente. Não contaria com as conexões de Amélia. Se encontrasse uma para morar com eles, seria obrigado a procurar um apartamento com três quartos.

Foi até o quarto de Izzy e deu um longo suspiro. Perto da cama viu um porta-retratos que, a distância, deduziu que teria a foto de Sam. Pegou-o e não era de Sam. Não teve dificuldade em descobrir quem seria.

Havia uma certa semelhança com Izzy na foto de um velho homem. Um brilho perigoso no olhar, tal como freqüentemente vira nos de Izzy.

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Novamente deu um longo suspiro e, lentamente, devolveu o porta-retratos ao seu lugar sobre a mesinha.

O quarto estava organizado e sentia-se a presença de Izzy, porém ela estava longe. Em East Hampton. Com Sam.

Phillip estava muito tenso ao voltar para casa na noite seguinte. Izzy e as meninas haviam acabado de chegar quando ele entrou e as olhou com ar aflito. Ficara muito preocupado porque estava prestes a desabar uma forte tempestade.

Por aproximadamente uma hora ouvira trovões distantes e vira o brilho prateado dos raios riscando o céu.

Ao vê-las, deu um suspiro de alívio. As gêmeas dirigiram-lhe um sorriso agradecido e cansado.

— Estava muito preocupado.— Havia muita gente voltando para a cidade, o tráfego estava lento e nos

atrasamos um pouco.— Onde está o jovem amante?— Disse-lhe que não precisava subir. Ele tinha de preparar um relatório para

uma reunião importante que terá amanhã, logo cedo.— Azar dele.— Você está mal-humorado de novo.Phillip inclinou-se para pegar a bagagem que Izzy acabara de depositar no chão

e dirigiu-se à escada.— Estou com uns problemas e não quero me preocupar com eles.— E não precisa — ela argumentou rapidamente. — Eles estiveram em boas

mãos e você sabe disso.Phillip resmungou. Levou a mala das meninas para o quarto delas e a de Izzy

para o dela. Ao entrar no quarto seu olhar pousou na cama, por um instante, e então o desviou.

Procurou não se lembrar da segunda ida àquele cômodo, naquela manhã, quando acariciou um agasalho de Izzy.

— Amanhã ficarei fora da cidade — disse ele, abruptamente. — Vou tirar fotos em Bucks Conty. Espero não atrapalhar seu programa.

— Sem problema. — Izzy passou por ele, entrando no quarto. — Ficaremos bem.

Vagarosamente, Izzy começou a desfazer a mala.— Tenho o nome de três moças que a mãe de Sam me deu — ela comentou. —

Vou telefonar para elas e fazer uma entrevista preliminar enquanto você estiver fora. O que acha?

— Faça o que achar melhor. — Virando-se, ele saiu pelo hall, seguindo até à porta do banheiro onde as meninas estavam tomando banho e tagarelando.

— Rápido aí, meninas. Precisam ir cedo para a cama.

Izzy analisou a reação de Phillip ao abraçá-la fortemente quando estavam no mar. O coração dele batia forte e acelerado e o olhar cintilava febrilmente. Era uma evidência que a atração entre eles era recíproca, concluiu. Em conseqüência, se deu conta de que tinha uma escolha muito séria a fazer.

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Estava, antes de tudo, comprometida com Sam. Pensando bem, aquela reação fora simplesmente resultado da proximidade e do calor do momento. Phillip certamente não a amava., Algumas vezes até achava que ele não gostava muito dela.

Não tinha muita certeza do que sentia por ele. Izzy abaixou o olhar e dobrou os braços sob a cabeça, tentando relaxar e pegar no sono. A chuva parara, a primeira tempestade se fora. Naquele momento o clarão de um novo relâmpago invadiu o quarto pela veneziana. Uma nova tempestade estava a caminho. Mas era nada se comparada à turbulência que sentia dentro de si. Passava de meia-noite e estava sendo atormentada pela lembrança de como o corpo de Phillip reagira junto ao seu.

Passara toda a noite anterior e o dia concentrada em Sam; conversando, nadando e caminhando com ele; porém sempre o comparando a Phillip: o sorriso, a maneira como franzia a testa. Esforçou-se para não pensar nele. Não tinha nada de ficar pensando em outro homem.

Seria maravilhoso se uma das moças que Amélia recomendara estivesse disponível para cuidar das crianças. O mais breve possível.

Phillip não parecia ter muita pressa em acertar a situação, mas ela tinha. Começaria os telefonemas na manhã do dia seguinte, logo cedo. Tansy e Pansy precisavam se estabelecer na nova vida.

E, com certeza, Izzy precisava também acertar a sua.Pelo menos, os dois dias em East Hampton foram um sucesso. Amélia Fletcher

não era tão intimidante como Izzy imaginara na primeira vez em que a vira. Izzy estava feliz por haver agradado ao mundo de Sam.

Sam.Querido, amado e doce Sam.Como era fácil agradá-lo. Não era exigente. Que diferença de Phillip

MacCauley...E lá estava ela pensando nele novamente.Izzy ajeitou o travesseiro. Virou-se na cama, fechou os olhos e viu, milhares de

vezes, a onda que a aproximou de Phillip, sentiu mais uma vez a pressão do corpo dele contra o seu.

Levantou-se da cama e dirigiu-se à janela, abrindo-a e respirando o ar úmido e poluído da cidade. Considerou o ar mais puro do que o desejo que lhe subjugava o corpo.

Um movimento no terraço, no piso inferior, chamou-lhe a atenção.Phillip, de costas para ela e as mãos apoiadas no parapeito, mantinha-se olhando

para o céu. Tudo o que vestia era o jeans. Izzy admirou-lhe as costas musculosas e observou o movimento de seus ombros. Ele parecia selvagem, como um lobo em uma clareira, apesar de estar nó centro de uma das maiores cidades do mundo.

Os dedos de Izzy pressionaram o batente da janela. Não se moveu, só o olhava. Um risco cintilante brilhou no céu, assustando-a.

— Oh!Phillip virou-se e olhou para a janela.Os olhares se encontraram. O queixo dele estava firme e a expressão severa.

Estufou o peito e todo seu corpo parecia querer mover-se na direção dela, para alcançá-la. Mas não o fez.

Izzy só desejou que ele o fizesse. Furiosa com o rumo dos pensamentos, recuou e fechou a janela.

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Phillip já havia saído quando Izzy se levantou. Não sabia se ele saíra muito cedo porque tinha de viajar para Pensilvânia ou se simplesmente precisara sair. Sentiu-se aliviada.

— Quando ele voltará? — Pansy perguntou.— Hoje à noite, acho — respondeu, colocando cereal nas tigelas, durante o

desjejum.Tão logo terminaram de comer, telefonou para as moças que Amélia indicara. A

primeira já havia se empregado na semana anterior. A segunda concordou em comparecer à entrevista na manhã do dia seguinte. A última viria naquela tarde.

— Teremos de ficar com uma delas? — Tansy, preocupada, perguntou a Izzy.— Não, se vocês não gostarem de nenhuma.— Não gostaremos — ambas afirmaram.— Mas podem gostar. — Izzy ousou ter esperança.— Não são boas como você. Por que não pode ficar? — Pansy indagou.— Porque existe Sam, vocês sabem, e...— Você não vai se casar com Sam — disse Tansy. — Poderia casar com tio

Phillip. Você o beijou.— Foi um engano. — Izzy sentiu as faces queimando. — Além disso, ele não

quer casar comigo. Não estamos apaixonados. Casa-se com a pessoa que se ama.— Mas acho que seria melhor se você ficasse conosco — Tansy insistiu,

choramingando.— Estou certa de que existe uma moça adorável que esta procurando um

emprego de babá e que será ideal para vocês,— Talvez — Tansy disse, incrédula.— Duvido — Pansy falou entre os dentes.Mas a primeira moça que apareceu surpreendeu a todas. Seu nome era Rose.

Crescera em uma pequena cidade de Oklahoma e, embora estivesse na cidade há dois anos, ainda mantinha o brilho e o entusiasmo de uma camponesa. Imediatamente conquistou a atenção de Tansy e Pansy, sem contar a de Izzy.

O melhor de tudo é que ela já fora salva-vidas em um clube de sua cidade; o que agradou Tansy e, além disso, também gostava de desenhar. Saíra do último emprego porque a família para quem trabalhava mudara-se para o exterior. Precisava encontrar um trabalho rapidamente, explicara, ou voltaria para Oklahoma.

— O que vocês acham? — Izzy perguntou às meninas quando Rose foi embora.— Ela é boa — Tansy se manifestou cautelosamente, mas não parecia tão em

dúvida quanto soava.— Talvez — Pansy concordou. — Mas ainda prefiro você. A segunda candidata não chegava nem aos pés de Rose.— Ficaria mais interessante com um brinco no nariz — Tansy comentou logo

que a moça saiu. Pansy não se manifestou.— Então podemos pedir a seu tio para entrevistar Rose? — Izzy pressionou.Elas encolheram os ombros.— Imagino que sim.Izzy tinha esperança de que Phillip gostasse de Rose. Não se incomodaria em

deixar as meninas com aquela babá. Sentiria falta delas, mas procuraria sempre visitá-las. Poderiam passar alguns fins de semana com ela e Sam, dando uma folga a Phillip, deixando-o disponível para uma das garotas deslumbrantes com quem trabalhava. Era uma boa idéia, não era? E, o melhor de tudo, Sam já concordara.

Então tudo estava certo. Perfeito.

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Rose viria. Izzy poderia ir. Sam ficaria feliz. Phillip também. Tudo caminharia para o bem de todos. Então, por que, sabendo disso, estava insatisfeita e tão irritada? Por que o estômago estava se contraindo?

Porque Phillip estava demorando para voltar, só isso.Passara das dez e nenhum sinal dele. Ela e Sam haviam colocado as crianças na

cama e estavam sentados no sofá, ouvindo música romântica. Ele a mantinha nos braços e a acariciava.

— Que tal uma xícara de café? — ela perguntou, desvencilhando-se dele.— Não, obrigado. — Sam a puxou para mais perto. Os Lábios dele roçaram sua

têmpora.— Chá? — Izzy sugeriu. — Estou com sede. Libertando-se de seus braços, ela se levantou e dirigiu-se à cozinha.Sam a seguiu e ficou em pé, apoiado na geladeira, observando-a.— Tem certeza de que não quer?— Está bem. Aceito — ele concordou.Depois do chá, voltaram à sala e sentaram-se novamente no sofá. Sam, em uma

ponta e Izzy, na outra. Ele se aproximou e a olhava insistentemente.Izzy procurou evitar o olhar faminto de Sam, que, inclinando-se, pousou os

lábios nos dela. Izzy permaneceu absolutamente imóvel.Sam aproximou-se mais e a abraçou, com os lábios ainda sobre os dela. Izzy

ouviu o som de passos, vindo da escada do prédio e levantou-se abruptamente, empurrando-o.

— Ele está chegando.— Quem? — Sam perguntou, confuso.— Phillip!— E daí? — Segurou-lhe a mão. — Duvido que ficaria chocado. Acho que já

viu pessoas se beijando inúmeras vezes.— Eu sei. — Izzy cruzou os braços. — Só que não queria que nos flagrasse, ao

entrar.Sam parecia que ia protestar, mas a porta se abriu e Phillip entrou. Olhou

primeiro para Sam, no sofá e, em seguida, para Izzy, que estava voltando à cozinha. Ele nada disse.

— A água está morna. Se quiser posso esquentá-la e preparar uma xícara de chá para você — Izzy propôs, com disposição.

Phillip olhou para Sam, que, carrancudo, passou os dedos pelos cabelos.— E você, Sam? Outra xícara? — Izzy voltou à sala depois de haver colocado a

chaleira no fogo.— Não é bem chá o que quero agora — Sam retrucou com secura, olhando-a

fixamente.Não havia dúvida sobre o que ele queria. Izzy o percebeu em seu olhar. Sabia,

também, que Phillip o percebera. Ela enrubesceu.— Achei a garota ideal para você, Phillip. Quero dizer, a babá — ela avisou. —

As gêmeas gostaram muito dela. E o fruto de nossas preces.Phillip nada falou.— O nome dela é Rose. É de Oklahoma. Nada muito bem, já foi até salva-vidas

e gosta de desenhar e pintar. Marquei uma entrevista para você conhecê-la, no final da semana.

— Cancele.— O quê? Por quê? — Izzy o olhou, admirada.— A partir de quinta-feira ficarei uma semana em Jackson Hole, tirando fotos.

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— Uma semana? Em Jackson Hole? — Izzy tentou entender. — Sem problemas, não é Sam?

Dirigindo-se a Sam, continuou:— Se importa se eu ficar mais uma semana? Você poderá até me ajudar.— Não — disse Phillip antes que Sam tivesse tempo de, ao menos, abrir a boca.Izzy, espantada, olhou para Phillip.— O que quer dizer com "não"? Lógico que poderá. Ele é maravilhoso para com

as meninas.Phillip encolheu os ombros, como se não houvesse o que discutir.— Vocês não ficarão aqui. Todas irão comigo.

CAPÍTULO IX

Izzy podia ter falado "não".Podia, com firmeza e determinação, não haver aceitado a proposta de Phillip.

Podia ter argumentado que, de maneira alguma, deixaria Sam, seu noivo, por quem esperara tanto tempo.

Mas não emitiu um som. Permaneceu parada, em pé, boquiaberta e atônita, e deixou-se intimidar.

Era uma louca, definiu-se naquele momento e nos três dias seguintes. Mas não voltou atrás. A única coisa que conseguiu de Phillip foi o acordo de entrevistar Rose antes de viajarem.

Ela foi admitida, mas começaria quando voltassem, Phillip impôs com firmeza. Antes, não.

Na quinta-feira de manhã, bem cedo, ela, Phillip e as meninas partiram.Seria só por uma semana, Izzy procurou racionalizar. Seria mais fácil para as

meninas se ela estivesse junto. Além disso, teria tempo para conversar com elas e facilitar o trabalho de Rose. Poderia instruí-las sobre como conviver com o tio esquisito, como se soubesse...

Aquilo martelava em sua cabeça e Izzy nada podia fazer para evitá-lo.Talvez aquela semana a ajudasse a se cansar de Phillip. Ficariam tanto tempo

juntos que conseguiria livrar-se dele para sempre.Izzy ousou ter esperança, apesar de haver se convencido de que realmente era

uma louca.A cidade era agradável, com a tradicional praça, circundada por lojas vendendo

de tudo, desde tapetes artesanais até confecções de primeira linha.— Nos encontraremos às cinco — Phillip avisara, quando as deixou perto da

praça.Izzy ia perguntar-lhe se decidira trazê-las para ficar mais tempo com as gêmeas,

mas ele acelerou o carro e saiu antes que ela tivesse tido a oportunidade. E até que fora bom. Quanto menos tempo ficasse na companhia dele, seria melhor.

—Acho que amanhã poderemos ficar com o tio Phillip, enquanto ele fotografa — disse Tansy, calmamente. — Você vai também?

Não, Izzy pensou. Mas não queria explicar o motivo e, limitando-se a sorrir, desviou a atenção delas para outra coisa.

Passaram a maior parte da tarde visitando as lojas e quando as meninas enjoaram, Izzy as levou a um parque, não muito longe do centro, onde brincaram. Quando estavam suficientemente sem fôlego, voltaram à praça. Phillip chegaria em breve!

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Pararam diante da vitrine de uma loja de brinquedos, quando Izzy ouviu, logo atrás delas:

— Aqui estão vocês!— Tio Phillip! — Tansy deu um grito de alegria. — Você voltou mais cedo.Izzy, que esperava revê-lo só às cinco, não estava preparada e quando se virou,

sentiu o coração palpitar.Phillip estava com os cabelos despenteados e sorridente ante a saudação das

meninas. Irradiava uma energia que Izzy nunca havia sentido em outro homem. E, quando Phillip levantou os olhos e os fixou nos de Izzy, ela percebeu uma chama dentro deles que a incendiou, mas limitou-se a sorrir cordialmente.

Phillip fizera bem em levar as crianças; Izzy o percebera imediatamente. O tempo que passariam juntos seria muito produtivo para firmar o relacionamento dos três.

Ao observá-los, Izzy sentiu uma pontada no peito: pareciam uma família da qual ela não fazia parte.

Bem, finalmente, a parte racional prevalecera. Não era daquela família. Ainda não tinha a sua. Formaria uma em breve, com Sam.

Precisava telefonar para o noivo. Ele pedira que ligasse assim que chegassem, mas ainda não o fizera.

— Onde está indo? — Phillip indagou, ao vê-la virar-se e afastar-se.Izzy não olhou para trás.— Preciso telefonar para Sam.Phillip murmurou alguma coisa e resolveu acompanhá-la.— Vamos, crianças.— Você não precisa vir.— Eu sei — disse ele — mas vou.O que aquela mulher tinha na cabeça? Sam Fletcher era a única coisa que lhe

interessava na vida. Como podia passar o tempo pensando nele quando havia tanta coisa a fazer: montanhas para escalar, pescaria, caminhadas...

Sem contar ele e as meninas.Aquele pensamento conduzira Phillip à infância, quando os pais adotivos sempre

demonstravam mais interesse pelos próprios filhos do que por ele. Sem dúvida, entendia, mas ficava muito amargurado. Ser o segundo sempre fora seu destino.

Não o seria naquela semana. De um modo ou de outro, Izzy lhe daria atenção.Durante todo o tempo em que ela falara ao telefone com Fletcher, ele se sentiu

arrasado. Olhava para o relógio a cada instante, demonstrando estar impaciente. Finalmente, Izzy desligou e se juntou a eles.

— Está ficando tarde — ela disse.— Mas ainda não está escuro — Tansy protestou.— Vocês se cansaram muito hoje e é melhor voltarmos para o hotel.Na suíte havia dois quartos. As meninas se apossaram de um. Nenhum

comentário foi feito sobre o outro. Phillip apenas esperava que Izzy não se desse conta até que fosse bem tarde. Havia uma cama de casal no outro quarto. Tão grande quanto uma geleira.

Izzy verificou o quarto com um rápido olhar.— Não vou dormir nela com você — avisou.Assim que puseram as crianças na cama, Phillip atendeu a um telefonema do

executivo do catálogo, que queria conversar com ele no bar do hotel. Lamentou entre os dentes, mas não havia outra saída.

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Ao voltar, surpreendeu Izzy a arrumar uma cama em um dos sofás da saleta de televisão.

— Não seja ridícula — ele comentou.Sem responder, ela limitou-se a estender um lençol e prendê-lo sob as

almofadas. Então colocou um cobertor dobrado em uma extremidade e o travesseiro, na outra.

— Pronto.— Não é comprido o suficiente, mesmo para você.— Está ótimo. — Izzy afastou-se, sem encará-lo, e desapareceu dentro do quarto

grande, fechando a porta com estardalhaço. Momentos depois voltou, vestindo uma camisola. Usava um roupão sobre ela.

Ela sentou-se no sofá, puxou os joelhos contra o peito e os abraçou.Phillip, fitando-a, arqueou as sobrancelhas. Izzy não se mexeu. Finalmente, ele

murmurou:— Bons sonhos. — E entrou no quarto, batendo a porta. Phillip estava certo: o

sofá era no mínimo cinco centímetros menor que ela. Izzy esforçou-se para não se importar. Achou que bastaria encolher-se e ficaria confortável, mas se enganou.

Sentia pontadas nas costas, dor no pescoço e a atenção se mantinha em Phillip MacCauley, no quarto ao lado. Levantou-se e atravessou a saleta, tentando pensar em Sam.

No escuro, tropeçou na mesa de café e deu um gemido.A porta do quarto se abriu.— O que aconteceu?Ela pulava, segurando o pé.— Nada, tropecei.— Você é sonâmbula?— Não!— Não consegue dormir? — Phillip aproximou-se. As cortinas estavam

fechadas, deixando o ambiente escuro, mas Izzy não precisava vê-lo para saber que estava muito perto. Sua presença era quase tangível. Ela recuou, esbarrou novamente na mesa e acabou caindo.

— Oh, pelo amor de Deus! — Phillip acendeu a luz. Izzy tentou endireitar-se, fechando o roupão ao mesmo tempo. Phillip a pegou pelas mãos, ajudando-a a se levantar e a segurou pelos braços.

— Você está bem?— Estou. Vou voltar para a cama.Mas ele não a soltou. Pelo contrário, Izzy percebeu que estava sendo erguida do

chão.— Fique quieta — Phillip determinou quando ela começou a reclamar.

Apoiando-a contra o peito, carregou-a até o quarto e a colocou, cuidadosamente, na cama.

— Eu não quero...— Não me interessa o que quer. Vai dormir aqui.— Não, eu...— Sim. — Apagou a luz e deitou-se a seu lado, apoiando um braço sobre ela,

mantendo-a presa.— Phillip!— Fique deitada e pare de reclamar. Parece uma ovelha assustada. O que pensa

que vou fazer para você?Izzy murmurou:

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— Nada. Não é mesmo?O corpo de Phillip estava quase junto ao dela.— Claro que não. — Mas não movera o braço nem um centímetro.Ficaram lado a lado, ofegantes, sem se moverem. Passaram-se segundos,

minutos. Izzy estremeceu sob o peso do braço dele e meneou a cabeça suavemente.O peso suavizou.— Meu braço a está incomodando?— Não...— Então feche os olhos e durma.Não conseguira dormir no sofá porque não conseguia deixar de pensar nele,

como conseguiria naquela situação, tendo o corpo dele estendido a poucos centímetros do seu?

Izzy virou-se para o lado, dando-lhe as costas. Um erro. Ele aconchegou-se junto dela, prendendo-a pela cintura e puxando-a firmemente para bem perto de si.

— Eu... Sam... — ela começou.— Droga de Sam. — Phillip acomodou-se mais perto. Ela sentia sua respiração

junto à orelha. Era difícil ficar rígida por muito tempo, especialmente sentindo o calor daquele corpo masculino. Teve vontade de virar-se de frente para ele. Não conseguiu resistir por muito tempo. Os músculos relaxaram, a tensão do corpo abrandou e, inconscientemente, viu-se aconchegando-se completamente nos braços dele.

— Assim está melhor — ele resmungou.Alguma coisa suave roçou na orelha de Izzy. Seriam os lábios dele?

Seguramente não. Acabou relaxando e dormiu.Phillip já havia saído quando ela acordou. Antes mesmo de abrir os olhos, sentiu

a falta do calor do corpo dele junto ao seu. Instintivamente tateou o lado da cama e sentiu, decepcionada, que ele não estava lá.

"Realmente sou uma louca", pensou enquanto pulava para fora da cama. Havia um bilhete sobre o aparador. "Estamos fotografando no rio. Deixarei o carro. Traga as meninas depois do desjejum".

Autoritário, não?Mas talvez não estivesse sendo autoritário, só realista. Izzy sabia muito bem que

onde quer que ele estivesse, as gêmeas gostariam de estar também, assim como ela. As crianças tomaram o desjejum rapidamente.

— Ele realmente disse que poderíamos ir? — Tansy perguntou. Izzy lhes mostrou o bilhete.— Mas vocês não poderão atrapalhá-lo.— Não atrapalharemos — Pansy prometeu.— Nunca atrapalhamos — Tansy disse solenemente. Izzy olhou para o céu e

suspirou. As meninas deram uma risadinha.

Phillip estava absorto, atrás da câmera, mas se desconcentrou quando elas se aproximaram.

— Venham aqui.As meninas correram em sua direção. Ele abaixou-se para pegar, dentro do

estojo que estava a seus pés, duas pequenas câmeras e as entregou às sobrinhas.— Vocês vão me ajudar — disse ele. — Estou tirando as fotos principais, mas

eles planejam usar outras mais. Não terei tempo de tirá-las a não ser que tivesse seis mãos. Então espero que me ajudem.

Orgulhosas, as pequenas olharam para ele.

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— Verdade? — Tansy perguntou.— Eles só usarão as fotos realmente boas, lembrem-se. Mas se tirarem algumas

que eles possam aproveitar, bem, vocês até poderão ser consideradas profissionais.— Que bom! — Tansy comemorou.Pansy mordeu o lábio. Izzy percebeu que estava em dúvida. Phillip também

notou.— Não precisa fotografar se não quiser, Pansy — disse ele, gentilmente.— Eu quero — a menina argumentou. — Só que... Não sou muito boa.Phillip levantou o queixo dela com um dedo e a olhou bem dentro dos olhos.— Você é muito boa para mim.Izzy quis abraçá-lo. Pansy estendeu os bracinhos e o abraçou fortemente.

Quando Phillip olhou para cima, seu coração palpitou ao encontrar o olhar meigo de Izzy.

— Rápido, Phillip. Estou com frio — uma das modelos gritou da canoa, onde estava sentada, vestida em um short e uma camiseta, tentando parecer glamourosa e atlética, ao mesmo tempo. Phillip pousou o olhar em Izzy e voltou ao trabalho. Ela se sentia privilegiada: poderia passar o restante do dia olhando para ele.

Estava brincando com fogo. Tinha consciência do risco, mas não conseguia se deter: estava se deleitando com a oportunidade de simplesmente olhar para ele.

Além do mais, haviam dormido juntos e nada acontecera.Aquilo deveria significar alguma coisa, não deveria?Não estava sendo infiel a Sam, assegurou-se. Não cometera nenhuma loucura.Exceto haver entregue o coração a Phillip. Não havia como negá-lo, nem fingir.Não sabia quando precisamente se dera conta. Talvez o soubesse há muito

tempo. Talvez fora por aquela razão que aceitara viajar com ele e as meninas.Passou toda aquela semana em Jackson Hole, lutando contra os próprios

princípios, fingindo que estava passando o tempo para se cansar de Phillip. Em todos aqueles dias, ao olhar para ele, desfrutar de sua atenção, aconchegar-se em seus braços, só estivera fazendo uma coisa: mentindo para si mesma. Viu-se angustiada ante a idéia de voltar para Nova York no dia seguinte, pegar a bagagem e dizer-lhe adeus. Concluiu que não poderia continuar mentindo para si mesma por mais tempo. Apaixonara-se por Phillip.

E quanto a Sam? Não o amava? Sim, mas dedicava-lhe um amor fraternal e não da maneira como amava a Phillip.

Izzy o olhava naquele momento, agachado à beira do rio, junto das gêmeas. Ele passara a semana dando-lhes atenção: ora ensinando-as ora distraindo-as, assumindo lentamente papel do pai que nunca tiveram.

Bem, no dia seguinte voltariam para casa e, no outro, Rose começaria seu trabalho; assim Izzy poderia ficar com Sam.

Só que tinha certeza de que não ficaria com o noivo. Iria procurá-lo somente para dar-lhe uma explicação. Era mais sensato retornar a São Francisco. Voltaria mais experiente só que apaixonada por um homem que nunca a amara.

Mas, naquela noite, Izzy o amaria. Queria ter boas lembranças para levar quando fosse embora.

Phillip voltara para a suíte quando o sol já se pusera havia muito tempo. Parecia perturbado. Haviam círculos escuros em torno dos olhos e linhas profundas marcando a boca. Izzy gostaria de ter o direito de aproximar-se para massagear-lhe os ombros e as costas.

Phillip mal olhou para ela.— Vou tomar um banho.

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Quando retornou, vinte minutos mais tarde, Izzy achou que ele cairia na cama e a deixaria, e às meninas, a seu próprio destino. "Poderei levá-las até à lanchonete", ela se propôs. "Elas gostarão".

Mas Phillip vestira um jeans limpo e uma camisa de tecido leve. Barbeara-se e os cabelos molhados estavam impecavelmente penteados. Ainda aparentava uma certa tensão.

— Chamarei o serviço de quarto — disse ele. — O que querem comer?— Serviço de quarto? — Tansy e Pansy arregalaram os olhos. — De verdade?Elas se debruçaram sobre o cardápio e fizeram a escolha com a ajuda de Izzy.— Só vou querer salada — ela avisou, quando Phillip anotou os pedidos. Não

estava com fome, mas quando o pedido chegou, a salada não estava incluída. Nem havia nada para Phillip.

— O quê... — Izzy começou, mas ouviu que alguém batia à porta.Phillip a abriu e uma das modelos entrou no quarto. O coração de Izzy batia

descompassadamente.É lógico que pelo menos em uma noite ele vai fazer um programa, ela deduziu.

Não poderia pretender que Phillip passasse todas as noites na companhia dela e das crianças.

— Conhece Cathy? dessa noite. — ele perguntou à Izzy. — Será a babá dessa noite.

— O quê?— Nós vamos sair. Vá se vestir. — A expressão do rosto dele estava cada vez

mais tensa. Havia um brilho em seu olhar que ela nunca vira antes.Izzy passou a língua pelos lábios e olhou para baixo, para o jeans e a camiseta

que vestia. Ambos eram fruto da expedição com Anita às compras.— Estou vestida — disse ela com firmeza.— O vestido preto. Izzy obedeceu.Lembrou-se de Anita sorrindo e dizendo:— Sam vai pensar que você vai levá-lo a nocaute.Izzy não se lembrava da reação de Sam porque não conseguira esquecer o beijo

de Phillip.Era insano usar aquele vestido naquela noite. Somente serviria para lembrá-la do

que estava deixando para trás: do homem que queria e que não poderia ter. Nunca deveria ter colocado na mala aquele objeto de atração; bem, não teria, se ele não houvesse insistido.

Será que Phillip planejara aquele jantar?Não poderia perguntar-lhe naquele momento. Qualquer outra mulher, mais

experiente, o faria, sem corar. Não Izzy.— Pronta? — Phillip a chamou da sala.— Em um segundo. — Penteou os cabelos e passou um pouco de batom. Então

calçou o sapato de salto alto e respirou profundamente.Phillip a estava esperando quando ela apareceu. A expressão de seu rosto

demonstrou que o vestido satisfizera a expectativa.— Vestido dinamite — Cathy disse. — Você fica fascinante dentro dele.Virou-se para Phillip e continuou:— Deveria ter tirado fotos dela durante a semana inteira.— Eu tirei. — Pegando Izzy pela mão, saíram pela porta.

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Phillip respirava com dificuldade. Queria que o elevador fosse mais rápido. Não gostava de estar em um lugar tão pequeno com Izzy.

Soltou-lhe a mão assim que a porta do elevador se fechou.Ficaram lado a lado, a poucos centímetros de distância. Mas o elevador tinha as

paredes revestidas de espelhos: havia Izzy ao infinito; para onde quer que ele olhasse.Quando a porta se abriu. Phillip a conduziu através do saguão, em direção ao

estacionamento.— Achei que ficaríamos dentro.— Ficaremos, mas não aqui.— Onde?— Um amigo tem uma casa e fomos convidados a visitá-la. Só que não

mencionou que George estava passando o verão na França. Simplesmente fê-la sentar-se no banco de passageiro e fechou a porta. Estava agradecido em poder segurar a direção, porque o leve tremor das mãos não seria notado.

Phillip esperava ser cavalheiro o suficiente para jantarem antes de fazerem amor.Ele se considerara inteligente, no começo da semana, levando-a para sua cama.

Mas quando ela, finalmente, adormeceu em seus braços, sentiu-se completamente frustrado. Izzy confiava nele! Como poderia fazer amor com ela?

Phillip pagara pelos seus pecados. Não dormia há dias. Izzy achava que as olheiras em seu rosto fossem sinal de cansaço pelo trabalho. Errara.

— Qual amigo? — Izzy perguntou. — Eu o conheço? O carro subia uma ladeira que levava até a casa.— O nome dele é George Leland. É comerciante e passa a maior parte do tempo

na Europa.Phillip sonhava com o momento em que veria no rosto dela a expressão de

encantamento; os olhos cintilantes de prazer e os lábios se abrindo quando os beijasse...Cuidado. Já estava sendo precipitado, pensou. Mas ao menos parara de negar

que a desejava. Queria Izzy como nunca quisera outra mulher. Mesmo estando comprometida. Jamais, na vida, se empenhara em tirar uma mulher de outro homem. Não estava disposto a fazer o mesmo com Izzy. Bem, não exatamente.

Simplesmente estava se propondo a provar que ela não estava apaixonada por Sam.

Não queria que fizesse um mau casamento e que acordasse algum dia presa a uma vida junto a um homem ou que não amava.

Era só aquilo que pretendia e considerava perfeitamente correto. E se tivesse de fazer amor com ela para prová-lo, bem, um homem tem de fazer o que for necessário.

Calada, Izzy não olhava para ele, as pontas dos dedos deslizando sobre o colo. Não emitiu uma palavra até passarem a última curva, ladeada por árvores.

— Oh, meu Deus! — Ela se inclinou para a frente, ao notar que se aproximavam da casa. — E maravilhosa!

Phillip parou o carro no pátio e adiantou-se para abrir a porta de Izzy e polidamente ajudá-la a sair, mas ela já havia saído. Phillip franziu a testa.

Izzy sorriu.— Desculpe-me, mas você me conhece bem. Não preciso ser a srta. perfeita para

você.— Não — Phillip falou com a voz rouca. — Gosto do seu jeito de ser.Izzy olhou para longe, para as luzes da cidade que brilhavam a distância.— E uma vista espetacular.Phillip, olhando para ela, e não para as luzes, só pôde concordar.

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— Acho que devemos entrar. Imagino que seus amigos estejam nos esperando — ela o lembrou.

Havia luzes dentro da casa. Phillip viera mais cedo, depois que terminara a sessão de fotos e começara a preparar o jantar. Pusera o vinho para gelar, preparara uma salada e programara o forno para as oito, para assar a carne. Arrumara a mesa e colocara os castiçais. As velas estavam prontas para ser acesas. Colocara lenha na lareira e só então voltara ao hotel onde Izzy e as meninas o esperavam.

Naquele momento, estava tirando a chave de George do bolso e fixou o olhar na fechadura.

— O que você...Phillip não respondeu. Simplesmente abriu a porta e conduziu Izzy para dentro.— Onde está seu amigo?— Paris. Izzy parou.— O quê?Phíllip sorriu desajeitadamente.— Esta em Paris. Ele me emprestou a casa. — Passando por Izzy, dirigiu-se a

cozinha para verificar a carne. Abriu o forno e o cheiro do tempero se espalhou pelo ambiente. — Quase pronto. Tem salada na geladeira. Pode pegá-la e colocá-la na mesa, na sala de jantar?

Ele não olhou para ver se seria obedecido. Prendeu a respiração e tentou agir o mais naturalmente possível. Izzy não se moveu nos segundos seguintes. Então, obedeceu.

Phillip cortou o pão, tirou a carne do forno e abriu o vinho. Izzy não voltou à cozinha.

Ele deu uma olhadela em direção à sala e não a viu. Levando a garrafa de vinho, saiu da cozinha para procurá-la.

A salada estava sobre a mesa. Izzy estava do outro lado da sala, olhando a lenha queimar na lareira. Será que o estaria odiando pelo subterfúgio? Ou estaria com saudade de Sam?

Phillip limpou a garganta. Izzy se sobressaltou.— Pensando? — ele perguntou suavemente, torcendo que não fosse em Sam.Izzy deu um sorriso um pouco tenso.— Estava tentando entender por que me trouxe aqui se seu amigo está em Paris.— Eu não queria dividi-la com ele. — Phillip sorriu.— Não diga isso! — ela protestou.— E verdade.Izzy balançou nervosamente a cabeça.— Que tal um copo de vinho? — Phillip sugeriu. Izzy cruzou os braços defensivamente.— Aceito.Ele encheu duas taças, entregando-lhe uma. Os nós dos dedos dela estavam

brancos. Izzy passou a língua pelos lábios quando Phillip fez um brinde, tocando levemente sua taça na dela. Os olhares se encontraram.

Izzy tomou um gole, depois outro e a esvaziou.— Desculpe-me. Normalmente não bebo vinho — falou devagar.— Sem problemas. — Ele a serviu mais uma vez.— Eu não devia. — Mas bebeu tudo novamente. Então sorriu, meio zonza, e

brindou, batendo sua taça na dele.Phillip respirou profundamente.

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— Acho... que é melhor comermos.Acendeu as velas, colocou um disco de música suave e serviu a comida. Izzy

bebeu mais vinho e, com o olhar, acompanhou cada movimento que ele fazia.

O tremor voltara às mãos de Phillip. Aquele era o jantar mais longo e mais curto de sua vida. Longo porque sabia o que queria fazer depois. Curto porque não tinha certeza se ela concordaria.

E se não quisesse, se virasse as costas para ele, se dissesse uma única vez o nome de Sam; então ele sabia que teria de desistir.

Dissera aquilo para si mesmo várias vezes. Ainda não sabia se deveria tentar.Phillip mal tocou na comida. Izzy também.— Não gostou do que preparei? — perguntou com um sorriso tímido, enquanto

ela empurrava uma fatia de cenoura para a beirada do prato.— Não estou com fome — ela gaguejou.— Mas eu estou, e com muita. — Fora uma afirmação audaciosa e deselegante,

que deixou claro o desejo que sentia. Mas achou que fizera a coisa certa quando seu olhar encontrou o dela. Phillip sentiu uma onda de calor percorrer seu corpo. Através do brilho da chama da vela, pensou ter notado que Izzy sentia o mesmo. Ela passou a língua pelos lábios nervosamente.

— Phillip, eu...Ele se levantou e estendeu a mão.Izzy sabia o que ele pretendia. Tinha de saber.Concordou com um aceno de cabeça e levantou-se com lentidão. Com os olhos

fixos nos dele estendeu o braço, permitindo que ele lhe segurasse a mão. Phillip puxou-a para junto de si e passou os dedos pelos cabelos sedosos.

Em pé, com os corpos quase se tocando, olhavam-se com expressões tensas.E então, vagarosamente, Phillip inclinou a cabeça. Já a beijara antes. Naquele

momento estava preparado: ao menos pensou que estivesse.Ouviu uma suave canção dentro de si quando os lábios tocaram os dela. Ele não

soube quanto tempo durou: um minuto, uma hora: não foi suficientemente longo. Queria mais. As mãos deslizaram pelas costas de Izzy para prendê-la suavemente e para que sentisse seu excitamento.

Com uma chama ardente no olhar e a respiração ofegante, Phillip propôs, com a voz rouca:

— Seja minha. — Esperou pela resposta, olhando-a fixamente através da penumbra da sala.

Houve um segundo de hesitação e então Izzy respondeu:— Sim.

CAPÍTULO X

Izzy o amava. Não haveria outro motivo para levá-la a aceitar aquela proposta. Nenhuma lógica, nem bom senso.

Só o amor.Ao estender a mão para ele segurar e segui-lo até o quarto, Izzy sabia que Phillip

não estava fazendo nenhuma promessa e que nunca o faria.Talvez estivesse errada ao entregar-se naquela noite, mas se estivesse, a

recordação daqueles momentos a ajudaria a suportar a saudade que fatalmente iria sentir. Precisava compartilhar aquele amor com Phillip.

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Ao descobrir que estavam a sós naquela casa, supôs que Phillip nada mais pretendia do que seduzi-la. Já percebera que ele a desejava. Felizmente fora discreto em não tentar possuí-la quando as meninas estivessem por perto. Também fora gentil e cavalheiro em não agir com precipitação mesmo estando sozinhos.

"Seja minha", ele dissera. Não fora necessariamente um convite, nem um pedido. Era um desejo, um desejo que ela compartilhava.

E então o seguiu.Izzy ficou em pé, silenciosa, junto à cama, no quarto iluminado pelo brilho

prateado da lua. Saboreou o suave calor do toque das mãos de Phillip. Levantou o rosto quando ele a abraçou com suavidade. Suspirou ao sentir o suave roçar da barba dele contra seu queixo. O olhar de Phillip cintilava quando abaixou a cabeça e pousou os lábios nos dela.

Izzy estremeceu sob a magia daquelas carícias. Sentiu uma chama começar a arder dentro de si, acesa pelo calor da respiração dele contra seus lábios. A chama cresceu, consumindo-a, despertando uma sensação que nunca sentira antes.

As mãos de Phillip deslizaram pelas costas de Izzy para abrirem o zíper do vestido preto e fazê-lo escorregar até o chão. Ele abaixou a cabeça e beijou-lhe delicadamente um ombro e depois, o outro. Então abaixou-se mais e Izzy sentiu os seios despidos sendo acariciados. Uma onda de excitação a fez tremer de prazer.

— Está com frio? — Ele a carregou, deitando-a delicadamente na cama. Tirou a camisa e o jeans e então se deitou a seu lado, os braços envolvendo-a ternamente. A pele de Phillip estava tão quente quanto a dela. O frio acabara. Izzy aconchegou-se junto dele, permitindo-se sentir a fricção dos pêlos contra os dele.

Phillip suspirou.— Quase enlouqueci desejando-a a cada noite sem poder tocá-la.— Você? — Izzy afastou-se um pouco para verificar, no olhar dele, se estava

brincando.— O que acha? Por que acha que estou com essas olheiras?— E por isso? — Izzy estava feliz. Sorriu e o abraçou. — Talvez deva aproveitar

e dormir um pouco agora.— Sim, com certeza. — Ele juntou o corpo ao dela e segurou-a pelas nádegas,

puxando-a para mais perto, para que ela pudesse sentir a extensão de seu desejo.— Descansarei mais tarde. Agora tenho coisa melhor a fazer. Realmente tinha. Com as mãos e os lábios, Phillip a acariciava, explorando cada

centímetro daquele corpo que tanto desejara.A respiração de Izzy estava cada vez mais ofegante. Então estendeu o braço e

tocou o rosto de Phillip.— Phillip! Pare!Ele levantou a cabeça e Izzy o soltou. Ela sentia a pele queimar nos lugares onde

os lábios dele haviam tocado.— Parar? — ele indagou, fitando-a.— Sim. Não sei. — Balançou a cabeça, angustiada. — Eu nunca...Ele sorriu.— Eu sei. — Havia um toque de satisfação na voz. — Relaxe, Izzy. Deixe-me

mostrar-lhe como é. Confie em mim.Confiar nele? Como poderia deixar de confiar?Como poderia empurrá-lo naquele instante, sentar-se, pegar a roupa e vestir-se,

fingindo que nada acontecera? Não podia. Precisava daquilo pois o desejava.— Não está certo — ela disse, com a voz tão trêmulas como seus sentimentos. Ele olhou para cima.

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— O que não está certo?— Eu não o estou tocando. — Estava surpresa consigo mesma. Jamais

imaginara dizer tal coisa.— Quer me tocar? Ela concordou.— Sim.— Fique à vontade.Izzy tocou a coxa dele e então, lenta e cuidadosamente foi explorando cada

centímetro daquele corpo viril.Phillip respirava aceleradamente.— Estou queimando.Em seguida, ele a acariciou novamente, despertando-lhe reações inéditas,

envolvendo-a em um turbilhão de sensações que ela jamais experimentara.Quando Phillip relaxou e apoiou a cabeça no ombro de Izzy, ela se sentiu como

uma borboleta, saindo do casulo para uma nova existência, uma nova vida. Sentiu-se ao mesmo tempo fraca e forte como nunca, mais consciente de si mesma.

Então o amor era aquilo. O amor autêntico. O profundo e consistente amor de uma mulher por um homem. Não como o amor que sentia por Sam. De maneira alguma.

Não conseguiu conter um soluço: a emoção simplesmente a dominara.Phillip compartilhava da mesma sensação, a menos que não a amasse com a

mesma intensidade. E então foi sacudida por outro soluço.Em cima dela, Phillip estava completamente quieto. Então, lenta e

cuidadosamente, afastou-se, olhando-a com a expressão séria. Izzy engoliu em seco, estremeceu e levantou a mão para enxugar as lágrimas que lhe escorriam pelas faces, sentindo-se uma louca. Esboçou um sorriso lacrimoso.

O queixo de Phillip estava firme, a expressão compenetrada.Ele murmurou alguma coisa indecifrável. Então ele disse:— Sinto muito.Izzy o olhou, tensa, mas Phillip evitou seu olhar, afastando-se, não devagar

como até então, mas com pressa e desajeitadamente para pegar as roupas no chão e se vestir.

Izzy não se moveu. Não podia. Simplesmente olhava, sentindo algo próximo ao horror explodindo dentro de si.

Como poderia estar sentido? Mas estava. Ele dissera. As palavras martelavam em sua cabeça. "Eu te amo", queria gritar para ele.

Não conseguiu dizer uma palavra.Ele vestiu o jeans e estava abotoando a camisa. Logo em seguida, pegou as

roupas dela e as colocou sobre a cama, sem dirigir-lhe um olhar enquanto seguia até a porta.

— Pode tomar um banho, se quiser — disse ele, acenando com a cabeça na direção da porta do banheiro. — Vou lavar a louça.

Tinha a lembrança daquela noite com Phillip tal como quisera. Mas não tinha idéia de que se sentiria magoada tão rapidamente.

Phillip ansiara por aquela noite, mas desesperadamente queria esquecê-la. A cabeça latejava e sentia o remorso contrair-lhe os músculos enquanto dirigia montanha abaixo em direção ao hotel.

Ao lado dele, Izzy estava imóvel e visivelmente abalada. Não dissera uma palavra desde quando fizeram amor. Só soluçava.

Soluçava porque traíra Sam.

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E era culpa dele, droga.Phillip sabia que não deveria tê-la tentado. Não tinha aquele direito. Ela estava

comprometida e apaixonada por alguém. Com seu egoísmo, a induzira a trair o noivo e ir para a cama com ele.

De fato, nunca estivera tão envergonhado na vida. Um ridículo pedido de desculpas não ajudaria em nada.

Phillip ousou olhá-la de esguelha. A pele de Izzy estava pálida sob a luz do luar, as faces lívidas, muito diferentes daquele adorável tom habitual. Internamente, estaria deprimida também?

Sem dúvida.E era tudo sua culpa.Doía-lhe o remorso de, conscientemente, haver arruinado a melhor coisa que lhe

havia acontecido na vida. Por que não confessara o que sentia, que estava apaixonado e...

Apaixonado por ela?As mãos começaram a tremer tão fortemente que ele teve de segurar com

firmeza o volante para controlá-las.O amor sempre o frustrara. Nunca o conhecera, não da maneira como as pessoas

o vêem. Lembrava-se de haver sido abandonado, não amado.Fora Izzy quem lhe ensinara a amar, quem lhe ajudara a aprender a maneira

diferente de amar as sobrinhas. Fora Izzy, que não tinha nenhuma obrigação, quem se oferecera para cuidar delas, quem lhe mostrara a generosidade do amor real; o amor que era uma alegria e não uma simples chama.

E como retribuíra?Fazendo-a trair o homem a quem amava. Tirando-lhe a virgindade, a inocência.

E Phillip sabia que não tinha aquele direito.Não ficou surpreso por ela nada haver falado quando a deixou na porta do hotel.— Vou estacionar. Pode ir. — Tinha certeza de que ela não o esperaria.Izzy realmente não o esperou. Entrou no hotel e seguiu sem olhar para trás.Depois de estacionar, ao sair do carro, Phillip olhou para o céu limpo, sem

nuvens: imenso o suficiente para fazer um homem sentir-se pequeno e insignificante, como se o que fizesse não tivesse grande importância.

Desejava com todas as forças que fosse verdade. O que fizera naquela noite tinha uma importância enorme. Destruíra uma amizade: dele com Izzy. Talvez mesmo a dela com Sam.

E para quê? Por amor?

Izzy não o viu quando foi embora. Deu a Rose uma série de instruções e fez um discurso sobre a responsabilidade do cargo. Deu também instruções às meninas e fez outro discurso sobre o orgulho que sentia delas e como tinha esperança que mostrariam a Rose como eram maravilhosas.

Choramingando, elas disseram:— Não vá! Você não está indo embora, está, Izzy? Mas Izzy não tinha outra escolha.— Escreverei para vocês — prometeu, passando a mão sobre as cabeleiras

encaracoladas.— Mas...— Eu amo vocês.

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— Mas... e quanto ao tio Phillip? — indagaram, chorosas. "Eu o amo também", Izzy pensou, mas não disse. Não havia futuro em amar Phillip se ele não a amava e seria muito sofrimento permanecer perto dele.

Ele confessara que sentira muito por haver feito amor com ela. O que mais poderia esperar?

Deu um beijo e um abraço em cada uma das garotas e saiu. Ao descer as escadas, não olhou para trás, mesmo que desesperadamente o quisesse.

Tinha uma passagem para um vôo no final da tarde, para São Francisco. Antes do embarque iria ver Sam.

Ele estava trabalhando; ao menos não precisaria enfrentá-lo no apartamento. A secretária a recebeu muito bem e a conduziu à sala dele.

Sam estava lendo um relatório e olhou para cima, franzindo a testa assim que ela entrou. Izzy sentiu-se inconveniente, odiando-se pelo que faria em seguida.

— Sam. — Ela fechou as mãos e tentou manter a voz firme. Ele se levantou e deu a volta na escrivaninha. Izzy sabia que ele iria envolvê-la

em um abraço. Recuou, desejando ousar dar a volta e manter a escrivaninha entre os dois novamente.

— Oh, Sam! — Impossível deixar de falar com a voz trêmulas. Horrorizada, percebeu que lágrimas inundavam-lhe os olhos. A última desgraça! Enxugou as faces imediatamente. — Sinto muito! Estou muito triste. Não pretendia que acontecesse. Não queria, é verdade.

Falou rapidamente enquanto ele a segurava pela cintura. Izzy olhou para cima e viu que molhara a frente de sua camisa com as lágrimas. Sam acariciava-lhe as costas e ela se lembrou dele fazendo a mesma coisa quando o avô morrera.

Ele permaneceu calado até que Izzy, finalmente, conseguiu controlar-se, estragando, sem dúvida, cada detalhe da maquiagem que tão cuidadosamente fizera naquela manhã.

— Não é tão ruim, é? — Sam tentou adivinhar, com a voz suave, quando ela parou de soluçar.

— Pior — murmurou. — Eu não posso... não posso casar com você. — Tentou olhar para ele, mas não teve coragem. Finalmente ele tocou-lhe o queixo com os dedos, levantou-lhe o rosto e Izzy não teve outra escolha.

O meigo olhar castanho a olhava com concentração.— Não pode?Não havia nenhuma censura na voz de Sam. Soava delicada, gentil. Era

exatamente o homem com quem ela quisera Se casar. Droga!Começou a chorar novamente.— Por que não? Você não tem uma... não está doente, está?— ele tentou descobrir.Izzy balançou a cabeça e soluçou.— Não, nada desse tipo. Algumas vezes pode até parecer.— O que está sentindo?— Amor por Phillip.Pronto, já dissera. Ao falar, virou a cabeça para não ter de olhar para ele. Não

queria ver a censura no olhar de Sam.— Amor por Phillip — ele repetiu as palavras vagarosamente, percebendo o

inevitável.Izzy balançou a cabeça desesperadamente.— Não queria sentir — falou com a voz estridente, de desespero. — Era a última

coisa que queria, acredite. Preferiria casar com você.

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— Mas não pode. — A voz de Sam, suave e sem censura, estava triste. Puxou um lenço do bolso e enxugou-lhe as lágrimas. — Quer saber, não sou cego. Percebi naquele dia em East Hampton, dentre outras vezes.

— Quando? — Izzy sentia-se arrasada.— A maneira como o olhava... — Ele encolheu os ombros. — Você o devorava.— Eu nunca...— Bem, com certeza nunca olhou para mim daquela maneira. Izzy levantou a cabeça, embaraçada, completamente certa de que era verdade,

odiando-se por ter sido tão transparente quando ainda estava mentindo para si mesma.— Sou uma louca — declarou tristemente.— Não. Você é humana. — Sam colocou o lenço na mão dela. — Fique com

ele. Ainda poderá precisar.— Sim, vou precisar — ela admitiu. — Provavelmente chorarei durante toda a

viagem até em casa.— Está voltando para casa? Mas pensei... Izzy balançou a cabeça.— O sentimento não é recíproco.O queixo de Sam se retesou e lançou-lhe um olhar amigável.— Então é ele quem está louco. — E pareceu aceitar a idéia. — Então está

voltando para São Francisco para tentar esquecê-lo?Ela concordou.— Não considerou a possibilidade de ficar? Eu não iria pressioná-la.— Não posso. Gostaria de poder, Sam. Eu o amo também, mas não da maneira...— Eu sei. — Ele olhou para o vazio. — E penso que sempre soube. Foi muito

fácil. Muito bom para ser verdade. A relação que tivemos desde o início, como se nos conhecêssemos há muito tempo...

— Como irmãos. — Então os olhos de Izzy se arregalaram quando se deu conta do que dissera.

— Exatamente. Como irmãos. — Sam deu um sorriso tenso quando ela tirou o anel de compromisso e o colocou na palma da mão que ele fechou, prendendo-o.

— Eu a amo também, Izzy — ele disse suavemente e então deu-lhe um beijo delicado na face. — Você terá uma tarefa difícil pela frente.

Izzy concordou.— Dificílima. — Enxugou novamente as lágrimas com o lenço e, olhando-o

fixamente, tentou um sorriso. — Você é o melhor amigo que uma garota pode ter.

— Maldição! — Phillip tirou o filme da câmera, jogou-o no chão do estúdio e deu um murro no armário.

Daisy nem olhou para cima.Estava muito nervoso, descontrolado até, desde que voltara de Wyoming, havia

cinco dias. Estivera esmurrando tudo no estúdio naquela tarde. Eram quase cinco e meia e tinha certeza de que Daisy estaria contando os segundos até chegar a hora de sair daquele inferno e voltar para casa.

Não havia consolo para sua revolta. Nem em casa nem no estúdio.Talvez fosse porque todo seu trabalho, nos primeiros três dias, fora selecionar as

fotos que tirara em Jackson Hole. Ou o motivo fora a revelação dos filmes das meninas?Parecera uma grande idéia, na hora, equipá-las com câmeras e permitir que

tirassem fotos sob a perspectiva delas. Não imaginara o quanto havia de Izzy naquela perspectiva. Phillip tirara muitas fotos dela também.

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— E muito fotogênica — Daisy comentara, na primeira manhã, naquela em que Phillip deixara o apartamento temendo que Izzy já houvesse partido quando ele voltasse. — Você não acha?

Ele passara o restante daquele dia revelando fotos, e vendo mais de Izzy, sofrendo com a vontade de telefonar para casa e conversar com ela para convencê-la a não ir para Sam.

Quando voltou, Izzy já havia saído.— Ela tinha pressa — a nova babá, Rose, a estava desculpando nervosamente.

— Mas disse que o senhor entenderia e me deu muitas instruções.Phillip entendeu, tudo bem. Resmungou: a única coisa que ainda era capaz de

fazer. Os dedos pressionaram o batente da porta. Ao ouvir sons de passos na escada, olhou para cima. Tansy e Pansy apareceram, olhando diretamente para ele.

— Izzy foi embora!— Ela já foi, tio Phillip!Correram para ele, com os rostinhos banhados em lágrimas. Phillip as pegou no

colo.— Droga! — murmurou, encostando o rosto nas cabecinhas ruivas. — Oh,

droga!Dissera muito mais nos cinco dias que se seguiram e sentia-se ainda tão perdido

como naquele dia.O telefone tocou e Daisy atendeu, estendendo o fone para ele.— Sua irmã — ela avisou.— Oi, Phillip! Como estão as coisas? — Meg parecia estar no topo do mundo.

Nem o deixou responder e continuou: — Passamos dias maravilhosos, Roger e eu. Você tinha razão. Precisávamos passar um tempo juntos para nos conhecermos direito. E agora que já nós conhecemos, estamos perdidamente apaixonados um pelo outro.

— Ótimo — disse ele, desanimado.— Nos casamos, tal como eu queria. — Ela parecia mais alegre. — E agora

estamos de volta.Phillip não se dera conta de que pudesse sentir-se pior do que já estava.— Tivemos uma lua-de-mel maravilha — Meg continuou. — Só nós dois em

uma ilha encantadora, perto de Bora Bora. Você adoraria o lugar.Phillip não disse uma palavra. Daisy olhava para ele com simpatia.— As meninas gostariam também — Meg prosseguiu. — Como estão elas?— Muito bem — Phillip respondeu entre os dentes. Houve uma leve hesitação

na voz dela naquele instante.— Não está furioso comigo, está, Phillip querido? Por tê-las mandado para você

daquela maneira? Sabia que cuidaria bem delas. Você e Izzy.Ele ouviu um sorriso sufocado na voz da irmã. Queria estrangulá-la.— Foi muito melhor do que levá-las comigo. — Meg deu uma risada feliz.Phillip imaginou se ela conseguiria sentir a intensidade de sua raiva pelo fio do

telefone.Depois de uma pausa, Meg disse:— Quero falar com você a respeito. — A voz ficou mais séria. Phillip explodiu.— Você não vai levá-las de volta!— Não...— Você as deu para mim. Até assinou, como se fossem mercadorias. São

crianças, Meg, minhas crianças. Não sei se é legal o que você fez, mas elas agora são minhas e tomarei todas as providências para legalizar a adoção. Eu as amo mais do que

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Daisy aplaudiu silenciosamente e levantou o polegar para Phillip.Meg riu nervosamente.— Você sempre foi explosivo, não? Bem, estou feliz por ter acertado — disse

ela. — Não se preocupe, querido. Não precisa legalizar nada. Não vou buscá-las.As sobrancelhas de Phillip se arquearam.— Não virá?— Só quis saber se tudo estava bem.— Ótimo. — Se não se considerar os choros de saudade de Izzy, os pesadelos e

os rostos tristes à mesa do desjejum e de almoço, Phillip pensou. — Bom. — Meg parecia satisfeita. — Talvez Roger e eu façamos uma visita no

próximo mês.— Você irá atrapalhar se vier logo. Dê-me mais tempo.— Provavelmente esteja certo — Meg concordou. —Você precisará criar mais

confiança.Ela deu uma risadinha.— Izzy foi embora — Phillip disse asperamente.— O quê?— Foi embora. O que pensou? — ele perguntou. — Que ela fosse dispensar Sam

Fletcher para ficar comigo e duas crianças? Não seja idiota.— Ela não ficou? — Meg falou com surpresa.Phillip disse um palavrão. Os olhos de Daisy se arregalaram.— Mas achei que ficaria — continuou, ainda surpresa. — Não entendo por que

não ficou. Vocês combinam. Qualquer idiota pode notar. Até você.— Eu notei, droga! Ela não.— Não acredito — Meg falou pausadamente. — Ela é muito mais perceptiva

que você. Por acaso a forçou a alguma coisa, Phillip MacCauley?Ele não respondeu.— Juro, Phillip, que às vezes me decepciono com você. Não pensou que eu

deixei as meninas só para você, pensou?Phillip se empertigou.— O que há de errado comigo?— Você é irascível e mal-humorado — Meg declarou francamente. — Mas ama

e cuida de todas as pessoas que precisam de você.— Obrigado — ele falou com austeridade. — Eu acho.— Sabe que eu faria qualquer coisa por você. Foi por isso que mandei Izzy, para

que tivesse alguém para amar, como eu tenho Roger. Alguém que o amasse, também.Phillip não podia acreditar que ela fosse tão ingênua.— Izzy não me ama. Ela ama Sam Fletcher, droga! Pairou um longo silêncio.— Ama mesmo? — Meg indagou. — Tem certeza?

Muita gente deixou o coração em São Francisco, mas Izzy não. Todo o restante do corpo voltara a São Francisco há uma semana, mas o coração ficara em Nova York.

Estava aproveitando a companhia de Digger, Hewey e Pops, tentando sorrir e fingir que, mesmo sem coração, ela estava bem.

— Aquele desgraçado do Sam Fletcher — Hewey murmurou enquanto afiava uma faca, sentado ao lado de Izzy.

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— Não foi culpa de Sam — Izzy o corrigiu imediatamente. Não explicara quando voltara. Só chegara, sorrindo com meiguice, deixando-os pensar o que quisessem. Mas não poderia permitir que continuassem culpando Sam.

— Foi culpa minha, Hewey. Fui eu quem quebrou o compromisso.— Achei que o amasse.— Eu também — Izzy murmurou, baixando a cabeça.— Então... como reconheceu que não? — Hewey aparentemente decidira que

fora discreto por muito tempo. Naquele momento, estava querendo saber a razão dos olhos vermelhos e do rosto tristonho, mesmo que viesse a ser inconveniente. Talvez fosse melhor; talvez ela estivesse precisando conversar com alguém sobre o que acontecera.

Izzy esticou o lábio inferior, tentando decidir como explicar.— Alguma vez se apaixonou, Hewey?— Muitas vezes. — Ele esboçou o melhor sorriso de marinheiro lascivo.— Não, digo amar de verdade — Izzy sorriu também.— Tipo perdidamente? — Ele a fitou. — Só uma vez, mas ela estava

comprometida e então desisti.Hewey passou a mão pela farta cabeleira branca.— Eu deveria ter lutado por ela, mas fui muito nobre.— Eu não fui. — A voz firme e tão inesperada fez com que Izzy imediatamente

levantasse os olhos. Phillip estava em pé, junto à escada. Parecia cansado como se não houvesse dormido por uma semana.

Izzy fitou-o, atônita.Hewey observou a expressão de ambos, com uma curiosidade óbvia.— Não foi o quê? — Izzy perguntou, empalidecendo quando finalmente

conseguiu falar.— Nobre. — Phillip torceu a boca. — Tentei, mas não consegui. O queixo de Hewey caiu.Izzy encolheu os ombros, querendo piscar mas não ousando, mesmo por um

instante. Temia que Phillip pudesse desaparecer. Passou a língua pelos lábios e concentrou-se na própria respiração.

— Ficar com você foi mais importante para mim — Phillip continuou em um tom de voz que demonstrava toda a emoção que sentia. — Procurei por Sam e ele me contou que vocês haviam rompido o noivado há uma semana.

Ela concordou. Não sabia o que mais poderia fazer. Gostaria que Hewey fechasse a boca e que voltasse a amolar a faca. Gostaria que ele saísse dali.

— Então você é o motivo de ela ter ficado se lastimando o tempo todo? — Hewey indagou a Phillip, com olhar severo.

O queixo de Phillip se retesou.— Ela ficou?... — A voz trazia uma entonação de esperança.— Lógico que ficou — Hewey confirmou. — Lastimava-se como se alguém

houvesse matado seu bichinho de estimação.Phillip não pareceu estar certo se deveria ficar contente com a comparação e

Izzy também não sabia. Queria saber o que ele estava fazendo ali! Por que ele viera?— Hewey. — Ela se virou para o amigo. — Você não gostaria de entrar?— Para quê?Ela levantou as sobrancelhas para ele e olhou para Phillip.— Oh! — disse Hewey, compreendendo. Olhou para ela e para Phillip, de cima

a baixo.Nem Phillip nem Izzy se moveram até que ele houvesse subido toda a escada.

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— Descobri o problema de Izzy. — Ela o ouviu gritando para Digger.— Não se preocupe com eles — disse Izzy, forçando-se a encarar Phillip.— Eles são minha preocupação menor. — Passando a mão pelo cabelo, deu um

passo na direção dela e parou. — Só me lembrei de ser nobre quando já era tarde.Izzy o olhou, perplexa.— O que está dizendo?— Se tivesse sido nobre, não teria feito amor com você. Não a teria levado à

casa de George e a seduzido. Deveria ter feito como aquele seu amigo... — Olhou para o alto da escada.

— Hewey — Izzy informou.— Sim. Se tivesse agido com nobreza, teria ficado sozinho, o que eu não queria.

Então joguei sujo. Queria que ficasse comigo e não com Sam — explicou lentamente. — Mas você não me quis.

Izzy o ouviu com o coração aos pulos.— Não quis?— Você começou a chorar. Fizemos amor e você se derramou em lágrimas.— Pensei que fosse só sexo para você e que o amor nada tinha a ver com aquilo

— Izzy esclareceu.— O quê? — Ele a olhou fixamente. — Foi esse o motivo? Não foi por que a

tirei de Sam?— Você já havia tirado.— O, que quer dizer com isso? Izzy respirou pausadamente.— Pensei que amava Sam até que encontrei você. Phillip parecia confuso.— Você me ama? — A voz soou esperançosa e feliz. Talvez aquela noite

houvesse sido tão difícil para ele quanto para ela.Pensando naquela possibilidade, Izzy encontrou coragem e moveu-se na direção

dele, parando bem perto.— Eu queria a lembrança — confessou. — Pensei que fosse tudo o que teria.— Oh, Deus! — As palavras pareciam estranhas para Phillip, que estendeu os

braços e pegou-lhe as mãos. Ela sentiu que as dele estavam trêmulas. — Oh, Deus, Izzy. Eu te amo!

Beijaram-se longamente, manifestando toda a necessidade que haviam armazenado durante um período que parecera anos.

Lágrimas brotaram novamente. Izzy pensou que fossem dela, mas quando Phillip enxugou os olhos também, ela ficou em dúvida. Ambos sorriram.

— Como soube que eu estava aqui? — indagou.— Sam me contou.— Sam?— Não ficou surpreso ao me ver — disse Phillip. — Quando afinal perdi o resto

de nobreza e encontrei coragem suficiente, fui bater na porta dele. Ontem à noite. Na verdade, Sam disse que já era tempo.

Izzy sorriu.— Sam, querido.— Eu não iria tão longe — Phillip falou com ar sombrio. — Se não fosse Sam,

eu a encontraria mais cedo ou mais tarde.— Se não fosse Sam, você não me teria nunca. Fui a Nova York por causa dele.— Talvez — Phillip admitiu. — E também teve Meg. Ela deu uma ajuda.— O quê? — Izzy arregalou os olhos, surpresa.

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As faces de Phillip coraram levemente.— Ela descobriu que éramos perfeitos um para o outro. Foi por isso que mandou

ás crianças com você.— Mas ela sabia que eu estava comprometida com Sam.— Bem, você conhece Meg e seus escrúpulos. Ela não tem nenhum. — Ele

sorriu.Izzy soltou uma imprecação, mas não podia ficar com raiva da irmã de Phillip,

se considerasse que Meg estava certa.— Ela acendeu o pavio — Izzy murmurou.— Ainda bem — disse Phillip, colocando as mãos nas costas dela e a puxando

para junto de si. — De outro jeito eu não teria você nem as gêmeas.Phillip lançou um olhar para o alto da escada de onde Izzy, naquele momento,

ouviu as vozes de Tansy e Pansy conversando com Pops, Digger e Hewey.— Quase foi a morte para elas quando você veio embora — Phillip contou.— Quase foi a morte para mim quando os deixei. Mas não podia ficar, não

quando pensei...— Eu sei. — Os lábios de Phillip tocaram os dela. — Mas agora você ficará

conosco. Para sempre.Ele hesitou, com o olhar preocupado.— Ficará?— Se você me quiser — Izzy falou com meiguice.— Sim — Phillip aprovou. — Oh, sim, eu a quero. Quero me casar com você.

Quero ter filhos com você.— Mais crianças?— Se não se importar — Phillip ajuntou rapidamente. — Mas ficaremos com

Tansy e Pansy, já falei com Meg.Sorrindo, ele continuou:— Iremos para Bora Bora em lua-de-mel. Todos os quatro.— Os quatro! — Izzy riu e colocou os braços em volta da cintura dele. — Parece

fantástico. Vamos subir e contar as novidades para eles?— Acha que gostarão? Todos? Mesmo o velho com a faca? — Phillip mostrou-

se um pouco apreensivo.Izzy o abraçou.— Não se preocupe. Eu o salvarei.Ele a beijou mais uma vez.— Já me salvou, Izzy meu amor. Já me salvou.

***FIM***

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